O e O pOéticO em Fogo Morto análise de estéticOs

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OMIR WESLEY ANDRADE Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP) [email protected] BRUNO PUCCI Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP) [email protected] O TRÁGICO E O POÉTICO EM FOGO MORTO: ANÁLISE DE SEUS ELEMENTOS ESTÉTICOS The Tragic and the Poetic in Fogo Morto: an Analysis of Their Aesthetic Element Quero me recordar, estar sempre me lembrando. É ou- tra palavra que gosto de ver pegada à minha obra. Dizem que sou um homem que me sirvo da memória. De fato, a saudade me tem dado o que há de belo nos meus roman- ces. (José Lins do Rego). Resumo Este texto tem como objetivo estudar, à luz das referências es- téticas de Theodor Adorno, o trágico e o poético como elementos funda- mentais do romance Fogo morto (1976, original de 1943), de José Lins do Rego (1901-1957), que se expressam nas ações e nas experiências das três principais personagens do livro: mestre José Amaro, coronel Lula de Ho- landa e capitão Vitorino Carneiro da Cunha. Os acontecimentos sucedem- -se no engenho Santa Fé, município de Pilar, estado da Paraíba, desde sua fundação, no início da segunda metade do século XIX, até sua decadência, na primeira metade do século XX. O artigo é constituído de três momentos específicos e complementares: o analítico, que expõe o fracasso e o fim trágico das três personagens; o interpretativo, que se propõe a interpe- lar a narrativa, tendo como subsídios teóricos as contribuições estéticas de Theodor Adorno; e o momento das considerações “quase finais”, que continua o momento interpretativo na tentativa de captar o conteúdo de verdade do romance e de sua atualidade como obra de arte. Palavras-chave: o trágico e o poético; Fogo Morto; teoria estética; José Lins do Rego; Theodor Adorno. Abstract This study aims at analyzing the tragic and the poetic as funda- mental elements of the novel Fogo Morto (1943), by José Lins do Rego (1901-1957). These elements are studied based upon Theodor Adorno’s aesthetic references and are expressed in the actions and experiences of the novel’s three main characters: Master José Amaro, Commander Lula de Holanda and Captain Vitorino Carneiro da Cunha. The events take place at Santa Fé sugar mill, Pilar County, state of Paraíba, starting with its founding, in the second half of the 19th century, until its decline in the first half of the 20th century. This study is comprised of three specific and complementary sections: the analytical section exposes the three characters’ failures and tragic end; the interpretation section aims to en- gage with the narrative using Theodor Adorno’s aesthetic contributions as a theoretical background; and the “almost closing” remarks section proceeds with the interpretation section in an attempt to capture the novel’s true content and its relevance as a masterpiece. Keywords: tragic and poetic; Fogo Morto; aesthetic theory; José Lins do Rego; Theodor Adorno.

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Omir Wesley AndrAdeUniversidade Metodista de

Piracicaba (UNIMEP)[email protected]

BrunO PucciUniversidade Metodista de

Piracicaba (UNIMEP)[email protected]

O trágicO e O pOéticO em Fogo Morto: análise de seus elementOs estéticOs

The Tragic and the Poetic in Fogo Morto: an Analysis of Their Aesthetic Element

Quero me recordar, estar sempre me lembrando. É ou-tra palavra que gosto de ver pegada à minha obra. Dizem que sou um homem que me sirvo da memória. De fato, a saudade me tem dado o que há de belo nos meus roman-ces. (José Lins do Rego).

Resumo Este texto tem como objetivo estudar, à luz das referências es-téticas de Theodor Adorno, o trágico e o poético como elementos funda-mentais do romance Fogo morto (1976, original de 1943), de José Lins do Rego (1901-1957), que se expressam nas ações e nas experiências das três principais personagens do livro: mestre José Amaro, coronel Lula de Ho-landa e capitão Vitorino Carneiro da Cunha. Os acontecimentos sucedem--se no engenho Santa Fé, município de Pilar, estado da Paraíba, desde sua fundação, no início da segunda metade do século XIX, até sua decadência, na primeira metade do século XX. O artigo é constituído de três momentos específicos e complementares: o analítico, que expõe o fracasso e o fim trágico das três personagens; o interpretativo, que se propõe a interpe-lar a narrativa, tendo como subsídios teóricos as contribuições estéticas de Theodor Adorno; e o momento das considerações “quase finais”, que continua o momento interpretativo na tentativa de captar o conteúdo de verdade do romance e de sua atualidade como obra de arte.Palavras-chave: o trágico e o poético; Fogo Morto; teoria estética; José Lins do Rego; Theodor Adorno.

Abstract This study aims at analyzing the tragic and the poetic as funda-mental elements of the novel Fogo Morto (1943), by José Lins do Rego (1901-1957). These elements are studied based upon Theodor Adorno’s aesthetic references and are expressed in the actions and experiences of the novel’s three main characters: Master José Amaro, Commander Lula de Holanda and Captain Vitorino Carneiro da Cunha. The events take place at Santa Fé sugar mill, Pilar County, state of Paraíba, starting with its founding, in the second half of the 19th century, until its decline in the first half of the 20th century. This study is comprised of three specific and complementary sections: the analytical section exposes the three characters’ failures and tragic end; the interpretation section aims to en-gage with the narrative using Theodor Adorno’s aesthetic contributions as a theoretical background; and the “almost closing” remarks section proceeds with the interpretation section in an attempt to capture the novel’s true content and its relevance as a masterpiece.Keywords: tragic and poetic; Fogo Morto; aesthetic theory; José Lins do Rego; Theodor Adorno.

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DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v25n62p65-78

Introdução e apresentação

O propósito deste ensaio é analisar, à luz das referências estéticas de The-odor Adorno, o trágico e o poético

como elementos fundamentais do romance Fogo morto (1976, original de 1943), de José Lins do Rego (1901-1957). É importante assi-nalar que, no romance, o trágico e o poético expressam-se nas ações e nas experiências pessoais e sociais das três principais perso-nagens do engenho Santa Fé, no município de Pilar, estado da Paraíba, desde sua funda-ção, no início da segunda metade do século XIX, até sua decadência: o mestre José Ama-ro, o coronel Lula de Holanda e o capitão Vi-torino Carneiro da Cunha. Ao referir-se à aná-lise de uma obra de arte, Adorno afirma que “a referência ao social não deve levar para fora da obra de arte, mas sim levar mais fun-do para dentro dela” (2003, p. 66). Assim, ao examinar o fracasso e o destino trágico das personagens, queremos nos deter na análise do romance para entender como o trágico e o poético articulam-se à decadência e queda do engenho Santa Fé. O estudo é constituí-do por três momentos que se articulam no processo: o analítico, o interpretativo e o de considerações “quase” finais.

Momento analítico

O momento analítico tem o seu lu-gar no polo inverso da síntese, na economia dos elementos, a partir dos quais a obra se organiza; po-rém, não é menos objetivamente inerente à obra de arte do que a sín-tese. O chefe de orquestra que ana-lisa uma obra para a executar ade-quadamente, em vez de a mimar, reproduz uma condição da possibi-lidade da própria obra. (ADORNO, 1982, p. 324).

Os elementos estéticos, a partir dos quais o romance Fogo morto organiza-se, dramatizam narrativamente o fim do ciclo da cana-de-açúcar e o declínio da estrutura

social que se estabeleceu com os engenhos, retratando a queda da cultura açucareira e a degradação dos valores humanos ante a modernização imposta pela economia capi-talista com a implementação das usinas no Nordeste brasileiro.

A narrativa tem forte assentamento na realidade social e na psicologia das persona-gens, que representam diferentes estratos sociais. Expressa os conflitos do momento histórico-ficcional retratado na obra e as personagens vivem impasses aniquiladores: não existem saídas e reafirma-se a persistên-cia do trágico como decorrência das ações e decisões humanas, independentemente de qualquer interferência metafísica ou so-brenatural que lhes possa dar significado. O trágico fundamenta-se na ação humana. Embora a obra retrate aspectos dos confli-tos homem versus natureza, a narrativa está centrada nos dramas e decisões existenciais. Para José Lins do Rego, a categoria analítica fundamental é o homem no momento histó-rico do seu agir. Neste sentido, o momento analítico procurará captar as partes do ro-mance e relacioná-las entre si na composição de sua forma, de sua unidade, desvelando a técnica estético-narrativa do autor no de-senvolvimento do enredo de Fogo morto. As personagens de José Lins do Rego, no contexto de transição dos antigos engenhos de cana-de-açúcar, movidos a tração ani-mal, para as usinas movidas por máquinas a vapor, vivem dolorosamente seus dramas pessoais diante de um passado que não volta mais, de um presente cujas modificações não conseguem compreender e aceitar, e de um futuro incerto que não oferece espe-rança ou perspectiva de vida. O clima geral do romance é, ao mesmo tempo, tétrico e trágico: loucura, solidão, arrogância, inveja, desespero e morte são substantivos que compõem o comportamento das três per-sonagens centrais, movidas pelo ódio, pelo ressentimento, pela amargura e pela la-mentação. A cada uma delas é reservado um capítulo, que narra sua trajetória e suas angústias, entrelaçadas com os dramas exis-

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tenciais das duas outras personagens. Elas têm algo em comum: a tragédia da dor.1

Mestre José Amaro

Na primeira parte do romance, conhece-mos o mestre José Amaro, que desde o início da narrativa revela ter consciência do trágico destino que o aguarda. O narrador faz dele uma personagem que carrega em seu cora-ção a mágoa, o ressentimento e o orgulho. Sua mágoa tem, ao mesmo tempo, uma mo-tivação social e existencial. José Amaro está velho e doente e sabe que o fim aproxima-se. A trajetória de sua vida, como o nome próprio indica, é amarga e infeliz. Sua profissão, dian-te da chegada da modernidade, está em ex-tinção. Ele é um “seleiro dos velhos tempos” (FM, p. 3) e seu trabalho artesanal vai, pouco a pouco, sendo substituído pela produção in-dustrial. Diante dessa nova realidade, mestre José Amaro não se conforma:

– Está vasqueiro. Tenho umas enco-mendas do Gurinhém. Um tangerino passou por aqui e me encomendou esta sela e uns arreios. Estou per-dendo o gosto pelo ofício. Já se foi o tempo em que dava gosto trabalhar numa sela. Hoje estão comprando tudo feito. E que porcarias se ven-dem por aí. Não é pra me gabar. Não troco uma peça minha por muita preciosidade que vejo. (FM, p. 4).

José Amaro, com sua mulher, Sinhá, e sua filha, Marta, vive à beira da estrada em terras que pertenceram inicialmente ao capi-tão Tomás Cabral de Melo. Agora pertencem ao genro do capitão Tomás, o coronel Lula de Holanda. O pai de José Amaro precisara fugir de Goiana, onde cometera um crime, e vivia no engenho Santa Fé sob a proteção do capi-tão Tomás. Depois da morte do pai, José Ama-1 As citações de Fogo morto, nas próximas páginas, são

extraídas de Rego (1976) e serão identificadas pelas iniciais FM.

ro e sua família ficaram morando naquela pe-quena “casa de taipa, de telheiro sujo” (FM, p. 3). Embora imaginasse ter algum direito sobre a terra, logo percebe que seu pequeno casebre pertence, na verdade, ao coronel Lula de Holanda.

Nos diálogos que mantém com as pes-soas que o procuram em seu humilde local de trabalho, mostra-se como alguém que usufrui de autonomia e independência: é branco; é um “homem livre”, dono de seu próprio nariz; tem o seu orgulho; não suporta gritos de quem quer que seja. “Não sou criado de ninguém. Gritou comigo, não vai” (FM, p. 3). Nada mais falso: o seleiro depende do coronel Lula de Holanda e da sobrevivência do engenho Santa Fé. José Amaro é um saudosista que relem-bra os tempos de fartura do engenho quando administrado pelo capitão Tomás Cabral. Ele sabe muito bem que o seu futuro depende da sobrevivência do engenho Santa Fé.

O seleiro José Amaro é um “homem li-vre” na ordem social escravocrata da época do romance. Ele vive atrelado aos favores do coronel Lula de Holanda. Embora represente, naquela sociedade, a transição do “homem livre” para o “cidadão”, sua vida é marcada pela pobreza e premida por necessidades ma-teriais. Ele odeia sua família. É marido de Sinhá e pai de Marta, uma “moça velha”, que já tem 30 anos e não conseguiu se casar. O ódio e a inveja consomem sua vida, pois queria ser um senhor de terras, como os coronéis; queria ser poderoso, livre. São sonhos que, na sua vida, nunca se realizarão. Embora não consiga ela-borar racionalmente sua ruína, sente sua pro-ximidade iminente. Mas, mesmo assim, não abandona seu orgulho e sua sede de vingança.

O mestre José Amaro, pressentindo sua insignificância diante de uma realidade social que não pode controlar, apega-se ao trabalho. Adquire o hábito de passear à noite, sozinho, pelos arredores de sua casa. Sua figura feia e excêntrica provoca terror e medo entre a população do município de Pilar e até mesmo entre seus familiares. A agressividade revela seu horror à existência. Como nunca possuiu terras e não conseguiu ser um senhor de en-

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genho, vinga-se do seu fracasso perpetrando a violência contra a própria família.

Já que o mundo não lhe dava alegria, mestre José Amaro opta pela solidão. Parece estar sempre nervoso, agressivo, descontro-lado. Culpa sua esposa pela doença da filha e não consegue enxergar, na loucura dela, traços e características de uma loucura que também é sua. É acusado de manter relações incestuosas com sua filha e transforma-se em um paranoico com mania de perseguição. Não consegue reconciliar-se com a essência de sua individualidade e, para vivê-la plenamente, jul-ga ser necessário destruir a própria família, o que, afinal, acaba acontecendo. Só que, ao destruir sua família, aniquila a si mesmo.

José Amaro sofre de um incurável com-plexo de inferioridade. Sua relação com o coronel Lula de Holanda é de submissão e subserviência. É simpático à causa do capitão Antônio Silvino, líder dos cangaceiros, mas não tem coragem de entrar para o seu ban-do, atitude que significaria transformar seu discurso revoltado em uma causa pela qual valeria a pena lutar e até, quem sabe, mor-rer. Vai, aos poucos, transformando-se em sua aparência física: seus olhos são amare-los, sua barba é suja, seus cabelos grandes e despenteados; fica realmente parecido com um monstro. Incapaz de assumir sua própria covardia, ele se envergonha de si mesmo, de seu fracasso como homem, e tortura-se até o fim. Não tem a quem servir. O coronel Lula de Holanda, outro fraco e covarde, não é digno de sua consideração e transmite-lhe um senti-mento de insegurança. José Amaro decepcio-na-se também com o capitão Antônio Silvino, cangaceiro em quem confiava, que não o aju-da quando ele é aprisionado; só sai da prisão depois da petição assinada por seu compadre, o capitão Vitorino Carneiro da Cunha.

O final do primeiro capítulo de Fogo mor-to é tocante. A beleza estética da narrativa leva-nos às lágrimas. A filha de José Amaro, já enlouquecida, é levada embora para ser in-ternada em um manicômio. Ao mesmo tem-po, passa pela rua o cortejo fúnebre de um cangaceiro:

O mestre José Amaro não quis ver a saída da filha. Emocionado, entrou em casa e o soluço da mulher cor-tou-lhe o coração. […] O mestre não pensava em nada. Havia dentro dele um vazio esquisito. Teve medo de voltar para dentro de casa. E ali mes-mo, por debaixo da pitombeira, bai-xou a cabeça e chorou como um me-nino. O bode manso chegou-se para perto dele e lambeu as suas mãos. E começou a berrar, como se tivesse coração de gente. (FM, p. 133).

No decorrer da narrativa, mestre José Amaro acaba por se transformar em alvo de intrigas por parte da pequena comunidade de Pilar. Em seus passeios noturnos, encontra-se consigo mesmo e descobre um mundo novo. Suas caminhadas noturnas, no entanto, viram notícia na comunidade e espalha-se o boato de que, nas noites de lua cheia, ele se trans-forma em lobisomem. Seu estado psicológico vai piorando gradativamente e agrava-se ain-da mais quando o coronel Lula de Holanda, motivado por essas mesmas intrigas, ordena que José Amaro deixe o casebre onde reside. A relação com sua família torna-se extrema-mente problemática: em virtude de sua cons-tante agressividade, não consegue dialogar com sua mulher ou com sua filha; já não se sente mais o chefe de sua família. A mulher abandona-o e a filha é internada no manicô-mio da Tamarineira, em Recife. E mestre José Amaro, enfrentando profunda depressão e não encontrando saídas para sua triste vida, acaba por suicidar-se.

Coronel Lula de HolandaEsta mesma crise de poder é também

vivenciada na casa-grande pela família do ca-pitão Tomás Cabral de Melo, o patriarca fun-dador do engenho de Santa Fé. Depois do ca-samento de sua filha Amélia com seu primo Lula de Holanda, o capitão Tomás começou a perceber, com preocupação, que seu gen-ro era homem da cidade e não se importava com os destinos do engenho Santa Fé, que

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ele construíra com tanto esforço, sacrifício e dedicação:

O capitão era que não podia en-tender o gênio daquele rapaz. […] O rapaz, pensou, não criava gosto pelo trabalho. Sentia-se velho e ti-nha medo de deixar o Santa Fé sem um pulso como o seu para governá--lo. Era um engenho pequeno, que pedia um homem do seu calibre, ho-mem que soubesse mandar, de tino, de força. O genro não lhe inspirava confiança. Dissera mesmo a Mari-quinha: – Este teu genro está me parecendo um banana. (FM, p. 147).

O capitão Tomás, apesar de todos os seus esforços, não consegue entusiasmar o genro pela vida na zona rural. Mas, enquanto viveu, administrou com competência o enge-nho e fê-lo prosperar. No entanto, deixa-se contaminar pelo “mundo das aparências” que lhe é mostrado pelo genro:

E começou o Santa Fé a girar em torno do cabriolé. O Capitão Tomás era homem simples, mas gostava de mostrar aos senhores de enge-nho da Ribeira que não era o ca-mumbembe que eles pensavam. Ti-nha filha que tocava piano, e genro que possuía cabriolé. […] A família do Capitão Tomás, quando entrava na vila, chamava a atenção do povo da rua. E ele gozava, de verdade, a importância que lhe vinha de tudo. Caprichara na parelha que puxava a sua carruagem. Via outros mais ricos do que ele mandando a famí-lia para as festas em carro de boi. Quando o carro parava na porta da igreja ficava cercado de gente que o olhava com admiração. O capitão se enchia com a grande figura que a carruagem do genro fazia. Tinha piano em casa. Só ele tivera cora-gem de mandar uma filha para co-

légio de freira. Montado no cabriolé olhava para o mundo cheio de satis-fação. (FM, p. 148-149).

O tempo passa. Morre o capitão Tomás Cabral de Melo. Sua esposa, dona Mariquinha, também morre, consumida pelo desgosto e pela tristeza, depois de desgastantes desen-tendimentos com o genro, que a impedia de aproximar-se de Neném, sua primeira neta, alvo da dedicação e dos cuidados do pai. O coronel Lula de Holanda, embora, de início, procurasse adaptar-se à sua nova vida como senhor de engenho, não o consegue. Não se identifica com a rotina, as necessidades e as exigências práticas da vida de trabalho no en-genho. Faltam-lhe a força, a virilidade e o espí-rito de liderança de seu sogro. Aliás, tudo pa-rece degenerar no engenho Santa Fé após a morte do capitão Tomás. Lula, em suas ações, demonstra estar totalmente fora da realida-de, apegado a um passado esmaecido, que não volta mais. As características marcantes de sua personalidade são a covardia, a cruel-dade para com os escravos e a religiosidade exacerbada e superficial. Ele se preocupa, principalmente, com o mundo das aparên-cias: zela por dar à filha Neném uma educação europeia; reza como um carola, mas não se deixa transformar pelos valores da religião; e, finalmente, apegado ao passado monárquico, sente-se lesado pela abolição da escravatura e não gosta da República que está nascendo. Por isso mesmo, não quer se envolver com as disputas eleitorais no município de Pilar, re-cusando apoio político ao coronel José Pau-lino, senhor do engenho Santa Rosa. Dentro dessa nova ordem, não há lugar para Lula de Holanda. Ele julga-se um intocável, acima do bem e do mal, e não consegue amar as ter-ras do engenho, que garantiriam sua própria sobrevivência, a de sua família e de todas as pessoas que com ele trabalhavam. Sem amor pela terra, Lula não passa de um alienado, um sádico que só traz desagregação e morte à sua própria descendência e ao engenho Santa Fé. Seu segundo filho com Amélia nasce mor-to: “Dissera a parteira que tinha uma cabeça

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de monstro. Era um aleijão. Castigo do céu” (FM, p. 167). Após o parto, constata-se que sua esposa, Amélia, nunca mais poderá engra-vidar. Então Lula passa a tratá-la como a uma doente. O tempo, inexorável como a morte, foi passando. “E o Santa Fé foi ficando assim o engenho sinistro da várzea” (FM, p. 167).

Por outro lado, o fanatismo de Lula por sua filha Neném é doentio. Ele a trata como sua propriedade. Ninguém podia tocá-la:

Só Neném existia para ele. […] Seu Lula só vivia para a filha. […] De-pois Neném, a bela Neném de olhos azuis, tranças louras, toda sua, fa-zendo tudo o que ele quisesse, en-chendo a casa-grande com o piano que com suas mãos era mais huma-no que nas mãos da mãe. Era Ne-ném. Era a sua filha. E queria tomá--la, embalá-la nos seus braços. […] Tudo lhe dera, tudo arrancara de si para que a filha fosse o que fosse. (FM, p. 177-189).

Lula, por vezes, surpreendia-se com seus sentimentos pela filha. Era como se ele estivesse apaixonado por Neném. Seus ata-ques epilépticos são, cada vez mais, frequen-tes. Assim como José Amaro, Lula também vai enlouquecendo aos poucos. Perde o juízo. Suas orações falsas e hipócritas não o absol-vem de seus pecados. Lula diz amar a Deus, mas não suporta a convivência com as pesso-as de suas relações. Como pode alguém dizer que ama a Deus se odeia seu próximo? Como pode amar a Deus um homem que vê a filha como sua propriedade? Como pode orar um homem que sente prazer em chicotear e mal-tratar desnecessariamente seus escravos?

Nessas condições, Lula de Holanda e seus familiares apegam-se, cada vez mais, às aparências, como se ainda fossem ricos e es-tivessem na Europa. Lula, especialmente, tem medo de encarar sua própria decadência. Pre-fere negar a realidade. Contudo, a realidade nua e crua bate às suas portas. Amélia é obri-gada a vender ovos às escondidas para que

a família possa sobreviver. Se Lula fosse um homem diferente, com os pés no chão, talvez as coisas tivessem sido diferentes. Mas, assim como o seleiro José Amaro, Lula não sabe se adaptar à realidade do novo momento históri-co e social em que vive e apega-se nostalgica-mente ao passado. Seus ataques epilépticos manifestam psicologicamente a existência de um “eu” que está em permanente conflito consigo mesmo.

À imagem e semelhança da persona-gem, o engenho de Santa Fé é mortalmente afetado em sua produtividade. Lula é incapaz de administrar de forma competente o en-genho, que ele, paulatinamente, abandona à própria sorte. Seus problemas agravam-se ainda mais quando surgem os primeiros indí-cios do progresso gerado pela modernidade. Os engenhos da região começam a moder-nizar-se e utilizam-se, agora, de máquinas a vapor para a colheita e moagem da cana-de--açúcar. Indiferente ao progresso das máqui-nas a vapor, continua a utilizar-se das velhas almanjarras puxadas por burros de carga. Lula entra em depressão e sente-se, cada vez mais, impotente diante dos desafios e problemas da vida. Afasta-se de tudo e de todos. Não tem mais amigos e busca na religião o último refúgio para a resolução de sua crise existen-cial. Nesse ínterim, e para agravar ainda mais a situação já calamitosa em que se encontra o engenho Santa Fé, é decretada a abolição da escravatura. O engenho perde seus escravos e praticamente todos os seus trabalhadores. Sem administração ou qualquer tipo de inves-timento, instala-se no engenho Santa Fé um processo irreversível de decadência.

Capitão Vitorino Carneiro da CunhaA outra personagem central do roman-

ce é o capitão Vitorino Carneiro da Cunha, um Dom Quixote do sertão paraibano. Assim como Lula, é um homem da época da mo-narquia. Alienado em relação a si mesmo e à passagem do tempo, Vitorino não tem consci-ência da decadência do engenho Santa Fé. En-tre as três personagens centrais do romance, Vitorino é o único sujeito realmente livre. Faz

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o que quer. É ele o defensor dos injustiçados, dos pobres e oprimidos. Quer ser coerente com seu discurso libertário. Não tem medo de arriscar-se para ajudar seus amigos. Para defendê-los, chega a enfrentar o capitão An-tônio Silvino, o cangaceiro mais temido da região. Como um paladino da justiça, Vitorino demonstra coragem em suas atitudes. Não se submetendo a quaisquer outros interesses po-líticos, pensa no bem que pode fazer à comu-nidade de Pilar. No fundo, quer ser admirado e respeitado por sua grandeza ética e moral. Vivendo em meio às transformações de seu espaço social, o capitão Vitorino tenta acom-panhá-las na medida do possível. Assume uma postura crítica em relação aos acontecimen-tos políticos que vivencia. Ele é contra o poder despótico das oligarquias que se formam e se fortalecem no estado da Paraíba. Sua luta em defesa dos pobres e injustiçados é permanen-te. Como era de esperar, as atitudes intempes-tivas e corajosas de Vitorino agradam a uns e desagradam a outros. Em seus devaneios, ele sonha ser prefeito de Pilar:

Vitorino fechou os olhos, mas es-tava muito bem acordado com os pensamentos voltados para a vida dos outros. Ele muito tinha que fazer ainda. Ele tinha o Pilar para tomar conta, ele tinha o seu elei-torado, os seus adversários. Tudo isto precisava de seus cuidados, da força do seu braço, do seu tino. Lá se fora o compadre José Amaro, o negro Passarinho, o cego Torqua-to. Todos necessitavam de Vitorino Carneiro da Cunha. Fora à barra do tribunal para arrastá-los da cadeia. Que lhe importava a violência do Tenente Maurício? O que valia era a petição que, com a sua assinatu-ra, botara para a rua três homens inocentes. Ele era homem que não se entregava aos grandes. Que lhe importava a riqueza de José Pauli-no? Tinha o seu voto e não dava ao primo rico, tinha eleitores que não

votavam nas chapas do governo. O governo não podia com a sua deter-minação. (FM, p. 284).

Vitorino Carneiro da Cunha tem uma au-toimagem positiva. Julga ser um homem de coragem, que “aguenta os repuxos” da vida:

– Caí com o corpo todo. Muito obrigado. Estes cabras me pagam. Isto é coisa do Juca do Santa Rosa. Estas desgraças me pagam. Corto a cara do safado de rebenque. […] – Culpado de quê? Não está vendo que isto é perseguição política? Estão com medo do meu eleitora-do. Cabras safados. Vou mostrar a todos quem é este velho Vitorino Carneiro da Cunha. Não enjeito bri-ga. Se querem no pau, vamos no pau. (FM, p. 23).

O comportamento de Vitorino é, muitas vezes, ambíguo: quer ser um poderoso coro-nel que dá ordens e comanda a política de sua cidade com mão de ferro e, ao mesmo tempo, assume a defesa dos necessitados e oprimi-dos. Exatamente por causa dessas atitudes, é visto como um desequilibrado mental: o mes-tre José Amaro e sua esposa, Sinhá Adriana, assim o consideram. As crianças chegam a apelidá-lo, jocosamente, de Papa-Rabo. Seu fi-lho Luís, oficial da Marinha, quer levá-lo para o Rio de Janeiro. Ele se zanga com o filho e, des-gostoso, afirma: “Não deixaria a sua terra por outra qualquer. Nem que fosse por um reino. […] Não sairia da várzea por força nenhuma” (FM, p. 240). Esta atitude de Vitorino, insistin-do em permanecer em sua cidade, revela a determinação da personagem. Ele quer ter a liberdade de tomar as suas próprias decisões, responsabilizando-se por elas.

Vitorino solidariza-se com o sofrimen-to do povo, independentemente da classe social: enfrenta o capitão Antônio Silvino, fa-moso cangaceiro, e sai em defesa do coronel Lula de Holanda, senhor do engenho Santa Fé; defende, também, o negro Passarinho,

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o cego Torquato e o mestre José Amaro, to-dos muito pobres, libertando-os da prisão. É este o capitão Vitorino Carneiro da Cunha que, em suas atitudes quixotescas, acaba por revelar-se um puro de coração. Ele não quer a posse de bens materiais e tem a in-tuição de que, conforme o preceito bíblico, o dinheiro é mesmo a raiz de todos os males. É o apego aos bens materiais que leva o co-ronel Lula de Holanda à ruína e à decadência. Vitorino, ao contrário, tem a pureza de co-ração e a rica vida interior das pessoas que, apesar da adversidade das circunstâncias, nunca perdem a esperança. Ele convive coti-dianamente com o sofrimento de seu povo e é testemunha ocular das duas mortes signifi-cativas que ocorrem em Fogo morto: de seu amigo e compadre, José Amaro, e também do engenho Santa Fé. Estas mortes têm, no romance, um caráter simbólico: morrem os velhos e tradicionais valores simbolizados pelos antigos engenhos de cana-de-açúcar e surgem os novos e modernos valores simbo-lizados pela chegada das usinas:

De madrugada saiu para tomar a fresca da aurora. Andou pela beira do rio e lá para as seis horas vol-tou para ver o mestre. Entrou de sala adentro e viu a coisa mais tris-te deste mundo. O mestre estava caído, perto da tenda, com a faca de cortar sola enterrada no peito. – Estava morto, capitão. – Morto? – gritou Vitorino. – O meu compadre José Amaro morto? A velha Adria-na, como uma lesa, não sabia o que dizer. Vitorino abraçou-se com ela: – Minha velha, o compadre se matou. […] Agora viam o bueiro do Santa Fé. Um galho de jitirana subia por ele. Flores azuis cobriam-lhe a boca suja. – E o Santa Fé, quando bota, Passarinho? – Capitão, não bota mais, está de fogo morto (FM, p. 289-290).

Momento interpretativoO caráter mimético de Fogo morto ma-

nifesta-se na opção consciente de José Lins do Rego, recusando a representação fide-digna do plano real e optando por dar à sua obra um caráter essencialmente ficcional. Em outras palavras, o escritor opta, em sua narrativa, pela estilização ficcional do real. Exatamente por isso, o romance destaca-se do mundo empírico e convida-nos a conhe-cer, pela inesgotável criatividade artística, um “outro mundo”:

As obras de arte destacam-se do mundo empírico e suscitam um outro com uma essência própria, oposto ao primeiro como se ele fosse igualmente uma realidade. Tendem, portanto, a priori para a afirmação, mesmo que se compor-tem ainda de uma maneira trágica. (ADORNO, 1982, p. 12).

Fogo morto é um romance trágico, mar-cado pela estética da dor, do fracasso e da morte. José Lins, ao narrar como ficção o exis-tente, desvela diante de nós a crueza de uma situação social marcada pela opressão e pela injustiça. Assim, os elementos formais do ro-mance voltam-se contra o simples existente e contra um estado de coisas que se quer per-petuar. A narrativa não traz ao leitor qualquer tipo de consolação ou alegria. Ao contrário, o final dos três capítulos que compõem a obra é marcado pelo choro e pela tristeza da falta de perspectivas diante de dramas existenciais e sociais que conduzem inevitavelmente a um “beco sem saída”. É um romance pesado, que cai sobre nossas cabeças como “chumbo grosso”. Inexistem a alegria e a esperança. Sem qualquer expectativa, o autor limita-se a retratar sem retoques uma realidade social que assinala a proximidade do fim da era dos engenhos no Nordeste brasileiro. Em conso-nância com o pensamento de Adorno, José Lins sabe que “quanto mais a obra é racional segundo a sua constituição formal, mais dis-paratada se torna segundo o critério da razão

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na realidade” (ADORNO, 1982, p. 184). Daí sua opção pela construção ficcional da narrativa. Foi assim que Fogo morto transformou-se em uma obra-prima, capaz de conservar, apreen-der e configurar em sua forma, como conte-údo sedimentado, aspectos fundamentais da realidade brasileira. É o momento mimético que dá vida e movimento à narrativa. O autor sabe muito bem disso e, assim, estão presen-tes no romance elementos irracionais, bur-lescos e até mesmo cômicos, como a horrível aparência física do mestre José Amaro, que passou a ser confundido com um lobisomem pela população, ou a figura tragicômica e crí-tica do capitão Vitorino Carneiro da Cunha, jo-cosamente apelidado de Papa-Rabo.

O mestre José Amaro é um seleiro que vive no passado, lembrando nostalgicamente dos “bons tempos” em que seu pai vivera e trabalhara no engenho Santa Fé. O coronel Lula de Holanda é alguém que vive a realida-de de um presente decadente à sombra dos áureos tempos em que seu sogro, o capitão Tomás Cabral de Melo, fundara o povoado do Pilar e fizera a pujança do engenho Santa Fé. O capitão Vitorino Carneiro da Cunha, por sua vez, não tem consciência da decadência social e econômica do tempo presente: é uma espé-cie de “Dom Quixote” que não consegue vi-sualizar e apreender a crueza da realidade de seu próprio tempo. As três personagens reve-lam, social e subjetivamente, a decadência e a transição de uma época à outra, o choque entre um passado que não mais voltará e um presente em que não se vislumbra qualquer possibilidade de futuro.

Em Fogo morto, o trágico e o poético manifestam-se nos dramas existenciais e so-ciais vivenciados pelas personagens. O roman-ce, no desenvolvimento de suas tramas, aca-ba por revelar a existência de uma sociedade feroz e opressiva, que impõe seus valores a seres humanos que não conseguem descobrir meios eficazes de reação diante da realidade. Fogo morto é uma obra de arte porque José Lins do Rego, como narrador e exímio conta-dor de histórias, faz corajosamente a “críti-ca da feroz seriedade que a realidade impõe

sobre os seres humanos” (ADORNO, 2001, p. 13). Fogo morto participa no esclarecimento de uma realidade que é imanente ao seu con-teúdo de verdade como obra de arte literária, sem mentiras ou dissimulações. A obra de arte quer ser, em si mesma, uma resposta às suas próprias perguntas:

[As verdadeiras obras de arte] par-ticipam na Aufklärung porque não mentem: não simulam a literalida-de do que elas exprimem. Mas são reais enquanto respostas à forma interrogativa do que lhes vem ao encontro a partir do exterior. A sua própria tensão é significativa na relação com a tensão exter-na. Os estratos fundamentais da experiência, que motivam a arte, aparentam-se com o mundo obje-tivo, perante o qual retrocedem. Os antagonismos não resolvidos da realidade retornam às obras de arte como os problemas imanentes da sua forma. É isto, e não a trama dos momentos objetivos, que define a relação da arte à sociedade. […] Se as obras de arte são respostas à sua própria pergunta, com maior razão elas próprias se tornam questões. (ADORNO, 1982, p. 16-17).

Em seu ensaio A arte é alegre? (2001), Adorno reflete sobre o paradoxo da busca da alegria no trágico. O filósofo argumenta que, embora de forma paradoxal, a alegria da arte também se manifesta na estética da dor, do fracasso e da morte. Esta aparente contra-dição é parte integrante da natureza da arte como “finalidade sem fim”:

A não-finalidade da arte é escapar da coerção da auto-preservação. A arte incorpora algo como liberdade no seio da não-liberdade. O fato de, por sua própria existência, desviar-se do caminho da dominação a coloca como parceira de uma promessa de

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felicidade, que ela, de certa manei-ra, expressa em meio ao desespero. […] Por tais razões, a tese da alegria da arte tem que ser tomada num sentido muito preciso. Vale para a arte como um todo, não para tra-balhos individuais. Estes podem ser totalmente destituídos de alegria, em conformidade com os horrores da realidade. (ADORNO, 2001, p. 12).

Em Fogo morto, tal paradoxo expressa--se na forma como o narrador explicita esteti-camente a tragédia da existência humana, no contexto de uma realidade social que não ofe-rece quaisquer perspectivas ou saídas para a sobrevivência da esperança e da vida. É, neste sentido, um romance totalmente destituído de alegria, revelando-nos o horror de uma re-alidade pessoal e social inaceitável. Em suas dissonâncias, expressa as dissonâncias da re-alidade que toma como conteúdo (ADORNO, 2001, p. 13), opondo-se, ao mesmo tempo, a esta mesma realidade e dando uma admirável forma estética à consciência de suas contradi-ções (ADORNO, 2001, p. 13). A linguagem inci-siva da estética de Fogo morto deve ser bus-cada no dizer, no expressar-se do narrador e nas palavras e reflexões sobre o sentido últi-mo da vida, que coloca na boca de suas perso-nagens. O romance tem uma forma multiface-tada e seus elementos miméticos embelezam a narrativa, fazendo-nos cúmplices dos dra-mas existenciais vividos pelas personagens. Seus elementos críticos e utópicos manifes-tam-se de forma implícita na “desorientação ética” das personagens, que não sabem o que fazer quando confrontadas por uma situação histórica diante da qual não encontram saídas possíveis. Por isso mesmo, no desenvolvimen-to da trama, seguidas vezes, as personagens, em diálogos ou monólogos, filosofam sobre o sentido de suas próprias vidas.

Nos dias de hoje, acentua Adorno, a arte foi cooptada pela indústria cultural. Agora, a arte só é possível a partir de uma reflexão filo-sófica sobre o seu real significado, renuncian-do desde logo à alegria e à despreocupação:

A arte, que não é mais possível se não for reflexiva, deve renunciar por si mesma à alegria. A isto é forçada pelo que aconteceu recentemente. A afirmativa de que após Auschwitz não é mais possível escrever poe-sia não deve ser cegamente inter-pretada, mas, com certeza, depois que Auschwitz se fez possível e que permanece possível no futuro pre-visível, a alegria despreocupada na arte não é mais concebível. Objeti-vamente se degenera em cinismo, independentemente de quanto se apóie na bondade e compreensão humanas. (ADORNO, 2001, p. 15-16).

Adorno pontua que a impossibilidade da alegria na arte foi sentida, na grande literatu-ra europeia do século XIX, desde Baudelaire até Nietzsche. O romance Fogo morto é um eloquente testemunho de que José Lins do Rego compartilha da mesma opinião. Na pers-pectiva da filosofia adorniana, a obra literária do escritor e romancista paraibano é extre-mamente atual. Fogo morto é um romance fatídico. As três personagens centrais são homens alienados, cuja força motriz é o ódio, o ressentimento e a nostálgica lamentação por um tempo que não voltará jamais. O romance é marcado pela tristeza, pela dor e pela mor-te, revelando nas palavras e ações das perso-nagens um profundo pessimismo existencial. Fogo morto quer nos fazer refletir filosofica-mente sobre o sentido da vida e, nas alterna-tivas entre o alegre e o sério, entre o cômico e o trágico, entre a vida e a morte, o narrador escolhe a seriedade, a tragédia e a morte:

A arte que está além do alegre e do sério […] não pode ser mais alegre tanto quanto não pode ser séria por completo. […] A arte não pode mais igualar a expressão da tristeza com o que há de mais alegre. […] O conteúdo de verdade da alegria parece ter se tornado inatingível. (ADORNO, 2001, p. 17-18).

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O tempo, infinito e incessante, não para. O narrador, crítico, assegura-nos do caráter cíclico, irrecuperável e inescapavelmente trá-gico do tempo. Não há consolo. Sofrimento e morte, mais cedo ou mais tarde, encontrar-se--ão com a vida das personagens do romance de forma inexorável. Fartura e decadência são duas faces de uma mesma moeda. A as-censão e a queda do engenho Santa Fé re-presentam simbolicamente, na loucura dos sonhos e projetos de personagens guiadas por sentimentos de orgulho e vaidade, a es-tupidez e a miséria da condição humana. O choro de Amélia, a mulher do coronel Lula de Holanda, no parágrafo final da segunda parte do romance, é sintomático:

D. Amélia fechou a porta da cozi-nha. Dentro de sua casa havia uma coisa pior do que a morte. Não havia vozes que amansassem as dores que andavam no coração do seu povo. Viu a réstia que vinha do quarto dos santos, da luz mortiça da lâmpada de azeite. Caiu nos pés de Deus, com o corpo mais doído que o de Lula, com a alma mais pe-sada que a de Neném. Acabara-se o Santa Fé. (FM, p. 204).

É como se o sentimento do trágico se dissolvesse no interior de uma subjetividade cujos desejos são, ao mesmo tempo, irrele-vantes e inconsequentes:

O trágico dissolve-se porque são evidentemente inconsequentes as demandas de uma subjetividade que deveria ser trágica. No lugar da risada instala-se o choro sem lá-grimas, o choro seco. O lamento se tornou a tristeza dos olhos ocos e vazios. (ADORNO, 2001, p. 17).

Considerações “quase” finais… Ainda o momento interpretativo

Uma obra de arte é passível de conside-rações finais absolutamente conclusivas? Ou a

obra de arte é, por natureza, sempre aberta a novas interpretações? Qual o enigma propos-to pelo romance Fogo morto? É possível dar a este enigma uma resolução objetiva? Como tal enigma manifesta-se no comportamento e na psicologia das personagens? Como pe-netrar no interior de uma obra de arte para discernir objetivamente seu conteúdo de ver-dade? Qual é, afinal, o conteúdo de verdade do romance Fogo morto? Tais questões são, para Adorno, plenamente justificáveis, pois

o conteúdo de verdade das obras de arte é a resolução objetiva do enigma de cada uma delas. Ao exi-gir a solução, o enigma remete para o conteúdo de verdade, que só pode obter-se por meio da reflexão filosófica. Isso, e nada mais, é que justifica a estética. […] As obras, sobretudo as de mais elevada dig-nidade, aguardam a sua interpre-tação. […] Apreender o conteúdo de verdade postula a crítica. Nada é apreendido se a sua verdade ou falsidade não for compreendida, e este é o afazer da crítica. O desdo-bramento histórico das obras pela crítica e a manifestação filosófica de seu conteúdo de verdade encon-tram-se em interação. (ADORNO, 1982, p. 197-198).

O caráter enigmático de Fogo morto expressa-se na linguagem utilizada pelo nar-rador, que, construída de forma ficcional, des-vela e, ao mesmo tempo, oculta seu conteú-do de verdade. Este apresenta uma peculiar e paradoxal característica, que dificulta sua descoberta:

Geralmente, a hermenêutica das obras de arte é, pois, a transposi-ção dos seus elementos formais em conteúdos. No entanto, estes não pertencem diretamente às obras de arte como se elas recebessem simplesmente o conteúdo da reali-

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dade. O conteúdo constitui-se num movimento contrário. Imprime-se nas obras de arte que dele se afas-tam. (ADORNO, 1982, p. 214).

A verdadeira obra de arte é aquela cujo conteúdo de verdade não é claramente dis-cernível à primeira leitura, não se deixa elu-cidar com facilidade. A cada nova leitura, abrem-se ao leitor novas e insuspeitadas possibilidades de compreensão e interpre-tação. Para Adorno, “as obras de arte que se apresentam sem resíduo à reflexão e ao pensamento não são obras de arte (ADOR-NO, 1982, p. 188). No caso específico, Fogo morto propõe uma instigante reflexão sobre o sentido da existência humana no contexto de uma sociedade em intensa transformação. O drama existencial vivido pelas personagens centrais do romance revela a trama de uma sociedade que passa de um modo de produ-ção mercantil para um modo de produção moderno e capitalista, com todas as conse-quências funestas e desumanizadoras.

Quem lê o romance é levado pelo nar-rador, um fantástico contador de histórias, a uma singular experiência de reconstrução estética por meio da imaginação. O leitor imagina o engenho Santa Fé, do seu apogeu, com o capitão Tomás Cabral de Melo, à sua decadência, com o Coronel Lula de Holanda, seu genro; o leitor imagina e sofre com o dra-ma e o desespero existencial do seleiro José Amaro e do próprio coronel Lula de Holanda, juntamente com suas mulheres e filhas; o lei-tor imagina a performance e atuação teatral risível do capitão Vitorino Carneiro da Cunha e vive momentos extremos, indo da mais jo-cosa comicidade à mais profunda admiração por sua coragem, sinceridade de propósitos e pureza de coração.

Se é correto afirmar que todas as obras de arte são enigmas, como pontua Adorno, é também verdade que todas elas querem ser compreendidas em seu conteúdo de verdade. Todas as obras de arte querem ser pensadas filosoficamente e anseiam pela resolução do seu caráter enigmático.

No romance Fogo morto, o enigma pro-posto ao leitor refere-se à desesperada bus-ca pelas razões que expliquem o sentido da dor, do sofrimento, do fracasso e da morte. Por que os homens sofrem? Por que algumas pessoas têm tanto dinheiro e vivem na abas-tança, enquanto outras nada têm e são pre-midas por necessidades materiais que levam inescapavelmente à doença e à morte? Por que existe a opressão do homem pelo ho-mem? Por que existe a injustiça? Como e por que se perpetua, na estrutura social descrita em Fogo morto, um círculo vicioso de injusti-ça e opressão? Por que “um nasce para sofrer, enquanto o outro ri”, como afirma Tim Maia na letra da música Azul da cor do mar? Por que “a tristeza não tem fim, mas a felicidade sim”, como afirma o poeta Vinicius de Moraes na le-tra da música A felicidade, feita em parceria com Tom Jobim? Por que temos que morrer, se a vida é tão bonita e poderia ser tão dife-rente? Como explicar filosoficamente o senti-do da vida e o sentido da morte? Por que José Amaro e Vitorino são pobres? Por que o capi-tão Tomás e o coronel Lula são ricos? Quais os mecanismos de exploração do trabalho pre-sentes na economia açucareira capitalista do nordeste brasileiro naquele período histórico? Quais as classes sociais mencionadas no ro-mance e como elas se relacionam ou entram em conflito, aberta ou dissimuladamente? Quais os condicionamentos econômicos, po-líticos e sociais que determinaram as atitudes tresloucadas de José Amaro e Lula de Holan-da e as atitudes românticas e quixotescas de Vitorino? Existiam razões objetivas para tais atitudes? Por que José Amaro suicidou-se? Por que o coronel Lula de Holanda recusava--se terminantemente a administrar o engenho Santa Fé, mesmo sabendo que isso significa-ria sua ruína e destruição, como acabou acon-tecendo? Por que o capitão Vitorino Carneiro da Cunha comporta-se como um Dom Quixo-te, cheio de boas intenções, mas sem força ou influência política para ver seus louváveis objetivos de promoção da justiça social plena-mente alcançados? Por que as coisas têm que ser assim? Não poderiam ser diferentes? Nas

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palavras de Adorno, por que somos obriga-dos a testemunhar a vitória dos valores alie-nantes da semiformação em uma sociedade em transição?

O narrador, com maestria, vai nos con-duzindo ao interior da vida social, dos dramas existenciais e da complexa psicologia com-portamental das três personagens, até que o leitor, reflexivamente angustiado e quase em desespero, seja levado a questionar: Por quê? Por quê? Por quê? O narrador não ofe-rece respostas; cabe ao leitor buscá-las. As perguntas não respondidas pelo narrador constituem o caráter enigmático do roman-ce. Decifrar o enigma do romance é tarefa do leitor. Em Fogo morto, o narrador sinaliza o enigma, mas não o resolve. Ele reconhece o enigma insolúvel das contradições da na-tureza humana. O narrador, ao contrário do que desejaria a indústria cultural, convida--nos à admiração e à estranheza diante de uma realidade que estávamos acostumados a ler e interpretar acriticamente:

A arte torna-se enigma porque apa-rece como se houvesse resolvido o que na existência é enigma, enquan-to era esquecido o enigma no sim-ples ente em virtude do seu próprio endurecimento poderoso. Quanto mais compactamente os homens co-briam o que é diferente do espírito subjetivo com a rede das categorias, tanto mais profundamente se desa-bituaram da admiração perante esse outro e, com familiaridade crescen-te, se frustraram da estranheza. A arte, como que numa gesticulação

bem depressa fatigada, procura, de-bilmente, reparar isso. Leva a priori os homens à admiração, como ou-trora Platão exigia da filosofia, que se decidiu pelo contrário. (ADORNO, 1982, p. 195).

Assim, não mais que de repente, o nar-rador abre nossos olhos e leva-nos a compre-ender e (re)interpretar a realidade a partir de uma nova perspectiva, uma perspectiva críti-ca que nos é estranha e à qual não mais es-távamos acostumados. Reaprendemos a pen-sar. Reaprendemos a refletir filosoficamente. Ficamos fascinados pela beleza estética da narrativa. Mais do que encontrar respostas, reaprendemos a fazer perguntas. Pois o narra-dor ensina-nos que, muitas vezes, as pergun-tas são mais importantes do que as respostas. Reaprendemos, enfim, a arte de questionar, e questionar sempre. Sem nenhum exagero, depois de lermos Fogo morto e deixarmo--nos instruir pela visão perscrutadora e críti-ca do narrador, nossa vida nunca mais será a mesma. Nada será como antes. Assim como na filosofia nunca mais seremos os mesmos depois de ler Descartes, Kant ou Nietzsche, o mesmo se dá com alguns escritores e roman-cistas da literatura brasileira. Simplesmente não é possível que continuemos os mesmos depois de ler Machado de Assis, Guimarães Rosa ou José Lins do Rego. Como afirmou o crítico literário Otto Maria Carpeaux, na Breve notícia-vida de José Lins do Rego, de autoria de Wilson Louzada: “Essa obra não morre tão cedo. É eternamente jovem, como o povo; é eternamente triste, como o povo. [José Lins do Rego] é o trovador trágico da província” (apud REGO, 1976, p. XIV).

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Dados autorais:Omir Wesley Andrade

Possui graduação em Jornalismo (1976) e em Teologia (1977) pela Universidade Metodista de São Paulo. É doutorando em Educação pela UNIMEP - Universidade Metodista de Piracicaba. Atua como Agente da Pastoral Universitária e escolar da UNIMEP, Pastor da Igreja Metodista

e Professor de Teologia e Cultura da UNIMEP. Tem experiência na área de Teologia, Educação e Comunicação.

Bruno PucciPossui graduação em Teologia pela Pontifícia Universidade de San Tomás de Aquino (1966),

Roma, graduação em Filosofia pela Organização Mogiana de Ensino e Cultura (1970), gradua-ção em Letras Português Literatura pela Universidade Metodista de Piracicaba (1974), mestra-do em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba (1976) e doutorado em Educação: História, Política, Sociedade pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1982). Profes-

sor Titular pela UFSCar, 1992. Aposentado na Universidade Federal de São Carlos (1996), é atu-almente professor titular da Universidade Metodista de Piracicaba. Tem experiência na área

de Educação, com ênfase em Filosofia da Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: teoria crítica e educação, estética e educação, novas tecnologias e educação, filosofia

da educação e educação.

Recebido: 25/02/2015Aprovado: 23/04/2015