O Giro Linguístico

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Lupicinio Iniguez sos psicologicos quando esses sao abordados de um pon- to de vista discursivo. O sexto capitulo, enquadrado no mar- co da Analise Critica do Discurso, mostra como o discur- so funciona como pratica de domina9ao e de exclusao. Finalmente, o setimo capitulo, no marco da Interanima- 9ao Dialogica, amplia a reflexao sobre dominacao, abor- dando a linguagem dos riscos como estrategia de gover- namentalidade. 18 O ff* -•£•— _. * m - H ,». r siS5»4ssS37 _ itgiroisUnqmslrcol iro liriguistico" e uma expressao que esteve em mo- da nos anos 1970 e 1980 para designar uma certa mudanca que ocorreu na fllosofia e em varias ciencias hu- manas e socials, e que as estimulou a dar uma atencao major ao papel desempenhado pela linguagem, tanto nos proprios projetos dessas disciplinas quanto na formagao dos fenomenos que elas costumam estudar. Normalmente, nao se da a essa expressao nenhum ou- tro significado alem desse que acabamos de mencionar. Um dos primeiros objetivos que podemos atribuir ao pre- sente capitulo e precisamente o de contribuir para que se ad- quira uma consciencia clara do aumento progressivo da aten- cao que foi dada a linguagem no decorrer do seculo XX. No entanto, o "giro linguistico" teve efeitos e implica- coes que vao bem mais alem do simples aumento da enfa- se dada a importancia da linguagem. Ele contribuiu parg que fossem esbogados novos conceitos sobre a natureza do conhecimento, seja ele o do sentido,comum ou o cienti- fico, para permitir que surgissem novos significados para * Universidade Aberta da Catalunha. 19

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Importantes transformações na importância conferida à palavra, e suas repercussões no estudo da psicologia

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Lupicinio Iniguez

sos psicologicos quando esses sao abordados de um pon-to de vista discursivo. O sexto capitulo, enquadrado no mar-co da Analise Critica do Discurso, mostra como o discur-so funciona como pratica de domina9ao e de exclusao.Finalmente, o setimo capitulo, no marco da Interanima-9ao Dialogica, amplia a reflexao sobre dominacao, abor-dando a linguagem dos riscos como estrategia de gover-namentalidade.

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O ff* -•£•— _. * m • - H ,».rsiS5»4ssS37_ itgiroisUnqmslrcol

iro liriguistico" e uma expressao que esteve em mo-da nos anos 1970 e 1980 para designar uma certa

mudanca que ocorreu na fllosofia e em varias ciencias hu-manas e socials, e que as estimulou a dar uma atencaomajor ao papel desempenhado pela linguagem, tanto nosproprios projetos dessas disciplinas quanto na formagaodos fenomenos que elas costumam estudar.

Normalmente, nao se da a essa expressao nenhum ou-tro significado alem desse que acabamos de mencionar.Um dos primeiros objetivos que podemos atribuir ao pre-sente capitulo e precisamente o de contribuir para que se ad-quira uma consciencia clara do aumento progressivo da aten-cao que foi dada a linguagem no decorrer do seculo XX.

No entanto, o "giro linguistico" teve efeitos e implica-coes que vao bem mais alem do simples aumento da enfa-se dada a importancia da linguagem. Ele contribuiu pargque fossem esbogados novos conceitos sobre a naturezado conhecimento, seja ele o do sentido,comum ou o cienti-fico, para permitir que surgissem novos significados para

* Universidade Aberta da Catalunha.

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aquilo que se costuma entender pelo termo "realidade" -tanto "social" ou "cultural" quanto "natural" ou "fisica" -e a desenhar novas modalidades de investigate) propor-cionando outro contexto teorico e outros enfoques metodologicos.jPorem, mais que tudo, o "giro linguistico" mo-dificou a propria concepcao da natureza da linguagem.Um segundo objetivo deste capirulo, portanto, seria ensi-nar a discernir quais sao as concepgoes da linguagem quesustentam as varias formulagoes oferecidas pelas cienciashumanas e socials.

For outro lado, o presente capitulo pretende analisarem profundidade a natureza e as hnplicagoes do "giro lin-guistico", dando uma atencao especial a sua genealogia,ou seja, a dimensao historica de sua constituigao progres-siva, as rupturas teoricas que tiveram que ocorrerpara queo giro linguistico pudesse construir e desenvolver seusprojetos, e ao carater plural e as vezes contraditorio de quese revestiram as suas varias formulagoes.

Se o "giro linguistico" realmente constitui, como indi-camos neste capitulo, uma mudanga profunda das concep-goes do mundo, e das concepgoes sobre como interpretaras ciencias humanas e sociais, inclusive a propria filoso-fia, e importante que o leitor e a leitora entendam nao so-mente o alcance e a orientacao dessas mudangas mas tam-bem as razoes que o fizeram surgir. Podemos entao consi-derar que um terceiro objetivo que nos propomos a alcangarneste capitulo seria o de discernir e avaliar essas razoes.

Para esse fim, no entanto, nao e suflciente apenas en-tender e armazenar a informagao proporcionada pelo textoque foi elaborado para este capitulo. Alem disso, e precisopor em pratica um esforgo extraordinario de reflexao pes-soal que permita qualificar a natureza e a forga das suposi-goes a que o "giro linguistico" teve que se sobrepor paraconseguir se desenvolver. Nesse sentido, seria util refletir

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1. 0"giio linguistico"

sobre nossa propria concepgao da linguagem comparan-do-a com as concepgoes que sao inferidas pelo "giro lin-guistico". Um ultimo objetivo, portanto, consiste em per-rnitir e facilitar essa reflexao.

1. A Linguistica e a filosofia como pontos de parti da

Uma das marcas distintivas do seculo passado foi, semduvida alguma, a enorme importancia que tanto a filosofiaquanto as ciencias humanas e sociais em seu conjunto de-ram ao fenomeno da linguagem.

A atengao crescente que se da ao estudo da linguagemdurante todo o seculo XX teve seu estimulo inicial no cer-ne de uma dupla ruptura ocorrida no despertar do seculo.

De um lado, a ruptura com a antiga tradigaocentrada na comparagao das linguas e no estudo de suaevolugao historica. E, por outro, a ruptura com a total he-gemoma que a filosofia da consciencia exerceu durantemais de dois seculos. —

A primeira dessas rupturas, liderada por Ferdinand deSaussure (1857-1913), instituiu, na verdade, a linguisticamoderna, dotando-a de um programa de alguns conceitose de uma metodologia que viabilizavam o estudo rigorosoda lingua considerada "por si mesma e em si mesma".

A segunda ruptura, iniciada por Gottlob Frege (1849-1925) e por Bertrand Russell (1872-1970), fez com que oolhar da filosofia, ate entao voltado para o mundo interiore privado das entidades mentals, se voltasse para o mundopassivel de ser objetivado e publico das produgSes dis-cursivas. Assentavam-se, assim, as bases para uma novaforma de entender e de praticar a filosofia que, sob a deno-minagao de "filosofia analitica", dominaria o cenario dafilosofia anglo-saxa durante mais de meio seculo. J

Os sucessos alcangados pela linguistica moderna, tan-to no marco da orientagao estruturalista iniciada com as

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contribui?oes de Ferdinand de Saussure, quanto no marcoda orientacao generativa elaborada fundamentalmente porNoam Chomsky (1928-) no final dos anos 1950, tiveramamplarepercussao em vastos setores das ciencias socials ehumanas que viram na linguistica um modelo exemplar aoque podiam recorrer diretamente quando abordavam osobjetos de suas proprias disciplinas.

No entanto, mais alem de esse efeito mimetico extra-ordihario, e a filosofia analitica, em suas varias orienta-9oes e devido tanto a seus fracassos como a seus exitos,que devemos atribuir a expansao do interesse pela lingua-gem nas varias ciencias socials e humanas.

Dificilmente poderemos compreender a aten9ao dadaa linguagem pelo pensamento contemporaneo se nao ana-lisarmos o "giro linguistico" empreendido pelo pensa-mento posterior ao seculo XIX, observando tanto sua ges-tacao como a historia de seu desenvolvimento.

Mas antes de abordar essa questao no proximo capitu-lo, talvez seja util recordar que ja no medievo encontra-mos alguns ingredieBles^ue_teriam podido propiciar um"giro linguistico^/favanr/a/eSre>Trata-se da famosa dis-puta entre os escolasticos a respeito dos "universais". Co-mo bem se sabe, os "nominalistas" sustentam a tese da ine-xistencia fatica dos universais, argumentando que tudoaquilo que existe o faz de uma forma peculiar e que denada adianta buscar referencias existenciais por tras de ca-tegorias gerais. Nao existe nem "o" campones, nem "a" ar-vore, nem "a" mulher, mas sim e apenas, camponeses, ar-vores e mulheres particulares.

Um universal nada mais e do que uma abstragao cujaexistencia so se materializa no amago de nossa linguageme cuja realidade e resultado exclusivamente dos usos quefazemos da linguagem. A partir de considera9oes desse tipo,os nominalistas esbo9avam uma linha de pensamento que

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1. 0 "giro linguistico"

outorgava a linguagem um papel especial na elabora9aode nossa visao do mundo, mas ainda seria necessario espe-rar varios seculos para que essas intui9oes dessem lugar aum auteiitico "giro linguistico".

2. Das ideias as palavras ou do "animal pensante"ao "animal falante"

Q ser humano e um "animal racional". Essa foi umadas formulas mais antigas utilizadas para expressar a dis-tinguibilidade de nossa especie. No entanto, embora a ca-pacidade que o ser humano tem para exercitar o pensa-mento, o raciocinio, a elaboracao e o manejo de ideias te-nha fascinado os filosofos desde os tempos da Grecia Clas-sica, foi, sem duvida, Rene Descartes (1596-1650) que con-tribuiu com maior sucesso para que o olhar filosofico fo-calizasse o interior de nosso mundo mental (a famosaffS

exortando-nos a esquadrinhar nossas ideias pa-ra ficarmos unicamente com aquelas que fossem "cla-ras e distintas". Dessaperspectiva, a linguagem e ceitamen--3

te importante, mas constitui apenas um instrumento paramanifestar nossas ideias, uma simples roupagem com a qualessas se apresentam ao exterior e se tornam visiveis paraos demais. Quando nosso discurso parece ser confuso eporque nossas ideias nao sao suficientemente claras e, in-clusive, algumas vezes acontece de a linguagem dificul-tar a exterioriza9ao de nossas ideias em vez de ajudar-nosa comunica-las aos demais.

A partir de Descartes e durante dois seculos e meio, afilosofia europeia seria uma "filosofia da consciencia"centrada no estudo da interioridade do sujeito e convenci-da de que, para conhecer o mundo exterior, e preciso ins-pecionar minuciosamente as ideias que habitam os espa-905 interiores da subjetividade. No entanto, a partir do mormento em que se aceita a dicotomia entre res cogitans e

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res extensa, e precisamente porque foi tracada essa linhadivisoria, surge imediatamente a pergunta de como se re-lacionam entre si o "interior" e o "exterior" e p misterio daadequagao entre nossas ideias e a realidade.

Durante dois seculos e meio as grandes divergenciasfilosoficas vao se articular ao redor dessas questoes.

i Serios antagonismos se desenvolvem entre aqueles queconsideram que nossas ideias se formam com base em nos-sas experiencias sensoriais (nada esta em nossa mente quenao tenha anteriormente passado por nossos sentidos, di-

<( riam, por exemplo, os empiristas) e aqueles que creem que asideias se constituem com base nas propriedades inatas dares cogitans, ou ainda aqueles que consideram, com Emma-nuel Kant (1724-1808), que as "categorias apriori de nossoentendimento" estabelecem o marco nao empirico a partir

^do qual a experiencia empirica conforma nossas ideias.

Curiosamente, essas profundas divergencias filosofi-cas nascem precisamente porque existe um consenso pre-vio a respeito do carater privilegiado do mundo das ideiase porque se tenta explicar a consciencia a partir da inques-tionavel dicotomia entre a mente e o mundo. Se questio-narmos a dicotomia "interior/exterior", o dificil problemada relac.ao entre ambos se dilui imediatamente, deixandoem evidencia a vacuidade das grandes divergencias filoso-ficas originadas por esse problema.

No entanto, nao e nada facil deixar de lado dois secu-los e meio de consenso filosofico. O fato de que ja trans-correu quase um seculo desde aquele momenta em que co-mefaram a questionar a primazia da "filosofia da cons-ciencia" e que, ainda hoje, temos serias dificuldades paralivrar-nos de suas influencias, indica, sem duvida algu-ma, a magnitude da inovacao que o "giro lingiiistico" su-

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1. 0 "giro lingiiistico'

pos e a originalidade de que seus promotores tiveram quese vangloriar.

3. Os comedos do "giro Linguistico"

A propria expressao "giro linguistico" sugere a ima-gem de um momento precisamente delimitado no qual seproduziu uma mudanca brusca de algo que nao e linguisti-co para o espa90 propriamente linguistico. Pode ate serque alguns dos comentarios feitos acima tenham contribui-do para fomentar essa imagem. Mas a coisa nao foi bem as-sim. O giro linguistico nao e um fato precise e sim um feno-meno que vai se formando progressivamente e que adotavarias modalidades ao longo de seu desenvolvimento.

Em seu comego, o giro linguistico surge de uma preo-cupagao em superar a antiga logica silogistica herdada deAristoteles (385 a.C.-322 a.C) e em inventar umanova lo-gica formal, capaz de dar vida a essa linguagem "ideal" e"perfeita" com que sonhava Leibnitz (1646-1716).

Foi Gottlob Frege (1848-1925) que empreendeu essatarefa ao inventar "a teoria da quantifica9ao" (base da lo-gica moderna) e ao substiruir as velhas nogoes de "sujeito"ejle "predicado" pelas no9oes de "argumento" e de "fun-cao". A nota^ao canonica proposta por Frege permitia trans-formar os enunciados linguisticos em "proposigoes" cujovalor de verdade (proposi^ao verdadeira ou falsa) podia serestabelecido de uma maneira rigorosamente formal.

Da Universidade de Cambridge, Bertrand Russell (1872-1970) colaborou intensamente com Frege para o desen-volvimento da nova logica, dando um impulso decisive aogiro linguistico na filosofia anglo-saxa.

Para o proposito desta disciplina, o que importa nao e,certamente, a compreensao e o conhecimento detalhadodo novo instrumento logico criado por Frege e Russell, e

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sim compreender, por urn lado, quais eram as premissasque orientavam as investigasoes "logicistas" da dupla Fre-ge/Russell e, por outro, captar as repercussoes que essenovo instrumento logico teve para o desenvolvimento dafilosofia da linguagem.

Essas premissas podem ser formuladas da seguinte ma-neira:

a) Muitos dos problemas com que se deparam tanto afilosofia, quanto a comunicacao humana em geral, ocor-rem porque a linguagem cotidiana tem como base uma 16-gica imperfeita, ambigua e imprecisa.

b) As frases construidas nas linguas naturals se apoiam,claramente, em uma estrutura logica, mas essa estruturalogica nao aparece com claridade se nos limitarmos a con-templar exclusivamente a estrutura gramatical das frasesou se as analisarmos com a ajuda da logica aristotelica.

c) A nova logica, baseada em quantiflcadores, permiteque se exiba a autentica estrutura logica dos enunciadoslinguisticos, convertendo-os em proposi?6es dotadas deum valor de verdade.

d) Se conseguirmos estabelecer a estrutura logica dosenunciados poderemos exibir a estrutura do pensamentoexpressado por esses enunciados e, desta maneira, aumen-tar o conhecimento dos processes inferenciais.

e) Se a linguagem e um instrumento para representar arealidade, entao sua analise pode nos informar sobre a na-tureza dessa mesma realidade.

Este conjunto de premissas nos indica varias coisas im-portantes:

Em prirneiro lugar, vemos como se produz um deslo-camento do estudo das "ideias", realizado por meio de umdiscurso mental de carater privado (introspeccao), para o

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estudo dos enunciados linguisticos, publicos e objetiya-dos, a fim de evidenciar sua estrutura logica.

Nao e dentro de nossa mente que temos que "olhar"para saber como pensamos, e sim devemos "olhar" paranossos discursos; nao devemos esquadrinhar nosso "in-terior" e, sim, devemos permanecer no "exterior" visivel atodos.

As ideias foram, em uma epoca, os objetos de todo filo-sofar e constituiram o vinculo entre o ego cartesiano e omundo externo a ele [...]. Nas discussoes atuais, o dis-curso publico substituiu o discurso mental. Um ingredi-ente nao questionado do discurso publico e o enunciado[...]. Quine disse que "a tradi9ao de nossos pais e uma fa-brica de enunciados". Os enunciados sao um artefatocognoscitivo nessa fabrica do discurso publico. Talvez,como sugerirei a seguir, sao eles que constituem esse"sujeito cognoscitivo". De qualquer forma, eles sao osresponsaveis pela representa9ao da realidade no corpodo conhecimento. Dessa maneira, parece que os enunci-ados substituiram as ideias [...]. A verdadeira naturezado conhecimento mudou. Nossa situa9ao atual na filoso-fia e uma conseqiiencia daquilo que o conhecimentochegou a ser [...]. Um Descartes jamais teria pensadoque uma teoria e um sistema de enunciados, assim comoQuine jamais teria reconhecido que uma teoria e um es-quema de ideias do seculo XVII (I. Hacking, 191'5. DoesLanguage matter to philosophy? Nova lorque: Cambrid-ge University Press, p. 159-169 [Tradu9ao em espanhol:Buenos Aires, Sulamericana, 1979]).

Em segundo lugar, podemos observar como, em umdeterminado momento, deixa-se de considerar que sao asnossas "ideias" que se relacionam com o mundo, e pas-sa-se a afirmar que sao nossas palavras que se correspon-dem com os objetos do mundo. Ja veremos como essatese, que podemos qualificar de "realista", sera superadanos desenvolvimentos posteriores do giro linguistico, em-

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bora tenha, sem duvida, o grande merito de substituir a re-lacao "ideias/mundo" pela relacao "linguagem/mundo",trocando o privado pelo publico e o nao observavel pelomanifesto.

Quanto as repercussoes que o instrumento logico cons-truido por Frege/Russel viria a ter para a filosofia da lin-guagem, basta assinalar aqui que, durante varias decadas,a filosofia analitica adotou a forma tecnica de uma rigo-rosa analise logica das proposicoes filosoficas, recorren-do a teoria da quantificacao..4. 0 estimulo neopositivista ao giro lingiilstico

Seguindo os conselhos de Frege, o jovem LudwigWittgenstein (1889-1951) decidiu ir estudar com Russellem 1911 e, poucos anos mais tarde, publicou um livro, oTratado logico-filosofico (1921), que imediatamente exer-cera uma influencia profunda sobre um grupo de filosofos ecientistas austriacos e alemaes preocupados em dar uma ori-entapao cienn'fica ao pensamento filosofico e em acabar de-finitivamente com as especulacoes meramente metafisicas.

Esses pensadores formam um colegio filosofico - o"Circulo de Viena" - e lancam, em 1929, um manifestoprogramatico fortemente inspirado pela tese de Wittgens-tein. Eles estao convencidos de que a linguagem comum eum pessimo instrumento para expor e discutir assuntos fi-losoficos, e tambem para construir uma visao cientifica darealidade. A seu ver, muitos dos falsos problemas em quese envolvem os filosofos tern origem em um uso pouco ri-goroso da linguagem; grande parte das formulacoes fi-losoficas nao tem sentido devido ao uso de uma lingua-gem insuficientemente formalizada; e ate mesmo os enun-ciados cientificos - inadvertidamente, mas com dema-siada frequencia - caem nas inumeras armadilhas da.lin-guagem cotidiana.

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Portanto, o problema que seria conveniente solucionarpara que pudessemos avangar na direcao de uma explica-cao cientifica do mundo e para acabar com a vacuidade dafilosofia herdada e, definitivamente, um probiema de lin-

. Para ter garantias de cientiilcidade e preciso re-formar a linguagem usando todos os recursos tecnicos danova logica e submetendo os enunciados a um exame rigo-roso para avaliar sua consistencia logica, transformando-,os em 'fooposigoes". ,

Como bem se sabe, os positivistas logicos do Circulode Viena postulam que so existem dois tipos de enuncia-dos validos.

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De um lado, teriamos os enunciados logico-matema-ticos (enunciados "analiticos"), que sao absolutamente cor-retos quando bem formulados mas que nao nos dizem nadasobre a reaiidade empirica. De outro, estariam os enuncia-dos empiricos (enunciados "sinteticos")., que versam so-bre a realidade mas que so podem ser aceitos como enun-ciados validos se foram veriflcados, escrupulosamente,por experiencias baseadas no "metodo cientiflco". Todosos outros enunciados, que nao sejam estritamente analiti- ,cos ou sinteticos, nao tem sentido. J

Em suma, os positivistas logicos acham que e precisodizer as coisas "bem" (sem ambiguidades nem omissoeslogicas) e que e preciso tambem dizer coisas que estejam"bem" (ou seja, de acordo com a realidade empirica sobrea qual estamos falando).

Apos o estimulo que Ihe foi dado por Frege, Russell,Wittgenstein e os neopositivistas, a importancia da lingua-gem nao parou de crescer do inicio do seculo XX ate a ves-pera da Segunda Guerra Mundial, ocupando o lugar da fi-losofia neo-hegeliana que dominava a Inglaterra e compe-

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Oentral

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tindo seriamente com o neokantismo e a fenomenologiaenraizadds nos paises de lingua germanica.

Depois da Segunda Guerra Mundial, o giro linguisticose acentuara ainda mais, diversificando suas expressoes,adotando novas modalidades e ampliando sua area de in-fluencia ate atingir os Estados Unidos, onde viria a alcan-9ar um dominio hegemonico no ambito iilosofico.

5. A expansao da filosofia analitica e o auge dacentralidade da Linguagem

A trajetoria propriamente europeia do Circulo de Vie-na durou poucos anos. Muitos dos pensadores que se ti-nham agrupado ao redor de Moritz Schlick (1882-1936)eram judeus e como sua situagao ficou insustentavel dian-te do avanco da barbaric nazista quase todos decidiramemigrar, a maioria para os Estados Unidos.

Naquele pais, Rudolf Carnap (1891-1970), Carl Hem-pel (1905-1997), Hans Reichenbach (1891-1953), KurtGoedel (1906-1978) e outros continuaram suas atividadesem varias universidades, fazendo com que a semente neo-positivista desse frutos em solo americano. Sua influenciafoi tanta, que nos anos 1950 a parte essencial da obra filo-sofica nos Estados Unidos consistia na realizacao de exer-cicios logico-lingiiisticos rigorosos e minuciosos, pondo amargem toda e qualquer referenda a poderosa orienta?ao"pragmatica" que tinha dominado o cenario durante as pri-meiras decadas do seculo gracas as contribuifoes de Char-les Pierce (1839-1914), de William James (1842-1910) ede John Dewey (1859-1952).

Nao ha duvida de que, nesse periodo, a inclinagao dafilosofia para a analise logico-lingxiistica alcancou dimen-soes impressionantes. E preciso nao esquecer que, na In-glaterra, a partir de Cambridge, Bertrand Russell continua-

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va a animar um nucleo poderoso de filosofia analitica e quealguns daqueles que viriam a estar entre os filosofos nor-te-americanos de maior prestigio, como Willard Quine(1908), Nelson Goodman (1906), Hilari Putnam (1926) ouWilfrid Sellars (1912-1989), estavam se formando a luz daanalise logica linguistica diretamente sob o magisterio dosfundadores do Circulo de Viena.

No entanto, as dificuldades tecnicas e conceiruais comque se depararam os promotores do empirismo logico, ali-adas as criticas de Karl Popper (1902-1992), bem assimcomo aquelas que seus proprios discipulos, especialmen-te Quine, dirigiam contra os "dogmas do empirismo", ou adura autocritica de Wittgenstein, logo fariam com que aspremissas epistemologicas do Circulo de Viena fossemabandonadas. Com efeito, foi flcando claro que a distincao"analitico/sintetica" era muito mais fragil do que se supu-nha, que os enunciados empiricos nao eram propriamente"resultados de observagoes", que a superagao da metafisi-ca nao podia ser obtida com base na doutrina do Circulo deViena e que o grande sonho de uma linguagem "ideal", va-lida para todas as ciencias, era inviavel.

Finalmente, as premissas epistemologicas do empiris-mo logico desmoronaram e a unica coisa que ficou, dessagrande aventura intelectual, foi o estimulo dado a enfase;

sobre a importancia da linguagem.

6. A preocupa^ao com a linguagem cotidiana

Vimos que Wittgenstein, com seu Tratado logico-filo-sofico, acalentou o sonho de falar uma linguagem idealque permitisse evitar as falacias a que nos leva a lingua-gem cotidiana. Com isso, ele estimulou o desenvolvimen-to de um importante ramo da filosofia analitica que conti-nua extraordinariamente ativa nos dias atuais, embora janao comparta os postulados iniciais do Circulo de Viena.

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O proprio Wittgenstein se desinteressou muito rapi-damente da possibilidade de construir uma linguagemideal e orientou sua reflexao para a linguagem comum,tentando compreender as regras a que ela obedece e aosusos a que satisfaz.

O livfo que reune suas reflexoes, publicado em 1952sob o tittilo'Investigacdesfilosoficas, estimulou o esforcorealizado por um grupo importante de filosofos, ligados,muitos deles, a Universidade de Oxford, para conseguirelucidar as caracteristicas da linguagem em seus usos cotidi-anos, Dessa maneira, Wittgenstein contribuiu tambem parao desenvolvimento de um segundo ramo da filosofia anali-tica que se expandiu na Inglaterra durante os anos 1950, aju-dando a acentuar a importancia que envolve tanto a lingua-gem quanto seu estudo no conjunto das ciencias sociais.

Os "fllosofos de Oxford", entre os quais se destacam,por exemplo, Gilbert Ryle (1900-1976), John Austin (1911-1960), Peter Strawson (1919) ouPaul Grice (1913-1988),concordavamplenamente com Bertrand Russell e com seuscolegas logicistas em Cambridge com rela?ao a um repu-dio total a tradi9ao cartesiana, e tambem a necessidade depassar de uma "filosofia da consciencia" para uma "filo-sofia da linguagem". Mas os pontos de coincidencia naoiam muito mais alem desse aspecto e eram intensas suasdivergencias sobre quase todo o resto.

Os filosofos de Oxford, por exemplo, opunham-se ri-gorosamente nao s6 ao positivismo e ao cientificismo queimpregnavam a corrente logicista, como tambem a preten-sao do logicismo de construir uma linguagem formalmenteinatacavel. Queriam estudar a linguagem nao para demons-trar suas imperfeicoes logicas e corrigi-las e sim, simples-mente, para entender seus mecanismos. Mas opunham-se,sobretudo, a pretensao de reduzir a linguagem a uma merafuncao de descricao e de representacap do mundo.

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Para eles, a riqueza da linguagem cotidiana ultrapassa-va, em muito, a fungao descritiva, e se diversificava emuma enorme variedade de usos e de funcoes tao importan-tes quanto a propria funcao descritivo-representacional.Nao se tern acesso, portanto, ao funcionamento jd.o pensa-mento humano, analisando tao-somente a estrutura logicasobre a qual se apoiam as linguas naturals e sim e necessa-rio contemplar todos os usos da linguagem se queremos en-tender tanto nossa forma de pensar quanto nossa forma deagir e a maneira como nos relacionamos com as pessoas.

Frege, Russell, o Wittgenstein do Tratado..., Carnap eos filosofos analiticos norte-americanos romperam com a,tradicao cartesiana, fazendo-nos perceber que a lingua-gem nao e um simples veiculo para expressar nossas ideias,nem uma simples roupagem para vestir nosso pensamentoquando o manifestamos publicamente. Ela e a propria conr

digao de nosso pensamento e, para entender esse ultimo,temos que nos concentrar nas caracteristicas da linguagemem vez de contemplar o suposto mundo interior de nos-sas ideias. Nosso conhecimento do mundo nao se radicajnas ideias que dele fazemos; ele se abriga, sim, nos enun-ciados que a linguagem nos permite construir para repre-sentar o mundo.

Os fllosofos de Oxford acentuaram ainda mais o afas-tamento da tradisao cartesiana, ensinando-nos que a lin-guagem faz muito mais do que representar o mundo por-que e basicamente um instrumento para "fazer coisas!'. Alinguagem nao so "faz pensamento" como tambem "fazrealidades".

Assim, por exemplo, John Austin mostraria que a lin-guagem tambem tern propriedades "performativas". Comefeito, certos enunciados constituem literalmente "atos delinguagem" a medida que sua enunciagao e inseparavel damodificacao ou da cria9ao de um estado de coisas que nao

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poderia surgir independentemente dessa enuncia9ao. Forexemplo, o "sim, quero" pronunciado no ato nupcial pro-prio de certos ritos e um elemento necessario para que oIa9o matrimonial seja instituido.

Dessa maneira Austin abriu caminho para o desenvol-vimento da "pragmatica", contribuindo para que o conjun-to das ciencias sociais e humanas se conscientizasse deque a linguagem e urn instrumento ativo na produpao demuitos dos fenomenos que essas ciencias pretendem ex-plorar e que, portanto, seria impossivel deixar de leva-laem considera9ao.

7. 0 impacto do giro Lingulstico nas cienciashumanas e sociais

Assim como o giro lingiiistico nao teve uma origemdefmida, mas foi-se articulando progressivamente, e as-sim tambem como nao se revestiu de uma unica modalida-de, mas foi adotando varias configura?6es, seu impactotampouco ocorreu simultaneamente nas varias ciencias so-ciais e humanas nem as afetou com a mesma intensidadee nem adotou uma expressao uniforme.

Distinguiremos, aqui, tres linfias principals de influen-cia: a) O impacto da linguisticYesuritural; b) O impacto dacorrente analitico-logicista; c) O impacto da corrente ana-litica centrada na linguagem cotidiana.

a) O impacto da linguistica estrutural - O sucesso ob-tido pelo estudo estruturalista da lingua nao demorou aatrair as demais ciencias humanas e sociais. Em poucosanos a linguistica moderna tinha conseguido se constituirem uma disciplina totalmente autonoma, com um objetode estudo proprio, claramente delimitado, dotada de al-guns conceitos claros e rigorosos, e equipada com umametodologia eflcaz, baseada em alguns procedimentos for-mais que asseguravam altos niveis de objetividade.

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Em suma, a linguistica de inspira?ao saussuriana apre-sentava essa imagem de cientificidade com que tanto so-nhavam as demais ciencias sociais e humanas. Foi assim^que, gradualmente, foi tomando corpo a convicgao de quea linguistica moderna era o modelo que todas as outrasciencias sociais e humanas deveriam tentar copiar, fos-se atraves do estabelecimento de analogias entre seusproprios objetos de estudo e as estruturas lingiiisticas,fosse aplicando os metodos da linguistica para investigaresses objetos.

Talvez a antropologia tenha sido a ciencia em que esseefeito mimetico se manifestou com maior nitidez. Com efei-to, a preocupacao com o fenomeno da linguagem nao eranenhuma novidade em uma antropologia em que os traba-Ihos de Edward Sapir (1884-1939) ou de Benjamin Whorf(1897-1941) ja tinham chamado atenfao sobre o papel quea lingua desempenha na constitui9ao de nossa visao domundo. Mas foram os trabalhos de Claude Levi-StraussTinascido em 1908, especialmente aqueles sobre a estrururados mitos, que estimularam uma grande parte da antropolo7

gia a buscar diretamente sua inspira^ao nos conceitos e nosmetodos da propria linguistica estrutural"

O prestigio alcangado pelas obras de Levi-Strauss ser-viu como um ampliflcador para a influencia exercida pelalinguistica moderna, contribuindo para o desenvolvimen-to de uma corrente de pensamento rigorosa que, sob a de-nominacao de "estruturalismo", durante mais de uma de-cada (de meados dos anos 1950 ate finais dos anos 1960)Jpercorreria as diversas ciencias sociais e humanas, com]incidencia especial no mundo de lingua francesaT

A poderosa critica antiesrruturalista desenvolvida porNoam Chomsky e sua reformula9ao do programa da lin-guistica em termos de "linguistica generativa", longe deatenuar a fascina9ao que a linguistica exercia sobre as cien-

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cias socials e humanas, a fortaleceu ainda mais, proporcio-nando novas metaforas e novas analogias que alcan9ariamespecial relevancia em disciplinas como a psicolinguisti-ca, ou em orientacoes como a psicologia cognitiva.

Paralelamente ao efeito mimetico produzido pelas lin-giiisticas estruturais e generativas, a importancia concedi-da a linguagem se alimentaria tambem de alguns dos de-senvolvimentos da fenomenologia, especialmente da fe-nomenologia heideggeriana. Segundo Martin Heidegger,(1889-1976) somos vitimas de uma traicoeira ilusao ego-centrica quando acreditamos ser donos de nossos discur-sos e quando consideramos a linguagem como simples ins-trumento que se encontra a nossa disposipao para ser mani-pulado a nossa vontade. Na verdade, e a propria linguagemque manda em nos, causando, modelando, constrangendo eprovocahdo nosso discurso, a tal ponto que bem se poderiadizer que e a linguagem que fala atraves de nos.

r Considera9oes desse tipo, somadas a influencia dopensamento estruturalista e a decadencia da filosofia daconsciencia, levariam parte dos pensadores da segundametade do seculo XX a decretar "a mortedo suieito". re-duzindo-o a um simples "efeito"da linguagem". Assim,por exemplo, Michel Foucault (1926-1984), em seu famo-sissimo texto sobre "A ordem do discurso", apontaria paraas conseqiiencias do poder que emana da linguagem e que

\captura seus usuarios em suas redes.

b) O impacto da corrente analitico-logicista — Res-ponsavel pelo inicio do "giro linguistico" na filosofia, essacorrente tem o merito fundamental de ter contribuido paraorientar o pensamento contemporaneo na direfao da pro-blematica da linguagem. Porem, curiosamente, e possiveltambem atribuir-lhe outro merito, que e resultado de seusproprios fracassos mais do que das vitorias que obteve. Naverdade, a malograda inten9ao de demonstrar a validade

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dos postulados neopositivistas teve como importante con-sequencia a de permitir certa "liberaliza^ao" das cienciashumanas e sociais. E facil entender o motive para isso: en-quanto perdurava a crenca na unicidade e na validade ab-soluta do "metodo cientifico" teorizado pelas varias vari-antes do positivismo, seria facil deslegitimar qualquer ten-tativa de realizar investigates nas ciencias humanas e so-ciais que nao se ativessem escrupulosamente as regrasestabelecidas pelo credo positivista. A demonstrada inde-fensabilidade desse credo abriu a porta para um pluralis-mo metodologico e teorico que permitiu um enriquecimen-to extraordinario das ciencias sociais e humanas como umtodo, atenuando a pressao exercida pelos fundamentalis-mos cientiilcos.

c) O impacto da corrente analitica centrada na lin-guagem cotidiana — Os fllosofos de Oxford nao so contri-buiram para que se desse mais enfase a aten9ao que sedeve dar ao fenomeno linguistico para que seja possivelcompreender o ser humano e suas produces, como tam-bem provocaram uma reviravolta radical no proprio con-ceito da linguagem, proporcionando um novo status as pro-du9oes linguisticas. Essa reformula9ao conceitual da natu-reza e das fun9oes da linguagem produziu efeitos impor-tantes e duradouros no campo das varias ciencias sociais ehumanas, estimulando-as para que modificassem drastica-mente muitos de seus projetos e de sua maneira de abordaros varies objetos de seus estudos.

Citarernos aqui quatro grandes linhas de influencia:

Emprimeiro lugar, a profunda critica que os fllosofosde Oxford flzeram a concep9ao puramente "representa-cional" e "designativa" da linguagem deu lugar a uma re-considera9ao radical da propria natureza do conhecimen-to, tanto cientifico como ordinario, e tambem a uma refor-

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mulacao darelagao entre conhecimento e realidade, finali-zando por redefinir o proprio conceito de realidade.

" O conjunto dessas reformulagoes contribuiupara o de-senvolvimento de uma importante corrente de pensamen-to que questionou muitas das certezas consideradas indis-cutiveis desde a epoca de Descartes e muito especialmentea certeza de que existiam bases solidas e firmes, e umafundamentagao ultima, sobre as quais se assentaria o co-nhecimento valido. A erosao dessa certeza deixou claro afragilidade dos esforgos para encontrar uma fundamenta-

<^| gao indubitavel, realizados durante seculos, e redirecio-pou o trabalho filosofico para outros assuntos.

De certa forma, seria possivel dizer que a critica oxfor-diana a concepgao "representacionalista" da linguagem seestendeu, atraves da relagao estabelecida entre conheci-mento e linguagem, as concepgoes representacionalistasdo proprio conhecimento e aos criterios de "a verdade"que as acompanhavam, permitindo a revitalizagao do le-gado pragmatista e o auge de uma filosofia neopragrnatis-ta, estimulada, entre outros, por filosofos da categoria deRichard Rorty (1931-).

Como as ciencias sociais e humanas nao sao imper-meaveis as contribuigoes feitas dentro da filosofia e muitoespecialmente dentro da filosofia do conhecimento e daepistemologia, e facilmente compreensivel que em todasessas ciencias tenham desaparecido algumas correntes quetentavam desenvolver suas investigacoes e seus projetosem consonancia com as formulagoes nao representacio-nalistas do conhecimento cientifico.

Em segundo lugar, e paralelamente a critica ao repre-sentacionalismo, a insistencia da escola de Oxford emconsiderar a linguagem em termos de "atividade" (a lin-guagem faz coisas em vez de apenas "representa-las") sem

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1. 0 "giro linguistico"

duvida contribuiu para o desenvolvimento das correntes"construcionistas" que surgiram e se consolidaram em va-rias ciencias sociais e humanas.

De certa maneira, e possivel dizer que as contribuigoesde John Austin com relagao ao carater "performativo" dedeterminadas produgoes lingiiisticas se estenderam, nestecaso tambem, ao conjunto da linguagem, plasmando-se naformula pela qual "dizer e, tambem e sempre, fazer". Alinguagem se instiruia assim como "constirutiva" das coi-sas, mais do que meramente "descritiva" delas, deixandode ser palavra acerca do mundo para passar a ser acao so-bre o mundo, A linguagem nao so nos diz como e o mun-do, ela tambem o institui; e nao se limita a refletir as coi-sas do mundo, tambem atua sobre elas, participando desua constituicao.

O auge da concepgao "ativa" da linguagem teve reper-cussoes importantes em disciplinas como, por exemplo, apsicologia social, onde investigadores como Kennet Ger-gen ou John Shotter estao, arualmente, estimulando umapoderosa corrente socioconstrucionista. ou onde MichaelBillig, Ian Parker ou Johnathan Potter, entre outros, estaodesenvolvendo o prolifico campo da "analise do discur-so". A psicologia evolutiva ou a psicologia clinica nao fi-caram alheias a esse movimento construcionista e discur-sivo, e o mesmo ocorreu no caso da antropologia, da histo-ria ou da sociologia para citar apenas algumas das discipli-nas que fazem parte das ciencias sociais e humanas.

Poderiamos apresentar uma infinidade de exemplospara ilustrar o impacto que essa nova concepcao da lingua-gem teve nas formulagoes mais atuais das varias cienciassociais e humanas, mas nos limitaremos a assinalar a pro-funda renovagao por que passou, por exemplo, o estudo daidentidade ou do "self, pela mao de autores como CharlesTaylor (1931-), entre outros.

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Para Taylor, nossa identidade esta fundamentalmen-te determinada pela linguagem que utilizamos para refe-rir-nos a nos mesmos e para forjar nosso "autoconceito".Nao existe uma realidade subjacente, um "eu" profundo epessoal, suscetivel de ser descrito de varias maneiras, recor-rendo a vocabularies distintos e a distintas expressoes lin-guisticas: o que sim existe e o proprio vocabulario que utili-20 para me descrever a mim mesmo e as expressoes linguis-ticas as quais recorro para faze-lo sao constituintes e consti-tutivas de minha forma de ser; elas nao explicitam ou expli-cam minha maneira de ser, pelo contrario, a conformam.

Em outras palavras, o meu "eu" nao e independente decomo o vivencio quando o interpreto linguisticamente; aocontrario, ele e resultado dessa interpretasao. Outra formade "me dizer" a mim mesmo implica uma outra concepsaode mim mesmo, e isso e importante porque ocorre que mi-nha conceppao de mim mesmo e constitutiva daquilo quesou. Isso tern repercussoes importantes, tanto para a con-ducao de investigacoes sobre a identidade, como para de-finir essa realidade substantiva que e a identidade.

Em terceiro lugar, cabe ressaltar que, tanto quanto"acao sobre o mundo", a linguagem e tambem, e conse-quentemente, "a?ao sobre os demais", chegando, inclusi-ve, a constituir um dos principals instrumentos ao que re-corremos para incidir, com maior ou menor exito segun-do as circunstEincias, sobre nossos semelhantes. Levar emconsideracao essa propriedade da linguagem contribuiupara renovar o interesse que Aristoteles ja tinha demons-trado pela retorica, bem assim como para avivar a sensibi-lidade com relagao aos efeitos sociopoliticos e psicolo-gicos que emanam das varias praticas discursivas, dandouma atengao especial, por exemplo, as constni9oes lin-giiisticas "sexistas", "racistas" ou que estigmatizem de ummodo geral.

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O renovado interesse pela analise daqueles procedi-mentos retoricos em que se apoiain as diversas producoesdiscursivas, inclusive o discurso cientifico, permitiu de-monstrar, nao so as estrategias argumentativas propriasdos varios tipos de discurso e os efeitos poderosos que seocultam na estrutura discursiva, como tambem os artiflciosretoricos que sao usados para criar realidades diversas.

A sociologia do conhecimento cientifico, por exem-plo, renovou os estudos da ciencia, recorrendo, com Bru-no Latour entre outros, a analises desse tipp,'para expli-car o papel, nada desdenhavel, que desempefiham os pro-cedimentos retoricos na constitm^ao dos proprios "fa-tos" cientificos.

Finalmente, em quarto lugar, ocorre que, se a lingua-gem e constitutiva de realidades e e um instrumento paraatuarmos sobre o mundo, inclusive sobre nossos semelhan-tes, devemos esperar que ela incida tambem sobre a confor-ma^ao e o desenvolvimento das rela?6es sociais e das prati-cas sociais. Correntes amplas e interessantes da sociologiaforam particularmente sensiveis a esse fato, desde a etno-metodologia, com suas analises minuciosas das conversascotidianas, ate as sociologias qualitativa e interpretativa.

Em suma, no final do seculo XX e comego do seculoXXI, a diversidade e a riqueza das perspectivas nascidastanto do enfoque sobre a linguagem quanto, e sobretudo,da nova compreensao que temos dela, sao, no minimo, im-pressionantes: narratividade, dialogismo, hermeneutica, cons-tru^ao, analise conversacional, analise do discurso, anali-se retorica, etc.

Pouco a pouco, a linguagem foi se tornando um feno-meno que nenhuma das ciencias sociais e humanas podeevitar quando empreende o tratamento de seus objetos es-pecificos. Mas, alem disso, a linguagem aparece tambem

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como um elemento que todas as ciencias humanas e sociaistern que interrogar para estabelecer seu proprio status epis-temologico e para forjar urn entendimento de si mesmas.

8. Perspectives para o amanha

Ja iniciado o seculo XXI, devemos nos perguntar se o"giro linguistico" com o qual teve come90 o seculo passa-do nos reservara alguma surpresa e se as primeiras deca-das do novo seculo acentuarao ainda mais a centralida-de da linguagem ou se, ao contrario, o "giro linguistico"conhecera um periodo de refluxo, sendo substituido pelaemergencia de algum giro novo.

Como nao dispomos, obviamente, de nenhuma bola decristal ilusoria, as reflexoes a seguir devem ser considera-das apenas como conjecturas, timidas e inseguras, que po-derao ser desmentidas pouco tempo depois de terem sidoenunciadas. Mas, enfim, hoje sabemos que nada e seguronem definitive. Nem mesmo o passado esta escrito parasempre, porque, como muito bem observou Dante, para es-creve-lo com seguran9a tambem teriamos que conhecertodo o future. Portanto, podemos apenas arriscar-nos amanifestar algumas consideracoes, que por simples pru-dencia, reduziremos a duas e que indicam a possibilidadede um giro "pos-linguistico".

Em primeiro lugar, os desenvolvimentos extraordina-rios daquilo que alguns chamam de "a nova fisica" mos-tram que nossa linguagem e um instrumento muito gros-seiro para abarcar toda a realidade que somos capazes deconstruir. Com efeito, nos, os seres humanos, formamosnossos idiomas com base em uma determinada "relacaocom o mundo". Essa "relacao com o mundo" estabeleceum espa9o tridimensional habitado por uma variedade de"objetos" cujas propriedades se defmem com base em nos-sos mecanismos sensoriais e perceptivos ampliados por

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1. 0 "giro linguistico"

nossas capacidades de analise, abstra9ao e generaliza9ao.Nesse mundo, o tempo e o espaco constituem realidadesdivididas que correm por leitos separados. Nossos movif*mentos, gestos e agoes sobre essa realidade, que e como eporque nos somos como somos, foi forjando nossos con-ceitos e a estrutura logico-linguistica que os constitui. De-finitivamente, nossa linguagem nasce de uma relacao como mundo feita a medida de nosso corpo e de suas caracte,-risticas e a ela retoma. Por isso temos a ilusao de que ela.descreve o mundo "tal como e"?

Mas as atividades intelectivas do ser hurnano nao seconformaram em explorar o mundo estabelecido apenasatraves de seus mecanismos sensoriais/perceptivos e desuas arua9oes praticas, e se estenderam para fora do mun-do e alem da "escala humana" ate o macrocosmo e ate omicrocosmo. Ambitos esses onde a realidade ja nao podeser construida com base em uma linguagem "natural" sur-gida de coordenadas mesocosmicas, ou seja, a escala docorpo humano.

O resultado disso e que certas constni9oes intelectivas,tais como, por exemplo, a mecanica quantica e, mais pre-cisamente, "a teoria dos campos quanticos" desenham ummundo totahnente obscuro para nossa linguagem e, por-tanto, para nossa arquitetura conceitual.

Trata-se de um mundo onde, por exemplo, "os obje-tos" se convertem em "propriedades dos objetos" (um cor-pusculo pode se transforrnar em puro movimento) e onde aspropriedades dos objetos podem se transforrnar em outrosobjetos (a energia pode se converter em um corpusculo).

No mundo quantico encontratnos objetos que nao es-tao localizados com precisao em nenhum segmento espa-9O-temporal definido, mas que tampouco podem ser con-ceirualizados como ondas porque nao ha nenhum meio emque se propaguem. Isso significa que e nosso proprio con-

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Tomds Ibdnez Gratia 1. 0 "giro lingiiistico"

ceito de objeto que deixa de ter sentido para designar ou^ pensar as entidades que projetamos no universo quantico.

E, apesar disso, essas entidades existem efetivamente, namedida em que podemos operar com elas e sobre elas, eem que elas produzem efeitos praticos que nossas tecnolo-gias utilizam cada vez mais.

Encontramo-nos, assim, diante de entidades que naose deixam "dizer" atraves de nossa linguagem e quando asestudamos temos que transcender nossas categorias lin-giiisticas para poder produzir resultados cientificamentevaliosos e com utilidade pratica. E mais, essas entidadesse constroem como produto de expressoes matematicascomplexas e sao, por assim dizer, a conclusao sobre a qualdesemboca urn puro formalismo matematico.

A realidade subatomica parece ser outra realidade quenossa linguagem nao e capaz de descrever ou de construir.

O giro lingiiistico mostrou claramente o papel que alinguagem desempenha na formagao daquilo que chama-mos de "a realidade"; mas, se construimos certas realida-des (por exemplo, a realidade quantica) usando procedi-mentos que escapam do ambito que a linguagem e capazde abranger, parece que deveriamos abandonar a famosaexpressao de Wittgenstein segundo a qual "os limites daminha linguagem sao os limites de meu mundo".

Esse fato pode possibilitar a emergencia de urn neopi-tagorismo (a crenga na realidade fatica dos numeros, dasexpressoes matematicas e na qual a realidade e, em ultimainstancia, numerologica), permitindo um "giro platonico"que volte a situar o mundo das "ideias" em um lugar privi-legiado, arruinando o esforgo para acabar com esse privile-gio que o "giro linguistico" representou.

Em segundo lugar, parece que a insistencia com a qualSchopenhauer (1788-1860) e, depois dele, Nietzsche (1844-

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1900), deram enfase a importancia do corpo, de nosso cor-po, para o desenvolvimento de nosso pensamento, esta re-cuperando sua importancia. "Minnas ideias melhores", di-zia Nietzsche, "surgem quando caminho". O "giro linguis-tico" contribuiu para o sucesso da afirmagao segundo aqual nosso "ser no mundo" descansa sobre uma dimensaohermeneutica inevitavel. A interpretacao e formativa da7

quilo que somos e nao podemos chegar a ser independen-temente de nossa atividade interpretativa. Essa afirmagao.parece razoavel, mas o giro linguistico" privilegiou o pa-pel que a linguagem desempenha na dinamica da interpre-tacao, enfatizando a centralidade das praticas discursivasno processo hermeneutico.

No entanto, tambem construimos um sentido^iefaveL,tambem nosso corpo opera como gerador de significadosque nao se deixam prender no interior do codigo linguisti-co ou, no minimo, cabe considerar que o que nosso corpovivencia orienta algumas de nossas interpretagoes. Nao sotemos que expandir o campo da hermeneutica para o espa-90 das praticas "nao discursivas" como tambem contem-plar a corporificacao das praticas discursivas.

O redescobrimento da^qrporeidade pelo pensamentodo fim do seculo pode contribuir para possibilitar um novo"naturalismo" que diminua a importancia que o seculo XXconcedeu a linguagem.'

-Essas consideracoes/sobre 'um possivel esgotamento

do "giro hngiistico'^Sevem ser consideradas como umasimples(digressao)que, paradoxalmente, pretende ser iielao esfor?o que o "giro linguistico" acarretou. Aquelesque captaram um dos argumentos basicos dessa parte dar

disciplina sabem que, para que o "giro linguistico" pu-desse surgir, foi necessario um enorme esforgo de ima-ginagao que rompesse com as evidencias herdadas e com,as amarras do pensamento dominante, Para criar o "giro

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linguistico" foi precise pensar contra a corrente, e seusprotagonistas tiveram que "esquecer" uma parte subs-tantial das ideias que tinham nutrido e configurado seuproprio pensamento.

Ja que somos "filhos do seculo XX", temos que tentarpensar contra a corrente do giro linguistico que impregnouo pensamento de nosso seculo. Essa e a condicao para naosermos identicos aqueles que defendiam com toda a naru-ralidade "o mundo das ideias" no mesmo momento emque se comegava a gerar esse "giro lingiiistico" que esgo-taria esse mesmo mundo das ideias.

Sintese

Este capitulo nos ensina como o "giro linguistico" rom-pe, em seus primordios, com uma tradigao secular centra-da no estudo do "mundo das ideias", mundo interior e pri-vado, e orienta a obra filosoficapara o estudo dos enuncia-dosjinguisticos. Isso significa uma profunda modificagaoem nossa concepcao da linguagem, pois essa deixa de serconsiderada como um simples meio para traduzir ou ex-pressar, de melhor ou pior forma, nossas ideias, para ser,considerada um instrumento para exercitar nosso pensa-mento e constituir nossas ideias.

A linguagem e a propria condigao de nosso pensamen-,to, ao mesmo tempo em que e um meio para representar arealidade. O "giro linguistico", portanto, substitui are-lagao "ideias/mundo" pela relagao "linguagem/mundo" e.afirma que para entender tanto a estrutura de nosso pensa-mento quanto o conhecimento que temos do mundo e pre-ferivel olhar para a estrutura logica de nossos discursos emvez de esquadrinhar as interioridades de nossa mente.

Mas este capitulo nos ensina tambem que o "giro lin-guistico" possibilitou, no transcurso de seu proprio"1

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1. 0 "giro linguistico"

volvimento, uma segunda modificagao de nossa conceptgao da linguagem. Essa deixou de ser vista como um meio^para representar a realidade e passou a ser considerada uminstrumento "para fazer coisas". Junto com suas funcoes"descritivo/representacionais" a linguagem iria adquirir,portanto, um carater "produtivo" e se apresentava como,um elemento "formativo de realidades".

O capitulo tenta ilustrar quais foram as varias influen-cias que essas novas concepgoes sobre a natureza da lin-guagem tiveram sobre as concepgoes do conhecimento eda realidade, como tambem, em um piano niais especifico,sobre as orientagoes e os objetos de estudo das varias cien-cias sociais e humanas.

Glossario

Atos de linguagem: expressao cunhada por J.L. Austinpara se referir as expressoes linguisticas que devem serenunciadas explicitamente para que uma realidade de-terminada possa se configurar. Por exemplo, a expres-sao "sim, quero" deve ser pronunciada em determina-dos rituais para que o matrimonio seja estabelecido.

Performatividade: propriedade que determinados enuncia-dos lingiiisticos tern de afetar a construgao de realida-des. Em determinadas concepgoes da linguagem, essapropriedade, inicialmente limitada a um tipo de expres-soes linguisticas, passa a ser considerada generalizavela linguagem como um ttJdo.

Pragmatica: parte da linguistica que se dedica ao estudodos usos da linguagem comum e leva em consideragaotanto os contextos como os efeitos, nao diretamente lin-giiisticos, que envolvem praticas discursivas concretasou que delas resultem.

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Tomds Ibanez Gratia 1. 0 "giro lingiiistico"

Proposicdo: expressao lingiiistica convenientemente for-malizada de acordo com os procedimentos da logicamoderaa para que se possa estabelecer seu "valor deverdade".

Representacionismo: doutrina filosofica que postula umarelagao de correspondencia entre o conhecimento e arealidade que vai mais alem da simples utilidade praticado conhecimento para operar sobre a realidade. Nessadoutrina, sup5e-se que o conhecimento valido represen-ta fielmente a realidade e que e possivel demonstrar acorrespondencia entre conhecimento e realidade.

Bibliografia

AUSTIN, J.L. (1962). Como hacer cosas con palabras.Barcelona: Paidos, 1998.

BRUNER, J. (1990). Actos designificado. Madri: Alianza[1991].

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FOUCAULT, M. (1970). El orden del discurso. Barcelona:Tusquets [1973].

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RORTY, R. (1967). El giro lingiiistico. Barcelona: Pai-dos/ICEUAB[1990].

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Leituras complemeritares

BRUNER, J. (1991). Actos designificado. Madri: Alianza.

Escrito por um dos mais eminentes psicologos contempo-raneos, esse livro e uma esplendida ilustrasao do girolinguistico no ambito da psicologia.

DOMENECH, M. & TIRADO, FJ. (1998). Sociologia si-metrica-Ensayos sobre ciencia, tecnologia y sociedad.Barcelona: Gedisa.

Trata-se de uma recopilafao de textos germinais alem deseis desdobramentos da sociologia do conhecimento cien-tifico.

FOUCAULT, M. (1970). El orden del discurso. Barcelo-na: Tusquets.

Esse texto de Michel Foucault foi o discurso inaugural quefez quando foi nomeado professor no College de Fran-ce. Nele pode-se apreciar a importancia das relacoes depoder para a constru9ao de nossas praticas discursivas.

ORTOLIS, S. & PHARABAD, J.P. (1997). El cantico dela cudntica. Barcelona: Gedisa.

Uma obra de divulgapao, muito util para conhecer os de-senvolvimentos e implicacoes da fisica quantica.

RORTY, R. (1983). Lafilosofiay el espejo de la naturale-za. Madri: Catedra.

Esse livro, celebrado como um grande acontecimento nomomento de sua publicacao, constitui uma das analisesmais incisivas sobre os efeitos que o cartesianismo teveem nossa concepgao do ser humano e do conhecimento.

Como e um livro bastante denso, nao estamos sugerindoque seja lido em sua integridade, mas e recomendavelque o proprio leitor selecione alguns capitulos e reflitasobre seu conteudo.

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