O Espírito é Tudo -...

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O Grande Problema Humano Carlos Toledo Rizzini As Catacumbas Yvonne A. Pereira Renúncia e Críticas Cruéis Chico Xavier Propriedades do Passe Divaldo Franco novembro/2010 | edição 98 | ano IX | www.nossolarcampinas.org.br O Espírito é Tudo Martins Peralva A Revista que se Responsabiliza Doutrinariamente pelos Textos Publicados.

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O Grande Problema HumanoCarlos Toledo Rizzini

As CatacumbasYvonne A. Pereira

Renúncia e Críticas Cruéis Chico Xavier

Propriedades do Passe Divaldo Franco

novembro/2010 | edição 98 | ano IX | www.nossolarcampinas.org.br

O Espírito é TudoMartins Peralva

A Revista que se Responsabiliza Doutrinariamente

pelos Textos Publicados.

2 FidelidadESPÍRITA | Novembro/2010

diálogoO Passe - Propriedades e efeitosdIvAldo fRAnco

capaO Espírito é tudomARTInS PERAlvA

sumário

Editor Emanuel Cristiano

Jornalista Responsável Renata Levantesi (Mtb 28.765)

Design Gráfico Julio Giacomelli

Revisão Zilda Nascimento

Administração e Comércio Elizabeth Cristina S. Silva

Apoio Cultural Braga Produtos Adesivos

Impressão Citygráfica

chico xavierAcusações por ter desistido de herançaSuEly cAldAS SchubERT

reflexãoOlhos de ver e olhos de olharhERmÍnIo c. mIRAndA

históriaAs Catacumbas: ecos de um passado de lutasyvonnE A. PEREIRA

com todas as letras“Havia” ou “Há”?EduARdo mARTInS

mensagemFermento velhoEmmAnuEl/chIco xAvIER

estudo“Tenho ainda muito o que vos dizer, mas não o podeis suportar agora”hERculAno PIRES

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comportamentoO grande problema humanocARloS TolEdo RIZZInI

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reflexãoA fala de um adversárioThEREZInhA olIvEIRA

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Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar”Rua Dr. Luís Silvério, 120 – Vila Marieta

13042-010 Campinas/SPCNPJ: 01.990.042/0001-80

Inscrição Estadual: 244.933.991.112

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O Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” responsabiliza-se doutrinariamente pelos artigos publicados nesta revista.

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Quando Jesus nos convocou à perfeição, co-nhecia claramente a carga de falhas e defici-ências de que estamos ainda debitados pe-rante a Contabilidade da Vida.

Urge, assim, penetrar o sentido de seme-lhante convite, aceitando, de nossa parte, a sublime iniciação.

Na subida áspera em demanda aos valores eternos, as Leis do Universo não nos recla-mam qualquer ostentação de grandeza espi-ritual. Criaturas em laboriosa marcha na senda evolutiva atendamos, desse modo, aos alicerces do aprendizado.

Nas horas de crise, os Estatutos Divinos não nos rogam certidões de superioridade a raiarem pela indife-rença, e sim, que saibamos sofrê-las com reflexão e dignidade, assimilando os avisos da experiência.

Renteando com injúrias e zombarias, as Instruções do Senhor não exigem de nós a máscara da impassibilidade, e sim, que as vençamos de ânimo forte, assimilando-lhes a passagem com a benção da compreensão fraternal.

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editorial

Defrontados por tentações, a vida não es-pera que estejamos diante delas, em regime de anestesia, e sim, que busquemos neutralizá- las com paciência e coragem, entesourando os ensinos de que se façam mensageiras, em nosso próprio favor.

Desafiados pelas piores desilusões, não nos pedem os Regulamentos da Eternidade qualquer testemunho de aridez moral, e sim, que diligenciemos esquecê-las sem a menor manifestação de desânimo, abraçando mais amplas demonstrações de serviço.

Abstenhamo-nos de adornar a existência com expectações ilusórias. Somos criaturas humanas, a caminho da sublimação neces-sária e, nessa condição, errar e corrigir-nos para acertar sempre mais, são impositivos de nosso roteiro.

Conquanto isso, porém, permane- çamos convencidos, desde hoje, de que se por agora não nos é possível envergar a túnica dos anjos, podemos e devemos matricular-nos na escola dos espíritos bons.

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Alma e Coração. Págs. 117 - 118.

Editora Pensamento. 1972.

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chico xavier

12-3-1947

“(...) Se tiveres alguma notícia do Ubaldi, espero que me contes alguma coisa. Terás conseguido novas infor-mações do nosso confrade Henrique de Andrade? Não sabia que a gráfi ca se encontra em processo de liquidação (do “Mundo Espírita”, que foi amparada por Lins de Vasconcellos e mais tarde entregue à Federação do Paraná).

Em anexo, envio-te cópia da carta que hoje recebi de nossas irmãs Sras. Figner. Está assinada por D. Lélia e datada de 8 de março corrente. Escrevi a resposta, ainda hoje, e datilografei-a, sem fazer a expedição postal, até receber a tua opinião a respeito. Está pronta para seguir, (...) Não desejo repetir em meu caminho uma nova experiência – Humberto de Campos.”

PoR SuEly cAldAS SchubERT

ACUSAÇÕESPOR TER DESISTIDODE HERANÇA

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chico xavier

Chico entende que deve ser pre-cavido, pois tem bem viva a expe-riência sofrida no caso Humberto de Campos. Por essa razão, envia a Wantuil cópia da carta escrita à fi lha de Frederico Figner e quer ouvir a opinião do amigo sobre o assunto. Adiante veremos como têm funda-mento as precauções do médium.

“Sobre este caso da herança, tenho recebido “belas descompos-turas”. Nestas documentações os nomes mais carinhosos com que sou chamado são os de “médium pedante, ingrato, orgulhoso”.

As cartas anônimas que me acusam são as mais engraçadas. Mas já me ha-bituei a tudo isso. O que eu preciso é de um bom travesseiro na consciência para eu dormir com tranqüilidade e esse tesouro, graças a Jesus, não me tem faltado.

Tenho opinião sobre o livro de Rochester igual a que manifestaste. Parece-me que o livro é um modelo de “movimento e costumes”. Deus nos edifi que a todos. (...)”

Por aqui se observa que qualquer que seja a atitude tomada por Chico Xavier, sempre surgem aqueles que o criticam e condenam.

Se ele aceitasse a herança deixada por Frederico Figner, por certo as acusações viriam de toda parte. Ao recusá-la, nem assim escapou à crítica maldosa.

Tão logo o seu gesto se tornou co-nhecido não faltaram os que – sem algo construtivo para fazer – resol-veram tomar da pena para escrever e passar-lhe descomposturas. Pela sua renúncia e desprendimento, o mí-nimo de que o chamam é “médium pedante, ingrato e orgulhoso”.

Mas, é até certo ponto compreensí-vel a atitude desses que agiram assim.

Estão frustrados porque espera-vam que Chico aceitasse a herança, o que lhes daria bom motivo para acusá-lo de se estar valendo da sua mediunidade e do Espiritismo para enriquecer.

É isto, aliás, o que mais desejavam: colher o médium em alguma ação incoerente, incompatível com os pos-

Fonte: SCHUBERT, Suely Caldas. Testemunhos de Chico Xavier.

Págs. 129 - 131. FEB. 1998

tulados doutrinários, o que evidente-mente lhes daria enorme satisfação.

A renúncia de Chico Xavier desapontou-os. Escrevem-lhe, então, despeitados. É a manobra dos que estão a serviço do caos.

As precauções tomadas pelo mé-dium têm, pois, razão de ser. Ele sabe que, faça o que fi zer, os “seus fi scais” reprovarão.

Chico tem o tesouro da cons-ciência em paz, é o que afirma ao amigo. v

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estudo

“Jesus Cristo disse: Enviarei o Consolador. E ele já veio, mas o mundo ainda não o sabe!” Estas pa-lavras foram proferidas por um dos mais notáveis escritores contemporâ-neos, sir Arthur Conan Doyle, na ses-são de abertura do Congresso Espírita Internacional, realizado em Londres, de 7 a 12 de setembro de 1928.

O que é esse Consolador, prome-tido por Jesus? É aquele Espírito de esclarecimento e de justiça, que viria lembrar o que Jesus ensinara, com-pletar o seu ensino, e guiar o homem “a toda a verdade”. E quem disse essas coisas a seu respeito, senão o próprio Mestre, como vemos em João, 14 e 16? Há quem afirme que Jesus ensi-nou tudo e nada deixou para outros ensinarem. Mas, quem pode ter auto-ridade para desmentir o Mestre, uma vez que foi ele mesmo quem afirmou: “Tenho ainda muito o que vos dizer, mas não o podeis suportar agora;

No tempo de Jesus, os homens não estavam à altura de compreender a verdade espiritual - O Mestre prometeu e, no momento oportuno, enviou ao mundo o Consolador - Como a história se repete.

“TENHO AINDA MUITO O QUE VOS DIZER, MAS NÃO O PODEIS SUPORTAR AGORA”

quando vier, porém, aquele Espírito de Verdade, ele vos guiará a toda a verdade”. (João, 16:12-13).

Quem disse, pois, que não havia completado o seu en-sino, foi o próprio Senhor. E fez mais, prometendo o Espírito de Verdade, para o completar. Os teólogos explicam, por várias maneiras, esta passagem, ajus-tando-a a seus diversos siste-mas. Mas Kardec acentua, no capítulo sexto de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, com simplicidade e clareza: “Se o Espírito de Verdade deve vir mais tarde, para ensinar todas as coisas, é que nem tudo foi dito por Jesus Cristo; e se vem recordar o que Ele disse, é por-que isso foi esquecido ou mal compreendido”.

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Em João, 16:12, a razão da vinda do Espírito da Verdade está bem esclarecida. Jesus afirma que os homens do seu tempo ainda não podiam suportar a verdade em sua plenitude. Isso é tão claro como a luz meridiana. E a história nos mostra que assim era, de fato, pois os homens acabaram mistu-rando os ensinos de Jesus com re-ligiões e filosofias pagãs, para cons-truírem sistemas de cultos e de teologia que não foram ensinados pelo Mestre. A Reforma Protestante foi um grande esforço para libertar o Cristianismo dos enxertos pagãos. E foi também o primeiro sinal do Espírito de Verdade, que viria logo mais, fora das igrejas e das organiza-ções sacerdotais, exatamente como acontecera na vinda de Jesus, para lembrar aos homens a essência dos ensinos do Mestre e dar-lhes a ex-plicação exata do processo da vida.

Compreende-se, assim, a expres-são de Conan Doyle. O grande es-critor lamentava a incompreensão da maioria dos homens, que repe-tem em nossos dias a mesma atitude dos judeus no tempo de Jesus. O Espírito da Verdade veio ao mundo na hora precisa. E é ainda Kardec quem melhor o esclarece, no seu livro “A Gênese”. Porque foi neces-sário que os homens trabalhassem durante quase dois milênios, apri-morando seus conhecimentos e ele-vando o seu mental, para se tornarem capazes de o compreender. Quem ensina, pois, através do Espiritismo, não é Kardec nem são os kardecistas, mas o Espírito de Verdade, entidade

angélica, superior, enviada do Cristo, seguida por uma grande falange de Espíritos do Senhor. A promessa se cumpriu, e felizes os que têm olhos para ver a sua realização na terra!

O mais curioso, porém, em tudo isso, é que as acusações formula-das a Jesus, aos seus discípulos e à sua doutrina, por judeus, gregos e romanos, são repetidas hoje, por cristãos e não-cristãos, ao Espírito de Verdade seus servidores. O Espiritismo é acusado, inclusive, de não possuir um sistema ético, quando esse sistema é o do pró-prio Cristo. A moral espírita não é outra senão a moral evangélica, como qualquer pessoa desapaixo-nada pode ver, na simples leitura de “O Livro dos Espíritos” e de “O Evangelho segundo o Espiritismo”. Os espíritos são acusados de bru-xos, de feiticeiros, como os cristãos primitivos o foram. E nega-se a fi-losofia espírita, da mesma maneira por que os estóicos, os epicuristas e os céticos negavam a filosofia cristã, e os sacerdotes judeus e pagãos ne-gavam valor filosófico a Jesus e aos seus seguidores.

Graças a Deus, os espíritos estão aprendendo a sua doutrina, pene-trando mais a fundo na essência poderosa do Evangelho de Jesus, que os ajuda a se transformarem, e assim já não aceitam esses desafios antifraternos. Preferem manter-se firmes em seus princípios, confian-tes na força da verdade, e responder às agressões com esclarecimentos.

Não consideramos as interpreta-ções evangélicas dos outros, as for-mas religiosas alheias, como sim-ples formas de divertimento. Aprendemos, no Evangelho, a res-peitar os sentimentos e as convic-ções dos demais. Aquele que nos ensinou o amor como base da vida espiritual, e nos mandou amar até os inimigos, não aprovaria, certa-mente, nossas agressões sectárias a irmãos de outras crenças.

Esta seção não tem finali-dade polêmica. É uma porta aberta ao público leitor, para co-nhecimentos da doutrina espírita, como as seções ca-tólicas e protestantes o são, com referência às respecti-vas doutrinas. Mas, quando irmãos de outras crenças vêm bater, ansiosos e aflitos, à nossa porta, não podemos recu-sar-lhes a hospitalidade. Que Jesus nos ampare, a fim de não nos desviarmos, nunca, do nosso objetivo, que é revelar, a todos os que se interessam pela ver-dade, aquilo que o Espírito de Verdade nos Ensinou, através da doutrina conso-ladora do Espiritismo. v

Fonte: PIRES, J. Herculano. Os Mistérios do Bem e do Mal. Págs. 43 – 45.

Correio Fraterno do ABC. 1989.

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refl exão

OLHOS DE

VER EOLHOS DE

OlHAR PoR hERmÍnIo c. mIRAndA

O Dr. Pimentel cortou o cordão umbilical, enrolou a criança em uma toalha — era uma menina —, colocou-a cuidadosamente de bruços e passou a cuidar da mãe, exausta e dolorida.

Eu tinha 23 anos de idade e pela primeira vez na vida agitavam-se em mim as poderosas emoções da pater-nidade, com todas as suas perplexi-dades, complexidades e expectativas. Aproximei-me do pequeno embru-lho sobre a cama para olhar de perto minha fi lha. Pensava, talvez, encon-trá-la cochilando, a sonhar ainda com os mistérios de suas origens. Foi uma surpresa observar que tinha os olhinhos escuros bem abertos, aten-tos e acesos a me contemplarem de maneira enigmática e inquisitiva. Lembro-me perfeitamente das ru-guinhas traçadas na testa exígua, pelo esforço que fazia ao levantar a cabecinha careca, como se pergun-tasse a si mesma:

— Será que esse sujeito vai ser um bom pai para mim? Cadê minha mãe? E agora, que vão fazer comigo? Quanto tempo vou fi car aqui, enro-lada neste pano?

Quanto a mim, não me recordo dos pensamentos que transitavam pela minha mente, mas sei que eram muitos, e desencontrados.

Acho mesmo que tinha tantas per-guntas quanto ela, talvez mais, não sei. Uma coisa era certa: Ana-Maria acabava de chegar. (Eu sabia o nome dela porque já o havíamos escolhido com a devida antecedência. Embora houvesse um nome masculino de re-serva, de certa forma eu ‘sabia’ que seria uma menina. Mistérios esses que hoje entendo melhor do que então). Que ela chegara, não havia dúvida, pois estava ali, olhos curio-

sos, prontinha para começar a explo-ração do novo mundo em que viera viver. Minha dúvida era outra, ou seja, de onde vinha aquele ser? A ló-gica me dizia que se chegara aqui é porque partira de algum lugar, onde estava antes de vir. Onde, porém? Aprendera eu, em tempos, agora re-motos, da infância, que Deus criava uma alma novinha em folha para cada criança que nascia, mas eu tinha já minhas difi culdades com essas e outras informações. Não havia como questionar a sabedoria, a grandeza e o poder de Deus, que ali estavam patenteados, mesmo porque, obvia-mente, não poderíamos, a jovem es-posa e eu, ter criado aquela pessoinha a partir do nada. Eu aprenderia mais tarde que o ser humano descobre coi-sas, mas não as cria, nem as inventa, e nós, certamente, não havíamos in-ventado aquele embrulhinho morno de gente que atentamente me espiava.

Quem seria aquele ser? De onde vinha? O que pretenderia da vida? Como seria ela? Que papel me caberia, e à sua mãe, na vida que apenas começava? Ou será que não estava começando e sim continuando?

Eu não sabia. Mas queria muito saber, ter respostas para essas inda-gações e muitas outras, de que nem me lembro ou sequer tenham sido formuladas, mesmo porque, como disse, eu mergulhara em um turbi-lhão de inesperadas e insuspeitadas emoções. Estas, contudo, não me suscitavam temores ou inquietações, e sim uma estranha alegria, ao perce-ber que também eu tinha condições de participar, com minha modesta contribuição, daquele deslumbrante espetáculo de renovação da vida.

As dúvidas ficavam para mais tarde. Um dia eu saberia, devo ter pensado. Por enquanto, havia provi-dências a tomar, neste lado de cá da vida, onde os seres chegaram há mais tempo e andam, falam, riem e cho-ram. Mas bem que eu gostaria de ter alguém ali que me dissesse alguma coisa sobre o que estava acontecendo diante de mim.

Este é, pois, o livro que eu gostaria de ter tido em minhas mãos, não só naquele distante 22 de agosto, mas antes, quando Ana-Maria era apenas projeto, bem antes que seu marca-dor pessoal começasse a registrar o tempo vivido na Terra.

Algumas das minhas perguntas ainda teriam de esperar um bom punhado de anos. Outras, creio eu, precisarão de mais alguns séculos, pois nosso Pai Maior não parece ter grande pressa em explicar-nos aquilo que nós ainda não temos condições de entender.

O apóstolo Paulo, que sabia das coisas, escrevendo aos seus amigos de Corinto, disse o seguinte:

— E eu, irmãos, não vos pude falar como a seres espirituais senão como a carnais, crianças em Cristo. Dei-lhes leite a beber e não alimento sólido, porque ainda não o podíeis suportar. Nem ainda agora o podeis, porque ainda sois carnais.

Como os coríntios, eu era car-nal e acho que nem o leite me fora dado, porque tudo quanto eu podia ver é que, de alguma forma, havia um pouco de mim naquele té-pido bolinho de gente, à espera de que a tomássemos nos braços e, de-pois, pelas mãos, lhe mostrássemos como era nosso mundo. E já sentia, nas profundezas da memória do fu- A

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refl exão

Fonte: MIRANDA, Hermínio C. Nossos Filhos são Espíritos.

Págs. 13–16. Ed. 3 de Outubro. 1995.

turo, aquele dia em que ela não mais precisasse das nossas mãos e partisse para viver a sua vida. Nós sempre te-memos um pouquinho. Não é que falte confi ança, é que paira sempre, aí por cima, um vago temor de que o fi lhote ainda implume não consiga acertar com os invisíveis caminhos do céu que tem de percorrer no voo ainda incerto. Mas isso não chegava a ser uma tristeza, porque, afi nal de contas, a vida era dela e não nossa, e como eu aprenderia posteriormente, antes de sermos fi lhos uns dos ou-tros, somos todos fi lhos de um só Pai. E Ele tem sido muito competente, pois sempre deu boa conta de nós.

Não era tristeza; nada disso! Apenas uma saudade antecipada, que me espreitava das dobras do des-conhecido, tal como os olhinhos es-curos de Ana-Maria. Parece que eu via, também, no futuro, umas ru-guinhas de preocupação. Ou seria apenas a exaltada imaginação de um jovem pai de 23 anos, mal saído de sua própria infância?

Seja como for, de alguma forma misteriosa e inarticulada, pois não tinha palavras para expres-sar tudo aquilo, eu confi ava em Deus e na menina dos atentos olhinhos. Como também con-fi aria em duas outras pessoas que, sem eu saber, estavam à nossa espera, do outro lado do véu, que àquela altura me ocul-tava importantes mistérios da vida. Deus não julgara opor-tuno revelar-me coisas para as quais eu ainda não tinha ‘olhos de ver’. Meus olhos eram ape-nas de olhar... v

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Numerosos historiadores e escrito-res ilustres, intelectuais de todas as especialidades — pensadores, ar-queólogos, jornalistas, religiosos, etc., têm visitado as catacumbas de Roma e de outras localidades da Terra, onde os primitivos cristãos foram sepultados.

Catacumba é um vocábulo grego que quer dizer “perto do vale” (kata kumben) devido a que, de início, tal-vez na Idade Média, a região mais conhecida, onde existia esse tipo de sepultura, se situava numa de-pressão do terreno a que chamavam “perto do vale”, ou kata kumben, pois, como sabemos, o grego foi, por muito tempo, a língua usada pela Igreja Cristã primitiva.

Valemo-nos do depoimento de alguns daqueles intelectuais mas, principalmente, do historiador fran-cês Daniel Rops, ilustre professor de Teologia na Sorbonne, para oferecer-mos aos leitores iniciantes das coisas do Evangelho e da Doutrina Espírita o noticiário que se segue.

Quem de nós nunca ouviu falar das catacumbas, mesmo na infância, quando nossos pais ou nossos avós relatavam aos nossos ouvidos aten-tos a vida gloriosa de um ou outro mártir do Cristianismo, durante os serões no lar, quando o Evangelho é

exaltado e os mártires da fé e do tra-balho por Jesus Cristo eram apon-tados como exemplos comoventes a seguir?...

Quem de nós nunca ouviu, à mesa do Culto do Evangelho no Lar, as narrativas dramáticas da vida e dos suplícios inf ligidos aos primeiros cristãos, nos séculos das persegui-ções ao nosso ideal de amor e de fé?

Que espírita deixou de ler as obras ditadas do Além por brilhan-tes entidades espirituais, através da mediunidade, onde esses mártires são exalçados para nossa edificação?

A bibliografia espírita fala-nos deles em páginas sublimes, conce-didas pela solicitude do Alto, que certamente nos leva a recordar esses tempos heróicos, porque uma das grandes tarefas do Consolador neste mundo é reviver o Cristianismo puro, que vem sendo profanado pelas paixões e inconseqüências hu-manas.

Através daquelas páginas, temos convivido com os apóstolos do Senhor, com os mártires, com aque-les que preferiam morrer sob as garras das feras ou sob o ferro dos carrascos a atraiçoarem a própria palavra empenhada nos serviços do Cristo. Através delas temos assistido a mil execuções efetuadas há cerca

de dois milênios, temos percorrido as imensas catacumbas e chorado sob os despojos daqueles cuja vida corporal foi tragicamente arreba-tada, durante espetáculos dados ao povo como divertimento. E, em verdade, quem sabe se nós mesmos não assistimos a tais espetáculos, malvados e ridentes, naqueles tem-pos reencarnados em Roma, para, agora, repararmos o mal então pra-ticado, trabalhando à luz do mesmo Evangelho a que aqueles cristãos he-róicos serviram?

Voltemos ainda, talvez pela úl-tima vez, àquelas catacumbas im-pressionantes, visitemos, num retro-cesso de memória, os locais antigos que, quem sabe, guardam também despojos carnais que foram nossos, ou daqueles a quem amamos há dois milênios... ou choremos sob o pas-sado de dores de irmãos queridos a quem ajudamos a supliciar, os quais, certamente, da alta espiritualidade guiam os nossos passos pelos cami-nhos da reabilitação...

As catacumbas são imen-sos cemitérios subterrâneos cavados em galerias, onde eram sepultados os cristãos em geral.

Até o início do século V, sepulta-

ECOS DE UM PASSADO DE LUTAS

AS CATACUMBAS“Bem-aventurados os que padecem perseguição por amor da

justiça, porque deles é o Reino dos Céus.” (Mateus, V:10)PoR yvonnE A. PEREIRA

história

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história

um cemitério subterrâneo, ou gale-rias de catacumbas, para os serviçais da sua casa, também convertidos à fé cristã.

Na catacumba de Ostriano, na Vila Nomentana, em Roma, é tido como certo que o Apóstolo Pedro tenha pregado a Boa Nova aos audi-tórios cristãos, durante os dias de perseguição, e quando ali se escondia dos sequazes de Nero.

Há também as catacumbas de Calixto, assim chamadas porque Calixto foi administrador geral de uma grande região de catacumbas. Cerca do ano de 217, esse mesmo

ram-se cristãos nas catacumbas de Roma. Nessa época, porém, tendo Alarico I, rei dos visigodos (morto em 410 ou 412), saqueado Roma, não mais havendo segurança nas re-giões das catacumbas, foram ali en-cenados os sepultamentos.

As catacumbas de Roma são as mais importantes e as mais célebres. Ainda hoje são visitadas por inúme-ros turistas que ali vão, a contem-plar as intermináveis fileiras de tú-mulos, atestando a época em que a Doutrina do Cristo era implan-tada neste mundo. Encontram-se, porém, muitas catacumbas fora de Roma, principalmente em Nápoles e em Siracusa, na Sicília, na Toscana, na Gália e também na África, no Egito, na Ásia Menor, e até em

Paris, datando dos primeiros tem-pos do Cristianismo e, no Egito, de épocas muito anteriores. As mais an-tigas, em Roma, são chamadas “gru-tas vaticanas”, e remontam ao século I, mas há também as de Comodila, na Vila Ostiana, regiões de Cecília Metela (Santa Cecília), de Flávia Domitila e de Ostriano, igualmente do século I.

Muitos proprietários de terrenos punham essas propriedades à dis-posição das comunidades, a f im de sepultarem os mortos. Flávia Domitila, por exemplo, sobrinha do Imperador Vespasiano, patrícia ro-mana convertida ao Cristianismo, além de construir o túmulo parti-cular dos membros da família que se convertiam à nova fé, fez também

Mausoléu de Cecília Metela, na Via Ápia, em Roma.

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cristão foi levado à direção geral da igreja primitiva sob o nome de Calixto I, de tudo isso advindo o nome daqueles grandes cemitérios subterrâneos.

Havia também as catacumbas de São Sebastião, muito veneradas na Idade Média, assim denominadas por serem construídas em torno da Basílica de São Sebastião, na Via Ápia. Estas eram de pequenas di-mensões, a sudeste de Roma. E há, ainda, catacumbas particulares, de famílias aristocratas cristãs, como as de Flávia Domitila, do século I, construídas em terrenos, em regiões de sua propriedade.

As catacumbas são construí-das no subsolo, em galerias estrei-tas. Algumas dessas galerias medem apenas um metro de largura, outras ainda menos, obrigando o visitante a caminhar ali um tanto de lado. As sepulturas são cavadas nas paredes das galerias, superpondo-se umas às outras como gavetas de uma cô-moda. O visitante admira-se desses cemitérios subterrâneos, os quais se

emaranham em verdadeiros labirin-tos, com salas, saídas falsas, etc.

Supõe-se, então, que essas salas eram locais para a celebração do culto evangélico durante as perse-guições, de preces em intenção aos mortos ali sepultados, mas não é crível que os cristãos ali fixassem esconderijo permanente, porque o ar escasso, as condições atmosféri-cas muito pesadas não permitiriam senão reuniões passageiras. Em cer-tos pontos, as galerias são construí-das umas sobre as outras e chegam a ter cinco andares, a mais profunda medindo 25 metros.

É sabido que os cristãos prefe-riam ser enterrados ali, escondidos, porque as leis pagãs, reconhecida-mente materialistas, mandavam in-cinerar os cadáveres, e eles, os cris-tãos, tinham horror à incineração, talvez por um respeito religioso, tal-vez porque nem o Judaísmo nem o Cristianismo houvessem recomen-dado a incineração.

A extensão das catacumbas não é bem conhecida pelos arqueólogos e

investigadores dos antigos tempos. Calculou-se em 875 quilômetros de extensão, e outros investigadores en-tenderam tratar-se antes de 1.200 quilômetros, só em Roma, o que vem confirmar o fato de serem elas construídas em voltas e ziguezagues, ou labirintos, e não em sentido reto.

As catacumbas de Santa Sabina, por exemplo, foram medidas com grande cuidado, e “deram como ci-fras para suas escavações 16.475 me-tros quadrados de superfície; 1.603 metros de comprimento e 5.736 tú-mulos”1. Os entendidos no assunto calculam que ainda há mais cata-cumbas no solo de Roma do que a arqueologia já descobriu.

Ao que parece, no início da Idade Média, as regiões das catacumbas, ou antes, toda a campina romana foi alagada pela rutura dos velhos aque-dutos que supriam a cidade de água potável. O fato lamentável tornou a região intransitável, e as catacum-bas deixaram de interessar aos visi-tantes, sendo esquecidas, dando em resultado a região ser infestada por

1 Ver a Igreja dos Apóstolos e dos Mártires, de Daniel Rops, historiador Francês, professor de Teologia na Sorbonne, falecido em 1965.

Catacumbas de São João, em Siracusa.

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malfeitores e saqueadores, os quais a custo foram combatidos.

Tornaram-se célebres os salteado-res existentes na Via Ápia, durante o século passado.

Nos dias atuais, porém, as catacumbas, liberadas de inconvenientes, consti-tuem uma das grandes atrações turísticas da velha e gloriosa cidade. Do século I ao ano de 412, portanto, enterraram-se cristãos nas catacumbas. Trata-se, como vemos, de um período de quatro séculos!

Quem visita hoje um cemitério comum e repara em certos mauso-léus figurando uma capela, com altar ao fundo e as “gavetas” superpostas nas paredes laterais, em sentido hori-zontal, ou seja, as sepulturas abertas nas muralhas, pode ter uma pequena idéia das catacumbas aos tempos dos mártires cristãos.

Tal como hoje, esses túmulos, abertos nas paredes das galerias, apre-sentavam enfeites, alguns muito tos-cos, humildes, com os nomes daque-les que ali foram sepultados. Esses nomes variavam de origem: eram orientais, gregos, romanos, judai-cos, gauleses, indicando porém, que todos foram cristãos martirizados. Os enfeites eram: Daniel na cova dos leões; o sacrifício de Abraão, pres-tes a imolar Isaac, seu filho; Moisés batendo no rochedo, à procura de água; Jonas atirado à praia; Noé em sua arca, e até Adão e Eva no para-íso, etc. Compreende-se, então, que se tratava de judeus, de israelitas con-vertidos ao Cristianismo, ainda con-servando a atração pela sua heróica história nacional.

Havia também motivos cristãos: o peixe, antigo símbolo dos cris-tãos, lembrando a multiplicação dos pães e dos peixes, de que nos falam os Evangelhos, e também que todo cristão devia ser pescador de almas; a ramagem da vinha, ainda hoje usada nos túmulos modernos; o trigo, lem-brando a Galiléia, rica em agricul-tura; Jesus com a ovelha nos ombros, etc., provavelmente indicando cris-tãos romanos e gauleses, desconhe-cedores dos símbolos familiares aos cristãos judaicos.

Ao que parece, o símbolo da cruz só mais tarde foi adotado pelos cristãos, mesmo porque por esta época ainda estava em vigor o suplício para os condenados e a efigie da cruz repugnaria os cristãos.2

Quanto aos epitáfios, são pareci-dos com os que ainda hoje usamos: “Havemos de nos encontrar na eterni-dade”; “Ela foi mãe exemplar, esposa dedicada”; “Descansa em paz”, etc.

Os nomes variavam também. A maioria era Fortunata, Domitila, Lucila, Luzia, Rufina... para as mu-lheres; ou Acaicos, Urbano, Hermas, etc., para os homens, gente simples, mas heróica, cuja singeleza os nomes, desajeitadamente perpetuados em suas sepulturas subterrâneas, teste-munhavam.

Mas onde estão aqueles que ca-varam essa silenciosa cidade subter-rânea? Certamente eram pobres ca-vouqueiros, pedreiros, amoladores ambulantes, vendedores, operários, a quem o entusiasmo cristão tornara heróicos. Dirigidos, provavelmente, por outros cristãos mais bem coloca-dos na sociedade, cortaram nas en-tranhas da terra essas moradas, re-

bocaram quilômetros e quilômetros de galerias e labirintos, para, mais tarde, também martirizados, virem seus despojos carnais ali habitar, en-quanto o espírito ressurgia em glória para a vida espiritual.

Hoje, a memória desses már-tires é venerada pelos nossos cora-ções que, também como eles, amam o Evangelho e desejam difundi-lo, pois a humanidade ainda é tão mate-rialista como nos tempos de Roma, tão descrente do bem como foram aqueles que perseguiram o Cristo na pessoa dos seus humildes e pacatos defensores.

Que a lembrança desses mártires possa avivar no coração da juven-tude moderna, dedicada à Doutrina Espírita, a chama imortal que incen-diou de amor, de fé e de coragem o coração daquela juventude dos pri-meiros séculos do Cristianismo, levando-a a preferir o martírio e a morte a falsear e perjurar os próprios ideais. Que a memória daquele Simão Pedro, daquele Paulo de Tarso, e da-queles André, Filipe, João, Marcos, etc., a par daquelas anônimas Lucilas, Rufinas, Domitilas, Luzias e daqueles humildes operários que não temeram o sacrifício, inspire os jovens espíritas na continuação desse ideal que a todos conduzirá à glória eterna. O grito de dor e de amor des-ses mártires cujos corpos dilacerados foram sepultados nas catacumbas de Roma, da África, da Ásia, do Egito ou da Gália, há dois mil anos, con-tinuará ainda fecundando a nossa fé e a nossa fidelidade a Jesus Cristo, para que saibamos todos cumprir o nosso dever junto dos compromissos assumidos com o Mestre e com o Pai Supremo, como eles souberam amar e cumprir o deles. v

Fonte: PEREIRA. Yvonne A. Cânticos do Coração. 17 – 27. Edições Léon Denis. 2006.

2 O suplício da cruz só foi abolido por Constantino I durante o primeiro quarto do século de seu governo. O grande imperador, amigo dos cristãos, nasceu cerca do ano 280, em Nisch, na antiga Ilíria (a Sérvia antiga, hoje Iugoslávia) e morreu em 337.

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1.17 - O Passe - Propriedades e Efeitos

PERGUNTA: — Não discutiremos o valor do passe, visto que é comprovada a sua eficiência na prática. Os Centros Espíritas se ocupam dessa atividade nas mais diferentes modalidades. Como es-tabelecer, para sua realização à luz da Doutrina Espírita, orientação às Casas Espíritas?

DIvALDO: — O passe é, antes de tudo, uma transfusão de amor. O Cristo olhava, desejava e liberava a pessoa do problema. O Evangelho conta que, por onde Pedro passava, as pessoas colocavam os leitos dos doentes, e a sua sombra, caindo sobre eles, curava-os.

A nossa carência de valores, para lograr resultados mínimos, exige muitos esforços. O passe é uma va-liosa terapia de socorro às muitas ne-cessidades humanas. Daí se terem criado algumas técnicas, que são vá-lidas, desde que não sejam condições essenciais, para que não troquemos os valores do espírito pelas preocupa-ções das fórmulas e para que não ve-nhamos a criar um ritual, no qual o sentimento cede lugar à aparência. É bom que tenhamos alguma metodo-logia para a aplicação do passe, antes, porém cuidemos da nossa saúde moral, a fim de transmitirmos o que possuamos de melhor.

Temos lido alguns livros valiosos sobre a técnica do passe; conhece-

— Eu gosto de um passe forte, daquele que produz ruído, e... puxa todos os dez dedos e sacode.

Silenciei, com respeito por ele e com piedade. (Coitado! ele estava acostumado mais com o barulho do que com o efeito).

Pessoas há que têm sempre essa preocupação de impressionar: resfolegam, cansam-se, agitam-se, respiram muito em cima do rosto do paciente.

O passe deve ter uma ética. A pre-texto de amar, não deveremos abusar e, sim, manter uma atitude discreta, porquanto o que vamos transmitir é uma radiação que mimetiza o pa-ciente e fomenta nele uma reativa-ção dos seus fulcros energéticos, para restabelecer-lhe o equilíbrio. Não o vamos curar — isto seria muita pre-tensão. Qual ocorre numa transfusão de sangue, vamos melhorar-lhe o me-tabolismo, para que o organismo rea-tive suas funções e venha, por efeito, readquirir o equilíbrio. No Centro Espírita deve ter-se em mente a apli-cação de algumas técnicas, mas não pequemos pelo excesso delas.

Estávamos em Uberaba, no ano passado, quando Chico Xavier con-vidou-nos a seguir, depois da reunião, com determinado casal, à sua resi-dência. As duas da manhã, saímos e fomos ao lar do Chico. Éramos seis pessoas: dois amigos de Mirassol, Chico Xavier, o casal e nós. Lá che-gando, a senhora presente explicou:

— Chico, eu disse a Emmanuel que você ia me curar.

Ao que o medianeiro respondeu:

diálogo

mos opiniões respeitáveis e já vimos experiências, todas muitos válidas. Parece-nos que o mais relevante é a unção daquele que vai aplicar o passe, unção resultante da sua vivên-cia espírita, de modo que ele tenha o que dar. Um toque, ou a aplicação do passe longitudinal, a magnetização da água, mas sem ritualistica, sem movimentação, a fim de que a quali-dade do ato não seja prejudicada pela quantidade de gestos.

Certa feita, um amigo me pediu para que lhe aplicasse um passe. Eu não sou o que tecnicamente se cha-maria de médium passista. Não obs-tante, poderíamos tentar. Orei com o meu melhor sentimento e desejo de ajudar, porque ele estava precisando. Pedi que se sentasse numa posição cômoda, em relax e se concentrasse, procurando ficar receptivo. Apliquei o passe, conforme vejo outros mé-diuns fazerem, de acordo com os ensinamentos dos Espíritos. Usei o passe longitudinal, abrasando-me de amor e fé. Quando terminei, toquei-lhe de leve o ombro (ele estava de olhos fechados). Perguntou-me:

— Já acabou?Respondi que sim.— Divaldo, não gostei muito.Retruquei constrangido:— É, eu não estava preparado,

mas amanhã, quem sabe...E ficando curioso, resolvi indagar:—Mas que foi que você não gos-

tou muito?— Bem, achei o seu passe muito

fraco.Voltei a inquirir:— Como, meu filho?

DIáLOGO COM

PoR dIvAldo fRAnco

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nando, assumindo uma atitude de res-peito e recolhimento, fechou os olhos e assim fi cou. Aplicou-nos passes, em todos. Quando terminou, o esposo falou:

— Oh! Sr. Francisco Cândido Xavier, eu senti um perfume no ar!

— É, meu fi lho — redargüiu o mé-dium — um perfumezinho que veio de você.

O médico inquiriu:— Como é que o senhor explica?Chico ripostou:— Ah! não sei... Que o senhor acha?— Eu estou atônito.E Chico concluiu:— É, louvado seja Deus!— Chico, que é que eu faço? — per-

guntou.— Ah! meu fi lho — esclareceu o

médium mineiro — continue estu-dando o Metodismo, já que seus an-cestrais eram metodistas, não é ver-dade?

— Como é que o senhor sabe? — indagou.

— O seu avozinho estava aqui — respondeu sereno.

Interrogações e comentários sucede-ram-se em clima de alegria e gratidão.

Queremos, com o fato, ressaltar o valor do passe. Foi o amor, foi a irradiação do passista, não foi tanto a técnica. A técnica ajuda, mas não é o essencial. v

diálogo

— Minha fi lha, quem sou eu?Ela insistiu:— Mas você vai curar-me! — Pôs-se

a falar, traduzindo o mal de que se via possuída e repetiu — Você vai curar-me, porque eu já fui a vários médicos. Eu sou médica, meu marido também. Ele é materialista. Chico redargüiu:

— Que beleza, graças a Deus!Ela continuou a narrar os seus males:

— Eu tenho doenças incríveis: eu fi co com câncer, passando a ter toda a sin-tomatologia do câncer. Faço os exames e não é câncer. Tenho um enfarte, fi co morrendo. Faço os exames e não é en-farte. Tenho uma mesenterite; toda a sintomatologia o revela. Faço os exa-mes e não é. Estou louca; faço os exa-mes e fico boa da loucura. Quando saio do gabinete, volto à loucura outra vez. Um dia, eu vi um livro com o tí-tulo Sinal Verde. Tomei-o e li o nome do autor: Emmanuel1. Pensei: “É isto que vai dar um jeito em mim”. E des-cobri que o livro era espírita, que você era o médium. Disse a meu marido: Este homem vai curar-me. Quando ele viu o seu nome, reagiu: “Cura coisa nenhuma!” Confi rmei: Cura, nem que eu deixe tudo para ir até ele. Sei que me vai curar e eu vou a Uberaba de qual-quer forma. Falei, então, a Emmanuel: O senhor vai curar-me, e mais: todos dizem que Chico não recebe ninguém, mas o senhor vai fazer com que ele me receba! E recebeu! Fui até Brasília, de lá tomei o ônibus e aqui estou.

Chico conversou com muita tran-qüilidade, concluindo:

— Deve ser mediunidade. Já que você leu o livro Sinal Verde, vou dar-lhe um outro, de Emmanuel: Renúncia.

A senhora reagiu:— Não quero; um só basta! O que

eu já li é-me bastante. O que eu quero é fi car boa.

Conversou, conversou... por largas horas. Por fim, o dócil instrumento dos espíritos convidou-nos:

— Vamos aqui a uma sala ao lado. A nossa irmã está muito bem. Você não tem nada de grave, porém vamos aplicar-lhe um passe.

— O senhor acredita mesmo em tudo isto? — perguntou-me o esposo.

— O senhor vai ver — respondi-lhe — depois serei eu a perguntar-lhe.

Ele sorriu, dizendo:— Eu quero ver.Sentamo-nos, Chico fez o mesmo.

A sala encontrava-se muito iluminada, quase dia. Chico solicitou:

— Comece a orar fi lho.Iniciei a prece e sentimos suave per-

fume no ar. A moça, surpresa, interro-gou, com acento nordestino:

— De onde está vindo este cheiro?Pedi-lhe silêncio e oração. Ela não

podia calar, pois não estava bem. A seguir, sentimos um forte odor de éter, sucedido pelo perfume de vio-leta, de rosas... Senti o toque suave das mãos do médium. Era um passe de dispersão fl uídica, objetivando o centro coronário. A jovem médica já estava boa; havia entrado na faixa magnética superior. Sentíamos uma garoa caindo, impregnando-nos de paz e bem-estar.

— Estou boa — exclamou.O marido indagou:— Boa mesmo?— Sim, de mesmo!Chico Xavier prosseguiu. Aplicou

o passe no marido, que se foi emocio-

1. A senhora referia-se à obra de André Luiz. (Nota do Autor)

Fonte: FRANCO, Divaldo P. Diálogo com Dirigentes e Trabalhadores

Espíritas. USE. 2001.

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“O corpo, sob o ponto de vista moral, cumpre ordens do Espírito, de quem é mero instrumento.”

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P.– Qual a origem das qualidades morais, boas ou más, do homem?

R. – São as do Espírito nele encarnado. Quanto mais puro é esse Espírito, tanto mais propenso ao bem é o homem. (Item 361)

És um espírito eterno, em serviço temporário no mundo. O corpo é teu refúgio e teu bastão, teu vaso e tua veste, tua pena e teu buril, tua harpa e tua enxada.

Emmanuel

As qua lidades morais, bem assim as intelectuais, dependem do Espírito.

Nunca, do corpo.Amor, bondade, ternura, caráter

e outros nobilitantes atributos têm sua origem na organização espiri-tual, que principiou simples e igno-rante, mas aprendeu viajando pelos caminhos da eternidade.

Um bom Espírito, reencarnando-se, dará à sociedade, para felicidade sua e de seus contemporâneos, um homem bom, um cidadão digno.

A carne é secundária.

Não comanda os problemas de ordem espiritual.

Nem orienta os valores morais.Um homem de bem, desencar-

nando, voltará, mais tarde, ao plano terreno, apresentando, melhoradas, as qualidades positivas que lhe ca-racterizaram a anterior existência.

Se a bondade desse homem é, re-almente, autêntica, já se lhe cons-titui um patrimônio inalienável. Nunca mais reencarnará maldoso, nem indigno, tenha ele, na futura reencarnação, esta ou aquela confi-guração anatômica ou característica étnica. Seja sadio ou enfermo.

Quando nos defrontamos com um homem vicioso, cheio de defei-

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tos, sabemos que ali está reencar-nado um Espírito imperfeito, ne-cessitado de amparo e misericórdia. Mais cedo ou mais tarde, no en-tanto, segundo o grau de sua boa ou má vontade, tornar-se-á, me-diante sucessivas reencarnações, um homem puro, íntegro, sem quais-quer anfractuosidades morais.

Exato é o pensamento de Jesus: “Aquele que perseverar até o fim será salvo”. Exato e claro. Inconfundível.

Um homem imperfeito, sob o ponto de vista moral, pode, no en-tanto, revelar-se evoluído intelec-tualmente. Do mesmo modo, um homem de ótimos sentimentos, pode apresentar pronunciadas defi-ciências intelectuais.

Tal fenômeno, muito freqüente na paisagem humana, se verifica porque, segundo a sã doutrina, rara-mente há equivalência entre o pro-gresso moral e o intelectual.

Ao nos defrontarmos, pois, com um homem que evidencia positivas qualidades morais, aliadas a negati-vas possibilidades intelectuais, não imaginemos existam nele, simulta-neamente, duas almas, como erro-neamente atribuem os que não co-nhecem o Espiritismo.

A Codificação, no exame deste problema, elucida: “O Espírito progride em insensível marcha ascendente, mas o progresso não se efetua simultaneamente em todos os sentidos. Durante um período da sua existência, ele se adianta em ciência: durante outro, em moralidade”.

Longa é a caminhada do Espírito, em busca da perfeição.

Terríveis as lutas.

Múltiplos os defeitos a eliminar.Belíssimas as virtudes a adquirir.Numa encarnação, pode-se com-

bater este ou aquele defeito, por via de intensa disciplina. Contudo, mesmo assim, em futuras experiên-cias reencarnatórias outros ângulos há a corrigir, inclusive ante a possibi-lidade do ressurgimento de defeitos combatidos, é verdade, mas não in-tegralmente superados.

Cremos nós que a obtenção desta ou daquela virtude facilita o acesso e posterior consolidação de outras.

A soma de todos os bons atributos espirituais é que determina a perfei-ção.

Suponhamos esforce-se o homem para ser bondoso, segundo os pa-drões do evangelho. O que ocorrerá, por via desse esforço?

O homem bom, que ilumina o seu comportamento com a lâmpada do entendimento fraterno, sentirá dificuldades em cultivar a maledi-cência.

Em dar expansão ao egoísmo.Em favorecer as manifestações da

intolerância.Em alimentar, no âmago do cora-

ção, a inveja e o ciúme, o orgulho e a crueldade.

Muita coisa boa virá após a com-preensão bondosa, filha do amor que “cobre a multidão dos pecados”.

Por isso é que, ao obtermos, em definitivo, uma qualidade de cristã, a marcha ascensional ser-nos-á facili-tada, porque, daí por diante, nossos melhores impulsos encontrarão se-menteira adequada.

Uma qualidade nobre, seja qual seja, constitui elemento de susten-tação do Espírito, tendo em vista os mais variados tipos de luta que a vida sugere, algumas vezes, ou nos impõe, outras vezes, considerando os fatores cármicos inerentes à vida humana.

A boa vontade, por exemplo, é um dos principais elementos do pregresso, moral e intelectual. Dela decorrem situações que nos aproxi-mam do equilíbrio espiritual.

Quem se esforça na boa vontade, firme, deliberada, de progredir, de estabilizar suas conquistas, notará que, se não todas as coisas, inúme-ras delas tornar-se-lhe-ão muito mais fáceis.

O homem de boa vontade, na prática do bem, tudo simplifica.Não cria problemas, nem para si, nem para outrem.Semeia a luz do amor por onde passa.A luta não o fatiga, encoraja-o.Na derrota, armazena experiências.Na vitória, valoriza as oportunidades redentoras.

No homem de boa vontade, o bom ânimo se renova à medida que surge um obstáculo e o vê transposto.

Enquanto estacionamos na má vontade, ou na indiferença, com re-lação ao autoaperfeiçoamento, in-significantes são os impulsos de crescimento, porque a má vontade, retendo-nos nas linhas horizontais da existência terrena, com o atendi-mento a tudo que representa parali-sia, inércia e atraso, fecha-nos os ho-rizontes do progresso.

A boa vontade, acionada pela per-severança, é extraordinária força de propulsão no rumo do aprimo-ramento, em todos os seus mati-zes, culturais e sentimentais, arre-metendo, destruindo-as, contra as barreiras mentais erigidas por nós mesmos em séculos de negativas ex-periências.

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Na direção de objetivos nobres, dá-nos a boa vontade, orientada para o Supremo Bem, os recursos de que realmente necessitamos para alcançar vôo às regiões de amor e luz, de conhecimento e de fraternidade.

E só o Espírito – somente ele, fa-gulha divina! – realizará esse vôo maravilhoso, com o ingresso nos pla-nos infi nitos, não se devendo, assim, atribuir ao corpo físico acertos ou desacertos próprios da Inteligência encarnada.

Ouçamos Emmanuel: “És um Espírito eterno em serviço temporá-rio no mundo. O corpo é teu refú-gio e teu bastão, teu vaso e tua veste, tua pena e teu buril, tua harpa e tua enxada”.

O corpo, sob o ponto de vista moral, cumpre ordens do Espírito, de quem é mero instrumento.

“Frequentemente” – lembra-nos o sábio instrutor – “atribuís ao corpo as atitudes menos felizes que te indu-zem à queda moral e, por vezes dili-gencias enfraquecê-lo ou fl agelá-lo a pretexto de evitar tentações.”

“Isso porém – continua – “seria o mesmo que espancar o automóvel porque um motorista dementado se dispusesse a utilizá-lo num crime, culpando-se a máquina pelos desva-rios do condutor.”

Ao Espírito competem as lutas re-novadoras, aproveitando, desta ma-neira, o instrumento carnal, tempo-rário, que a Divina Providência lhe concede, como recurso ao trabalho de reabilitação e crescimento.

Boa vontade no trabalho, na afl i-ção, no cumprimento de seus deve-res, por mais árduos sejam eles.

As existências passadas preparam-nos a presente, tanto quanto a atual prepara as do futuro.

“Bem-aventurado, pois, todo aquele que, apesar dos entraves e das lágrimas do caminho, sustentar nos ombros, ainda mesmo desconjunta-dos e doloridos, a bendita carga das próprias obrigações” – fi naliza o ex-senador romano. v

Fonte: PERALVA, Martins. O Pensamento de Emmanuel. Págs. 141 – 146. Feb. 2009.

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Ora, a sociedade não é uma institui-ção independente do homem e, sim, um organismo formado pela reu-nião de todos os indivíduos que nela vivem e atuam. Ela é o que os seus membros são — em ponto maior. Por isso, nela existem refúgios muito di-ferentes do conjunto, como casas de caridade e instituições religiosas, onde congregam-se elementos supe-riores à massa pelos objetivos, senti-mentos e ideais.

O conceito de que uma comu-nidade civilizada possa constituir sério obstáculo ao desenvolvimento da personalidade é de todo absurdo. O meio social é proporcional ao es-tado dos espíritos que o compõem. Bem ao contrário, é com o auxílio da sociedade que eles encontram condições para um desenvolvimento pleno. É muito importante o con-tato com as gerações precedentes; a aprendizagem envolve modificações causadas sobretudo pela inf luência de outras pessoas e dos objetos que o próprio homem criou para seu uso. Veja-se que Sócrates e Aristóteles, tendo vivido há cerca de 23 sécu-los, ainda hoje têm influência sobre

1. É noção geral que nenhuma pessoa pode dispensar a coopera-ção de outras, especialmente na mo-derna vida citadina. A solidariedade é fundamental para a vida humana. Muitos negam que isto seja verdade pelo simples fato de que não desejam cooperar, mas a todo momento estão utilizando a boa-vontade e o traba-lho de numerosas pessoas, a come-çar pelo alimento que ingerem, pre-parado por outros desde a semeadura até o serviço na mesa. Nenhum ser humano possui todas as faculdades e, tendo necessidade uns dos outros, completam-se pela união social. Ao demais, o isolamento total interfere com a sanidade mental. Segue-se que a solidariedade inter-humana é condição essencial à expansão do espírito; todos precisam de ajuda e dependem uns dos outros.

Isto posto, todos nós, seres humanos, v ivemos numa so-ciedade — isto é, num grupo de pessoas que se influenciam mutu-amente. Desde o nascimento, a socie-dade exerce pressão no sentido de que certos tipos de comportamento, ad-mitidos como os melhores, sejam aca-

tados. Ela define implicitamente os valores, normas de vida, traços de ca-ráter, motivos, etc., que a criança de-verá assimilar e robustecer para apre-sentar um comportamento razoável. Dada a ampla escala de potencialida-des comportamentais que a criança exibe ao nascer, os padrões de con-duta para ela aceitáveis variam, mas devem estar no âmbito dos padrões aceitos pela família e pelo grupo so-cial. Ela poderá, e.g., ser agressiva ou branda, competitiva ou cooperativa, egoísta ou solidária, honesta ou deso-nesta, etc., mas, quando adulta, terá de seguir o rumo indicado pelo seu ambiente. Não conseguindo isto, não poderá assumir responsabilidades e nem ocupar o lugar, na sociedade, que os seus dotes indiquem; o indi-víduo será, então, um desajustado ou inadaptado.

2. Muitas pessoas cultas estão con-vencidas de que os maiores males do ser humano procedem de vícios e fa-lhas da sociedade. Numerosos de-claram-na corrompida, decadente, inibidora, restritiva... Marx e Freud basearam-se em tal ponto de vista.

O GRANDE PROBLEMA HUMANO

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nós! E que as máquinas mudaram ra-dicalmente o modo de pensar e de viver do século passado para o atual! A ação recíproca entre o recém- nascido e o ambiente onde cresce é que o transforma num ser social e impede-o de ser apenas um mamí-fero selvagem (o que acontecerá se for criado entre animais). Contudo, é de notar-se que a aprendizagem so-cial não funciona independente-mente da natureza das pessoas; há, nestas, certas tendências inatas do comportamento que variam de in-divíduo para indivíduo, o que é ló-gico: cada ser humano é um pequeno mundo, tendo, no passado, vivido e assimilado experiências que são estri-tamente pessoais.

3. Segundo Einstein, a essência da crise do mundo moderno reside nas relações entre o indivíduo e a so-

ciedade. Dá-se que os impulsos ego-cêntricos dele sofrem contínua acen-tuação, enquanto que os impulsos sociais, fracos por natureza, são de-sestimulados. Escravizado pelo pró-prio egoísmo, o sujeito sente-se in-seguro, ameaçado em seus direitos e solitário. O único meio de encontrar significação na vida, diz o grande fí-sico, é dedicar-se à sociedade, ou seja, desenvolver o sentimento social, con-clusão a que chegaram outros cien-tistas, como Pasteur e Sabin, e tam-bém grandes psicólogos, como Adler e Fromm.

A sociedade não pode ser mudada subitamente por meio de leis drásti-cas. O ser humano é que pensa e goza de livre-arbítrio; ele é a cabeça da sociedade. Logo, ele é que precisa modificar-se interiormente, o que acarretará automaticamente a modi-ficação das condições do meio comu-

nitário. É preciso agir primeiro sobre a inteligência e a consciência dos indivíduos, porquanto, a origem de todos os males está na ignorância e na inferioridade moral, afirma Léon Denis.

Tal relação tem sido constan- temente invertida, o que é conve-niente para afastar responsabilida-des, mas não muda o problema. Seja como for, o fato é que a sociedade ocidental é um organismo, imperfeito ainda, dentro do qual o indivíduo — mesmo comportando-se bastante mal — goza de ampla liberdade e pode, querendo-o, alcançar a realiza-ção completa!

É bem evidente que hoje as conquistas e construções são coletivas, a começar pela Ciência e pela Técnica.

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4. Tem-se destacado o fato de que a vida da sociedade atual é dominada, em grande parte, pelas atividades eco-nômicas, que obrigam o capital a em-pregar o trabalho, ou seja, a pessoa a vender o seu esforço e engenho a outra pessoa. A finalidade de qualquer ativi-dade econômica é obter lucro, o que, naturalmente, gera a competição. Cada indivíduo sente-se impelido a supe-rar o seu competidor. Todos lutam para alcançar os melhores lugares e as maiores vantagens. Nessa batalha contínua por lucros e posições ruíram os preceitos morais, que impunham restrições no passado: o que importa é ser o primeiro, o que significa desvan-tagem para outros. O mal não está no lucro em si, até certo ponto necessário, mas no fato de o motivo para produzir não ser a utilidade social, a satisfação pelo trabalho, e, sim, a perseguição de objetivos externos (vantagens e po-sições) que atendem ao egocentrismo e ao orgulho.

Desse caráter competitivo da so-ciedade derivariam importantes in-f luências deformantes sobre a per-sonalidade humana: agressividade, conformidade, insatisfação, fadiga, falta de religiosidade, desintegração moral, falar constantemente, excesso de opiniões, carência de convicções, consumo exagerado de diversões, etc. Muitos psicólogos e psiquiatras têm acentuado as aflições, conflitos e de-sajustes que o espírito competitivo rei-nante no meio social, o qual leva a entronizar o sucesso e a abominar o insucesso, origina nos seres humanos. Mas, meu Deus, a pessoa que entra na competição e persegue o sucesso é jus-tamente aquela impregnada de men-talidade competitiva! Não há necessi-dade disso. Pode-se viver plenamente e realizar-se completamente sem se-quer notar a existência de competição (cf. n. 3). A verdade é que, a despeito do espírito competitivo, a nossa so-ciedade admira e respeita, remune-

rando-o adequadamente, o sujeito que lhe presta serviços desinteressa-dos, só pelo prazer de ser produtivo. O mundo tecnicamente conformado em que vivemos precisa de competên-cia e o indivíduo competente no seu ramo é estimado por esta única razão; se procurar superar à força os seus companheiros, fá-lo-á por sua conta e risco, e não porque seja obrigado a isso pelo ambiente. Trabalhando para desenvolver suas próprias capacida-des e para ser útil à comunidade, não precisa se ocupar em deslocar outros para assumir supremacia; estes sabe-rão dar-lhe o devido valor, pois, nota-rão que ele é diferente e respeitá-lo-ão por ser assim.

5. Entra em jogo a justiça di-vina sob o nome de Providência, que poucos percebem. Basta que a pes-soa cumpra a Lei e o resto virá... por acréscimo. Isto é verdade verificável praticamente, desde que haja sensibi-lidade para tanto. O que não se leva em conta, ao criticar o meio social, é a perspectiva espiritual da vida, isto é, a eternidade e o adiantamento contí-nuo do espírito. Não se considera que cada ser humano traz um programa de vida conforme as suas necessida-des espirituais, o que torna o dever cumprido o mais importante modo de viver. Daí não se observar que a po-sição ocupada por um determinado indivíduo, é a que melhores oportu-nidades de progresso dá a ele. Se, ao invés de desenvolver-se e ser útil, passa a vida em atritos por supremacia — isso é lá com ele! Convém não esque-cer que cada um é responsável pelo que faz e, por isso, goza de relativa li-berdade de tomar decisões em estado normal ou quase; pela mesma razão, está sempre defrontando as conse-qüências dos erros e omissões passados, pelo que geralmente é sujeitado as si-tuações nas quais se acha envolvido.

Em vista do longo processo evo-lutivo do espírito humano, tanto o relacionamento perturbado quanto a atividade improdutiva e os defei-tos do caráter social são devidos ao baixo nível psíquico até agora alcan-çado. A questão é de tempo e não de rápidas reformas sociais. Falta auto-nomia mental para usar de maneira produtiva a recém-obtida liberdade. O espírito inferiormente evoluído caracteriza-se precisamente pelo do-minante apego às coisas materiais, donde a atitude egoística; pensa antes em si mesmo ou somente em si pró-prio, sendo-lhe penosa a idéia do rela-cionamento de solidariedade e coope-ração com os outros. Para a maioria, é necessária a experimentação vital promovida pela Lei de Deus, que co-loca cada pessoa na posição adequada e promove as condições certas para o seu progresso.

6. Quanto mais livre, tanto mais difícil atuar com equilíbrio. O pro-blema não é obter maior cota de li-berdade exterior. Aumenta esta em face de uma sociedade razoavelmente condescendente. O problema é que o ser humano não sabe pensar por si mesmo, deixando-se guiar pela moda, costumes, opinião pública, imprensa, etc., e está cego para uma série de res-trições, compulsões e medos interio-res. Cada vez mais, ele é uma indivi-dualidade distinta. Todavia, no curso deste processo, dito de individua-ção, ele deixa-se facilmente dominar por necessidades doentias e impulsos compulsivos, que o levam a descurar o próprio eu e agir em sentido contrá-rio aos seus legítimos interesses. Cai, assim, no vastíssimo campo das neu-roses ou desequilíbrios espirituais que afetam o homem moderno. À medida que se individualiza, precisa o ser hu-mano desenvolver a personalidade (ou o eu); a crescente lacuna entre a indi-

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viduação e o progresso da personali-dade gera ansiedade, insegurança e in-capacidade. Esta insegurança está bem documentada no fantástico pessimismo que impregna as obras filosóficas e li-terárias, as quais, em sua maioria, não passam de tratados de negação, dúvida e angústia: ora, trata-se aí de pessoas cultas e inteligentes, e até mesmo de teólogos e religiosos! Temos pela frente uma fase da vida do espírito caracteri-zada pela incapacidade de compreen-der o que acontece dentro e fora dele mesmo. Vê-se bem que a emancipação da autoridade externa só é uma aqui-sição definitiva quando as condições mentais permitem à pessoa orientar-se a si mesma, para o que é preciso um objetivo suficientemente elevado para furtar-se às injunções dissolventes do meio onde opera. Não sendo assim, será perturbada por uma série de con-flitos e desequilíbrios que a tornam in-feliz e/ou improdutiva, cheia de dú-vidas e inibições. Em uma palavra, o que se faz necessário é a educação es-piritual, que o sujeito tem de procurar impelido por suas próprias forças ínti-mas: conhecer a si mesmo e aos prin-cípios que regem a vida nos planos

material e espiritual. Terá, pois, de se livrar dos conflitos, compulsões e ini-bições a que se condenou voluntaria-mente no passado e que agora atuam por conta própria.

7. Vimos acima que o ser humano é um ser social. Tudo quanto tem sig-nificação para ele, tem-no em função dos seus semelhantes. Para o indiví-duo que vivesse isolado, não haveria vícios nem virtudes, disse Kardec. Por outro lado, a realização do eu deve englobar o desenvolvimento da per-sonalidade total, pela expressão das potencialidades intelectuais e emo-cionais, globalmente. Tudo isto leva à conclusão de que o magno problema da Humanidade é a vida em comum, é o relacionamento interpessoal. O ver-dadeiro interesse pessoal do ser hu-mano é o desenvolvimento total das suas potencialidades como espírito imortal e não a conquista de posi-ções e vantagens materiais a qualquer preço, tomando parte em competi-ções que arrasam o equilíbrio men-tal. O fim disto é o tédio, a insatis-fação, a sensação de futilidade — a frustração, enfim, de uma vida inteira.

8. Afirma o psicólogo Erich Fromm que “não faças aos outros o que não queres que os outros te façam” é um dos princípios éticos mais fundamen-tais. Assim, passamos para o campo evangélico, que trata principalmente dos problemas de relações humanas; ensina-se ali a entrar em contato com o próximo sem criar penosos proble-mas que, forçosamente, terão de ser resolvidos mais tarde. Isso quer dizer que a totalidade dos problemas hu-manos se situa no terreno da moral — concebida como o conjunto de princípios e regras que orientam o uso da liberdade pessoal mediante a dis-tinção entre o bem e o mal.

9. Como o progresso é produto do próprio trabalho, o espírito pode acele-rar ou retardar o seu progresso e, com ele, a felicidade. Sofrimento e paz são obras do esforço pessoal nos caminhos da vida, conforme o rumo escolhido. Contudo, a vida é dominada pelo prin-cípio de evolução e o preço da perma-nência em nível inferior é o desequilí-brio. Os tipos de progresso, intelectual e moral, raramente são proporcionais; demora para que atinjam proporção equivalente, pois, o primeiro recebe o máximo destaque e o segundo é sim-plesmente deixado ao arbítrio pes-soal. Essa permanência ou estagnação deve-se ao predomínio de um im-

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Fonte: RIZZINI, Carlos Toledo. Evolução para o Terceiro Milênio. Págs. 260 – 267. EDICEL. 1996.

pulso ou desejo que tendo sido ante-riormente normal (proporcionado ao nível evolutivo), passa a ser anômalo quando o indivíduo está apto a ocupar posição superior; deixando-se ali ficar, o impulso pressiona cada vez mais para obter satisfação completa. Criam-se, então, novas necessidades, mórbidas (neuróticas), para cujo atendimento se desenvolvem impulsos compulsivos, que o sujeito já não domina. Destes impulsos, o mais comum, deletério e persistente é o desejo de poder (domí-nio, prepotência), capaz de perdurar séculos e séculos a despeito das sanções da Lei. Neste estado de compulsivi-dade, em que o espírito está submetido a forças superiores à sua vontade, idéias fixas, obcecantes, dominam-no. Não pode escapar de si mesmo e atrapa-lha a si próprio. Surgem necessidades contraditórias que o arrastam a dire-ções opostas e explodem, assim, confli-tos duradouros. Encarnado ou desen-carnado, estará, pois, com a mente obstruída, vivendo apenas meia-vida, e muito longo é o caminho da recu-peração. Por isso, a maioria dos seres humanos encontra-se em lutas expiató-rias, lembrando alguém que se empe-nhasse em alijar de si mesmo o próprio cadáver, representado pelo passado culposo (Emmanuel, O Consolador); este manifesta-se, na área mental, pelos desequilíbrios assinalados.

Em conexão com o antece-dente, afirma Emmanuel (ibidem) que o trabalho de auto-iluminação deve começar pelo autodomínio mediante a disciplina dos sentimentos egoísticos e inferiores e pela luta para dominar as paixões. Por outras palavras: sujeição dos impulsos anti-sociais e desenvolvimento de senti-mentos sociais, que levam a procurar a felicidade pessoal no bem de todos.

10. A pessoa desajustada é a que não se equilibra convenientemente no seu meio social, exibindo com-portamento que se opõe a uma ou mais normas admitidas como ne-cessárias ao funcionamento sereno da sociedade. Exemplos temos no funcionário que entra em choque com quase todos os colegas; em quem se apropria do que não lhe pertence; no maledicente; no se-xólatra; no agressor; no inativo, ocioso; no chefe ou cônjuge prepo-tente, autoritário; nos pais possessi-vos; no caluniador, etc. Em todos os casos, o desajustamento social traduz o desajustamento emocio-nal (produto do estado conflitivo da mente) e exprime-se pela falta de respeito humano, pela desconsi-deração concernente ao próximo — pelo egoísmo, orgulho e hosti-lidade; mesmo em doses modera-das estes estados mentais afetam o equilíbrio do indivíduo no meio a que pertence. Ex. gr., uma pessoa toleravelmente hostil entra em cho-que com muitas outras em razão de conf lito de interesses; mesmo tendo muitos amigos, terá outros tantos desafetos. Numa palavra, a pedra de toque do ajustamento são as relações humanas e a atividade produtiva. Ser ativo e improdutivo de nada adianta; dar-se só com os afins em nada aproveita ao ser hu-mano.

11. Portanto, a interpretação funcional da vida terá de ser uma interpretação social mediante o uso da razão. O sentimento social in-clui a idéia da solidariedade hu-mana, afirma Adler, que termina exclamando: “Todos devem ajudar o próximo”.Em suma, a psicologia individual de Alfredo Adler acabou alcançando o Evangelho (cf. acima Fromm).

12. Vejamos um exemplo con-clusivo do quanto é imperioso ao ser humano o contato com os se-melhantes. A estória, real, foi ob-jeto de um livro de Gene Miller, resumido em Seleções (IV-1972), com o título de 83 Horas de Horror.

Bárbara, jovem filha de um mi-lionário, foi raptada e colocada num caixão fechado com recursos para que se mantivesse durante al-guns dias. Enquanto os seus rap-tores enterravam o caixão, ela, no fastígio do desespero, gritava para eles: “Por favor, voltem. Só para conversar comigo”. O chefe, rindo, observou: “O que você quer é só contato humano...” E ela, cho-rando: “É, é, eu quero, eu quero!” Mesmo na pior das situações, em vias de perder a vida dessa forma tão dolorosa (o que não sucedeu, afinal), a moça pedia para não ser deixada só — ainda que tivesse somente os próprios algozes para conversar! A tanto chega a neces-sidade do relacionamento inter-pessoal, de fugir à solidão: qual-quer pessoa serve... Quando isto acontece na vida cotidiana, algo está errado com o ente humano, porquanto, uma vida útil estabe-lece uma relação produtiva com o mundo — mesmo em períodos de isolamento; basta que a ativi-dade do indivíduo não beneficie exclusivamente a ele, tenha, antes, utilidade social e seja uma expres-são de afeição genuína. Então, o isolamento será aproveitado para meditação, estudo, e trabalho edi-ficante, sem produzir ansiedade, inquietude. v

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reflexão

Era um sábado de tarde. Cami-nhando pela calçada, dirigia-me para uma reunião da diretoria do Centro Espírita.

De súbito, uma indagação se fez em minha mente. Não deu para identificar qualquer voz, mas o pen-samento era claro: “Você é uma mu-lher forte?”

Desprevenida, pus-me a recordar as lutas da vida em que, graças ao conhecimento espírita, e certamente à ajuda dos benfeitores espirituais, pude superar situações trabalhosas e difíceis.

Acreditando estar pensando “com os meus botões”, respondi mentalmente: “Sim, eu sou uma mulher forte...”.

No instante seguinte eu estava es-tatelada na calçada, batera o rosto no chão e fraturara o nariz.

Levantei-me, o rosto a sangrar, olhei para a rua, onde os carros ha-viam parado por causa do sinaleiro, e pedi a um motorista que me ajudasse. Prestativo, ele desceu e me ajudou a entrar no carro. Ofereceu-me um rolo de papel para ir aparando o san-gue que continuava a jorrar. Pedi-lhe que me levasse ao pronto-socorro, que felizmente era ali perto.

Chegando lá, o fraterno motorista queria entrar comigo, mas agradeci e o liberei, dizendo que conhecia o

local. Fui bem atendida e horas de-pois, devidamente medicada, voltei para casa.

O autor da pergunta fora um ad-versário espiritual, por causa das ati-vidades benfeitoras que o Centro Espírita realizava. Pretendia difi-cultar-me a presença nas reuniões, tanto administrativas como nas de assistência espiritual, o que não con-seguiu de todo, porque na outra se-mana, apesar da cara arrebentada, lá estava eu com os demais companhei-ros nas lides doutrinárias. E testemu-nhei ser mesmo uma mulher forte, que forte temos todos de ser nas lutas

A FALA DE UM ADVERSÁRIO

PoR ThEREZInhA olIvEIRA

Fonte: OLIVEIRA, Therezinha. Coisas que Eu não Esqueci Porque me Ensinaram Muito.

Págs. 17 – 19. Editora Allan Kardec. 2010.

da nossa vida, já que possuímos o esclarecimento espírita e contamos com o amparo constante dos bons Espíritos, não obstante os obstáculos que se nos anteponham.

Aprendi, nesse episódio, que mais do que supomos, vivemos em inter-câmbio de pensamentos e sentimen-tos com o plano invisível, cabendo- nos vigiar e orar, para não cairmos quando nas experimentações da fé. v

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26 FidelidadESPÍRITA | Novembro/2010

com todas as letras

Você já foi criticado por fazer al-guma coisa certa? Pois o Estadão foi. Não estranhe: algumas dezenas de leitores acusaram o jornal, na última década, de “errar sempre” ao usar havia no lugar de há. E a alegação era terminante: “ninguém escreve” ele estava ali havia um ano, mas ele estava ali há um ano.

O crime do Estadão era um único: seguir o princípio da corres-pondência dos tempos verbais.

Felizmente, hoje, outros órgãos de imprensa despertaram para o problema e aderiram à forma di-tada pela gramática. Como se trata de uma construção correta poucas vezes adotada — e desconhecida muitas vezes até mesmo por pessoas de texto quase irrepreensível —, seu uso termina por passar a imagem de que os certos é que estão errados.

Saiba então como proceder: quando o verbo que acompanha haver está no imperfeito ( fazia, comprava, propunha) ou no mais-que-perfeito (fi zera, comprara, propusera), deve-se usar havia e não há. v

Veja alguns exemplos, para melhor entendimento da questão:

O ministro sabia havia (fazia) dois meses das fraudes na pasta. / Ele tinha chegado havia (fazia) dez minutos. / Os funcionários não comiam havia (fazia) dois dias. / O centroavante estava perseguindo o gol havia (fazia) oito jogos. /Conseguiram o que vinham tentando havia (fazia) já algum tempo.

Mais alguns: O congresso não se realizava havia (fazia) dez anos. / A visita fora marcada havia (fazia) algum tempo. / Ele chegara de uma cidade aonde não ia havia (fazia) muito tempo.

Repare que em todos os casos a ação se encerrou: o há indicaria o seu prosseguimento.

PODE CRER: ELE ESTAvA ALI hAvIA UM ANO

PoR EduARdo mARTInS

Fonte: MARTINS, Eduardo. Com Todas as Letras. Pág. 127. Editora Moderna. 1999.

Admite-se há com imperfeito ou mais-que-perfeito em dois casos.

No primeiro, o tempo é considerado a partir do momento em que se vive: Tivera uma discussão com ele há (faz) 15 dias (tempo contado a partir do momento atual e não de outro já encerrado). Você já sabia há (faz) muito tempo que se trata de uma pessoa irascível. No segundo, recorre-se ao imperfeito no lugar do perfeito: Há (faz) 200 anos morria Mozart. Há (faz) mais de cem anos chegava ao País o patriarca da família.

Regra prática:

Troque haver por fazer e, se a forma a empregar for fazia (e não faz), o certo é havia e não há.

FidelidadESPÍRITA | Novembro/2010 27

mensagem

Existem velhas fermentações de natureza mental, que representam tó-xicos perigosos ao equilíbrio da alma.

Muito comum observarmos com-panheiros ansiosos por íntima iden-tificação com o pretérito, na teia de passadas reencarnações.

Acontece, porém, que a maioria dos encarnados na Terra não pos-suem uma vida pregressa respeitável e digna, em que possam recolher se-mentes de exemplificação cristã.

Quase todos nos embebedávamos com o licor mentiroso da vaidade, em administrando os patrimônios do mundo, quando não nos embria-gávamos com o vinho destruidor do crime, se chamados a obedecer nas obras do Senhor.

Quem possua forças e luzes para conhecer experiências fracassadas, compreendendo a própria inferiori-dade, talvez aproveite algo de útil, relendo páginas vivas que se foram. Os aprendizes desse jaez, contudo, são ainda raros, nos trabalhos de re-capitulação na carne, junto da qual a Compaixão Divina concede ao servo falido a bênção do esquecimento para a valorização das novas iniciativas.

Não guardes, portanto, o fer-mento velho no coração.

Cada dia nos conclama à vida mais nobre e mais alta.

Reformemo-nos, à claridade do Infinito Bem, a fim de que sejamos nova massa espiritual nas mãos de Nosso Senhor Jesus.

FERMENTO velho

“Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa.” Paulo (I Coríntios, 5:7.)

Vinha de Luz Emmanuel / Chico Xavier

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