O Ensino Superior de Administração Pública

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1 Título do trabalho: O Ensino Superior De Administração Pública: Perspectiva Histórica, Características e Possibilidades Autoria: Fátima Bayma de Oliveira, Anderson de Souza Sant'anna, Daniela Martins Diniz Resumo do trabalho: Este artigo apresenta uma revisão teórica e empírica sobre o ‘ensino superior em administração pública’ no Brasil. Considerando-se os movimentos de revalorização deste curso no país, a investigação do tema mostrou-se uma linha de pesquisa relevante. Nestes termos, o artigo pretendeu discutir a evolução, os principais debates contemporâneos e os rumos do ensino superior em administração pública no país. Para tanto, a fundamentação teórica contemplou a trajetória histórica deste curso no Brasil, as suas características fundamentais e os principais debates e dilemas que circundam as pesquisas sobre o tema. Dentre algumas características discutidas no referencial teórico, merece destaque a pouca clareza na definição do que são as questões públicas e os problemas de identidade da educação de administração pública (CASTRO, 1981; BERTERO, KEINERT, 1994; BERTERO; CALDAS; WOOD, 1999; PIZZINATTO, 1999; BARROS; PASSOS, 2000; FISCHER; 2001; PECI; FREITAS; SOBRAL, 2007). Em termos metodológicos, optou-se pela realização de pesquisa qualitativa com o uso do método de estudo de caso. Foram realizadas entrevistas em profundidade com doze professores de instituições tradicionais em administração pública, pelo fato de terem sido as primeiras escolas no Brasil a implantarem cursos na área, como a Escola de Administração Pública e de Empresas (EBAP), a Escola de Administração de Empresas de São Paulo, ambas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a Universidade Federal da Bahia (UFBA), a Universidade de Brasília (UNB), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Fundação João Pinheiro (FJP), além de pesquisadores vinculados a entidades importantes no ensino e na pesquisa no país, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Os resultados apontam que embora a oferta de cursos de administração “genéricos”, isto é, de administração de empresas, seja predominante na graduação e na pós-graduação no país, existem algumas iniciativas favoráveis à expansão do ensino na área pública. Os achados revelam também que este movimento de retomada do ensino em administração pública requer, entretanto, um avanço e um aprimoramento de algumas fragilidades deste campo de conhecimento. Com relação ao conteúdo dos cursos, por exemplo, é fundamental que se faça um resgate das temáticas relevantes para a área pública e que devem necessariamente compor a grade curricular dos programas. Neste sentido, pretende-se contribuir para o debate e o avanço do ensino superior de administração pública no país.

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1 Ttulodotrabalho:OEnsinoSuperiorDeAdministraoPblica:PerspectivaHistrica, Caractersticas e Possibilidades Autoria: Ftima Bayma de Oliveira, Anderson de Souza Sant'anna, Daniela Martins Diniz Resumodotrabalho:Esteartigoapresentaumarevisotericaeempricasobreoensino superioremadministraopblicanoBrasil.Considerando-seosmovimentosde revalorizaodestecursonopas,ainvestigaodotemamostrou-seumalinhadepesquisa relevante.Nestestermos,oartigopretendeudiscutiraevoluo,osprincipaisdebates contemporneos e os rumos do ensino superior em administrao pblica no pas. Para tanto, afundamentaotericacontemplouatrajetriahistricadestecursonoBrasil,assuas caractersticasfundamentaiseosprincipaisdebatesedilemasquecircundamaspesquisas sobreotema.Dentrealgumascaractersticasdiscutidasnoreferencialterico,merece destaqueapoucaclarezanadefiniodoquesoasquestespblicaseosproblemasde identidadedaeducaodeadministraopblica(CASTRO,1981;BERTERO,KEINERT, 1994;BERTERO;CALDAS;WOOD,1999;PIZZINATTO,1999;BARROS;PASSOS, 2000;FISCHER;2001;PECI;FREITAS;SOBRAL,2007).Emtermosmetodolgicos, optou-sepelarealizaodepesquisaqualitativacomousodomtododeestudodecaso. Foramrealizadasentrevistasemprofundidadecomdozeprofessoresdeinstituies tradicionais em administrao pblica, pelo fato de terem sido as primeiras escolas no Brasil a implantarem cursos na rea, como a Escola de Administrao Pblica e de Empresas (EBAP), aEscoladeAdministraodeEmpresasdeSoPaulo,ambasdaFundaoGetlioVargas (FGV),aUniversidadeFederaldaBahia(UFBA),aUniversidadedeBraslia(UNB),a UniversidadeFederaldoRioGrandedoSul(UFRGS)eaFundaoJooPinheiro(FJP), almdepesquisadoresvinculadosaentidadesimportantesnoensinoenapesquisanopas, comoaCoordenaodeAperfeioamentodePessoaldeNvelSuperior(CAPES).Os resultadosapontamqueemboraaofertadecursosdeadministraogenricos,isto,de administraodeempresas,sejapredominantenagraduaoenaps-graduaonopas, existemalgumasiniciativasfavorveisexpansodoensinonareapblica.Osachados revelamtambmqueestemovimentoderetomadadoensinoemadministraopblica requer,entretanto,umavanoeumaprimoramentodealgumasfragilidadesdestecampode conhecimento. Com relao ao contedo dos cursos, por exemplo, fundamental que se faa um resgate das temticas relevantes para a rea pblica e que devem necessariamente compor agradecurriculardosprogramas.Nestesentido,pretende-secontribuirparaodebateeo avano do ensino superior de administrao pblica no pas. 2 1. INTRODUO Este documento apresenta uma reviso terica e emprica sobre o ensino superior em administrao pblica. Foram abordados aspectos relacionados sua trajetria histrica e ao seu crescimento no Brasil; as caractersticas fundamentais deste campo; as diferenas entre o ensinodeadministraopblicoeoprivado;evidnciasdeentrevistascomprofessoresde instituiestradicionaisemadministraopblica,pelofatodeteremsidoasprimeiras escolas no Brasil a implantarem cursos na rea, como a Escola de Administrao Pblica e de Empresas (EBAP), a Escola de Administrao de Empresas de So Paulo, ambas da Fundao GetlioVargas(FGV),UniversidadeFederaldaBahia(UFBA),UniversidadedeBraslia (UNB),UniversidadeFederaldoRioGrandedoSul(UFRGS)eaFundaoJooPinheiro (FJP); os desafios para o seu fortalecimento enquanto rea de conhecimento. As caractersticas do ensino de administrao pblica discutidas neste referencial esto relacionadas aos principais debates presentes nas pesquisas da rea, quais sejam: (i) distncia entre o conhecimento terico e a gesto pblica na prtica; (ii) pouca clareza na definio do quesoasquestespblicaseosproblemasdeidentidadedaeducaodeadministrao pblica; (iii) baixa conexo entre as disciplinas que constituem o curso. Portanto, pretende-se contribuir para o debate sobre a evoluo do ensino superior de administrao pblica no pas.O foco deste artigo est voltado para os mestrados em administrao pblica. Todavia comoemvriosmomentosdaevoluodocampodeadministrao,osmestradossurgiram intimamentevinculadosaoscursosdegraduao,esteestudoabordatambmquestes comuns entre estes nveis de ensino. Alm disso, considerando-se que em diversas instituies de educao os cursos de administrao pblica passaram a ser ofertados juntamente com os deadministraodeempresas,isto,comoumnicocurso,esteartigoabordatemas relacionados a ambos os cursos. Para alm dessa introduo, o artigo est estruturado em cinco sees. A primeira e a segunda contemplam uma reviso terica sobre o ensino superior de administrao pblica no Brasil.Otpicoseguinteapresentaametodologiadepesquisa,seguidodadiscussodas evidnciasempricasdepesquisaobtidascombasenasentrevistasenosdocumentos.As consideraes finais encerram este artigo. 2.EVOLUODOENSINOSUPERIORDEADMINISTRAOPBLICANO BRASIL Diversosautoresdiscutiramoprocessohistricodecriaodoensinosuperiorde administraonoBrasil.Considerou-senestarevisotericaaspesquisasdeestudiososque deram uma contribuio relevante para esta problemtica (ver, por exemplo, CASTRO, 1981; BERTERO,KEINERT,1994;BERTERO;CALDAS;WOOD,1999;FISCHER;2001). semelhanadoqueocorreunosEstadosUnidos(RUBIN;NEWMAN2009),oensinode administrao pblica no Brasil no teve incio nas instituies de ensino tradicionais, mas em rgos governamentais voltados para a formao do servidor pblico. Entretanto, a educao nesta rea no pas possui uma histria muito curta, sobretudo quando se compara com o seu desenvolvimento nos Estados Unidos, onde os primeiros cursos da rea se iniciaram no final dosculopassado(CASTRO,1981;BERTERO,KEINERT,1994;BERTERO;CALDAS; WOOD, 1999). O fato que o ensino de administrao pblica no Brasil teve sua origem com o surgimento da administrao pblica no pas, ganhando maior expresso aps 1930, durante o primeiro governo de Getlio Vargas (1930-1945), poca em que o Estado assumiu o papel de indutor do desenvolvimento nacional (BARROS; PASSOS, 2000; PIZZINATTO, 1999). Nesta poca, o governo pretendia conferir um carter de eficincia e racionalidade s atividadesadministrativasestatais,tendocomorefernciaosprincpiosdaAdministrao CientficaconcebidosporTaylor.Issoimplicou,dentreoutros,naprofissionalizaodos funcionriospblicos,apartirdetreinamentoseformao,eemmudanasnaformade 3 seleo destes profissionais, evitando que a escolha se baseasse em indicaes pessoais como eracomumentepraticado(PIZZINATTO,1999;BARROS;PASSOS,2000;PECI; FREITAS; SOBRAL, 2007). Umainiciativafundamental,nestesentido,foiacriaopelogovernofederaldo Ministrio da Educao (1931), entidade que estabeleceu as diretrizes tericas e prticas que orientaramodesenvolvimentodoensinofundamental,mdioesuperiornopas.Assim,a educaonoBrasilfinalmenteemergiucomoumaprioridadenacional(CASTRO,1981; OLIVEIRA;SAUERBRONN,2007).Nestecontexto,surgemtambmoInstitutode Organizao Racional do Trabalho (IDORT), em 1931, e o Departamento Administrativo do ServioPblico(DASP),em1938.OIDORTumaassociaoconstitudaporempresrios brasileirospreocupados,poca,emconferiratributosderacionalizaodotrabalhoede formaoprofissionalsatividadesadministrativasbrasileiras.ODASP,porsuavez,foi incumbidodeorganizarecoordenarosrgosdogoverno,bemcomodefinirefiscalizaras questes oramentrias. Para tanto, o DASP iniciouummovimentode profissionalizao do funcionalismopblico,implantandoumsistemadeseleoporcompetnciatcnicaede promoopormerecimento(KEINERT,1994;PIZZINATTO,1999;BARROS;PASSOS, 2000; PECI; FREITAS). Estesrgosestimularamoestabelecimentodediversasparceriascominstituies estrangeiras,principalmentenosEstadosUnidos,comointuitodeenviarservidorespara capacitao, permitir a importao dos estudos j desenvolvidos nestes pases, bem como para subsidiaraimplantaodeescolas/cursosdeadministraopblicanoBrasil(KEINERT, 1994;FISCHER;2001).Frutodestesesforosfoiacriao,em1944,daFGV,enombito desta,foramcriadasaEscolaBrasileiradeAdministraoPblica-EBAP,em1952,ea EscoladeAdministraodeEmpresas-EAESP,em1954.Outrasescolasdeadministrao tambmcomearamaseconstituirnopas,comoadaUFRGS,em1951eadaUFBA,em 1959 (CASTRO, 1981; FISCHER; 2001; BAYMA de OLIVEIRA; SAUERBRONN, 2007).Nadcadade50e60,aeducaoemadministraopblicadeuumsalto significativo,favorecidapeloapoiogovernamental,conformeevidenciaesterelato:Na metadedosanossessenta,dos31cursosdeadministraonopas,doisteroseramde administrao pblica. (COELHO, NICOLINI, 2010, p.4). Os anos 70 e 80, por sua vez, so marcados por uma expanso expressiva de instituies, cursos de graduao e ps-graduao noBrasil,oquegerouimplicaesprofundasparaoensinoemadministrao(CASTRO, 1981;FISCHER;2001).Seporumladoestecrescimentosedeusemsubordinaoa parmetros de qualidade, por outro, gerou um processo de juno do curso em administrao pblicacomodeempresas,gerandoumprocessodeperdadeidentidadedoprimeiro (COELHO, NICOLINI, 2010). Outrapossvelcausadaunificaodoscursosemadministraofoiaresoluodo Ministrio da Educao que extinguiu as habilitaes em administrao e criou um currculo mnimoparaarea.Ouseja,noseriammaisreconhecidoscursosemadministraocom nomenclaturasdiferentes(administraofinanceira,bancria,hoteleira)etodasasofertas deveriamseremadministraovoltadasparaumaformaomaisgeneralista.Taldeciso atingiutambmoscursosdegraduaoemadministraopblica,masdevidoapresses juntoaoMECedaperplexidadedeseextinguirumareadetradio,oMinistrioda Educaoreconsiderouadecisoeem2006manteveAdministraoPblicacomonica exceo,devendoodiplomadegraduaoconstarbacharelemAdministraoou Administrao Pblica.Ento,observa-se,nadcadade90,umcenrioondeonmerodecursosem administraodeempresassuperouconsideravelmenteaquantidadedeofertasem administraopblica,oquecontribuiuparaacrisedeidentidadedesteltimo.Entretanto, nosepodedesconsiderarummovimentoderevalorizaodoensinonareapblica,em 4 funodeumciclodereformadoEstado(ps-1995),quetemfavorecidoaretomadada profissionalizaonoserviopblicoeaemergnciadecursosnarea(COELHO,1998; COELHO, NICOLINI, 2010), como evidenciam os dados do Instituto Nacional de Estudos e PesquisasEducacionaisAnsioTeixeira-INEP.Oscursosdegraduaoemadministrao pblica ampliaram de 2, em 2000, para 27, em 2005 e para 80, em 2009 e as matrculas, por sua vez, expandiram de 143, em 2000, para 1.873, em 2005 e para 6.273, em 2009, dados que refletem um crescimento importante do ensino na rea pblica (INEP, 2011). 2.1. Origens e Evoluo dos Programas de Ps-graduao em Administrao PblicaAlegislaoparaaps-graduaonoBrasilerabastanteambguaat1960.Os programas eram criados em diferentes formados e sem objetivos e critrios claros. Entretanto, comaimplantaoformaldoscursosdeps-graduaonoBrasilpeloConselhoFederalde Educao, em 1965, foram regulamentados formatosi, critrios e o currculo dos programas, o querepresentouumimportantepassoparaodesenvolvimentodestenveldeensinonopas (BAYMA de OLIVEIRA, 2011).Nestapoca,aCoordenaodeAperfeioamentodePessoaldeNvelSuperior (CAPES) j existia h quatorze anos (1951), mas a sua preocupao inicial era a formao de mestresedoutoresparaatendersnecessidadesdosempreendimentosquebuscavamo desenvolvimentodopas(CAPES,2011b).Apartirde1970,aCAPESganhanovas atribuieseem1976,implantouoSistemadeAvaliaodaPs-graduaocujopapel estabelecer as diretrizes e o padro de qualidade dos cursos, bem como realizar a avaliao e o reconhecimento dos mesmos (CAPES, 2011b). Este sistema avalia cursos j implantados e a criao de novos programas e dentre os critrios avaliativos, merecem destaque: (i) proposta doprograma(comoacoernciaeaatualizaodasreasdeconcentrao,daslinhasde pesquisaedaestruturacurricular);(ii)corpodocente(titulao,tempodededicao pesquisa);(iii)corpodiscente(defesasconcludas,participaodediscentesnaproduo cientficadoprograma);(iv)produointelectual(publicaesemperodos,revistas,livros, dentreoutros)e;porfim,(v)inserosocial(impactoregionaldoprograma).Oscursosque no atingirem os patamares mnimos de qualidade podem receber notas baixas ou no serem reconhecidos (CAPES, 2011). EstescritriosdaCAPESsocadavezmaisreferenciadoseseaproximamdaqueles adotadospelasAssociaesInternacionaisdeAcreditao,comoporexemplo:The Association to Advance Collegiate Schools of Business (AACSB) e a National Association of Schools of Public Affairs and Administration (NASPAA), no caso da Administrao Pblica. Entretanto, tomando como referncia tais rgos internacionais, a CAPES vem aprimorando e consolidando o seu processo de avaliao das instituies de ensino. Aps-graduaonoBrasilapresentouumcrescimentoconsidervelnasdcadas subseqentes,emboraempercentuaisinferioresaosobservadosnagraduao(BERTERO; CALDAS;WOOD,1999).Demodogeral,existiam1.259programasdemestradose doutoradosreconhecimentospelaCAPES,em1998,eem2009,estesalcanaram2.718. Considerando-seomesmoperodo,osprogramasemadministraoreconhecidoscresceram de18para77e,especificamente,emadministraopblica,ampliaramde4para7 programas.Emrelaoaosmestrados/doutoradosemadministraopblica,algumasinstituies nacionaismerecemdestaquepelofatodeteremsidoasprimeirasescolasaintroduzirem programasnareapblicanopas:aEBAPE(1967),aUNB(1976),UFBA(1983),a FGV/SP(1990)eaFJP(1999).Diferentementedealgumasescolasnopasquecriaram mestradosnareapblicaeseguiramalgicadegeneralizaroprogramapara administrao,oscursosdaEBAPE,UNB,UFBA,FGV/SPeFJPmantiveram-secomo foco na administrao pblica, oferecendo cursos de Mestrado especficos em Administrao 5 Pblica ou especializaes/concentraes em Administrao Pblica nos cursos de Mestrado emAdministrao,genricos,revelandooimportantepapeldestasinstituiesnoensino,na pesquisa e na produo cientfica na rea pblica. Analisando os dados da CAPES sobre os programas destas escolas, observou-se que h convergnciassignificativasemrelaoaosaspectosacadmicosdoscursos,oquesinaliza uma influencia da CAPES na regulao dos mesmos. Os programas em anlise possuem cerca de15crditosemaisdametadedocorpodocentetmdoutorado.Almdisso,hum percentualelevadoemtermosdenmerodeprofessorespermanentesnosprogramas,com destaque especial para a UFBA e a UNB, ambas com 94% e a FGV/SP com 91%. Em relao sreasdeconcentrao/linhasdepesquisadosprogramas,emborapossuamnomenclaturas distintas,ofocoeocontedodasmesmasassemelham-sebastante.Porfim,outrosaspectos comunsmerecemserdestacados:(i)todososcursos consideram a dissertao de mestrado uma exigncia para a concesso do ttulo de mestre aos alunos e (ii) a existncia de disciplinas de metodologia de pesquisa e mtodos quantitativos em todos os programas (CAPES, 2011a).A partir do histrico do ensino superior de administrao pblica no Brasil possvel delimitar as principais caractersticas desta rea de conhecimento e que representam os pontos mais debatidos nas pesquisas do campo. 3.DILEMASEMBUSCADEDEFINIESNOENSINOEMADMINISTRAO PBLICA: UMA REVISO DE LITERATURA Esta seo consiste numa reviso de literatura acerca dos principais debates e dilemas que circundam as pesquisas sobre a administrao pblica. Neste contexto, merecem destaque as seguintes temticas: (i) distncia ou inconsistncia entre o conhecimento terico e a gesto pblicanaprtica;(ii)poucaclarezanadefiniodoquesoasquestespblicaseos problemasdeidentidadedaeducaodeadministraopblica;(iii)baixaconexoentreas disciplinasqueconstituemocurso(KEINERT,1996;MADUREIRA,2005;FONSECA, 2008). Adiscussosobreadistnciaouinconsistnciaentreoconhecimentogeradona academia e a administrao pblica na prtica no recente. Diversos autores afirmam que o conhecimentoproduzidonasinstituiesdeensinoabstratoepoucorelevanteparaas questessociais.Ouseja,trata-sedeumsaberterico,semvinculaodiretacomos problemas cotidianos dos orgos do governo e, portanto, pouco utis para os profissionais da gesto pblica (VENTRISS, 1991; FONSECA, 2008).Abaixaaplicabilidadedoconhecimentodeadministraopodeserdecorrentedo antagonismocriadoentreoambienteacadmicoeoempresarial.Ondedeveriaexistir integrao, parecepredominarum clima de desprezoepreconceito.Resultadodissoofato de que o conhecimento gerado pelas universidades utilizado somente no contexto acadmico (CASTRO,1981;BERTERO;CALDAS;WOOD,1999).Nestesentido,duasaespodem serimportantes:(i)oestabelecimentodeumaagendaconjuntaentreacadmicose profissionaisdosrgospblicosparaumatrocadeexperinciaentreasparteseum alinhamentodeinteressesepropsitos;(ii)adefinioconjuntadostemasdeinteresseda administraopblicaparaumdirecionamentodapesquisacientfica(VENTRISS,1991; FONSECA, 2008).Emrelaoaosegundodebate,algumaspesquisassinalizamqueaadministrao pblica uma disciplina em crise, pois no h uma definio clara sobre o que so as questes pblicas,quaisassuntosdevemserobjetosdoensinonestecampoe,finalmente,quaisas habilidadesnecessriasaosfuncionriospblicos(MADUREIRA,2005;FONSECA,2008). Neste contexto, Bresser (2008) chama a ateno para as possveis causas dessa crise: (i) oferta gratuitadecursosdeadministraopblica;(ii)ausnciadeumgrupoexpressivode professoresinteressadosnareapblicaaolongodahistriaepoucoestmuloporparteda 6 escolaaosdocentesdocampo;(iii)vinculaodaadministraopblicaadministraode empresas (BRESSER, 2008). Primeiramente,algumasinstituies,comoaEAESP(FGV),comoapoio governamental, ofertaram cursos gratuitos de administrao pblica at os anos 1990. Embora tenha sido uma iniciativa nobre, a mesma gerou um efeito negativo ao estimular o ingresso de estudantesnocursoquenotinhaminteresseemestudarasproblemticaspblicas,masse matricularam em decorrncia exclusiva da gratuidade. Tal situao contribuiu para distorcer o sentido e o propsito do curso que era o de promover a formao qualificada na rea, ampliar aquantidadedepessoasinteressadasnainvestigaodastemticaspblicas,dentreoutros (BRESSER, 2008). Em relao ao segundo aspecto que pode ter contribudo para o declnio do ensino de administraopblica,Bresser(2008)enfatizaqueonmerodegruposdepesquisa interessadosemestudaraadministraopblicaaindareduzidoemcomparaocomos docentespreocupadoscomaadministraodeempresas.Ento,abaixaquantidadede docentes na rea tem reflexos importantes na graduao, ao reduzir a oferta destes cursos pela faltadepessoalespecializado.Soma-seaistoofatodequeaexpertisedosprofessoresque possuemhistriconareapblicanotemsidoaproveitadapelasinstituiesdeensino superior.Por fim, Bresser (2008) pontua que a vinculao do curso de administrao pblica administrao de empresas tambm contribuiu para o problema de identidade do primeiro. A maiorpartedasinstituiesnopastemoptadopelaofertaintegradadocursode administraopblicacomodeadministraodeempresas(nagraduaoenaps-graduao),oquesinalizaque(...)ouniversoempresarialteriaabsorvidoocursode administrao pblica. (BRESSER, 2008, p. 43).Todavia,estasinstituiesnegligenciaramasdiferenasexistentesentrea administraopblicaeadeempresasaobuscaremformarprofisssionaiscapacitadosnas modernas tcnicas gerenciais, de carter generalista e que poderiam trabalhar tanto no setor estatalcomonoprivado(BRESSER,2008).Desconsideraram,portanto,queosetorpblico estcondicionadoslegislaesgovernamentais,influenciadopeloambiente econmico/social/poltico e possui uma finalidade social muito importante. Por outro lado, as organizaesprivadasbaseiam-senumalgicamaiseconmico-financeira.Portanto,como cadacampopossuiassuaspeculiaridades,fundamentalqueoensinoconsidereestas diferenas,oquenotemsidoobservadonaprtica(MADUREIRA,2005;RUBIN, NEWMAN, 2009). Umadasimplicaesemseconsideraroscursosdeadministraopblicaede empresasdeformaintegradaqueasquestescentraisdagestopblicasocolocadasem segundoplano.Talsituaoprejudicialidentidadedoensinodeadministraopblica, poisasquestespblicasdevemseropontodepartidaecentraldestecurso,maisdoque tcnicasgerenciais,oquerevelaanecessidadedeseresgatarosignificadodopblico (VENTRISS, 1991; RUBIN; NEWMAN, 2009). Oproblemadeidentidadedaeducaoemadministraopblicapodeserresultante tambmdabaixaconexoentreasdiferentesdisciplinasquecompemocurso.Defato,a administraopblicaumcampoquerequercontribuiesdediversasreasde conhecimento (como da psicologia e do direito). O problema no est na interdisciplinaridade, massimnaausnciadeumfiocondutorouconstrutotericoqueintegreasdisciplinas. Assim, o ensino de administrao pblica se assemelha a uma coleo de partes, constitundo-se num campo ambguo e confuso (VENTRISS, 1991; KEINERT, 1996). Madureira (2005) sugere que a conexo entre os contedos possa ocorrer por meio da noodepblico.Ouseja,setodasasdisciplinaspartiremdasquestespblicaspara explicaremosconstrutosespecficosdecadaumamaisprovvelqueelaspossuampontos 7 convergentesecomuns.Entretanto,issonotemocorridonaprticadasinstituiesde educao superior. Areflexoacercadestasproblemticassobreoensinoemadministraopblica fundamental para o avano do campo, inclusive tendo em vista o movimento contemporneo de revalorizao da educao na rea. 4. METEDOLOGIA Considerando-seospropsitosdestainvestigao,optou-sepelarealizaode pesquisadenaturezaqualitativacomousodomtododeestudodecasos(GREENWOOD, 1973;BONOMA,1985;EISENHARDT,1989;YIN,2005).Estametodologiaconsistena anliseexaustivadeumoudepoucosobjetosempricos,sejamelessituaes,pessoasou organizaes,ascircunstnciasemqueseencontrameanaturezadosfenmenosqueo compem. muito indicado quando o fenmeno em estudo complexo, contemporneo e se inserenumcontextoreal(BONOMA,1985),comoocasodapresentepesquisaque investigouatrajetriadoensinosuperioremadministraopblicanoBrasil.Apartirdo estudodecasofoipossvelobterumaanliseprofunda,holsticaericadofenmeno pesquisado,bemcomoidentificarfatoresimplcitosepoucoevidentes(GREENWOOD, 1973; EISENHARDT, 1989).Aseleodocasoempesquisaqualitativaumadecisoimportante,poispode impactar a relevncia dos resultados do estudo. Portanto, essa escolha no deve ser aleatria, mas intencional, orientada para a riqueza com que o fenmeno se apresenta (EISENHARDT, 1989;YIN,2005).Combasenestaspremissas,optou-sepelarealizaodapesquisacom professoresdeinstituiestradicionaisemadministraopblica,pelofatodeteremsidoas primeirasescolasnoBrasilaimplantaremcursosnarea.Comisso,foramrealizadasdoze entrevistas em profundidade com professores vinculados a Fundao Getlio Vargas (FGV), a UniversidadeFederaldaBahia(UFBA),aUniversidadeFederaldoRioGrandedoSul (UFRGS),aUniversidadedeBraslia(UNB)eaFundaoJooPinheiro(FJP),almde docentes vinculados a entidades importantes no ensino e na pesquisa no pas, como a CAPES. Apartirdasentrevistas,foipossvelcoletardadossobreaevoluo,osdesafioseas caractersticasdoensinonareapblica.Foramutilizadostambmoutrosinstrumentosde coleta, como a anlise documental e observao direta (EISENHARDT, 1989; YIN, 2005). Autilizaocombinadadevriasfontesdeevidnciasentrevistas,documentose observaopossibilitouoconfrontodasinformaesobtidasapartirdecadafonte, conferindomaiorconfiabilidadeaosresultadosdestapesquisa.Essatcnicadearticular mltiplasfontesdeevidnciasparaaanlisedeummesmofenmenoumdostiposde triangulao (GREENWOOD, 1973; EISENHARDT, 1989).Paraotratamentoeanlisedosdadosobtidosfoiutilizadoomtododeanlisede contedo.Estametodologiaconsistenousodetcnicasdesistematizao,interpretaoe descriodocontedodasinformaescoletadas,afimdecompreendermelhorodiscurso, aprofundar suas caractersticas e extrair os detalhes mais importantes. Com isso, foi possvel examinarasvriasdimensesdosrelatosdosentrevistadoseconstruirinfernciasapartir deles(BAUER;GASKELL,2002).Parafacilitaressaetapa,foramcriadascategoriasde anlisecombasenaliteraturaerevisadasluzdasevidnciasdapesquisa(EISENHARDT, 1989). 5.EVIDNCIASEMPRICASSOBREOENSINOSUPERIOREM ADMINISTRAO PBLICA NO BRASIL Estaseoapresentaapercepodeprofessoressobreaeducaosuperiorde administrao pblica no pas. Alm de relatar a viso de professores da rea pblica sobre o ensino neste campo, pretendeu-se comparar os dados das entrevistas com a literatura discutida 8 acima para levantar aspectos convergentes e que em funo disso, so muito relevantes para a temtica em questo. Umaspectobastantemencionadonasentrevistasqueamaiorpartedoscursosde graduaoemadministraonopasofertadadeformagenrica(simplesmente administrao)ouintegradaii(administraodeempresaseadministraopblica).Isso significaqueaquantidadedecursosdegraduaoespecficosemadministraopblica reduzida,comodiscutidonarevisotericadesteartigo.Emtermosdeps-graduao,este cenrio no se altera. A maioria dos cursos de ps-graduao no pas, sobretudo os mestrados e doutorados, em administrao, podendo ter uma rea de concentrao especfica no campo da administrao pblica. Opredomniodecursosgenricosemadministraonopas(tantonagraduao, como naps-graduao)podeser explicado por diversos motivos, dentre eles: (i) a escassez dacarreirapblicaparaadministradores;(ii)ademandamaiorparaoscursosde administraodeempresas.Emrelaoaoprimeiroaspecto,algunsentrevistadospontuam queascarreirasparaadministradorespblicosnoBrasilsoescassasepoucoreconhecidas, convergentecomaliteraturadiscutidaanteriormente.Ouseja,osestudantesseformamem administrao pblica e, muitas vezes, no exercem a profisso, pois existem poucas posies ou carreiras especficas para administradores pblicos (Entrevista 2).EsteaspectofoibastantemencionadonoSeminriopromovidopeloConselho NacionaldeEducaoemBraslia.Diversosparticipantespontuaramqueaomesmotempo em que no h carreiras especficas para o administrador pblico, as posies que existem no exigem qualquer qualificao na rea, o que desestimula a educao nesta rea. Neste sentido, humapercepodequeumfatordeterminanteparaademandaporcursosespecficosde administrao pblica a existncia de carreiras que absorvam as pessoas formadas.Abaixaofertadecursossuperioresdeadministraopblicapodeserexplicada tambm pela baixa demanda pelos mesmos, tanto na graduao, como na ps-graduao. H evidnciasdequeocursodeadministraodeempresaspossuiumnmerosuperiorde inscritos e matrculas do que as ofertas especficas na rea pblica, o que tem desestimulado a abertura e a manuteno de cursos desta natureza.Em relao aos mestrados/doutorados, a existncia de poucos programas (7 programas em2009)emadministraopblicareflexodabaixaquantidadedecursosdegraduao nesta rea no pas. Ou seja, mais provvel que a instituio de ensino realize investimentos naps-graduaoemdeterminadarea,seamesmapossuiexperincianagraduao,pois, assim,aescolapodecontarcomumcorpodocentequalificadoecomexpertisenocampo. Ento,ocrescimentodaps-graduaonumainstituiodeensinodependedo desenvolvimento da graduao. Emboraoquadrodeensinosuperiornopasindiqueumpredomniodecursos genricosemadministrao,verifica-seummovimentoderevalorizaodaeducaoem administrao pblica, assim como a reviso terica deste artigo revela. Isso porque o ensino nestareafrutodaconjunturadoEstadoNacional.ComoafirmaBresser(2008),asforas doambienteexternoeinternodeterminamocrescimentoouaestagnaodocursoem administraopblica.Nestaperspectiva,umconjuntodefatores(reformadoestado, mudana no modelo de gesto pblica, valorizao da democracia e do gerencialismo), que se intensificaramaps1995,temestimuladoealertadoparaanecessidadedeformaode administradores pblicos. Tais fatores, por sua vez, tm criado as condies favorveis para a emergncia de cursos na rea pblica (COELHO, 2008). Outros fatores que tem contribudo para este movimento a ampliao do mercado de trabalho para os gestores pblicos. Atualmente, profissionais com esta formao podem atuar eminstituiesde terceirosetorque cuidam de atividades de interesse pblico, as quais tm 9 crescidoconsideravelmente,almdeseprepararemmelhorparaconcursospblicos (COELHO, 2008). Finalmente,aimplantaodoProgramadeApoioaPlanosdeReestruturaoe ExpansodasUniversidadesFederaisREUNIpelogovernofederal,em2007,tambm podefavoreceracriaodecursosespecficosnareapblica.PormeiodoREUNI,cujo objetivoampliaroacessodealunosnaeducaosuperior,algumasescolaspblicastm sidoincentivadasaabrircursosemadministraopblica.Emboraacontribuiopossaser poucoexpressivaemtermosquantitativos,ummovimentoimportantequediversos entrevistadosentendemquedeveserestimulado,conformeevidenciaesterelato:Souum desses professores que acham que o campo pblico no est muito bem definido no Brasil e querealmentepodemosfazeralgumacontribuioparacomeardefinir,delinearumpouco melhor o que esse campo. (Entrevista 6). Arevalorizaodagraduaonareapblica,porsuavez,tendeagerarefeitos importantesnapr-graduaoaoestimularacriaodemestrados/doutoradosem administrao pblica. Alm disso, a regulamentao pela CAPES do mestrado profissional abrepossibilidadesparaocrescimentodoscursosnareapblicaerepresentauma oportunidade importante para a formao de profissionais que tenham experincia prtica na gesto pblica. Nestes termos, possvel identificar algumas experincias relevantes, como o MestradoProfissionalemGestoePolticasPblicasdaEAESP(FGV)eodaUFBAem AdministraoPblica,ambosjaprovadospelaCAPESetrsprogramasemfasede reconhecimento, dentre eles o da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Estemovimentoderetomadadaeducaonareapblicaconvergecomanoode separaodestaofertadocursodeadministraodeempresas.Analisandoahistriado ensino nesta rea, observa-se que algumas instituies passaram por processos de separao e fuso dos cursos de administrao pblica e de empresas, revelando certa ambigidade e uma indefinio sobre o que mais adequado: a oferta separada ou a integrada. H pesquisadores quedefendemaseparaoplenadoscursos,poisentendemqueasdiferenasentrearea pblicaeaprivadasosignificativasequeaintegraoentreelascontribuiparaaperdade identidade do curso de administrao pblica, como evidenciado por Bresser (2008). Ou seja, quandonohseparao,aadministraopblicaacabapegandoemprestadoda administraodeempresasconceitosquenoseaplicamaocontextopblicoemdetrimento desuastemticasfundamentais.Destaque-sequeasdiscussesquepredominavamh45 anos,quandofoicridooMestradoemAdministraoPblicanaFGV/EBAPE,continuam atuais. o que revela a passagem a seguir da ento Diretora da EBAPE: (...) h bem poucas possibilidades de xito ou talvez nenhuma para programas mistosouconjugadosdeAdministraoPblicaedeEmpresas,eissonos no Brasil como tambm nos Estados Unidos. (WAHRLICH, 1967) Poroutrolado,hprofessoresqueconsideramaofertaintegradadocursode administraomaisprodutiva,poisfundamentalqueoalunocompreendaosaspectos comunsdoscampos,sobretudonagraduao,cabendops-graduaocuidarda especializao dos alunos em uma rea de seu interesse. Outra questo bastante enfatiza pelos entrevistados foi em relao ao papel da CAPES na regulao e avaliao dos programas de ps-graduao nacionais. Assim como enfatizado narevisotericadesteartigo,osdadosdasentrevistasrevelamqueasdecisessobreas questesacadmicasdoscursosdeps-graduao(comoaestruturacurricular,aslinhasde pesquisaeocorpodocente)sofeitascombasenosregulamentoseexignciasdaCAPES. Nombitodosprogramasdeadministrao,porexemplo,adefiniodesecriarumcurso 10 genrico ou com nfase na administrao pblica depende de como a CAPES enxerga ou tem avaliado tais situaes. Dopontodevistadealgunsentrevistados,aCAPESumaentidadeimportantepara assegurarpadresmnimosdequalidadeparaosmestradosedoutorados.OEntrevistado1, porexemplo,afirmaqueimportanteatenderaosparmetrosdestaagncia,poismuitas associaesqueavaliamaps-graduaonoexteriortmindicadoressemelhantesaosda CAPES.Portanto,seguirestespadresumaformadeganharreconhecimentoeamplitude internacional. Poroutrolado,algunsprofessoresentendemqueestasexignciastornamoprocesso decriaoemanutenodocursodeps-graduaoburocrtico,poucocontribuindoparao aprimoramentodosmesmos.Almdisso,oscritriosutilizadospelaCAPESprivilegiam determinadosfatores,comoaqualificaodocorpodocente,emdetrimentodeoutros aspectos tambm relevantes, como a insero e o impacto regional das pesquisas cientficas. Porfim,algunsentrevistadosargumentamqueaCAPEScriacertasregrasambguasecom poucas orientaes precisas sobre como operacionaliz-las. A criao de dois formatos para o mestrado(acadmicoeprofissional)representaumadestasmedidas.Nohclarezaem relaosespecificidadesdestasclassificaese,naprtica,taldiferenanopassadeuma nomenclatura. Combasenoreferencialtericoenaanlisedasentrevistasquecompuserameste estudo,foipossveldelimitaralgumaspossibilidadesedesafiosparaoensinosuperiorde administrao pblica no Brasil, sintetizados na seo abaixo. 6. CONCLUSO Diantedoquadrohistricoecontemporneodoensinosuperiordeadministrao pblicapossveldelinearalgumaspossibilidadesedesafiosparaasuamelhoriae fortalecimentocomocampodoconhecimento.Primeiramente,importanteressaltarque foram encontradas muitas convergncias entre a reviso terica deste artigo com os dados das entrevistasrealizadascomdocentesdeinstituiesimportantesnarea.Talsimilaridade revela,portanto,queosachadosdesteestudorepresentamalgunsdosprincipaisdilemasda educao em administrao pblica. Umaconclusodesteartigoadeque,emboraaofertadecursosdeadministrao genricosnopassejapredominante(nagraduaoenaps-graduao),existemalgumas iniciativasemovimentosfavorveisexpansodoensinonareapblica.Dentreestes fatoresimpulsionadores,merecedestaqueonovoparadigmadegestopblicaculminando emprojetosdereformadoEstadoedemandandoprofissionaiscapacitadosnareaeo REUNI, programa que tem induzido as instituies federais de educao a ampliarem a oferta de cursos na rea pblica. Estesmovimentossofundamentaisparapreservaraidentidadedoensinoem administraopblicaquetemsidoprejudicadapelaofertaintegradadestecursocomode administrao de empresas. Entende-se que tal abordagem pode ser inadequada, pois o ensino de administrao pblica acaba tomando como referncia teorias e mtodos da administrao deempresasquepodemnoseradequadosnocontextogovernamental.Portanto,em decorrnciadasespecificidadesdareapblica,aseparaodasofertastendeaseruma alternativamaisadequada,posioqueapoiadapelamaioriadosentrevistadosdesta pesquisa e que converge com a tendncia de revalorizao do ensino na rea pblica. Ocrescimentodagraduaonareapblicanosltimosanos(conformerevelamos dados do INEP) e que tende a ser fomentado, certamente contribuir para o desenvolvimento demestrados/doutoradosnarea.Aoimplantaremcursosdegraduao,asinstituiesde ensinoformamgruposdeprofessoresinteressadosnosassuntospblicosecomexpertiseno campo.Comisso,humincentivoporpartedestesdocentesparaaaberturadecursosde 11 mestrado/doutoradoemadministraopblica,iniciativafundamentalparaoavanoda produocientficanarea.Almdisso,aregulamentaodomestradoprofissionalpela CAPESpoderepresentarumcaminhoimportanteparaocrescimentodecursosnarea pblica. Estemovimentoderetomadaecrescimentodoensinoemadministraopblica requer,entretanto,umavanoeumaprimoramento das questes especficas deste campo do conhecimento.Comrelaoaocontedodoscursosnagraduaoenaps,porexemplo, fundamental que se faa um resgate das temticas relevantes para a rea pblica e que devem necessariamentecomporagradecurriculardosprogramas.recomendveltambma delimitaodocampoemgrandestemasemfunodadiversidadedeassuntosque potencialmente podem ser abordados na rea e do risco de se investigar questes com pouca validadesocial.Taisiniciativaspodemserimportantesparaminimizarosquestionamentos acercadaidentidadedoensinoemadministrao pblica,paraampliaraintegraoentreas disicplinasquecompemoscursosefinalmente,parareduziradistnciaentreo conhecimentotericoeagestopblicanaprtica.Valesalientarqueasinstituiesde ensinotradicionaisnareapblica,osprofissionaisdosrgosdogovernoeasagncias nacionaisdeapoioapesquisacientficasoatorescruciaisnesteprocessodedefiniodos assunos relevantes no contexto governamental. Outras iniciativas que podem conferir mais consistncia ao curso e fortalecer o ensino na rea pblica a construo de um projeto poltico/acadmico que confira uma identidade aoensinonareaequeconsidereasexperinciasdosdocentesquepossuemhistriana prtica da gesto pblica. A soluo destas questes ora discutidas crucial para fazer face ao movimento de revalorizao da educao na rea. Aspossibilidadeseosdesafiosoradiscutidospretendem,portanto,contribuirparao debate sobre o ensino superior em administrao pblica, um campo de conhecimento repleto defragilidadesecontradies.Deve-seconsiderar,entretanto,queosestudoseaproduo cientficanestareasobastanterecentes,secompararmoscomoutroscamposde conhecimento, sendo necessrio o aprofundamento das pesquisas na rea. REFERNCIAS BERTERO, C. O.; CALDAS, M. P.; WOOD JR., T. Produo cientfica em administrao de empresas: provocaes, insinuaes e contribuies para um debate local. Revista de Administrao Contempornea, v. 3, n. 1, p. 147-178, 1999. 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