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Ano 7 nº 81 novembro 2007 ENTREVISTA JAMES HUNTER: SE TODOS OS FUNCIONÁRIOS SÃO LÍDERES, A EMPRESA É MAIS COMPETITIVA E MAIS A RECUPERAÇÃO DAS MATAS CILIARES A ESTRATÉGIA PARA DEFINIR PREÇOS O DESAFIO DE MANTER O CRESCIMENTO

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Ano 7nº 81novembro2007

ENTREVISTA JAMES HUNTER: SE TODOS OS FUNCIONÁRIOS SÃO LÍDERES, A EMPRESA É MAIS COMPETITIVA

E MAIS

A RECUPERAÇÃO DAS MATAS CILIARES

A ESTRATÉGIA PARA DEFINIR PREÇOS

O DESAFIO DEMANTER O

CRESCIMENTO

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A IMPORTÂNCIADO ASSOCIATIVISMOGarantir o crescimento exige força política das organizaçõesempresariais, que precisam de gestão profissionalizada, comfoco na competitividade

Armando Monteiro Neto, presidente da CNI – Confederação Nacional da Indústria

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A CNI ACOLHEU EM BRASÍLIA, NOS DIAS 22 E 23de outubro, representantes de sindicatos patronais,Federações e associações setoriais, presentes no 2°Encontro Nacional da Indústria (Enai). Um indi-cador bastante positivo da coesão das liderançasindustriais foi o alto índice de participação de exe-cutivos e dirigentes dessas entidades no encontro.

Entre o 1° Enai, em junho de 2006, e o do mêspassado, chama atenção de modo especial amudança do contexto econômico do País. Nodocumento de conclusão daquele encontro, entre-gue aos candidatos à Presidência da República,expressou-se a grande preocupação do empresaria-do industrial com o baixo crescimento do ProdutoInterno Bruto (PIB). Caso se mantivesse a taxamédia do período entre 1985 e 2005, os brasilei-ros levariam 100 anos para dobrar sua renda. Masesse quadro começou a mudar justamente no anopassado, quando superamos a taxa de 4% de cres-cimento do PIB. Se atingirmos e mantivermostaxas de 5%, com um incremento populacional de1,2% ao ano, será possível dobrar a renda per capitaem apenas 18 anos.

Nossas preocupações são hoje, portanto, deoutra ordem: temos de ampliar ou ao menos man-ter o atual ritmo de crescimento de forma sustenta-da. Parte do desafio encontra-se dentro das empre-sas: é necessário fazer dos ganhos de produtividadeuma verdadeira obsessão. A qualidade das liderançasempresariais tem papel preponderante nesse proces-so, algo que este número de Indústria Brasileiraexplora na entrevista com o escritor norte-americano

James Hunter, especialista em recursos humanos eautor de um dos livros mais vendidos até hoje noBrasil, O Monge e o Executivo.

Os empresários são agentes de transformação,no entanto, não apenas pelo trabalho em suasempresas, mas também por sua atuação coletiva.Um aspecto importante para garantir o cresci-mento é a força política das organizações empre-sariais. Nossas entidades devem atuar sobre práti-cas, leis e instituições que se revelam obstáculosao desempenho econômico do País. Incertezasjurídicas quanto à terceirização, por exemplo,dificultam formas de produção mais eficientes. O aumento de investimentos privados em infra-estrutura enfrenta a falta de regras claras. E osgastos de custeio do governo vêm aumentando,em prejuízo dos investimentos públicos e dosesforços para reduzir a carga tributária, que limi-ta o desenvolvimento das empresas.

É preciso admitir, porém, que, embora osetor empresarial seja capaz de formular boaspropostas de agendas de modernização para oPaís, não tem demonstrado igual capacidade deorganização. Aprimorar-se nesse sentido exige amodernização das entidades empresariais, o queimplica profissionalizar a gestão e reformular agovernança, com foco na competitividade. Essapercepção une as duas agendas do Enai: a agen-da do crescimento sustentável e a agenda doassociativismo. Implementá-las é uma grande con-tribuição que os cidadãos-empresários podemdar ao futuro da Nação Brasileira.

ARMANDO MONTEIRO NETO

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DIRETORIA DA CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA - QUADRIÊNIO 2006/2010

Presidente: Armando de Queiroz Monteiro Neto (PE);Vice-Presidentes: Paulo Antonio Skaf (SP), Robson Braga de Andrade (MG), Eduardo Eugenio GouvêaVieira (RJ), Paulo Gilberto Fernandes Tigre (RS), José deFreitas Mascarenhas (BA), Rodrigo Costa da Rocha Loures(PR), Alcantaro Corrêa (SC), José Nasser (AM), JorgeParente Frota Júnior (CE), Francisco de Assis BenevidesGadelha (PB), Flavio José Cavalcanti de Azevedo (RN), Antonio José de Moraes Souza (PI);1º Secretário: Paulo Afonso Ferreira (GO);2º Secretário: José Carlos Lyra de Andrade (AL);1º Tesoureiro: Alexandre Herculano Coelho de Souza Furlan (MT);2º Tesoureiro: Alfredo Fernandes (MS); Diretores: Lucas Izoton Vieira (ES), Fernando de Souza FlexaRibeiro (PA), Jorge Lins Freire (BA), Jorge MachadoMendes (MA), Jorge Wicks Côrte Real (PE), Eduardo Pradode Oliveira (SE), Eduardo Machado Silva (TO), JoãoFrancisco Salomão (AC), Antonio Rocha da Silva (DF), José Conrado Azevedo Santos (PA), Euzebio AndréGuareschi (RO), Rivaldo Fernandes Neves (RR), FranciscoRenan Oronoz Proença (RS), José Fernando Xavier Faraco(SC), Olavo Machado Júnior (MG), Carlos Antonio deBorges Garcia (MT), Manuel Cesario Filho (CE).

CONSELHO FISCALTitulares: Sergio Rogerio de Castro (ES), Julio Augusto Miranda Filho (RO), João Oliveira de Albuquerque (AC);Suplentes: Carlos Salustiano de Sousa Coelho (RR), Telma Lucia de Azevedo Gurgel (AP),Charles Alberto Elias (TO).

UNICOM - Unidade de Comunicação Social CNI/SESI/SENAI/IEL

ISSN 1519-7913Revista mensal do Sistema IndústriaDiretor executivo - Edgar LisboaDiretor institucional - Marcos Trindade

ProduçãoFSB ComunicaçõesSHS Quadra 6 - cj. A - Bloco E - sala 713CEP 70322-915 - Brasília - DF Tel.: (61) 3323.1072 - Fax: (61) 3323.2404

e Gerência de Jornalismo da UNICOMSBN Quadra 1, Bloco C, 14º andar Brasília - DF - CEP 70040-903 Tel.: (61) 3317.9544 - Fax: (61) 3317.9550e-mail: [email protected]ção IW Comunicações - Iris Walquiria Campos RedaçãoEditor: Paulo Silva Pinto Editores-assistentes: Enio Vieira e Luciano MilhomemEditor de arte: Flávio CarvalhoRevisão: Shirlei NatalinePublicidade FSB ComunicaçõesMagno Trindade - [email protected] Visconde de Pirajá, 547 - Grupo 301Rio de Janeiro - RJ - CEP 22410-003 Tels.: (21) 2512.9920 / 3206.5061Gilvan Afonso - [email protected] Quadra 06 - Conj. A - Bloco E sala 713 Brasília - DF - CEP 70322-915 Tel.: (61) 3323-1072Cel.: (61) 8447-8758Impressão - Gráfica CoronárioCAPA: FSB DESIGNAs opiniões contidas em artigos assinados são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, o pensamento da CNI.

16 CapaEncontro Nacional da Indústria defende reforma tributária e redução dos gastos públicos para o Brasil manter o crescimento econômico

26 NegóciosApós cortar custos durante anos, empresas definem agora estratégias de preços mais adequadas para obter lucros maiores

30 DiplomaciaExecutivos de empresas brasileiras e norte-americanas se reúnem em Brasília e propõem acordo de fim da bitributação

32 InovaçãoPrograma da Fiep busca o aumento da capacitação de empresasparanaenses na área de tecnologia

38 Meio AmbienteCriado por entidades empresariais, o Instituto Ação Verde quer recuperar matas ciliares em Mato Grosso até 2020

ARTIGO50 DANUZA LEÃO

O mundo é capaz de produzir as pessoas mais admiráveis e tambémas mais desprezíveis por conta da violência

SEÇÕES6 LUPA

10 ENTREVISTAJames Hunter, autor de O Monge e o Executivo, um dos livros maisvendidos até hoje no País, afirma que as empresas de maior sucessosão aquelas onde todos são líderes

24 TENDÊNCIASEconomia brasileira aumenta o crescimento e precisa de ajuste nascontas públicas para sustentar o ritmo atual

34 ANÁLISEJosé Roberto Mendonça de Barros avalia as mudanças na renda dosbrasileiros e os efeitos no setor de higiene

41 RESENHALivro de Peter Ducker ensina que o maior ativo das empresas hojeestá no conhecimento, mais do que nas máquinas e instalações

44 PONTO DE VISTAAntônio Rocha da Silva fala da participação do setor privado na economiado Distrito Federal, e João Francisco Salomão explica como as obras deinfra-estrutura no Acre ajudam na integração da América do Sul

46 CULTURALivro com 180 fotos registra os desenhos das calçadas no Rio deJaneiro e mostra as origens no uso das pedras portuguesas

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O SENAI REALIZA DE 26 A 30 DE NOVEMBRO A

quarta edição do Fórum Teuto-Brasileiro deInovação 2007. O evento, que será realizado pelaprimeira vez em quatro cidades nordestinas(Salvador, Petrolina, Fortaleza e Recife), reunirápesquisadores, dirigentes de instituições dedesenvolvimento tecnológico e professores daAlemanha. A idéia é apresentar para o empresariadolocal as novas tecnologias para aumento deprodutividade existentes nas áreas de metalmecânica,logística, microeletrônica e alimentos. O SENAIdesenvolve projetos de cooperação técnica com aAlemanha há mais de 20 anos para captar etransferir a inovação para a indústria brasileira.

TECNOLOGIA ALEMÃ

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A ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS

(ABNT) está atualizando os padrões detamanhos para o vestuário no Brasil. A idéia éfacilitar a vida do consumidor, com referenciaisadequados ao biótipo do brasileiro, que semodificou ao longo dos anos. A adesão àpadronização da norma NBR 13377/1996 serávoluntária, e não haverá punição para asindústrias que eventualmente não aderirem aospadrões estabelecidos. A revisão foi propostaem outubro do ano passado, e os estudos estãosendo realizados há um ano. Devido àcomplexidade do assunto, a revisão da NBR13377 está sendo analisada por diversasentidades que compõem o Comitê Brasileirode Normalização Têxtil e Vestuário.

TAMANHO PADRÃO

COOPERAÇÃO BRASIL-ALEMANHAA CNI E A CONFEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS

da Alemanha – Bundesverband der DeutschenIndustrie (BDI) promovem, de 8 a 20 denovembro, em Blumenau (SC), a 25ª ediçãodo Encontro Econômico Brasil-Alemanha. O evento terá como tema InovaçãoTecnológica: uma Cooperação para aCompetitividade Internacional. O objetivo é fortalecer o relacionamento entre os doispaíses, promovendo o comércio, a formaçãode parcerias, atração de investimentos eincluindo também transferência detecnologia. Mais informações pelo site(http://www.brasilalemanha2007.com/portugues/).

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APRENDER QUÍMICA PODE FICAR MAIS FÁCIL E INTERESSANTE.O Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento deMateriais Cerâmicos (CMDMC), que reúne pesquisadoresde várias universidades paulistas, desenvolveu e oferecegratuitamente na internet uma versão educativa do jogojaponês Sudoku voltada para o ensino dessa disciplina. O Sudoku é um jogo de lógica de origem japonesa e consistena organização de algarismos de 0 a 9 em linhas e colunas,sem que haja repetições. A versão educativa do jogo, chamadaChemical Sudoku, utiliza os elementos químicos no lugar dosnúmeros, facilitando assim o estudo da tabela periódica. O jogo foi desenvolvido em parceria com a empresa AptorSoftware, de São Carlos (SP), e está disponível no site doCMDMC (www.cmdmc.com.br/sudoku).

JOGO DE QUÍMICA

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O BRASIL É O PRIMEIRO PAÍS DA

América Latina e o 13° do mundoa ser reconhecido como AutoridadeInternacional de Busca (ISA) e deExame Preliminar (IPEA). Comisso, o Instituto Nacional dePropriedade Intelectual (INPI)poderá facilitar o acesso deempresas brasileiras ao mercadomundial, já que o depósitointernacional de patentes poderáser feito diretamente no Instituto,dispensando o envio para análise eexame de um escritório estrangeiro.Os números de pedidosinternacionais de brasileirosdepositados no INPI cresceram de264 em 2005 para 313 em 2006.Porém, o número é tímido secomparado com a China, que elevouos pedidos internacionais feitos emseu escritório de 1.165, em 2003,para 3.827 no ano passado.

PATENTESINTERNACIONAIS

DE 14 A 21 DE NOVEMBRO, 24 DOS

melhores e mais bem preparadosalunos do SENAI de todo o Brasilvão disputar em Shizuoka, no Japão,a maior competição mundial deeducação profissional: a WorldSkills2007. A delegação brasileira contacom representantes de São Paulo, RioGrande do Sul, Pernambuco, MinasGerais, Santa Catarina, Rio de Janeiroe Distrito Federal, que competirãopor medalhas em 20 ocupações.“Estamos preparados para ter umótimo desempenho”, diz o gerente deOlimpíadas e Concursos do SENAI,José Luis Gonçalves Leitão.

PROFISSÃO À PROVA

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O PROGRAMA EXPORTA CIN, OPERACIONALIZADO PELO CENTRO

Internacional de Negócios (CIN) da Fieg, em Goiás, recebeu o PrêmioAnálise-FIA de Comércio Exterior 2007. O programa é uma iniciativada CNI que, em parceria com as Federações de Indústrias, tem comoobjetivo prestar assistência em prospecção e conclusão de negócios paraempresas aptas a exportar. O CIN já beneficiou três empresas goianascom o programa: a Alca Foods, Brasil Central Alimentos e VilleD’ouro. O CIN da Fiemg também foi premiado com o Certificadode Origem Online, ferramenta que está em funcionamento no estadoe que a CNI pretende implementar em todo o País. Cerca de milempresas utilizam a ferramenta para comprovar a origem de seusprodutos com mais agilidade. “Com a implantação do Certificado deOrigem Online, os exportadores passaram a trabalhar com a garantiado auto-atendimento em base de tecnologia inovadora e moderna. O documento passou a ser emitido com maior grau de segurança epraticidade e o serviço passou a ser oferecido com melhor qualidade,menos burocracia e maior confiança”, diz o gerente do CIN da Fiemg,Carlos Eduardo Abijaodi.

PRÊMIO PARA QUEM EXPORTA

REALITY SHOW EMPRESARIAL A CONSULTI, EMPRESA INCUBADA NO MIDISUL,do SENAI/Criciúma, foi uma das vencedorasdo Programa Empreender é Show, primeiroreality show empresarial, realizado via internet e promovido pela Associação Nacional deEntidades Promotoras de EmpreendimentosInovadores (Anprotec). A competição reuniunove empresas concorrentes de diferentessetores. Entre março e setembro deste ano, asparticipantes tiveram que realizar cinco tarefas e foram avaliadas pelo público e por júrisformados a cada missão. A grande vencedora foi a empresa B2ML, e a Consulti foi a vice-campeã. O proprietário e diretor detecnologia da empresa, Márcio Figueiredo,conta que no primeiro ano de incubação, aConsulti conseguiu crescer 260%. “O Midisulnos apóia com a estrutura física que possui, naparticipação em feiras e eventos”, diz Figueiredo.

A CNI ESTÁ EMPENHADA EM DESBUROCRATIZAR

as exportações brasileiras. A Rede de Centros Internacionais de Negócios (Rede CIN) da entidade está implantandoum sistema que facilitará a emissão decertificado de origem digital. O documento é exigido em vários paísescom os quais o Brasil se relacionacomercialmente para comprovar a origemdos produtos e garantir assim benefíciosalfandegários. O serviço deve começar afuncionar em 2008 e fará com que a emissão e a autenticação dos certificados sejam totalmente informatizadas. O sistema foi divulgado durante o seminário RecentesRegimes de Origem, realizado pela CNI no final de setembro.

MAIS FÁCIL EXPORTAR

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AVIÃO MAIS BRASILEIROO BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO

Econômico e Social (BNDES) lançou umprograma de financiamento para incentivar acadeia produtiva aeronáutica no Brasil.O programa terá orçamento de R$ 100 milhõespara aplicação ao longo dos próximos três anos e garantirá condições de acesso ao crédito paramicro, pequenas e médias empresas quedemandarem financiamentos de até R$ 10 milhões. O objetivo é fortalecer osfornecedores brasileiros da indústria aeronáutica.Cerca de 50% do conteúdo de um aviãoproduzido no Brasil é hoje de origem nacional.

De acordo com o diretor de planejamentoestratégico da Embraer, Nelson Salgado,aproximadamente 50 indústrias brasileirasfornecem para a cadeia aeronáutica nacional. A grande dificuldade é que essas indústrias não estão preparadas para entregarcomponentes completos, isto é, trabalhamapenas com algumas das etapas da usinagemdas peças. “A linha de crédito é uma tentativade aumentar o valor agregado no fornecimentodessas indústrias. Com peças mais completas a demanda por trabalho dos fornecedorescertamente crescerá”, diz.

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O CONSELHO EMPRESARIAL ÍNDIA, BRASIL E

África do Sul (IBAS) vai apoiar uma propostados governos dos três países para a negociaçãode uma área de livre-comércio trilateral. Deacordo com a declaração conjunta elaboradapelos empresários no dia 16 de outubro, emreunião realizada em Joanesburgo, na Áfricado Sul, o fluxo de comércio entre os paísestem crescido nos últimos anos, assim como osinvestimentos e a transferência de tecnologia.Foram selecionados seis setores prioritáriospara ação conjunta: energia e mudançaclimática, mineração, tecnologia dainformação, saúde e farmacêuticos, infra-estrutura e logística e serviços financeiros.

ÍNDIA, BRASIL E ÁFRICA DO SUL

A FIESP REALIZOU UMA PESQUISA COM 230 EMPRESAS

industriais paulistas para avaliar suas intenções comrelação a investimentos em inovação. O estudodivulgado em agosto mostra que a indústria entendeesse tipo de atividade como essencial para amanutenção e ampliação das vantagens competitivas.Das empresas ouvidas, 81% pretendem investir eminovação neste ano. Quanto aos objetivos maisimportantes, 39% das empresas apontaram oaumento da participação no mercado nacional e 29% o incremento da produtividade. Outras 22%pretendem aumentar os lucros e 11% a participaçãono mercado internacional. A pesquisa está disponívelpara download no site da Fiesp (www.fiesp.com.br).

INOVAÇÃO

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Devemos sertodos líderes

POR PAULO SILVA PINTO

JAMES HUNTER OLHA DE MODO INCANSÁVEL OS OLHOS DO INTERLOCUTOR E O

chama pelo prenome. Afirma que o sucesso nos negócios depende do poder deinfluência, algo que ele inegavelmente tem. Vendeu no Brasil, nos últimos dois anos,700 mil exemplares de seu primeiro livro, O Monge e o Executivo (editora Sextante,144 páginas, R$ 19,90), uma fábula sobre um administrador de empresas cuja avida pessoal e a profissional são transformadas. Nos Estados Unidos, onde mora, olivro foi lançado em 1998 e teve pouco mais de um terço dessa tiragem.

Segundo Hunter, influência é sinônimo de liderança e não pode ser uma qua-lidade limitada aos principais executivos da empresa. Faz parte da capacidade deinfluência transformar em líderes outros colaboradores – se possível todos. Em seusegundo livro, Como se tornar um líder servidor (também da Sextante, com igualpreço e número de páginas), Hunter mostra os defeitos que devem ser eliminados:falta de humildade, egocentrismo, dificuldade de escutar e de respeitar as pessoas.São regras simples, mas que exigem muita disciplina de quem quiser deixar de serum mau chefe.

O sucesso de O Monge no Brasil fez com que Hunter viesse ao País 13 vezesdesde que o livro foi lançado, aproximadamente uma vez a cada bimestre. A maisrecente foi para uma palestra na Fiemg, em Belo Horizonte, depois da qual eleconcedeu a Indústria Brasileira a entrevista que está nas páginas a seguir.

Para o autor de O Monge e o Executivo, as empresas de maiorsucesso serão as que conseguirem transformar os colaboradoresem pessoas influentes, independentemente do cargo que ocuparem

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Indústria Brasileira – Como foi sua carreira antesde escrever livros e fazer palestras?James Hunter – Nos anos 1970 eu trabalhava naárea de recursos humanos de uma grande empresasiderúrgica em Detroit [onde nasceu e vive até hoje].Depois, nos anos 1980, tor-nei-me consultor na área derelações de trabalho paramuitas empresas nosEstados Unidos. No iníciodos anos 1990, comecei afocar a área de liderança.Escrevi meu primeiro livroem 1998, que foi lançado aqui em 2005.

IB – Por que enveredou pela área de liderança?JH – Porque encontrei muitos líderes ruins no meucaminho. Atuei em empresas em situação complica-da. As pessoas diziam que o problema estava nos sin-dicatos de trabalhadores. Mas não: era má liderança.Então fiquei muito atento ao trabalho dos líderes efi-cientes. E descobri que eles servem sua equipe. Vãopara o jogo com as pessoas, como um bom treinador.São ativos: abraçam, quando as pessoas precisam deum abraço, e batem, quando necessário.

IB – O senhor foi de alguma maneira influenciadopor Robert Greenleaf [autor do ensaio O líder servi-dor, de 1970]?JH – Não. Eu não li os livros dele até 2002.

IB – São conceitos diferentes?JH – Os conceitos são basicamente os mesmos.

Greenleaf era um homem religioso, um quaker. A idéia do líder servidor não é dele, não é minha, éalgo muito antigo, de milhares de anos. Nós apresen-tamos de um modo que as pessoas possam entender.Só que Greenleaf não discutiu isso, e sim colocouem termos acadêmicos. É uma leitura muito difícil.

IB – No livro O Monge e o Executivo, o senhor dizque os líderes devem amar os funcionários, mas nãode uma maneira sentimental. O que isso significa?JH – Amar para mim é querer o melhor para aspessoas. Se você trabalha para mim, minha moti-vação deve ser querer que você seja não só omelhor trabalhador, mas o melhor ser humano. Eu vou lhe dar reconhecimento, respeito, treina-mento e as ferramentas necessárias para o seu tra-balho. Se você sair do caminho, eu vou te levar devolta. Não tem nada a ver com sentimentos. É mi-nha responsabilidade como líder fazer com que

você cresça. Como um pai.

IB – O líder deve se com-portar como um pai?JH – Ou como um treina-dor, ou como um professor.Há muitas posições de lide-rança. Mas se eu sou o

chefe, minha responsabilidade chave é fazer comque você cresça e a companhia cresça. Liderança éuma paixão por identificar e satisfazer as necessida-des das pessoas. Não as vontades. Algumas vezes, oque você precisa não é o que você quer. Ser um líderservidor não é ser um líder escravo.

IB – Como é um líder ruim?JH – A qualidade número um de um mau chefe éum grande ego. Não são pessoas confortáveis na pró-pria pele. Não gostam de ouvir e nunca fazem per-guntas do tipo “o que você acha?”, nem propõemcoisas do tipo “desafie a minha opinião”. Só falamcoisas do tipo “faça”, ou “o que você pode fazer pormim?” É o contrário do que deveria ser. A falta dehumildade é o maior problema da má liderança.

IB – A convivência com um bom líder é agradável?JH – Não, às vezes um bom líder não é uma pessoasimpática. Os melhores líderes servidores que eu

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Liderança é uma paixãopor identificar asnecessidades das pessoas,não as vontades

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dos não estão deixando a empresa, mas sim o chefe.Gostam do produto, dos colegas, mas se têm umidiota como chefe, acham tudo ruim. Eles não espe-ram 20 anos para se aposentar. Fazem as malas e vãotrabalhar no Google, em São Francisco, ou em outrolugar. Isso está causando muita fricção nos departa-mentos de recursos humanos. O que estão vendo éque é fácil contratar gerentes, pessoas com um MBA,ou mesmo ensinar a gerenciar. É possível ensinar avocê procedimentos, tecnologia. Mas você tem cará-ter? Você inspira as pessoas? A Southwestern Airlines,que é forte em liderança, tem um mote: “Nós con-tratamos pelo caráter e ensinamos o trabalho”.

IB – Liderança pode ser ensinada?JH – Você já encontrou uma criança de dois anosde idade que seja generosa? Não, elas são egoístas.Ou paciente? Também não. Muitos executivostambém são assim. É possível desenvolver essasqualidades? Claro que sim.

IB – Sim, numa criança. Mas e numa pessoa de 20,30 anos?JH – Pode-se mudar até mesmo aos 50 anos. Masvai ficando cada vez mais difícil. Tenho vistomudanças incríveis, com gestores que eram do esti-lo Gestapo, nazistas. Mas isso exige trabalho duro,compromisso e muito sacrifício. Nem sempre setem sucesso.

IB – Qual o caminho para mudar? Deve-se ir paraum monastério, como o personagem de seu livro?JH – Há dois caminhos. As pessoas podem atra-vessar um episódio de grande impacto emocio-nal. Podem ir a um monastério ou ler um livro.Recebo e-mails de pessoas que leram O Monge edizem “oh, estou ouvindo o canto dos anjos”.Mas é raro isso levar a mudança. O segundo

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conheço nos Estados Unidos são muito duros. Sãopit-bulls, em questões como missão, lucratividade,regras da casa, qualidade e diferença entre resultadoe exigência. Quando é hora de bater, não fazem ceri-mônia. Mas quando é hora de abraçar, também nãofazem. Eles conseguem bater e abraçar. A maioriados líderes, porém, caem do cavalo de um lado oudo outro. Alguns não estão nem aí para as relações.Todos nós conhecemos líderes assim, que deixamum grande estrago para trás. É o gerenciamento pornocaute. Eles conseguem entregar o trabalho, masacabam com as pessoas, deixam todo mundo commedo. Sem o abraço, não há criatividade, espiritua-lidade. Mas há pessoas que são totalmente focadasno relacionamento. E caem para o outro lado. Estãoalegres todos os dias, sorriem. Mesmo que a empre-sa vá à falência, tudo bem, desde que sejamos felizes.O necessário é conquistar resultados e construir rela-ções ao mesmo tempo. Isso é liderança. E é muitoraro. Nos Estados Unidos, as empresas estão pagan-do muito bem pessoas assim. Pode-se contratarqualquer idiota para dar ordens. Mas o que precisa-mos é de funcionários empolgados, inspirados, paraservir os clientes.

IB – Qual a proporção desses raros e bons líderes?Algo como 1% do total?JH – Eu diria que é um pouco mais. Algo emtorno de 10% dos líderes.

IB – E está aumentando?JH – Ah, sim. No meu país, as coisas estão mudan-do drasticamente. Os funcionários mais jovens, commenos de 30 anos, os chamados “trabalhadores domilênio”, não toleram maus líderes. Lá as pessoas têmmuita escolha e isso será assim aqui também. Haveráuma demanda pelos melhores funcionários, e eles nãotrabalharão para maus líderes. Minha geração, os cha-mados baby-boomers, enfrentou muitos líderes ruins.

IB – Por que havia tolerância?JH – Porque não se tinha para onde ir, como noBrasil hoje. Faltava mobilidade. Havia também umestigma: se você tinha um emprego, devia segurá-lo.Os jovens atualmente não pensam assim. Acabo dever hoje uma pesquisa mostrando que dois terços daspessoas que deixam seus empregos nos Estados Uni-

ENTREVISTA

Os melhorestrabalhadores com menos de 30 anos nãotoleram chefes ruins

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terá de alcançá-la. Se você não fizer isso, Paulo, vouter que eliminá-lo. Eu vou ficar devastado. Eu pre-ciso de você, você é uma das pessoas que eu maisconsidero. Se eu demiti-lo, vou sentir que falheicomo líder, porque tenho de ajudar a ter sucesso.Vamos fazer assim: toda sexta-feira, eu quero vocêno meu escritório e vamos analisar a evolução dascoisas. Estou envolvido nisso. A única questão é sevocê também está, porque eu não posso fazer o seutrabalho. E não tenha dúvida: se você não fizer oseu trabalho, eu farei o meu, e vou eliminá-lo.

IB – Mas a falha do funcionário é realmente culpado líder?JH – Não, às vezes simplesmente o Paulo não quis.E adivinhe o que acontecerá [faz como se segurasseuma arma e atira]. Mas isso pode ser a melhor coisapara você, porque você finalmente acordará. E será,em outra empresa, um bom funcionário. Eu agicomo você necessitava, não como você queria. A pior coisa que eu poderia fazer era fingir que nãohavia problema. Você seria medíocre. Se eu gosto devocê, eu quero que seja o presidente da empresa, oque não acontecerá com esse gap. E no próximoano, as metas devem ser maiores. Ser um bom líderé como ser um bom atleta, deve-se praticar sempree perseguir metas maiores.

IB – Qual sua impressão do Brasil em dois anos de visita?JH – Péssima.

IB – É mesmo?JH – Estou brincando [risos]. É um grande país. O que o Brasil precisa é de boa liderança, assim comoos Estados Unidos precisam. O sucesso do meu livroaqui é uma prova disso: há um nervo exposto. As pes-soas querem mudar, querem mais. O Brasil temrecursos naturais, tem pessoas apaixonadas. Está pres-tes a dar um grande salto econômico. Mas eu esperoque não repita os erros cometidos no meu país, comHenry Ford, por exemplo.

IB – O modelo dele funcionou por muito tempo.JH – Você deveria ir a Detroit: a cidade está devas-tada. A indústria automobilística norte-americananão entende nada de liderança. A Toyota e aHonda estão nos matando.

caminho é o tradicional: trabalho duro. As pessoasque eu conheço, que mudaram dramaticamente,simplesmente disseram um dia: “Basta. Cheguei aofundo do poço.” Como um alcoólatra.

IB – Em que consiste o trabalho de mudança?JH – Eu falo mais disso no meu segundo livro. Há três passos. O primeiro é descobrir a meta: o queeu preciso ser. O segundo é descobrir a distânciaentre o que eu sou e essa meta: eu não ouço, eu nãoelogio, eu não encorajo. Há ferramentas para isso,como feedback de 360°: os subordinados, a famíliapodem mostrar como você é. O terceiro passo écriar fricção por meio da transparência: conversarcom as pessoas no trabalho todos os meses, porexemplo, para saber o quanto se está avançando. Em resumo: é descobrir a meta e os gaps e trabalharneles, exatamente como no modelo de qualidade.

IB – A pessoa pode fazer isso sozinha?JH – Sim, mas é raro. É mais comum executivostrabalharem em grupos, que têm grande poderde mudança.

IB – Quanto tempo leva?JH – Dois anos, aproximadamente, com encon-tros mensais.

IB – Os exemplos de bons líderes no livro O Monge e oExecutivo incluem Gandhi e Madre Tereza de Calcutá,mas ninguém do mundo empresarial. Por quê?JH – No segundo livro há exemplos. O Monge éuma história de ficção.

IB – Como é possível a uma pessoa diferenciar um maulíder e um bom líder que está pressionando positivamente?JH – Os bons líderes agem com respeito. Eu lhechamo e mostro qual a meta e onde estamos. Você

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JAMES HUNTER

O sucesso do meu livro demonstra que

liderança é um nervoexposto no Brasil

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IB – É possível dar exemplos de boas empresas emtermos de liderança?JH – No meu website há muitos exemplos.Depende do setor. No setor de aviação, aSouthwestern e a Jet Blue, as únicas lucrativas nosEstados Unidos. Na área de hotéis, o Marriot,uma empresa onde a liderança servidora traz resul-tados há 60 anos. O bom líder não fica sentadono escritório o dia inteiro. Liderança é o que vocêé. O que você faz é simplesmente gestão.

IB – Um bom líder pode ser um mau gestor?JH – Sem dúvida. Há muitos assim. Eles se cer-cam de bons gestores. Liderança é influência. ASouthwestern, com 35.000 funcionários, contratouuma pessoa em 1995 que hoje é a CIO [chief infor-mation officer, principal executiva da área de tecno-logia]. Ela nunca tinha ligado um computador navida, e não escondeu isso ao ser entrevistada. Hojeanda com quatro laptops. Antes, quem entendiamais de tecnologia era o rei. Louis Gerstner, ohomem que transformou a IBM [entre 1993 e2002] não entendia nada de computadores. Ele faziabiscoitos na Nabisco. Mas o que se faz no Brasil, eainda nos Estados Unidos? Pega-se o melhor vende-dor e faz-se dele o supervisor. Perde-se o melhor ven-dedor e ganha-se um péssimo líder. Fazer bem o tra-balho não significa ter o poder de inspirar. Liderançaé uma qualidade espiritual: é capturar o coração, amente e o espírito das pessoas. Um grande treinadornos Estados Unidos dizia: depois de conquistar ocoração, o resto irá para onde você quiser.

IB – Ser um bom líder inclui formar líderes?JH – Claro. Jack Welsh [ex-CEO da GeneralElectric] gastava 60% do tempo dele treinandobons líderes. O grande objetivo é que todos sejamlíderes. Na Southwestern Airlines, o que é genial éterem criado um grupo assim. Uma comissária debordo recebe você dizendo: “Bem-vindo ao meuavião.” O CEO e a comissária de bordo têm fun-ções diferentes. Mas a influência conta em ambas.O CEO não fala com clientes. As comissáriaslidam com milhares de clientes por dia. Quemacha que um casamento é 50-50 não ficará casadopor muito tempo. Um casamento é 100-100.Uma grande organização é assim. Trate as pessoas

como quiser ser tratado. Seja um pai como gosta-ria que seu pai tivesse sido. Seja um chefe comogostaria que seu chefe fosse: paciente, controlado.Ninguém discorda disso. Mas uma coisa é concor-dar intelectualmente. Outra, na prática.

IB – Os melhores líderes são sempre bem pagos?JH – Nem sempre há correlação. Há líderes ruinsque são muito bem pagos, afinal as empresas dãolucro. Mas eu não meço sucesso por lucro imedia-to. A indústria automobilística nos EstadosUnidos era altamente lucrativa. Até que as coisasmudaram. E nos próximos cinco ou dez anos, asmudanças serão mais velozes. Teremos dificuldadeem reconhecer o mundo atual.

IB – O senhor é um bom líder?JH – Ligue para minha mulher e pergunte [risos].

IB – E o que ela dirá?JH – Que eu sou bem melhor do que eu era antes,mas não tão bom quanto deveria ser. Mas esse é oponto: a meta não é chegar, é melhorar continua-mente. Todo Natal me pergunto se sou melhor doque eu era. Gandhi dizia que não há nenhumanobreza em ser melhor do que outra pessoa. Anobreza é ser melhor do que você era. E é o queum bom líder se pergunta sempre.

IB – Há quanto tempo está casado?JH – Há 18 anos, mas conheço minha esposadesde que sou criança. Ela é uma grande líder, epressionada bastante.

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ENTREVISTA

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POR ENIO VIEIRA, LUCIANO MILHOMEM E PAULO SILVA PINTO

O País está colhendo resultados dos avanços no crédito e na inovação tecnológica, mas pouco se fez para cortar gastos públicose baixar a carga tributária

Agora é precisosustentar ocrescimento

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República. A pesquisa da CNI, divulgada no mêspassado no 2º Enai, mostrou que o Brasil nãoprogrediu em tributação, gastos públicos, meioambiente e relações do trabalho. A situaçãomelhorou em parte na infra-estrutura, educação,acesso a mercados de outros países e desburocra-tização. Os maiores avanços, na avaliação dosempresários e executivos da indústria, foram noaumento do crédito e na inovação tecnológica.

Os participantes do Enai concluíram que aindústria tem acertado no diagnóstico do que énecessário para colocar o Brasil no caminho docrescimento. A falha, porém, está no convenci-mento político da sociedade e do CongressoNacional quanto à necessidade de controlar os gas-tos públicos. “Os empresários são agentes de trans-formação, não apenas pela atuação de suas empre-sas, mas também por sua atuação coletiva, partici-pantes da construção e da implementação de polí-ticas públicas”, afirma o presidente da CNI,Armando Monteiro Neto. No Enai, ficou clara aimportância do associativismo das indústrias, pormeio de sindicatos patronais, para mobilizar asempresas e a sociedade.

APÓS DUAS DÉCADAS DE FRACO DESEMPENHO

econômico, o Brasil começa a experimentar umritmo mais acelerado de crescimento. A CNI esti-ma um aumento de 4,7% do Produto InternoBruto (PIB) neste ano, o dobro da média das últi-mas duas décadas. O número favorável se deve àrecente queda da taxa de juros e ao aquecimento daeconomia mundial. Mas o receio dos empresáriosindustriais é que o crescimento brasileiro não sesustente pela falta de reformas econômicas e de dis-ciplina fiscal. Os gastos públicos de custeio conti-nuam subindo sem qualquer freio ou racionalidadede gestão. Isso impede que o governo aumente osinvestimentos ou reduza a carga tributária.

A CNI fez uma pesquisa sobre essas questõescom a base industrial do País. Foram ouvidosrepresentantes de Federações de Indústrias, sindi-catos patronais e associações setoriais da indús-tria, num total de 538 entidades, para que ava-liassem os avanços e retrocessos na agendaCrescimento – a visão da indústria. O documentoapontou dez prioridades discutidas no 1ºEncontro Nacional da Indústria (Enai) em 2006e foi entregue aos candidatos à Presidência da

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PAINEL EM SÃOPAULO mostra a

arrecadaçãorecorde com

impostos, que ogoverno usa para

aumento degastos de custeio

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disseram que não houve avanço na área tributária e28% perceberam um retrocesso. Foi o pior resulta-do, juntamente com o tema de relações do traba-lho. O gerente-executivo da Unidade de PolíticaEconômica da CNI, Flávio Castelo Branco, afirmaque há frustração com o aumento da carga tributá-ria, agravada com a possibilidade de renovação daCPMF. O que traz algum otimismo é a proposta deReforma Tributária do Ministério da Fazenda.Neste ano, a CNI fez reuniões estaduais para obtero apoio dos governadores ao projeto de reforma.

REFORMA TRIBUTÁRIACastelo Branco considera importante a idéia,contida no projeto da Fazenda, de substituir oImposto sobre a Circulação de Mercadorias eServiços pelo Imposto de Valor Agregado (IVA),a ser cobrado no destino (consumo), e a criaçãode um fundo de desenvolvimento para bancarincentivos fiscais concedidos pelos governos esta-duais. “A proposta do governo vai na direção cor-reta”, diz. Mas o presidente da Fieb, Jorge LinsFreire, alerta que o projeto de Reforma Tributária

O bom momento de crescimento econômicodo País pode até mesmo se transformar numobstáculo a mais a ser enfrentado pelo empresa-riado na defesa das reformas, principalmente daTrabalhista, segundo o assessor da Presidência daCNI José Pastore. “Aos olhos de muitas pessoasna sociedade, não chegamos a uma situação dedeterioração das instituições nessa área”, afirma.

Antes do 2º Enai, em Brasília, houve 26encontros estaduais da indústria para discutir osrumos do crescimento. Os participantes das mesase painéis do encontro demonstraram consenso emtorno da necessidade de o Brasil investir em infra-estrutura, educação e novas fontes de energia.O Programa de Aceleração do Crescimento(PAC) foi considerado uma mudança positiva nagestão da infra-estrutura. Apesar disso, porém, ogoverno ainda investe pouco. Quanto à prorroga-ção da Contribuição Provisória sobre Movimen-tação Financeira (CPMF), a opinião da amplamaioria é de que o tributo é distorcido e deveriaser reduzido gradualmente até ser extinto.

Na pesquisa da CNI, 45% dos entrevistados

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A EDUCAÇÃOé uma das áreasem que houveavanços no País

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enfrentará obstáculos dos estados que não que-rem perder receitas e vêem no sistema atual deimpostos uma forma de fazer políticas de desen-volvimento regional. O novo IVA acaba com aguerra de incentivos fiscais que governos esta-duais usam para atrair investimentos.

O economista José Roberto Afonso, assessor doSenado Federal para a Reforma Tributária, acredi-ta que o Brasil tem hoje o melhor cenário político,econômico e social para fazer as mudanças nosimpostos. Segundo ele, a polêmica em torno daCPMF é boa para levantar uma discussão maior arespeito de todos os tributos. “A CPMF represen-ta só 4% da arrecadação, e uma reforma deve dis-cutir os outros 96%”, afirmou Afonso durante oEnai. O que mais se taxa no Brasil, segundo ele,são bens e serviços. É o contrário de países indus-trializados, que tributam mais a renda e os lucros.O modelo atual no País cria assim um sistemaregressivo, que penaliza os mais pobres.

Em 2004, relata Afonso, uma família comrenda de até dois salários mínimos tinha umacarga de 48,9% de impostos. Aquelas famílias

MONITORARGASTOS PÚBLICOSO governo teve um avanço de gestão neste ano com o Programa de Aceleração doCrescimento (PAC). Mas é necessário saberquanto se desembolsa de modo claro edetalhado em todas as áreas governamentais. O presidente da Associação Brasileira da Infra-estrutura e de Indústria de Base (Abdib),Paulo Godoy, defendeu no 2o Enai que asociedade tenha acesso a comparações dosgastos com países de renda semelhante à doBrasil para avaliar a eficiência da administração.“Se fizermos um modelo de acompanhamento,a cobrança será automática”, afirma.

Segundo Godoy, é necessário também criarum sistema para saber como está o andamentode licenças ambientais. Seria necessário, porexemplo, saber se o obstáculo a um projetoestá na Fundação Nacional do Índio (Funai), noInstituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama)ou no Ministério Público.

Godoy afirma que o que mais falta hoje no País é um bom ambiente de negóciose projetos bem formulados. “O PAC reúne os principais projetos já existentes.Porém, faz tempo que o Brasil não constróigrandes usinas e aeroportos”, diz ele. Ele acrescenta que alguns, como o de energia, também sofrem com a escassez de engenheiros qualificados.

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com mais de 30 salários pagavam 26,3% de rendaem tributos. O governo brasileiro, portanto, con-centra sua arrecadação em quem tem menorrenda. A receita da União subiu de 10,6% do PIBem 1996 para 16% no passado e deve alcançar17,6% em 2011. “Quando a economia brasileiradesacelerou nos últimos anos, a arrecadaçãomelhorou. É um movimento sem igual nomundo”, critica o economista. O aumento decarga tributária alimentou a alta dos gastos públi-cos, principalmente da Previdência Social.

DESPESAS CRESCENTESO economista Mário Sérgio Teles, da CNI, cal-culou que dois terços do aumento da despesaprimária (que exclui os juros da dívida pública)vieram da Previdência nos últimos dez anos. É o efeito de medidas como os reajustes do salá-rio mínimo por meio de índices acima da infla-ção. Nesse cenário, 45% dos entrevistados napesquisa da CNI não viram avanços no corte degastos do governo, e 24% notaram uma piorada situação dos gastos.

UM TETO PARA ACARGA TRIBUTÁRIAO Brasil criou um nó para o crescimentoeconômico de longo prazo. Nos últimos anos,cresceu a arrecadação de impostos, e o governousou todo o ganho de receita para elevar osgastos. O economista Armando Castelar, doInstituto de Pesquisa Econômica Aplicada(Ipea), afirmou no 2o Enai que será preciso criarum teto para a carga tributária e assim cortar afonte do aumento de despesas públicas.

“Cria-se uma acomodação para osproblemas existentes, como o aumento dosgastos públicos. As reformas ficarão paraquando o Brasil não for mais beneficiado pelaeconomia mundial”, afirma. Para ele, o Brasilapenas aproveitou a onda da economia mundialque teve, nos últimos cinco anos, o ciclo maislongo de crescimento desde 1960.

A sociedade brasileira, nota Castelar, não percebe o tamanho do Estado, que gasta omesmo da média da Organização para aCooperação e Desenvolvimento Econômico(OCDE, uma associação dos países mais ricos),mas investe a metade do que aplica essegrupo. O investimento em infra-estruturapoderá vir, em parte, da iniciativa privada. Mas as recentes concessões de rodovias nãodevem ser comemoradas: “Estrada requer sónormas para pedágios. Energia elétrica temquestões mais amplas e exige uma regulaçãomuito mais complexa”.

SEM INVESTIMENTOS,a energia elétrica

continuará a ter aumentossuperiores à inflação

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A Reforma da Previdência é necessária principal-mente pelo envelhecimento da população. No ritmoatual, ressalta Teles, o próprio Ministério da Previdên-cia tem uma perspectiva nada animadora: o déficitpassará de 1,7% do PIB hoje para 5,2% no ano de2047. A CNI propõe que sejam respeitados os direi-tos de quem já se aposentou, mas defende umamudança na política de reajustes do salário mínimoe a criação de idade mínima para se aposentar na ini-ciativa privada, o que já existe no setor público. NoEnai, os debatedores foram unânimes em apontar anecessidade da redução de gastos previdenciários edo aumento de investimentos públicos.

O governo federal realiza, desde 1998, um ajus-te fiscal baseado em três pontos: aumento de cargatributária, elevação de despesas e corte de investi-mentos públicos. Recuperar os investimentospúblicos é fundamental para resolver os problemasde infra-estrutura no Brasil. Segundo os participan-tes do Enai, essa área está em situação grave e neces-sita de ação adequada, coordenada e urgente. Comexceção dos setores de petróleo e telecomunicações,a infra-estrutura do País vive um momento de dete-rioração progressiva e expansão insuficiente, segun-do diagnóstico da CNI, apresentado na sessãotemática sobre infra-estrutura durante o encontro.

CRESCIMENTOMASCARA DISFUNÇÕESO grande problema do Brasil para o crescimentono longo prazo são as disfunções do setorpúblico, apontou no 2o Enai Celso Luiz Martone,professor da Faculdade de Economia e

Administração da Universidade de São Paulo(FEA/USP). Segundo ele, observa-se grandetolerância em relação a um Estado que consome40% do PIB. Esse problema, afirma o professor,está “mascarado pelo crescimento da economia”.

Martone ressaltou o fato de o País beneficiar-se deuma bonança internacional. Desde 2003, o fluxo docomércio internacional cresceu 8% ao ano, e o volumedas commodities, 15%. “Isso é transitório. Em algummomento, chegará a hora da verdade”, alertou.Martone defende mudança de direção no setorpúblico, pois “o Estado cresce permanentemente”.

O professor criticou também a supervalorizaçãodo real, segundo ele resultante da morosidadeinterna e da situação externa. O Banco Centraldemorou muito para reduzir as taxas de juros:“Agora, o estrago já está feito”, afirmou. As baixastaxas de inflação são artificiais, acredita, porquenão resistirá à readequação da taxa de câmbio.

O AUMENTO DOCRÉDITO favoreceu a

construção civilresidencial, mas faltam

investimentos eminfra-estrutura pública

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Competitividade e crescimento econômicoforam palavras-chaves na sessão do 2º Enai que dis-cutiu a infra-estrutura. Segundo o vice-presidenteexecutivo do Instituto Brasileiro de Siderurgia(IBS), Marco Pólo de Mello, os principais proble-mas estão na oferta de gás natural, energia elétrica,

portos, transporte de cabotagem, rodovias, hidro-vias, ferrovias, aeroportos e saneamento básico. E assoluções passam por marcos regulatórios estáveis;fortalecimento das agências reguladoras; privatiza-ções; segurança jurídica para investimentos priva-dos e parcerias público-privadas (as PPPs); gestão einvestimentos públicos, como o Programa deAceleração do Crescimento (PAC).

Segundo a pesquisa da CNI, a maioria dessasações para melhorar a infra-estrutura não teveavanço significativo. Ao contrário, muitas sofre-ram retrocesso ou estagnaram. “O consumo deaço no Brasil é de 100 quilos por habitante hámais de cem anos. Isso demonstra que o País estáandando de lado”, afirma Marco Pólo. Quandose observa a energia elétrica, o quadro tampoucoé alentador. Para o vice-presidente da AssociaçãoBrasileira dos Grandes Consumidores Industriaisde Energia e de Consumidores Livres (Abrace),Eduardo Carlos Spalding, o custo da energia doconsumidor industrial cresceu acima da inflação,e há perspectiva de aumentos reais de até 34%nos próximos 10 anos.

No período de 2001 a 2006, diz Spalding, atarifa para a indústria subiu 150%. “Houve umaexplosão de encargos”, afirmou e citou comoexemplo a conta de consumo de combustíveis(CCC), que é destinada a compensar subsídiospara parte dos consumidores. Essa conta represen-tava R$ 5,4 bilhões em 2002 e saltou paraR$ 14,4 bilhões em 2006. “Estamos perdendocompetitividade global”, alertou o executivo daAbrace. A saída passa pela diversificação e compe-titividade da matriz energética. O Brasil tem fon-tes diversificadas como biomassa, hidrelétrica eeólica. A fonte hidráulica vem encontrando obstá-culos nas licenças ambientais.

A superintendente do IBS, Cristina Yuan, res-salta a importância das questões relacionadas aolicenciamento ambiental para viabilizar obras.Segundo ela, é necessário aperfeiçoar os dispositi-vos legais, se possível simplificá-los. Yuan lembraque há leis conflitantes entre si e que isso dificultao processo de licenciamento. Há a necessidade dalicença prévia, depois da licença de instalação e,finalmente, da licença de operação. “É um ritoburocrático e complexo”, observou.

CAPA

GASTAR MENOSPARA INVESTIR MAISO presidente do Conselho de Administração doGrupo Gerdau, Jorge Gerdau Johannpeter, acreditaque um dos entraves à Agenda do Crescimentosão os gastos governamentais. O empresárioafirmou no 2o Enai que não há controle da despesado governo e sim a intenção de gastar mais. “Há pressão política pelo gasto”, afirma.

Gerdau destacou o fato de haver falhas degestão no governo, além de faltar o debate damacrogovernança. “Mesmo que os gastossociais dobrassem, isso não resolveria osproblemas do País. O único modo de gerardesenvolvimento social é emprego”, afirmou ele,provocando aplausos do público do Enai.

O industrial apontou, igualmente, os avançosdo governo, como a queda gradual dos juros, aredução do risco-Brasil e o Programa deAceleração do Crescimento (PAC), o qual “é umato de gestão, com metas e prioridades, umainovação que há muito tempo não existia”.

Gerdau acredita que o País vive um momentode estímulo à demanda que pode ser passageiro.Daí a importância de correções estruturais, quepassam pelas reformas Tributária, Previdenciária,Trabalhista e Política.

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ATIVIDADE INDUSTRIALT E N D Ê N C I A S E C O N Ô M I CA S

A ECONOMIA BRASILEIRA, EM ESPECIAL A INDÚSTRIA

de transformação, apresenta claros sinais de expansãoem 2007. No resultado das Contas Nacionais doInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)do segundo trimestre, destacou-se a ampliação de7,2% na produção na indústria de transformação,comparativamente ao mesmo trimestre do ano an-terior. A indústria assumiu o posto de líder no cres-cimento do Produto Interno Bruto (PIB), o queassegura maior robustez ao crescimento da econo-mia. Há indícios de que esse cenário de forte expan-são da atividade industrial deve continuar nestesegundo semestre. A produção da indústria emjulho e agosto de 2007 superou em 7,6% a produ-ção dos mesmos meses de 2006.

Além de intenso, o crescimento da produção in-dustrial é abrangente: agrega três em cada quatro se-tores da indústria. Em seis setores as taxas de cres-cimento da produção são de dois dígitos em 2007:Máquinas e equipamentos; Equipamentos de infor-

mática; Veículos automotores; Outros equipamentosde transporte; Material elétrico; e Mobiliário.

O aumento da produção industrial veio acom-panhado de geração de emprego. A indústria abriu383,6 mil novos postos de trabalho em regime for-mal nos últimos 12 meses findos em setembro. A abertura de vagas na indústria foi maior que aobservada no comércio no mesmo período, de acor-do com dados do Cadastro Geral de Empregados eDesempregados (Caged), do Ministério do Trabalho.

A expansão da atividade industrial apóia-se tantona crescente demanda externa por produtos de grandepeso na pauta de exportações brasileiras como, eprincipalmente, na expressiva demanda interna, quecresce 5,8% em 2007, a maior taxa de expansão em13 anos. O aumento da produção industrial (ou seja,a expansão da oferta de produtos) ocorre, portanto,em resposta a essa demanda adicional. O outro canalde expansão da oferta de produtos é o aumento das

Indústria intensificaexpansão em 2007Para os próximos anos, o crescimento expressivo enfrenta dúvidas peloaumento dos gastos públicos e a interrupção da trajetória declinanteda taxa básica de juros

POR PAULO MÓL

Produção Industrial

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I II III*2007

FONTE: PME/IBGE * JUL-AGO

Variação (%) – mesmo trimestre do ano anterior

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Formação bruta de capital fixoConsumo aparente de máquinas e equipamentos

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observam claros indícios de expansão do parqueprodutivo no Brasil. A formação bruta de capital fixocresceu 13,8% no segundo trimestre de 2007, frenteao mesmo período de 2006. O consumo aparente demáquinas e equipamentos cresceu 19,5% nesse mes-mo período. Esse cenário poderia ser ainda melhor seas taxas de juros brasileiras não figurassem entre asmais elevadas no mundo.

TRIBUTAÇÃO EXCESSIVAO Banco Central preocupa-se com o ritmo decrescimento da demanda. No entanto, grande parteda expansão da demanda interna baseia-se em umapolítica fiscal bastante expansionista. As despesas reaisdo governo vêm crescendo aproximadamente 10%ao ano em 2007, o dobro do ritmo de crescimento doPIB. Mais ainda: esse aumento das despesas públicasé coberto por forte elevação da receita de impostosque também crescem a um ritmo muito superior àprodução. Ou seja, parcela crescente da renda doBrasil é desviada do setor privado para o setor público,o que compromete a qualidade do crescimento.

Em síntese, o momento atual é favorável àeconomia brasileira, em especial à indústria. Mas ocenário atual poderia ser melhor e o futuro requeratenção. Nesse contexto, a contenção do ritmoexcessivo de crescimento do gasto público torna-seimprescindível para reduzir a pressão sobre ademanda interna e assegurar o retorno à trajetóriadeclinante dos juros. Com menos despesas, ogoverno poderia tributar menos, aumentando osrecursos disponíveis para o setor privado investir.Esse é o caminho do ciclo virtuoso que irá assegurarao Brasil a sustentação de altas taxas de crescimentoeconômico por um longo período.

importações, que crescem ao ritmo de 20% em 2007,impulsionadas também pela valorização do real.

O aumento robusto da produção industrialpara além de 2007, no entanto, não está garantido.A contínua valorização do real – que reduz a com-petitividade dos produtos brasileiros, em especialmanufaturados, no mercado internacional – e ocrescimento do nível de preços são os principaisfatores que se apresentam como potencial li-mitador do crescimento.

No fim de setembro, o índice de inflaçãomedido pelo IPCA acumulou alta de 4,15% emdoze meses, um ponto percentual acima da variaçãoem 2006 (3,14%). Essa pressão sobre os preçoslevou o Comitê de Política Monetária (Copom) ainterromper a trajetória de queda de juros, o quepode restringir a expansão do crédito e contrair ademanda, em especial de bens de maior valoragregado, como automóveis e computadores.

Credita-se ao aumento da demanda agregada aprincipal fonte de pressão sobre os preços. O Rela-tório de Inflação (Banco Central) chama a atençãopara o descompasso entre a evolução da demandaagregada e da oferta agregada, o que pode resultarem aceleração inflacionária. De fato, a expansão dademanda está provocando a elevação no uso dacapacidade instalada (UCI). Em agosto, as empre-sas operaram, em média, com 83,6% de utilizaçãoda capacidade (Indicadores Industriais/CNI), o querepresenta um aumento de 1,7 ponto percentualfrente a agosto do ano anterior. O aumento da UCIalimenta a discussão sobre a sustentabilidade docrescimento da oferta de produtos.

Contudo, o risco de restrição à produção indus-trial parece ser menos relevante, na medida em que se

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PIB e Despesas do Governo

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26 INDÚSTRIA BRASILEIRA NOVEMBRO 2007

Como saberse o preço

é justoAs empresas passaram anos

reduzindo custos. Agora,estão descobrindo como é

possível ter lucros maiores com uma estratégia de

preços eficiente

QUANDO A APPLE REDUZIU EM UM TERÇO O PREÇO

de seu iPhone, apenas dois meses depois de lançá-lo no mercado, seus consumidores mais leais, quejá haviam comprado o produto, ficaram irritados.O presidente da empresa, Steve Jobs, viu-se obri-gado a pedir desculpas e a oferecer-lhes reembolsode uma parte do valor do preço antigo.

Segundo analistas e estudiosos da Wharton, oepisódio do iPhone revela os riscos de estabelecer

preços em um mercado onde a inovação constante,a competição acirrada e a globalização estão alteran-do as regras do jogo a cada instante. “O ciclo de vidade um produto é curto, e o mercado está se movi-mentando rapidamente”, afirma o professor de mar-keting da Wharton School, da Universidade daPensilvânia, John Zhang. “Você não tem muitotempo para aprender com seus erros. É preciso colo-car o preço certo no produto na primeira vez.”

STEVE JOBS, daApple, pediu

desculpas pelamudança de valor

do iPhone

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NEGÓCIOS

Estipular preços está despertando novo interes-se à medida que a administração procura meios deaumentar lucros após anos com a atenção voltadapara redução de pessoal (downsizing) e de custos. Sóagora as empresas começam a aplicar, na precifica-ção, os dados e as ferramentas de administração quejá eram utilizados na administração da rede de for-necimento e em outros setores dos negócios. “A precificação é a última fronteira da intuição”,afirma o sócio-gerente de prática de otimização deapreciação e lucro da Accenture, Greg Cudahy.

De acordo com Cudahy, empresas que adotamuma abordagem de estabelecimento de preço aolongo de seu negócio e monitoram seu êxito comnúmeros exatos conseguem aumentar seus rendi-mentos entre 1% e 8%. “Essa é uma enorme mudan-ça na simples melhora do rendimento”, afirma.

A cadeia de farmácias Duane Reade, de NovaYork, é um bom exemplo: aumentou o faturamentocom produtos para bebês em 27% após utilizar umsoftware de preços para examinar dados de vendas,segundo o artigo O preço está correto, não?, da ediçãode janeiro de 2007 da Outlook, publicação de negó-cios da Accenture. No artigo, Cudahy e George L.Coleman, um dos dirigentes do grupo de precifica-ção no varejo da Accenture, descrevem como osdados demonstravam que pais de recém-nascidosnão são tão sensíveis a preços quanto pais de criançasmaiores. Em resposta, a empresa reduziu preços defraldas para essas crianças, mantendo-se competitivaem relação a outras lojas, e elevou os preços das fral-das de menor tamanho.

Cudahy afirma que uma melhor precificaçãopode auxiliar os negócios em muitos outros níveisalém do aumento dos lucros. Ele trabalhou comuma empresa de entrega de pacotes que descobriuser possível reduzir em 90% o tempo gasto comdecisões sobre a valor de seus produtos. Isso permi-tiu à companhia concentrar mais tempo e esforçona construção de relacionamento com clientes.Outro exemplo é a Accenture. A empresa descobriuque, em algumas operações no varejo, a redução depreços em uma seção da loja pode levar a preçosmaiores em outras. Pesquisa realizada em comuni-dades de aposentados no sul dos Estados Unidos,por exemplo, apontaram que consumidores eramaltamente sensíveis ao preço de produtos de saúde.

Mas economizar alguns centavos nesses itens podelevá-los a gastar muito mais em outros itens.

“Colocar preço não é só uma questão de tentarfazer as pessoas pagarem mais”, afirma Cudahy. “O preço é usado como um mecanismo de teste paradescobrir o que os consumidores realmente querem.É basicamente oferta e demanda. O caminho maisseguro para descobrir a vontade dos consumidores éa disposição deles de pagar por isso.”

Segundo o professor de marketing da WhartonJagmohan Raju, o corte de preço da Apple é umexemplo de uma estratégia conhecida como “dis-criminação de preço circunstancial”. Empresasque lançam mão dessa estratégia cobram preçosdiferenciados, conforme o desejo ou a capacidadedo comprador de pagar. O resultado é que essasempresas ganham de duas maneiras. Primeiro, elascolhem as largas margens de lucro daqueles queaceitam pagar um preço extra em troca de um pri-vilégio. Além disso, se beneficiam do volume ele-vado, mesmo com preço menor por unidade, aoconstruir uma base maior de clientes para aqueleproduto no futuro. Raju observa que a discrimina-ção de preço também pode se estruturar com baseem geografia, estações climáticas e por acrescentarou eliminar características, como se faz com pro-gramas de computador para estudantes.

TRANSPORTES DE PASSAGEIROSOs consumidores já aceitam com naturalidade essaforma de precificação no setor de aviação. O passageiro de última hora espera pagar bem maisdo que um viajante cauteloso que reservou umassento no mesmo vôo, na mesma fileira, mesesantes pela internet. É mais fácil, diz Raju, aplicarestruturas de demarcação de preço circunstancialem uma indústria que possua um componente deserviço – como as companhias aéreas – do que emum item manufaturado tangível.

O Departamento de Trânsito de Nova Yorkacaba de propor um sistema de dois turnos, peloqual as pessoas pagariam tarifa menor se tomassemmetrôs ou ônibus fora dos horários de pico. O plano, que passaria a vigorar em 2008, aumenta-ria os lucros do departamento e também reduziria asuperlotação. De acordo com reportagem do jornalThe New York Times, o governo norte-americano

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28 INDÚSTRIA BRASILEIRA NOVEMBRO 2007

está considerando um plano para cobrar das compa-nhias aéreas taxas maiores para aterrissagens e deco-lagens em horário de pico.

No entanto, a determinação de preço circunstan-cial pode ser aplicada a outros setores, que não os deserviços, incluindo o de tecnologia, no qual os con-sumidores esperam pagar preços bem menores seestiverem dispostos a esperar em vez de comprar umproduto novo e atrativo no instante em que chega aomercado. Em muitos casos, afirma o professor Raju,comerciantes de tecnologia devem estipular o preçoabaixo dos níveis de lucro para construir uma baseinstalada de usuários que permitirá vendas maislucrativas no futuro. “Se sou a única pessoa com umvideofone, para quem vou telefonar?”, indaga.

O professor de marketing da Wharton DavidReibstein observa que, apesar de a discriminaçãode preço fazer sentido para os negócios, tambémpode enfrentar resistência do público. A Coca-Cola enfrentou dura reação quando tentou cobrarmais por bebidas vendidas em máquinas nos diasquentes, e acabou recuando. Reibstein afirma quea discriminação de preço “é um novo fenômenoem ascensão, mas você precisa abordá-lo com cui-dado”. Times esportivos profissionais já começama pensar em cobrar mais por jogos muito procura-dos. Verdureiros de Manhattan experimentamcobrar menos por itens durante o dia quando aslojas não estão tão cheias, e os clientes têm maistempo para pesquisar preços.

No momento, a aceitação da discriminação depreço varia bastante entre as categorias de produto,segundo Reibstein. Enquanto os consumidores con-cordam, há muito tempo, com a idéia de preçosespeciais e descontos para idosos, eles se sentemultrajados quando camelôs elevam às alturas o preçode guarda-chuvas em um dia de chuva. Reibsteinafirma que a melhor maneira para lançar um esque-ma de discriminação de preços é estar aberto aoraciocínio econômico por trás da decisão. “Nãotente enrolar o cliente. Seja aberto e honesto sobreas intenções de estar fazendo isso”, aconselha.

Frank Luby, sócio do escritório de Boston daempresa Simon-Kucher & Associados (SKP, nasigla em inglês), de consultoria de preços, alertapara o fato de certas companhias deixarem de levarem consideração a reação de seus concorrentesquando reduzem seus preços. Concorrências acir-radas de preço podem levar a uma guerra total,que poderá ser desastrosa para todos os envolvi-dos. “Em alguns casos, a melhor resposta parauma potencial guerra de preços é não dar nenhu-ma resposta”, afirma Luby.

Ele também observa que as empresas devemlevar em conta o “contágio de preço”. Nos negóciosentre empresas, o poder de discriminação de preçosse deteriora porque os empregados mudam para aconcorrência e compartilham informações. Emfusões e aquisições de empresas, quando os livros sãoabertos, as disparidades emergem. “O que vocêcobra em um determinado lugar corre o risco devazar e criar problemas. Esse é um incentivo paramanter os preços nos níveis mais elevados possíveis.”

Segundo o professo Raju, certas indústrias estãomais avançadas que outras no desenvolvimento deestratégias bem-sucedidas de precificação. Além dascompanhias aéreas e de telefonia móvel, os varejis-tas estão entre os mais sofisticados. A Wal-Mart,por exemplo, coleta dados detalhados de clientes econcorrentes para tomar decisões sobre preços. Aindústria de vestuário, ele afirma, não vai tão longe.Varejistas de roupa cobram preços elevados quandoas peças chegam, no início da estação, mas depoisfazem reduções sistemáticas à medida que a estaçãoavança. “O valor do produto abaixa com o passardo tempo”, explica o professor.

Estipular preços está se tornando cada vez mais

O METRÔ DENOVA YORK vaicobrar mais noshorários de pico

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CONSUMIDORESIDOSOS gostamde economizar emmedicamentos,mas gastam maisem outrosprodutos

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complexo à medida que as empresas conquistamnovos mercados mundo afora, observa Raju. “À proporção que a globalização avança, há umagrande variação no desejo de pagar, embora osmercados sejam muito atrativos. Como você atin-ge pessoas que não dispõem de alta renda, mas quevocê gostaria que tivessem acesso a seu produto?”

A indústria farmacêutica, ele acrescenta, tentoucriar estruturas diferentes de precificação para conquis-tar pacientes de países em desenvolvimento ao mesmotempo em que protegiam os lucros em seus mercadostradicionais na Europa e nos Estados Unidos.

O professor Zhang afirma que as empresas estãopercebendo que estipular preço é tão importantequanto difícil. “Se a decisão é impactante, você nãoquer fazer nada novo. O mais seguro é seguir a con-venção, qualquer que seja ela.” De hábito, ele diz,as empresas contabilizam o custo de produção eadicionam a ele certo percentual como lucro.A Isuppli, empresa de pesquisa de mercado em tec-nologia, estimou o custo de produção do iPhone de8 GB em US$ 265,83.

O professor aponta que outro obstáculo à deter-minação de preços de novos produtos, particular-mente equipamentos tecnológicos, é a impossibili-dade de fazer testes de mercado sem prejudicar osigilo de um produto em desenvolvimento.

Com freqüência, estipular preço desafia mode-los tradicionais quando os produtos carregam emsi algum tipo de ligação emocional ou tornam-sesímbolo da identidade do proprietário, o que podeocorrer com carros, bolsas e produtos tecnológi-cos, incluindo telefones e iPods.

O problema com o iPhone da Apple pode tersido mais dramático porque a empresa vendeu aimagem de proximidade com o cliente, afirma oprofessor de marketing da Wharton Stephen Hoch.“As pessoas têm fortes sentimentos positivos emrelação à Apple. Elas se sentem como parte da famí-lia Apple.” Quando Jobs anunciou a redução depreço, “as pessoas sentiram-se traídas. Não sei se elasdeveriam ou não se sentir assim. Não foi a primeira

vez que uma empresa de tecnologia reduziu preços”.Hoch afirma não acreditar que a Apple sofreu

pressão para aumentar as vendas por unidade devi-do a compras abaixo do esperado. Ele observa que acompanhia vendeu um milhão de telefones empouco menos de dois meses, quase um mês antes dameta anunciada. Só para comparar, no caso dosiPods demorou um ano para atingir essa marca.Enquanto o iPod estava mais ou menos sozinho emsua categoria, o iPhone é um novo tocador de músi-ca em um mercado completamente desenvolvido ecompetitivo de telefones celulares. “Os concorrentestrabalharão pesado para defender suas posições.Haverá muitos novos produtos e preços”.

Para Luby, da SKF, a polêmica em torno do preçodo iPhone demonstra que mesmo um negociadorsofisticado como a Apple pode se atrapalhar com acomplexidade e os efeitos ocultos de uma decisãosobre preços. “Aparentemente, a Apple cometeu umerro – e muita gente acha que a empresa errou – mashá muitas variáveis.” Luby aponta as novas caracterís-ticas do telefone, sua ligação exclusiva com o carrega-dor sem fio da AT&T e todo o burburinho associa-do a seu lançamento. Ele desafia os críticos da Applea apresentar um modelo de análise de todos esses ele-mentos para determinar o preço justo.

NEGÓCIOS

Do original “The Price is right, but maybe it´s not, and how do you know?”, republicadocom autorização de Knowledge@Wharton (http://knowledge.wharton.upenn.edu), ojornal on-line sobre pesquisa e análise de negócios de The Wharton School da Universidadeda Pensilvânia. A Wharton mantém parceria com o IEL para a formação de executivos.

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30 INDÚSTRIA BRASILEIRA NOVEMBRO 2007

Passo adianteExecutivos de empresas do Brasil e dos Estados Unidos levam propostasaos governos dos dois países para melhorar o ambiente de negócios.Acordo deverá acabar com a bitributação

AS NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS SÃO GERALMENTE

complexas e demoradas, mas os países podem obterganhos econômicos com mudanças pontuais. Atémaio de 2008, os governos dos Estados Unidos edo Brasil finalizarão um acordo para acabar com abitributação. A cobrança mais eficiente de impostostrará estímulo aos investimentos privados entre osdois países. “Hoje, uma multinacional paga impos-to de renda sobre o mesmo lucro nos Estados

Unidos e no Brasil. A bitributação diminui a atra-tividade de investimentos num país”, afirma o pre-sidente da Coteminas, Josué Gomes da Silva.

O fim da bitributação foi uma das recomenda-ções da reunião do Fórum de CEOs Brasil-EUA,realizada no início do mês passado em Brasília. O fórum colocou na mesa de debates um grupo de20 presidentes de grandes empresas, sendo dez decada país, para sugerir melhorias no ambiente de

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POR ENIO VIEIRA

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INDÚSTRIA BRASILEIRA 31WWW.CNI.ORG.BR

DIPLOMACIA

negócios aos representantes dos governos. A idéia decriar o fórum surgiu em março de 2007 durante oencontro dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva eGeorge W. Bush em Camp David, residência defim-de-semana do presidente dos Estados Unidos,perto de Washington. As sugestões compensam emparte a ausência de um acordo bilateral de comércio,algo que vem sendo feito pelos Estados Unidos comvários países da América Latina, mas que o governobrasileiro vê com reservas.

O acordo para solucionar o problema da bitribu-tação consta da agenda da CNI para as negociaçõesinternacionais e traz melhorias nas condições deinternacionalização. Várias empresas brasileiras têmcomo estratégia expandir seus negócios em outrospaíses. “Tanto o Brasil como os Estados Unidos pos-suem sistemas tributários complexos”, afirma Gomesda Silva, que lidera o grupo de empresários brasilei-ros. A Coteminas tem fábricas nos Estados Unidos.

VENDAS CRESCENTESApesar dos entraves brasileiros ao crescimento econô-mico, as empresas norte-americanas estão confiantescom as perspectivas e mantêm planos de expansão. O presidente da Cummins, Tim Solso, prevê que afilial da empresa no País passe do patamar de fatura-mento anual de US$ 500 milhões – em que a empre-sa estacionou nos últimos anos – para US$ 700 mi-lhões em 2007. A meta, segundo o executivo, é che-gar a US$ 1 bilhão em 2010. “A empresa está inves-tindo numa nova planta e já exporta motores doBrasil para a Rússia e China”, diz ele, que chefia adelegação dos Estados Unidos no Fórum de CEOs.

No fórum, os brasileiros são representados porCarlos Alberto Vieira (Banco Safra), Jorge Gerdau,José Luis Cutrale, José Roberto Ermírio de Moraes(Votorantim), Luiz Roberto Nascimento(Camargo Corrêa), Marcelo Bahia (Odebrecht),Marco Antônio Stefanini (Stefanini IT Solutions),Maurício Botelho (Embraer) e Roger Agnelli (Valedo Rio Doce). No lado norte-americano, estãoAlain Belda (Alcoa), Bill Rhodes (Citibank), CraigBarrett (Intel), David Speer (Illinois Tool), RichardWagoner (GM), Greg Brown (Motorola), GregoryPage (Cargill), John Faraci (International Paper) eNeville Isdell (Coca-Cola).

O secretário de Comércio dos Estados Unidos,

Carlos Gutierrez, esteve na reunião de Brasília eavaliou que o fórum pode desenvolver as relaçõescomerciais e de investimentos. A corrente comer-cial (soma de exportações e importações) entre osdois países é de US$ 45 bilhões por ano. “Esse é umvolume que fica abaixo do que vários países meno-res que o Brasil mantêm com os Estados Unidos”,diz. Segundo Gutierrez, as empresas brasileiras játêm um papel importante no mercado global e nosEstados Unidos. Ele citou o caso da ampliação doaeroporto de Miami, na Flórida, que está sendo rea-lizada pela construtora brasileira Odebrecht.

O fórum recomendou que os dois países se esfor-cem para concluir a Rodada de Doha na OrganizaçãoMundial do Comércio (OMC). Esse foi um dospontos principais defendidos em Brasília pelo assis-tente do presidente dos Estados Unidos para PolíticaEconômica, Allan Hubbard. O obstáculo para a con-clusão de Doha tem sido a defesa dos países desenvol-vidos de uma queda acentuada nas tarifas de manu-faturados em países como o Brasil. Essa seria a contra-partida à abertura do mercado agrícola dos EstadosUnidos e União Européia. Como alternativa à discus-são na OMC, o fórum propôs a realização de acordosbilaterais entre setores empresariais.

“Além das questões comerciais, há interesse de esta-belecer parcerias dos dois países em tecnologia, educa-ção e biocombustíveis”, diz a ministra-chefe da CasaCivil da Presidência da República, Dilma Roussef.Segundo ela, que participou do encontro dos empre-sários, o fórum apresentou uma proposta para que osrecursos públicos do Brasil em inovação tecnológicasejam focados em instrumentos como os fundos deventure capital. Também foi sugerida a criação de bol-sas para intercâmbio de pessoas com o objetivo deaumentar a qualificação profissional, um dos gargalospara o crescimento da inovação nas empresas.

Os integrantes do fórum levaram questões maiscomplexas aos representantes dos governos. Um dospontos é a criação de mecanismos para arbitragem deconflitos comerciais que venham a ocorrer. Para osnorte-americanos, a arbitragem seria uma saída paracompensar a ausência de um acordo de proteção deinvestimentos entre Brasil e Estados Unidos e evitarque ocorram entre os dois países casos como a nacio-nalização dos ativos da Petrobras pelo governo daBolívia no ano passado.

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32 INDÚSTRIA BRASILEIRA NOVEMBRO 2007

O MAPA ESTRATÉGICO DA INDÚSTRIA 2007–2015estabelece a meta de elevar para 2% do ProdutoInterno Bruto (PIB) brasileiro o investimento empesquisa e desenvolvimento (P&D). O País investehoje menos de 1% do PIB na área, enquanto oinvestimento médio em países desenvolvidos é de4%. Inovação é palavra de ordem para as empresasinseridas na competição global, em que as margenssão cada vez menores para produtos não-diferencia-dos. É nesse contexto que se desenvolve, no Paraná,o Programa de Capacitação Empresarial de GestãoEstratégica de Tecnologia e Inovação, conjunto deações e atividades resultantes de parceria entre aFiep, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep),do governo federal, e a Universidade TecnológicaFederal do Paraná (UTFPR).

O programa inclui a avaliação das empresaslocais e cursos de capacitação presencial de 14meses, que ocorrem simultaneamente em trêscidades do estado: Curitiba, Londrina e Cascavel.Voltado para empresas, a capacitação de 14 mesesjá está em andamento. No total de 84 inscritos,50% representam pequenas e médias empresas,15% micro e 35% grandes empresas.

As empresas inscritas no curso têm a opção deobter um diagnóstico da Fiep sobre o conteúdo deinovação em seus negócios. Segundo o coordena-dor de projetos da Fiep, Eduardo Fayet, os critériosbaseiam-se em indicadores como os da PesquisaIndustrial de Inovação Tecnológica (Pintec) doInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE), e o Manual de Oslo, da Organização paraa Cooperação e Desenvolvimento Econômico(OCDE, clube dos países ricos). Esses indicadores

medem intensidade (recursos humanos, investi-mento, orçamento para inovação) e impacto (resul-tados, registro de patentes, lançamento de novosprodutos nos últimos cinco anos).

Outra ação do programa é um ranking, dedivulgação restrita – e sujeita à aprovação dosempresários. Nessa lista, as empresas são classifi-cadas conforme o desempenho na área de gestãoestratégica e inovação. Dessa forma, o participan-te do programa tem noção mais clara da posiçãoque ocupa nessa área. Há também um benchmar-king, em que as empresas são comparadas, con-forme cada um dos indicadores.

PACOTE ATRATIVOO pacote completo (curso de capacitação, diag-nóstico, ranking e benchmarking) atraiu 54% dosinscritos. A maioria provém dos setores de alimen-tos, química e fitoterápicos, metalmecânica, ele-troeletrônica e embalagens. Os demais participan-tes são de entidades de pesquisa em tecnologia einovação (31%) e de consultorias dedicadas àindústria (6%), entre outras empresas (13%).

Para Gina Paladino, assessora do Sistema Fiepe coordenadora do programa, “a idéia é replicar oPrograma de Capacitação Empresarial de GestãoEstratégica de Tecnologia e Inovação em outrosestados onde haja interesse”.

A criação da Gol Linhas Aéreas é um dos casescitados em seminário da Fiep sobre o programa deinovação. A companhia se lançou no mercado deaviação civil comercial em janeiro de 2001 comvôos economicamente acessíveis ao maior númeropossível de brasileiros.

Paraná lança programa para avaliar o grau de inovação das empresas e paraproporcionar cursos de capacitação a empresários e executivos

POR LUCIANO MILHOMEM

O caminhoda competitividade

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PARA CRIARO LEXUS,pesquisadoresesmiuçaram omercado de luxona Califórnia

INDÚSTRIA BRASILEIRA 33WWW.CNI.ORG.BR

Segundo a Pesquisa Industrial de InovaçãoTecnológica (Pintec) 2003, do InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística(IBGE), a inovação tecnológicano Brasil predomina nasindústrias de maior con-teúdo tecnológico. AGol demonstra terentendido essa ten-dência: 85% dasvendas de passa-gens são feitaspela internet. Ovice-presidente dePlanejamento e TIda empresa, WilsonMaciel Ramos, conta quea inspiração veio dos mercadosnorte-americano e europeu: em1987, a Southwestern (veja o que JamesHunter diz da empresa na página 15), dos EstadosUnidos, começou a obter lucros significativos ope-rando com custos reduzidos e altas taxas de ocupa-ção. Na Europa, companhias aéreas de menorporte descobriram o filão do público de turismo,que buscava viagens de lazer a preços acessíveis,mesmo que, para isso, renunciasse a algum confor-to e aceitasse, por exemplo, desembarcar em aero-portos mais distantes dos centros urbanos.

Os fundadores da Gol observaram atentos odesempenho dessas companhias e concluíram quepoderiam inspirar-se na experiência norte-ameri-cana e européia, mas por meio da criação de ummodelo diferente, adaptado à realidade brasileira.Ramos cita as principais medidas que permitiramo êxito da Gol: otimização e redução do tempo desolo das aeronaves; seleção de aeronaves modernas,para facilitar a manutenção e economizar combus-tível); oferta de vôos noturnos com tarifas super-reduzidas; e serviço de bordo simplificado (produ-tos não-perecíveis facilitam a logística e reduzem ocusto da operação).

Para Ramos, da Gol, a tecnologia teve papelfundamental na execução do projeto de reduçãode custos na companhia. Daí, facilidades como ocheck-in via internet e os alertas por e-mail (infor-mações sobre alterações de vôo encaminhadas

ao e-mail do passageiro), o que, segundoRamos, permitiu a redução do custo na centralde atendimento. O executivo admite que amaior parte desses serviços não é mais privilégioda companhia: “Cria-se a inovação hoje para sercopiado amanhã”.

Outro case de sucesso em inovação foi o damontadora japonesa Toyota. O presidente daempresa, Eiji Toyoda, convocou seus executivosno início da década de 1980 para anunciar que afabricante de veículos precisava criar um automó-vel de luxo que se igualasse e, em seguida, superas-se o melhor carro do mundo. Estava de olho nanova geração pós-baby boom dos Estados Unidos.Dessa reunião, surgiria a linha Lexus.

A estratégia mais ousada para atrair a classe Anorte-americana foi fazer com que um grupo decinco pesquisadores se mudasse para LagunaBeach, na Califórnia, com o objetivo de estudaros estilos de vida de forma a adaptar os conceitosde design da empresa ao padrão do consumidornorte-americano. Eles acompanharam os consu-midores: ir às compras, apanhar as crianças naescola, jogar no campo de golfe.

A resposta do público ao novo modelo foiextremamente positiva. No primeiro mês depoisde lançado, foram vendidos 4.000 veículos.

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O mercado interno brasileiro sofreu, nos últimos 15 anos, a influência de duas transformações emsua estrutura de distribuição de renda que se traduziram em maior poder de consumo da população.A essas mudanças de estrutura se somaram, no período recente, uma combinação virtuosa decrescimento de renda real com maior disponibilidade de crédito que deu um impulso forte aossetores que dependem do desempenho da demanda interna, dentre eles o setor de higiene e beleza.

34 INDÚSTRIA BRASILEIRA NOVEMBRO 2007

O setor de higienee beleza no Brasil

JOSÉ ROBERTO MENDONÇA DE BARROS

Dentre as mudanças a salientar na estrutura dadistribuição de renda brasileira está a ocorridaentre 1994 e 1996 como decorrência do PlanoReal, que se traduziu numa forte recuperação darenda, principalmente das classes mais baixas. O ganho de renda veio do fim do chamado“imposto inflacionário” que significava a efetivaperda de poder de compra ao longo do mês paraquem não podia recorrer à aplicação financeirapara se proteger da corrosão da hiperinflação e daprópria dinâmica positiva da economia, quecresceu 4,2 % entre 1994 e 1996. A renda médiareal, nesse período, medida pelo critério de bem-estar social de Amartya Sen, cresceu 28,3% (vejagráfico 1, na próxima página).

O segundo momento de transformação temse dado no período recente e é fruto tanto depolíticas sociais focadas, como o Bolsa Família,quanto de políticas mais amplas, como a práticasistemática de aumento real do salário mínimo.Ao mesmo tempo, condições domésticasrelacionadas à melhoria da situação externa e àqueda da taxa real de juros levaram a umaexpansão da demanda doméstica de formaimportante desde o final de 2006. A soma desseselementos se traduz numa evolução positiva darenda real nos últimos anos, particularmente nasclasses mais baixas. Entre 2002 e 2006, os 40%de domicílios mais pobres tiveram expansão derenda de 18,4% enquanto os 10% mais ricos,que incluem a classe média na sua maioria,aumentaram apenas 1,3%.

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INDÚSTRIA BRASILEIRA 35WWW.CNI.ORG.BR

ANÁLISE

A evolução da renda começou a ter um perfildiferente no período bem recente, conformedemonstra a Pesquisa Nacional por Amostra deDomicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística (IBGE). Quando seobservam os dados de 2006 frente os de 2005,percebe-se que todas as faixas de domicílios noPaís cresceram de forma semelhante e intensa, oque é bastante positivo como sinalização depoder de consumo, principalmente da classemédia. Os dados do Caged (emprego comcarteira assinada) também comprovam que há,de fato, uma melhora nas condições de empregoe salários de funcionários com melhor qua-lificação. Caso esse movimento se solidifiquenos próximos anos, deverá significar um novo

avanço de mercado interno, agora atingindo aclasse média.

Além das transformações na estrutura dadistribuição de renda (mesmo que lenta e emcima de uma estrutura ainda bastante perversa),o mercado interno cresce pela combinação deaumento da renda e elevação do crédito. A massa salarial também cresce, medida peloproduto da ocupação (formal e informal). O rendimento vem crescendo desde 2004, e o crédito se expande pelo movimento com-binado de evolução do prazo e queda nas taxasde juros. Os gráficos 2 e 3 ilustram a evolução.

A evolução positiva da demanda interna devecontinuar em 2008, mesmo num contexto emque o Banco Central se veja obrigado a estancar

1. Renda média real dos brasileiros

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

FONTE: NERI, MARCELO (2007), MISÉRIA, DESIGUALDADE E POLÍTICAS DE RENDA: O REAL DO LULA. NOTA: A MEDIDA DE BEM-ESTAR SOCIAL É A RENDA VEZES UM MENOS O ÍNDICE DE GINI. ELABORAÇÃO: MB ASSOCIADOS

Em unidades pelo critério de bem-estar social de Amartya Sen

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137,1 136,3

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170,5

180,6

194,2

215,0

2. Massa real de rendimentos dos trabalhadores brasileiros

dez/02 mai/03 out/03 mar/04 ago/04 jan/05 jun/05 nov/05 abr/06 set/06 fev/07 jul/07 dez/07 mai/08 out/08

FONTE: IBGE – NOVA PME. PROJEÇÕES: MB ASSOCIADOS (01/08/07)

Índice base Jan/03=100

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Média móvel 3 meses

Média anual

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36 INDÚSTRIA BRASILEIRA NOVEMBRO 2007

o movimento de baixa da taxa de juros primáriapara conter as pressões inflacionárias.

Para o setor de higiene e beleza, o mercadointerno representa 90% das vendas e a evolução darenda é fundamental. O Brasil já é o segundomercado mundial de produtos infantis e dedesodorantes, o terceiro de produtos para cabelos eperfumaria, o quarto de higiene oral e o quinto deprodutos de banho e masculinos. Se consideramosque a demanda doméstica deve continuar emexpansão em 2008, com desaceleração para algoem torno de 4% a partir de 2009, isso significa umpotencial bastante elevado de expansão dessacadeia nos próximos anos. Em termos de produçãoindustrial, esse setor foi o quarto maior em

crescimento dentre 24 setores industriais no Brasilentre 1991 e 2007, perdendo apenas para aprodução de aviões, celulares e automóveis. Nesseperíodo, enquanto a produção industrial geralcresceu 53,4%, a indústria de higiene e belezaavançou 77,8%.

O grande mercado ainda é o feminino ou o de produtos para ambos os sexos – mais de85% do total. Mas o mercado masculino crescea altas taxas. Entre 2001 e 2006, as vendas de produtos masculinos dobraram de tamanhono País. Também os produtos para a terceiraidade devem crescer, visto que a populaçãobrasileira está envelhecendo e a expectativa devida está aumentando.

JOSÉ ROBERTO MENDONÇA DE BARROS

3. Prazo de crédito

ago/03 fev/04 ago/04 fev/05 ago/05 fev/06 ago/06 fev/07 ago/07

Selic (% a.a.)Prazo (em meses)

FONTE: BACEN. ELABORAÇÃO: MB ASSOCIADOS

Média móvel de 3 meses para aquisição de bens, exceto veículos

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7,3

Prazo (em meses)

Selic

4. Gastos com higiene e beleza em 2006

Até 1 Mais de 1 a 2 Mais de 2 a 3 Mais de 3 a 5 Mais de 5 a 10 Mais de 10 a 20 Mais de 20

FONTE: IBGE, MB ASSOCIADOS. ELABORAÇÃO E PROJEÇÃO: MB ASSOCIADOS

Por faixa de renda em % por ano

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18,5 18,8

23,525,0 25,1

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16,8 16,2

29,8

15,013,6

1997

2006

2007

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INDÚSTRIA BRASILEIRA 37WWW.CNI.ORG.BR

ANÁLISE

Outra forma de elevação do consumo é adiferenciação do produto. Essa é uma indústriaem que a diferenciação/inovação faz parte daestratégia de concorrência. A competição porcorte etário, gênero, raça, poder aquisitivo érequisito essencial.

Em termos de comparação per capita,entretanto, os gastos ainda são pequenos. A rendado brasileiro não comporta facilmente gastosextras no orçamento. O que mudou nesseperíodo, de fato, foi a incorporação das classes derenda mais baixa na distribuição de consumodesses produtos. As classes mais baixas começama consumir produtos dessa categoria, as quemelhoram de renda sobem na escala paraprodutos de maior valor agregado, e assimsucessivamente. Enquanto os gastos das famíliasque recebiam até dois salários mínimoscorrespondiam a apenas 5,6% do total gasto noPaís em 1997, esse percentual subiu para 13%

em 2006 (veja gráfico 3, na página anterior). Eesse movimento significou menos concentraçãode gastos nas classes mais ricas. As famílias comrenda superior a 20 salários mínimosconsumiram 29,8% do total em 1997, tendocaído para 15% em 2006. Assim, o padrão deconsumo mudou, com entrada mais forte dasclasses mais baixas e necessidade de atender omercado com produtos mais baratos, mas aomesmo tempo com qualidade. A continuidade daexpansão do crédito e da renda nos próximosanos deve dar espaço para a solidificação doconsumo de produtos de higiene e beleza nesseestrato da população.

Os vetores de crescimento deverão ser osnovos mercados masculinos e os produtos querespeitam o meio ambiente. Mas o principalganho deverá se dar nos produtos que sofrem oimpacto do efeito renda. Assim, o mercado devecrescer por ampliação vertical e horizontal.

José Roberto Mendonça de Barros, economista, com a equipe da MB Associados Consultoria Econômica

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A PROPOSTA INICIAL É OUSADA: RECUPERAR

totalmente as matas ciliares das principais baciashidrográficas de Mato Grosso até 2020. Por trásdo desafio estão oito entidades empresariais queintegram o Instituto Ação Verde, organizaçãosem fins lucrativos criada em agosto no MatoGrosso. Na opinião dos empresários à frente dainiciativa, a visão empreendedora do mundodos negócios pode fazer a diferença na proteçãodo meio ambiente.

Decidido a cumprir sua primeira missão, o insti-tuto está providenciando um diagnóstico que incluimapear a destruição das matas ciliares dos principaisrios mato-grossenses. Com esse trabalho pronto,a instituição fará um plano de investimentos.Mediante parcerias, o Instituto Ação Verde pretendedistribuir milhões de mudas de árvores aos proprie-tários de áreas devastadas. Em 2008, planeja instalarcinco viveiros de mudas. A meta para o primeiro anode cultivo é dez milhões de espécies nativas.

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POR LUCIANO MILHOMEM

Indústrias verdesPreocupadas com a preservação ambiental, empresas de Mato Grossocriam instituição que tem entre suas metas recuperar matas ciliares

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“Queremos construir um modelo de desenvolvi-mento sustentável para o estado”, afirma o presiden-te do Instituto Ação Verde, da Fiemt e do ConselhoTemático de Meio Ambiente (COEMA) da CNI,Mauro Mendes Ferreira. “A idéia é executar projetostangíveis. Desafiamos o Brasil e o mundo a fazer omesmo que estamos fazendo em Mato Grosso”, dizFerreira, seguro de que a iniciativa é inédita.

O instituto reúne, além da Fiemt diversos repre-sentantes de setores produtivos do estado, como aFederação da Agricultura e Pecuária de MatoGrosso (Famato), a Associação de Produtores deSoja de Mato Grosso (Aprosoja), a AssociaçãoMato-grossense de Produtores de Algodão (Ampa)e a Associação de Criadores de Mato Grosso(Acrimat). Inclui ainda o Sindicato das IndústriasSucroalcooleiras de Mato Grosso (Sindálcool), oCentro das Indústrias Produtoras e Exportadorasde Madeira (Cipem) e o Sindicato da Construção,Geração, Transmissão e Distribuição de Energia

Elétrica e Gás no Estado de Mato Grosso(Sincremat). Está em negociação uma parceria coma Secretaria estadual de Meio Ambiente.

A iniciativa de criação do instituto está emconsonância com o Mapa Estratégico daIndústria 2007-2015, conjunto de metas e pro-gramas com vistas ao desenvolvimento sustentá-vel. Uma das preocupações inscritas no Mapa é“promover a gestão ambiental da indústria”. Umindicador dos avanços na área é o crescente núme-ro de interesse pela certificação da série ISO 14001.Essa chancela de gestão ambiental é concedida àsempresas que possuem política específica de meioambiente. Até outubro de 2007, 876 unidadesindustriais possuíam a certificação ISO 14001,segundo o Instituto Nacional de Metrologia,Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro).O Sudeste é a região que tem maior número decertificações, seguida do Sul, do Nordeste, doNorte e do Centro-Oeste.

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O Inmetro explica que esse número inclui ape-nas o total de certificados válidos, os quais seguemnormas específicas da instituição. Segundo AldoneyFreire Costa, chefe da Divisão de Acreditação deOrganismos, do Inmetro, o número chega a aproxi-madamente 2.000, caso sejam computados os certi-ficados emitidos por empresas não-credenciadas.

Outro indicador de que o setor industrialtem buscado conciliar negócios e meio ambienteestá no interesse em implementar projetos quecontribuam para o desenvolvimento sustentávele que apresentem redução ou captura de emis-sões de gases causadores do efeito estufa, a fim deobter as Reduções Certificadas de Emissões(RCEs). A CNI encerra em dezembro uma sériede capacitações em mudanças climáticas e proje-tos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo(MDL), iniciada no mês passado. Os cursosapresentam as potencialidades de negócios decrédito-carbono no mercado internacional.

Voltada para diretores, gerentes, coordenado-res e técnicos relacionados ao setor industrial eautoridades municipais envolvidas com coorde-nação e execução de projetos, a capacitação com-preende quatro módulos, que abordam mudança

do clima e acordos internacionais; trâmite e insti-tucionalidade dos projetos, introdução ao ciclode projetos; oportunidades de negócios e avalia-ção de atratividade e projetos de MDL por setorou atividade produtiva.

A capacitação insere-se no contexto do que esta-beleceu a 1ª Conferência da Indústria Brasileirapara o Meio Ambiente (Iª Cibma), evento da CNIque reuniu, entre os dias 13 e 15 de junho último,na sede da Fiesp, 400 delegados do setor produtivode todo o país para discutir, entre outros temas,licenciamento ambiental, biodiversidade e florestas,recursos hídricos, gerenciamento de resíduos, ges-tão ambiental na indústria e mudanças climáticas.

A preocupação ambiental das empresas em pro-cessos e produtos pode trazer grandes benefícios emvenda. Exemplo disso é uma concorrência vencidapela Embraer em 1999, quando concorreu com acanadense Bombardier e com a alemã Fairchild-Dornier pela venda de jatos à Crossair, subsidiáriaregional da antiga companhia aérea suíça Swissair,hoje Swiss. Um dos critérios decisivos para a vitóriada Embraer foi o fato de os aviões brasileiros apresen-tarem níveis de poluição e ruído correspondentes àmetade do nível tolerado pelas leis européias.

DE VOLTA À PRODUÇÃOTransformar resíduos em matéria-prima ou insumo para a fabricaçãode outros produtos voltados ao mercado consumidor industrial ou finalé a principal proposta do Sistema Integrado das Bolsas de ResíduosNacional, iniciativa da CNI para fortalecer, expandir e integrar asmelhores experiências em reutilização ou reciclagem de resíduosindustriais. O sistema, em fase de implementação, estará em plenofuncionamento no primeiro semestre do próximo ano.

Instrumentos de gerenciamento de resíduos decorrentes de atividadesprodutivas, as bolsas de resíduos fomentam processo de livre negociação entrea demanda e a oferta de resíduos. Na prática, elas possibilitam agregar valoraos resíduos, facilitando a fabricação de outros que voltarão ao mercado.

O Sistema Indústria conta hoje com 12 Bolsas de Resíduos emfuncionamento nos estados do Amazonas, Pará, Ceará, Pernambuco, Bahia,Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e RioGrande do Sul. No Sistema Integrado das Bolsas de Resíduos, os responsáveispodem uniformizar a base de dados e incrementar o intercâmbio deinformações e de pesquisa. Será possível transferir resíduos entre diferentesestados e estabelecer critérios nacionais de monitoramento e avaliação.JA

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PETER DRUCKER (1909-2005) PODE SER CONSIDE-rado um dos maiores pensadores do século 20.Ele é o guru dos estrategistas da gestão empresa-rial. Tendo presenciado os mais dramáticos acon-tecimentos do século passado, como as duasguerras mundiais, ascensão e queda do comu-nismo, a Guerra Fria e as revoluções que ocorre-ram na indústria mundial, Drucker conseguiu,por meio de sua imensa capacidade analítica,postular uma nova realidade que ninguém ousa-ra imaginar. Sua grandiosa obra inclui algunsclássicos da gestão como O Fim do HomemEconômico (1939), O Futuro do HomemIndustrial (1942), A Nova Sociedade (1949), A Revolução Invisível (1977) e A Prática daAdministração das Empresas (1981).

O que descrevo a seguir é uma análise de umade suas mais instigantes e polêmicas obras, o estu-do Sociedade Pós-Capitalista (1993), publicado noBrasil pela Editora Pioneira.

Segundo Drucker, após o fim do comunismo,simbolicamente representado pela queda doMuro de Berlim, surge um novo capitalismo, glo-bal e baseado no conhecimento, que altera defi-nitivamente o futuro das empresas, da sociedadee dos governos. A era na qual vivemos não émeramente capitalista, nem sequer socialista,como poderiam imaginar os mais privilegiadoscientistas políticos de cem anos atrás. Estamosvivendo uma era que tem como base o capitalis-mo, porém com influências de diversos outrosfenômenos e que resultou no que ele chamou deSociedade Pós-Capitalista.

O século 19 assistiu à Revolução Industrial,que por meio da mecanização de processos pro-dutivos a partir das máquinas a vapor, permitiuo ganho de escala e a conseqüente produção emgrandes quantidades, substituindo de formaarrasadora o trabalho dos antigos artesãos.Surgem duas novas classes: o empresário capita-lista e o operário. Embora dependentes uma daoutra, essas duas classes viriam a se duelar porlongo tempo até encontrarem uma convivênciamais equilibrada, fruto da revolução da produti-vidade e da gestão.

Naquela época, o poder se concentrava nocapital, visto que por meio dele se compravam asmáquinas e prédios. O diferencial estava nasmáquinas. Na capacidade instalada de produção.O conhecimento tácito dos artesãos, segredo fami-liar, foi derrotado pela replicação de procedimen-tos por meio das máquinas. Bastava treinar as pes-soas no seu uso. Daquela época vem a adoção daaprendizagem industrial como estratégia paracapacitação dos trabalhadores da indústria. A bemda verdade, ainda necessária em inúmeros casos,visto que muitas indústrias ainda são intensivas emmão-de-obra, ou seja, de ocupações de trabalhoque demandam o uso da força dos trabalhadorespara a movimentação de partes e peças em umaunidade de produção.

No início do século 20, atravessamos umnovo ciclo de mudanças, Pós-Revolução In-dustrial, que passou pela medição e melhoria dosprocessos (segundo Taylor), a produção em série(Ford) e posteriormente pela reprodução das

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Obra de Drucker discute os valores de uma nova etapa histórica em que aprincipal riqueza não está nos prédios ou equipamentos, algo que ainda nãofoi inteiramente percebido no Brasil

O conhecimentocomo principal ativo

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melhores práticas e a melhoria contínua dos pro-cessos (Deming, Juran e a qualidade total). Essanova realidade mudou o papel dos operários nasindústrias. Gradativamente eles passaram a con-tribuir com a sua experiência para a melhoria dosprocessos. Dessa forma, evoluímos dos artesãospara os trabalhadores braçais até chegarmos aostécnicos qualificados da indústria moderna.Simbolicamente, os operários se transformamem empregados e depois em colaboradores.

Como resultado, houve enormes ganhos deprodutividade, que resultaram em maiores lucros,contribuindo naturalmentepara o enriquecimento demuitos empresários, mas, poroutro lado, gradativamentemelhorando os salários dostrabalhadores, que passarama compor a base da classemédia (pelo menos nos paísesdesenvolvidos). Esta foi arevolução da produtividade,cujo grande salto ocorreu nosanos 1940. Naquela época, aindústria norte-americana foiobrigada a se reinventar paraatender aos esforços de guer-ra. E o resultado da guerra éprova da eficiência do novomodelo. Hitler não imagina-va que a indústria norte-ame-ricana pudesse abastecer assuas tropas com máquinas earmamentos, com a velocida-de e qualidade necessáriaspara inverter a sua inferiori-dade inicial perante o forte exército alemão.

O mais intrigante é que o aprendizado daindústria americana durante a Segunda Guerra foideixado de lado em seu próprio país e se tornou otrunfo da revolução japonesa. Somente após osucesso da indústria japonesa é que os norte-ame-ricanos retomaram os conceitos que eles mesmoshaviam criado, testado e ensinado aos japoneses.

Já no Brasil essa revolução ocorreu a partir dadécada de 1980, influenciada pela abertura daeconomia brasileira e contou com o importante

trabalho do professor Falconi e equipe. Portanto,essa revolução ocorreu no Brasil algumas décadasdepois do Japão, Europa e Estados Unidos.

No meio desse caminho, juntamente com ocolapso da União Soviética e o fim da GuerraFria, ficou o discurso marxista que acreditava naeterna luta de classes dos trabalhadores explora-dos pelos capitalistas. Também ficou para trás ocapitalista que via o operário como meio de pro-dução. Ironicamente, de forma até acidental,nasceu um novo modelo de empresa capitalistacujos maiores investidores são os fundos de pen-

são, que pertencem aos pró-prios trabalhadores. Esses fun-dos possuem hoje mais dametade do capital das empre-sas de grande e médio portedos Estados Unidos.

Nessa ordem, segundoDrucker, o próximo ciclo é arevolução da gestão. Quandonão há muito mais o quefazer para se aumentar a pro-dutividade das empresas, aúnica saída é melhorar a ges-tão. Por isso, inicialmente nasgrandes empresas e depois nasde médio porte, houve a subs-tituição do dono capitalistapelo executivo remunerado.Na verdade, essa substituiçãofoi fruto do drama da suces-são familiar dos grandes capi-tães da indústria, do surgi-mento das S.A., da aberturado capital das empresas, o

que, por sua vez, abriu espaço para os fundos depensão já mencionados (às vezes estes novos exe-cutivos passaram a ser astronomicamente remu-nerados, meio que pop stars, como Jack Welch).

Gradativamente vão saindo de cena osempresários capitalistas e vão surgindo os execu-tivos profissionais. Surge um novo tipo de capi-talismo sem capitalistas. Em alguns casos, umaespécie de capitalismo dos trabalhadores (viafundos de pensão), que Marx jamais poderiaconceber ou até mesmo aceitar.

Editora Pioneira

Número de páginas 229

Preço sugerido R$ 54,90

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CARLOS CAVALCANTE

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Por conta dessa nova realidade foram criadosos cursos de administração postulados porDrucker nos anos 1940. A competitividade dasempresas depende da qualidade dos seus execu-tivos. Como conseqüência surgiu a EducaçãoExecutiva como forma de aperfeiçoamento con-tínuo dos gestores de empresas. Gerenciar virouprofissão. O diferencial passou a ser gerenciarcom a máxima competência.

Daí para frente surge a inovação como estraté-gia permanente das empresas. A geração de valorque diferencia produtos cria novas necessidades,abre novos nichos de mercado. O Oceano Azulque está enriquecendo muitas novas empresas.

Esta é a tal revolução do conhecimento quegera mais conhecimento. O principal ativo dasempresas hoje é o conhecimento, ou seja, o con-junto de pessoas que fazem parte da sua equipe.Reter talentos e gerenciar o conhecimento é ogrande desafio. Máquinas, computadores e pré-dios são meios de produção, porém a riqueza égerada pelo conhecimento aplicado para melho-

rar a produtividade e a gestão, assim como parapromover a inovação. E finalmente o Brasil estáacordando para essa nova era.

E esta é a agenda do IEL: Gestão x Inovaçãox Conhecimento. De certa forma, também é aagenda das demais entidades do SistemaIndústria, cada uma no seu foco específico.

Na verdade, o nosso desafio é muito comple-xo. Convivemos com empresas que se encon-tram em qualquer uma das fases descritas porDrucker. Em algumas regiões do mundo, nemmesmo a revolução industrial ainda aconteceu etalvez o mesmo se aplique a algumas áreas remo-tas de nosso país. Mas as empresas vencedorassão as que se encontram na vanguarda e são essasas que transformam uma sociedade e melhoracolhem as pessoas que nela vivem.

Estamos na agenda certa, na hora certa. A questão é: E agora? O que fazer para desempenhar-mos bem a missão para a qual fomos forjados? O queisso afeta o futuro da CNI? SESI? SENAI? IEL?

Desejo a todos uma boa reflexão.

Carlos Cavalcante, engenheiro metalurgista com pós-graduação em gestão da informação pela UniversidadeFederal de Minas Gerais (UFMG), superintendente do IEL

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RESENHA

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44 INDÚSTRIA BRASILEIRA NOVEMBRO 2007

Antônio Rocha da Silva, presidente da Fibra e diretor da CNI

ANTÔNIO ROCHA DA SILVA

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TODAS AS NOITES, O CIDADÃO ACOMPANHA O

noticiário que chega pelas emissoras de rádio outelevisão em vários cantos do País. Há notícias desobra provenientes de Brasília, dentre as que mar-cam a política e a administração pública. Aosolhos da sociedade, parece que o Distrito Federalse resume ao poder.

Em outra frente, jovens e adultos voltam assuas esperanças para oportunidades de trabalhonos concursos públicos. Ter um emprego públicoé sinônimo de estabilidade e futuro promissor.Isso mobiliza milhares de pessoas. Afinal, todosquerem um porto seguro.

Há, porém, uma revolução quase silenciosa emcurso no quadrilátero onde o presidente JuscelinoKubitscheck construiu a nova capital federal. Osetor produtivo começa a galgar espaços e a mos-trar forças em busca do desenvolvimento. Essarevolução é pouco perceptível, ainda, porque asociedade brasileira está impregnada da imagemda capital mostrada nos noticiários.

É preciso olhar Brasília sob um ângulo diferen-te. O fato de ser o centro do poder é positivo, e deveservir como fator para agregar novos valores, aomesmo tempo em que se abre espaço para umaoutra fase do DF. A indústria local vem dandosinais, ao longo dos últimos anos, de que tem amplopotencial de crescimento. Essa informação começa achegar aos formadores de opinião: temos repetidocomo um mantra para potenciais investidores e atémesmo para os empresários já instalados no DF.

Em 2006, apresentamos o Plano Estratégicode Desenvolvimento Industrial do DF (PDI-DI),

um audacioso programa com 52 metas para atrairnovas indústrias. Em 2007, numa parceria com ogoverno local, lançamos o DF Industrial, que temdois pilares: atrair novos investimentos e manter asempresas que aqui se encontram com condiçõesde competir nesse mercado.

Nos contatos, mostramos as atratividades parainvestir no Distrito Federal. O Índice de Desenvol-vimento Humano (IDH) é dos mais altos do País.A escolaridade é das mais elevadas. O DF lidera umeixo econômico de quatro milhões de habitantesdistribuídos em cerca de 100 municípios.

A capital brasileira tem uma importante opçãode escoamento da produção local. Trata-se daEstação Aduaneira do Interior (Porto Seco), cominfra-estrutura de 200 mil m2, área de alfândega,armazenagem, pátio para veículos pesados e espa-ços para contêineres. Temos a nosso favor a proxi-midade com o governo federal, sem falar nasrepresentações diplomáticas.

Soma-se a essas vantagens o Parque CapitalDigital, que começa a sair do papel. Uma área de123 hectares abrigará os mais importantes empre-endimentos do setor de tecnologia da informaçãoe comunicação, com investimentos de R$ 4 bi-lhões e geração de 30 mil postos de trabalho.

É esse conjunto de informações que quere-mos transmitir, cada vez mais, aos quatro cantosdo País, na expectativa de despertar o interessede investidores e permitir que todos enxerguema cidade como uma das que têm maior potencialde crescimento. O mote é: descubra a Brasília dosetor produtivo.

A capitalem revoluçãoDistrito Federal quer mudar seu perfil para atrairinvestimentos, não se limitando a ser o centroadministrativo e político do País

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João Francisco Salomão, presidente da Fieac e diretor da CNI

JOÃO FRANCISCO SALOMÃO

MAIOR OBRA DE INFRA-ESTRUTURA EM CONSTRUÇÃO

na América do Sul, a Rodovia Interoceânica Sul– também conhecida como Estrada do Pacíficoou Estrada Interoceânica – faz parte de um pro-jeto muito maior do que ligar o Acre ao Peru. É um dos eixos estratégicos para a integraçãolatino-americana.

Reunidos em Brasília, em 2000, os chefes deestado de doze países sul-americanos firmaramcompromisso de atuar em conjunto para estimu-lar a integração regional com a melhoria das infra-estruturas de transporte, comunicação, geração deenergia e telecomunicações. Dessa reunião resul-tou a criação de um fórum de desenvolvimento, aIntegração da Infra-estrutura Regional Sul-Americana (IIRSA), que coordena a captação derecursos e as ações de execução de dez megaproje-tos considerados estratégicos, dentre os quais, aEstrada Interoceânica.

A iniciativa é considerada o plano mais ambi-cioso de investimentos em infra-estrutura que pre-tende desenvolver e integrar as áreas de transporte,energia e telecomunicações da América do Sul. A expectativa é de que o plano criará novas opor-tunidades econômicas, atrairá milhares de turistase apresentará novos desafios aos ambientalistas naproteção de áreas naturais.

Nosso objetivo é que a estrada não seja apenasum corredor de mercadorias. Estão sendo estimu-lados negócios que vão gerar emprego e renda porintermédio de parcerias público-privadas.

Assim, muitos setores serão beneficiados, espe-cialmente na área de exportações. Os produtos

brasileiros que hoje partem do porto de Santos, emSão Paulo, levam pelo menos 27 dias para chegarà China. Percorrem 22.944 quilômetros se passa-rem pelo canal do Panamá e 23.650 quilômetros secontornarem a América do Sul, cruzando oEstreito de Magalhães para atingir o Pacífico. Essepercurso será feito em apenas 17 dias quando aEstrada Interoceânica estiver livre para o tráfego.

Além de integrar Peru e Brasil, a EstradaTransoceânica garante rapidez e eficiência notransporte, com menor custo, condições funda-mentais para dar competitividade às exportaçõessul-americanas.

A Estrada do Pacífico significará, também, oincremento do turismo no Acre. Anualmente,milhares de pessoas visitam a capital Inca deCuzco e as ruínas de Machu Pichu no Peru.O que esperamos é que essas pessoas aproveitema oportunidade para conhecer a Amazônia brasi-leira, a partir do Acre.

Aproveitando a oportunidade, o nosso Estadoestá preparando a infra-estrutura para o desenvol-vimento industrial no beneficiamento de matérias-primas acreanas. Ao longo do eixo da BR-317,que dá acesso à Estrada do Pacífico, já foram rea-lizados vários investimentos: a construção daPonte da Amizade, que liga a cidade acreana deBrasiléia a Cobija, na Bolívia, a instalação da fábri-ca de castanha, abatedouro de aves, fábrica de pre-servativos masculinos, usina de castanha e indús-tria de tacos e decks, em Xapuri, além de ter con-tribuído ativamente para a reativação da UsinaÁlcool Verde, em Capixaba.

Estratégia dedesenvolvimentoA Estrada Interoceânica, um dos eixos da integraçãoSul-Americana, encurtará em dez dias o caminhopara a China

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46 INDÚSTRIA BRASILEIRA NOVEMBRO 2007

POR CARLOS HAAG

Com 180 imagens, livro mostra a presença da pedra portuguesa na cidade e conta a história dos mosaicos que serviram de inspiração,criados nas ruas de Lisboa

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CULTURA

VOCÊ OLHA POR ONDE PISA? NO RIO DE JANEIRO,isso é um assunto que tira do sério o carioca maissossegado. Um projeto de lei que obriga a troca docélebre calçamento de pedras portuguesas (maisconhecidos em sua versão “ondas do mar”, quedecoram a orla da Zona Sul) por pisos antiderrapan-tes foi recentemente aprovado pela Câmara dosVereadores da cidade. “Estamos no século 21, masnossas calçadas continuam as mesmas do início doséculo passado, causando inúmeras quedas de ido-sos”, defendeu a autora do projeto, a vereadoraCristiane Brasil (PTB). Após uma grita geral, amedida teve vida curta. “As calçadas de pedras por-tuguesas, agora tão criticadas, serão mantidas, masprecisam estar uniformes”, retificou a Prefeitura doRio de Janeiro. A polêmica deu razão ao artista plás-tico Waltércio Caldas, que estava certo ao afirmar,em 1997, que “o mosaico de pedra portuguesa é averdadeira 'pele' do Rio de Janeiro”.

“O carioca, em definitivo, adota as 'ondas' deCopacabana como sua inequívoca marca afetiva.Elas estão em roupas, lençóis, toalhas. No uso doempedrado, o aluno superou o mestre. O Brasil aPortugal agradece”, observa a jornalista CristinaChacel no prefácio do recém-lançado O Rio queeu piso (Editora Memória Brasil, 192 páginas, R$ 39), da arquiteta Iolanda Teixeira, professorada Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Foram dois anos de levantamento resultando numroteiro para o fotógrafo Bruno Veiga, que passouquatro meses subindo e descendo de marquises eprédios para registrar 180 imagens de mosaicos, amaioria deles no Centro e em Copacabana, mascom imagens de outras áreas, como Leblon,Botafogo, Urca, Santa Teresa, Madureira e Grajaú.“O novo milênio vai trazer a volta da pedra portu-guesa como parte do esforço de revalorização dacidade, acredita Cristina.

Qual é, afinal, o segredo desse tegumento dapele carioca, composto de uma prosaica misturade calcita branca e basalto negro, blocos de cincocentímetros cortados para gerar um mosaico bico-lor no chão? Antes de mais nada, a mágica já estáno nome: mosaico vem do latim musa. Uma dasprimeiras manifestações artísticas do homem, foiusado por gregos, romanos e árabes, até se trans-formarem no piso tão ao gosto dos lusitanos.Estudiosos atribuem ao rei Dom Manuel a inicia-tiva há 500 anos de pavimentar o chão em tornoda Torre de Belém com seixos rolados, conhecidoscomo “calhaus”, em verdade, pedras recolhidas dasmargens do Tejo.

A idéia era homenagear o navegador Vasco daGama. O terrível terremoto que destruiu Lisboaem fins do século 18 deu um novo impulso e sig-nificado aos desenhos do piso feitos de pedras:estrelas eram desenhadas nas calçadas como talis-mã contra os tremores da terra. Em 1842, o tenen-te Eusébio Furtado resolveu pavimentar o Castelode São Jorge com a mistura de calcita e basalto, apartir de então apelidade de “pedra portuguesa”.Ficou a cargo de presidiários a tarefa de criar umdesenho em ziguezague no chão para abrilhantarum desfile de tropas. O encantamento luso foigeral e as autoridades lisboetas resolveram repetir adose na renovação do pavimento do Rossio, regiãocentral da capital, com exatos 8.172 m2.

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No Rossio, optaram pelo maior orgulho por-tuguês como tema: o mar. O novo chão, comum desenho de seqüências de ondas, foi chama-do de Mar Largo. Daí para virar uma manianacional foi, literalmente, um passo. “Arabescosem preto e branco se alastraram pela cidade elogo estavam em todas as cidades de Portugal.Além de belos, eles eram úteis, pois ajudavam oescoamento de águas e outros detritos, assegu-rando melhor salubridade ao espaço público”,conta Cristina. Surgiu mesmo uma profissão: ocalceteiro. A recente criação da Escola deCalceteiros, na periferia de Lisboa, já no contex-to da unificação européia, revela o poder dapedra portuguesa como resistência e revaloriza-ção das tradições. Até Paris não resistiu, no sécu-lo 19, ao encanto dos mosaicos de calçada. E oque era bom para Paris era bom para a burguesiarepublicana brasileira do início do século 20.

As primeiras pedras portuguesas montadas em

solo brasileiro datam de 1905, em Manaus, comoentorno do Teatro Amazonas. No ano seguinte, oprefeito carioca Pereira Passos, em seu processode remodelação do Rio nos moldes da Paris doBarão Haussmann (o criador da cidade dos bule-vares e grandes avenidas), fez vir de Portugal, pornavio, 3.280 toneladas de pedras portuguesas,além de 32 legítimos mestres calceteiros deLisboa para pavimentar 23 mil metros quadradosde calçadas para a nova Avenida Central (hojeAvenida Rio Branco). Os lusitanos trouxeramcomo molde dos desenhos a imagem do MarLargo, que também foi usado na construção docalçadão da praia de Copacabana, aproveitandosobras das pedras da Praça Mauá e da Cinelândia.A combinação do mar de pedras com o de águamostrou-se perfeita, mas, de início, era bem maiscomportada do que as curvas sinuosas de hoje.Basta olhar para a famosa foto da marcha dos 18do Forte, de 1922, para notar a diferença.

EM 1969,COPACABANA

GANHOU um novocalçamento de

Burle Marx, quemanteve, ao lado

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ondas do marvindo de Lisboa

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“Vai ser surpresa amanhã, quando for limpo ocalçamento aparecendo os arabescos, tais quais naAvenida da Liberdade da velha Lisboa, à beira-mar plantado. Os calceteiros trabalham afanosa-mente, em um vertigem de dar por pronta já e játoda aquela tarefa urgente e grande”, descreveuum jornal da época. A importação de pedrasnunca mais ocorreu, pois se encontraram jazidasabundantes dos materiais na periferia carioca,embora o apelido pedra portuguesa tenha semantido. Em 1969, com o aumento da faixa deareia e o alargamento das pistas da orla, as curvasde pedra ganharam contornos mais sensuais, gra-ças ao trabalho do paisagista Roberto Burle Marx,chamado para refazer o calçamento da Atlântica.Com notável bom senso, o artista manteve o pro-jeto de 1906, apenas caprichando nas ondula-ções, mais ao gosto dos tempos modernos e dosmaiôs mais ousados das praias.

“No jogo do preto-e-branco, a cidade do Riode Janeiro que encontrou na estampa do Mar

Largo sua melhor síntese ainda preserva e ofere-ce um roteiro generoso que recompõe a históriaestética da cidade em uma infinidade de formasgeométricas. Para aproveitá-las basta apenas queo cidadão se disponha a olhar para onde pisa”,avisa Chacel, no texto de prefácio.

Em 1964, as calçadas ganharam tons musicais,como as de Vila Isabel, onde, de nota em nota, sepode andar por um pentagrama de pedras portu-guesas que exibem a partitura de Feitiço da Vila,de Noel Rosa, uma das vinte peças reproduzidasnas calçadas do Boulevard 28 de Setembro. Semsons, mas lindas, elas também estão no Centro dacidade, desafiando o olhar dos passantes. “O gran-de desafio está em produzir um desenho que,quando transposto da tela para o chão, seja perce-bido em toda a sua integridade pelo olho. É pre-ciso que o desenho guarde uma relação áureaentre a dimensão humana e o espaço que eleocupa”, nota Cristina. É quando a beleza cariocase prostra aos pés dos mais atentos.

A ONDULAÇÃODAS PEDRASPORTUGUESASnão está sónas calçadas:é referênciana iconografiada cidade

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O QUINTOMANDAMENTOO mundo já foi mais equilibrado, e por mais que seouvisse falar em violência, ela era mais branda que hoje

Danuza Leão, colunista da Folha de S. Paulo

HÁ DOIS ANOS HOUVE O CASO DE SUZANNE

Richtofen, de 19 anos, que foi mentora do assassi-nato de sua mãe e de seu pai porque eles se opu-nham a seu namoro. Três semanas depois,Gustavo Pereira Napolitano, de 22 anos, assassi-nou a avó com 53 facadas. Há dois ou três mesesno Algarve, em Portugal, desapareceu uma lindamenina, Madeleine, de 6 anos, e seus pais, que nãoderramaram uma só lágrima com o desapareci-mento, são suspeitos de seu possível assassinato.

Recentemente um pai foi flagrado pelas câmerasabandonando a filha de três anos em uma estação detrem na Austrália, e fugindo para o aeroporto, ondetomou um avião para Los Angeles; na semana emque escrevo, uma menina de 12 anos matou o pai,que dormia, na Baixada Fluminense. Segundo apolícia, o pai havia proibido a filha de usar a internet.

Todas essas histórias são recentes, todos nós aslemos mas não as esquecemos, tal o horror que noscausaram. O que está acontecendo com o mundo?O que fez essas pessoas virarem monstros a ponto dematar ou abandonar os seres que deviam mais amar,pela própria natureza? Nem os bichos fazem isso, e oser humano, dizem, se difere deles porque pensa. Sepensa, o que houve na cabeça dessas criaturas, capa-zes de ser piores do que os animais? Se dão conta doque fizeram? Se arrependem, ou acham tudo nor-mal? Suzane ainda entrou na Justiça, reivindicando odireito à herança dos pais. Dá para acreditar?

Não conheço o histórico familiar de nenhumdesses assassinos, mas por mais que tenham sofri-do traumas na infância, e alguns mal saíram dela,nada explica essa violência.

Digamos que a lei se modifique e que passe aser mais dura com menores de 18 anos; isso impe-diria que algum desses crimes ocorresse? Não sei seacredito que sim. E não sei qual desses crimes mecausa mais horror, mas vi com meus olhos pelatelevisão o pai se escondendo atrás das pilastras doaeroporto para que sua filha de três anos não ovisse. Será que esse pai, que viu sua filha nascer,não teve aquele instinto de proteção que se temquando se vê um gatinho abandonado na rua?Que gente é essa? E não adianta ser punido e pas-sar por clínicas psiquiátricas, se eles não tiveram omenor sentimento por pessoas com quem vive-ram, conversaram, e de quem receberam carinho.

É incrível que esse ser humano capaz de tantabarbárie seja também capaz de atos de heroísmo,de se sacrificar pelo outro, de se dedicar aos maisnecessitados, de abrir mão da própria vida paraajudar os que sofrem – e os exemplos estão aí, paraquem quiser ver. Esse mundo é muito estranho.Pode produzir as pessoas mais admiráveis e tam-bém as mais desprezíveis, e o pior é que para issonunca vai haver solução.

Não adianta prisão perpétua nem pena demorte, porque antes de cometerem esses atosmonstruosos ninguém jamais suspeitaria do queseriam capazes, nem eles mesmos. E não adiantaalertar nossos filhos para que tenham cuidado,que estejam sempre alertas, porque uma pessoaaparentemente normal pode se transformar numser cruel em minutos, sabe-se lá como ou por quê.

Será que algum desses assassinos aprendeu oquinto mandamento, que diz “honrar pai e mãe?”

DANUZA LEÃO

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