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CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO
LILIAN DE SOUZA
O APRENDIZADO DE UMA SEGUNDA LÍNGUA (ESPANHOL) PENSADO A PARTIR
DA EDUCAÇÃO SOCIOCOMUNITÁRIA E DO MULTICULTURALISMO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
Americana
2015
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LILIAN DE SOUZA
O APRENDIZADO DE UMA SEGUNDA LÍNGUA (ESPANHOL) PENSADO A PARTIR
DA EDUCAÇÃO SOCIOCOMUNITÁRIA E DO MULTICULTURALISMO
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Educação, do Centro Universitário Salesiano de São Paulo –UNISAL, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Educação, sob a orientação do Prof.ª. Dr.ª Maria Luísa Amorin Costa Bissoto.
UNISAL
Americana
2015
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Souza, Lilian
S716a O Aprendizado de uma segunda língua (espanhol) pensado a partir da educação sociocomunitária e do multiculturalismo / Lilian Souza. Americana: Centro Universitário Salesiano de São Paulo, 2015.
175 f.
Dissertação (Mestrado em Educação). UNISAL – SP. Orientador: Maria Luísa Amorin Costa Bissoto. Inclui bibliografia.
1. Língua espanhola. 2. Linguagem. 3. Cultura. 4.
Multiculturalismo. 5. Educação sociocomunitária – Brasil. I.
Título.
CDD 460.07
Catalogação elaborada por Lissandra Pinhatelli de Britto – CRB-8/7539 Bibliotecária UNISAL – Americana
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Lilian de Souza
O aprendizado de uma segunda língua (espanhol) pensado a partir da educação sociocomunitária e do multiculturalismo
Dissertação apresentada como exigência para obtenção do grau de Mestre em Educação Sociocomunitária.
Trabalho de Conclusão de Curso defendido e aprovado em 20/03/2015, pela comissão julgadora:
____________________________________________
Prof. Dr. Thiago Borges de Aguiar
UNIMEP
____________________________________________
Profa. Dra. Valéria Oliveira de Vasconcelos
UNISAL
____________________________________________
Prof.ª Dr.ª Maria Luísa Amorin Costa Bissoto - Orientadora
UNISAL
UNISAL
Americana
2015
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Dedico este trabalho aos meus queridos pais que me apoiaram
e principalmente acreditaram em mim.
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AGRADECIMENTOS
A Deus, por iluminar meus pensamentos e me proporcionar a realização deste
sonho.
À minha família pelo constante apoio, carinho e compreensão durante toda essa
caminhada. Muito obrigada Antônio Bráz e Ivone.
Aos amigos que torceram por mim, principalmente àqueles que tive a oportunidade
de conhecer mediante esse estudo.
Aos alunos que direta ou indiretamente me auxiliaram para a obtenção desse título e
que agora se tornaram amigos queridos.
Ao professor Dr. Thiago Borges de Aguiar pelas valiosas sugestões e pela maneira
como foram colocadas.
A querida professora Dra. Valéria Oliveira de Vasconcelos pelos ensinamentos em
sua disciplina e também pelas contribuições que foram preciosas para a conclusão
dessa pesquisa.
A minha cara orientadora professora Dra. Maria Luísa Amorin Costa Bissoto, que
com paciência, dedicação e carinho conseguiu lapidar a pedra bruta de nome Lilian.
Foram vários encontros e muito tempo disposto nas diversas orientações que obtive
para a finalização dessa dissertação. A ela serei eternamente grata.
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"Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses."
Rubem Alves
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RESUMO
O presente trabalho propõe uma mirada sobre a aquisição de uma segunda língua (L2) pelos falantes da língua Portuguesa (L1), levando-os por meio do outro idioma, neste caso o espanhol, trabalhado a partir de uma perspectiva de incentivo à multiculturalidade, à reflexão sobre a L1, sensibilizando-os à sua própria realidade, com o objetivo de transformá-la e transformar-se. Parte-se da hipótese de que a aquisição de uma L2 não é um processo de aprendizagem neutro ou mecânico, mas se efetiva pela identificação do aprendente com os valores e concepções de mundo presentes em determinada cultura. Nesse sentido, trata-se de promover a aquisição da linguagem por meio da interação sociocultural, acompanhando as teorias de Lev Semenovick Vygotsky e de Mikhail Bakthin, referentes à enunciação em L2. A fundamentação epistemológica em relação à cultura é também tratada no âmbito dos escritos de Ortega y Gasset e Geertz. Argumenta-se que o aprendizado de uma L2, pela ótica da multiculturalidade, coaduna-se com aquela da Educação Sociocomunitária, no sentido de que favorece o empoderamento dos sujeitos e das suas comunidades de relação pelo alargamento da reflexão ética e crítica sobre as concepções que se constroem da realidade. Defende-se que o multiculturalismo associa-se ao respeito à diversidade, acompanhando o pensamento de Boaventura Sousa Santos, pois a pluralidade de sentidos interpretativos do mundo, presentes nas diferentes línguas, ainda é um obstáculo para se aprender um novo idioma e adentrar outras bases culturais, pois lida-se com diversos pré-conceitos. E esses têm vozes fortes, que dificultam a busca por entender o outro e, correspondentemente, a si mesmo. A metodologia empregada é a pesquisa participativa, realizada com alunos dos cursos técnicos de uma instituição pública de ensino, na cidade de Americana, São Paulo. Como resultados se afirma que a perspectiva de ensino de uma L2, por meio da discussão das bases culturais relativas ao idioma a ser ensinado, se mostra promissora como estratégia didático-metodológica, abrindo caminho para que o aprendente se sensibilize para a diversidade interpretativa de mundo, presente em diferentes culturas, e também para repensar aspectos da própria cultura e do próprio idioma.
Palavras-chave: Segunda língua. Linguagem. Cultura. Leitura de mundo. Multiculturalismo. Educação Sociocomunitária.
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RESUMEN
El presente trabajo propone una mirada sobre la adquisición del español como segunda lengua (L2) por los hablantes de portugués brasileño (L1). Llevándolos por medio de otro idioma, en este caso el español, trabajado a partir de una perspectiva de incentivo a la multiculturalidad, a la reflexión sobre la L1, lo que hacen sensibles a su propia realidad, con objetivo de transformarla y transformarse. Partiendo de la hipótesis de que la adquisición de una L2 no es un proceso de aprendizaje neutral o mecánico, sino que se efectiva por la identificación del estudiante con los valores y la concepción de mundo presentes en determinada cultura. En ese sentido, veo como necesario tratar la adquisición del lenguaje por medio de la interacción de acuerdo con la teoría de Vygotsky y de Bakthin, en cuanto a los análisis sobre la enunciación en L2. La fundamentación epistemológica en relación a la cultura y también tratada en el ámbito de los escritos de Ortega y Gasset e Geertz. Se argumenta que el aprendizaje de una L2 por la óptica de la multiculturalidad, juntamente con la Educación Sociocomunitária, en el sentido de favorecer el empoderamiento de los sujetos y de su comunidades de relación por medio del alargamiento de la reflexión ética y crítica sobre las concepciones que se construyen de la realidad. Se defiende que el multiculturalismo se asocia al respecto el respecto a la diversidad, se recurre al pensamiento de Boaventura de Souza Santos, la pluralidad de sentidos interpretativos del mundo, presentes en las diferentes lenguas, aún es un obstáculo para aprenderse un nuevo idioma y adentrar en otras bases culturales, pues lidia con diversos prejuicios. Y eses tienen voces más fuertes que la búsqueda por entender el otro y a sí mismo. La metodología usada es la investigación bibliográfica y participativa, realizada con los alumnos de la escuela técnica Polivalente de Americana, São Paulo. Como resultados afirmase que la perspectiva de enseñanza de una L2, por medio de la discusión de las bases culturales relativas al idioma a ser enseñado, se presenta promisora como estrategia didáctico-metodológica, abriendo camino para que el aprendiente sensibilizado para la diversidad interpretativa de mundo, presente en diferentes culturas, y también para repensar los aspectos de la propia cultura y del propio idioma.
Palabras clave: Segunda lengua (L2). Lenguaje. Cultura. Lectura de mundo. Multiculturalismo. Educación Sociocomunitária.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Mapa das línguas indígenas na América Latina..................... 46
Figura 2 La Catrina de José Guadalupe Posada.................................. 77
Figura 3 Altar De muertos.................................................................... 78
Figura 4 Desenho de Felipe Guamán Poma de Ayala.......................... 79
Figura 5 Passeio dos mortos pelas ruas das cidades Incas................. 80
Figura 6 Apresentação musical............................................................. 112
Figura 7 Apresentação de comidas típicas........................................... 114
Figura 8 Jantar no restaurante Empanadas La Boca...........................
115
Figura 9 Trabalho de refilmagem.......................................................... 116
Figura 10 Cartaz do filme Valentín como presente ................................
118
10
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Distinção entre palavras heterossemânticas em língua
espanhola e portuguesa.....................................................
44
Quadro 2 - Dados demográficos dos alunos que responderam o
questionário exploratório ...................................................
99
Quadro 3 - Dados demográficos dos alunos que responderam o
questionário exploratório acerca da morte.........................
104
Quadro 4 - Dados específicos dos participantes do grupo focal.........
122
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ASL Aquisição de uma Segunda Língua
CEL Centro de Estudos de Línguas
ETEC Escola técnica
LE Língua estrangeira
L1 Língua materna
L2 Segunda língua
ZDP Zona de Desenvolvimento Proximal
ENEM Exame Nacional de Ensino Médio
APAE Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais
RAE Real Academia Española.
UDN União Democrática Nacional
GF Grupo Focal
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO....................................................................................................... 14
1. LÍNGUA E LINGUAGEM: UMA SIMBIOSE SÍGNICA
1.2. Aquisição da Linguagem............................................................................
1.2.1. O papel da língua materna na aquisição de uma segunda língua....
18
26
1.3. O aprendizado da L2 e a Semiótica.......................................................... 29
1.4. A questão da segunda língua (L2) e a busca por sua definição................ 34
1.5. Sobre aprendizagem e aquisição de segunda língua: o espanhol............. 36
1.6. O caso do Espanhol como segunda língua ............................................... 41
1.7. Questões didático-metodológicas e psicológicos-cognitivas no
aprendizado da L2............................................................................................
47
2. CAPÍTULO II – MULTICULTURALISMO
2.1. A cultura como caminho para a aprendizagem de uma segunda língua.... 53
2.2. Aportes sobre o papel da cultura na aprendizagem da L2........................ 58
2.3. O multiculturalismo como caminho para o respeito da diversidade
cultural (e humana) e o aprendizado da L2: por outras concepções de
Educação...........................................................................................................
64
2.4. O Multicultural, o intercultural e o processo de ensino e aprendizagem.... 67
2.5. Concepções do mundo hispano falante: uma visão mexicana, peruana e
espanhola...........................................................................................................
2.5.1. A questão da morte para os mexicanos, peruanos e espanhóis.....
70
74
2.5.2. Pratos típicos mexicanos, peruanos e espanhóis........................... 82
2.5.3. Festas e comemorações................................................................. 84
3. ANÁLISES DOS DADOS
3.1 O aprendizado do espanhol sob a ótica da Educação Sociocomunitária:
um exercício para o/do multiculturalismo..........................................................
88
3.2. Da metodologia: a pesquisa qualitativa e os métodos empregados, o
questionário, a observação participante e o grupo focal..................................
94
13
3.2.1. Caracterização dos instrumentos de coletas de dados dessa
investigação: o questionário.....................................................................
3.2.2. A observação participante: a prática docente nas aulas de
espanhol....................................................................................................
3.2.3. Grupo Focal....................................................................................
3.3. Da análise dos dados................................................................................
98
107
121
139
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 149
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 152
APÊNDICES........................................................................................................... 170
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INTRODUÇÃO
Tem-se como enfoque central nessa dissertação que o aprendizado de uma
segunda língua, no caso a língua espanhola, mais do que o conhecimento
“mecânico” das palavras, pode significar a abertura do aprendente para outras
formas de perspectivar o mundo; numa reconfiguração da sua própria realidade.
Palavras são uma forma de materializar a linguagem, e a linguagem é
conhecimento; conhecimento de mundo, conhecimento construído a partir da vida.
Representada por conceitos, ferramentas para o pensar, palavras podem ser
definidas como conceitos em rede: de relações, de processos, de sentimentos
(HUDSON, 2010).
E não têm sentido isoladamente, modulam e são moduladas por interpretações
da realidade. Assim, aprender uma segunda língua pode ser uma maneira de
favorecer ao aprendente a reflexão sobre a conformação da realidade, e a
comparação das interpretações da realidade feita por outras culturas, que
expressam suas diferenciações também por meio das palavras. Pode-se então, de
posse de outras “ferramentas para pensar”, influenciar transformações em um
determinado contexto, pois esse passa a ser perspectivado de diferentes maneiras,
e a conjecturar sobre as imensas possibilidades que teríamos de significar o mundo
com uma educação fundada numa perspectiva multicultural.
Por essa razão, e com o intuito de que uma aprendizagem em uma segunda
língua contribua na formação de sujeitos mais conscientes interculturalmente, ou
seja, aptos para configurar a realidade de modos mais amplos, mais estendido, com
diversas “ferramentas para o pensar”, é que procedemos à essa investigação.
Diversos estudos foram desenvolvidos sobre a aquisição/aprendizagem de línguas,
seja ela a materna, estrangeira ou segunda língua. Essa pesquisa tem a intenção
de propor a reflexão direcionada ao aprendente de língua espanhola, analisando se
por meio de tal aprendizagem é possível potencializar e ampliar sua leitura de
mundo; inclusive da sua própria realidade. Ao se abrir para o novo e compreendê-lo,
acreditamos que o sujeito é levado a modificar a si mesmo, base para mudar seu
entorno. Considera-se que esse é um movimento que se coaduna com o que é
proposto por Freire:
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o homem está no mundo e com o mundo. Se apenas estivesse no mundo não haveria transcendência nem se objetivaria a si mesmo. Mas como pode objetivar-se, pode também distinguir entre um eu e um não-eu. Isso o torna um ser capaz de relacionar-se; de sair de si; de projetar-se nos outros; de transcender. Pode distinguir órbitas existenciais distintas de si mesmo. Estas relações não se dão apenas com os outros, mas se dão no mundo, com o mundo e pelo mundo (nisto se apoiaria o problema da religião). O animal não é um ser de relações, mas de contatos. Está no mundo e não com o mundo (FREIRE, 1997, p. 30).
Ao se conscientizar dessa relação de ser e estar com o mundo é que o ser
humano tem a possibilidade de se abrir para conhecer a sua própria realidade com
mais propriedade e, assim, apropriar-se do contexto que o cerca.
Julga-se necessário, inicialmente, a definição e a distinção entre língua
materna (L1), língua estrangeira (LE) e segunda língua (L2), que fundamentam essa
escrita. A primeira é entendida como a língua nativa, a L1, ou seja, o primeiro código
linguístico com o qual se tem contato. A LE resulta num aprender a se comunicar por
meio de e/ou compreender outro idioma, ou seja entender e fazer-se entender no
outro idioma; e a L2 vai além do saber comunicar-se, caracterizando-se por ser
capaz de se expressar e refletir no novo idioma.
Tomam-se como base na discussão a ser tratada as abordagens teóricas de
Lev Vygotsky e Mikhail Bakhtin, as quais confluem no processo de interação social e
configuração cultural mediante a linguagem, tendo o diálogo como ferramenta
primordial para a constituição do ser, inserido num determinado instante histórico,
numa determinada sociedade. O aprendizado humano teria, assim, natureza social,
a própria formação da consciência só podendo ser considerada como processo de
interação social. Por isso as experiências socioculturais se revelam tão valorosas
para o aprendizado, inclusive aquele de uma segunda língua. O indivíduo disposto a
comunicar-se em outro idioma tem a possibilidade do contato com sons, significados
e símbolos, que diferem da sua cultura de origem, e que dentro da lógica semântica
e sintática de cada língua encontra seu sentido.
Argumenta-se sobre o papel da cultura na aquisição da L2, visto que a
construção da realidade social está subentendida em cada escolha vocabular
cotidiana, em cada gesto observado, em cada registro gráfico, corporal ou plástico
feito, caminhos para a reflexão sobre a própria cultura e o que a constitui. Por meio
do intercâmbio cultural há uma permuta nos modos de ver o mundo, que vai se
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modificando, pois ao nos colocarmos no lugar do outro, começamos a mais bem
entender a nossa realidade. Não há como separar língua e cultura, uma vez que
ambas constituem o sujeito, pois esse ao aprender uma língua, passa a ser
representante cultural do seu grupo social.
Os objetivos da pesquisa, como anteriormente mencionado, é investigar as
possibilidades que o aprendizado de uma L2, no caso o espanhol, traz para a
ampliação das “leituras de mundo” do aprendente, em relação à sua própria
realidade e propor uma apreciação das diferenças culturais, inserindo-se assim,
numa perspectiva de educar para o multiculturalismo e para o respeito à diversidade.
A hipótese é a de que aprender uma L2 não significa apropriar-se de um “mero”
conjunto de regras gramaticais e vocabulário, mas sim adentrar outras lógicas de
fazer sentido do mundo, possíveis na e expressas pela linguagem de determinada
cultura. É por meio dessa ampliação de sentidos de mundo que o aprendente de
uma L2 se apoderaria de outras lentes conceituais para “ler” sua cultura de origem,
num constante movimento de aprendizado-e-reflexão. Nesse sentido, o aprendizado
de uma segunda língua é mais do que estudar um “idioma”, pois significa propor ao
aluno a apreciação das diferenças culturais, inserindo-se numa perspectiva de
educar para o multiculturalismo e para o respeito à diversidade.
Em relação à figura do professor de uma L2, uma questão que se coloca
nessa investigação é: Qual o papel do professor no processo de ensino e
aprendizagem de uma L2, nessa perspectiva?
O presente trabalho inicia-se com a discussão da temática da língua e a
tentativa de conceituá-la. Aborda-se a aquisição tanto da língua materna como da
segunda língua, para uma melhor compreensão dos distintos processos do ensino e
aprendizagem que as envolve. Explora-se também a questão da linguagem pela
Semiótica pierceriana, focando-se no quesito da aprendizagem de uma L2. Em
seguida, busca-se uma definição do que se entende por segunda língua e, mais
particularmente, faz-se uma análise do caso da língua espanhola, e das ações
didáticas e metodológicas, que envolvem a aprendizagem da segunda língua.
O tópico que se segue se atém à discussão sobre o que se entende por
multiculturalismo, mais estritamente o papel que a cultura desenvolve no
aprendizado de uma segunda língua. As concepções do mundo hispano falante são
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abordadas, pelas contribuições socioculturais que denotam, como as culturas
mexicana, peruana e espanhola, no aspecto de concepções sobre a morte, comida e
as festas comemorativas.
No terceiro e último tópico apresentam-se e discutem-se os dados coletados
ao longo do trabalho investigativo, por meio de questionários exploratórios, da
realização de um grupo focal e a discussão da prática docente no ensino do idioma
espanhol, numa perspectiva multicultural. Essa discussão toma por base o contexto
educacional da Escola Técnica Polivalente de Americana, São Paulo, pertencente
ao Centro Paula Souza, em que a disciplina “Espanhol” é componente curricular nos
cursos técnicos em Secretariado e Eventos, e é lecionada pela pesquisadora. Os
questionários exploratórios foram feitos com o intuito de mais bem conhecer os
aprendentes e suas concepções sobre o idioma e a cultura espanhola. A técnica de
grupo focal pode ser considerada como enquadrando-se em estratégias de pesquisa
qualitativa, pois “utiliza um grupo de discussão informal, de dimensões reduzidas,
com o propósito de obter informações em profundidade” (BARBOSA, 1999, apud
MOURA, SANTOS, 2000, p. 02).
Também se tratará da temática da educação sociocomunitária em relação ao
aprendizado de uma segunda língua e o multiculturalismo, numa perspectiva
educacional voltada para outras compreensões de mundo.
Como resultados espera-se mais bem compreender as relações que podem
ser estabelecidas entre o aprendizado de uma segunda língua e uma nova
“formatação” conceitual, que ampliaria as possibilidades do aprendente de “ler e
interpretar” sua própria realidade. E considera-se que tal ação interpretativa é chave
num processo de Educação Sociocomunitária. Pois, da forma como essa será
entendida nesse trabalho, como processo de escuta das diferentes vozes que
compõem os múltiplos contextos educativos e educacionais dos sujeitos, colocando-
os em diálogo, discutindo suas divergências e convergências, para melhor entender
a complexidade da Educação, é essencial a construção de referenciais que pensem
a “leitura de mundo” dos sujeitos e como essa pode ser ampliada, “dialogicizada”.
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1. LÍNGUA E LINGUAGEM: UMA SIMBIOSE SÍGNICA
1.1. A questão da linguagem e da língua
Muitas foram as trajetórias dos seres humanos na busca por fazer-se
entender e compreender o outro; destas tentativas surgiram a fala, as pinturas
rupestres, os rituais de tribos primitivas e o nascimento dos primeiros sistemas de
escrita, alfabética ou não, como aqueles dos gregos, sumérios e egípcios, dentre
outros.
Com a complexidade do modo de vida dos grupos humanos a própria
linguagem gestual, oral e visual- foi se transformando, e surgiram os primeiros
indícios da formação das línguas e seus dialetos. As línguas estabeleceram
identidades de um povo, distinguindo-os dos demais, conjuntamente com o seu
modo de vida e suas crenças.
Embora comumente se faça a confusão entre língua e linguagem, que muitas
vezes são consideradas como sinônimos, Santaella (1999) elucida que ambas se
diferenciam. A língua é aquela da qual fazemos uso para falar e escrever, para nos
comunicarmos e registrarmos pensamentos e fatos, podendo ser classificada como
materna, segunda e estrangeira. No entanto, as línguas incorporam e são
incorporadas pela linguagem, ou seja, dotadas de uma gama intrincada de formas
sociais de comunicação e de significação, que incluem diversas maneiras de
articulações.
O estudo da formação das línguas pode ser feito, dentre outras ciências, pelo
estudo da fonética1, que se atém aos sons das palavras, diferenciando assim suas
significações. O enfoque nos fonemas e a cadeia sonora produzida pelo ato da fala
faz parte da constituição da língua, sendo ela a principal responsável pela sua
evolução.
1
Fonética: estudo da fonação (v.). A fonética dita descritiva nos dá os efeitos acústicos elementares que a nossa audição apreende como unidades sônicas, ou sons da fala, produzido pela articulação dos órgãos fonadores. É de cada som da fala que se depreende o fonema (CAMARA JR. 1997, P.119).
19
A língua se renova continuamente, forjando e sendo forjada pelas
especificidades que marcam um território, e das diversidades nestes existentes, por
questões sociais, econômicas, culturais, laborativas, etárias, etc. A maneira como
utilizamos a língua, nos define como seres humanos.
Acompanhando este raciocínio, a língua foi e pode ser um instrumento de
poder, como a variante castellana, imposta pelo Reino de Castilla no período da
Guerra de La Reconquista na Península hoje denominada Espanha. As raízes
linguísticas eram tão arraigadas nesse período que avançaram além-mar e
ultrapassaram as barreiras naturais e políticas, modificando concepções de mundo,
impondo valores e toda uma nova configuração da realidade, mantendo-se no
cenário cognitivo e sociocultural do povo latino-americano até os dias atuais.
A questão da imposição da língua pelos que estão no domínio das relações
de poder apresenta um seguimento de acontecimentos, que desloca o poder de um
Reino para nessa lógica tornar-se uma nação, a qual será representada pelos
dominadores e ao mesmo tempo que foram dominadas em outras terras, como
aponta Silva e Brandim (2008, p.54):
torna-se difícil, muitas vezes, situar quem é quem no jogo das diferenças, nas relações de poder desiguais, isto é, quem se posiciona na condição de dominante ou de dominado, uma vez que em todos os grupos culturais há aqueles que são a, um só tempo, discriminados e discriminadores, vítimas e
algozes.
Prado e Pellegrino (2014, p.21) apontam o formato conferido para a formação
da Nova Espanha aos nativos encontrados na América, no século XVII:
Ao longo desse período, os pueblos de índios na Nova Espanha experimentaram um movimento de recuperação demográfica e de reorganização identitária. Os vecinos de origens variadas reunidos em um mesmo pueblo assimilaram o calendário de festas católicas, escolheram um santo protetor para a comunidade, construíram uma narrativa sobre as relações ancestrais que guardavam com aquele local.
O ato de dominar, no decorrer da história, geralmente ocorre por meio de
conflito armado, mas um fator essencial no processo de dominação é exatamente a
língua, por toda sua significação de configuração cultural e dos modos de ser e de
se organizar de um grupo social.
20
A interação é um fator chave para compreender o outro, pois como apontado
anteriormente o vocabulário que dispomos em um idioma é o reflexo da história de
seu povo. Como afirmado por Bakhtin (2006, p.127):
Compreender a enunciação de outrem significa orientar-se em relação a ele, encontrar o seu lugar adequado no contexto correspondente. A cada palavra da enunciação que estamos em processo de compreender, fazemos corresponder uma série de palavras nossas, formando uma réplica. Quanto mais numerosas e substanciais forem, mais profunda e real é a nossa compreensão.
Mas, afinal, quais são as definições que podem ser dadas à Língua? Segundo
o Dicionário de Linguística de Jean Dubois (1998, p.145), a “língua é um instrumento
de comunicação, um sistema de signos vocais específicos aos membros de uma
mesma comunidade”. A língua se apresenta como uma instituição social e um
sistema de valores, e para o estudioso francês Roland Barthes (1964, p.18) “é parte
social e não premeditada da linguagem; o indivíduo, por si só, não pode nem criá-la
nem modificá-la, trata-se essencialmente de um contrato coletivo ao qual temos que
nos submeter em bloco se quisermos comunicar”. A língua é vista como algo que
antecede o nascimento do sujeito e para seu uso é preciso se submeter às regras e
convenções especificadas pelo grupo social em que tal ou qual língua prevalece. Na
concepção de Saussure (2008, p.17), a língua “é, ao mesmo tempo, um produto
social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias,
adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos”.
Para Bakhtin (2006, p.124) “a língua vive e evolui historicamente na
comunicação verbal concreta, não no sistema linguístico abstrato das formas da
língua nem no psiquismo individual dos falantes”. Essa é a compreensão de língua
que será empregada nessa pesquisa.
Enquanto Saussure se atém à dicotomia Língua / Fala, tratando a primeira
como um sistema linguístico abstrato, compreendida apenas em sua lógica
estrutural, Bakhtin aponta a língua como atividade social, pautada nas necessidades
de comunicação, sendo essencialmente dialógica. Conforme afirma Macedo (2009),
pode mesmo ser considerada como um organismo vivo, e em constante
transformação.
21
De acordo com o Dicionário de Linguística e Gramática (CAMARA JR. 1997),
linguagem é a capacidade que o ser humano dispõe para demonstrar seus estados
mentais por meio de um sistema de sons vocais, chamado língua, responsável por
organizar, numa representação compreensiva, o mundo exterior objetivo e o mundo
subjetivo interior. Santaella (1999, p. 02) trata dos diferentes tipos de linguagem e
sua constituição relacionada com a visão de mundo de um indivíduo ou de uma
sociedade:
Em síntese: existe uma linguagem verbal, linguagem de sons que veiculam conceitos e que se articulam no aparelho fonador, sons estes que, no Ocidente, receberam uma tradução visual alfabética (linguagem escrita), mas existe simultaneamente uma enorme variedade de outras linguagens que também se constituem em sistemas sociais e históricos de representação do mundo.
Há quem acredite que a função da linguagem é apenas a comunicação,
contudo argumenta-se que ela apresenta certas disposições para ser um
instrumento que transmite, ordena, indaga, anuncia e provoca no interlocutor um
comportamento, potencialmente adequado, em cada contexto em que é aplicada.
Fazendo o uso da linguagem na modalidade da fala, da escrita ou em gravuras,
coloca-se em prática a capacidade de quem faz o uso da linguagem de constituir-se
como sujeito:
A importância da linguagem para os seres humanos não reside só nas possibilidades de comunicação que encerra. Por ser um sistema de representação da realidade, ela dá suporte também a que realizemos diferentes operações intelectuais, organizando o pensamento, possibilitando o planejamento das ações e apoiando a memória (RIBEIRO V.M.M., 1997, p. 51).
A linguagem está relacionada com a visão de mundo constituída pelo sujeito,
e no entender de Geertz (1989, p.93) a “visão de mundo” pode ser definida como o
quadro que se “elabora das coisas como elas são na simples realidade, seu conceito
da natureza, de si mesmo, da sociedade”. Para Durán (2004) o termo visão de
mundo apresenta duas dimensões fundamentais, a primeira como um reflexo da
realidade em toda a sua complexidade e a segunda determinada pela estrutura de
uma língua em seu aspecto semântico, que codifica mediante os símbolos
22
linguísticos, a visão de mundo do sujeito. Ambos estão em acordo com a
importância da questão cultural na formação de visão de mundo do ser,
principalmente na aprendizagem de uma segunda língua, conforme aponta Durán
(2004, p.492): “Es obvio que para comprender bien una lengua, tanto su gramática y
su léxico como sus usos pragmáticos es necesario comprender su cultura, es decir,
los valores sociales y culturales asociados a las palabras y otros muchos aspectos”.
1.2. Aquisição da Linguagem
Ao adentrar na questão sobre aquisição da linguagem sabe-se que várias são
as teorias sobre essa temática, como o Behaviorismo, que defende que é por meio
de associações de estímulos e respostas, imitação e reforço, que se desenvolve o
conhecimento linguístico. Skinner (1957) considera o desenvolvimento linguístico
como independente de outras capacidades cognitivas, pois aponta que é um
comportamento aprendido, ou seja, que é construído a partir da interação do ser
com o meio, via a associação estímulos-resposta.
O Inatismo chomskiano aponta a linguagem humana como congênita e
biologicamente determinada, assim o ser humano está apto a falar qualquer língua,
pois segundo essa abordagem, também chamada de gerativista, se pressupõe a
existência de um mecanismo inato, denominado Gramática Universal, responsável
pela aquisição da linguagem (FINGER, 2008). A abordagem gerativista tem como
pilares três tipos de ideias, as “vindas de fora”, as criadas e as pré-determinadas,
tidas como universais. Chomsky (1988, p. 04) assim explica o termo gerativista:
“certos aspectos do nosso conhecimento e do nosso entendimento, que são inatos,
fazem parte da nossa determinação genética, da nossa natureza, assim como a
natureza nos faz caminhar ao invés de voar”.
O Interacionismo construtivista da teoria piagetiana concebe a linguagem
como resultado da permuta entre o organismo e o meio, com o fator endógeno
antecedendo cada passo da construção da linguagem e do conhecimento. Para
Piaget (1975, p.9)
23
A questão que se coloca é a de se saber por que e como a criança sofre, em certos momentos determinados e não em outros, a influência de tais ou tais relações sociais: é assim que a linguagem é adquirida em uma determinada idade e não em outra, segundo uma determinada ordem e não outra e por que não transforma, portanto, o pensamento, a não ser na medida em que este se encontra apto a deixar-se transformar.
A teoria empregada neste trabalho foi a abordagem sócio-histórico-cultural do
russo Lev Vygotsky e colaboradores, que consideram a linguagem como tendo um
papel crucial na formação do pensamento do indivíduo. O autor enfatiza que “a
função primordial da linguagem, tanto nas crianças como nos adultos, é a
comunicação, o contato social” (VYGOTSKY 2002, p.17). O ser humano é entendido
como um ser social, formado dentro de um ambiente culturalmente definido, sendo
por meio da interação do sujeito com o outro e com o meio que ele se constitui como
tal, e (re)define seu entorno. A linguagem, nesse âmbito, é ferramenta cultural
determinante.
A relação entre pensamento e linguagem é intrínseca, e ambas responsáveis
pela formação das funções cognitivas superiores do ser humano. Por isso os
significados das palavras devem ser analisados dentro de um contexto situado no
tempo, pois palavras que se aprendem quando criança tem uma significação, já a
mesma palavra empregada quando a pessoa é adulta pode tomar outra definição.
Segundo Vygotsky (2002, p.106) "As palavras desempenham um papel fundamental,
não só no desenvolvimento do pensamento, mas também no desenvolvimento
histórico da consciência como um todo. Cada palavra é um microcosmos da
consciência humana".
O sujeito vygotskyano é considerado como aquele que está em constante
interação com seu entorno, isto é, com suas condições de existência, sócio-
historicamente construídas, sendo sua formação como sujeito inerentemente
mediada pela linguagem. Na busca por explicar como a formação das funções
cognitivas superiores, próprias aos seres humanos, são construídas ao longo da
história do sujeito, Vygotsky propôs uma teoria que incorpora uma perspectiva
semiótica. Na obra A formação Social da Mente, afirma que: “Nesse contexto,
podemos usar o termo função psicológica superior, ou comportamento superior com
24
referência à combinação entre instrumento e o signo na atividade psicológica, e a
linguagem como um meio de interação social” (VYGOTSKY 2003, p.71).
Se é pela mediação que se dá a internalização dos signos culturais, isso
significa que a conversão de relações sociais em funções mentais superiores não é
realizada de forma direta, mas “intercedida” pelo uso de instrumentos (ferramentas
culturais), cotidianamente empregados nas relações humanas, tais como a
linguagem. E condutores da relação do indivíduo com o objeto ou a atividade,
necessariamente levando a mudanças no objeto, de forma a ser orientado
externamente. Os signos agem no sentido de ativar, regular e controlar a atividade
psicológica, não modificam o objeto, mas compõem um meio da atividade interna
dirigir o próprio indivíduo. Vygotsky (2003, p. 72) aponta que: “A diferença mais
essencial entre signo e instrumento, e a base da divergência real entre as duas
linhas, consiste nas diferentes maneiras com que eles orientam o comportamento
humano.” Já a combinação entre os dois é que leva o desenvolvimento das funções
superiores e nos distingue dos animais.
A linguagem faz parte das funções superiores junto com o pensamento, o
comportamento volitivo, a atenção consciente, a memória voluntária, entre outros,
que têm origem nos processos sociais que o indivíduo vivencia. Desse modo, para
compreender a aquisição da linguagem, segundo Vygotsky, teríamos três discursos,
que dialeticamente compõem-se entre si, divididos em social, egocêntrico e interior.
O discurso vigente na sociedade em que se vive, ou àquele ao qual se tem acesso,
é o primeiro que surge, tendo por premissa a comunicação e interação com entorno
e as pessoas; assim, o pensamento e a linguagem não confluem, mas se
desenvolvem em paralelo. Já o discurso egocêntrico é aquele de si para si, trata-se
da necessidade de falar consigo mesmo ou da externalização do pensamento
aplicado à resolução de problemas, sem necessidade de resposta, não tem objetivo
comunicativo, tampouco social, mas é prioritariamente intimista e individual. Por fim,
o discurso interior ocorre em direção ao próprio locutor, há ausência de vocalização,
pois a necessidade que tange essa fase é o pensar antes de falar, ou seja,
transformar o pensamento em palavras, estruturá-las em frases e criar conexões
antes de verbalizá-las. Conclui Vygostky (2002, p.18): “Na nossa concepção a
verdadeira trajetória de desenvolvimento do pensamento não vai no sentido do
25
pensamento individual para o socializado, mas do pensamento socializado para o
individual.”
Como a base das pesquisas da Psicologia Histórico-Cultural está nas formas
de inteligência prática especificamente humanas, a fala se destaca como ponto
crucial da descoberta da vida de uma criança, quando há a percepção da relação
entre signos e significados, assim:
O momento de maior significado no curso do desenvolvimento intelectual, que dá origem às formas puramente humanas de inteligência prática e abstrata, acontece quando a fala e a atividade prática, então duas linhas completamente independentes de desenvolvimento, convergem....Antes de controlar o próprio comportamento, a criança começa a controlar o ambiente com a ajuda da fala (VYGOTSKY, 2003, p.33).
A fala acompanha a ação e é a solução para a resolução de problemas
infantis, os quais as crianças executam determinadas ações e/ou reações do que
fazem a outrem; nesse processo dá-se início a capacidade de planejamento.
Tal conduta está associada à fala egocêntrica, que por sua vez também está
ligada à fala social, pois quando a criança se depara com a incapacidade de resolver
problemas, recorre a um adulto, fazendo uso de uma fala socializada, a qual será
internalizada na medida em que ela compreender o que lhe foi apresentado, num
processo de internalização, que se dará quando a criança conseguir organizar suas
próprias atividades.
Levando-se essa afirmação para a sala de aula, Vygotsky (2003) aponta que
no caso da aprendizagem de adultos envolvendo uma segunda língua, esse
processo de recorrer ao adulto, realizado pela criança, ocorre também quando se
aprende um outro idioma, mas tal recorrência geralmente é feita à figura do
professor, de um amigo que sabe mais, ou da língua materna. Portanto,
independente da idade do indivíduo, o processo de aquisição da fala decorre de uma
dependência metalinguística, histórico-social e de ideias e/ou necessidades a outro
ou a si mesmo.
26
1.2.1. O papel da língua materna na aquisição de uma segunda língua
Diversos estudos sobre o uso da língua materna no processo de
aprendizagem de um novo idioma são realizados, e algumas destas arguições tem
se configurado em mitos, como aponta Pereira (2001) em seu estudo acerca dessa
temática. Tais crenças vêm se formando ao longo das práticas para o aprendizado
de uma segunda língua, em relação aos fatores em que a presença da L1 ajuda ou
atrapalha o desenvolvimento linguístico numa segunda língua.
Uma inverdade crescentemente difundida é aquela da "contaminação" da
segunda língua pela língua materna. Ou seja, quando a L1 é vista como algo
negativo e que atrapalha o processo de aprendizagem do novo idioma. Outro mito
que pode ser aqui citado é o de que o estudante deve aprender a pensar no outro
idioma para, de fato, dominá-lo. O que não se justifica porque não se trata de uma
educação bilíngue, tampouco de uma imersão para que se consiga tal intento. E,
talvez o mais estranho deles, o mito de que é quando o sujeito começar a sonhar
em L2 ser indicativo de que a internalizou.
Como a língua materna está intimamente ligada ao aspecto afetivo da vida,
torna-se difícil tentar substituí-la ou até mesmo esquecê-la no processo de
aprendizagem de uma L2, pois se é pela língua que nos constituímos, pedir para
apagá-la é como negar a significação da nossa própria existência. Pois, a leitura que
se faz do outro idioma é sempre pelas lentes da L1, procurando compará-la com
algo que é similar, estabelecendo associações com a estruturação subjetiva de cada
sujeito (PEREIRA, 2001), sempre lembrando qual é o objetivo a ser alcançado:
aprender um novo idioma e não somente compreendê-lo. A língua materna deve ser
usada como base que conduza à compreensão e ao entendimento do outro idioma,
e não como uma muleta, da qual eternamente se fará uso.
Outras teorias defendem que o processo de aprendizagem de uma L2 deve
ser semelhante ao da L1, de maneira igualitária ao como foi adquirida a primeira
língua, se o aprendente já tem um código linguístico internalizado, por que não
aproveitá-lo no ensino de L2? O caminho para a aprendizagem de outro idioma,
27
ainda mais se tratando do Espanhol, que dispõe da mesma estrutura do português,
é um grande facilitador para os aprendentes.
Muitos estudantes justificam o uso da L1 nas aulas de língua como sendo um
apoio fundamental no momento em que se quer dizer algo e se desconhece o
vocabulário. Os educadores recorrem à L1 para explicar determinado assunto não
compreendido pelos estudantes. Segundo pesquisas realizadas por Cunha e
Maneschy (2011, p.8) junto a professores de espanhol, esses afirmam que "às vezes
a utilizam por razões mais psicológicas (para tranquilizar os alunos) ou práticas (para
ganhar tempo)".
Ao se tratar da aquisição de uma segunda língua, se faz necessário o
reconhecimento da importância da primeira língua e suas influências nesse
processo. Trata-se também das sensações, percepções, atenções e propriamente
da mente e do pensamento em língua materna, envolvendo as funções psíquicas
superiores, como aponta Vygotsky (2003). Quando se trata da L2, tais funções
abarcam também a habilidade do sujeito em interagir em outros cenários.
Os resultados obtidos na aprendizagem de uma língua estrangeira estão dependentes de se ter ou não atingido um certo grau de maturidade na língua materna. A criança pode transferir para a nova língua o sistema de significados que já possuía na sua própria língua e o inverso também é verdade: uma língua estrangeira facilita o domínio das formas superiores da língua materna. (VYGOTSKY 2002, p.77).
É nesse movimento de reflexão diante da língua materna que se refina o
aprendizado de um outro idioma, transpondo a comunicação de forma a conduzir o
aprendente a voltar os olhos para seu próprio código linguístico. E tomando a
afirmativa de Vygotsky que o aprendizado de uma outra língua pode promover o
domínio das formas superiores da L1, é preciso ponderar o papel do professor em
despertar os alunos para tal formação, sem dispensar as oportunidades que eles
têm de se abrirem ao novo.
Como aqui se trata de educação de adultos, o contato e a interação com o
outro no processo de aprendizagem é vital para a estruturação da nova cultura, que
está arraigada à língua que se aprenderá. Segundo Geraldi (2013), a importância do
contato com o outro seria essencial para a aprendizagem de uma L2, pois é no
compartilhamento de sentidos que se efetivaria a constituição de outros “eus”, ou
28
seja, quando um individuo se abre para o aprendizado de um novo idioma, também
está como se constituindo nessa nova cultura, dotada de regras, tradições,
especificidades e sentidos próprios, enfim são outras formas de o eu ser eu.
Tomando como exemplo agora a produção da língua no quesito linguagem,
mais especificamente por meio da interação verbal, cada vez que o sujeito se
apropria do novo código linguístico, a linguagem se (re)constrói, bem como sua
visão de mundo. Conforme Geraldi (2013, p.6): “Neste sentido, o sujeito é social já
que a linguagem não é o trabalho de um artesão, mas trabalho social e histórico seu
e dos outros e é para os outros e com os outros que ela se constitui”.
A tríade linguagem, sujeito e interação se referencia em três eixos: a
historicidade da linguagem, o sujeito, e suas atividades dentro de um contexto
social. No primeiro eixo, vamos construindo formas de representar o mundo e
encontrar o nosso significado por meio do discurso, processo pelo qual "eu" e "tu" se
aproximam pelo significado. O sujeito é visto como agente com e sobre a linguagem,
como uma ação da linguagem, em que o sujeito faz o uso da mesma para refletir
sobre si e sobre a língua que faz uso, e por meio da interação e do discurso, se dá a
ação de compreender e fazer-se compreender dentro de um diálogo. Adentra-se nas
atividades, que se orientam na compreensão da palavra ou da contra palavra de
outrem e vice-versa, como também os usos dos recursos expressivos, como afirma
Geraldi (2013, p. 27):
Dado que a fala se realiza entre os homens, as ações que com ela praticamos incidem sempre sobre o outro, pois através delas representamos, e apresentamos a nossos interlocutores uma certa construção da realidade, para com isso interferirmos sobre seus julgamentos, opiniões, preferências.
O processo de interação em língua materna também influenciará o que ocorre
na L2, como o controle discursivo, que pode ocorrer por meio de mecanismos
externos, como as tradições sociais, as relações de dominação, dentre outros. Há
também os mecanismos internos, que envolvem os comentários de outrem sobre a
minha resposta, a fidelidade do autor em manter o que foi dito anteriormente e a
disciplina em respeitar as regras socialmente estabelecidas de sustentar uma boa
enunciação. Conta-se com um último mecanismo de controle dos sujeitos, que se
29
remete às sociedades que o aprendente discursa, divididas em abertas e fechadas,
e com uma doutrina própria, unidas pelo mesmo objetivo de defender os interesses
dos membros de um grupo.
Faz-se necessário também um estudo sobre a língua explicando sua
composição e sua função na interação contínua e recíproca dos sujeitos que estão
abertos para o aprendizado de uma segunda língua e sua respectiva cultura. Esta é
a razão de se compreender a língua não como um processo mecânico, mas analisá-
la em sua natureza de signos e significados, ou seja, por uma visão semiótica,
abordada de forma mais criteriosa a seguir.
1.3. O aprendizado da L2 e a Semiótica
Na busca por compreender a linguagem, como ela é constituída e os seus
impactos para o modo como os seres humanos, a partir dela, organizam sua
compreensão do mundo, temos o campo de estudos da Semiótica, termo que tem
sua raiz da palavra semeion, do grego, que quer dizer signo. Dois nomes são
essenciais quando se trata dessa temática, o suíço Ferdinand de Saussure e o
norte-americano Charles Sanders Peirce, que contribuíram para que o campo de
estudo em torno do signo fosse reconhecido como ciência.
Santaella (1999, p.03) define que:
A Semiótica é a ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de significação e de sentido.
O ser humano é simbólico, isto é, constituído de linguagens, essas podendo
ser verbais ou não. Assim, Semiótica é a delimitação do campo que abarca o estudo
do semiótico, numa busca por delinear os fenômenos e a composição do que se
entende como linguagem. Ainda em Santaella: “O século XX viu nascer e está
testemunhando o crescimento de duas ciências da linguagem. Uma delas é a
30
Linguística, ciência da linguagem verbal. A outra é a Semiótica, ciência de toda e
qualquer linguagem”. (SANTAELLA, 1999, p.1).
Saussure (1839 – 1914) afirma o signo como pertencente ao mundo
representativo, composto por significante, ou seja, a parte física do signo e pelo
significado, a parte mental (o conceito). Nos estudos de Peirce (1857 - 1913), toma-
se como sinais os estímulos emitidos pelos objetos do mundo e os signos ou
linguagem como produtos da consciência.
No Brasil, o nome que se destaca no estudo peirceriano é o de Lucia
Santaella, que evita definições acabadas sobre a semiótica, pois acredita que o
caminho é instigar a curiosidade e a inquietação, com intuito de impulsionar um
estudo que está vivo e em pleno desenvolvimento.
Enquanto para Saussure a Semiologia é a ciência que tem como objeto de
estudo a linguagem verbal, Peirce, com a Semiótica, assume uma concepção mais
abrangente, considerando-se a característica sígnica de toda e qualquer linguagem.
A semiose, enquanto o objeto de investigação da semiótica, ou seja, da ação dos
signos na constituição da atividade interpretativa dos sujeitos, de maneira não
estática, mas em intenso desenvolvimento e transformação de significados.
Com base na Semiótica peirceriana, há três categorias universais do
pensamento, abarcando toda experiência de natureza humana sígnica. À
Primeiridade, compreende tudo que está na consciência de alguém no tempo
presente e dá à experiência sua qualidade distintiva, na Secundidade, representada
pela presença do real e do existencial externo, é aquela que se faz presente no
cotidiano, dá à experiência seu caráter factual, de luta e confronto. E a Terceiridade,
que corresponde à camada do pensamento em seu aspecto de inteligibilidade,
em signos, por meio da qual representamos e interpretamos o mundo (SANTAELLA,
1999).
O tempo é outro fator decisivo para o desdobramento das experiências
humanas intrinsecamente relacionadas ao signo dentro do seu contexto, como
aponta Deely (1990, p. 22): “Na verdade, o que está no cerne da semiótica é a
constatação de que a totalidade da experiência humana, sem exceção, é uma
estrutura interpretativa mediada e sustentada por signos”. A experiência diária é
31
responsável pelo processo de entrada do mundo cognitivo, num movimento de fora
para dentro, em que o objeto determina o signo.
A fenomenologia é responsável pela descrição e análise das experiências
cotidianas em que o ser humano está submergido, segundo aponta Peirce em seus
estudos, e complementa que se o mundo está em expansão, aonde mais ele poderia
crescer senão na cabeça dos seres humanos? Segundo a teoria peirceriana, em
sendo assim, uma análise dos fenômenos também mentais ao quais o ser humano é
exposto auxiliará na compreensão semiótica da sua posição no mundo.
Considerando que os seres humanos podem ser intérpretes e inventores da
natureza, como sujeitos ativos que interferem no curso das coisas e sofrem também
o efeito disso, o conceito de signo, em Peirce, é indissociável daquele de semiose. O
signo é, então, assim compreendido: "Um signo intenta representar, em parte pelo
menos, um objeto que é, portanto, num certo sentido, a causa ou determinante do
signo, mesmo se o signo representar seu objeto falsamente" (SANTAELLA, 1999,
p.13). A autora esclarece que
o signo é uma coisa que representa uma outra coisa: seu objeto. Ele só pode funcionar como signo se carregar esse poder de representar, substituir uma outra coisa diferente dele. Ora, o signo não é o objeto. Ele apenas está no lugar do objeto. Portanto, ele só pode representar esse objeto de um certo modo e numa certa capacidade.
Outra definição é aquela apresentada pelo Dicionário de Filosofia de
Abbagnano (1998, p.894):
em sentido próprio e restrito, essa noção deve ser entendida como a possibilidade de referência de um objeto ou acontecimento presente a um objeto ou acontecimento não-presente, ou cuja presença ou não-presença seja indiferente. Nesse sentido mais restrito, a possibilidade de uso dos S. ou semiose é a característica fundamental do comportamento humano, porque permite a utilização do passado (o que "não está mais presente") para a previsão e o planejamento do futuro (o que "ainda não está presente"). Nesse sentido, pode-se dizer que o homem é, por excelência, um animal simbólico, e que nesse seu caráter se radica a possibilidade de descoberta e de uso das técnicas em que consiste propriamente sua razão.
Como uma característica da semiótica é a lógica, o uso da razão, como é
apresentado acima, essa está atrelada ao significado na relação de signo, objeto e
indivíduo. Indiferente à questão temporal, permite ao sujeito a utilização de signos
32
passados, que podem remeter a um presente ou a um futuro, no sentido de
representar a realidade racional humana.
O signo é de alguma maneira a representação de algo para alguém, lançando
mão da diversidade de objetos perceptíveis ou imaginários, mediado também pelo
uso da razão. Que, como se observa aqui, nessa concepção epistemológica, não é
sinônimo de universalidade, nem de um aparato biológico, exclusivamente, mas
também conformado pela cultura na qual o sujeito (con)vive.
Seguindo os estudos peircerianos, os signos adotam a tipologia de ícone,
índice e símbolo, de acordo com sua relação sígnica com o objeto. Cabe esclarecer,
mesmo que brevemente, as definições dos três tipos de signos, como o ícone, que
mantém uma semelhança de proximidade sensorial ou emotiva entre o signo, a
representação do objeto, e o objeto em si, ou seja, representa um objeto por sua
qualidade. O índice é tudo que existe e que tenha relação com o objeto, também é o
todo adquirido pela experiência subjetiva ou pela herança cultural, além de que todo
índice está habitado pelos ícones.
O símbolo tem característica de representar um tipo geral e não individual ou
singular; conforme Peirce apud Santaella (1999, p.15): “Um símbolo não pode
indicar uma coisa particular; ele denota uma espécie (um tipo de coisa). E não
apenas isso. Ele mesmo é uma espécie e não uma coisa única”.
Ler o mundo, os signos que o constituem, não é, portanto, uma tarefa
automática e nem individual. Depende dos filtros que culturalmente corporificamos,
em nossa história de vida. Na perspectiva da semiótica as concepções de mundo
que aprendemos a interpretar, no decorrer da vida, e as particularidades que se
formam a partir destas interpretações, compõe a compreensão da realidade por nós
experienciada. É exatamente neste e por meio deste conhecimento implícito, que se
desdobram as visões de mundo do sujeito, carregadas de ideologias, crenças e
dogmas, e que fazem parte da construção de si mesmo.
O estudo da semiose, como um processo de mediação entre a ação do signo
que determina um interpretante, entende interpretante como "aquilo que fornece
propósito, direção e significado a um signo" (MERRELL, 2012, p. 65), uma vez que a
ideia cíclica da semiótica descarta o termo de interpretante final ou signo final, pois
está sempre em criação e transformação. Enfatiza-se aqui a inter-relação entre
33
signos e coisas, argumentando-se que o significado varia de acordo com os
interpretantes, que envolvem contextos sociais e econômicos, geográficos, históricos
e as experiências vivenciadas de cada sujeito. No entender do autor: "Em vista de
que, dentro de duas língua[gens]s em questão e suas respectivas culturas,
diferentes recortes espaço-temporais estão subentendidos, interpretações diferentes
são evocadas." (MERRELL 2012, p.88). A cadeia da semiose é composta de
signos, onde eles surgem e se tornam novos signos, como o ato de pensar,
entendendo que todos os pensamentos são de natureza sígnica e, mais
especificamente da ordem da linguagem.
Uma vez que a língua é capaz de engendrar múltiplos "mundos",
consequentemente a linguagem é responsável por apresentar características
fundamentais do mundo, constituído de signos. As diferentes interpretações destes
signos, por sujeitos de contextos culturais diversos, traduzem concepções do que é
a realidade, ou do que esta poderia ou deveria ser.
Na expressão de Santaella (2004, p. 77) “Não fica difícil perceber que, dentre
as ciências ou campos de conhecimento, aquele que mais perto está da semiótica é,
sem dúvida, a comunicação. Não pode haver comunicação sem ação de signos e
vice-versa”.
Como a comunicação se dá por meio da linguagem, que está posta em uma
posição central das discussões do século passado e atual, considera-se que a
linguagem habita, constitui e estrutura as imagens do universo e do mundo, que
estão, assim, em constantes modificações. Por esta razão, Oliveira afirma que “A
linguagem é o espaço de expressividade do mundo, a instância de articulação de
sua inteligibilidade” (OLIVEIRA,1996, p.13).
No aprendizado de uma segunda língua tem-se a função do signo com inter-
relação e interdependência com o objeto, que completa o ciclo semiótico. Novos
signos permeiam o processo de aquisição de uma L2 de forma a engendrar os
contextos culturais envolvidos, a saber, a L1 e a cultura a ela correspondente, e a L2
e a cultura a essa associada; é como uma interdependência com o objeto em
questão no momento, o novo código linguístico. Nessa interatividade é que as
transformações na concepção sígnica dos sujeitos se dá, pois quando se tem uma
forma de se comunicar e outras são reveladas, pode haver uma modificação nas
34
funções cognitivas dos sujeitos, pela ampliação do seu conjunto de repertórios
sígnicos.
Tomando o signo como processo nota-se que é por meio dos signos que o
mundo (em termos dos sentidos que a realidade assume nos diferentes contextos de
existência) é constituído e construído, quando se cria ou se modifica algo, porém
nunca de forma isolada, mas calcada em uma comunidade, em que o ser se
relaciona e interage com seus significados.
A semiótica abarca também os acontecimentos culturais como fenômenos
produtores de significados, uma vez que também o são de comunicação. Santaella
(1999) aponta que todo acontecimento cultural, atividade humana ou prática social
compõem-se em e por meio de práticas significantes, ou seja, envolvem
aprendizados de linguagem e de sentido a elas atreladas. Por essa razão, a
semiótica pertence ao campo da lógica, como já dito, e é também plural e com
inúmeras perspectivas diante de um permanente processo de proliferação e
expansão dos signos.
Para Bortoleto e Andrade (2011) a semiótica tem muito a contribuir para a
compreensão dos diversos entornos culturais. Uma vez que tudo se estrutura como
linguagem, a importância que se deve à mesma, nos mais variados meios religiosos,
artísticos, filosóficos, científicos, tecnológicos, comunicativos, no cotidiano, enfim nos
inúmeros aspectos que envolvem o viver humano. Portanto, é possível relacionar tal
ciência aos estudos que envolvem a Educação Sociocomunitária, que tem como
característica a ação de ver e pensar no sujeito como um todo e não fragmentado.
1.4. A questão da segunda língua (L2) e a busca por sua definição
Os termos aquisição e aprendizagem, em se tratando de uma L2, se
diferenciam, segundo Krashen (1988), no nível da consciência que o indivíduo tem
em relação ao que se está adquirindo ou aprendendo. Segundo o linguista, a
aquisição refere-se ao modo natural como as habilidades linguísticas são
internalizadas pela criança no processo inicial com os códigos linguísticos. Já a
aprendizagem é a consequência de uma situação formal de aprendizagem,
35
realizando-se de maneira consciente. Ou seja, o aprendente sabe que está num
processo de aprendizado de uma L2. O autor afirma que a aprendizagem nunca se
transformará em aquisição, pois é somente na aquisição que a espontaneidade se
faz presente. O estudo que segue esse trabalho respeita a definição desse autor,
porém assume que a aprendizagem pode tornar-se uma aquisição, desde que o
sujeito consiga transitar na língua materna e na segunda língua, com autonomia.
Tal discussão começou a tomar forma a partir da década de 1970, quando os
estudos em torno da segunda língua começaram a aflorar no ramo da linguística, e
as relações de ensino e aprendizagem- e de aquisição de um novo idioma-
começaram a ter destaque entre os acadêmicos. Até então a discussão não trazia
referências aos termos “aquisição” e “aprendizagem” da língua materna, mas com o
aprofundamento do debate se fez necessário empregá-los em relação ao domínio de
um novo idioma, trazendo à luz o entrave dessa dicotomia, apontada por muitos
linguistas.
Outro ponto a ser considerado nas questões terminológicas discutidas é o
caso do bilinguismo, que também é posto em destaque quando se trata de L2. Tem-
se por consenso que o bilíngue é aquele que adquiriu outra língua após ou
concomitantemente à língua materna, estimulado por fatores diversos, como um dos
progenitores serem estrangeiros, mudança de país quando criança ou não e, por
fim, estudar em uma instituição bilíngue, como o Colégio Miguel de Cervantes na
cidade de São Paulo, que dispõem do ensino em Espanhol e Português.
Quanto à diferenciação da L2 e LE, ponderamos que a língua estrangeira (LE)
serve necessariamente ao entender e fazer-se entender dentro de um contexto de
funcionalidade instrumental do idioma.
A segunda Língua (L2) exige maior competência e performance do falante,
abrangendo os estágios de se expressar e refletir no novo idioma, conhecendo seus
aspectos culturais e gramaticais, com consciência e discernimento. Aprofundar é o
verbo que cabe na definição de uma L2, ou seja, não visar somente o domínio
instrumental do idioma, mas olhar esse idioma em sua complexidade, apreciando
sua história, entendendo-o como representante dos modos de ser de um grupo
social, e se colocar como sujeito num processo que envolve a interação, inter-
relação e o intercâmbio linguístico e cultural (RIBEIRO C.R.N., 2007).
36
Outra definição recente, trazida por Pato e Fantechi (2012), comporta uma
perspectiva individual e com aspecto mais afetivo, de modo que a L2 seja definida
como aquela como mais próxima da língua materna, não no quesito semelhança
linguística, mas no sentido de que o sujeito se sinta mais à vontade em estabelecer
uma relação de identidade, considerando também os aspectos culturais que
envolvem o idioma e sua necessidade em mover-se nele no âmbito de estudo,
trabalho ou prazer. Os autores citados afirmam:
En efecto, es un hecho comprobado que cuando el alumno no se siente identificado ni con la cultura ni con la sociedad que habla esa otra lengua, la siente como lejana y distante. Por el contrario, cuando el alumno se siente fuertemente identificado social y culturalmente con la lengua meta la suele denominar como su L2 (PATO e FANTECHI, 2012, p. 02).
A lengua meta tratada pelos autores é o novo idioma que se busca adquirir.
Nos estudos desses autores sobre a busca pela diferenciação entre a LE e a L2,
fazem referência ao número de línguas que cada pessoa conhece, tratando como
língua estrangeira 1, 2, 3, 4, etc. Mas em relação à segunda língua o acesso é mais
restrito e seletivo, uma vez que sua apropriação, sendo antes afetiva, leva o sujeito a
transitar num mundo cultural e comunicativo com maior propriedade, auxiliando na
construção de sua forma de conceber a realidade, conseguindo refletir e se
expressar na L2.
1.5. Sobre aprendizagem e aquisição de segunda língua: o espanhol
A Europa conta, desde 2001, com um Quadro Comum de Referência para as
línguas, que compreende diretrizes sobre competências que devem ser adquiridas
ao longo do processo de aprendizagem da língua. A partir de 2004, a Comissão
Europeia lançou um plano de ação que tem como objetivo melhorar as
competências linguísticas e interculturais dos cidadãos, com a aprendizagem de
duas línguas estrangeiras. O ensino deste deve iniciar-se na pré-escola, para que ao
37
concluírem a escolaridade obrigatória os estudantes já tenham uma comunicação
efetiva nos idiomas aprendidos.
A preocupação europeia na formação de professores de LE é exatamente a
de prepará-los para ensinar além das estruturas sintáticas e semânticas da língua,
enfatizando-se também a relação social que determinado idioma comporta pelos
seus falantes nativos. O objetivo central, segundo Afonso (2006, p.451): "É portanto,
determinar que o professor tenha não só um bom domínio prático da língua como
também dos conteúdos socioculturais que a compõem." Levando assim o professor
a "ser capaz" de ensinar além do campo da linguística.
Remeter ao conhecimento cultural que o aprendente deve ter ao aprender um
novo idioma não é o bastante para garantir uma comunicação eficiente, devendo
isso acontecer por meio do diálogo e duma reflexão sobre os próprios valores. É
certo que a língua passa por um filtro individual e particular do sujeito, o qual envolve
toda a sua formação cultural, suas experiências anteriores, marcando sua
aprendizagem e interação em outra língua (AFONSO, 2006, p.451).
Diversas são as teorias que envolvem a aprendizagem e aquisição de uma
segunda língua, pois essa busca vem, historicamente, intrigando e instigando os
estudiosos. Aspectos cognitivos, psicológicos, emocionais e sociais, dentre outros,
são postos em destaque nas mais distintas teorias, que tentam discorrer sobre a
aprendizagem de, e a proficiência em, outras línguas.
Uma das possibilidades explicativas, em nosso entender, está no trabalho de
Vygotsky referente às Zonas de desenvolvimento, que permeariam o aprendizado da
L2, iniciando-se na Zona de Desenvolvimento Real, comportando o conhecimento e
as competências cognitivas que o sujeito dispõe até o momento. Já a Zona de
Desenvolvimento Proximal (ZDP):
[...] é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes (VYGOTSKY, 2003, p. 112).
Na ZDP é que a nova língua será apropriada pelo aprendente, como um
processo de maturação e amadurecimento de toda aprendizagem, que envolve além
38
do idioma os seus aspectos culturais. Assim, hoje o sujeito estará na zona já
mencionada, e o amanhã a ZDP será a Zona de Desenvolvimento Real, e novos
desafios surgirão, outros degraus conduzirão o estudante a cada vez mais tornar-se
um sujeito no outro idioma. Por fim, tem-se a Zona de Desenvolvimento Potencial,
aquele que o aprendente pode chegar ou espera-se que alcance.
Com isso, faz-se necessário retomar o conceito inicial vygotskyano sobre a
aquisição da linguagem, quanto ao considerar que o aprendizado humano é de
natureza social e que a criança desenvolve seu intelecto com base na configuração
cultural própria aos membros da comunidade à qual pertence. Ao interagir com seus
respectivos significados, o indivíduo i/emerge em uma concepção de mundo
diferente da até então apresentada/conhecida.
Para Bakhtin (2006, p.102): "Os sujeitos não ‘adquirem’ sua língua materna; é
nela e por meio dela que ocorre o primeiro despertar da consciência". Entende-se
que de signo em signo chega-se a um conjunto de conhecimento, processo em que
o indivíduo forma sua consciência individual e se constitui por meio do enunciado
com o outro.
As informações e conceitos trazidos pelo outro idioma potencializam o
conhecimento sígnico prévio do sujeito, podendo também transformar ou destruir
tantos outros, nesse processo mudando sua maneira de conceber o entorno cultural
da nova língua e também o próprio.
Retomando Vygotsky (2002), esse autor afirma que a influência da lógica da
aprendizagem dos conceitos científicos sobre o desenvolvimento mental da criança
pode ser comparado ao aprendizado de uma outra língua, pois também ocorre de
maneira consciente e baseado numa lógica. Assim, em sentido inverso da língua
materna, primeiramente o aprendizado de outro idioma se dá por meio dos aspectos
mais complexos, com as formas fonéticas, sintáticas e gramaticais, além das
semânticas, que permeiam todo o processo comunicacional, podendo-se considerar
o aprendizado de um novo código linguístico como uma forma avançada de
pensamento.
O ensino de uma outra língua auxilia no desenvolvimento cognitivo do ser
humano, quando aplicada à comunicação em ambientes multiculturais de convívio.
Vygotsky (2002) define como principal função da linguagem a comunicação e o
39
intercâmbio social. Tomada a palavra em seu sentido literal, intercâmbio significa
troca, estabelecimento e relações recíprocas, de ordem cultural.
O caso da aquisição de uma segunda língua resulta em um indivíduo com
mais ferramentas sociais e mentais, pois, segundo Cianco (2003, p. 13):
Uma segunda língua é um outro conjunto de signos e símbolos utilizado no raciocínio do homem. Podemos supor que quantos mais símbolos um indivíduo possui à sua disposição, mais ricos seriam as suas capacidades de pensamento e cognição.
Nos processos mentais do aprendente e a aprendizagem da L2 estão
imbricados o procedimento de interagir com uma nova cultura, sem menosprezar ou
esquecer a sua. Os elementos que a nova cultura trará ao contexto físico (com
novas atitudes e formas de encarar a realidade) e psíquico (desenvolvendo outras
maneiras de pensar, ou seja, outras lentes conceituais) também afetará a maneira
de pensar na língua materna, pois se trata do sujeito como um todo, assim a
transformação do ser é favorecida.
Para que essa transformação seja significativa, tem que fazer sentido para o
sujeito, considerando-se que os saberes apresentam epistemologias diferentes.
Fazer uma leitura de mundo precede a leitura da palavra, parafraseando Freire
(1982), ou seja, ler o mundo a partir da própria realidade é tomar nas mãos o
desenrolar da própria história.
O contexto ao qual o sujeito pertence e suas relações com o entorno, refletem
diretamente na escolha lexical e gramatical daquilo que se comunica. Devido à
linguagem ser essencialmente social, sua produção, renovação e evolução
transcorrem nas relações pessoais, interpessoais, intergrupais e interculturais,
dentro de um determinado ambiente social. Bakhtin (2006) aponta a importância da
adequação da linguagem humana aos diversos contextos, tempos e espaços, além
das expressões faciais que o interlocutor apresenta numa interação. Esse
conhecimento da estrutura da língua deve estar sempre atrelado às situações
sociais de uso da língua e essa preocupação latente no processo de aquisição de
uma L2 é que auxilia a reflexão do aprendente no próprio uso da L1, em seu dia a
dia.
Silva M.G. (1992, p. 19) aponta que por meio do outro idioma:
40
o aluno abre-se para o desconhecido e o novo, conscientizando-se de sua realidade política, social e cultural, e torna-se capaz de perceber que sua cultura tem muito a oferecer. Aprende a canalizar e a valorizar, quando estimulado a sensibilidade individual.
Nessa concepção de aprendizagem de um outro idioma defende-se que a
sensibilidade individual seja respeitada e incentivada, não somente nas aulas do
outro idioma, mas também percorrendo as demais disciplinas, que determinado
currículo dispõe. Para Vygotsky (2003) a interação como diálogo é o ponto crucial
para o desenvolvimento cognitivo do sujeito inserido numa comunidade, que dispõe
de determinado discurso, o qual influenciará na conformação do sujeito, em como
pensa, age e como toma suas decisões.
A aprendizagem de uma L2, como nas demais aprendizagens, não ocorre da
mesma maneira para todos, uma vez que depende dos processos cognitivos,
afetivos, motivação, contexto social e histórico, como enumera Menezes (2006).
A comparação que o sujeito pode fazer, entre a L1 e a L2, pode contar com a
intervenção do professor, cotejamento não só entre as línguas, mas também com
as suas respectivas culturas, com a função de promover com o estudante a
apreciação das diferenças e da valorização da diversidade. O objetivo principal da
comparação é verificar como a outra cultura age e pensa sobre determinados
fenômenos naturais e sociais, como a realidade é configurada no âmbito dessas
culturas; num intercambio linguístico e cultural contínuo.
A comparação possibilita também os estudantes a perceberem as
semelhanças que há entre as sociedades e a própria língua, despertando a
curiosidade de buscarem as respostas para alguns porquês, com o intuito de melhor
compreender e respeitar o outro, sua história, suas tradições e seu idioma.
Conduzindo o sujeito num movimento reflexivo de respeitar também a própria língua
e a própria cultura, que por muitas vezes é depreciada diante do conhecimento do
novo.
Com a valorização da própria língua e da cultura, o novo idioma pode ser visto
como ponte para o outro, ou para uma nova cultura, sem abrir mão da liberdade que
se tem que é a própria língua. Assim, ao aprender uma L2, o sujeito conta com mais
uma forma de liberdade:
41
cada língua é uma janela que dá para um outro mundo, para uma outra paisagem, para uma outra estrutura de valores humanos. [...] As literaturas e a história de uma outra tradição que ficam ao seu alcance são aspectos essenciais! Se as árvores têm raízes, os homens têm pernas; é um progresso imenso: as línguas dão-nos essas pernas. Podemos ser convidados de outros homens, compreender o que eles nos dizem e, pela nossa vez, responder-lhes.[...] é uma liberdade maravilhosa! (SAPIRE, 2004 apud BRANCO 2006, p.253).
Se a língua nos liberta dos grilhões dos ruídos de uma comunicação mal
efetuada, é necessário que primeiramente se amplie a visão de mundo, com a
quebra de pré-conceitos, que se formam diante do contato com diferentes
realidades, quer relativas ao outro idioma ou ao nosso próprio idioma de origem.
Tendo o respeito, como chave para que os primeiros ruídos da comunicação
diminuam, em seguida, buscar a satisfação em transitar pelo idioma e sua cultura,
procurar identificar-se, ou seja, colocar-se no lugar do outro, para que assim
constitua-se um sujeito em um outro código linguístico.
1.6. O caso do Espanhol como segunda língua
Das línguas originárias do latim, o espanhol é atualmente a mais difundida no
mundo, com cerca de 406 milhões de falantes, espalhados em quatro continentes.
E, dentre todas as línguas, é a segunda língua mais falada no mundo, perdendo
apenas para o mandarim (SILVA G.A., 2013), sendo que a maioria dos falantes está
nas Américas. A Espanha é um dos países que tem várias línguas oficiais, como os
de origem românica: o Catalão, o Galego e o Aranês; e ainda com controvérsias nos
estudos sobre sua origem, está o Basco. Retrocedendo um pouco na história, os
celtas, vindos da região onde hoje seria a Alemanha, invadiram a Hispania, antigo
nome da península Ibérica, deixando ali sua influência. Depois, com a invasão
romana, houve dois séculos de influência linguística com o latim, e por volta do
século V deu-se a invasão dos visigodos.
42
Contudo, o período mais extenso de dominação foi o árabe, com duração de
quase 700 anos, deixando marcas profundas no idioma e na cultura do espanhol tal
qual se conhece hoje. No período de dominação árabe a língua espanhola, que até
então era conhecida como Castellano, devido a uma pequena região ao norte da
península, que empregava essa língua. O nome deriva de Castilla, que originário do
latim “Castellum”, significa “fortaleza” (LAPESA, 1984).
Segundo Bernard e Gruzinski (2001) foi exatamente das terras do norte da
Espanha que começou a chamada Reconquista, na qual os nobres de Castilla e
região se uniram para retomar a península do domínio árabe e efetivar a unidade
territorial como Espanha. Esse intento teve a duração de quatro séculos, tempo
necessário para expulsar totalmente a dominação árabe e, consecutivamente,
determinar a língua que se tornaria oficial, aquela trazida de Castilla, o castellano.
Depois houve o retorno às raízes do nome antigo da península Hispania para a atual
Espanha e o idioma passou pela mudança apenas de escolha vocabular, mas não
de estrutura. Assim o castellano passou a ser o espanhol. Língua essa que os
exploradores espanhóis, a partir de 1512 impuseram ao território agora conhecido
como América e, principalmente, aquele latino-americano.
À exceção do Brasil, do Suriname, da Guiana e da Guiana Francesa, todos os
demais países da América Latina têm no Espanhol seu idioma oficial. É também o
idioma falado por muitos habitantes dos Estados Unidos. Diante de tanta diversidade
de falantes e de países que tem no Espanhol seu idioma oficial, depreende-se que
embora o Espanhol seja a denominação geral, há muitos “Espanhóis”. Há alunos
que, inclusive, indagam: "qual espanhol aprender? O espanhol da Argentina, do
México ou da Espanha?". Essas divisões territoriais geográficas presentes na mente
dos sujeitos nem sempre são as mesmas divisões linguísticas, contudo. É como o
português, tampouco se categoriza o português brasileiro ou o de Portugal, pois ao
refletir nesta questão, tem-se ciência de que o Brasil é um país de "muitos
portugueses".
Ao analisar as diversas regiões que adaptam a língua de acordo com sua
cultura e certamente unida ao seu passado, seu histórico de colonizadores e
indígenas, temos que no Espanhol a variante usada é a policêntrica, ou seja, emana
43
das capitais ou de grandes centros; são elas as melhores regentes da língua e por
vezes ultrapassam as fronteiras geográficas dos países.
Alguns vocábulos são incorporados, outros adaptados, e muitos assumem
outra fonética, o que tange às diferenças no espanhol está exatamente na sua
história. É certo que os colonizadores europeus foram os espanhóis, mas cada
região das Américas já tinha uma tradição linguística, interligada a uma história de
dominações, arraigada à formação das civilizações que os espanhóis aqui
encontraram. Nessa miscigenação de sons e palavras, é que a língua foi e vai se
transformando e continua em evolução, pois a língua, como a cultura, não é estática
Como o pensamento do ser humano acompanha a atualidade conceitualizada,
e assim os significados das palavras, as variações nesses são os maiores tropeços
para aqueles que estão aprendendo um novo idioma. Na aquisição de L2 a
dificuldade é igual, tomamos como exemplo as diversas pessoas que cantam
músicas em outros idiomas e não fazem a mínima ideia do que estão pronunciando.
Porém, o que as motivam é o som e não o significado. Outra situação, digna de
destaque, são aqueles que mudam de país para estudar ou trabalhar e ao se
depararem com uma nova língua arriscam-se, inicialmente guiados pelo som,
aprendem a se comunicar, ou pelo menos sobrevivem. Não que tal prática seja
eficaz e suficiente, mas justificável para os fins dos indivíduos envolvidos.
É essencial ir além do som na língua espanhola, certamente nos primeiros
contatos é saudável arriscar-se, experienciar, testar o desconhecido, contanto que
não seja uma prática duradoura, pois alguns entraves são altamente prejudiciais à
comunicação nessa língua, como: os heterossemânticos, as variações linguísticas, e
o pronome pessoal de tratamento formal, característico dessa língua.
Mais popularmente conhecido como os falsos amigos ou falsos cognatos, os
heterossemânticos são palavras que “pregam peças” no momento da comunicação.
É natural ao se expressar em qualquer idioma, em ocasiões de dúvidas, que se
recorra à língua materna, pois é aquela que o sujeito tem internalizada; porém, no
caso do Português e do Espanhol esse uso pode causar mal entendidos, já que
determinadas palavras assumem sentidos totalmente distintos, como por exemplo
aqueles mostrados na tabela que segue:
44
Quadro 1: Distinção entre palavras heterossemânticas em língua espanhola e
portuguesa
Fonte: elaborado pela autora
Nesse cenário cabem duas interpretações possíveis, a primeira é o pensar da
grande maioria dos brasileiros quando afirmam que o espanhol é uma língua fácil,
pois é um português “mal falado”. Sendo assim, não há necessidade de estudar
uma língua, à qual é possível acrescentar a terminação -ión nos verbos e ditongar os
substantivos, como fueto, cuepo e buela, entre outras formas errôneas empregadas.
A segunda interpretação é a de que o cliente argentino deveria conhecer o mínimo
da língua portuguesa, uma vez que ele se encontrava em solo brasileiro, e como
línguas irmãs é natural que os falsos cognatos existam e resultem em ruídos na
comunicação.
As variações linguísticas também assolam o ensino/aprendizagem do
Espanhol; ponderando que é a língua oficial de 21 países, com mais de 406 milhões
de falantes e que tem um cenário repleto de variações, como também, alguns
fenômenos pertencentes a regiões distintas ou países, como o Lunfardo, que:
ESPANHOL PORTUGUÊS
apellido sobrenome
borracha bêbada
cartera bolsa
embarazada grávida
escoba vassoura
exquisito delicioso
polvo pó
pelo cabelo
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é a gíria argentina e uruguaia, originada da variação dialectológica dos imigrantes, principalmente italianos, que se fixaram nas classes mais baixas de Buenos Aires; a gíria é usada com muita frequência nas letras dos tangos argentinos (GOBELLO, 1996, p.15).
São várias as técnicas adotadas por esse dialeto, como fazer algumas
associações, por exemplo, a palavra relógio é "bobo" para facilitar o que é roubado.
Outro mecanismo é falar ao contrário "gotan" por tango, "jermu" por mujer.
Atualmente o Lunfardo deixou de ser uma gíria e passou a ser um dialeto muito
usado em Buenos Aires, com dicionários editados e vários livros que o tem como
referência de uma identidade dos bonairenses.2
Outro quesito muito presente na fala não só dos argentinos, mas da região
rioplatense, como dos paraguaios e uruguaios, e em algumas regiões da Bolívia,
Perú, Colômbia e outros países da América Central, é o voseo. A base desse é o
uso do pronome vos em vez de tú. Utilizado na informalidade, com a conjugação
modificada no presente do Indicativo e no Imperativo afirmativo, aplicando uma
entonação mais forte no final do verbo quando conjugado, acompanhado do acento
grave na terminação: tú cierras, vos cierrás / tú siente, vos sentís.
Verifica-se, em consideração às línguas indígenas, uma grande mescla
decorrente do encontro do idioma ocidental e as línguas nativas da região leste do
continente latino-americano, como: Quechua, Guarani, Aimara, Náhuatl,
Mapudungun e as Línguas Mayas, como é apresentado no mapa que segue.
2 Termo usado para referir-se as pessoas que vivem na capital Buenos Aires.
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Figura 1: Mapa das línguas indígenas na América Latina
Fonte: < http://www.infolatam.com.br/2013/01/24> acessado em 20/01/2013.
Muitos vocábulos empregados no idioma espanhol têm raiz indígena, como a
palavra callampa, que significa “valer muito pouco” e vem da palavra Quéchua
kallampa, que são cogumelos que crescem em qualquer lugar. O termo utilizado
para carrinho de bebê, coche de guagua, em que a palavra guagua vem do
Mapudungún e significa bebê. Outro exemplo é a palavra huaca, do Aimara, que
significa lugares sagrados dos indígenas e no espanhol foi adaptado para guaca e
assume a tradução de tesouro escondido ou enterrado, o que não deixa de ser uma
analogia coerente.
Além da influência indígena, o espanhol possui o pronome de tratamento
formal "Usted", como o termo Lei do italiano, empregado como cortesia. Tais
pronomes não dispõem de tradução no português, mas de sinônimo bastante
empregado pelos brasileiros, como "senhor" e "senhora. Contudo grande parte dos
países da América Latina utiliza também o pronome Usted e consequentemente sua
conjugação, em substituição à segunda pessoa do plural vosotros, (vós/vocês). Tal
fenômeno também ocorreu na língua portuguesa, uma vez que se passou a usar o
pronome vocês no lugar de vós.
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O objetivo primordial de conscientizar o aprendente dessas situações é levá-
lo a olhar também para a língua materna, reflexionando sobre as diferenças e
semelhanças que são apresentadas não só pelo idioma, mas também por meio da
cultura e, no caso do espanhol, das culturas e das histórias que envolvem as vinte e
uma nações que a tem como língua oficial. As formas de tratamento entre as
pessoas, por exemplo, representam um rico campo para o estudo das relações de
poder estabelecidas nas sociedades. Por fim, em acordo com Bouton (1977, p.37):
os esforços que um indivíduo se impõem para assimilar esse novo sistema de comunicação e de expressão (L2) determinam nele, muito frequentemente, profundas inibições que resultam do complexo encadeamento do eu com a língua materna.
Desse modo, ao afirmar que é a língua que permite a relação do individuo
com o mundo, recorremos às dimensões afetivas e sociais para a construção de sua
identidade linguística, social, e cultural, de um sujeito que se abre a um novo modo
de olhar, adotando novas lentes conceituais para ver a si mesmo e aos outros.
1.7. Questões didático-metodológicas e psicológicos-cognitivas no aprendizado da L2
Quando um sujeito oferece condições para que o outro se desvele, exponha
opiniões, seja realmente um ser ativo no processo comunicativo, ambos se abrem
para novas possibilidades interativas e pode ocorrer um processo de
“descristalização”, ou seja, de “quebra” das configurações de mundo, que ao longo
da vida e por influências do entorno, foram “moldando” os sujeitos, com
determinadas convicções, ideias, atitudes e conceitos. “Descristalizar” os sujeitos
pode ser uma das funções da educação, a qual possibilita a ruptura com o que até
então estava sedimentado, despertando a vontade de querer ser mais.
E para que isso ocorra, é crível que se considere as experiências vividas. A
palavra experiência, etimologicamente, remete aquilo que está fora do perímetro, ou
48
seja é tudo o que está além do meu espaço vital (BISSOTO, 2013a). Uma vez que
cognitivamente aprendemos pelas experiências que vivenciamos, de fato ou
vicariamente, o contato com uma nova cultura pode abrir para o sujeito novas
possibilidades de configurar a realidade.
O sujeito corporifica a outra cultura quando ele aumenta o seu perímetro
existencial, avança nos processos de aprendizagem, como um desafio criador. E o
ato de aprender é um desafio, pois ocorre um descortinamento de mundo em
relação a outras formas em que o sujeito pode vir a ser. É necessária a discussão
valorativa da outra língua e da cultura para que se possa ampliar a visão de mundo
e ser sujeito e não mais indivíduo na língua, resultando em várias outras
possibilidades de ser. Isso se aproxima do conceito de Educação Sociocomunitária
que pretendemos debater aqui, de escuta e promoção discursiva da polifonia de
sentidos, que dispersos na cultura, mais local ou mais estendida, ampliam ou
restringem as capacidades de ser dos sujeitos.
A dinamarquesa Bente Elkjaer (2013) inspirou-se nos estudos do
pragmatismo de John Dewey, que associa a interação contínua entre indivíduos e
seus contextos, com destaque na experiência; essa compreendida como relação
entre o sujeito e o mundo, com um intercâmbio ativo dos estudantes com o entorno
(família, escola, comunidade e cultura). O ser ativo, proposto por Dewey, não
permanece alheio às mudanças da sociedade, mas se vê como protagonista no
progresso social, local e mundial.
A experiência humana, sígnica, possibilita a comunicação, pois é na vivência
que se vincula a consciência e é na tentativa de submetê-la à sistematização da fala
ou escrita, que será encarada como uma unidade: a língua. Segundo Bakhtin (2006,
p.24): "A consciência só se torna consciência quando se impregna de conteúdo
ideológico (semiótico) e, consequentemente, somente no processo de interação
social.". Toma forma por meio da interação com o outro.
Por isso o experienciar é algo tão valoroso para a segunda língua, visto que o
sujeito disposto a comunicar-se em outro idioma tem a possibilidade do contato com
sons, significados e símbolos, que diferem daqueles da sua cultura, ou que não lhes
são habituais, mas que dentro da lógica semântica e sintática de cada língua se
encontra um sentido. Uma vez que a percepção é, simultaneamente, um ato de
49
conceber e interpretar e é o sujeito que molda e reformula os significados a partir
das suas experiências interiores e exteriores.
Em sendo a experiência humana o caminho pelo qual se cria ou recria um
estilo de vida, perpassado pelo conhecimento do sujeito, envolvendo as escolhas
realizadas e as decisões tomadas, nossa identidade social, inclusive como falantes
de uma língua, assim vai se constituindo. Com isso, para o aprender também é uma
tarefa difícil, pois ocorre um descortinamento de mundo em relação a outras formas
em que o Eu pode ser eu. Segundo Jarvis (2013, p.42) "o estímulo para essa
aprendizagem é a nossa experiência do mundo - o ponto em que fazemos
intersecção com o mundo (tanto físico, como social)", pois é no experienciar, de
forma significativa, que o sujeito se torna mais hábil para as diversidades de
aprendizado.
Além da experiência, faz-se necessário que os aprendentes de uma L2 sejam
capazes de identificar quais cenários de aprendizagem podem estimular mais a
produção de conhecimento. Deixando de lado a preocupação sobre a melhor
maneira de ensinar certo material ou conteúdo, consideramos que há necessidade
de uma valoração na experiência prática do que se vem estudando, de forma a levar
a uma aprendizagem no âmbito da vida, ou seja, uma aprendizagem holística e
significativa.
Nessa perspectiva possibilita-se ao sujeito tornar-se consciente da sua história
de vida e por meio da metacognição, a poder tomar conhecimento dos seus
processos de aprendizagem, ou seja, sabe identificar as estratégias usadas para
aprender, resultando em uma aprendizagem autogerida. Conceito esse que é
compartilhado pelo britânico John Heron (2013, p. 170), ao esclarecer que "A
aprendizagem é, necessariamente, autodirigida: ninguém pode aprender por você. O
interesse, o comprometimento, o entendimento e a retenção são todos autônomos,
autogerados e autossustentáveis". O autor é o criador do método "investigação
cooperativa", integrado à pesquisa participante, fundamentado na criação de um
trabalho com pessoas que têm preocupações e interesses semelhantes entre si,
com a finalidade de compreender o mundo em que vivem e dar sentido à própria
vida, com destaque no sentimento e na pessoalidade.
50
Em outra abordagem contemporânea da aprendizagem, que pode ser
apropriada para a didática do ensino de uma L2, a teoria construtiva-evolutiva,
desenvolvida por Kegan (2013) preocupa-se com a evolução natural das formas da
nossa construção de significados. E sugere exatamente a consideração da história
individual como um facilitador para o entendimento das necessidades dos alunos
pelo professor, no caso de um ambiente educacional. Para um professor, que deseja
facilitar a aprendizagem de seus alunos, o interessar-se por saber de onde eles vêm,
em termos contextuais, e não somente privilegiar para aonde podem ir.
Kegan apresenta a comparação das "três pontes" na relação educador
educando. Em princípio, deve-se saber em qual ponte o educador está, depois
localizar o educando nessa ponte e, por último, ter consciência se a ponte está bem
ancorada nos dois lados, favorecendo que seja segura a travessia do não saber
para a transformação: o saber. Entendemos que é exatamente esse o papel do
educador facilitador, que respeita o que o estudante já conquistou e analisa o que
ele pode ganhar e perder ao continuar avançando no seu processo de
conhecimento, auxiliando-o a prosseguir em seu caminho com autoria.
A busca por alcançar um sentido de autoria no processo de aprendizagem
começa quando ocorre o compartilhamento da autoridade do educador com os
educandos, os quais passam a se verem como agentes ativos na relação ensino-
aprendizagem. A partir dos dois princípios da aprendizagem transformadora, que
são: a reflexão crítica e a participação de forma plena e livre do discurso dialético,
para validar o melhor juízo reflexivo, conforme aponta o pesquisador americano Jack
Mezirow (2013).
Por fim, a existência de diversas influências sociais distintas também
influenciam nos processos de aprendizagem. Na busca por conexões significativas
entre o sujeito e a sociedade, no processo de aprendizagem, Wildemeersh e
Stroobants (2013) definem que o conceito de aprendizagem transicional, o qual “se
refere a um processo de aprendizagem permanente, as conexões significativas são
suas apostas variadas e concretas e resultados possíveis em um momento
específico". Método esse situado no cerne de um espaço simbólico criado por duas
dimensões, a horizontal, a qual envolve a ação e a reflexão do sujeito e a vertical, a
qual abarca sua percepção.
51
Ainda considerando-se a relevância dos aspectos socioculturais para a
aprendizagem, e sua centralidade no aprendizado de uma L2, o psicólogo
estadunidense Jerome Brune, defende a ideia do culturalismo, concepção segundo
a qual a mente se constitui no e pelo uso da cultura, e o seu funcionamento está
vinculado à criação de significados categoriais e conceituais diferentes para cada
contexto, propondo também que as comunidades culturais criam e transformam
significados, conforme valoram (discutem interpretativamente) as ações do
cotidiano.
A mente seria o ponto em que tudo se estrutura, partindo do entorno em que
se está inserido e dos experimentos que se faz no decorrer do nosso
desenvolvimento como sujeitos, que também transita por comunidades culturais
distintas. É crucial que discussões que enfatizam o funcionamento da mente, frente
à observância do contexto cultural e da valoração das experiências anteriores,
ganhem força num século tão conturbado para uma educação que deveria pensar
no ser como um todo e não como existindo em partes dissociadas (SOUZA, 2013).
Faz-se necessário uma teoria de aprendizagem que abarque a mente e o
corpo, já que há uma equívoca conceituação de aprendizagem ser entendida
apenas como um processo da mente/racionalidade do indivíduo, desconsiderando o
mundo em que esse está inserido e as atividades que ele pratica nesse mundo.
Assumindo a perspectiva de que o conhecimento se constrói e se transforma, a
aprendizagem pode ser percebida como integrada à atividade que se relaciona com
o mundo todo, em todos os momentos. E, que em assim sendo, o ato de aprender é
complexo e exige uma reconceituação dos aspectos culturais e sociais que
envolvem a pessoa (LAVE, 2013).
É no cenário que compõem as dimensões cognitivas, ambientais e
emocionais que o educador e o educando devem transitar. O conflito é inevitável,
como também a “não aprendizagem”, essa que deve ser encarada como um
processo normal, envolto em fatores que contribuíram para tanto. Como afirma
Wenger (2013) o fato de não aprender o que se esperava naquela situação
compreende em aprender outra coisa em seu lugar.
Entendendo que a aprendizagem como um processo corporificado e dinâmico,
semiótico e, dessa forma, sociocultural em sua natureza, esse será explorado no
52
próximo capítulo pela luz do multiculturalismo. Que pode ser uma forma de
constituirmos didaticamente as lentes com as quais os aprendentes se dispõem para
conceber o mundo.
53
2. O MULTICULTURALISMO
2.1. A cultura como caminho para a aprendizagem de uma segunda língua
A origem da palavra cultura vem do verbo colo do latim, que significa “eu
cultivo”, relacionada à palavra agricultura, que remete à “cultura do campo”; e o
sentido de cultura como algo que deve ser semeado e cuidado, para florescer,
penetrou profundamente na construção do pensamento ocidental. Mas foi também
ganhando outros contornos, e passou do plano mais material para o patamar
intelectual e moral, denotando um conjunto de ideias e valores (BOSI, 2008).
O uso primário da palavra ainda permanece em nossa sociedade; quando se
menciona na cultura do feijão ou na cultura da soja, por exemplo, é compreensível
que o assunto remeta a uma terra cultivada com esses grãos. Entende-se que o
termo em questão é algo cíclico, infinito e evolutivo, e numa comparação com o
caráter circular do plantio, estende-se a compreensão de que a cultura, nos
domínios intelectual e moral, também é passível de ser cultivada, entre os sujeitos,
de geração em geração, de grupos sociais a grupos sociais, por meio das diversas
produções humanas.
Todo indivíduo nasce como ser cultural (VYGOTSKY, 2002), e aprende a
pensar no âmbito dos valores e configurações conceituais da sua cultura. É no
interacionismo simbólico de um sujeito cultural com outros sujeitos igualmente
culturais, num entorno sígnico, que o sujeito desenvolve a consciência do mundo e
de si nesse mundo. Assim, quanto maior a interação com outras culturas, também
no caso da aprendizagem de uma segunda língua, mais se dará criação de
significados que o sujeito tecerá para a formação de si mesmo.
Toma-se a concepção de cultura como sendo o que direciona a vida do ser
humano, ou seja, as ideias que sustentam a trama da realidade a cada época
(ORTEGA y GASSET, 1983); uma vez que as ideias que temos do outro e do que
nos cerca são construídas ou podem ser denominadas de “reflexo da cultura” na
qual somos inseridos ou na qual fomos criados.
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A cultura, sendo entendida como “sistemas de ideias vivas”, e que representa
o estado atual (início do século XXI) de desenvolvimento de uma
comunidade/sociedade, como proposto por Ortega y Gasset, permite compreender o
ser humano como agente no cenário de sua própria formação. Assim, tem-se a
cultura como um “mapa” de princípios, ideias, gestos, entre tantos outros aspectos
da existência humana.
Para Geertz (1989) é por meio do comportamento humano e da sua ação na
sociedade que as formas culturais encontram articulações e apresentam um aspecto
utilitário, em acordo com o momento histórico corrente. Com base nessas ações
interativas é que a realidade vai se modificando e a cultural vai se transformando e
“moldando” os sujeitos, conforme as situações em que o ser humano é exposto e
como ele irá lidar com as complexidades que surgirão no decorrer do caminho.
De acordo com a sociedade a que pertence o sujeito, a cultura o influencia a
professar determinadas crenças, a frequentar lugares, relacionar-se em
determinados grupos, sem deixar de se comunicar na mesma língua; embora possa
haver variantes dessa, e mesmo aquelas variantes que se colocam como
delimitações de “território”, como as usadas nos grupos do crime organizado. O que
atesta o caráter mutável da língua, que vai se transformando ao passar do tempo e
assumindo novas fonéticas, incorporando novos vocábulos e repensando a
ortografia, de forma dialética à cultura.
Para muitos pesquisadores a economia influencia a cultura, para outros o
inverso faz mais sentido e uma terceira opinião apresenta o desenvolvimento
econômico e o cultural como caminhantes paralelos. É visível como as expressões
culturais influenciam as ideologias (BELO, 2006).
Ortega y Gasset trata a cultura como viva, assim como a língua, que
representa uma sociedade ou uma nação. A cultura não vai nunca deixar de ser
viva, pois ela se transforma a cada troca de experiências entre os sujeitos, a cada
acontecimento local ou mundial. Na concepção Orteguiana, numa negação de que a
“verdade” estaria fundada ou na biologia dos sujeitos ou exclusivamente na
“modelagem” desse pelo entorno, cada indivíduo e cada grupo de indivíduos
apreende a realidade de acordo com os pontos de vista possíveis em suas
respectivas percepções de mundo, sendo a cultura o seu elemento organizacional. A
55
ênfase está posta, então, na dimensão histórica, dinâmica e ativa dos fenômenos
humanos e sociais, sintetizada na frase que resume bem o pensamento desse
autor: “Eu sou eu e minhas circunstâncias”, ou seja, não existimos como sujeitos
independentemente dos próprios contextos de vida, da própria cultura, que inclui as
relações sociais aí estabelecidas. Para Holmes, Ortega, com essa frase, queria
“libertar o Eu da prisão interna do subjetivismo” e propôs que “nós nos salvemos a
nós mesmos no mundo”, esse “horizonte vital” (HOLMES, 2014, s/p).
Desse modo, em relação ao tema aqui discutido, podemos também refletir
que:
A concepção da dignidade humana encontra-se fundamentalmente ligada à vida da mente que, por sua vez, está profundamente relacionada com a língua como um meio essencial de comunicação. A língua constitui um dos fundamentos da consciência e está muito próxima da essência da personalidade; as privações relativas à língua afetam profundamente a personalidade. (LASWELL E CHEN, 1976, apud BELO, 2006. p.130)
As considerações acima também encontram ressonância no pensamento da
Psicologia Histórico-Cultural, pois é por meio do processo de interação social e
mediação sígnica, a partir das várias compreensões de mundo concebidas pelos
sujeitos em seu processo de vincular-se à vida, e materializadas na cultura, como
proposto na abordagem sociointeracionista de Vygotsky, que o desenvolvimento
humano acontece. Nas palavras de Rabello, e Passos:
Vygotsky enfatizava o processo histórico-social e o papel da linguagem no desenvolvimento do indivíduo. Sua questão central é a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio. Para o teórico, o sujeito é interativo, pois adquire conhecimentos a partir de relações intra e interpessoais e de troca com o meio, a partir de um processo denominado mediação (RABELLO, PASSOS, 2008, p.3).
É nesse contexto que o aprendizado do espanhol, como L2, pode nos levar
aos caminhos do autoconhecimento e da leitura de mundo por meio da cultura.
Conforme aponta Bolognini (1998), não há como separar língua e cultura, uma vez
que ambas constituem o sujeito, e esse, ao aprender a língua, passa a ser
representante cultural de seu meio. Ao se pensar em L2, tal representação levará a
comparações interpretativas, quando do contato com outros sujeitos, por sua vez,
56
representantes de outras culturas, conduzindo o aprendente a uma abertura para a
pluralidade cultural, influenciando suas construções ideológicas. Ocorrendo, de tal
modo, a “revelação” de um outro contexto, associado a uma nação, dotada de
costumes, ideologias e culturas, que são refletidos na língua em que se está
estudando.
No caso do Espanhol, que teve sua trajetória marcada por diversas
influências, desde a dominação romana e árabe, bem como na América latina com
os indígenas e outras civilizações, tal trajetória pode revelar uma língua repleta de
“porquês” a serem explorados nas aulas de línguas. Mostrando que um idioma é
possível de ser aprendido à luz de sua história, de suas tradições, enfim de sua
cultural, conduzindo o sujeito ao respeito à pluralidade de contextos.
No século XIX, no que pulsava o desenvolvimento da ciência eram a
“curiosidade” e os “gostos”, o que se contrapõe, no entender de Ortega y Gasset
(1983, p.66), à realidade do século XX: “Assim podemos entender o colossal
paradoxo destas últimas décadas: um gigantesco progresso da cultura produziu um
tipo de homem como o de hoje, indiscutivelmente mais bárbaro que o de cem anos
atrás (...).”. Na atualidade, a obrigatoriedade de aprender determinados
conhecimentos e de desenvolver certas competências, relativas a imposições de
vários aspectos da vida humana, como por exemplo o “encaixar-se no mercado de
trabalho”, fez com que se passasse do aprender como um gosto, a uma
necessidade e a uma imposição no mundo globalizado. No caso do Espanhol,
imposição que visa a comunicação com intuito de lucro na sociedade capitalista,
pois melhora a empregabilidade. E os aspectos culturais da língua, que deveriam ser
observados, respeitados, apreciados, discutidos e incorporados pelos sujeitos, ao se
aprender um novo idioma, são tratados como uma ferramenta imediatista, que
diferencia candidatos para uma vaga de emprego. Deste modo, o idioma é tratado,
na melhor das hipóteses, como língua estrangeira e fator de consumo para os mais
diversos ambientes mercadológicos.
Os espanhóis foram responsáveis pela colonização da faixa oeste do
continente Americano, desde o México ao Chile, salvo o Brasil, Guiana, Guiana
Francesa e Suriname, devido ao Tratado de Tordesilhas, firmado em 1494, entre os
espanhóis e os portugueses. Contudo, o que distingue o espanhol praticado nesses
57
vários países é exatamente sua história, anterior e posterior à colonização europeia.
Observando que as influências da colonização na configuração do Espanhol do
“Novo Mundo” não se deu numa via de mão única: o povo Maya, Asteca, Inca,
Mapuche e tantos outros, que viviam nessa região, que possuíam línguas, culturas e
histórias próprias, interferiram no espanhol latino-americano, tal qual se conhece
hoje.
Diante do panorama de dominação apresentado, Boaventura (2011, p. 288)
aponta que:
De todas as formas de poder, a dominação é a mais institucionalizada, a mais auto reflexiva – “vê-se a si mesma” como forma de poder – e também a mais amplamente difundida, pelo menos nas sociedades do centro do sistema mundial.
Conforme o exposto, a transformação cultural transcorre pela apropriação de
elementos de uma cultura por outra/outras, e é possível por meio da interação com o
outro. Ou como Bakhtin (2006, p.149) propõe, a reflexão sobre o diálogo, sendo
esse o intercâmbio de pelo menos duas enunciações, afirmando sua natureza
sempre social: “As condições da comunicação verbal, suas formas e seus métodos
de diferenciação são determinados pelas condições sociais e econômicas da
época”. Posição que também ecoa o pensamento Orteguiano. Por isso, as
qualidades da comunicação sócio-verbal são decisivas para gerir as mutações dos
discursos, levando-nos a observar o entorno em que o outro está inserido, bem
como os acontecimentos sociais envolvidos, resultando em uma aguçada visão de
mundo; o que intensifica uma reflexão sobre si mesmo e sobre a cultura a qual se
pertence.
A interação com o outro e com o entorno é decorrente do nosso estado atual
de estar vivo: “Viver é, certamente, relacionar-se com o mundo, dirigir-se a ele, atuar
nele, dele ocupar-se.”. (ORTEGA Y GASSET, 1983, p.54). Contudo, o que faz o ser
humano tomar determinadas decisões é a construção biográfica que sofre, por
influência da comunidade e do período histórico ao qual pertence, moldando a
maneira de pensar, agir e reagir às pessoas, coisas e situações. Conforme afirma
Ortega y Gasset (1983. p. 55):
58
Toda a vida, forçosamente, “planeja-se” a si mesma. Ou seja, ao decidir cada ato nosso, decidimos algo que, em vista de determinadas circunstâncias, parece fazer o melhor dos sentidos. Toda vida precisa – queira ou não – justificar-se perante seus próprios olhos.
O que também faz parte da vida é o que se enuncia e que não é determinado
apenas pelas formas linguísticas da composição das palavras, mas pelos elementos
não verbais, gestos, maneira como foi pronunciada determinada palavra ou frase,
situação que foi proferida; entre outros aspectos em que transparecem os
sentimentos de quem fala como também a influência na resposta de outrem.
Segundo Bakhtin (2006) o sentido da palavra é totalmente determinado pelo
seu contexto, portanto, existem diversas significações possíveis, conforme os
contextos existentes. Com isso, inúmeras são as adaptações que uma palavra pode
sofrer, como forma natural ou por necessidade. É natural que devido à convivência
com outras culturas, novas palavras comecem a fazer parte do cotidiano linguístico.
A fonética, por exemplo, nos permite uma observação nas diferentes maneiras
de se pronunciar diversos vocábulos de uma mesma língua, considerando a história
de colonização de cada região. Como o fonema “R” do nosso português, que
assume sons distintos quando é proferido por um carioca, um gaúcho, um paulistano
e um mineiro. Isso ocorre devido às sementes históricas plantadas pelas mesclas de
nativos e conquistadores, que atualmente nos propicia tal riqueza de sons e cultura.
2.2. Aportes sobre o papel da cultura na aprendizagem da L2
Em decorrência do Homo sapiens, ao longo de sua história evolutiva, passar
por necessidades adaptativas, que provocaram alteração em seu ritmo de vida -
vestimentas adequadas ao clima, a fabricação de armas, o cozimento dos alimentos
e a representação de símbolos significantes (linguagem) -, houve a emersão/criação
de um conjunto de conhecimentos essenciais para essa evolução, entendido por
Geertz (1989) como cultura. Outras fontes históricas tratam dessa temática, como o
59
etnólogo Lucien Levy-Bruhl (1857-1939) que lança mão da denominação de povos
lógicos e povos pré-lógicos, para diferenciar-se da tradição eurocêntrica de distinguir
os povos com história, ou seja com domínio da escrita e povos sem história
(WEDDERBURN, 2005).
À procura por compreender ou definir o emaranhado de fios, que tecem e são
tecidos pelos próprios seres humanos, cabe à cultura, numa visão mais semiótica,
ser interpretada em seu significado e sentido. Para Geertz (1989, p. 17) “O ponto
global da abordagem semiótica da cultura é, como já disse, auxiliar-nos a ganhar
acesso ao mundo conceptual no qual vivem os nossos sujeitos, de forma a
podermos, num sentido um tanto mais amplo, conversar com eles”.
O ato de interagir culturalmente leva o sujeito a outras leituras conceituais de
mundo, ao ter contato com uma nova maneira de agir, pensar e ser, concretizando-
se por meio da “conversa”, apresentada por Geertz, como a forma de adentrar
culturalmente em outra ambientação, dando-se por meios físicos ou virtuais.
Essa interação resulta num livre trânsito do sujeito em diferentes discursos,
podendo se dar na modalidade escrita ou oral, em diversos contextos inseridos num
dado momento histórico e social. Bakhtin (2006, p.101) aponta que: “Os contextos
não estão simplesmente justapostos, como se fossem indiferentes uns aos outros;
encontram-se numa situação de interação e de conflito tenso e ininterrupto”.
Para tentar entender o contexto de um povo, faz-se necessário o estudo de
suas ações, também cotidianas, tais como alimentação, religião, literatura,
celebrações, músicas e concepções de vida e morte. Que constituem o dia-a-dia,
vão configurando a realidade social, e são transmitidos de geração a geração. O que
pode ser mais bem apreendido no âmbito da etnografia:
Fazer a etnografia é como tentar ler (no sentido de "construir uma leitura de") um manuscrito estranho, desbotado, cheio de elipses, incoerências, emendas suspeitas e comentários tendenciosos, escrito não com os sinais convencionais do som, mas com exemplos transitórios de comportamento modelado (GEERTZ, 1989, p.13).
O ato de aprender uma L2 está relacionado a uma posição de situar-se na
língua e cultura de outrem, de maneira a compreender com quem se fala e não de
quem se faz menção: é impulsionar o sujeito ao alargamento do seu universo e do
60
seu próprio discurso. Por meio da interpretação do que tange à cultura do outro é
que se põe em destaque o contexto social e histórico dos sujeitos, que interagem
direta ou indiretamente, possibilitando o distanciamento do superficial e o
acercamento de uma aprendizagem mais densa e significativa.
Parte-se dos pressupostos das definições apresentadas nesse trabalho, que
diferem a L2 da LE, mesmo tendo consciência que autores como Geertz, por
exemplo, usem o termo de língua estrangeira, para se referir àquilo que o presente
estudo defende por segunda língua (L2).
Segundo Geertz (1989) é possível que mesmo tendo pleno domínio de outro
idioma, como o espanhol, não compreendamos o povo em questão, pois conhecer
as estruturas sintáticas, as expressões idiomáticas e até compartilhar da mesma
cadeia sonora, pode não apresentar uma inserção autêntica nesse idioma. Neste
caso, classificamos a língua aprendida como estrangeira, já que se transita pelo
idioma com primazia, mas com certo distanciamento e estranhamento das bases
culturais da outra nação. É como o estrangeiro, que tem como etimologia da palavra
“estranho”, do latim extraneus: “o que é de fora, desconhecido, não familiar”. Vem na
contramão da finalidade aqui defendida de se aprender o espanhol como segunda
língua, que é exatamente constituir-se um ser no outro idioma, ou seja, fazer com
que a outra língua e cultura tornem-se apropriadas, sem que o sujeito abandone sua
singularidade, mas se transforme nessa.
Outro fator a ser considerado nesse aprendizado são as interpretações que os
sujeitos fazem das diversas situações de interação cultural ou linguística, devido aos
limites, por exemplo, entre o modo em que um idioma foi representado nos livros
didáticos, que é, na maioria das vezes, pouco eficiente em relação ao uso da língua
inserida em determinado contexto cultural. Denominados por Geertz (1989) como
artifícios eruditos, ficam a mercê da imaginação, com risco de interpretações
equivocadas, e em não representando adequadamente a realidade social, tornam-se
perigosos para a compreensão mais reflexiva da “formatação” de uma língua e de
seu povo. Podendo, por exemplo, conduzir a preconceitos ou ao menosprezo de
determinada cultura, como aconteceu no caso da história dos indígenas brasileiros,
ou dos povos africanos.
61
As interpretações estão presentes também nas experiências negativas que
um sujeito pode ter com uma pessoa de determinada nacionalidade e em
conseguinte chegar a traçar um perfil de uma nação, tomando como parâmetro um
fragmento do todo. São essas ações sociais que impelem preconceitos,
estereótipos, discriminação, desentendimentos, transformações ou verdadeiros
desastres ao próprio ser humano e à sociedade que pertence.
Para Bissoto (2013) o ser humano é resultado do seu processo de interpretar
o mundo, a partir da convivência que se mantém com os outros membros da
comunidade, sempre prevalecendo o “estando” sobre o “sendo”, com a ideia de
constante transformação. Interpretações que precisam ser discutidas, respeitando-
se a diversidade de perspectivas, que caracteriza o viver humano.
O discurso que provém da sociedade em que se está inserido, ou se mantém
contato, também é um fator que representa a ideologia de um povo e ajuda a
compreender o papel da cultura na vida coletiva. Pode ser responsável pela
imposição de algumas regras a serem seguidas, visando o bem estar de todos os
membros, outras vezes suscita o comportamento dos indivíduos em determinadas
situações, como adequados ou não. E em contrapartida tais especificações também
podem ir se alterando quando algumas regras são infligidas e passam do
inadequado para o compreensível e aceitável. Nem que seja por uma pequena parte
da comunidade; contudo pode ser uma pequena parte crescente, futuramente
responsável por algumas transformações socioculturais.
Diante de uma humanidade tão variada em suas particularidades como em
sua expressão, Geertz (1989) afirma a complexidade do caráter humano, apontando
a dualidade entre a concepção de Homem- aquele que está além de seus costumes-
, e de homem- que está aquém dos costumes, ou seja, fixado em si, com a
preocupação de perder sua perspectiva. Contudo, a cultura entendida como
“unidade básica da humanidade”, é o principio dominante para tentar mensurar ou
dividir o que é natural, universal, convencional, local e variável da condição humana.
O ser humano tem que fazer um esforço contínuo para continuar humano e
sem a cultura isso é impossível, como Bissoto (2013) salienta, a cultura e a biologia
são indissociáveis, pois a cultura vai formatando como o sistema nervoso responde
a determinados universos simbólicos distribuídos no mundo; dentro dos limites
62
postos pela conformação biológica. Como complementa Washburn (1959) apud
Geertz (1989, p.49) "seria provavelmente mais correto pensar em muito da nossa
estrutura como resultante da cultura, em vez de pensar nos homens,
anatomicamente iguais a nós, descobrindo lentamente a cultura".
A cultura vista como base formadora do ser humano, direciona o olhar e as
ações diante do mundo em que se vive e nas condições que o sujeito dispõe, numa
sociedade repleta de símbolos a serem interpretados. Com a experiência diante de
novas culturas, se descortina uma nova maneira de ler o outro, e a sociedade em
que se está inserido.
Para Paiva (2008, p.1) a cultura tem um enfoque de produção, num sentido
primeiro em que o ser humano é e não faz. Com isso, “A cultura se define, pois,
como transformação; redundantemente, como transformação da forma de ser”, como
uma ação contínua, formadora e transformadora, que perdura sem delimitação de
tempo finito.
A relação homem-mundo deve ser compreendida como essencial para tal
transformação ininterrupta, que faz o ser humano ser agente ativo na ação de criar e
recriar o seu mundo. Contudo, de acordo com Freire (1981), ocorre também o
fenômeno da cultura se voltar contra os indivíduos e condicioná-los, agindo como
um “mecanismo de controle” de hábitos, costumes, usos e tradições, uma vez que o
pensamento humano é tanto social como público (GEERTZ ,1989, p.33).
Parece, então, que há uma necessidade humana de orientar-se dentro de
uma lógica societária, a qual, consecutivamente, lhe impõem determinados atributos
essenciais para a convivência em comunidade, por vezes assumindo um papel
autoritário nas ideologias propagadas como únicas e corretas. Sendo imprescindível
trazer à luz críticas a determinados posicionamentos imperantes, que podem
obstaculizar transformações.
A imposição da cultura como mecanismo de controle pode ser associada ao
período da colonização do continente americano, com o caráter repressor de nações
que acreditavam serem superiores aos dominados/colonizados. De forma mais
violenta, duradoura e profunda, foi o que aconteceu com os indígenas na América,
considerados culturalmente inferiores, pela cultura europeia. Segundo Quijano
(2005, p.232) os colonizados deveriam “aprender parcialmente a cultura dos
63
dominadores em tudo que fosse útil para a reprodução da dominação, seja no
campo da atividade material, tecnológica, como da subjetiva, especialmente
religiosa”.
Mentalidade que não necessariamente se extinguiu com o fim da colonização,
marcando ainda hoje as preconcepções de que há culturas “dominantes” e
“dominadas”, com base numa valoração hierárquica entre “culturas melhores e
piores”. É necessário saber triar o que se concebe de antemão sobre outros povos,
uma vez que informações distorcidas ou movidas por quesitos políticos ideológicos,
apresentam determinada nação sob rótulos de excelência ou de
“subdesenvolvimento”, induzindo a concepções equivocadas e que se refletem no
modo da interação com a diversidade cultural. Ao entrar em contato com outras
culturas o respeito deve ser o pilar sustentador do diálogo.
Dentre os vários fatores que compõem a construção cultural de um povo, e
que são alvo central de formação de pré-conceitos, estão os símbolos sagrados, que
assumem uma conflitante posição entre o bem e o mal. Muitas culturas têm religiões
que adotam uma postura de fundamentar o Mal como irreal, positivo ou negativo, e
opondo-se à ideia de Bem; com conotações que variam dependendo do ocorrido (a
morte, a doença, fenômenos naturais, situação financeira, etc).
No cenário de aprendizagem de um idioma os valores sociais e culturais, tanto
do aprendente como o da nação estudada, devem ser considerados, pois
reapresentam visões de mundo que são expostas em uma aula de línguas, por
exemplo. A forma de pensar o mundo vai se modificando de acordo com as
experiências individuais ou coletivas às quais se é exposto, dentro do universo
cultural de outrem.
O aprendizado de uma segunda língua deve ser entendido como o
desenvolvimento da capacidade de socializar-se em outro idioma. E tal socialização
só é possível por meio do conhecimento cultural do país com que se está
interagindo. Para tanto é necessário conhecer de maneira mais profunda a cultura
que envolve a língua da qual se faz uso, resultando em um passo além da
comunicação, num intercâmbio, numa troca de experiências, que se desenrolará em
um maior conhecimento do outro e de si mesmo.
64
2.3. O multiculturalismo como caminho para o respeito da diversidade cultural (e humana) e o aprendizado da L2: por outras concepções de Educação
Grande é a discussão entre os pesquisadores do meio acadêmico sobre os
termos multi e pluri - cultural, que ora parecem ser definidos- e preferidos-
impulsionados pelo fenômeno da globalização, ora pelo estreitamento das relações
humanas por meio dos avanços tecnológicos, entre outros. Convém esclarecer que
o termo multi é um radical latino com o sentido de muito e pluri também segue a
mesma definição de origem com sentido de muitos e vários. Desse modo, o
presente trabalho tratará o multiculturalismo e o pluriculturalismo com a mesma
significância, embora usando principalmente o primeiro termo no decorrer do texto, e
dando ciência de que há estudiosos que defendem que o multiculturalismo é a
existência de várias culturas dentro de um mesmo território, que se limitam a
coexistir, mas que não convivem, e o pluriculturalismo é a existência de diversas
culturas que se relacionam.
Entendemos que as múltiplas culturas com as quais o aprendente tem contato
no decorrer da vida o convidam a expandir sua identidade individual para uma
pluralidade de identidades, com base nos saberes de etnias, gêneros, religiões,
culturas e línguas.
A interação é o caminho para o multiculturalismo, pois é a partir do novo que
outros discursos são construídos e, consecutivamente, a forma de pensar sobre o
outro e sobre si também se modifica.
Toda interação é multicultural por princípio, pois estamos constantemente cruzando fronteiras culturais e a competência comunicativa intercultural é a habilidade em atravessar fronteiras, mediar entre duas ou mais identidades culturais e buscar compreender a cultura da língua estrangeira a sua própria pela ótica do Outro (BATEMAN, 2002 apud ROTH, 2003, p. 4).
A busca por uma identidade move o ser humano, e a vida em comunidade
auxilia essa construção identitária, que também é cultural, conduzindo a caminhos
plurais e não mais individualistas, quebrando a tendência da sociedade
contemporânea de “monoidentificación” (MOLINA, 2003).
65
O multiculturalismo, do ponto de vista educacional, tem por objetivo amenizar
preconceitos e discriminações. Na definição de Boaventura (1997, p.112):
O multiculturalismo, tal como eu o entendo, é pré-condição de uma relação equilibrada e mutuamente potenciadora entre a competência global e a legitimidade local, que constituem os dois atributos de uma política contra hegemônica de direitos humanos no nosso tempo.
A partir da década de 1980, o termo multiculturalismo começou a ser difundido
nas universidades norte-americanas, devido ao fracasso do modelo de integração
social das diferentes etnias, que imigraram para os Estados Unidos após a II Grande
Guerra. Por isso, o termo multiculturalismo pode ser entendido como um ato social,
uma ideologia ou ainda, um projeto político, dependendo do contexto aplicado
(GROFF, PAGEL, 2009).
O multiculturalismo valoriza a conservação das diferenças, uma vez que isso é
exatamente o que distingue os povos, é o que deve ser respeitado, ou seja, as suas
perspectivas culturais. O enfoque multicultural possui algumas subdivisões,
conforme explicita Rial (2004) como os modelos Assimilacionistas, que
compreendem os que pensam que as pessoas que vivem em outro país devem
assimilar a nova cultura, abrindo mão da identidade natalícia; os Integracionistas,
que buscam dissolver as diferenças, visando a tolerância cultural entre ambas as
partes, e o modelo Fusionista, o qual convoca a todos os grupos para formar uma
sociedade com uma cultura mestiça, fruto da fusão de várias etnias.
Várias são as discussões sobre a busca por diferenciação, ou não, do modelo
multicultural e daquele intercultural, considerando que o segundo é geralmente
entendido como uma vertente do primeiro, que se contrapõe à discriminação e à
desigualdade social, visando a importância do direito à heterogeneidade e do
diálogo entre grupos que pertencem a culturas distintas. Como afirma Rial (2004) o
projeto intercultural tem como objetivo combater a coisificação e o estranhamento do
outro e reconhecer o que os difere em relação aos seus costumes, valores e
comportamento, como também respeitá-los com base em afirmações da sua
dignidade enquanto representantes da humanidade.
Dentre as questões que envolvem o multiculturalismo está a consideração de
como é pouco discutido o pensamento não daquilo que diferenciam os seres, mas
66
no que se assemelham. Essa discussão é valorizada na atual sociedade em que o
diferente continua excluído, apesar dos discursos em contrário? Mas será que o que
é estranho é tão diferente assim? Há variações na definição de estranho e de
diferente, o estranho sendo algo desconhecido e ao qual não se está habituado, e o
diferente como aquilo em que se nota alguma diferença.
Assim, na aprendizagem de uma segunda língua, involucrada em sua cultura,
essa é tida inicialmente como estranha, mas nem sempre é diferente, pois quando o
sujeito se abre para a aquisição da nova língua, deve tentar se privar ao máximo dos
juízos de valores em relação à nova língua e à(s) cultura(s) associadas, além, é
claro, da importância de se identificar com o que lhe está sendo apresentado. Muitas
vezes corre-se o risco de quando o sujeito é posto diante de outra cultura, reagir
negativamente, daí a importância de como o professor vai apresentar o estranho de
forma que não pareça diferente.
A busca por esclarecer as diferenças culturais são um tanto quanto
necessárias, como o é o despertar a percepção do que se tem em comum. Prática
essa essencial na aquisição de uma L2, em que ao ter contato com um texto em
Espanhol o leitor busca primeiramente as similaridades com sua L1 para poder
compreendê-lo melhor. Age-se assim naturalmente na leitura em outro idioma, o que
torna o leitor um caçador de semelhanças. Por que então, não se tem a mesma
atitude com o estrangeiro ou, até mesmo, com aquele que tem a mesma
nacionalidade, mas pertence a outra região, que se torna estranho diante dos rasgos
culturais, como a fonética e a semântica das palavras que os distingue?
Além da capacidade linguística, que se espera do aprendente de uma L2, faz-
se necessária o conhecimento intercultural. O qual se atém aos elementos que
envolvem tradição, história e os antepassados, que influenciaram a construção do
indivíduo contemporâneo. E que se comunica de determinada maneira...
Contudo o exercício da justiça e do respeito ao outro não é algo fácil e nem
simplório a ser seguido, embora seja a base do multiculturalismo e suas vertentes.
No que tange a esse trabalho é exatamente a busca por uma maior identificação do
sujeito em sua língua materna, como afirma Rial (2004, p.233), aqui citado no idioma
galego: “O outro non é um inferno para mim, non é só o limite da miña liberdade,
67
senón tamén a súa verdadeira posibilidade: no encontro e no recoñecemento do
outro, encóntrome e recoñézome a mín mesmo.”
Esse movimento de ver o outro e encontrar-se a si mesmo favorece a
transformação do sujeito, de maneira a se abrir para o novo e tomá-lo como parte de
si.
Agindo assim, o mundo é descortinado e os perímetros do conhecimento são
ampliados e é exatamente esse o objetivo da educação, levar o sujeito cada vez
mais para fora do seu perímetro, em que irá refletir sobre o outro e sobre si mesmo,
potencialmente transformando-se. Uma vez que o mundo vai sendo descoberto, a
maneira de pensar e agir vai gradativamente se modificando e favorecendo novas
formas de ser humano. Novamente, aqui, pode ser feita uma conexão com a
Educação Sociocomunitária, pois é por meio da vinculação sujeito em comunidade,
que transcorre a ação dialética de conhecer o outro e a si mesmo.
2.4. O Multicultural, o intercultural e o processo de ensino e aprendizagem
Num plano de coexistência das mais variadas culturas, em que supõem-se a
equanimidade entre elas e se exalta o espírito comunitário e libertário, é que surge o
termo Interculturalismo, defendido por Soriano (2004), o qual o presente trabalho
toma como parte integrante do multiculturalismo, na busca por uma qualidade
interativa entre as relações socioculturais estabelecidas.
A abertura para o diálogo intercultural parece “palavra de ordem” na
sociedade contemporânea, contudo quando os participantes desse diálogo
compartilham um passado marcado por desigualdades e destruição, como é o caso
dos países latinos em relação àqueles colonizadores, tal diálogo soa muitas vezes
falso. Uma vez que a falta de pronunciamento das nações envolvidas foram
sufocadas no decorrer da história, por diversos fatores que contribuíram para
silenciar e demarcar ainda mais a desigualdade cultural existente, pois a cultura foi
um mecanismo de controle diante desse quadro de dominação.
Um exemplo a ser citado das dificuldades de se estabelecer um diálogo
68
intercultural equânime é aquele dos povos indígenas da América Latina, que foram
quase que exterminados pelos espanhóis em meados de 1500. Foram marcas
profundas que o processo colonizador deixou às nações originárias, e que são
deixadas até a atualidade, o que muitas vezes soa como uma afronta à memória dos
antepassados dos nativos, como é o caso da comemoração intitulada como “Día de
la Hispanidad” ou “Día de la raza”; que remonta à história colonial.
Essa é uma festa instituída em 12 de outubro de 1913 para enaltecer os feitos
dos espanhóis por desbravarem o novo mundo; perpetuação da memória colonial
que na América, para ser mais “palatável”, foi proposta a troca de raza por
Hispanidad. Nem mesmo com o vocábulo alternado o festejo ganhou graça entre os
povos colonizados, que alegam a incoerência em se celebrar a invasão e a
destruição durante os mais de duzentos anos de imposição linguística, religiosa,
enfim, cultural.
No entanto, as transformações ocorreram e de acordo com as conjecturas da
história de alguns povos nativos, inclusive de cunho religioso, tais mudanças seriam
esperadas; num período em que as grandes nações originárias também se
encontravam frente a entraves em seu desenvolvimento social interno (crises
climáticas, disputas internas ou com outras nações, fome, etc). De modo algum isso
justifica as barbáries cometidas pelos espanhóis e portugueses, que desbravaram as
terras além do Atlântico, e tampouco os exime da dificuldade em manter-se de forma
equânime um diálogo intercultural, mas exalta a importância do momento e da
compreensão da complexidade dos elementos envolvidos, para que tal conversa
aconteça. Segundo Souza Santos (1997, p.105) “El momento para el diálogo
intercultural no se puede establecer unilateralmente. Cada cultura y, por lo tanto, la
comunidad o comunidades que la sostiene deben decidir si y cuándo están
preparadas para el diálogo intercultural.”.
É no âmbito escolar que se pode fortalecer a convivência no aspecto
intercultural, com o firme propósito de discutir preconceitos, na tentativa de aumentar
a possibilidade da leitura do mundo por meio de outras lentes conceituais, baseada
no respeito às culturas, como também na valorização da própria. Assim, a presença
do diálogo intercultural nas aulas de línguas são essenciais e cruciais para o bom
69
desempenho do estudante, não somente como aluno, mas como sujeito no outro
idioma.
No momento em que o sujeito se coloca em contato com várias culturas, como
é o caso no multiculturalismo, a reação pode ser positiva ou negativa diante do
estrangeiro, pois são corpos de significados interpretativos que não se domina, e a
probabilidade da sua negação é eminente, ainda mais se outras experiências com o
novo não foram satisfatórias. No caso das línguas, o estudante já vem com um pré-
conceito diante do espanhol, mediante a experiência que teve com o aprendizado da
sua ou de outras línguas.
Tradicionalmente, os primeiros enfoques didáticos para se colocar a temática
da cultura nas aulas de uma outra língua tinham como objetivo ilustrar e “enfeitar” o
material de ensino, e constavam, na maioria das vezes, de elementos que
contribuíam para reforçar as impressões já existente no senso comum em relação a
uma cultura; geralmente de modo superficial e estereotipado (LÓPEZ, 2005).
São essas impressões que podem redundar em um enfraquecimento do
respeito à diversidade cultural, pois criam um imaginário reducionista do outro e da
sua língua. É como tomar por verdadeiro a premissa que todo brasileiro samba e
gosta de carnaval e futebol, numa visão um tanto reducionista do que é ser
brasileiro. Desse modo, não cabe cometer o mesmo erro ao mensurar outras
nações. Também, o Brasil não é só o Rio de Janeiro e a floresta Amazônica, como a
Espanha não é só flamenco e corrida de touros, tampouco o Peru se atém a Machu
Piucchu e ao pisco sour. É fundamental que se explore a abertura para a
complexidade, para além dos estereótipos, em que uma cultura é definida.
As vertentes didáticas que não se ocupam da necessidade de se discutir a
contextualização cultural no ensino de idiomas deixam marcas profundas no
processo de ensino e aprendizagem. Isso ocorre quando propõem que se explore,
por exemplo, o imaginário do aprendente como se esse fosse um “turista”, num
idealizar dos países referência ao idioma a ser aprendido. A Espanha é
apresentada, por exemplo, como um país sem problemas, com um pano de fundo
social, econômico e político ilusório e desconectado da realidade.
Parecido com o que se arrisca fazer com o Brasil, na tentativa de esconder as
favelas (ou, talvez, ainda pior, transformá-las em eventos turísticos), a miséria, a
70
violência e a corrupção... Não que isso seja o cenário que representa todo o país,
mas compõem, significativamente, o contexto nacional. A discussão das
representações culturais e sua importância para a aquisição da L2 é aprofundada
abaixo.
2.5. Concepções do mundo hispano falante: uma visão mexicana, peruana e espanhola
Quando os primeiros espanhóis desembarcaram nas Américas e mantiveram
contato com os habitantes dessa terra, iniciou-se uma nova e significativa
configuração da história mundial. A concepção que ambos os povos tinham do
mundo se mostraram como definidoras das atitudes e tomadas de decisões, que
moldaram o processo de colonização. A interpretação do sujeito ou do grupo perante
o encontro com o Outro está intimamente relacionada aos aspectos cognitivos,
externalizados pela linguagem (oral, gráfica ou corporal); essa considerada como um
sistema de lentes lançada sobre a realidade, responsável pela “visão de mundo” de
cada um.
Movidos pela necessidade de interagir e conhecer o diferente, que estava
diante dos olhos, mesmo em situações complexas como a dos espanhóis com os
indígenas, certamente, tentativas de comunicar-se verbalmente foram testadas pelos
dois lados. Os jesuítas, por exemplo, desempenharam um papel primordial junto à
comunicação com as línguas indígenas, que foram estudadas com o objetivo de
compreender os povos com quem os europeus agora se relacionavam. E a partir
dessa compreensão elaboraram o teatro catequético, introduziram a música
clássica, registraram as línguas nativas por escrito, etc. Nesses meandros, o
espanhol foi imposto aos nativos e, só por meio de muito esforço e resistência, é que
se conseguiu, mesmo que nas sombras, manter o idioma nativo.
A linguagem, como vem sendo aqui defendido, é uma grande propulsora para
compreender a visão de mundo dos povos e, arraigados à ela, estão os aspectos
culturais, que guiam, além dos pensamentos, as ações e atividades presentes na
vida dos seres, como a dança, a música, a comida, a bebida, dentre outras
71
manifestações.
Justifica-se, assim, a escolha dos três temas a serem analisados e discutidos
nesse trabalho, já mencionados anteriormente, a morte, a alimentação e a festa;
tomados como base exemplificadora da construção da visão de mundo dos
hispanosfalantes. São aspectos cotidianos, que incorporam concepções da vida e da
realidade, significativas, dessa forma, da cultura. Tais temas foram aqui delimitados
pelas nuances das nações espanhola, mexicana e peruana, por serem três vertentes
icônicas da língua espanhola, decorrentes de suas respectivas histórias, culturas e
da localização geográfica dos países, que pertencem respectivamente à Europa,
América do Norte e América do Sul. Desse modo, busca-se melhor entender os
falantes do espanhol, por meio do seu passado e da sua cultura, que se refletem
incisivamente na forma de vida atual de sua população e, consecutivamente, na
língua da qual fazem uso.
Comecemos pela abordagem do México, cuja história é construída sob as
tradições de grandes civilizações, como a Olmeca em 1400 a.C., tida como
civilização mãe de todos os outros povos da meso-América, cujo declínio ocorreu
por volta de 350 a.C.. Destacaram-se pela produção de cerâmica e prepararam o
caminho para a civilização Maia, responsável pelo desenvolvimento do calendário,
da utilização do zero e do primeiro sistema da língua escrita da América pré-
colombina, que se firmou antes de 1000 a.C. (BETHELL, 1990). É reconhecida como
a mais populosa e culturalmente desenvolvida sociedade do mundo pré-colonial.
Sua decadência é discutida por muitos historiadores, uns afirmam que as alterações
climáticas foram decisivas, e outros estudiosos apontam o enfraquecimento devido
às lutas com outros povos indígenas, situações agravadas com a chegada dos
espanhóis.
Os Mexicas ou Astecas vivenciaram o seu apogeu no século XV, com suas
conquistas territoriais e desenvolvimento cultural, tecnológico e na arte da guerra.
Uma sociedade marcada pelos sacrifícios humanos, que realizavam com certa
frequência. Um desses sacrifícios se baseava no arrancarem os corações das
vítimas ainda vivas, pois acreditavam que ao assim procederem fazia-se uma
oferenda ao sol, como alimento, para que esse pudesse nascer a cada dia. O
sangue deveria escorrer pelas escadarias das pirâmides para assegurar a boa
72
colheita de milho, principal fonte de subsistência do povo. Seu declínio veio no
século XVI, por meio da derrota militar, diante da união dos espanhóis com tribos
indígenas inimigas. Conforme aponta Ramos (1969, p.56) “También existían otras
culturas, como la de los zapotecas, hostiles a los aztecas y que colaboraron con
Hernán Cortés contra aquéllos, así como la de los tlascaltecas, que procedieron del
mismo modo”.
Durante o período de colonização houve a criação da Nova Espanha, mas em
1821 houve a Independência do México, e no século seguinte o país sofreu com as
constantes guerras travadas contra os Estados Unidos. Outro marco no país foi a
“Revolução Mexicana” encabeçada por Francisco Madero e apoiado por Emiliano
Zapata, Pancho Villa e Venustiano Carranza, contra o ditador Porfírio Díaz. Segundo
Prado e Pellegrino (2014), Lázaro Cárdenas, em 1934, implementou uma série de
reformas sociais que foram muito relevantes para todo o período posterior, como a
reforma agrária, marcando o desenvolvimento do México até os dias de hoje.
A primeira civilização a ocupar o território onde hoje é o Peru foi a Paracas,
formada por pescadores e caçadores, que deram origem aos Nazcas, juntamente
aos quais estiveram também os Moche, entre 700 a.C. e 100 a.C. Com o declínio
dessas civilizações, devido aos fenômenos naturais, como enchentes e secas, os
Huari e os Tiwanaku emergiram como forças em 500 d.C. e dominaram as terras
que englobam desde o Peru até a Bolívia. Mas devido aos confrontos com grupos
inimigos veio também ao decaimento, no século XII. Século esse marcado pelo
nascimento da civilização Inca, que incluía o extremo norte do Equador, passando
pela Colômbia, Peru e Bolívia, até o noroeste da Argentina e o norte do Chile. A
capital do império era a atual cidade de Cusco, que no idioma quínchua significa
"Umbigo do Mundo" (SERIACOPI, 2008). O império Inca abrangia diversas nações e
mais de 700 idiomas diferentes, sendo o mais falado o quechua. Com a chegada
dos espanhóis, em 1531, Francisco Pizarro encontrou um império enfraquecido
diante de uma recente guerra civil entre dois irmãos, que brigavam pelo poder.
Assim, com a prisão e morte do então imperador Inca, Atahualpa, em 1533, mais
uma civilização se aproximava do fim:
73
O Vice-reino do Peru estruturou-se a partir da capital fundada pelo conquistador Francisco Pizarro em 1535, a cidade de Lima ... estabeleceu-se, em 1543, uma sede da Real Audiencia, órgão todo-poderoso da administração colonial relacionada aos assuntos jurídicos (PRADO, PELLEGRINO, 2014, p.137).
Lima foi considerada como a mais importante capital da América Espanhola,
uma vez que todo o ouro extraído da região passava por Lima para chegar ao
Panamá e de lá para Sevilha, na Espanha. A indepêndencia do Peru em relação à
Espanha chegou por meio do general Antonio José de Sucre, na batalha de
Ayacucho, em 1824, contra a última tropa espanhola em terras peruanas, havendo
uma independência proclamada anteriormente por José de San Martín, no ano de
1821, conforme aponta Galeano (2006).
O Peru foi um país, como tantos da América Latina, caracterizado por
inúmeros confrontos, que deixaram marcas na sociedade que permanecem até hoje,
como foi a “Guerra del Pacífico” (1879-1883), contra o Chile e a Bolívia, por
disputas territoriais, ocasionando a perda da província de Arica para os chilenos.
Outras batalhas foram travadas com o Equador, em 1941, devido à delimitação
fronteiriça, que durou até 1998, quando definitivamente assinaram o tratado de paz e
a demarcação clara dos limites dos países (URIARTE, 2014).
Por fim, tratamos da Espanha. A península Ibérica, denominada anteriormente
como Hispania, foi alvo de diversas dominações, sendo as mais prolongadas
aquelas romana e árabe. Essa última iniciou-se por volta do século VII, e após
quase setecentos anos, sob o comando do reino de Castilha ocorreu a “Guerra de la
Reconquista”. Com a expulsão dos árabes formaram-se pequenos reinos, dirigidos
pelos nobres que participaram do confronto, e somente em 1876 o nome Espanha
foi efetivado, não obstante a grande resistência dos grupos existentes, contrários à
essa denominação e mesmo à unificação do território (WALTER, 1997).
No ano de 1492, as primeiras embarcações espanholas foram lançadas ao
mar, em busca de uma expansão que proporcionasse poderio territorial e
econômico, da parte leste do Novo Mundo. A Espanha passou por diversos conflitos,
como a Guerra dos oitenta anos, com a independência dos Países Baixos. A Guerra
da sucessão espanhola, no século XVIII, a luta entre os nobres pela monarquia e a
Guerra Peninsular, contra o domínio francês de Napoleão, que custou à coroa
74
espanhola a perda de grande parte de suas colônias americanas (SERIACOPI,
2008).
O século XX foi marcado pela Guerra Civil Espanhola, dando início a uma
das piores ditaduras da Europa, o período franquista, liderado pelo General
Francisco Franco, durante trinta e seis anos. A Espanha conta até hoje com alguns
grupos separatistas, como o ETA3 que busca a independência da região do País
Basco, junto à Espanha e à França (COSTA, 2002).
Abaixo, adentramos mais especificamente nas peculiaridades de cada uma
dessas culturas, buscando argumentar que mais bem compreendê-las,
imbricadamente ao ensino-aprendizagem de uma L2, potencializa que o aprendente
construa outras cosmogonias; numa perspectiva de educação para o
multiculturalismo, que, em nosso entender, pode ser um componente essencial para
a Educação Sociocomunitária.
2.5.1. A questão da morte para os mexicanos, peruanos e espanhóis
A morte é a única verdade incontestável para o ser humano, contudo, os
símbolos que a permeiam vão se apresentando distintos nas diversas culturas, o
modo como é tratada e a maneira como é encarada vão moldando as formas de
lidar com a realidade das sociedades. Refletir sobre essa temática é pouco comum
em nossa rotina, contemporaneamente. Mas o sujeito pré-hispânico convidava a
reflexionar sobre a dualidade com que se compreendia a relação vida-morte, como
parte do ciclo natural da vida humana. Ao se basear na tradição agrária, identificava
a temporada da seca com a morte e a estação das chuvas com a vida, como afirma
o arqueólogo mexicano Matos Moctezuma (2010, p. 75):
3 ETA – Euzkadi Ta Askatasuna (Pátria Basca e Liberdade), grupo líder do movimento separatista basco. Formado em 1959 por elementos radicais do Partido Nacionalista Basco.
75
Dicho en otra forma, de la muerte deviene la vida y de ésta viene la muerte. Se trata del concepto mesoamericano de ver esta dualidad como un ciclo constante, repetitivo, tal como ocurren muchos de los fenómenos de la naturaleza, en donde las sociedades agrarias observan cómo los cambios ocurren a lo largo del año y vuelven a producirse dentro de una constante de vida-muerte-vida-muerte.
Muitos costumes e rituais foram criados pelo ser humano em torno da morte,
cada cultura lida com essa temática de maneira distinta, a exemplo de seus
antepassados, contudo a raiz dessa tradição é visível na sociedade atual peruana,
mexicana e espanhola, como será discorrido nas páginas que seguem.
O fator religião influencia, de forma direta, a temática sobre a finitude humana
e o além-vida, são proposições que auxiliam o descortinamento ideológico, ou seja,
facilitando a visão de outras formas de pensar, ver e lidar com a realidade e temas
que envolvem o viver humano de muitos povos e a compreensão de determinadas
atitudes frente à importância, para alguns, em como morrer e, para outros, em como
festejar a morte. De acordo com Geertz (1989, p. 67): “A noção religião ajusta as
ações humanas a uma ordem cósmica imaginada e projeta imagens da ordem
cósmica no plano da experiência humana”.
O problema do significado é o que impulsiona o ser humano a criar suas
crenças, pois é na tentativa de dar sentido às experiências cotidianas que se lança
mão de recursos simbólicos, adequados aos critérios éticos e normativos de cada
cultura. Nessa tentativa de significar o mundo, a perspectiva religiosa difere-se da
científica devido ao questionamento cético dessa última sobre a vida. A perspectiva
religiosa baseia-se no sentido de crer no intangível, direcionando o uso de símbolos
persuasivos, e de certa forma invioláveis, por meio dos rituais:
É no ritual — isto é, no comportamento consagrado — que origina, de alguma forma, essa convicção de que as concepções religiosas são verídicas e de que as diretivas religiosas são corretas. É em alguma espécie de forma cerimonial — ainda que essa forma nada mais seja que a recitação de um mito, a consulta a um oráculo ou a decoração de um túmulo — que as disposições e motivações induzidas pelos símbolos sagrados nos homens e as concepções gerais da ordem da existencial que eles formulam para os homens se encontram e se reforçam umas às outras (GEERTZ 1989, p. 82).
Em consequência de alguns ritos, que decorrem da religião, os sistemas
sociais são impactados de forma direta, quando se festeja, por exemplo, a morte
76
com os sacrifícios de seus melhores guerreiros. Outros exemplos se dão quando,
juntamente com o morto, há o enterro dos seus servos e mulheres, ainda vivos;
enquanto que para outros, ainda, a visita ao cemitério, acompanhada de flores, já é
o suficiente para render as homenagens fúnebres. Os ritos fúnebres são influentes
no campo social e psicológico, modelando as atitudes pessoais e coletivas de um
grupo social.
No México, em relação aos Olmecas, pouco pode se afirmar sobre o seu
posicionamento ao redor da morte, mas suposições são realizadas com base em
algumas pinturas em cavernas próximas ao Oceano Pacífico, que apresentam cenas
de possíveis sacrifícios humanos; além de indícios de que eram enterrados com
seus respectivos cachorros. Essa civilização acreditava numa vida após a morte,
tratadas como passagem uma para a outra (MATOS MOCTEZUMA, 2010).
A crença na vida após a morte movia a civilização Maia em seus rituais
funerários, e preparavam o defunto para uma viagem a uma outra existência. Esse
era sepultado com alimentos e pertences pessoais, que o auxiliariam nessa
passagem e, dependendo da classe social à qual pertencia, os escravos e mulheres
eram sacrificados para acompanhar o morto em sua jornada.
Com a crença de que a morte iluminava a vida, os Astecas tinham uma maior
preocupação com a forma de morrer do que com o próprio curso da vida, pois era
devido à maneira como se morria que o falecido seria lembrado – e iluminado em
seu caminho transcendental- ou não. Para aqueles que morriam por causa naturais,
de velhice ou doenças, o lugar que os esperava era o Mictlán, uma espécie de
inferno, que abrigava os mortos por nove anos, e depois desapareceriam para
sempre (FONTENELE, SILVA, SOUSA, 2006).
Já para os guerreiros astecas, e para os que eram submetidos ao sacrifício, a
morte significava que seriam enviados para viver quatro anos com o deus Sol e
depois se reencarnariam em colibris e borboletas. Essa era entendida como a forma
mais honrosa de deixar esse mundo e ser lembrado eternamente. Percebe-se que a
morte estava intimamente ligada à continuidade da relação com a vida, respeito e
sintonia com a natureza, com a qual conviviam de forma harmoniosa. As crianças,
ao morrerem, se tornariam pássaros, e as mulheres que viessem a falecer no parto,
fecundariam a terra. Cancino [et.al.] (2012, p.588) afirmam que:
77
la muerte pasa a ocupar un lugar privilegiado, no sólo em función de su carácter individual, sino también en lo que hace a un criterio social...Teniendo en cuenta que a través del tiempo las diferentes culturas atribuyeron múltiples significaciones a la muerte y crearon en torno a ella ritos, símbolos y representaciones, buscando sobreponerse a lo inevitable, la propia desaparición.
A festividade asteca dos mortos era iniciada aproximadamente no mês que se
referiria ao mês de agosto do calendário contemporâneo, e durava um mês. Com a
imposição religiosa cristã, que ocorreu com a chegada dos espanhóis, no decorrer
dos anos que se seguiram à essa, sofreu uma mudança para o calendário cristão,
coincidindo com o dois de novembro, mas devido à forte raiz cultural de celebração,
o sincretismo religioso foi eminente. Atualmente, na cultura mexicana, a historicidade
do culto aos mortos ainda pode ser encontrada no culto à “santa morte”, e sua
representação pela personagem La Catrina. Esse culto domina grande parte do
imaginário mexicano, materializando-se nos altares edificados à personagem e aos
parentes mortos, os quais são decorados com uma mescla de objetos da cultura
asteca e cristãos.
Figura 2: La Catrina de José Guadalupe Posada4
Fonte: <http://es.wikipedia.org/wiki/La_Catrina> acessado em 20/08/2014
4 La Catrina en realidad es La Calavera Garbancera. Las garbanceras eran los indígenas que querían
ser como los españoles y no como indígenas. Su nombre no fue bautizado por su creador, José Guadalupe Posada (1852-1913), sino por el muralista Diego Rivera (1886-1957), segundo Maria
Patricia Murillo Flores.
78
Pode-se afirmar que atualmente os mexicanos são um povo que mantém uma
relação de celebração da morte, pois acreditam que ocorre uma integração social
entre vivos e mortos nesses dias de festa, sendo que os mortos vêm confraternizar
com os vivos por meio de músicas, comidas e bebidas. A prática dos altares a serem
edificados em casas, ou nas vias públicas, tem como objetivo acolher as almas de
forma adequada aos seus antigos gostos, como a comida e a bebida preferida dos
falecidos. Para outras pessoas há importância em visitar a tumba do ente querido e
nela festejar com os amigos, levando ao cemitério as comidas, bebidas e alguns
objetos de uso pessoal do defunto; para que quando esse venha celebrar com a
família possa também desfrutar daquilo do que mais gostava quando estava vivo.
Não é todo o México que compactua com essas tradições, uma vez que desde a
colonização muito dos costumes europeus já se solidificaram nessa sociedade, mas
ainda é uma característica cultural importante (MATOS MOCTEZUMA, 2010).
Figura 3: Altar de muertos
Fonte: <http://pequiniski.wordpress.com/2013/11/03/dia-de-muertos/>
79
A cultura andina acredita na relação de reciprocidade com a força vital de tudo
o que existe não se limita somente à relação humana, mas também do ser humano
com o cosmo ou divino, resultando na ideia de complementação entre os vivos e os
mortos (CUADROS, GAMBOA, SAAVEDRA, 2003).
A cultura Paracas constituiu os maiores e mais ricos rituais mortuários de todo
o Peru. A cerimônia fúnebre começava com a mumificação, em que o cadáver era
envolto em um sudário e depois era colocado num cesto feito de palha, juntamente
com os pertences necessários para a outra vida. Em seguida era envolvido com
vários outros mantos, a começar do mais refinado indo até o mais grosseiro, para
que, enfim, fosse enterrado (AMADO, 1983).
Para a cultura Moche, a morte era entendida como uma passagem necessária
para a renovação do poder, pois acreditavam que o controle do mundo dos vivos
emanava do mundo dos ancestrais mortos. Com isso, o ato de enterrar os mortos
remetia à renovação, germinação e crescimento. O local era especialmente
escolhido e se preparava um enxoval para acompanhar o morto, além de diversos
rituais e celebrações. Segundo Cuadros, Gamboa e Saavedra: “Es así cómo el
hombre moche entendía a la muerte, no como el término de la vida, sino el comienzo
de la vida eterna.” (2003, p.4).
Figura 4: Desenho de Felipe Guamán Poma de Ayala5
Fonte: < http://labrujuladelazar.blogspot.com.br/2011/10/dia-de-los-muertos-en-peru.html>
5 Cronista da época colonial “El primer Nueva crónica y buen gobierno” libro I (1610– 1615).
80
Além de seguir o mesmo ritual de mumificação, os Incas enterravam o Aya
(defunto) sentado, pois acreditavam que as múmias podiam conversar com outros
ancestrais ou espíritos divinos. Alguns antropólogos apontam que em determinado
período do ano, os familiares desenterravam seus parentes e lhes davam de comer
e beber, vestindo-os com roupas finas e adornos, e passeavam com eles pelas ruas
e praças, além de cantarem e dançarem em sua presença, antes de enterrá-los
novamente (MOSKOWICH, SPIEGEL, 2003).
Figura 5: Passeio dos mortos pelas ruas das cidades Incas
Fonte: <http://www.forosperu.net/showthread.php?p=13271846>
Em uma posição hierárquica diferente se encontrava El Inca (Yllapa), que era
enterrado juntamente com vários potes de ouro e prata, suas mulheres e serviçais,
os quais eram induzidos a ficarem bêbados e em seguida lhes faziam ingerir folhas
de coca moída, em uma quantidade que os afogavam. Em todo o território choravam
sua morte e os preparativos para o enterro duravam aproximadamente trinta dias
(MOSKOWICH, SPIEGEL, 2003).
Na celebração em torno do “Día de muertos”, no Peru, nos cemitérios
concentrados fora da capital, Lima, as pessoas realizam diversos rituais, como por
exemplo: levar flores, comidas e bebidas, que agradavam o defunto e até contratam
músicos para animarem a reunião entre os amigos e familiares ao redor do túmulo
do ente querido. Com o objetivo de lembrar e receber o morto com alegria, uma vez
que acreditam que nesse dia os mortos retornam à terra para rever os familiares e
81
amigos. Devido ao processo de urbanização e modernização em Lima, os que
visitam o cemitério no dia primeiro de novembro se atem a levar somente flores, pois
é proibida a entrada de bebidas, comidas, instrumentos musicais ou qualquer outra
coisa que atrapalhe o ambiente silencioso, que se tornou o cemitério da capital
peruana (CUADROS, GAMBOA, SAAVEDRA, 2003).
A tradição dos europeus, quase que totalmente de raiz cristã, celebra os
mortos no dia dois de novembro, data instituída no século XI, pelos monges
franceses de Cluny, com o objetivo de orar pelos falecidos, visitando os túmulos nos
cemitérios católicos para fazer uma oração e levar flores. No dia anterior, dia 1o de
novembro, os espanhóis e grande parte da Europa cristianizada, celebram o Dia de
todos os Santos, frequentam a missa e lembram-se de todos os santos mártires,
conhecidos ou não.
Em algumas regiões da Espanha, como as ilhas Canárias, o dia dos finados
começa a ser celebrado no dia anterior, com a mãe ou avó contando determinadas
situações engraçadas ou não dos parentes falecidos para toda a família, amigos e
vizinhos reunidos; a reunião caminha ao ponto em que todos compartilham a comida
entre si. Em seguida, a celebração familiar toma as ruas até a praça central, onde
finalizam com música e um “baile dos defuntos”. Outras regiões visitam os cemitérios
durante a noite, levando flores e acendendo velas, como também reúnem a família e
oram pelo morto diante do seu túmulo.
Atualmente, as tradições que envolvem as celebrações ao redor da morte, na
Espanha, tem um caráter intimamente ligado à religião cristã, base das ideologias
mantidas nas mentes dos espanhóis, com um teor maior de lamento e de caráter
mais individualista. De igual maneira o Brasil também mantém esse cenário nas
celebrações de dois de novembro, ao recordar, geralmente com lamentos, os
mortos.
Os relatos acima, narrando outras formas de ritualizar a morte, podem gerar
uma relação de estranhamento interpretativo quanto a práticas culturais pouco
comuns em nosso contexto. Celebrar a morte com festas? Estranhamento esse que
se considera o ponto de partida para alargar a compreensão de outras
possibilidades de agir no mundo, refletindo sobre as razões das pessoas se
posicionarem dessa forma ou de outra, as consequências disso...Ou seja, na
82
reflexão sobre como outras culturas lidam com grandes e importantes questões
humanas, como a morte.
O ensino de uma segunda língua, como aqui argumentado, só será efetivo se
os aspectos didático-metodológicos contemplarem a complexidade do binômio
língua-cultura. Não se trata, assim, de uma aprendizagem meramente instrumental,
mas envolve remeter o aprendente à sua própria cultura, à reflexão sobre as bases
de suas crenças, às concepções de vida e de realidade que ele vem construindo
com e na sua comunidade.
Abaixo adentramos às especificidades de nossa segunda categoria, a
alimentação e sua relação com a semiótica da cultura espanhola.
2.5.2. A alimentação de mexicanos, peruanos e espanhóis
A gastronomia desempenha um papel de caracterização de uma nação,
considerada um aspecto dentre tantos da cultura. As comidas refletem muito de um
povo, conservando alguns aspectos que acontecimentos locais ou mundiais
mostraram-se relativamente pouco capazes de alterar:
Se ha señalado incluso que la cocina es más conservadora que la religión, la lengua o cualquier otro aspecto cultural, ya que hay elementos fundamentales que permanecen resistiendo a las conquistas, a los procesos de migración y colonización o al cambio social y tecnológico, incluso a los efectos de la industrialización y urbanización (OCHOA, 2009, p.139)
Mesmo que seja algo natural do ser humano o ato de se alimentar, os pratos e
bebidas despertam sentidos e provocam sensações variadas, pois algumas vezes
remetem o sujeito a um passado de experiências agradáveis ou não, a um futuro de
sabores que até então estava desconhecido, ou esquecido... Conhecer um povo
também compreende em observar sua gastronomia, refletida, nesse trabalho, nas
civilizações Asteca, Moche, Inca, Romana e Árabe.
Os Astecas são os responsáveis pela origem do Guacamole, da palavra
Ahuacatl (abacate) e mole, um nome genérico para molho; “molho de abacate”,
83
conhecido por acompanhar outros pratos, ou para ser degustado como aperitivo
(CALVO, 2011). A bebida típica do país também tem sua origem pré-hispânica, com
os índios “Tequilis”, que habitavam a região de Tequila, próxima a um vulcão, terra
propícia para a plantação de agave, planta base para a fabricação da tequila, que
significa “montanha de fogo”. Segundo Valenzuela-Zapata (2007), nos dias de hoje a
bebida somente pode levar esse nome se for destilada do agave azul, colhido na
região de Jalisco, no México.
Já no Peru as civilizações Moche e Inca apresentam em suas histórias o peixe
cozido com um tipo de fruta ácida local e consumido com sal e pimenta. Depois da
chegada dos espanhóis, dois ingredientes foram acrescentados, a laranja azeda e a
cebola. O Ceviche, hoje, é o resultado de uma troca da laranja azeda pelo limão
suave, reduzindo assim o tempo do cozimento. Pode ser acompanhado com a
bebida típica peruana, o pisco, à base de uva, como uma aguardente que os
indígenas da região denominada Vale de Piskos (pássaros, em quéchua),
produziam. Existe uma discussão sobre a nacionalidade de a bebida ser também
chilena, contudo de acordo com estudos de Harrell (2009, p.8): “En reacción a las
medidas tomadas por Perú, Chile también há declarado el Pisco como uma
denominación de origen, aunque lo que ellos buscan no es exclusividad sino
incentivo para su indústria de pisco”.
Cada região da Espanha possui pratos singulares e por vezes alguns que são
típicos de todo o território, mas que sofrem variações, como é o caso da Paella, que
surgiu na região de Valência no século XV, pelos camponeses que partiam para o
campo com a paellera, palavra de origem latina (romana), entendida como uma
espécie de bandeja usada para colocar oferendas aos deuses. Adaptada pelos
espanhóis como uma frigideira rasa e grande, com duas alças usada para o
cozimento do arroz, azeite e sal, conforme a caça ou os legumes que dispunham,
eram acrescentados ao prato dos trabalhadores. Outro ingrediente que também faz
parte desse prato é o açafrão, trazido pelos árabes no século X, e o tomate, que foi
adicionado depois do retorno de Colombo das Américas. Atualmente, cada região
adapta a sua paella conforme os ingredientes de que dispõem, como frutos do mar,
frango, pato e coelho; contudo a base de arroz, azeite, sal e açafrão é respeitada
(DUHART, MEDINA, 2009).
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O vinho é a bebida mais popular em toda a Espanha, trazida pelos bárbaros e
árabes no início do século VIII e tendo-o como base criou-se a Sangria na região de
Andaluzia, por famílias humildes que associavam essa bebida ao sangue dos touros,
devido às corrida de touros, e misturado com água e pedaços de frutas, de acordo
com cada região. É uma bebida típica do verão. Atualmente a Espanha tem a maior
área de vinhedos do mundo e é a terceira maior produtora da península Ibérica.
A relação da alimentação com a semiótica e a cultura de um povo são assim
explicadas por Parasecoli (2011, p. 645):
A alimentação é tanto uma fonte de significados como uma forma efetiva de comunicação, baseada em uma limitada embora ampla variedade de substâncias comestíveis, práticas, crenças e normas, que formam uma rede de sistemas simbólicos interconectados. Esses sistemas e seus usos na prática social constituindo uma semiosfera específica, são desafiadas quando seus usuários viajam e são confrontados com modos não familiares de alimentação, em termos de ingredientes, técnicas de cozimento, de temperos, preparos, utensílios, estrutura das refeições, maneiras à mesa, distribuição das refeições durante o dia, e a dinâmica social. Quando diferentes semiosferas culinárias interagem, as experiências relacionadas à alimentação revelam o caráter cultural das competências gastronômicas, forçando os indivíduos a se engajarem à Outridade, por meio da comunicação corporificada.
Conforme afirmação de que a alimentação é uma fonte de comunicação,
denominada pelo autor como “comunicação corporificada”, apresenta-se como uma
forma de diálogo, por vezes, pouco explorado pelos que tratam sobre essa temática
e que nos indica peculiaridades essenciais para a compreensão de um povo. Os
ingredientes, as técnicas de preparo, os utensílios, a maneira como vai à mesa e
quando é degustada, são parte de um todo, para mais bem compreender e respeitar
as respectivas culturas.
2.5.3. Festas e comemorações
As celebrações realizadas pelos mais diversos temas, desde a morte no
México, às corridas de touros na Espanha, até as celebrações para o Sol, no Peru,
revelam muito de cada povo hispano falante. São as expressões de uma cultura
dotada de uma história, que perdura até a atualidade, com a mesma ou, por vezes,
com maior intensidade daquela outrora celebrada.
85
A festa mais típica do México é, sem dúvida, “El dia de muertos”, com raiz pré-
hispânica em honra aos deuses de Mictlán (reino dos mortos) da civilização Asteca,
como já dito. Mas outras explicações também rondam essa festividade mexicana,
como uma celebração realizada após a colheita da abóbora e do milho. Outra
justificativa seria a oferenda realizada aos deuses da morte para proteger as
sementes, que haviam sido plantadas em meio ao período do inverno. Com a
chegada dos espanhóis ocorreu a mescla dessa celebração com alguns rituais
cristãos. Contudo, o mais intrigante, é a forma com que os mexicanos tratam a
morte, muito bem representada nas palavras do poeta mexicano Octávio Paz, que
esclarece a postura de seu povo diante dessa temática:
La palabra muerte no es fácil de pronunciar en las grandes ciudades del mundo; parece que quemara los labios. El mexicano, por el contrario, es familiar con la muerte: hace chistes sobre ella, no le quita el sueño, la celebra, es su juguete favorito y uno de sus amores imperecederos. A lo mejor hay en esta actitud tanto temor como pueda haber en otras, pero al menos demuestra que no se esconde ante la muerte, que la mira cara a cara con impaciencia, con desdén o con ironía. La indiferencia mexicana hacia la muerte es consecuencia de su indiferencia hacia la vida. Las canciones, los proverbios, las fiestas y las creencias populares muestran muy claramente que a los mexicanos la muerte no puede asustarles porque la vida ya les tiene curados de espanto. Es, por lo tanto, no sólo natural, sino deseable incluso, morir; y cuanto antes mejor (PAZ 1998, p.5).
No Peru, a celebração ao deus Sol, conhecida como “Inti Raymi” é um ritual
inca festejado pelos habitantes da região onde hoje é a cidade de Cusco. O evento
acontece mais especificamente nas ruínas de Sacsayhuaman, uma antiga fortaleza
do império indígena. Baseada em ritos que se iniciam no templo do Sol, no centro da
cidade, a celebração termina nas ruínas da fortaleza da cidade de Cusco com a
cerimônia do fogo novo e o sacrifício de um animal, podendo ser um “cuy” ou uma
“lhama”. Esta celebração faz parte das três mil festas que acontecem anualmente no
território peruano (MOSKOWICH, SPIEGEL, 2003).
Na celebração ao Sol ocorrem representações e encenações que se baseiam
em cenas históricas documentadas e com trajes típicos do período incaico. A festa
acontece hoje no dia vinte e quatro de junho e reúne uma multidão de mais de cem
mil pessoas. Não contam mais com grandes quantidades de carneiros e lhamas
sacrificadas nos dias que decorriam ao evento, como também não há o ritual de
86
desenterrar os antigos imperadores e saírem com ele em procissão diante do povo,
para que fossem adorados e rendessem sacrifícios a eles. O cronista espanhol
Cristóbal de Molina testemunhou as “Inti Raymi” e traz um dado interessante sobre
essa celebração no século XVI, "duraron ocho días arreo (sucesivamente, sin
interrupción), dando las gracias al Sol por la cosecha pasada y suplicándole que en
las sementeras por venir les diese buenos frutos" (PALOMINO, 2005, p.1).
A região de Navarra, ao norte da Espanha, conta com uma cidade
denominada Pamplona, que é responsável por uma das maiores festas do país,
dedicada a San Fermín. Acontece entre os dias seis a quatorze de julho. Celebrada
desde a Idade Média, no século XIV, com uma mescla de festa religiosa, feira
comercial e corrida dos touros, é mundialmente conhecida atualmente pelos
sanfermines, pessoas que correm diante dos touros, conduzindo-os até a praça dos
Touros. Atividade essa que muitas vezes provocou a morte de vários turistas
despreparados, que se arriscam nos encierros.
Conforme aponta Husko (2004) o touro, para os espanhóis, tornou-se um
símbolo da nação e também permeia o imaginário dos indivíduos em todo o globo,
nas festas como a que se sucedem em Pamplona. Há a presença de pessoas que
admiram os animais e todo o entorno festivo, como também os ativistas defensores
dos touros, que aproveitam para fazer manifestações contrárias a qualquer ritual que
envolva animais. De certa maneira, o país é assolado pela crítica mundial em
relação às corrida de touros, uma tradição do povo espanhol.
Conhecido por muitos, a rivalidade entre os madrileños e os catalanes vai
além do futebol e da língua, pois a corrida de touros é um ponto forte dessa
rivalidade, na qual Madri as mantém e Barcelona transformou a Plaza de los toros
em um shopping Center.
O foco desse trabalho não é traçar uma definição cultural dos povos
apresentados, mas argumenta-se que, por meio do conhecimento do passado
histórico, e da reflexão sobre a semiótica da cultura, podemos dar voz às suas
próprias definições de mundo e colocá-las à disposição dos sujeitos, que estão no
processo de ensino e aprendizagem do espanhol como segunda língua, numa
perspectiva de desenvolver um olhar multicultural.
Parece ser próprio do ser humano posicionar-se favorável ou
87
desfavoravelmente a determinados traços culturais, do que soa diferente, como é a
relação de uma parte da sociedade brasileira em relação aos povos hispano
falantes, surgindo assim pré-conceitos na comparação com a sua própria cultura.
Entretanto, o ponto de se abordar, educacionalmente, alguns dos costumes
descritos anteriormente, é para que se conduza a uma sensibilidade da riqueza
deste ou daquele fenômeno cultural, que ainda se reflete no modo de vida atual de
determinadas sociedades. Com o intuito do fazer toda representação cultural
humana ser digna de respeito, como Geertz defende:
Resumindo, temos que descer aos detalhes, além das etiquetas enganadoras, além dos tipos metafísicos além das similaridades vazias, para apreender corretamente o caráter essencial não apenas das várias culturas, mas também dos vários tipos de indivíduos dentro de cada cultura, se é que desejamos encontrar a humanidade face a face (GEERTZ, 1989, p.38).
Quando se encontra essa humanidade face a face, é que se observa o que
fazer seguido a isso, nesse aspecto surge a educação sociocomunitária, como uma
das possibilidades de educação, tema que será discutido no próximo capítulo.
88
3. ANÁLISE DOS DADOS
3.1. O aprendizado do espanhol sob a ótica da Educação Sociocomunitária: um exercício para o/do multiculturalismo
No decorrer da história humana a educação assumiu vários papéis, e, de
forma geral, quando se pensa em educação, logo se remete à instituição de ensino,
à escola, mesmo sabendo que ela não é a única responsável por educar; processo
que envolve outros contextos, atores e relações sociais, com a família, a
comunidade, a igreja e os locais de trabalho.
Discute-se nesse trabalho a exposição do ser humano a diversas situações
educativas, considerando-se importantemente as pontes que devem ser feitas entre
a educação formal- escolar- e as outras instituições sociais e comunitárias, com as
quais o sujeito interage, e que são integrantes de todo o seu processo educacional
mais amplo. No entender de Gohn, as diversas esferas educacionais assim se
relacionam:
A educação transmitida pelos pais na família, no convívio com amigos, clubes, teatros, leitura de jornais, livros, revistas, etc. são considerados temas da educação informal. O que diferencia a educação não-formal da informal é que na primeira existe a intencionalidade de dados sujeitos em criar ou buscar determinadas qualidades e/ou objetivos. A educação informal decorre de processos espontâneos ou naturais, ainda que seja carregada de valores e representações, como é o caso da educação familiar (GOHN, 2008, p. 99-100).
A educação formal seria aquela que ocorre em uma instituição especializada
de ensino, de certa forma segue uma organização, como as séries ou os ciclos de
forma sequencial, deve ser regulamentada pelo Estado e sempre visa uma
certificação (GROPPO, 2013). Ribeiro Jr. pensando num conceito de educação para
a democracia, ou seja, naquela que se direciona à defesa da equanimidade e justiça
social, aponta que:
89
Se considerarmos a etimologia da palavra, o conceito de educação para a democracia tem um conteúdo que se aproxima muito mais de educere do que educare, porque está fundamentalmente preocupada em ajudar a pessoa a tornar-se livre e, assim, criar a pessoa integral, aquela que não é unilateralmente espiritualista, nem materialista. A pessoa integral é uma perfeita harmonia do ser e agir de todos os componentes, tanto da natureza como da estrutura social (2006, p.32).
O tornar-se livre por meio do conhecimento apropriado nas práticas
educativas, possibilita ao sujeito ir se constituindo como uma pessoa integral.
Estrutura-se o ser e o agir, no caso do presente estudo, em outro idioma, o
espanhol, de forma a democratizar o próprio conhecimento, quando o aprendente
consegue uma educação que visa o respeito às e a apreciação de outras culturas,
que diferem da sua.
Tomando a ação de educar e educar-se como algo contínuo, que está
intimamente ligada às experiências vivenciadas e às interações estabelecidas, às
quais o sujeito foi exposto, entende-se que educar “Não é moldar o educando para
certo conformismo, mas amadurecê-lo, armá-lo (ou desarmá-lo) para a descoberta
de si mesmo e em sua interação com os outros, numa convergência de
responsabilidades” (RIBEIRO JR., 2006, p.34). Tal qual se apresenta quando se
está aberto para aprender um novo idioma, em um movimento constante de
desarmar o aprendente diante dos entraves linguísticos e culturais, aos quais foi/
está exposto. Assim, contribuir para uma descoberta dialética de si mesmo e do
outro, por meio da interação, essa que na aprendizagem de uma segunda língua é
potencializada.
Para desenvolver uma práxis educacional baseada na interação, no âmbito
das interfaces que podem ser estabelecidas entre a educação formal e os saberes
das comunidades do aprendente, a Educação Sociocomunitária foi o viés escolhido,
pois essa considera a interação sujeito/sujeitos/mundo como um dos seus principais
pilares. Com uma visão ontológica de que a existência humana está intrinsecamente
relacionada à premissa de que o sujeito existe pelos e para os outros, considera-se
que: “Esse estar com o outro significa, ao mesmo tempo, que o outro está comigo. E
não há outra maneira de estar na vida se não é com os demais. O qual equivale a
dizer que este estar com os próximos é um modo originário da existência“ (RIBEIRO
JR., 2006, p.52).
90
Observa-se que o estar com o outro se materializa na ação dialógica, que
sempre requer uma resposta, e, segundo Bakhtin (1997), essa pode cunhar a
concordância, a não concordância, a adesão ou a objeção às ideias enunciadas.
Para Ribeiro Jr (2006) a educação numa perspectiva sociocomunitária
também é multicultural, pois pode favorecer o empoderamento dos sujeitos e das
suas comunidades de relação pelo alargamento das e da reflexão ética e crítica
sobre as concepções que construímos da realidade. É exatamente essa a proposta
de se ensinar o espanhol como segunda língua por meio das diversas culturas nas
quais essa língua está inserida, e que será apresentada ao, e interpretada pelo
aprendente nesse processo de aprendizagem.
A proposta de conduzir o estudante a aprender outro idioma e sua respectiva
cultura, tem por objetivo a reflexão sobre a sua própria língua e cultura, enfim, sobre
sua realidade.
Buscando uma definição para a Educação Sociocomunitária, Groppo (2012)
pensando pela Sociologia da Educação, entende-a como sendo aquela que pondera
a educação para além do conhecimento escolar e se dedica também ao aspecto
socializador da educação. Ele afirma que: “O estudo da Educação Sociocomunitária
é um ângulo de análise e de interpretação das práticas educacionais, especialmente
das não escolares, que está atento às articulações entre educação e a comunidade”.
Segundo Paulo de Tarso Gomes (2006), ao buscar esclarecer o surgimento
da Educação Sociocomunitária, relaciona-a à prática educativa salesiana, que se
baseia nas diretrizes deixadas por Dom Bosco, apresenta uma preocupação diante
da formação da pessoa humana. Por isso, a questão comunitária se aflora numa
temática de centrar as ações mais no “nós” que no “eu”, ou seja, “de que nós
resolvemos o problema juntos ou não adiantou deliberar o problema, pois não
adianta chegar sozinho na resolução, pois só uma parte foi realmente resolvida.”
Pode-se também entender um projeto educativo de caráter sociocomunitário
como aquele que trata de investigar as experiências educativas relacionadas ao
momento histórico vivido, conduzindo o sujeito para uma autonomia social,
evidenciada por uma práxis comunitária vinculada à cidadania, resultando em uma
práxis educativa. Ainda conforme aponta Gomes (2008, p.7): “A Educação Sócio-
comunitária é, assim, numa primeira visão, o estudo de uma tática pela qual a
91
comunidade intencionalmente busca mudar algo na sociedade por meio de
processos educativos”.
Baseando-se nessa ideia é que a educação sociocomunitária vem ao
encontro da preocupação com a aprendizagem da comunidade, e de entendê-la
como um sistema aprendente. Para Bissoto (2012, p 93):
A educação Sociocomunitária, antes do que mais uma subdivisão ou uma especialização da educação, deve ser entendida como um processo: aquele de escuta – e assim de trazer à tona, de favorecer a emersão – das diferentes vozes que compõem as múltiplas educação, que vão nos configurando – construindo a nossa subjetividade- enquanto vamos sendo inseridos nas malhas de relações sociais, que constituem o viver. A escuta atenta destas vozes, ou colocá-las em diálogo, levantando a discussão de suas contradições e ideologias, é fundamental para que tenhamos uma tessitura da realidade mais crítica e emancipatória. É por meio desta discussão que a educação para a autonomia é possível.
Contribuindo para uma formação do ser como um todo, e não como um sujeito
fragmentado, Bissoto (2012) enumera cinco princípios que podem direcionar a
efetivação de uma educação sociocomunitária: o empoderamento, a participação, a
inclusão, a autodeterminação e o espírito de democracia. Há urgência dessa outra
mirada no campo educacional, diante de uma sociedade com grande defasagem no
lidar com a diversidade e as contradições do humano. Por meio de uma educação
pensada na e para a comunidade é que a educação sociocomunitária é entendida
também como práxis educativa.
Considerada por Aristóteles como uma atividade ética e política, a práxis foi
diferenciada da poiesis (essa tida como atividade produtiva); já como concebida por
Marx, a práxis assume o aspecto de ação transformadora, seguindo a lógica de que
o sujeito pode reflexionar sobre suas ações, as quais reforçam a ideia de que o ser
humano está em constante transformação. Konder (1992, p.106) compactua dessa
ideia e aponta que: “o ser humano existe elaborando o novo, através da sua
atividade vital, e com isso vai assumindo sempre, ele mesmo, novas características”.
Para Bourdieu (1999) a práxis quando vista como algo isolado é mais do que
ação social, pode ser considerada como uma atividade por meio do qual os seres
humanos produzem e reproduzem a sociedade, ou seja, sua cultura, sua estrutura
social e econômica, regida pelos interesses individuais e coletivos. Já para Paulo
Freire (1987, p.21) “A práxis, porém, é reflexão e ação dos homens sobre o mundo
92
para transformá-lo, sem ela, é impossível a superação da contradição opressor-
oprimidos”. Assim, por meio da práxis, os oprimidos têm a possibilidade de
desenvolver uma consciência critica sobre sua própria realidade e, desta forma,
lançar-se na luta pela sua liberdade/emancipação.
Entende-se que uma educação pensada socialmente e atuante, por meio da
práxis educativa, pode favorecer a transformação social. A questão da compreensão
da diversidade e a apreciação do caráter multicultural dos grupos humanos, pelo
aprendizado de uma segunda língua, pode auxiliar a melhor compreensão do que
ocorre no entorno do sujeito; impulsionando a educação como práxis.
O caminho para uma educação que visa a transformação social, pelo
alargamento das concepções de mundo e a reflexão sobre essas, é árduo, mas se
faz indispensável para a atual sociedade.
Indispensável é que o aprendente encontre, intrinsecamente ao processo de
aprendizagem, os rumos para pensar de forma autônoma, por meio de uma
educação mais pensada socialmente do que conteudista; espera-se que o ensino do
espanhol, como aqui discutido, seja de colaboração para tanto. O professor, que
desempenha um papel fundamental nessa relação, é considerado mais como um
orientador, que caminha junto, e não à frente, numa tentativa de construção mútua
de conhecimentos e formas de conceber o mundo, tanto do discente como do
docente.
Outro fator decisivo é a responsabilidade pela própria aprendizagem, e
quando se trata de uma segunda língua, o empenho deve ser ainda maior, pois, ler,
falar e entender são tarefas que exigem certo grau de entrega e disposição do
aprendiz diante da nova cultura. Menezes (2006, p.92) trata dessa questão ao
discorrer sobre a ASL (Aquisição de uma Segunda Língua).
Ouso dizer que a autonomia é essencialmente parte da ASL - porque ela é responsável por um aspecto essencial do sistema complexo - a auto-organização. A autonomia do aprendiz pode auto-organizar a aquisição, pois os processos cognitivos e algumas escolhas de aprendizagem dependem dos aprendizes, mesmo quando eles estão sob pressão de ambientes educacionais muito controlados.
Impossibilita assim o pensar em autonomia de maneira simplista, pois esse
processo conta também com os períodos de variabilidade, instabilidade e
93
adaptabilidade, que são aspectos sociais que integram o ser e interferem em sua
aprendizagem e que devem ser considerados pelos envolvidos na prática de ensino,
uma vez que, ao pensar em educação sociocomunitária, faz-se necessário tentar
compreender o aprendiz como um todo. Conforme Paiva e Braga (2008, p. 463): "a
autonomia, na perspectiva da complexidade, abrange propriedades e condições de
emergências complexas e que está intimamente ligada ao seu meio ambiente".
Num movimento de criação e recriação constante de si, do outro e do mundo,
pois o ser humano tem como característica a capacidade de criar, ora para fugir da
realidade repleta de complexidades, ou por obrigação laboral ou por satisfação
própria. Vázquez (1977, p. 248) discorre sobre o ser humano e seu estado criador
de forma a afirmar que:
Ele só cria por necessidade, cria para adaptar-se a novas situações ou para satisfazer novas necessidades. Repete, portanto, enquanto não se vê obrigado a criar. Contudo, criar é para ele a primeira e mais vital necessidade humana, porque só criando, transformando o mundo o homem faz o mundo e se faz a si mesmo.
Partindo desse pressuposto, o ser humano tem a possibilidade de recriar-se
quando, por meio de língua e da cultura, conhece e se apropria de uma outra
maneira de ser. Em que o aprendente é convidado a mover-se dentro de um
ambiente, no qual, muitas vezes, não vê sentido, pois difere dos seus próprios
aspectos culturais. Contudo, o romper a barreira do preconceito e dar-se a
oportunidade de conhecer formas diferentes de pensar e agir diante do novo, pode
resultar num alargamento de horizontes, que pode levar à transformação de si e de
seu entorno, pois nenhum conhecimento é neutro, nem estático, mas sempre algo
que é modificado e modifica.
94
3.2. Da metodologia: a pesquisa qualitativa e os métodos empregados, o questionário, a observação participante e o grupo focal
Quando algo incomoda, busca-se encontrar uma solução para abordar esse
incomodo, pensa-se nas diversas hipóteses, constroem-se conjecturas, recriam-se
situações, enfim, procura-se chegar à melhor compreensão da inquietação. Assim,
ocorre com o professor, que persegue por meio da pesquisa, resolver o que o
incomoda no processo de ensino e aprendizagem, e no caso dessa dissertação,
propõe uma reflexão sobre o próprio método de ensino do Espanhol como L2. Os
instrumentos usados para tanto foram questionários, observação participante e
grupo focal.
A instituição escolhida para a realização da investigação foi a Escola Técnica
Polivalente (ETEC) situada na cidade de Americana, estado de São Paulo, integrada
ao Centro Paula Souza de ensino, órgão esse vinculado à Secretaria de
Desenvolvimento Econômico. É nessa instituição que a docente/pesquisadora
ministra aulas da língua espanhola desde 2009, como professora efetiva da
disciplina de espanhol..
A escola está em funcionamento há 42 anos, atendendo à sociedade com o
Ensino Médio regular, Ensino Médio Integrado ao Técnico e com doze Cursos
Técnicos, com duração de um ano e meio, cada um. Dentre eles há o de
Secretariado, que dispõe o ensino de Espanhol em todos os semestres, e aquele de
Eventos, com aulas de língua espanhola em dois semestres. O ensino de línguas,
embora presente na instituição, por razões curriculares, não é incentivado em outras
atividades ou eventos escolares; e também não conta com uma organização entre
os professores que lecionam idiomas (além do Espanhol, também há o ensino de
Inglês e o próprio Português), enfraquecendo assim a visão que o próprio corpo
docente- e a comunidade escolar como um todo- tem sobre as especificidades
desse ensino.
No caso do espanhol e seguindo a legislação vigente no estado de São Paulo
aponta que o ensino da língua deve ser oferecido a todos os alunos do ensino
médio, o Centro Paula Souza tomou a decisão de encaminhar os alunos que
95
quiserem estudar espanhol- e que não cursam Secretariado ou Eventos, nos quais o
Espanhol é componente obrigatório- para o CEL (Centro de Estudos de Línguas) da
cidade de Americana, o qual funciona na Escola Estadual Heitor Penteado.
A pesquisa aqui discutida, de cunho qualitativo, se desenvolveu na ETEC por
um período de dois anos, do início do primeiro semestre de 2013 ao final do
segundo semestre de 2014, englobando o uso de instrumentos pautados na
observação (observação participante) e daqueles pautados na conversação, como
questionários com perguntas abertas e fechadas e um grupo focal (BELTRAN,
2003).
Em relação à pesquisa qualitativa, Flick (2004, p.28) afirma que a mesma “é
orientada para a análise de casos concretos em sua particularidade temporal e local,
partindo das expressões e atividades das pessoas em seus contextos locais”.
Caracteriza-se por ter como foco de análise os contextos cotidianos, nos quais os
fenômenos humanos ocorrem, preocupando-se com os significados, perspectivas e
compreensões atribuídas pelos sujeitos a esses contextos, enfatizando-se o
processo de construção do conhecimento, teórico, dentre outros, que podem daí
advir; não somente para ou por parte do pesquisador, mas de todos os envolvidos. A
“abertura” do pesquisador para o inesperado, para o inusitado, o estabelecimento de
relações de confiança entre os participantes, o interesse em “descobrir” os sentidos
que os sujeitos atribuem à vida, aos comportamentos, e o profundo respeito ético
que isso requer, devem ser intrínsecos à essa linha investigativa. Os procedimentos
para a coleta dos dados não podem ser, dessa forma, interpretados de forma
independente, mas incorporados ao processo de pesquisa, no caso, em torno do
aprendizado do espanhol, ensinado na perspectiva de se tornar uma segunda
língua. Para o que se faz necessário o conhecimento e a descrição das
particularidades do objeto e do contexto em que esse se situa, em termos da sua
problematização.
Os dados trazidos por meio dos questionários, embora sua relativa
superficialidade, auxiliaram na observação participante e na estruturação do roteiro
para o grupo focal, pois como aponta Laville e Dionne (2007) mesmo que o
questionário seja um dos instrumentos de sondagem, o seu uso não está limitado a
96
essa única estratégia de pesquisa, nem restrito à pesquisa quantitativa, mas podem
compor outras modalidades investigativas.
O método de observação participante foi um dos escolhidos para a coleta e
análise dos dados, pois adequado à investigação qualitativa por estar constituído
pelo olhar ativo, direto e pessoal do pesquisador, “que assim integra-se e participa
na vida de um grupo para compreender-lhe o sentido, a partir de dentro.” (LAVILLE,
DIONE, 2007, p. 178). A observação participante resulta numa estratégia que
pressupõe um grande envolvimento do pesquisador na situação estudada. Flick
(2004) aponta que esse método requer que o pesquisador se integre à cultura ou ao
contexto estudado, implicando numa experiência imersiva, que exige,
concomitantemente, a contínua reflexão sobre o observado/vivido. No caso dessa
pesquisa, a imersão se deu concomitantemente às atividades docentes exercidas
pela pesquisadora, na modalidade “pesquisador-como-observador”, ou seja os
sujeitos envolvidos com a pesquisa, nesse caso, os alunos, sabiam da presença da
pesquisadora, na figura da professora, e que dados estavam sendo coletados para
estudo, durante a convivência nas aulas. A concordância de se colocarem como
coparticipantes nessa investigação foi solicitada de antemão aos alunos, pela
pesquisadora, havendo a concordância unânime, em todas as turmas investigadas.
Como apontam Laville e Dionne (2007) o professor, durante a investigação das
práticas docentes, desempenha o papel de observador, entrevistador e mediador,
pois está envolvido pessoal e profissionalmente no ambiente em que atua e
pesquisa.
Como os eixos principais dessa investigação são o ensino do espanhol como
uma segunda língua sob a ótica do multiculturalismo e da educação
sociocomunitária as análises trazidas para essa dissertação são referentes,
principalmente, às aulas que mais se referiram a esses eixos, sem ignorar-se,
obviamente, a observação feita nas demais aulas e momentos de atividades
extraclasse. A aulas selecionadas foram, então, referentes aos aspectos cultuais dos
países hispanos, nas três categorias destacadas anteriormente: a morte, as festas e
a gastronomia.
Outra estratégia associada à pesquisa qualitativa aplicada nessa dissertação
foi o grupo focal, realizado com alunos que já haviam concluído o curso, utilizado
97
para mais bem entender as diferentes percepções e atitudes acerca do ensino de
espanhol como segunda língua e as perspectivas multiculturais e sociocomunitária
que permeiam esse processo. A opção pelos alunos já concluintes guiou-se pelo
pensamento de que tais alunos, agora distanciados das aulas do curso técnico e
fazendo uso do idioma nos campos profissionais e pessoais, poderiam informar a
pesquisadora sobre especificidades do processo pós-escolar. O grupo focal consiste
na interação entre os participantes e a pesquisadora, focado em tópicos específicos,
numa discussão semiestruturada, ou seja, com questões-guia, para iniciar a
abordagem dos tópicos, mas aberta quanto à possibilidade de expressão dos
participantes.
O grupo focal apresenta características definidas, como a composição de
pequenos grupos, com participantes selecionados por apresentarem certas
características em comum, associadas à temática que está sendo pesquisada. A
coleta de dados por meio do grupo focal tem por objetivo basear-se na disposição
humana de formar opiniões e atitudes na interação com outros indivíduos. O papel
do moderador/pesquisador no grupo focal é definido por Flick (2004) como aquele
que estimula a participação de todos os membros, visando uma maior abrangência
possível da temática em questão, tomando o cuidado para sempre equilibrar as
participações do grupo com as próprias. Também, compete ao pesquisador criar um
entorno propício para que diferentes percepções e pontos de vista emanem,
cuidando para amenizar as pressões, mas firmando-se a ideia de um encontro que
resulte na troca de experiências e perspectivas diversas.
Em relação à pesquisa realizada, o grupo focal teve em vista ampliar a
compreensão da pesquisadora sobre as concepções dos participantes: a. quanto ao
aprendizado do espanhol como segunda língua, b. dos aspectos culturais que
envolvem o processo de ensino e aprendizagem e o valor atribuído a esses, e c.
quanto à alteração das “visões de mundo” em relação aos povos que têm o idioma
espanhol como oficial e sobre o próprio entorno. Em suma: qual os impactos do
ensino do idioma espanhol, trabalhado numa perspectiva multicultural, nas
perspectivas de compreensão de mundo dos sujeitos?
98
3.2.1. Caracterização dos instrumentos de coletas de dados dessa investigação: o questionário
Os questionários6 foram aplicados aos estudantes do curso técnico de
Secretariado e Eventos, ambos pertencentes à ETEC Polivalente de Americana.
Foram estruturados pela pesquisadora e dividiram-se em “questionários
exploratórios” e “questionário conceitual”. Os “exploratórios” foram aplicados no
primeiro semestre do curso técnico de Secretariado, no primeiro dia de aula do mês
de julho de 2013 e no primeiro dia de aula no mês de julho de 2014, ao segundo
semestre do curso técnico em Eventos. Esses questionários foram considerados,
nessa pesquisa, como “exploratórios”, pois dirigiram-se, principalmente, a sondar as
concepções e conhecimentos prévios dos estudantes que iniciavam o estudo do
espanhol, nesses cursos. Partiu-se do pressuposto de que nenhum dos alunos era
“neutro” de conhecimentos culturais ou linguísticos da “hispanidade” e do idioma
espanhol, devido aos meios de comunicação, à proximidade fronteiriça do Brasil
com países que empregam esse idioma, o que facilita as viagens e o intercâmbio
turístico. Visaram, basicamente, verificar o que os alunos já sabiam, como se havia
dado esse conhecimento e como esse repercutia nas concepções formadas sobre o
idioma e os indicativos culturais de hispanidade.
Composto por seis questões, a primeira, a única fechada, tratava das diversas
maneiras pelas quais é possível ter contato com a língua espanhola, enumerando as
possibilidades de: viagens, profissional, familiar, leitura, cinema/televisão/música,
escola de idiomas ou ensino médio; também havendo a opção “outro”, para a
especificação de outras possibilidades, não elencadas.
A segunda questão, aberta, tratava da importância de estudar uma segunda
língua, considerando essa como sendo o espanhol, e observou-se, quando da
análise dos dados, que a presença da palavra “importância” foi indutiva das
respostas. Dessa forma, as respostas a essa questão não foram tomadas em
consideração na análise dos dados.
6 Os questionário constam nos apêndices de I a III.
99
Com intenção de saber mais sobre o que os alunos conheciam do idioma
espanhol, fizeram-se a terceira e quarta perguntas, sobre o país que escolheriam
para estudar espanhol e as justificativas. A quinta questão indagou sobre qual
conhecimento dispunham sobre a cultura dos países que têm o espanhol como
idioma oficial
Para finalizar o questionário os estudantes dispunham de algumas linhas para
escrever suas opiniões sobre a nação, cultura ou tradições dos povos: espanhóis,
peruanos, mexicanos e brasileiros. A proposta de pensar sobre os outros países, e
finalizar com o próprio, tinha o objetivo de estabelecer quais as conexões que os
estudantes faziam entre as culturas estrangeiras e a cultura de origem. A escolha
dessas culturas para a presente pesquisa é porque são três vertentes icônicas do
espanhol, pela história, aspectos geográficos e culturais.
Quadro 2: Dados demográficos dos alunos que responderam o questionário
exploratório
CURSO TÉCNICO EM SECRETARIADO 1º SEMESTRE (JUL/2013)
Quantidade de
pessoas
10 Sexo feminino
Faixa etária: Escolaridade: Estudaram outro idioma?
Qual?
16 anos – 3 Cursando o ensino médio Inglês - 1
19 anos – 1 Ensino médio concluído Inglês
22 anos – 2 Ensino médio concluído Inglês
26 anos – 1 Superior incompleto Espanhol
27 anos – 1 Ensino médio concluído Não
29 anos – 1 Superior incompleto Não
33 anos – 1 Superior completo Inglês
CURSO TÉCNICO EM EVENTOS 2º SEMESTRE (JUL/2014)
Quantidade de
pessoas
15 4 – masculino
11 – feminino
Faixa etária: Escolaridade: Estudaram idioma? Qual?
16 anos – 5 Cursando o ensino médio Inglês - 3
100
17 anos – 1 Cursando o ensino médio Espanhol
21 anos – 1 Ensino médio concluído Inglês
22 anos – 2 Superior completo Não
24 anos – 2 Superior incompleto Espanhol
26 anos – 2 Ensino médio concluído Não
29 anos – 1 Superior completo Não
36 anos – 1 Ensino médio concluído Inglês
Fonte: Elaborado pela autora
Considerando-se todas as respostas, de ambos os cursos, à primeira questão,
referente às principais formas de contato com o idioma espanhol as respostas foram,
por ordem decrescente: cinema, música e televisão (11); escola de idioma ou ensino
médio (5); no âmbito familiar (3); leitura (3); e viagens (1); sendo que duas pessoas
afirmaram nunca terem tido contato anterior com a língua espanhola.
No que tange à pergunta dois, também igual nos dois questionários, sobre
qual país escolheriam para estudar o espanhol e o porquê, a preferência pela
Espanha foi dominante (16), a justificativa deu-se por razões culturais, culinárias,
ascendência e o mito de que “lá possui o verdadeiro espanhol”. Uma espécie de
língua pura, como se quando imposta na América Latina, pelos espanhóis aos
indígenas, o idioma passasse a ser adulterado e deixasse de ser o idioma “ideal”.
Contudo a escolha pela Espanha é de fácil compreensão, uma vez que os
materiais didáticos, em sua maioria, são espanhóis, e neste caso permeado da
cultura do país. Outros estudantes (6) ficaram divididos entre a Argentina, alegando
a curta distância em relação ao Brasil, além de apontarem como um bom lugar para
se estudar o espanhol e aspectos da cultura, como o tango. Três dos sujeitos
escolheram o México, por suas belezas naturais e culturais.
Sobre a terceira questão, que buscou levantar as percepções dos aspectos
culturais dos países hispano falantes, um aluno indicou o conhecimento histórico
que possuía sobre a colonização espanhola e o tratado de Tordesilhas, que
demarcou o território espanhol e português. Duas estudantes apontaram a culinária
e outras duas estudantes destacaram as músicas, danças e filmes. A maioria dos
101
estudantes (12) alegou total desconhecimento, e outros oito alunos apontaram que
conhecem e assistiram às telenovelas mexicanas, como “Rebeldes”.
A quarta questão do questionário destinou-se a conhecer a visão que os
estudantes de ambos os cursos tinham diante dos povos constituintes do Peru,
México e Espanha. Como um dos objetivos era a reflexão sobre a própria cultura,
propôs-se também que os aprendentes discorressem sobre a nacionalidade
brasileira.
Iniciou-se o questionário com a pergunta sobre as percepções sobre o povo
espanhol, e o conhecimento sobre a cultura espanhola e suas tradições. Pode-se
afirmar que há tanto uma idealização quanto um desconhecimento dessa nação, por
parte dos estudantes. Cinco estudantes definiram o espanhol como um povo
carismático, extrovertido e com boa dança, música e gastronomia. Os que possuíam
ascendência espanhola (3 sujeitos), apontaram que os espanhóis são pessoas
estressadas e muito bravas, mas que mesmo assim, se interessavam por conhecer
essa cultura. Dois sujeitos mencionaram o futebol, devido à fama das equipes do
Barcelona e do Real Madrid. Já alguns alunos (3) apontaram a riqueza histórica, as
belezas naturais, a corrida de touros, o cinema e a música, e em relação aos
espanhóis o adjetivo empregado por dois alunos foi “sofisticados”. E dez pessoas
alegaram desconhecimento total sobre os temas.
Os peruanos foram diretamente relacionados, por cinco estudantes, ao povo
Inca e seu passado histórico, que para muitos ainda ecoa na cultura do país, para
dois sujeitos o destaque estava na gastronomia, com pratos como o ceviche, para
outros quatro sujeitos, as ruínas de Machu Picchu, dois estudantes apontaram as
cordilheiras, e doze dos entrevistados demonstraram desconhecimento total sobre
esse povo.
A pimenta representou os mexicanos para sete estudantes, três sujeitos
apontaram os mariachis e dois a tequila, e uma aluna salientou o taco e os
sombreros. Alguns alunos (3) destacaram os mexicanos como um povo alegre e
com grande gosto pela música. Três estudantes indicaram o cinema mexicano como
algo diferente e com bonitas histórias. Porém outros seis alunos apontaram
desconhecimento dessa nação.
102
A identidade brasileira se mostrou associada aos adjetivos “alegres,
descontraídos e carismáticos” para um grupo de estudantes (10), outros quatro
descreveram a boa receptividade do brasileiro diante dos estrangeiros. A riqueza de
sotaques e dialetos que o país possui foi apontada por dois estudantes. Outros dois
acrescentaram que somos um povo que gosta de ajudar e diante de um problema
conseguimos com facilidade resolvê-lo, um aluno apontou a cultura diversificada,
podendo ser exemplificada com facilidade nas comidas de cada região. Dois dos
alunos mais jovens destacaram que o Brasil reflete uma cultura de funk
generalizada. Outros dois indicaram que a língua portuguesa é muito difícil.
Dois dos indagados apresentaram as seguintes críticas: “Deixam-se levar por
notícias que desviam do problema central e são muito acomodados e conformados
com a situação atual do país”; “o Brasil está todo perdido, só aprecio a comida e
nada mais”.
Refletidas nessas respostas estão concepções de cultura, formuladas pelos
alunos principalmente a partir do conhecimento comum, disperso na sua
coletividade, nas mídias e relações sociais. Sobre essa base se estrutura a
qualificação feita pelos alunos daquilo que percebem como assemelhando-se aos
seus próprios valores ou, àquilo que os confronta, o “estrangeiro”. Geertz (1989,
p.38) sintetiza a significância de nos remetermos a tais concepções:
Assim como a cultura nos modelou como espécie única — e sem dúvida ainda nos está modelando — assim também ela nos modela como indivíduos separados. É isso o que temos realmente em comum — nem um ser subcultural imutável, nem um consenso de cruzamento cultural estabelecido.
O que também vem ao encontro da busca que aqui se pretende: que o
aprendizado de uma L2 signifique conhecer, comparar, refletir e se identificar nessa
língua, e o mesmo quanto à realidade à qual o aluno pertence e no que ele pode
fazer para ressignificá-la, para modificá-la. É o que se espera que ocorra no
processo de ensino e aprendizagem do espanhol como L2, seguindo uma mirada
multicultural dos conteúdos tratados e desenvolvidos em sala e também fora dela,
como num convite para a reflexão do que se está conhecendo por meio de um novo
idioma.
103
O ensino baseado no multiculturalismo, como face da Educação
Sociocomunitária, pode provocar nos alunos a emersão de outras compreensões de
mundo. Pois, pode levar ao confronto com o já internalizado, resultando em
transformações na forma de pensar a realidade. Todavia, para outros, a diversidade
das culturas pode ser um obstáculo, inclusive para se aprender um novo idioma,
pois pré-conceitos tem vozes fortes, dificultando a busca por entender o outro e a si
mesmo.
Na tentativa de mais bem compreender como os alunos concebiam alguns
aspectos culturais considerados centrais nessa investigação, por representarem
possibilidades consistentes de retratar aspectos importantes à vida humana,
propusemos um enfoque mais detalhado das três categorias anteriormente
mencionadas: a morte, a alimentação e as festas. Um “questionário conceitual”, que
versou sobre a as concepções de morte, foi aplicado aos alunos do 2o semestre do
curso de Secretariado, no mês de novembro de 2013. Entendeu-se que esse tema
seria mais adequadamente abordado pela expressão escrita e individual dos alunos,
favorecida pelo questionário. As outras duas categorias, a alimentação e as festas,
foram exploradas nas observações das aulas e no grupo focal.
Em relação ao questionário7 sobre a morte, as questões eram abertas e foram
estruturadas pela pesquisadora e o mesmo foi aplicado aos alunos do segundo
semestre de Secretariado, no segundo semestre de 2013, na semana que antecede
a comemoração de “Día de muertos” do México. Como já tratado anteriormente, os
mexicanos tratam a morte festejando-a e relembrando com alegria aqueles
falecidos. Tradição com raiz no povo asteca, que considerava mais como se morria
do que como se vivera, esse era a diferença que faria com que a pessoa fosse
lembrada ou não. O questionário foi aplicado antes de discutir-se essa temática com
os alunos, objetivando saber como pensavam e se sentiam frente ao assunto.
7 Questionário consta no apêndice II.
104
Quadro 3: Dados demográficos dos alunos que responderam o questionário exploratório acerca da morte
CURSO TÉCNICO EM SECRETARIADO 2º SEMESTRE (NOV/2013)
Quantidade de pessoas
9 1
Sexo feminino Sexo masculino
Faixa etária: Escolaridade: Religião
16 anos – 2 Cursando o ensino médio católica e evangélica
17 anos – 2 Ensino médio concluído católica e espírita
21 anos – 2 Ensino médio concluído evangélica
24 anos – 1 Superior incompleto evangélico
27 anos – 1 Ensino médio concluído evangélica
28 anos – 1 Ensino médio concluído católica
54 anos – 1 Superior completo católica
Fonte: Elaborado pela autora
A primeira pergunta tratava do que se entende por morte, e duas das
respostas perpassaram o âmbito espiritual “é quando a pessoa para de viver
carnalmente, e é vida espiritual”, outras alunas (3) apontaram, de forma geral, que é
“a passagem do material para o espiritual”. Outra aluna aponta que a morte é “uma
fase, que depois da morte tem uma segunda vida”; outra aluna afirma que é como
“uma dor imensa, uma perda de alguma coisa que nós não queremos entender”.
Duas alunas afirmam que “morte é quando a pessoa encerra sua missão aqui na
Terra” e, por fim, um aluno destaca que é “única certeza que se tem: que um dia
todos morrerão”.
Percebe-se uma preocupação em definir o pós-morte de forma espiritualista,
religiosa, com relação ao divino, pois nessa sala todos religiosos, de modo que ,
realizavam um pequeno culto, ou reunião religiosa todas as quartas-feiras no
período noturno, mais especificamente no gramado da escola. A professora
observou que muitos jovens dessa sala frequentavam essa reunião e a cada
semana crescia o número dos participantes.
A questão seguinte se atinha em como a nossa sociedade lida com a morte e,
na visão de dois estudantes o tema já está se tornando algo banal, devido ao alto
índice de violência que se pode presenciar diariamente. Outros dois, conversando
105
sobre a questão, concordaram em que “a sociedade não sabe como lidar com a
morte, pois muitos não acreditam que existe outra vida além dessa”. Afirmou uma
aluna que “é algo conflitante e confuso para as pessoas e isso gera medo,
insegurança e falta de aceitação, mesmo sabendo que é a única coisa que temos
como certo”; outra aluna salienta sobre o modo como se deu a morte, ou seja, o
sentimento de como lidar com ela está relacionado em como se perdeu o ente
querido. Essa perda foi apontada por uma entrevistada como a dificuldade em
entender a perda e o que fazer depois disso, ocasionando assim o sofrimento, por
não se conseguir superar a dor e a saudade causadas.
Duas alunas mencionaram também as diferenças culturais existentes entre as
culturas ocidentais e orientais, em que alguns choram e outros ficam alegres, pois
encaram a morte como algo positivo. Uma aluna afirmou que “Alguns superam,
outros aprendem a lidar com a saudade, outros não aceitam, outros se suicidam.
Mas todos sabem que a morte é certa”.
Estreitando um pouco mais a mirada para o tema de forma individual, a
terceira pergunta se voltou ao sentido da morte para cada um e as respostas
variaram entre “o fim da vida carnal” até a “libertação dessa vida, ou uma passagem
para o reino dos céus ou para um outro nível de existência”. Duas alunas afirmaram
não ter temor pela morte e afirmaram que ela é algo sem sentido. Duas estudantes
mencionaram que é como um “buraco”, uma aponta que “não tem como ser
preenchido por ninguém, pois, por um lado, é uma tristeza de se perder a pessoa
que se ama e, por outro, a consciência que o sofrimento e a dor que a mesma
poderia estar sentindo, teve fim”. O aluno, afirmou que a alegria e a tristeza estão
relacionadas às suas respectivas vivências na terra, com boas ou más obras.
Pode-se observar uma forte influência cristã nas respostas, e mesmo o
sincretismo entre essa forma de expressão religiosa e aquela espírita. A morte tem
uma simbologia cultural diversificada entre os países nos quais se fala o espanhol.
Como no México, em que aparece na figura da senhora Katrina ou Doña Muerte, e
para a maioria das culturas ocidentais aparece como uma figura esquelética, com
uma gadanha na mão, coberta com um manto preto, e encapuzada (BAUMAN,
1998; KASTENBAUM, AISENBERG, 1983).
106
Como a morte assume diversas imagens mentais dentre as pessoas, a
pergunta que se seguiu foi sobre qual sinônimo os entrevistados dariam à morte. As
respostas se referiam à ausência e saudade, momento final, falecimento, término e
sofrimento. Uma estudante apontou “a ausência de alguém de forma definitiva”,
embora duas estudantes apontassem “descanso” e uma “alegria por uma nova vida”.
A morte deve ser celebrada? Foi a indagação da quinta questão que os
alunos responderam, em sua maioria, negativamente. Uma aluna justificou “por
causar muita dor e também não há como saber para onde a alma foi conduzida, uma
vez que se a mesma vai para o reino celeste, seria um bom motivo para a
celebração, porém ela pode ir para os confins da terra”, o que em muitas religiões é
denominado como inferno. Outra aluna afirmou que “depende de como você está
com o Pai”, entendido aqui como Deus. Outras duas estudantes afirmaram que
devido à incerteza, a morte não deveria ser celebrada.
O aluno destacou que a pessoa pode ser lembrada com carinho e amor, mas
dispensa a celebração da morte. Contudo, duas pessoas alegaram que a morte
deve ser celebrada sim, pois acreditam que “quem morreu está melhor do que
aqueles que ficaram e, certamente, não gostaria que sofrêssemos ou ficássemos
tristes”. Uma aluna apontou que “devemos lembrar da pessoa dependendo de cada
cultura e religião”.
Foi perceptível que essa temática gerou um desconforto para os alunos
refletindo o que ocorre também fora da escola, pois, de maneira geral, evita-se
conversar sobre esse assunto. Algo tão inevitável acaba por se tornar algo temível e
a ideia de postergá-la parece inevitável. Celebrar a morte soa estranho à nossa
sociedade, pois a palavra celebração é relacionada a algo bom, alegre e a temática
em questão já está “internalizada” como algo ruim e triste. Seguindo os
dogmatismos cristãos, observamos que o tema da morte está associado a um
sentimento de culpa, em relação aos “maus atos” praticados, que pode conduzir “ao
inferno”, ou por aquilo que se poderia ter feito em vida, e não se fez.
Esse sentimento de culpa, que pode ser pensado como enraizado à cultura
cristã ocidental, permaneceu e se reflete no tratamento da morte como algo “ruim e
mal”, além, é claro, da incerteza que se encontra nessa temática, particularmente
sobre o que ocorre pós a morte. Para lidar com a morte cada cultura elaborou uma
107
forma diferenciada, como as celebrações que caracterizam ainda hoje as
civilizações descendentes dos astecas e incas, seus rituais fúnebres e sua crença
de que em determinado momento os mortos os visitam. O fato mesmo de
abordarmos essa temática em aula, promovendo o conhecimento de como há uma
diversidade de práticas culturais envolvidas no lidar com a morte, motivou os alunos
a conversarem entre si sobre o tema, a retomarem histórias cotidianas sobre como o
tratar com a morte foi se modificando ao longo dos anos, e como foi se banalizando,
ao mesmo tempo em que parece mais afastada da “vida normal”. Essa discussão,
envolvida na temática da aula, ou seja, planejada para promover a reflexão, pode
acabar levando a transformações pessoais nas concepções da morte. E,
concomitantemente, naquelas da vida.
Antes de passarmos para o próximo instrumento de coleta de dados, a
observação participante, esclarecemos que um outro questionário, voltado para as
concepções sobre a alimentação, foi aplicado aos alunos do curso de Eventos.
Contudo, os dados desse questionário não foram empregados na análise, pois a
forma das questões pode ter levado a respostas distorcidas. Contudo, como no
âmbito de uma pesquisa qualitativa é essencial o registro das especificidades do
processo investigativo, o referido questionário consta dos apêndices, sendo aquele
de número III.
3.2.2. A observação participante: a prática docente nas aulas de espanhol
Discorremos abaixo sobre um segundo instrumento de coleta de dados, a
observação participante, realizada nas aulas lecionadas pela pesquisadora. Essas
aulas foram ministradas no período noturno, entre o primeiro semestre de 2013 e o
último de 2014, na Escola Técnica Polivalente de Americana, nos cursos técnicos de
Secretariado e Eventos. Foram cerca de sessenta aulas, mas somente aquelas que
tratavam mais particularmente da morte, da culinária e de aspectos culturais, como a
música, foram aqui selecionadas para análise. A disciplina consta na grade curricular
e a carga horária é de duas aulas semanais (120 minutos). De acordo com Biddle
108
(1967), as unidades de análises da prática docente, quer seja feita pelo próprio
professor, quer por outros observadores, podem variar em relação ao número de
aulas, ou ao tempo de observação, dependendo dos objetivos da investigação. O
mesmo autor também coloca possíveis estruturas e/ou dinâmicas a serem
observadas e estudadas. No âmbito da interioridade da sala de aula estão aquelas:
comunicativa, ecológica, das atividades ali transcorridas, os papeis dos diferentes
atores e as funções sociais desses. Nessa investigação, como também se trata de
uma reflexão sobre a prática didática, a análise foi feita exclusivamente sobre
algumas das atividades propostas pela professora/pesquisadora, de forma a
desenvolver uma educação multicultural, que possa ser também entendida como
Sociocomunitária.
Os semestres contemplados na observação participante foram o primeiro,
segundo e terceiro de curso técnico de Secretariado e o segundo e o terceiro do
curso de Eventos entre os anos de 2013 e 2014.
A base da educação dessa instituição escolar está expressa no capítulo dois,
artigo terceiro do seu regimento, no que trata dos princípios e das finalidades:
Artigo 3º - Os princípios de gestão democrática nortearão a gestão da Etec, valorizando as relações baseadas no diálogo e no consenso, tendo como práticas a participação, a discussão coletiva e a autonomia. Parágrafo único - A participação deverá possibilitar a todos os membros da comunidade escolar o comprometimento no processo de tomada de decisões para a organização e para o funcionamento da Etec e propiciar um clima de trabalho favorável a uma maior aproximação entre todos os segmentos das Etecs.
Uma gestão democrática é o cerne para uma educação também democrática
e direcionada à autonomia do educando, como apontada no texto acima. Uma
educação pautada no espírito democrático do educador e do educando, privilegia a
exploração da capacidade que ambos têm de discutirem a produção e o fazer uso
de saberes, reforçando sua participação cívica e de melhoria da qualidade da
própria educação. Para isso acreditamos que a ampliação das perspectivas culturais
dos sujeitos, pois a partir dessa se pode conviver mais proveitosamente com as
diferenças; o que é essencial para o pensamento democrático.
A ação do que se aprende ou se tem contato na escola pode ser transmitida
verbalmente, por atos ou reações em outros ambientes de convivência do sujeito,
109
favorecendo a propagação ou o uso do que lhe foi apresentado. Conforme aponta
Bissoto (2012, p. 107) “É a partir das interações sociocomunitárias, enfim, que
emergirão contextos de vida mais ou menos autônomos, que, recursivamente,
transformar-nos-ão, enquanto sociedade”. O ensino do espanhol como segunda
língua pode ser inserido nessa educação social autônoma diante de uma nova forma
de ler e interpretar o mundo.
As observações participantes foram desenvolvidas sem um roteiro
estruturado, considerando-se as ações docentes intencionadas para tratar a
multiculturalidade e o ensino do espanhol, as pontes possíveis de serem feitas entre
o aprendizado escolar do idioma espanhol e o contexto extraescolar, e a reação e
posicionamento dos alunos diante disso tudo. Algumas atividades relatadas já foram
feitas em anos anteriores, e são renovadas, a cada ano letivo, como é o caso das
apresentações musicais. Outras foram novas, aproveitando fatores contextuais
favoráveis à sua realização, como a presença de um bailado de flamenco, na região.
As situações são apresentadas como narrativas, analisadas reflexivamente. Os
registros das observações, como afirmam Emerson, Fretz e Shaw (2001) são
representações, pois reduzem o observado a “retratos” escritos da realidade. São,
dessa forma, inevitavelmente seletivos, apontam para algumas coisas e deixam
outras de fora. Mas essa seleção, por sua vez, espelha a maneira como a
pesquisadora estrutura os elementos da realidade, que formam seu contexto de
vida. Envolvem também a interpretação ativa e o fazer sentido do mundo, por parte
de todos os sujeitos.
Na primeira aula de espanhol do ano de 2014, em ambos os cursos, mais
precisamente na última semana de janeiro, em que é usual que ocorra a
apresentação dos alunos e da professora, a docente discorreu, em torno de uma
hora, sobre a origem do espanhol, a diferença com o castelhano, a chegada do
idioma à América e seus confrontos com as civilizações aqui encontradas. Essa
explicação foi realizada toda em língua espanhola, mas respeitando-se a velocidade
de compreensão dos alunos, que na maioria das vezes nunca tiveram contato com a
língua, a docente aceitou interrupções sobre vocábulos desconhecidos ou que
seriam impossíveis de compreender, por meio do contexto.
110
Tal explicação tem por base também apresentar as diversas sonoridades das
quais a língua espanhola dispõe, devido seu processo colonizador e às mesclas com
os diversos povos nativos espalhados por toda a América Latina e, que de um modo
ou de outro, contribuíram para a formação das nações latino-americanas de hoje.
Foram apresentadas as letras do espanhol que diferem no som daquelas da língua
portuguesa e a ampla fonética que o espanhol adquiriu, deixando os alunos livres
para escolherem qual pronúncia iriam adotar. A professora trouxe diversos áudios,
com pronúncias diversas, para que contemplassem as diferenças e fizessem as
escolhas.
A docente também trouxe a discussão sobre a cultura como ferramenta de
poder e dominação, exemplificando com aquela imposta pelos espanhóis e
portugueses, mas também ao como esses povos foram marcados pelas culturas
existentes na América colonial. O objetivo foi levá-los a pensar que o contato entre
esses dois mundos, o europeu e o americano, não foi algo pacífico e muito menos
de fácil aceitação pelos povos e civilizações, houve resistências. Porém, depois
desse confronto nenhuma das sociedades foram mais as mesmas, precisaram se
(re)posicionar, assumir mudanças, emersas com a nova formatação social
estabelecida:
são sociedades que surgem com as grandes conquistas das nações europeias na era moderna, combinam e recombinam povos, civilizações, línguas, crenças e assim por diante. Mas reagem contra um centro cultural dominador. São chamadas de sociedades multiculturais (GONÇALVES, SILVA, 2003, p.117).
O aluno pode visualizar a dominação ideológica que ocorreu na América
Latina, de forma a compreender que o espanhol guarda as marcas dos embates por
poder; embates que foram históricos, sociais e culturais.
Na aula seguinte, uma aluna8 comentou: “Maestra, cheguei em casa e fui
contar para meu namorado a história da origem do espanhol e ele gostou,
principalmente a parte em que falei sobre a existência da escrita do México com “x”
e “j”, muito legal!”. Outro aluno9 complementou citando a história das civilizações
8 Aluna do curso técnico em Eventos. Idade: 27 anos, graduada em pedagogia. 9 Aluno do curso técnico em Eventos. Idade: 22 anos.
111
Asteca, Inca e Mapuches, sobre as quais ele já tinha ouvido algo mas desconhecia
sua história. E, desse modo, realizou uma busca sobre esses povos na internet.
A ação de compartilhar o que se aprendeu com outras pessoas nos mostra
que “O ensino não é, portanto, um movimento de transmissão que termina quando a
coisa que se transmite é recebida, mas o começo do cultivo de uma mente de forma
que o que foi semeado crescerá” (OAKESHOTT, 1968, p. 160).
Espera-se que o conteúdo seja realmente “espalhado” e possa modificar a
visão de mundo das pessoas, considerado como a base de uma educação pautada
num olhar mais semiótico das múltiplas culturas, que cercam o individuo.
No que tange à prática da docente isso envolve responder constantemente
aos porquês dessa língua, o que é feito recorrendo-se aos aspectos sócio-históricos-
culturais do idioma. Nas falas dos alunos citados verificam-se os primeiros passos
em direção à ampliação de conhecimento multicultural, sendo que a próxima etapa é
a reflexão entre a cultura do outro e a própria. Segundo Santos (2011, p.78): ”Uma
cultura que tem concepção estreita de si própria tende a ter uma concepção ainda
mais estreita das outras culturas”.
Em outra aula, realizada em 2014, com o segundo semestre do curso de
Eventos a proposta foi a de trabalhar a utilização de músicas, interpretadas por
cantores hispanos, os quais são selecionados em colaboração dos alunos com a
professora, mas essa orienta quanto ao grau de dificuldade do idioma, uma vez que
alguns cantores tem uma pronúncia mais complexa para os ouvidos dos alunos
iniciantes. Após, foi estipulado um tempo para que duplas ou trios se organizassem
e selecionassem uma música, a qual deveria ser apresentada, num período de 2
semanas, para toda a turma. No dia das apresentações os alunos deveriam fazer
um breve comentário sobre o cantor e o país, disponibilizar uma cópia da letra para
cada aluno da sala e realizar a apresentação com acompanhamento de
instrumentos musicais, playback ou a própria canção. Os alunos deveriam tomar o
cuidado de que suas vozes aparecessem e, após cantar uma vez toda a canção,
poderiam convidar a sala para acompanhá-los.
112
Figura 6: Apresentação musical
Fonte: Arquivos pessoais de Tatiane. O. A.
Nos anos anteriores, ocorreram algumas resistências de alunos que alegavam
ser tímidos para tal tarefa e se negaram a cantar, uma situação que para a docente
a fez repensar a maneira como era exposto isso aos estudantes, de forma a instigá-
los na realização da atividade e que eles visualizassem sua significância para as
aulas. Foi então que a proposta foi alterada para a descrita acima, em que
anteriormente os alunos executavam a ação apenas pela menção e a professora
não esclarecia de forma tão incisiva e clara a relevância da realização desse
trabalho.
A música tem um papel de destaque em várias instâncias da vida dos seres
humanos, por isso também se faz necessário que esteja presente na educação,
ainda mais quando essa se trata de um outro idioma. Murphey (1990) aponta que a
música é motivadora para incentivar a fala “estrangeira” e pode ser um recurso muito
útil no processo de aprendizagem de um novo idioma. Outro aspecto da música
tratado por Griffee (1992) é essa ser um elemento articulador da cultura de um povo,
representando crenças, hábitos, valores e diversas tradições. Um exemplo é aquele
da chilena Violeta Parra, que narra em suas letras várias cenas da história do povo
chileno.
113
Juntamente à música foi preparada uma ocasião para se trabalhar a dança
flamenca, que já havia sido apresentada aos alunos do primeiro semestre do curso
de Secretariado, em maio de 2013. Aproveitou-se a presença do bailarino espanhol
Pol Vaquero, que faria uma apresentação em maio de dois mil e treze no teatro Amil,
em Campinas. Segundo o relato das alunas que assistiram ao espetáculo foi algo
que jamais elas tomariam a iniciativa de ir, quer por não estarem habituadas a
frequentarem espetáculos em teatros, quer pelo desconhecimento da possibilidade
de que assistir a um espetáculo como esse estaria ao alcance delas.
A dança é considerada como uma expressão da cultura de uma dada
sociedade, constituída de um passado histórico político-geográfico devido aos
confrontos, dominações e a miscigenação de povos. Como ocorreu com a dança
flamenca, que tem influências de diversas culturas, árabes, gitana, judia e
moçárabes, decorrente de guerras, dominações e, por fim, mesclas de povos nos
meados do século XIV, na Península Ibérica (LYNCH, 2005).
Em relação à gastronomia, essa foi trabalhada propondo-se, aos alunos, que
fizessem uma pesquisa prévia sobre as comidas típicas de cada país hispano, seus
ingredientes, modo de preparo, quando são degustadas e a sua história.
Começamos com o sorteio das nações por cada dupla de alunos, que tiveram
quinze dias para buscarem informações e definirem qual prato deveria ser
preparado. Outros quinze dias foram dispensados para a preparação da
apresentação da pesquisa, “ilustrada” com a elaboração do próprio prato
pesquisado, uma breve explicação dos seus ingredientes e de sua história. Após a
apresentação todos realizam a degustação.
Como os países hispanos são vários, a diversidade gastronômica segue igual
diversidade, mais ainda quando tratada de forma tão variada dentro dos próprios
países. É um convite para a reflexão, também em relação ao Brasil, inclusive sobre
o que caracteriza um determinado prato como “típico”, questão discutida por Ochoa
(2009), que aponta a existência da cozinha regional, local, familiar e também a
individual, todas carregando uma simbologia cultural:
114
En definitiva, los hábitos alimentarios son una parte integrada de la totalidad cultural. Por eso, conocer los modos de obtención de los alimentos y quién y cómo los prepara aporta mucha información sobre el funcionamiento de uma sociedad. Conocer dónde, cuándo y con quién son consumidos puede permitirnos deducir, al menos en parte, el conjunto de las relaciones sociales que prevalecen dentro de esa sociedade (OCHOA, 2009, p.139).
Figura 7: Apresentação de comidas tradicionais em países hispano falantes
Fonte: Arquivos pessoais de D. P.
Outra dinâmica também trabalhada no segundo semestre de 2014, ainda
dentro do tema da culinária, foi a visita ao restaurante de cozinha argentina
“Empanadas La Boca”, localizado na cidade de Americana. A aula do dia doze de
setembro ocorreu no restaurante com os alunos do terceiro módulo do curso técnico
de Eventos, com objetivo de estudar a culinária argentina. A dificuldade encontrada
para a realização dessa atividade foi a de que nem todos os alunos participaram,
alegando que não tinham condições financeiras, mesmo instigando-os com o auxilio
da docente e do coordenador do curso que apoiou a atividade. Mesmo assim, 5
alunos não participaram e posteriormente realizei com eles uma outra atividade
referente à gastronomia argentina.
115
O atendimento foi todo em espanhol realizado pelo proprietário argentino
Hugo O. Otero. Aproveitando o cardápio, que também era no idioma espanhol,
várias perguntas surgiram referente às comidas e ingredientes, assim o proprietário
realizou algumas explicações, mas segundo os alunos, a melhor explanação foi
sobre o nome do local ser inspirado no bairro La Boca, de Buenos Aires, e a
decoração na rua Caminito, famosa por suas casas coloridas.
Figura 8: Jantar no restaurante Empanadas La Boca
Fonte: Arquivos pessoais de Roberto. J.
Música, dança e comida compõem o cenário de festas. Nessa categoria
percebe-se um maior envolvimento e interesse dos alunos não somente com a
cultura de outrem, mas também a própria língua, uma vez que apresenta-se, além
da diversidade cultural, as diferentes formas de se expressar.
A proposta da refilmagem de uma telenovela hispana resultou em um trabalho
diferenciado de um grupo de alunos de eventos do terceiro semestre. sendo que os
116
alunos utilizaram o prédio da própria escola para filmarem um trecho da telenovela
Chiquititas10.
Figura 9: Trabalho de refilmagem
Fonte: Arquivos pessoais de R. J.
Esse trabalho teve um significado especial para a docente, haja vista que
ocorreram várias tentativas de realizá-lo com outras turmas no decorrer dos últimos
três semestres, porém a falta de interesse dos alunos e as justificativas de que
viviam distantes uns dos outros, com dificuldade para a filmagem, fez com que a
docente não mais sugerisse tal trabalho. Contudo, os alunos do curso de Eventos,
do terceiro módulo, que finalizaram o curso em dezembro de 2014, aderiram à ideia
e realizaram o trabalho envolvendo quase todos os alunos da sala, salvo duas
alunas, que se negaram a participar do trabalho por questões de desentendimento
particular entre integrantes da turma. A docente sugeriu às alunas outro trabalho,
que contemplasse o uso da língua em sua forma oral.
10 A novela foi criada na Argentina em 1997 por Cris Morena, a novela foi vendida para muitos países, como o México e o Brasil. Fonte: http://www.teledramaturgia.com.br/tele/chiquititasb.asp.
117
Outro aspecto cultural a ser trazido para as aulas de língua são os filmes
produzidos pelos países hispanos, como México, Argentina e Espanha, que
possuem uma extensa produção no campo da cinematografia. Outros países
também lançam filmes, porém no Brasil as produções das três nações são aquelas
que mais se tem acesso.
Porém, não basta somente ver o filme para compreendê-lo, é necessário
observar a linguagem empregada, o tempo e espaço em que ocorre a história, como
apontam Martínez e Sánchez (2003) as produções cinematográficas são como
contadores de história, transmissor de valores, arte e conhecimento. Aspectos esses
que auxiliam o ato de descortinar o mundo hispano para os aprendentes.
Primeiramente foi realizada leitura de texto sobre o país no qual se passaria a
história e, em seguida, assistimos ao filme, no áudio original e, dependendo do filme,
também com a legenda em espanhol. Ao término do filme foi realizada uma
discussão sobre o tema central e algumas dúvidas, que surgiram diante da história,
vocabulário ou cenas diversas.
A escolha do filme foi realizada de forma a respeitar o tempo de estudo das
aulas ministradas e também considerando a temática, selecionada para conduzir a
uma melhor compreensão. Como por exemplo, quanto ao assunto da gastronomia,
dois filmes podem ser tema das aulas, os mexicanos Canela (La Casa de Cine,
2012) e Me late el chocolate (MuBI Films., 2011).
Na película argentina Valentín (Disney, 2002) que possui um espanhol de
mais fácil compreensão, é possível identificar o acento espanhol peninsular e aquele
rio platense. O grupo de alunos do segundo semestre do curso de Eventos, que
assistiu a esse filme em 2014, ficou emocionado com a história, mas também
satisfeito em poder compreender um filme em um outro idioma. Um dos alunos (J.,
de 22 anos) relatou:
(...) quando você disse que iria passar o filme eu não gostei muito da ideia, pois acho que com isso perdemos aula, mas depois que comecei a assistir e compreendi a história e me dei conta que tanto o áudio e a legenda estavam em espanhol, fiquei muito animado e feliz por ver o quanto eu já estava sabendo de espanhol.
Ao aprender outro idioma por meio de um conteúdo cultural midiático, neste
caso, o filme, discutindo-o e estabelecendo relações com o próprio contexto de vida
118
dos alunos, o aprendizado torna-se mais significativo. O cinema, além de ter um
caráter lúdico, configura-se como janela aberta para o conhecimento de mundo e
para o alargamento do pensamento crítico e, ainda, como meio eficaz de apresentar
a língua de maneira contextualizada (STEFANI, 2010).
Figura 10: Cartaz do filme Valentín como presente.11
Fonte: Arquivos pessoais de Roberto. J.
No final do mês de outubro foi abordada a temática da morte, tendo por base
a celebração mexicana do Día de muertos. A professora iniciou a aula com um
curta-metragem denominado “Día de los muertos” (2013, Ashley Graham, Kate
Reynolds, y Lindsey), introduzindo o tema e depois, em aulas sucessivas, com
auxílio de slides, conta-se como era a tradição Asteca, Inca e espanhola diante da
morte. Ao longo das aulas, a docente convidou aos alunos para fazerem uma
reflexão sobre a morte, debatendo as formas individuais, familiares e de cada grupo
social, dos alunos e alunas, quanto à experiência de lidar com a morte.
11 Momento em que os alunos presentearam a professora com o cartaz do filme emoldurado,
expressando o prazer pela atividade realizada.
119
A docente aprofundou o tema, salientando que a celebração da morte também
se mostrou, historicamente, um modelo de resistência ao processo colonizador e à
imposição cultural, como por exemplo, no caso do povo mexicano. As posições dos
alunos em relação a essa temática estão registradas no questionário feito sobre o
tema, realizado previamente à sua abordagem.
A temática vem ao encontro de uma educação voltada para a vida, na
tentativa de não conduzir o aprendente à desesperação, à angústia ou à tristeza,
mas apresentar como cada instante é valioso e único, como aponta Garcia e
Olivencia (2011). Magaña e Cots (2014) defendem a necessidade de uma educação
voltada para a morte, com a finalidade de ensinar a viver.
Como os seres humanos que têm o conhecimento de sua finitude, mas tem
dificuldade de aceitá-la, uma educação pensada multiculturalmente pode auxiliar
essa compreensão, quando apresenta um novo olhar e maneira de tratar esse tema
por outros povos, como os mexicanos. Segundo Cortina (2010, p.57), “una
enseñanza que no tenga en cuenta la muerte, no se está dirigiendo a los seres
humanos, ya que los delimita impidiendo una mirada global hacía su condición de
ser vivo”.
Outro aspecto trabalhado nas aulas foram textos literários como a adaptação
do livro El Zorro de Johnston Mcculley, da série Leer y Aprender (2002), com áudio e
atividades em cada final de capítulo. Como o livro paradidático é pensado no ensino
de idiomas traz a indicação de nível, a coleção dispõe dos níveis: básico,
intermediário e avançado, configurada conforme a complexidade vocabular que cada
história emprega. O livro em questão pertence ao nível básico e foi bem aceito pelos
alunos, que comentaram sobre a facilidade em escutar o livro no carro ou enquanto
realizavam outras tarefas.
As festas foram um dos temas que renderam várias aulas, como “La
tomatina”, que ocorre no município de Buñol, na Espanha, no mês de agosto, em
que os alunos são convidados a participarem dessa comemoração por meio de
vídeos, explicações e discussões de o porquê tantas toneladas de tomates são
lançadas, o que celebram, qual sua história... São indagações sobre as quais se
dialoga durante a aula dedicadas a essa festividade.
120
A data doze de outubro é festejada “El día de la raza, de la hispanidad,
Descoloniación, Interculturalidad, Descubrimiento de los mundos” e tantos outros
nomes dado a data da chegada dos espanhóis nas terras além mar. Enquanto a
Espanha celebra a conquista, o México celebra a mestiçagem, em Cuba, essa data
não consta do calendário comemorativo, pois muitos discutem o que realmente
celebrar? Contrários a essa festividade, como aponta o escritor uruguaio Galeano,
que critica tal festa:
En 1492, los nativos descubrieron que eran indios, descubrieron que vivían en América, descubrieron que estaban desnudos, descubrieron que existía el pecado, descubrieron que debían obediencia a un rey y a una reina de otro mundo y a un dios de otro cielo (GALEANO, 2012, p. 320).
Desse modo, os aprendentes foram convidados a se pronunciarem em
relação a essa festa e em seguida realizaram a comparação com a própria cultura,
em que não ocorre celebração semelhante, mas a questão lançada foi: e se no
Brasil também tivéssemos essa celebração? Os alunos assim foram se posicionando
e discorrendo sobre essa temática.
Outras práticas também foram incorporadas em sala de aula, como a leitura
de histórias em quadrinhos, mais especificamente a versão em espanhol da Turma
da Mônica; periódicos de outros países trazidos pela professora e também pelos
alunos para a leitura das notícias; visitas a sites específicos de estudo da língua,
como RAE (Real Academia Española) que apresenta o dicionário monolíngue e
também o panhispánico de dudas, que constam palavras pertencentes aos países
latinos americanos; entre outras práticas adotadas no processo de aprendizagem da
língua. Para Aebersold e Field (1997, p. 165):
Pensamos que o texto literário é bastante útil para melhorar as competências linguísticas dos alunos, ajudando-os a compreender as diferenças culturais, e ampliar oportunidades para o seu crescimento pessoal. Utilizando uma variedade de textos vai desafiar e enriquecer o professor, bem como os alunos.
Pois, de certa forma, muitas das vezes tendo contato pela primeira vez com o
idioma e também a cultura, os sujeitos são convidados a conhecerem outros
seguimentos textuais, tais como aqueles relacionados à área específica de atuação
do curso de secretariado, terceiro módulo do segundo semestre de 2013. Como por
121
exemplo, a aula realizada de correspondência, que ministrada de forma a apresentar
uma carta comercial de uma determinada empresa solicitando a confirmação de um
pedido realizado, em que a proposta fora a de uma escrita da resposta à solicitação.
Contudo essa prática não obteve o resultado esperado, pois como era um trabalho
para ser feito em casa, a grande maioria fez uso de tradutores online, reduzindo
assim a atividade em uma ação não reflexiva, na qual se levou o sujeito a um ato
puramente mecânico e sem significado. Essa prática levou a docente a repensar tal
atividade e como faria para reformulá-la, com objetivo de que ocorra uma
aprendizagem mais significativa para os aprendentes.
Diversas foram as análises sobre essa frustração, imaginando se a falta de
conhecimento da língua possa tê-los inibidos a escreverem, mesmo com auxílio de
um dicionário que dispensa o tradutor. A escrita deveria ocorrer em sala de aula,
para que as dúvidas fossem sanadas pela professora e também com o diálogo com
outros alunos? Talvez a própria proposta devesse ser outra, como a criação de uma
correspondência e não a resposta a outra carta. São conjecturas que ainda não
puderam ser postas em prática para verificar quais dessas ou de outras poderiam vir
ao encontro da problemática presenciada pela docente.
Além de refletir sobre a prática com observação participante, também é
necessário um momento para escutar os aprendentes, de forma a aprofundar o
entendimento sobre o tema em voga, que na sequência se dará com o grupo focal
3.2.3. Grupo focal
A escolha pelo instrumento do grupo focal se deu pelas vantagens que essa
técnica proporciona, como a possibilidade de discutir uma mesma temática com
várias pessoas ao mesmo tempo, de forma que as diferentes opiniões se tornam
fontes de conhecimentos para a pesquisa em questão. Como aponta Flick (2004,
p.126) “a estimulação de uma discussão e a dinâmica que nela se desenvolve são,
aqui, utilizadas como fontes centrais de conhecimento”.
A formação do grupo focal foi intencional e partiu da premissa de que foram
alunos da mesma docente, estudaram nos mesmos cursos técnicos, porém em
122
semestres diferentes, e pertencem a mesma instituição de ensino. Além disso,
considerou-se que o fato deles já terem vivenciado o aprendizado do espanhol,
como aqui explicitado, mas com um distanciamento temporal desse, poderia permitir
uma apreciação mais crítica em relação aos seus entendimentos sobre o
aprendizado do espanhol. Durante aproximadamente trinta dias ocorreram
conversas e acertos para a realização do grupo focal, pois havia a necessidade de
uma pessoa da área técnica da Universidade estar presente no dia do encontro para
realizar a filmagem, com isso aguardou-se o parecer do responsável para indicar o
local exato e hora do encontro. A rede social denominada como facebook foi crucial
para estabelecer o contato com os ex-alunos, fazer o convite e mantê-los informados
sobre a reunião.
Os participantes foram ex-alunos dos cursos de Secretariado e Eventos e
finalizaram seus estudos na instituição Etec Polivalente de Americana em períodos
diferentes, entre o segundo semestre de 2013 e o primeiro e o segundo semestre de
2014. Foram convidadas dezenove pessoas, e apesar de todas elas terem
confirmado presença, apenas nove pessoas compareceram no dia combinado, vinte
oito de novembro de dois mil e catorze, e foram identificadas e descritas na tabela
que segue.
Para uma melhor compreensão das falas, nomearam-se os participantes de
forma numérica, de um a nove, atribuídos pela ordem de chegada. Foram coletados
dados demográficos de caracterização pessoal12 para mais bem detalhar o perfil de
cada participante.
Quadro 4: Dados específicos dos participantes do grupo focal
Idade Sexo Escolaridade Contatos
com o
espanhol
Continua
estudando
espanhol
Informações
adicionais13
Curso e ano
de conclusão
P1 Participante 1
26 Masculino Ensino Superior completo: Artes
Cinema/ televisão/ música Escola de idiomas
Não intercâmbio na Alemanha para estudos do busto de Nefertiti
Eventos Dez. 2014
12 Consta no apêndice IV. 13 Informações adicionais dadas pelos sujeitos espontaneamente, quando da coleta dos dados.
123
P2 Participante 2
22 Feminino Ensino técnico completo
Cinema/ televisão/ música Ensino médio Leitura
sim Intercâmbio no Chile para estudar espanhol, em 2014
Eventos Dez. 2013
P3 Participante 3
19 Feminino Ensino técnico completo
Ensino médio
sim Intercâmbio na Argentina para estudar espanhol, em 2014.
Eventos Jul. 2014
P4 Participante 4
21 Feminino Ensino técnico completo
Cinema/ televisão/ música Leitura
sim Disse ter facilidade de estudar de forma autônoma
Secretariado Dez. 2013
P5 Participante 5
21 Feminino Ensino técnico completo
Cinema/ televisão/ música
sim Pesquisa muito sobre o idioma, principalmente músicas e curiosidades culturais
Eventos Dez. 2014
P6 Participante 7
17 Feminino Ensino técnico completo
Cinema/ televisão/ música Ensino médio
sim Secretariado Jul.2014
P7 Participante 7
28 Feminino Ensino Superior completo: Gastronomia
Cinema/televisão/música Leitura viagens
sim Já viajou para países hispanos
Eventos Dez. 2014
P8 Participante 8
22 Feminino Ensino Superior Incompleto:
Cinema/televisão/música
sim Disse que começou a apreciar o
idioma com as aulas
Secretariado Dez. 2013
P9 Participante 9
22 Feminino Ensino Superior completo: Gastronomia
Viagens Ensino Médio
sim Já viajou para países hispanos
Eventos Dez. 2014
Fonte: Elaborado pela autora
124
O trabalho iniciou-se às 20 horas, se estendendo até às 21:30 hora, nas
dependências do campus Dom Bosco do UNISAL, u.e. de Americana, contando com
o auxílio do mestrando Roberto André Polezi, funcionário da instituição junto aos
laboratórios de rádio e televisão, na parte técnica da gravação, e da pedagoga Ana
Claudia Rocha, contribuindo com a observação e registros.
Inicialmente, planejou-se o roteiro de discussão, que consta a seguir, sendo a
primeira relacionada aos impactos do aprendizado do espanhol na vida pessoal e
profissional, a segunda explora a percepção dos aspectos culturais, a terceira traz à
discussão as interpretações de mundo por meio das lentes de outra língua e finaliza
com uma breve explicação sobre segunda língua e língua estrangeira, para indagar
sobre a compreensão do grupo em relação ao ensino que tiveram.
Roteiro de discussão:
1 – Quais os impactos que a aprendizagem do idioma espanhol teve
para suas atividades pessoais e/ou profissionais?
2 – Como vocês perceberam os aspectos culturais que foram
trabalhados nas aulas de espanhol?
3 - O ensino dos aspectos culturais que envolvem a língua espanhola,
bem como dos países que a têm como idioma oficial, facilitou/favoreceu outras
interpretações de mundo/visão de mundo sobre a sua própria cultura?
4 – No seu entender a forma como foi ensinado o espanhol: levou ao
uso instrumental da comunicação no espanhol (LE)? Favoreceu a aproximação
com aquilo que entendemos por L2?
A primeira questão foi tratada no plano pessoal pela participante 9, em relação
ao uso do idioma na comunicação em viagens, em que alegou estar agora mais
preparada para se comunicar numa relação de turismo em países de fala hispana. A
participante 2 apontou que:
125
O Espanhol não é parecido com o Português, como eu fiz intercambio, eu sabia o básico e acrescentei o conhecimento que obtive lá. O fato de viajar ajudou bastante, ainda mais por ter ido para estudar, achei a gramática do espanhol é muito complicada, mas depois que se aprende, tornou-se tudo mais fácil, ainda mais porque sempre gostei da língua, ouvia músicas, assistia seriados e as aulas ajudou ainda mais.
A participante 5 salientou que não conhecia o espanhol antes das aulas e que
depois ele já faz parte de sua vida, hoje ela escuta, lê e vê coisas em espanhol e
comparou que isso para ela é prazeroso e agora é como se fosse um “hobby”.
Transformou-se o estudo em um prazer e que agora já faz parte da vida da
integrante de forma que o que foi ensinado despertou o querer saber mais, o
aprofundar-se na busca pelo que até então era novo. Essa percepção é condizente
com o pensamento do estudante construir sua autonomia, de querer saber mais,
para se transformar numa prática constante em sua vida.
A participante 8 trouxe a discussão sobre a influência do espanhol nas provas
de avaliação estudantil, como o ENEM (Exame Nacional de Ensino Médio): “Mesmo
que seja o básico, já ajuda bastante a realizar esse tipo de prova”. Complementando
essa ideia, a participante 2 comentou que “Antes era só Inglês e não se exigia tanto
o espanhol, mas agora o pessoal está aderindo mais o Espanhol” e o participante 1
relatou que:
As pessoas se tornam mais confiantes com o espanhol, mesmo sendo diferente, ele não é tão distante das línguas latinas, as pessoas se tornam mais confiantes do que o Inglês, pois com o Espanhol você consegue pegar algumas palavras e interpretá-las, já o Inglês ou você sabe ou não sabe, o espanhol é sempre um pontapé inicial.
O uso do espanhol por outros países, que não tem o espanhol como língua
oficial, surpreendeu a participante 9, ao contar um fato que ocorreu com ela e seu
pai nos Estados Unidos:
Quando eu estava em Miami com o meu pai, percebi que tinha muito latino e cheguei para pedir uma comida e como eu sabia Inglês, fiz o pedido e o atendente respondeu que “No compreendo” não acreditei que meu pai que falava um portunhol conseguiu se comunicar dentro de um pais em que o Inglês é o idioma oficial, inacreditável um atendente que não falava o idioma do país.
126
Complementando o relato, a participante 2 comentou que “o espanhol para
brasileiro se torna como uma segunda língua”, e a participante 4 apontou que “como
o espanhol é muito expressivo, ele ajuda muito na comunicação”.
Observa-se que embora os participantes tenham atestado a familiaridade com
o espanhol – lembrando que no início do ensino do espanhol, nos respectivos cursos
técnicos, essa afirmação da percepção de familiaridade não aparece- parece haver
um deslocamento dessa familiaridade em relação às bases culturais do idioma. Isso
é, remete à ideia de que ter mais “intimidade” com o idioma pode significar falar o
espanhol com as mesmas bases culturais da L1, no caso dos participantes, o
português. Nesse caso, ocorreria o processo de “encaixar” o espanhol no “território”
do português. Como ficaria a questão da promoção da diversidade cultural, nesse
sentido?
Para Byram (1994) não pode haver negociações culturais de
compartilhamento de significados e, assim, de compreensão de mundo, se os
aprendentes simplesmente codificam o idioma aprendido naquelas estruturas de
significados do seu próprio, sem procurar outras possíveis relações. O ensino de um
outro idioma deve, dessa forma, não limitar-se à mediação comunicativa, oral ou
escrita, mas incluir a mediação do conhecimento da cultura, indissociável da
linguagem, e das atitudes direcionadas aos representantes dessa cultura.
As afirmações da semelhança entre ambos os idiomas foi uma tônica também
das falas seguintes.
A segunda língua foi entendida pela participante 2 associada à ideia geral de
L2, que não é a mesma que essa pesquisa traz como definição: o argumento do
sujeito foi o de que “por serem línguas irmãs podem ser compreendidas como
segunda língua para os falante do português e vice-versa”.
Para a participante 6 “não é porque o espanhol é uma língua mais fácil”, que
ela “acha a cultura muito bonita dos países hispanos falantes, das particularidades
culturais que possuem” e afirmou que “gosto do espanhol por conta do povo que
fala, uma coisa que eu sempre achei linda no espanhol é a sonoridade, acho que é
o que me fez mais gostar é o jeito como eles falam.”
É possível dizer que foi por meio da sonoridade que essa participante foi
atraída para o aprendizado do espanhol, conduzindo-a para a apreciação de outras
127
formas culturais. A fonética foi enfatizada novamente pela participante 06, uma
língua de muitos sons e com muitas particularidades, que ela parece entender que
foram determinadas por diversos fatores, que influenciaram para terem a fonética
que possuem e que constantemente se transforma.
O contato com a língua espanhola por meio de viagens, foi relatado pela
participante 7:
Meu primeiro contato foi quando eu viajei, ouvindo as pessoas falarem o espanhol eu acho que ele é bem parecido com o português, mas nas aulas você começa a perceber que algumas palavras são iguais ou parecidas, você entendendo um pouco sobre alguma coisa da língua, ajuda a entender o contexto, isso ajuda pois se você consegue entender uma coisa, surge ai o interesse de querer entender o resto. Realmente, como pessoal estava falando, o espanhol está ganhando mais espaço que o Inglês, eu já fui para países que o pessoal não falava Inglês, nas barraquinhas todos falavam espanhol, e para nós brasileiros é mais tranquilo, pois dá para entender e usar o famoso portunhol. Mas, eu gostei bastante e quero tentar focar um pouquinho mais, pois gostei mais do que o Inglês, por ser mais fácil, como a gramática.
Ao citar a questão da gramática, a discussão voltou-se para essa temática, em
que o participante 1 afirmou que a gramática era mais fácil do que o falar, em
contrapartida as participantes 2 e 3 apontaram que a gramática do espanhol é mais
difícil do que a do Inglês. A participante 2, que ficou um mês em intercâmbio,
estudando somente a gramática espanhola, salientou as diversas conjugações da
língua e nesse ponto a participante 9 disse que é muito parecido com a gramática do
português, que também tem muitas conjugações verbais. Retomando a fala, a
participante 2 apontou que para compreender o espanhol é mais fácil, devido às
semelhanças com o português.
Nessa temática da dificuldade ou facilidade da língua espanhola, a
participante 9 relatou que:
Sempre tive uma rejeição por espanhol, tive no Ensino Médio e não aprendi absolutamente nada, até por falta de interesse mesmo, o que eu acho mais difícil é porque ele é muito parecido com o português, sempre vai acabar caindo no portunhol e para mim é o mais difícil é não cair no portunhol, parece impossível aprender a falar o espanhol fluentemente sem cair nisso.
A participante 3 afirmou que “O primeiro impacto eu gostei, vou aprender mais
do que Inglês mas quando eu fui viajar eu me desesperei e queria voltar no mesmo
128
dia, mas depois eu percebi que coisa rica, os sotaques, o vocabulário e cada região
tem uma sonoridade diferente”. Complementando a ideia a participante 2 salientou
algumas palavras que são usadas na Argentina, não são usadas no Chile e fez uma
comparação com o Brasil e suas respectivas regiões com sotaques e palavras
diferentes.
Liddicoat e Scarino (2013) afirmam que numa perspectiva multi e intercultural
de ensino de um idioma é fundamental que o aprendente observe as similaridades
entre os aspectos culturais, fonéticos e linguísticos entre o próprio idioma e aquele
que está sendo aprendido. É a partir dessa observação que ele se torna aberto para
outros processos envolvidos na aprendizagem de um outro idioma, no âmbito multi e
intercultural. A comparação entre o próprio idioma e aquele “estrangeiro” tem muitas
nuances, e toma a forma de estabelecer identificações, e, assim, uma maior
complexidade de pensamento. Mas que não deve parar aí...Nas palavras dos
autores:
As comparações possibilitam uma fonte de reflexão. Como um processo de sala de aula, a reflexão é um elemento central no desenvolvimento intercultural (...). É um processo de interpretar a experiência: isso não significa, contudo, que do aprendente seja requerido que chegue a uma “conclusão correta”, ou simplesmente explorar seus sentimentos sobre o que vai sendo descoberto, mas que ele faça sentido pessoal da experiência, e construa uma compreensão abrangente dessa. É, portanto, um modo de fazer sentido da experiência, e compreendê-la de muitos modos. No ato de refletir o aprendente de um idioma pensa sobre o significado do que foi observado, de suas reações, das dimensões de comparação, dos modos de alargar o campo de indagações, das relações entre o novo conhecimento e aquele já existente, e planejar modos de testar ideias e entendimentos. O aprendente reflete na sua própria experiência linguística e naquilo que a diversidade cultural representa para si próprio: como se reage à diversidade, como se pensa a diversidade, como se sente frente à diversidade, e como se encontrarão formas construtivas de engajamento com a diversidade (LIDDICOAT, SCARINO, 2013, p. 2007).
Nas aulas procurou-se desenvolver exatamente essa reflexão, pelos aspectos
que ocorriam determinadas festas ou celebrações. Com intenção de conduzir os
aprendentes a uma educação multicultural, ao se apresentar as múltiplas culturas
dos povos que tem o espanhol como língua oficial, pois segundo Fleuri (2001, p.48):
[...] o multiculturalismo reconhece que cada povo e cada grupo social desenvolve historicamente uma identidade e uma cultura próprias. Considera que cada cultura é válida em si mesma, na medida em que corresponde às necessidades e às opções de uma coletividade.
129
Com essa preocupação, a segunda questão foi direcionada aos aspectos
culturais trabalhados em sala de aula, tratada pela participante 9, que fez menção à
primeira aula:
A qual você (a professora) explica tudo sobre a origem do espanhol que me encantou, eu sempre odiei espanhol, mas foi naquela aula que eu falei “eu preciso aprender essa língua”, eu cheguei em casa, “eu quero muito fazer espanhol e dessa vez vai”, essa primeira aula que você fala sobre cultura. Outra aula sobre o día de muertos também foi sensacional.
A participante 2 salientou que “conhecer sua origem, de onde vem o espanhol
é o que acaba fazendo querer saber mais, já que o pessoal gosta, eu quero saber
também”. A participante 7 afirmou que “a primeira aula é realmente um impacto, eu
conheço o espanhol, mas eu não conhecia a história por traz da língua, você dá a
introdução e falou o porquê de muita coisa”. Já o participante 1 expôs sua visão
partindo:
do ponto de vista da Arte, a qual eu entendo mais a palavra cultura ela é um leque muito aberto, como eu gosto muito das cores, eu gostava mais da parte prática, que tinha que fazer uma festa temática em espanhol, como eu sou ligado em cor, os países latinos tem muito isso com cor nos tecidos vibrantes e decorações, e tem muita simbologia, muito significado.
A participante 9 completou, dizendo: “São cores quentes, fortes, como mais
expressiva”, ao apontar as cores que os países hispano transparecem em sua forma
de viver, no quesito de tecidos, decoração e festividades, que faz parte da
construção sensorial do sujeito referente a outra cultura. Segundo Chapman (2012),
aponta que “Algo tão simples como mudar a tonalidade exata ou saturação de uma
cor pode evocar um sentimento completamente diferente. As diferenças culturais
significa que algo que está feliz e edificante em um país pode ser deprimente em
outro”.14
A participante 2 relatou sua experiência sobre os aspectos culturais que
vivenciou no Chile:
14 Traduzido pela autora
130
Eles são muito apegado na cultura, eu peguei um feriado em que a cidade inteira para, não tem uma pessoa que não participa daquilo, porque é a cultura do país, eles vendem bandeirinha e chapéu desde a esquina do cara que vende jornal, até o maior mercado e todo mundo comprava e usava, e eu que estava fora, acabei entrando nisso, comprando e usando, porque é a cultura que me marcou.
Como o Chile estava em destaque, a participante 9 contou sobre a
experiência que os pais haviam tido numa viagem que realizaram ao país: os pais,
no metro de Santiago, num dado momento em que se encontravam perdidos,
perguntaram a um policial orientações e, em seguida, começaram a conversar com
ele e ele começou a falar sobre a história do país. Participando da fala, a
participante 2 colocou que:
Eles (chilenos) agarram, abraçam aquilo e dizem que a cultura é nossa, agente ama. Assim, quando a professora Lilian dá a entrada com a aula do que é o espanhol, castelhano, a origem e tudo mais, acho muito importante, porque eu não sei se é só o Chile e a Argentina, mas acho que eles são muito apegados a cultura, acredito que todos os latinos são dessa forma de defender e se posicionar nessa cultura, menos o Brasil.
A moderadora (papel desempenhado pela pesquisadora) interferiu com a
indagação sobre se eles sentiram essa relação que os povos hispanos tem com a
cultura durante as aulas, a participante 2 respondeu que “sim, pois você traz as
festa, o Día de muertos e outros”. A participante 6 apontou que:
Eu não sei se é uma impressão só minha, mas também percebe-se a cultura do espanhol na maneira como eles falam, eu nunca viajei, mas eu estudei um pouco sobre o México no Ensino Médio e a gente vê que eles são um povo muito feliz, ai você percebe na maneira como eles falam, cantam e como eles fazem as coisas, acho que é muito perceptível a cultura deles e a maneira como eles veem a vida, do jeito com que eles falam, eles falam rápido e felizes. Eu conversei com um pessoal do Chile uma vez, e tudo isso que vocês estão falando, para mim é bem claro, pois eles são muito patriota e percebe-se quem eles são, através da maneira como eles falam.
A participante 8 valorizou o trabalho nas aulas, ideia essa confirmada pelo
participante 1: “a maestra traz esse encantamento para a sala de aula, ela empolga”.
As participantes 2, 5 e 7 apontaram que com a cultura surge o interesse pela própria
língua, perceptível na fala da participante 2: “Se você se interessa pela cultura, você
131
vai querer ler um pouco mais, saber um pouco, mais eu acho que a cultura ajuda
muito”.
Com enfoque ainda na cultura o participante 1 expôs que
Como a cultura é muito grande, uma coisa só, como pegar o espanhol só na gramática, não vai atrair todos alunos, mas quando você joga a cultura e esse leque abre, você consegue pegar o gosto de cada um e trazer, eu não gosto muito da gramática, mas gosto de festa e cultura, como também tem gente que gosta da gramática.
Outros membros do grupo salientaram outros aspectos que completam a ideia
que o participante anterior citou, sobre os aspectos que são trabalhados nas aulas e
que agregam valores culturais, como canções e as danças que também fazem parte
da cultura. A participante 2 apontou a questão da gramática não prevalece, mas o
que vai marcar o aprendizado é conhecer um pouco da cultura, é o que instiga os
alunos a saberem um pouco mais.
Byram (1994), analisando as vinculações do ensino língua-e-cultura traz
dados do valor da empatia para que o estudante passe a apreciar a cultura do
idioma aprendido. Para assegurar essa empatia, que depende, dentre outros fatores,
das histórias de vida dos sujeitos com o idioma aprendido, com outros idiomas, com
aquilo que é visto como “estrangeiro”, está a ação do professor, tanto como um
modelo de aceitação e apreciação das diferenças como fonte confiável de
informações. Contudo, o autor adverte também para os perigos de estabelecer-se o
ensino baseado em relações de empatia, pois pode estabelecer-se, por exemplo, o
despertar de parcialidades de uma cultura sobre outras. Desenvolver a perspicácia
crítica é essencial para evitar-se isso, e o professor deve atentar também que no
curso dessa perspicácia podem surgir posicionamentos que nem sempre são
positivos, em relação às culturas estudadas. O autor faz ainda a crítica de que o
ensino de um idioma vinculado à cultura não deve basear-se no “olhar do turista”:
comidas, lugares de interesse histórico, personalidades, etc, mas voltar-se para
aspectos do cotidiano, ou seja, as experiências comuns dos sujeitos daquela cultura,
tais como a casa, o trabalho, as relações sociais. Nesse sentido, o trabalho didático
realizado, apesar de buscar fazer tais pontes, por exemplo, com elementos culturais
cotidianos, como as novelas e as músicas contemporâneas, e mesmo as
132
contextualizações históricas, que se refletem na contemporaneidade, poderia ter
sido mais desenvolvido.
A terceira pergunta tratava do ensino do espanhol e das culturas que o
envolvem no aspecto de favorecer ou não outras interpretações/visão de mundo
sobre a sua própria cultura brasileira. Visualizando as expressões de dúvidas nos
participantes, a mediadora fez uma breve explicação sobre a indagação:
Antes de estudarem a língua espanhola vocês tinham uma visão sobre a cultura dos países hispano e até sobre a língua, e depois que finalizaram essa fase do aprendizado do espanhol e da cultura que estava presente nas aulas, ocorreu uma mudança de visão de mundo em relação aos outros povos hispanos e sobre a própria cultura de vocês ou não? Ou o que mudou, ou nada mudou, o que vocês podem falar sobre essa visão de mundo?
A participante 8, que salientou seu desinteresse pela língua ao iniciar o
estudo do espanhol no curso técnico, afirmou que tudo que se conhece e se
aprende vai sendo mais observado e também se tornando mais perceptível,
principalmente os aspectos culturais. Complementando essa ideia, o participante 1
exemplificou uma das primeiras tarefas que a professora designou, que era a busca
das nacionalidades e capitais de países hispano falante, ele destaca que:
Imagine que eu pensava que era tudo aquilo! Para mim era Espanha, México e Argentina, é interessante saber quantos países falam espanhol. Assim como qualquer outro idioma ele vai crescendo e se modificando em outros países, a gente vai criando uma ligação entre eles, eu achei uma das coisa incríveis. Meio destoante também é a relação do espanhol da Europa e da América do sul, você vai tendo essa relação também entre o português da Europa e do Brasil e como as aulas mostraram muito a questão do castelhano e do espanhol, eu me senti bem assim, nós também temos isso, mas não é entre o castelhano, mas entre o português daqui e o de Portugal.
A participante 9 começou a sua fala afirmando que:
Somos todos latinos, mas a visão de mundo que eles (os hispano) têm do Brasil como um todo, porque o brasileiro tem uma coisa de agregar outras culturas, e nem sempre a gente defende a nossa, não sabe da história do Brasil, acho que isso me fez repensar a nossa própria cultura, nós viajamos, mas não conhecemos o nosso próprio país. Por exemplo, quando chega um gringo aqui, todos querem falar com o gringo e saber da cultura dele, inclusive quer falar inglês, e ninguém aqui conta da sua cultura para o gringo.
133
Para complementar a ideia exposta, a participante 2 retratou seu confronto
cultural:
Eles falam do país deles e colocam você como se fosse de lá, aqui é assim, hoje é feriado de não sei o que, você tem que saber qual é a comida que nós comemos e do que a gente mais gosta, quantos habitantes tem, já aqui no Brasil não, eles tem a visão do nosso país como carnaval e o mundial de futebol. Com isso eu mudei, de sair e ver como eles sabem da própria cultura e vinham me perguntar certas coisas que eu não sabia. E eles querem que você goste de lá e parece que eles querem que você volte ao seu país falando sobre a cultura deles.
Na sequência a participante 3, que fez intercâmbio para a Argentina, salientou
que “passamos vergonha, porque eles sabem tanto da cultura deles e perguntam da
sua e você não sabe muito”. A participante 7 afirmou que “É questão de orgulho.
Eles têm orgulho de falar da história deles, o porquê surgiu, como aconteceu e nós
não, nós não temos esse orgulho”. Já a participante 9 salientou que isso ocorre
“porque na realidade eles são um povo muito sofrido e já passaram por muita coisa,
então acho que é por isso que eles valorizam, o Brasil o que já aconteceu no Brasil,
nada”.
Por fim, a participante 2 disse que voltou muito diferente e percebeu que deve
dar mais valor à cultura brasileira e completando essa ideia o participante 1, que
também realizou um Intercâmbio, mas para Alemanha apontou que: “a qualquer
lugar que nós vamos dá um choque cultural e nós voltamos diferente”.
A participante 5 comentou que:
para mim interferiu na vida pessoal, como eu gosto de cantar, até minha mãe está aprendendo, tem dia que faço até showzinho e está se expandindo, você vai querendo saber mais, pois surge a vontade de renovar o meu conhecimento, agora tenho novos objetivos, o meu objetivo é saber sobre isso, então eu vou pesquisar sobre os lugares turísticos, maneiras de falar e tudo mais relacionado a isso.
A participante 9 relatou sobre uma viagem que fez com a família para Nova
York e num dado momento um senhor perguntou se eles falavam espanhol, pois
afirmou que todos os países da América latina falam espanhol. Isso fez com que ela
pensasse: “como alguém não conhece o maior país da América latina, somos um
país tão grande e ninguém conhece nossa cultura e nem o que nós falamos!”. Para
134
justificar essa afirmação a participante 2 apontou que na realidade os brasileiros que
visitam outros países não levam a cultura, e muitas vezes eles falam mal do país.
O participante 1 salientou que ele é um forte defensor do Brasil e defende
que: “o nosso país é muito grande em relação aos outros que falam espanhol e eles
se juntam mais para se defender, já nós somos mais regionais, por isso não deve
ser fácil mesmo centralizar a cultura de país inteiro num único lugar”.
A moderadora interveio perguntando se essa visão comparatista eles já
tinham ou foi decorrente o aprendizado do espanhol e das culturas que o envolvem.
A participante 2 disse que somente quando aprendemos a língua e a cultura de
outro país é que se começa a dar mais atenção à própria cultura. Em resposta a
participante 9 afirmou que aula de espanhol a fez repensar nisso, pois a deixou
muito chocada quando o senhor lhe perguntou sobre o Brasil falar espanhol, levando
assim a pensar no que poderia levar do Brasil quando viajar na próxima vez.
A participante 6 apontou que:
Quando eu comecei a estudar o espanhol e percebi como eles tem outra visão de mundo e outra visão da vida mesmo, comecei e relacionar com a visão que eu tinha, por exemplo quando você passou o dia dos mortos, e a gente vê, é o mesmo feriado daqui tecnicamente, mas eles tem uma visão completamente diferente, ai eu comecei a repensar como eu via esse dia, porque para mim era um dia totalmente fúnebre e para eles é um dia tão feliz, tão alegre, então ai eu comecei a pensar: será que é realmente como a gente pensa, ai você começa a misturar as culturas e começa a agregar o que tem de bom na outra cultura na sua forma de ver, eu acho que tem que valorizar a cultura brasileira, como vocês dizem, mas eu não vejo problema em agregar coisas boas de outras culturas, na maneira como você vê.
As considerações dos participantes podem ser entendidas como uma
preocupação do multiculturalismo, que é aquela da predominância de concepções
de “lei, ordem, razão e racionalidade” próprias à cultura anglocêntrica e de classe
média (GAY, 1995), e em como romper com essa visão. A autora nos coloca
algumas perspectivas de superação do predomínio dessas formatações culturais,
como a aproximação das estratégias de ensino de estilos de aprendizagem
culturalmente diferenciados e ações didáticas que sejam planejadas para serem
efetivas à diversidade dos estudantes, como gênero, idade, passado escolar, etnia,
dentre outros. Num plano mais amplo, Gay (1995) sugere ainda: que uma educação
para a multiculturalidade seja ambição de toda a comunidade escolar, múltiplas
135
estratégias de ensino devem ser tentadas, principalmente aquelas de natureza
cooperativa, a geografia espacial dos ambientes escolares devem contemplar a
integração, e deve-se discutir, com a comunidade escolar, o próprio conceito de
multiculturalismo.
Nesse sentido, a investigação da prática pedagógica analisada nessa
pesquisa ficou restrita à sala de aula. Como afirmado anteriormente, não há, na
instituição em si, incentivo a outras estratégias ou atividades escolares que motivem
o aprendizado de outros idiomas, nem mesmo que se preocupem com a diversidade
cultural dos alunos. Buscar o envolvimento da comunidade escolar pode ser um
próximo passo.
As falas dos participantes também podem ser entendidas dentro do contexto
de discussão da formação da identidade cultural dos sujeitos. Lestinen, Petrucijová e
Spinthourakis (2004) sumarizam três conceitos básicos da sociologia, que estariam
envolvidos na construção da identidade cultural e social: a. identificação, decorrente
da interação com os grupos socioculturais do entorno, b. categorização, por meio de
parâmetros raciais, religiosos, étnicos e outros, e c. comparação, pois a identidade
se constrói por meio da “outridade”. Uma avaliação positiva da própria identidade
cultural promove a autoestima, a solidariedade e a integridade. Para a construção da
identidade cultural aberta à diversidade os autores afirmam o valor da linguagem:
Falar determinada língua significa abraçar uma dada visão de realidade, pois as línguas diferem não somente nos sinais e fonemas, mas em visões de mundo. Compreender uma cultura é apropriar-se da sua língua. O contato cultural como uma forma de comunicação cultural pressupõe códigos comuns. Num contexto multicultural isso significa aceitar a cultura nativa dos estudantes, bem como desenvolver suas competências linguísticas emergentes, que são pré-condições essenciais para um ensino e aprendizagem significativos. Adquirir competência linguística é um processo longo e difícil, conectado com a translação e reinterpretação de velhos signos culturais de acordo com um novo contexto cultural, com uma aquisição mandatória de novos sentidos culturais (LESTINEN, PETRUCIJOVÁ, SPINTHOURAKIS, 2004, p. 04).
Para que a quarta questão a moderadora fez uma breve explicação sobre
língua estrangeira e segunda língua, para mais bem aclarar a discussão:
136
A LE é a língua que eu utilizo para me comunicar, eu me faço entender e eu entendo o outro, já a L2 é aquela que eu dou um passo a mais, além de eu me comunicar, entender o outro e me fazer entender, eu também tento reflexionar nessa língua e refletir sobre ela. O que foi para você os espanhol depois das aulas, uma língua estrangeira ou uma segunda língua?
A primeira a se pronunciar foi a participante 9, que relatou que para ela o
ensino que teve no decorrer do tempo que estudaram o espanhol foi uma língua
estrangeira partindo para uma segunda língua, pois ficou interessada e quer
aprender mais sobre esse idioma. A participante 2 disse que antes das aulas ela já
gostava e com a aprendizagem ela se firmou mais ainda na apreciação do espanhol
e agora ela quer se aprofundar com estudo em escolas de idiomas e com viagens,
pois deseja ter o espanhol como sua segunda língua. A participante 7 apontou a
questão do tempo, pois, em seu entender, para ser uma segunda língua é
necessário dispor de um período maior de estudo, não somente nas aulas, mas
também em casa e acredita que as aulas de espanhol foram uma escada para se
tornar uma segunda língua. E complementou a ideia de que para o mercado de
trabalho o espanhol já vem sendo um requisito.
A participante 3 relatou que:
Para mim, depois das suas aulas, e depois da viagem, as suas aulas é uma porta para abrir novos horizontes e quando você tem no seu cotidiano, como eu passei com o intercâmbio, já é uma segunda língua, por mais que você pense, meu Deus é mais difícil que o Inglês!!! Eu esqueci quase todo o Inglês que eu tinha aprendido. Agora eu não consigo ficar sem ler, ouvir e falar em espanhol, para mim já é uma segunda língua.
A participante 6 disse que para ela também foi uma LE, e acredita ser muito
mais por causa do tempo e, particularmente no seu caso, de estar prestando as
provas de vestibulares se aproximou mais do Inglês e abandonou o espanhol. Mas
apontou que “Você vai abrindo portas para gente entender melhor da cultura dos
países, como o México, a Espanha e de todos eles. Então você acaba introduzindo
um pouco a segunda língua, mas aí isso acaba ficando mais para a pessoa”.
O participante 1 salientou que :
137
Eu acho que o estudo e a força de vontade, eu estou maravilhado com vocês por terem essa vontade de estudar, eu acho que a força de vontade é importante, mas a prática que é uma viagem, como o amor das pessoas que foram viajar para os países que falam espanhol, impulsiona mais a pessoa a querer o espanhol como segunda língua. Também já tive essa experiência, mas eu acho que eu sou muito familiar e patriota, eu penso que eu preciso me aprofundar mais no português para eu querer me aprofundar em outras línguas, mas também vejo como essencial nos outros idiomas, e também encaro todos os outros como língua estrangeira, inclusive espanhol, provavelmente não pegaria nenhum como segunda língua.
A participante 2 comentou que ela ficou um mês no país do intercâmbio, e
sentiu que depois da segunda e terceira semanas o espanhol acabou se tornando
como uma segunda língua; pois eles (os chilenos) não entendiam o português, então
ela se esforçou a só falar e pensar em espanhol e voltando para o Brasil ela decidiu
que queria falar espanhol. A participante 8 afirmou que para ela o espanhol é uma
LE, pois não tem contato com a língua diariamente.
Com o gosto de pesquisar e buscar sobre o espanhol a participante 5
salientou que:
Considera como língua estrangeira, mas depois das aulas aguçou o interesse por saber mais e isso espero que me leve ao espanhol como segunda língua, pois quando eu tenho um tempo eu estou pesquisando algo sobre o espanhol. Ao voltar para casa, pedalando, eu vou escutando as músicas em espanhol, no celular eu baixei vários aplicativos, e acabou se tornando um hábito diário esse contato com o espanhol. E em casa eu começo a falar com a minha mãe em espanhol e ela não entende nada, mas ai eu explico.
Aproveitando a colocação da participante 5, a moderadora perguntou se eles
levavam, além da língua, o que aprendiam de cultura para além das aulas. O
participante 1 citou a frase: “As Palavras são importante, mas os exemplos
arrastam”, justificando que a gramática é importante, mas é a cultura do espanhol
que realmente marcou. A moderadora interveio instigando-os a retomar o tema da
L2.
O participante 1 ressaltou que: “muitos têm que pensar em uma L2 como
pegar outro país como lar, tem que adotar um outro país”, complementando isso a
participante 2 disse que: “para ter uma L2 tem que adotar cultura desse país, porque
eu quero ter o espanhol”. A participante 9 apontou: “mesmo o Inglês que eu falo bem
eu não considero como segunda língua, para ser sincera eu não me vejo nisso, e
138
quando falamos do Inglês, pensamos em algo genérico, e não relacionado a algum
país específico”.
A participante 8 salientou que: “na realidade não é um costume do brasileiro
aprender uma língua e tentar colocá-la em prática, como quando estudamos idioma
na escola, saímos da aula e esquecemos a língua, e falamos o português e bem mal
ainda”. Essa colocação conduziu a discussão para caracterizar o povo brasileiro, em
que a participante 4 disse ser um povo muito acomodado e o participante 1
concordou, mas acrescentou: “somos um povo muito curioso”. A participante 4, que
se considera uma curiosa, contou sobre uma de suas pesquisas:
Eu pesquisando sobre o rei Nicolau da Rússia e falava Inglês fluente e até o professor da Universidade achava que ele era inglês, pelo domínio que ele tinha, sem falar que ele falava mais três línguas, eu achei isso maravilhoso e me perguntei por que não aprender outros idiomas, eu quero isso para mim.
A discussão voltou-se para o tema do aprendizado de línguas no Brasil.
Houve um consenso de que o custo econômico de aprender um outro idioma ainda é
alto aqui. A participante 9 quis exemplificar contando uma experiência familiar:
Eu tenho uma tia que mora na Alemanha, casada com um alemão e teve uma filha lá, há dezoito anos eles vivem lá e ele não fala português, mesmo vindo todo ano ao Brasil, ela sabe falar: caipirinha e pernilongo. Minha prima na escola ela tem o espanhol e o Inglês, ela sabe português, ela lê, entende, fala mas, não escreve corretamente, e ela achava todo mundo burro na sala dela, porque eles não conseguiam aprender o espanhol e para ela era fácil, porque a lógica é semelhante ao do português. Eles tem que sair da escola falando fluentemente os dois idiomas, no ano passado a sala fez uma viagem de um mês a Londres para estudar o Inglês, a escola proporciona isso, eles ficam um mês imerso na língua, não tem como não aprender.
Os participantes 3, 7, 1 e 2 concordaram que a imersão auxilia e muito o ato
de aprender um outro idioma. A participante 8 salientou que os brasileiros têm ainda
o sonho de ir para fora do país por motivo de vivência ou turismo. O participante 1
salientou também que o brasileiro não é tão aberto:
139
Você vê muitos brasileiros que vai para outros países e procura MacDonald’s para comer e se esquece de provar a comida do país, como um chucrute, mas busca um lugar onde tem arroz, acaba indo em balada, mas ignora os lugares históricos. Ah por favor, entrou no país, conheça, eu sou meio contra isso, vamos comer de tudo e já que está lá visite.
Depois de mais algumas falas gerais, e considerando-se alcançado o objetivo
de coletar os dados, e também com o tempo delimitado para a realização da
atividade esgotando-se, a sessão do grupo focal foi finalizada. A moderadora
agradeceu a participação de todos, pelo envolvimento e a fluidez dos temas
tratados.
3.3. Da análise dos dados
A busca por obter dados recorrendo-se a diferentes instrumentos foi o
percurso escolhido por essa pesquisa, que iniciou-se com os questionários
exploratórios, a observação participante da prática docente e por fim a realização de
um grupo focal. O objetivo foi o de trabalhar com dados a partir de diferentes
perspectivas, vinculando-os às três questões centrais dessa dissertação: o ensino
do espanhol como segunda língua, o multiculturalismo e a educação
Sociocomunitária.
Como o principal instrumento de pesquisa, no caso da pesquisa qualitativa e
participante, é o próprio investigador e sua relação com os sujeitos, teve-se o
cuidado em retratar os dados da forma mais próxima possível do ocorrido, mas sem
se esquecer da constante subjetividade, inerente à pesquisa qualitativa. Segundo
Flick (2005, p.6):
Ao contrário da investigação quantitativa, os métodos qualitativos encaram a interacção do investigador com o campo e os seus membros como parte explícita da produção do saber, em lugar de a excluírem a todo o custo, como variável interveniente. A subjectividade do investigador e dos sujeitos
estudados faz parte do processo de investigação.
140
A interação dos sujeitos da pesquisa entre si e com a pesquisadora foi crucial
para as observações realizadas no grupo focal e também nas aulas, sendo que os
alunos acolheram bem as variadas atividades e dinâmicas didáticas propostas pela
docente, ao longo de todo o trabalho investigativo.
O cruzamento dos dados, num panorama geral, reafirma a ideia de que é por
meio dos diversos aspectos culturais que os aprendentes, além de terem o primeiro
contato com o idioma, são também convidados a se abrirem para o novo. A partir já
do momento que compreendem um dos muitos porquês dessa língua multicultural,
que se mostra o espanhol, não somente pelos diversos países que o têm como
idioma oficial, mas igualmente pelas mesclas culturais em que se estruturou,
historicamente, essa língua.
Pode-se considerar, pelas ideias, sentimentos e concepções dos alunos, que
o ensino do idioma por meio da cultura foi o que os aprendentes mais “levaram
consigo” para seus contextos de vida. Como a participante 5 do Grupo Focal, bem
como a aluna ouvida na observação das aulas, relataram que o aprendizado das
aulas era levado para casa e “retransmitido” aos seus, ou seja, integrava-se ao
cotidiano.
Entendemos aqui que esse é um sentido que pode ser atribuído a uma
educação multicultural, em que o estudante na realidade é o fio condutor dos
aspectos culturais de outras realidades, suas respectivas histórias, tradições e
curiosidades, sem reduzi-las a um “panfleto turístico”, mas acompanhando o
pensamento de Geertz de que “Compreender a cultura de um povo expõe a sua
normalidade sem reduzir sua particularidade” (GEERTZ, 1989, p. 11). Ideia que
também conduz à Educação Sociocomunitária, pois como encontrado em La Belle e
Ward (1994, p. 69)
A estabilidade e a sobrevivência a longo prazo de uma sociedade diversa cultural e socialmente necessita de uma estreita relação de trabalho em e entre as instituições, incluindo famílias, comunidades e escolas. Dessa forma, aqueles de nós interessados em multiculturalismo e educação precisam estar preocupados com como essas instituições se relacionam umas às outras e como servem aos estudantes aí envolvidos.
Considera-se que o enfoque multicultural foi apropriado pelos alunos, pelo que
pode ser depreendido dos dados, porque houve um ativo envolvimento dos sujeitos
141
na estruturação do conhecimento, reforçando o conceito freireano (2002, p. 52) de
que “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua
própria produção ou a sua construção”. Construção essa que se dá dentro e fora da
sala de aula, na presença ou não do professor.
Como exemplo dessa produção de conhecimento pensada para o ambiente
de trabalho, como trata a segunda questão do questionário exploratório 1, quando os
aprendentes foram indagados do porquê estudar o espanhol, a maioria dos
entrevistados apontou com enfoque o mercado de trabalho. Sem se esquecer que o
curso lecionado é técnico, a preocupação em também seguir o plano de aula e como
o espanhol estará inserido no ambiente laboral, a visita ao restaurante argentino “La
Boca” pelos alunos resultou no contato e na vivência de uma realidade de um
atendimento, da explicação dos pratos e da história do local, tudo realizado em
espanhol pelo dono do estabelecimento. O que mostra que mesmo num contexto
não particularmente favorável a um ensino mais humanista, como é o caso do curso
em questão, é possível fazer mais e também fazer o sujeito “ser mais”.
Na concepção da docente, de sua vivência como aluna e professora, o fato do
professor mostrar-se aberto a outras culturas, e valorizá-las em suas
especificidades, foi um elemento facilitador dos trabalhos. Em acordo com Rios
(2010, p.60):
A ampliação da ideia de conteúdos, que não se restringem apenas aos conceitos, mas englobam comportamentos e atitudes, aponta no sentido de se afastar de uma concepção de ensino marcada por uma valorização hipertrofiada da razão, como instrumento superior de construção de conhecimento.
A construção de conhecimento proposta por essa pesquisa é também
conduzir o alunado à autonomia, para ir além do proposta na disciplina, transformar
a aprendizagem em parte integrante da vida dos sujeitos. Isso foi possível de se
verificar na fala da participante 5 do Grupo Focal, quando menciona que o espanhol
faz parte da sua rotina diária, por meio das pesquisas que realiza, dos aplicativos
baixados no celular e das músicas que escuta. Também foi perceptível com o
142
questionário15 demográfico aplicado no Grupo Focal, de que apenas uma pessoa,
das nove que participaram, não continua estudando a língua.
Bissoto (2012, p. 94) aponta que “educar para a autonomia significa
desenvolver um sentido de agência, ou a percepção individual de que se está no
centro – na origem – das próprias ações”. O ensino de espanhol como L2 tenta
exatamente fazer com que o aprendente se sinta responsável pela sua educação e
assuma uma posição mais ativa no processo de ensino e aprendizagem.
Ambas as intercambistas salientaram que depois da experiência que tiveram
nos respectivos países de intercâmbio, não conseguem mais deixar de
continuamente estudar a língua, conforme os relatos das participantes 2 e 3 no
Grupo Focal. Esse contato resultou numa mudança de visão de mundo, presente na
fala da participante 3, que apontou não ser mais a mesma que embarcou para o
Chile. A mudança de mirada que a estudante obteve com a imersão é a também
desejada nas aulas de espanhol, quando as culturas são postas em confronto, como
na aula de Día de muertos.
Uma celebração mexicana que pelos relatos dos participantes 2, 6 e 9,
impactou suas vidas, como a citada pela participante 6, quando apontou que essa
aula levou-a refletir sobre essa festividade aqui no Brasil e como ela lidava com a
temática: morte. A mesma afirmou que houve uma mudança de visão de mundo
sobre a outra cultura e sobre a própria. Um dos objetivos dessa pesquisa foi
exatamente esse, conduzir o aprendente ao alargamento da visão de mundo; o que
para Durán (2004) está relacionado com valores, emoções, situações, estado de
espírito, entre outros aspectos mediados pela linguagem.
Quando a aula dedicada ao Día de Muertos, aconteceu, foi perceptível o
descortinamento de uma nova forma de lidar com a temática da morte e a
celebração do próprio ente falecido, como o relatado por algumas alunas que
encontraram uma beleza e admiração na maneira como a celebração é conduzida
no México e demonstraram interesse em pesquisar sobre como os nossos indígenas
realizavam tais rituais. O questionário exploratório 316 sobre esse tema trouxe
respostas permeadas com as palavras: tristeza, dor da perda, passagem, ausência e
15 Questionário consta no apêndice IV. 16 Conforme consta no apêndice III.
143
saudade, houve também a presença da influência religiosa nas respostas dos
entrevistados, pois o ser-humano é moldado pela cultura, que envolve também suas
crenças.
O convite à reflexão trazida pela professora sobre a celebração ser um
exemplo de resistência dos povos indígenas à cultura espanhola, apresentou a visão
de um povo que enfrentou a imposição dos colonizadores de forma a preservar uma
tradição que perdura até os dias de hoje; não em todo o território mexicano, mas em
algumas regiões. No cerne de sua significação também é perceptível a celebração,
não somente do día de muertos, mas também dessa resistência. Tal reflexão tem
por objetivo incentivar os aprendentes a se despirem de qualquer forma de
discriminação, preconceito ou exclusão à cultura estudada. Isso envolve
Conceber, enfim, o multiculturalismo numa perspectiva crítica e de resistência pode contribuir para desencadear e fortalecer ações articuladas a uma prática social cotidiana em defesa da diversidade cultural, da vida humana, acima de qualquer forma discriminatória, preconceituosa ou excludente (SILVA e BRANDIM, 2008, p. 64).
A atenção à subjetividade das respostas é uma forma de melhor compreender
o ser humano como um todo, e não em partes fragmentadas e desconexas. Com o
intuito de, ao entendê-lo, favorecer também a ele esse próprio conhecimento e,
assim, aquele relacionado à cultura do outro.
Como no relato da participante 2 do Grupo Focal, quando mencionou suas
experiências em terras chilenas e, principalmente, o contato com o povo. Ela
salientou que foi impactante quando percebeu o quanto patriota eles são, em seu
entendimento, por quererem contar a história do país, as tradições, o feriado que
teve a oportunidade de vivenciar e as comidas que a faziam provar. Tudo isso
causou uma reflexão sobre o conhecimento do próprio país, uma vez que eles
indagavam sobre a história do Brasil e ela não sabia responder. Cabe frisar
novamente a questão da identidade: é só na confirmação da diferença em relação
ao outro que me apercebo da construção da minha identidade cultural.
Desse modo, as diferenças globais e internas dos saberes vem ao encontro
da discussão trazida pela participante, que vivenciou a experiência de intercâmbio,
pois a pessoa que se abre para conhecer o outro e o respeita, se dispõe a estar
prenhe da cultura do diferente, como aponta Santos (1997, p.40): “Imbuidas en
144
diferentes culturas occidentales y no-occidentales, esas experiencias usan no sólo
diferentes lenguas sino también diferentes categorías, universos simbólicos, y
aspiraciones para una vida mejor”.
O tema do “por um vida melhor” desencadeou um longo tempo de discussão
no Grupo Focal, para debater o perfil dos povos hispanos e dos brasileiros. Que
mesmo de forma crítica em relação à falta de conhecimento do próprio país,
apontado como principal motivo da falta de patriotismo e também desconhecimento
da língua portuguesa, foi defendido pelo participante 1, com o argumento de que o
país é extenso e relacionado aos países vizinhos, que falam espanhol. Percebeu-se
muitas críticas, mas pouco foi o tempo gasto na sugestão de “soluções”, em o que
realmente é possível fazer para mudar esse cenário? Mas como fazê-lo se uma das
integrantes apontou que os brasileiros, em sua história, pouco sofreram... isso
simplesmente demonstra o desconhecimento da própria história.
A comparação é saudável quando caminha para um respeito à cultura de
outrem e induz a soluções sobre as críticas apontadas, tendo por foco a admiração e
o ato de aprender com o outro e não o preconceito. Há uma pujante necessidade de
preparar os estudantes para viver em uma sociedade multiétnica de forma a
reconhecer o outro em suas diferenças e semelhanças (SLEETER, GRANT, 1987).
A questão da sonoridade da língua espanhola, apresentada pela participante
6, no Grupo Focal, foi o que mais chamou sua atenção para o aprendizado; mas foi
referido pelos outros alunos também, em vários dos momentos das aulas. O aspecto
fonético do espanhol é diversificado por regiões, não necessariamente por países,
mas perímetros que englobam alguns fenômenos linguísticos. Nas primeiras aulas,
como relatado, os aprendentes têm contato com as distintas pronúncias trazidas por
meio de vídeos. A preocupação da docente não é apenas dar-lhes opções da
fonética do espanhol, mas apresentar-lhes que mesmo sendo um mesmo idioma, o
passado de cada região compõem suas respectivas culturas e também reflete na
fala, na escolha vocabular e nas mesclas ocorridas.
Convida-se, assim, os alunos a refletirem sobre o próprio idioma, pois o Brasil
é extenso em seu território, sofreu colonização de mais de um país, e tem um
passado que também se reflete na fala, na escolha vocabular e nas mesclas
ocorridas. Mas mesmo trazendo essa reflexão para as aulas, muitos aprendentes
145
insistem em apontar que o brasileiro fala mal o próprio idioma, não tem patriotismo e
nem se importa com sua história, como foi apontado por diversas vezes durante a
realização do Grupo Focal e também nas respostas de dois alunos do questionário
exploratório 1 sobre a caracterização do povo brasileiro.
A mentalidade europeizada mostrou-se uma das barreiras mais difíceis de se
transpor, ao buscar-se, com as aulas, a valorização da cultura latino-americana.
Como evidenciado no questionário exploratório 1, em que a maioria das pessoas
indicou a Espanha como foco de estudo da língua, justificando que lá se encontra “o
espanhol puro” e correto. A seguir essa lógica, o português correto está em
Portugal? Então o qual é o idioma do Brasil? Bagno (1999, p.30), aponta que o
brasileiro tem um preconceito cristalizado do próprio idioma e de outrem:
É curioso como muitos brasileiros assumem esse mesmo preconceito negativo também em relação a outras línguas, defendendo sempre a língua da metrópole contra a língua da ex-colônia. É o nosso eterno trauma de inferioridade, nosso desejo de nos aproximarmos, o máximo possível, do cultuado padrão “ideal”, que é a Europa.
Ainda o pensamento colonial é uma voz que insiste em ecoar na sociedade
atual, lançando as pessoas a um estado de alienação preocupante. De forma que os
princípios de humanidade, incluindo aqueles de equanimidade e justiça social,
podem ficar comprometidos, pois os moldes das exclusões radicais, que ocorreram
no período de dominação, prevalecem até hoje, (SANTOS, 2014, p.20).
Na tentativa de levar os aprendentes a enxergarem por outras lentes a cultua
latina, foram propostos diversas atividades, como a apresentação musical, a
filmagem de um vídeo e aquela das comidas típicas, como já foi tratado dentro das
práticas docentes. A participante 8 comentou no Grupo Focal sobre a atividade de
apresentação da música e, para isso, o treino, e consecutivamente, os familiares
também foram atingidos por esse trabalho, já que a participante disse que “cantava
em todos os cômodos da casa”. A música ajuda muito o desenvolvimento na
pronúncia, entonação e compreensão auditiva, além do ato de cantar ser divertido,
segundo Murphey (1992).
As dinâmicas propostas tiveram a intenção de aproximar cada vez mais os
estudantes da língua espanhola, com o intuito de que ela se torne uma L2, e para
146
isso, a última questão aplicada ao grupo focal foi crucial para essa pesquisa. As
respostas contribuíram para melhor entender o objetivo da concepção da L2 na
prática docente, o impacto decorrente desse processo de ensino e aprendizagem e
como os aprendentes encaram o espanhol.
Dentre as nove pessoas participantes no Grupo Focal, oito afirmaram que o
espanhol para eles era uma língua estrangeira, justificando o período estudado e o
tempo dispensado por eles fora do ambiente escolar para esse aprendizado, como
também a necessidade de se aprofundar mais na língua materna. A participante 3
considerou o espanhol como sua L2, pois a língua já faz parte do seu cotidiano.
Mesmo com o resultado “negativo” para a L2, outras colocações, como
aquelas dos participante 2, 3, 5, 7 e 9, indicam que as aulas foram uma porta que
abre para novos horizontes da língua, uma “escada” que pode conduzir à L2, e que
a partir das aulas querem dar continuidade ao estudo. De fato, como mencionado
pela participante 7, há a questão do pouco tempo do estudo do idioma, não
suficiente para uma apropriação mais “íntima” do mesmo.
A viagem é outro fator que impulsiona a pessoa a ter uma segunda língua,
pois quando se vivencia a cultura dos outros países isso conduz o sujeito a uma
compreensão maior do idioma e do seu uso.
O sentimento de “empolgação” com o idioma, que a docente tenta passar para
os alunos, é visto por essa como parte do papel do professor, aquele de encantar,
sem que isso signifique “cegar” o aluno em relação ao seu próprio caminhar, ou à
sua criticidade. Porém, antes de poder proceder o aluno a entusiasmar-se com o
idioma, é necessário que o próprio docente se encontre no cenário de transformação
proposto, de estimular a algo que poderá ser significativo nas vidas dos alunos, e
demonstre isso em sala de aula. O ato de ensinar, para além de encantar, induz o
aprendente ao caminho da autonomia. Coelho (1996, p.39) complementa que:
147
Mais do que exercer uma perícia técnica específica, (ensinar) é necessariamente convidar os jovens à reflexão, ajudá-los a pensar o mundo físico e social, as práticas e saberes específicos, com o rigor e a profundidade compatíveis com o momento em que vivem. Ensinar é Ajudá-los a adquirir um hábito de trabalho intelectual, a virtus, a força para buscarem a verdade e a justiça, para se rebelarem contra o instruído, para estarem sempre insatisfeitos com as explicações que encontram, com a sociedade na qual vivem, com a realidade que enfrentam no mundo do trabalho. E isto o docente não conseguirá fazer se ele próprio não assumir o trabalho intelectual, a superação da realidade que temos e a construção do novo como uma dimensão de sua existência.
Estar insatisfeito com determinadas explicações e buscar uma transformação
de si e do entorno faz parte de uma educação pensada socialmente, de forma que a
educação sociocomunitária vem ao encontro da formação desses aprendentes,
autônomos, buscando o bem estar e o pensar coletivo, numa perspectiva menos
egocêntrica fruto da sociedade atual.
A colaboração entre todos os envolvidos no processo de ensino e
aprendizagem representa exatamente o elo entre transmissão dos valores humanos
universais e fundamentais, que disponibiliza a acessibilidade com o contato dos
aprendentes com suas raízes histórico-culturais, como afirma Azevedo (2010, p.1)
“pertença de partida que ancora qualquer viagem cultural de qualquer ser humano
sobre a Terra”. Essa é a busca nas aulas de língua espanhola atrelada à cultura dos
países hispanos, que tem por tentativa envolver a todos num constante movimento
de interação e respeito à história do outro e à própria.
O mesmo autor (2010), aponta dois aspectos principais para uma ação
educativa sociocomunitária, a ação de educar e a proposição de dinâmicas
socioeducativas comunitárias. Em relação à ação de educar Azevedo afirma a
necessidade de ser reconhecida, numa atuação de perscrutação constante do
educador, para conhecer mais a história das vidas envolvidas num processo
educativo, proporcionando um ambiente favorável ao confronto e ao diálogo entre os
sujeitos, o estímulo a continuar a envolverem-se no processo de ensino e
aprendizagem, como também objetivando seu reconhecimento como sujeitos dentro
de um ambiente de ensino-aprendizagem que o autor só percebe como fazendo
sentido se entendido como sociocomunitário, pois não se ensina uma “cabeça”, mas
o sujeito como um todo, fruto das relações sociais instauradas no cotidiano vivido.
Isso foi o almejado no ensino de espanhol como aqui proposto, que os horizontes
148
culturais dos alunos se ampliassem, abarcando a própria cultura e suas
circunstancialidades.
Quando múltiplas culturas são partilhadas no ambiente educacional, busca-se
apresentar uma visão positiva sobre o outro, resgatando a rica diversidade da
humanidade, de forma a conduzi-los ao respeito a tudo que difere daquilo que até
então era desconhecido e/ou visto como diferente. Transformando o processo de
aprendizagem em algo significativo, pois modificador das perspectivas de
compreensão da realidade.
Quanto às dinâmicas socioeducativas comunitárias se destacam aquelas
aprendidas em sala de aula, que depois são levadas ao âmbito social, no qual o
aprendente convive; que podem ou não dar continuidade à exploração do novo
conhecimento. Que nem sempre é novo, mas pode estar esquecido, ou se
assemelhar a outros costumes e crenças, e o relembrar ou o exercício de
assemelhar pode resultar em uma reflexão, por parte do sujeito sobre o outro, a
cultura e a si mesmo.
Como um dos aspectos do multiculturalismo é o respeito ao outro e sua
cultura, Azevedo (2010, p. 1) afirma que: “Sem reconhecimento não há respeito pelo
diferente nem desenvolvimento social sustentável”. Com uma proposta de ensino de
uma segunda língua, que busca a estruturação de uma educação principalmente
voltada para a compreensão da vida, transitando em diversos contextos, não só da
língua e da cultura, mas também da sociedade como um todo, acredita-se que
esteja-se a perseguir o colocado pelo autor. Em síntese, Azevedo (2010, p. 1)
aponta que:
A educação de cada um e de todos, ao longo de toda a vida e com a vida, só é possível no quadro destas dinâmicas sociocomunitárias fundadas, em síntese, no encontro, no reconhecimento, na cooperação e no compromisso pessoal e social.
Em relação à educação sociocomunitária é o da cooperação, que surge, na
continuação dos passos anteriores, rumo à construção ou reconstrução das redes
interinstitucionais e interprofissinais, que privilegiem os compromissos sociais
concretos com objetivo do desenvolvimento humano e social.
149
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo desta pesquisa procurou-se trazer algumas abordagens que
auxiliaram na discussão do aprendizado do espanhol como segunda língua,
pensado a partir da educação Sociocomunitária e do multiculturalismo. A pesquisa
qualitativa foi empregada para a construção/coleta e análise dos dados, com intuito
de verificar as expectativas e hipóteses levantadas no início dessa dissertação.
Um dos objetivos tratados foi indagar se o ensino do espanhol, tendo por
princípios o conhecimento, a reflexão e o exercício sobre a cultura dos países
hispano falantes, poderia impulsionar também a reflexão na L1, de forma a
sensibilizar os aprendentes à emersão de “outras lentes” para sua própria realidade.
Pensando-se que, dessa forma, se abrem vias para transformá-la e transformar-se.
Consideramos que o estudo dos dados aqui apresentados indica que sim, ainda que
para alguns sujeitos de forma mais profunda, e para outros mais incipientemente,
houve a sensibilização para tanto. A história de vida dos sujeitos, suas
oportunidades de viagens de estudos e/ou turísticas, foram diferenciais para a forma
como os estudantes se desenvolveram, nesse aspecto. O foco didático no
multiculturalismo, entendido esse como uma abertura para pensar a diversidade de
possibilidades de ser, existentes nas muitas culturas humanas, mostrou-se, assim,
promissor para a promoção de outras compreensões de mundo.
Com a busca por entender o entorno cultural fica mais fácil compreender o ser
com quem se dialoga e as condições de poder também impostas nessa relação.
Contudo, acompanhando o pensamento de Ortega y Gasset (1983, p.118), de que
“La cultura adquirida sólo tiene valor como instrumento y arma de nuevas
conquistas”, ponderamos também que para alcançar resultados mais profundos na
“mudança de lentes conceituais”, visando a apreciação e a valoração da diversidade,
o trabalho didático desenvolvido poderia ter sido mais centrado na discussão das
desigualdades existentes entre as sociedades europeias e latino-americanas, bem
como das diferenças existentes nos diversos grupos sociais dessas sociedades.
Uma mirada mais próxima das ações cotidianas, o debate da temática da imigração
de pessoas da América do Sul, principalmente da Bolívia, que é crescente na cidade
onde foi feita a pesquisa, um envolvimento mais amplo da comunidade escolar para
150
a sensibilização para o multiculturalismo, podem ser, nos desdobramentos dessa
investigação, postas em prática.
Isso reforçará o princípio de que a aprendizagem de um novo idioma, quando
conjugado à educação multicultural, não significa, como superficialmente possa
parecer, que se encare o aluno como um potencial turista. O pensamento está em
prepará-lo para viver em um mundo que necessita do acolhimento das diferenças,
de discuti-las e com elas traçar novas compreensões da vida. Com enfoque do
trabalho docente direcionado a propiciar ao aprendente condições cognitivas, sociais
e afetivas para visualizar a cultura como uma lente para enxergar não somente as
próprias questões sintáticas e semânticas da sua língua e daquela estrangeira, mas
também de discutir as relações de poder, presentes na língua e na cultura, à qual
essa se interliga.
A língua espanhola, por exemplo, remete diretamente ao processo/projeto
civilizador europeu, numa estreita relação com o ocorrido entre Portugal e o Brasil.
Debater a questão do “espanhol puro”, durante as aulas, e valorizar a cultura latina,
colaborou para a reflexão sobre tais relações de poder e sobre o próprio processo
de constituição do português.
Em relação à Educação Sociocomunitária, não é possível pensar-se numa
educação com foco no multiculturalismo, que promova a abertura a outras
concepções de mundo e a valoração da diversidade, restrita às paredes da sala de
aula. Dentro dos limites possíveis da organização e do currículo da instituição
escolar, bem daquela das condições de vida e trabalho dos alunos, enfatizou-se o
extrapolar das atividades para a vida além da escola. O multiculturalismo é
dependente dessas pontes, pois nenhuma escola sozinha será capaz de promover a
educação de uma sociedade plural. Embora seja inegável a participação que escola,
família e comunidade têm na conformação das sociedades, nos parece em vão
entendê-las em separado. É preciso, contrariamente, reconhecer o estreito
entrosamento entre essas esferas da vida social e a sua dinâmica. E para tanto é
necessário ouvir os sujeitos, ouvir as instituições, fazer pontes com as famílias. O
que já é, na verdade, um exercício de multiculturalidade.
Outro resultado desse estudo é também o de que na adição às definições
existentes de segunda língua e língua estrangeira, deve-se considerar a atribuição
151
cultural e subjetiva que as pessoas fazem a respeito da sua intimidade com o
idioma. Ou seja, se a proximidade da língua e da cultura é tão significativa como
mostra o estudo, então somente o próprio sujeito é que poderia dizer se o idioma por
ele conhecido seria L2 ou LE.
O mesmo paralelo poderia ser feito com o idioma pátrio, a L1, que para
muitas pessoas, tomando-se por base o abismo existente entre o idioma falado, por
exemplo, nas periferias, e aquele ensinado nas salas de aula, o “português correto”,
poderia significar que o “português da escola” seria uma LE, caso o sujeito não
consiga estabelecer uma relação de proximidade com a língua e com aspectos
culturais imanentes à essa, em sua vertente “culta”.
O estudo bibliográfico, a busca por conhecer melhor os aprendentes, por meio
dos questionários e conversas, escutando-os no grupo focal e fazendo a análise da
própria prática, descortinaram uma outra maneira de ver e encarar a realidade do
processo de ensino e aprendizagem da língua espanhola, pela docente. Que ao
finalizar essa pesquisa reafirmou antigas crenças, como a importância da cultura no
processo de ensino do espanhol, bem como modificou seu pensamento quando
percebeu que o processo de ensino e aprendizagem é dinâmico, vivo e interativo e
que por meio de aulas mais participativas, entendendo-se participação como dividir o
controle sobre as situações de aprendizagem com os alunos, levaram o aluno a um
envolvimento maior com a disciplina e um aprendizado que pode se tornar mais
expressivo; levando o sujeito ao interesse e à busca da língua espanhola como
segunda língua. Enfim, foi um caminho de construção e desconstrução de
paradigmas, talvez o mais significativo sendo aquele de como o ensino de um
idioma pode ser um meio para o desenvolvimento político dos participantes, no
sentido de reflexão sobre a sua própria historicidade, bem como aquela de outras
culturas, e da relevância de tratar-se a educação, hoje, pela perspectiva da
apreciação e da discussão da diversidade, num enfoque multicultural e voltado para
a comunidade.
152
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170
APÊNDICES
Os documentos que constam em apêndice são elaborações dos
questionários exploratórios e da tabela demográfica, integrante desta
pesquisa.
171
APÊNDICE I – Questionário exploratório 1
(aplicado ao primeiro semestre do curso de Secretariado e segundo semestre do
curso de Eventos)
1 - Antes de começar a estudar, que contatos você teve com a língua espanhola?
( ) viagens
( ) Profissional
( ) Familiar
( ) Leitura
( ) Cinema/televisão/música
( ) escola de idiomas/ensino médio
Outros:______________________________________________________________
2 - Qual a importância de estudar uma segunda língua, considerando essa como
sendo o espanhol?
___________________________________________________________________
3 - Se tivesse que escolher um país para ir estudar espanhol, para onde iria?
___________________________________________________________________
4 - Por quê?
___________________________________________________________________
5- O que você conhece sobre a cultura de países que falam espanhol?
___________________________________________________________________
6 - Formule, de maneira resumida, o que mais lhe chama atenção e a opinião que
você tem sobre as seguintes nações, cultura ou tradições que você conhece, tem
contato ou já ouviu dizer algo sobre os:
Espanhóis:___________________________________________________________
Peruanos:___________________________________________________________
Mexicanos:__________________________________________________________
Brasileiros:___________________________________________________________
172
APÊNDICE II - Questionário exploratório 2
(aplicado ao segundo semestre do curso de Secretariado)
1 - O que você entende por morte?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
2 - Como nossa sociedade lida com a morte?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
3 - Qual é o sentido da morte para você?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
4 - O sinônimo de morte é_________________________________________
5 - A morte deve ser celebrada?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
173
APÊNDICE III - Questionário exploratório 3
(aplicado ao terceiro semestre do curso de Eventos)
1 - Na sua concepção a gastronomia faz parte da cultura de um povo? Como?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
2 - Você conhece algum prato típico de países hispano falantes? Quais?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
3 - Qual é o prato típico do Brasil?
___________________________________________________________________
4 - Conhece sua história? ( ) não ( ) sim [Conte brevemente ]
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
5 - Conhece ou já ouviu falar sobre alguns desses alimentos e bebidas? Se sim,
indique com um X e escreva o país que pertence.
Sangria ( ) _______________
Tequila ( ) _______________
Pisco ( ) _______________
Ceviche ( ) _______________
Paella ( ) _______________
Guacamole ( ) _____________
175
APÊNDICE IV - Questionário exploratório 4
(aplicado ao grupo focal)
Dados pessoais:
Nome: _________________________________________________________
Idade:____________ Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
Escolaridade:
Segundo grau ( ) Completo ( ) Incompleto
Técnico ( ) Completo ( ) Incompleto
Ensino Superior ( ) Completo ( ) Incompleto
Pós-graduação ( ) Completo ( ) Incompleto
Contato com o espanhol antes das aulas na ETEC:
( ) Viagens
( ) Ambiente de trabalho
( ) Ambiente Familiar
( ) Leitura
( ) Cinema/televisão/música
( ) Escola de idiomas
( ) Ensino médio
( ) Outros:_____________
Faz uso do espanhol no ambiente de trabalho? ( ) sim ( ) não
Se sim, em quais modalidades: ( ) escrita ( ) conversação ( ) audição
Continua estudando espanhol, mesmo que seja individualmente: lendo,
tentando ouvir ou se comunicando com pessoas? ( ) sim ( ) não