O CENTRO HISTÓRICO DE SALVADOR E A SUA INTEGRAÇÃO SOCIOURBANA parte 5

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2º CAPÍTULO 2 O ENIGMA BAIANO Intrigava-me, desde muito, o que chamei o enigma baiano: por que razão a Bahia, cujas qualidades e riquezas eram, em geral, tão celebradas, se mantinha, todavia, em condições de progresso indiscutivelmente inferior ao que resultaria, em boa lógica, de semelhante conceito,

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JUAREZ DUARTE BOMFIM

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2º CAPÍTULO

2 O ENIGMA BAIANO

Intrigava-me, desde muito, o que chamei o enigma baiano:

por que razão a Bahia, cujas qualidades e riquezas eram,

em geral, tão celebradas, se mantinha, todavia,

em condições de progresso indiscutivelmente inferior ao que resultaria,

em boa lógica, de semelhante conceito,

assim tivesse ele a procedência que se lhe atribuía?

Octavio Mangabeira

2 O ENIGMA BAIANO

SALVADOR: EVOLUÇÃO SOCIOESPACIAL A PARTIR DE 1950

Ao longo da primeira metade do século XX, a antiga província da Bahia

(agora Estado) vai perdendo a sua importância política e econômica para outras

unidades constitutivas da nação brasileira, como os Estados do Sudeste, onde se

desencadeia o processo de industrialização para substituição de importações.

Salvador e o Recôncavo baiano, que tinham sido os principais pólos da

indústria têxtil brasileira na segunda metade do século XIX, ficam de fora do impulso

industrialista provocado pela Primeira Guerra Mundial. Ocorre o fenômeno local de

involução industrial ou desindustrialização.

Salvador estagnou durante as primeiras quatro décadas do século XX. A vibração econômica que existiu foi devida às indústrias de cacau e de tabaco e ao comércio interno. Em 1890, Salvador ainda era a segunda maior cidade do Brasil e a quarta cidade no país com sistema telefônico mas, por volta de 1940, caiu para a quarta posição (ficando atrás do Rio, São Paulo e Recife). De fato, a população de Salvador cresceu a uma taxa anual de 1% durante 50 anos, de 1890 a 1940. Poucas indústrias novas foram estabelecidas após 1920, porque novas fábricas de produtos em substituição aos importados foram implantadas no Sudeste e no Sul, regiões mais prósperas. A cidade permaneceu como um entreposto comercial para a região.i

Na vida pública o rural predomina sobre o urbano, e o Estado da Bahia,

sendo estruturalmente de economia agrário-mercantil, alija-se do processo

desenvolvimentista e modernizador desencadeado no Brasil pelo governo de Getúlio

Vargas. A imagem que corresponde a este período é a de uma sociedade paralisada

ou semi-paralisada, uma Bahia “inerte, imóvel, lentamente adormecida e prisioneira

de um passado que não parecia ir embora”.ii

i HEROLD, Marc W. Entre o açúcar e o petróleo: Bahia e Salvador, 1920-1960. Disponível em <http://www.espacoacademico.com.br/042/42cherold.htm> Acesso em 12 junho 2005; Milton Santos indicou a presença de 5.500 saveiros, barcos a vela, de 12 a 15 toneladas, que realizavam o transporte de mercadorias entre o Recôncavo e Salvador. In SANTOS, 1959, p. 73.ii MATTOSO, Kátia de Queiroz. A Bahia no século XIX. Uma província no Império. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992, p. 17 apud PINHEIRO, Israel de Oliveira. IDEAÇÃO. Feira de Santana, n.4. p.49-78. jul/dez 1999.

A oligarquia política que domina o Estado era poderosa e relativamente

rica no local de seu domínio, porém, pobre no contexto de produção de mercado —

com raras exceções em regiões prósperas, como a do cacau.

A partir da década de 1930 o Estado brasileiro passou a dar prioridade

a atividades que “estavam fora do universo econômico da burguesia baiana”,iii e

essa nova conjuntura debilitou as burguesias mercantil, financeira e agrária da

Bahia.

Não possuindo um parque industrial, e impossibilitada de comprar

diretamente no exterior os bens de que necessitava, a Bahia “se encerrava

compulsoriamente no circuito do comércio interestadual, que providenciava a

transferência de renda para o Centro-Sul”.iv Acrescentando a isso o desequilíbrio

provocado pela diferença entre a arrecadação federal e os seus gastos e

investimentos na Bahia, “decifram-se” as razões da decadência econômica regional,

pois o papel das regiões periféricas brasileiras vinha sendo o de financiar o Sudeste

brasileiro.

Completando o cenário, a Cidade do Salvador, que já havia visto a

redução da sua importância como ex-capital do Brasil Colônia a partir de 1763,

agora assistia a cidade de Recife assumir o centro das atividades econômicas

regionais.

Um indicador importante para compreender a estagnação econômica

baiana da época é o baixíssimo crescimento demográfico de Salvador entre 1920 e

1940, apenas de 0,2% (Tabela 4). Isso a coloca como a capital brasileira que

apresenta as menores taxas anuais de crescimento populacional.

Tabela 4 — Salvador: Taxa anual de crescimento em décadaAno Salvador Taxa anual de crescimento

em década1620   21.000 -1872 129.109 -1890 174.412 1,6% (1872-1890)1900 205.813 1,7%

iii GUIMARÃES, A. S. A., ibídem..iv RISÉRIO, A. 2004, p. 465.

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1920 283.422 1,6 %1940 290.443 0,16 %1950 417.235 3,7 %

Fonte: HEROLD, Marc W. http://www.espacoacademico.com.br/042/42cherold.htm

Essa estagnação faz Salvador perder para Recife o posto de maior

cidade nordestina em população (Tabelas 5 e 6).

Tabela 5 — 10 maiores municípios brasileiros em 1920

Fonte: IBGE. Anuário Estatístico do Brasil — 1980.

Tabela 6 — 10 maiores municípios brasileiros em 1940

Fonte: IBGE. Anuário Estatístico do Brasil — 1941-1945.

Os produtos que eram sustentáculos da economia agroexportadora

baiana entram em crise, e o próprio capital financeiro baiano passa a ser investido

em atividades mais rentáveis, no agora eixo dinâmico da economia brasileira: São

Paulo.

O “enigma baiano” é a expressão cunhada pelo governador Octavio

Mangabeira frente ao “mistério” da contradição econômica e social manifestada

entre — de um lado — a situação de existência de grandes riquezas naturais no

10 maiores municípios brasileiros População em 1920Rio de Janeiro 1.157.873São Paulo 579.033SALVADOR 283.422Recife 238.843Belém 236.402Porto Alegre 179.263Niterói 85.986Curitiba 78.986Fortaleza 78.536Manaus 75.704

10 maiores municípios brasileiros População em 1940Rio de Janeiro 1.764.141São Paulo 1.318.539Recife 352.727SALVADOR 294.253Porto Alegre 275.678Campos 225.443Belo Horizonte 211.650Belém 208.706Fortaleza 182.241Santos 169.889

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estado e — do outro — a pobreza material dos homens, o problema do quadro de

miséria e de penúria do seu povo.

Intrigava-me, desde muito, o que chamei o enigma baiano: por que razão a Bahia, cujas qualidades e riquezas eram, em geral, tão celebradas, se mantinha, todavia, em condições de progresso indiscutivelmente inferior ao que resultaria, em boa lógica, de semelhante conceito, assim tivesse ele a procedência que se lhe atribuía? v

O governo Mangabeira (1947-1951) encarnou o “espírito de

reconstrução”. Espírito que tinha sentidos diversos quando referidos ao nível

nacional ou regional. Se no primeiro significava construir uma sociedade

democrática sobre a base de um capitalismo moderno — em um país recém-saído

de uma ditadura política de nacionalismo econômico — no segundo significava

restaurar o papel e a importância de uma classe dominante que se atrasara em

relação a esse capitalismo

Para a realização de obras em Salvador, o governo Mangabeira

respaldou-se na política federal de investimentos compensatórios, que lançou as

bases para a acumulação capitalista na Bahia através da construção da refinaria de

petróleo de Mataripe, das ligações ferroviária e rodoviária com o Sul do país e de

inversões vultosas em educação e saúde públicas.

Mas, sobretudo, Mangabeira soube encontrar símbolos duradouros

para esse espírito restaurador. Construiu a avenida que vai dar a Itapoã pela orla

marítima, o Hotel da Bahia, o Fórum Rui Barbosa, o Estádio da Fonte Nova, tomou

as primeiras providências para a construção do Teatro Castro Alves etc.vi

Um pouco antes, tinham começado em Salvador as políticas de

planejamento urbano, com a organização do Epucs — Escritório do Plano de

Urbanismo da Cidade do Salvador — em 1943, quando são seguidas várias

recomendações resultantes de conferências científicas, inclusive de preocupação e

defesa do patrimônio histórico. A realização das propostas do Epucs para a

construção de um sistema de avenidas de vale só acontecerá bem depois, já nos

anos 1970.

Metropolização de Salvador

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A situação econômica desfavorável vai começar a mudar com a

expansão do movimento industrial brasileiro para o Nordeste. A descoberta de

petróleo (1939) na bacia do Recôncavo baiano, a instalação da refinaria e a criação

da empresa estatal Petrobras (1953) vão representar um impulso desenvolvimentista

significativo para o estado da Bahia.

O surgimento da Petrobras coloca a Bahia num polo privilegiado da

produção nacional de energia, e surge um proletariado numeroso e relativamente

bem pago residente na capital. Os escritórios regionais da Petrobras e das firmas

prestadoras de serviços fixaram-se em Salvador, bem como muitos dos seus

empregados, inclusive os da área de produção e refino, devido à falta de condições

apropriadas nos pequenos centros urbanos do Recôncavo.

A administração pública se renova, é criada a Comissão de

Planejamento Econômico (CPE) no governo de Antonio Balbino (1954-58) e a Bahia

“vai lutar por uma participação maior nos royalties da Petrobras”.vii

Esse é um período desenvolvimentista no Brasil. No plano regional, a

criação da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), em 1959, e

a política federal de incentivos fiscais para investimentos no Nordeste através do

Banco do Nordeste do Brasil (BNB), completarão o quadro de expansão capitalista

que se inicia.viii

A população de Salvador passou para 442.142 habitantes em 1950,

sentindo os primeiros impactos do fluxo migratório que se intensifica. Em 1960 serão

649.453 habitantes. Observem a posição da capital da Bahia entre as maiores

cidades brasileiras (Tabelas 7 e 8).

Tabela 7 — 10 maiores municípios brasileiros em 195010 maiores municípios brasileiros População em 1950Rio de Janeiro 2.413.152São Paulo 2.227.512Recife 534.468SALVADOR 424.142Porto Alegre 401.213Belo Horizonte 360.313Fortaleza 280.084Belém 260.608Campos 240.829Santos 206.920

Fonte: IBGE. Anuário Estatístico do Brasil 1950.

Tabela 8 — 10 maiores municípios brasileiros em 1960

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Fonte: IBGE. Anuário Estatístico do Brasil – 1980.

A urbanização acelerada da capital da Bahia está diretamente

relacionada com a mudança da base econômica regional agroexportadora para a

acumulação de base industrial. A industrialização tardia de Salvador e municípios de

entorno contribuirá sobremaneira para atrair um forte movimento migratório campo-

cidade, gerando concentração espacial de habitantes em Salvador.

Transformações arquitetônicas significativas ocorrem no período (1945

a 1959), quando na região central da cidade, entre a Praça da Sé e Praça Castro

Alves, são construídos edifícios em estilo modernista, de oito andares. Esses

prédios representam uma quebra do conjunto arquitetônico colonial.

Em 1958 dá-se início à construção da Avenida do Contorno, obra que

se arrasta até 1970. Essa avenida vai ligar a Cidade Baixa ao vale do Canela — com

os veículos prescindindo de passarem pelas antigas vias centrais — e isto muito

contribuirá para o esvaziamento do Centro Histórico como local de circulação e

trânsito.

Nesse período, apenas 5% da população viviam nos subdistritos

centrais,ix configurando-se um esvaziamento do centro da cidade como local de

moradia, pois a continuidade do processo de especialização e tercialização, com

certas atividades como o banco, o comércio atacadista, o comércio de luxo e

atividades afins, tem tendência a expulsar a população do centro da cidade.

A conversão de antigos imóveis habitacionais em edifícios de

escritórios, a construção de edifícios funcionais, com a consequente impossibilidade

de utilizar essas construções como residências, o comércio concorrendo com os

moradores, acarreta o enfraquecimento de densidade na região central. Por outro

lado, nos bairros vizinhos, em áreas de entorno, não atingidas pela expansão das

atividades do centro, há a tendência de aumentar a população.

ix As antigas freguesias se tornam sub-distritos administrativos (1986), conservando a mesma delimitação espacial.

10 maiores municípios brasileiros População em 1960São Paulo 3.781.446Rio de Janeiro 3.281.908Recife 788.336Belo Horizonte 683.908SALVADOR 649.453Porto Alegre 635.125Fortaleza 507.108Belém 398.222Curitiba 356.830Niterói 243.189

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A institucionalização da atividade turística promoveu a criação de

incentivos, a realização de eventos e produziu em 1955 o Plano Diretor de Turismo,

incorporando à época essa nova função à região central.

O “redesenho” da cidade em função do veículo automotor faz com que

novas avenidas de tráfego sejam abertas. A Avenida Centenário, uma das primeiras

avenidas de vale de Salvador, foi construída em 1949; em 1959 inaugura-se a

Avenida Vasco da Gama, ligando a área do bairro do Tororó ao Rio Vermelho, pelos

vales; a Avenida Barros Reis teve a sua construção iniciada em 1961, permitindo

uma melhor ligação da Baixa dos Sapateiros com o leste da cidade.x Inúmeras

outras avenidas continuam a ser construídas, numa expansão territorial acelerada.

Um conjunto de fatores contribuiu para esse célere crescimento de

Salvador, mudando a paisagem e aumentando a sua complexidade e

heterogeneidade: o impacto dos investimentos industriais com a criação do Centro

Industrial de Aratu (CIA, em 1967) e do Complexo Petroquímico de Camaçari

(Copec, a partir de 1972); as novas formas de atividades comerciais e de serviços

que o acompanharam; os programas de construção de rodovias; e a modernização

da administração estadual, tudo isso gerou as condições do rápido desenvolvimento

urbano e o surgimento de novos vetores de crescimento.

Sendo Salvador local de moradia e de consumo da quase totalidade da

mão-de-obra empregada no CIA e no Polo Petroquímico — nome usual para o

Copec —, esse importante fator econômico vai contribuir para a modernização e

expansão da metrópole.

Foram essas as condicionantes para, de um lado, o crescimento

verticalizado da cidade, com a ampliação dos interesses imobiliários e o

desenvolvimento da construção civil e, de outro, a horizontalização da urbe, com a

criação de um sistema viário moderno favorecendo o surgimento de novos sub-

centros urbanos.

A expansão dos núcleos residenciais gerou uma demanda por

comércio e serviços para as necessidades locais e imediatas fazendo surgir uma

série de novas e pequenas centralidades, que são os novos subcentros dos bairros.

Portanto, cabe assinalar que os processos de verticalização e

horizontalização são duas das principais características do crescimento de

Salvador a partir de 1970.

Ocorre que o custo da terra urbana dificulta o acesso ao solo para a

maioria da população. Devido a isto, a satisfação da necessidade de moradia dos

mais pobres passa a se realizar em áreas da periferia da cidade. A ocupação da

x VASCONCELOS, P. A., 2002, p.330 passim.

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periferia também é orientada pelo governo, através do Sistema Financeiro de

Habitação (SFH), com a construção de grandes polígonos residenciais nestas áreas.

Os bairros das classes de maior poder aquisitivo sofrem um rápido

processo de verticalização — por conta dos novos signos habitacionais e de

interesses imobiliários — o que permite o seu adensamento. Em bairros residenciais

como a Pituba ocorre maior verticalização que no próprio centro de negócios — o

bairro do Comércio.

A paisagem da cidade pode ser comparada a um grande mosaico, pois

além dos mais pobres ocuparem a periferia socioespacial, acompanhando os eixos

periféricos como o da Rodovia Salvador—Feira de Santana (BR 324), também

ocupam partes da área urbana contínua entre os bairros das classes médias — a

periferia social. O crescimento acelerado de Salvador é comparado a um “caos

organizado”xi por geógrafos e urbanistas.

Salvador se transforma, e a caracterização desse período, por assaz

complexo, será feito procurando dar uma visão geral de uma metrópole que já passa

dos 2,5 milhões de habitantes.xii

Para a análise a seguir, apesar de usarmos a designação de “bairros”

para os sítios de Salvador, a divisão administrativa realizada pela Prefeitura em

1987 foi de Regiões Administrativas,xiii que não são territórios incompatíveis com as

delimitações anteriores, mas tampouco contemplam os limites entre os bairros

(Figura 14).

xi FERNANDES, R. B., 2000, p. 104.xii

População estimada de Salvador em 2002: 2.534.314 habitantes. Fonte: Seplam/PMS/FMLF, 2005.xiii Disponível em < http://www.seplam.pms.ba.gov.br/ssadados/e_index.htm> Acesso em 26 de setembro de 2005.

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Figura 14 — Regiões Administrativas de SalvadorFonte: Elaboração própria. Base Sicar-Conder, 2000

Novas centralidades, expansões e espaços urbanos

Até os anos 1970, Salvador possuía uma estrutura mononuclear, pois

embora existissem subcentros voltados para a população dos bairros, era o centro

tradicional, formado pela Cidade Alta e Cidade Baixa, “o local ao qual se ia para o

trabalho, para realizar negócios, para fazer compras e para o lazer cultural”.xiv As

linhas de transporte coletivo, todas dirigidas para o Centro, reforçavam essa

centralidade.

O desenvolvimento da atividade industrial na região metropolitana e a

expansão do comércio e dos serviços em Salvador criaram vetores de crescimento e

a transformaram numa metrópole polinuclear. Contribuíram para isso as dificuldades

de circulação e estacionamento nas áreas centrais.

Para esse notável processo de expansão foi fundamental a melhoria

da infraestrutura urbana em água, energia e, sobretudo, transporte. Em poucos anos

a cidade assistiu a um vigoroso processo de abertura de novas avenidas de vale

(anos 1970) e, assim, o sistema de ligação das avenidas “Bonocô—Acesso Norte—

Antônio Carlos Magalhães—Paralela”, com todas as suas articulações, passa a ser

fundamental no direcionamento da periferização do crescimento de Salvador.

O chamado miolo de Salvador — a área central da cidade, limitada a

Oeste pela BR-324 e a Leste pela Avenida Paralelaxv — é rapidamente ocupada com

novos loteamentos e conjuntos habitacionais financiados pelo Sistema Financeiro de

Habitação e nessa área, com cerca de 115 km² e 41 bairros, estima-se que residiam

634.041 habitantes no ano de 1996xvi e 735.532xvii no ano 2000. Preenchendo os

espaços vazios entre os polígonos residenciais implantados, sobretudo nos bairros

do Cabula e Cajazeiras, alojam-se milhares de famílias numerosas e pobres, em

casas de autoconstrução, em áreas de invasões, as favelas. Salvador passa então

por um processo de crescimento acelerado, porquanto mais que duplica a sua

população entre 1970 e 1990 (Tabela 9).xiv VASCONCELOS, P. A., 2002, p.382.xv O “miolo” corresponde aos sub-distritos de Pirajá, Valéria, São Cristóvão e parte de São Caetano. VASCONCELOS, P. A., 2002, p.338; ver também FERNANDES, Rosali Braga. Processos recentes de urbanização / segregação em Salvador: o miolo, região popular e estratégica da cidade. Biblio 3W Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales (Serie  documental de Geo Crítica) Universidad de Barcelona Vol. IX, nº 523, 20 de julio de 2004. Disponível em http://www.ub.es/geocrit/b3w-523.htm Acesso em 19 setembro 2005.xvi SILVA, Bárbara-Christine Nentwig; SILVA, Sylvio Bandeira de Mello. Processo de crescimento espacial de Salvador, p.57-80 in SILVA, Bárbara-Christine Nentwig; SILVA, Sylvio Bandeira de Mello Cidade e região no estado da Bahia. Salvador: Centro Editorial e Didático da UFBA, 1991; e FERNANDES, R. B., 2000, p. 139. xvii IBGE – Censo Demográfico 2000.

Tabela 9 — Salvador: Taxa anual de crescimento (1960-1990)Ano Salvador Taxa anual de crescimento

em década1960 655.735 4,8 %1970 1.007.195 4,7 %1980 1.501.981 4,1 %1990 2.072.058 2,9 %

Fonte: Conder. Painel de Informações da Região Metropolitana de Salvador, 1992.

Além da área do miolo de Salvador, é possível caracterizar outros

quatro eixos de crescimento, assim como o surgimento de novas centralidades.

A mancha urbana continua ocupando áreas bem próximas à orla

oceânica, nos bairros residenciais das classes médias e altas, contíguos ao centro

tradicional, numa densificação vertical dos bairros do Canela, Vitória, Graça, Barra e

Ondina. Aí residem as famílias de classe média e média alta. Estes bairros assistem

à derrubada de antigas mansões e de pequenos prédios residenciais para dar

origem a verdadeiros arranha-céus.

Este processo atinge rapidamente a Pituba, bairro implantado somente

na década de 1960 com casas e pequenos prédios de até três andares. A partir dos

anos 1970 ocorre a verticalização com a derrubada de casas e pequenos prédios

para dar lugar a grandes edifícios. A mancha urbana se adensa e atinge de forma

contínua os bairros de Itaigara e Costa Azul — também locais de moradia das

classes média e média alta —, Boca do Rio, Piatã e Itapuã.

Ocorre igualmente o adensamento das áreas próximas à orla da Baía,

como Península de Itapagipe e bairro da Liberdade, e o aumento acelerado da

ocupação da área dos Alagados e subúrbios ferroviários é estimulado pela criação

da Avenida Suburbana (a partir de 1971, com 14 km de extensão), forte vetor de

expansão daquela área. Nessa região — como em outros espaços da cidade — se

instalam muitas famílias de rendas inferiores, em áreas de invasões, em casas de

autoconstrução (as favelas).

A nova estrutura da metrópole enfatiza o seu novo centro, o Iguatemi,

do qual partem e convergem vários eixos importantes. Essa região, o novo centro de

Salvador, concentra uma variedade de funções urbanas e equipamentos públicos e

privados que a transformam na área mais dinâmica da cidade. Uma área sem

caráter ou identidade, que poderia ser enclave de qualquer grande urbe do planeta,

que depõe contra o que Salvador tem de específico, singular e original na sua

paisagem.

101

O “coração” deste centro é um gigantesco shopping center, o Iguatemi,

inaugurado em 1975 e composto de 520 lojas e 4.500 vagas para estacionamento,

distribuídos em três pisos.xviii Circulam por esse espaço 100 mil pessoas/dia; esse

shopping subverteu a ideia da dicotomia entre espaços público e privado em

Salvador.xix

Nessa região, originalmente chamada de vale do Camurugipe, se

instalaram a nova estação rodoviária (1974); o maior hipermercado de Salvador

(1980); grandes equipamentos públicos (Corpo de Bombeiros, sede do

Departamento Estadual de Trânsito, Detran etc.); revendedores de automóveis;

modernos prédios de escritórios, universidades, outro grande shopping (Shopping

Salvador, 2007) etc., reforçando a sua centralidade.

Novos eixos de expansão urbana, na forma de avenidas tipo freeway,

concebidas para uso do automóvel em alta velocidade, atraíram para as suas

margens prédios de escritórios, shoppings, hospitais, grandes lojas etc.,

configurando assim a “nova” Salvador. São elas a Avenida Antônio Carlos

Magalhães, a Avenida Tancredo Neves, a Avenida Garibaldi e a Avenida Paralela,xx

via expressa de acesso ao Aeroporto Internacional. A modernização urbana de

Salvador faz com que o geógrafo Milton Santos a considere a segunda mais

moderna cidade do Brasil — a primeira seria Brasília.xxi

A implantação do Centro Administrativo da Bahia nas proximidades da

Avenida Paralela cumpriu o papel de esvaziar o centro tradicional dessa importante

função administrativa e, por outro lado, atraiu para esse novo vetor de expansão da

cidade — em área conquistada à Mata Atlântica — a locação de novos

equipamentos urbanos, de grande porte.

A rapidez e complexidade do crescimento urbano recente de Salvador

faz com que a descrição desse fenômeno seja fragmentada e sob sério risco de

pecar por significativas omissões. Por isso, como não é pretensão deste estudo

compreender a totalidade urbana da cidade, e sim algo que lhe é específico — o seu

Centro Histórico – encerramos por aqui esta descrição, retornando ao tema quando

necessário. Concluímos ilustrando essa parte do capítulo com a Figura 15, onde

estão assinaladas as manchas urbanas de expansão e ocupação habitacional, de

2000; assim como a posição de Salvador entre as maiores cidades brasileiras até o

ano de 2001, cujo acelerado crescimento a faz saltar para o terceiro lugar em

população, posição que mantém até os dias de hoje (Tabelas 10 a 13).

102

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Figura 15 — Expansão urbana e ocupação habitacional de Salvador, 1991.Fonte: Elaboração própria. Base Sicar-Conder, 2000.

Tabela 10 — 10 maiores municípios brasileiros em 197010 maiores municípios brasileiros População em 1970São Paulo 5.684.706Rio de Janeiro 4.207.322Belo Horizonte 1.167.026Recife 1.100.464Porto Alegre 932.801SALVADOR 892.392Fortaleza 846.069Curitiba 616.548Nova Iguaçu 478.319Campos 389.045

Fonte: IBGE. Anuário Estatístico do Brasil – 1970.

Tabela 11 — 10 maiores municípios brasileiros em 198010 maiores municípios brasileiros População em 1980São Paulo 8.584.896Rio de Janeiro 5.184.292Belo Horizonte 1.814.990SALVADOR 1.525.831Fortaleza 1.338.733Recife 1.240.897Brasília 1.202.683Porto Alegre 1.158.709Curitiba 1.052.147Belém 949.463

Fonte: IBGE. Anuário Estatístico do Brasil – 1980.

Tabela 12 — 10 maiores municípios brasileiros em 199110 maiores municípios brasileiros População em 1991São Paulo 9.480.427Rio de Janeiro 5.336.179SALVADOR 2.056.013Belo Horizonte 2.048.861Fortaleza 1.758.334Brasília 1.596.274Recife 1.290.149Curitiba 1.290.142Nova Iguaçu 1.286.337Porto Alegre 1.262.631

Fonte: IBGE. Censo Demográfico 1991.

Tabela 13 — 10 maiores municípios brasileiros em 200110 maiores municípios brasileiros População em 2001São Paulo 10.435.546Rio de Janeiro 5.857.904SALVADOR 2.443.107Belo Horizonte 2.238.526Fortaleza 2.141.402Brasília 2.051.146Curitiba 1.587.315Recife 1.422.905Manaus 1.405.835Porto Alegre 1.360.590

Fonte: http://www.ibge.gov.br

SALVADOR E A SUA REGIÃO METROPOLITANA

O fim do Recôncavo?

O geógrafo Milton Santos declarou certa vez que o Recôncavo baiano

sempre foi mais um conceito histórico que uma unidade fisiográfica;xxii entretanto,

pesquisadores sempre fizeram esforço para delimitar a região. Seja como for, como

Recôncavo é compreendido o espaço que diz respeito às zonas produtivas mais

tradicionais, onde surgiram as primeiras vilas e cidades do Brasil seiscentista. O

“Recôncavo das cidades históricas e do mais extenso parque de arquitetura barroca

do país”.xxiii

A partir da década de 1970 a Cidade do Salvador “deu as costas à sua

interlândia mais densa”xxiv e a quatrocentenária região econômica reconcavense,

primeira rede urbana da Ibero-América, desintegra-se para dar lugar a um novo

vetor de crescimento regional, ao norte de Salvador, que passa a ser designada de

Região Metropolitana.

É este conjunto de treze municípios e a sua dinâmica regional que vai

caracterizar a Bahia moderna e influenciar as tendências urbanas da capital.

A Região Metropolitana de Salvador

A Região Metropolitana de Salvador representa a extensão geográfica

que interage diretamente com a Cidade do Salvador. A RMS é composta de treze

municípios: Camaçari, Candeias, Dias D’Ávila, Itaparica, Lauro de Freitas, Madre de

Deus, Salvador, São Francisco do Conde, Simões Filho, Vera Cruz, Mata de São

João. São Sebastião do Passé e Pojuca.

Com o desenvolvimento industrial, os municípios localizados nos

limites periféricos da capital do Estado passam a assumir múltiplas funções na

expansão das atividades econômicas, abrigando parques petroquímicos, centros

fabris, dormitórios para o proletariado, além de áreas verdes, de lazer e de veraneio.

O que há 50 anos estava circunscrito ao município de Salvador ampliou-se de tal

maneira que passou a ocupar uma nova extensão territorial, transformando as

antigas funções pastoris e agrícolas em um modo de vida predominantemente

urbano, à qual se denominou Região Metropolitana de Salvador.xxv

106

Esses eventos tiveram como consequência transformações urbanas

significativas, a exemplo da produção de um processo de descentralização interna

de Salvador e a sua união física com os municípios vizinhos, formando um só

conjunto, uma conurbação.

No ano de 1973 o governo federal havia estabelecido uma legislação

para as regiões metropolitanas. Salvador foi definida como um dos núcleos das nove

regiões metropolitanas brasileiras.xxvi

Em 1999 o Brasil já possuía 17 regiões metropolitanas. Em 2000, eram

21. Além das capitais São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Salvador, Recife, Belém,

Natal, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Natal, Florianópolis, São Luís e Vitória,

consideram-se nessa categoria as regiões abrangidas pelo norte/nordeste

catarinense, Vale do Itajaí (SC), Baixada Santista (SP), Vale do Aço (MG), Londrina

(PR) e Maringá (PR) e, mais recentemente, as cidades de Campinas (SP) e Goiânia

(GO). A Região de Influência do Entorno de Brasília alcança, incluindo o Distrito

Federal, 23 municípios.xxvii

Com uma área de 4.056 km2 e uma população de 3.767.902

habitantes, a Região Metropolitana de Salvador (RMS) forma parte da microregião

do Recôncavo e se localiza na região costeira setentrional do Estado da Bahia,

apresentando uma densidade de 906,4 hab/km2. Apenas os municípios de Dias

D’Ávila e São Sebastião do Passé não são litorâneos.xxviii

Esta região se constitui de treze municípios, dois dos quais formam a

Ilha de Itaparica, situada na baía de Todos os Santos, maior geossistema marinho

do litoral brasileiro formado por baías, enseadas menores e ilhas, manguezais e

restos da Mata Atlântica.

Grande parte do território da região está ocupado pelas bacias

hidrográficas dos rios Ipitanga, Joanes, Jacuípe e Pojuca, ademais do aquífero da

Formação São Sebastião. Como parte destas são zonas de proteção dos

xxvi VASCONCELOS, P. A., 2002, p.344.xxvii  REGIÕES Metropolitanas. Disponível em http://www.geobrasil2001.hpg.ig.com.br/grupo07/grupo07_page04.html Acesso em 29 setembro 2005.xxviii Originalmente, a RMS era composta por oito municípios, mas após a emancipação de Madre de Deus. Distrito de Salvador até 1990, e de Dias D’Ávila, passou a ter dez municípios. Em 17 de dezembro de 2007 foi aprovada pela Assembléia Legislativa da Bahia e sancionada pelo governo do estado em 3 de janeiro de 2008 (Lei Complementar estadual nº 30) a lei que incluiu Mata de São João e São Sebastião do Passé na RMS. Em 22 de janeiro de 2009 a inclusão de Pojuca foi sancionada pelo governador do estado da Bahia (Lei Complementar nº 32). Obs.: Como são fatos recentes, os dados demográficos foram extraídos de http://pt.wikipedia.org/wiki/Regi%C3%A3o_Metropolitana_de_Salvador com a ressalva de checar a veracidade da informação com outras fontes. Acesso em 09 jun 2009, por isso carecem de maior precisão.

107

mananciais, possuem uma legislação específica restritiva para a ocupação urbana.

A Região Metropolitana de Salvador limita-se ao Norte com os municípios de Santo

Amaro da Purificação e Catu; ao Sul e ao Leste com o oceano Atlântico; ao Oeste

com os municípios de Santo Amaro, Salinas da Margarida e Jaguaripe. Localiza-se

nas seguintes coordenadas geográficas: entre os 38º e 39º de latitude Oeste, e entre

os 12º e 13º de longitude Sul.xxix

A instituição de uma região metropolitana apresenta sérios problemas

quando não se criam os serviços necessários, como transporte público e habitação,

para atender ao crescimento da população desse conjunto de cidades. No caso da

Região Metropolitana de Salvador, esses problemas foram resolvidos parcialmente,

dentro do modelo econômico brasileiro de exclusão social de parte da sua

população.

Por outro lado, ela concentra os principais segmentos industriais do

Estado da Bahia, nos ramos de: químicos e petroquímicos, automotivo, refino de

petróleo, metalurgia, eletroeletrônicos e de produtos de informática.

A escolha do município de Camaçari para o estabelecimento do Polo

Petroquímico baiano resultou de vários fatores: proximidade da Refinaria Landulpho

Alves (RLAM), em Mataripe, dos terminais marítimos (Porto de Aratu) e da capital da

Bahia.

A Cidade do Salvador é sede política, administrativa e financeira de

todo esse complexo, como também é “cidade-dormitório” para dirigentes e

funcionários dessas grandes organizações. Isoladamente, o Produto Interno Bruto

(PIB) da capital baiana não está entre os maiores em comparação com o das

grandes metrópoles. No entanto, a soma de todos os municípios coloca a Região

Metropolitana de Salvador em quarto lugar no país.

O fato de os operários deixarem a capital da Bahia para trabalhar em

outras cidades não a empobrece, pois, como nela residem, Salvador se torna locus

de consumo desses trabalhadores e os seus “salários são gastos em Salvador,

cidade que oferece teatros, festas, praias, shoppings e centros de lazer que não são

encontrados nos municípios menores”.xxx

É dentro desse contexto metropolitano que as transformações pela

quais passa Salvador devem ser entendidas, e o seu Centro Histórico representa

uma parte significativa desse todo, criando e recriando símbolos de identidade e

reificando a imagem da cidade e sua região metropolitana.

108

O FIM DO “ENIGMA BAIANO” E A INDUSTRIALIZAÇÃO TARDIA

Principal polo da indústria têxtil brasileira na segunda metade do

século XIX, Salvador fica de fora do impulso industrialista brasileiro após a Primeira

Guerra Mundial e sofre o fenômeno de involução industrial ou desindustrialização

entre os anos 1920 e 1940.

Por volta de 1940, na área que hoje compreende a Região

Metropolitana de Salvador, quase uma em cada quatro pessoas da população

economicamente ativa se encontrava empregada em atividades primárias,

proporção esta que declinou para uma em cada vinte, em 1970. Entre 1940 e 1970,

portanto, acelerou-se consideravelmente a urbanização da economia da área. Já em

1970, a população economicamente ativa empregada nos setores não-primários

encontrava-se concentrada nas atividades de serviços: quase 80% da população

urbana economicamente ativa estavam empregados no setor terciário. A

recuperação parcial das funções industriais afetou a estrutura ocupacional da região,

aumentando a contribuição relativa do emprego no setor secundário para o emprego

total, a despeito da tecnologia avançada usada nas indústrias emergentes.xxxi

Essa expansão do emprego no setor industrial deu-se ao mesmo

tempo em que persistiam as funções de Salvador como polo comercial e de serviços

para a região Nordeste brasileira. Essa expansão acoplou-se ao crescimento das

atividades ligadas ao turismo na área. Persiste, na Região Metropolitana de

Salvador (RMS), e particularmente no município de Salvador, um setor terciário

amplo e baseado no uso intensivo de mão-de-obra, dada a constelação local de

fatores, porquanto um conjunto considerável de atividades se desenvolve no âmbito

doméstico, como veremos nas páginas seguintes.

O perfil de Salvador como centro de produção terciária reafirmou-se na

década de 1990. Segundo Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), Salvador

possuía em torno de 86% de sua população ocupada alocados no setor terciário, em

109

janeiro de 1998. Desse total, perto de 18% estavam ocupados no comércio, quase

32% nos serviços de produção, 25% nos serviços pessoais e em torno de 11% nos

serviços domésticos. Ainda quanto ao perfil de ocupação, 60% dos ocupados eram

trabalhadores assalariados, enquanto que 25% eram trabalhadores autônomos, 5%,

empregadores e 11%, domésticos.xxxii

Conforme Vilmar Faria, a organização das atividades produtivas em

Salvador pode ser caracterizada pela heterogeneidade estrutural dessas atividades,

“que não quer dizer dualismos estanques, nem ponto de transição entre um passado

tradicional conhecido e um futuro moderno dado por antecipação”.xxxiii Ao contrário, a

heterogeneidade estrutural, que é resultado de um processo particular de

desenvolvimento, decorre dos padrões possíveis de integração de uma área urbana

na divisão do trabalho existente. Heterogeneidade estrutural que não se esgota no

plano da organização das atividades econômicas mas que envolve e é envolvida

pela heterogeneidade de outros planos, do espacial ao cultural.

A industrialização tardia

Como já foi dito, a situação econômica desfavorável vai começar a

mudar com a expansão do movimento industrial brasileiro para o Nordeste. A

criação da empresa estatal Petrobras (1953) e a instalação da Refinaria Landulpho

Alves (RLAM) vão representar um impulso desenvolvimentista significativo para o

Estado da Bahia.

O impacto dos novos investimentos industriais continua com a criação

do Centro Industrial de Aratu (CIA, em 1967) e do Complexo Petroquímico de

Camaçari (Copec, a partir de 1972); ocorrem transformações urbanas significativas,

como a produção de um processo de descentralização interna de Salvador e a sua

união física com os municípios vizinhos, formando um só conjunto, uma conurbação,

e em termos econômicos deve-se considerar não mais a Cidade do Salvador

separadamente, e sim Salvador e a sua Região Metropolitana.

Isso porque sendo Salvador local de moradia e de consumo da quase

totalidade da mão-de-obra empregada no CIA e no Complexo Petroquímico, esse

forte fator econômico vai caracterizar toda a estrutura de empregos e a realidade

socioeconômica da capital.

110

O Complexo Petroquímico de Camaçari e o Centro Industrial de Aratu

(CIA) vieram criar um setor operário quantitativa e qualitativamente expressivo em

Salvador, como um fato novo na sua história urbana, após um longo período de

declínio.

Porém, a expansão do setor industrial na RMS não consegue absorver

o amplo contingente de desempregados e marginalizados sociais que vai

caracterizar a paisagem da Salvador contemporânea. O sociólogo Francisco de

Oliveira aponta três fatores para a existência desse “exército de reserva de mão-de-

obra”:xxxiv

1. a Rodovia Rio—Bahia, apressando o colapso da indústria

remanescente e deixando de lado os contingentes populacionais e de força de

trabalho desempregados, dando surgimento a um estado de pobreza crônica, isto é,

um exército de reserva “prévio” à onda de industrialização que se acelera nos anos

1960;

2. a implantação da Petrobras, que se constituiu em um enclave, não

modificando sensivelmente a estrutura produtiva local, mas influindo poderosamente

na concentração de renda e na criação e distribuição de alguns serviços que vão

aproveitar parcela do contingente desempregado;

3. a política de industrialização patrocinada pela Sudene, baseada nos

incentivos fiscais, que transferiu recursos e atraiu investimentos oligopolistas para o

Nordeste, em espaços onde previamente já havia uma “espantosa” concentração de

renda e da riqueza, e que, consequentemente, não alterou o quadro original, pois a

expansão capitalista no setor industrial tem características de produção de bens

intermediários (petróleo e seus derivados) e, secundariamente, de bens de consumo

durável e de capital, com utilização intensiva de capital e altos graus de

concentração e centralização.xxxv

Ainda segundo Oliveira, a implantação da estrutura industrial na Região

Metropolitana de Salvador não “exigiu” a “superação” das formas mais atrasadas de

produção, seja na agricultura — que gera a emigração — seja no próprio terciário

urbano: dissolve-as, mas não incorpora o exército de reserva que se forma, pois

esse complexo industrial funciona como um enclave, não interagindo com a

111

estrutura produtiva prévia, e dá lugar a um intensíssimo processo de concentração

de renda, o qual por sua vez cria uma demanda por serviços que vai ser, em parte,

“satisfeita pela utilização intermitente de frações do exército industrial”:xxxvi

biscateiros, empregadas domésticas e trabalhadores autônomos.

O surgimento de um parque industrial na Região Metropolitana de

Salvador criou novos empregos, apesar da tecnologia avançada usada nas

indústrias emergentes. Isso indica que o subemprego, a pobreza e a “marginalidade”

existente em Salvador não podem ser explicados apenas como decorrência da

incapacidade da industrialização de recriar os pontos de trabalho que ele

supostamente destroi ao penetrar numa economia urbana tradicional.

Na atualidade (2009), Salvador detém os seguintes indicadores: quarta

região metropolitana mais rica do Brasil e campeã de desemprego entre todas as

regiões metropolitanas pesquisadas regularmente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística).xxxvii Estamos diante de um novo “enigma baiano”?

O certo é que Salvador continua a multiplicar os seus pobres enquanto os

cientistas sociais tentam “decifrar” esse fenômeno sociourbano.

Salvador de todos os pobres

O Centro Industrial de Aratu e o Complexo Petroquímico criaram uma

numerosa classe operária em Salvador, sendo este um fato novo na sua história

urbana, após um longo ciclo de descenso.

Apesar disso, ocorre algo semelhante à chamada “urbanização sem

industrialização”, cujos efeitos são as altas taxas de crescimento populacional com

um provável destino “marginal” para os contingentes da população não absorvíveis

pelo mercado de trabalho.

Os condicionantes dessa realidade são muitos: o primeiro deles é que

a criação de um complexo industrial de tecnologia avançada ocorre fora dos limites

do município de Salvador, na sua Região Metropolitana, e assim como a capital da

Bahia torna-se “cidade dormitório” e local de realização do consumo do contingente

operário empregado, também é abrigo de um imenso contingente populacional

112

formado por migrantes que são atraídos à Salvador mas não conseguem se inserir

no mercado formal de trabalho.

Não conseguem se inserir no mercado de trabalho porque a tecnologia

de vanguarda empregada na industrialização baiana recente é poupadora de mão-

de-obra, com empresas altamente informatizadas, automatizadas e robotizadas.xxxviii

Isso leva a que mesmo ampliando a planta industrial e aumentando a produtividade,

haja redução do número de trabalhadores empregados, como ocorreu em décadas

recentes na Região Metropolitana de Salvador.xxxix

Disso decorre que o desemprego em Salvador, como em todo o

restante do mundo na era da globalização, possa ser caracterizado como

desemprego estrutural, resultado da inelasticidade da oferta de emprego. Novas

relações de trabalho emergem, e a heterogeneidade estrutural da organização do

trabalho em Salvador faz da cidade um locus privilegiado dessas (nem tão) novas

relações sociais: subemprego, trabalho autônomo, emprego temporário,

desemprego, terceirizaçãoxl e assim por diante.

Surpreende ao visitante da Cidade do Salvador a criatividade, a

flexibilidade e a adaptação da população pobre à realidade de exclusão social e

marginalidade que a atinge, e como forma de driblar essas adversidades os mais

pobres criaram aquilo que os sociólogos chamam de “estratégias de sobrevivência”.

Podemos considerar, por exemplo, que não há fronteiras entre as

frações na ativa e na reserva de força de trabalho. A combinação de formas diversas

de rendimentos, formas diversas de consumo, formas diversas de cooperação se

articulam e conformam, a rigor, uma estratégia de sobrevivência dos mais pobres,

pois na heterogeneidade do bairro pobre ou no Centro Histórico de Salvador se

mescla a homogeneidade da força de trabalho: são operários, biscateiros,

trabalhadores por conta própria, donas-de-casa e empregadas domésticas,

empregados e desempregados.

A vida no domicilio de baixa renda se articula de uma forma que o

trabalho de cada um dos seus componentes facilite o dos outros. É comum que as

crianças trabalhem em conjunto com a mãe, “que fica em casa cuidando dos

113

meninos menores, enquanto os mais crescidos, com mais de oito anos, vão vender

nas praias ou na rua os alimentos preparados em casa”.xli

Complementando o trabalho que se articula ao nível do domicílio,

vigora entre os mais pobres um sistema de solidariedade dos vizinhos para a

realização de serviços não pagos sob forma monetária, mas que envolvem certo

compromisso de retribuição. “Solicita-se a ajuda de vizinhos para construir ou

melhorar uma casa. Uma vizinha lava a roupa de outra que sai para trabalhar”,xlii

cuida das crianças e realiza pequenos serviços gratuitos para a vizinhança etc.

Estes serviços prestados entre vizinhos, embora não contribuam

diretamente para a composição do orçamento doméstico, articulam-se ao trabalho

familiar representando gastos que se deixa de fazer e que certamente não poderiam

ser feitos caso não se contasse com a solidariedade.

O setor de construção civil teve um boom na Região Metropolitana de

Salvador quando da construção e montagem das modernas empresas do Complexo

Petroquímico de Camaçari. A migração de um grande contingente de trabalhadores

de áreas do interior da Bahia e de outros Estados para a proximidade dos canteiros

de obras preservou uma oferta bastante elástica de trabalhadores, mantendo baixo o

custo da mão-de-obra. O rápido crescimento da capital, hoje metrópole, conserva

esse setor como um dos mais dinâmicos e que mais emprega na economia

soteropolitana, com o seu fluxo ou refluxo estando relacionado à macroeconomia

nacional.

O artesanato tradicional é exercido por costureiras, bordadeiras,

doceiras, vendedores de comidas e, em menor escala, sapateiros, fabricantes de

vassouras, desinfetante caseiro, de produtos alimentares, vestuário e de outros

pequenos objetos. São atividades predominantemente femininas e executadas, em

muitos casos, na própria residência, por trabalhadores que dedicam apenas uma

fração do seu tempo à produção para o mercado. Esses produtores artesanais

competem com produtos industrializados, e são obrigados a depreciar os seus

preços para conquistar mercado, o que reduz ao mínimo a sua receita. A exceção a

este quadro é a produção voltada para um mercado de mais alta renda, como a

114

produção de objetos cerâmicos e artigos regionais de certa tradição, produzidos

para atender aos turistas.

Como estratégia de sobrevivência desenvolve-se o microcomércio

local de “vendinhas” e quitandas, exercido por vendedores ambulantes, feirantes,

barraqueiros e proprietários de pequenos estabelecimentos, que distribuem frutas,

legumes, bebidas, cigarros e outros bens de consumo mais imediato, muitas vezes

nas próprias residências Na realização desse pequeno comércio os clientes são os

próprios vizinhos, dos quais o “comerciante” também compra os produtos de que

necessita; é caracterizado pelo extremo fracionamento da venda dos produtos a

varejo, proximidade das residências e venda a crédito (fiado).

Geralmente as “vendinhas” e quitandas são instaladas no próprio

domicílio do “vendeiro”, e prosperam graças ao trabalho familiar. O trabalho pode ser

dividido de tal forma que o “homem se encarregue das compras por atacado e a

mulher e as crianças das vendas ao público, pois não é raro o homem ter uma outra

atividade”.xliii

Outros exemplos dessas estratégias de sobrevivência são a troca

remunerada de serviços prestados a clientes que são vizinhos de bairro (serviços de

ajudante de pedreiro, cabeleireiro, manicure, pedicure...), e os “salões de beleza”

proliferam numa rapidez maior do que as “vendinhas”, rivalizando com os botecos.

Quanto mais se intensifica a divisão do trabalho social, mais se diversifica a oferta

de serviços nos bairros populares, e neles também se encontram inúmeras

videolocadoras, lan houses etc.

Entre os mais pobres, moradores de favelas ou em cortiços no Centro

Histórico de Salvador (em terrenos ou casarões arruinados invadidos), não existe a

ideologia da casa própria; o sonho da realização da meta de conseguir a casa

própria é aspiração das classes médias.

O que se pode verificar é que, de um modo geral, a perspectiva de se

tornar um “invasor” (ocupante) de solo urbano, com toda a insegurança que há

nessa condição, antes de estar ligada a uma vontade de “morar no que é próprio”,

deve-se ao preço relativamente caro dos alugueis das casas e quartos na favela.xliv

115

Apesar disso, articula-se politicamente e ganha visibilidade um

movimento social dos sem teto, que demandam do Estado a satisfação de sua

necessidade de moradia.

Na era da globalização os cientistas sociais desenvolvem novos

conceitos para a compreensão do fenômeno da marginalidade urbana, como o de

“exclusão social” e o de “precarização do trabalho”. A Região Metropolitana de

Salvador encerrou a década de 1980 com, relativamente, menos empregados com

carteira assinada do que em 1981. Consequentemente, aumentou o fosso entre os

mais ricos e os mais pobres, concentrando a renda e aumentando a desigualdade

social.

E a Cidade do Salvador continua a crescer. Crescimento e exclusão

social mostram-se como as duas faces de uma mesma moeda. A crise do emprego

agravou-se: em 1998 a taxa de desemprego total era de 21,3%, sendo o

desemprego aberto de 11,7% e o oculto de 9,6%.xlv Em dezembro de 2005 a Região

Metropolitana de Salvador continuava a registrar a mais alta taxa de desocupação

entre as seis principais RMs brasileiras: 14,6% de sua População Economicamente

Ativa (PEA).xlvi

Apesar do declínio da taxa de desocupação em todas as seis regiões

metropolitanas pesquisadas pelo IBGExlvii entre 2006 a 2008 (devido ao bom

desempenho da economia brasileira no período), em dezembro de 2008 a RMS

ainda ocupava o primeiro lugar no ranking, com 10% de desocupados.xlviii

Dentro desse quadro compreendem-se os inúmeros e engenhosos

recursos dia a dia inventados pelos mais pobres como suas estratégias de

sobrevivência: a inevitável exploração do trabalho infantil, o aumento da prostituição

juvenil, “a compra miúda, para cada dia, para cada refeição, para cada prato”,xlix o

auxílio mútuo através do trabalho solidário e tantas outras estratégias são

testemunhos da capacidade de improvisar e de “se virar” cotidianamente, renovada

pelas camadas mais pobres da população soteropolitana e brasileira em sua árdua

luta pela sobrevivência, na era do fim dos empregos e do adeus ao trabalho.l

116

117

NOTAS DO 2º CAPÍTULO

v A TARDE, 30.1.1951 apud GUIMARÃES, A. S. A., ibidem.vi GUIMARÃES, A. S. A., ibidem.vii PINHEIRO, I. O., 1999, p. 69.viii OLIVEIRA, Francisco de. Elegia para uma re(li)gião. Sudene, Nordeste e conflito de classes. 2 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977, p. 94 passim.xviii Disponível em <http://www.iguatemisalvador.com.br/modelo_shopping.asp?id_area=3> Acesso em 21 de setembro de 2005.xix Os shoppings se tornaram local de circulação e lazer do habitante médio da cidade. Conta-se que os alunos de curso de arquitetura, instados a projetarem uma praça pública, como atividade acadêmica, criaram uma “praça de alimentação” de um shopping.xx Um outro importante eixo de expansão da cidade é a Rodovia BR 324, via de acesso ao miolo da cidade: um jornal local apresenta a Avenida Garibaldi como a “avenida dos médicos”, devido a concentração de hospitais, clínicas e consultórios às suas margens. In: Disponível em <http://www.atarde.com.br/materia.php3?id_materia=1641&ano=2005&mes=06&id_subcanal=17 Acesso em 12 Jun.2005; a Avenida Paralela é designada também como Avenida Luiz Viana Filho, e é paralela à orla marítima de Salvador.xxi SANTOS, M. Técnica, espaço, tempo. Globalização e meio técnico-científico informacional. São Paulo: HUCITEC, 1994, p. 76.xxx SALVADOR serve de "dormitório" para operários. Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi0405200504.htm> Acesso em 04 maio 2005.xxxi FARIA, Vilmar, ibidem, 1980, p. 36-37.xxxiii FARIA, V., 1980, p. 39-40.xxxiv Nos parágrafos seguintes optamos por manter essa categoria explicativa usada pelo Francisco de Oliveira, exército industrial de reserva, mesmo considerando a necessidade desse conceito sociológico “ser reavaliado” na era da globalização, segundo COSTA, Maria Cristina Castilho. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 3 ed. São Paulo: Moderna, 2005, p. 258. xxxvii Dados disponíveis em <http://www.ibge.gov.br/> Acesso em 22 de dezembro de 2005; ver informações detalhadas adiante.xxxviiiVer RIFKIN, Jeremy. El fin del trabajo. Nuevas tecnologías contra puestos de trabajo: el nacimiento de uma nueva era. Barcelona: Paidós, 1996. xxxix A Região Metropolitana encerrou a década de 80 com, relativamente, menos empregados com carteira assinada do que em 1981. In: CODES, Ana Luiza; LOIOLA, Elizabeth; MOURA, Suzana. Perspectivas da Gestão Local do Desenvolvimento: as Experiências de Salvador e Porto Alegre. Disponível em <http://nutep.adm.ufrgs.br/pesquisas/Desenanpur.html> Acesso em 22 de dezembro de 2005.xxii RISÉRIO, A., 2004, p. 550.xxiii Idem, ibidem, p. 551.xxiv Ibidem, p. 550.xxv CARVALHO, Ana Lúcia Borges de; FREITAS, Mário André Soares de; CAMPANÁRIO, Paulo. BAHIA ANÁLISE & DADOS Salvador - BA SEI v.10 n.1 p.35-48 Julho 2000 Mudanças na dinâmica demográfica de Salvador e sua Região Metropolitana na segunda metade do século XX.xxix BRAGA, H. M. C., 2004, s/n.xxxii CODES, Ana Luiza; LOIOLA, Elizabeth; MOURA, Suzana. Perspectivas da Gestão Local do Desenvolvimento: as Experiências de Salvador e Porto Alegre. Disponível em <http://nutep.adm.ufrgs.br/pesquisas/Desenanpur.html> Acesso em 22 de dezembro de 2005.xxxv

OLIVEIRA, Francisco de. Salvador: os exilados da opulência, p. 9-22. In: SOUZA, G. Adeodato de; FARIA, Vilmar (Orgs.). Bahia de Todos os Pobres. Petrópolis: Vozes, 1980.

xxxvi Idem, ibidem, 1980, p. 16.xl COSTA, Maria Cristina Castilho. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 3 ed. São Paulo: Moderna, 2005, p. 258.xli VIANNA, Ângela Ramalho. Bahia de Todos os Pobres, p. 185-214. Petrópolis: Vozes, 1980, p.. 208.xlii Idem, ibidem, 1980, p. 207-209.xliii Ibidem, 1980, p. 193.xliv VIANNA, A. R., 1980, p. 199-200.xlv CODES, A. L.; LOIOLA, E.; MOURA, S., ibídem.xlvi INDICADORES IBGE. Pesquisa Mensal de Emprego. Janeiro de 2006. Disponível em : <http://www.ibge.gov.br/> Acesso em 21 de março de 2006.xlvii São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre.xlviii IBGE. Pesquisa Mensal de Emprego. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1306&id_pagina=1 Acesso em 29 abr 2009.xlix VIANNA, A. R., 1980, p. 213.l Ver ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? (ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho). São Paulo: Cortez, 1995.

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