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O CINEMA COMO RECURSO PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES: A EDUCAÇÃO DO HOMEM COM E SEM DEFICIÊNCIA, NUMA PERSPECTIVA VIGOTSKIANA Angela Mari Labatut Palavras iniciais Este trabalho resulta de nosso interesse por acreditarmos que podemos contribuir na formação docente dos professores que atuam na educação especial. Procuramos pautar sobre questões identificadas em nossa prática docente na área da Educação Especial. Para tanto, buscamos dar continuidade aos estudos teóricos que vimos realizando sobre a Teoria Histórico-Cultural e, em especial, com a formação propiciada pelo Programa de Desenvolvimento da Educação – PDE-Pr (2007/2008). Pretendemos, com este trabalho, possibilitar ao professor a utilização de análises fílmicas como um instrumento de debate de questões relacionadas à Educação Regular e Especial e ao processo de Inclusão junto a comunidade escolar (alunos, pais, professores). Desse modo, acreditamos na possibilidade de intervenção educacional que abra ao diálogo e a um melhor convívio entre pessoas com e sem deficiências, e à aprendizagem e ao desenvolvimento das mesmas. Da essência do trabalho educativo na educação comum e especial O papel do professor na atualidade tem sido blindado de inúmeras análises, em função das constantes transformações que a sociedade vive e, conseqüentemente, os indivíduos que dela fazem parte. O grande avanço tecnológico, o processo acirrado de globalização encaminham para uma prática social complexa que desafiam o educador a refletir sobre que tipo de homem esta formando. Ao escolhermos, ou sermos escolhidos, para a profissão professor (pois a escolha profissional não nos parece revestida de tanta liberdade), passamos a enfrentar uma situação real, a qual nem sempre compreendemos de forma mais profunda. Por isso, inicio este trabalho 1

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O CINEMA COMO RECURSO PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES: A

EDUCAÇÃO DO HOMEM COM E SEM DEFICIÊNCIA, NUMA PERSPECTIVA

VIGOTSKIANA

Angela Mari Labatut

Palavras iniciais

Este trabalho resulta de nosso interesse por acreditarmos que podemos

contribuir na formação docente dos professores que atuam na educação

especial. Procuramos pautar sobre questões identificadas em nossa prática

docente na área da Educação Especial. Para tanto, buscamos dar

continuidade aos estudos teóricos que vimos realizando sobre a Teoria

Histórico-Cultural e, em especial, com a formação propiciada pelo Programa

de Desenvolvimento da Educação – PDE-Pr (2007/2008).

Pretendemos, com este trabalho, possibilitar ao professor a utilização de

análises fílmicas como um instrumento de debate de questões relacionadas à

Educação Regular e Especial e ao processo de Inclusão junto a comunidade

escolar (alunos, pais, professores). Desse modo, acreditamos na possibilidade

de intervenção educacional que abra ao diálogo e a um melhor convívio entre

pessoas com e sem deficiências, e à aprendizagem e ao desenvolvimento das

mesmas.

Da essência do trabalho educativo na educação comum e especial

O papel do professor na atualidade tem sido blindado de inúmeras

análises, em função das constantes transformações que a sociedade vive e,

conseqüentemente, os indivíduos que dela fazem parte. O grande avanço

tecnológico, o processo acirrado de globalização encaminham para uma

prática social complexa que desafiam o educador a refletir sobre que tipo de

homem esta formando. Ao escolhermos, ou sermos escolhidos, para a

profissão professor (pois a escolha profissional não nos parece revestida de

tanta liberdade), passamos a enfrentar uma situação real, a qual nem sempre

compreendemos de forma mais profunda. Por isso, inicio este trabalho

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declarando ou assumindo a necessidade de buscarmos uma visão menos

ingênua de nosso papel de educadores.

O fazer pedagógico, muitas vezes, torna-se um tanto pragmático e

distante de uma análise teórica mais aprofundada de questões que, mesmo

que não tenhamos consciência delas, direcionam a nossa prática. A discussão

que pretendemos estabelecer, neste momento, diz respeito às concepções

que temos de homem, sociedade, educação, deficiência/inclusão. Estas

concepções estão vinculadas ao tipo de formação que recebemos e

certamente se cristalizarão nas leituras de mundo e práticas docentes, isto é,

na mediação que efetivamos junto aos nossos educandos.

Embora esta não seja a nossa questão principal, é preciso destacar o

referencial teórico que tem norteado a formação de professores de modo

geral. Para tal discussão, lembramos que ele tem se pautado nos conceitos de

competências e habilidades defendidos nas legislações nacionais: Diretrizes

Curriculares Nacionais (DCNs) e Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e

na grande maioria dos teóricos que a disseminam. Eles têm ganhado bastante

destaque através das idéias dos que seguem a linha escolanovista, ou seja, os

contrustivistas, tal como Philippe Perrenoud.

Para compreender um pouco destas idéias e relacioná-las com as

propostas pedagógicas presentes, vamos observar o texto abaixo:

Com relação à construção de saberes e competências, Perrenoud disse que o professor deve ser o organizador de uma pedagogia construtivista, para que os alunos tenham condições de construir seus próprios saberes. Deve também dar a garantia de sentido dos saberes, pois muitos alunos, segundo o sociólogo, não sabem porque estão aprendendo. Além disso, o professor deve ser um engenheiro de situações de aprendizagem; deve administrar uma heterogeneidade crescente de origens sociais, de níveis escolares diferentes; deve ser capaz de gerir percursos de formação individualizados. “Essas competências são raras hoje em dia”, lamentou, insistindo que devemos considerar o conjunto dessas dimensões para termos um programa de formação exigente. (MENEZES, 2001)

A idéia difundida por essa linha teórica a de “construção de saberes

por parte do aluno”, vem permeando nosso cotidiano escolar, sem que nós

façamos uma reflexão sobre o que isto significa. Quando não compreendemos

as implicações de uma proposta pedagógica desta natureza, que objetiva a

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construção do conhecimento pelo aluno e cuja função do professor é a de

engenheiro de situações de aprendizagem (MENEZES, 2001), somos

facilmente confundidos em nosso trabalho profissional.

Embora não pretendamos fazer uma análise da obra de Perrenoud,

preocupam-nos os resultados da práxis pedagógica, mediante esta adoção no

universo escolar. Indiscutivelmente isto refletirá de forma a retirar do papel do

professor aquilo que é considerado como aspecto imprescindível: o caráter

social da mediação. Segundo este pesquisador, a escola deve auxiliar na

manutenção da ordem social, ou seja, deve saber administrar as diferenças

sociais e auxiliar o aluno a criar as competências necessárias para viver na

sociedade. Mas, perguntamos: não seria importante justamente formar

pessoas que compreendam as contradições da sociedade atual e que sejam

instrumentalizadas para nela intervirem de forma a vencer o círculo vicioso da

pobreza e da ignorância?

A sociedade atual apresenta-se de forma bastante contraditória. Os

grandes avanços tecnológicos e as crises resultantes da automação já trazem

um impasse para a função da escola neste momento histórico. Quando

analisamos os resultados das avaliações educacionais (BRASIL, 2006) ficamos

perplexos diante da ineficácia da instituição escolar, e é inevitável a reflexão a

respeito de nossa atuação como profissionais da educação. Acreditamos ser

necessário ir além da busca de culpados ou responsáveis, é preciso conhecer

a sociedade, o seu ideário e a dinâmica do seu movimento de forma menos

ingênua, ter radicalidade e visão de conjunto para realizar uma reflexão mais

significativa que a explique.

Aproximando esta discussão da prática pedagógica do professor da

Educação Especial, há uma forte demanda de uma formação profissional de

competências múltiplas e de estudos que enfatizam as questões relacionadas

aos déficits e um distanciamento da função primordial da escola, seja ela em

qualquer modalidade, que é a transmissão pelo professor e conseqüente

apropriação do conhecimento científico pelo aprendiz. De que forma podemos

preparar nossos alunos para agir na sociedade de maneira crítica e

participativa? Como podemos auxiliar na construção de uma sociedade mais

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inclusiva, se jogamos toda a responsabilidade apenas e tão somente ao

aluno, sendo ele o construtor do conhecimento, quando sabemos a contrário

sensu, que a humanidade construiu e continua construindo esses saberes?

Essa contradição não é respondida por aquele que defendem essa concepção.

Julgamos que o caminho para responder a estas questões serão

trilhados a partir de uma visão que entende a Educação Especial como parte

da Educação Geral e que concebe a educação como um instrumento de

transformação e não de simples adaptação a uma realidade posta.

Acreditamos que o professor da Educação Especial precisa desvincular-

se de uma prática técnica e pragmática e, em particular, de ransos como o de

“ser paciente, amoroso em sua missão”, ou seja, de supor que características

individuais como estas possam substituir aquilo que é essencial: a

necessidade de continuamente buscar o conhecimento teórico que

fundamente sua prática; deve dominar os princípios psicológicos e

pedagógicos que encaminham sua ação para poder atuar de forma consciente

e eficiente.

Utilizando como referencial teórico a Psicologia Histórico Cultural,

encontramos o posicionamento de L. S. Vigotski (1896-1934), seu fundador, a

respeito da necessidade do homem apropriar-se dos instrumentos materiais e

psicológicos para humanizar-se. Instrumentos são entendidos como todos os

mediadores construídos pelo homem para facilitar sua interação com o meio

físico e social. No sentido filogenético podemos ir desde a utilização de

recursos da natureza como pedras, galhos de árvore, pelo homem primitivo

até ao recurso de informática de última geração, como um pendrive, que são

instrumentos físicos, mediadores ou extensão da capacidade intelectual.

Além destes, o homem se utiliza dos instrumentos não-materiais, sendo

a linguagem o instrumento de maior relevância. Ela é criada pela necessidade

de comunicação entre os homens. Todos estes instrumentos são construídos,

transmitidos e apropriados pelos homens, ao longo da história. É a experiência

histórico-social construída filogeneticamente que assume existência objetiva

no mundo que vivemos. Esta apropriação acontece à medida que o homem

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vive em coletividade e desenvolve as Funções Psicológicas Superiores (FPS).

As FPS são próprias aos humanos, diferentemente das funções psicológicas

básicas, que são presentes nos animais (estes têm memória, atenção,

percepção, etc., que resultam apenas da herança genética, própria do instinto,

e tem seus limites marcados, já que não transmitem às novas gerações e nem

as aprimoram ou as elevam). Segundo Facci (2004, p. 5),

[... ]por meio de desenvolvimento da prática social, as funções psicológicas superiores vão se desenvolvendo e o pensamento evolui do nível empírico ao nível abstrato, teórico, representado, essencialmente, pelo pensamento científico.

Quando pensamos em humanização é importante destacar que,

primeiro o professor precisa ter consciência de que humanizar-se implica em

apropriar-se dos bens culturais (linguagem verbal, conhecimentos tácitos e

científicos, usos e costumes), que em outras palavras significa também

desenvolver e aprimorar as Funções Psicológicas Superiores, como: atenção

voluntária, memória lógica, formação de conceitos, etc. Assim, ao ensinar os

conteúdos de sua disciplina estará não somente transmitindo os saberes para

serem apropriados, mas participará do processo de humanização, de

desenvolvimento intelectual do seu aluno. Mas, este processo deve ser

percorrido por ele mesmo, o que implica em dizer que sempre estará num

contínuo processo de aprendizagem e de formação.

Por este entendimento, estamos falando do professor como aquele que

necessitaria compreender que a sua prática pedagógica está sempre

fundamentada em uma concepção de homem, de desenvolvimento e de

aprendizagem, apesar de, em muitos casos, não ter clareza da linha filosófica

á qual se filia.

O professor que aqui defendemos trata-se de alguém que precisa

associar seu fazer em sala de aula com as relações sociais que os indivíduos,

inevitavelmente, mantém com o mundo, que compreende a deficiência

enquanto um fator essencialmente social, muito além de um problema

orgânico, que busca uma prática que leve o indivíduo a emancipação.

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A partir da Teoria Histórico Cultural compreendemos que a Escola tem a

função de levar até aos alunos, especiais ou não, o conhecimento científico,

que serão assimilados pela relação de cooperação organizada e sistemática

entre professor e aluno. É o professor o principal responsável em levar o aluno

a desenvolver as FPS, juntamente com outros adultos e crianças mais

experientes que interagem com ela.

Existem, conforme a concepção vigotskiana, dois processos de desenvolvimento; o atual, que representa o desenvolvimento já efetivado pela criança e o desenvolvimento próximo, caracterizado pelas vias que estão em processo de amadurecimento. O fundamental da escola é justamente a criança aprender o novo, por isso é a zona de desenvolvimento próximo que determinado campo das mudanças acessíveis à criança, é ela que representa o momento mais importante na relação da aprendizagem com o desenvolvimento (FACCI, 2004, p.7).

Não caberia aqui um aprofundamento a respeito do conceito de zona de

desenvolvimento próximo, pois o que pretendemos destacar é a função

do trabalho educativo. Duarte (2003) ao fazer a crítica às Pedagogias do

Aprender a Aprender, como a pedagogia postulada por Perrenoud, nos chama

a atenção para a característica essencial das atividades desenvolvidas por nós

educadores: uma atividade intencional, com objetivos claros. Esta

característica seria o grande diferencial de outras formas de educação. As

pessoas aprendem, em seu dia-a-dia uma série de conhecimentos na inter-

relação com o mundo que as cerca, desde receitas de culinária, utilização de

novas tecnologias, palavras que são incorporadas ao vocabulário. Só que

estas aprendizagens são resultados indiretos e não intencionais.

A arte como instrumento de humanização

Como apontamos no início deste texto, para realizar uma intervenção

pedagógica com vistas ao desenvolvimento do indivíduo é necessário que o

professor tenha, em sua formação, a possibilidade de apropriar-se de um

fundamento teórico que direcione sua prática. Quando falamos em teoria,

muitas vezes, pensamos em uma série de informações que não tem nada

haver com a nossa realidade educacional. Este é um grande erro, pois toda

ação pedagógica que executamos se apóia em um referencial teórico, mesmo

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que não tenhamos consciente isso em nós. Portanto, quando trazemos a

questão da arte é importante salientarmos que este recurso, para tornar-se

um instrumento pedagógico, necessita uma reflexão por parte do educador.

Apresentamos, aqui, a arte como uma forma essencialmente cultural da

manifestação humana. Como aponta Barroco (2003a, p. 29) a arte é um

instrumento rico para o desenvolvimento do indivíduo assim como os

conhecimentos científicos “[...] auxiliam no desenvolvimento não apenas do

aspecto sensível, mas também do intelectivo de quem as produz e de quem

delas usufrui ou frui.”

O homem, no sentido filogenético, constrói sua história à medida que

domina a natureza à sua volta e através do uso de instrumentos, a princípio

suas próprias mãos, consegue produzir sua subsistência. Assim, inicia-se sua

humanização, que vai deixando um legado de instrumentos materiais e

culturais para as gerações que se seguem. A arte, dentro de uma perspectiva

histórico cultural, é uma forma de manifestação da história da humanidade.

Barroco (2003b) destaca que em cada momento histórico podemos

perceber a arte manifestando os sentimentos e pensamentos do homem, isto

das mais variadas formas (música, artes plásticas, poesia). Vamos perceber na

arte a expressão do que o homem vive socialmente em determinada época. À

medida que a sociedade vai se modificando, incorporando novas tecnologias,

a arte também acompanha este processo. Um aspecto importante destacado

pela autora é que a falta de criatividade na sociedade atual não se deve ao

uso das tecnologias, mas sim a precarização das relações entre os homens e

com os fatos que os rodeiam.

A pauperização do conhecimento da história dos homens e das suas produções, conteúdo tomado como pouco prático e aplicável aos dias atuais no ensino comum ou regular e, principalmente, no ensino especial, tem em muito contribuído para que os homens de hoje pouco tenham a contar e a pintar (BARROCO, 2003b, p.30)

Poderíamos destacar aqui que grande parte de nós, professores,

necessitamos avançar em relação a um conhecimento mais abrangente da

história da humanidade expressa nas mais variadas formas de arte.

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Barroco (2007) nos traz um estudo a respeito da obra de Vigotski

Psicologia da arte, que seria tema para estudos aprofundados sobre a questão

da arte, no entanto, poderíamos tentar trazer algumas idéias altercadas pela

autora. Um aspecto importante trazido por ela diz respeito ao entendimento

do momento histórico em que Vigotski escreve sua obra: a construção de uma

sociedade socialista, e a que seus escritos nos encaminham a uma leitura das

obras de arte no sentido de compreender o homem em seu contexto histórico,

como pensava, como existia. Segundo Barroco (2007, p. 198), a Arte

humaniza

[...] ela abre as portas para novas aquisições, par o enriquecimento das experiências do artista e do fruidor. Este, ao se deparar com o desafio de desvendar o que nem sempre lhe parece claro, lógico e completo, precisa atribuir sentido ao que o outro realizou. Precisa levantar, assim como o artista, elementos que foram postos entre os homens e, apropriar-se deles. Isso permite a realização de novas conquistas, atividades, descobertas, o que direciona para o estabelecimento de outras representações. Por esse aspecto, a Arte leva ao domínio de um conteúdo posto, a uma compreensão mais ampla do já visto, ouvido, enriquecendo o acervo pessoal da humanidade.

No trecho citado acima é possível abarcar a dimensão da arte e a

riqueza de sua utilização no meio educacional.

Cinema: muito mais que entretenimento

Ao pensarmos em um trabalho pedagógico onde o cinema é o principal

recurso, precisamos compreender esta forma de arte, pois ela ainda é um

tanto recente (final do século XIX), se comparada a outras formas de

expressão artística, como o teatro e a literatura. Outro aspecto que dever ser

analisado é que esta forma de arte está transformando-se em função dos

avanços tecnológicos constantes. Souza (2004) esclarece que o cinema é um

veículo de entretenimento de grande alcance e que tem que ser visto em suas

várias formas de apresentação. Inicialmente não podemos esquecer o caráter

comercial do cinema; segundo, seu grande poder de impetrar valores, ou seja

seu caráter formativo e informativo.

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Duarte (2002) analisa que cada grupo social irá interessar-se por

determinado tipo de filme e que esta escolha está intimamente relacionada à

prática social, e que o cinema é uma fonte rica de cultura, assim como a

literatura. É possível afirmarmos, com base em nossa experiência como

professora, que nos meios educacionais ainda predomina o entendimento que

a utilização de filmes assume apenas um papel de complementação ou

ilustração de conteúdos retirados dos livros, que seriam as verdadeiras fontes

de conhecimento. Acreditamos, no entanto, ser hora de ampliarmos nossa

visão a respeito da utilização pedagógica do cinema e dos produtos

audiovisuais, e para isso precisamos conhecer mais a respeito do assunto.

Diferente da escrita, cuja compreensão pressupõe domínio pleno de códigos e estruturas gramaticais convencionados, a linguagem do cinema está ao alcance de todos e não precisa ser ensinada, sobretudo em sociedades audiovisuais, em que a habilidade par interpretar os códigos e signos próprios dessa forma de narrar é desenvolvida desde muito cedo (DUARTE, 2002, p. 38).

A autora, falando sobre o cinema, destaca que esta forma de arte

possibilita uma aproximação da realidade que vem de encontro com o

espectador que busca no filme uma ficção, que funciona como um elemento

importante para trabalhar com a realidade, pois enquanto assistimos ao filme,

passamos a vê-lo como uma verdade temporária, não separando realidade e

fantasia. Outro aspecto que a autora coloca diz respeito a identificação que

fazemos ao assistir a um filme, nos reconhecemos nos personagens e

projetamos nele nossos próprios sentimentos.

Trazendo estas questões para o âmbito da escola Duarte (2002, p. 8,

grifo da autora) aponta:

Saber como o cinema atua nos leva a admitir que a transmissão/produção de saberes e conhecimentos não é prerrogativa exclusiva da escola (embora ela tenha um importante papel a desempenhar nesse processo), mas que acontece também em outras instâncias de socialização. Pensar o cinema como uma importante instância “pedagógica” nos leva a querer entender melhor o papel que ele desempenha junto àqueles com os quais nós também lidamos, só que em ambientes escolares e acadêmicos.

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Acreditamos ser este o desafio proposto por este trabalho, utilizar a

linguagem fílmica como uma forma valiosa de intervenção junto a pais,

professores, alunos, entendendo-a como um bem cultural que deve ser

consumido, não passivamente, mas de forma de crítica e responsável.

Construindo o Roteiro

Após uma breve contextualização sobre o cinema enquanto recurso

pedagógico, passamos à etapa da metodologia do trabalho. Quando optamos

por um trabalho desta natureza é preciso termos bem claro: com que clientela

iremos trabalhar, em quantos encontros, e quais são os nossos objetivos para,

então, encaminharmos a escolha dos filmes – para não cairmos naquilo que

criticamos: o filme pelo filme, o filme para substituir o professor ou a base

teórica.

Em nosso caso, iremos trabalhar com professores da rede estadual de

ensino do Paraná, que são partícipes desta formação que já vem se dando

pelo PDE-Pr. Além do modo já previsto pelo PDE, iremos realizar sessões

fílmicas, discussões e orientações. Deste modo, pensamos que

instrumentalizaremos tais professores para reaplicarem esta forma de

intervenção em suas escolas.

Nosso objetivo que apontamos no início deste texto, com relação aos

professores, propende discutir questões relacionadas à aprendizagem a partir

da Teoria Histórico-Cultural, o papel das mediações para o desenvolvimento

das funções psicológicas superiores; identificando e discutindo o

distanciamento entre a deficiência/diferença que a indústria cinematográfica

veicula em grande escala e a que professores e alunos vivenciam na prática

pedagógica, buscando formas alternativas de abordagem dos fundamentos e

pressupostos da Educação Especial e Inclusiva.

Um trabalho nesta direção foi desenvolvido por Barroco, intitulado Arte

e Deficiência: o cinema mostrando a vida (UEM –Projeto de Ensino, 1996), cujo

propósito era identificar a distância entre aquilo que Hollywood vende e aquilo

que as pessoas enfrentam cotidianamente. A arte, como o cinema, não tem a

função de reproduzir a vida tal como ela é, sob o perigo de perder a sua

negatividade ante a prática social. Porém, quando a indústria cinematográfica

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veicula seus filmes passa idéias, valores e símbolos que precisam ser alvo de

reflexões, já que serão elementos para compor as subjetividades.

A seguir apresentaremos passos importantes para se montar uma

proposta de trabalho com cinema, e já apontaremos os caminhos que

seguimos para elaborar esta nossa, que será aplicada no ano de 2008.

1) Levantamento de acervo

Com relação ao levantamento do acervo de filmes a serem trabalhados

com professores, alunos e/ou pais, ela pode ser realizada de várias maneiras.

No trabalho que estamos desenvolvendo e que apresentamos parcialmente

neste texto, ele se deu através de/em:

- sites da Internet com o uso de palavras-chave: cinema/deficiência/educação;

- material disponível no Núcleo Regional de Ensino de Maringá;

- Universidade Estadual de Maringá – UEM, em BCE; LAP; DPI (decifrar as

siglas);

- Locadoras de filmes de grande porte de Maringá.

2) Seleção dos filmes

Para um trabalho com cinema, a etapa seguinte é a de seleção. Esta

exige uma delimitação de categorias ou critérios para a escolha de alguns dos

filmes dentre todos os relacionados. Neste momento é possível seguir por

vários caminhos, dependendo dos objetivos que se quer alcançar. Podemos

selecionar os filmes conforme vários critérios como:

- a área de deficiência;

- o período ou local de produção;

- o tempo de duração;

- o sucesso ou não de bilheteria;

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- a existência das sinopses;

- a qualidade de imagem e som;

- a existência de legendas e dublagens;

- minutos de duração;

- a objetividade da abordagem (se queremos algum aspecto específico em

relação à deficiência: educação, relacionamento, sexualidade etc.)

- outros.

Utilizaremos na proposta de intervenção na escola, como principais

critérios de escolha: filmes que tragam questões relacionadas à aprendizagem

e ao papel das mediações no desenvolvimento do indivíduo, 01 filme para

cada área da Educação Especial.

Para a seleção de tais filmes, realizamos a leitura das sinopses dos

temas encontrados em sites da internet assistimos aos filmes disponíveis e

que provocaram interesse ante os critérios estabelecidos. Selecionaremos um

filme para cada deficiência.

Feita a seleção dos filmes, deve ser organizado sequencialmente o

trabalho com os mesmos, conforme as temáticas abordadas.

Apresentaremos a seguir uma listagem de filmes, alguns com fotos

ilustrativas, e suas sinopses retirados do site do Núcleo de Apoio Acadêmico,

NAAC da Universidade de Santa Cruz do Sul, UNISC, que poderão servir como

referencial para a escolha dos filmes a ser trabalhados. Os filmes foram

separados por deficiência e o Autismo encontra-se juntamente com a

Deficiência Mental.

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LISTAGEM DE FILMES

a) Deficiência Mental

A Casa

Um grupo de mulheres com deficiência mental falam de suas vidas e memórias

através de desenhos que serão transformados em animações criadas pela diretora

Vivienne Jones. Um grupo de artistas. Um filme de Eija-Liisa Ahtil.

Do Luto à Luta

De Evaldo Mocarzel, documentário sobre como os pais recebem a notícia de que os

filhos nasceram com a síndrome de Down. Mostra diversos adultos com síndrome

de Down e suas impressões sobre a vida. As soluções para a inclusão destas

pessoas na sociedade são mais simples do que se imagina.

Meu Nome é Radio

Harold Jones é um técnico de futebol americano que desenvolve uma amizade com

Radio, um estudante do colegial que é deficiente mental. A amizade dos dois

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cresce com o passar dos anos, com Jones acompanhando a transformação de Radio

de um jovem tímido para a inspiração da comunidade em que vive.

León e Olvido

Olvido é uma mulher de 21 anos. León, seu irmão, tem síndrome de Down. Faz 4 ou

5 anos que ficaram órfãos e, como única herança, eles têm a casa onde moram e

um carro velho. Entre eles começa desenvolver-se, de modo cada vez mais

desesperado, um conflito: Olvido quer que León aceite morar em um internato ou

que vá e volte sozinho da escola e se ocupe, pelo menos, de suas coisas e de

algumas tarefas domésticas, enquanto León faz todo o possível para que suas

atividades, responsabilidades e tarefas sejam mínimas e sua irmã cuide dele de

corpo e alma.

Nicky e Gino

Nick tem deficiência mental e é lixeiro por ocupação. Gino, seu irmão, inicia sua

carreira de médico. Nick é ingênuo e depende de Gino para se livrar da hostilidade

do mundo.

O Oitavo Dia

Empresário estressado vaga sem rumo pelas estradas francesas. Quase atropela

um rapaz com Síndrome de Down e acaba levando-o no carro. Uma forte amizade

desenvolve-se entre os dois. Prêmio de melhores atores em Cannes.

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Os Dois Mundos de Charly

Deficiente mental interpretado por Cliff Roberson que levou o Oscar.

Sem Medo da Vida

História de uma avó e seu neto com síndrome de Down, que aborda a questão da

aceitação da família de uma forma interessante.

Simples como amar

Após passar alguns anos em uma escola especial, Carla Tate foi "graduada" e

poderá voltar para casa de seus pais em São Francisco. Mas, apesar de ser

intelectualmente limitada, planeja morar sozinha, ter uma vida independente e

também se libertar da presença da mãe, que a vigia de forma sufocante. Este

desejo de ter seu próprio apartamento é aumentado quando conhece Danny

McMann, um jovem que como ela é mentalmente "lento", mas mora sozinho.

Por fora, Por dentro

Documentário onde um homem autista e mudo divide sua profundidade interna.

Uma maneira original de apresentar as frustrações da mudez aos espectadores.

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Prisioneiros do Silêncio

Mãe leva filho autista para uma instituição especializada e descobre maneiras de

comunicar-se com ele.

Rain Man

Rapaz vai buscar irmão autista em asilo a fim de herdar a fortuna do pai sozinho.

Os dois desenvolvem amizade no caminho de casa, redescobrem os antigos

sentimentos e passam a viver juntos e sem ressentimentos. Oscar de melhor filme,

ator, direção e roteiro.

Refrigerator Mothers

História de sete mães que foram responsabilizadas pelo autismo de seus filhos.

Uma terapia comum nos anos 60 era retirar a criança autista do convívio de seus

pais.

Uma criança diferente

Jan Maka era uma criança feliz e cheia de energia até que sua família descobre que

ele é "diferente": Jan é autista. Como é viver com uma criança afetada por essa

desordem neurológica?

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b) Deficiência Visual

A Cor do Paraíso

Filho espera o pai vir buscá-lo para as férias, numa escola especial para crianças

cegas. O pai no entanto fica relutante em levá-lo para casa, por pensar que isso

poderá atrapalhar suas pretensões de se casar de novo.

Além dos Meus Olhos

Após alguns anos de casados, James e Ethel, que são cegos, descobrem que não

podem ter filhos. Quando decidem adotar uma criança, têm que enfrentar uma

série de barreiras legais e provar que são capazes de cuidar de alguém.

A Maçã

Trata do isolamento social de duas meninas gêmeas filhas de uma mãe cega e de

um pai muito velho que para ganhar a vida vive pela aldeia rezando.

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A Pessoa é para o que Nasce

Três irmãs, cegas de nascença e cantoras, encontram o seu estar no mundo na

música, cantam pelas ruas da cidade a fim de complementar a renda familiar,

sustentada pela mísera aposentadoria.

À Primeira Vista

Uma arquiteta está de férias em um hotel e apaixona-se pelo massagista cego.

Convence-o a submeter-se a uma operação para que ele volte a enxergar. O

filme é baseado em fatos reais e mostra as dificuldades do voltar a enxergar.

Castelos de Gelo

Patinadora adolescente é descoberta por famosa treinadora, que transforma a

garota em campeã mundial. No auge da fama, ela sofre acidente, que a deixa

cega, tendo de recomeçar do zero, com a ajuda do namorado.

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Dançando no Escuro

Uma imigrante tcheca leva uma vida dura trabalhando em uma usina nos EUA.

Descobre que está perdendo a visão dia após dia e tenta esconder isso de todos,

principalmente de seu filho, geneticamente condenado a também desenvolver a

doença. Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes como melhor filme e

melhor atriz.

LIBERDADE PARA AS BORBOLETAS

Jovem músico cego decide morar sozinho, longe da mãe superprotetora. Aluga

apartamento em São Francisco e envolve-se com uma vizinha, atriz. A mãe do

rapaz e as exigências da profissão da moça são dois grandes obstáculos para o

relacionamento deles.

Janela da Alma

Dezenove pessoas com deficiência visual contam como se vêem, como vêem os

outros e como se relacionam com o mundo.

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Luzes da Cidade

Carlitos apaixona-se por uma florista cega e se envolve nas maiores trapalhadas

buscando dinheiro para recuperar a visão da moça.

Perfume de Mulher

O filme relata a história de um ex-capitão do exército, cego e amargo, e sua

relação de amizade com um jovem contratado para acompanhá-lo em um tour. Ele

descobre mulheres atraentes usando seu apurado olfato. O filme mostra variados

cenários da Itália para ilustrar a condição de um homem que está destinado à

cegueira, mas pouco disposto a aceitar suas limitações.

Ray

Conta a vida do músico Ray Charles, que ficou cego aos 7 anos de idade, como

superou sua deficiência e conquistou o sucesso. Quem já viu Ray Charles num

palco poderá até jurar que é o próprio quem interpreta a si mesmo no filme.

Um toque de cor

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O pintor Terry Jackson reestrutura sua vida e sua técnica de pintura ao adquirir uma

deficiência visual. Sua arte reflete a mudança e mostra sua constante luta para

manter a pintura como forma de expressão.

Uma vida para viver

Crianças com deficiência visual, preparadas por seus professores para uma vida

independente, falam sobre o que querem ser quando crescerem, e mostram

acreditar que não existem barreiras ou limites para elas.

c) Deficiência Auditiva

Belinda

História de uma mulher surda, estrelada por Jane Wyman, que ganhou o Oscar.

Filhos do Silêncio

Professor leciona linguagem dos sinais para deficientes auditivos. Apaixona-se por

uma garota surda que tem dificuldades para relacionar-se com os outros. Oscar e

Globo de Ouro de melhor atriz e Urso de Prata no Festival de Berlim para direção.

Lágrimas do Silêncio

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Atriz surda deixa a filha com seus pais enquanto recupera-se da morte do marido.

Sua mãe apega-se à neta e pede sua guarda na justiça.

Mr. Holland - Adorável Professor

Direção de Stephen Herek - professor que deseja escrever uma sinfonia tem um

filho surdo. Então decide organizar um concerto para deficientes auditivos.

O Piano

Uma garota com deficiência auditiva se casa com um proprietário de terras. Ela

apenas se comunica através de um piano.

d) Deficiência Física

Casamento Proibido

Hedir, paraplégico desde os 15 anos, foi impedido pelo bispo de casar-se na Igreja

Católica em função de uma lei do Vaticano de 1084, segundo a qual um homem

precisa ser capaz de copular para poder casar.

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Como uma borboleta

Przemek teve paralisia cerebral ao nascer. Sua capacidade de comunicação ficou

totalmente comprometida até que teve acesso à linguagem BLISS e revelou sua

capacidade de expressão.

A História de Brooke Ellison

Um grave acidente deixa a jovem Brooke Ellison tetraplégica. Mas sua incansável

vontade de viver e se superar não só a leva de volta à escola como também à

universidade, onde se forma com louvor. Drama biográfico baseado na vida de

Brooke Ellison, que ao lado de sua mãe Jeane escreveu um livro em que conta sua

história.

Epidemia

Nos anos 50, na Dinamarca, milhares de pessoas foram infectadas pela

poliomielite. Niels Frandsen procura as palavras e as imagens para um registro

histórico e pessoal.

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Feliz Aniversário Talidomida

Mat Fraser adquiriu deficiência devido ao uso de talidomida por sua mãe durante

a gestação. No Brasil, Mat investiga o uso da droga e conhece mulheres que

ainda a usam.

Frida

História de Frida Kahlo, pintora mexicana que sofreu um acidente aos 17 anos.

Trata de sua deficiência física e traz uma mensagem de coragem e força.

Gaby - Uma História Verdadeira

A história de Gaby Brimmer que, sem andar, falar nem mexer as mãos, escreveu

um livro com o pé e uma maquina de escrever elétrica.

King Gimp

Vencedor do Oscar, esse documentário retrata a vida de uma pessoa com paralisia

cerebral.

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Murderball - Paixão e Glória

Um documentário sobre a superação através do esporte de pessoas paraplégicas

que encontram um novo sentido para a vida. Em cadeiras especiais a lá "Mad Max",

jovens com restrições de movimento nas pernas e braços se enfrentam em quadras

de basquete em duelos poderosos. Paralelamente vemos as lutas individuais dos

protagonistas: um jovem que busca redenção com o acidente que o feriu, um

jogador aposentado que passa a treinar o time do Canadá e é visto como traidor

pelos americanos, e um jovem recém incapacitado que busca esperança no

esporte. Temas como sexualidade e convivência com a sociedade também são

abordados, à medida que entendemos que sobre as rodas vivem seres humanos

dignos e capacitados.

Meu Pé Esquerdo

Christy Brown (Daniel Day-Lewis), o filho de uma humilde família irlandesa, nasce

com uma paralisia cerebral que lhe tira todos os movimentos do corpo, com a

exceção do pé esquerdo. Com apenas este movimento Christy consegue, no

decorrer de sua vida, se tornar escritor e pintor.

Mulheres Ferreiras

Em 1997, em Uganda e no Quênia, três mulheres com deficiência decidem que

seus destinos dependem de suas mãos. e aprendem a construir cadeiras de rodas,

assegurando assim sua própria mobilidade.

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Nascido em 4 de julho

Ron Kovic (Tom Cruise) é um rapaz idealista e cheio de sonhos, que deixa a

namorada (Kyra Sedgwick) e a família para ir lutar no Vietnã. Já na guerra, ele é

ferido e fica paraplégico. Ao voltar aos Estados Unidos é recebido como herói, mas

logo se vê confrontando com a realidade do preconceito aos deficientes físicos,

mesmo aqueles considerados heróis de guerra. Ron decide então se juntar a outros

para lutar pelos seus direitos, agora negados pelo país que os enviara para a

guerra.

O Despertar para Vida

Depois de sofrer um grave acidente, um jovem escritor tem que freqüentar um

centro de reabilitação, em uma cadeira de rodas. Um motociclista racista e rebelde

e um negro alcoólatra e paquerador são alguns de seus companheiros. Eles

descobrem no companheirismo novos horizontes para suas vidas.

O Franco Atirador

Conta a história de três amigos, dois deles paraplégicos, e as conseqüências da

guerra do Vietnam em suas vidas.

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Rei Coragem

História, lutas e vitórias de um jovem com paralisia cerebral, Dan Keplinger, e sua

trajetória até ser consagrado como um artista plástico.

Uma Janela para o Céu

História de uma esquiadora que fica paraplégica em um acidente numa

competição, tornando-se professora e lutando pelo seu amor.

Uma Razão para Viver

Por um diagnóstico equivocado, uma pessoa com paralisia cerebral é enviada a

uma instituição para doentes mentais. Uma professora descobre o erro e tenta

repará-lo.

e) Surdocegueira

O Milagre de Anne Sullivan

Professora tenta fazer Helen Keller, uma garota cega, surda e muda, entender

melhor as coisas que a cercam. Para isto entra em confronto com os pais da

menina, que sempre sentiram pena da filha e a superprotegeram.

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f) Outras Categorias

Bicho de Sete Cabeças

Conta a história de Wilson e seu filho Neto, que possuem um relacionamento

difícil. A situação entre os dois atinge seu limite e Neto é enviado para um

manicômio, onde terá que suportar as agruras de um sistema que o submete.

De Porta em Porta

Rapaz que sofreu mal uso do fórceps no nascimento topa trabalhar numa área em

que vendedor algum teve resultado. Além do êxito, conquista destaque entre os

colegas vendedores. História verídica.

Desejos inconfessos

As pessoas com deficiência lutam para serem reconhecidas como pessoas aptas a

explorar sua sexualidade e levar uma vida sexual ativa.

Enigma de Kaspar Hauser

Filme baseado na história verídica e obscura de Kaspar Hauser, cuja maneira de

pensar difere totalmente da dos outros seres humanos. Cresceu num calabouço,

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acorrentado até o dia em que foi levado por um guarda a uma praça e ali

abandonado. Um cidadão o encontra e o leva para a casa do capitão de cavalaria

que o entrega às autoridades, ele é então exposto em uma feira de curiosidades,

onde ganha o seu sustento. Um dia ele foge com alguns companheiros e é acolhido

pelo Sr. Daumer. Dois anos depois, Kaspar sabe falar e escrever.

Escola para todos

Documentário sobre o problema do acesso à educação para crianças com

deficiência na Rússia, e a interação com os demais alunos em uma escola inclusiva.

Forrest Gump - O Contador de Histórias

Quarenta anos da História dos EUA vistos pelos olhos de um rapaz com QI abaixo

da média. Há também um amputado das pernas. Oscar de melhor filme, ator,

diretor, roteiro, montagem e efeitos especiais.

Ìris

A história de amor entre a novelista e filósofa Iris Murdoch e seu marido, o

professor John Bayley, contada em duas épocas distintas: na juventude, quando se

conheceram, e na velhice, quando Iris sofre do mal de Alzheimer.

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Mentes que brilham

Conta a história de uma jovem operária, mãe solteira de uma criança que se revela

superdotada, enfrentando muitos desafios em sua vida.

Meu filho meu mundo

A luta de um casal que tem um filho autista com três anos de idade. A história

mostra todo o empenho e dedicação da família para inseri-lo na sociedade.

Missão Especial - MIRACLE RUN (2004)

Corrine descobriu o amor com os seus filhos, mas fica transtornada ao descobrir

que não existe cura ou tratamento efetivo para a doença dos gêmeos. Para não se

tornar prisioneira desta deficiência, ela está determinada a propor uma vida normal

aos garotos, e começa uma jornada em busca desta nova vida. Terá que enfrentar

muitos obstáculos para superar os preconceitos da sociedade, e mostrar a

capacidade deles.

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Nell

Nell foi criada sem nenhum contato com o mundo. É descoberta por um médico e

uma psicóloga que tentam descobrir como foi sua vida até então.

O Aviador

Trata do TOC - Transtorno Obsessivo Compulsivo, e conta a história de um

pioneiro da aviação.

O Garoto Selvagem

Conta a historia das experiências pedagógicas de Itard. na tentativa de educação

de uma "criança selvagem".

O Homem Elefante

A história de John Merrick, um desafortunado cidadão da Inglaterra vitoriana que

era portador do caso mais grave de neurofibromatose múltipla registrado, tendo

90% do seu corpo deformado. Esta situação o leva ser atração em circos de

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aberrações. Vítima desta doença que o deforma, este homem tenta a todo custo

recuperar a sua dignidade. Baseado em história real.

O Óleo de Lorenzo

Um garoto levava uma vida normal até que, aos seis anos, estranhas coisas

aconteceram, pois ele passou a ter diversos problemas de ordem mental que foram

diagnosticados como ALD, uma doença extremamente rara que provoca uma

incurável degeneração no cérebro, levando o paciente à morte em no máximo dois

anos. Os pais do menino ficam frustrados com o fracasso dos médicos e a falta de

medicamento para uma doença desta natureza. Assim, começam a estudar e a

pesquisar sozinhos, na esperança de descobrir algo que possa deter o avanço da

doença.

Os Camelos Também Choram

Da Mongólia, uma camela da a luz a um camelinho albino e rejeita o bebê. Só a

música é capaz de fazê-la chorar, para então começar a amamentar a cria.

Sempre Amigos

A história da amizade de dois meninos, um super dotado, porém com distrofia

muscular e o outro grande e forte, mas pouco inteligente e sem amigos.

Por uma noite apenas

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As dificuldades de pessoas com deficiência em comunidades gays. Nesta

comunidade em que a beleza física é ultra valorizada, qual é o lugar das pessoas

que não se enquadram no padrão?

Querida Perla

Perla é atriz e a última remanescente de uma família judia de anões que formava

uma trupe musical e que sobreviveu às experiências do Dr. Mengele em Auschwitz.

Sobre o amor

Em uma escola para pessoas com deficiência na Rússia, crianças divertidas falam

sobre suas vidas, especialmente sobre namoro e amor.

Sonata de Outono

A história de um pianista e a relação com suas filhas, uma delas com uma doença

neurológica degenerativa.

Uma Mente Brilhante

Um gênio da matemática aos 21 anos formulou um teorema que provou sua

genialidade e o tornou aclamado no meio onde atuava. Mas aos poucos o belo e

arrogante John Nash se transforma em um sofrido e atormentado homem, que

chega até mesmo a ser diagnosticado como esquizofrênico pelos médicos que o

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tratam. Porém, após anos de luta para se recuperar, ele consegue retornar à

sociedade e acaba sendo premiado com o prêmio Nobel.

Thalassa

A história de Thalassa, uma menina de nove anos de idade, que nasceu com uma

lesão cerebral e que, graças ao esforço de seus pais, consegue levar uma vida

ativa e feliz.

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EPÍILOGO

Esperamos com este trabalho encorajar o professor a utilizar a linguagem

fílmica como um mecanismo de percepção crítica da realidade, possibilitando,

através de elementos visuais e sonoros o desenvolvimento de experiências

diferenciadas sobre a questão da deficiência/diferença. E também propiciar a

altercação, de forma clara e prazerosa, sobre este tema tão amplo e tão

carente de debates. Outro aspecto importante diz respeito à necessidade de

uma postura crítica frente a linguagem fílmica, muitas vezes repleta de visões

distorcidas ou exageradas sobre a deficiência/diferença. Podemos, através do

filme, pensar e refletir sobre as várias visões, sobre as verdades e inverdades,

enfim trazer à tona concordâncias e discordâncias.

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REFERÊNCIAS

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BARROCO, Sonia Mari Shima. Psicologia e a Arte como Recurso: Proposições de uma trabalho Especial. In MARQUEZINE, M.C.; ALMEIDA, M.A.; TANAKA, E.D.D. (Orgs) Prodecimentos de Ensino em Educação Especial. Londrina: Eduel. 2003b

BARROCO, Sonia Mari Shima. Psicologia Educacional e Arte: uma leitura histórico-cultural d figura humana. Maringá: ERduem, 2007.

BARROCO, Sonia Mari Shima. Cinema e deficiência: a arte mostrando a vida. Maringá: Universidade Estadual de Maringá - UEM, Departamento de Psicologia, Projeto de Ensino - PEN, 1998.

BRASIL. Resultado do censo escolar 2005. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Brasília-DF, 2006.

MENEZES, Ebenezer de, O professor do futuro e suas competências [entrevista em 20 de agosto de 2001]. 2001. Disponível em: <http:///www.educabrasil.com.br.htm. Acesso em 04 dez. 2007.

FACCI, Marilda Gonçalves Dias. Formação De Professores “Especiais” E A Escola de Vigotski. Anais do II Simpósio Educação Que Se Faz Especial: Debates e Proposições. Maringá, 2004.

DUARTE, Rosália. Cinema & Educação. Velo Horizonte: Autêntica, 2002

DUARTE, Newton. Sociedade do Conhecimento ou Sociedade das Ilusões? Campinas: Autores Associados, 2003

SOUZA, Milena Luckesi. Cinema: Recurso Mediador para a Educação que se faz Especial. Monografia apresentada ao curso de especialização Educação Especial em Contexto de Inclusão, UEM, Maringá: 2004.

http://www.unisc.br/universidade/estrutura_administrativa/nucleos/naac/index.html

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