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Numa sociedade marcada por divisões sociais muito rígidas (como já era o Brasil na época de Machado de Assis), o indivíduo nasce com seu destino social mais ou menos determinado pela origem e, pela raça, e até pela possibilidade ou não de freqüentar escolas.

A sociedade era marcada pelas teorias racistas do séc. XIX, e o preconceito, muito mais presente devido à existência da escravidão. Isso tornava difícil a ascensão intelectual de Machado, que era mulato. A vida intelectual do subúrbio era muito diferente da vida intelectual da Corte, com a qual teve contato trabalhando na Rua do Ouvidor. Nesta as pessoas detentoras de poder se encontravam, se divertiam, exibiam suas roupas importadas da Europa.

“ Eu sou um peco fruto da capital, onde nasci, vivo e creio que hei de morrer, não

indo ao interior senão por acaso e de relâmpago” (Machado de Assis)

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Fatos históricos importantes:

• 1822 – Independência do Brasil

• de 1826 a 1885 são aprovadas leis contra a escravidão no Brasil por pressão da Inglaterra.

• Em 1888 é assinada pela princesa Isabel a Lei Áurea

• Guerra do Paraguai (1865 a 1870)

• 15.11.1889 – Proclamação da República

Economia do país:

• Com base na cafeicultura.

• Grande propriedade

• Voltada para atender o mercado externo

Aspectos sociais:

• extinção da escravidão

• Imigração européia para a cafeicultura

• Migração interna (Boom

da borracha 1870-1910)

•Teorias racistas sobre a superioridade da “raça” branca sobre as demais.

•Divisões sociais rígidas.

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Acima: Morro do Livramento onde nasceu Machado de Assis

Ao lado: Largo da Carioca, em fotografia de 1906. Nesse tempo os moradores já assistiam ao surgimento de uma nova metrópole.

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1900 – A então capital do país não era como hoje. As praças, os bondes, tudo era exatamente como Machado descrevia.

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Abolição da escravatura:

Enquanto o povo comemorava, Machado analisava o problema da

escravidão em suas crônicas, contos e

romances.

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Foi assim que a revista ilustrada de 28 de julho de 1885 sintetizou o desmoronamento

do império.

Na ilustração ao lado, alegoria da proclamação da República.

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1839 – Joaquim Maria Machado de Assis nasce no Rio de Janeiro, a 21 de junho.

1855 – Publica seu primeiro trabalho, a poesia “A Palmeira”, na Marmota Fluminense.

1858 – inicia suas colaborações em jornais e revistas, o que manterá por toda a vida.

1864 – Publica seu primeiro livro: Crisálidas (poesias)

1867 – É nomeado para o cargo de ajudante do diretor do Diário oficial

1869 – Casa-se com Carolina Augusta Xavier de Novaes

1881 – Publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas e início da fase realista e do Realismo no Brasil

1897 – É eleito presidente da academia brasileira de Letras, fundada no ano anterior

1908 – Falece no Rio de Janeiro, a 29 de setembro

Quem foi Machado de Assis

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Análise Estilística.

As duas fases de Machado de Assis:

Romântica : Preparatória

Ressurreição (1872)

A Mão e a Luva (1874)

Helena (1876)

Iaia Garcia (1878)

Realista : Fase da Maturidade

Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881)

Quincas Borba (1891)

Dom Casmurrro (1899)

Esaú e Jacó (1904)

Memorial de Aires (1908)

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Análise Estilística.

As duas fases de Machado de Assis:

Primeira Fase:

linear

lógica do tempo

foco narrativo em terceira pessoa

tônica: composição do quadro

delineamento psicológico

conflitos / paixões / história

enredo

desvendar (expectativa)

imaginação

Segunda Fase:

não linear

lógica do autor

foco narrativo em primeira ou terceira pessoa

personagem

aprofundamento psicológico

análise do comportamento

homem

analisar

observar

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Análise Estilística.

Características Gerais:

Linguagem simples, enxuta Personagens sem problemas econômicos - ociosos - disponíveis Análise da burguesia endinheirada com fumos de nobreza Espaço: Rio de Janeiro - universal e brasileiro Tempo: século XIX – sociedade patriarcalista: o favor, o compadrio, as influências Método: análise/observação da realidade física, Psicológica – comportamental.

A linha de pensamento do autor

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Análise Estilística.Obras de maior importância:

Quincas Borba

Memórias póstumas de Brás Cubas

Dom Casmurro:

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Dom Casmurro

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D. Casmurro foi publicado em 1900 e é um dos romances mais conhecidos de Machado. Narra, em primeira pessoa, a história de Bentinho que por circunstâncias várias, vai se fechando em si mesmo e passa a ser conhecido como Dom Casmurro. Sua história é a seguinte: Órfão de pai, criado com desvelo pela mãe (D. Glória), protegido do mundo pelo círculo doméstico e familiar (tia Justina, tio Cosme, José Dias), Bentinho é destinado à vida sacerdotal, em cumprimento a uma antiga promessa de sua mãe. A vida do seminário, no entanto não o atrai, já de namoro com Capitu, filha dos vizinhos. Apesar de comprometida pela promessa, também D. Glória sofre com a idéia de separar-se do filho único, interno no seminário. Por expediente de José Dias, um empregado da família, Bentinho abandona o seminário e, em seu lugar, ordena-se um escravo. Correm os anos e com eles o amor de Bentinho e Capitu. Entre o namoro e o casamento, Bentinho se forma em Direito e estreita sua amizade com um ex-colega de seminário, o Escobar, que acaba se casando com Sancha, amiga de Capitu. Do casamento de Bentinho com Capitu nasce Ezequiel. Escobar morre e, durante seu enterro, Bentinho julga estranha a forma pela qual Capitu contempla o cadáver. A partir daí, os ciúmes vão aumentando e precipita-se a crise. À medida que cresce, Ezequiel se torna cada vez mais parecido com Escobar. Bentinho chega a planejar o assassinato de sua esposa e do filho, seguidos pelo seu suicídio, mas não tem coragem. A tragédia dilui-se na separação do casal. Capitu viaja com o filho para a Europa, onde morre anos depois. Ezequiel, já moço, volta ao Brasil para visitar o pai, que apenas constata a semelhança do filho com o antigo colega de seminário. Ezequiel volta a viajar e morre no estrangeiro.Bentinho, cada vez mais fechado em suas dúvidas, passa a ser chamado de Casmurro pelos amigos e vizinhos põe-se a a história de sua vida (o romance).

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Personagens

Personagens principais:

Bentinho Capitu Escobar

Personagens secundários:

D. Glória tia Justina tio Cosme José Dias Pais de Capitu Sancha Ezequiel

Capitu, protagonista de Dom Casmurro, transposta em tela através da imagem captada pelo artista J. da Rocha Ferreira de

sua descrição no livro.

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O perfil do protagonista masculino pode ser acompanhado em três fases distintas:Bentinho, Dr. Bento

Fernandes Santiago e Dom Casmurro. Bentinho revela-se unia criança/adolescente marcado pela

timidez, sem muita iniciativa e bastante dependente da mãe. Tinha uma imaginação fertilíssima, como no capitulo

XXIX (O Imperador). Levado para o seminário para ser padre (promessa da mãe - D. Glória), quando trava

amizade com Escobar, Bentinho, com ajuda de José Dias, abandona a carreira sacerdotal e ingressa na Faculdade de

Direito, em São Paulo. Formado aos vinte e um anos, ele é agora o Dr. Bento

F. Santiago, bem posto na vida, rico (riqueza muito mais de herança do que de trabalho), casado e feliz com Capitu,

quando canta na ópera da vida um “duo terníssimo”.       Depois, surge o filho (Ezequiel) e começam a aparecer

os problemas: o       “duo terníssimo” da ópera da vida vai cedendo lugar ao melodrama do “trio” e “quattuor” das dúvidas e incertezas.

É a vez da fase casmurra, marcada pela solidão, pela mágoa e pela amargura.

Escobar - Ezequiel - Bentinho

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Ao longo dos anos, Capitu tem desafiado a crítica com seu enigma, sutilmente criado por

Machado de Assis. Até hoje, ainda devora quantos tentam decifrá-la, pairando a dúvida: Capitu traiu ou não traiu Bentinho? A pergunta

continua sem resposta, pois a versão que temos para julgá-la nos é dada por um

narrador suspeito - um marido envenenado pelo ciúme e de imaginação bastante fértil,

como revelam muitas passagens do livro. Por outro lado, revelando um dos traços mais

marcantes da psicologia feminina - a capacidade de dissimulação de que é dotada

a mulher, Capitu, com seus “olhos de ressaca” e de “cigana oblíqua e dissimulada”, contribui ainda mais para fortalecer a dúvida: ela sabe sair-se bem de situações difíceis - ela sabe dissimular, como no episódio do penteado e

da inscrição no muro.

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“Olhos de ressaca Enfim, chegou a hora da da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do marido, e o

desespero daquele lance consternou a todos. Muitos homens choravam também, as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si

mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns

instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem

algumas lágrimas caladas...As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela; Capitu

enxugou-as depressa, olhando a furto para a gente que estava na sala. Redobrou as carícias para a

amiga e quis levá-la; mas o cadáver parece que a retinha também. Momento houve em que os olhos de

Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos

como a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã.”

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Muito amigo de Bentinho (colegas de seminário), Escobar era casado com Sancha e revela-se um tanto quanto misterioso: teria participado do “trio”

cantado por Dom Casmurro, formando o triângulo amoroso da suspeita do

narrador? Fica a dúvida e a mágoa, como revela Dom Casmurro no capitulo final, já

que Escobar foi tragado pela morte (afogamento), sem possibilidade de

defender-se da acusação. Cartaz do filme Dom, adaptação atual de Dom Casmurro

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Tempo cronológico: É o tempo real dos acontecimentos da narração. Corre de acordo com a cronologia da narrativa, ou seja, descreve a vida dos personagens em seqüência lógica dos fatos.

Tempo psicológico: São os chamados flash-backs. Ocorrem quando a narrativa é interrompida por uma lembrança de acontecimentos

anteriores, que precisam ser relatados para o entendimento e continuidade da história. É o tempo da memória.

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"Na vida há dessas semelhanças assim esquisitas ."

" A resposta de Machado de Assis vem discreta e amena, sem surpreender, nem decepcionar: ‘Talvez culpada. Quem sabe se inocente?’"

Trecho de Dom Casmurro

Entrevista com Machado de Assis

Capitu era inocente?