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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS NAEA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INTITUTO DE ECONOMIA REDESIST O Círio de Nazaré: Economia e Fé (Relatório Final) Francisco de Assis Costa 1 Alexandre Magno de Melo Farias 3 José Nazareno Sousa 4 José de Alencar Costa 5 Marcelo Bentes Diniz 2 1 Professor e pesquisador do Núcleo de Altos Estudos Amazônico/UFPa e da Redesist. 2 Professor do Departamento de Economia, Mestrado em Economia Regional/UFPa. 3 Professor da Universidade Estadual de Mato Grosso, Doutorando do Curso de Doutorado em Desenvolvimento e Ambiente do PDTU/NAEA/UFPa. 4 Mestrando do Curso de Mestrado em Planejamento do Desenvolvimento do PDTU/NAEA/UFPA. 5 Graduando do Curso de Informática da Universidade da Amazônia/UNAMA.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS

NAEA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INTITUTO DE ECONOMIA

REDESIST

O Círio de Nazaré: Economia e Fé (Relatório Final)

Francisco de Assis Costa1

Alexandre Magno de Melo Farias3

José Nazareno Sousa4

José de Alencar Costa5

Marcelo Bentes Diniz2

1 Professor e pesquisador do Núcleo de Altos Estudos Amazônico/UFPa e da Redesist. 2 Professor do Departamento de Economia, Mestrado em Economia Regional/UFPa. 3 Professor da Universidade Estadual de Mato Grosso, Doutorando do Curso de Doutorado em Desenvolvimento e

Ambiente do PDTU/NAEA/UFPa. 4 Mestrando do Curso de Mestrado em Planejamento do Desenvolvimento do PDTU/NAEA/UFPA. 5 Graduando do Curso de Informática da Universidade da Amazônia/UNAMA.

2

Sumário

1 . I n t r o d u ç ã o ........................................................................................................................ 4

2 . O C í r i o d e N a z a r é : o s i s t e m a c e n t r a l d o C í r i o d e N a z a r é d e B e l é m

...................................................................................................................................................... 6

2 . 1 O p r o d í g i o f u n d a d o r d o C í r i o ........................................................................... 8

2 . 2 A l o n g a t r a j e t ó r i a d o C í r i o ................................................................................. 9

2 . 2 A c o n f i g u r a ç ã o e s p a ç o - t e m p o e a f i n a l i d a d e d o C í r i o d e N a z a r é 18

2 . 3 A s f o n t e s d e e v o l u ç ã o d o C í r i o d e N a z a r é n o c u m p r i m e n t o d e s u a

f i n a l i d a d e : c r i a ç ã o e r e c r i a ç ã o s i m b ó l i c a – i n o v a ç ã o d o q u e s e

o f e r e c e ; c o n f i g u r a ç ã o e s p a ç o - t e m p o – i n o v a ç ã o d o c o m o s e o f e r e c e 19

2 . 4 A p r o d u ç ã o e a r e p r o d u ç ã o d o C í r i o ........................................................... 27

2 . 5 A D i r e t o r i a d a F e s t a : o c e n t r o e s t r a t é g i c o d o C í r i o d e N a z a r é ,

s u a g o v e r n a n ç a .................................................................................................................. 28

2 . 5 . 1 A D i r e t o r i a d a F e s t a e m n o v o f o r m a t o .................................................. 31

2 . 5 . 2 . C a r a c t e r í s t i c a s d a s d i r e t o r i a s d a D F .................................................... 33

2 . 5 . 3 . A o r i e n t a ç ã o d a D F à i n o v a ç ã o e s u a v i s ã o d e r e s u l t a d o s ...... 34

2 . 5 . 4 . U m a v e r i f i c a ç ã o d o s e f e i t o s i n d i c a d o s p e l a D F d a s i n o v a ç õ e s

d o s ú l t i m o s c i n c o a n o s ................................................................................................. 41

2 . 5 . 4 . 1 A m p l i a ç ã o d a A u d i ê n c i a ............................................................................ 41

2 . 5 . 4 . 2 . R e d u ç ã o d o C u s t o t o t a l e p o r u n i d a d e d e a u d i ê n c i a ............... 44

2 . 5 . 4 . 3 . A m p l i a ç ã o d a R e c e i t a e f o r m a d e f i n a n c i a m e n t o ...................... 46

2 . 6 . O f i n a n c i a m e n t o d o C í r i o d e N a z a r é ......................................................... 48

2 . 6 . 1 . A p a r t i c i p a ç ã o d a s e m p r e s a s e a s r e c e n t e s i n o v a ç õ e s

o r g a n i z a c i o n a i s ................................................................................................................. 48

2 . 6 . 2 . O C í r i o , a s I n s t i t u i ç õ e s p ú b l i c a s e o s p r o g r a m a s d e a p o i o .... 49

3 . O C u l t u r a e o T u r i s m o n a f o r m a ç ã o d o C í r i o d e N a z a r é d e B e l é m 51

3 . 1 . A c u l t u r a e o C í r i o d e N a z a r é ....................................................................... 51

3 . 1 . 1 . A I n d ú s t r i a C u l t u r a l : c o n s i d e r a ç õ e s g e r a i s e c o n t e x t o ............. 53

3 . 1 . 2 . E s p a ç o s C u l t u r a i s d e B e l é m ....................................................................... 58

3 . 1 . 3 . E s t r u t u r a i n s t i t u c i o n a l v o l t a d a à c u l t u r a ........................................... 59

3 . 1 . 4 . O s P r o d u t o s C u l t u r a i s A m a z ô n i c o s ........................................................ 59

3 . 1 . 5 C í r i o d e N a z a r é , o á p i c e d a c u l t u r a e d a i d e n t i d a d e p a r a e n s e 60

3

3 . 1 . 6 . O A r r a s t ã o d o B o i P a v u l a g e m ................................................................... 63

3 . 1 . 7 . O A u t o d o C í r i o ................................................................................................. 68

3 . 1 . 8 . A F e s t a d a s F i l h a s d a C h i q u i t a ................................................................ 75

3 . 2 . O t u r i s m o e a g r a n d e t r a s u m â n c i a d o C í r i o : s u a d e m o g r a f i a ..... 81

3 . 2 . 1 . T u r i s m o r e l i g i o s o e d e v o ç ã o c a t ó l i c a .................................................. 82

3 . 2 . 2 . P a r a a l é m d o T u r i s m o : a d e m o g r a f i a d o C í r i o ................................ 84

4 . A e c o n o m i a d o C í r i o d e N a z a r é d e B e l é m .................................................. 89

4 . 1 . O i m p a c t o d e c o n s u m o d o s v i s i t a n t e s ........................................................ 89

4 . 1 . 1 . I m p a c t o s d i r e t o s ................................................................................................ 90

4 . 1 . 2 . I m p a c t o s i n d i r e t o s ............................................................................................ 94

4 . 1 . 3 . I m p a c t o s t o t a i s d o s g a s t o s d o s v i s i t a n t e s ......................................... 95

4 . 2 . A e c o n o m i a d o C í r i o : o s e f e i t o s d e r i v a d o s d a c o n d i ç ã o d e “ N a t a l

d o s P a r a e n s e s ” .................................................................................................................. 97

4 . 3 . A e c o n o m i a t o t a l d o C í r i o d e N a z a r é d e B e l é m ............................... 100

C o n s i d e r a ç õ e s f i n a i s ................................................................................................... 101

B i b l i o g r a f i a ....................................................................................................................... 104

4

1 . In trodução O Círio6 de Nazaré, como evento religioso, é o centro de um acontecimento mais amplo,

que chamaremos aqui de Círio de Nazaré de Belém: um evento total (Mauss, 2003; Alves, 1980)

que combina um conjunto ou seqüência de rituais que se realizam em diversas instâncias e

esferas da vida da Cidade de Belém (Ver Box 1).

A cada ano se realiza um Círio de Nazaré de Belém: um momento do processo histórico

da construção social de um espaço-tempo simbólico estruturado por legítimas razões de fé, com

o concurso oportunista da alegria, da cultura, da política e do mercado. Trata-se, ao mesmo

tempo, de oportunidade de validação da dimensão sagrada da vida e uma sua consagração

profana. Tal construção se manifesta, concretamente, sobretudo na criação de oportunidade de

vivência sob impacto dos mistérios do poder divino, de sua capacidade de interferir e definir o

rumo da vida dos mortais com a mediação da Virgem mãe de Cristo, e no estabelecimento de

audiências privilegiadas, sobretudo para os prodígios e a palavra de Deus, na perspectiva da

catequese da fé católica. Ela se realiza, também, nas celebrações de pertencimento (à família, a

grupo, a lugar), para a exposição aos/dos signos da arte (comunicação performática dos seres

sociais), e para as mediações simbólicas e objetivas do poder e do capital (validação/negação de

imagens e realização de compras e vendas).

Nessa confluência, o lugar que cria e recria a cada ano a grande celebração, o

povoamento de Santa Maria de Maria de Belém do Grão-Pará, portal da Amazônia, ponto de

partida de sua colonização, centro estratégico do comércio que a conecta com o mundo, torna-se

denso de significados para cada um dos que o conformam em funções centrais ou periféricas,

próximas ou remotas, em posições imediatas ou mediatas. Com isso, revela-se atrativo simbólico

para o outro, para o estranho que busca aqui, de algum modo, o paraíso (Perdido? Prometido?

Perdido na promessa?) da fé, da alegria e da beleza. Isso implica em diversas viagens: a viagem

interior que motiva a generosidade e a prodigalidade; a viagem em torno de si (as procissões, o

arrastão, o auto, as paradas) onde se expõem os símbolos tangíveis da fé e da arte, onde se grita a

diferença, onde se pavoneia o poder; a viagem desde o interior que aproxima o rural do urbano

articulados pela cultura que tem nesses símbolos seus elementos de identidade; a viagem desde o

exterior que traz ao lugar os curiosos e os carentes dos seus atributos: de fé, de alegria e de

beleza. Nessas viagens se assenta a economia do Círio de Nazaré de Belém: a prodigalidade

6 Etimologicamente, a expressão “círio”, do latim “cereus” significa uma grande vela de cera, tem suas origens

portuguesas, os círios representavam um ajuntamento de pessoas que se organizavam para, em romaria, ir ao santuário de nossa senhora de Nazaré, em Portugal.

5

altera o ato de consumir, posto que influi na disposição e na forma do consumo; a exposição

requer a produção, em sentido palpável, material e tangível, dos símbolos, da representação, da

performance; a aproximação do centro com o interior implica em custos, i.e. gasto efetivo de

energia e matéria para romper a inércia do afastamento, do mesmo modo que o deslocamento

para a visitação do estranho. Em meio a tudo, o poder, seja econômico seja político, paga para se

naturalizar ou divinizar nos símbolos - paga, naturalmente, com o que arrecada pela condição de

poder.

É nessa última perspectiva que o Círio de Nazaré de Belém constitui objeto deste

trabalho: enquanto economia, isto é, como momento especial da reprodução social em lugar

preciso, fundado na integração de processos produtivos de sistemas particulares, dentre os quais

se destaca o próprio Círio de Nazaré, o evento religioso.

Box 1 – Belém do Pará, o lugar do Círio de Nazaré Belém do Pará é a capital do Estado do Pará, com 1,4 milhões de habitantes.

Considerada a região metropolitana de que é centro, elevar-se-á para mais de 2 milhões a população total. Centro estratégico do sistema que estruturou a notável economia de exploração de borracha extrativa, a cidade herdou interessante patrimônio histórico e arquitetônico, além de uma estrutura urbana e portuária que a mantém fundamental na logística de grande parte da Amazônia. A cidade tem três grandes universidades públicas e duas privadas, além de diversas outras faculdades e institutos de pesquisa. O PIB total e per capita do município de Belém alcançaram, em 2002, respectivamente R$ 6,6 bilhões e R$ 5.116,67.

O trabalho está dividido em três partes, além dessa introdução. No Capítulo 2 se

demonstrará a produção, o desenvolvimento e a situação atual do Círio de Nazaré, como um

sistema particular, central na conformação do Círio de Nazaré de Belém. Com a idéia de

produção procurar-se-á entender o processo da construção dos símbolos dos “movimentos em

torno de si” e de sua dinâmica, tratando, em conseqüência, da emergência dos seus mecanismos

de coordenação, governança e financiamento. No Capítulo 3 se discutirão os subsistemas

derivados ou associados à existência do Círio de Nazaré. De um lado, a produção de eventos

culturais, de outro a criação de um turismo religioso. No Capítulo 4 serão calculadas as

dimensões estritamente econômicas do Círio de Nazaré de Belém. Trata-se de visualizar de que

modo todo o conjunto de eventos influencia a economia da cidade de Belém, de que modo todos

os esforços em conjunto influenciam os arranjos e sistemas produtivos locais, condicionando sua

produção e reprodução. Ao final apresentar-se-ão considerações finais que englobam

recomendações de políticas.

6

2. O Círio de Nazaré: o sistema central do Círio de Nazaré de Belém O Círio de Nazaré, a procissão matriz e suas derivações, é o evento central e fundador do

Círio de Nazaré de Belém, o grande momento vivenciado anualmente pela cidade de Belém e

suas adjacências. Cada celebração do Círio de Nazaré é um momento, o último da série que

constitui o processo histórico da construção social de um lugar santificado: aquele por onde

perambula o ente que santifica e para onde perambularão os carentes dessa santificação. O Círio

de Nazaré é, pois, por um lado, um lapso de tempo definido e finito, momento presente,

oportunidade da realização e exposição de prodígios mediante os critérios da confissão religiosa

católica; por outro, um lapso de tempo indefinido e infinito, que configura o passado, o lugar

psico-social onde residem os prodígios realizados, e o futuro, o lugar psico-social onde se

realizarão sonhos, partes desses prodígios.

De um passado de milagres se alimentam as esperanças de um futuro abençoado. O Círio

de Nazaré é a oportunidade de vivências que aproximam, sob os auspícios da confissão católica,

essas duas realidades mentais: a da fé alicerçada no passado e a da esperança antevista como

futuro tocado pela divindade.

Assim percebido, o Círio de Nazaré é, em si, um sistema constituído de uma esfera de

produção e uma outra de reprodução, do qual faz parte uma orientação finalística, para a

realização de objetivos sistêmicos, e mecanismos de feed back que permitem aferição do grau de

alcance dessas finalidades. São os seguintes os seus elementos constitutivos:

A produção do Círio. É o processo objetivo que articula meios tangíveis e intangíveis

para estabelecer, a cada ano, oportunidades privilegiadas de vivências que estimulem a fé e a

esperança em Deus e na divindade católica justificada pela história do Círio.

O produto do Círio. A experiência do Círio, o ato de vivenciá-lo perpetrado por cada

crente seria o ato de consumo do produto derivado do processo produtivo do Círio; cada vivência

subjetiva, individual, seria uma unidade absorvida (de consumo).

Os demandantes do Círio. Os que vivenciam o Círio são seus demandantes. Tal audiência

se divide entre os que demandam o Círio para pedir, os que demandam o Círio para agradecer, os

que demandam o Círio para pedir e agradecer, os que demandam o Círio para ver os que pedem e

os que agradecem – conferir o evento, indagar sobre razões, se extasiar sobre formas, sentir o

espetáculo. Os que pedem o fazem em silêncio. Os que agradecem alardeiam com o recurso

performático das diversas formas de pagamento de promessas. Que, no Círio de Nazaré tem três

maneiras: a) a exposição do objeto da graça, demonstração para o mundo do poder (de

intermediação?) da Santa – recurso recorrente em outras oportunidades religiosas; b) a

demonstração pública da Fé na Santa, pelo auto-imputação de sacrifício e c) pela prestação

7

imediata de um serviço à Santa, em retribuição à graça alcançada. As duas primeiras formas são

recorrentes em manifestações católicas de características semelhantes; a última, entretanto, é

típica do Círio de Nazaré – é um seu distintivo.

A finalidade do Círio. O sistema se orienta, no seu processo reprodutivo, pelo número

dessas vivências, sua finalidade sendo a de permitir o maior número possível delas.

A formação de capital simbólico e a reprodução do Círio. Cada unidade de vivência,

cada unidade de audiência, ao mesmo tempo em que satisfaz uma necessidade subjetiva,

individual, agrega memória e tradição e, portanto, significado histórico e cultural ao Círio (como

história), podendo ser interpretado como mecanismo de formação do capital simbólico

(Bourdieu, 1989) que fundamenta a própria produção do Círio (como momento): uma unidade

consumida a mais do produto do Círio implica um incremento de seu fundamento de última

instância. Seu consumo produz, em si, um milagre: amplia o objeto consumido.

A história do Círio – sua trajetória. A evolução do processo de produção do Círio – a

evolução do sistema nele baseado - é, assim, a) influenciado pela história e, portanto, dependente

de trajetória (path dependent) e b) resultado de procedimentos path eficient, i.e. incorporados na

produção por demonstrarem resultados finais superiores às demais alternativas nos termos da

finalidade já explicitada.

O desenvolvimento e política do Círio. A cada edição, pois, o Sistema amplia a base

sobre a qual operará a próxima edição, a partir de um mecanismo endógeno potencial para a

expansão: a ampliação e a densidade de sua própria história. Tal processo, contudo, pode ser

contido por fatores que aprisionem o sistema em estados de inércia ou potenciado por fatores que

o excitam. A política de desenvolvimento do Círio se constituiria da mediação institucional que

favorece a gestão consciente de mecanismos que regulam, a cada edição, o número dos que

vivenciam as experiências de fé e esperança oferecidas pelo sistema.

A razão (racionalidade) do sistema – a percepção de eficiência, os investimentos e as

inovações. A eficácia do sistema e do processo decisório que lhes orienta se demonstra, em

princípio, pelo número dos que vivenciam as experiências de fé e esperança, i.e., pela audiência

atingida para a constatação do poder da fé e para a palavra de esperança em cristo. Tanto maior a

audiência, mais eficaz terá sido o sistema em sua finalidade. Há duas possibilidades lógicas para

isso: a) operar para que se amplie o número dos que aproveitam as mesmas oportunidades

(ampliação por desenvolvimento extensivo) ou b) operar para que se multiplique o número de

oportunidades (ampliação por desenvolvimento intensivo). Qualquer que seja a escolha, ao

sistema será exigido esforço de mudança - isto é, capacidade de inovar e de arregimentar a

energia extraordinária para tanto. Uma inovação se afirmará se, além de permitir eficiência de

8

escala (expandir a audiência) comparável às possibilidades concorrentes, reduzir, mais que

qualquer dessas, o volume de esforço despendido por cada unidade dessa audiência.

A concorrência. O Círio de Nazaré é um mecanismo operado pela fé católica num tempo

e num espaço precisos. O tempo do Círio é concomitante com o tempo de outras manifestações

realizadas em espaços distintos. Para os que fazem a “viagem do exterior”, o Círio é alternativa a

outras oportunidades de exercício de fé e de esperança sob a égide da fé católica em outros

lugares. Por outra parte, a fé católica (e sua institucionalidade) não detém o monopólio das

oportunidades de exercício da fé e da esperança cristãs como ingredientes da vida social – como

um dos seus mecanismos de coesão e estabilidade. Para os que realizam “a viagem do interior”

para exercitar “a viagem interior”, a oportunidade do Círio realiza-se como alternativa num

campo em que outras confissões atuam oferecendo signos equivalentes.

2.1 O PRODÍGIO FUNDADOR DO CÍRIO Segundo Rita Amaral, em sua tese de doutorado, todas as referências à origem da festa do

Círio de Nazaré remetem à lenda do aparecimento da imagem de Nossa Senhora de Nazaré, com

poderes miraculosos, achada por Plácido José de Souza - um caboclo da região, filho de um

português e uma índia nativa. Num certo dia de outubro de 1700, Plácido saiu para caçar na

região do igarapé Murutucu (onde hoje é a Basílica de Nazaré). Depois de muito caminhar pela

mata, parou para refrescar-se nas águas do igarapé. Ao levantar a cabeça, enxergou a imagem de

Nossa Senhora entre as pedras cheias de lodo. Católico fervoroso, Plácido levou a santa para o

barraco onde morava e ali, em um altar humilde, passou a venerar Nossa Senhora.

Diz-se, contudo, que no dia seguinte àquele em que foi encontrada, a imagem não

amanheceu no altar da casa de Plácido que, sem saber o que acontecera, caminhou até às

margens do Murutucu. Para sua surpresa, a imagem estava novamente ali, entre as pedras. Diz-se

que a Santa sumiu outras vezes para retornar teimosamente às margens do igarapé.

Plácido ergueu uma palhoça para abrigar a Santa. A imagem, em seu lugar, tornou-se

alvo de reverência e veneração populares crescentes. A partir deste ponto a Santa empreendeu

sua primeira viagem em 1793 – inaugurou-se, assim, a procissão do Círio de Nazaré, desde

então, sem interrupção, anualmente realizada em Belém. A imagem encontrada por Plácido é

mantida até hoje no altar mor da Basílica de Nazaré, sendo a referência principal de toda a

construção do Círio. Em torno dela se construíram os demais símbolos que estruturam, hoje, o

espaço e o tempo do Círio.

9

2.2 A LONGA TRAJETÓRIA DO CÍRIO A construção do Círio, como processo histórico, está marcada por dois tipos de eventos:

os que construíram os símbolos em torno dos quais se estruturam os movimentos objetivos que fazem os percursos de cada ano e os que criam e recriam tais percursos. Em ambos os casos há eventos fundamentais, que criam elementos de grande significado, e mudanças que complementam ou dão seqüência às inovações fundamentais.

O Quadro 1 nos permite acompanhar tais evoluções. Destacam-se, ali, duas grandes ondas de criação: a primeira seqüência produz fundamentalmente os símbolos do Círio e se estende por um século e meio; a segunda, amplia o espaço-tempo de influência desses símbolos: um processo iniciado há três décadas e em notável andamento.

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Quadro 1 - A construção do Círio como processo histórico, 1700 a 2004 Símbolos O Espaço-Tempo Dinâmica de mudanças e inovações

Ano Imagem e seus

ornamentos

Carros e Barcas Berlinda A corda Hinos Indulgências

Lugar Central:

Santuário Viagens/Romarias

Gestão e centro estratégico

Construção dos

símbolos

Conformação do espaço do

Círio

Constituição do tempo do

Círio 1700 Imagem da

Santa encontrada por Plácido

Primeiraermida para

abrigar a Santa no

lugar para o qual sempre

retornava

1721 Construçãoda segunda

ermida

1793 Primeiro Círio(horário vespertino - roteiro: traslado até o Palácio de

Governo e retorno à ermida)

1805 PrimeiroCarro para

lembrar milagre, por ordem de D.

Maria I

1826 Carro dosFogos para

lembrar nações

católicas, permaneceu

até 1981

1854 O Papa Pio XIX concede indulgência plenária a

quem acompanha o

Círio

O Círio passa a se realizar pela manhã

11

Símbolos O Espaço-Tempo Dinâmica de mudanças e inovações

Ano Imagem e seus

ornamentos

Carros e Barcas Berlinda A corda Hinos Indulgências

Lugar Central:

Santuário Viagens/Romarias

Gestão e centro estratégico

Construção dos

símbolos

Conformação do espaço do

Círio

Constituição do tempo do

Círio

1855

Barca lembrando milagres

com marujos

Carro

puxado a animais

para conduzir a

santa

Para desatolar a

Berlinda utilizou-se uma corda puxada pela multidão

1861 Criada aParóquia de N. Sra. de

Nazaré

1872 Oficializadapela Santa Sé

a Missa à Virgem Maria

1882 O Círio passa a sair da Catedral da Sé

1885 O ato da multidão puxar a Berlinda com a Corda se torna

oficial.

1888 Traslado, que jásaía do Colégio

Amparo, passa a ter o trajeto do Círio

no sentido contrário

1889 Translado inicia noColégio Gentil

Bitencourt

1901 Firmada a data do Círio no segundo

domingo de outubro

1906 Concedidaindulgência

plenária para quem

participasse

12

Símbolos O Espaço-Tempo Dinâmica de mudanças e inovações

Ano Imagem e seus

ornamentos

Carros e Barcas Berlinda A corda Hinos Indulgências

Lugar Central:

Santuário Viagens/Romarias

Gestão e centro estratégico

Construção dos

símbolos

Conformação do espaço do

Círio

Constituição do tempo do

Círio piamente em qualquer dia do novenário

do Círio 1909 Criação do

Hino Oficial:

"Vós Sois o Lírio

Mimoso"

Colocada apedra

fundamental da Basílica de Nazaré

1910 Instituída aDiretoria da

Festa

1914 Colocada acumieira da

Basílica

1923 O templorecebeu de

Roma o título de Basílica

1926 Carros setornam andores

A berlinda se

transforma em andor

A corda foi abolida porque deixou de ter

função/utilidade

1931 Retorna aBerlinda

com rodas para

reabilitar a corda

A corda foi reabilitada pelo

seu valor simbólico

1953 O manto da imagem original

doado pelo 6o. CE Nl

1963 A Berlindade madeira

foi

Composiçãodo Hino:

"Virgem de

13

Símbolos O Espaço-Tempo Dinâmica de mudanças e inovações

Ano Imagem e seus

ornamentos

Carros e Barcas Berlinda A corda Hinos Indulgências

Lugar Central:

Santuário Viagens/Romarias

Gestão e centro estratégico

Construção dos

símbolos

Conformação do espaço do

Círio

Constituição do tempo do

Círio substituída por outra de ferro e

cristal

Nazaré"

1965 A Berlindavolta a ser de madeira

1969 Criação daimagem que substitui a imagem original

1972 Criadas asperegrinações

1974 Criada aGuarda da

Santa

1975 Composiçãodo Hino: Maria de

Nazaré (Pe. Zezinho)

1980 Imagemoriginal

abençoada pelo Papa

Carros dos Anjos

(estudantes)

1982 Barca comVela

1986 Romaria Fluvial 1989 Romaria

Rodoviária

1987 Composiçãodo Hino:

"Senhora da Berlinda"

1990 Barco dosescoteiros

Romaria dosMotoqueiros e

Romaria Infantil

14

Símbolos O Espaço-Tempo Dinâmica de mudanças e inovações

Ano Imagem e seus

ornamentos

Carros e Barcas Berlinda A corda Hinos Indulgências

Lugar Central:

Santuário Viagens/Romarias

Gestão e centro estratégico

Construção dos

símbolos

Conformação do espaço do

Círio

Constituição do tempo do

Círio 1991 Iniciado cíclo de

peregrinação pelas cidades do interior

do Pará e nas principais capitais e cidades brasileiras

1997 Traslado paraAnanindeua

2000 Barco doCaboclo Plácido

2001 Romaria daJuventude

Reestruturação da Diretoria da

Festa e promulgação de

um novo Regimento

2002 Carro daSantíssima Trindade

2003 Incia aperegrinação por

instituições e empresas públicas e privadas do Estado

do Pará

2004 Romaria do Ciclista

Fonte: Freitas, 2003; Pantoja, 2004. Convenções: a Mudanças primordiais v Mudanças derivadas e secundárias

15

A produção dos símbolos. A descoberta/revelação da (imagem da) Santa em 17007; o

modo apoteótico de demonstração de milagres na criação/adoção dos carros em 18058; a

exposição da veneração por parte do poder político por carros apoteóticos em 18269; a

santificação oficial do evento em 184510; a condução da Santa por carro puxado por número

indeterminado de pessoas, pela invenção articulada da Berlinda e da Corda, ambos em 185511.

Estes eventos fundam os elementos que estruturam atualmente a procissão do Círio de Nazaré

(conf. Box 1).

A produção do espaço-tempo do Círio. Em 1700, a própria Santa estabelece seu lugar, o

ponto para onde, se removida, sempre retornará; um pouco menos de um século depois, em

1793, fará sua primeira viagem, sagrará seu primeiro roteiro – o caminho entre sua morada e as

moradas do poder político (1793) e eclesiástico (1882) do Grão Pará – vizinhos na centro da

povoação de Santa Maria de Belém. Este foi o espaço do Círio por quase dois séculos, quando

então, em 1972, se criaram as peregrinações e, em 1986, se iniciaram, com a Romaria Fluvial, as

romarias especiais.

As peregrinações foram idealizadas como metodologia de evangelização e catequese

baseada nas comunidades e nos lares. Como parte da preparação para o Círio, réplicas da

imagem da Santa são transferidas de casa em casa, ensejando a oportunidade de orações e

reflexões em torno de temas renovados a cada ano. Objetivamente, a inovação:

a) Leva ao espaço privado as oportunidades do Círio que até então só se realizavam em

espaços públicos e

b) Rompe com o roteiro único, dando mobilidade aos símbolos em conseqüência do atributo

de mobilidade agora representado na Imagem Peregrina da Santa que, com isso, torna-se

capaz de ir onde o povo está.

7 A imagem original da Santa é substituída, desde final dos anos sessenta do século passado, por uma outra imagem

designada Imagem Peregrina. Desde então, a imagem original não sai da Basílica. Criou-se, todavia, uma cerimônia em que ela desce do altar principal, o altar Glória, para ficar por toda a quinzena de celebrações do Círio, no Presbitério da Basílica, mais perto do povo (conf. Amaral, 2003).

8 Atualmente a procissão conta com 12 carros: Carro do Caboclo Plácido, Barca dos Escoteiros; Barca Nova; Carro do Anjo Custódia, Barca com Vela, Carro do Anjo Protetor da Cidade, Barca Portuguesa, Carro dos Anjos I, Barca com Remos, Carro dos Anjos II, Carro dos Milagres Dom Ruas Roupinho/Brigue São João Batista e Carro da Santíssima Trindade.

9 Atualmente a procissão conta com 12 carros: Carro do Caboclo Plácido, Barca dos Escoteiros; Barca Nova; Carro do Anjo Custódia, Barca com Vela, Carro do Anjo Protetor da Cidade, Barca Portuguesa, Carro dos Anjos I, Barca com Remos, Carro dos Anjos II, Carro dos Milagres Dom Ruas Roupinho/Brigue São João Batista e Carro da Santíssima Trindade.

10 O reconhecimento do caráter purificador da festa pela alta cúpula da Igreja Católica é mais que um reforço: é consagração dos símbolos e seus poderes.

11 Segundo Vanda Pantoja (2005), para leigos e sacerdotes envolvidos com a organização do Círio a Corda é um dos mais representativos símbolos da devoção. A Corda é entendida, ademais, como o elemento através do qual o povo se manifesta de fato na celebração, o instrumento pelo qual o povo controla e se apropria da procissão (Pantoja, 2005:70).

16

Com isso se abrem caminhos para as romarias especiais, iniciadas com a Romaria

Fluvial, em 1986, orientadas a públicos particulares e cumprindo roteiros próprios,

tendencialmente de abrangência crescente. Hoje são sete essas procissões (ver Tabela 2).

Ademais, a Imagem Peregrina empreende longos trajetos para o exterior e aprofunda viagens

interiores. No primeiro esforço, capitais e grandes cidades do País são visitadas nos anos de

1991, 1992 e 1993, como parte das comemorações dos 200 anos do Círio de Nazaré; no segundo,

a peregrinação se aprofunda no espaço privado, alcançando, desde 2003, instituições e empresas.

Em 2006, 36 dessas organizações serão visitadas pela Santa (conf. Tabela 3).

Quadro 2 – Cronologia e descrição das novas romarias do Círio de Nazaré Romaria Ano de

Origem Espaços utilizados

Fluvial 1986 Procissão fluvial realizada na baía do Guajará com saída do Trapiche do Distrito de Icoaraci até a Escadinha do Cais do porto de Belém, na manhã do segundo sábado de outubro.

Rodoviária 1989 Cortejo de carros com saída da igreja da Matriz, no município de Ananindeua, até o Trapiche do Distrito de Icoaraci, nas primeiras horas do segundo sábado de outubro.

Dos Motoqueiros 1990 Cortejo de motocicletas que sai da Escadinha do Cais do porto, após a chegada em Belém da Romaria Fluvial, e se dirige até o Colégio Gentil Bittencourt.

Infantil 1990 Procissão realizada nas ruas próximas à Basílica, voltada para o público infantil, realizada no domingo após o círio.

Traslado 1997

Primeira procissão do círio, realizada na segunda sexta-feira de outubro; é um cortejo realizado principalmente por carros e bicicletas que se dirigem, por volta das onze horas da manhã, da Basílica de Nazaré até os municípios de Ananindeua e Marituba. Com vigília na

igreja de Matriz de Ananindeua e posterior deslocamento para o Distrito de Icoaraci nas primeiras horas do sábado para realização da Romaria Fluvial.

Da Juventude 2001 Procissão que sai de uma das igrejas ligadas a paróquia de Nazaré, no primeiro sábado após o Círio, com destino à praça Santuário.

Dos Ciclistas 2004 Procissão de ciclistas realizada pela primeira vez no ano de 2004, no dia 12 de outubro, com saída da praça Santuário e retorno ao mesmo local.

Fonte: Pantoja, 2005. Associada aos novos roteiros e espaços, interiores ou exteriores, ocorre a reformulação do

tempo do Círio de Nazaré - extensiva e intensivamente. Há uma elevação da extensão do tempo

do Círio na medida em que se expandiu da quinzena original para um calendário que, no que se

refere aos eventos em espaço público, se estende, neste ano de 2006, por exemplo, de 25 de

agosto a 23 de outubro (conf. Quadro 3); no que se refere ao roteiro privado das peregrinações,

vai do dia 12 de agosto até 4 de novembro (conf. Quadro 4). Ao lado disso, há uma

intensificação, um adensamento do tempo quando se operam múltiplos eventos num mesmo

espaço de tempo. No dia 7 de outubro, por exemplo, ocorrem 5 romarias e em vários momentos

se tem peregrinações concomitantes entre si e com outros eventos.

17

Quadro 3 – Calendário do Círio 2006 Evento Data Hora Local

Missa do Mandato 25/08 20:00 Praça Santuário Vigília de Adoração (início) 04/10 14:00 Auditório D.Vicente Zico Vigília de Adoração (final) 06/10 10:00 Auditório D.Vicente Zico

Romaria p/ Ananindeua 06/10 12:00 Basílica de Nazaré (saída) Abertura do Círio 05/10 20:00 Barraca da Santa

Romaria Rodoviária 07/10 06:00 Igreja Matriz de Ananindeua Romaria Fluvial 07/10 09:00 Trapiche de Icoaraci

Romaria dos Motoqueiros 07/10 11:00 Escadinha do Cais do Porto Descida da Imagem 07/10 12:00 Basílica de Nazaré Missa e Trasladação 07/10 17:00 C. Gentil Bittencourt

Missa do Círio 08/10 06:00 Catedral da Sé Círio 08/10 07:00 Catedral da Sé

Romaria dos Ciclistas 12/10 08:00 Praça do Santuário Romaria da Juventude 14/10 18:00 Comunidade São Brás (saída) Romaria das Crianças 15/10 08:30 Praça Santuário

Procissão da Festa 22/10 08:00 Praça Santuário Missa Encerramento 22/10 20:00 Praça Santuário Subida da Imagem 23/10 06:00 Basílica de Nazaré Missa do Recírio 23/10 06:30 Praça Santuário

Incineração das Súplicas 23/10 06:30 Basílica de Nazaré Recírio 23/10 07:30 Praça Santuário

Fonte: Livro das Peregrinações.

Quadro 4 – Calendário das Peregrinações Oficiais do Círio 2006

Evento Data Hora Local São Domingos de Gusmão 12.08.2006 19:00 Bairro da Terra Firme

TELEMAR (c/missa) 18.08.2006 08:30 Av. Dr. Moraes c/ B. de Aguiar

Colégio Santo Antonio 27.08.2006 08às18 Av. Assis de Vasconcelos

Colégio do Carmo 30.08.2006 07:30 Cidade Velha

SEDUC - Sec.Educ.e Cultura (c/missa) 20.09.2006 08:30 Rod. Aug. Montenegro km 10

Fábrica Sta. Maria Óleos e Sabão(c/missa) 20.09.2006 17:00 Icoaraci

Mendes Publicidade 21.09.2006 08:15 Rua Benjamim Constant

Centro de Ensino Superior do Pará 21.09.2006 18:00 Av. Nazaré

Vale do Rio Doce – ALBRÁS 22.09.2006 06:30 Barcarena

Grêmio Literário Português 24.09.2006 10:30 Rod. Aug. Monte Negro km

COCAL COLA 24.09.2006 17:00 Av. Augusto Montenegro

Paróquia de Santa Terezinha 25.09.2006 08:00/22:00 Av. Roberto Camelier - Jurunas

Assembléia Paraense 26.09.2006 20:00 Sede Social - Av Alm. Barroso

Garantia - Marketing Relacionamento 27.09.2006 10:00 Dr. Moraes

Vale do Rio Doce – Belém 27.09.2006 17:00 Av. Magalhães Barata

UNIMED – Belém 28.09.2006 18:30 Trav. Curuzu, 2212

REDE - CELPA 28.09.2006 08:00 Centro Operacional

Tribunal de Justiça do Estado - TJE 29.09.2006 09:00 Cidade Velha

GRUPO SACRAMENTA - C/MISSA 30.09.2006 18:00 Trav. Coronel Luiz Bentes

18

Evento Data Hora Local Comando do 4º DN - Capelania Militar 01.10.2006 09:30 Rod. Artur Bernardes - Vila Naval

Correio -Diretoria Regional 02.10.2006 09:00 Av. Presidente Vargas, 248

TRT 8ª Região 02.10.2006 14:00 Praça Brasil

CTBEL 03.10.2006 09:00 Av. Bernardo Sayão 2072

Câmara Municipal de Belém 04.10.2006 09:00 Trav do Chaco

Assembléia Legislativa 05.10.2006 09:00 Sede da Assembléia

Ministério Público 05.10.2006 10:30 Praça Felipe Patroni

Paróquia de Santana 05.10.2006 11:30 Centro Comercial

Defensoria Pública 05.10.2006 12:30

Banco do Brasil S.A. 06.10.2006 08:00 Av. Presidente Vargas, 248

1º COMAR 11.10.2006 08:00 Av. Julio César/ Almirante Barroso

HEMOPA 16.10.2006 10:00 Trav. Pe. Eutíquio, 2109

BRADESCO 18.10.2006 08:00 Av. Generalíssimo Deodoro

Hospital da Aeronáutica de Belém 18.10.2006 10:30 Av. Almirante Barroso

Capanema - Paróquia N. Sª. P. Socorro 04.11.2006 08:00 Capanema

Fonte: Diretoria das Festividades de Nazaré.

2.2 A CONFIGURAÇÃO ESPAÇO-TEMPO E A FINALIDADE DO CÍRIO DE NAZARÉ Poderíamos sintetizar esquematicamente na Figura 1 os movimentos mencionados. Ali se

representam o tempo no eixo vertical e o espaço no eixo horizontal. O processo se inicia com uma audiência que se forma no centro de Belém (o espaço e) num dia de outubro que se fixou no segundo domingo do mês (o tempo t=0). A criação do Recírio, a primeira inovação, ampliou o tempo do Círio de t para t+15 – já não se trata mais do dia, mas da quinzena do Círio. A audiência do Círio, antes At, a multidão que compõe o cortejo da procissão, é, agora, At + At+15, sendo esta última parcela a audiência adicional ganha pela existência do Recírio que, por quinze dias mais, enseja oportunidades adicionais para a reflexão e para a Palavra. O traslado Belém-Ananindeua produz um deslocamento no espaço de 40 quilômetros, que abarca uma audiência adicional representada por Ae+40. Por outro lado, no centro de Belém se produz um deslocamento para outra dimensão, a da esfera privada. Isso cria um adicional de audiência, da mesma maneira que o deslocamento do tempo para antes do tempo 0, o segundo domingo do Círio, representado pelas peregrinações. De modo que, ao final, a configuração espaço-tempo do Círio de Nazaré determina a sua audiência total, sua finalidade última. A Audiência Total do Círio de Nazaré (ATCN) é o somatório de todas as audiências auferidas: a da procissão matriz e dos demais movimentos ensejado pelos deslocamentos, seja do tempo, seja do espaço. Assim, ATCN = ΣAt + ΣAe.

19

Figura 1 – Representação esquemática da produção da audiência total do Círio de Nazaré pela sua configuração espaço-tempo

Fonte: Elaboração dos autores.

2º. Domingo de out. (t)

Centro de Belém: Esfera pública

(e)

Apresentação do manto (t - 6 )

Recírio (t+15)

Início das perigrinações(t -i)

Fim das perigrinações(t + f)

Tempo do Círio

itA −

tA

6−tA

15+tA

ftA +

kmeA 40+ kmeA 64+

Belém-Ananindeua(e+40Km por

terra)

Ananindeua-Icoaraci

(e+ 64 Kmpor terra)

meA 10+

Círio de Nazaré(Dimensão Religiosa) =

=

Centro de Belém: Esfera Privada

(e-a)

ωω

Au pa

a

A reconfiguração espaço-tempo do Círio de Nazar

finalidade, a formação de uma audiência para o poder e pa

em Cristo, com a mediação de uma manifestação particu

manejo dessas variáveis duas variáveis tem dependido a

debruçaremos no próximo segmento.

2.3 AS FONTES DE EVOLUÇÃO DO CÍRIO DE NAZFINALIDADE: CRIAÇÃO E RECRIAÇÃO SIMBOFERECE; CONFIGURAÇÃO ESPAÇO-TEMPOOFERECE

A demonstração das condições mediante as quais

Nazaré (ATCN), sua finalidade, é fundamental para a com

12 Há uma diferença importante entre eventos como o Círio, que

determinado (a criação e recriação de um espaço-tempo), e lugaresPortugal, ou Juazeiro do Norte e Aparecida do Norte, no Brasil. sagrada do espaço, em Belém do Círio. Em Aparecida da padroesagrados, independentes da temporalidade: o porto, o Santuário Mprecisam de tempos sagrados para receber os visitantes. Assim comPadre Cícero Romão Batista fez seus milagres. Nesses casos, capacidade de ligar os fiéis às divindades.

Audiência do CírioSAt+SAeCírio de Nazaré

= diência para o poder era a palavra de Cristo, través da Virgem de

Nazaré =

ΣAt + ΣAe

Icoaraci-Centro de Belém

(e+ 10 milhas por água)

ima

Espaço do Círio

Alcance das Perigrinações

(e+w)

ω+eA

é não é, pois, neutra em relação a sua

ra a palavra de fé em Deus e esperança

lar da Virgem, sua Mãe. A rigor, do

eficiência do sistema12. Sobre isso nos

ARÉ NO CUMPRIMENTO DE SUA ÓLICA – INOVAÇÃO DO QUE SE – INOVAÇÃO DO COMO SE

evoluiu a Audiência Total do Círio de

preensão do seu desenvolvimento. No

resulta da sagração do lugar por um tempo permanentemente sagrados, como Fátima, em Fora da “quadra nazarena” se perde a áurea ira do Brasil, por seu turno, os espaços são

aior, o Santuário Menor e outras atrações não o não tem tempo o poder dos lugares onde o

o espaço possui independente do tempo, a

20

Gráfico 1 estão as compilações históricas e estatísticas em relação a audiência e sua composição

(Procissão do Círio e Outras Procissões). Além dos números estimados para as audiências do

Círio ao longo dos últimos 150 anos anotamos, também, as taxas geométricas médias de

incremento anual para os períodos para os quais se dispôs de informações.

Consideradas essas taxas médias de crescimento observadas para os períodos irregulares,

modelamos a série completa ano a ano, obtendo as taxas para cada ano como os termos de

progressões aritméticas (PA), uma para cada período explicitado no Gráfico 1. Para cada

período, o primeiro termo da progressão aritmética correspondente foi obtido considerando que o

valor da soma dos seus termos é igual ao número de anos do intervalo vezes a taxa geométrica de

incremento médio conhecida (conf. Gráfico 1) e o último termo é um valor igual ao primeiro

termo da progressão correspondente ao intervalo seguinte. De posse desses valores calculou-se a

razão da progressão em questão (a variação absoluta da taxa de ano para ano, naquele período)

utilizando uma variação da fórmula da somo dos termos de um PA finita13. Os cálculos se

fizeram iniciando pelo período mais recente (1999 a 2005), para o qual o último termo da

progressão foi estabelecido como de 12,4%, a taxa média de crescimento dos três últimos anos.

O resultado do modelo está no Gráfico 2.

Observamos três períodos importantes da evolução da Audiência Total do Círio de

Nazaré (ATCN) e, em cada um, fases distintas.

1. Um primeiro período (1900 a 1970) se caracteriza por um ciclo completo, com fases de

expansão em dois estágios – um com taxas crescentes e o outro a taxas decrescentes – auge e

declínio.

1.1. A fase de crescimento a taxas crescente começa nos primeiros anos do século XX, se

estendendo até fins dos anos trinta (ver Gráfico 3). Este parece se constituir um período

caracterizado pela consolidação dos símbolos já estruturados, como mencionado, em

meados do século anterior. No período, vários eventos reforçaram esses símbolos: em

1901 foi concedida indulgência plenária para quem participasse piamente em qualquer

dia do novenário do Círio; em 1909 foi criado o Hino Oficial do Círio “Vós Sois o Lírio

Mimoso”, até hoje muitíssimo apreciado; de 1909 a 1914 foi construída a Basílica de

Nazaré, a qual recebeu de Roma o título de Basílica em 1926. Ademais, foi neste último

período, mais precisamente em 1910, que se criou a Diretoria da Festa, uma inovação

organizacional de grande significado.

13 Nessas condições, a fórmula da soma dos termos da PA é n.i=n.(a1+an)/2, para i sendo a média do crescimento

anual do período conhecida, n o número de anos, a1 o primeiro termo e an o último termo. Assim, a1 = na - 2i. E a razão r = ( an - a1)/n.

21

1.2. Em contraste com essa vivacidade, os períodos que seguem se caracterizam por baixa

atividade de reforço ou criação simbólica, ou de inovação no processo de produção e

gestão do Círio de Nazaré.

1.3. Em consonância com isso cai o ritmo de expansão ao longo dos anos quarenta,

decrescendo a taxa a ATCN de ano para ano até o ponto em que, em meados dos anos

cinqüenta, inicia uma fase de declínio que tem seu ponto mais baixo em fins dos anos

sessenta.

2. Um segundo período (1970 a 1990/93) se inicia nos primeiros anos da década de setenta e

tende à estagnação no início da década de noventa.

2.1. No início dos anos setenta recuperam-se as taxas de crescimento e até os primeiros anos

da década de oitenta verifica-se uma expansão acelerada, caindo a partir daí até atingir

níveis próximos de zero no início dos anos noventa. A retomada do crescimento nesse

período parece claramente associada à grande inovação das peregrinações da Santa, em

1972 – o que permitiu uma primeira reconfiguração espaço-tempo do Círio (ver Gráfico

4). Parece, também, atrelada a uma importante inovação organizacional, a criação da

Guarda da Santa, em 1974. Deve-se considerar, ainda, a criação de novo hino (1975), o

reforço simbólico representado pela benção do Papa à Santa (1980) e pela criação de

novos carros e barcas (1980 e 1982).

2.2. A partir de 1983, ao par com uma baixa atividade de reforço e criação, se verifica queda

continuada da taxa de incremento, a qual apresenta valores negativos nos primeiros anos

da década de noventa, chegando ao ponto mais baixo em 1993.

3. A terceira fase (1990/93 até o presente momento) inicia com recuperação das taxas de

crescimento na primeira metade dos anos noventa (ver Gráfico 6). O novo momento parece

marcado por um aprofundamento das estratégias iniciadas no período anterior, com ênfase

nas peregrinações e, na esteira dos primeiros experimentos (a Romaria Fluvial, em 1986, e a

Romaria Rodoviária, 1990), nas romarias especiais. Digno de nota é, também, a mudança

organizacional representada pela criação, em 2001, de um novo Regimento que reformula

profundamente a gestão do Círio. A isso nos reportaremos no próximo segmento.

22

Gráfico 1 – Evolução da Audiência Total do Círio, 1793 a 2005

4.000.000

0

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

2.500.000

3.000.000

3.50 00

1793

19

2819

3719

6619

7519

7619

7919

8019

8219

9019

9119

9219

9319

9419

9519

9619

9719

9819

9920

0020

0120

0220

0320

0420

050.0

1902 27

19

1902 a

1928

5,5%

1928 a

1937

8%

937 a

1966

2 4

1966 a

1975 0% a.a.

1975 a

1982 10,4% a.a.

1982 a 1992 Proc. do Círio: 5,8% a.a. Total: 8,0% a.a.

1999 a 2005 Proc. do Círio: 4,9% a.a. Outras procissões: 19,7% a.a. Total: 9,7% a.a.

1992 a 1999 Proc. do Círio: 1,0% a.a. Outras procissões: 6,5% a.a. Total: 2,2% a.a.

Círio de Nazaré Outras Procissões Audiência Total

Fonte: Pantoja, 2006. IPHAN, 2004a e 2004b. Amaral, 2003.

23

Gráfico 3 – Evolução da Audiência Total do Círio de Nazaré (valor absoluto e taxas de crescimento) –1902/2005

0

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

2.500.000

3.000.000

3.500.000

4.000.000

1902

1905

1908

1911

1914

1917

1920

1923

1926

1929

1932

1935

1938

1941

1944

1947

1950

1953

1956

1959

1962

1965

1968

1971

1974

1977

1980

1983

1986

1989

1992

1995

1998

2001

2004

Aud

iênc

ia T

otal

do

Círi

o de

Naz

ar

-5%

0%

5%

10%

15%

20%

Taxa

de

Incr

emen

to A

nua

ATCN TxIncremento

Fonte: Gráfico 1. Cálculos ano a ano pelo modelo apresentado na Nota 13 e contexto.

24

Gráfico 4 – Evolução da Audiência Total do Círio de Nazaré - 1902 a 1969

0

50.000

100.000

150.000

200.000

250.000

300.000

350.000

400.000

500.000

450.000

1902

1904

1906

1908

1910

1912

1914

1916

1918

1920

1922

1924

1926

1928

1930

1932

1934

1936

1938

1940

1942

1944

1946

1948

1950

1952

1954

1956

1958

1960

1962

1964

1966

1968

Aud

iênc

ia T

otal

do

Círi

o de

Naz

ar

-4%

-2%

0%

2%

4%

6%

8%

10%

Taxa

de

Incr

emen

to A

nua

ATCN TxIncremento

Fonte: Gráfico 1. Cálculos ano a ano pelo modelo apresentado na Nota 13 e contexto.

1901 Concessão de Indulgências por

participação

1909-1914 Criado Hino, Construção da

Basílica

1926 Reconheci-mento da Basílica por Roma

1910 Criação da Diretoria

da Festa

25

Gráfico 5 – Evolução da Audiência Total do Círio de Nazaré – 1970 a 1994

0

200.000

400.000

600.000

800.000

1.000.000

1.200.000

1.400.000

1.600.000

1.800.000

2.000.000

1970

1971

1972

1973

1974

1975

1976

1977

1978

1979

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

Aud

iênc

ia T

otal

do

Círi

o de

Naz

aré

-5%

0%

5%

10%

15%

20%

Taxa

de

Incr

emen

to A

nual

ATCN TxIncremento

Fonte: Gráfico 1. Cálculos ano a ano pelo modelo apresentado na Nota 13 e contexto.

1972 Criadas as

peregrinações da Santa 1974

Criada a Guarda da Santa

1975 Criado novo Hino

1980 Benção do Papa João Paulo II 1980 a 1982

Criação de novos Carros e Barcas

1983 a 1990 Aumento da Corda de 50 para 420 mts

1985 Iniciam as transmissões de TV do Círio

26

2005

0

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

2.500.000

3.000.000

3.500.000

4.000.000

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

Aud

iênc

ia T

otal

do

Círi

o de

Naz

ar

-2%

0%

2%

4%

6%

8%

10%

12%

14%

Taxa

de

Incr

emen

to A

nua

ATCN TxIncremento

Fonte: Gráfico 1. Cálculos ano a ano pelo modelo apresentado na Nota 13 e contexto.

Gráfico 6 – Evolução da Audiência Total do Círio de Nazaré – 1995 a

27

2.4 A PRODUÇÃO E A REPRODUÇÃO DO CÍRIO A produção do Círio de Nazaré, como processo que combina elementos tangíveis e

intangíveis na criação e vivência de oportunidade especial de “...adoração a Deus, com o

incentivo à devoção a Nossa Senhora de Nazaré, padroeira do Povo Paraense” (Regimento da

Diretoria da Festa, Cap. I – Da Festividade: Missão), se faz em dois momentos: o da

arregimentação dos meios de produção e o da sua realização. O primeiro implica em garantir os

pressupostos para que a Palavra seja bem pronunciada e bem ouvida, para que possa vir a ser

bem absorvida; os requisitos para que a Visão corresponda ao idealizado, ou melhor, para além

do imaginado, seja em esplendor, seja em magnitude; para que a ordem e harmonia necessárias à

contrição, à reflexão, à meditação, à oração, ao encanto, sejam alcançadas. Disponibilizados

(pregadores, meios de audição, estética de apresentação dos símbolos, agentes coordenadores,

meios e espaço de deslocamentos), tais elementos se combinam na realização do Círio. O

processo ocorre com a presença dos que demandam o Círio para pedir ou para agradecer: os

romeiros preenchem os carros com os seus motivos, puxam a berlinda, pedem graças em

reverência luminosa ou agradecem em estardalhaço impressionante. Eles são a energia viva que

articula e move os símbolos. Eles criam o momento mágico, enfim a mágica da oportunidade que

é o Círio. E consomem o resultado. De modo que o momento da realização do Círio é o

momento da sua absorção e os que os que o realizam são os que o absorvem.

Absorvido, o Círio se torna memória, passado, ao mesmo tempo que promessa, futuro

(contrato). E, assim, terá que ser como resultado de ter sido. Ele terá que ser para que as

esperanças hoje formadas como um devir de promessas, sejam amanhã relatadas em cera, em

barro, em madeira, em suor, em sangue, em lágrimas e risos, como realidades alcançadas. Como

tal, o Círio de Nazaré é uma cadeia infinita de eventos, sempre uma repetição do mesmo

processo para o cumprimento de uma finalidade dada e específica; sempre, porém, algo

diferente, posto que realização particular e única desse processo, combinação histórica de

elementos em mutação. Trata-se, isto posto, de um sistema dinâmico em reprodução, com a

particularidade de ter a produção e o consumo articulados num mesmo momento e as esferas de

produção e de consumo articulados pelo mesmo agente.

Como um sistema, o Círio tem propriedades de auto-poiesis (auto-organização),

ajustando-se para a garantia da sua permanência e refazendo-se orientado por critérios de

eficiência reprodutiva. Ao mesmo tempo, o Círio é sub-sistema de um todo social mais

complexo, com o qual interage.

28

Como um sistema capaz de se auto-organizar, o Círio vem ajustando ao longo do tempo

uma estrutura própria de governança, a tornar mais eficientes a disponibilização dos meios de

realização, a preservação da memória, a formação de mecanismos de feed back, a sistematização

do aprendizado e a absorção das capacidades alcançadas em outros sub-sistemas sociais e sua

utilização nos ajustamentos de trajetória e correção de rumo. Esse movimento carrega consigo

uma tensão que cresce na mediada em que se distanciam as razões e propósitos dos que

planejam, das razões e propósitos dos que produzem o Círio. Disso trataremos no segmento 2.5.

Como um subsistema do todo social, o Círio de Nazaré Capta energia social em outros sub-

sistemas que fazem a formação econômico-social em que se insere. Trataremos aspectos disso

quando discutirmos o financiamento do Círio de Nazaré no segmento 2.6.

2.5 A DIRETORIA DA FESTA: O CENTRO ESTRATÉGICO DO CÍRIO DE NAZARÉ, SUA GOVERNANÇA

O centro estratégico da produção do Círio de Nazaré é a Diretoria da Festividade de

Nossa Senhora de Nazaré (DF). Instituída em 1910, a DF representa uma inovação de grande

relevância, pois que dimensão institucional própria do Círio de Nazaré, um momento da sua

configuração como um sistema em emergência. Lembre-se, sobre isso, que nos seus primórdios,

a gestão estratégica esteve a cargo do poder político, na medida em que era o governador que

providenciava para que o Círio fosse realizado. Em seguida, foram irmandades e confrarias

religiosas que do âmago da Igreja Católica eram encarregadas de organizar o evento (Amaral,

s/d). A criação da Diretoria da Festa pôs fim à pendulação entre o mundo laico e o religioso na

gestão da festa, criando estatutariamente um modelo híbrido, que fazia convergir todas as forças,

religiosas e laicas, interessadas na reprodução do Círio.

Trata-se de uma estrutura de governança de grande alcance, que tem garantido eficiência

cooperativa entre as necessidades doutrinárias da igreja e sua capacidade de gerir bens

simbólicos e a capacidade de outros setores sociais de arregimentação de forças materiais –

energia social e esforço privado - para a produção objetiva e para a logística de apresentação dos

símbolos.

Desde sua versão inicial, a Diretoria da Festa vem articulando representações de diversas

Paróquias – dividindo a responsabilidade e expandindo os fundamentos para o conjunto da Igreja

de Belém; representações de diversos setores do mundo laico – dividindo responsabilidades,

expandido fundamentos e aprofundando a divisão do trabalho com forças sociais e econômicas

relevantes da cidade de Belém; e representações de diversos níveis hierárquicos da Igreja

Católica – preservando, como força hegemônica, sua orientação doutrinária e simbólica. O

resultado foi a formação de um aparato de grande coerência finalística, com consistência

29

programática e capacidade operacional, co-responsável pelo longo período de expansão do

primeiro ciclo de crescimento do evento acima analisado. É possível, até, que mesmo a já

mencionada densidade de eventos que reforçam os simbólicos do Círio em toda a primeira

metade do século XX, onde se inclui esforços de grande envergadura, como a construção da

Basílica, esteja associada à existência e consolidação da Diretoria da Festa.

No entanto, no final dos anos sessenta se expôs uma lacuna na formatação da DF: a

ausência de um mecanismo de coordenação na realização da Romaria. A Diretoria da Festa,

eficiente no planejamento e na preparação, não dispunha de um braço executivo na realização da

Romaria - a grande capacidade de planejamento e produção do Círio até o início de sua

realização, não tinha correspondência com a sua execução propriamente dita. Enquanto a pressão

derivada da relação entre as dimensões da audiência e o espaço objetivo de realização do cortejo

não ameaçou o seu núcleo, o Carro da Santa e seu cortejo imediato, tal lacuna não se fez notar.

Todavia, na medida em que, como resultado de um longo período de expansão, a multidão

tendeu a se tornar incontrolável no que se refere à sua relação com os símbolos do Círio, em

particular com a Corda, a falta e a necessidade de sua correção se fez premente14. É assim que

em 1974 efetivou-se uma segunda grande inovação organizacional do Círio - a criação da

Guarda da Santa, “... responsável por colocar em prática o que fora planejado pelos diretores [da

DF]” (Pantoja, 2005: 69). Após essa inovação, o sistema parece ter readquirido capacidade de

expansão, potenciada pela notável ampliação do tamanho da corda: de 50 metros, em 1983, a

corda passa a 400 metros e 1990. Correlata a isso verifica-se uma inflexão positiva nas taxas de

crescimento da audiência (conf. Gráfico 5).

Tal evolução, contudo, volta a ser contestada já na primeira metade dos anos noventa.

Após o considerável crescimento dos quinze anos anteriores, a audiência da grande procissão

estagna por praticamente toda a década de noventa. Correlato ao fenômeno, encontramos um

período em que se manifesta de modo particularmente tenso a relação entre o valor simbólico da

Corda e seu significado na operação do Círio.

Aqui convém uma digressão. Como já esclarecido, a Corda adquiriu um valor simbólico

extraordinário na estrutura do Círio enquanto um componente que permite uma relação física

entre o crente e a divindade. De um lado, isso enseja uma especificidade no Círio de Nazaré, que

o diferencia e engrandece simbolicamente comparativamente a outras manifestações

semelhantes; de outro, cria uma correlação objetiva e direta entre Audiência Total do Círio e os

14 Com grande sensibilidade Pantoja detecta o problema: “... praticamente todo planejamento levado a cabo pela DF

durante o ano todo se desfaz por ocasião das procissões. A regra desse cenário quase sempre é o improviso, sendo o principal personagem, o leigo comum, mais precisamente o promesseiro da corda.” (Pantoja, 2005:68).

30

que demandam a proximidade física com a Santa – os que participam dessa audiência na

condição de Promesseiros da Corda. Há uma corda, objeto físico, que é a mediação dessa

proximidade simbólica. Na medida em que cresce a demanda por essa proximidade (porque a

audiência cresceu conduzida em parte pela expectativa de poder praticar tal possibilidade), se a

corda não cresce no mesmo passo, crescerá uma tensão, correspondente à diferença dos ritmos.

Tal tensão se expressa ou como demanda insatisfeita por não se ter acesso à corda ou como

desordem e perturbação – a eliminação de um pressuposto, de um ingrediente de construção do

Círio - ou, ainda, como desagrado por um sacrifício para além do prejulgado. Crescer o tamanho

físico da corda constitui forma de reduzir essa tensão.

A via de elevação da extensão da corda como forma de adequar a demanda simbólica à

disponibilidade objetiva, contudo, reduz a capacidade de controle sobre o andamento da Berlinda

e, portanto, define o ritmo da evolução de toda a Romaria: tanto maior a corda, menor o controle

sobre o andamento, maior o tempo de duração do Círio. A duração, por seu turno, implica um

custo objetivo pela vivência renovadora que o Círio propicia – quanto mais longa sua extensão

temporal, mais se expõem as fronteiras de resistência física dos romeiros em geral pela sede, pela

fome, pelo esforço, pelo cansaço. Ou simplesmente pela saturação, quando se trata de romeiros

especiais, aqueles atraídos pelo espetáculo.

De modo que, se cresce a audiência, há um crescimento correlato de demanda de acesso à

Corda. Sem mecanismo de coordenação, a regulação do acesso tende a ser feita por um “estado

de natureza” que gera caos, desestabiliza o andamento da procissão e produz insegurança e

incerteza, fazendo crescer o custo da vivência. A isso se assistiu em fins dos anos sessenta e

início da década seguinte. A criação da Guarda da Santa, em meados dos anos setenta, constitui o

estabelecimento de uma regulação por disciplinamento do acesso por métodos de contenção:

mediante uma oferta fixa, a inovação se faz no sentido de conter, pela força ou pelo controle,

institucionalmente, portanto, a demanda. Isso reduz a insegurança, fazendo retornar o

crescimento da audiência e, associada a isso, uma nova pressão de demanda sobre a corda. Ao

longo dos anos oitenta se procurou responder a isso pela expansão da dimensão física desse

ícone. O que arrefeceu a tensão sobre a corda elevando, contudo, o grau de descontrole sobre o

tempo de duração do Círio. Com isso se estabeleceu um novo item de “custo” para a audiência

total, pela vivência do Círio. Tal “custo” se fez crescente com o tamanho da corda e conteve a

expansão da audiência, levando à estagnação dos anos noventa.

Instalou-se no Sistema-Círio, assim, em torno da Corda, um mecanismo de auto-

regulação, de contenção endógena de seu crescimento. O que se assiste, ao longo dos anos

noventa, é uma crise mediante a efetividade de tal mecanismo. Para um sistema que se exige,

31

como regra finalística de reprodução, a expansão, posto que em concorrência com outros

sistemas na acumulação do capital (simbólico) específico do campo religioso, a auto-contenção

implica em contradições que fundamentam crises. As crises se resolvem por dissolução ou por

evolução dos seus termos.

Com efeito, ao longo dos anos noventa, duas trajetórias estavam postas numa bifurcação

evolutiva provocada pelos mecanismos de regulação criados em torno da Corda. De uma parte,

se propõe eliminar a Corda da estrutura simbólica do Círio, ou porque se alega ser ela objeto não

sagrado, ou porque se atribui à sua existência uma insegurança que compromete o conjunto do

evento15. De outra parte, se fazem experimentos para a manutenção da Corda, de modo a lhes dar

maior dirigibilidade e andamento: se fazem experimentos na estrutura e comando da “cabeça da

corda”, nos diversos formatos que ela pode assumir – de circular a linear – e nas formas de

composição com a Berlinda – tempos e momentos diversos de atrelamento e desatrelamento.

A primeira abordagem propunha refazer o produto, suprimir um seu valor de uso

simbólico na expectativa de controlar o preço (i.e. manter baixo o tempo do Círio e alta a ordem

de sua execução): uma mudança radical. A segunda abordagem propõe a manutenção da

integridade simbólica do Círio – a inteireza de seu produto naquilo que o diferencia16 -,

buscando, contudo, por mudanças incrementais e adaptativas, também controlar o tempo e a

ordem de execução do evento para voltar a liberá-lo em sua capacidade de crescer.

Esta última posição parece ter prevalecido, ao par do fortalecimento e dinamização da

busca de novos espaços e tempos de reprodução do Círio. De modo que, em fins dos anos

noventa, o sistema volta a crescer a taxas expressivas – e, assim, permanece até o presente

momento.

Um marco organizacional dessa fase parece ser a reformulação da Diretoria da Festa, por

um novo regimento promulgado em 2001.

2.5.1 A DIRETORIA DA FESTA EM NOVO FORMATO A Diretoria da Festa é a estrutura de governança do Sistema-Círio de Nazaré, a qual tem

garantido eficiência cooperativa entre as necessidades doutrinárias da igreja e sua capacidade de

15 Vanja Pantoja registra essa controvérsia qualificando-a de “ambiguidade do símbolo”, entre seu caráter popular e

as prescrições doutrinárias de uma igreja romana e de elite (Pantoja, op. Cit.). Não discutimos essa possibilidade. Apenas indicamos o sentido disso na reprodução do sistema estudado.

16 O que, também, se faz em meio a controvérsia de grande significado, agora entre o que se avalia deste símbolo desde uma perspectiva exógena e o seu sentido para os que produzem o Círio. Segundo Antonio Miguel Kater Filho, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Marketing Católico, a imagem do Círio deve ser melhor “lapidada”, pois “uma festa com um bando de fanáticos segurando uma corda” não é bem vista no cenário nacional e internacional, fato que, segundo ele, estaria dificultando a nacionalização do evento e o rompimento com seus limites regionais (PANTOJA, 2006: 100).

32

gerir bens simbólicos e a capacidade de outros setores sociais de arregimentação de forças

materiais – energia social e esforço privado - para a produção objetiva e para a logística de

apresentação dos símbolos que fundamentam o evento.

Em 2001 foi criado um novo regimento que aperfeiçoa a organização, lhes dando,

sobretudo, maior flexibilidade operacional. Tal como a encontramos, a DF compõe-se de um

Conselho Consultivo e de uma Diretoria Colegiada.

Pelas características estatutárias das suas funções e representações o Conselho

Consultivo17 é o ápice da estrutura e faz interagir, sob hegemonia dos primeiros, os princípios

que resguardam a coerência doutrinária do evento – sua autenticidade, pois, na perspectiva da

Igreja Católica -, com os desafios operacionais do presente cotejados por uma memória de curto

e médio prazo. Os primeiros, estão mediados pelo titular da Arquidiocese de Belém, presidente

do Conselho e autoridade máxima do arranjo, e pelos titulares da Congregação Barnabita e da

Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré; os segundos, pelas presenças do coordenador do

mandato anterior e dos diretores presidente e coordenador atuais.

A Diretoria Colegiada, por seu turno, cumpre o desafio de garantir a reprodução do

Sistema, fazendo valer as decisões estratégicas do Conselho Consultivo – do qual, aliás, faz

parte, fornecendo feed backs. Trata-se de uma complexa operação, na qual o Diretor-Presidente

processa as concatenações internas entre as necessidades operacionais da produção do Círio com

a hierarquia e as redes da Igreja Católica e o Diretor-Coordenador e seu aparato de gestão, que

compreende a Diretoria Administrativo-Financeira, garantem o bom funcionamento das

concatenações entre as diversas diretorias e entre essas e a sociedade envolvente.

As demais diretorias podem ser divididas em dois grupos: diretorias-fim e diretorias-

meio. Do primeiro tipo são a Diretoria de Evangelização e a Diretoria de Procissões. As outras

enquadram-se mais propriamente no segundo tipo.

A Diretoria de Evangelização organiza o conteúdo substantivo do evento, o seu principal

componente de valor de uso, na perspectiva dos organizadores – os temas, as mensagens, a palavra, a

reflexão, a evangelização. Organiza, enfim, o conteúdo que autentica o evento e procura garantir a

consistência doutrinária dos que o produzem e dos que o vivenciam. Seus principais produtos são as

oportunidades de reflexão, o livro das peregrinações onde estão contidas os métodos e conteúdos de

evangelização e os roteiros (agenda) da peregrinação da Santa. Com essa última atribuição, a

17 De acordo com o Art. 7º, o Conselho Consultivo terá os seguintes membros: Arcebispo Metropolitano de Belém;

Provincial da Congregação Barnabita; Pároco da Paróquia de N. S. de Nazaré; Diretor-Presidente da Diretoria Colegiada; Diretor-Coordenador da Diretoria Colegiada do mandato em curso; Diretor-Coordenador da Diretoria Colegiada do mandato anterior; Diretor-Secretário da Diretoria Colegiada do mandato atual.

33

Diretoria tem papel decisivo na produção do espaço-tempo, como se discutiu em 2.xxxx, permitindo

o Sistema penetrar um espaço interior e privado da vida social.

A Diretoria de Procissões gere a produção das romarias – a preparação dos símbolos e

seus diversos deslocamentos em Romaria – gerindo, portanto, a expansão do sistema pela

colonização de um espaço exterior e público da vida social da cidade.

Por seu turno, desenvolvem atividades-meios, fornecendo inputs para o conjunto do

evento, em particular para as atividades-fins, a Diretoria de Marketing, a Diretoria de Eventos, a

Diretoria de Decoração, a Diretoria de Sonorização e a Diretoria do Arraial.

Uma inovação do novo estatuto é que cada diretoria, além do Diretor Responsável,

poderá ter um número variável de diretores, dependendo das necessidades que se lhes

apresentem. Igualmente, se poderão constituir comissões especiais para cobrir necessidades

singulares na operação das diretorias ou das comissões arrecadadoras.

Quadro 5 – Diretorias da DF e suas respectivas funções

DIRETORIAS FUNÇÃO

Secretaria Elaborar a agenda e o plano de trabalho do Círio; elaborar e controlar

correspondências e relatórios; planejar reuniões; confeccionar atas; definir horários de funcionamento da secretaria; assessorar o Diretor Coordenador.

Patrimônio Inventariar bens; zelar pela conservação da berlinda, dos carros do Círio, da barraca

da santa e do espaço do Arraial de Nazaré; controlar material de expediente; viabilizar patrocinadores e mantenedores para a praça Santuário.

Secretaria Administrativa

Financeira

Assessoria Jurídica

Supervisionar contratos de aluguel das lojas do Arraial de Nazaré; acompanhar as contas de DF junto a SEFIN-PMB; acompanhar processo de registro da marca

“Círio de Nazaré”18, junto ao INPI-Instituto Nacional de Propriedade Intelectual; assessorar a Diretoria de Marketing na elaboração de contratos em geral.

Diretoria de Evangelização Cuidar de todos os eventos relativos à formação religiosa; elaborar o texto de

pregação das procissões assim como o Livro das Peregrinações; organizar visitas da imagem Peregrina às residências e instituições.

Diretoria de procissões Cuidar da preparação das procissões envolvidas no Círio.

Diretoria de Eventos Organizar exposições referentes ao Círio, assim como eventos sociais da DF como: páscoa, dia das mães, concurso de redação e outros; fazer apresentações do POCN

– Patrocinador Oficial do Círio de Nazaré e do cartaz do círio.

Diretoria de Decoração Elaborar projeto de decoração do Círio na cidade como um todo, assim como da berlinda, do altar da Basílica e da praça Santuário.

Diretoria de Sonorização Sonorizar atividades em geral relativas ao Círio

Diretoria de Arraial Cuidar das atividades relativas ao espaço do Arraial de Nazaré como um todo a exemplo dos contratos de locações, venda de artigos religiosos e outros.

Diretoria de Marketing Viabilizar comunicação entre o público e a DF via imprensa e ou mala direta, promover o lançamento do POCN, assim como atrair outras empresas para o

mesmo. Fonte: Planos de Trabalho 2004 e 2005(DF). Organização de Vanda Pantoja-2005.

2.5.2. CARACTERÍSTICAS DAS DIRETORIAS DA DF A DF é composta pelos diretores responsáveis e diretores membros, além de auxiliares

permanentes e eventuais. Ao todo, a organização conta com 124 pessoas, ¼ delas na condição de 18 Há um pedido da DF que tramita no INPI –Instituto Nacional de Propriedade Industrial desde o ano de 2001, no

sentido de patentear a marca “Círio de Nazaré”.

34

diretores. Os demais são auxiliares, grande parte dos quais na forma de voluntariado (2/3 do

total) e pouco mais de 1/10 força de trabalho paga. Desses, apenas 4 (3% do total) tem caráter

permanente (conf. Tabela 1).

Tabela 1 - Pessoas vinculadas à Diretoria da Festa, segundo características das relações de

trabalho Remunerado Não remunerado Total

Tipo de relação de trabalho Número (%) número (%) Número (%)

Diretoria 0 0,0% 30 27,3% 30 24%

Contratados (contrato formal) 4 28,6% 0 0,0% 4 3%

Outros sem contrato formal 10 71,4% 0 0,0% 10 8%

Aprendizes 0 0,0% 0 0,0% 0 0%

Pessoas que se apresentam 0 0,0% 80 72,7% 80 65%

Total 14 100,0% 110 100,0% 124 100%

Fonte: Pesquisa de campo. Todos os diretores são voluntários19; todos têm nível superior e vivência profissional

avançada nas suas áreas de atuação na produção do Círio. No conjunto dos que fazem da DF, a

proporção dos que possuem formação superior completo e incompleto é de 36% e ensino médio

completo e incompleto é 65%. Trata-se de uma densidade elevada de formação (capital humano)

em um grupo de trabalho na Região Metropolitana de Belém, considerando que na população em

geral, no Censo de 2000, a presença de formação universitária é de 3,4% (um décimo da

percentagem verificada na DF) e do segundo grau completo é 17,3% (próximo de ¼ da DF).

Tabela 2 – Escolaridade do pessoal da Diretoria das Festividades do Círio de Nazaré Grau de Ensino Número (%)

1. Analfabeto 0 0,0% 2. Ensino Fundamental Incompleto 0 0,0% 3. Ensino Fundamental Completo 0 0,0% 4. Ensino Médio Incompleto 12 9,7% 5. Ensino Médio Completo 68 54,8% 6. Superior Incompleto 7 5,6% 7. Superior Completo 36 29,0% 8. Pós-Graduação 1 0,8% Total 124 100,0%

Fonte: Pesquisa de campo.

2.5.3. A ORIENTAÇÃO DA DF À INOVAÇÃO E SUA VISÃO DE RESULTADOS Entrevistamos todos os diretores responsáveis e vários dos seus auxiliares sobre aspectos

relevantes da governança da qual participam, sobretudo disposição à inovação e à cooperação, preenchendo um formulário para cada diretoria.

19 “O exercício de qualquer função da Diretoria será encarado essencialmente como um serviço cristão, a ser

desempenhado com humildade, dedicação e espírito de doação voluntária, isento de qualquer privilégio mundano”. Diretoria da Festividade de Nossa Senhora de Nazaré, Regimento Interno: Cap. I, Art. 1º. P.3.

35

Tabela 3 – Dificuldades na operação de produção do Círio na perspectiva da Diretoria das Festividades do Círio de Nazaré

Nível da Dificuldade Tipo de Dificuldades Nula Baixa Média Alta Índice*

6 3 1 0 0,15 1. Contratar empregados qualificados

60,0% 30,0% 10,0% 0,0% 9 0 1 0 0,06

2. Custo da mão-de-obra 90,0% 0,0% 10,0% 0,0%

8 1 1 0 0,09 3. Comprar produtos de qualidade

80,0% 10,0% 10,0% 0,0% 9 1 0 0 0,03

4. Produzir com qualidade 90,0% 10,0% 0,0% 0,0%

9 0 1 0 0,06 5. Divulgar e vender seus produtos ou serviços

90,0% 0,0% 10,0% 0,0% 5 1 2 2 0,35

6. Custo ou falta de capital de giro 50,0% 10,0% 20,0% 20,0%

6 1 1 2 0,29 7. Custo ou falta de capital para aquisição de insumos e equipamentos 60,0% 10,0% 10,0% 20,0%

8 1 0 1 0,13 8. Dificuldades relacionadas a instalações

80,0% 10,0% 0,0% 10,0% 10 0 0 0 0,00 9. Pagamento de empréstimos e juros de

empréstimos 100,0% 0,0% 0,0% 0,0% 10 0 0 0 0,00

10. Outras dificuldades 100,0% 0,0% 0,0% 0,0%

Fonte: Pesquisa de campo. *Índice Composto = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Empresas no Segmento)

A DF não vê dificuldades na operação de suas tarefas. É dizer, na sua perspectiva, a

operação do Círio não oferece problemas para a contratação de pessoas qualificadas (numa

escala de 0 a 1, o índice resultante da avaliação de todos os diretores para este item foi de 0,15 –

conf. Tabela 3) e o custo de mão de obra é adequado (índice de 0,06). Aponta, entretanto, para

alguma falta de capita de giro (índice 0,35) e para investimentos (índice de 0,29).

A DF entende que há vantagens inquestionáveis nos fundamentos já dados em Belém,

tanto os culturais (índice de 0,70), como os arquitetônicos e infraestruturais (0,72). Sugere,

entretanto, que a capacidade de criação de novos atrativos – a atualização permanente do evento

– é fator competitivo de grande relevância (0,66), ao lado da sua capacidade de divulgação

(0,63). Como desdobramento do primeiro desses fundamentos de dinâmica e da capacidade de

atração, a qualidade dos equipamentos e dos artistas e pregadores são fortemente considerados

(avaliados, ambos, com índice 0,56).

36

Tabela 4 – Fatores que garantem a capacidade de atração (competitividade) do Círio na perspectiva da DF

Importância Fatores competitivos

Nula Baixa Média Alta Índice* 5 0 1 4 0,46

1. Localização da entidade/grupo 50,0% 0,0% 10,0% 40,0%

3 0 1 6 0,66 2. Capacidade de criação de novos atrativos / eventos

30,0% 0,0% 10,0% 60,0% 3 1 0 6 0,63

3. Estratégias de divulgação e comercialização 30,0% 10,0% 0,0% 60,0%

4 0 1 5 0,56 4. Qualidade dos equipamentos

40,0% 0,0% 10,0% 50,0% 4 0 1 5 0,56

5. Qualidade dos pregadores e artistas (Músicos, etc) 40,0% 0,0% 10,0% 50,0%

1 2 1 6 0,72 6. Infra-Estrutura do atrativo

10,0% 20,0% 10,0% 60,0% 3 0 0 7 0,70

7. Cultura local 30,0% 0,0% 0,0% 70,0%

10 0 0 0 0,00 10. Outra 100,0% 0,0% 0,0% 0,0%

Fonte: Pesquisa de campo. *Índice Composto = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Empresas no Segmento).

Competitividade do evento tem aqui o preciso sentido de sua afirmação mediante a) outras possibilidades de atração da audiência, no que se refere ao público local e b) outras possibilidades de atração de audiência extra-local. Comente-se, em relação a este último ponto, que o Círio sofre a concorrência frontal da festa de Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira do Brasil, que se festeja no dia 12 de outubro na cidade de Aparecida do Norte, no interior de São Paulo.

Para criar condições permanentes de afirmação do evento é preciso ter capacidade de produzir novos atrativos – essa parece ser a compreensão dos membros da DF. Para tanto, se requer informações e conhecimento. Indagados sobre isso os diretores indicaram que as principais fontes desses requisitos são internas (índice de 0,74), baseadas na formação, habilidades, contados e posições profissionais dos seus membros. Das fontes externas, destacam-se a internet (0,59) e os órgãos de comunicação (0,58), seguido pelo público (0,55) e fornecedores de insumos (0,42). Os institutos culturais comparecem secundariamente (índice de 0,26) e as universidades marginalmente nesse papel (0,13).

No que se refere ao treinamento e a elevação das capacidades internas, destacou-se a promoção de cursos livres oferecidos pela própria DF (índice de 0,68), secundado muito de longe por cursos livres e oficinas oferecidas por outras organizações (0,10). Os efeitos observados (provavelmente intencionados) desses treinamentos são mais de elevação das habilidades para o desenvolvimento de novos atrativos (0,36) e para a implementação de melhorias incrementais e rotineiras nos atrativos já existentes (0,33) do que para melhorar os processos de gestão e realização (0,0).

37

Tabela 5 – Fontes de informação e de conhecimento da DF Importância

Descrição Nula Baixa Média Alta Índice*

1 0 4 5 0,74 1.Fontes internas 10,0% 0,0% 40,0% 50,0% 2. Fontes Externas

4 2 1 3 0,42 2.1. Fornecedores de insumos e equipamentos 40,0% 20,0% 10,0% 30,0%

3 1 2 4 0,55 2.2. Público / espectadores e clientes 30,0% 10,0% 20,0% 40,0%

10 0 0 0 0,00 2.3.Concorrentes 100,0% 0,0% 0,0% 0,0%

2 2 2 4 0,58 2.4. Órgãos de comunicação (TV, Rádio, jornal) 20,0% 20,0% 20,0% 40,0%

6 2 1 1 0,22 2.5. Órgãos do poder público 60,0% 20,0% 10,0% 10,0%

6 2 0 2 0,26 2.6. Outros entidades/grupos artísticos/culturais 60,0% 20,0% 0,0% 20,0%

9 0 1 0 0,06 2.7. Empreendimentos relacionados ao turismo 90,0% 0,0% 10,0% 0,0%

3.Universidades e Outros Institutos de Pesquisa 8 1 0 1 0,13 3.1.Universidades e institutos de pesquisa

80,0% 10,0% 0,0% 10,0% 10 0 0 0 0,00 3.2. Centros de capacitação profissional

100,0% 0,0% 0,0% 0,0% 4. Outras Fontes de Informação

8 0 1 1 0,16 4.1. Conferências, Cursos e Publicações 80,0% 0,0% 10,0% 10,0%

8 1 1 0 0,09 4.2. Feiras, Exibições e Lojas 80,0% 10,0% 10,0% 0,0%

8 0 2 0 0,12 4.3. Encontros de Lazer 80,0% 0,0% 20,0% 0,0%

9 1 0 0 0,03 4.4. Associações, sindicatos, etc 90,0% 10,0% 0,0% 0,0%

8 0 0 2 0,20 4.5. Órgãos de apoio e promoção 80,0% 0,0% 0,0% 20,0%

3 1 1 5 0,59 4.6. Informações da internet ou via computador 30,0% 10,0% 10,0% 50,0%

Fonte: Pesquisa de campo. *Índice Composto = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Empresas no Segmento)

Tabela 6 – Treinamento proporcionado pela DF para seus membros

Importância Descrição

Nula Baixa Média Alta Índice*

0 0 8 2 0,68 1. Cursos livres e oficinas oferecidas pela própria entidade/grupo 0,0% 0,0% 80,0% 20,0%

9 0 0 1 0,10 2. Cursos livres e oficinas oferecidas por outros

90,0% 0,0% 0,0% 10,0% 9 1 0 0 0,03

3. Cursos técnicos realizados no arranjo 90,0% 10,0% 0,0% 0,0%

10 0 0 0 0,00 4. Cursos técnicos fora do arranjo 100,0% 0,0% 0,0% 0,0%

5 0 1 4 0,46 5. Absorção de pessoal atuante no arranjo ou próximo 50,0% 0,0% 10,0% 40,0%

9 0 0 1 0,10 6. Absorção de pessoal atuante fora do arranjo

90,0% 0,0% 0,0% 10,0% Fonte: Pesquisa de campo. *Índice Composto = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº

Empresas no Segmento)

38

Tabela 7 – Resultados dos processos de treinamento na perspectiva da DF Importância

Descrição Nula Baixa Média Alta Índice* 10 0 0 0 0,00 1. Melhor utilização de técnicas produtivas,

equipamentos, insumos 100,0% 0,0% 0,0% 0,0% 7 0 1 2 0,26 2. Maior capacitação para realização de modificações

e melhorias (não rotineiras) no atrativo da entidade/grupo

70,0% 0,0% 10,0% 20,0%

6 0 1 3 0,36 3. Melhor capacitação para desenvolver novos atrativos, produtos e serviços 60,0% 0,0% 10,0% 30,0%

6 1 0 3 0,33 4. Maior conhecimento sobre o público alvo

60,0% 10,0% 0,0% 30,0% 1 0 0 0 0,00 5. Melhor capacitação administrativa / organização

da entidade/grupo 100,0% 0,0% 0,0% 0,0%

Fonte: Pesquisa de campo. *Índice Composto = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Empresas no Segmento)

A DF mostra-se, assim, fortemente orientada à inovação. Os resultados de tal disposição

foram 41 inovações relevantes nos últimos 10 anos, 83% das quais entre 2001 e 2006. A

Diretoria mais inovativa foi a de Procissões (11 itens de inovação), combinando inovações de

processo (como as relativas à estrutura da Corda e ao andamento da procissão) e de produto

(como a incorporação de novas procissões). Em segundo lugar a diretoria de eventos,

apresentando 7 itens, quase a metade deles relacionada ao projeto Círio Musical. A Diretoria de

Evangelização, a Presidência, Secretaria e Patrimônio e a do Arraial apresentaram 5 itens; a

Diretoria de Decoração 4, a de Sonorização 3 e a de Marketing 2.

A DF apresentou também elevada disposição à cooperação. Das 9 Diretorias, 8

descreveram ações de cooperação na última edição do Círio. Os agentes mais importantes nesse

quesito foram, pela ordem: o público participante do Círio (índice 0,60), os órgão públicos (a

Prefeitura de Belém e o Governo do Estado do Pará – índice 0,56), fornecedores de insumos

(0,42) e órgãos de comunicação (0,42). As universidades e instituições de pesquisa, bem como

institutos culturais fazem parte do rol de parceiros com peso equivalente (0,30).

Os impactos das inovações e das atividades de cooperação, na perspectiva da DF

concentram-se na elevação da qualidade do evento (índice 0,86) e no maior reconhecimento

auferido (0,42). Indicam, entretanto, como efeito disso:

1) A ampliação da audiência (por ampliação do número de participantes tradicionais

(0,70) e por atração de participantes não usuais (0,58) e

2) Na redução dos custos (0,61).

3) Novas fontes de recursos (0,50).

39

Tabela 8 – Inovações relevantes implementadas pela Diretoria das Festividades do Círio de Nazaré de 1995 a 2006

1995

- 200

0

2001

2002

2003

2004

2005

2006

Tota

l

1 - Presidência, Secretaria e Patrimônio 0 5 • Flexibilização do Regimento para alocação/contratação de

pessoal de acordo com as necessidade (avanço em relação à profissionalização)

0 1 1

• Projeto "Marca do Círio" e "Patrocinador oficial do Círio" 0 1 1 • Informatização do expediente e contabilidade da Diretoria

do Círio 0 1 1

• Implantação da Homepage www.ciriodenazare.com.br 0 1 1 • Implantação do Plano de Trabalho Anual 0 1 1

2 - Diretoria de Decoração 0 4 • Iluminação da Fachada da Basílica com corda estática 1 1 • Estrutura permanente de iluminação da Basílica 0 1 1 • Estruturas permanentes do arcos 1 1 2

4- Diretoria de Sonorização 0 3 • Estações retransmissoras e 220 caixas de som 1 1 1 3

5 – Evangelização 0 5 • Festival da Canção Mariana 1 1 • Peregrinações por instituições 0 1 1 • Concurso de Redação 1 1 • Projeto CD do Círio 0 1 1 • Evangelização Digital 0 1 1

6 – Procissões 0 11 • Introdução da Corda Linear 0 1 1 • Carro da Santíssima Trindade 0 1 1 • Mudança no atrelamento da Corda 0 1 1 • Utilização de megafones 0 1 1 • Traslado 1 1 • Procissão da Juventude 1 1 • Cicloromaria 0 1 1 • Revestimento de cizal nas estações 0 1 1 2 • Sistema de microfones sem fio na Berlinda 0 1 1 • Pelotão de pessoas com necessidades especiais 0 1 1

7 - Diretoria do Arraial 0 5 • Implantação da Feira do Círio 1 1 2 • Brinquedos novos 0 1 1 • Arraial do Círio 1 1 1 3

9 – Eventos 0 7 • Refrigeração da Basílica ? 0 1 1 • Mudança nos bancos da Basílica 0 1 1 • Projeto "Círio Musical" 0 1 1 1 3 • Feijoada do Papai 0 1 1 • Mamãe vai dançar 0 1 1

10 – Marketing 0 2 • Projeto "Foto Oficial da Imagem" 0 1 1 • Exposição Itinerante dos cartazes do Círio 0 1 1

Total de Inovações 7 4 0 10 8 6 7 42 Fonte: Pesquisa de campo.

40

Tabela 9 – Impactos das inovações na perspectiva da Diretoria das Festividades do Círio de Nazaré em 2006

Importância Descrição Nula Baixa Média Alta Índice*

1 0 1 8 0,86 1. Maior qualidade do evento cultural 10,0% 0,0% 10,0% 80,0%

3 0 0 7 0,70 2. Permitiu atrair mais consumidores/ espectadores 30,0% 0,0% 0,0% 70,0%

3 0 3 4 0,58 3. Permitiu a conquista de novo tipo de consumidores/ espectadores 30,0% 0,0% 30,0% 40,0%

2 1 3 4 0,61 4. Permitiu a redução de custos de insumos / matéria prima 20,0% 10,0% 30,0% 40,0%

7 1 0 2 0,23 5. Permitiu reduzir o impacto sobre o meio ambiente 70,0% 10,0% 0,0% 20,0%

5 0 2 3 0,42 6. Permitiu obter maior reconhecimento (certificados, selos, prêmios, etc) 50,0% 0,0% 20,0% 30,0%

5 0 0 5 0,50 7. Permitiu obter novas fontes de recursos 50,0% 0,0% 0,0% 50,0%

10 0 0 0 0,00 8. Outros 100,0% 0,0% 0,0% 0,0%

Fonte: Pesquisa de campo. *Índice Composto = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Empresas no Segmento).

Tabela 10 – Atividades de cooperação promovidas pela Diretoria das Festividades do Círio de Nazaré em 2006

Sim Não Total Diretoria da Festa 8 1 9 Total 88,9% 11,1% 100,0%

Fonte: Pesquisa de campo.

Tabela 11 – Principais parceiros nas atividades de cooperação promovidas pela Diretoria das Festividades do Círio de Nazaré em 2006

Grau de Importância Agentes Nula Baixa Média Alta Índice*

5 0 2 3 0,42 1. Fornecedores de insumos e equipamentos 50,0% 0,0% 20,0% 30,0%

4 0 0 6 0,60 2. Público e espectadores 40,0% 0,0% 0,0% 60,0% 9 0 1 0 0,06 3. Concorrentes 90,0% 0,0% 10,0% 0,0% 5 0 2 3 0,42 4. Órgãos de comunicação 50,0% 0,0% 20,0% 30,0% 4 0 1 5 0,56 5. Órgãos do poder público 40,0% 0,0% 10,0% 50,0% 7 0 0 3 0,30 6. Outras 70,0% 0,0% 0,0% 30,0%

10 0 0 0 0,00 7. Empreendimentos relacionados ao turismo 100,0% 0,0% 0,0% 0,0%

7 0 0 3 0,30 8. Universidades e institutos de pesquisa 70,0% 0,0% 0,0% 30,0%

10 0 0 0 0,00 9. Centros de capacitação profissional 100,0% 0,0% 0,0% 0,0%

8 0 0 2 0,20 10. Associações, sindicatos, etc 80,0% 0,0% 0,0% 20,0%

8 0 0 2 0,20 11. Órgãos de apoio e promoção 80,0% 0,0% 0,0% 20,0%

9 0 0 1 0,10 12. Órgãos de financiamento 90,0% 0,0% 0,0% 10,0% Fonte: Pesquisa de campo. *Índice Composto = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº

Empresas no Segmento).

41

Tabela 12 – Importância dos resultados das atividades de cooperação na perspectiva da DF em 2006

Grau de Importância Agentes Nula Baixa Média Alta Índice*

7 0 1 2 0,26 1. Fornecedores de insumos e equipamentos 70,0% 0,0% 10,0% 20,0%

7 0 0 3 0,30 2. Público / espectadores e clientes 70,0% 0,0% 0,0% 30,0%

9 0 1 0 0,06 3. Concorrentes 90,0% 0,0% 10,0% 0,0%

7 0 2 1 0,22 4. Órgãos de comunicação 70,0% 0,0% 20,0% 10,0%

6 0 2 2 0,32 5. Órgãos do poder público 60,0% 0,0% 20,0% 20,0%

8 0 1 1 0,16 6. Outros entidades de mesma natureza 80,0% 0,0% 10,0% 10,0%

10 0 0 0 0,00 7. Empreendimentos relacionados ao turismo 100,0% 0,0% 0,0% 0,0%

8 0 0 2 0,20 8. Universidades e institutos de pesquisa 80,0% 0,0% 0,0% 20,0%

10 0 0 0 0,00 9. Centros de capacitação profissional, artística e 100,0% 0,0% 0,0% 0,0%

10 0 0 0 0,00 10. Associações, sindicatos, etc. 100,0% 0,0% 0,0% 0,0%

8 0 0 2 0,20 11. Órgãos de apoio e promoção 80,0% 0,0% 0,0% 20,0%

10 0 0 0 0,00 12. Órgãos de financiamento 100,0% 0,0% 0,0% 0,0%

Fonte: Pesquisa de campo. *Índice Composto = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Empresas no Segmento)

2.5.4. UMA VERIFICAÇÃO DOS EFEITOS INDICADOS PELA DF DAS INOVAÇÕES DOS ÚLTIMOS CINCO ANOS

2.5.4.1 Ampliação da Audiência A DF indica que sua gestão das inovações elevou a audiência do Círio de Nazaré, tanto a

tradicional, como a baseada em novos participantes. Com efeito, como já se demonstrou antes,

no Gráfico 1 a taxa de incremento médio da ATCN no correr da presente década elevou-se para

9,7% quando fora, em média, 2,2% na década anterior; no Gráfico 6 explicita-se uma fase de

crescimento a taxas crescentes – um momento, portanto, de aceleração na expansão da ATCN.

Tal mudança se explica por uma retomada do crescimento da procissão matriz do Círio de

Nazaré, após quase uma década de estagnação (de 1% a.a., passa para 4,9% a.a., conf. Gráfico 1)

e por forte incremento de novas audiências (o público associado a outras procissões cresceu

19,7% a.a.). Verifica-se, ademais, como será discutido mais precisamente adiante, no capítulo 4,

um forte incremento no público que não tem origem no Pará.

42

Não se trata de um feito trivial. Pois, como já mencionamos antes, o Círio evolui em concorrência com outros sistemas que disputam e, eventualmente, subtraem sua audiência. Como sistema operado pela fé católica num tempo e num espaço precisos o Círio é, primeiro, concomitante com o tempo de outras manifestações realizadas em espaços distintos. Para os que fazem a “viagem do exterior”, o Círio é alternativa a outras oportunidades de exercício de fé e de esperança sob a égide da fé católica em outros lugares. Por outra parte, a fé católica (e sua institucionalidade) não detém o monopólio das oportunidades de exercício da fé e da esperança cristãs como ingredientes da vida social – como um dos seus mecanismos de coesão e estabilidade20. Para os que realizam “a viagem do interior” para exercitar “a viagem interior”, a oportunidade do Círio realiza-se como alternativa num campo em que outras confissões atuam oferecendo signos equivalentes.

A concorrência de Aparecida do Norte

Há uma superposição do tempo do Círio com o de Aparecida do Norte. A festa da

Padroeira do Brasil ocorre no dia 12 de outubro na cidade de Aparecida do Norte, no interior de

São Paulo. Como a temporalidade do evento paraense também é em outubro, as datas são muito

próximas e concorrentes entre si. Segundo Fernanda Odila:

“De 3 a 12 de outubro, o Santuário de Aparecida prepara missas, rezas, procissões e shows para os cerca de 350 mil visitantes. São fiéis de todo o país, especialmente de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, que vêm para rezar e se divertir.” (ODILA, 2000: 12). Pela maior proximidade dos principais centros urbanos, pela infra-estrutura instalada e por Nossa Senhora Aparecida ser padroeira do Brasil, o Círio de Nazaré tem uma enorme festa católica concorrente, o que limita a expansão da festa paraense de forma estrutural, pois conforme Silva: “Não só no ramo do turismo, como em qualquer atividade econômica, principalmente a partir desta década, as pressões do mercado estão cada vez mais acirradas. A globalização da economia traz como conseqüência uma crescente proliferação de produtos e serviços; cada vez mais a concorrência nacional e internacional aumenta.” (SILVA, 2001: 65).

O fluxo de visitantes em Belém no mês de outubro representa menos de 5% do fluxo de

visitantes em Aparecida do Norte no mesmo período (350 mil). Há muitos fatores para isso

pode-se destacar os seguinte: i) Aparecida apresenta uma maior diversidade de atrações e uma

20 Em 1980 os residentes que se declararam católicos no Censo Demográfico do IBGE representavam 88,4% da

população belenense, com 902.577 habitantes. Os evangélicos representavam apenas 7,2%, pouco acima de 73 mil declarantes. Refletindo o movimento global de expansão das igrejas evangélicas20, os adeptos desta religião expandiram a uma taxa geométrica de 8,0% ao ano entre 1980 e 2000, elevando sua participação a 19,2% do total da população, com 347 mil praticantes. Os adeptos do catolicismo expandiram a uma taxa de apenas 1,7% ao ano no mesmo período, recuando sua participação na população para 70,4% em 2000, com 1,263 milhão de declarantes desta religião. Adeptos de outras religiões cresceram de 3,3% para 4,1% do total da população, com 73,7 mil praticantes em 2000, a uma taxa geométrica de 4,0% ao ano. Os habitantes da RMB que se declaram sem qualquer religião cresceram a uma taxa de 12,0% ao ano entre 1980 e 2000, saltando de 1,1% para 6,2%, com uma população de 111 mil pessoas no ano 2000.

43

maior infra-estrutura para os eventos - Santuário Nacional de Aparecida comporta até 75 mil

fiéis ao mesmo tempo (SANTUÁRIO, 2006), contrastando com a comparativamente bem menor

capacidade do Santuário de Nazaré; ii) A infra-estrutura de recepção em Aparecida é

estrategicamente construída para o turismo religioso, enquanto em Belém os equipamentos

urbanos não são específicos para a quadra nazarena; iv) além de Aparecida estar localizada na

região mais populosa e com a maior renda per capita, Belém se encontra a uma distância

considerável dos principais centros urbanos brasileiros, com o evento em um mês de baixa

estação, no qual o fluxo de trabalhadores em férias é baixo; v) o deslocamento para um espaço

distante, para ser feito com eficiência relação ao tempo, deve o usar transporte aéreo,

notadamente o mais caro – o que leva a que, se pode optar por uma viagem mais rápida e mais

barata, o turista/fiel tende a preferir Aparecida do Norte; vi) a devoção de Nossa Senhora

Aparecida é nacional, enquanto Nossa Senhora de Nazaré é local/regional.

A concorrência por outras confissões

Em 1980 os residentes que se declararam católicos no Censo Demográfico do IBGE

representavam 88,4% da população de Belém, com 902.577 habitantes. Os evangélicos

representavam apenas 7,2%, pouco acima de 73 mil declarantes. Refletindo o movimento

global de expansão das igrejas evangélicas, os adeptos desta religião expandiram a uma taxa

geométrica de 8,0% ao ano entre 1980 e 2000, elevando sua participação a 19,2% do total da

população, com 347 mil praticantes. Os adeptos do catolicismo expandiram a uma taxa de

apenas 1,7% ao ano no mesmo período, recuando sua participação na população para 70,4%

em 2000, com 1,263 milhões de declarantes desta religião. Adeptos de outras religiões

cresceram de 3,3% para 4,1% do total da população, com 73,7 mil praticantes em 2000, a

uma taxa geométrica de 4,0% ao ano. Os habitantes da RMB que se declaram sem qualquer

religião cresceram a uma taxa de 12,0% ao ano entre 1980 e 2000, saltando de 1,1% para

6,2%, com uma população de 111 mil pessoas no ano 2000.

De modo que, a taxa de crescimento da audiência do Círio, sendo 4 vezes maior que a

taxa de crescimento da população católica de Belém, representa uma contra-tendência do

reordenamento do campo religioso em Belém. Um mecanismo fundamental de recuperação de

espaços contestados.

44

Tabela 13. População Residente por Religião na Região Metropolitana de Belém (%) (1980-2000)

CENSO DEMOGRÁFICO Religião

1980 1991 2000

Católica 88,4 82,0 70,4

Evangélica 7,2 9,9 19,2

Outras 3,3 4,5 4,1

Sem Religião 1,1 3,7 6,2

TOTAL 100 100 100

Fonte: calculado pelo autor a partir da Tabela 1.

2.5.4.2. Redução do Custo total e por unidade de audiência O custo real total do Círio de Nazaré (retirada a inflação) apresenta tendência de queda entre

2000 e 2005 (conf. Tabela 14), saindo de algo em torno de R$ 1,2 milhões para próximo de R$ 1,0 milhão.

Todavia, são distintas as evoluções observadas para as Diretorias e grandes itens de custo. Quatro itens de Custo crescem mais rápido que a média e, por isso, elevam sua importância como item de custo. A Guarda da Santa (era 2%, passou a 4%), a Diretoria de Evangelização (de 21 para 29%), a Presidência e seu secretariado e setores de apoio, e a Barraca da Santa. A diretoria de Marketing mantém sua participação (em torno de 3%) e os demais reduzem a participação. As variações dos dois primeiros itens demonstram duas tendências já antes discutidas: o esforço crescente para controlar o andamento do Círio – como forma de não elevar seu custo (na forma de tempo de duração para além do tolerável) para a audiência e o esforço de fazer crescer essa audiência pela ampliação das peregrinações. Tabela 14 - Evolução do Custo Total do Círio de Nazaré, 2000 a 2005,

(R$ constantes de 2005) Itens 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Evangelização 236.697,60 262.927,52 357.258,31 290.879,83 272.048,66 281.385,00

Procissões 100.141,29 91.779,67 95.417,74 82.455,05 79.766,79 83.521,00

Marketing 154.763,82 129.504,05 157.193,66 121.747,28 116.738,95 136.520,00

Barraca da Santa 41.877,27 34.294,89 42.424,42 36.359,98 35.910,34 14.100,00

Decoração do Cirio 236.697,60 220.467,17 212.866,41 142.624,95 132.096,54 105.273,00

Sonorização 116.528,05 96.842,25 48.378,73 40.934,30 38.596,32 37.120,00

Promoções de Fogos 80.113,03 68.263,17 67.432,51 53.132,48 48.245,40 47.200,00

Arraial 72.830,03 71.692,66 120.574,68 128.901,99 129.405,23 125.301,00

Praça CAN e Basílica 52.801,77 52.748,81 50.611,59 46.916,10 43.452,81 45.220,00

Funcionarios 32.773,51 35.601,37 38.256,41 36.946,43 38.989,31 51.286,00

Guarda da Santa 20.028,26 22.046,72 21.584,36 28.149,66 25.560,48 45.000,00

Medalhas e Fotos 5.462,25 4.735,96 2.977,15 2.814,97 2.760,53 2.920,00

Custo Total 1.150.714,49 1.090.904,23 1.214.975,98 1.011.863,01 963.571,36 974.846,00

Fonte: Diretoria da Festividade do Círio de Nazaré e DIEESE. Corrigido para preços de 2005 pelo IGP/FGV.

45

Gráfico 8 – Incremento do custo por Diretoria (R$ constantes de 2005, corrigidos pelo IGP/FGV).

0

50

100

150

200

250

2000 2001 2002 2003 2004 2005

Guarda da Santa Arraial Funcionarios EvangelizaçãoMarketing Praça CAN e Basílica Procissões Promoções de FogosMedalhas e Fotos Decoração Barraca da Santa Sonorização

Fonte: Tabela 10.

Tabela 11 - Evolução do peso de cada Diretoria no Custo Total do Círio de Nazaré, 2000 a

2005 (R$ constantes de 2005) ANOS

2000 2001 2002 2003 2004 2005

Evangelização 21% 24% 29% 29% 28% 29%

Marketing 13% 12% 13% 12% 12% 14%

Arraial 6% 7% 10% 13% 13% 13%

Decoração 21% 20% 18% 14% 14% 11%

Procissões 9% 8% 8% 8% 8% 9%

Funcionários 3% 3% 3% 4% 4% 5%

Promoções de fogos 7% 6% 6% 5% 5% 5%

Praça CAN e basílica 5% 5% 4% 5% 5% 5%

Guarda da santa 2% 2% 2% 3% 3% 5%

Sonorização 10% 9% 4% 4% 4% 4%

Barraca da santa 4% 3% 3% 4% 4% 1%

Fonte: Tabela 10.

O reordenamento na estrutura de custos do Círio teve um efeito importante sobre as

proporções em que suas compras se fazem em Belém ou fora do Estado do Pará. Segundo a

Tabela 12, em 2000 tais proporções eram de 75% em Belém e 25% fora do Estado do Pará. Em

2005, 86% e 14%, respectivamente.

46

Tabela 12 - Evolução das proporções gastas em Belém e fora do Pará, 2000 a 2005 No arranjo No estado No Brasil No exterior

2000 75% 0% 25% 0% 100%2001 77% 0% 23% 0% 100%2002 83% 0% 17% 0% 100%2003 84% 0% 16% 0% 100%2004 84% 0% 16% 0% 100%2005 86% 0% 14% 0% 100%

Fonte: Pesquisa de campo.

Dado que a Audiência Total do Círio tem crescido e seu custo total diminuído, o Custo

por Unidade de Audiência do Círio reduziu fortemente. Conforme se demonstra no Gráfico 9, sai

de um valor em torno de R$ 0,50 para algo próximo da metade disso entre 2000 e 2005.

Gráfico 9 – Evolução da Audiência Total, do Custo Total e do Custo por Unidade de

Audiência do Círio de Nazaré (R$ constantes de 2005, corrigidos pelo IGP/FGV).

0

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

2.500.000

3.000.000

3.500.000

4.000.000

2000 2001 2002 2003 2004 2005

Ano

R$

e U

nida

de d

e pa

rtici

pant

es

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

R$

por u

nida

de d

e au

diên

cia

Pessoas Envolvidas Custo Total Custo por Pessoa

Fonte: Tabela 10 e Gráfico 1.

2.5.4.3. Ampliação da Receita e forma de financiamento A receita total tem se mantido relativamente constante em termos reais no período.

Considerando a redução verificada nos custos, tem se mostrado crescente um saldo que a

Diretoria da Festa destina para as obras beneméritas da Paróquia de Nazaré (ver Gráfico 9 e

Box 2).

47

Gráfico 9 – Evolução da Receita Total, do Custo Total e do Saldo para Donativos do Círio de Nazaré (R$ constantes de 2005, corrigidos pelo IGP/FGV).

2000 2001 2002 2003 2004 2005

100%

0%

20%

R$

e U

40%

60%ni

dade

de

pa

80%

rtici

pant

es

Ano

Custo Total Receita Total Saldo para DonativosFon

ieese e Diretoria das Festividades do Círio de Nte: D azaré.

Box1.

2 - Obras Beneméritas da Paróquia de Nazaré Comunidade São Brás – localizada na Vila Farah, atende mais de uma centena de famílias. Possui capela e consultórios para atendimento médico.

2. Comunidade Santo Antônio Maria Zaccaria – localizada na confluência das Ruas 9 de Janeiro e Boa Ventura da Silva, atende famílias carentes, contando com ambulatório, clínica geral, pediatria, ginecologista e dentista.

3. Comunidade Sagrada Família – sua sede está sendo construída na Rua Domingo Marreiros, entre 14 de março e Alcindo Cacela. Desenvolve trabalhos pastorais e de espiritualidade.

4. Comunidade São José – a comunidade possui amplo prédio localizado na Rua Domingos Marreiros, próximo à Av. Visconde de Souza Franco. Abrange parte dos bairros de Nazaré e Umarizal. Possui um ambulatório muito atuante que chega a atender 30 pacientes por dia, tendo clínicos, pediatras, ginecologistas-obstetras, dermatologista e dentistas.

5. Comunidade Pedro Afonso – atende 800 famílias, em média, com trabalho voltado para evangelização e assistência espiritual.

6. Comunidade Nossa Senhora das Graças – situada na Av. Conselheiro Furtado, entre as Ruas 3 de Maio e 9 de Janeiro, onde atuam vários movimentos e pastorais, como a Legião de Maria e os grupos de orações e evangelização, trabalho todo voltado para famílias necessitadas.

7. Comunidade Santa Bernadete – localizada no Centro Social de Nazaré, ao lado da Basílica de Nazaré, onde atuam vários movimentos e pastorais, como a dos Enfermos e dos Idosos e grupos de evangelização.

8. Creche Sorena – localiza-se na confluência da Av. Generalíssimo Deodoro com Trav. Caripunas. Atende mais de 300 crianças com idade entre 2 e 9 anos, que têm assistência médica e estudam do Maternal á 4a série, divididas em 13 turmas.

9. Creche Casulo – localizada na Rua Boaventura da Silva, assiste cerca de 100 crianças na faixa etária de 3 a 6 anos, do Maternal ao Jardim III.

48

2.6. O

lém e os demais de doações

de em

s beneméritas da Paróquia de

Nazaré

esses objetivos, a Diretoria da Festa de Nazaré decidiu não

apenas

tunidade de ter retorno do

investim

u momento maior e mais importante.”

0 cotas postas à

disposi

patrocí

direito

.br -, de sua empresa ou produto, durante o ano de 2006.

des Federais, Estaduais e Municipais e toda a imprensa local.

FINANCIAMENTO DO CÍRIO DE NAZARÉ

2.6.1. A participação das empresas e as recentes inovações organizacionais A receita total do Círio de Nazaré vem se distribuindo desde 2003 em torno de 50% de

doações governamentais do Governo do Pará e da Prefeitura de Be

presas no contexto de uma inovação organizacional importante. Trata-se do Projeto

Patrocinador Oficial do Círio.

No seu folder de apresentação o projeto parte das dimensões crescentes do Círio e do

objetivo concomitante do evento de arrecadar recursos para obra

. Textualmente:

“Para a consecução de todos

pedir contribuições ao empresariado e a instituições públicas. [...] de forma profissional,

àqueles que ajudarem a realizar este grande evento será dada a opor

ento efetuado, firmando suas imagens como entidade comprometidas com o Pará e com

o seu povo, exatamente no se

O Projeto se propõe, assim, a dar contrapartida vantajosa, a partir de um pacote de

produtos de Marketing, aproveitando toda a infra-estrutura já existente de mídia e o potencial de

venda do Círio de Nazaré, para as empresas que se dispuser a comprar uma das 2

ção ao custo de R$ 65.000,00 (sessenta e cinco mil reais).

As empresas selecionadas, entre as interessadas, terão direito, como contra partida do

nio, aos seguintes produtos:

Selo oficial do Círio 2006 – será criado e disponibilizado oficialmente ao Patrocinador

Oficial, para garantir o uso exclusivo no seu seguimento de mercado.

O selo poderá ser utilizado em material promocional e publicitário do Patrocinador,

durante todo o ano de 2006.

Banner no Site Oficial do Círio de Nazaré – o Patrocinador Oficial do Círio 2006 terá

a inserção de um Full Banner (468x60 pixels) no site oficial do Círio –

www.ciriodenazare.com

Convite especial e citação destacada como Patroinador Oficial na abertura do Círio

2006, com a presença de Autorida

Notícias do Círio 2006, através de assessoria de imprensa responsável por divulgar os

trabalhos da Diretoria da Festa de Nazaré – desde o início de suas atividades e durante o ano,

serão divulgados os Patrocinadores Oficiais do Círio 2006, sempre que possível.

49

Back Light – o Patrocinador Oficial do Círio 2006 terá direito a espaço para instalação de um Back Light (1x2 metros), que será colocado nas sacadas do Centro Social de Nazaré, voltados para o Arraial de Nazaré, no período de agosto a dezembro de 2006.

Sistema de sonorização do trajeto da Trasladação e do Círio – o patrocinador Oficial do Círio 2006 terá direito a uma cota de patrocínio do sistema de sonorização do trajeto da Trasladação e do Círio.

Broche de ouro – o Patrocinador Oficial do Círio 2006 ganhará um broche de ouro

com a l

xposições de sua logomarca em ambos os lados de cada caixa. icial do Círio 2006 solicitar, indicando

presa na Agenda de Visitas da imagem de Noss zaré, também conhecida agem Peregrina, por aquela c duzida e das ssõ ta, ial na Berlinda durante o Círio. Nessa visita, os dirigentes e fun s d sa rec uma B spe o

da, pela iretoria Festa de zaré, uma réplica da imagem de Nossa Senhora de Nazaré.

as In ções icas rogra e apoio o se mencionou acim do Estado, quanto a Prefeitura de Belém

participam do financiamento do Círio de Nazaré. Ademais, há cooperação entre a DF e diversas

instituições públicas, c Pol ilitar s Arm ompanh Trânsito de Belém,

e ações específicas para o Círio

exclusivo, alusivo ao Círio 2006. Cartaz – serão confeccionados e entregues 1000 folders “Programação do Círio 2006” ogomarca do Patrocinador oficial. Adesivos – serão colocados, nas caixas de som que cobrem o percurso do Círio, adesivos

com a logomarca dos Patrocinadores Oficiais. Cada Patrocinador terá direito a 10 caixas de som, com e

Benção Oficial – será facultado ao patrocinador Oflocal, dia e hora, nos meses de agosto e setembro, a inclusão da sua em

a Senhora de Na como Imon m to as proci

cionárioes da Fesa empre

em especeberão enção E cial, moment

em que será doa D da Na

2.6.2. O Círio, stitui públ e os p mas dCom a, tanto o Governo

omo a ícia M , Força adas, C ia de

etc.

Tabela 13 – Programas

Nível de envolvimento Avaliação

Não conhece

Conhece, mas não participa

Conhece e participa

Avaliação Positiva

Avaliação Negativa

Sem elementos para Avaliação

7 2 1 1 1 7 1. Governo Federal 70,0% 20,0% 10,0% 11,1% 11,1% 77,8%

5 1 4 3 0 6 2. Governo Estadual 50,0% 10,0% 40,0% 33,3% 0,0% 66,7%

6 1 3 3 0 7 3. Goevrn 60,0% 10,0% 30,0% 30,0% 0,0% 70,0%

o Local/Municipal

7 0 3 2 0 7 4. SEBRAE 70,0% 0,0% 30,0% 22,2% 0,0% 77,8%

9 0 1 0 0 10 5. Outras Instituições 0,0% 10,0% 0,0% 100,090,0% 0,0% % Fonte: Pesquisa de campo.

50

As ações desses poderes para a promoção

ectiva da DF nosas d ho rgunt sobr o

ov o Feder com esse caráter, 50% disseram

não conhecer ações do Governo Estadual, 60% da Prefeitura de Belém e 70% não sabem do

a, nesse mister, parece a participação de o anizaç e

sindicatos.

Sindicatos, Associações e Cooperativas LocaisAv

e melhoria do Círio no contexto de estratégias

sistemáticas mostraram-se, na persp , cula ae c e. P a sdo e iss

70% diretores disseram não conhecer ações do G ern al

SEBRAE.

Menos importante, aind rg ões

Tabela 14 – Avaliação da Contribuição de

aliaçãoTipo de Contribuição Nula Baixa Média Alta Índice*

8 0 0 2 0,20 1. Auxílio na definição de objetivos comuns para o arranjo 8 0 0 20 produtivo 0,0% ,0% ,0% ,0%

9 0 1 0 0,06 2. Disponibilização de informações específicas 90 0 10 0 ,0% ,0% ,0% ,0%

9 1 0 0 0,03 3. Identificação de fontes e formas de financiamento 90 10 0 0 ,0% ,0% ,0% ,0%

10 0 0 0 0,00 4.Incentivo a ações cooperativas 100,0% 0,0% 0,0% 0,0%

9 1 0 0 0,03 5. Apresentação de reivindicações comuns 90,0% 10,0% 0,0% 0,0%

9 1 0 0 0,03 6. Criação de fóruns e ambientes para discussão 90,0% 10,0% 0,0% 0,0%

10 0 0 0 0,00 7. Estímulo ao desenvolvimento do sistema de ensino e pesquisa local 100,0% 0,0% 0,0% 0,0%

9 0 0 1 0,10 8. Organização de eventos 90,0% 0,0% 0,0% 10,0%

10 0 0 0 0,00 9. Disponibilização de infra-estrutura para apresentações (equipamentos, espaço físico, etc.) % 0,0% 0,0% 0,0% 100,0

9 0 1 0 0,06 10. Aquisição de insumos 90,0% 0,0% 94,3% 0,0%11. Outros 9 0 0 1 0,10 90,0% 0,0% 10,0% 0,0% Fonte: Pesquisa de campo.

Sobre o tipo de políticas que contribuem pa sen mento do evento, os membros

lhoria na infra-estrutura física e de

e promoção (Índice 0,32 0,30, re ectivam nte). Em eguida

capacitação ra, a p omoção de

licos paralelos e/ou associados e o acesso à informação.

ra o de volvi

da DF indicaram como as mais importantes a me

conhecimento e divulgação e sp e s , com

Índice 0,26, a melhoria no ensino básico e na

eventos púb

voltada à cultu r

51

Tabela 15 – Políticas Públicas que Contribuem para Desen lviment o CírioA o

o vo o d valiaçãAções de Política

Nula Baixa Média Alta Índice* 7 0 1 2 0,26

1. Melhorias na educação básica 70 0 10 20 ,0% ,0% ,0% ,0% 7 0 1 2 0,26 2. Programas de capacitação profissional voltada para a

cultura em geral 70 0 10 20 ,0% ,0% ,0% ,0% 3. Melhoria de infra-estrutura física 0,32 6 0 2 2 e de conhecimento 60 0 20 20 ,0% ,0% ,0% ,0%

8 0 0 2 0,20 4. Elaboração de normas para preservação das características típicas do APL 80,0% 0,0% 0,0% 20,0%

7 0 1 2 0,26 5. Promoção de eventos públicos 70,0% 0,0% 10,0% 20,0%

8 0 0 2 0,20 6. Linhas de crédito e outras formas de financiamento 80,0% 0,0% 0,0% 20,0%

9 0 0 1 0,10 7. Criação de entidade local para gerir música e turismo 90,0% 0,0% 0,0% 10,0%

7 0 0 3 0,30 8. Divulgação do APL 70,0% 0,0% 0,0% 30,0%

7 0 1 2 0,26 9. Programas de acesso à informação, documentação, etc 70,0% 0,0% 10,0% 20,0% 10. Elaboração de um código urbano 9 0 1 0 0,06 de posturas públicas 90,0% 0,0% 94,3% 0,0%

8 0 0 2 0,20 11. Outras 80,0% 0,0% 0,0% 20,0% Fonte: Pesquisa de campo. *Índice Composto = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº

Empresas no Segmento)

3. A Cultura e o Turismo na formação do Círio de Nazaré de Belém

ência para os sistemas culturais e de comunicação e espetáculo para a

indústria do turismo.

3.1. A CULTURA E O idéia de cultura por si guarda um resquício de uma transição histórica da própria

human

uma grande generalidade:

O Círio de Nazaré é um sistema que interage com a formação econômico-social em que

se insere. Ele capta energia dos demais sub-sistemas, como se viu antes. Por outra parte,

entretanto, ele fornece audi

CÍRIO DE NAZARÉ A

idade, da transição do rural para o urbano, de um processo de cunho material, para

questões de espírito (EAGLETON, 2005). Sugere, assim, uma sintonia com o crescimento

espontâneo, mas também, com o surgimento de regras, enquanto convenções do processo

civilizatório.

Todavia, é um dos conceitos mais difíceis e complexos de se definir, pois envolve

categorias afetas a diferentes ciências sociais e, como chama atenção Eagleton (2005), envolve

52

“É difícil escapar a conclusão de que a palavra “cultura” é ao mesmo tempo ampla demais e restrita demais para que seja de muita utsignificado antropológico abrange tudo [...]” (p. 51).

ilidade. Seu

Isto inclui, portanto, atributos m

sultado da evolução e diversidade cultural dos

vários povos autócnes, classificados por Mende

regionalidade singular da realidad

De outra parte os diversos aspectos culturais adquiridos dos vários ciclos de migração

estrangeira e nacional que a região recebeu ao longo de sua história de colonização, em que pese

à assimilação e simbiose de aspectos culturais dos seus povos formadores: indígenas,

portugueses e negros, mas também do amálgama de culturas de influência de outras regiões do

Ainda sob uma definição mais genérica de cultura, esta é entendida como o elemento

mediador entre homem e natureza. Na verdade, homem no sentido coletivo, enquanto sociedade,

no qual exatamente através da capacidade de modificação de seu habitat vão se afeiçoando suas

características e desenvolvendo suas habilidades em todas as suas manifestações. Sob este

prisma, o ambiente natural amazônico tem um papel muito destacado, pois permitiu ao homem

amazônico definir características diferenciadas em vários aspectos sociais como: língua, hábitos,

valores, crenças, enfim modos de vida entendida como manifestações de uma adaptação singular.

ateriais espirituais, intelectuais e afetivos.

Neste contexto, tomam especial atenção, os aspectos da cultura local, dita de caráter

popular (KASHIMOTO et. al. 2002) como: a culinária, o artesanato, o folclore, os ideioletos e a

paremiologia (ditados, provérbios, ditos, e aforismas), a literatura oral (lendas e mitos), a poesia

popular, a história oral, a vestuária cotidiana, a música popular, os instrumentos musicais de uso

local, a arquitetura espontânea, a fotografia incidental, os ritos de passagem, as manifestações

religiosas, as festas populares, a farmacopéia extrativista, as relações locais às modalidades de

trabalho e lazer, as relações locais aos elementos da natureza, formas de distribuição e exercício

do poder local, entre outros.

A representatividade desses aspectos assume na Amazônia um duplo caráter. De uma

parte a que pode ser dita de natureza endógena re

s (2001) como “Amazonidades”, isto é, a

e (local) da Amazônia, enquanto as características culturais

geradas “in loco e sponte sua” e não contraídas por qualquer tipo de contágio ou exposição a

outras influências. Aqui, incorpora-se a feição cultural do homem amazônida, em seus hábitos de

ser e viver na região, especialmente envolto pela grandeza de sua natureza. Esta Amazonidade

relaciona-se, ainda, com o ethos local criado pelos habitantes do estado do Pará, com

especificidades próprias que podem ser denominadas de “paraensismos” (SEBRAE, 2003), onde

se sobressaem outros aspectos geográficos, éticos, ambientais, com repercussões culturais

próprias.

53

país e

aíses

de fron

ue assume na crendice popular uma

dimensão que a suplanta. Assim, o Círio de Nazaré, embora, possa ser dito em um primeiro

ito local grandiosidade e

importâ

, o setor gráfico é incorporado como parte do PIB industrial,

enquan

disso, como bem assinalam Santana e Souza (2003), é preciso não perder de vista

que mesmo sob a ótica

seu conteúdo simbólic

cada povo constitutivo

[...] conjunto de ramos, segmentos e atividades auxiliares industriais produtoras e distribuidoras de mercadorias com conteúdos simbólicos,

povos amazônicos. Destacam-se aqui, entre os migrantes estrangeiros, os japoneses e

portugueses e entre os migrantes nacionais, os advindos das regiões nordeste e, mais

recentemente das regiões sul e sudeste21. Além disso, os grupamentos urbanos existentes nas

largas fronteiras da Amazônia Ocidental sofrem influência dos povos que habitam os sete p

teira e, no caso do Pará em especial da Guiana, Guina Francesa e Suriname.

Assim, existe na região uma riqueza cultural que se expressa em muitas e diferentes

manifestações, muitas delas em caráter inovador, seja porque é uma expressão singular que não

aparece em nenhuma outra região do país, seja porque absorvem na região, aspectos peculiares

cujas características estão consonância com as especificidades da tradição e hábitos locais.

A religiosidade cabocla é apenas um desses aspectos. Um “sentimento” de forte

influência do processo colonizador-missionário na região q

momento, uma festa “importada” de Portugal, ganha em âmb

ncia, tanto do ponto de vista quantitativo, quanto qualitativo. São muitos os seus

desdobramentos e transbordamentos, cujos efeitos tangíveis e intangíveis marcam

invariavelmente o modo de vida e, portanto, a cultura local.

3.1.1. A Indústria Cultural: considerações gerais e contexto Tradicionalmente, quando se fala em indústria cultural, reporta-se às atividades

econômicas ligadas à produção audiovisual, fonográfica, gráfica e, ainda os setores de rádio e tv.

Na contabilidade nacional apenas

to, os demais setores são incluídos nos setor de serviços.

Além

econômica, enquanto setor produtor de riqueza material, a cultura pelo

o, é responsável pela formação da identidade dos indivíduos, tornando

do que é.

Disto resulta a própria classificação, comumente aceita na literatura de indústria cultural,

como:

concebidos por um trabalho criativo, organizadas por um capital que se valoriza e destinadas finalmente aos mercados de consumo, com uma função de reprodução ideológica e social (ZALLO, apud STOLOVICH, 2002, p. 14).

21 A Amazônia multi-étnica no dizer de Benchimol (1999), tem participação de pelo menos dez grupos: índios,

escravos africanos, portugueses, espanhóis, ingleses, italianos, americanos, Judeus (marroquinos), Sírio-Libaneses, cearenses e gaúchos

54

Na forma como definida acima, existe uma forte influência institucional na promoção

direta e indireta do setor cultural pelas três esferas tradicionais da administração pública: federal,

estadua

houve novamente um enfraquecimento do setor cultural no

âmbito

unicipal), voltar a se reorganizar.

ular e

folclore; i) cultura afro-brasileira.

timos

anos e sua relação e ico-social.

te destacada. Tod

alguns órgãos federais concentram um maior volume de despesas como a Fundação Nacional das

Artes (FUNARTE); o Instituto do Patrimônio Histórico (IPHAN) e a Biblioteca Nacional.

s de Governo em relação ao PIB per capita

l e municipal.

No âmbito federal, como assevera (BARBOSA DA SILVA, 2002), a área cultural teve

seu processo de construção institucional, bem recente, a partir da segunda metade década de

1980. Todavia, na década seguinte

federal, para somente no início da década de 2000, em virtude da demanda provocada por

outros níveis de governo (estadual e m

Para fins de quantificação as despesas culturais abrangem as seguintes áreas (BARBOSA

DA SILVA, 2002): a) patrimônio cultural; b) livro leitura e biblioteca; c) música; d) artes

cênicas; e) artes plásticas; f) cinema e audiovisual; g) museus e arquivos; h) cultura pop

A Tabela 1 a seguir resume os dispêndios culturais realizados pelo Brasil nos úl

conôm

A importância da esfera federal no conjunto dos gastos é bastan avia,

Tabela 16 - Gastos Culturais nas Três EsferaItens 1996 2002

População Residente (em mil) 157.482 174.632

PIB total (em R$ milhões correntes) 659.046 1.346.027

Gastos Culturais 946,20 2.056.955

Gastos Culturais Per Capita 6,01 11,78

Participação no PIB 0,14 0,15

Fonte: IPEA/DISOC apud Barbosa da Silva (2002).

55

Tabela 17 - Gastos Culturais nos Três Níveis de Governo – 1996 e 2002 1996 2002 Região e UF

% federal % estadual % municipal % federal % estadual % municipal

Norte 0,0 20,8 79,2 0,6% 36,7% 62,7%

Rondônia 0,0 0,0 100,0 25,3% 60,2% 14,6%

Acre 0,0 72,6 27,4 0,6% 13,3% 86,1%

Amazonas 0,0 25,7 74,3 0,4% 41,0% 58,6%

Roraima 0,0 25,2 74,8 0,0% 83,3% 16,7%

Pará 0,0 43,9 56,1 0,6% 29,1% 70,2%

Amapá 0,0 0,0 0,0 0,0% 5,5% 85,1%

Tocantins 0,0 4,2 95,8 0,0% 84,1% 15,9%

Nordeste 10,7 68,4 21,0 0,5% 53,0% 46,5%

Maranhão 0,0 81,6 18,4 0,2% 38,2% 61,5%

Piauí 2,5 0,0 97,5 0,7% 63,0% 36,2%

Ceará 0,0 69,2 30,8 0,7% 31,4% 68,0%

Rio G. do Norte 0,0 92,7 7,3 0,0% 50,2% 49,8%

Paraíba 0,0 40,8 59,2 0,5% 76,8% 22,7%

Pernambuco 51,7 29,0 19,3 1,4% 78,4% 20,1%

Alagoas 0,0 38,5 61,5 0,0% 70,0% 30,0%

Sergipe 0,0 36,5 63,5 0,3% 69,5% 30,2%

Bahia 0,2 83,4 16,4 0,0% 50,2% 49,7%

Sudeste 12,3 27,2 60,5 4,5% 61,5% 34,0%

Minas Gerais 0,2 15,0 84,8 1,2% 76,5% 22,4%

Espírito Santo 0,0 47,2 52,8 2,7% 70,6% 26,7%

Rio de Janeiro 48,4 18,9 32,7 11,5% 55,8% 32,7%

São Paulo 0,0 31,8 68,2 2,6% 59,9% 37,5%

Sul 0,0 38,4 61,6 2,5% 67,4% 30,1%

Paraná 0,0 35,1 64,9 3,7% 67,6% 28,7%

Santa Catarina 0,0 10,1 89,9 0,2% 78,1% 21,6%

Rio G. do Sul 0,0 48,0 52,0 2,5% 61,5% 36,0%

Centro-Oeste 46,8 13,1 40,1 3,5% 32,5% 64,0%

Mato G. do Sul 0,0 38,7 61,3 0,0% 37,7% 62,3%

Mato Grosso 0,0 72,7 27,3 4,0% 60,5% 35,5%

Goiás 0,0 15,1 84,9 8,2% 51,1% 40,7%

Distrito Federal 93,6 6,4 0,0 3,6% 0,0% 96,4%Fonte: Silva (2002) e STN, Siafi e Sidor.

No âmbito estadual e municipal as atividades culturais são coordenadas por uma

Secretaria de Cultura e por fundações e órgão setoriais, em geral, vinculadas a ela que participam

na gestão, fomento e promoção de certas atividades específicas, encaradas como prioritárias.

Entretanto, ao contrário do que se pode imaginar a priori, é no âmbito municipal (em nível

56

agregado), que se verifica o maior volume de gastos entre as três esferas. Isto pode ser

observado, para os dois anos considerados, ressaltando o incremento da participação relativa dos

gastos municipais, quanto estaduais, no total dos gastos entre os anos de 1996 e 2002.

O aumento da participação relativa, do municipal, entre os anos de 1996 e 2002, para o

estado do Pará é, ainda, mais destacado, passando de 56,1 para 70,2%.A Tabela 3 apresenta

alguns indicadores da representatividade das despesas na área cultural em termos proporcionais

as despesas totais e per capita, para alguns municípios selecionados que compõem a Região

Metropolitana de Belém – RMB. Excluindo o município de Ananindeua, cujos resultados estão

muito abaixo dos valores para os outros municípios, o percentual médio de gastos gira em torno

de 1,6 %, enquanto que o gasto per capita não ultrapassa em média a R$ 8,50, o que está abaixo

do valor dos gastos federais per capita para o ano de 2002, conforme apresentado na Tabela 1.

Tabela 18 - Despesas Culturais como Proporção das Despesas Totais nos Municípios da Região Metropolitana de Belém – 2004.

Municípios Despesas Orçamentária Despesa Cultura Porcentagem Total

Gastos Culturais Per capita

Ananindeua 117.000.176,20 256.280,88 0,22 0,55 Belém 851.487.972,90 14.506.954,92 1,70 0,46

Marituba 32.916.188,34 481.945,15 1,46 5,14 Santa Bárbara do Pará 7.268.085,60 116.073,87 1,60 9,09

Fonte: Tesouro Nacional – www.secretariadotesouro.gov.br

As atividades econômicas, relacionadas à indústria cultural, além do forte encadeamento

com outros setores da economia, seus gastos geram mais emprego e renda que estes (Santana e

Souza, 2003). Em termos de ocupação, pelo menos em termos formais, é importante se tecer um

panorama de como se distribui o emprego entre as várias atividades que formam a indústria

cultural.

O Quadro 1 retrata a distribuição, para dados da RAIS no ano de 2000, do mercado de trabalho nas atividades classificadas como culturais, na Região Metropolitana de Belém. Verifica-se, que do total de 6.581 empregados na área cultural, as atividades de maior ocupação formal, são as relacionadas a: edição de livros e leitura – 2.434; entretenimento e outras atividades culturais – 1.542 e atividades de rádio e televisão – 1.025. Estas atividades representam, cerca de 37%, 23% e 16%, respectivamente.

Importante fazer nesta distribuição, uma distinção entre àquelas atividades que possam representar de alguma forma produção (reprodução cultural) da cultura local, como, por exemplo, as atividades de edição e impressão de: jornais, revistas e livros, que representam cerca de 38% do segmento editorial, ou cerca de somente 14% do total cultural; as atividades

57

fonográficas e de teatro, música e espetáculos, que juntas representam apenas cerca de 5% do setor cultura e aquelas relacionadas à conservação do patrimônio e entretenimento, que perfazem cerca de 27% deste total. Observe-se, ainda, que o total cultural da Região Metropolitana de Belém representa cerca de 2% do total nacional na área cultural.

Tabela 19 - Distribuição do mercado de trabalho cultural nas regiões, 2000

RM. Belém Edição; edição e impressão de jornais 846

Edição; edição e impressão de revistas 23

Edição; edição e impressão de livros 18

Impressão de jornais, revistas e livros 55

Serv. de impressão de material escolar e de material para uso in... 101

Execução de outros serviços gráficos 157

Edição; edição e impressão de outros produtos gráficos 147

Comércio varejista de livros, jornais, revistas e papelaria 1.087

Total Edição de livros e leitura 2.434

Edição de discos, fitas e outros materiais gravados 6

Reprodução de discos e fitas 0

Reprodução de fitas de vídeo 0

Reprodução de filmes 3

Total Fonográfica 9

Total Publicidade 412

Total Atividades Fotográficas 382

Produção de filmes cinematográficos e fitas de vídeo 38

Distribuição de filmes e de vídeos 64

Projeção de filmes e de vídeos 149

Atividades de cinema e vídeo 251

Atividades de rádio 430

Atividades de televisão 595

Atividades de agência de notícias 0

Total Atividades de rádio e televisão 1.025

Atividades de teatro, música e outras atividades artísticas e literárias 95

Gestão de salas de espetáculo 0

Outras atividades de espetáculo não especificadas anteriormente 203

Total Teatro, música e espetáculos 298

Atividades de biblioteca e arquivo 228

Atividades de museu e conservação do patrimônio histórico 0

Total Conservação do patrimônio 228

Ativ. De jardins botânicos, zoológicos, parques nacionais e reservas 10

Outras atividades relacionadas ao lazer 1.532

Fabricação de instrumentos musicais 0

Total Entretenimento e outras atividades ligadas à cultura 1.542

Total Cultura na RMB 6.581

Total Brasil 361.227

Fonte: RAIS, 2000

58

3.1.2. Espaços Culturais de Belém Na Região Metropolitana de Belém, existem diferentes espaços culturais e de lazer, sendo

administrados pelo estado ou pela própria prefeitura, onde os principais estão dispostos na

Tabela 20 a seguir.

Tabela 20 - Equipamentos Culturais em Belém

Tipo Nome

Teatro da Paz

Teatro Waldemar Henrique

Teatro Margarida Schiwasapa

Teatro da Estação das Docas

Teatros

Teatro do SESC

Pólo Cultural São José Liberto

Estação das Docas

Mangal das Garças

Espaço Feliz Lusitânia

Espaço Cultural Casa das Onze Janelas

Memorial dos Povos

Espaços Culturais

Parque da Residência/Estação Gasômetro

Fundação Cultural do Pará "Tancredo Neves"

Fundação Carlos Gomes

Fundação Curro Velho Centros Culturais/Formação

Instituto de Artes do Pará – IAP

Centros de Eventos Centro de Eventos Ismael Nery

Museu do Estado do Pará (MEP)

Museu de Arte de Belém – MAB

Museu do Círio Museus

Museu Emílio Goeldi

Aldeia Cabana de Cultura Amazônica Mestre Davi Miguel

Planetário

Jardim Botânico Rodrigues Alves

Estádio Olímpico do Estado do Pará

Mercado do Ver-o-Peso

Parque de Exposições

Áreas Livres de Lazer

Ver-o-Rio

Fonte: elaborado pelos autores.

59

3.1.3. Estrutura institucional voltada à cultura

O Governo do Estado. A secretaria do estado que tem uma articulação direta com as

atividades culturais, de acordo com o organograma do Governo do Estado é a Secretaria Especial

de Promoção Social. Esta, no entanto, compreende três secretarias executivas, três fundações e

um instituto, que tem papéis específicos, no desenho do aparato institucional do governo do

estado, em ações específicas voltadas as atividades culturais em seu âmbito de jurisdição. São

elas:

• Fundação Cultural do Pará "Tancredo Neves"

• Fundação Carlos Gomes

• Fundação Curro Velho

• Fundação de Telecomunicações do Pará - FUNTELPA

• Instituto de Artes do Pará - IAP

• Secretaria Executiva de Cultura - SECULT

• Secretaria Executiva de Educação - SEDUC

• Secretaria Executiva de Esporte e Lazer - SEEL

Universidade do Estado do Pará – UEPA

• Fundação de Telecomunicações do Pará - FUNTELPA

• TV Cultura

• Museu do Estado do Pará (MEP) e

• Espaço Cultural Casa das Onze Janelas.

A Prefeitura Municipal de Belém.

• FUMBEL - Fundação Cultural do Município de Belém

• SEMEC - Secretaria Municipal de Educação e Cultura

3.1.4. Os Produtos Culturais Amazônicos

A classificação da indústria cultural segundo moldes setoriais genéricos não dá conta dos

diferentes “produtos culturais” que fazem a especificidade local. São tipicamente locais, segundo

SEBRAE (2003):

1. a religiosidades expressa nas festas de santos e “Círios”, com seus tradicionais

arraiais;

2. as danças, como o carimbó, o siriá, a marujada e os pássaros;

60

3. as crendices e lendas do imaginário popular;

4. os pratos da rica culinária paraense; doces, quitutes, guloseimas em geral, feitas com

base na variada fruticultura;

5. o artesanato de miriti, fibras, flores, folhagens secas, cipós, sementes, madeira,

cerâmica;

6. a arquitetura/construções/ habitações: palafitas ribeirinhas, construções de época da

colonização; as canoas e barcos que percorrem as veias líquidas da região; na

arquitetura nacional, as “bandeiras” das portas dos dormitórios domésticos, seu pé

direito alto, a “varanda” ao redor da casa, a nossa arquitetura antiga, a construção de

casas adequadas às condições climatológicas da região, construídas com a tecnologia

que melhore a sua qualidade; as casas de palha, as casas de madeira, as casas de

barro, tecnicamente bem projetadas; a cobertura das barracas com folhas de palmeiras

entrelaçadas;

7. os produtos medicinais com técnicas de manipulação de medicamentos com plantas

regionais, raízes e banhos de ervas

8. técnicas de adaptação e manipulação de natureza e do corpo: como as redes para

dormir e o banho freqüente que o índio ensinou ao brasileiro, principalmente na

Amazônia;

9. técnicas de produção e de industrialização (caseira) de frutas. A variedade e

personalidade das frutas paraenses permitem a expansão desse setor e sua priorização;

Todos esses são produtos interligados, a rigor aspectos que se combinam em alguns

momentos e lugares precisos, como no caso do Círio de Nazaré de Belém.

3.1.5 Círio de Nazaré, o ápice da cultura e da identidade paraense

A cultura da Região Metropolitana de Belém tem na religiosidade um dos seus aspectos

mais importantes. A maior manifestação dessa religiosidade se manifesta nas romarias e

festividades das padroeiras de cada município, cujo Círio de Nazaré é sua maior expressão. Esse

evento, todavia, se tornou mais que a festa principal do povo paraense – na condição de Círio de

Nazaré de Belém, constituiu-se, também, no principal evento turístico do estado.

Como assevera Alves (2005): “A festa e o Círio acionam um conjunto de símbolos que são próprios da identidade paraense, revelando também aspectos da vida social e da cultura da região; sua história, sua vida política e o sentimento de pertencimento a uma dada cultura e uma dada comunidade” (p. 65).

61

Reforçado por Figueiredo (2005): “[...] a cultura paraense manifesta-se em todos os bairros de Belém, na maioria das casas, quer pela culinária, quer pela música, artes, etc. [...] São realizados muitos eventos em função do Círio como feiras de artesanato, manifestações da cultura popular (bois, carimbos, etc), exposições de arte, festas, festivais, entre outros. Esse eventos aliam-se a ações organizadas pela igreja, pelas comunidades e pelo poder público.[...]” (p. 26 – 27).

A tradição da festa se tornou o elo de ligação entre os paraenses em várias regiões do

Pará, em toda a região Amazônia e no resto do País onde existem festividades religiosas em

torno da devoção a Maria – Nossa Senhora de Nazaré. Assim, é que o estado apresenta pelo

menos dez “Círios” de grande expressão em cidades do estado do Pará: Bragança, Cametá,

Macapazinho, Mãe-do-Rio, Marabá, São João de Pirabas, São Miguel do Guamá, Soure, e Vigia.

Todos os estados da região amazônica também apresentam festividades religiosas com

tema da Virgem de Nazaré. Além disso, por influência dos paraenses migrantes, ou através da

influência da peregrinação da imagem da Santa, a festa transpôs as barreiras da Região

Amazônica, atingindo os estados do Rio de Janeiro (Círio da Tijuca, Copacabana entre outros);

Ceará – Círio de Fortaleza; Maranhão – Círio de São Luís; Distrito Federal – Círio de Brasília;

São Paulo – (Círio do Sumaré, Santos).

Em cada uma dessas festas, o Círio de Nazaré, a religiosidade, serve de ponto de encontro

da cultura paraense, com diferentes atividades artísticas, venda de comidas típicas, artesanato

entre outros. Assim, os elementos culturais se fundem no Círio de Nazaré, e se reproduzem, por

ele no estado e para além deste.

Em termos de produto da indústria cultural, o Círio de Nazaré deu origem a uma série de

livros e filmes, com o intuito de representar sua importância para a cultura local, em diferentes

vertentes. Entre estes filmes pode-se destacar: “Círio de Nazaré” de Alan Kardek Guimarães;

“Naza” de Silvio Figueiredo; “Os Promesseiros” de Chico Carneiro; “Maria e Josés de Nazaré”

de Úrsula Vidal; “ A Corda” de Ronaldo Passsarinho; “As Filhas da Chiquita” de Priscilla Brasil;

“Na Corda do Círio” de Ronaldo Barbieri.

O Círio de Nazaré – Bem Cultural de Natureza Imaterial. O decreto número 3551, de 4 de

agosto de 2000, institui o registro de bens culturais de natureza imaterial que constituem o

patrimônio cultural brasileiro. O círio de Nazaré foi à manifestação, na categoria celebração,

escolhida para procedimentos de registro.

O pedido de registro da procissão do círio de Nazaré, como bem cultural de natureza

imaterial, na categoria de celebrações, foi encaminhado ao presidente do IPHAN em dezembro

de 2001, dando início aos procedimentos legais para instrução do processo de registro e

62

elaboração do dossiê sobre essa manifestação. O pedido foi direcionado ao IPHAN pelas

seguintes entidades: Arquidiocese de Belém, representada pelo seu titular, o arcebispo

metropolitano Dom Vicente Joaquim Zico; Obras sociais da paróquia de Nazaré, representada

pelo seu presidente padre Francisco Chagas Santos da Silva e pela Diretoria da festividade de

Nazaré, representada pelo seu coordenador, eleito para o biênio 2001/2002, advogado João José

da Silva Maroja.

Na realização da festa, existe um conjunto de bens culturais envolvidos, que serão aqui

classificados de duas maneiras: os bens culturais associados e os bens culturais mobilizados.

Os primeiros seriam àqueles que fazem parte do evento cultural de forma direta e

indireta. Aqui aparecem tanto as celebrações com seus atos e ritos, como todas as formas de

expressão e o espaço de caráter público onde são realizadas estas intervenções sócias. São

exemplos: o Arraial, entorno da Basílica de Nazaré; o almoço do Círio; o Auto do Círio; o

arrastão do Boi Pavulagem; a Festa das Filhas da Chiquita; o Festival da Canção Mariana; o

concurso de redação sobre o Círio de Nazaré; a Feira de Brinquedo de Miriti; a exposição de

Jóias sobre o manto da Santa. A este conjunto de bens culturais, com caráter mais ou menos

permanentes durante a quadra nazarena, somam-se muitos outros que tem na imagem da Santa, a

inspiração ou o sentido de ser. Assim, durante o mês de outubro e, particularmente, na semana

do Círio, muitos outros eventos culturais ocorrem, sendo de certo modo já esperados pelo

cidadão local, como a apresentação de grandes artistas – músicos paraenses, nos espaços

culturais (públicos) da cidade, como o Teatro da Paz, a Estação Gasômetro; Capela do Pólo

Joalheiro entre outros, sempre tendo como motivação homenagear a Virgem de Nazaré.

Os bens culturais mobilizados, por sua vez, reúnem todas àqueles eventos que ocorrem

em paralelo com a realização do Círio de Nazaré e cujas realizações são marcadas para a data do

mês de outubro para aproveitar a efervescência cultural da cidade e do fluxo de turistas na

cidade. Esses eventos gozam, por assim dizer, das externalidades econômicas que o Círio

proporciona. Tradicionalmente, aqui aparecem o Arte Pará, o Festival Internacional de Dança da

Amazônia e, mais recentemente, o ExpoPará. Além disso, ocorrem na Região Metropolitana de

Belém, neste mesmo período, festivais de dança, música, teatro, shows entre outros.

Três eventos, em particular, ganham especial destaque nesse processo, uma vez que são

reconhecidos como patrimônio imaterial associado ao Círio: o Arrastão do Boi Pavulagem, o

Auto do Círio e a Festa das Filhas da Chiquita.

63

3.1.6. O Arrastão do Boi Pavulagem O Arrastão foi introduzido na programação cultural do evento em 1999. O Boi

Pavulagem é uma Organização Social de interesse público – sociedade civil. É um movimento surgido em 1987, que se transformou em 2003 em Instituto.

Conta cerca de 70 membros que realizam as atividades regulares do instituto. A grande maioria trabalhando como voluntário, não só na realização dos cortejos, mas nas atividades denominadas pelos seus integrantes de “educação cultural”.

Isto inclui um resgate da cultura popular, através do uso de instrumentos musicais –especificamente de percussão, de origem popular, como também o uso de materiais ligados ao artesanato local, como, por exemplo, os brinquedos de miriti, usados na ornamentação dos cortejos.

Entre os instrumentos musicais “revitalizados”, pode-se citar: as alfaias e a badurra.

O trabalho de educação cultural, inclui, durante o ano a realização de diversos cursos livres: de música e artes plásticas

Entre o pessoal ocupado, cerca de 54% está realizando pelo menos o ensino superior. A distribuição dos demais se divide entre o ensino médio completo e incompleto, cerca de 23% e o ensino fundamental completo e incompleto, 24%.

Durante o ano realizam três cortejos. No mês de janeiro, tem-se o Cordão do Peixe-Boi, em junho são quatro cortejos, em geral, denominados de “Arrastão do Boi Pavulagem” e no mês de outubro, como integrante das festividades do Círio de Nazaré, é realizado o cortejo da “Cobra Grande”.

Em termos cênicos, durante o Círio, após a chegada da Berlinda da Romaria Fluvial no sábado pela manhã, realiza um cortejo cuja motivação principal é a “brincadeira” do boi-bumbá. Em 2001 foi introduzida no cortejo uma cobra de cerca de vinte metros feita de miriti, passando a dar o nome ao cortejo.

A realização do Cortejo do Círio tem um orçamento de cerca de R$ 25.000,00, que é distribuído na compra de material para elaboração ou manutenção da ornamentação, roupas e alegorias que compõem o cortejo, bem como o pagamento de músicos de sopro, que faze parte da banda que acompanha o cordão. As despesas para a realização do evento são oriundas de recursos da Lei Semear, em torno de 85% e o restante e advindo de receitas próprias.

A política de compra da entidade baseia-se no menor preço, para os materiais e, no confronto de preço e qualidade na compra de brinquedos de miriti. Os primeiros comprados somente no arranjo e, enquanto que cerca de 50% dos brinquedos de miriti são comprados em outras localidades do estado.

Como parte da proposta da realização do evento e, portanto, da própria concepção do

“Boi”: um boi que deixe de ser apenas um “folguedo contemplativo”, mas que leve a ação

participativa, de envolvimento da população.

64

Dinâmica de Funcionamento, Dificuldades e Fatores Competitivos relacionadas à realização do evento

Entre as dificuldades consideradas altas, como demonstrado na Tabela 21, estão aquelas

que mobilizam um montante elevado de recursos, como as despesas relacionados a aquisição de

insumos e equipamentos, bem como relacionados as instalações. As dificuldades relacionadas a

outros tipos de custos, são menores. Assim, as dificuldades relacionadas a capital de giro, é

apontadas como de grau baixo, devido poderem contar com recursos oriundos da Lei Semear,

enquanto aquelas relacionadas a mão-de-obra não são consideradas como dificuldade dado o

contingente de trabalho voluntário e, mesmo o baixo custo dos contratados – remuneração média

de R$350,00, nos momentos de realização dos cortejos.

Quanto aos fatores determinantes para manter a atratividade do evento, todos os itens

apresentados na Tabela 21 são considerados de alta relevância, dando-se destaque a qualidade

dos artistas que participam das apresentações durante o cortejo.

Tabela 21 - Dificuldades Encontradas e Fatores Competitivos Relacionados à Realização do

Evento Dificuldade encontrada pela empresa Descrição

Baixa Média Alta 1. Contratar empregados qualificados 2. Custo da mão-de-obra

3. Comprar produtos de qualidade X 4. Produzir com qualidade X 5. Divulgar e vender seus produtos e serviços X 6. Custo ou falta de capital de giro X 7. Custo ou falta de capital para aquisição de insumos e equipamentos

X

8. Dificuldades relacionadas às instalações X 9. Pagamento de empréstimos e juros de empréstimos

Fatores Determinantes para Manter a Capacidade Competitiva/Atratividade do Evento Descrição

Baixa Média Alta 1. Localização da entidade/grupo X 2. Capacidade de criação de novos atrativos/eventos

X

3. Estratégias de divulgação e comercialização X 4. Qualidade dos equipamentos X 5. Qualidade dos artistas (músicos etc) X 6. Infra-estrutura do atrativo X 7. Cultura Local X

Fonte: pesquisa de campo O impacto resultante da introdução de inovações, como mostrado na Tabela 22, é

apontado como de relevância média, apenas a redução do custo de insumos e matérias-primas,

uma vez que na idealização das inovações este não é o aspecto buscado, mas sim a criatividade e

a interação que norteia a condução do cortejo.

65

Todos os outros elementos são considerados de alta relevância, especialmente quanto à

conquista de novos espectadores, elemento primordial na concepção e sucesso do evento.

Quanto às fontes de informação, como pode ser visto na Tabela 22, assume caráter

eminentemente interno. Todavia, são destacadas também, as interações com o público e com

fornecedores de insumos e equipamentos. Mais uma vez reforçando a idéia contida na proposta

do evento de compartilhar, participação e interação com outros agentes sociais.

Tabela 22 - Impacto da Inovação e Fontes de Informação para o Aprendizado

Impacto da Inovação Descrição

Baixa Média Alta 1. Maior qualidade do evento cultural X

2. Permitiu atrais mais consumidores/espectadores X

3. Permitiu a conquista de novo tipo de espectador X

4. Permitiu a redução de custos de insumos X

5. Permitiu reduzir o impacto sobre o meio ambiente X

6. Permitiu obter maior reconhecimento X

7. Permitiu obter novas fontes de recursos X

Fontes de informação para o aprendizado

Baixa Média Alta

Fontes internas X

Fontes externas

Fornecedores de insumos (equip, materiais) X

Público/espectadores e clientes X

Concorrentes

Órgãos de comunicação (TV, Rádio, jornal)

Órgãos do poder público (prefeitura, secretarias)

Outras entidades/grupos artísticos/culturais/ X

Empreendimentos relacionados ao turismo

Universidades e institutos de pesquisas X

Centros de capacitação profissional e artística X

Conferências, cursos, publicações especializadas X

Feiras, exibições e lojas

Encontros de lazer (clubes, restaurantes etc)

Associações, sindicatos etc

Órgãos de apoio e promoção

Informações da internet ou via computador

Fonte: Pesquisa de campo. Em consonância com os cursos livres especialmente de música, que são realizados no

instituto, o processo de capacitação tem como resultado mais relevante a melhor utilização de técnicas produtivas, equipamentos e insumos. Além disso, como ressaltado na Tabela 23, a capacitação tem permitido a absorção de pessoal atuante no arranjo ou próximo, como é, inclusive, a proposta de inclusão cultural (musical) no projeto.

66

Tabela 23 - Realização de Treinamento e Capacitação e Avaliação de seus Resultados Treinamento e Capacitação durante os últimos três anos

(2003 a 2005) Descrição Baixa Média Alta

1. Cursos livres e oficinas oferecidas pela própria entidade X

2. Cursos livres e oficinas oferecidos por outros

3. Cursos técnicos realizados no arranjo

4. Cursos técnicos fora do arranjo

5. Absorção de pessoal atuante no arranjo X

6. Absorção de pessoal atuante fora do arranjo

Melhora das capacitações como resultado do processo de treinamento e aprendizado Descrição

Baixa Média Alta

1.Melhor utilização de técnicas produtivas/gestão das atividades ou eventos

X

2.Maior capacitação para realização de modificações e melhorias (não rotineiras) no atrativo da entidade/grupo/capacitação missionária

X

3. Melhor capacitação para desenvolver novos atrativos, produtos e serviços

X

4. Maior conhecimento sobre o público alvo

5. Melhor capacitação administrativa/organização da atividade/grupo

Avaliação dos Parceiros da Cooperação Descrição

Baixa Média Alta 1.Fornecedores de insumos (equipamentos, materiais)

2.Público/espectadores e clientes X

3.Concorrentes

4.Órgãos de Comunicação X

5.Órgãos do poder público (prefeituras, secretarias) X

6.Outras entidades/grupos artísticos/culturais X

7.Empreendimentos relacionados ao turismo (hotéis, agências etc)

X

8.Universidades e institutos de pesquisa X

9.Centros de capacitação profissional, artística e técnica X

10.Associações e sindicatos etc X

11.Órgãos de apoio e promoção

12. Órgãos de financiamento

Fonte: Pesquisa de campo. Na Tabela 24, observa-se, ainda, como de grande relevância como parceiro na

atividade/evento o público, os órgãos de comunicação, os órgãos do poder público, as entidades de grupos artísticos e culturais, bem como, empreendimentos relacionados ao turismo, os centros de capacitação profissional e as universidades e centros de pesquisa.

Acerca das vantagens locacionais do ambiente local, é destacada como de maior relevância a cultura local e como de menor relevância a disponibilidade de pessoal qualificado (como artesãos, artistas e músicos) e a fama e reputação do local, valendo-se das externalidades pecuniárias geradas pela festa do Círio de Nazaré.

Dos aspectos da cultura local, assume papel de destaque a preservação e valorização de elementos culturais, em consonância com a proposta do evento e em menor monta, a melhoria das condições de realização de espetáculos/eventos e a preservação das características do evento.

67

Tabela 24 - Vantagens Locacionais Vantagens do Ambiente Local Descrição

Baixa Média Alta 1. Disponibilidade de pessoal qualificado X 2. Proximidade com os fornecedores de matéria prima e equipamentos

X

3. Cultura Local X 4. Fama/reputação do local X 5. Divulgação do APL/atração de clientes/espectadores X 6. Infra-estrutura física (energia, transporte, comunicação, espaço para o evento)

X

7. Disponibilidade de serviços técnicos especializados X 8. Existência de programas de apoio e promoção X

Vantagens Relacionadas à Cultura Local Descrição Baixa Média Alta

1. Preservação/valorização de aspectos culturais X 2. Melhoria das Condições de Realização de espetáculos X 3. Preservação de características do ambiente X Fonte: Pesquisa de campo

Políticas Públicas

Na avaliação dos programas e ações governamentais, é tida como positiva apenas a

atuação do governo do estado, através da Lei Semear.

Quanto às políticas que poderiam contribuir para o desenvolvimento do arranjo é

destacada a melhoria da educação básica e a elaboração de normas para a preservação das

características típicas do APL, a promoção de eventos públicos, a criação de entidades locais

para gerir música e turismo e a divulgação do APL.

Tabela 25 - Participação e Avaliação das Políticas Públicas

Conhecimento e Participação em Programas Públicos Instituição/esfera governamental/avaliação* Não tem

conhecimento Conhece, mas não

participa Conhece e participa

Governo Federal 2 Governo Estadual 1 Governo local/municipal 2 SEBRAE 3

Políticas Públicos para a Promoção do Evento Descrição Baixa Média Alta

1. Melhorias na educação básica X 2. Programas de capacitação profissional X 3. Melhoria da infra-estrutura física e do conhecimento X 4. Elaboração de normas para a preservação das características típicas do APL

X

5. Promoção de eventos públicos X 6. Linhas de crédito e outras formas de financiamento X 7. Criação de entidade local para gerir música e turismo X 8.Divulgação do APL X 9. Programa de acesso a informação, documentação etc X 10. Elaboração de código urbano de posturas públicas X Fonte: Pesquisa de campo. Nota*: O conhecimento ou não de programa governamental naquela esfera de governo, é

marcado segundo a seguinte numeração indicativa, quanto a sua avaliação: avaliação positiva: 1; avaliação negativa: 2; sem elementos para avaliação: 3.

68

3.1.7. O Auto do Círio

O Auto do Círio é um projeto de extensão da Universidade Federal do Pará, criado em

1993, coordenado por professores de artes cênicas da Escola de Teatro e Dança da UFPA, no

qual se integram diversas oficinas com diferentes linguagens artísticas, como preparação para o

espetáculo de encenação que ocorre no mês de outubro por ocasião da realização do Círio. Nos

últimos anos pela sua importância e grandeza assumida o Auto do Círio foi considerado pelo

IPHAN em 2004 como “Bem Imaterial Associado ao Círio de Nazaré”.

As oficinas que integram o “Projeto do Auto do Círio” oferecem uma série de cursos nas

áreas de canto, dança e teatro. Os cursos são: cenografia, que inclui módulos acerca da

construção do espaço cênico, adereços e carros alegóricos, e maquiagem cênica; Ritmos

Regionais e; Oficina de Preparação do Elenco.

Os cursos ocorrem durante ano todo, sendo que para cada módulo participam cerca de 30

alunos. A Oficina de preparação de elenco envolve um número maior de cerca de 150 pessoas.

Na encenação do espetáculo participam cerca de 500 pessoas, incluindo, grupos musicais, de

teatro e de dança que não se envolveram em nenhuma atividade durante o ano, mas que vêm

compor o espetáculo.

O espetáculo do Auto do Círio22 é um grande cortejo popular, com diferentes tipos de

performances teatrais, de musica e dança ao longo do seu trajeto. Durante o percurso são

realizadas paradas previamente determinadas, denominadas de estações. Estas estações ocorrem,

em geral, em frente de monumentos históricos, cada um com uma dada simbologia artística

dentro do roteiro das apresentações, culminando em uma última estação denominada de apoteose

carnavalesca. Esta, inclusive, tem sido uma tendência das apresentações dos últimos anos, a

incorporação de elementos carnavalescos, como alegorias, carros, porta-bandeiras, traduzindo-se

em uma festa de caráter popular que mistura aspectos profanos e religiosos ao evento do Círio.

As estações que podem ser pensadas como os grandes atos da encenação, a qual é

dividida da seguinte forma: Dança, na Catedral da Sé; Música, na Igreja de Santo Alexandre;

Teatro, no Solar do Barão do Guajará; Cultura Popular, na Capela de São João; e Apoteose, entre

os Palácios Antônio Lemos e Lauro Sodré.

A construção do espetáculo envolve, ainda, na sua produção um conjunto de atividades

como: a montagem – estrutura de palco; arquibancada; iluminação; estrutura de som; além da

encenação das estações, cujas encenações duram em média cerca de 4 (quatro) horas.

22 A motivação do “Auto” desde seu início foi de resgatar e mostrar a Cultura Paraense, dando ao Círio um caráter

de festa popular.

69

O cortejo sai tradicionalmente da Praça do Carmo, no bairro da Cidade Velha, e vai até a

Praça da Sé, com uma extensão aproximada de 1 (um) Km.

Todos os anos o espetáculo, traz inovações, que têm por objetivo não só atrair um maior

número de espectadores, mas também criar raízes, dentro de uma proposta pedagógica de

valorização da cultura paraense. Assim, em 2005, por exemplo, foi feita uma homenagem aos

grandes artistas paraenses como: Fafá de Belém, Walter Bandeira, Dira Paes, Ana Unger, Natal

Silva, Andréa Rezende, Ana Selma Almeida, Madalena Alivertti, Creuza Gomes, e

Dominguinhos do Estácio.

Dinâmica de Funcionamento

O processo de produção do evento, como já definido, envolve dois momentos, um

primeiro momento de preparação, que tem seu funcionamento através dos vários cursos,

formatados em três grandes áreas: canto (música); teatro e dança e um segundo momento de

realização do evento.

Na primeira fase, neste processo são envolvidas cerca de 30 (trinta) pessoas, em caráter

mais ou menos regular, sendo todas ligadas a UFPA, com quase a sua totalidade formada de

professores. Aliás, ocorre um grande envolvimento da comunidade universitária da UFPA em

todas as fases do projeto, onde segundo seus organizadores cerca de 40% dos participantes do

projeto (cursos e encenação do espetáculo) é composta por alunos da UFPA.

Deste total apenas 5 (cinco) recebem bolsa (extensão), em geral, ligados as atividades de

coordenação do evento e o número restante trabalha de forma voluntária. Assim, dado este perfil,

todas as pessoas envolvidas possuem nível superior e, mesmo cerca de 15% curso de pós-

graduação.

No ano de 2005, as atividades se iniciaram no mês de maio com o curso intitulado: “O

Corpo, a Performance e a Rua na Cena Contemporânea” ministrado pelo coordenador do projeto

Miguel Santa Brígida. Depois se seguiram os cursos de cenografia: alegorias, adereços, figurino

e maquiagem e de Ritmos Folclóricos.

Importante ressaltar que o ato criativo de produção do evento ocorre durante estes cursos,

em que se incorre em um processo de aprendizado de todos os elementos cênicos e corporais que

constituem a realização do espetáculo. Desta forma, da preparação das roupas , das alegorias, às

formas de maquiagem, tudo é pensado a partir do roteiro programado.

O Projeto do “Auto do Círio” realizado no ano de 2005 ficou orçado em pouco mais de

R$180.000,00 sendo cerca de 80% destinado para a realização do espetáculo e 20% para as

“despesas de preparação”. Enquanto, um projeto de extensão da UFPA, todo tipo de compra de

70

materiais (insumos e matérias-primas) é feita através de um processo de licitação, adotando-se o

menor preço na escolha do fornecedor.

Na constituição dos custos totais do projeto, cerca de 50% corresponde ao material

gráfico e despesas com propaganda e marketing, como a veiculação pela mídia de chamadas de

cerca de 30 segundos no rádio e televisão.

A receita para a realização das despesas é oriunda de duas formas de captação: lei de

incentivo (Fiscal), como a Lei Municipal de Incentivo a Cultura – Lei Tó Teixeira e a Lei Rounet

de âmbito federal. Além disso, conta com patrocinadores, como, vinha ocorrendo até o ano de

2005, com a Vale do Rio Doce23.

Dificuldades e Fatores Competitivos relacionadas à realização do evento

Na realização do evento, a dificuldade financeira se sobressai sobre as demais, em um

esforça adicional que tem ser feito pelos coordenadores do projeto para sua realização na

qualidade desejada. Assim, como se percebe no Quadro 8 as maiores dificuldades na realização

do evento estão associadas aos custos para aquisição de insumos e capital de giro e instalações

para sua efetivação. Por sua vez, o custo na contratação de mão-de-obra é apontado como de

baixa relevância devido, ao grande contingente de trabalho voluntário no processo de

“produção”.

As dificuldades relacionadas à realização das oficinas, nos atos de produzir, vender e

divulgar o evento, também são apontadas com um grau dificuldade relevante, muito em virtude

da falta de recursos para poder por em prática elementos cênicos, artísticos e culturais de

abrangência, ainda maior.

Apesar de ter alcançado âmbito nacional, a PARATUR, por exemplo, passou a incluir o

Auto do Círio no calendário de eventos turísticos da cidade de Belém, seus organizadores ainda

se queixam de uma maior valorização por parte das autoridades, inclusive, na logística para sua

realização.

Os fatores determinantes para manter a capacidade de atração do evento, como apresentados na Tabela 26, são apontados todos como de grande e igual relevância.

23 Esta empresa, que tem como uma das suas estratégias de marketing, a veiculação de uma campanha publicitária

chamada de “Momento Vale” associando aspectos de “responsabilidade social” da empresa com a cultura e a preservação ambiental no estado do Pará, adotou o Auto do Círio na sua primeira campanha.

71

Tabela 26 - Dificuldades Encontradas e Fatores Competitivos Relacionados à Realização do Evento

Dificuldade encontrada pela empresa Descrição

Baixa Média Alta 1. Contratar empregados qualificados X 2. Custo da mão-de-obra X 3. Comprar produtos de qualidade X 4. Produzir com qualidade X 5. Divulgar e vender seus produtos e serviços X 6. Custo ou falta de capital de giro X 7. Custo ou falta de capital para aquisição de insumos e equipamentos

X

8. Dificuldades relacionadas as instalações X 9. Pagamento de empréstimos e juros de empréstimos

Fatores Determinantes para Manter a Capacidade Competitiva/Atratividade do Evento Descrição

Baixa Média Alta 1. Localização da entidade/grupo X 2. Capacidade de criação de novos atrativos/ventos X 3. Estratégias de divulgação e comercialização X 4. Qualidade dos equipamentos X 5. Qualidade dos artistas (músicos etc) X 6. Infra-estrutura do atrativo X 7. Cultura Local X

Fonte: pesquisa de campo

Características das Inovações

As inovações, que ocorrem durante o espetáculo, são apontadas como o elemento

fundamental, não só para manter a atração do evento, com conseqüente atração de público, com

apresentado na Tabela 27, mas também o próprio sentido de ser do processo criativo que permeia

a realização das oficinas. Deste modo o impacto da inovação abrange todos os aspectos do

evento enquanto elemento cultural que tem como proposta ser inovador.

As fontes de informação refletem este caráter inovador, sem perder as raízes culturais e a

motivação original do evento. Assim, tem pouca relevância como fonte de informação eventos

congêneres, mas têm grande relevância as informações oriundas do processo de criação oriundo

das oficinas (fontes internas) e o “feedback” do público em suas várias fases. Além disso,

também como espelho do retorno do público alvo, são muito importantes as informações

colhidas junto à internet e meios de comunicação, que em diversas formas de mídia expressam

como a população vê o espetáculo.

72

Tabela 27 - Impacto da Inovação e Fontes de Informação para o Aprendizado Impacto da Inovação Descrição

Baixa Média Alta 1. Maior qualidade do evento cultural X 2. Permitiu atrais mais espectadores X 3. Permitiu a conquista de novo tipo de espectadores X 4. Permitiu a redução de custos de insumos/matéria-prima 5. Permitiu reduzir o impacto sobre o meio ambiente 6. Permitiu obter maior reconhecimento X 7. Permitiu obter novas fontes de recursos X

Fontes de informação para o aprendizado Descrição

Baixa Média Alta Fontes internas X

Fontes externas 1. Fornecedores de insumos (equip, materiais) 2. Público/espectadores e clientes X 3. Concorrentes/congêneres X 4. Órgãos de comunicação (TV, Rádio, jornal) X 5. Órgãos do poder público (prefeitura, secretarias) X 6. Outras entidades/grupos

artísticos/culturais/religiosos X

7. Empreendimentos relacionados ao turismo X 8. Universidades e institutos de pesquisas X 9. Centros de capacitação profissional, artística e

técnica X

10. Conferências, cursos, publicações especializadas 11. Feiras, exibições e lojas 12. Encontros de lazer (clubes, restaurantes etc) 13. Associações, sindicatos etc 14. Órgãos de apoio e promoção X 15. Informações da internet ou via computador X

Fonte: Pesquisa de campo. A realização de capacitação para a realização do evento está inserida na própria lógica de

sua fase de preparação. Por isso, a realização de cursos livres e a absorção de pessoas no arranjo

e, mesmo fora dele são de suma importância, como pode ser visualizado na Tabela 28.

Importante destacar, que a partir de 2002, como os cursos livres, objeto das oficinas são dados

por professores e em universidade reconhecida – Universidade Federal do Pará, o Ministério da

Educação passou a reconhecer esses cursos como Cursos Técnicos e Profissionalizantes.

Observa-se, como apresentado na Tabela 28 que os cursos não são apontados como de

grande relevância para aumentar a capacitação na melhoria e modificações não rotineiras, bem

como nas atividades administrativas e organizacionais. São apontados como de relevância média

no aumento das capacidades quanto às técnicas produtivas e para envolver novos atrativos, bem

como conhecimento do público-alvo.

Ainda, quanto a Tabela 28, percebe-se, que ainda, falta um reforço dos empreendimentos

para valorizar o evento como um vento turístico.

73

Tabela 28 - Realização de Treinamento e Capacitação e Avaliação de seus Resultados Treinamento e Capacitação durante os últimos três anos

– 2003 a 2005 Descrição Baixa Média Alta

1.Cursos livres e oficinas oferecidas pela própria entidade/grupo

X

2. Cursos livres e oficinas oferecidos por outros 3. Cursos técnicos realizados no arranjo X 4. Cursos técnicos fora do arranjo 5. Absorção de pessoal atuante no arranjo ou próximo X 6. Absorção de pessoal atuante fora do arranjo X

Melhora das capacitações como resultado do processo de treinamento e aprendizado Descrição

Baixa Média Alta 1.Melhor utilização de técnicas produtivas/gestão das

atividades ou eventos X

2.Maior capacitação para realização de modificações e melhorias (não rotineiras) no atrativo da entidade/grupo

X

3.Melhor capacitação para desenvolver novos atrativos, produtos e serviços

X

4. Maior conhecimento sobre o público alvo X 5.Melhor capacitação administrativa/organização da atividade/grupo

X

Avaliação dos Parceiros da Cooperação Descrição Baixa Média Alta 1.Fornecedores de insumos (equipamentos, materiais) X 2.Público/espectadores e clientes X 3.Concorrentes/congêneres 4.Órgãos de Comunicação X 5.Órgãos do poder público (prefeituras, secretarias) X 6.Outras entidades/grupos artísticos/culturais X 7.Empreendimentos relacionados ao turismo X 8.Universidades e institutos de pesquisa X 9.Centros de capacitação profissional, artística e técnica 10.Associações e sindicatos etc 11.Órgãos de apoio e promoção 12. Órgãos de financiamento Fonte: Pesquisa de campo.

Quanto ao item relativo às vantagens locacionais da realização do evento no caso na

Região Metropolitana de Belém, no âmbito das festividades do Círio de Nazaré, é destacado no

Quadro 11, que a cultura local é o aspecto fundamental, como não poderia deixar de ser, muito

embora entre suas características, ainda possa ser melhor incentivada seu aspecto promocional.

Quanto à participação e a avaliação das políticas públicas, conforme Tabela 29, observe-

se uma avaliação positiva das atuações do governo federal e municipal, em que pese o “Projeto

do Auto do Círio” poder contar com recursos oriundos das Leis de Incentivo a Cultura nestes

âmbitos de governo. Não obstante, foi atribuída, uma avaliação negativa da atuação do governo

estadual, não só porque, o projeto não pode receber recursos da Lei SEMEAR (do estado), mas

porque este tem dado pouco incentivo às iniciativas do Auto do Círio.

74

Verifica-se, ainda, na Tabela 29, que as políticas apontadas como que melhor poderiam

contribuir com a atividade seriam aquelas relativas a infra-estrutura, financiamento, capacitação,

preservação do patrimônio e promocional.

Tabela 29 - Vantagens Locacionais Vantagens do Ambiente Local Descrição

Baixa Média Alta 1. Disponibilidade de pessoal qualificado X 2. Proximidade com os fornecedores de matéria prima e equipamentos

X

3. Cultura Local X 4. Fama/reputação do local X 5. Divulgação do APL/atração de clientes/espectadores X 6. Infra-estrutura física (energia, transporte, comunicação, espaço para o evento)

X

7. Disponibilidade de serviços técnicos especializados X 8. Existência de programas de apoio e promoção

Vantagens Relacionadas à Cultura Local Descrição Baixa Média Alta 1.Preservação/valorização de aspectos culturais X 2.Melhoria das Condições de Realização de espetáculos X 3. Preservação de características do ambiente X 4. Divulgação do Atrativo e do APL X

Fonte: Pesquisa de campo.

Tabela 30 - Participação e Avaliação das Políticas Públicas Conhecimento e Participação em Programas Públicos

Instituição/esfera governamental/avaliação* Não tem conhecimento

Conhece, mas não participa

Conhece e participa

1. Governo Federal 1 2. Governo Estadual 2 3. Governo local/municipal 1 4. SEBRAE 3

Políticas Públicos para a Promoção do Evento Descrição Baixa Média Alta 1. Melhorias na educação básica X 2. Programas de capacitação profissional X 3. Melhoria da infra-estrutura física e do conhecimento X 4. Elaboração de normas para a preservação das

características típicas do APL X

5. Promoção de eventos públicos X 6. Linhas de crédito e outras formas de financiamento X 7. Criação de entidade local para gerir música e turismo X 8. Divulgação do APL X 9. Programa de acesso a informação, documentação etc X 10. Elaboração de código urbano de posturas públicas Fonte: Pesquisa de campo. Nota*: O conhecimento ou não de programa governamental naquela esfera de governo, é

marcado segundo a seguinte numeração indicativa, quanto a sua avaliação: avaliação positiva: 1; avaliação negativa: 2; sem elementos para avaliação: 3.

75

3.1.8. A Festa das Filhas da Chiquita É uma festa que acontece ao lado de um dos mais tradicionais bares boêmios da cidade: o

Bar do Parque situado na Praça da República, que é trajeto da procissão da Transladação e

Procissão Principal do Círio.

É realizada desde 1978, sempre na noite da Transladação, com início programado após a

passagem da Imagem da Santa (Berlinda) pelo local.

Sua origem remonta um bloco carnavalesco – “Filhas da Chiquita” formado por

homossexuais e simpatizantes entre os anos de 1975 e 1976. Em 1977, por ocasião da Festa de

Santo Antônio Casamenteiro no Bar do Parque, foi entregue pela primeira vez os prêmios de

“Veado de Ouro” e “Rainha do Círio”, o primeiro sempre para um homossexual, enquanto o

segundo sem fazer tal distinção. A entrega deste prêmio marca o início também, neste mesmo

ano, da chamada “transveadação”, que foi o percurso do veado de ouro do bairro da Cidade

Velha até o Bar do Parque. Em 1978, a festa foi transferida para o sábado da Transladação. Em

1997 foi criada uma nova premiação: “Botina de Ouro”, destinado a um homossexual mulher.

No roteiro da festa, segue a apresentação de vários grupos com musicas populares do

Pará e grupos regionais, como o carimbó. Além disto, é aberto espaço para a música eletrônica,

onde um grupo de DJ’s faz a mistura de ritmos.

Quando da origem da festa ela tinha um sentido de contestação, hoje ela também

representa um movimento de cidadania do Movimento GLS (Gay, Lésbicas e Simpatizantes), na

busca de igualdade e solidariedade. Este lema e foco no movimento gay e minorias têm sido

buscado, ainda, que hoje em dia a festa já alcança outros seguimentos da sociedade, sem

distinção da opção sexual. É uma festa popular, que segundo estimativas pela concentração na

Praça da República e dos transeuntes que param para assisti-la pelo menos de passagem

ultrapassa as 500 mil pessoas.

Dinâmica de Funcionamento

A organização da festa é realizada pela classe artística de Belém, especialmente pela

figura do cantor e compositor Eloi Iglesias, que há treze anos está à frente do evento.

Para obtenção de financiamento a organização da festa teve que obter personalidade

jurídica. Para esse fim foi criada a Companhia Paraense de Performance, que tem o caráter de

uma organização científica, artística e cultural.

A entidade conta com cinco profissionais regulares e cinco contratados por serviços

prestados para a realização específica para certas atividades do evento, como a parte relativa à

montagem do palco, iluminação e som.

76

Das dez pessoas ocupadas com a realização do evento cerca de 15% possui curso

superior, 50% possui ensino médio completo, 15% ensino fundamental completo e 15% ensino

fundamental incompleto.

Na produção do evento, existe uma parte puramente organizacional, como o projeto,

inclusive, com logotipo e logomarca da festa para aquele ano, que é submetido para obter

recursos, em caráter de convênio, com o governo do estado, bem a eliminação de certos entraves

burocráticos para sua realização como, por exemplo, a concessão das licenças públicas junto a

CTBEL, DPA, SEMA e, ainda, ECAD.

Outras atividades dizem respeito á construção de logística para o funcionamento da festa.

A incluem-se a parte relativa a estrutura de palco, a iluminação, sonorização, telão, decoração,

material publicitário entre outros.

A última parte envolve a festa propriamente dita, como a contratação dos músicos,

confecção dos prêmios, contratação de segurança privada entre outros.

O orçamento, neste último ano, foi de R$ 24.700,00, tendo como fonte de recursos,

convênio firmado com o governo do estado.

Dificuldades e Fatores Competitivos relacionadas à realização do evento

As dificuldades apontadas de maior relevância na organização do evento estão a falta de

capital de giro e a falta de capital para aquisição de insumos e equipamentos. Isto está

relacionado não só devido à necessidade de mobilizar uma maior soma de recursos, mas também

porque limita as possibilidades de realização de um evento de maiores proporções e de qualidade

superior.

Entre os fatores de importância média é destacada a produção com qualidade, que embora

seja uma preocupação constante de seus organizadores é diretamente limitada pela restrição dos

recursos.

Na Tabela 31 todos os fatores são apontados de alta relevância para manter a capacidade competitiva, atratividade do evento.

77

Tabela 31 - Dificuldades Encontradas e Fatores Competitivos Relacionados à Realização do Evento

Dificuldade encontrada pela empresa Descrição Baixa Média Alta

1. Contratar empregados qualificados 2. Custo da mão-de-obra X 3. Comprar produtos de qualidade 4. Produzir com qualidade X 5. Divulgar e vender seus produtos e serviços X 6. Custo ou falta de capital de giro X 7. Custo ou falta de capital para aquisição de insumos e equipamentos

X

8. Dificuldades relacionadas às instalações X 9. Pagamento de empréstimos e juros de empréstimos

Fatores Determinantes para Manter a Capacidade Competitiva/Atratividade do Evento Descrição

Baixa Média Alta 1. Localização da entidade/grupo X 2. Capacidade de criação de novos atrativos/eventos X 3. Estratégias de divulgação e comercialização 4. Qualidade dos equipamentos X 5. Qualidade dos artistas (músicos etc) X 6. Infra-estrutura do atrativo X 7. Cultura Local X Fonte: pesquisa de campo

Características das Inovações

A cada ano há a necessidade de se buscar novas inovações que possam ser incorporadas

de forma regular tornando o evento mais atrativo. Assim, além de inovações inerentes ao

processo criativo, como por exemplo, a idealização de um logotipo e uma logo marca para a

festa; a decoração e a estrutura do palco devem seguir o tema da festa para aquele ano.

Como é antes uma festa de ritmos musicais (valorizando o popular regional), a sempre

uma preocupação com a qualidade musical, seguindo a tendência musical da época. Assim, por

exemplo, foi incluído no roteiro musical, a musica eletrônica, com a participação de DJs.

Além disso, tradicionalmente tem-se introduzido novos prêmios, inclusive, para

entidades, como, no ano de 2006 do prêmio “Veado Tombado”, que foi entregue ao Instituto do

Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural – IPHAN, exatamente, por ter reconhecido no ano de

2004, a Festa da Chiquita como Patrimônio Imaterial cultural ligado ao Círio de Nazaré.

Entre os impactos da inovação, são destacados a atração de novos espectadores, bem

como de espectadores de outro perfil. De fato, se no início a festa voltava-se apenas para a

comunidade gay e certas minorias, hoje atende um público muito mais diversificado, que vêem

na festa um momento de entretenimento, independentemente de sua conotação.

As fontes de informação para realização do evento guardam uma profunda relação entre

os organizadores e os parceiros já tradicionais na realização do evento e o feedback dado pelo

78

público. Todavia, o processo de criação, como um ato de aprendizado coletivo, torna também as

fontes internas como de vital importância.

Tabela 32 - Impacto da Inovação e Fontes de Informação para o Aprendizado Impacto da Inovação

Descrição Baixa Média Alta

1. Maior qualidade do evento cultural X 2. Permitiu atrais mais consumidores/espectadores X 3. Permitiu a conquista de novo tipo de espectadores X 4. Permitiu a redução de custos de insumos 5. Permitiu reduzir o impacto sobre o meio ambiente X 6. Permitiu obter maior reconhecimento (prêmios etc) X 7. Permitiu obter novas fontes de recursos X

Fontes de informação para o aprendizado Descrição

Baixa Média Alta Fontes internas X Fontes externas 1. Fornecedores de insumos (equip, materiais) X 2. Público/espectadores e clientes X 3. Concorrentes 4. Órgãos de comunicação (TV, Rádio, jornal) 5. Órgãos do poder público (prefeitura, secretarias) X 6. Outras entidades/grupos artísticos/culturais/ X 7. Empreendimentos relacionados ao turismo 8. Universidades e institutos de pesquisas X 9. Centros de capacitação profissional X 10. Conferências, cursos, publicações especializadas X 11. Feiras, exibições e lojas X 12. Encontros de lazer (clubes, restaurantes etc) X 13. Associações, sindicatos etc X 14. Órgãos de apoio e promoção X 15. Informações da internet ou via computador X Fonte: Pesquisa de campo

Não existe um esforço formal de capacitação ou treinamento para de funcionários e/ou

organizadores para a realização do evento. Todavia, esporadicamente são realizadas algumas

atividades nessa direção por algum membro da organização, sempre visando a incorporação de

maiores recursos a festa para atrair absorver um maior número de espectadores.

Como retratado na Tabela 31, é dada muita importância aos parceiros na realização do

evento. De fato, existem parceiros tradicionais como entidades ligadas à classe artística e ONGS

que trabalham em defesa de minorias. Além disso, existem certos fornecedores tradicionais entre

entidades privadas que patrocinam o evento, bem como o poder público.

79

Tabela 33 - Realização de Treinamento e Capacitação e Avaliação de seus Resultados Treinamento e Capacitação durante os últimos três

anos 2003 a 2005 Descrição Baixa Média Alta

1. Cursos livres e oficinas oferecidas pela própria entidade/grupo

X

2. Cursos livres e oficinas oferecidos por outros X 3. Cursos técnicos realizados no arranjo X 4. Cursos técnicos fora do arranjo X 5. Absorção de pessoal atuante no arranjo ou próximo X 6. Absorção de pessoal atuante fora do arranjo X

Melhora das capacitações como resultado do processo de treinamento e aprendizado Descrição

Baixa Média Alta 1. Melhor utilização de técnicas produtivas/gestão das

atividades ou eventos X

2. Maior capacitação para realização de modificações e melhorias (não rotineiras) no atrativo da entidade/grupo

X

3. Melhor capacitação para desenvolver novos atrativos X 4. Maior conhecimento sobre o público alvo X 5. Melhor capacitação para administrativa/organização X

Avaliação dos Parceiros da Cooperação Descrição

Baixa Média Alta 1. Fornecedores de insumos (equipamentos, materiais) X 2. Público/espectadores e clientes X 3. Concorrentes 4. Órgãos de Comunicação 5. Órgãos do poder público (prefeituras, secretarias) X 6. Outras entidades/grupos artísticos/culturais X 7. Empreendimentos relacionados ao turismo 8. Universidades e institutos de pesquisa X 9. Centros de capacitação profissional, artística e técnica X 10.Associações e sindicatos etc X 11.Órgãos de apoio e promoção X 12. Órgãos de financiamento Fonte: Pesquisa de campo

Vantagens Locacionais

Vários são os aspectos de natureza locacional que influenciam positivamente na

realização do evento como destacados na Tabela 34. A cultura local é o aspecto de maior

importância dentre eles, não só porque a festa segue a motivação religiosa do Círio de Nazaré,

envolto a esta cultura local, como também, é finalidade do próprio evento valorizar esta cultura

local em diferentes formas de expressão artística.

80

Tabela 34 - Vantagens Locacionais Vantagens do Ambiente Local

Descrição Baixa Média Alta

1. Disponibilidade de pessoal qualificado X 2. Proximidade com os fornecedores de matéria prima e eq. X 3. Cultura Local X 4. Fama/reputação do local X 5. Divulgação do APL/atração de clientes/espectadores X 6. Infra-estrutura física física. X 7. Disponibilidade de serviços técnicos especializados X 8. Existência de programas de apoio e promoção X

Vantagens Relacionadas à Cultura Local Descrição

Baixa Média Alta 1. Preservação/valorização de aspectos culturais (artísticos) X 2.Melhoria das Condições de Realização de espetáculos X 3. Preservação de características do ambiente X 4. Divulgação do Atrativo e do APL X Fonte: Pesquisa de campo

A avaliação dos Programas e ações institucionais atuantes na atividade, como

apresentado na Tabela 35, aponta como de avaliação positiva a atuação do governo do estado.

No entanto, são muitas as políticas enfatizadas como de grande relevância para o

desenvolvimento do evento, especialmente, aquelas que de uma maneira ou outra valorizem o

evento, como um evento cultural que pode trazer benefícios econômicos, como por exemplo,

para o setor turístico.

Tabela 35 - Participação e Avaliação das Políticas Públicas Conhecimento e Participação em Programas Públicos

Instituição/esfera governamental Não tem conhecimento

Conhece, mas não participa

Conhece e participa

1. Governo Federal 3 2. Governo Estadual 1 3. Governo local/municipal 3 4. SEBRAE 3

Políticas Públicos para a Promoção do Evento Descrição Baixa Média Alta 5. Melhorias na educação básica X 6. Programas de capacitação profissional X 7. Melhoria da infra-estrutura física e do conhecimento X 8. Elaboração de normas para a preservação das

características típicas do APL X

9. Promoção de eventos públicos X 10. Linhas de crédito e outras formas de financiamento X 11. Criação de entidade local para gerir música e turismo X 12. Divulgação do APL X 13. Programa de acesso a informação, documentação etc X 14. Elaboração de código urbano de posturas públicas X Fonte: Pesquisa de campo.

81

3.2. O turismo e a grande transumância do Círio: sua demografia O turismo, entendido como um deslocamento de contingentes humanos a locais

específicos e com prazos de permanência relativamente curtos visando a contemplação,

relaxamento, diversão e outros sentimentos não vividos no cotidiano da vida moderna é uma

atividade recente na história da humanidade. Segundo Boyer, a tendência de massificação do

turismo teria ocorrido entre os séculos XVIII e XX, derivado do discurso terapêutico-higienista

dos médicos europeus que acreditavam “na virtude das águas e no valor terapêutico da

temporada estival das estações termais” (BOYER, 2003).

Sua expansão em nível global ocorreu pari passu ao desenvolvimento de tecnologias de

transporte e comunicações no século XX que facilitaram a redução dos custos de informação e

deslocamento. Somente após o término da segunda Guerra Mundial o turismo de massa se

estabelece de forma intencional e organizada como fonte de renda e endogeneização de divisas

externas transformando a estrutura de economias, gerando aglomerações de atividades

especializadas, empregos diretamente relacionados ao turismo e propiciando desenvolvimento

nos espaços com elevado grau de atração de fluxos de pessoas (SILVA, 2001).

Para Urry, o turismo teria sua dinâmica atrelada a imagem, aos modos de olhar, à

capacidade de captar ações e reações diferentes da dinâmica cotidiana, que, interagindo com

outros fatores econômicos e sociais direciona fluxos de pessoas pela criação e recriação dos

desejos e das necessidades (URRY, 1990). Este momento do indivíduo/cidadão transmutado

como turista teria uma característica de consumir os espaços, eventos e culturas de forma intensa

e efêmera, suprindo rapidamente suas necessidades. O consumo efêmero tenciona à renovação

das vontades que logo serão revisitadas para novas experiências inusitadas, em um dialético

movimento de necessidade, consumo e novas necessidades.

Estimativas apontam para uma produção turística global de aproximadamente 3,4 trilhões

de dólares no ano 2000, com elevadas taxas de crescimento anual (próximo de 10%) (SILVA,

2001). Em função desta dinâmica, diversos governos e instituições públicas e privadas têm

criado incentivos para o turismo. A atividade passou a ser vista como uma excelente

oportunidade de desenvolvimento regional e local, em função da atração de excedentes de outros

espaços, internalizando renda externa e estruturando novas atividades com impactos diretos nos

níveis de produção, emprego e arrecadação tributária. Considerando a relativa imobilidade na

expansão dos componentes internos da demanda agregada no Brasil (gastos do governo,

investimento e consumo), a captação de excedentes externos como saldo positivo de balança de

pagamentos representaria uma importante injeção de recursos que poderia propiciar o

82

desenvolvimento de uma região com baixo dinamismo de suas estruturas econômicas

tradicionais.

A rigor, o turismo funcionaria como uma nova função de produção com novos

fundamentos técnicos, muitas vezes reorganizando espaços e matrizes de geração de renda local.

Tais conformações exigem novas institucionalidades. Neste sentido, em 2003 foi criado o

Ministério do Turismo no Brasil, com o discurso de “desenvolver o setor, criar mais empregos,

gerar divisas, reduzir as desigualdades regionais e redistribuir a riqueza”. O plano nacional de

turismo 2003-2007 tem como objetivo a elevação da participação articulada da sociedade, das

esferas de governo e da iniciativa privada em busca de ofertar um produto turístico com

qualidade e estimular o seu consumo nos mercados nacional e internacional, diversificando e

estruturando os destinos turísticos, em um modelo de gestão regional e local (BRASIL, 2003). A

retenção de excedentes endógenos na criação de atrações turísticas internas e captação de

excedentes exógenos poderiam canalizar recursos para a construção de novas estruturas

produtivas nos setores de serviços e comércio direta e indiretamente atrelados ao turismo.

Os turistas quando decidem quais espaços irão visitar se apóiam na oferta de atrativos que

possam lhe garantir satisfação e bem-estar na sua estadia. Estes atrativos podem ser diversos:

ambientais, históricos, culturais, religiosos, infra-estruturais, etc. Contudo, em qualquer das

intenções, o efetivo deslocamento depende da disponibilidade de modais de transporte que

interliguem o espaço turístico aos centros demandantes, bem como a oferta de equipamentos de

infra-estrutura de hospedagem, de alimentação/comensalidade, acessibilidade aos pontos e

eventos de interesse, preços competitivos, segurança dentre outros.

3.2.1. Turismo religioso e devoção católica

No caso específico do Círio de Nazaré, diversos autores mencionam a capacidade de

atração de centenas de milhares de visitantes para acompanhar o evento, no segundo domingo de

outubro (MOREIRA, 1971; ALVES, 1980; BONNA, 1993; AMARAL, 1998; CAPELAS

JUNIOR, 2003; SILVEIRA, 2004; ALVES, 2005; FIGUEIREDO, 2005; PANTOJA, 2006;

PINTO, s.d.;). A motivação seria o maior evento religioso do mundo, o Círio de Nossa Senhora

de Nazaré que aglomera 2,0 milhões de fiéis/peregrinos/romeiros nas principais ruas de Belém.

Estas pessoas são classificadas segundo a EMBRATUR, PARATUR e acadêmicos das ciências

turísticas como turistas religiosos.

Definiu-se na Conferência Mundial de Roma (1960) que o turismo religioso é

compreendido pelo movimento de peregrinos em viagens pelos mistérios da fé ou da devoção a

algum santo (SILVEIRA, 2004), ou seja, o deslocamento voluntário a locais sagrados,

83

seminários de evangelização, festas religiosas, espetáculos e eventos teatrais de cunho religioso.

Portanto seria o deslocamento em direção a espaços sacralizados ou que gerenciem uma

temporalidade sagrada.

Andrade define turismo religioso como “o conjunto de atividades, com utilização parcial

ou total de equipamentos e a realização de visitas a receptivos que expressam sentimentos

místicos ou suscitam a fé, a esperança e a caridade aos crentes ou pessoas vinculadas a religiões”

(ANDRADE, 2000).

Para Steil, a partir da consolidação do mercado e do consumo como forma de

sociabilidade, a religião perde as coordenadas que a fixavam em um determinado arranjo social.

Os espaços sagrados atraindo milhares de pessoas passam a conter não apenas elementos de fé,

crença e peregrinação, mas também comunicação, desejos, consumo, comércios e ritos

simbólicos mais ligados ao mercado do que à magia. Formata-se um novo arranjo social, onde

práticas de deslocamento e consumo são acopladas à religião, como se indissociáveis fossem, em

uma sociedade onde as trocas materiais e simbólicas estão no centro das relações (STEIL, 1998).

Parece se distinguir duas situações. Em uma o visitante é devoto, absorve a oportunidade

como um seu produtor, a vivencia como parte indissociável da sua produção e reprodução.

Noutra tal há uma total emancipação do visitante em relação ao espaço sagrado e outras formas

de compromisso que mantinham laços sólidos. O turismo se estabelece como elemento

contemplativo, mais ligado a festa, ao consumo e ao prazer do que a participação com devoção e

sobriedade aos rituais religiosos. Num caso, o visitante romeiro/peregrino/fiel se desloca para o

espaço-tempo sagrado para orar/rezar, pagar promessas, buscar bênçãos, sofrer, contemplar,

participar de romarias, fazer pedidos. Este visitante está fortemente ligado ao evento,

participando ativamente, conhecendo seus sentidos, seus códigos e seus símbolos. O consumo

muitas vezes não é seu principal objetivo, sendo uma ação marginal. Suas relações com o evento

sagrado são de entrega simbólica, pois é um importante momento (talvez o último de sua vida)

de renovar seus contratos com a divindade. No outro, o visitante é um consumidor de espetáculo,

é agente de um sistema completamente exógeno e alienado em relação ao sistema em questão.

No nosso caso, apoiados em Marcel Mauss, poderíamos afirmar que em eventos como o

Círio, que representam a troca simbólica entre homens e divindades, onde o fiel se entrega para

pagar ex-votos ou pedir uma graça julgada quase impossível de se alcançar pela mão dos

homens, os turistas religiosos, ou visitante devoto, com participação ativa são territorializados, se

sentindo identificados com o movimento social circundante – o que os inscreveria na “sociedade

nazarena” -, a qual a Santa vê não individualmente, mas como um corpus social a qual protege e

envia suas bênçãos e seus presentes. A participação do turista como fiel gera laços comunitários

84

e cria ligações que o mantém atrelado ao espaço sagrado, com fortes tendências de retorno ao

evento.

Por sua parte, o visitante turista não controla o código do evento religioso, seus símbolos,

seus sentidos e a sua cultura. Sua participação é passiva e marginal, não estando no local sagrado

para penitência ou reverência à divindade, mas para relaxar, consumir, experimentar novas

emoções. Ele não está comprometido com o evento, está no máximo envolvido. Ele consome os

espaços e os momentos, fotografando, filmando e observando. Sua passagem será efêmera. Não

cria laços, pois está desterritorializado. Participa e observa, mas não absorve a cultura. O seu

sentido não evoca a relação de trocas simbólicas, apesar de achar inusitado observar os fiéis em

sua peregrinação e sofrimento. O turista religioso geralmente está de férias e seu objetivo maior

é o prazer, o relaxamento. Não se busca dor, sofrimento e compromissos, pois estas emoções são

sentidas em outras esferas da vida social. Sendo footloose, seus desejos logo se saciarão e seu

foco será redirecionado. As chances de retorno para o mesmo espaço sagrado são menores que

dos visitantes fiéis.

3.2.2. Para além do Turismo: a demografia do Círio

Incorporando as considerações acima, o Círio implica em grande mobilização de pessoas.

Há uma composição nessa massa que interessa distinguir, em primeiro lugar, entre o que é local

e o que é visita; em segundo lugar, entre o que é visita com envolvimento cultural (movimento

endógeno) e o que é visita elienada (exógeno).

O que se fará em seguida é um esforço para estimar esses componentes da flutuação

populacional no Ciclo Nazareno.

Para tanto, partiu-se dos seguintes pressupostos:

1. Os visitantes que vêm para Belém por causa do Círio participam, todos, da grande

procissão. Portanto, se entendermos as características e composição desta multidão,

entendemos a demografia do período;

2. Os participantes da procissão do Círio (designaremos de conjunto I) se subdividem em 4

subconjuntos, agrupados em dois outros de maior ordem:

i. O composto por residentes no Pará (que chamaremos de E):

a. Nestes, os residentes na mesorregião Metropolitana de Belém (D) e

b.Os paraenses de outras mesorregiões do Pará (F)

ii. O composto por não-residentes no Pará (G):

a. Que se hospedam na rede hoteleira (J) e

b.Que não se hospedam na rede hoteleira (K)

85

3. Os cálculos da Polícia Militar para a massa presente na principal procissão (I), o Círio de

Nazaré propriamente, que se realiza no segundo domingo de outubro, está basicamente

correto. O valor de I é, pois, dado.

4. Os participantes do Círio que residem no Pará (E) provêm da população católica do Pará

e, portanto, a distribuição de E por origem é fundamentalmente influenciada pela

distribuição da população católica no Estado (ver colunas A e A% na Tabela 35);

5. Em princípio, os católicos residentes no Pará gostariam de participar do Círio, sendo o

desejo mais ou menos intenso na razão direta da intensidade da influência cultural do

Pará Colonial; a capacidade efetiva de realizar tal desejo, todavia, dependente das

dificuldades impostas pela distância física: a proximidade cultural com Belém influencia

diretamente e os custos de participação inversamente. Considerando o efeito conjunto

desses vetores, chegamos a um fator Grau de Dificuldade (ver Coluna B, na Tabela 36),

que atua inversamente na realização do desejo de ir ao Círio. Este fator pondera

(dividindo, porque influência “liquida” inversa) a População Católica (coluna A),

encontrando uma População Potencial para o Círio (C). A distribuição relativa de C,

C%, será a distribuição relativa dos residentes no Pará (E) que participam da grande

procissão. Se tenho o valor de E e o vetor C%, posso encontrar os valores de D e F.

Tabela 36 – Estimativa da distribuição relativa da população paraense presente na procissão do Círio de Nazaré

População Católica do Pará em 20001

Mesorregiões Absoluto

(A) Relativo

(A%)

Grau de Dificuldade2

(B)

População potencial para o

Círio (C=A/B)

Distribuição dos participantes do Círio originados

do Pará (%C)

Baixo Amazonas 500.980 11% 4 125.245 5% Marajó 287.901 6% 2 143.951 6% Metropolitana de Belém (D) 1.482.972 32% 1 1.482.972 59% Nordeste Paraense 1.188.983 26% 2 594.492 24% Sudoeste Paraense 287.879 6% 8 35.985 1% Sudeste Paraense 821.060 18% 6 136.843 5% Total do Pará (E) 4.569.775 100% 2.519.487 100% Fonte: 1 IBGE. 2 Resultante da repulsão produzida pela distância/custo de transporte corrigido pelo grau de

aproximação cultural com o epicentro do evento.

6. O valor de G, o número de visitantes de Belém por causa do Círio, que não se originam

no Pará, é uma grandeza crítica. Os visitantes que perfazem esta grandeza são aqueles

que vêm para a Cidade no mês de outubro por razões diferentes das que explicam a vinda

de pessoas, de origens semelhantes, nos outros meses do ano. Fizemos o fluxo agregado

de passageiros para Belém por via área, rodoviário, rodoviário autônomo e fluvial para

86

todos os meses do ano nos anos de 2003, 2004 e 2005 (conf. Tabela 2). Digamos que os

que vêm por motivos normais fazem a média mensal dos fluxos mensais. E os que vêm

por razões extraordinárias num mês qualquer são representados pela diferença entre o

fluxo daquele mês e a média. Há três meses com acentuada diferença em relação à média,

pela ordem: julho, dezembro, janeiro e outubro. Os fluxos adicionais de entrada em

Belém de dezembro-janeiro e julho resultam das saídas de belemenses para férias (pois

residente que sai, volta): o fenômeno inverso do que queremos captar. Os fluxos de

retorno dos belenenses em férias de julho ou de fim de ano têm o efeito de inflacionar a

média e reduzir a importância do fluxo de outubro. Assim, não devemos considerar a

média dos 12 meses como sendo a expressão das razões normais que trazem visitantes

para Belém. O correto é expurgar os fluxos de julho, dezembro e janeiro e considerar a

expressão do “normal” como sendo a média das entradas dos nove meses restantes.

Assim, os visitantes que em outubro vêm por razões que não são as normais – que vêm,

pois, para o Círio (G), são a diferença entre o fluxo do mês e essa média (ver última linha

da Tabela 37).

Tabela 37 – Estimativa dos visitantes de Belém provindos de outros estados e países no mês de

outubro, presumivelmente para participar do Círio de Nazaré 2003 2004 2005 Média

Janeiro(d) 383.811 449.710 469.367 434.296

Fevereiro 310.720 404.515 417.010 377.415

Março 317.906 362.071 402.367 360.781

Abril 343.479 387.911 381.291 370.893

Maio 294.699 403.302 402.543 366.848

Junho 341.788 407.137 401.857 383.594

Julho(a) 573.273 635.060 643.461 617.264

Agosto 385.375 426.173 442.250 417.933

Setembro 336.829 382.277 416.513 378.540

Outubro(b) 371.076 446.167 465.476 427.573

Novembro 367.557 429.642 429.443 408.881

Dezembro(c) 453.189 518.142 518.482 496.604

Total (e) 4.479.702 5.252.105 5.390.058 5.040.624

Média para os doze meses do ano 373.308 437.675 449.171 420.052

Média sem julho, dezembro e janeiro f=(e-c-a-d)/91 341.048 405.466 417.639 388.051

Visitantes de fora do Pará para o Círio(G=b-f) 30.028 40.701 47.837 39.522

Fonte: INFRAERO, ARCON e SINART-NORTE.

87

7. E = I – G. I é dado conforme item 3. G é estimado conforme item 6, Tabela 2. O valor de

E é distribuído pelas diversas regiões do Pará mediante %C, na Tabela 35. Como

resultado imediato se tem a parcela da Metropolitana de Belém na freqüência do Círio

(D) e, em conseqüência, a parcela das outras regiões do Pará (F=E-D).

8. O valor de J, a parcela dos que se hospedam na rede hoteleira entre os que visitam Belém

por causa do Círio, que não se originam no Pará, é dado estatisticamente pela variação

absoluta entre o valor de outubro e a média de todo o ano (conf. Tabela 38).

Tabela 38 – Estimativa dos visitantes de Belém provindos de outros estados e países no mês de

outubro, presumivelmente para participar do Círio de Nazaré, que se hospedam na rede hoteleira

2002 2003 2004 Média Janeiro 43.188 56.208 67.941 55.779 Fevereiro 39.470 52.339 71.557 54.455 Março 53.037 54.610 82.276 63.307 Abril 50.245 60.418 77.283 62.649 Maio 56.106 63.801 88.516 69.474 Junho 45.658 53.112 91.935 63.568 Julho 56.087 65.714 85.483 69.095 Agosto 58.219 33.897 102.407 64.841 Setembro 53.143 67.102 90.127 70.124

Novembro 52.689 70.707 102.089 75.162 Dezembro 44.557 54.614 82.929 60.700 Total 606.766 706.350 1.051.910 788.342 Média(B) 50.564 58.863 87.659 65.695 Hóspedes em outubro por causa do Círio (C=A-B) 3.802 14.966 21.707 13.492

Outubro(A) 54.366 73.829 109.366 79.187

Fonte: Calculado pelos autores a partir do BOH fornecido pela PARATUR.

9. A parcela dos que não se hospedam na rede hoteleira e, por suposto, se hospedam em

casas de amigos e parentes, ou de particulares não cadastrados no órgão de turismo, é K=

G-J, G calculado conforme item 6 e J conforme item 8.

Os resultados da aplicação dessa metodologia estão na Tabela 39.

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Tabela 39 – Estimativa das participantes do Círio por origem e condição Anos

20001 2001 2002 2003 2004 2005

Baixo Amazonas 81.300 86.274 88.690 90.472 92.427 97.043 Marajó 93.442 99.159 101.936 103.984 106.231 111.537 Metropolitana de Belém (D) 962.634 1.021.532 1.050.140 1.071.237 1.094.385 1.149.044 Nordeste Paraense 385.899 409.510 420.978 429.436 438.715 460.627 Sudoeste Paraense 23.359 24.788 25.482 25.994 26.556 27.882 Sudeste Paraense 88.828 94.263 96.903 98.850 100.986 106.030 Total de romeiros do Pará (E=I-G) 1.635.462 1.735.526 1.784.129 1.819.972 1.859.299 1.952.163 De Belém (D) 962.634 1.021.532 1.050.140 1.071.237 1.094.385 1.149.044 Do Pará não Belém (F=E-D) 672.828 713.994 733.989 748.735 764.914 803.118

De Fora do Pará (G) 14.5382 14.4742 15.8712 30.0283 40.7013 47.8373

Em hotel (J) 3.8026 14.9666 21.70763.4834 3.4675 28.0957

Em casa de familiares (K=G-J) Total dos visitantes em Belém (H=F+G) 687.366 728.468 749.860 778.763 805.615 850.956

11.055 11.007 12.069 15.062 18.994 18.994

Participantes do Círio (I) 6 1.650.000 1.750.000 1.800.000 1.850.000 1.900.000 2.000.000 População adicional em Belém no mês do círio [L = (H*6,3)/30] 143.804 152.403 156.878 162.925 168.543 178.028 População da mesorregião metropolitana de Belém 2.086.551 2.144.453 2.203.961 2.265.122 2.327.978 2.392.579 Fonte: 3 – 1 O valor de E distribuído conforme última coluna da Tabela 35. 2 Fonte: Paratur. 3 Tabela 2, última

linha. ; 6 - Fonte: Polícia Militar do Estado do Pará e DIEESE. 4 (Jde2002)/(Hde2002)*Hde2000; 5 (Jde2002)/(Hde2002)*Hde2001 6 Tabela 3 (última linha); 7 (Hde2005 - Hde2004) +Jde2004; Destacam-se os seguintes pontos:

1. A Mesorregião Metropolitana de Belém tem participado com algo em torno de 58% da

multidão do Círio. Isso tem significado que a cada 2 habitantes de Belém, 1; e a cada três

católicos de Belém, 2 acompanham o Círio.

2. Os Romeiros de outras mesorregiões do Pará, que não a Metropolitana de Belém,

participam com aproximadamente 40%, dos quais, 57% do Nordeste Paraense, 14% da

Região da Ilhas, 13% do Sudeste Paraense, 12% do Baixo Amazonas e 3% do Sudoeste

do Pará.

3. Os visitantes de fora do Pará constituem minoria no total de visitantes de Belém, porém

sua participação cresceu substancialmente nos últimos anos, saindo de 2,1% para 5,1%

em 2004 e 5,6% no ano seguinte.

4. Igualmente, tem crescido nos últimos anos a participação dos que se hospedam na rede

hoteleira comparativamente a todos que provêm de outros estados: de 24% nos três

primeiros anos, passou para 49,8% em 2003, 53,3% em 2004 e 60,3% em 2005.

5. As considerações feitas em 1, 2 e 3 contrariam pesquisas pré-existentes. Há duas

pesquisas da Companhia Paraense de Turismo – Paratur que apresentam aspectos do

perfil do “turista do Círio”, mas só a primeira trata da origem dos paraenses no Círio,

89

baseada numa única amostra de 2.500 viajantes em 4 pontos de saída da cidade: Terminal

Rodoviário, Aeroporto Internacional de Belém, Galpão 10 da CDP e BR – 316. Esta

opção controla bem os nodais aeroviário e rodoviário, mas deixa completamente em

aberto mais de uma dezena de outros pontos de saída fluvial, inclusive os mais

importantes para o Baixo Tocantins, para o Salgado e a Região das Ilhas, precisamente as

regiões culturalmente mais tradicionais de todo o Estado e, portanto, mais próximas ao

culto da Virgem de Nazaré e de Belém. Tal viés influiu de tal modo nos resultados que

quando descrimina a participação de paraenses no Círio os patrocinadores da pesquisa

assim se reportam: “Dos visitantes oriundos em outras cidades do Estado do Pará, 38,7%

eram da cidade de Santarém, 17,4% da Marabá, 9,6% de Altamira, 8,1% de Capanema,

7,0% de Bragança, 4,4% de Paragominas, 4,1% de Itaituba, 3,7% de Monte Dourado,

3,7% de Parauapebas e 3,3% de Colares.” (Governo do Pará, 2003:9). Considerando que

o total dessas percentagens é 100%, o documento está dizendo que, da mesorregião

Nordeste Paraense, ninguém do Baixo Tocantins, ninguém do Salgado e muito pouca

gente da Estrada esteve presente no Círio de 2003; que também ninguém das Ilhas esteve

presente. Isso é simplesmente impossível. Pela probabilidade que calculamos, daí devem

se deslocar nada menos que 35% de toda a multidão de paraenses, incluindo os da Região

Metropolitana de Belém, que acompanham o Círio.

4. A economia do Círio de Nazaré de Belém

A economia do Círio de Nazaré de Belém tem três componentes: 1) o impacto na

economia que resulta da flutuação populacional de Belém derivada estritamente das festividades;

2) o aumento do consumo do habitante de Belém resultante do “espírito nazareno” e 3) os gastos

diretos resultantes da produção dos eventos.

4.1.O impacto de consumo dos visitantes

Sobre a demografia do Círio de Nazaré, fundamenta-se a principal parcela da economia

do Círio. Isto é, o movimento de pessoas em torno do ciclo de festividades produz impactos nos

diversos setores e para os diversos agentes da economia de Belém. Para o cálculo, considerou-se

o seguinte:

1. Cada visitante provoca um consumo adicional na cidade, o que implica em receita direta

de algum setor de sua economia. Este dispêndio pode não ser diretamente arcado pelo

visitante – poderá ser arcado pelo seu anfitrião – mas é real e impacta a economia;

90

2. Segundo pesquisa da Paratur de 2003, tais dispêndios diários seguiram os seguintes

padrões médios: Lembranças e Outras Compras R$ 14,58; Alimentação (Restaurantes e

Bares) R$ 29,81; Transporte R$ 42,32 e Hospedagem R$ 49,47 (informações

apresentadas em US$ de outubro de 2003 pelo Governo do Pará, convertidos pelos

autores para R$ de 2004)

3. Segundo pesquisa da Paratur de 2004 os visitantes ficam em média 6,3 dias em Belém24.

4. Considerou-se, ademais:

a. Que a alimentação em residências é aproximadamente 2/3 dos dispêndios da

alimentação em restaurantes e bares, atingindo R$ 20,87 diários;

b. Que os gastos com transporte coletivo atingem a metade dos gastos com táxis e

outros meios, sendo o gasto diário estimado em R$ 21,16;

c. Que os visitantes do Pará de fora de Belém e os de fora do Pará hospedados em

residências repartem a alimentação 50% em Bares e Restaurantes e 50% em

Residências;

d. Do mesmo modo descrito em b se comportam em relação ao transporte: 50% Taxi

e Outros e 50% Coletivo;

e. Que só os visitantes hospedados em hotéis pagam hospedagem.

4.1.1. Impactos diretos

De posse desses elementos produziram-se estimativas de compras por tipo de visitantes e

de receita por setor. Os resultados estão na Tabela 40 a preços constantes de 2004.

24 Há diferenças entre o tempo de permanência dos visitantes em Belém nas duas pesquisas patrocinadas pela

Paratur em 2003 e 2004: respectivamente, 7,3 dias e 6,3 dias por visitante. Entendemos que o resultado da segunda pesquisa é mais aderente com a realidade porque nela se obtiveram duas amostras: além da que resultou do controle dos mesmos pontos de saída da pesquisa anterior, que deixa fora grande parte dos visitantes provindos das regiões mais tradicionais, como já se demonstrou acima, uma segunda amostra consistiu da aplicação de questionários durante a Trasladação e a Procissão do Círio, dando chance a que a grande massa que se desloca por vias não facilmente controláveis se expressasse nas estatísticas resultantes. Lamentavelmente, o texto não apresenta as dimensões das duas amostras, os métodos respectivos de monitoramento e controle da seleção dos entrevistados e os métodos de integração das duas. Mas parece óbvio, que não obstante prováveis vieses, a pesquisa de 2004 incorpora mais uma parcela dos componentes do universo que na primeira está completamente ausente. Ver Governo do Pará, 2003 e 2004.

91

Tabela 40 – Estimativa dos dispêndios dos participantes do Círio e correspondentes receitas dos diversos setores da economia de Belém (R$ a preços constantes de 2005)

2000 2001 2002 2003 2004 2005 Dispêndios dos visitantes de Belém por ocasião do Círio1

Partic. Do Pará que não Belém F$1302.604.103 321.118.613 330.111.465 336.743.314 344.019.900 361.202.176

Partic. De fora do Pará G$=J$+K$ 7.948.788 7.913.796 8.677.618 19.565.800 27.095.685 33.195.053 Em hotel (J$) 2.976.658 2.963.554 3.249.590 12.791.521 18.553.090 24.652.458 Em casa de familiares (K$) 4.972.130 4.950.242 5.428.029 6.774.279 8.542.595 8.542.595Total de Visitante/Romeiros H$ = F$+G$ 310.552.892 329.032.409 338.789.083 356.309.115 371.115.585 394.397.229

Receitas/Produto por sub-setores da economia de Belém2

Lembranças e outras compras4

Setor: Comércio em Geral 62.899.706 66.660.905 68.618.473 71.263.337 73.720.516 77.869.532Alimentação – Restaurant. e Bares5

Setor: Serviços Alimentação 64.627.589 68.471.194 70.503.704 74.251.895 77.394.455 82.303.536Alimentação - Nas Residências6

Setor: Serv. Com. De Alimentos 44.783.196 47.475.727 48.854.655 50.016.269 51.333.209 53.834.954Transporte - Táxis Outros7

Serviçcos: Transporte 91.749.063 97.205.666 100.091.136 105.412.285 109.873.644 116.842.860Transporte - Coletivo8

Setor: Serviços Transporte 45.412.010 48.142.349 49.540.638 50.718.563 52.053.995 54.590.867Hospedagem9

Setor: Serviços Hotelaria 1.081.328 1.076.568 1.180.476 4.646.766 6.739.766 8.955.479Total 310.552.892 329.032.409 338.789.083 356.309.115 371.115.585 394.397.229

Notas: 1 As variáveis de linha A$, J$ e K$ combinam respectivamente os valores de A, J e K na Tabela 4 com as especificações dos itens 2 a 5. 2 Os valores para os setores (variáveis de linha) as especificações dos itens 2 a 5 e as submete aos valores da Tabela 4.

Deles se deve destacar o seguinte:

1. Em valores reais de 2004 o impacto direto de dispêndios e receitas adicionais na

economia de Belém chega próximo aos R$ 400 milhões, crescendo, do ano de 2000 a

2005, a uma taxa de 4,7% a.a.

2. O grupo de visitantes com maior expressão nesses valores é que provém de outras

regiões do Pará. A participação vem decrescendo nos últimos quatro anos, saindo de

98% em 2001 para 92% em 2005.

3. Os que vêm de fora do Pará têm em contrapartida participação crescente graças aos

que vêm utilizando a rede hoteleira da cidade: eles deixam de representar 1% e nos

três últimos anos avança para 4%, 5% e 6%, respectivamente.

4. O principal item de dispêndio é o relativo a alimentação movimentando dois sub-

setores de serviços: o de Bares e Restaurantes (inclusive seu componente de

entretenimento), com aproximadamente 21% e do de Supermercados e Feiras com

próximo de 14%.

5. Compra de souvenirs e outras, movimentando o comércio em geral, participa com

20%;

6. Os gastos com transporte compreendem, nas diversas modalidade, 34%.

92

7. Todos os itens apresentam estabilidade. Apenas o item hospedagem teve

multiplicada por 7 sua participação: saindo de 0,3% para 2,3%.

Os dispêndios diretos constituem base de remuneração dos fatores envolvidos e, portanto,

de formação do valor adicionado: Salários, Lucros e Impostos. Calculamos essas variáveis a

partir dos seguintes procedimentos:

1. Tomaram-se da pesquisa com os balanços de 10.000 empresas em todos os estados e em

todos os setores conduzida e publicada pela Gazeta Mercantil (Gazeta Mercantil, 2004)

os dados de Receita, Lucro e Receita por Trabalhador. Tomaram-se as estatísticas da

SEAGEP/RAIS para cálculo do salário médio por setor em Belém.

Tabela 41 – Parâmetros para estimação do Valor Adicionado nas receitas totais obtidas pelos setores da economia de Belém por ocasião do Círio

Tarifas fiscais

Salário Médio Mensal no Setor em Belém, 20042

Receita Anual por Trabalha-

dor3

Taxa de Lucro sobre

Receita3

ICMS ISS

Lembranças e outras compras4

Setor: Comércio em Geral 340,25 126.470 1,90% 8,5% Alimentação – Restaurantes e Bares5

Setor: Serviços Alimentação 326,94 29.220 0,80% 1% Alimentação - Nas Residências6

Setor: Serviços Com. De Alimentos 340,25 141.010 1,90% 8,5% 1% Transporte - Táxis Outros7

Serviços: Transporte 731,82 68.834 0,80% 1% Transporte - Coletivo8

Setor: Serviços Transporte 736,71 40.460 0,80% 1% Hospedagem9

Setor: Serviços Hotelaria 422,88 32.390 0,80% 1% Fonte: MTE/SEAGEP/RAIS.3–Gazeta Mercantil–Balanço Anual de 10.000 empresas, 2004.

2. Cálculo da Massa de Salários: de posse dos parâmetros da Tabela 41 se calcula: Número

de Trabalhadores =Receita do Setor na Tabela 40/ Receita por Trabalhador do Setor na

Tabela 41;Massa de Salário = Número de Trabalhadores * Salário Médio na Tabela 41.

3. Cálculo da Massa de Lucro: Massa de Lucro = Taxa de Lucro sobre Receita na Tabela

41*Receita do Setor na Tabela 5.

Assim, estimaram-se séries das variáveis ocupações criadas em função do Círio (Tabela

42), massa de salários (Tabela 43), massa de lucros (Tabela 44) e valor adicionado (Tabela 45).

93

Tabela 42 – Estimativa da evolução do número de ocupações geradas na economia de Belém no mês do Círio (número de ocupações)

Anos

2000 2001 2002 2003 2004 2005 Lembranças e outras comprasSetor: Comércio em Geral 5.968 6.325 6.511 6.762 6.995 7.389 Alimentação – Rest. e BaresSetor: Serviços Alimentação 26.541 28.120 28.954 30.494 31.784 33.800 Alimentação - Nas ResidênciasSetor: Com. De Alimentos 3.811 4.040 4.158 4.256 4.368 4.581 Transporte - Táxis OutrosServiçcos: Transporte 15.995 16.946 17.449 18.377 19.155 20.370 Transporte – ColetivoSetor: Serviços Transporte 13.469 14.279 14.693 15.043 15.439 16.191 HospedagemSetor: Serviços Hotelaria 401 399 437 1.722 2.497 3.318 Total 66.185 70.108 72.202 76.653 80.238 85.649 Fonte: Estimativa dos autores.

Tabela 43 – Estimativa da evolução da massa de salários gerados na economia de Belém no

mês do Círio (R$ constantes de 2004) Anos

2000 2001 2002 2003 2004 2005 Lembranças e outras comprasSetor: Comércio em Geral 2.030.679 2.152.107 2.215.306 2.300.694 2.380.022 2.513.971,00 Alimentação – Rest. e BaresSetor: Serviços Alimentação 8.677.275 9.193.339 9.466.236 9.969.490 10.391.428 11.050.549,79 Alimentação - Nas ResidênciasSetor: Com. De Alimentos 1.296.718 1.374.681 1.414.608 1.448.244 1.486.376 1.558.815,28 Transporte - Táxis OutrosServiçcos: Transporte 11.705.395 12.401.551 12.769.681 13.448.556 14.017.739 14.906.874,88 Transporte – ColetivoSetor: Serviços Transporte 9.922.493 10.519.070 10.824.595 11.081.971 11.373.762 11.928.066,69 HospedagemSetor: Serviços Hotelaria 169.411 168.666 184.945 728.008 1.055.918 1.403.052,92 Total 33.801.970 35.809.414 36.875.372 38.976.962 40.705.245 43.361.331

Fonte: Estimativa dos autores.

Tabela 44 – Estimativa da evolução da massa de lucros gerados na economia de Belém no mês do Círio (R$ constantes de 2004)

Anos

2000 2001 2002 2003 2004 2005 Lembranças e outras comprasSetor: Comércio em Geral 1.195.094 1.266.557 1.303.751 1.354.003 1.400.690 1.479.521 Alimentação – Rest. e BaresSetor: Serviços Alimentação 517.021 547.770 564.030 594.015 619.156 658.428 Alimentação - Nas ResidênciasSetor: Com. de Alimentos 850.881 902.039 928.238 950.309 975.331 1.022.864 Transporte - Táxis OutrosServiçcos: Transporte 733.993 777.645 800.729 843.298 878.989 934.743 Transporte – ColetivoSetor: Serviços Transporte 363.296 385.139 396.325 405.749 416.432 436.727 HospedagemSetor: Serviços Hotelaria 8.651 8.613 9.444 37.174 53.918 71.644 Total 3.668.935 3.887.762 4.002.517 4.184.549 4.344.516 4.603.927 Fonte: Estimativa dos autores.

94

Tabela 45 – Estimativa da evolução do valor adicionado (salários mais lucros) gerado na economia de Belém no mês do Círio (R$ constantes de 2004)

Anos

2000 2001 2002 2003 2004 2005 Lembranças e outras comprasSetor: Comércio em Geral 3.225.774 3.418.664 3.519.057 3.654.697 3.780.712 3.993.492 Alimentação – Rest. e BaresSetor: Serviços Alimentação 9.194.295 9.741.109 10.030.266 10.563.505 11.010.584 11.708.978 Alimentação - Nas ResidênciasSetor: Com. de Alimentos 2.147.598 2.276.720 2.342.847 2.398.553 2.461.707 2.581.679 Transporte - Táxis OutrosServiçcos: Transporte 12.439.387 13.179.196 13.570.410 14.291.854 14.896.728 15.841.618 Transporte – ColetivoSetor: Serviços Transporte 10.285.789 10.904.209 11.220.920 11.487.719 11.790.194 12.364.794 HospedagemSetor: Serviços Hotelaria 178.062 177.278 194.389 765.182 1.109.836 1.474.697 Total 37.470.905 39.697.176 40.877.889 43.161.510 45.049.760 47.965.258 Fonte: Estimativa dos autores.

4.1.2. Impactos indiretos Os dispêndios dos visitantes representam ampliação exógena da demanda do lugar

visitado, Belém. As compras diretas representam, entretanto, um primeiro movimento de uma série sucessiva e infinita de novos dispêndios: os gastos com alimentação em restaurantes, por exemplo, têm uma parcela que será despendida nos supermercado e feiras; outra parte, a dos salários, também será em grande medida gasta em supermercado e feiras. Mesmo a parte de lucros, também terá uma parcela despendida em supermercados e feiras. E assim por diante. Pos seu turno, os supermercados e os vendedores nas feiras utilizarão parte do que recebem com a venda para comprar produtos agrícolas a intermediários, que por sua vez compram de agricultores, etc. O que os supermercados pagam em salários e os ganhos dos feirantes se transformarão em compras, e assim por diante. Essa corrente infinita de transações que se originam de um gasto exógeno (um gasto extraordinário que provém de consumo de agentes de outras economias ou de investimentos produtivos dos agentes desta ou de outras economias) leva a que, ao final, o primeiro gasto seja apenas um termo de uma sucessão infinita de gastos. Tal série pode ser descrita como uma progressão geométrica infinita cuja razão é a propensão dos agentes da economia em questão para consumir, i.e. de fazerem novos gastos com o que ganham. Se, por exemplo, em média, os membros de uma economia gastam 50% do que ganham, a sua propensão a consumir seria de 0,5. Ao final, o total da renda de um gasto extraordinário, digamos de R$ 1,00, nesta economia, seria a soma dos termos de uma progressão geométrica infinita, cujo primeiro termo seria 1, a razão e a seria 0,5. Há uma fórmula para resolver este problema:

Total da Renda = Gasto Extraordinário x [1/(1-Propensão a Consumir)]

No nosso problema, o gasto extraordinário de R$ 1,00 produziria:

25,01

111

1=

−•=•=

−•= kG

bGY (1)

95

Em que Y é o Total da Renda, G os gastos extraordinários, k o multiplicador da renda e b

a propensão a consumir. No exercício proposto, seriam R$ 2,00 a renda total derivada dos gastos

diretos de R$ 1,00: o impacto direto do gasto, de R$ 1,00, mais os efeitos indiretos no corpo da

economia que gerariam mais R$ 1,00 de renda. Esse fenômeno se projeta sobre as outras

variáveis fundamentais da economia: sobre o emprego, sobre os salários e sobre os lucros. A isso

Keynes chamou de efeito multiplicador de um gasto exógeno. É fácil de observar que o efeito é

tanto maior, quanto maior a propensão a consumir, considerando que esta é sempre um valor

menor que 1 e maior que zero.

Não temos as estruturas matriciais da economia de Belém que nos permitiriam obter os

seus multiplicadores: de renda ou produto, de emprego, de salário e de lucro. Mas temos

Matrizes de Contabilidade Social para o Estado do Pará para o ano de 1999 (Santana, Filgueiras,

Santos, Andrade Jr, Rocha, 2005). Os multiplicadores que nos importam são, com base naquele

estudo, os apresentados na Tabela 46.

Tabela 46 – Multiplicadores dos setores afetados pelos gastos os visitantes do Círio de Nazaré (com base em MCS de 1999)

Setores Multiplicador do Produto Multiplicador do Emprego Comércio 3,4228 2,6885 Transporte 2,9989 2,2836 Outros Serviços (inclui Turismo) 3,8673 4,0792 Fonte: Santana et alii, 2005:153.

4.1.3. Impactos totais dos gastos dos visitantes Se considerarmos que esses multiplicadores são válidos para o ano de 2005 e que as

proporções entre salários e lucros e produto (receita total bruta) são as verificadas para os valores

das Tabelas 39, 42 e 43 naquele ano poderíamos sugerir que o valor total dos efeitos diretos e

indiretos dos dispêndios dos visitantes do Círio seriam os apresentados na Tabela 47, onde se

acrescem também estimativas de receita fiscal, obedecendo aos seguintes critérios: para ICMS a

alíquota de 8,5%, aplicados ao valor adicionado (Salário mais Lucros) dos setores de comércio,

com o que se atinge a proporção da carga tributária de 1,3% do PIB, provável em 2005 a partir

da tendência para os valores verificados para 2000 a 2003 do ICMS arrecadado em Belém,

informados pelo Governo do Pará, e os PIB municipais do IBGE (segundo essas fontes, a

proporção ICMS/PIB, no município de Belém, sai de 3% no primeiro ano, atingindo 1,6% dois

últimos, sendo 2003 o último ano para o qual o IBGE estima PIB municipal); para o ISS a

alíquota de 1% sobre o valor adicionado dos setores de serviço, com o que se atinge a carga

tributária de 0,86% do PIB para impostos municipais (conf. Machado, 2002:56).

96

Tabela 47 – Estimativa para 2005 das variáveis macroeconômicas considerando os efeitos diretos e indiretos dos gastos dos visitantes do Círio de Nazaré (com base nos multiplicadores da Tabela 12), em R$ de 2005

Receita Fiscal

Receita Total/Produto

/VBP

Ocupações no mès1

Massa Salários2

Massa de Lucro3

Valor Adicionado/PIB/Renda I

CMS I

SS Lembranças e comprasSetor: Comércio em Geral

266.531.834

19.864

8.604.820 5.064.105 13.668.925 1.189.810

Alimentação – Rest. e BaresSetor: Serviços Alimentação

318.292.466

137.878

42.735.791 2.546.340 45.282.131 454.217 Alimentação – ResidênciasSetor: Comerc. de Alimentos

184.266.281

12.317

5.335.513 3.501.059 8.836.572 748.963

Transporte – Táxis e OutrosServiços: Transporte

350.400.053

46.516

44.704.227 2.803.200 47.507.427 468.388

Transporte – ColetivoSetor: Serviços Transporte

163.712.552

36.974

35.771.079 1.309.700 37.080.780 367.684

HospedagemSetor: Serviços Hotelaria

34.633.523

13.534

5.426.027 277.068 5.703.095 57.183

Total

1.317.836.710

267.083

142.577.457 15.501.473 158.078.930 1.938.773 1.347.471 Fonte: Estimativas dos autores. 1 Trata-se de ocupações formais e informais, equivalentes em horas-extra e expansão

do tempo de trabalho da força de trabalho familiar, em todos os setores que de algum modo se relacionam com a economia de Belém 2 Considerou-se os mesmos salários médios das estimativas da Tabela 8, aplicados ao emprego estimado considerando o multiplicador de emprego da Tabela 46. 2 Considerou-se as mesmas relações lucro/produto utilizadas para as estimativas da Tabela 9.

Estes resultados são compatíveis com a variação sazonal absoluta do mês de outubro da

arrecadação real de ICMS do Governo do Estado em relação a média no ano de 2005: R$ 2.963.482,77 (conf. Tabela 48, segunda coluna), indicando a consistência das estimativas. Os visitantes de Belém explicariam 65% da arrecadação extraordinária (acima da média anual) do mês de outubro. O que explicaria os demais 35% da variação positiva da renda no mês de outubro? A isto nos dedicaremos no próximo segmento.

Tabela 48 – Arrecadação mensal de ICMS pelo Governo Estadual em Belém e no Pará no ano

de 2005 em R$ correntes, variações absolutas em relação à média, índices de sazonalidade e sazonalidade autônoma de Belém

Belém Pará (menos Belém) Sazonalidade autônoma de Belém

Arrecadação

De ICMS

Variação absoluta em

relação à média

Ind. Sazonalidade

(A)

Arrecadação De ICMS

R$

Variação absoluta

em relação à média

Ind. Sazonali-

Dade (B)

C = (A – B)

+1

Variação absoluta

autônoma de Belém

Janeiro 12.509.406 (1.098.002) 0,92 225.499.646 1.450.956 1,01 0,9128 (1.186.125) Fevereiro 11.243.608 (2.363.800) 0,83 185.890.607 (38.158.083) 0,83 0,9966 (46.301) Março 9.806.088 (3.801.320) 0,72 195.813.856 (28.234.834) 0,87 0,8467 (2.086.501) Abril 10.171.958 (3.435.450) 0,75 198.690.138 (25.358.552) 0,89 0,8607 (1.895.320) Maio 11.048.243 (2.559.164) 0,81 212.138.489 (11.910.201) 0,95 0,8651 (1.835.808) Junho 11.090.739 (2.516.668) 0,82 227.189.352 3.140.662 1,01 0,8010 (2.707.414) Julho 14.854.351 1.246.943 1,09 221.493.330 (2.555.360) 0,99 1,1030 1.402.140 Agosto 15.202.398 1.594.990 1,12 226.056.687 2.007.997 1,01 1,1083 1.473.036 Setembro 18.972.259 5.364.851 1,39 286.049.677 62.000.987 1,28 1,1175 1.599.274

16.570.891 2.963.483 1,22 237.764.283 13.715.593 1,06 1,1566 2.130.478 Novembro 15.351.074 1.743.666 1,13 230.803.380 6.754.690 1,03 1,0980 1.333.426 Dezembro 16.467.880 2.860.472 1,21 241.194.835 17.146.145 1,08 1,1337 1.819.116 Média 13.607.408 (D) 224.048.690

R$

Outubro

Fonte: Governo do Pará - Secretaria Executiva de Fazenda. Cálculos dos autores.

97

4.2.A economia do Círio: os efeitos derivados da condição de “Natal dos Paraenses” É recorrente a referência à condição de “Natal dos Paraenses” atribuída à festa do Círio.

Com efeito, as famílias confraternizam de modo efusivo no domingo do Círio, no qual o “almoço

do Círio” tem o status de grande ágape que reúne os extensos grupos familiares, marcando o

reencontro de muitos e os sentimentos de pertencimento de muitos.

Nos importa neste momento as implicações dessa condição de Natal, do Círio, no

comportamento das pessoas. Nos importa ver a relevância econômica desse fenômeno social. De

imediata, é sensorialmente perceptível uma inquietação que leva à compra da roupa nova, à

pintura ou mesmo reforma da casa, à reforma do carro, à compra do equipamento doméstico

novo para viabilizar a recepção dos muitos parentes, etc. Os gastos associados a esses eventos

não são exógenos, como os que elucidamos acima – eles resultam de uma disposição

extraordinária dos belenenses de adquirir certos bens, nesse período. Do ponto de vista da

formação da renda global, o significado da condição de natal provém de uma presumível

elevação da propensão a consumir (um aumento b, na equação 1).

A variação na renda derivada das festividades do Círio tem, assim, além do impacto

direto (G, na equação 1) e dos efeitos indiretos (resultante dos incrementos derivados do

multiplicador k associado a uma propensão “normal” b, na equação 1) dos gastos dos visitantes,

um outro componente, derivado da elevação do consumo dos residentes locais (para b*),

motivada por razões ligadas ao evento. Acima chegamos às duas primeiras dessas parcelas. O

que dizer a respeito da parcela restante? O que ela representa? A resposta teórica é: ela consistirá

do valor da variação total da renda resultantes do Círio menos as parcelas já encontradas.

E qual é a variação total da renda de Belém que se deve ao Círio? É possível responder

também a isso: é a variação total do período do Círio menos o que dessa variação pode ser

explicado por outras razões que não o Círio. Que outras razões poderão ser essas? Resposta: as

razões da economia envolvente, sobretudo da economia do Estado do Pará. O Círio ocorre na

última fase do período de estiagem (verão) da Amazônia, no qual as grandes safras se realizam:

há, nesse período, um grande esforço de extração madeireira e há a safra da fruticultura e do

extrativismo vegetal de coleta, com destaque para o Açaí. Belém é o centro para onde converge

grande parte dessa produção, tendo sua economia diretamente por isso impactada. Se queremos

verificar qual a variação que se deve ao Círio, temos que entender por igual qual a que se deve a

outros fatores e separar, uma da outra.

98

Gráfico 1 – Comparação da sazonalidade da arrecadação mensal de ICMS em Belém e no resto do Pará no ano de 2005 em R$ correntes (Índice de Sazonalidade)

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

1,6Janeiro

Fevereiro

Março

Abril

Maio

Junho

Julho

Agosto

Setembro

Outubro

Novembro

Dezembro

Estado do Pará, exceto Belém Belém

Fonte: Tabela 48. A variação total do período do Círio – O Ciclo da Economia de Belém. Temos na

arrecadação de ICMS uma proxy robusta para observar os movimentos sazonais da economia da

cidade de Belém. Tal movimentação ao longo do ano de 2005 é descrita pelo Índice de

Sazonalidade de Belém, na Tabela 48. O mesmo ocorre em relação à economia do resto do

Estado, cujo Índice de Sazonalidade encontra-se na coluna (B) da mesma tabela.

Correspondendo à expectativa, os movimentos em Belém são fortemente influenciados pela

economia do resto do Estado, de modo que as oscilações desta são em parte acompanhadas por

aquela (conf. Gráfico 1). Para se saber o que se passa por determinação exclusiva de fatores

localizados em Belém, como por exemplo, o Círio de Nazaré, temos que retirar (subtrair) da

sazonalidade de Belém, a sazonalidade do resto do Pará.

A variação específica produzida pelo Círio – O Ciclo do Círio. O índice resultante

(Índice de Sazonalidade Autônoma da Economia de Belém) descreve os movimentos resultantes

exclusivamente dos eventos da própria cidade. Por ele (ver Gráfico 2) torna-se evidente não

apenas o destaque de outubro, mas a conformação de um ciclo que inicia em agosto e termina em

novembro, tendo seu ápice em outubro, mês do Círio, o Natal dos Paraenses. Em dezembro, mês

99

do Natal propriamente dito, há uma variação positiva que atinge, porém, o nível do mês de

setembro – o mês imediatamente pré-Círio. Em janeiro, o movimento já é inferior à média.

Gráfico 2 – Sazonalidade Autônoma da arrecadação mensal de ICMS em Belém (Índice de Sazonalidade)

0,7

0,75

0,8

0,85

0,9

0,95

1

1,05

1,1

1,15

1,2

Jane

iro

Feve

reiro

Mar

ço

Abr

il

Mai

o

Junh

o

Julh

o

Ago

sto

Sete

mbr

o

Out

ubro

Nov

embr

o

Dez

embr

o

Fonte: Tabela 48.

Estimativas do impacto do Natal dos Paraenses. A variação da arrecadação de ICMS do

mês de outubro derivada, por suposto, das condicionantes associadas ao Círio, é de R$

2.130.478,00 (conf. Tabela 48, última coluna). Nisso, a estimativa do tributo a partir dos efeitos

diretos e indiretos dos gastos dos visitantes, estimados em 3.3, no montante de R$ 1.938.773,00,

representam 91%. A parcela restante deverá ser resultado dos dispêndios dos próprios belenenses

– como derivação da condição de Natal dos Paraenses atribuível ao Círio.

Além dessa parcela, haveríamos que considerar a variação na arrecadação dos dois meses

que antecedem outubro como partes do ciclo do Círio. Nesse caso, o ICMS recolhido somaria R$

3.072.310,00 de ICMS (R$ 1.473.036,00 em agosto e R$ 1.599.274,00 em setembro).

Se considerarmos que esses gastos se fazem nos setores do comércio e a estrutura

distributiva desses setores seria a mesma a que se chegou na Tabela 47, temos a seguinte

estimativa das variáveis Produto Bruto, Emprego, Massa de Salários, Massa de Lucros e do

Valor Adicionado, conforme apresentado na Tabela 49.

100

Tabela 49 – Estimativa para 2005 das variáveis macroeconômicas considerando os efeitos diretos e indiretos dos gastos dos belenenses no Ciclo do Círio de Nazaré (efeito “Natal dos Paraenses”, em R$ de 2005

Receita Fiscal

Receita Total/

Produto/VBP Emprego1 Massa de Salários2 Massa de Lucro

Valor Adicionado -

PIB ICMS ICMS

Agosto 342.506.241 24.450,58 10.591.551 5.111.526 15.703.076 1.473.036 –

Setembro 371.858.750 24.249,64 11.499.238 5.549.580 17.048.817 1.599.274 –

Outubro 44.574.714 1.652,86 1.378.414 665.228 2.043.642 191.705 –

Total 758.939.705 28.113,40 23.469.202 11.326.334 34.795.536 3.264.015 –

Fonte: Estimativas dos autores. 1 Trata-se de ocupações formais e informais, equivalentes em horas-extra e expansão do tempo de trabalho da força de trabalho familiar, em todos os setores que de algum modo se relacionam com a economia de Belém 2 Considerou-se os mesmos salários médios dos setores de comércio utilizados nas estimativas anteriores.

4.3. A economia total do Círio de Nazaré de Belém Considerando, finalmente, os efeitos diretos e indiretos dos gastos dos visitantes, mais os

efeitos diretos e indiretos do Natal dos Paraenses, chega-se aos resultados da Tabela 50: tudo o que o ciclo do Círio representa para a economia de Belém e, por via de conseqüência, do Pará.

Tabela 50 – Estimativa para 2005 das variáveis macroeconômicas considerando os efeitos

diretos e indiretos dos gastos dos visitantes do Círio de Nazaré (com base nos multiplicadores da Tabela 48), em R$ de 2005

Receita Fiscal

Receita Total/Produto

/VBP Emprego Massa de

Salários Massa de Lucro Valor Adicionado/PIB ICMS ISS

Efeitos diretos e indiretos dos gastos exógenos provindos dos visitantes de Belém por ocasião do Círio

1.317.836.710 267.083 142.577.457 12.837.661 155.415.118 1.938.773 1.347.471

Efeitos diretos e indiretos dos gastos dos belenenses associados à condição de “Natal dos Paraenses” do Círio

758.939.705 28.113 23.469.202 11.326.334 34.795.536 3.264.015 –

Total do impacto econômico do Círio

2.076.776.415 295.196 166.046.659 24.163.995 190.210.654 5.202.788 1.347.471

Mediante tais números, os gastos diretos na produção do Círio (R$ 1,2 milhões de reais),

mais os gastos na produção do Arraial da Pavulagem ( ), mais os gastos na produção do Auto

do Círio ( ), mais, enfim, o orçamento da Festa das Filhas da Chiquita ( ), tornam-se de pouco

significado.

101

Considerações finais O Círio de Nazaré, como evento religioso, é o centro de um acontecimento mais amplo,

que designamos Círio de Nazaré de Belém: um momento do processo histórico da construção

social de um espaço-tempo simbólico estruturado por legítimas razões de fé, com o concurso

oportunista da alegria, da cultura, da política e do mercado.

A produção do Círio é um processo coletivo, no qual um centro estratégico de

coordenação e governança (Diretoria da Festa) desempenham o papel de preparar os símbolos e

os fiéis em diversas condições e papéis de produzir a vivência. O poder público ai coopera de

diversos modos – fornecendo recursos financeiros (hoje em torno de ½ do orçamento de R$ 1,2

milhões reais) e agentes para o controle das manifestações (milhares de bombeiros, policiais,

militares das forças armadas, etc.). As empresas, que se pretendem vistas como financiadoras

oficiais do evento, investem em imagem, hoje, o que corresponde a aproximadamente a outra

metade do orçamento. Todavia, o público é a força viva que dá sentido aos símbolos – ele produz

o Círio no sentido de que move e articula seus elementos pré-existentes, tangíveis e intangíveis,

lhes dando vida, construindo vivência. Os custos que envolvem sua participação são arcados

difusamente, cada qual tendo às suas expensas na forma de custos de deslocamento (monetizado

ou não) e acompanhamento (tempo, esforço despendido na presença).

O Círio de Nazaré, tratado como um sistema, revelou-se submetido à regulação por

princípios reprodutivos que combinam forças de expansão e de retração. Sob tais condições

demonstrou, todavia, grande capacidade adaptativa, reinstaurando, continuamente, nesses mais

de duzentos anos de reprodução, a sua capacidade de crescimento. Observado pelo número de

sua audiência, o sistema expandiu-se tendencialmente, não obstante apresentando ciclos

marcados por períodos mais céleres, outros mais lentos e fases de estagnação. O sistema superou

as fases de crise com inovações de grande significado para a sua operação ou para a sua gestão;

teve seus momentos de expansão mais notáveis quando se mostrou particularmente reforçado por

novidades e, ao contrário, reduzia a dinâmica quando, por falta de mudanças, os mecanismos de

auto-contenção se mostraram mais atuantes.

A fase mais recente inicia com uma crise de crescimento de audiência nos anos noventa e

um período subseqüente particularmente ativo em inovações. Baseada em estratégia que

combina extensão do tempo e do espaço do Círio, com a intensidade do uso do tempo e do

espaço estabelecido – i.e. ao mesmo tempo que amplia o número de viagens (procissões,

peregrinações, romarias, etc.) que santificam novos espaços, públicos (os confins de

Ananindeua, as águas do Guajará, etc.) ou privados (novenários, visitas a casas, visitas a

102

empresas, etc.), busca aumentar o número de presenças nessas viagens, a começar pela

recuperação da audiência da procissão matriz, o Círio de Nazaré (pelas inovações para a gestão

do tempo e do andamento, o que reduz o custo de produção difuso, arcado pelo público),

seguindo pelos novos atrativos em cânticos e falas.

Os resultados demonstram-se tanto na elevação da audiência total da procissão matriz e

do conjunto de romarias a taxas significativas, como na redução do custo (esforço social) por

unidade de audiência, seja quando medido por recursos monetários, seja quando avaliado por

tempo diretamente despendido na produção do evento. O sistema, neste momento, está se

expandido, portanto, elevando a sua eficiência reprodutiva.

O Círio de Nazaré fornece a audiência – e outras externalidades, como a predisposição de

organismos financiadores – para outras manifestações culturais. Três delas se destacam e foram

aqui tratadas: o Arrastão do Boi Pavulagem, o Auto do Círio e a Festa das Filhas da Chiquita.

Essas manifestações se caracterizam por baixo custo (respectivamente R$ 25.000,00,

R$180.000,00 e R$ 24.700,00), pela capacidade de crescimento e atração e pela intensa

capacidade de criar e inovar.

No período em que ocorre o Círio de Nazaré, o Arrastão do Boi Pavulagem, o Auto do

Círio, a Festa das Filhas da Chiquita e tantas outras manifestações e atrativos culturais a cidade

de Belém recebe um número impressionante de visitantes, que tem crescido extraordinariamente

nesta década: de 678.366 em 2000, passou para 850.956 em 2005. A maior parcela desse público

provém do próprio estado do Pará (672.828 no primeiro e 803.118 no último ano). A parcela que

mais cresce, porém, é a de visitantes de fora de Belém, a qual saiu de 14.438 para 47.837

(multiplicou por 3,5), puxada por turistas, digamos, autênticos, por se hospedarem em hotéis –

estes saíram de 3.483 para 28.095 (multiplicou por 8).

Estes números são a base de um momento importante da economia da cidade,

fundamentando o que aqui chamamos de economia do Círio de Nazaré de Belém, em que se

acresce um volume de transações diretas equivalentes (a preços constantes de 2005), em 2000, a

R$ 310,5 milhões de reais, em 2005, a R$ 394,4 milhões. Considerando os efeitos indiretos (os

multiplicadores keynesianos de renda), a Renda ou Receita Bruta Total de toda a economia foi,

em 2005, de R$ 1,3 bilhões, gerando um Valor Adicionado de R$ 158,1 milhões (R$ 142,6

milhões de salários, o que corresponderia a 267.083 ocupações no mês, e R$ 15,5 milhões de

lucro) e uma receita fiscal de R$ 3,3 milhões (ICMS R$ 1,9 e ISS R$ 1,3 milhões).

Estes números, impressionantes, são perfeitamente compatíveis com a variação sazonal

absoluta do mês de outubro da arrecadação real de ICMS do Governo do Estado em relação a

média no ano de 2005, R$ 2,96 milhões, e da sazonalidade líquida derivada exclusivamente do

103

Círio, de R$ 2,1 milhões. O que quer dizer que os visitantes de Belém explicam 65% da

arrecadação extraordinária total (acima da média anual) do ICMS do mês de outubro (em parte

explicado também pela elevação da circulação de produtos provindos da economia estadual por

inteiro) e 91% da variação que se deve exclusivamente aos eventos da cidade da cidade neste

período, é dizer, ao Círio de Nazaré de Belém.

Os demais 9% da variação sazonal (em função do Círio) do ICMS em outubro se

explicam pelo efeito “Natal dos paraenses”. Aliás, esse efeito foi captado desde agosto, levando

à estimativa de uma renda bruta total a ele associado de R$ 0,8 bilhões, o que corresponderia a

um Valor Adicionado de R$ 34,8 milhões de reais (R$ 23,5 milhões de salários e R$ 11,3

milhões de lucros) e a uma arrecadação de ICMS de R$ 3,2 milhões.

Enfim: a Economia do Círio de Nazaré de Belém corresponde a R$ 2,1 bilhões em

Renda/Receita Bruta Total, R$ 190,2 milhões de Valor Adicionado (R$ 166,0 milhões de

salários, para 295,1 mil ocupações, e R$ 24,2 milhões em lucros) e R$ 6,5 milhões em tributos

(R$ 5,2 ICMS e R$ 1,3 ISS).

Trata-se de uma grande economia, pois. Para a qual o estudo demonstrou não haver

políticas públicas deliberadas – apenas a cooperação dos governos, mediante pedido, por meio de

donativos orçamentários e desponibilização de agentes. Os donativos não atingem 10% da

arrecadação fiscal proporcionada pelo evento. E oscila com o humor e o oportunismo dos

governantes.

Por outro lado, também não há, por parte dos agentes privados mais ligados ao evento –

como os que atuam no turismo – uma mobilização coordenada e objetivada ao evento, uma vez

que sua importância para o APL é muito pontual: não vai além dos leitos necessários para

abrigar em torno de 50.000 pessoas por não mais que uma semana.

Os entrevistados indicaram forte carência de políticas públicas:

1. na melhoria da infra-estrutura física;

2. na melhoria da infra-estrutura de conhecimento;

3. na divulgação e promoção do evento;

4. na capacitação de profissionais ;

5. na promoção crescente de eventos culturais paralelos;

6. na elaboração de normas para a preservação das características típicas dos

diverso eventos;

7. na promoção de eventos públicos;

8. na criação de entidades locais para gerir música e turismo.

104

Observando, como um todo, a Economia do Círio de Nazaré de Belém, percebe-se a

necessidade geral de focar distintamente para o visitante fiel/romeiro e para o visitante turista –

tornando-os constantes e dispostos a ficar cada vez mais. Pois, ambos trazem em suas visitas um

fluxo de renda externo capaz de movimentar as engrenagens econômicas locais. Suas visitas são,

indiferentemente, bem-vindas. Contudo, como o sentido da visita é diferenciado, a política de

atração deve ser também diferenciada. Para os visitantes turistas a incorporação de outras

atrações na região atreladas ou não ao evento religioso é uma necessidade. Para os visitantes

romeiros, devem-se ampliar as oportunidades de alcançar seus objetivos, em novos espaços e

tempos sagrados capazes de abrir canais de comunicação privilegiados com as divindades.

É que se deve adequar estrategicamente à tendência indicada por Silveira (2004),

mediante a qual o turismo religioso estaria gerando um movimento complexo de hibridização do

sagrado (fé, devoção, sofrimento) e do profano (consumo, lazer, festa) em um mesmo fluxo de

intenções, onde os visitantes interessados em consumir e relaxar também poderiam estar

dispostos a participar do evento religioso, bem como os devotos se tornariam consumidores após

o encerramento do tempo/espaço sagrado. Como tal, o Círio pode ser uma oportunidade, para

Belém, do acesso a parcela crescente 167 milhões de cristãos que peregrinam anualmente no

mundo, dos quais 80% ou 133,6 milhões, se deslocam para participar de cultos e eventos

religiosos relacionados com Nossa Senhora (Salgado, 2006).

105

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