o Absurdo e a Revolta Em Camus

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  • 8/15/2019 o Absurdo e a Revolta Em Camus

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    O ABSURDO E A REVOLTA EM CAMUS

    José João Neves Barbosa Vicente

    *

     [email protected] Frances Deier !onti"o**

    [email protected] 

    RESUMO# O presente artigo propõe analisar os conceitos de absurdo e de revolta na obra O homemrevoltado (1999) de lbert !amus no intuito de mostrar "ue# no primeiro conceito e$iste um %eu&solit'rio# no segundo# um %eu& solid'rio. an'lise incidir' essencialmente sobre o conceito de revolta por"ue este "ue torna o %eu& solid'rio# instituindo o pensamento tico em !amus.

    *+,-!/+0 bsurdo2 ,evolta2 *iberdade2 3eus2 O outro.

     ABSTRACT : The present article proposes to analyze the concepts of absurdity and revolt in the work

    the rebelled man (1999) of Albert amus in intention to show that! in the first concept e"ists one

    #solitary $%! in the one second! one #solidary $%& The analysis will happen essentially on the revolt

    concept because he is that returns #solidary $%! institutin' the ethical thou'ht in amus&

     *+O,-.: Absurdity/ ,evolt/ 0reedom/ od/ The other 

    4oda a obra de !amus permeada pela presen5a do absurdo e da revolta. 6o entanto#

    em O homem revoltado (1999) esses conceitos s7o tomados como interroga5ões filos8ficas.

    obra mais refletida do fil8sofo# O homem revoltado  o resultado de toda sua e$perincia de

    fil8sofo# escritor e homem. 3iferente das pr'ticas filos8ficas "ue defendem sistemas te8ricos

    abstratos# !amus escolhe defender os seres humanos atravs de um humanismo sincero. O

    %eu& e o %outro& s7o colocados em perfeita e"uidade e o intento da obra manifesto na

    introdu57o

     6ada saberemos# en"uanto n7o soubermos se temos o direito de matar este outro"ue se acha diante de n8s ou de consentir "ue seja morto. :' "ue atualmente"ual"uer a57o condu; ao assassinato (...)# n7o podemos agir antes de saber se# e por"ue# devemos ocasionar a morte.1

    ilosofia pela ?niversidade >ederal de oi's (?>) e rofessor ssistente de >ilosofia da?niversidade >ederal do ,ecAncavo da Bahia (?>,B)aculdade de !incias e 0duca57o de ,ubiataba (>!0,)1 !=?- (1999)# p.1C.

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    !amus n7o se preocupa com os conteEdos "ue est7o afastados dos homens#

    conteEdos abstratos capa;es de serem assimilados apenas pelos %escolhidos&. -eus conteEdos

    filos8ficos s7o comuns a todos os homens2 isto # acessFveis. =ais ainda# s7o pr'ticos#

    motivam a5ões. -7o conteEdos "ue refletem sobre o viver# seu sentido# seu absurdo# enfim#

    refletem sobre "uestões "ue geram verdadeiros torvelinhos em n8s# "ue põem em "uest7o

    nosso pr8prio e$istir# como por e$emplo# a refle$7o sobre o suicFdio

    -8 e$iste um problema filos8fico realmente srio o suicFdio. :ulgar se a vida valeou n7o vale a pena ser vivida responder G "uest7o fundamental da filosofia. Oresto# se o mundo tem trs dimensões# se o espFrito tem nove ou do;e categorias#aparece em seguida. -7o jogos. H preciso# antes de tudo# responder. 0 se verdadecomo pretende 6iet;sche# "ue um fil8sofo# para ser confi'vel# deve pregar com o

    e$emplo# percebese a importIncia dessa resposta# j' "ue ela vai preceder o gestodefinitivo.D

    O sentido da e$istncia humana o assunto essencial em !amus. 6o  2ito de .3sifo

    (19J9) ele concentra sua refle$7o no antagonismo viver ou suicidarse# transformando assim#

    o absurdo "ue viver e "ue# G primeira vista# condu;iria ao suicFdio# em liberdade "ue um

    convite G vida. 6o  4omem revoltado ele reflete sobre a morte do outro. ara entender a

    correspondncia entre %pr8priamorte& e %mortedooutro&. >a;se necess'rio debru5ar sobre

    alguns conceitos analisados por !amus.

    O sentimento do absurdo# essa %doen5a do espFrito&K consiste em viver a cis7o# em

    sentir no espFrito o div8rcio entre homem e mundo# a disparidade entre a avide; humana por

    um significado e a indiferen5a do mundo. O absurdo nasce de uma trindade e s8 e$iste

    en"uanto seus trs elementos persistem O homem# o mundo e a compara57o desses dois.

     primeira caracterFstica dessa trindade % "ue ela n7o pode dividirse. 3estruir um de seus

    termos destruFla de ponta a ponta. 67o pode haver absurdo fora de um espFrito humano.

    ssim como todas as coisas# o absurdo termina com a morte& C. Outra "uest7o importante emrela57o ao absurdo# "ue %n7o h' pr8 nem contra# o assassino n7o est' certo nem errado.

    odemos ati5ar o fogo dos coment'rios# assim como tambm podemos nos dedicar ao cuidado

    dos leprosos. =alFcia e virtude tornamse acaso ou capricho&L.

    -er' "ue o assassinato legitimadoM -e no absurdo n7o h' um prop8sito no mundo#

    n7o h' moralidade e# conse"uentemente# n7o h' bondade nem malFcia# certo nem errado#

    louv'vel nem conden'vel# tudo parece ser permitido e as a5ões s7o dirigidas t7o somente pela

    D !=?- (19J9)# p.DK.K !=?- (1999)# p.D1.C  $b p.D1.L  $b p.1L.

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    efic'cia# pelo proveito e pela l8gica. Ora# justamente pela l8gica "ue !amus justifica "ue o

    assassinato n7o legFtimo e "ue o outro tem seu %direito G vida& inc8lume. Ou seja# a

    conscincia do outro tem a mesma obriga57o de viver "ue minha conscincia para manter o

    constante conflito %homemmundo manter o sentimento do absurdo. ara !amus# a vida

    sempre preferFvel G morte# j' "ue devemos manter com nossa conscincia# a cis7o %homem

    mundo&.

    l8gica n7o pode encontrar satisfa57o numa atitude "ue dei$a perceber "ue oassassinato ora possFvel# ora impossFvel. Nsso por"ue a an'lise absurda# ap8s tertornado no mFnimo indiferente o ato de matar# na mais importante de suasconse"ncias# acaba por conden'lo. conclus7o Eltima do raciocFnio absurdo #na verdade# a rejei57o do suicFdio e a manuten57o desse confronto desesperado

    entre a interroga57o humana e o silencio do mundo. O suicFdio significaria o fimdesse confronto. (...) 4al conclus7o# segundo ele# seria fuga ou libera57o. =as ficaclaro "ue# ao mesmo tempo# esse raciocFnio admite a vida como o Enico bemnecess'rio por"ue permite justamente esse confronto (...). ara di;er "ue a vida absurda# a conscincia tem necessidade de estar viva. (...). %67o se pode dar umacoerncia ao assassinato# se a recusamos ao suicFdio&.P 

     6o absurdo nada tem por"u de acontecer e o mundo n7o tem prop8sito algum.

    3epois "ue se passa a en$ergar com as lentes do absurdo a indiferen5a do mundo# a pr8$ima

    sensa57o "ue vem a da revolta "ue %nasce do espet'culo da desra;7o diante de uma

    condi57o injusta e incompreensFvel&Q.

    %O revoltado (...) algum "ue se rebela. !aminhava sob o chicote do senhor2 agora

    o enfrenta. !ontrapõe o "ue preferFvel com o "ue n7o &J. H o homem do %"uero"ueassim

    seja e vai t7o longe nisso "ue preferir' morrer a n7o ter satisfeito um direito "ue hoje ele

    e$ige. Rue agora# consciente# ele chama de sua liberdade9. =as a liberdade "ue ele defende

    n7o pode ser apenas uma consagra57o individual# mesmo por"ue ele a põe acima de si

    mesmo# preferindo a morte a tla negada. 0le insurge contra uma condi57o "ue n7o s8 sua.

     6o revoltarse est' implFcito um valor "ue caro a todos os homens. afirma57o implFcita

    em todo o ato de revolta estendese a algo "ue transcende o individuo# na medida em "ue o

    retira de sua suposta solid7o# fornecendolhe uma ra;7o para agir.

    P !=?- (1999)# p.1P1QQ  $b# p.DS.J  $b p.DP.9 !f. !=?- (1999)# p.DQ.

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    O $o%e% revo&ta'o é $o%e% so&i'(rio

    ,evolta a57o. H ela "ue ir' agir# analisarse para decidir o "ue deve ser feito e como

    nos condu;ir. %0la engendra justamente as a5ões cuja legitima57o lhe pedimos&1S. ara

    !amus# portanto# somente no e$ame da revolta possFvel encontrar %a regra de a57o "ue o

    absurdo n7o conseguiu nos oferecer# uma indica57o pelo menos sobre o direito ou dever de

    matar# a esperan5a# enfim# de uma cria57o&11. ,evolta cria57o# destrui57o# transforma57o.

     6uma palavra# movimento numa inrcia. 0 admitido seu Fmpeto de a57o# em algum momento

    a revolta ter' de agir e agir'. 4emos# portanto# a premncia de pensar sobre a legitimidade do

    assassinato antes "ue chegue o momento de agir.

    O revoltado n7o egoFsta. H# antes# altruFsta por"ue nem sempre o insurreto avFtima# ele pode e$perimentar a opress7o do outro. O respeito e o direito "ue ele e$ige s7o

    identificados em todos os homens. ara !amus# se a revolta n7o for solid'ria n7o revolta

    solidariedade dos homens se fundamenta no movimento de revolta e esta# porsua ve;# s8 encontra justifica57o nessa cumplicidade. Nsso nos d' o direito de di;er# portanto# "ue toda revolta "ue se permite negar ou destruir a solidariedade perde#ao mesmo tempo# o nome de revolta e coincide# na realidade# com umconsentimento assassino.1D

    O homem "ue antes e$perimentava o absurdo# como conscincia individual e

    independente# vse agora unido a todos os homens. condi57o de todos a mesma. 4odos

    est7o so;inhos na terra# conscientes do desproposito e a regra de conduta s8 poder' ser

    fornecida pela revolta. !amus institui um novo co'ito "ue transforma o solit'rio homem T

    absurdo em solid'rio T homem revoltado

     6a e$perincia do absurdo# o sofrimento individual. partir do movimento de

    revolta# ele ganha a conscincia de ser coletivo# a aventura de todos. O primeiroavan5o da mente "ue se sente estranha # portanto# reconhecer "ue ela compartilhaesse sentimento com todos os homens# e "ue a realidade humana# em suatotalidade# sofre com esse distanciamento em rela57o a si mesma e ao mundo. Omal "ue apenas um homem sentia tornase peste coletiva. 6a nossa prova57odi'ria# a revolta desempenha o mesmo papel "ue o cogito na ordem do pensamentoela a primeira evidencia. =as essa evidencia tira o individuo de sua solid7o. 0la um territ8rio comum "ue fundamenta o primeiro valor dos homens. 0u me revolto#logo e$istimos.1K

    1S !=?- (1999)# p.D1.11  $d .1D  $b p.KC1K  $b p.KL.

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    Revo&ta %eta)sica# o $o%e% rec+sa De+s

    liberdade humana# num sentido primitivo "ue significa %dei$ar de estar abai$o de&

    ou %dei$ar de ser criatura de vem no momento em "ue a entidade divina afastada do

    mundo e as e$plica5ões para tudo o "ue acontece no cen'rio terreno# longe das bn57os ou

    castigos divinos# admitem um funcionamento l8gico "ue aos olhos humanos parece injusto#

    mas "ue em verdade amoral# desconhece no5ões como bem e mal.

    ?m homem "ue for buscar e$plica5ões para a evidente injusti5a "ue h' no mundo

    tornarse' um revoltado metafFsico# por"ue as e$plica5ões fornecidas por um modelo teFsta

    realmente n7o s7o satisfat8rias para "uem j' recusa sua condi57o de submisso. H necess'rio

    es"uecer 3eus para instituir uma efetiva fraternidade humana.

    3errubado o trono de 3eus# o rebelde reconhecer' essa justi5a# essa ordem# essaunidade "ue em v7o buscava no Imbito de sua condi57o# cabendolhe agora cri'lascom as pr8prias m7os e# com isso# justificar a perda da autoridade divina. !ome5aent7o o esfor5o desesperado para fundar# ainda "ue ao pre5o do crime# se for ocaso# o imprio dos homens.1C 

    !amus di; %ainda "ue ao pre5o do crime& e muitos acreditam "ue os homens#

    acostumados a agir sob moralidades teFsta# com a ausncia divina cair7o no caos e perpetuar7ocrimes en"uanto n7o tiverem outra fonte de moralidade e en"uanto perdurar a lacuna moral

     para as a5ões. 3iferentemente do "ue pode sugerir a ideia de viver sob total liberdade como

    sendo muito bom# em verdade# muito difFcil. ara !amus# diante dessa selvagem libera57o#

    s8 temos duas op5ões %encontrar uma outra lei ou a demncia&1L.

    3ostoievsUi fa; seu personagem Nvan Varama;ov di;er %se 3eus n7o e$iste# tudo

     permitido&1P. conclus7o de Nvan Varama;ov falsa# pois a total liberdade t7o atro; como a

    total servid7o e n7o permite tudo como costumeiramente pensamos. 0la nada permite# por"uenum mundo sem verdade# sem valor e sem objetivo# total liberdade n7o tem ra;7o de ser# n7o

    significa nada e o caos "ue provem dela tambm uma servid7o. %-8 h' liberdade em um

    mundo onde o "ue possFvel e o "ue n7o se acham simultaneamente definidos. sem lei# n7o

    h' liberdade (...). -e o acaso rei# eis a marcha para as trevas# a terrFvel liberdade dos

    cegos&1Q.

    1C !=?- (1999)# p.C1.1L  $b p.91.1P 3O-4ON0+-VN# p.DCS.1Q !=?- (1999)# p.9D.

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    lei "ue agora orientar' a conduta moral ter' de ser feita num Imbito

    e$clusivamente humano e n7o metafFsico. -o;inhos na face da terra# os homens precisam ser

    nobres e engendrar neles mesmos a grande;a "ue antes s8 encontravam em 3eus. 4er7o de

    cri'las# como sugeriu 6iet;sche. -e a terra agora a Enica verdade# se s8 temos uns aos

    outros# preciso ser fiel a este mundo e n7o a um outro p8smorte# por"ue a"ui "ue vivemos

    e # pois# tambm a"ui "ue devemos buscar a salva57o# com nossa ades7o total e e$altada a

    este mundo1J.

    O problema da alteridade a"ui seria facilmente resolvido se fosse f'cil assimilar a

    no57o de fraternidade humana# de solidariedade e de respeito para com o outro. O principal

    nome para alteridade em !amus solidariedade. ?m tipo de a57o verdadeira e transcendental

    em "ue cada homem se reconhece# num certo aspecto# em todos os homens. /' umacumplicidade transparente entre eles# uma te$tura comum# a solidariedade dos grilhões# uma

    comunica57o de ser humano a ser humano "ue torna os homens semelhantes e coligados 19 

    transcendental por"ue o valor "ue a revolta sagra e o direito "ue ela e$ige# fa; do revoltado

    algum "ue blasfema n7o contra uma condi57o "ue s8 sua# "ue di; %eu sou no outro j' "ue

    um sentimento da revolta o de identifica57o e o revoltado# portanto# comunga com toda a

    espcie humana# "ue est' de m7os dadas caminhando para um mesmo destino. Ou ao menos

    deveriam darse as m7os# pois no inFcio da revolta# "uando nulificamos a presen5a divina#deveria ocorrer# por conse"uncia mesma do revoltante# a intensifica57o da fraternidade entre

    os homens a partir da ideia de "ue eles est7o so;inhos e de "ue s8 tm uns aos outros.

    revolta n7o e$iste independentemente dos homens# ela s8 e$iste neles# e# sendo

    assim# est' suscetFvel de tomar dire5ões contradit8rias e deturpadoras de seu processo

    original. Os homens podem adicionar G revolta outros sentimentos "ue n7o lhe s7o pr8prios#

    como o caso do niilismo "ue se assentou em seu seio e afirma "ue a cria57o pode provir de

    todos os meios disponFveis# inclusive a cria57o "ue permite destruir vidas para criar# e isso diferente do "ue conclui a revolta "ue# incondicionalmente# preserva a vida en"uanto

    conscincia "ue mantm o absurdo. %6o auge do irracional# o homem em uma terra "ue ele

    sabe ser de agora em diante solit'ria# vai juntarse aos crimes da ra;7o a caminho do imprio

    dos homens&DS. -e o assassinato sempre e$istiu e a hist8ria bem mostra# a revolta longe de ser

    capa; de e$tinguilo ou de pretender uma impossFvel inocncia# deseja descobrir o princFpio

    de uma culpabilidade racional.

    1J !f. !=?- (1999)# p.9K.19  $b p.KDK.DS  $b p.1DJ.

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    Revo&ta $ist,rica# o $o%e% &an-a'o na $ist,ria

     6a revolta metafFsica !amus apresenta o homem "ue recusa 3eus. 6essa recusa# ele

    cai na hist8ria "ue# a partir de agora# tornase a Enica fonte de onde o ele receber' sugestões

    sobre como agir. =as a hist8ria tem limites para a57oM hist8ria consagrou algum valorM

    /ist8ria com BFblia fa; da revolta revolu57o por"ue desconhece limites morais. revolta

    hist8rica desenfreada pela vacuidade moral da hist8ria agir' violentamente para n7o parecer

    v7 ou ultrapassada# transformarse' em revolu57o e# por isso mesmo# matar'. 67o

    encontramos regras de conduta na hist8ria# as a5ões passam a ser arbitr'rias e a revolu57o# e

    n7o mais a vida# tornase o Enico valor e o assassinato um princFpio seu. Nronicamente# o

    mesmo homem "ue negou submiss7o G divindade# lan5ado na hist8ria e feito escravo desta.*ogo veremos "ue o totalitarismo fe; do sculo WW o sculo da servid7o D1  e "ue a revolta

    hist8rica# consentindo tudo# transfere para o futuro a e$istncia humana2 por hoje# permitido

    matar.

    ela fenda da amoralidade hist8rica# inserese o niilismo# e com ele todas as

    revolu5ões niilistas do sculo WW# "ue s8 foram possFveis pela indiferen5a niilista no "ue di;

    respeito ao assassinato. 0 o niilismo "ue n7o tem valor nem moral# tentar' buscar

    desesperadamente a unidade do gnero humano atravs de um e$tenuante acEmulo decrimesDD. travs do totalitarismo# por e$emplo# esse odioso tipo de domina57o "ue confunde

    totalidade com unidade e# nesse insensato raciocFnio# deseja fa;er da totalidade#

    necessariamente heterognea por"ue as pessoas tm personalidades diferentes# unidade

    homognea.

    totalidade n7o a unidade. O estado de sFtio# mesmo estendido aos limites domundo# n7o a reconcilia57o. reivindica57o da !idade universal n7o se mantm

    nesta revolu57o sen7o rejeitando dois ter5os do mundo e o prodigioso legado dossculos# negando# em favor da hist8ria# a nature;a e a bele;a# suprimindo nohomem sua for5a de pai$7o# de dEvida# de felicidade# de inven57o singular# numa palavra# sua grande;a.DK

    !om o niilismo# a revolta tornase revolu57o "ue n7o tem compromisso algum com

    os valores da revolta e# por isso# homicida. ara !amus# nosso erro tentar uma inocncia

    impossFvel. ara ele# n7o somos totalmente culpados por"ue n7o inventamos a hist8ria#

    simplesmente fomos lan5ados nela# mas estamos longe da inocncia por"ue continuamos o

    D1 !=?- (1999)# p.DD.DD  $b p.DQS.DK  $b p.DQPDQQ.

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    J

    "ue a hist8ria come5ou# somos# assim# para !amus# perpetradores de ini"uidades. hist8ria#

     portanto# mostrou "ue o homem inimigo do homem. ssim# para !amus# somente

    assumindo nossa culpa# dei$ando o niilismo e intensificando os sublimes instintos da revolta#

    seremos capa;es de instituir a fraternidade humana.

    revolta descobriu "ue alguma moral necess'ria para n7o sacrificar todos os

    homens# como ocorre desde "ue se foi buscar na hist8ria uma conduta para as a5ões. 0ssa

    moral a revolta encontrou em si mesma e por esse raciocFnio possFvel afirmar "ue# para

    !amus# en"uanto a revolta for revolta e n7o outra coisa# essa moral "ue lhe pr8pria sempre

    condu;ir' nossas a5ões preservando a vida de todos os homens "ue foi consagrado o valor

    m'$imo.

    0m suas pr8prias origens# e nos seus impulsos mais profundos# encontrase umaregra "ue n7o formal e "ue# no entanto# pode servirlhe de guia. revolta# naverdade# lhe di; e ir' di;erlhe cada ve; mais alto "ue preciso tentar agir# n7o para come5ar um dia a e$istir# aos olhos de um mundo redu;ido ao consentimento#mas em fun57o dessa e$istncia obscura "ue j' se manifesta no movimento deinsurrei57o. (...) o %0u me revolto# logo e$istiremos ao %68s estamos s8s& darevolta metafFsica# a revolta em conflito com a hist8ria acrescenta "ue# em ve; dematar e morrer para produ;ir o ser "ue n7o somos# temos "ue viver e dei$ar viver para criar o "ue somos.DC

    -e a hist8ria tinha protelado para o futuro a e$istncia do homem# permitindo assim o

    homicFdio# o raciocFnio da revolta totalmente incompatFvel com o assassinato. 67o

     possFvel matar algum cuja semelhan5a acabamos de reconhecer e cuja identidade acabamos

    de consagrar. 4odas as conclusões de !amus sejam resolvendo o problema do suicFdio em O

    mito do .3sifo ou do assassinato em O homem revoltado# s7o incisivas e sem contradi5ões.

    ?sando o mesmo raciocFnio apresentado por ,ousseauDL# !amus afirma "ue se um homem

    matar# dever' morrer

    Ruando assassino e vFtima tiverem desaparecidos# a comunidade ir' refa;erse semeles. (...) O rompimento "ue ele (o assassinato) efetua na ordem das coisas irreversFvel. 0le ins8lito e n7o pode# portanto# ser utili;ado# nem sistem'tico#como "uer a atitude puramente hist8rica. 0le o limite "ue s8 pode atingir uma ve;e depois do "ual preciso morrer. O revoltado s8 tem uma maneira de reconciliarse com o seu ato assassino# se a isso se dei$ou levar aceitar a pr8pria morte e osacrifFcio. 0le mata e morre# para "ue fi"ue claro "ue o assassinato impossFvel.DP

    DC !=?- (1999)# p.DJJ.DL ,O?--0?# p.LL.DP !=?- (1999)# p.KDP.

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    O+vin'o a vo 'a revo&ta

    :' sabemos das tristes conse"uncias "ue ocorrem "uando revolta transformase em

    revolu57o# dando origem a novos tiranos "ue se substituem num ciclo infind'vel durante a

    hist8ria# forjando governos "ue s8 funcionam fundamentados no terror# na mentira e na

    servid7o# fa;endo do mundo um lugar de silncio e de medo e rompendo a fraternidade

    humana "ue poderia haver se os homens pudessem e$pressarse livremente e cada um fa;er o

    outro saber de seus verdadeiros desejos# pois dessa comunica57o livre "ue nasce a

    cumplicidade mEtua dos homens. H no raciocFnio revoltado "ue esses trs suplFcios# a

    servid7o# mentira e o terror# s7o negados com a veemncia de um raio. O homem revoltado

    o homem "ue grita "ue estes trs suplFcios s8 instituem o silencio entre os homens#obscurecendoos uns aos outros e impedindo "ue se reencontrem no Enico valor "ue pode

    salv'los do niilismo# a longa cumplicidade dos homens em conflito com o seu destino.

    revolta um rebelarse contra algo# nomear um direito "ue deseja ter satisfeito#

    desejar liberdade em oposi57o G servid7o. =as a liberdade "ue a revolta e$ige n7o total. O

    revoltado ponderado# sensato e sabe muito bem "ue esse tipo de liberdade impossFvel#

     por"ue seria senhora do caos e da morte# por isso# ela n7o deseja uma liberdade assim. %0m

    nenhum caso# se for conse"uente# reivindicar' o direito de destruir a e$istncia e a liberdadedo outro. 0le n7o humilha ningum. liberdade "ue reclama# ele a reivindica para todos2 a

    "ue recusa# ele a proFbe para todos&DQ.

    revolta s8 aceita uma liberdade relativa# e toda liberdade humana tem de ser assim#

     pois cada homem tem sua liberdade limitada pela liberdade do outro# "ue n7o deve ser maior

    nem menor "ue a minha. ?ma liberdade total consente o homicFdio e a revolta "ue destr8i

    il8gica# a revolta s8 age em favor da cria57o# n7o da destrui57o. 6a revolta# h'

    simultaneamente afirma57o e navega57o. -eu %sim& a tudo o "ue sagra a e$istncia e a tornamais feli;# seu %n7o& a tudo o "ue nega a e$istncia. % l8gica do revoltado "uerer servir a

     justi5a a fim de n7o aumentar a injusti5a da condi57o humana# esfor5arse no sentido de uma

    linguagem clara para n7o aumentar a mentira universal e apostar# diante do sofrimento

    humano# na felicidade&DJ.

    DQ !=?- (1999)# p.KDQ.DJ  $b p.KDQ.

  • 8/15/2019 o Absurdo e a Revolta Em Camus

    10/10

    1S

    REFER.NC/AS B/BL/O!R0F/CAS

    !=?-# lbert. O $o%e% revo&ta'o1 CX ed. ,io de :aneiro ,ecord# 1999.

    !=?-# lbert. O %ito 'e Ssi)o1 KX ed. ,io de :aneiro uanabara# 19J9.

    3O-4ON0+-VN# >iodor. Os ir%ãos 2ara%aov1 -7o aulo =artin !laret# DSSK.

    ,O?--0?# :ean T :ac"ues. Do contrato socia&1 Bauru 03N,O# DSSS.