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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO DE PESQUISA SÓCIO PEDAGÓGICAS PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU “PSICOPEDAGOGIA” O CONSTRUTIVISMO E A ESCOLA ATUAL MARIA DA CONCEIÇÃO SILVA MATIAS RIO DE JANEIRO, OUTUBRO DE 2001.

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDESDIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO DE PESQUISA SÓCIO PEDAGÓGICASPÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

“PSICOPEDAGOGIA”

O CONSTRUTIVISMO E A ESCOLA ATUAL

MARIA DA CONCEIÇÃO SILVA MATIAS

RIO DE JANEIRO, OUTUBRO DE 2001.

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDESDIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO DE PESQUISA SÓCIO PEDAGÓGICASPÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

“PSICOPEDAGOGIA”

O CONSTRUTIVISMO E A ESCOLA ATUAL

MARIA DA CONCEIÇÃO SILVA MATIAS

Monografia apresentada à UniversidadeCândido Mendes como requisito à obtenção dotítulo de Psicopedagogia, sob a orientação daprofessora Maria Esther de Araújo Oliveira.

RIO DE JANEIRO, OUTUBRO DE 2001.

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Agradecimentos

Acima de tudo, agradeço à Deus por estar sempre comigo guiando meus passos.Agradeço a meu pai e minha mãe (em memória) pelo grande carinho e criação que me deram.Agradeço a meu namorado pelo ombro amigo nos meus momentos de stress.Agradeço ainda a meu irmão pelo grande incentivo para a vida acadêmica.Enfim, agradeço à todos (amigos, alunos, professores e familiares) que de uma forma ou deoutra contribuíram para mais etapa de formação em minha vida.

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SUMÁRIO

Resumo .............................................................. 05

Introdução .............................................................. 06

Capítulo I .............................................................. 08

Capítulo II .............................................................. 14

2. 1 Construtivismo na sala de aula ............................17

Capítulo III .............................................................. 21

3. 1 Exigências da Nova LDB ....................................... 23

3.2 Princípios e Valores da Educação ........................... 25

Capítulo IV ............................................................... 28

Conclusão ............................................................... 34

Bibliografia ............................................................... 36

Anexos ................................................................ 39

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RESUMO

Este trabalho procura tornar claro a importância da contribuição doConstrutivismo na Educação Moderna, especialmente à comunidade escolar, levando-a à umaconvivência dentro dos termos necessários para que o educando tenha parâmetros para aconstrução do conhecimento com base na autenticidade, no respeito a si e ao próximo, naconvivência sadia e solidária, desenvolvendo valores éticos imprescindíveis à formação docidadão autêntico e consciente de si, de seus direitos e responsabilidades perante acomunidade, a nação e o mundo. Assim sendo, dado a importância do Construtivismo já que omundo se depara com a entrada na era do conhecimento, onde o capital humano ganha cadavez mais espaço, este trabalho se justifica. No entanto, a educação, apesar de vir aos poucossofrendo significativas mudanças, esta ainda se encontra pôr demais tradicional, perdendo aessência criadora criativa do ser humano. O Construtivismo pode, quando entendido em suaorigem, um forte aliado ao ser humano e sua inerente natureza construtora. Enfim, o problemadeste presente estudo e? Ate que ponto o administrador escolar pode incentivar oconstrutivismo na escola?

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INTRODUÇÃO

O Construtivismo chegou ao Brasil de forma discreta, sendo mencionado por

poucos professores que conheciam e pesquisavam esta teoria. Aos poucos foi se espalhando

pelo país de tal forma que hoje é quase impossível saber quantos professores aplicam esta

teoria no seu cotidiano escolar.

Visto o Construtivismo como uma teoria que desvenda os mecanismos de

aprendizagem e que mostra que as crianças e adultos podem construir juntos novos

conhecimentos, pode-se dizer que esta teoria se aplicaria muito bem a escola atual que tem

como característica formar cidadãos críticos, capazes de modificar a sociedade visando

melhoria de vida.

Essa aplicabilidade deve ser feita corretamente, para que não se deixe cair no

modismo e ouvir profissionais relatando ser construtivista e na prática agir de maneira

tradicional.

O trabalho baseia-se nas idéias de Jean Piaget e Vygotsky, grandes

contribuintes da teoria construtivista.

No Capítulo I, será feito um breve histórico sobre a educação.

No Capítulo II se dará uma definição de Construtivismo, suas característica e

importância para a Educação.

Mais adiante, no capítulo III falará do trabalho coletivo na escola, fazendo-se

referências a Nova LDB (Lei nº 9.394/96).

No Capítulo IV será feito uma explanação sobre como planejar de forma

construtivista, esclarecendo pontos importantes para o profissional se tornar construtivista.

Finalmente, a conclusão será apresentada.

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CAPÍTULO I

ASPECTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO

Ao fazer a referência a tempos e espaços diferentes dos de hoje, fica claro e

comprovado que a democratização na escola deve ser vista dentro de um contexto histórico

para que se possa entender como ela é hoje, e fazer relações com a realidade educacional

brasileira.

Segundo PHILIPPE ARIÉS (1981, p. 26),“(...) Na sociedade medieval, que tomamos como ponto departida, o sentimento da infância não existia – o que nãoquer dizer que as crianças fossem negligenciada,abandonadas ou desprezadas. O sentimento da infâncianão significa o mesmo que afeição pelas crianças:corresponde à consciência da particularidade infantil, essaparticularidade do que distingue essencialmente a criançado adulto, mesmo jovem. Essa consciência não existia. Poressa razão, assim que a criança tinha condições de viversem a solicitude constante de sua mãe ou de sua ama, elaingressava na sociedade dos adultos e não se distinguiamais destes (...).

Até o século XVII, as condições gerais de higiene e saúde eram muito

precárias. A fragilidade das crianças pequenas era muito grande, de tal maneira que essas

morriam facilmente. Seus pais não deixavam de ficar penalizados, mas viam sua morte como

fenômeno natural: a criança morta poderia ser substituída por outra recém-nascida; ao longo

de suas vidas, as mulheres davam à luz muitos filhos, tendo como certo que muitos deles não

sobreviveriam à primeira infância.

As crianças que conseguiam atingir uma certa idade só passavam a ter uma

identidade própria, a ser consideradas como indivíduos na comunidade social, quando

conseguiam fazer coisas semelhantes àquelas realizadas pelos adultos, com os quais estavam

então misturadas.“A partir do fim do século XVII, uma mudançaconsiderável alterou o estado de coisas que acabo deanalisar. Podemos compreendê-la a partir de duasabordagens distintas. A escola substituiu a aprendizagemcomo meio de educação. Isso quer dizer que a criança

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deixou de ser misturada aos adultos e de aprender a vidadiretamente, mediante reticências e retardamentos, acriança foi separada dos adultos e mantida à distâncianuma espécie de quarentena, antes de ser solta no mundo.Esta quarentena foi a escola, o colégio. Começou então umlongo processo de enclausuramento das crianças (comodos loucos, dos pobres e das prostitutas) que se estenderiaaté nossos dias, e ao qual se dá o nome de escolarização.Essa separação – e essa chamada à razão – das criançasdeve ser interpretada como uma das faces do grandemovimento de moralização dos homens, promovido pelosreformadores católicos ou protestantes ligados à Igreja, àsleis ou ao Estado”.

( Philippe Ariés, 1981, p. 28).

Neste período, definiram-se os rumos da educação que visava, antes de tudo,

corrigir as crianças, que, acreditava-se, nasciam sob o estigma do pecado, e guiá-las para o

caminho do bem.

Entre os moralistas e os educadores do século XVII, formou-se o sentimento de

infância que viria a inspirar toda a educação até o século XX: passou-se a ter interesses

psicológicos e preocupações morais em relação às crianças. Era preciso conhecê-las melhor

para, assim, poder corrigi-las. Tentava-se penetrar na mentalidade das crianças, consideradas,

então, testemunhas da inocência batismal, semelhantes aos anjos, para melhor adaptar a seu

nível os métodos de educação.

No século XVIII, via-se a criança como um ser primitivo, irracional, não-

pensante. Atribuía-se a ela modos de pensar e sentimentos anteriores à lógica e aos bons

costumes. Era preciso educá-la para desenvolver nela o caráter e a razão – traços que estavam

fora dela, nos adultos.

Na realidade, não podendo compreender as pequenas criaturas naquilo que as

caracterizava, instituía-se um padrão adulto para estabelecer julgamentos. No lugar de

procurar entender e aceitar as diferenças e semelhanças das crianças, a originalidade de seu

pensamento, pensava-se nelas como páginas em branco a serem preenchidas, preparadas para

a vida adulta.

“Tratava-se de despertar na criança a responsabilidade doadulto, o sentido de sua dignidade. A criança era menos

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oposta ao adulto ( embora se distinguisse bastante dele naprática) do que preparada para a vida adulta. Essapreparação não se fazia de uma vez só, brutalmente. Exigiacuidados e etapas, uma formação. Esta foi a novaconcepção da educação, que triunfaria no século XIX”.

(Philippe Ariés, 1981, p. 30).

Se na época medieval a vida era basicamente rural, e apenas a aristocracia e o

clero – que cuidava da manutenção da vida espiritual e religiosa – tinham aceso à cultura e à

educação, com a expansão do comércio e a formação de uma outra classe social – os

comerciantes – as coisas começaram a mudar.

A expansão do comércio fez com que essa classe fosse conquistando cada vez

mais poder político, opondo-se à aristocracia (reis, rainhas, duques, barões, etc., senhores das

terras e da maior parte das riquezas). Esse movimento culminou com a Revolução Francesa,

quando as pessoas do povo e os comerciantes tomaram de assalto as instituições

aristocráticas. O marco desse movimento é a Queda da Bastilha, em 14 de julho de 1789. A

classe social que realizou esse movimento é a que chamamos de burguesia. ( a palavra

burguesia vem de burgos: significa cidade).

Para os burgueses, a educação dos filhos tornou-se muito importante, na

medida em que, sem formação, e sem conhecimentos adequados, os futuros adultos não

poderiam levar à frente os estabelecimentos comerciais que deveriam herdar, nem poderiam

conseguir posições sociais mais favoráveis, caso os pais não as tivessem.

As escolas assumiram então o papel de ponte para o futuro, de etapa

preparatória para a vida e o trabalho, preparando a criança para assumir funções adultas.

Essa preparação estava vinculada ao lugar que cada criança ocuparia na

sociedade: para os filhos dos burgueses, que ocupariam cargos de técnicos, administradores,

legisladores e intelectuais, destinava-se um ensino mais longo e aprofundado. Para os filhos

dos trabalhadores braçais, que viriam a ser mão-de-obra da sociedade, destinava-se apenas

uma educação básica.

Com o advento da Revolução Industrial (século XIX) e o crescimento das

cidades, tornou-se cada vez maior a necessidade de mão-de-obra para trabalhar nas indústrias.

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No século XIX, a burguesia podia se considerar vitoriosa. O capitalismo se

implantava em diversos países alterando-lhes a estrutura anterior. Também do ponto de vista

educacional, a questão democrática se afirmou. As idéias liberais colocavam novas diretrizes

e o próprio desenvolvimento econômico exigia alterações na qualificação dos trabalhadores.

Aos poucos tornou-se consciência que a educação não é apenas uma questão de

quantidade, mas sobretudo de qualidade. As escolas se multiplicaram mas ainda encontra-se

muito as marcas dos tempos passados.“Com o grande avanço as teorias ligadas à psicologia dodesenvolvimento, a partir do início do século XX, e ainfluência das teorias psicanalistas, a atenção deprofessores se voltava para as necessidades afetivas e parao papel que o professor deveria assumir. (...). Crescia ointeresse de estudiosos da aprendizagem peloconhecimento dos aspectos cognitivos do desenvolvimento,pela evolução da linguagem e pela interferência dosprimeiros anos de vida da criança e o seu desempenhoacadêmico posterior”.

(Sônia Kramer, 1984, p. 53).

Autores como Sigmund Freud (fundador da psicanálise), Jean Piaget (fundador

da epistemologia genética) e mais recentemente Lev S. Vygotsky (evidenciando a natureza

social das relações de aprendizagem) trouxeram uma importante contribuição para a

compreensão de aspectos do pensamento da criança e de sua aprendizagem. Essas

contribuições, no entanto, nem sempre foram bem compreendidas e utilizadas adequadamente

para a formulação de métodos de ensino.

Ao procurar compreender a situação atual da escola brasileira a luz deste breve

histórico, observa-se que as vertentes básicas ainda persistem em muitas escolas até hoje.

Fundamentalmente, sejam quais forem os interesses dominantes numa dada

sociedade contemporânea, o sistema escolar ocupa papel importante. Ele procura formar o

tipo de homem necessário à efetivação do modelo de sociedade que deseja implantar.

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CAPÍTULO II

AS CONTRIBUIÇÕES DO CONSTRUTIVISMO PARA A

EDUCAÇÃO

Um fator importantíssimo para o sucesso de um país, é a Educação e no Brasil

o momento é de mudanças e reconstrução racional do sistema educacional.

Constata-se ao longo da história que a Escola é a proposta da formação de

indivíduos conscientes e críticos. É a filosofia para o alvorecer de caminhos e também, enfim,

a educação é um dos instrumentos da cidadania que melhor se presta à transformação social.

Partindo desse pressuposto chega-se então ao Construtivismo e sua

contribuição para a Educação de hoje, ou seja, a Educação Moderna.

A Escola tradicional possui uma abordagem linear ou intuitiva da relação entre

sujeito e objeto, tornando-se assim pouco relacional e também pouco construtivista.

Analisando pouco a pouco esta escola, pode-se constatar que esta tem uma

abordagem linear porque o professor opera os objetos de ensino, como: Física, Matemática,

Geografia, História, numa perspectiva formal, como conteúdos que devem ser simplesmente

transmitidos ao aluno, sem considerá-lo na relação com os mesmos. Paralelamente e de

formação totalmente dissociada e sincrética, a escola justifica o fracasso escolar por

características que pertenceriam à criança: sua debilidade mental, sua história de vida, sua

classe social, etc., independentemente das formas como os conteúdos escolares são

trabalhados, da relação professor-aluno, da escola enquanto instituição, do professor. Então,

ora a escola opera numa perspectiva em que a criança é responsável, sozinha, por sua

aprendizagem e suas dificuldades, ora o professor é um conferencista que fala para seus

alunos a partir de paradigmas, de alguns exemplos muitas vezes repetindo as mesmas palavras

do livro, não sabendo como interagir, conversar e trabalhar com eles dentro de um contexto

objeto e sujeito que carateriza o construtivismo.“A experiência não vem de se ter vivido muito, mas dese ter refletido intensamente sobre o que se fez e sobreas coisas que aconteceram”.

(GANDIN, 1986, p. 43).

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Assim, através de um pensamento reflexivo, o construtivismo surgiu enquanto

uma nova forma de se pensar Educação.

Grande parte do corpo docente apresenta dúvidas com relação ao

construtivismo, uma vez que o novo assusta. Assim, a Revista Nova Escola respondeu

algumas perguntas comuns durante um debate sobre o respectivo tema, valendo apenas

ressaltar algumas:

· O que é construtivismo ?

É o nome pelo qual se tornou conhecida uma nova linha pedagógica que

vem ganhando terreno nas salas de aula há pouco mais de uma década. As

maiores autoridades do construtivismo, contudo, não costumam admitir que

se trate de uma pedagogia ou método de ensino, por ser um campo de

estudo ainda recente, cujas práticas, salvo no caso da alfabetização, ainda

requerem tempo para amadurecimento e sistematização.

· O que propõe o construtivismo ?

O construtivismo propõe que o aluno participe ativamente do próprio

aprendizado, mediante a experimentação, a pesquisa em grupo, o estímulo

à dúvida e o desenvolvimento, do raciocínio, entre outros procedimentos.

Rejeita a apresentação, de conhecimento pronto ao estudante, como um

prato feito, e utiliza de modo inovador técnicas tradicionais como, por

exemplo, a memorização. Daí, o termo construtivismo pelo qual se procura

indicar que uma pessoa aprende melhor quando toma parte de forma direta

na construção do conhecimento que adquire. O construtivismo enfatiza a

importância do erro não como tropeço, mas como um trampolim na rota da

aprendizagem. O construtivismo condena a rigidez nos procedimentos de

ensino, as avaliações padronizadas e a utilização de material didático

demasiadamente estranho ao universo pessoal do aluno.

· Com base em que o construtivismo adota tais práticas ?

Com base nos estudos do psicólogo suíço Jean Piaget (1896-1980), a maior

autoridade do século sobre o processo de funcionamento da inteligência e

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de aquisição do conhecimento. Piaget demonstrou que a criança raciocina

segundo estruturas lógicas próprias, que evoluem conforme faixas etárias

definidas, e são diferentes da lógica madura do adulto. Por exemplo: se

uma criança de quatro ou cinco anos transforma uma bolinha de massa em

salsicha, ela conclui que a salsicha, por ser comprida, contém mais massa

do que a bolinha. Não se trata de um erro, como se julgava antes de Piaget,

mas de um raciocínio apropriado a essa faixa etária. O construtivismo

procura desenvolver práticas pedagógicas sob medida para cada degrau de

amadurecimento intelectual da criança.

Enfim, estas respostas explicam de forma clara o que é o construtivismo e

como ele se aplica, demonstrando de forma clara que adotar os pressupostos construtivistas

significa contribuir efetivamente para a formação do cidadão consciente, participativo e

crítico, atendendo assim os anseios da Educação de hoje.

2.1 – O Construtivismo na sala de aula

O Construtivismo chegou ao Brasil há mais de 20 anos, de maneira discreta,

mencionado aqui e ali. Também discretamente, ele se espalhou pelo país de tal forma que hoje

é quase impossível saber quantos educadores se valem da teoria no seu dia-a-dia escolar.

Muitos fizeram a opção pelo construtivismo por conta própria, alguns até a revelia de seus

superiores, de qualquer forma o construtivismo foi ganhando cada vez mais espaços na

comunidade escolar.

No Brasil, o construtivismo está sendo assimilado num sentido principalmente

psicopedagógico, como uma técnica alternativa, substituta de outras técnicas. Então, joga-se

fora a cartilha e põe-se no lugar dela uma abordagem. Emília Ferreiro (apesar desta autora ser

contra a utilização de suas pesquisas como um método de alfabetização). Está se empregando

aqui o termo psicopedagógico no sentido do termo, como referido a uma técnica nova, uma

forma diferente de trabalhar em sala de aula. Ora, o construtivismo não é somente uma prática

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psicopedagógica – é uma filosofia, uma epistemologia. Ainda que, para dizer o mínimo, seja

uma epistemologia muito importante ao psicopedagogo: ambos valorizam uma mesma coisa –

a interdisciplinariedade; ambos, mutatis mutandis, valorizam, simultaneamente, as disciplinas

que abalizam o sujeito e as que analisam o objeto.

O que adianta jogar fora a cartilha da criança se não fizer o mesmo com aquela

que está dentro do educando. Mas é preciso jogar fora no sentido crítico do termo, é claro: a

cartilha faz parte da história do educando. Se um professor alfabetizou durante dez anos pela

cartilha, ela faz parte dele e é preciso que se estabeleça um diálogo entre os dois para que este

professor possa ressignificá-la através de algo que em princípio seria mais relacional, mais

interativo.

O construtivismo está sendo buscado hoje na escola, compreensivelmente,

como uma tábua de salvação. E nesse sentido, se assim continuar, em breve será descartado.

Tem-se um modelo educacional/pedagógico que se esgotou, por muitas razões. A sociedade

mudou, as mães já não passam mais tanto tempo em casa, não têm mais tanto tempo para

relacionar-se com seus filhos; a estrutura da família mudou – por bons e maus motivos, não

importa: isto é um dado da realidade. A família, principalmente nos grandes centros, se tornou

pequena, a quantidade das relações com a vizinhança alterou-se. Revoluções técnicas

alteraram as relações dos cidadãos com o trabalho, com a escola, com a casa. Hoje em dia

têm-se uma escola que se pretende para todos. Em resumo, a escola desempenha, hoje,

funções (além das que desempenhava tradicionalmente) que outrora a família; o espaço

cultural mais amplo, a igreja cuidavam. Junto com isso veio um fracasso escolar, ainda que

por motivos diferentes, entre ricos e pobres. Esgotaram-se procedimentos e soluções

pedagógicas tradicionais. O construtivismo apresentou-se, então, como uma das alternativas

para a escola enfrentar dificuldades de cumprir sua função. Nunca é demais lembrar, neste

sentido, a influência, entre os cidadãos, das pesquisas de Emília Ferreiro e Ana Tcberosky,

como alternativa para uma cartilha que já não mais alfabetizava.

Enfim, o construtivismo é uma proposta psicopedagógica e filosófica de se

operar a relação da criança com o conhecimento, do professor com o aluno e destes com os

conteúdos escolares. É uma proposta de técnica psicopedagógica, tanto no sentido do termo

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como em seu sentido amplo. No entanto, anular todo um conjunto de coisas muito fortes em

nossa vida e ressignificá-las, interagindo com crianças ricas e/ou pobres para as quais o

significado do ler, escrever e contar está se modificando, por diferentes razões, é uma questão

muito problemática para todos. Como repensar formas tradicionais de avaliação,

programação, motivação – aspectos que, bem ou mal, eram trabalhados, escritos, divulgados,

lidos numa certa visão de pedagogia, de ação pedagógica? Quer dizer, como suportar afetiva,

cognitiva e instrumentalmente uma revisão destas tradições? E mais que isso: como pagar o

preço que tais mudanças custam? A questão é, assim, muito abrangente, e insiste-se no ponto

de que o construtivismo é uma forma de se ver o conhecimento da qual se deriva uma prática

pedagógica e psicológica, que abre algumas possibilidades de relações e fecha outras e, como

toda opção, marca uma forma de ser professor, de ser aluno, de fazer escola.

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CAPÍTULO III

PROPOSTA PEDAGÓGICA:

UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA

Observa-se que uma das dificuldades dos profissionais que atuam na educação

escolar é assumir e vivenciar o planejamento como um processo sistemático de ação, reflexão,

ação individual e coletiva voltado para atingir os objetivos educacionais sugeridos, propostos

e mais adequados à escola, contribuindo assim, para o processo de formação do cidadão.

Os objetivos educacionais devem ser construídos de forma a orientar o

planejamento e a elaboração da Proposta Pedagógica da Escola, de modo que estimulem uma

reflexão teórico-prática sobre o trabalho coletivo, elemento fundamental para se construir uma

escola mais voltada para as aspirações da comunidade na qual está inscrita, bem como,

suficientemente versátil para ajustar-se e, ao mesmo tempo auxiliar a transformação da

sociedade a que serve.

É fundamental que o objetivo que supõe a formação, o crescimento, a dinâmica

e o aperfeiçoamento do coletivo da escola esteja presente de forma prioritária no elenco dos

valores que norteiam a elaboração da Proposta Pedagógica da Escola. Como decorrência

corpos discentes, docente, de funcionários, de direção e a comunidade passam a ser vistos

como segmentos que têm propostas, idéias, sugestões que sejam discutidas e debatidas no

planejamento e não apenas ouvidas.

VALE (1996, p.3) explica que a expressão projeto requer um ato individual e

coletivo e que sua possibilidade operacional só poderia ocorrer a partir de diferentes inter-

relações construtivas: só assim, temos concretamente uma possibilidade de mudanças.

Construir um trabalho coletivo coerente, articulado e posicionado na escola é

tarefa desafiante que exige empenho, persistência, paciência e crença naquilo que se quer.

O trabalho coletivo na escola, deve estar voltado para a construção de um perfil

de cidadão, na ótica da educação escolar, que difere, mas interage com o processo educativo

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que ocorre na sociedade como um todo. Isto significa que a escola precisa ter medianamente

claro aquilo que espera do seu educando.

Quando se enfatiza a imensa importância de um procedimento interdisciplinar

ao desenvolverem-se os objetivos educacionais que os alunos devem atingir, fica expresso, a

menos que se cometa incoerência que o Projeto Pedagógico deva ser concebido e elaborado

de forma também interdisciplinar, quando ideais, vivências e experiências dos diferentes

sujeitos envolvidos na proposta interagem dando vida ao processo da escola.

A realização do trabalho coletivo não supõe apenas a existência de

profissionais que atuem lado a lado numa mesma escola, mas também exige educadores que

tenham pontos de partida (princípios) e pontos de chegada (objetivos comuns).

3.1 – Exigências da nova LDB

Segundo GANDIN (1986, p. 23),“Não se pode mudar uma realidade com a rapidez com quese concebe uma mudança. São ações e sucessivamenterealizadas que vão construindo, no tempo, a mudançamaior. Assim, uma prática escolar democrática eparticipativa se estabelece a partir de ações e deestratégicas simples, mas orgânicas, com direção bemclara”.

A escola necessita construir de forma gradual e orgânica o espírito coletivo

com que poderá viabilizar as novas propostas que a LDB – Leis de Diretrizes e Bases, dispõe

de forma enfática (art. 12, inciso 1): Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas

comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I – Elaborar e executar sua

Proposta Pedagógica.

Observa-se, então, que a nova LDB chama a comunidade a responsabilizar-se

pelo destino da escola, compartilhando de seu planejamento e de sua ação educativa e propõe

a co-gestão e convoca pais e professores para participarem da elaboração de sua proposta

pedagógica:

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a) A comunidade é um instância fundamental na elaboração das

idéias, valores e conseqüente projeto pedagógico da escola;

b) a gestão democrática e a autonomia escolar é uma exigência

dos tempos;

c) planejar a partir de perspectivas sociais que surgiram

adequação de currículos, atividades pedagógicas, projetos educacionais,

etc., é outro princípio que os legisladores compreenderam que devem ser

levados em conta com alta eficácia pela escola;

d) a Lei preconiza que todos os sujeitos escolares participem da

elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino e, em

especial, os docentes e a direção para que possam construir coletivamente o

planejamento das atividades escolares em consonância com o projeto

pedagógico proposto e as normas estabelecidas pelas instâncias superiores;

e) é também fundamental que de forma participativa a direção e

seus docentes, juntamente com o coletivo da escola, aproveitem todas as

possibilidades de desenvolver a democracia sugeridas pelas normas

emanadas dos órgãos oficiais que administram a Educação.

A Escola de hoje tem muitas razões para, de forma corajosa, buscar enfrentar

os desafios que o momento histórico sugere posto que, a LDB 9394/96 nos artigos 12, 13, 14,

26, dentre outros, e os Pareceres e Resoluções da Câmara de Educação Básica do Conselho

Nacional de Educação dão sustentação aos responsáveis pela Educação dos brasileiros nas

suas investidas e ousadias que tenham como finalidade superar o atual estágio em que se

encontra a Educação, cujo nível é motivo de desapontamento para todos.

3.2 – Princípios e valores da Educação

Muito já se falou, felizmente, de cidadania. A democracia sempre foi marco

fundamental na busca de se atingir um estado cidadão. Por sua vez, a democracia que tem

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ricas fundamentações teóricas e retóricas necessita de ser praticada para que sofismas e

ambigüidades não possam confundir o conceito de uma sociedade democrática.

O exemplo, em geral, é mais eficiente que o discurso para justificar uma teoria.

Precisam-se impregnar as ações exercidas na escola de valores que manifestem

de forma objetiva, clara e exemplificadora o que se tem de conceito acerca de cidadania,

democracia, coletivo de uma escola e participação comunitária, para que os educandos não

fiquem sujeitos apenas aos efeitos das ações, mas que aprendam com as próprias ações e que

os educadores possam alicerçar suas convicções ao verem nos atos e compromissos de cada

participante do coletivo um exemplo que justifique e confirme os propósitos que

estabeleceram em um Projeto Pedagógico, pois só a práxis poderá confirmar o valor da teoria.

É indispensável distinguir uma simples movimentação ou um conjunto de

atividades de um movimento orgânico em que cada ação justifica uma outra e a completa de

forma recíproca.

O que dá consistência a essas ações é o planejamento, o projeto e a proposta

que servem de fio condutor para as idéias que se tornam visíveis compreensíveis a partir da

prática.

Conselhos de Alunos Representantes, Escolares, de Classe Participativos e de

Professores Conselheiros, bem como, Grêmio Estudantil e Direção Compartilhada são

recursos, que impregnados de uma conceituação democrática e cidadã, excelentes para

viabilizarem de forma coletiva as propostas de um autêntico Projeto Pedagógico.

O movimento atual da chamada “escola cidadã” está inserido nesse novo

contexto histórico de busca de identidade nacional. Surge como resposta à burocratização do

sistema de ensino, bem como a insensibilidade e indiferença para com as questões nacionais

que deveriam levar em conta as aspirações de nosso povo.

É nesse contexto histórico que vem se desenhando o projeto e a realização

prática da escola cidadã em diversas partes do país, como uma alternativa nova e emergente.

Com a aprovação do Parecer CEB n° 04/98 e da Resolução CEB n° 2,

publicada no D.O.U. de 15/04/98, onde está normalizada a Base Nacional Comum: Diretrizes

para o Ensino Fundamental, no art. 3o, Parágrafo I:

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“As escolas deverão estabelecer como norteadores de suasações pedagógicas:Item b) os princípios dos Direitos e Deveres da Cidadania,do exercício da criatividade e do respeito à ordemdemocrática”.

E ainda no Parágrafo IV afirma que:“A Base Comum Nacional e sua parte diversificadadeverão integrar-se em torno do paradigma curricular, quevisa a estabelecer a relação entre a educação fundamentale:a) a vida cidadã através da articulação entre vários dosseus aspectos como: a saúde, a sexualidade, a vida familiare social, o meio ambiente, o trabalho, a ciência e atecnologia, a cultura e as linguagens”.

Nesse sentido, a Escola precisa reposicionar-se a fim de elaborar o seu Projeto

Pedagógico de modo a contemplar estas aspirações dos novos tempos, porém sempre de

forma construtiva.

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CAPÍTULO IV

PLANEJAMENTO PARA REALIDADE DE FORMA

CONSTRUTIVISTA

A condição educativa, que vem se produzindo desde finais dos anos 60, tende a

se deter na última parte dos anos 80, e é substituído por um movimento de recuperação que

progressivamente se transforma num profundo processo de reforma educativa. Ensinar

deveria ser entendido como um processo de provocação das capacidades inatas do indivíduo,

trabalhando o seu potencial de maneira clara e competente.

Para que os objetivos do ensino sejam alcançados, sejam eles gerais ou

específicos, é preciso profetizar acertos que culminarão em dados concretos no efeito trabalho

de ajudar a aprender. A educação é um processo de encontro e a aprendizagem não deveria

conhecer fracassos, pois todos são capazes de aprender, desde que o ato de ensinar seja o ato

de orientar e o resultado do trabalho educativo seja, com certeza, o bem-estar da comunidade.

A falta de interesse que vemos nos estudantes de todos os níveis, provém da

falta de respeito vinda da proposta pedagógica atual.

Mas o que fazer? Muito simples e barato: descomplicar o sistema nosso. Paulo

Freire, critica a cartilha tradicional, que segundo ele, é um saber abstrato e pré-fabricado,

quando deveria ser um trabalho identificado pelo grupo. Basta imaginar um trabalhador que

volta cansado, à noite do trabalho, fazendo cópias das seguintes frases:

_ A ave é da Eva.

_ Vovô viu a ave.

São frases vazias e sem a mínima chance para a discussão e a integração do

grupo no entanto, se a palavra salário aparecer como geradora de estudo, o operário discutirá

o assunto, espontaneamente, pois aí a educação torna-se consistente e significativa para o

aluno, ultrapassando os limites da sala de aula, a aula fica pela sua importância.

Mesmo que muitos teóricos afirmem que o professor é um profissional como

outro qualquer, que ele não tem outro compromisso, senão o de cumprir somente, suas

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obrigações de empregado; todos sabem que seu trabalho vai muito além dos programas e das

carteiras frias da sala de aula, e do cansativo quadro-de-giz. Para ser professor, é preciso ter

uma postura de compromisso com a formação de pessoas, postura esta que deve vir de uma

contínua formação ( como fazem todos ou quase todos os profissionais), mas infelizmente, a

realidade é que o professor, em geral, não estuda. O professor muitas vezes é mal informado

da pesquisa científica e das invenções tecnológicas, mas a educação só vai melhorar, de

verdade, se o professor tomar para si o poder das decisões, ou seja, é preciso fazer cursos de

capacitação, dedicar mais horas a treinamento, aperfeiçoar-se sempre.

Deve-se questionar também, a eficácia da formação que os educadores

recebem. As escolas precisam formar profissionais que dominem as técnicas da informática,

não tenham medo da matemática e conheçam as peculiaridades da educação especial, entre

outras coisas.

Não é novidade para ninguém o fato que o professor, dos primeiros segmentos

do ensino fundamental, principalmente das escolas públicas, tem uma formação bastante

precária. Nos Estados mais desenvolvidos a grande maioria deles fez o Curso Normal, e em

alguns casos chegou inclusive a cursar uma Faculdade, em geral de Pedagogia. Nas regiões

mais empobrecidas, a maior percentagem é de leigos, sendo que nas zonas rurais é freqüente

encontrar-se professores, que apenas fizeram o antigo curso primário, e, muitas vezes, o

primário incompleto. Porém, mesmo no caso de professores de nível universitário, os estudos

e a própria realidade aponta grandes deficiências no preparo que eles recebem para lidar com

os problemas do dia-a-dia do trabalho escolar.

As universidades também envelheceram, e cristalizaram-se na formação dos

educadores, já que deveriam formar profissionais interessados na aprendizagem,

principalmente, e não mais ocupados com o ensino. O professor deve mudar sua postura de

transmissor do conhecimento, e assumir a postura de professor-educador, que é aquele que

indica ao aluno como e onde, ele poderá encontrar as informações de que necessita e capacitá-

lo para elaborar a transformação delas em conhecimento, respeitando, sobretudo as diferenças

individuais e tornando-se construtivista.

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Na Revista Nova Escola (n° 82 – março/95), foram feitas algumas perguntas

acerca do professor e o construtivismo, a seguir:

· Qual o papel da professora no construtivismo e em que

difere do ensino tradicional ?

Em vez de dar a matéria, numa aula meramente expositiva, a professora

organiza o trabalho didático-pedagógico de modo que o aluno seja o co-

piloto de sua própria aprendizagem. A professora fica na posição de

mediadora ou facilitadora desse processo.

· O que é necessário para ser uma boa professora

construtivista ?

Mentalidade aberta, atitude investigativa, desprendimento intelectual, senso

crítico, sensibilidade às mudanças do mundo combinada com iniciativa

para torná-las significativas aos olhos dos alunos e flexibilidade para

aceitar a si mesma em processo de mudança contínua. Ela precisa dar mais

de si e precisa estar o tempo todo se renovando, para sustentar uma relação

com os alunos que não se baseia na autoridade, mas na qualidade.

· É possível ser uma professora construtivista numa escola

tradicional ?

Em geral, o projeto pedagógico de uma escola tradicional não favorece nem

leva em conta o trabalho de uma professora que resolva tocar em outro tom.

Embora seja difícil manter uma proposta individual, num ambiente alheio a

mudanças, há muitos casos assim. Além disso, deve-se considerar o fato de

que é difícil uma escola passar a ser construtivista num só golpe. Isso

ocorre de maneira paulatina, até porque o construtivismo, do mesmo modo

que respeita os processos de transformação por que passam os alunos,

também deve respeitar o das próprias professoras.

· Quais as vantagens e desvantagens do construtivismo

sobre outras linhas de ensino ?

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Vantagens: Procura formar pessoas de espírito inquisitivo, participativo e

cooperativo, com mais desembaraço na elaboração do próprio

conhecimento. Além disso, o construtivismo cria condições para um

contato mais intenso e prazeroso com o universo da leitura e da escrita.

Desvantagens: Sendo uma concepção pedagógica nova e flexível, não

oferece à professora instrumentos tão seguros e precisos com respeito ao

seu trabalho diário. Ainda há muito por sistematizar, admitem os

construtivista.

Assim fica claro que, o professor precisa enfrentar o desafio, de estar motivado

a pesquisar, para encontrar alternativas que facilitem a aprendizagem, e principalmente, estar

motivado a aprender, pois quem não é capaz de ensinar, e precisa estar em contínua formação,

uma vez que seu aprimoramento é indispensável na formação de uma nova geração e

sociedade.

O professor, deve, contextualizar seu ensino, que na verdade, é deixá-lo menos

teórico e mais ligado à realidade, tornando assim, as informações mais significativas para o

aluno.

São muitas as responsabilidades do professor, e será necessário que ele esteja

integrado plenamente, com um mundo de informações cada vez mais rápidas. E isto, só se

consegue, sendo um mestre que prepara suas aulas, demonstra claramente que gosta de sua

profissão, põe seus alunos em situações descontraídas, é conselheiro, é amigo, é humilde, e

entende quando precisa mudar suas estratégicas, para tornar-se um aprendiz. Não existem

modelos para isto, é preciso mudar comportamentos e atitudes, e também estimular

habilidades que incentivem o desenvolvimento não só para o seu trabalho futuro, mas para

que eduque os alunos, para a autonomia, e para a cooperação, sempre de uma forma

construtivista.

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CONCLUSÃO

A Educação é um processo amplo, contínuo e interminável.

Deve-se levar em conta que não existe um momento determinado a educação e

nem tão pouco determinada a identidade do aluno, pois educação sugere movimento.

Num sistema educacional deve-se levar em conta o Construtivismo, enquanto

filosofia, epistemologia, pois neste processo todos são educadores e educando.

Cabe aos administradores escolares, orientar de forma clara os componentes de

todas as Instituições, públicas ou particulares, sobre os melhores caminhos em direção a

construção do conhecimento. É um trabalho conjunto e construtivismo de toda escola que

dará condições para que esta, se organize de tal forma a oferecer um ensino de qualidade,

capaz de formar cidadãos confiantes, preparados, conscientes e críticos.

De imediato, é preciso garantir a permanência dos alunos na escola, e para tal,

várias mudanças estão ocorrendo dentro das instituições escolares.

Os currículos, planejamentos e demais norteadores da educação devem ser

revistos, de forma a levarem os alunos a construírem seu conhecimento.

Certamente, é preciso existir um parâmetro curricular mínimo e este já existe,

porém o mesmo deve ser tomado como base e as unidades escolares devem elaborar suas

próprias diretrizes pedagógicas.

Outra questão fundamental, é a metodológica. Deve-se pensar em

metodologias adequadas à construção progressiva do saber, ou seja, metodologias advindas do

construtivismo.

Quanto ao magistério, é preciso rever a formação urgentemente, pois como ser

um professor construtivista sem que este saiba construir seu próprio conhecimento.

Em relação a administração escolar e importante que essa se de como forma

democrática e preocupada com a natureza criadora e criativa do homem, assumindo assim sua

real importância no contexto escolar e propondo uma filosofia construtivista.

O construtivismo pode contribuir de forma significativa para a escola de hoje.

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A atual escola, precisa enfim, espanar suas teias de aranha, abrir as janelas para

que o sol ilumine seu interior, arregaçar as mangas; para que num futuro próximo possa se

dizer que tem qualidade.

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ANEXOS