O desafio de implantar parques tecnológicos - parte 4

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Conteúdo

O DESAFIO DE IMPLANTAR PARQUES TECNOLÓGICOS – PARTE 4 .......................................... 3

Delimitando o Framework de implantação de um parque tecnológico .................................. 3

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 3

2. O ARRANJO INSTITUCIONAL E A INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA ....................................... 3

A governança dos Parques Tecnológicos .............................................................................. 3

A incorporação imobiliária dos Parques Tecnológicos .......................................................... 5

3. FRAMEWORK DE IMPLANTAÇÃO .......................................................................... 6

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 9

AUTOR .............................................................................................................................. 10

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O DESAFIO DE IMPLANTAR PARQUES TECNOLÓGICOS – PARTE 4

Delimitando o Framework de implantação de um parque tecnológico

1. INTRODUÇÃO

Independentemente das especificidades locais, é possível definir etapas comuns, pelas quais todas as iniciativas de Parques Tecnológicos devem percorrer para aumentar suas chances de sucesso. Esse artigo apresentará a importância de duas dimensões: o arranjo institucional e a incorporação imobiliária – além de apresentar o “framework de implantação”.

Esse artigo é o quarto da série intitulada “O Desafio de Implantar Parques Tecnológicos”, que tem o objetivo de estruturar as principais questões de planejamento estratégico para a implantação desses habitats da inovação. Essa discussão sobre o planejamento e as fases de implantação de um Parque Tecnológico é extensa e não foi objetivo dessa série “esgotar” esse tema. Ao contrário, espera-se que esses artigos possam estimular a produção de mais conhecimento e, especialmente, a descrição e sistematização de experiências de implantação de Parques, principalmente nacionais. O objetivo principal dessa série é o de definir e estruturar os principais conceitos que são fundamentais para o planejamento desses empreendimentos e apresentar um framework de etapas que devem ser percorridas por qualquer projeto de implantação de Parques Tecnológicos. Independentemente das especificidades locais, que sempre existirão em todos os projetos, é possível definir etapas comuns, pelas quais todas as iniciativas de “Parques induzidos” (ou Parques Tecnológicos de segunda geração) devem percorrer para aumentar suas chances de sucesso. Assim, esse artigo apresentará a importância de duas dimensões ainda não discutidas anteriormente – o arranjo institucional e a incorporação imobiliária – além de apresentar o “framework de implantação”, que é a síntese de todos os temas discutidos desde o primeiro artigo.

2. O ARRANJO INSTITUCIONAL E A INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA

A governança dos Parques Tecnológicos

Os conceitos de hardware e software, que permearam todos os artigos dessa série, se referem às dimensões físicas de um Parque Tecnológico, e aos serviços de gestão da integração. Outro elemento fundamental do software dos Parques Tecnológicos é o arranjo institucional.

Uma questão importante que permeou todos os artigos foi a analogia feita com os conceitos de hardware e software. Elas referem-se às duas principais dimensões do planejamento de Parques Tecnológicos, que são uma dimensão física stricto sensu, ou seja, desde a escolha do terreno até os investimentos em edificações, e uma dimensão de serviços de “gestão do conhecimento e da inovação” que um Parque Tecnológico deve ofertar para as empresas e ICTs – Instituições de Ciência e Tecnologia. A existência desses serviços que denominamos no artigo anterior de “gestão da integração” entre ciência e mercado é exatamente o que diferencia um Parque Tecnológico de uma simples aglomeração de empresas inovadoras (Condomínio de empresas de alta tecnologia).

Além desses aspectos, um elemento fundamental do software dos Parques Tecnológicos é o que denominamos arranjo institucional. Em outras palavras, um dos fatores de sucesso é a estrutura de governança, ou “arquitetura institucional”, que se estabelece para os Parques. Mas, qual seria a definição mais precisa desse termo? E por que é um aspecto importante?

Nos artigos anteriores foi destacado o fato de que os projetos de Parques Tecnológicos são “multi-institucionais”. Apesar de existir uma instituição líder – que em geral é uma Universidade – já nas fases preliminares é muito comum a participação do poder público, tanto municipal como estadual, assim como associações empresariais e fundações públicas ou privadas. Essa característica traz consigo aspectos positivos relacionados ao fato de que, pela própria

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complexidade e escala dos projetos, os empreendimentos de Parques Tecnológicos possuem longos períodos de maturação, e quanto maior o

Os Parques Tecnológicos são projetos “multi-institucionais”. Isto traz aspectos positivos. Mas também gera uma disparidade de objetivos que pode se tornar “ponto de estrangulamento” para o desenvolvimento do projeto. A alternativa é estruturar o Parque de modo a constituir uma personalidade jurídica autônoma e independente das suas instituições fundadoras. É importante haver um espaço decisório em que as instituições fundadoras possam se fazer representar com direito a voz e voto.

número de instituições envolvidas mais diversificadas serão as fontes de financiamento. No entanto, essa característica traz um conjunto de interesses, e mais do que isso, uma diversidade de expectativas em relação à própria definição e resultados esperados de um Parque Tecnológico que nem sempre são convergentes. Essa característica, em geral subestimada nas fases iniciais dos projetos de Parques Tecnológicos, pode se tornar um ponto de conflito futuro e um possível “ponto de estrangulamento” para o desenvolvimento dos projetos. Esse tema, mais explorado no primeiro artigo da série, deve ser objeto constante de análise pelos gestores dos Parques Tecnológicos que precisam promover a convergência de expectativas desde o início, para que o planejamento estratégico não fique comprometido no futuro em função de assimetria de informação e disparidade de objetivos entre as instituições fundadoras. No entanto, esse conjunto de interesses jamais deixará de existir, inclusive sendo natural diferenças constantes no estabelecimento de metas específicas e na orientação das instituições sobre qual a melhor estratégia seguir. Ademais, as instituições trazem experiências de gestão muito distintas entre si, o que é por um lado enriquecedor, pois a instituição nascente pode se aproveitar de todos os aprendizados de suas fundadoras, mas também pode gerar indefinições, especialmente sobre a execução das atividades do projeto, o que aumenta o risco de ineficiência na fase de implantação de um Parque Tecnológico. Como resolver, ou pelo menos, minimizar esse problema? A alternativa é “criar uma instituição nova”, no sentido de que o Parque Tecnológico deve se constituir em uma personalidade jurídica autônoma e independente das suas instituições fundadoras. A independência das estruturas administrativas das fundadoras é condição essencial para que o Parque Tecnológico possa se tornar uma experiência de “convergência de boas práticas de gestão”. Em outras palavras, a independência jurídico-administrativa cria a oportunidade de implementar o aprendizado advindo das diversas experiências institucionais. Se o Parque Tecnológico emerge replicando uma estrutura pré-existente, perde-se o espaço de “inovação institucional”. É importante também que dentro da governança dessa nova instituição se crie um espaço decisório no qual as instituições fundadoras possam se fazer representar com direito a voz e voto. Em outras palavras, uma das formas de acomodar os conflitos de interesse, que são inerentes ao processo, é permitir a existência de um “Conselho Deliberativo” no qual as instituições fundadoras possam discutir e definir os objetivos estratégicos do Parque Tecnológico. Além disso, é importante que existam “Diretorias” responsáveis pela execução desse planejamento com autonomia administrativa, e como enfatizado anteriormente, que possam trabalhar a partir das “melhores experiências de gestão das fundadoras”, sem estarem atreladas a estruturas já existentes. Independente do nome que se atribua às estruturas, o que se propõe é muito parecido com a governança de empresas S.A., nas quais existe um Conselho de Administração e um grupo de diretores responsáveis pela execução das metas. Como a instituição Parque Tecnológico não necessariamente possui fins lucrativos, a legislação brasileira apresenta outras personalidades jurídicas adequadas às características descritas acima, como as Associações de Direito Privado. Assim, mesmo com essas duas características essenciais ao sucesso da governança de um Parque Tecnológico, esse arranjo institucional está continuamente “submetido à inovação”, não existindo uma arquitetura única e definitiva para ele. O importante é conciliar a dimensão “multi-institucional” a que os projetos de Parque estão submetidos com agilidade nos processos de execução e implementação de ações, sem perder o caráter inovador que um Parque precisa ter inclusive na forma de organização interna do seu processo de trabalho.

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O desafio central da incorporação imobiliária é conciliar duas forças antagônicas em relação ao valor da terra: o investimento imobiliário – que quer edificar e maximizar o valor dos aluguéis cobrados; e o investimento produtivo – que deseja minimizar os seus custos de operação, entre eles os aluguéis pagos. Caso o Parque deseje atrair pequenas e médias empresas, a incorporação imobiliária precisa conciliar retornos atrativos tanto para os investimentos imobiliários, quanto para os investimentos produtivos. Nesse caso, inovações no modelo de incorporação são necessárias.

A incorporação imobiliária dos Parques Tecnológicos

Essa dimensão de “incorporação imobiliária” é um componente fundamental do hardware dos projetos de Parques Tecnológicos. Nessa fase o termo “empreendimento” é o que melhor se aplica para caracterizar os desafios e obstáculos para a implantação de Parques Tecnológicos. Essa natureza de investimento imobiliário torna-se muito latente especialmente se a fase de planejamento urbano e obras de infra-estrutura – temas discutidos no segundo artigo dessa série – foi executada com sucesso. Especificamente, se um projeto consegue urbanizar um terreno e criar uma instituição que se responsabilize por ele, a “angústia” que se cria nas instituições fundadoras e na sociedade local é a seguinte: como vamos ocupar fisicamente nosso Parque Tecnológico? Em outras palavras, como viabilizar a instalação das empresas e de instituições de Ciência e Tecnologia no Parque Tecnológico? Nos casos em que o terreno possui uma localização urbana privilegiada – quando, por exemplo, está inserido em uma malha urbana densa e consolidada – a “pressão social” pela rápida ocupação do terreno aumenta, pois uma característica das cidades grandes e médias é uma escassez de terrenos bem localizados. Ademais, as experiências de implantação dos Parques Tecnológicos liderados por instituições públicas mostram que essa também é uma fase difícil para as equipes gestoras, pois é o momento de incorporar novos profissionais e competências, relacionados às atividades de incorporação imobiliária, que estão disponíveis em instituições privadas. Assim, é uma fase que requer expertise da equipe gestora em um processo muito específico do setor privado e com uma dinâmica não trivial. Além dessas características, o desafio central da incorporação é conciliar a existência de duas forças de mercado complementares, mas com objetivos antagônicos em relação ao valor da terra. Existe o investimento imobiliário que tem como objetivo edificar e maximizar o valor dos aluguéis cobrados, pois seu retorno advém dessa remuneração. Entretanto existe o investimento produtivo stricto sensu, e mais especificamente o investimento das empresas inovadoras, que tem como objetivo minimizar o valor dos aluguéis pagos, pois esse é um componente dos seus custos de operação. Esse é um problema típico da chamada “Teoria da Localização”, que pode ser enunciado da seguinte forma: qual será a localização dos investimentos produtivos diante de diferentes faixas de terra que estabelecem aluguéis diferenciados? Uma resposta para esse problema é de que os investimentos com maior retorno poderão ocupar as “terras mais privilegiadas”, uma vez que possuem capacidade de pagar aluguéis maiores. Então, uma análise “apressada” poderia concluir: “se essa é uma característica do sistema capitalista, deixemos o mercado livre para resolver o problema da incorporação imobiliária”. Mas, é exatamente nesse ponto que os projetos de Parques Tecnológicos devem ter alinhamento no seguinte objetivo: qual é o perfil das empresas que desejamos atrair para nosso Parque Tecnológico? O Parque será destinado para empresas já consolidadas no mercado, que realizam inovações e que possuem volume de produção e vendas significativo, e que, portanto, possuem capacidade financeira de pagar aluguéis elevados? O Parque será destinado para empresas inovadoras, mas pequenas, com volume de vendas não tão expressivo, característica presente na maioria das empresas nascentes de base tecnológica? Ou haverá uma composição, um “mix” entre empresas grandes, médias e pequenas? A resposta para essas perguntas é fundamental para estruturar um plano de incorporação ou uma “engenharia de incorporação imobiliária”. Caso o perfil das empresas a serem atraídas pelo Parque seja o de grandes empresas, e supondo que o terreno de fato seja bem localizado e com atrativos urbanos, a racionalidade do mercado imobiliário é capaz de viabilizar as edificações e a ocupação do Parque a partir das regulações já existentes na legislação municipal (supondo também que existam características econômicas para a atração dos investimentos produtivos para aquela cidade). Nesse caso o processo não demanda “inovações no modelo de incorporação”. Mas, caso o perfil das empresas a serem atraídas seja o de pequenas empresas de base tecnológica, ou uma composição entre grandes, médias e pequenas, a engenharia de incorporação tem que ser capaz de

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Uma alternativa é compor a carteira de investimentos com recursos públicos e privados, destinando edificações públicas para “condomínios de empresas nascentes de base tecnológica”, que têm perspectivas de lucros no futuro. Como uma parte do fluxo de rendas advindo do aluguel se constituirá em receitas para o Parque, é preciso diversificar as fontes de receitas do Parque caso exista o interesse de aumentar a participação da pequena e micro empresa no empreendimento.

conciliar retornos atrativos tanto para os investimentos imobiliários como para os investimentos produtivos. Em outras palavras, é necessário compatibilizar o valor do aluguel com a capacidade de pagamento e as expectativas de lucro das empresas que se deseja atrair. Nessas situações, “inovações no modelo de incorporação” são necessárias, pois a racionalidade do mercado imobiliário, “deixada ao seu livre sabor”, funcionará como uma força de repulsão para as pequenas e médias empresas inovadoras. Uma alternativa interessante para viabilizar esse “mix de aluguéis” é compor a carteira de investimentos com recursos públicos e privados, destinando edificações públicas para “condomínios de empresas nascentes de base tecnológica” que possuem menor capacidade de pagamento de aluguéis. Assim que elas aumentam sua escala de produção e vendas, ocorre uma migração desses empreendimentos para a área privada, com aluguéis maiores, liberando espaço na área pública para que novas empresas nascentes tenham a oportunidade de se instalarem no Parque Tecnológico. A destinação dessa área construída com recursos públicos para firmas dessa natureza reforça a conexão e interação entre os Parques Tecnológicos e as Incubadoras / Aceleradoras de empresas de base tecnológica.

Outra questão importante a se considerar, é que uma parte do fluxo de rendas advindo do aluguel ou cessão de uso da terra se constituirá em receitas para a sustentabilidade do Parque Tecnológico quando em operação. Assim, existe uma “pressão” sobre as equipes gestoras nessa fase, para encontrar uma opção de incorporação que também viabilize financeiramente a “instituição Parque Tecnológico”. Os economistas utilizam uma expressão para caracterizar essas situações: trade-off. Se o objetivo é aumentar a participação da pequena e micro empresa, existe uma tendência à redução do fluxo de receitas dos aluguéis. Torna-se necessário também diversificar a fonte de receitas no “Plano de Negócios do Parque Tecnológico”. Novamente, é importante citar a discussão do primeiro artigo: o alinhamento de objetivos entre as instituições fundadoras de um Parque Tecnológico é fundamental para que não ocorram demandas conflitantes sobre a execução das fases de implantação dos projetos. E as conseqüências de determinadas diretrizes estratégicas devem estar claras, desde o início, para que não ocorram “sucessivas frustrações de expectativas” ao longo do tempo. Definidos os principais desafios dessas fases – arranjo institucional e o plano de incorporação imobiliária – podemos expor e discutir o framework proposto de implantação dos Parques Tecnológicos.

3. FRAMEWORK DE IMPLANTAÇÃO

Esse tópico pretende encerrar as discussões apresentadas na série de artigos “O Desafio de Implantar Parques Tecnológicos” apresentando o framework com as etapas, ou fases, pelas quais os projetos de Parques Tecnológicos devem percorrer ao longo do seu período de implantação.

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Neste tópico, encerramos a discussão apresentada na série de artigos “O Desafio de Implantar Parques Tecnológicos” para apresentar o framework com as etapas de implantação de Parques. As primeiras etapas do framework são o “Workshop para diretrizes estratégicas” – quando as instituições alinham expectativas e fazem um Planejamento Estratégico - e “O Estudo de Oferta e Demanda Tecnológica” – que aponta, além das ofertas e demandas tecnológicas, os gargalos ao longo da cadeia de inovação.

O objetivo ao longo dos quatro artigos foi o de apresentar e caracterizar os desafios inerentes a cada uma das etapas desse framework e justificar a importância e a sequência dessas etapas, tal como expressado na figura acima. Em nosso framework, a linha horizontal que divide a maioria das figuras em duas partes não é meramente ilustrativa, mas todas as etapas acima dessa linha são fundamentais para a implantação do hardware dos Parques – aspectos relacionados à estrutura física e urbana – enquanto as etapas abaixo dessa linha são importantes para a constituição do software dos Parques – aspectos relacionados à gestão da inovação e interação universidade-empresa. Como enfatizado, o Parque em operação é resultado da implantação eficiente desses dois “componentes”, ou duas dimensões. Nosso framework começa com duas etapas importantes: “Workshop para diretrizes estratégicas” e “O Estudo de Oferta e Demanda Tecnológica”. A definição dessas duas fases, seus principais desafios e os resultados esperados foram discutidos com maiores detalhes nos artigos 1 e 3 da série, respectivamente. Mas, a essência dessas duas fases é responder às seguintes questões: “onde estamos?” e “para onde vamos?”. Em outras palavras, o planejamento da implantação de um Parque Tecnológico deve iniciar com um diagnóstico dos dois agentes mais importantes em um processo de inovação – ICTs e empresas – e das conexões, ou relações, que esses agentes estabelecem (ou deixam de estabelecer) entre si. O estudo de oferta e demanda tecnológica deve ser capaz de responder à pergunta “onde estamos?”, caracterizando as dimensões do sistema local de inovação sobre o qual o Parque Tecnológico pretende atuar como agente de integração entre universidade e empresas. Como discutido no artigo 3, esse estudo precisa apontar não apenas as competências científicas e tecnológicas das ICTs (oferta tecnológica) e as demandas das empresas de setores inovadores (demanda tecnológica), mas principalmente os pontos de estrangulamento que esses agentes enfrentam ao longo da “cadeia de inovação”. O “Workshop para diretrizes estratégicas” é a fase na qual as instituições envolvidas no projeto do Parque Tecnológico irão alinhar suas expectativas

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As próximas etapas são a “Definição do Arranjo Institucional” e a “Definição do local de incorporação e planejamento urbano”. Costumam ser as fases que demandam mais tempo. E podem ser consideradas marco para a sobrevivência do Parque, pela quantidade de recursos investidos.

em relação aos resultados do projeto. A relevância e as questões pertinentes para esse workshop foram muito discutidas no artigo 1 dessa série, mas a essência é responder a pergunta “para onde vamos?”. Em outras palavras, o resultado esperado dessa fase é construir a visão do Parque Tecnológico pretendido pelas instituições e o planejamento estratégico para a implantação. Quais as principais características do Parque Tecnológico desejado? Existem expectativas divergentes? Se sim, como compatibilizá-las? Qual é o plano de ação e o cronograma de implantação? A importância dessa fase é subestimada em alguns momentos, por existir uma percepção errônea de que há um “consenso natural entre instituições que se relacionam com o processo de inovação”. No entanto, as experiências demonstram que expectativas divergentes são muito comuns e podem dificultar, e até mesmo sustar, o processo de implantação de Parques Tecnológicos. As próximas etapas são a “Definição do Arranjo Institucional”, discutida nesse artigo, e a “Definição do local de incorporação e planejamento urbano”, fase que foi objeto específico do artigo 2 dessa série, e que inclui também a execução das obras de infra-estrutura urbana necessárias para viabilizar a ocupação do terreno escolhido. Essas etapas são, na maioria das experiências, as fases que mais demandam tempo para serem definidas e consolidadas durante o processo de implantação dos Parques Tecnológicos. Não seria exagerado afirmar que essas etapas são um marco para a sobrevivência dos projetos, e aqueles que completam essas fases com êxito acabam se tornando empreendimentos irreversíveis. Isso ocorre porque os recursos humanos e financeiros disponibilizados pelas instituições fundadoras para viabilizarem a participação em uma “nova instituição”, e para executarem todas as obras de infra-estrutura urbana são de um valor significativo e, portanto, justificam um esforço contínuo para que o Parque Tecnológico entre em operação. É importante sintetizar algumas conclusões do segundo artigo dessa série sobre o planejamento urbano para a implantação de Parques Tecnológicos. A característica central que justifica a relevância dessa etapa é o fato de que os Parques são tidos como “empreendimentos urbanos de alto impacto”. Isso significa dizer que o Parque Tecnológico aumenta o adensamento urbano e sobrecarrega a infra-estrutura da cidade com novas demandas. Se ações mitigadoras desses impactos não forem planejadas e executadas ao longo da fase de implantação, o Parque pode se transformar em um problema para as cidades e causar “deseconomias de aglomeração” para as empresas que se instalem dentro ou próximas ao empreendimento. Esse conceito refere-se aos aumentos nos custos de operação das empresas em função das dificuldades de localização em um tecido urbano caótico e excessivamente ocupado. Outra questão importante é que o espaço físico dos Parques Tecnológicos deve ser diferenciado do ponto de vista arquitetônico e de “espaços de preservação ambiental” para estimular as relações de cooperação inter-firmas e entre universidades e empresas. O ambiente deve ser propício “ao trabalho e às relações criativas”, característica essa indicada como primordial para o sucesso dos Parques Tecnológicos. Essa expressão de amenidades urbanas que estimulem os “espaços criativos” começa com a formulação de um Plano Diretor, ou Plano de Uso e Ocupação do Solo, que contenha diretrizes e parâmetros construtivos para as futuras edificações, além de diretrizes para a distribuição dentro do Parque das empresas e serviços a partir da natureza de suas atividades e de possíveis afinidades setoriais. O sucesso dessa etapa também depende da formação e gestão de uma equipe multidisciplinar – com a presença de arquitetos, engenheiros, biólogos – a fim de transformar um empreendimento de alto impacto em uma intervenção urbana de excelência, que possa revitalizar o espaço urbano do seu entorno e da cidade. Concluídas essas etapas o projeto aumenta suas probabilidades de sucesso ao longo da fase de implantação e, mais do que isso, já adquire um estágio de maturidade que lhe permite delimitar com mais precisão os “setores econômicos alvo” do Parque Tecnológico. Assim, a próxima etapa, que fornecerá importantes subsídios para as próximas fases tanto do hardware como do software, é um “Estudo de Demanda” com empresas e ICTs que compõem ou se relacionam com esses setores alvo. Esse estudo de demanda, além de captar variáveis relacionadas à cadeia de inovação das empresas,

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Nesta etapa do framework, já é possível dizer com mais precisão os setores alvo do Parque. Um estudo de demanda é feito com esses setores, mas somente depois de concluídas as fases de planejamento urbano e arranjo institucional, que tem tempo de execução relativamente longo. Na sequência, seguem as etapas de formatação do “Plano de Engenharia Imobiliária” e planejamento dos “Serviços ofertados pelo Parque”. São etapas decisivas na diferenciação do projeto de outras iniciativas existentes. Nas etapas de “Prospecção de investimentos e incorporação imobiliária” e “implantação dos serviços” já é tênue a linha que separa a implantação e a operação do Parque Tecnológico.

deve ser mais específico, especialmente no que diz respeito às demandas dos empreendimentos por espaços físicos e por serviços que devem ser ofertados pelo Parque Tecnológico. Essa especificidade deve ser capaz de responder a questões como: qual é a demanda, em termos de área física (m2), para os espaços destinados à produção e pesquisa das empresas? Existem diferenças significativas entre setores? Qual o volume da produção e as necessidades logísticas relacionadas à comercialização? Que tipo de serviços as empresas gostariam de encontrar dentro do Parque Tecnológico? Essas informações são fundamentais para o planejamento tanto do “Plano de Incorporação Imobiliária”, como para o “Plano de Serviços” do Parque Tecnológico. Um dos resultados esperados do estudo é esboçar o perfil do “produto imobiliário” – características das edificações – que deverá ser ofertado para satisfazer as necessidades das empresas, especialmente na fase de “Prospecção e Investimentos de Incorporação Imobiliária”. Para evitar a possibilidade de defasagem dessas informações, esse estudo de demanda deve ser realizado após as fases de planejamento urbano e arranjo institucional, que são etapas com um tempo de execução relativamente longo. Na sequência do framework seguem as etapas de formatação do “Plano de engenharia imobiliária” e o planejamento dos “Serviços ofertados pelo Parque”. A etapa de planejamento dos serviços é uma das mais decisivas – juntamente com o planejamento urbano – na busca por uma “identidade para o projeto” que o diferencie das iniciativas já existentes. Isso porque os serviços não são apenas aqueles tradicionais – tais como escritórios de contabilidade, restaurantes, bancos – mas principalmente porque existem serviços direcionados para construir essa “ponte” entre universidade e empresas. Segundo os dados da IASP – Associação Internacional de Parques Tecnológicos – um dos principais serviços ofertados pela direção dos Parques no mundo é o networking, ou o estabelecimento das “redes” entre a ciência e o mercado. Assim como o “arranjo institucional”, a formatação dessas redes é um desafio “aberto à inovação”, e as instituições podem criar diversos formatos que melhor se adaptem a essa “gestão da integração universidade-empresa”. No artigo 3 dessa série existe uma discussão e proposições dos elementos que podem constituir uma rede de cooperação entre os mundos acadêmico e empresarial. Além disso, a oferta de serviços diferenciados pode se constituir também em importante fonte de receita para a sustentabilidade financeira dos Parques Tecnológicos. Outro aspecto do framework é que as etapas “Prospecção de investimentos e incorporação imobiliária” e “Implantação dos Serviços” são fases nas quais a linha entre um Parque em implantação e operação é muito tênue. São etapas nas quais o resultado de sua execução é sinônimo de empreendimento em operação, e como elas não precisam estar 100% concluídas para caracterizar esse fato – a capacidade construtiva do terreno não precisa estar plenamente utilizada para que empresas comecem a operar dentro do Parque Tecnológico – há um espaço de interseção muito grande nessas etapas entre o que se classifica como empreendimento em implantação ou operação. O fato é que a incorporação imobiliária apenas acontecerá se a fase imediatamente anterior – “Plano de Incorporação Imobiliária” – consiga responder de maneira precisa aos desafios pontuados nos itens anteriores desse artigo.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A principal consideração final é uma recomendação de leitura. Após conhecer o framework, será um exercício interessante reler os artigos anteriores dessa série para entender com mais detalhes as etapas de implantação e realizar uma análise mais acurada do próprio framework ora apresentado. Como explicitado em outros momentos, os projetos de Parques Tecnológicos são muito complexos, envolvem instituições com naturezas muito distintas e investimentos de escalas significativas. Além disso, o contexto local no qual os projetos estão inseridos também é determinante, pois existem dimensões políticas e sociais que são típicas de determinadas cidades e dificilmente podem ser replicadas para outros contextos. Essa diversidade pode ser utilizada pelos projetos para apresentar “soluções criativas” aos problemas enfrentados e, nesse sentido, os resultados finais – Parques Tecnológicos em

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operação – também serão distintos e heterogêneos entre si. No entanto, acreditamos que o framework apresentado consegue extrair dessa diversidade de experiências as etapas essenciais para a implantação de qualquer projeto de Parque Tecnológico e, mais do que isso, acreditamos que os artigos caracterizam bem os desafios, os “obstáculos a serem vencidos”, que são comuns às iniciativas de Parques Tecnológicos. A hipótese que esteve presente ao longo de todos os artigos – corroborada pelas experiências nacionais e internacionais – é que os desafios para a implantação possuem um elevado grau de similaridade, especialmente pelo fato de que são empreendimentos tipicamente urbanos e cuja dimensão física – hardware – possui repercussões não apenas para as empresas, mas também no “tecido urbano social”, o que amplia o escopo de pessoas diretamente afetadas pela implantação de um Parque Tecnológico. Além disso, a dimensão do software dos Parques Tecnológicos também ultrapassa os limites físicos e geográficos do empreendimento. A criação de “redes de cooperação” para aproximar o mundo acadêmico do mundo empresarial é um desafio característico dos Parques Tecnológicos e, certamente, o êxito nessa etapa traz uma agregação de valor significativo para as empresas e benefícios para o desenvolvimento econômico das cidades, estados e países.

Independente das “soluções inovadoras” criadas por cada projeto é fundamental que na fase inicial seja feito um planejamento estratégico que identifique com precisão os desafios, os “pontos de estrangulamento” do processo, e, por conseguinte as etapas que devem ser percorridas para se obter êxito ao final. Essa série “O Desafio de Implantar Parques Tecnológicos” teve o objetivo de apresentar uma estruturação do planejamento estratégico dos Parques Tecnológicos e, com isso, contribuir para aumentar as chances de sucesso dos diversos empreendimentos que estão em fase de implantação no Brasil. Os Parques Tecnológicos são instituições fundamentais para os sistemas nacionais de inovação dos países desenvolvidos e, certamente, também serão muito importantes para transformar nosso sistema de inovação e dinamizar nosso caminho em direção a uma realidade diferente, na qual possamos erradicar as diversas mazelas sociais que ainda possuímos e que não nos permitem classificar o Brasil como um país próspero e capaz de transbordar suas inúmeras potencialidades para o mundo.

AUTOR

Francisco Horácio Pereira de Oliveira é Mestre e Doutorando em Economia pelo CEDEPLAR/UFMG e

professor do Departamento de Economia da UFMG e do Centro Universitário Newton Paiva. Possui artigos

publicados nas áreas de inovação tecnológica e desenvolvimento econômico, com experiência

profissional na gestão de projetos de Parque Tecnológico. Atualmente é consultor do Instituto Inovação.

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