O ASPECTO VERBAL NA PERÍFRASE “SER’ DE VOZ PASSIVA NA LÍNGUA ORAL CULTA DA CIDADE DE SÃO...

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23/11/2015 O ASPECTO VERBAL NA PERÍFRASE SER DE VOZ PASSIVA NA LÍNGUA ORAL CULTA DA CIDADE DE SÃO PAULO http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/volumes/32/htm/comunica/ci163.htm 1/4 O ASPECTO VERBAL NA PERÍFRASE “SER’ DE VOZ PASSIVA NA LÍNGUA ORAL CULTA DA CIDADE DE SÃO PAULO Maria de Lourdes LIMA (PG USP São Paulo CNPq) ABSTRACT: This paper informs the partial study about the verbal aspect of the periphrasis ‘ser’ in the passive voice on oral educated speech of the city of São Paulo. KEY WORDS: spoken language; descriptive and quantitative analysis; agent of passive voice; adverbial adjuncts; verbal aspect 0. Introdução Desde o final da década de 60, pesquisadores de diversas gerações vêm questionando a aplicação das noções da categoria verbal ‘aspecto’ no ensino da língua portuguesa. Entre eles, podemos citar Castilho (1968), cujo trabalho é pioneiro no Brasil e serviu de base para estudos como os de Travaglia (1981), Costa (1986; 1990) e demais pesquisas acadêmicas. Convém lembrar que, embora eles tenham chegado a resultados diferentes, a partir de uma argumentação empírica e conceptual, conseguiram com habilidade expor seu quadro teórico. As indagações desses e de outros autores utilizados em nossa pesquisa, constatam e validam a contribuição em fazermos uma análise descritiva da perífrase verbal em questão nas construções passivas do português falado. Nestas condições, esta comunicação tem como objetivo apresentar resultados parciais do projeto de pesquisa “O aspecto verbal na perífrase ‘ser’ de voz passiva na língua oral culta da cidade de São Paulo”. Com base na tipologia do aspecto de Travaglia (1981), será feita uma análise descritiva e quantitativa de estruturas passivas constituídas desta perífrase. Além disso, será verificada a presença dos adjuntos adverbiais, do agente da passiva ou a omissão de ambos nas sentenças declarativas (afirmativas e negativas). Para tanto, dentre os nove inquéritos utilizados na pesquisa, selecionamos um corpus de língua oral, o inquérito nº 18, Inf. nº 23 (31 anos, 1ª faixa etária), que corresponde a uma entrevista do Projeto NURC/SP DID (diálogo entre informante e documentador). 1. Fundamentação Teórica A literatura vigente sobre a categoria verbal ‘aspecto’ do português apresenta tipologias diferentes. Apesar de chegarem a resultados bastante diversos tanto no que se refere ao quadro aspectual proposto, quanto no que diz respeito à interpretação de certos fatos, Castilho, Travaglia e Costa chegaram a um consenso, pois eles relacionam como meio de expressão do aspecto o semantema do verbo, os adjuntos adverbiais, os afixos (prefixos, sufixos), a flexão temporal, certos tipos oracionais, a repetição do verbo. Travaglia acrescenta ainda que o aspecto será expresso pela ênfase entonacional, pelas preposições, pelo complemento e o sujeito do verbo. Castilho, por sua vez, concluiu que o aspecto na língua portuguesa é melhor representado pelo sentido próprio do verbo, pela flexão temporal, pelos adjuntos adverbiais e pelos tipos oracionais. Por isso, afirma que o aspecto é uma categoria léxicosintática. O autor acrescenta ainda que a duração expressa pela perífrase pode vir ampliada ou restrita, de acordo com o adjunto adverbial que a acompanha. Quanto à natureza dos adjuntos adverbiais que exprimem aspecto, o autor encontrou na sua pesquisa, em sua totalidade, adjuntos adverbiais que indicavam sempre tempo (extenso, graduado, subitaneidade, repetição). É interessante lembrar que, para Travaglia, dentre os vários adjuntos adverbiais que colaboram na expressão do aspecto em português, predominam quase sempre os de freqüência e de tempo. Ele observou que esses adjuntos adverbiais exercem uma de três funções: evitar ambigüidades; marcar o aspecto por si ou em combinação com outro elemento; reforçar um aspecto expresso por outro elemento, tornandoo mais patente. A maioria dessas observações são também idéias defendidas por Castilho. Costa (1990: 8088) denomina de “circunstanciais temporais” os tradicionais advérbios e locuções adverbiais, conjunções e formulações oracionais que, “configurandose como possibilidades de expressar o tempo físico, merecem análise quanto ao seu possível conteúdo aspectual” (p. 80). A autora definiu aspecto como sendo a “categoria lingüística que marca a referência ou não à estrutura temporal interna de uma fato” (1990: 38), a qual apresenta duas possibilidades: perfectivo e imperfectivo. Este último foi subdividido em imperfectivo (em curso, de fase inicial, de fase intermediária, de fase final e resultativo). Ainda, segundo

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23/11/2015 O ASPECTO VERBAL NA PERÍFRASE SER DE VOZ PASSIVA NA LÍNGUA ORAL CULTA DA CIDADE DE SÃO PAULO

http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/volumes/32/htm/comunica/ci163.htm 1/4

O ASPECTO VERBAL NA PERÍFRASE “SER’ DE VOZ PASSIVA NA LÍNGUA ORAL CULTA DA

CIDADE DE SÃO PAULO

Maria de Lourdes LIMA (PG ­ USP ­ São Paulo ­ CNPq) ABSTRACT: This paper informs the partial study about the verbal aspect of the periphrasis ‘ser’ in the passive voiceon oral educated speech of the city of São Paulo. KEY WORDS: spoken language; descriptive and quantitative analysis; agent of passive voice; adverbial adjuncts;verbal aspect 0. Introdução

Desde o final da década de 60, pesquisadores de diversas gerações vêm questionando a aplicação das noções da

categoria verbal ‘aspecto’ no ensino da língua portuguesa. Entre eles, podemos citar Castilho (1968), cujo trabalho épioneiro no Brasil e serviu de base para estudos como os de Travaglia (1981), Costa (1986; 1990) e demais pesquisasacadêmicas.

Convém lembrar que, embora eles tenham chegado a resultados diferentes, a partir de uma argumentaçãoempírica e conceptual, conseguiram com habilidade expor seu quadro teórico.

As indagações desses e de outros autores utilizados em nossa pesquisa, constatam e validam a contribuição emfazermos uma análise descritiva da perífrase verbal em questão nas construções passivas do português falado. Nestascondições, esta comunicação tem como objetivo apresentar resultados parciais do projeto de pesquisa “O aspecto verbalna perífrase ‘ser’ de voz passiva na língua oral culta da cidade de São Paulo”. Com base na tipologia do aspecto deTravaglia (1981), será feita uma análise descritiva e quantitativa de estruturas passivas constituídas desta perífrase. Alémdisso, será verificada a presença dos adjuntos adverbiais, do agente da passiva ou a omissão de ambos nas sentençasdeclarativas (afirmativas e negativas). Para tanto, dentre os nove inquéritos utilizados na pesquisa, selecionamos umcorpus de língua oral, o inquérito nº 18, Inf. nº 23 (31 anos, 1ª faixa etária), que corresponde a uma entrevista do ProjetoNURC/SP ­ DID (diálogo entre informante e documentador).

1. Fundamentação Teórica A literatura vigente sobre a categoria verbal ‘aspecto’ do português apresenta tipologias diferentes. Apesar de

chegarem a resultados bastante diversos tanto no que se refere ao quadro aspectual proposto, quanto no que diz respeito àinterpretação de certos fatos, Castilho, Travaglia e Costa chegaram a um consenso, pois eles relacionam como meio deexpressão do aspecto o semantema do verbo, os adjuntos adverbiais, os afixos (prefixos, sufixos), a flexão temporal, certostipos oracionais, a repetição do verbo. Travaglia acrescenta ainda que o aspecto será expresso pela ênfase entonacional,pelas preposições, pelo complemento e o sujeito do verbo.

Castilho, por sua vez, concluiu que o aspecto na língua portuguesa é melhor representado pelo sentido própriodo verbo, pela flexão temporal, pelos adjuntos adverbiais e pelos tipos oracionais. Por isso, afirma que o aspecto é umacategoria léxico­sintática. O autor acrescenta ainda que a duração expressa pela perífrase pode vir ampliada ou restrita,de acordo com o adjunto adverbial que a acompanha. Quanto à natureza dos adjuntos adverbiais que exprimem aspecto,o autor encontrou na sua pesquisa, em sua totalidade, adjuntos adverbiais que indicavam sempre tempo (extenso,graduado, subitaneidade, repetição).

É interessante lembrar que, para Travaglia, dentre os vários adjuntos adverbiais que colaboram na expressão doaspecto em português, predominam quase sempre os de freqüência e de tempo. Ele observou que esses adjuntosadverbiais exercem uma de três funções: evitar ambigüidades; marcar o aspecto por si ou em combinação com outroelemento; reforçar um aspecto expresso por outro elemento, tornando­o mais patente. A maioria dessas observações sãotambém idéias defendidas por Castilho.

Costa (1990: 80­88) denomina de “circunstanciais temporais” os tradicionais advérbios e locuções adverbiais,conjunções e formulações oracionais que, “configurando­se como possibilidades de expressar o tempo físico, merecemanálise quanto ao seu possível conteúdo aspectual” (p. 80).

A autora definiu aspecto como sendo a “categoria lingüística que marca a referência ou não à estrutura temporalinterna de uma fato” (1990: 38), a qual apresenta duas possibilidades: perfectivo e imperfectivo. Este último foisubdividido em imperfectivo (em curso, de fase inicial, de fase intermediária, de fase final e resultativo). Ainda, segundo

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Costa (1990: 38), marcar a categoria de aspecto em português significa imperfectivizar o enunciado, de maneira que essaimperfectização se manifesta através de formas verbais, de circunstanciais temporais e de formas de substantivos eadjetivos.

Particularmente, vamos trabalhar com a perífrase ser + particípio passado. Deste modo, nos convém deixar claroque, segundo Travaglia (1981: 254­255), esta perífrase que envolve verbos transitivos não marca aspecto por si só, massim a voz passiva. Como vimos, não só para Travaglia, mas também para os demais autores pesquisados, o aspecto será naverdade, expresso por vários recursos, entre os quais aqueles acima mencionados. No entanto, neste trabalho, limitamosos fatores de análise desta perífrase.

Travaglia baseou­se também nas idéias de Comrie (1976) para a sua definição de aspecto:“Aspecto é umacategoria verbal de TEMPO[1], não dêitica, através da qual se marca a duração da situação e/ou suas fases, sendo queestas podem ser consideradas sob diferentes pontos de vista, a saber: o do desenvolvimento, o do completamento e o darealização da situação” (Travaglia, 1981: 33).

Dentre o vasto quadro aspectual do português, explanado por Travaglia (1981), cuja fonte tomamos como basepara a nossa análise, ressaltamos apenas os aspectos relacionados com a expressão da perífrase em estudo:

a) Perfectivo – apresenta a situação como completa. O todo da situação é apresentado como um todo único com começomeio e fim juntos.b) Imperfectivo – apresenta a situação como incompleta, geralmente está em uma de suas fases de desenvolvimento.c) Indeterminado – apresenta a situação como tendo duração contínua ilimitada, por exemplo: expressões que apresentamverdades eternas ou tidas como tais; aquelas que caracterizam ou definem seres ou coisas.d) Iterativo – apresenta a situação como tendo duração descontínua limitada. Segundo o autor, a repetição pode sermarcada da seguinte forma: por conjunções coordenativas alternativas (repetição alternada); por adj. adverbiais tais como“algumas vezes”, “muitas vezes”, “sempre”, “raramente”, etc., (freqüência e quantificação da repetição); por adj.adverbiais tais como “todos os dias”, “aos domingos”, “duas vezes por semana”, etc., (regularidade da expressão) e outros.Neste texto adjunto adverbial é abreviado por adj. adverbial.e) Habitual – apresenta a situação como tendo duração descontínua ilimitada.f) Não­acabado ou começado – apresenta a situação já em realização – após o seu momento de início e antes de seumomento de término ou ainda em seus primeiros ou últimos momentos.g) Acabado – apresenta a situação após seu momento de término como concluída.

Para Travaglia, os aspectos em cuja expressão os adjuntos adverbiais atuam são o iterativo, o habitual, o

durativo, o inceptivo, o terminativo e o acabado.É conveniente ressaltar que a maioria dos autores pesquisados baseou seus estudos sobre o aspecto nos

postulados de Comrie (1976). Esses autores apresentam uma lista extensa do quadro aspectual do Português, havendosempre algumas semelhanças e diferenças entre estas descrições.

2. Análise das amostras

Nesta seção, vamos nos limitar às realizações dos adjuntos adverbiais, do agente da passiva ou a omissão deambos na descrição da perífrase ‘ser’ de voz passiva no contexto explanado anteriormente. Por questão de espaço,deixaremos para um segundo momento, a exposição detalhada dos outros recursos que expressam o aspecto na perífraseem estudo.

(1) ... bom até o:: bom... manualmente sempre quer dizer com enxada... e:: enxadão... agora... além disso com arado... eraantigamente puxado a burro... e depois já com trator.

(DID, Inf., Inq. 18: 75­78)

era... puxado (imperfectivo, não­acabado, habitual, determinado); agente da passiva: a burro = pelo burro; com trator = pelo trator; adjuntos adverbiais: de tempo (até, sempre, agora, depois, já; antigamente); de modo (manualmente).

Em (1), percebemos que os adj. adverbiais envolvidos na expressão do aspecto exerceram algumas funçõesmencionadas por Travaglia (1981): evitaram a ambigüidade e marcaram o aspecto em combinação uns com os outros. Oautor afirma que o adv. “já” é uma espécie de reforço da expressão do aspecto.

(2) ... o próprio leite que ela... produzia... era consumido pelo bezerro... ficava assim uma ou duas semanas depois já iapro pasto com a mãe... e:... que seria separado quando tivesse um pouco maior.

(DID, Inf., Inq. 18: 456­481)

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Ÿ era consumido (imperfectivo, não­acabado, determinado, habitual);Ÿ seria separado (imperfectivo, não­acabado, determinado);Ÿ adj. adverbiais: modo (assim); tempo (uma ou duas semanas depois; já); lugar (pro pasto); companhia (com a mãe);intensidade (pouco).

Segundo Travaglia (1981: 152­154), o fut. do pret. considerado por si só não marca nenhum aspecto. No entanto,quando há interferência de outros recursos, por exemplo, adj. adverbiais e a ação da perífrase verbal, o aspecto pode serexpresso. Na estrutura acima, o aspecto foi expresso pela ação da perífrase seria separado e pela presença da oraçãosubordinada adverbial temporal (quando tivesse um pouco maior).

(3) ... o touro... é inteiro... enquanto que o boi ele é:: castrado.

(DID, Inf., Inq. 18: 493­495)

é castrado (imperfectivo, não­acabado, indeterminado); houve omissão de adj. adverbiais e do agente da passiva nesta construção acima.

(4) ... o leite é tirado... por um sujeito especializado... significa que é tirado o leite mas se deixa um pouco... depois que foitirado o leite... ele é utilizado no começo como uma espécie de:: chamarisco...

(DID, Inf., Inq. 18: 540­566)

é tirado (imperfectivo, não­acabado, indeterminado). é tirado (imperfectivo, não­acabado, indeterminado); foi tirado (perfectivo, acabado); é utilizado (imperfectivo, não­acabado, determinado, iterativo); adj. adverbiais: intensidade (um pouco); tempo (depois; no começo); modo (como uma espécie de chamarisco); agente da passiva: por um sujeito especializado.

O aspecto iterativo da perífrase “é utilizado” expressa uma forma de regularidade da repetição marcada pelo adj.adv. “no começo” (cf. Travaglia: 1981, p. 83). (5) depois o estribo é preso no arreio... o estribo é preso... no arreio pelo loro... agora o arreio é preso no cavalo... poruma::... por aquilo que se chama barrigueira...

(DID, Inf., Inq. 18: 745­766)

Na construção acima repete três vezes a perífrase é preso. Analisaremos a expressão do aspecto desta perífraseconforme a ordem em que apresentam na estrutura. 1a.) é preso (imperfectivo, não­acabado, determinado); 2a.) é preso (imperfectivo, não­acabado, indeterminado); 3a.) é preso (imperfectivo, não­acabado, determinado); adj. adverbiais: tempo (depois, agora); lugar (no arreio, no arreio, no cavalo); agentes da passiva: pelo loro; por uma::... por aquilo que se chama barrigueira... (6) ... para manter esse metal na boca do cavalo... existe:: uma cabeçada... feita de couro... que muitas vezes é chamadaem conjunto com o freio de freio...

(DID, Inf., Inq. 18: 769­790)

é chamada (imperfectivo, não­acabado, determinado, iterativo); adj. adverbiais: lugar (na boca do cavalo); freqüência (muitas vezes); modo (em conjunto com o freio de freio).

Temos o aspecto iterativo nesta construção acima porque a freqüência de repetição é marcada pelo adj. adv.

“muitas vezes”. (cf. Travaglia: 1981, p. 83).Após analisarmos descritiva e quantitativamente a expressão do aspecto das estruturas constituídas da perífrase

ser + particípio passado e verificarmos a presença dos adjuntos adverbiais e do agente da passiva nas construçõesdeclarativas (afirmativas e negativas) do inquérito investigado, chegamos aos seguintes resultados:

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1a.) Quanto à expressão do aspecto da perífrase ser + particípio passado, houve as seguintes ocorrências:a) aspecto imperfectivo, não­acabado, determinado (17 ocorrências); b) imperfectivo, não­acabado, indeterminado (14ocorrências); c) imperfectivo, não­acabado, habitual, determinado (02 ocorrências); d) imperfectivo, não­acabado,habitual, determinado, iterativo (02 ocorrências); e) imperfectivo, não­acabado, determinado, iterativo (05 ocorrências). Asoma total das ocorrências analisadas quanto à expressão do aspecto desta perífrase é 40.

2a.) Quanto à presença dos adjuntos adverbiais, encontramos as seguintes ocorrências:a) Adj. adverbiais de intensidade (06 ocorrências); b) Adj. adverbiais de tempo (31 ocorrências); c) Adj. adverbiais demodo (13 ocorrências); d) Adj. adverbiais de negação (05 ocorrências); e) Adj. adverbiais de lugar (10 ocorrências); f)Adj. adv. de afirmação (02 ocorrências); g) Adj. adverbiais de freqüência (03 ocorrências); h) Adj. adverbial decompanhia (apenas uma ocorrência); i) omissão de adj. adverbial e do agente da passiva: apenas uma ocorrência; j)Presença do agente da passiva (10 ocorrências); l) Omissão do agente da passiva (19 ocorrências).

Constatamos um número maior de ocorrências: da expressão do aspecto imperfectivo, não­acabado, determinado(um total de 17 ocorrências); dos adjuntos adverbiais de tempo (total de 31 ocorrências).

3. Conclusão

Chegamos a conclusões parciais, pois os fatores analisados neste estudo não exaurem a caracterização dascondições de ocorrências dos vários recursos de expressão do aspecto na perífrase ‘ser’ + PP, uma vez que ela exerce afunção de expressar a voz passiva. Os outros elementos estão sendo verificados nos inquéritos restantes, pois exigem ummaior detalhamento da investigação.

RESUMO: Este artigo informa o estudo descritivo parcial do aspecto verbal na perífrase ‘ser’ de voz passiva na línguaoral culta da cidade de São Paulo.

PALAVRAS­CHAVE: linguagem falada; análise descritiva e quantitativa; aspecto verbal; agente da passiva; adjuntosadverbiais.

REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS

CASTILHO, Ataliba T. de. Introdução ao estudo do aspecto verbal na língua portuguesa. Marília ­ SP, Faculdadede Filosofia, Ciências e Letras. Tese de Doutorado, 1968.

COSTA, Sônia Bastos Borba. O Aspecto em português. São Paulo: Contexto, 1990. pp. 80­88. (Coleção:Repensando a língua portuguesa).

_____. O Aspecto em português: Reflexão a partir de um fragmento do corpus do Projeto NURC. Salvador – BA,Universidade Federal da Bahia. Dissertação de Mestrado, 1986.

TRAVAGLIA, Luiz Carlos. O aspecto verbal no português: a categoria e sua expressão. Universidade Federal deUberlândia: Gráfica da UFU, 1981.

[1] Travaglia (1981:31­33) utilizou em seu trabalho três distinções do termo tempo enquanto: 1) Categoria verbal (dizrespeito às épocas: passado, presente, futuro) = tempo; 2) Flexão temporal (refere aos agrupamentos de flexões daconjugação verbal: pres. do ind., pret. imp. do ind., fut. do pres., fut. do subj. = tempos flexionais; 3) E finalmente,TEMPO, significando idéia geral e abstrata de tempo sem considerações de sua indicação pelo verbo ou qualquer outroelemento da frase. Para o autor, tanto tempo quanto aspecto são categorias de TEMPO distintas, isto é, “a categoria detempo situa o momento de ocorrência da situação a que nos referimos em relação ao momento da fala como anterior(passado), simultâneo (presente) ou posterior (futuro) a esse mesmo momento.