O Cérebro X Aprendizagem

8
O Cérebro X Aprendizagem Autora: Dulce Consuelo R. Soares Introdução Através da História, vários pesquisadores se perguntavam como o homem aprendia e como o cérebro funcionava para aprender. Para Aristóteles, o cérebro só servia para resfriar o sangue. Os egípcios guardavam em vasos as vísceras e jogavam o cérebro fora, pois não tinha serventia. Os assírios acreditavam que o centro do pensamento estava no fígado. Então, Hipócrates surge com a demonstração de que o cérebro se dividia em dois hemisférios e que neles estavam todas as funções biológicas e da mente. Surge, assim a Medicina Moderna. Mais tarde, com os experimentos de Luria e outros, chegou-se ao Paradigma do Cérebro em Ação. O ponto de mutação se encontra no fato de que, antes, os dois – Homem e Cérebro – estariam dissociados e, agora, não mais: integram-se dinamicamente, constituindo o sistema funcional do ser Humano em ação para aprender, interagir e se relacionar com o meio que o cerca. A necessidade de conhecimento sobre o sistema nervoso cresceu fantasticamente nas últimas décadas. Esta demanda levou a OMS a eleger os anos 90 como a Década do Cérebro. Após este breve relato histórico vou me deter, na Neurologia da Aprendizagem. A Relação entre o Cérebro e a Aprendizagem. Segundo Johnson & Myklebust o cérebro funciona de forma semi – autônoma, ou seja, um sistema pode funcionar sozinho; pode funcionar com dois ou mais sistemas; ou pode funcionar de forma integrada ( todos os sistemas funcionando ao mesmo tempo). Os sistemas mais presentes a nível de distúrbios neurogênicos são: auditivo, visual e tátil. O objetivo deste artigo é traçar uma atuação psicopedagógica preventiva por parte do professor. Se o ensinante toma conhecimento deste funcionamento cerebral, pode ressignificar sua prática docente adotando uma didática que caminhe na forma sensório-motora ao funcionamento operatório formal. (Soares, 2003). O artigo será dividido em três etapas, facilitando a explicação. Existem três formas de aprendizagem: 1)Aprendizagem Intra – Neurosensorial 2)Aprendizagem Inter- Neurosensorial 3)Aprendizagem Integrativa. Vale ressaltar que um tipo ou forma de aprendizagem não é exclusivamente intra- neurosensorial, o que precisa ser pontuado é que se, um sistema estiver comprometido, não necessariamente irá comprometer outros. É neste sentido que uma aprendizagem pode ser estudada como intra – neurosensorial. Já a aprendizagem inter- neurosensorial é o tipo que mais nos interessa (educadores), quando se estabelece uma atuação preventiva. Estudos mostram que certa aprendizagem ocorre quando dois ou mais sistemas funcionam de forma inter – relacionada. Fazer uso da música em atividades escolares é um recurso valioso, pois há a possibilidade de trabalhar simultaneamente os sistemas auditivos, visuais e até mesmo o sistema tátil (caso a música desencadeie uma dramatização). A proposta é dar uma aula que “facilite” o funcionamento inter desses sistemas, sem necessariamente o professor ter que saber, se a melhor forma daquele sujeito em lidar com os objetos externos é: auditiva, visual ou tátil. Montar um planejamento com esses pré-

Transcript of O Cérebro X Aprendizagem

Page 1: O Cérebro X Aprendizagem

O Cérebro X Aprendizagem

Autora: Dulce Consuelo R. Soares

Introdução

Através da História, vários pesquisadores se perguntavam como o homem aprendia e como océrebro funcionava para aprender. Para Aristóteles, o cérebro só servia para resfriar o sangue.Os egípcios guardavam em vasos as vísceras e jogavam o cérebro fora, pois não tinhaserventia. Os assírios acreditavam que o centro do pensamento estava no fígado.

Então, Hipócrates surge com a demonstração de que o cérebro se dividia em dois hemisférios eque neles estavam todas as funções biológicas e da mente. Surge, assim a Medicina Moderna.

Mais tarde, com os experimentos de Luria e outros, chegou-se ao Paradigma do Cérebro emAção. O ponto de mutação se encontra no fato de que, antes, os dois – Homem e Cérebro –estariam dissociados e, agora, não mais: integram-se dinamicamente, constituindo o sistemafuncional do ser Humano em ação para aprender, interagir e se relacionar com o meio que ocerca.

A necessidade de conhecimento sobre o sistema nervoso cresceu fantasticamente nas últimasdécadas. Esta demanda levou a OMS a eleger os anos 90 como a Década do Cérebro.

Após este breve relato histórico vou me deter, na Neurologia da Aprendizagem.

A Relação entre o Cérebro e a Aprendizagem.

Segundo Johnson & Myklebust o cérebro funciona de forma semi – autônoma, ou seja, umsistema pode funcionar sozinho; pode funcionar com dois ou mais sistemas; ou pode funcionarde forma integrada ( todos os sistemas funcionando ao mesmo tempo).

Os sistemas mais presentes a nível de distúrbios neurogênicos são: auditivo, visual e tátil.

O objetivo deste artigo é traçar uma atuação psicopedagógica preventiva por parte doprofessor. Se o ensinante toma conhecimento deste funcionamento cerebral, pode ressignificarsua prática docente adotando uma didática que caminhe na forma sensório-motora aofuncionamento operatório formal. (Soares, 2003).

O artigo será dividido em três etapas, facilitando a explicação. Existem três formas deaprendizagem:

1)Aprendizagem Intra – Neurosensorial

2)Aprendizagem Inter- Neurosensorial

3)Aprendizagem Integrativa.

Vale ressaltar que um tipo ou forma de aprendizagem não é exclusivamente intra-neurosensorial, o que precisa ser pontuado é que se, um sistema estiver comprometido, nãonecessariamente irá comprometer outros. É neste sentido que uma aprendizagem pode serestudada como intra – neurosensorial. Já a aprendizagem inter- neurosensorial é o tipo quemais nos interessa (educadores), quando se estabelece uma atuação preventiva. Estudosmostram que certa aprendizagem ocorre quando dois ou mais sistemas funcionam de formainter – relacionada. Fazer uso da música em atividades escolares é um recurso valioso, pois háa possibilidade de trabalhar simultaneamente os sistemas auditivos, visuais e até mesmo osistema tátil (caso a música desencadeie uma dramatização).

A proposta é dar uma aula que “facilite” o funcionamento inter desses sistemas, semnecessariamente o professor ter que saber, se a melhor forma daquele sujeito em lidar com osobjetos externos é: auditiva, visual ou tátil. Montar um planejamento com esses pré-

Page 2: O Cérebro X Aprendizagem

05/11/12 O Cérebro X Aprendizagem

2/8www.prof ala.com/arteducesp67.htm

requisitos é uma forma de atuação saudável, onde Educação e Saúde possam caminhar lado alado.

Conseqüentemente, esta atuação sob este ponto de vista, facilitará um outro tipo deaprendizagem – Integrativa.

Se o professor tiver conhecimento da modalidade de aprendizagem do seu aluno, poderátransformar- se em um facilitador do processo ensino – aprendizagem.

Exigir uma atuação padrão dos alunos é um caminho improdutivo; cada um é um, com o seupróprio tempo lógico e psicológico e cada um tem uma maneira específica de lidar com oconhecimento. Respeitar esta “veia”, este “canal” para o ato de aprender é preservar océrebro de uma possível sobrecarga que só contribuiria para uma desintegração total daaprendizagem.

Proporcionar uma aula trabalhando com as crianças os quatro níveis de aprendizagem:Organismo – Corpo - Desejo - Inteligência ( Fernàndez, 1991) permeado pelos princípiosligados ao ato de aprender: Atividade – Criatividade – Autoridade – Liberdade (Borges, 1994)com certeza favorecerá uma atuação psicopedagógica preventiva de forma a não construirnas crianças os problemas de aprendizagem em função do desconhecimento da relação que háentre cérebro e os modos pelos quais o homem aprende.

Níveis Hierárquicos de Experiências na Aprendizagem.

O processo de aprendizagem dá-se a partir de experiências que podem ser organizadas emcinco níveis de crescentes graus de complexidade. São eles: Sensação - Percepção -Formação de Imagens - Simbolização - Conceituação. A possibilidade da vivência de cada umadestas experiências está atrelada à pré – existência do nível anterior, revelando-se, assim, seucaráter hierárquico.

Se fizermos uma análise de evolução das espécies animais, perceberemos que, à medida emque subimos na escala evolutiva, mais complexas vão se tornando as experiências dosindivíduos com o meio onde estão inseridos, sendo exclusivamente do ser humano ascapacidades de simbolização e conceituação.

Assim como na filogênese, na ontogênese humana também observaremos a aquisição paulatinadestas habilidades relacionada ao desenvolvimento da aprendizagem.

Sensação=> é o nível mais primitivo do comportamento, referindo-se unicamente à ativaçãode estruturas sensoriais. É a partir das sensações que o indivíduo pode perceber o mundo queo cerca.

Percepção=> Constitui-se na tomada de consciência relativa a sensações em progresso. Aeficiência da percepção depende de que o aparato neurológico seja capaz de converter,adequadamente, as sensações em impulsos elétricos. Apesar de ser um comportamentoneurologicamente superior à sensação, do ponto de vista psicológico é, ainda, extremamenterudimentar. No entanto, é baseado na percepção que o indivíduo irá formar imagens.

Formação de Imagens=> Refere-se a sensações ou informações já recebidas e percebidas.Está relacionada aos processos de memória já que corresponde a um registro de aspectos dasexperiências vividas, ainda que a elas não se associem palavras (aspectos não verbais)

Page 3: O Cérebro X Aprendizagem

05/11/12 O Cérebro X Aprendizagem

3/8www.prof ala.com/arteducesp67.htm

As imagens formadas não se restringem apenas ao nível visual; são registros de percepçõesoriundas de quaisquer dos órgãos dos sentidos. Incluem-se, aqui, além das imagens docotidiano, os sons sociais não verbais (ruídos de automóveis e máquinas, vozes de animais,etc), odores característicos de diversas coisas, os sabores típicos dos diferentes alimentos,texturas de objetos, assim como também a percepção social, ou seja, expressões faciais ecorporais percebidas em várias situações.

Simbolização=> Habilidade descrita como exclusiva da espécie humana e que corresponde àcapacidade de representar uma experiência de forma verbal ou não verbal.

As simbolizações não verbais verificam-se através de símbolos visuais ou auditivos, emmanifestações artísticas, musicais, religiosas e patrióticas. Incluem-se nesta categoria ascapacidades de avaliar e recordar situações, emitindo julgamentos do tipo: perto – longe –grande – pequeno – alto – baixo – cheio – vazio - depressa – devagar, etc. As simbolizaçõesverbais estão relacionadas a palavras.

O ser humano apresenta três sistemas verbais: falado, escrito e lido.

Tanto na história da espécie como no desenvolvimento de cada indivíduo, o primeiro destessistemas a se instalar é o falado. Uma das prováveis razões para este fato deve ser afacilidade de aquisição deste sistema, visto que relacionado à audibilização, não podendo ser“desligado” nem necessitando uma atenção direcionada, como acontece com a visualização.Além disso, a maturidade psiconeurológica aqui exigida é menor do que nos sistemas lido eescrito. Estas considerações nos levam a compreender porque a língua falada ocupa posiçãode destaque em nossas vidas, predominando não apenas na infância.

Algumas modificações relativas a estes sistemas verbais podem ser observadas emcircunstâncias especiais, como a linguagem de sinais utilizadas pelos surdos ou o braille, códigode escrita utilizado pelos cegos.

Os sistemas verbais abrangem três aspectos. A linguagem interna, linguagem receptiva e alinguagem expressiva, que serão tratados mais adiante.

A conquista da habilidade de simbolizar abre caminho para o domínio da conceituação.

Conceituação=> Complexo processo mental que envolve capacidades de abstração,classificação e categorização.

É preciso observar que conceituar e abstrair não são sinônimos. A abstração contarpõe-se àconcretização, pressupondo um maior grau de distanciamento em relação a uma circunstânciaobservável. Ainda assim, a experiência abstraída pode ser, e em algum momento certamentefoi, observada. No entanto, para conceituar, também é necessário classificar e categorizar,sendo estes fatores críticos do processo já que classes e categorias, sendo estes, fatorescríticos do processo já que classes e categorias não são, em si, observáveis.

“(...)o professor precisa estar ciente de que algumas crianças formam conceitosespontaneamente quando adquirem a facilidade verbal necessária. Por outro lado, muitasprecisam ser ajudadas a aprender a generalizar e categorizar. Freqüentemente, essascrianças têm dificuldades com os significados múltiplos de uma palavra, com provérbios emetáforas.” ( Johnson e Myklebust, 1987).

Convém ressaltar que as permanentes aquisições, em cada um dos níveis de experiências,passam por momentos de indiferenciação – diferenciação – separação – integração, ( Borges,1994) da mesma forma que os sucessivos níveis representam cada um destes momentos, unsem relação aos outros. Assim, para que forme uma imagem, por exemplo, um indivíduo passarápor cada um dos momentos deste movimento e, ao chegar a integrá-la, poderá encontrar-seindiferenciado em relação à simbolização desta experiência.

O desenvolvimento das habilidades do indivíduo nos diversos níveis dar-se á gradativamente eestará em dependência do desenvolvimento físico, cognitivo e afetivo do sujeito. Isto ficaclaro se lembrarmos a colocação de Alicia Fernàndez sobre os quatro níveis envolvidos na

Page 4: O Cérebro X Aprendizagem

05/11/12 O Cérebro X Aprendizagem

4/8www.prof ala.com/arteducesp67.htm

aprendizagem: organismo – corpo – inteligência – desejo. Ao afirmar que o corpo constitui-sepelo organismo transversalizado pela inteligência e pelo desejo e que é este corpo que selança na tarefa de aprender, está nos dizendo, em outros termos, que para vivenciarmos cadaum dos níveis hierárquicos de experiência contamos com um arcabouço físico, cognitivo eafetivo que, em última instância constituem o sujeito que aprende.

Trazendo à tona a Epsitemologia Convergente, proposta por Jorge Visca, não podemos deixarde destacar, também o aspecto social da aprendizagem. O trânsito pelos níveis de experiênciaestará, também, em relação ao meio sócio- cultural ao qual pertence o sujeito. Dessa forma,uma criança que seja criada em um ambiente selvagem, por exemplo, deverá apresentarproblemas com a simbolização e conceituação, independentemente da existência de qualquerdisfunção cerebral, já que o meio onde vive não favorece a aquisição destas habilidades.

Conforme foi dito anteriormente, estes níveis de experiências mantêm entre si uma relaçãohierárquica. Distúrbios existentes em qualquer destes níveis irão se refletir nos níveissubseqüentes, podendo, até mesmo bloqueá-los, dependendo do grau do distúrbio. Cabe notarque o cérebro é uma estrutura com certa plasticidade, podendo adaptar determinadas regiõesa exercer funções que não lhe seriam devidas, em situações normais, em conseqüência de umademanda provocada por disfunções em outras áreas cerebrais.

Disfunções Cerebrais – Verbais e Não Verbais.

O cérebro atua como um todo interligado, é receptor, coordenador e processador de todos osestímulos do ambiente através do Sistema Nervoso. Fazendo uma análise das variáveisenvolvidas no processo de aprender, o funcionamento cerebral estaria inserido na categoriaorgânica. Qualquer alteração nele observada, será refletida na corporeidade do sujeito.

Page 5: O Cérebro X Aprendizagem

05/11/12 O Cérebro X Aprendizagem

5/8www.prof ala.com/arteducesp67.htm

Segundo Fernàndez, 1991 este gráfico representa os níveis de aprendizagem:

Quatro níveis de Aprendizagem

A aprendizagem baseia-se em hierarquia de experiências. Dá-se em espiral dialética, comfunções superpostas e interligadas.

Dessa forma, os distúrbios de aprendizagem conseqüentes de disfunções cerebrais tambémterão uma esfera de atuação relacionada ao nível hierárquico onde o distúrbio se observa.

No esquema acima, podemos observar como um distúrbio no nível da formação de imagensafetará os níveis da simbolização e da conceituação, e não influirá nos níveis mais primitivos (sensação e percepção).

Page 6: O Cérebro X Aprendizagem

05/11/12 O Cérebro X Aprendizagem

6/8www.prof ala.com/arteducesp67.htm

Nos deteremos, aqui, na discussão dos processos de aquisição das linguagens interna,receptiva e expressiva, pontuando alguns dos distúrbios que podem ocorrer em relação a cadauma delas.

Linguagem Interna

É o primeiro aspecto a ser adquirido, correspondendo à internalização do vivenciado com alíngua materna na construção de sua própria linguagem.

A criança nasce num mundo simbólico sem saber simbolizar, portanto é a partir da organizaçãode sua linguagem que se faz a regulação deste processo.

Vygotsky nos diz que “a palavra sem significado não é palavra”; para que tenha significado,precisa representar a experiência vivenciada, isto é, a língua com a qual se pensa.

A linguagem interna será sempre estruturada na língua nativa, mesmo que o sujeito utilize maisde um código de linguagem. Com exemplo disto, temos que no bilingüismo terá sua organizaçãode pensamento vinculada à língua nativa; o surdo à linguagem dos sinais, etc.

Como a linguagem interna pode estar alterada?

• Dificuldades da capacidade de adquirir conceitos – não categoriza, nem classifica, nemconceitua. ( afeta a conceituação) • A criança lê bem mas não consegue compreender o significado. ( afeta a simbolização) • Dificuldade para adquirir o significado; lê, ouve, vê e não decodifica a experiência vivida (verbal ou não – verbal).

Exemplos:

• Afasia Global ou central – dificuldade de organização da linguagem interna. (afeta apercepção) • Dislexia simbólica – dificuldades de decodificar símbolos (afeta simbolização).

Nos distúrbios da Linguagem interna, simbolização e formação de imagens deverão estaralteradas, ficando o indivíduo apenas a nível de sensação e percepção.

Por isso é considerada um dos distúrbios mais complexos, apesar de não haver,necessariamente, comprometimento mental.

Linguagem Receptiva

Segunda faceta da linguagem a ser adquirida, é responsável pela capacidade paracompreender a palavra falada composta pelo feedback auditivo e visual. Existe uma relaçãointrínseca e recíproca entre a recepção e expressão. No que diz respeito à palavra falada, acompreensão antecede a expressão; é preciso compreender antes que a palavra possa serusada com significado na comunicação. Da mesma forma, em termos de sistema verbal visual,a leitura antecede a escrita.

Como as capacidades receptivas são abrangentes, elas podem ser afetadas de váriasformas:

• A criança surda e cega que não recebe estímulos a nível auditivo e visual (afeta a sensação)• A criança percebe erroneamente o que ouve e vê em decorrência de: Disacusia – dificuldadeda capacidade da audição via área – periférica (não afeta nervo auditivo)

Má discriminação auditiva e visual, não percebendo as palavras que soam de modo parecido outêm formas semelhantes. Ex: fonemas com o mesmo ponto articulatório( /p/ e /b/ , /q/ e /g/,/f/ e /v/); fonemas com formas semelhantes ( /b/ e /d/, /q/ e /g/).

A criança não compreende ordens complexas, ficando paralisada sem saber o que fazer. Ex:

Page 7: O Cérebro X Aprendizagem

7/8www.prof ala.com/arteducesp67.htm

“Vá lá em cima, tire seu casaco, pendure no cabide, pegue seu livro e traga para mim.”

A criança com memória em seqüência alterada no mecanismo de repetição de palavras,números e sentenças;

E com memória momentânea prejudicada. (formação de imagens).

A percepção, como processo receptivo, não subentende somente a discriminação, acapacidade de distinguir entre os sons ou estímulos visuais, mas também a capacidade deorganizar a sensação num todo significativo, a capacidade de estruturar a informação que estásendo recebida. O processo global de recepção é uma faceta complexa de experiências,exigindo atenção, organização, discriminação e seleção. Neste sentido, a percepção é o queestá mais alterado.

Linguagem Expressiva.

Quando a criança adquire unidades significativas de experiências e quando a compreensãoencontra-se estabelecida, ela está pronta para comunicar-se com outras pessoas utilizandosua linguagem expressiva. A expressão pressupõe a recepção; portanto se a criança nãoconseguir discriminar as palavras que tem sons ou aparências semelhantes, sua linguagemexpressiva está deficiente. Por outro lado, conforme vimos, a recepção pode estar intactasendo deficiente apenas a expressão; já que os sistemas de expressão e recepção do cérebrosão interdependentes de um modo semi- autônomo. No entanto, é raro uma criança manifestaruma condição pura.

Como pode estar alterada?

• Apraxias – desconexão de sistemas cerebrais descoordenando a ação da criança tanto anível verbal como não – verbal. • Afasia expressiva – Área de Broca lesada – área da palavra falada (afeta a simbolização) • Disfasia – devido a lesões no sistema nervoso central e / ou periférico; a paralisia em que osmúsculos têm sua ação inervadora dificultada, afetando a produção articulatória da fala. • taxia – devido a lesões somente no sistema nervoso central, sem paralisia, os músculosestão inervados, mas a atividade motora não pode ser coordenada normalmente.

Determinadas áreas do cérebro podem ser mais responsáveis que outras, assim como os níveishierárquicos em questão, mas parece que qualquer disfunção cerebral que altere aaprendizagem pode destruir a capacidade de conceituar que é a realização máxima do homem,englobando todas as facetas de sua aprendizagem e experiência; é vulnerável correlacionandocom as variáveis do ato de aprender a questão afetiva, cognitiva, orgânica, inconsciente,consciente e transcendental. É importante sinalizar como são interdependentes, eintrinsecamente interligadas, já que o ser humano, paradoxalmente é o que nos faz sempreestar em busca, de e sempre evoluindo, para além de nós mesmos.

Afinal, a ciência sabe muito sobre a infância, a vida adulta e sobre a velhice. Só não sabe,felizmente, ensinar a cada um a melhor receita para construir o Ser aprendente, atuante eautônomo na construção do ato de aprender e de seu conhecimento, pois é na relação do nãosaber x saber que se dá a beleza da vida humana.

Referências Bibliográficas:

DAMÁSIO, A R. O Erro de Descartes. São Paulo. Cia das Letras, 1996.

FERNÀNDEZ, A . A Inteligência Aprisionada – abordagem psicopedagógica clínica da criança esua família. Porto Alegre. Artes Médicas, 1991.

JOHNSON, D J e MYKLEBUST, H. R. O cérebro e a aprendizagem. São Paulo. Pioneira, 1987.

VISCA, J. Clínica Psicopedagógica – Epistemologia Convergente. Porto Alegre. Artes Médicas,

Page 8: O Cérebro X Aprendizagem

05/11/12 O Cérebro X Aprendizagem

8/8www.prof ala.com/arteducesp67.htm

1987.

SOARES, D. Os Vínculos como passaporte da Aprendizagem: Um encontro D’ EUS.. Rio deJaneiro. Caravansarai, 2003.

BORGES, A L. “ O Movimento Cognitivo – Afetivo – Social na Construção do Ser” In Sargo,Claudete. A Práxis Psicopedagógica Brasileira. São Paulo. ABPp, 1994.

VYGOTSKY, L. A Formação Social da Mente; [organizadores Michael Cole...[et all] ; traduçãoJosé Cipolla Neto, Luís Silveira Menna Barreto, Solange Castro Afeche – 5 edição] São Paulo:Martins Fontes, 1994.

Dulce Consuelo R. Soares - Psicopedagoga Clínica/ Institucional/ Pedagoga/ Professora de Arte Educação daUnesa no RJ/ Professora de Filosofia da Esil Sociedade Educacional e Autora do Livro infantil: A Caixinha deInsetos de Pedro: uma leitura psicopedagógica da escola do aluno e do professor. e-mail:[email protected]

Imprimir o Artigo