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O Assistente Social na área da Saúde: por uma inclusão legal na equipe do PSF Vitória, 2009 HERICA PATRICIA GAMA UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

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O Assistente Social na área da Saúde: por uma inclusão legal na equipe do PSF

Vitória, 2009

HERICA PATRICIA GAMA

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E

DESENVOLVIMENTO

O Assistente Social na área da Saúde: por uma inclusão legal na equipe do PSF

Orientador: Maria da Conceição Maggioni Poppe

Vitória, 2009

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ - REITORIA DE PLANEJAMENTO E

DESENVOLVIMENTO

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela saúde e a minha família pelo apoio.

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a meus pais, irmãos e amigos que ofereceram carinho e

compreensão.

RESUMO O trabalho em questão descreve a trajetória histórica das políticas publicas de Saúde no

Brasil focando a Estratégia Saúde da Família como política de atendimento integral a

família e a necessidade de possuir um Assistente Social nas equipes mínimas de Saúde

da Família como um profissional importante na construção, no desenvolvimento e o

alcance dos objetivos propostos pela Estratégia.

Palavras-chave: Políticas Públicas de Saúde, Estratégia Saúde da Família, Serviço Social.

METODOLOGIA A metodologia adotada teve como base a pesquisa de campo na Unidade de Saúde de

Santo André na Grande São Pedro no Município de Vitória – ES que possue Assistente

Social na Estratégia Saúde da Família para buscar dados concretos que legitima a

necessidade do profissional neste programa, através de entrevistas, questionários,

observação participante. Os dados coletados serão de extrema importância, pois a partir

deles que se poderão analisar de forma concreta as possibilidades da inserção do

profissional no Programa. Outra metodologia será a pesquisa bibliográfica que irá basear

teoricamente as possibilidades efetivas no ingresso do Serviço Social.

Também serão entrevistados os demais profissionais da Equipe da Unidade como

também o gestor do município no Programa Saúde da Família. (Roteiro de Entrevista e

Questionário de Perguntas em anexo).

Será realizada pesquisa com Conselho Regional do Serviço Social 17º Região, na

complementação de dados e principalmente para analise e conclusão final dando

subsídios para o porquê da não inclusão legal do Assistente Social no PSF.

Quanto a pesquisa bibliográfica, os autores abaixo contribuíram de forma singular na

construção teórica da pesquisa: Maria Inês Bravo que é Pós - Doutora em Serviço Social,

no qual seus temas de estudos estão concentrados no serviço social, controle social,

conselhos de saúde, saúde e reforma sanitária sendo referencia no estudo das Políticas de

Saúde no Brasil, assim pode contribuir na compreensão da construção da política de

saúde no Brasil destacando as relações entre Estado e Sociedade Civil, tendo como

ênfase os processos políticos que ocorrem na formulação e gestão das políticas de saúde

e nos saberes e práticas dos trabalhadores em especial o assistente social.

Marilda Villela Iamamoto que é Doutora em Sociologia sendo também referência no

campo do estudo do Serviço Social no Brasil e na América Latina, contribuiu para uma

análise da construção histórica do serviço social no Brasil e sua posterior inserção na

área da saúde fazendo um link com as políticas públicas e a “questão social”. E a

contribuição desse profissional na construção das políticas sociais deste a elaboração até

a sua execução.

Nadia Lucia Fuhrmann, Doutora em Serviço Social tem como uns dos principais temas

de estudo saúde coletiva, foi utilizada como fonte de pesquisa no tema indicou as

analises da implantação do Programa Saúde da Família como estratégia de conversão do

Sistema de Saúde no Brasil. Onde sinalizou a estratégia da saúde da família como a mais

ampla política assistencial do setor também contribui no entendimento do processo de

implantação do PSF nos municípios brasileiros: a origem, os antecedentes do programa,

a implantação e a especificidade da formação das equipes multiprofissionais que

constituem as unidades de saúde. Além de realizar uma análise da participação do

assistente social na equipe da estratégia saúde da família .

Túlio Batista Franco é Doutor em Saúde Coletiva , suas obras foram importante na

leitura no que se refere a saúde coletiva no país possibilitando o conhecimento deste

tema sua construção e desenvolvimento e posteriormente o surgimento do programa

estratégia saúde da família.

Vale ressaltar o acesso aos sites do Ministério da Saúde que puderam oferecer a pesquisa

dados da legislação como também outras informações imprescindíveis a pesquisa,

também o Conselho do Serviço Social do estado do Espírito Santo onde pude ter acesso

a informações do processo de inserção do profissional nas equipes do programa.

SUMÁRIO INTRODUÇÃO 1 - BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL 1.1 - A Trajetória da Política Pública de Saúde no Brasil____________________ 10

1.2 - O Sistema Único de Saúde – SUS__________________________________ 15

1.3 – Programa Saúde da Família – PSF ________________________________ 19

1.3.1 - A Estratégia Saúde da Família _________________________________ 23

1.3.2 - Análise do Trabalho da Equipe do ESF__________________________ 25

2 - O SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE PÚBLICA 2.1 - Serviço Social e a Saúde no Brasil_________________________________ 28

2.2 - Contribuição do Assistente Social na Saúde__________________________ 30 2.3 - O Serviço Social no Programa Saúde da Família ______________________ 31 3 - O ASSISTENTE SOCIAL NA EQUIPE DO PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA 3.1 - Atribuições e Desafios cotidianos do Assistente Social na ESF___________ 34 3.2 - Perspectivas Futuras do Assistente Social na ESF_____________________ 36 3.3 – Descrição da Pesquisa___________________________________________ 37 CONCLUSÃO_____________________________________________________ 43 BIBLIOGRAFIA___________________________________________________ 45 ANEXOS_________________________________________________________ 47

- INTRODUÇÃO

A proposta deste trabalho é o estudo da participação do profissional do Serviço Social na

Estratégia Saúde da Família, e a ausência do mesmo na equipe deste programa de forma

legal.

Apesar de o assistente social ser um profissional capacitado para lidar com as questões

sociais, e principalmente no que se refere à saúde e este estar ausente na equipe mínima

na saúde da família que tem como principal foco ações de prevenção, promoção e

recuperação da saúde das pessoas, de forma integral e contínua. E hoje a saúde ser

reconhecida como resultado das condições econômicas, política, sociais e culturais dos

sujeitos, assim entendemos que o profissional passa a fazer parte do conjunto de

profissões necessárias, além disso, temos a inserção do processo de gestão da política de

saúde, tendo a descentralização política e administrativa como estratégia, ou seja, a

participação popular nos mecanismos de controle social, sendo mais um fator que

contribui ainda mais a efetivação do assistente social neste programa.

Assim, a pesquisa tentará detectar as barreiras e entraves que impedem que o

profissional em questão ausente na equipe básica do ESF e principalmente alternativas

que possam contribuir para a mudança deste quadro, já que é de fundamental

importância este profissional na constituição da equipe haja vista que atualmente nos

Municípios dos grandes Estados do país este profissional esteja presente de forma efetiva

e atuante (Dados Ministério da Saúde).

Diante desta realidade o primeiro capitulo busca-se contextualizar a Política de Saúde

Brasileira desde os principais marcos históricos, passando pelos avanços da Constituição

Federal de 1988, destacando o Sistema Único de Saúde – SUS como um marco divisor

na garantia da saúde como um direito social. Detalhando o funcionamento do programa

Estratégia Saúde da Família nas Unidades de Saúde, e realizando uma análise da equipe

que compõe o programa.

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segundo capítulo é um pequeno histórico do Serviço Social e sua inserção na Saúde no

Brasil e posteriormente no Programa Estratégia Saúde da Família e as contribuições dos

Assistentes Sociais nos processos de trabalho do Programa, apontando os limites e

possibilidades.

O terceiro capítulo explicita como os Assistentes Sociais desenvolvem seu trabalho no

espaço-ocupacional do PSF, destacando seus desafios no cotidiano destes profissionais.

Após uma descrição da pesquisa realizada na unidade de saúde com os profissionais que

trabalham no programa.

O capitulo quarto trata diretamente da análise dos dados obtidos na pesquisa de campo e

bibliográfica, afim de “Abrirmos a porta” para a discussão dos limites, potencionalidades

das possibilidades ou não da inserção do Assistente Social na equipe mínimo do

Programa Estratégia Saúde da Família.

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1 - BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL

Este capítulo contextualiza a Política de Saúde Brasileira com base nos principais

marcos históricos e traz as conquistas legais da Constituição Federal de 1988 e o SUS

como resultante do movimento da Reforma Sanitária, considerando como conjunto de

reformas institucionais do SUS que sinaliza para o fortalecimento da Estratégia Saúde da

Família. Finaliza com a análise do desenvolvimento e a descrição das atividades

realizadas pelos profissionais que compõe a equipe mínima do programa.

1.1 – A Trajetória da Política Pública de Saúde no Brasil

Após a II Guerra Mundial, o discurso preventivista (1) foi amplamente difundido nos

Estados Unidos e corroborado pela Organização Mundial da Saúde como modelo

assistencial adequado capaz de diminuir os custos da atenção médica. Porém, os

conceitos básicos do discurso preventivista, da forma como vinham sendo impostos

pelos organismos internacionais, foram amplamente criticados pelos profissionais que

atuavam dentro das faculdades de medicina social no Brasil. A proposta de

redimensionar o sistema de saúde brasileiro apenas com objetivos a diminuir os custos

da atenção médica foi vigorosamente rejeitada pelos profissionais dos serviços de saúde

pública comprometidos, principalmente, com a medicina comunitária.

1-Os conceitos básicos do discurso preventivista são a história natural da doença, o conceito ecológico da saúde e doença e a multicausalidade.O modelo preventivista, como Arouca (1975) o denomina, buscou incorporar na formação dos estudantes de medicina uma nova atitude de prevenção como processo individual,neutralizando o conjunto de relações sociais que determinam os serviços de saúde e os próprios sujeitos. O social é reduzido ao meio ambiente, locus de agentes causais, e não como relações sociais que influem nos estados de saúde e doença das pessoas e dos grupos (Escorel, 1998, p. 21).

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Em meados dos anos 70 teve início o processo de redemocratização política e social no

Brasil. A mobilização nacional pela luta cidadã se materializou na área da saúde através

do ideário do Movimento da Reforma Sanitária (2). Integravam o Movimento

professores universitários, estudantes de medicina, profissionais da saúde, sindicalistas,

militantes partidários de esquerda e movimentos populares por saúde. O objetivo

principal dos reformistas confundia-se entre uma oposição ao regime autoritário e a

transformação do Sistema Nacional de Saúde. Desta forma, a medicina social emergiu

no Brasil dentro dos departamentos de medicina preventiva – DMPs – das universidades,

com forte tendência a uma abordagem histórico-estrutural dos conteúdos da saúde

coletiva.

Em meados dos anos 70 teve início o processo de redemocratização política e social no

Brasil. A mobilização nacional pela luta cidadã se materializou na área da saúde através

do ideário do Movimento da Reforma Sanitária. Integravam o Movimento professores

universitários, estudantes de medicina, profissionais da saúde, sindicalistas, militantes

partidários de esquerda e movimentos populares por saúde. O objetivo principal dos

reformistas confundia-se entre uma oposição ao regime autoritário e a transformação do

Sistema Nacional de Saúde. Desta forma, a medicina social emergiu no Brasil dentro dos

departamentos de medicina preventiva – DMPs – das universidades, com forte tendência

a uma abordagem histórico-estrutural dos conteúdos da saúde coletiva.

____________________________________________________________________ 2. “A Reforma Sanitária pode ser conceituada como um processo modernizador e democratizante de transformação nos âmbitos político-jurídico, político-institucional e político-operativo, para dar conta da saúde dos cidadãos, entendida como um direito universal e suportada por um Sistema Único de Saúde, constituído sob regulação do Estado, que objetive a eficiência, eficácia e eqüidade [...] criação de mecanismos de gestão e controle populares sobre o sistema” (MENDES,1993)

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As reivindicações do Movimento Sanitário mantiveram-se firmes na luta pela criação de

um sistema único de saúde gratuito e universal, essencialmente gerido pelo Estado,

sendo que ao setor privado caberia apenas um papel complementar. Assim, várias forças

políticas oriundas da sociedade civil e articuladas ao Movimento Sanitarista, disputaram,

na época, no âmbito político, a conquista de uma proposta de reforma sanitária que

privilegiasse a universalidade de atendimento nos serviços de saúde e o dever do Estado

em garantir esse direito. Uma década e meia de reivindicações, grande parte do ideário

do Movimento Sanitário foi incorporado ao texto da nova Constituição brasileira de

1988.

As propostas de redimensionar os sistemas de saúde, propostas essas vindas tanto dos

setores organizados da sociedade civil quanto de organismos internacionais, foram se

intensificando e ganhando uma visibilidade significativa a partir dos anos 70. Importante

também relembrar que essas manifestações ocorreram de forma mais ou menos

universalizada na América Latina e também em países europeus e nos Estados Unidos. A

crise e a reforma nos sistemas de saúde, hodiernamente, são fenômenos praticamente

globalizados, porque o que sucede na realidade, conforme ressalta Mendes (1993), é uma

profunda reforma nos estados capitalistas em geral.

O governo brasileiro teve a especificidade de produzir e regular a saúde pública, desde

os anos 30, através da medicina previdenciária, utilizando como política a compra de

serviços de terceiros na área da assistência médica. Em 1977, 80% do valor dos

financiamentos aprovados para a área de saúde foram destinados ao setor privado. No

entanto, já a partir de 1975, devido ao contínuo desvio da receita da Previdência para

outros setores da economia, do alto custo da medicina curativa e da tendência crescente à

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universalidade no atendimento à população, o estrangulamento na base de financiamento

do modelo de contribuição previdenciária foi inevitável. Concomitante aos problemas

acima mencionados entra em cena o enfraquecimento gradativo do Estado

intervencionista brasileiro e um novo modo de viabilizar a saúde pública precisou ser

pensado.

Aliado aos fenômenos da reestruturação produtiva, do desemprego estrutural, do

encolhimento do Estado no financiamento de políticas públicas, da pobreza mundial

generalizada, encontra-se, ainda, uma profunda mudança na demografia populacional do

planeta. Estatísticas demonstram que no Brasil, entre 1980 e 2025, haverá um aumento

em torno de 24,4milhões de idosos. Os especialistas prevem que a população brasileira

ocupará, em 2025, o sexto lugar no ranking mundial de envelhecimento da população

(Mendiondo, 1998). Desta forma, o aumento da expectativa de vida também se constitui,

juntamente com os Fenômenos anteriormente citados, em um agravante à manutenção da

estrutura da seguridade social em geral e, particularmente, da saúde pública, em qualquer

sociedade da atualidade.

Em um contexto de reestruturação econômica de corte neoliberal, o Estado de Bem-Estar

Social (03) passou a ser o alvo principal das críticas do poder econômico global.

Passados vinte anos, o cenário econômico e político atual vêm reivindicando um Estado

mínimo com forte redução nos gastos com políticas públicas. Deste modo, as políticas

sociais passaram a assumir, em qualquer governo hodierno, um caráter eminentemente

problemático.

_______________________________________________________________________ 3- Chamamos de Estado de Bem-Estar Social, os Estados que, mesmo em economias capitalistas assumem/assumiram papéis de cobertura generalizada de benefícios sociais, dentro da concepção de que a cidadania deve ser o regulador principal da economia e da sociedade. Recebe destaque a universalização da previdência, da assistência, da educação básica, do seguro-desemprego de tal sorte que a todos, independentemente das relações de mercado, é garantido acesso satisfatório de bem-estar. Correspondeu, principalmente, à expectativa capitalista do pós-guerra de proliferação majoritária da classe média, tendo em alguns centros encontrado êxito.

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O dilema atual dos Estados, independentemente de serem desenvolvidos ou em via de

desenvolvimento, está em como resolver as carências básicas de uma população

crescentemente empobrecida, reduzindo os patamares ínfimos os custos com políticas

sociais. Em outras palavras, o Estado encontra-se em delicada situação de ter que servir

dois senhores ao mesmo tempo. De um lado, adaptar-se às exigências do poder

econômico mundial e de outro, resolver as mazelas sociais que sobraram dessa mesma

política econômica.

Mediante pressões internas e externas, o processo de redimensionamento dos serviços de

saúde pública no Brasil teve início legal a partir da inscrição dos artigos de nº 196 ao 200

na Constituição de 1988. A criação do Sistema Único de Saúde – SUS – é um marco

histórico na saúde pública brasileira, considerado como instrumento que instaurou o

processo de democratização do acesso à saúde no País. Vale a pena lembrar que até o

início da década de 70, somente os contribuintes das CAPs(4) e do IAPs(5) e,

posteriormente, do INPS(6) e seus dependentes diretos, devidamente munidos da

“carteirinha”, tinham acesso aos serviços de saúde com melhor qualidade. Aos

indigentes, aos desempregados, aos trabalhadores domésticos, aos trabalhadores rurais e

aos autônomos restava a filantropia das Santas Casas de Misericórdia. A universalidade

de cobertura e atendimento à saúde no Brasil trouxe consigo a noção de direito social em

detrimento à noção anterior de concessão. (Fuhrmaann2003)

___________________________________________________________________

4 - Caixas de Aposentadorias e Pensões, instituídas a partir de 1923. 5 - Institutos de Aposentadorias e Pensões, instituídos a partir de 1930. 6 - Instituto Nacional de Previdência Social, instituído a partir de 1967.

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1.2 - O Sistema Único de Saúde – SUS

A constituinte de 1988 no capítulo VIII da Ordem social e na secção II referente à Saúde

define no artigo 196 que: “A saúde é direito de todos e dever do estado, garantindo

mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de doença e de

outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua

promoção, proteção e recuperação”.

SUS é definido pelo artigo 198 do seguinte modo:

“As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e

hierarquizada, e constituem um sistema único, organizado de acordo com as

seguintes diretrizes”:

1. Descentralização , com direção única em cada esfera de governo;

2. Atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas,

sem prejuízo dos serviços assistenciais;

3. Participação da comunidade.

“Parágrafo único - o sistema único de saúde será financiado, com recursos do orçamento

da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além

de outras fontes”.

O texto constitucional demonstra claramente que a concepção do SUS esta baseado na

formulação de um modelo de saúde voltado para as necessidades da população,

procurando resgatar o compromisso do estado para com o bem-estar social,

especialmente no que refere a saúde coletiva, consolidando-o como um dos direitos da

cidadania. Esta visão refletia o momento político porque passava a sociedade brasileira,

recém saída de uma ditadura militar onde a cidadania nunca foi um princípio de governo.

A sociedade procurava garantir na nova constituição os direitos e os valores da

democracia e da cidadania.

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O SUS é a síntese de grande parte das reivindicações do Movimento Sanitário e dos

movimentos populares nas décadas de 70 e 80. Essa afirmativa está fundamentada na

grande repercussão nacional que teve a VIII Conferência Nacional de Saúde (7),

realizada em 1986, em Brasília, propostas de estrutura e de política de saúde para o país.

Essa conferência é considerada como um divisor de águas no movimento da Reforma

Sanitária, por ter se constituído no maior fórum de debates sobre a saúde do país,

destacando-se pelo seu caráter democrático e cujo relatório serviu de base para a

constituinte.

Dentre as propostas constantes no relatório da VIII Conferência encontra-se o conceito

ampliado de saúde, uma nova concepção de saúde, que vai além da assistência médica

curativa e aspectos biológicos, focada na doença. Assim, passa a ser entendida como

resultante das condições de vida, alimentação, lazer, acesso e posse da terra, transporte,

emprego, moradia.

O Sistema Único de Saúde pode ser compreendido como um conjunto de ações e

serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas e federais, estaduais e

municipais da administração direta ou indireta ou de fundações mantidas pelo Poder

Público.

As ações e os serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou

conveniados que integram o SUS são desenvolvidos de acordo com as diretrizes

previstas no Art. 198 da Constituição Federal, obedecendo aos princípios de

universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência, na

integralidade de assistência, entendida como um conjunto articulado e contínuo de ações

e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em

todos os níveis de complexidade do sistema.

_______________________________________________________________________ 7-O evento realizado em 1986, no Distrito Federal, contou com mais de 4000 pessoas, entre elas trabalhadores e usuários dos serviços públicos de saúde. O movimento organizado por esses segmentos teve visibilidade nacional e grande parte das suas reivindicações foram atendidas na Constituição de 1988.

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O Sistema Único de Saúde prevê, ainda, a preservação da autonomia das pessoas na

defesa de sua integridade física e moral, na igualdade da assistência à saúde, sem

preconceitos ou privilégios de qualquer espécie, ao direito do paciente à informação

sobre sua saúde, à divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde

e sua utilização pelo usuário, à utilização da epidemiologia para o estabelecimento de

prioridades, à alocação de recursos e à orientação programática. Inclui, ainda, a

participação da comunidade como co-responsável no processo saúde-doença,

enfatizando a necessidade da descentralização dos serviços para os municípios.

Ainda, no título I, das disposições gerais sobre a saúde pública, a Lei 8.080, de 19 de

setembro de 1990, institui a saúde como direito fundamental de todo ser humano e dever

do Estado em garanti-la, através de reformulações e execuções de políticas sociais que

reduzam os riscos e agravos de doenças. Conforme a Constituição, ao Estado compete

promover, proteger e recuperar a saúde dos cidadãos brasileiros de forma universal e

igualitária. No Artigo 2º, deste mesmo título, a lei declara que o dever do Estado em

garantir saúde, no entanto, não exclui o das pessoas, da família, das empresas e da

sociedade.

Alinhando-se às diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS), a Constituição

Brasileira reconhece que a saúde depende de condições de bem-estar físico, mental e

social, sendo diretamente influenciada pela alimentação, moradia, saneamento básico,

meio ambiente, trabalho, renda, educação, transporte, laser e o acesso aos bens e serviços

sociais.

É fato que o conceito de saúde conforme a legislação brasileira é amplo e adequado

quanto à promoção e recuperação da saúde, de acordo, inclusive, com padrões

internacionais de saúde pública. Articular a universalidade, integralidade e eqüidade,

princípios estes do SUS, tem sido o grande desafio dos governos a partir da década de

90.

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Não foi suficiente, porém, dispor de uma base jurídico-formal ampla para resolver os

importantes problemas de saúde dos brasileiros. Para implementar de forma resolutiva o

que determinaram as Leis sob 808020 e 8142,21 de 1990, foi preciso instaurar um

processo de profunda reorganização dos serviços de saúde. Em 1994, o Ministério da

Saúde lançou oficialmente o Programa Saúde da Família. O PSF teve a especificidade de

inaugurar uma inversão na lógica assistencial à saúde no Brasil.

Ao propor o PSF, o Governo Federal teve dois grandes objetivos: o primeiro, foi,

substituir o modelo assistencial curativo/hospitalocêntrico pelo modelo preventivo, ou

seja, pelo modelo de atenção primária à saúde, e com isso racionalizar os altos custos da

saúde pública no Brasil. O segundo grande objetivo foi descentralizar as políticas de

saúde, na intenção de tornar a saúde pública mais resolutiva, adotando uma postura de

parceria com o governo estadual e municipal.

A parceria entre as três esferas de governo passa a ser o ponto central em torno do qual

gira toda a dinâmica da saúde pública brasileira, a partir dos anos 90. Com a

descentralização das políticas de saúde, caracterizada por um processo de deslocamento

de poder, gestão, atribuições e decisões entre os três níveis de governo, Federal, Estadual

e Municipal.

O Brasil possui hoje uma das legislações mais democráticas e universais no que tange à

regulamentação da saúde pública. O Sistema Único de Saúde disponibiliza, atualmente,

gratuitamente e de forma universal, desde procedimentos ligados ao diagnóstico precoce

de doenças, até tratamentos de alta complexidade como o é o caso do HIV, das

neoplasias e transplantes. A viabilização desse Sistema não tem sido tarefa fácil para os

gestores nos três níveis de governo.

O alto custo para manter uma saúde pública universal e de qualidade levou o governo

brasileiro adotar um modelo assistencial baseado na atenção primária à saúde. Assim, o

Programa Saúde da Família e uma estratégia do governo para melhor tratar a saúde do

brasileiro de maneira preventiva.

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1.3 – O Programa Saúde da Família

O Ministério da Saúde criou, em 1994, o Programa Saúde da Família (PSF).

Objetivo do PSF:

“...contribuir para reorientação do modelo assistencial a partir da atenção básica, em

conformidade com os princípios do Sistema Único de Saúde, imprimindo uma no

dinâmica de atuação nas unidades básicas de saúde, com definições de

responsabilidades entre os serviços de saúde a população.” (BRASIL,1997)

Seu principal propósito: reorganizar a prática da atenção à saúde em novas bases e

substituir o modelo tradicional, levando a saúde para mais perto da família e, com isso,

melhorar a qualidade de vida dos brasileiros. Não se tratando de uma assistência precária

para os pobres, mas sim da intenção de construir um novo modelo de assistência no país.

Embora o Programa Saúde da Família tenha sido elaborado pelo Ministério da Saúde,

portanto a nível federal, a implantação do mesmo se dá pela adesão dos municípios a

esse projeto estratégico. Conforme documento do Ministério da Saúde, “a

operacionalização do PSF deve ser adequada às diferenças locais, desde que mantidos os

seus princípios e diretrizes fundamentais” (Brasil, 1997). O processo de implantação o

PSF possui várias etapas, dentre elas a habilitação do município em alguma das gestões

da NOB/96 (8).

É preciso ainda comprovar o pleno funcionamento do Conselho Municipal de Saúde e a

existência de um Fundo Municipal de Saúde, além do compromisso de elaborar e

divulgar, anualmente, o Plano Municipal de ações e gastos em saúde. Uma rede de

transferência e contratransferência também é necessária. Dito de outro modo, o

município necessita oferecer, como retaguarda, às unidades da Saúde da Família uma

rede de apoio de diagnóstico e tratamento de maior complexidade para os casos que

requeiram procedimentos médicos especializados.

___________________________________________________________________ 8- Norma Operacional Básica do Sistema Único de Saúde. Portaria nº 2.203

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A implantação das unidades básica da Saúde da Família nas comunidades ocorre,

geralmente, tendo como critério o enfoque de risco social. São comunidades que

possuem altos índices de desemprego, criminalidade, prostituição, crianças fora da

escola e outras questões sociais, que aumentam o risco de adoecer e morrer. Assim, os

gestores municipais, muitas vezes, optam por implantar as primeiras equipes do PSF em

áreas periféricas e com dificuldade de acesso da comunidade aos serviços de saúde. “...

a implantação baseada em prioridades tem provocado, também, crítica ao Programa,

identificando-o como um programa de saúde pobre para os pobres. Tal imagem não

reflete a realidade. O Programa Saúde da Família deve ser entendido como um modelo

de assistência à saúde que tem como objetivo reorganizar o sistema de saúde no Brasil e

substituir, em médio prazo, a rede básica tradicional.” (Fuhrmaann,2003).

Os quadros abaixo demonstram o processo de evolução da implantação do PSF no

Brasil:

1998 1999

2000 2001

2002 2003

2004 2005

2006 2007

2008 JANEIRO/2009

Dados: Ministério da Saúde

A meta principal do PSF – a reorganização das ações e serviços de saúde no Brasil – só

será atingida quando o processo de operacionalização de um sistema de atenção

hegemônico apoiado nos princípios da saúde da família, na noção de território e no

fortalecimento dos vínculos entre os usuários e as equipes de saúde, cobrir 75% da

população brasileira. Esse é o objetivo do Ministério da Saúde.

O Programa de Saúde da Família enraizou-se como uma política nacional na atenção à

saúde das pessoas. Isso se deu, dentre outros fatores, pelos incentivos financeiros

promovidos pelo Ministério da Saúde à continuidade da diretriz de atenção via o PSF. 22

Dessa forma, muitos são os desafios postos ao PSF e aos trabalhadores nele inseridos.

Desde a sua criação, o programa respondeu a várias conformações, de acordo com as

posições políticas e movimentos de pressão da sociedade, ora como contraponto aos

princípios do SUS, ora como reforço importante à saúde e ao SUS. Nesse movimento é

preciso apontar que o programa possui potencialidades importantes que devem ser

ressaltadas para que se transforme, efetivamente, num instrumento na direção da garantia

do acesso universal à saúde no Brasil.

1.3.1- A. Estratégia do Programa Saúde da Família

A estratégia do PSF prioriza as ações de prevenção, promoção e recuperação da saúde

das pessoas, de forma integral e contínua. O atendimento é prestado na unidade básica de

saúde ou no domicílio, pelos profissionais (médicos, enfermeiros, auxiliares de

enfermagem e agentes comunitários de saúde) que compõe a equipe mínima de Saúde da

Família. Assim, esses profissionais e a população acompanhada criam vínculos de co-

responsabilidade, o que facilita à identificação e o atendimento aos problemas de saúde

da comunidade.

A estratégia do PSF incorpora e reafirma os princípios básicos do Sistema Único de

Saúde (SUS) - universalização, descentralização, integralidade e participação da

comunidade - e está estruturada a partir da Unidade Básica de Saúde da Família, que

trabalha com base nos seguintes princípios: Integralidade e hierarquização: A Unidade

de Saúde da Família está inserida no primeiro nível de ações e serviços do sistema local

de assistência, denominado atenção básica.

Deve estar vinculada à rede de serviços, de forma que se garanta atenção integral aos

indivíduos e famílias e que sejam asseguradas a referência e a contra-referência para

clínicas e serviços de maior complexidade, sempre que o estado de saúde da pessoa

assim exigir. Territorialização e cadastramento da clientela: A Unidade de Saúde da

Família trabalha com território de abrangência definido e é responsável pelo

cadastramento e o acompanhamento da população vinculada (adstrita) a esta área. 23

Equipe multiprofissional: Cada equipe do PSF é composta, no mínimo, por um médico,

um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem, dentista e de quatro a seis agentes

comunitários de saúde (ACS). Outros profissionais - a exemplo de dentistas, assistentes

sociais e psicólogos - poderão ser incorporados às equipes ou formar equipes de apoio,

de acordo com as necessidades e possibilidades locais. A Unidade de Saúde da Família

pode atuar com uma ou mais equipes, dependendo da concentração de famílias no

território sob sua responsabilidade.

Situação de Implantação de Equipes de Saúde da Família,

Saúde Bucal e Agentes Comunitários de Saúde

BRASIL - JANEIRO/2009

Dentre os profissionais da equipe mínima deve-se destacar o agente comunitário de

saúde, pois é uma pessoa da própria comunidade que recebe qualificação específica,

passando a fazer parte da equipe de saúde local, atende os moradores em cada casa,

dando atenção a todas as questões relacionadas à saúde: identifica problemas, orienta,

encaminha e acompanha a realização de procedimentos necessários à proteção,

promoção e recuperação/reabilitação da saúde das pessoas daquela comunidade. Exige-

se do ACS a residência na comunidade há pelo menos dois anos, que tenha 18 anos ou

mais, saiba ler e escrever, e que tenha disponibilidade de tempo integral para a Estratégia

Saúde da Família.

24

1.3.2 - Análise do Trabalho da Equipe do PSF A importância do trabalho em equipe na ESF (Estratégia Saúde da Família) é ressaltada,

principalmente, pelo aspecto de integralidade nos cuidados de saúde. Considerado um

dos princípios doutrinários do Sistema Único de Saúde (SUS), a integralidade reveste-se,

no decorrer dos anos 90, e principalmente nesse início de século, de uma importância

estratégica ímpar para a consolidação de um novo modelo de atenção à saúde no Brasil.

Para alguns autores, deve ser pensada como uma imagem-objetivo, portanto polissêmica,

com variados sentidos. Essencialmente, trabalhamos com a concepção de integralidade

como uma dimensão/valor das práticas de saúde. Além de contribuir nessa organização,

a integralidade busca uma apreensão ampliada das necessidades de saúde da população

atendida. Portanto, pode ser entendida como um "tipo de marcador contínuo" que pode

incluir os aspectos objetivos e subjetivos resultantes da interação/relação dos atores em

suas práticas no cotidiano das instituições (Araújo MB 2004).

O trabalho em equipe tem como objetivo a obtenção de impactos sobre os diferentes

fatores que interferem no processo saúde-doença. A ação interdisciplinar pressupõe a

possibilidade da prática de um profissional se reconstruir na prática do outro, ambos

sendo transformados para a intervenção na realidade em que estão inseridos.

A abordagem integral dos indivíduos/famílias é facilitada pela soma de olhares dos

distintos profissionais que compõem as equipes interdisciplinares. Dessa maneira, pode-

se obter um maior impacto sobre os diferentes fatores que interferem no processo saúde-

doença. É sempre bom lembrar que a estruturação do trabalho em equipes

multiprofissionias no PSF (Programa de Saúde da Família), por si só, não garante uma

ruptura com a dinâmica médico-centrada; para tanto, há necessidade de dispositivos que

alterem a dinâmica do trabalho em saúde, nos fazeres do cotidiano de cada profissional.

Há que se identificar, nas equipes, os elementos que configurariam uma nova lógica no

agir desses profissionais e na forma como se produz o cuidado em saúde.

25

Nesse sentido, o perfil dos recursos humanos em saúde deve alterar-se. Uma das maiores

dificuldades na implementação da ESF diz respeito à carência de profissionais para

atender a esta nova realidade. Faz-se necessário, portanto, o desenvolvimento de um

processo de formação e capacitação permanente de todos os profissionais envolvidos.

Essencialmente, o entendimento de que o trabalho em equipe constitui a base dessa

proposta de mudança nos conduziu ao presente trabalho.

00Para que a Estratégia de Saúde da Família desencadeie um processo de construção de

novas práticas, considera-se imprescindível que os trabalhadores, envolvidos nessa

estratégia, articulem uma nova dimensão no desenvolvimento do trabalho. Faz-se

necessária a incorporação não apenas de novos conhecimentos, mas mudança na cultura

e no compromisso com a gestão pública, que garanta uma prática pautada nos princípios

da promoção da saúde.

A equipe mínima recomendada pelo Ministério da Saúde, para compor uma unidade de

Saúde da Família é um médico, um dentista, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem

e entre quatro a seis agentes comunitários de saúde. Não é vedada a inclusão de outros

profissionais. Dentre as muitas atribuições das equipes multiprofissionais da Saúde da

Família, destacamos as seguintes:

• Conhecer a realidade das famílias da comunidade onde a equipe atua, enfatizando as

características socioeconômicas, psicoculturais, demográficas e epidemiológicas;

• Identificar os problemas de saúde mais comuns e situações de risco aos quais a

população está exposta;

• Elaborar, com a participação da comunidade, um plano local para o enfrentamento dos

fatores que colocam em risco a saúde das pessoas;

• Prestar assistência integral, respondendo de forma contínua e racionalizada à demanda,

buscando contato com os indivíduos sadios ou doentes, visando romover a saúde através

da educação sanitária;

• Desenvolver processos educativos através de grupos voltados à recuperação da

autoestima, troca de experiências, apoio mútuo e melhoria do autocuidado; 26

• Promover ações intersetoriais e parcerias com organizações formais e

informaisexistentes na comunidade para o enfrentamento conjunto dos problemas locais;

• Discutir de forma permanente, junto à equipe e à comunidade, o conceito de cidadania,

enfatizando os direitos à saúde e as bases legais que o legitimam;

• Incentivar a formação ou a participação ativa nos Conselhos Locais de Saúde e no

Conselho Municipal de Saúde.

Os conhecimentos técnicos dos profissionais necessitam ser reelaborados à luz dos

anseios, dos desejos, dos sonhos, das crenças, dos valores, enfim, da matriz cultural

daquela comunidade singular, onde a equipe realiza sua intervenção. O indivíduo, a

família e a comunidade devem ser percebidos e cuidados pela equipe multiprofissional

do PSF de forma integral e articulada, em relação aos demais subsistemas sociais.

Nessa perspectiva, o processo de aperfeiçoamento permanente dos profissionais das

equipes torna-se objetivo último no processo de atender efetivamente as bases filosóficas

do Programa Saúde da Família. O fio condutor que desenha a prática dos integrantes das

unidades da Saúde da Família não é o conhecimento técnico, mas sim o saber

humanitário e o agir solidário.

A Saúde da Família requer a construção de um projeto assistencial comum com

complementaridade dos trabalhos especializados, em que os agentes envolvidos

estabeleçam interação entre si e com os usuários. O trabalho em equipe pressupõe,

portanto, uma relação recíproca de comunicação e interação.

A comunicação em busca de consenso entre os profissionais traduz-se em qualidade na

atenção integral às necessidades de saúde da clientela. . Se não houver interação entre os

profissionais das equipes de Saúde da Família, corre-se o risco de repetir a prática

fragmentada, desumana e centrada no enfoque biológico individual com diferente

valoração social dos diversos trabalhos (Almeida,2001).

27

2- O SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE PÚBLICA

Neste capítulo apresenta um histórico do Serviço Social na saúde contextualizando a

construção desse processo no Brasil, destacando a política de saúde como um espaço

onde o profissional vem mais atuando e contribuindo de acordo com os princípios ético-

metodológicos do Serviço Social, que também vem se esbarrando na problemática de sua

atuação de acordo com os problemas da saúde no Brasil. Expõe ainda, o contexto da

saúde brasileira com o surgimento do Programa de Estratégia Saúde da Família,

programa este que abarca o profissional do Serviço Social no processo de execução nas

comunidades que esta inserido, contribuído de forma ética e produtiva.

2.1 – Serviço Social e a Saúde no Brasil

O Brasil assistiu a uma reorientação política e institucional da Política de Saúde, iniciada

em finais da década de 70. Um dos fatores mais significativos foi o surgimento do

Movimento da Reforma Sanitária que lutou por mudanças na organização desta política

resultando num novo conceito de saúde, que foi incorporado na Constituição de 1988.

A saúde não é um conceito abstrato. Define-se no contexto histórico de determinada

sociedade e num dado momento do seu desenvolvimento, devendo ser conquistada pela

população em suas lutas cotidianas. Em seu sentido mais abrangente, a saúde é a

resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente,

transporte, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde. É assim,

antes de tudo, o resultado de organização social da produção, as quais podem gerar

grandes desigualdades nos níveis de vida. (Anais da 8ª Conferência Nacional de Saúde,

1987)

Ao reconhecer a saúde como resultado das condições econômicas, políticas, sociais e

culturais, o Serviço Social passa a fazer parte do conjunto de profissões necessárias à

identificação e análise dos fatores que intervém no processo saúde/doença. Outro fato

28

que vem contribuir para a ampliação da inserção do assistente social no campo foi a

mudança no processo de gestão da política de saúde, tendo na descentralização político

administrativa a principal estratégia. Com a crescente municipalização da política de

saúde os municípios tiveram que contratar diversos profissionais para garantir a gestão

local da política, dentre eles, o assistente social.

A política pública de saúde é o setor que, historicamente, mais tem absorvido

profissionais de Serviço Social. O Conselho Nacional de Saúde - CNS, através da

resolução nº 218/1997, reconheceu o assistente social como um dos treze profissionais

de saúde de nível superior - junto com o biólogo, profissionais de educação física,

enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, médicos veterinários,

nutricionistas, odontólogos, psicólogos e terapeutas ocupacionais.

O Conselho Federal de Serviço Social - CEFESS, através da resolução 338/1999,

reafirma o assistente social como profissional de saúde, pautado na resolução

anteriormente citada, no novo conceito de saúde inaugurado pela Constituição de 1988,

na própria formação do assistente social e no seu compromisso ético-político expresso

no Código de Ética da profissão de 1993, que coloca que um dos principais fundamentos

do Serviço Social é o “posicionamento em favor da eqüidade e justiça social que

assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas

sociais, bem como sua gestão democrática”.(Valdirene,2007)

O que de novo se coloca na inserção atual do assistente social na área de saúde é o fato

de que essa “ prática” não é mais mediada pela ideologia da ajuda e sim

pela perspectiva da garantia de direitos sociais. Atua justamente nas contradições

existentes no SUS, dentre as quais constam a exclusão no acesso, a precariedade dos

recursos e da qualidade dos serviços, a excessiva burocratização e a ênfase na assistência

médica curativa e individual.

29

É nesse contexto que surgem um conjunto de requisições expressivas da tensão existente

entre as ações tradicionais da saúde e as novas proposições do SUS, e que determinam o

âmbito de atuação do profissional de Serviço Social, qual seja nas contradições presentes

no processo de racionalização e organização do Sistema.

É dentro da relação de dever/direito à saúde que o trabalho dos assistentes sociais vem se

desenvolvendo e, a cada dia, tem se tornado uma “prática” necessária para

a promoção e atenção à saúde. Sua intervenção tem se ampliado e se consolidado diante

da concepção de que o processo de construção da saúde é determinado socialmente, e

reforçado pelo conceito de saúde que passa a considerar o atendimento das demandas do

setor sob o enfoque relevante das condições sociais.

A saúde é construída a partir de necessidades históricas e socialmente determinadas que

o assistente social a defende como direito de todo cidadão e dever do Estado, propondo-

se a contribuir para essa garantia através do fortalecimento de seus princípios de

universalidade, equidade e integralidade.

2.2 - Contribuição do Assistente Social na Saúde A inserção do Assistente Social na área da saúde vem sendo inscrita ao longo dos anos a

partir da caracterização de um profissional que, articulando o recorte social nas

diferentes formas de promoção da saúde, vem contribuindo para identificar as

causalidades e multiplicidade de fatores que incidem na qualidade de vida da população.

Na incessante busca da efetivação de ações e serviços de saúde de qualidade, numa

perspectiva universalizante e integral, esses trabalhadores vem se inserindo

historicamente no campo da saúde, com uma intervenção pautada ora nos fenômenos

sócio-culturais e/ou econômicos que oferecem riscos à saúde da população, ora na

promoção, proteção e/ou recuperação da saúde.

30

Quando, na Constituição de 1988, institucionalizou-se a ampliação do conceito de saúde

para além da simples ausência de doença, preconizado na VIII Conferência Nacional de

Saúde, foram definidos mecanismos para reversão do modelo de atenção à saúde

centrada nas ações curativas, cujo foco assistencial estava no atendimento médico-

hospitalar.

O caráter preventivo e social embutido no novo conceito de saúde atrelado à qualidade

de vida e as diretrizes preceituadas na Carta Magna, de que os serviços de saúde estariam

voltados para o atendimento integral com prioridade para as atividades preventivas, sem

prejuízo dos serviços assistenciais, além de impor a priorização de ações coletivas de

promoção, proteção, recuperação e reabilitação da saúde, ampliou também a

caracterização e tipificação dos profissionais de saúde.

Neste contexto, quando nascia um novo modelo de atenção à saúde, o Sistema Único de

Saúde, universal, equânime, integral e resolutivo com serviços regionalizados e

hierarquizados com controle social e definição de responsabilidades entre os serviços de

saúde e a população, registrou-se uma maior visibilidade da prática profissional do

assistente social, enquanto trabalhador da saúde.

Desde a implementação do SUS, o assistente social vem desempenhando ações tanto na

atenção aos grupos populacionais como na supervisão e coordenação das ações sugeridas

no novo modelo de assistência à saúde. No caso da estratégia Saúde da Família, segundo

dados oficiais do Ministério da Saúde, já é considerável o contingente de assistentes

sociais, que à exceção de médicos e enfermeiros, representam as categorias profissionais

de maior expressão no PSF (CEFESS,2000).

2.3 - O Serviço Social no Programa Saúde da Família

O Serviço Social é uma profissão reconhecida academicamente e legitimada

socialmente. Fundamenta-se em teorias políticas e sociais que norteiam a ação

31

profissional. O profissional do Serviço Social tem uma formação ampla, generalista e

acadêmica com base teórica, técnica e política que possibilita elaborar, planejar e

executar suas ações, podendo desenvolver trabalho em diversos segmentos sociais; é um

profissional inserido nas Políticas Públicas de saúde, educação, trabalho, previdência

social, lazer e assistência social, podendo desenvolver trabalhos com famílias, crianças e

adolescentes, na área de habitação, terceira idade e etc. A assistência social visa, portanto

a promoção humana do cidadão em seu meio social, fazendo com que o mesmo possa

integrar-se e /ou reintegrar-se na sociedade.

A atenção à saúde no Brasil vem sofrendo efeitos de graves distorções, que explicam a

atual crise do setor. O país tem um importante segmento da população que se encontra

totalmente excluído de qualquer cuidado de saúde. A população assistida ainda é

submetida a uma grande desigualdade de qualidade de atenção, havendo um pequeno

segmento que utiliza toda tecnologia moderna disponível e outro que recebe uma atenção

limitada.

O assistente social se propõe a atuar junto a equipe de saúde da família como

profissional capacitado para atuar nas questões sociais oriundas das relações sociais que

afetam a saúde, em consonância com os programas médico- assistenciais desenvolvidos

pelos serviços de saúde.

Trabalha no sentido de promover a saúde, contribuindo com os programas, buscando

entender as questões colocadas, como reflexo da imagem do homem na sua globalidade.

Sob o aspecto da formação profissional, seja no que se refere ao currículo, graduação,

pós-graduação, mestrado e doutorado, ensino da pesquisa e da prestação de serviços,

historicamente o Serviço Social sempre privilegiou os diversos conteúdos temáticos na

área da saúde.

32

Sua prática pode se dar a nível individual, grupal ou comunitário, com uma tônica

preventiva, curativa e reabilitadora, tendo como eixo básico, uma metodologia de

orientação que busca mudanças de atitudes, comportamentos e desenvolvimentos de

habilidades úteis à promoção, manutenção e recuperação da saúde.

33

3 – O ASSISTENTE SOCIAL NA EQUIPE DO PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA Neste capítulo apresenta as atribuições do assistente social quando inserido no programa

saúde da família, tais atribuições podem se diferenciar de uma unidade de saúde para

outra, pois cada uma depende da comunidade e as necessidades que apresenta, também

discorre sobre as perspectivas futuras desta inserção de forma efetiva e legal. No final à

descrição da pesquisa realizada na unidade de saúde localizado na capital do Espírito

Santo – Vitória – como também a descrição da entrevista com representante do CRESS

da 17º Região.

3.1 - Atribuições e Desafios cotidianos do Assistente Social no PSF

Para refletir sobre o processo de inserção no “novo” campo de trabalho, é preciso levar

em consideração que o exercício profissional do assistente social. É necessário atentar

para o contexto sócio-econômico e político, o processo de efetivação da proposta PSF, a

dinâmica das diferentes equipes, bem como para as peculiaridades das comunidades

atendidas que, apesar de serem caracterizadas, de forma geral, pelas precárias condições

de vida e estarem situadas no mesmo município, possuem especificidades locais. Assim,

para tratar do cotidiano profissional do grupo composto pelas assistentes sociais que

atualmente estão inseridas no PSF, deve-se levar em conta tais peculiaridades e que nem

todas(os) profissionais desenvolvem exatamente as mesmas atividades, a depender

justamente das dinâmicas locais.

Como qualquer profissional do PSF, a primeira tarefa das (os) assistentes sociais seria

conhecer a realidade vivenciada pelos usuários nos bairros atendidos.

Concomitantemente, as(os) profissionais foram se aproximando da dinâmica das

atividades desenvolvidas pelas equipes. Nestas, conforme preconiza o Ministério da

Saúde, são prestados atendimentos no que se refere às consultas médicas e de

enfermagem, pré-natal, puericultura, vacinação, curativos, visitas domiciliares, etc.

34

A equipe também é responsável pelo trabalho educativo, geralmente junto a grupos

formados, comumente, pelas características epidemiológicas e demográficas da

população, como de gestantes, planejamento familiar, adolescentes, idosos, hipertensos,

diabéticos e de saúde mental, entre outros, como mostra (Perét 2001).

Além disso, há a organização do Conselho Comunitário (ou Local) de Saúde, que é um

espaço de controle social em nível local, criado pelas equipes do PSF e composto por

representações das diversas entidades existentes nos bairros.

Espaço de controle social em nível local, criado pelas equipes do PSF e composto por

representações das diversas entidades existentes nos bairros. Desta forma, no interior de

tais equipes e baseadas nas atribuições que mencionamos interiormente, são diversas as

ações realizadas pelos assistentes sociais, tendo sempre como eixo a defesa e

consolidação de direitos sociais. Assim, destacamos os principais objetivos e desafio do

assistente social na unidade de saúde que tenha o PSF:

• Fomentar a informação, participação e mobilização social na comunidade e na

equipe visando o apoderamento destas.

• Valorizar a cultura local, fortalecendo os vínculos dos indivíduos com a sua

comunidade.

• Estimular no espaço do território da saúde da família um processo de

desenvolvimento local, integrado e sustentável.

• Possibilitar aos moradores do território acesso a

serviços/programas/projetos/benefícios da política de assistência social e saúde,

observando os critérios de inclusão.

• Contribuir para que a UBS evolua de espaço de referência de doença, para centro

de referência para Promoção da Saúde.

• Atuar nas ações/programas da UBS de forma n Assistente Social

• Fomentar a informação, participação e mobilização social na comunidade e na

equipe visando o apoderamento destas.

• Valorizar a cultura local, fortalecendo os vínculos dos indivíduos com a sua

comunidade.

35

• Estimular no espaço do território da saúde da família um processo de

desenvolvimento local, integrado e sustentável.

• Possibilitar aos moradores do território acesso a

serviços/programas/projetos/benefícios da política de assistência social e saúde,

observando os critérios de inclusão.

• Contribuir para que a UBS evolua de espaço de referência de doença, para centro

de referência para Promoção da Saúde.

• Atuar nas ações/programas da UBS de forma

O desafio do Serviço Social é fazer uma discussão crítica acerca das práticas de

humanização no sentido de romper com as práticas individualizantes, de favor, de

ajustamento e disciplinamento dos usuários, bem como de alívio das tensões e

amenização de conflitos e avançar no sentido de construir e fortalecer práticas voltadas

para potencializar a capacidade de participação enquanto deliberação de sujeitos

individuais e coletivos (usuários e trabalhadores) na efetiva construção de condições

objetivas dignas de trabalho e atendimento no SUS, dentre as quais se incluem não só a

defesa dos direitos existentes, mas a luta pela ampliação e incorporação de novos

direitos, como por exemplo, o direito à acompanhante para todos os usuários internados

em toda a rede SUS, seja pública ou conveniada, o fim da restrição às visitas em casos de

internamento, etc. (Costa,1998).

3.2 - Perspectivas Futuras do Assistente Social no PSF

Diante do exposto entendo que as perspectivas são positivas, já que este profissional está

presente na construção do Programa Saúde da Família contribuindo de forma efetiva e

eficaz na prática cotidiana para eficiência do programa. Assim atualmente o Assistente

Social é parte integrante e indissociável no desenvolvimento e na consolidação do

programa na comunidade.

36

A partir de uma análise das pesquisas poderá ter mais clareza dos impedimentos e

possibilidades da conquista de um espaço legal do assistente social na equipe do

Programa Saúde da Família.

Porém o que não pode se negar é com relação a inserção do assistente social, é

necessária uma grande articulação em várias direções: governos municipais, estaduais e

federal, legislativo, comunidade, outros profissionais envolvidos no programa. Sendo

assim as perspectivas podem ser consideradas, pois as experiências positivas estão

presentes em várias cidades e capitais do país.

3.3 - Descrição da Pesquisa

A pesquisa foi realizada na Unidade de Saúde Santo André da Grande São Pedro no

Município de Vitória, os profissionais que preencheram o questionário foram um

Assistente Social, Psicólogo, Agente de Saúde e um Enfermeiro. Também foi realizada

entrevista com um representante do CRESS – Fiscal.

No pesquisa na Unidade de Saúde:

O Agente Comunitário esta presente à cinco anos no PSF, realiza vista domiciliar,

promoção e prevenção da saúde da família, acompanhamento de gestantes, crianças

menores de 02 anos na pesagem, hipertensos, diabéticos e outras atividades.

Considera o programa importante, porém ressalta que “muita coisa tem se perdido

devido ao excesso de serviço....”funciona com deficiência., também acha que existe a

necessidade de ampliação “...pois as micro áreas tem sofrido transformações devido ao

número de famílias que tem crescido demasiadamente com isso mais idosos, hipertensos,

diabéticos, crianças, acamados e não se da conta de atender a todos.”

37

Com relação à pergunta número 06 (seis) devido a esta unidade já ter integrado o

Assistente Social, pontuou outro profissional-Fisioterapeuta. Com relação à pergunta

número 08(oito) e 09(nove) relata que o assistente social realizada visita domiciliar e

realizar os encaminhamentos necessários a família assistida.

O Psicólogo esta 02 anos no programa as atividades são: visita domiciliar, atendimento

individual e grupo – pré natal, gravidez, adolescente, criança em situação de risco e

participação em reunião de equipes.Considera importante “...permite articulação de

vários profissionais possibilitando discussões na intervenção na família sob diferentes

olhares e aspectos...” sinalizando a articulação da rede local.

Observa a necessidade da ampliação porque existiria o enriquecimento para

intervenção da saúde. Na pergunta 07 assinalou – Fisioterapeuta devido à importância

da recuperação dos acamados.

Nas perguntas 08 e 09, relata as atividades de promoção à saúde com grupos assistidos,

reuniões com as equipes do PSF, discussão e articulação com a rede social do

território.

O Assistente Social atua há 01 ano e 05 meses, suas atividades são visita domiciliar,

educação em saúde (grupos), gerência local do Programa Família na Saúde e do

Programa Saúde Escolar, visitas institucionais, trabalhos multidisciplinar, articulação

da rede social em saúde, realizações de palestras, oficinas nas escolas, comunidades.

Considera importante “... aproxima os profissionais de saúde da realidade vivenciada

pelos pacientes... vê o sujeito de forma holística, ou seja, de forma biopsicosocial.”

O profissional considera a importante a ampliação da equipe, na pergunta 06 respondeu

– Nutricionista, pois irá pontencionalizar as atividades de promoção de saúde

relacionadas à alimentação. Nas perguntas 07(sete) e 08(oito) as atividades são as

mesmas descrita acima referente ao Assistente Social.

38

O representante do CRESS expôs a temática sinalizando o aspecto legal da trajetória

do serviço social na saúde “...dentre estes direitos, está o direito à saúde, com acesso

universal e igualitário, garantido pela Constituição Federal de 1988 e pela Lei 8080/90.

Com isso, queremos suscitar na categoria profissional a discussão sobre o Assistente

Social na Saúde, reconhecido pelo CFESS através da Resolução nº. 383/99 que atribui

ao Assistente Social a intervenção junto aos fenômenos sócio-culturais e econômicos

visando a promoção, prevenção e recuperação da saúde e levantar a reflexão para a

ocupação de um espaço que é da categoria por direito, como previsto pelo Código de

Ética Profissional, Art. 2º.

O Assistente Social, enquanto profissional reconhecido academicamente e legitimado

socialmente deve ser incluído nas políticas públicas a serem implantadas. Essa

relevância do Assistente Social na área da Saúde é defendida pelo CFESS em

documento datado de junho de 1990, onde afirma que o Assistente Social na saúde é

quem articula o recorte social, “tanto no sentido das formas de promoção da saúde,

bem como das causalidades das formas de adoecer, intervindo, neste sentido, em todos

os níveis nos programas de saúde”.

Outro marco legal que nos embasa nessa discussão é uma Resolução do Conselho

Nacional de Saúde - Resolução nº. 218/97- que coloca o AS com competência teórico-

metodológica para intervir em todas as dimensões da saúde – sejam elas culturais,

sócio-econômicas, ou psicológicas.

Destaca-se também a Resolução CFESS nº. 383/99 que “atribui-se ao Assistente Social,

enquanto profissional de saúde, a intervenção junto aos fenômenos sócio-culturais e

econômicos que reduzam a eficácia dos programas de prestação de serviços nos níveis

de promoção, proteção e/ou recuperação da saúde”.

39

Enfim, vários são os documentos legais e acadêmicos que perpassam essa discussão e

nos oferecem subsídios para pleitear o AS nos espaços da ESF. E o CRESS 17ª

Região/ES está atento e preocupado em debater essa inserção no ES. Pretendemos

estabelecer articulação com a rede de serviços da saúde, secretários municipais,

entidades e movimentos sociais da área, usuários, etc, para somarmos forças nessa luta.

De acordo com a resposta da pergunta número 02(dois) O CRESS 17ª região/ES possui

dados coletados e repassados pela academia, a qual possui grande relevância no debate.

Enquanto conselho, não foi realizado nenhuma pesquisa diretamente sobre o assunto por

isso a resposta foi subsidiada com os dados coletados por acadêmicos e profissionais da

área. O que encontramos de dados da Grande Vitória (Vitória, Vila Velha, Cariacica,

Viana, Serra, Guarapari e Fundão) em 2007 foi:

- Vila Velha: Não há equipe de apoio a nenhuma ESF/PACS. A Secretaria Municipal de

Saúde possui o Departamento de Especialidades, que atende às demandas gerais. Este

departamento possui Assistente Social, Psicólogo, entre outros profissionais. Nesse

caso, o Assistente Social atende a todas as demandas da saúde do município, não

trabalhando diretamente com as demandas da ESF/PACS.

- Cariacica: O município possui três Assistentes Sociais trabalhando diretamente com as

equipes da ESF e PACS.

- Viana: Não há equipe de apoio à ESF. As unidades de saúde também não possuem

Assistente Social.O município só possui Assistente Social na Secretaria de Ação Social.

As demandas do município, de qualquer natureza, são identificadas por esta Secretaria.

- Fundão: Há apenas 01 Assistente Social no município – na Secretaria de Ação Social

e atende, em especial, as demandas da equipe Sede. As demais equipes são atendidas

quando há solicitação.

40

- Vitória: O município possui 70 equipes de ESF e 03 equipes de PACS. Possui ainda

um total de 29 Assistentes Sociais trabalhando com a Estratégia, sendo apenas 02

atuando diretamente na equipe. Os outros 27 são profissionais das Unidades de Saúde e

atendem, juntamente com a sua demanda diária, a demanda da Estratégia. Estes

profissionais são considerados como apoio à ESF, não fazendo parte diretamente da

equipe.

- Serra: somente as Unidades de Saúde das regionais – o município é dividido em

regionais de saúde e estas Unidades são consideradas policlínicas – possuem Assistente

Social, mas este não atua diretamente nas equipes de ESF e PACS. O profissional das

regionais atua como apoio à Estratégia, atendendo as demandas da Estratégia quando

necessário, mas não estando inserido na equipe de Saúde da Família. Diretamente na

ESF, o Serviço Social se faz presente, há 03 anos, no núcleo que coordena a Estratégia

no município.

- Guarapari: Até dezembro de 2006 havia um Assistente Social e um Psicólogo que

atendiam exclusivamente as equipes de ESF duas vezes por semana. O Contrato de

trabalho destes profissionais venceu e não houve renovação até 2007.

Verifica-se que dos 07 municípios, 03 possuem um Assistente Social inserido

diretamente na ESF, sendo eles: Cariacica, Serra e Vitória. Estes três municípios se

enquadram dentro da ESF como PROESF (Projeto de Expansão e Consolidação da

Saúde da Família). O PROESF foi implantado pelo Ministério da Saúde no ano de 2002

e visa estender a cobertura da ESF para os municípios com mais de 100 mil habitantes.

No que se refere a última pergunta revela que os tramites legais são comuns a qualquer

outro que queira garantir outros profissionais em serviços públicos. É necessário pautar

essa discussão nas câmaras municipais, assembléias legislativas, com os gestores e,

sobretudo com os conselhos estadual e municipais de saúde. Porque os conselhos?

41

Porque são os espaços de deliberação da política de saúde. Para a implantação da ESF

é necessária a existência do Conselho Municipal de Saúde, que mediante exercício do

controle social tem a tarefa de aprovar ou não a implantação e acompanhar todo o seu

processo e operacionalização.

Sendo assim, nesse espaço pode e deve ser pautada a discussão. O CRESS também pode

ter esse papel de levar o debate para esses espaços, mas também a categoria como um

todo pode pleitear a inclusão desse ponto de pauta.

Há uma dificuldade de implementação da ESF em vários municípios do Brasil e no ES

isso não é diferente. Podemos apontar como dificuldades: necessidade de realizar

capacitações para os profissionais; dificuldade de integração das equipes da ESF à rede

de serviços já instalada; desinformação da própria categoria sobre o que preconiza a

legislação sobre ESF e sobre o Serviço Social na saúde; desmobilização; necessidade de

realização de concurso público; entre vários aspectos.

Não tivemos a oportunidade de entrevistar o gestor de saúde que acompanha este

programa no Município de Vitória/ES , devido a pouca disponibilidade de atendimento

acompanhado dos constantes conflitos de agenda o que não possibilitou a entrevista.

Porém considero que os dados acima coletados contribuíram de forma relevante para um

estudo e analise da situação do Serviço Social na Estratégia Saúde da Família como

também uma analise de sua ausência na equipe mínima .

Não foi possível realizar entrevista com gestor do município devido ao período eleitoral

á época.

42

Conclusão

Foi observada na pesquisa que o Assistente Social domina os procedimentos

metodológicos e instrumentais técnicos adequados a abordagem da educação e saúde que

engloba as dimensões culturais, política e sócio econômicos, fundamentados numa ótica

reflexiva usando como referencia as técnicas participativas.

Foi observado ainda, principalmente o papel do ACS no programa, pois seu papel vai

além da proposta inicial, já que este esta diretamente ligado à comunidade local, entendo

que atualmente a equipe mínima e principalmente este membro da equipe poderia ser

mais bem acompanhado por um profissional que possibilite uma visão mais

interdisciplinar do atendimento não só com a visão Saúde x Doença mas no viés do

encaminhamento a rede de atendimento local de forma integral.

O que se analisou no campo não caminha na direção proposta teoricamente pelo

Ministério da Saúde, no sentido de consolidar a formação do “agente de mudanças”. Na

observação das atividades diárias dos ACS ao verificarem diferentes problemáticas em sua

comunidade e ao buscarem auxiliar seu vizinho, estando menos direcionado por uma

intervenção profissional e muito mais pela rede de solidariedade associativa, ou de afinidade

e convivência.

Desta forma considero o papel do Assistente Social de extrema importância na ação

cotidiana da Estratégia Saúde da Família, sendo este profissional um agente de intervenção

das problemáticas das questões sociais da sociedade, não observo nenhum outro profissional

da área de saúde ou que integre a equipe mínima do Programa em questão, que possa melhor

realizar a leitura das problemáticas apontas e posterior intervenção nas questões sociais que

surgem no atendimento a comunidade local.

O Assistente Social vem em oposição às práticas que medicalizam as questões sociais

como tradicionalmente o modelo biomédico faz pelo entendimento técnico político que

reconhece a contribuição deste profissional na conformação do novo modelo assistencial

de saúde proposto através da Estratégia Saúde da Família.

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Contudo, ainda essa participação é frágil, reduzida e requer um envolvimento maior da

categoria, principalmente por parte daqueles Assistentes Sociais que atuam diretamente

na saúde. Precisamos fortalecer esse espaço legítimo da categoria para que possamos ter

condições de discutir isso na sociedade, principalmente com os legislativos e executivos

municipais.

Precisamos pautar essa discussão com os vereadores, para que relaborem as leis que

versam sobre a ESF nos municípios e com os secretários municipais de saúde e prefeitos

para mostrar a importância e necessidade desse profissional na ESF. Sabemos que hoje,

infelizmente, fica a critério do gestor Prefeito - contratar ou não o Assistente Social para

a ESF em específico.

E a necessidade de uma articulação a nível nacional, ou seja, no congresso nacional,

apesar da categoria ter a formação que indica a luta pela garantia de direitos, muita vezes

estão na contramão deste papel, quando nos deparamos com uma questão que

aparentemente ser clara, como procurei expor nesta pesquisa que a presença legal do

Assistente Social nas equipes mínimas na ESF.

Há muitas dificuldades nesse sentido, não só quanto aos gestores, mas também na

categoria do Serviço Social. Há ainda uma ausência sobre a definição do objetivo do

trabalho do Assistente Social na ESF por muitos profissionais.

Os profissionais também não conseguem se articular com a comunidade e com as demais

políticas públicas em prol da promoção da saúde; a própria categoria profissional

encontra dificuldades em se articular para superar as dificuldades, sendo estas em grande

parte relacionadas às divergências de teorias a serem seguidas, entre outros aspectos.

Concluindo apesar dos os obstáculos apontados parece ser uma questão de tempo e

melhor articulação da categoria a nível nacional para que o profissional Assistente Social

seja inserido na equipe mínima do Programa Estratégia Saúde da Família.

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BIBLIOGRAFIA

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46 ANEXOS Equipe do PSF Perguntas: 1- Qual sua Profissão? 2- Há quanto tempo você esta presente no Estratégia Saúde da Família? 3- Quais são suas atividades na equipe da ESF? 4- Para você o programa é hoje importante na política de saúde pública? Porquê? 5– Você observa a necessidade de ampliação da equipe do PSF? ( ) Sim ( ) Não Por quê? 6– Qual dos Profissionais abaixo em sua opinião poderia compor a equipe? ( ) Nutricionista ( ) Assistente Social ( ) Fisioterapeuta Por quê? - Caso você tenha escolhido o profissional do Serviço Social responda as próximas questões. 7– Porque você considera que o Assistente Social não esta presente na equipe? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não Sabe Por quê? 8- Qual atividade que a equipe realiza que você considera importante a presença do Assistente Social? 9- Sua unidade possui Assistente Social? Caso sim, ela contribui no programa. Como ?

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ENTREVISTA:

Gestor de Saúde 1 - Como são formadas as equipes do PSF? 2 – Quantas equipes existem no município? 3 – Em todas existem As. Sociais? Caso não ou sim, por quê? 4 – Existe alguma pesquisa ou dado no município que demonstra a contribuição do As. Social na equipe? Caso sim, quais os resultados? 5 – Quais são os tramites legais para inclusão de um profissional na equipe do PSF? 6 - Para o Município há necessidade do Assistente Social na equipe do PSF? 7 – Você acha importante a garantia legal do As. Social na equipe do PSF? 8 - O Assistente Social na equipe do PSF é? ( ) Indispensável ( ) Dispensável ( ) Indiferente Por quê?

48 ENTREVISTA: Representante do Conselho Regional do Serviço Social 1 - Existe algum movimento nos conselhos para a inclusão legal do As. Social na equipe do PSF? ( ) Sim ( ) Não Por quê? 2- Qual a posição do Conselho (Vitória) nesta discussão? 3- O Conselho possui dados do Município de Vitória ou da Grande Vitória que demonstre como esta a questão da presença do As. Social na equipe do PSF? 5- Qual, ou se existe a participação de profissionais do município de Vitória que contribui nesta discussão? 4- Quais são os tramites legais para inclusão do Assistente Social na equipe básica do PSF?

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