O Banho Texto-final

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O Banho texto de teste

Transcript of O Banho Texto-final

Paul

No sei bem o que estou aqui a fazer, nem estava sequer a pensar nisso, s sei que agora a minha vida resume-se a isto, um quarto de banho, um pequeno e simples quarto de banho. Quando me levantava e chegava aqui, nunca pensei que esta minuscula sala, iria tornar-se naquilo a que um dia chamaria o meu Mundo. Sim, o meu Mundo. Quando se fala de mundo, imagina-se uma coisa em grande, mas para mim o Mundo isto, os meus livros, a miss Monroe, - uma vizinha que v-se l saber porqu me traz todas as refeies - acho que lhe lembro o seu filho, Thomas, um toxicodependente que como qualquer viciado, passa o tempo entre Casal Ventoso e Curraleira. Amanh fao 29 anos, dois anos depois do que me trouxe aqui...

Aquela manh, mais um dia normal, de uma familia normal, de trabalho normal...

Acordei, banho, pequeno almoo e sa de casa como habi-tualmente para mais um dia de trabalho na editora...

E comeou...

Na primeira esquina reparei num sem-abrigo, que a muito custo se mantinha de p, e para quem as pessoas nem sequer olhavam. Olhmos um para o outro... como que a pedir por uma salvaco , que, ambos sabiamos no existir!

- No h salvaco , essa salvao no existe, o melhor que tens a fazer mudares de Mundo, para um melhor, porque este, ...e ele...

Acho que percebeu porque sem dizer nada e com um sorriso esboado, virou costas, agarrou no amontoado de coisas inteis e partiu. A partir desse momento nunca mais o vi, talvez tenha encontrado o tal Mundo melhor, tal como eu encontrei! ...pelo que... Chegado ao trabalho, eis a boa nova!

- A editora est com problemas financeiros, portanto, a partir deste momento no contamos mais consigo, obrigado!

Obrigado to e s? No me apercebi, que os despedimentos da semana que se passara, chegariam ao meu esta semana. Mas nem por isso desesperei ou coisa que o valha, isso significaria mais tempo para estar com quem gosto de verdade, Susan a minha mulher e Jeff o meu fillho de dois anos... enchi uma pequena caixa de carto com as lembranas de mais uma m experincia e fui para casa.

No ultmo lano de escadas, apoderou-se de mim uma estranha sensao, nesse momento as mos suavam e tremiam como nunca, ainda assim, consegui abrir a porta. Foi como se tivesse chegado a um lugar ao qual no a j vrios anos. Ningum, estranho a Susan no costuma sair de manh.

-Tou, Sally eu queria falar com a Susan, por favor?- diz-lhe que o Paul!

Depois o choque!

-A Susan j no trabalha aqui, despediu-se esta manh e a unica coisa que disse foi que tinha um avio para apanhar e que antes ia passar no infantrio! Adeus Paul, bom dia e bom trabalho!

-Bom dia e bom trabalho? Foda-se!

Corri o mais depressa que pude at ao infantrio.

-A Susan, onde est a Susan, onde est...? E o Jeff...onde?

-A senhorita Susan esteve aqui e levou o Jeff...perguntou qual o caminho mais perto para o aeroporto, e saiu...

-AAAAaaaahhhhhhhhhggggggg!!!!!!!!!!!!

No aeroporto

-Bom dia , informaes, em que posso ser til?

Lembrei-me que a mae de Susan esteve varios anos na Venezuela a trabalhar como stripper!

-A que horas parte o voo para a Venezuela?

-Lamento, mas... partiu faz cinco minutos!

-Pode dizer-me se embarcou uma Susan Lars - nome do pai, marinheiro sueco que combateu na Segunda Grande Guerra, ao lado das tropas Nazis, e que agora tem uma barbearia a meias com um cabo-verdiano, em Marselha - e se levava uma criana com ela?

-Sim de facto! E sim levava uma criana com ela, haver alguma coisa que eu possa fazer por si?

-No ... olhe, afinal... no, no , muito obrigado.

Voltei para casa, no havia nada a fazer... que vou eu fazer agora... fumei o meu ultimo Marlboro, a verdade que me sentia completamente calmo, como se estivesse a comear uma nova vida..., e na verdade estava...

A gua do chuveiro caia na minha cabea como se fosse a unica coisa capaz de me manter calmo para o resto da vida, de repente apercebi-me de que queria ficar ali para sempre, que aquele pequeno quarto de banho de pequenos mosaicos brancos, torneiras de lato e banheira de pedra seria a partir de agora o meu pequeno Reino, que como se de um castelo se tratasse, e me protegeria de toda e qualquer ameaa.

Os escudeiros... Seriam os livros...

Na manh seguinte...

Acordei , sem trabalho, sem ningum que poderia eu mais fazer seno... ler... e foi isso que fiz nos dois anos seguintes , at que num dia...

-Paul...!!!...Paul!!!

Que voz estranha esta, aps dois anos, todas as vozes me pareciam estranhas na realidade, a miss Monroe no era...

Seria o primeiro sinal de que a loucura me viria visitar?...

-Mr.Paul.. Mr. Paul...!

-Sim! Sou eu, quem ? Perguntei a medo...

-Sou eu Mr. Paul, o Thomas.

Era Thomas - o viciado filho de Miss Monroe - mas que raio quereria ele de mim? Em dois anos a nica voz que ouvi foi a de sua me.

- Sim, ol Thomas que queres? Indaguei, ainda que estivesse quase certo da razo da sua visita...

-Preciso de algum dinheiro meu caro Paul! Prometo pagar-to ainda esta semana.

Sem retorquir aproximei-me do pequeno armrio acima do lavatrio e agarrei num mao de notas, o ltimo, aproximei-me e sem olhar para ele depositei-o no bolso do seu casaco sebento e de pele gasta.

-Adeus Thomas. - disse-lhe

-Obrigado Paul. Ainda esta semana. Prometo

Por vezes ainda ouo os seus passos acelerados a descer os pequenos degraus da escada de madeira em direco rua.

Foi a ultima vez que vi Thomas.

Thomas

No seu fato trendy sempre impecavelmente engomado Mr. Scott - conhecido por "A Manicura" por no poucas vezes mandar arrancar as unhas a todos os que se metiam no seu caminho - esperava por mim no balco do Star Slight. No estava atrasado. No podia. Conseguia ouvir "Its all over now Baby Blue" dos Them na Jukebox. Lucy danava no palco. Era importante no me mostrar nervoso, voltei-me, tirei o ltimo mao de notas e atirei-o para o balco.

-Aqui est!

Toda a gente em silncio

Scottie mostrou um sorriso e atirou.

-Ol Thomas! Ento!? mostra-me l essas mos.

Estremeci.

Disse-lhe que na prxima semana lhe pagaria o resto.

-Prometo. - disse.

O Star Light era, na altura, frequentado pela maior escumalha da terra.

No meu lado direito Bradley Smith, um ex-condenado por, enquanto ferrovirio, ter morto o seu chefe a golpes de machete. Atrs Lola, A Alternadeira, quarenta anos de carreira em todos os bordis do pas.

frente Scottie. Tinha a certeza de que de alguma maneira isto iria acabar mal.

- Na prxima semana no! Amanh! - Disse-me Scottie

Sorri, ainda que sem nenhuma vontade

-Amanh!? mas isso impossivel. Onde vou arranjar mil dlares at amanh - retorqui

Mas onde raio conseguiria eu arranjar mil dlares at amanh pensei, a tarefa no seria fcil, Scottie era a ltima pessoa no Mundo com quem algum se poderia meter.

Lucy a filha mais nova de Tom "o Xerife" continuava a sua dana ritmada pelo consumo exagerado de tequilla