O Fim do Poder

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17/12/13 00:03 O Fim do Poder | Cidadania & Cultura Página 1 de 6 http://fernandonogueiracosta.wordpress.com/2013/06/21/o-fim-do-poder/ O Fim do Poder Ex-ministro da Venezuela, ex-diretor do Banco Mundial e ex-editor da revista “Foreign Policy“, Moisés Naím é membro associado do “think tank” Carnegie e colunista dos jornais Folha, “El País” e “La Reppublica“, entre vários outros. Em seu livro recém-lançado “The End of Power” [O Fim do Poder], ele não identifica nem o fim do Estado, nem o fim das grandes empresas ou igrejas. Cada uma à sua maneira, as elites continuam as mesmas, até com maior concentração de riqueza, como nos Estados Unidos. Mas a sua capacidade de exercer poder político está sendo questionada. “É mais fácil obter e perder poder e é mais difícil usá-lo“, diz Naím. “O escudo que protege os poderosos agora é menos eficiente. Isso é verdadeiro nos negócios, nas questões militares, na política, na religião, no sindicalismo, na mídia. E isso é devido a muitos fatores, uma longa lista de fatores, que eu procuro agrupar em três revoluções.”

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    O Fim do Poder

    Ex-ministro da Venezuela, ex-diretor do Banco Mundial e ex-editor darevista Foreign Policy, Moiss Nam membro associado do thinktank Carnegie e colunista dos jornais Folha, El Pas e La Reppublica,entre vrios outros. Em seu livro recm-lanado The End of Power [OFim do Poder], ele no identifica nem o fim do Estado, nem o fim dasgrandes empresas ou igrejas. Cada uma sua maneira, as elitescontinuam as mesmas, at com maior concentrao de riqueza, comonos Estados Unidos. Mas a sua capacidade de exercer poder poltico estsendo questionada.

    mais fcil obter e perder poder e mais difcil us-lo, diz Nam. Oescudo que protege os poderosos agora menos eficiente. Isso verdadeiro nos negcios, nas questes militares, na poltica, na religio,no sindicalismo, na mdia. E isso devido a muitos fatores, uma longalista de fatores, que eu procuro agrupar em trs revolues.

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    So trs emes, em portugus ou ingls:

    1. mais (more),2. mobilidade (mobility) e3. mentalidade (mentality).

    A primeira categoria tenta condensar o fato de que vivemos em ummundo de abundncia, em que h mais de tudo: h mais pessoas nomundo, as pessoas so mais ricas do que nunca, h mais cidades, maisprodutos, mais remdios e mais armas. Para resumir como o mais temconsequncias para os poderosos, cita Zbigniew Brzezinski, ex-assessorde Segurana Nacional dos EUA: Hoje, mais fcil matar centenas demilhes de pessoas do que governar centenas de milhes de pessoas.

    A revoluo da mobilidade reflete o fato de que esse mais tambm semovimenta mais. As pessoas, seus produtos e seu dinheiro, suaideologia e suas pandemias, tudo se movimenta mais. E o poder requerum pblico cativo, requer fronteiras muito definidas, dentro das quaisvoc o exerce. A mobilidade dificulta isso.

    A terceira categoria, mentalidade, se refere s profundas mudanasem expectativas, aspiraes, valores. Para Nam, hoje h menostolerncia para situaes que antes eram aceitas sem questionamento.Um dos exemplos mais ilustrativos disso a exploso nas taxas dedivrcio na ndia: as mulheres esto abandonando os seus casamentosarranjados.

    No livro The End of Power, Nam menciona a ascenso de empresasbrasileiras como exemplos da reviravolta na estrutura de podercorporativo global. Na indstria aeroespacial, os `mega-players nuncaimaginaram que uma empresa baseada no Brasil, a Embraer, poderia ser

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    uma das lderes no mercado de tamanho mdio.

    No petrleo, o mundo era dominado pelas Sete Irms, mas no mais:agora voc tem empresas como a Petrobras, que esto entre as lderesglobais. Da mesma maneira, quem diria que uma das gigantes nomundo da cerveja, a Anheuser-Busch, seria dominada por uma empresacom razes brasileiras?.

    Nam cita outras empresas gigantes emergentes do Capitalismode Estado, como a indiana Mittal, maior siderrgica do mundo, masevita a expresso BRIC, que toma Brasil, Rssia, ndia e China comoprotagonistas de uma nova ordem global. A nica coisa que os BRICstm em comum so o tamanho e o crescimento. No mostraramcapacidade de trabalhar juntos, de maneira consequente.

    Ele tambm evita sobrevalorizar o impacto da internet para o fim ou odeclnio do poder. So ferramentas, so tecnologias que precisam deusurios. O que aconteceu na Primavera rabe comeou na Tunsia, eno comeou por causa da internet. Twitter e Facebook foramamplificadores, mas no foram a causa para a perda do poder.

    Com ampla experincia em redao, Nam observa que o New YorkTimes ou a rede CBS, por um lado, continuam empresas muitopoderosas, mas esto mais constrangidas do que no passado. Por outrolado, a importncia do jornalismo agora maior do que nunca, comnovos atores, em especial o jornalismo-cidado. Via Web 2.0,acrescentaria eu (FNC).

    Leia o artigo do prprio autor intitulado tambm O Fim do Poder (FSP,03/08/12):

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    O que tm em comum o aquecimento global, a crise na zona do euro eos massacres na Sria? O fato de ningum ter o poder de det-los. Cadauma dessas situaes vem se deteriorando em plena vista do mundo. Astrs implicam graves perigos e o sofrimento de milhes de pessoas. Hideias do que fazer em relao s trs. Mas no acontece nada.

    H reunies de ministros, cpulas de chefes de Estado, exortaes delderes sociais, religiosos e acadmicos. Nada. Diariamente, somosinformados de que cada uma dessas crises segue adiante na corridadesembestada rumo ao despenhadeiro. E? Nada. No ocorre nada.

    como assistir a um filme em cmera lenta em que um nibus cheio depassageiros ruma ao precipcio, enquanto o motorista no pisa no freionem muda de direo. O problema que todos estamos nesse nibus. Nomundo atual, o que acontece em outro lugar, por distante que pareaser, acaba nos afetando.

    Mas minha metfora imperfeita. Supe que o freio e o volantefuncionem e que exista um motorista com o poder de frear ou mudar derumo. Porm no o que ocorre.

    No caso dessas trs crises e de muitas outras -, no h um motoristanico, e sim vrios. E cada vez h mais motoristas, ou candidatos amotoristas, que, embora no tenham o poder de decidir a direo e avelocidade do nibus, tm, sim, o poder de impedir que sejam tomadasdecises das quais discordam.

    Rssia e China no podem solucionar a crise na Sria. Mas podem vetaras tentativas de outros pases de deter as matanas. Os lderes de Itlia,Espanha ou Grcia precisam da ajuda de outros pases e de entidadescomo o Banco Central Europeu ou o FMI para enfrentar sua crise.

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    Contudo, embora nem Angela Merkel nem os rgos internacionaistenham o poder de solucionar a crise, eles podem bloquear o jogo.

    Com o aquecimento global a mesma coisa. As evidncias cientficasavassaladoras confirmam que a atividade humana est aquecendo oplaneta, o que gera variaes climticas traumticas. Se as emisses decertos gases no diminurem, as consequncias para a humanidade serodesastrosas.

    E, se para alguns fcil ignorar a tragdia sria, por estar muito distante,ou a europeia, por lhes ser alheia, impossvel ignorar os efeitos do climasobre todos ns e sobre as geraes que vo nos seguir.

    Essas trs crises so uma manifestao de uma tendncia que asultrapassa e que molda muitas outras esferas: o fim do poder. Isso nosignifica que o poder v desaparecer ou que j no haja atores comimensa capacidade de impor sua vontade a outros. Significa que o podervem ficando cada vez mais difcil de exercer e mais fcil de perder. Eque quem tem poder hoje est mais limitado em sua aplicao do queeram seus predecessores.

    O presidente dos EUA (ou da China), o papa, o chefe do Pentgono ou osresponsveis por Banco Mundial, Goldman Sachs, The New York Timesou qualquer partido poltico hoje tm menos poder do que aqueles que osprecederam.

    O fim do poder uma das principais tendncias que vo definir o nossotempo.

    THE END OF POWER

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    AUTOR Moiss Nam

    EDITORA Basic Books

    QUANTO US$ 28 (320 pgs.) e de R$ 30 a R$ 33 (e-book)