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    Uma biografia de Charles W. Hiang

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    WatchmanNee

    Hornern de Deus

    CharlesW. HiangTraduzido por Edson Tanaka

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    Natchman Nee

    Dedico este liuro a doisde meus casais favoritos:

    Paul e Patti Pauley, cuja amizade e amortem. significado muito para

    minha esposa, Joyce, e para mim.

    Ray e Charlotte Cunningham,meus "parentes por ajinidade" e conjidentes,

    cuja paixao pelas missoes estrangeirasme inspiraram a conduir este projeto.

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    PrefacioA s ideias e os conceitos deWatchman Nee

    acerca do viver cristao podem produzir no leitor rea-coes das mais diversas. E praticamente impossivelmanter uma postura distante ou indiferente diantede suas colocacoes. Mas, talvez, 0 que mais impres-sione nao seja propriamente sua mensagern, aomes-motempo profunda e simples, mas a coerencia segun-do a qual ele vivia 0 que pregava. Os vinte anos emque passou encarcerado constituem uma prova cabaldessa coerencia, Watchman Neemorreu por sua fe.

    Chega a ser irresistivel fazer urn rapido parale-loentre as trajet6rias deWatchman e ados ap6stolos,especialmente Paulo (a quem ele citava constante-mente): culto, estudioso profundo da Palavra, evange-lista e, principalmente, urn cristae extremamentepreocupado com a saude espiritual das igrejas. AssimcomoPaulo demonstrava seu zelopara com as igrejasprimitivas, Watchman procedia da mesma maneiraem relacao a igreja incipiente na China paga (e,poste-riormente, ateista). Seja em seu exiliovoluntario naEuropa, ou lutando contra doencas que consumiamsuas energias (mas nunca sua fe), ou ate mesmodurante a feroz perseguicao comunista, Watchmansempre teve emmente 0alimento espiritual dos con-vertidos. Escrevia, discipulava, pregava, traduzia seustextos para que crentes de outras nacoes tambempudessem ter acesso ao alimento. Assim comoPaulo,Watchman tambem foitraido por amigos, abandona-do, considerado anatema e sofreu perdas sertas.Enfrentou acusacoes injustas, fabricadas, terminou

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    Watchman Nee Pretaclo

    encarcerado, torturado, mas jamais deixou que ascircunstancias afetassem sua determinacao. Tantoassim que, tal como Paulo, acabou levando seu pro-prio carcereiro a Cristo.o modo pelo qual Watchman Nee afetava aspessoas ao seu redor, direta ou indiretamente, sejapor suas ideias seja por seu testemunho pessoal, con-tinua influindo na vida daqueles que tern acesso aseu legado. Eu me inc1uoentre eles, pois 0pnvtlegtode poder traduzir essa obra, que presta uma homena-gem aos trinta anos de sua morte, foi, antes de maisnada, urn presente dos ceus, Watchman amava seusirmaos, mas nao era denominacionalista; amava seusconterraneos, mas nao era nacionalista. Aunicidadesegundo a qual encarava 0 povo de Deus refletia-seem suas atitudes, mesmo durante os conflitos arma-dos de seu pais na guerra sino-japonesa. Como des-cendente de japoneses que sou, seu testemunho epostura me sensibilizaram profundamente.

    Asimplicidade de sua fetraduzia-se no desejosincero de seguir os padroes biblicos ao pe da letra.Ele nada mais desejava a nao ser isto: coerencia noviver cristae de acordo com as Escrituras. Para n6s,que vivemos em paises ocidentais onde a liberdadede expressao e de culto constituem uma expressaoquase literal da Era da Graca, parece-me necessariourn espirito sensivel ao toque por vezes suave, porvezes incisivo, de seu pensamento coerente. Por variasvezes, durante 0trabalho de traducao, senti-me comodiante de urn relato extraido do livro de Atos, ou deurn dos sermoes de Paulo. Watchman Neenao tinhamedo de abordar assuntos delicados, com respeito aposturas que os cnstaos (de urn modo geral) adotampor comodismo, tradicao, ou por uma mterpretacaosuperficial das Escrituras. Tambern nao tinha medode se expor, de enfrentar os questionamentos ourepresalias causados por suas atitudes ou posicoes.E, como voce ha de constatar ao longo da leitura,

    Deus nao apenas aprovou, mas usou a dtspostcaode Seu servo para espalhar 0evangelho entre os chi-neses das formas mais inesperadas.

    Por todas essas coisas, reafirmo ter sido urnpresente a traducao deste livro.Espero que, tal comoeu, voce seja estimulado a refletir sobre aspectosimportantes dovivenciamento biblico, especialmentehoje, quando encaramos urn mundo cada vez maisglobalizado. Convido-o a proceder como WatchmanNee, urn homem simples, aberto as licoes de Deus,que, talcomon6s, enfrentou lutas e questionamentospessoais, mas que, sobretudo, recusou-se a lidar coma Bibliadeuma forma simplesmente intelectualizada.Ele nada via de errado em examinar cada aspectobiblico sob 0microsc6pio da racionalidade, mas, poroutro lado, tratava deviver irrestritamente a verdadeaprendida, sem esconder-se por tras de sofismas ou"interpretacoes ajustadas a nossa epoca". Ele foi econtinua sendo, atraves de seu legado surpreendente-mente atual (0 que confirma sua qualidade de apos-tolo), urn homem sincero e notavelmente coerente!Que Deus abencoe sua vida e amplie seus horizontesatraves do testemunho desse admiravel Her6i da Fe.

    Edson Tanaka

    (NE.:Edson Tanaka e tradutor, engenheiro eletr6nico pelaUFRJ, designer graJico e analista de mtcroinforrnatica,autor de varias obras na area de cornputacao graJica ernultirnidia pela Editora Campus. Vive com a familia noRiode Janeiro e e , sobretudo, urn hornern de Deus.)

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    Watchman Nee

    Pr6/ogoNada Cala 0TestemunhoN o verao de 1966, a mesma epoca em queosBeatles gravavam "Sergeant Pepper" em seus estu-dios londrinos e Martin Luther King Jr. marchavapelas ruas de Chicago, a figura esqualida de urn pas-tor chines jazia encolhida no chao infestado de ratosde sua cela de 1,35 x 2,85 m. Localizada nos subur-bios de Shanghai, essa enorme e hedionda prisao,outrora, Britanica, havia sido rebatizada comoPrimei-ro Centro de Detencao, por seus mais recentes pro-prietarios. 0Exercito Vermelho da Republica Popularda China. Talvez fosse mais apropriado chama-la de"Ultimo Centro".

    Ap6s catorze anos de confinamento, 0 prisio-neiro havia feito as pazes com seu sofrimento. Naoobstante, 0espancamento da ultima noite fora prova-velmente 0mais cruel ate entao, Instigada ate a loucu-ra pelo discurso hostil proferido pelo Presidente Mao~mPequim, a Revolucao Comunista explodiu no paissitiado. Recrutas do Exercito Vermelho derrubaramosportoes da anttga prisao de Shanghai, procurando'contra-revolucionarios" para persegui-los com vio-lencia. Foi quando encontraram Watchman Nee.Enaquelas condicoes, com 0braco direito pra-ticamente despedacado e torcido num angulo insu-portavel, 0 prisioneiro esforcou-se desajeitadamentepara erguer-se dochao e deitar-se no catre. Sua respi-racao estava entrecortada, 0coracao, debilitado mar-telando no peito. Com mais de urn metro e oitenta erazoavelmente saudavel na epoca de sua detencao,ele agora pesava menos que trinta e sete quilos. Num

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    Watchman Nee Proloqo - Nada Gala 0Testemunho

    acesso de tosse, acidentalmente bateu 0 brace fra-turado contra a parede. A dor aguda crispou todo 0lado direito de seu corpo. Os olhos involuntariamenteencheram-se de lagnmas: ele ergueu 0 tronco sobreobrace born e comosdentes trincados dedor... sorriu!

    "Poderiater sido pior",pensou. "Aindanao sofria ponto de me esvair em sangue", ele mencionou 0ap6stolo Paulo. "Eainda ha a cancao. Sempre haveraa cancao."

    Enquanto 0soldelineava 0horizonte deShan-gal seus ultimos vestigios de luz, uma voz fervorosa,debaritono, desafiando seu instrumento ja bern dani-ficado, ecoou durante a ronda noturna pelo pavilhaode celas, atenuando 0 desespero dos internos solita-rios e chegando a mesa quebrada do guarda infeliz.Apenas mais umas poucas milhas, amado ...E em breve veras que a dor em teus pes ji passou;Nao mais sofrimento, nao mais pecado;Acalma-te, este caminho Jesus ja trilhou ...

    "Tenhomedo de que 0 senhor estejamorrendo.""Nao,meu jovern amigo. Sou excessivamente

    teimoso para morrer. E, alern disso, Ele nao me deixa-ra ir para casa ate que voce creta."

    "Maseu creio.Eu creio que 0senhor e 0melhorhomem que ja conheci na vida."

    "Entao voce esta multo distante de crer, caroChu-yen. Quando tiver encontrado a Cristo, voce sa-bera que eu sou 0pior homem que euja conheci."

    "Essa conversa me assusta ainda mais quesua morte. Minha pobre esposa me implora para igno-ra-lo. Se eu seguir seu Cristo, acabarei dolado erradodesta porta, e ela ficara sozinha."

    "SemCristo, ela ja esta sozinha.""Pastor, suas palavras sao como martelos em

    minha cabeca, 0 que devo fazer para ser salvo?""Meuamado Wong, suas perguntas sao sem-

    pre surpreendentes!" Erguendo a face cadaverica, po-rem radiante, para 0carcereiro, Watchman Nee can-tou suavemente:

    E como ele prosseguisse por todas as noitesseguintes, 0guarda de uniforme marrom esgueirou-se protegido pelas sombras, percorreu a escuridaocom seus olhos remelentos e agachou-se ao lado daporta mais pr6xima a cancao,

    "Pedes ouvi-Lo sussurrar docemente?Tua jornada acaba de comecar ..."

    E eu 0 ouco docemente a sussurrar,"Nao desfalecas, nao ternas, continua avancando;Pois amanha tudo hi de terminar;A longa jornada estara findando."

    Tal como Sansao matou mais inimigos no atodesua morte doque 0fizeraemvida, assimWatchmanNeelevou mais vidas para Cristo a partir da obscurt-dade de sua cela na prisao do que 0 flzera em liber-dade. Seu encarceramento pelo crime de ser urn cris-tao arrebatou a imagtnacao de toda a cristandadeocidental. Desse modo, enquanto seus captores co-munistas ordenavam que sua correspondericia fossecensurada e que ele nao tivesse permissao de atemesmo mencionar 0 nome de Deus em suas cartas,uma quantidade incalculavel de livros contendo seusserrnoes e seus escritos cornecava a circular por todaa Inglaterra e pelos Estados Unidos. Na epoca e~que a sentenca de quinze anos expirou e as auton-dades a prorrogaram por mais cinco a sete anos pelo

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    IAp6s urn tempo de silencio, 0 carcereiro sus-surrou: "Pastor Nee, Pastor Nee, 0senhor esta ai?""Suas perguntas sao sempre surpreendentes,Wong Chu -yen, Sim, eu estou aqui.""Pastor Nee, sua cancao me assusta. Nunca aouvt antes.""Eununca a canteiantes. Porqueela0assusta?"

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    Watchman Nee

    fato de ele se recusar a negar sua fe, "Watchman Nee"havia se tornado urn nome familiar nos lares cristaosem toda parte.

    Seu desafio silencioso e sua dlficil situacao,aparentemente sem esperancas, ajudaram a abas-tecer as chamas do extraordinario Movimento Jesusque varreu a nacao americana de costa a costa nofinal da decada de 60 e inicio da decada de 70. En-quanta esses fatos eram, em sua maior parte, desco-nhecidos pelo humilde pastor, seu nome tornou-seuma pedra de toque para os crentes amcricanos quese angustiavam por seus irmaos e irmas em Cristo,debilitados em prisoes chinesas.

    Tanto sua causa quanto sua pessoa tornaram-se legendarias para aqueles cristaos que tentavamnao considerar sua propria liberdade comogarantida.Espalhararn-se rumores de que seus captores 0haviam cegado por ele ter conduzido os guard as daprisao pelos caminhos da feemCristo. Contudo, maisde seus sermoes foram publicados desde entao. Tem-pos depois, correram boatos de que os comunistashaviam cortado sua lingua - mas, ainda assim, maisde seus livros surgiram nomercado. Finalmente, con-forme foi dito, eles amputaram suas maos - 0 queapenas aumentou a quantidade de seus escritos pas-sando de mao em mao entre os que se encontravamfora da prisao de Shanghai. Embora algumas dashtstorias fossem exageradas, elas mostravam aprofunda preocupacao dos companheiros cristaosacerca da feroz e real perseguicao a Watchman Nee.

    Seu cativeiro tornou-o maior que a vida e, ateho]e, nenhum cristao chines exerceu maior impactosobre as vidas dos crentes que buscam permanecerfieis nos Estados Unidos. Qual a verdadeira histortadeWatchman Nee?Voceesta prestes a descobri-la e,amedida que 0 fizer,sua feem Cristo podera tornar-se ainda mais forte.

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    Capitulo 1A Sabedoria do Silencio

    Certa vez, depois de maldosamente critica-do por colegas mvejosos, outros amlgos, solidarios,indagaram a Watchman Nee por que ele nunca sedefendia. 0elegante ejovem professor, com seu per-manente sorriso, respondeu: "Irmaos, se as pessoasconfiam em n6s, nao ha necessidade de explicar; seas pessoas nao confiam em n6s, de nada adiantaraoexplicacoes". Num pais conhecido por seus sabios eeruditos, Watchman Nee era, talvez, 0 mais sabiodeles. Mas sua sabedoria vinha de uma fonte inco-mum para urn homem religiose na China: a Bibliacrista. Numa terra dominada pelas supersticoes doBudismo e pelos ensinamentos eticos de Confucio, 0filhode Weng-hsiu Nee tomou uma resoluta decisaopor Jesus Cristo,Calvin Chao, 0excepcional pastor chines, dis-se ser necessario urn "crente de terceira geracao" paratransmitir a palavra com a profundidade e 0 discer-nimento dos grandes escritores cristaos atraves daseras. Watchman Neeera urn cristae de terceira gera-cao, fato esse que se destaca de todos os demais,pois embora nao tivesse nascido ate 0 seculo vtnte,ele era urn dos primeiros "crentes de terceira geracao"da China. Arazao para isso e tao interessante quantotragica.Noultimo dia de sua vidafisica na terra, Jesusordenou a Seus discipulos que se espalhassem pelomundo e pregassem 0 evangelho, fazendo discipulosonde quer que fossem. Aparentemente aqueles que

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    Watchman Nee Capitulo 1 - A Sabedor ia do Silencioestavam rumando para 0 ocidente ouviram melhorSuas palavras. Eles saturaram a regtao rnediterraneacom as Boas Novas. de Cristo nos cinquenta anosap6s 0 Pentecostes. A Europa estava coberta peloevangelho no inicio do terceiro seculo. Mas estacoupor mais de mil anos.

    Se a Igreja primitiva tivesse obedecido a Jesuse feitourn desvio para a direita, rumo a Antioquia daSiria (enao apenas na direcao de Roma),certamentea hist6ria da atual China Comunista teria sido outra.Se alguns dos primeiros ap6stolos tivessem pregadopelas ruas de Pequim com 0mesmo fervor evangelis-tico que demonstraram por todo 0 Imperio Romano,talvez hoje a China fosse conhecida comouma nacaocrista. Mas na epoca em que osmonges franciscanoschegaram, no seculo treze, com seus estigmas ociden-tais de cristandade, 0 povo chines estava profunda-mente enredado em supersticoes e legalismos.

    It tragtco observar que por mil e oitocentosanos ap6s Jesus ter morrido pelos pecados domundo,o pais mais populoso doplaneta nunca tenha ouvidode fato as Boas Novas. Entao, em 1839, na epoca donascimento do avo de Watchman Nee, a Inglaterradeclarou guerra a China. Ap6s ostres anos da Guerrado Oplo, a China foi derrotada e forcada a abrir rela-coes diplomaticas com 0Ocidente. Os navios mercan-tes que entregavam 6pio e procuravam seda prove-niente das cidades costeiras doExtremoLeste traziamtambem dedicados rnissionarios protestantes daAme-rica e Gra-Bretanha.Os Congregacionalistas da American Boardescolheram 0 porto de Foochow, uma antiga cidadeda fronteira sudeste da China. La, em 1853, eles fun-daram sua primeira escola misslonarla e ensinaramas criancas 0 grande amor de Deus. Urn garoto decatorze anos chamado NeeV-cheng creu na mensa-gem e aceitou a Jesus Cristo emseu coracao naqueleverao. Ao ser batizado mais tarde num rio pr6ximo, 0

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    Min, a familia de Nee, que por centenas de anos foraescrava de uma reltgiao paga, estava finalmenteliberta.V-cheng tinha 0 dom para a evangeltzacao,que os rnissionarios americanos trataram deencoraja-10 a desenvolver. Podemos apenas imagtnar as expe-riencias que ele e seus amtgos da escola missionariaviveram, quando tomaram as ruas de Foochow a fimde pregar 0evangelho. Ele foi0primeiro evangelistachines a ser visto na cidade de meio mllhao de nao-crtstaos. Pregador altamente eficaz,NeeV-cheng tam-bern foi0primeiro pastor ordenado naquela parte doplaneta.Ao attngir idade suficiente para casar-se, V-cheng viveu urn dilema. Havia poucas mocas cristasna cidade (enenhuma pela qual se interessasse!), eera considerado urn tabu social casar-se com alguemde fora da provincia. Mas V-cheng confiou emCristoe, pouco tempo depois, foram feitos os preparativospara 0 casamento com uma jovemmulher crista pro-veniente deKwangtung, quase oitocentos quilometrosdistante. Sua escolha por essa jovern cantonesa foiuma das quais ele nunca se arrependeu.

    V-cheng e sua esposa foram abencoados comnove mhos. 0 quarto deles, NeeWeng-shiu, nasceuem 1877. Sendo mho de pastor, ele foi educado noestilo ocidental das escolas cristas e por fim estudouno American Methodist College em Foochow. Weng-shiu mostrou-se urn dos estudantes mais brilhantesde sua classe e foi agraciado com 0posta de inspetorde alfandega do estado.Enquanto isso, em 1880, nascia uma meninachamada Huo-ping. Seu nome stgmftca "paz", maspor muitos anos ela foi a pessoa menos "pacifica"que ela conheceu. Sendo a ultima crianca de umagrande familia camponesa que vivia constantementeamedrontada com espiritos mahgnos. Huo-pmg esca-pou do destino comum dos bebes do sexo feminine

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    Watchman Nee

    que nasciam por ultimo em lares pobres. Em vez deser afogada ou enterrada vivapor seu pai, ela foiven-dida para uma familiaque pretendia torna-la escrava.

    Deus, contudo, interveio, por meio de urn ricomercador chamado Lin, que a adotou como sua pro-pria filha. Apos sua conversao ao cristianismo, 0Sr.Lintomou providencias para que sua nova fllha, agorachamada Peace Lin, recebesse uma educacao crista.Ela tornou-se uma das mais entusiasmadas estudan-tes de sua escola. Na verdade, ela era tao capaz, queao completar dezesseis anos ja havia sido aceita emurn programa que finalmente a levaria a uma escolade medicina nos Estados Unidos. Mas antes dissoela deveria frequentar a Escola Ocidental Chinesapara Mocas em Shanghai, a fim de aprimorar seusconhecimentos da lingua inglesa.

    Crista apenas no nome, a escola nao fez berna fe da jovem Peace Lin.Diariamente suas ambicoesmundanas cresciam a medida que ela se concentravatanto emsua aparencia quanta emseus estudos. Maistarde, elaregistrou 0que aqueles anos representaram:"Naquele lugar eu aprendi rnuito acerca do orgulhoda vida e alguns dos pecados da carne". 1 Foi entaoque ela teve urn encontro com a extraordinaria Dorayu.

    DoraYu nao era muito mais velha que PeaceLin, quando ingressou na escola em Shanghai nacondicao de oradora convidada. Ela contou uma his-toria que incendiou 0 coracao da estudante. Poucosanos antes, Dora havia se saido tao bern em seusestudos que fora aceita por uma escola demedicinana Inglaterra. Em meio a uma grande fanfarra, elafora enviada por sua familia e amigos, para umajornada que nunca se completaria.

    Tal como Jonas e Paulo antes dela, Dora Yuouvira claramente a voz doSenhor acima das ondasenquanto embarcava no navio.Assim que este passoupelo Canal de Suez, Ele a instruira a desistir de sua

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    Capitulo 1 - A Sabedor ia do Silenciocarreira e retornar a terra natal a fim de pregar 0evangelho de Jesus Cristo. Agora ela encontrava-sena capela da escola, testemunhando apaixonadamen-te sobre seu amor por Deus e desaflando as estu-dantes a assumtrem urn compromisso de vida comEle.

    Aspalavras penetrantes e 0humilde estilo devida da pregadora visitante tocaram profundamentePeace Lin, mas antes que ela mesma pudesse tomaruma decisao sobre 0que fazer com sua vida, a escolhaja havia sido feita em seu lugar. Defato, a mensagemde Dora Yu levaria mais de vinte anos para produziro impacto completo.Aos dezoitoanos, Peace Linrece-beu uma carta desua mae "decretando"que urn casa-mento ja the havia sido "arranjado" para outubro,com 0 filho da viuva de urn pastor, urn certo NeeWeng-shiu, de Foochow.

    "Casamento! Como eu odeio essa palavra!" -ela disse mais tarde. Mas, animada ou nao, PeaceLinnao seria ainda a primeirajovem de sua provinciaa violar 0 costume ancestral de casamentos "arran-jados", Apenas a alguns poucos meses do inicio doseculo vinte, 0 gentil e silencioso Nee Weng-shiucasou-se com a energtca e coagida Peace Lin.

    Naquela epoca, a RebeliaodosBoxersestourouna China setentrional. Sea loucura nacionalista, anti-estrangelros, tivesse se espalhado pelas provinciasmeridionais, provavelmente ambos os pais deWatch-man tenam morrido juntamente com as centenas dechineses cristaos assassinados no norte.Em vez disso, eles fixaram residericia napequena cidade costeira de Swatow e iniciaram suafamilia.Apos0nascimento de suas primeiras criancas(ambas meninas), Peace Lin estava fora de si de tantaansiedade e depressao, Anos mais tarde, 0 proprioWatchman Nee descreveria a situacao:

    "De acordo com 0 costume chines, homenstern preferencia sobre as mulheres. Quando minha

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    Watchman Neemae deu a luz duas rneninas, as pessoas disseramque ela provavelmente seria como rninha tia, parindomeia duzia demeninas antes. Embora naquela epocammha mae nao estivesse c1aramente salva, ela sabiaorar. Entao dtrigiu-se ao Senhor dizendo 'Se tiver urnmenino, eu 0 entregarei a Ti, como urn presente. "'2

    Assim comoDeus ouviu a oracao desesperadade Ana por urn filho, conforme registrado na Biblia,Ele agora ouvia Peace Lin.Em 4 denovembro de 1903,Nee Weng-shiu gritou de alegna: "E urn menino!",depois que 0pequeno Henry Nee veio ao mundo. OsNees fmalmente acrescentariam mais quatro meninose duas meninas a numerosa familia.

    Capftulo2o Novo Nascimento~v-\..Ieorge." - disse Henry ao seu irmao maisnovo- "precise conversar comvoce.Vouacabar explo-

    dindo se tentar manter isso dentro de mim por matstempo".

    "Doque se trata, meu irmao? Vocenem pareceo mesmo ho]e.""E sobre isso que desejo falar-lhe, George. Euniio estou sendo eu mesmo hoje, Na verdade, naoacho que voltea se-lo algum dia",0rapaz de dezesseteanos contou a seu irmao uma hist6ria extraordinaria,sobre como Dora Yu, a apaixonada evangelizadora,havia entrado novamente na vidade sua mae ao retor-nar para aquela cidade a fim de pregar em encontrosespeciais no audit6rio metodista local.

    .Ja corria 0ano de 1920 e Peace Nee estava aderiva, distante de sua educacao crista. Ela jamaisse esquecera da pobreza pela qual passara, ou comoseu casamento arranjado a desviara de uma promis-sora carreira profissional. Tornou-se obcecada poramblcoes politicas e contatos sociais. Mais tarde con-fessou que "pelocontato com revolucionarios Incredu-los, eu pr6pria quase me tornei uma incredula". 1

    Mas ela nunc a se esquecera do ressoante tes-temunho deDoraYu, a mulher que havia abandona-do uma lucrativa carreira como doutora a fim de pre-gar 0simples evangelho deCristo. E agora, as palavrasprofeticas deDoraYu atravessavam demodo cortanteas camadas de incredulidade que envolviam PeaceNee ap6s anos de busca por auto-satisfacao.

    "George, quando vimamae duas noites atras,1 Kincar, Angus 1.: A Estoria de \Xlatchman Nee . Christ ian Li te ra tureCrusade, 1973, p. 23.2 Lee , \Xlitness. Wa tchman Ne e: A Seere of Divine Revela tion in thePre sent Age. L iving Str eam Minist ry , 1991, p. 12.

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    soube que ela havia rnudado", prosseguiu Hemy. "Ha-via uma expressao em sua face que eu nunca viraantes. Ela parecia assustada e em paz, ao mesmotempo."

    "Mamae nao tern medo de nada", replicouGeorge.

    "0 medo, penso eu, foipor ter agido mal... e apaz foi porque ela tomou a decisao de fazer a coisacerta."

    "0 que ela te disse, Shu-tsu?""Elame disse", - Hemy fez uma pausa, - "quee crista.""Marnae sempre foi crista", veio a resposta a

    queima-roupa."Nao, irmaozinho", disse Hemy. "Ela disse que

    tern sido urn pe de lotus sem flores. Mas ap6s ouvirDora Yu pregar por quatro noites seguidas, ela naoconseguiu mais dormir nem comer.Entao, na quarta-feira, como de costume, ela estava jogando cartascom as armgas, quando algo se rompeu dentro dela.Ela me disse: 'Eu estava sentada hi, jogando comoalguern que ja estivesse morto. Por flm, nao pudemais continuar e gritei para minhas amtgas: Eu soucrista! Nao yOU mais jogar. "'2

    Henry olhou para a foto de seus pais sobre amesa proxima de sua cama e prosseguiu: "E sabe 0que ela fez depois, George? Marnae voltou para casaerne pediu para perdoa-Ia! Ela me abracou comforcae gritou: 'Por favor, me perdoe! Eu confesso, eu teespanquei injustamente e com raiva.' ""0 que voce the disse?" - perguntou George,arregalando os olhos.

    "Minhas palavras exatas foram estas: 'Sim,voce 0fez,honoravel Mae, e eu a odiei por isso.' Entaovirei-lhe as costas e sai de casa".

    "Shu-tsu, como voce p6de?" - 0 irmao maisnovo ralhou."Porque fui urn tolo, irrnaozinho. Porem rni-

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    Capit ul o 2 - 0 Novo Nascimento

    nhas palavras puniram-me por toda a noite. Fiqueina cama pensando que se 0poder de Cristo era capazde levar mamae a abrir mao de sua autoridade da-quela maneira a ponto dehumilhar-se diante demim,entao 0 cristianismo deve ser mais do que qualqueruma outra religtao vazia. George, ontem eu estivepresente a palestra de Dora Yu para descobrir pormimmesmo 0que estava acontecendo".Quinze anos depois, Henry Nee contou 0queaconteceu naquele encontro:Pela primeira vez em minha vida, eu me vi como umpecador e tambem vi 0 Salvador. Vi as maos do Senhorpregadas na Cruz, estendendo Seus bracos para meacolher, dizendo: "Estou aqui esperando para recebe-Io."Totalmente envolviclo por tamanho amor, seria impossivelpara mim rejeita-lo. Anteriormente eu havia zombadodaqueles gue criam no Senhor, mas naquela noite fuiincapaz de rir. Em vez disso, confessei meus pecados aosprantos. Orei pela primeira vez e vivi minha primeiraexperiencia de regozijo e paz."

    Naquela noite, Henry soube que Deus estavapedindo tudo, nao urn compromisso debil que apenasaliviaria sua consciencia por umas poucas semanas.Ele compreendeu imediatamente que se tratava deuma decisao definitiva, ou tudo, ou nada. "Para arnaioria das pessoas", ele disse, "0problema no mo-mento da salvacao e como ser liberto do pecado. Maspara mim, a salvacao do pecado e meu modo de vidaestavam associados. Se eu aceitasse Jesus comoSalvador, simultaneamente 0aceitaria como Senhor.Eleme libertaria nao apenas dopecado, mas tamberndo mundo.?"oap6stolo Paulo nunca mais foi0mesmo ap6ssua visao de Cristo na estrada para Damasco. Aoexplicar seu chamado para que pregasse 0evangelho,Paulo escreveu: "Pois0 amor de Cristo nos constran-

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    Watchman Neege" (2Corintios 5.14) (N.T.:Edicao Revista e Atuali-zada ou King James Atualizada). Ap6s a visao deHenry NeedeJesus pregado na cruz, seu compromis-so para pregar sobre Cristo nao seria menos deter-minado que 0 de Paulo e provavelmente nao menossurpreendente para seus amigos. Quando se tornouextremamente dificil para os companheiros de Paulocompreenderem que ele era 0 mesmo homem queanteriormente perseguira os cnstao, ele respondeuaos seus questionamentos, dizendo: "Assimque, n6s,daqui por diante, a ninguem conhecemos segundo acarne ... se alguem esta emCristo, e nova criatura: ascousas antigas ja passaram; eis que se fizeramnovas".(2Corintios 5.16,17).

    Trata-se de urn costume entre os chineses aescolha deurn novonome quando sofremuma revira-volta em suas vidas. Ao comprometer sua vida comCristo ap6s 0 retorno de sua familia a Foochow, 0jovem Henry Nee mudou seu nome para Nee To-sheng, que na lingua inglesa expressa-se comoWatchman Nee (N.T.:watchman = vigia). Tal comoSamuel, 0 filho de Ana, advertiu seus conterraneosacerca dojulgamento de Deus ao mesmo tempo queos lembrava de Seu grande amor, assim WatchmanNee fora chamado para "manter a boca aberta" porsua amada China.

    Os amigos tambem perceberam sua mudancarepentina. Durante os exames no Trinity College, eleparou de "colar", parou de violar as regras escolarese de incitar seus amtgos a ridicularizarem os colegascristaos, Defato, ap6s uma longa crise de consciencia,certo dia ele encheu-se de coragern e dtrtgiu-se aoescrit6rio do diretor.

    Ele sabia que a penalidade por colar nos exa-mes seria a expulsao imediata, mas 0 amor de Cristoestava compelindo-o a confessar. Alemdisso, em suaconversao, ele abandonara todos os seus objetivosprofissionais anteriores e 0 de tornar-se rico e bern

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    Capitulo 2 - 0 Novo Nascimentoposicionado. Na verdade, naquela mesma noite emque fora salvo, ele escolhera como carreira para 0resto de sua vida 0que certa vez chamou de "a maisdesprezada e servil de todas as proflssoes": a depregador,"

    "Uma pessoa ndo pode pregar e ftaudas", elepensou. Naquele dia, 0diretor da escola ouviu umainteressante conflssao durante 0intervalo das aulas.Aparentemente, ficouimpressionado com a integrida-de do estudante e a forca de suas conviccoes cristas,de modo que estudante algum foi expulso deTrinity.

    A sorte estava lancada, Watchman Nee pasmaos aobra sem olhar para tras, Aosdezessete anos,ele fez uma promessa solene: "Entregarei a Cristotoda a minha vida, minha lealdade e meu amor." Eele nunca voltou atras em sua palavra.

    1 Kinnear, p. 322 Kinnear, p. 333 Lee, p. 134 Lee, p. 125 Lee, p. 14

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    Capftulo3o Significado da CruzNa primavera de 1920, a mesma estacaodo ana em que Watchman Nee converteu-se ao

    Cristianismo, urn outro jovem chines (somente dezanos mais velho que Watchman) estava conc1uindosua conversao ao evangelho de KarlMarx. MaoTse-tung, nascido numa familia camponesa, haviaparticipado poucos anos antes da RevolucaodoPovo.Ele tinha feito sua parte ajudando a defenestrar aDinastia Imperial que havia controlado a China porseculos.

    E agora, assim como Mao procurava urnmentor que pudesse ensinar-Ihe a tdeologiamarxista,o adolescente Watchman estava embusca deurn guiaque 0 instruisse nas questoes da religiosidade. MaoTse-tung procurou uma conexao politica, que 0ajudasse a prepara-lo para que urn dia ascendesse alideranca doPartido Comunista da China. WatchmanNeeorou a Deus para que the fosse enviado urn crentemaduro, que pudesse ensina-lo acerca das profundasverdades da Palavra de Deus.

    Maoencontrou 0militante ateu ChenTu-hsiu,que mais tarde comandaria a perseguicao aoscristaos, na condicao de secretano geral do PartidoComunista. Juntos e1esgovernariam a China commao de ferro. Watchman encontrou a misslonariaanglicana Margaret Barber e,juntos, assentaram osalicerces da igreja crista na China.

    Enquanto MaoTse-tung estudava Marx,Hegele Nietzsche, Watchman Nee meditava cuidadosa-mente sobre as vidas de John Bunyan, Andrew

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    Watchman Nee

    Murray e sobre a Biblia. Duas mentes jovens moti-vadas, em trajet6rias distintas - com 0 destino daChina emjogo.

    Ap6s Seu batismo, 0SenhorJesus foiconduzi-doao deserto peloEspiIito, para que passasse quaren-ta dias e noites sob tentacao. Ap6s sua conversao,Paulo foi levado ao deserto arabe para tres anos deestudos e reflexoes, Ap6ster aceitado a Cristo,Watch-man Neefoidirecionado por Deus amissao deMarga-ret Barber em White Teeth Rock, nos arredores deFoochow. La ele descobriu uma das personalidadesmais inesqueciveis que jamais encontraIia em outrapessoa, uma mulher que the ensinaIia Iicoes sobretoda uma vida de ministerio.

    As coisas nunca foram facets para MargaretBarber. Em 1899, solteira, cheia de vigor, ela viajousozinha da Inglaterra para a China. Dedicando-se aCristo na obscuridade, mergulhou no trabalho naescola de ensino Intermediario para mocas em Foo-chow. Quando finalmente obteve uma licenca ap6sdez anos, colaboradores invejosos aproveitaram aoportunidade de difamar seu born nome a seu supe-rior. Ele acreditou nas acusacoes inventadas e cha-mou-a de volta do campo missionario.

    BastaIia apresentar a verdade e ela poderiafacilmente defender-se com provas e humilhar seusacusadores. Porem Margaret estava preparada paraa traicao, Defato, ela havia pedido aoSenhor que lheensinasse a "licao da cruz". Como 0 "cordeiro mudoperante seu tosquiador" (N.T.:Atos 8.32b), Margaretabriu mao de defender-se. Mesmo ap6s a verdade tersido mais tarde revelada e seu bispo ter oferecidoreparacao total, elanao renunciou a cruz nem aceitoua remtegracao. Em vez disso, despojada de qualquersuporte financeiro, retornou a China com uma novapercepcao: ela nao tinha nada a temer dos homensou de suas instituicoes. Ela era uma pessoa da cruz,crucificada comCristo e, portanto, indiferente a mera

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    Capitu lo 3 - 0 Signif icado da Cruz

    oposicao mortal.Parecia impossivel reprimir sua fe. Com idade

    bastante para ser sua mae, a senhorita Barber inspt-rou Watchman com sua devocao radical a cruz e suapersistente paixao pela Palavra de Deus. Em Isaias44.3, lemos: "Porque derramarei agua sobre 0 seden-to".Watchman estava sedento e Deus usou os ensina-mentos deMargaret Barber para derramar Sua aguasobre ele.

    De sua parte, Margaret havia orado urn anoantes para que Deus levantasse homens e mulheresjovens da China a fim de alcancar aquele pais paraCristo. Podetia. To-sheng ser wna resposta a minhaor~ao? - ela se perguntou. Caso fosse, ela 0afiaIiacomo ferro afia ferro.

    "Mantenha-se quebrantado", ela the dizia comfrequencia. "Nao acredite nas boas coisas que aspessoas dizemsobre voce.Vocedevepermanecer que-brantado. A Palavra afirma que, se seus caminhosforem agradaveis ao Senhor, Ele fara que seus ini-rnigos estejam em paz comvoce (N.T.:Ref.Proverbios16.7). Ele se agrada muito mais com seu quebranta-mento. Lembre-se da cruz, To-sheng. Vocedeve per-manecer quebrantado."

    E a senhorita Barber certificou-se de que eleaprendera bern essa licao. Ap6s Watchman ter sejuntado a ela emseu ministerio, ela colocou-oproposi-tadamente sob 0ataque deurn supervisor que 0impe-liaa desordem. 0 temperamento deWatchman aflora-va cada vez que ele discordava desse homem, algunsanos mais velho que ele,mas de capacidade notada-mente inferior a sua. Logoap6s cada controversta.Watchman procurava Margaret e acaloradamenteexpunha suas queixas.

    "Eleesta errado denovo!"- reclamava To-sheng."Ele nunca faz nada da maneira como eu sei quedeve ser feita. Vocedeve falar-lhe e corrigi-lo."

    Previsivelmente, Margaret respondia com fir-27

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    ITI ! I I I Watchman Neemeza: "As Escrituras dizem que 0mais jovem deveobedecer aomais velho.Vocetern muito a aprender",dizia ela, encerrando a questao. Repetidas vezesWatchman afastou-se, zangado com ela, comas Escri-turas e com a vida emgeral.Mas lentamente comecoua entender. Mais tarde ele escreveria:

    Ap6s uma clisputa, euia ter com a irma Barber esperandoque ela me defendesse. Mas acabava chorando novamenteapos ela me dizer: "Se aquele colaborador esta certo ounao, e uma outra questao. Ao acusar seu irrnao diante demim, voce esta agindo como alguem que carrega sua cruz?Esta agindo como um cordeiro?"Quando ela me questionava dessa maneira, eu me sentiamuito envergonhado e jamais esquecia ... Naquele ana emeio, aprendi a obedecer aos colaboradores mais velhose acabei percebendo 0que significa carregar a cruz.'

    Tal comoMargaret antes dele,Watchman final-mente tornou-se uma "pessoa da cruz" e recusou-sea se defender quando falsamente acusado. Certa vez,ainda solteiro e vivendo em Shanghai, ele recebeupor algum tempo a visita de sua mae, Peace Nee. Osrumores comecaram a espalhar-se por toda a provin-cia, dando conta de que 0 jovem pastor Nee estavavivendo em pecado com uma mulher. Mas ele nadafez para dissipar a maldosa mentira. Ao contrarto,quando seus amigos imploraram para que revelassea verdade, ele simplesmente disse: "Quanto mais bai-xo colocamos uma coisa, mais segura ela se torna. Emais seguro colocar uma xicara sobre 0chao". Esseera 0modo deWatchman dizer que quanto rnais urncristao fosse humilhado, mais seguro estaria. Naver-dade, 0lugar mais seguro deste lado doCeu e a cruz.

    Watchman aprendeu deMargaret outras licoesimportantes que desempenhariam papeis chave emseumtntsteno. Porexemplo, elanao conseguia encon-trar uma base biblica para 0 denominacionalismo, 0

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    Capi tu lo 3 - 0 Signif icado da Cruz

    lamentavel fenomeno em que os crentes se separamem diversas "correntes" do cristianismo. Watchmandeplorava 0 fato de a igreja estar dividida e chegoumesmo a acreditar que 0 denominacionalismo eracondenavel pelas Escrituras, de acordo com 1Corin-tios 1.10-13. Mais tarde ele foicriticado por sua con-viccao de que deveria haver apenas uma igreja emcada localidade.Margaret Barbervivia diariamente na expecta-tiva deque Cristo haveria de retornar a qualquer mo-mento. Certo dia, quando ela e seu estudante favoritoestavam fora, caminhando, ao se aproximarem deuma esquina, ela exclamou: "Talvez,quando dobrar-mos a esquina, 0 encontremos!" Sob sua tutela,Watchman ernocionava-se com a doutrina da voltaiminente deCristo emantinha a questao emprimeiroplano em suas pregacoes.

    Aamizade deMargaret Barber e a biografia deHudson Taylor exerciam forte influencia na relacaodeWatchman com 0dinheiro. Eleconhecia 0compro-misso de Taylor de, somente a Deus, falar de suasnecessidades financeiras e viu a senhorita Barberviver 0 resto de seus dias segundo esse principio.Pelofatode ter preferidonao aceitar suporte financeirode qualquer organizacao missionaria e de viver so-mente pela fe, Margaret pulava de uma crise flnan-ceira para outra. Mas ela se recusava a entrar empanico e a pedir que qualquer pessoa fosse sua flado-ra. Era Deus quem possuia "as alimarias aos milharessobre as montanhas" (N.T.:Salmos 50.10) e era Elequem dizia que supriria todas as suas necessidadessegundo "a suprema riqueza da sua graGa, embondade para conosco, emCristoJesus" (N.T.:Ef2.7).

    Watchman ficou tao impressionado com osmetodos incomuns pelosquais Deus consistentemen-te provia Margaret Barber com dinheiro e, frequente-mente, na hora certa, que decidiu tambern viver pelafe em relacao a essa questao, Nao era uma decisao

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    . .Watchman Neefacil para urn homem jovem, com amplos recursosdisponiveis. Mas tratava -se deurn outro "barberismo"que ele nao se arrependeria de ter adotado.

    Certa vez, na condtcao de pastor iniciante,Watchman decidiu confiar inteiramente em Deusquanta as suas necessidades. Elehavia lido tres pas-sagens biblicas que nao mais conseguiria tirar desua mente: 0 texto em que Deus enviou os corvospara alimentarem Elias junto ao riacho de Queribe(N.T.: 1 Reis 17.6), aquele em que Deus encheu asgrandes vasilhas tomadas emprestadas pela vnrvaem Quir-Haresete com 0 pouco de azeite que lherestaranumapequena botija (N.T.:2 Reis 4.1-7), e apromessa de Jesus em Lucas 6.38: "...dai, e dar-se-vos-a: boa medida, recalcada, sacudida, transbordan-te, generosamente vos darao ..."Agora era a hora deexperimentar a Deus segundo Sua Palavra.

    Watchman foi convidado a pregar em umacidade distante, ao norte de sua provincia. Ele tinhaapenas quinze d6lares, cerca de urn terco do neces-sario para a viagem e na manha da partida, estavaorando pela provisao divina, quando se sentiu impe-lido a doar, a urn colaborador, cinco d6lares de seusja escassos fundos. "Mas, Senhor", ele argumentou,"preciso viajar para realizar Seu trabalho esta noite enunca acharei urn barco que me leve por menos dequarenta dolares". Com lagnmas nos olhos, contudo,ele foi atras de seu colega e 0 surpreendeu doando-lhe cinco d6lares: "Naome pergunte 0por que; vocesabera mais tarde".

    Watchman Neesaiu para tomar seu barco, semnem mesmo saber comoorar, exceto dizendo: "Senhor,Tu sabes 0que estas fazendo", Aochegar ao cais, urnbarqueiro aproxlmou-se dele: "Tenho uma vagasobrando na popa e nao me importa 0 quanta vocepossa me pagar. Digamos, sete d6lares, e voce seencarrega de sua pr6pria comida. Que tal?" Os olhosdojovem pregador voltaram a encher-se de lagnmas.

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    Capitu lo 3 - 0 Si gni ficado da Cruz

    Quando osencontros estavam chegando a seuterrnino, ele se viu diante do mesmo problema ante-rior. Comecon a orar no sabado, solicitando fundospara a viagemque faria na segunda -feira, Na tardinhade domingo, urn certo Sr. Philips convidou-o parajantar e, ap6s a refeicao, disse: "Sr.Nee,0senhor feztanto por nossa igreja ao longo desses dias que gosta-riamos de arcar com suas despesas de viagem, Inte-gralmente."o coracao deWatchman saltou diante da ofer-ta, mas ele ouviu sua voz dizendo: "Nao, meu amigo.Itmuita generosidade de sua parte, mas alguem jaaceitou essa responsabilidade." Urn tanto desconcer-tado, 0cavalheiro ofereceu-lhe entao urn livro devo-cional no lugar das despesas, e eles se despedirampor aquela noite. Mais tarde, os pensamentos deWatchman estavam confusos.

    "Senhor, fosteTu quemme fezrecusar a doacaodoSr. Philips?Era elequem deveriasuprir-rne segundoTua vontade? Devo pedir a algum amigo que meempreste dinheiro? Senhor, comovoltarei para casa?!"

    Na manha seguinte, com uns poucos d6laresemseu bolso, ele caminhava para 0barco, perguntan-do a si mesmo se havia cometido urn erro, ainda naexpectativa dever comoDeus iria prove-lo novamente.Desta vez, antes mesmo de alcancar 0 cais, alguemveio correndo ate ele com uma carta que dizia:

    Caro Sr. Nee:Embora alguem mais tenha assumido a responsabilidadepor suas despesas de viagem, sinto que deveria ter umaparricipacao em seu trabalho aqui. Por favor, tenha abondade de aceitar esta pequena soma para esse fim.

    Rev. Philips

    ~. .o que Watchman poderia fazer? 0 pastor Phi-

    lips propositadamente fizera usa de urn enviado, demodo que sua oferta nao fosse novamente recusada.

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    Watchman subiu a bordo dobarco mais certo do quenunca acerca da provisao divina e, por toda a suavida, pregaria esta verdade:

    "Assim como Deus enviou os corvos paraalimentar Elias, Ele fara 0 mesmo por voces hoje",ensinava elecomconviccao, "SevocesconfiaremnEle,quanto menos dinheiro tiverem emmaos, tanto maisEle lhes dara", ele pregava a partir de suas experien-cias pessoais. "Aprovisao de Deus chega justamentequando voces acabaram degastar seu ultimo dolar",seus ouvintes frequentemente ouviam-no dizer.

    Ao chegar a sua casa em Foochow, uma dasprimeiras pessoas que Watchman encontrou foi aagradecida esposa de seu colaborador, que, com lagn-mas nos olhos, contou-lhe sobre 0ocorrido:"Nasexta-feira, oramos 0dia todo porque nao tinhamos dinhei-rooMais tarde, meu marido sentiu que deveria sairpara uma caminhada e entao encontrou 0 senhor, eo senhor the deu cinco d6lares. Esses cinco d6laresnos sustentaram por cinco dias".

    Chorando baixinho, ela prosseguiu: "Se 0 se-nhor nao nos tivesse dado 0 dinheiro naquele dia,teriamos passado fome. Nao importa 0 fato de sofrer-mos, mas 0 que dizer da promessa de Deus sobrenos prover?"Watchman ficou felicissimo pelas pala-vras daquela senhora e absorveu consistentementea verdade de que, ao se dar, mais se the e dado.

    Ele aprendeu muitas licoes valiosas no ano emeio em que teve Margaret Barber como mentora.Mas, dentre todas elas, foi pela "licao da cruz" queele se sentiu mais grato. Quando mais tarde Watch-man discipulou os rapazes emocas que 0procuravampara que lhes servisse dementor, era quase possivelouvir-se a voz de Miss Barber neste claro ensina-mento:Se voce nao consegue suportar as provas da cruz, naopode tornar-se urn instrumento util, Deus se deleita apenas

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    Capit ulo 3 - 0 Si gni ficado da Cruz

    com 0espirito do cordeiro: a bon dade, a humildade e apaz. Vossa ambicao e capacidade sao irniteis aos oIhos deDeus. Conheco esse caminho, ja passei por ele; nao e umaquestao de certo ou errado; trata-se de uma questao deser ou nao como Aquele que carregou a cruz.f

    FoideMargaret Barber queWatchman adotouseu lema perpetuo de vida:

    "Naoquero nada pra mim;quero tudo para 0Setihot: "

    1 Lee, p. 202 Lee, p. 64

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    Capftu/o4A Missao: Levar Pessoas a Cristonando nao estava em White Teeth RockaprendJo com a senhorita Barber, Watchman con-

    cluia seus cursos no Trinity College em Foochow eevangelizava a todos quantos conhecia. Ao mantersua promessa solene de ler 0NovoTestamento inteirono minima uma vez por semana, ele foi sarcastica-mente apelidado de "Deposito deBiblia".Ainda assim,nada podia Impedi-lo de testemunhar para todos osseus colegas. "Lavern '0 Pregador' ",eles diziam quan-do se aproximava, 0tempo todo tecendo comentariosdesairosos pelas suas costas. E, ap6s quase urn anocompartilhando sua fe, nem uma unlca pessoa haviaorado aceitando a Cristo.

    Ele estava mais doque desencorajado quandourn colaborador da missao deWhiteTeeth Rockdisse-lhe a queirna-roupa: "Vocee incapaz de levar pessoasao Senhor porque existe algo interpondo-se entreDeus e voce. Pode ser que se trate de alguns pecadossecretos com os quais voce ainda nao tenha lidadocompletamente ou algopelo que voce esteja emdebitocom alguem".

    Watchman ficou chocado pelas palavras fran-cas e imediatamente levou-as ao coracao. Ap6s terfelto uma lista de cada pessoa que ele possivelmentepudesse ter ofendido, dingiu-se a cada uma delas,confessou seu erro e pediu perdao humildemente.Aomesmo tempo, inscreveu osnomes de setenta cole-gas em seu caderno de notas e sistematicamentecornecou a orar por eles individualmente todos osdias. No prazo de alguns meses, todos eles, exceto

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    I'I

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    '

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    urn, haviam renascido!Esses eram dias excitantes, quando a fe era

    recente, os ideais, elevados e a palavra "impossivel"nao constava dovocabulario deWatchman. Com seusamigos recem-convertidos, maravilhosamente cha-mados de Faithful Luke (Lucas Fiel), Simon Meek(SimaoManso) eWilsonWang, elecomecou a promo-ver reuni6es de oracao dirigidas pelos estudantes nacapela de Trinity. Em breve, 0 salao nao os compor-tava mais e ao seu entusiasmo transbordando pelasruas de Foochow.

    Os rapazes encontraram urn desses gongospara se chamar a atencao e comecaram a estrondea-10 no mercado. Quando uma multidao se reunia, osrapazes cantavam alegremente e pregavam as BoasNovas de Jesus Cristo. Entao distribuiam brochurasque falavam doplano da salvacao, enquanto carrega-vam cartazes enormes anunciando seu pr6ximo localde pregacao. Prenunciando as camisetas ("Jesus T-shirts") que urn dia se tornariam populares entre osjovens evangelic os americanos, Watchman e seusamigos criaram seu pr6prio guarda-roupa de teste-munhos. Compraram camisas lisas e brancas e ins-creveram nelas arrojadas mensagens cnstas, fazendouso de letras vermelhas, bern festivas. Logo haviaestudantes secundaristas por toda parte usandoessas "carnisas do evangelho", anunciando: "JesusCristo e tunSalvador Vivo" e "DeusAmou 0Mundo dePecadores". Algo extraordinario estava acontecendoem Foochow, e os habitantes da cidade comecarama comentar 0 fato. Deus estava atuando poderosa-mente entre osjovens intelectuais, e os cidadaos esta-vam notando.

    Nesse meio tempo, Watchman vinha sendoinspirado pela crescente fe de sua mae. Peace Neeestava se tornando tao ativa no testemunho cristao

    r quanto havia se tornado na arena politica. Sua perso-nalidade impetuosa e 0 amor pela Biblia tornaram-

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    Capi tu lo 4 - A Missao: Levar Pessoas a Cris to

    na muito solicitada como oradora inspirada, por todaa provincia.

    Certa noite, ap6s ter concluido uma sene devinte dias de encontros noYWCA(Assoclacao Cristade Mocos) local, ela foi convidada a permanecer erecuperar as forcas. Mas do fundo de seu espiritoveio urn aviso dando conta de que ela precisavaretornar para casa. Ao caminhar naquela mesmanoite com seu marido ao longo da margem do riodefronte a sua casa, ela virou-se para ele e disse:"Esta noite esta muito seca; temo que possa haverurn incendio". 2

    Realmente, nomeio da madrugada, eles foramacordados pelos gritos de seus vizinhos. Ficaram cho-cados ante a visao de todo 0 quarteirao norte onderesidiam ardendo sob 0 Incendio furioso que percorriaas ruas. Quando os pais deWatchman se ajoelharampara orar com 0inferno desabando sobre eles, PeaceNeefoide tal maneira convencida pelo Espirito Santode que sua casa seria poupada, que decidiu nemmesmo acordar as criancas mais novas. 0 Deus 'queatende as oracoes respondeu imediatamente, quandoo vento miraculasamente mudou de dtrecao ,interrompendo 0 Incendio apenas a tres casas dasoleira de sua porta.

    Apenas uma semana depots, sua fe foi maisseveramente testada - novamente pelo fogo. Destavez, urn vento mais forte levou as chamas na dtrecaodeles, e a sltuacao pareceu sem esperancas, Nomo-mento em que estavam prestes a acordar as crtancase fugir para urn local seguro, urn pensamento bastan-te claro sobreveio amae deWatchman: "Porque vocesnao oram?" - Deus parecia perguntar-lhe.

    Ela ajoelhou-se no meio da crise e implorou:"0Deus, neste quarteirao de Foochow minha familiae a unica que acredita em Ti. Concede-me algumasrespostas para estes incredulos para que eles naovenham a dizer: 'Onde esta seu Deus agora?' "3

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    _

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    Novamente, a resposta foi tnstantanea. Naoapenas 0 vento mudou a seu favor, como a chuvacomecou a cair justo quando a brigada de Incendioapareceu, de nao se sabe onde, a fim de utilizar acasa deWatchman como base para seus esforcos decombate as chamas. Ap6s dois grandes mcendios nointervalo de uma semana, apenas cinco casas per-maneciam intactas a margem do rio. Watchman eseus vizinhos ficaram profundamente tocados pelopoder das preces de sua mae.

    Aessa altura de sua vida, Watchman apaixo-nou-se pela Palavra de Deus. Ap6s sua conversao,ele mergulhou em urn estudo tao profundo da Bibliaque poucos her6is hist6ricos da fecrista foram capa-zes de igualar. Aos dezoitoanos, eleconsistentementeempregava pelo menos vinte formas diferentes deestudo biblico, desde urn estudo geral de todos oslivros da Biblia (para uma visao global), ate 0estudointenso de urn livro em particular, a fim de explorarsua profundidade; desde 0 estudo das palavras emseus idiomas ortgtnais, 0Grego e 0Hebraico, ate aganmpagem das riquezas de todas as profecias bibli-cas; desde os estudos biograflcos de todos os persona-gens da Biblia, ate urn estudo sistematico de todasas suas doutrinas.

    Ele utilizava diversas Biblias diferentes deacordo com tipos especificos de estudo. Uma delasele reservava para escrever notas abundantes nasmargens a medida que seu conhecimento sobre seuconteudo iase acumulando. Uma outra elemantinhapropositadamente livre de anotacoes de modo que,sem a influencia das mesmas, ele pudesse discernirnovas abordagens para os textos, cada vezque a abris-se. Nao demorou muito para que Watchman Nee setornasse conhecido como urn rapaz consumido pelaPalavra deDeus. Essa caracteristica unlca destacava-o dos estudantes e pregadores menos devotados, peloresto de sua vida.

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    Capi tu lo 4 - A Missao: Levar Pessoas a Cri st o

    Com respeito a leitura de livros esptrituats, arotina deWatchman era Interminavel. Bern cedo eletomou a decisao de investir urn terce de sua rendaem gastos pessoais, urn terco para cuidar de outraspessoas e 0terco restante para a aquisicao de livros.sSeu quarto ficou tao abarrotado de livros que malhavia espaco para ele dormir. Ele literalmentetinhade saltar sobre pilhas de livrospara alcancar a porta!o tempo que investiu lendo a Biblia e grandesauto res cristaos logoexerceu urn efeito consideravelem sua experiencia emdiversas areas-chave, incluin-do 0batismo.

    A partir de sua imersao diana na Biblia, elepassou a crer, em marco de 1921, que 0batismo poraspersao (peloqual havia passado quando garoto naigreja Metodista) nao era biblico. Estudou as passa-gens que tratavam dobatismo e concluiu duas coisasque foramrevolucionarias para a China naqueles dias.Primeiro, ele concluiu que 0batismo era para os cris-taos que compreendiam que elestgnificava submetersuas vidas a autoridade deCristo. 0 certificado batis-mal que havia recebido dobispo quando crianca naotinha significado algum para ele, agora que havia ver-dadeiramente se convertido. Ele tambem reconheceuque a Biblia retrata 0batismo como uma expertenciade completa imersao: a mera aspersao nao transmitea imagem poderosa doNovoTestamento, 0abandonodo sistema mundano pagao rumo a uma novidadede vida.

    Deus sempre escolhe 0 momento certo, comperfeicao. Justamente quando Watchman decidiaessa questao crucial em sua mente, sua mae apro-ximou-se dele dois dias antes da Pascoa e, no seujeito caracteristico, falou sem medir palavras: "Tenhopensado muito a respeito, meu filho.Na pr6xima vezque voce for a White Teeth Rock, eu irei tarnbern.Porque quero ser batizada la!"

    De olhos arregalados, Watchman replicou:39

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    "Minha querida mae! Eu acabei de tomar a mesmadecisao. Seremos batizados juntos!"

    Partiram no mesmo dia para a missao da se-nhorita Barber; e no alvorecer dodomingo dePascoa,em28 demarco de 1921,Watchman e sua mae forambatizados por imersao nas aguas douradas do RioMin. "~or, lembre-se". ele mais tarde ensinariaacerca do batismo, "nao e apenas voce que esta sobas aguas. A medida que voce submerge, urn mundointeiro desce com voce. Aoernergir, voce emerge comCristo. Para voce, 0mundo esta submerso, morto namorte de Cristo e nunca para ser ressuscitado. Itatraves do batismo que voce declara isto: 'Senhor,deixomeu mundo para tras, Tua cruz me separa delepara sempre!' "5

    Logoapos sua irnersao, Watchman retornoua Foochow a fim de conversar com 0pastor de suaigreja. Quando 0jovem idealista percebeu quao dife-rente eram seus pontos devista quanta a Importanciade se estudarem as Escrituras, tomou uma decisao:"Apartir daquele momento, comecei a ter duvidasquanto as verdades da igre]a na qual ele doutrinava.Tambem percebi que precisava deixar de lado a auto-ridade do homem e determinei que a partir de entaoestudaria cuidadosamente a Biblia".6

    Esse estudo meticuloso da Palavra de DeuslevouWatchman a tomar duas importantes decis6esadicionais. Aprimeira tinha a ver com a Santa Ceia ea segunda, com 0desligamento de sua denominacao.Durante todo 0ano de 1921 ele pesquisou exaustiva-mente as Escrituras a fimde saber mais acerca dessasduas areas. Descobriu que os crentes deviam reunir-se freqilentemente para partir 0 pao em memoria deCristo. Mas em sua denominacao a Santa Ceia soera celebrada quatro vezes ao ano.Watchman encaroua mesma questao que Martinho Lutero e outros refor-mistas formularam seculos antes: Devo obedecer aoclaro ensinamento das Escriiuras ou submeter-me a

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    Capit ul o 4 - A Mi ssao: Levar Pessoas a Cr is to

    autoridade da tradicao da iqreja?Decerto modo, por toda a sua vidaWatchman

    Neeesteve as voltas com 0fatode a Reforma ter demo-rado a chegar a China. Tal como Lutero, ele olhava asua volta e via uma igreja carnal, tremendamentedesinteressada, abandonando a ortodoxia, e ele ques-tionava por que aquela igreja nao podia seguir asdiretrizes biblicas. Se tivesse se expressado emlatim,Watchman teria proclamado 0 gnto de guerra dosreformadores: "Sola Scriptura!" - Somente a Biblia.Nessas circunstancias, elequestionou 0 amigo intimoda familia, 0bispo metodista, acerca da autoridadedas Escrituras versus a autoridade da igreja.

    "Se a Biblia afirma uma coisa e a tradicao daigreja afirma outra, a que vozdevo obedecer?" - per-guntou Watchman.

    "Voce pode me dar urn exemplo disso?" - 0bispo retrucou, cuidadosamente.

    "Bern,vamos considerar a Santa Ceia.ABibliadiz emAtos 20.7 que os cristaos partiam 0paojuntosno primeiro dia de cada semana. E a passagem emAtos2 subentende que a comunhao era provavelmen-te uma experiencla diana. Por que nossa igrejapromo-ve a Santa Ceia apenas uma vez a cada tres meses econcede apenas ao cleroordenado 0prtvilegio de servt-la?"

    "Bern", a resposta veio cautelosamente, "por-que tern sido esse 0costume por muitos anos."

    "Mas de onde veio esse costume, senhor? Elee biblico?""Talveznao 0 seja, To-sheng. Mas os lideresdenossa igreja ponderaram com sabedoria e tomaramessas decisoes."

    "Mas senhor, eles obtiveram essa sabedoria apartir da Palavra de Deus?"

    "Meujovem, seu legalismo pode tornar-se suaruina. Temo pelo que possa acontecer a voce, se voceprosseguir nessa direcao."

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    Watchman Nee Capi tu lo 4 - A Missao: Levar Pessoas a Cr is to"Comtodo respeito, senhor", disse Watchman,

    "temo pelo que possa acontecer a mim se eu nao obe-decer as Escrituras."

    Watchman comecou a frequentar regularmen-te a casa de Leland Wang (0 irmao mais velho deWilson e futuro fundador da Uniao Mtsslonaria daChina) para celebrar a Santa Ceia em mem6ria doSenhor juntamente com Leland e sua esposa. "En-quanto viver", ele escreveu sobre aquele primeiro en-contro, "lembrar-rne-ei daquela experiencia. Nuncaestive tao pr6ximo dos ceus como naquela noite! N6stres nao conseguiamos conter as lagnmas! Naqueledia soubemos 0 que signiflcava adorar e celebrar amemoria do Senhor,"?

    Por fim, a maioria de seus amigos e os mem-bros diretos de sua familia passaram a partir juntoso pao a cada dia do Senhor. Seu dese]o ardente peloviver estritamente biblico crescia diariamente, mastalvez nao tao rapido quanto os rumores acerca deseu comportamento "radical". Como era de se esperar,as noticias dando conta de. que toda a familia Neehavia se batizado por imersao e que muitos delesestavam se encontrando privadamente a fim de ce-lebrar a Santa Ceia chegaram aos ouvidos do supe-rintendente distrital da Igreja Metodista. Eleveio fazeruma visita aos Nees e manifestou sua preocupacaoacerca de seus atos.

    Logodepois que ele partiu, Watchman viajoupara White Teeth Rock a fim de fazer a MargarethBarber uma pergunta: "Como se sente em relacao aofato de meu nome constar do livro da vida na IgrejaMetodistaT

    Asenhorita Barber respondeu -lhe com a fran-queza que the era caracteristica: "To-sheng, temo quedentre os nomes que constam daquele livro da vida,muitos estejam mortos e nao poucos deles estejamperecendo." Ela pensou por alguns momentos e disse:"Se seu nome esta gravado no livro da vida no ceu,

    que beneficio the trara urn livro da vida terreno? E seseu nome nao esta gravado no livro da vida celestial,em que esse livro terreno 0beneflctara?"

    Watchman retornou para casa e escreveu umacarta bastante ousada. Embora seus pais estivessempreocupados com 0fato de osmissionaries ocidentaispoderem sentir-se ofendidos por ela, e1essubscreve-ram a carta na mesma tarde. Poucos dias depois, 0superintendente distritalleu as segutntes linhas:

    Entendemos que divis6es nao sao bfblicas e que0denomi-nacionalismo e pecaminoso (1 Corintios 1.10-13). Sendoassim, por favor retire nossos nomes de seu livro da vida.Nossa atitude nao envolve qualquer animosidade pessoal,mas simplesmente 0desejo de obedecer as Escrituras.?

    Quatro dias depois ap6s a carta ter sido posta-da, uma torrente interminavel devisitantes comecoua aparecer na soleira da porta: 0 pastor, 0bispo, 0supermtendente, diversos mtssionartos, 0diretor daescola e muitos outros. Cada qual trazia a mesmamensagem: "Esse passo e demasiado drastico paraalgo tao insignificante como0metodo de batismo. Sevoce deseja ser imerso, daremos lugar a voce paraisso."

    A resposta unanime da familia Nee era francae indicativa de sua nova resolucao de serem cristaosverdadeiramente biblicos.

    "0 batismo por imersao e0abandono dadeno-minaeao nao constituem a questao central, aqui. Naopassam de dois itens dentre milhares que exigem nos-sa obedtencia. A questao real e se obedeceremos ounao as Escrituras."!"

    E assim Watchman Nee deixou a igreja, masestava apenas comecando a entender do que se tra-tava a igreja real.

    1 Lee, p. 4542 43

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    r Watchman Nee2 Kennear, p. 403 Kinnear, p. 414 Lee, p. 255 Watchman Nee. Love Not the World, 1978, p.326 Lee, p. 377 Lee, p. 408 Lee, p. 429 Lee, p. 4310 Lee, p. 43

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    Capitu/oSOnde Esta 0Deus de Elias?

    Simon Meek, de dezenove anos, nao conse-guia lembrar-se de ter passado por urn inverno maisrtgoroso que aquele. Era praticamente impossivelmanter-se aquecido naqueles dias escuros de 1922.Atrinta milhas de Foochow, durante uma visita pro-longada a seus parentes, Simon caminhava por entreos montes costeiros de cumes nevados, abracandouma pequena cesta contendo brasas de carvaoja qua-se apagadas, contra seu peito. Ele precisava de algu-rna noticia boa. e ela veiosob a forma deurn telegramaurgente de seu melhor amigo. Watchman Nee.

    "Porfavor.retorne imediatamente", dizia0tele-grama. "Deus esta realizando uma grande obra aquie precisamos de voce."

    Na epoca doretorno deSimon. urn grande rea-vivamento havia comecado emFoochow. Quando naoestavam envolvidos em trabalhos escolares. gruposenormes de rapazes. freqiientemente compostos desessenta a oitenta deles, orgamzados e liderados porWatchman. saiam em rnissoes evangelisticas. Essetestemunho noturno causava urn efeito profundo emseus companheiros que percorriam a cidade; urngrande numero de jovens estudantes. rapazes e mo-cas, estava sendo maravilhosamente convertido aCristo. Cada urn deles. por sua vez,juntava-se a aven-tura. trajando suas camisetas evangelisticas por todaa cidade, exibindo as mensagens: "Creta no SenhorJesus Cristo" e "Jesus esta voltando",omovimento fortaleceu-se gracas a uma cru-zada evangelisttca liderada por uma pregadora visi-

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    Watchman Nee Capitulo 5 - Onde Esta0Deus de Elias?

    tante proveniente deTientsin, Ruth Lee,mulher caris-matica que se tornaria uma importante tnfluenciana vida de Watchman. Seu poderoso testemunho epregacao apaixonada eletrificavam sua jovem plateia.

    A senhorita Lee contou sobre os anos queinvestira promovendo 0ateismo como diretora de urncolegio publico. Na verdade, seu zelopela incredulida-de era tanto que ela saia em busca dos estudantescristaos, confiscava suas Biblias e publicamente asqueimava. Porem, sem seu conhecimento, diversosde seus estudantes haviam se comprometido a orarpor ela diariamente. Pouco a pouco, as oracoes surti-ram efeito, e ela aceitou a Cristo atraves da influenciade seus pr6prios estudantes.

    A senhorita Lee renunciou imediatamente aseu cargo publico e comecou a pregar. Tantas pessoasforam salvas durante os encontros que promoveu,que se tomou a decisao deprosseguir comas reunioesmesmo ap6s ela ter partido para uma outra cidade.Consequentemente, Watchman e alguns de seus ami-gosmais talentosos acabavam pregando todas as nol-tes para grandes multidoes. "Ao longo de todo urnano ap6s minha conversao", disse ele, "eu sentia urndese]o ardente de pregar, Era-me simplesmente im-possivel permanecer em silencio. Pregar havia literal-mente se tornado minha vida. "2

    Quando as reunioes vespertinas em sua cida-denatal finalmente se tornaram habituais, Watchmane outros cnstaos passaram a visitar com frequenciavilarejos pr6ximos durante os finais de semanas eferiados, com 0 intuito de pregar 0 evangelho. Pelofato de esses jovens evangelistas fazerem parte daelite intelectual, praticamente todas as pessoas queencontravam - desde os trabalhadores e soldadosmais humildes ate os eruditos e lideres civis - respei-tavam-nos e prestavam atencao ao que diziam.

    Para os pregadores viajantes tornou-se urn ha-bito solicitar 0usa das acomodacoes de alguma igreja

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    e la estabelecer seu "centro de operacoes", invariavel-mente reservando urn dos aposentos para "oracoes[nmterruptas". Sempre que 0evangelismo pelas ruase os trabalhos noturnos tinham inicio, cada obreirocumpria seu turno a fimde manter uma vigiliaperma-nente de oracao, durante as vinte e quatro horas.

    Mesmo durante essa fase inicial, Watchmanja exibia sinais do que mais tarde se tornaria a paixaode seu mtnisterto: a tarefa de discipular aqueles queestavam sendo salvos e a consequente fundacao detgrejas locais. Muitos de seus colegas pensavam sero evangelismo 0mlnisterio mais importante que pode-riam realizar. "MasDeus abriu meus olhos", ele teste-munhou mais tarde, "a fim de que eu pudesse vercom bastante antecedencia, que Ele ergueria igrejaslocais em divers as partes da China. Minha visao esta-va voltada para 0nascimento de tgrejas locals.?"

    Por volta dessa epoca, Watchman tomou umadas decisoes mais dificeis de sua vida. Ele havia cres-cido na mesma vizinhanca que os Changs, uma fami-lia crista com varias crtancas, Charity Chang costu-maya acompanhar To-sheng bern de perto onde querque ele fosse. Ele sempre a encarou como uma especiede amiga chatinha; mas agora, no inicio de seus vinteanos, Watchman somente a muito custo conseguiatira-la de sua mente. Charity havia desabrochado,tornara-se uma lindajovem, bern como uma compa-nheira intelectual a altura de Watchman. Sua fe eraimatura e seus objetivos estavam muitos distantesdos dele, ainda assim Watchman nao desistiria deseu sonho de casar-se com ela. Ele apaixonara-seprofundamente por Charity Chang.

    Watchman tentou tudo em que pode pensarpara justificar seu amor por ela. Ele testemunhoupara ela. Ele orou por ela. Lutou muito para que elaassumisse urn compromisso de vida ao lado de Cristo.Mas Charity, incapaz de entender essa paixao espiri-tual, limitava-se a rir de seus esforcos. Eleja chegara

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    Natchman Nee

    3.0 ponto de achar impossivel pregar, ate que urn diaencontrou por acaso 0versiculo: "Quem mais tenhoeu no ceu? Nao ha outro em quem eu me comprazana terra" (Salmos 73.25).

    N6.0 posso pregar sobre essa passagem, pen-sou ele. Ele confessou que havia uma pessoa na terraque rivalizava com Deus por seu amor. "Mas eu naoposso desistir dela", disse ele ao Senhor. "Farei urnacordo conttgo, Pai. Permita que eu continue a ama-lae eume afastarei dela. Irei pregar porTi nas monta-nhas remotas doTibet, se necessario." Por semanas,Watchman procurou esforcar-se, ainda que atravesde serm6es urn tanto desanimados e tratou de man-ter-se a distancia do Salmo 73.

    Entao, num dia frio de fevereiro, ele sentiuquenao podia mais prosseguir, Retornou a seu quar-to, abriu sua Biblia e dtngiu-se a Deus aos brados:'Eu abrirei mao dela! Ela nunca sera minha!"4Umapaz sobrenatural inundou seu espirito. Naquela noite,de escreveu uma cancao que Charity soveria muitosanos depois.Agora eu amo meu precioso Salvador,A Ele somente desejo agradar.Por Ele, as conquistas perdem 0valor,E 0consolo nao consegue aliviar,Tu es meu consolo, misericordioso Senhor,Nada tenho no ceu senao a Ti.E para quem, a nao ser a Ti, darei meu amorNeste mundo em que ate hoje vivi?Embora venham as provas e a solidao,Superarei as aflicoes e a dor.Uma coisa apenas Te pe

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    Watchman Neepertferia domovimento. Multo embora compreendes-se esses motivos, e1eficouarrasado com a traicao deseus amigos.Watchman mudou-se de Foochow para Mah-sien, uma pequena vila de pescadores nao multo dis-tante da missao da senhorita Barber, onde FaithfulLuke servia ao Senhor. La e1ealugou uma pequenacabana e resolveu atirar-se a urn estudo mais profun-do da Palavra de Deus. Ele tambem esbocou algunsprojetos de publicacao de uma revista crista, a qualchamou deRevival (N.T.:Renascimento, ou, nojargaoreligioso, Reavivamento). Ele tinha esperancas de es-crever artigos que pudessem ajudar os recem-conver-tidos a crescerem na fe. Mas ele estava passando poruma profunda depressao, fruto da dissidencia de seusirmaos de Foochow, e achava dificil comecar 0 tra-balho. Foi quando Faithful Luke chegou de WhiteTeeth Rock, a fim de visita-Io.

    Os dots amigos sabiam que Watchman encon-trava-se num impasse e que nenhuma estrategta hu-mana traria uma solucao, Portanto, fizeram 0 quehavia se tornado natural para ambos apos longosmeses de pratica. Eles oraram. Diante do litoral doGrande Mar da China, empenharam-se em oracoesagoniadas ate sentirem que haviam obtido a mesmaresposta, bern clara. Ambos crtam que Deus estavalhes dizendo: "Deixem os problemas comtgo, Vao epreguem as Boas Novasl'" Poucos dias depois, sou-beram 0que Deus lhes havia reservado.

    Eles receberam urn convite urgente da ma-drasta de Faithful Luke para que fossem pregar emuma vila paga, onde ela trabalhava como parteira. Avila de Mei-hwa estava localizada numa ilha fora dacosta chinesa, e os dois amigos levaram consigo cincoirmaos em Cristo, a flm de cobrirem toda a area pre-gando 0evangelho, Apos uma semana de intenso tra-balho espiritual, nenhuma conversao havia sido regis-trada. De fato, os habitantes da cidade ignoraram 0

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    Capi tu lo 5 - Onde Es ta 0Deus de Elias? ,pequeno, porem ativo, grupo de cnstaos, mantendo-se aferrados as suas proprias celebracoes pagas.

    Movidopor sua frustracao, Kuo-ching Lee, 0membro mais jovem dogrupo, gritou para uma multi-dao de aldeoes: "0 que ha com voces? Por que naocreem?"

    "Oh! Nos crernos", disse urn porta-voz. "Noscremos em nosso grande rei, 0 deus Ta-Wang. Elenunca falha conosco."

    Aoperguntar 0que isso sigmflcava, Kuo-chingfoiinformado de que nos ultimos 286 anos, Ta-Wanghavia feito 0 sol brilhar vivamente para as pessoasno dia do festival- 0que deveria acontecer dati a dotsdias. Imediatamente, 0bern intencionado jovern cris-tao vislumbrou sua oportunidade. Impetuosamente,anunciou: "Entao eu lhes prometo que nosso Deus,o Deus verdadeiro, fara chover nesse dia, 0 11Q"

    A rnultidao aceitou rapidamente 0 desafio."Naoprecisa dizermais nada", eles responderam. "Sechover no decimo-prtmeiro dia, entao seu Jesus e ,de fato, Deus. Estaremos prontos para ouvi-Lo."

    Watchman, que passara 0 dia pregando emuma outra localidade enquanto 0pacta fora firmado,consternou-se ao ser informado sobre seus termos.Tentado a repreender Kuo-ching por sua ousadia,em vez disso ele se pos de joelhos em busca de con-selho divino.

    "Pal, sera que fomos longe demais?" - pergun-tou. "Devernos deixar essa vila agora, antes que Teunome seja denegndo? Devemos deixar essas pessoasmudarem por si proprias?"

    Onde esta 0Deus de Elias? - foi a resposta asua prece profundamente sentida, fazendoWatchmanlembrar-se doprofeta que havia orado por chuva apostres anos de seca. Nodia seguinte, durante urn perio-dode oracao, amesma pergunta voltou, para confron-tar seu espirito. Onde esta.0Deus deElias?Watchmanestava convencido de que 0Senhor prometia 0Impos-

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    Watchman Nee Capitulo 5 - Onde Esta a Deus de Elias?sivel: chuva, num dia que nao vira uma so gota emquase tres seculos. Defato, ele estava tao certo disso,que levou 0desaflo de Kuo-ching pelas mas, anun-ciando-o a todos que estivessem ao alcance de suavoz.Os aldeoes foram preparados para urn confrontoentre deuses, marcado para 0dia seguinte.o alvorecer ensolarado deurn ceu sem nuvensdespertou Watchman de urn sono pesado na manhade onze de janeiro. Ele protegeu os olhos do brilhointenso e foiolhar 0movimento pela jane1a. Osmere-dulos aldeoes passavam apressadamente, ocupadosem sua rotina diana, preparando-se de maneira ativapara as festividades pagas daquele dia.

    "Senhor," ele orou, "isso nao se parece nadacom a chuva que Tu..." - sua oracao foi interrompidapor urna mensagem clara que ecoou em sua mente:Onde esta 0Deus de Elias?

    Ele vestiu-se ejuntou-se aos seis companhei-ros na mesa, para 0cafe da manha. Havia apreensaoem suas faces quando Watchman inclinou a frontepara conduzi-Ios na oracao de grac;as pela refeicao,"Pai", disse ele, "por favor aceita nossa oracao comouma suave lembranca de que Tu prometeste respon-der ao desafto dodeus-demonic no dia de hoje. Muitoembora nao haja uma nuvem sequer no ceu, nos ere-mos em Tua prornessa". Antes que ele pudesse dizer"Amem", os sete amigos ouviram umas poucas gotascaindo sobre 0telhado.

    Aoprimeiro sinal de chuva, diversas criancasdo vilare]o comecaram a cantar: "Deus existe, Ta-Wang nao existe! Deus existe, Ta-Wang nao existe!"Mas os pagaos mais velhos eram persistentes. Elescorreram para 0santuario e transportaram 0pesadoidolo de seu deus numa plataforma, carregando-opelas mas escorregadias. Ao comecarem a imploraraos brados que ele parasse a chuva e derrotasseaquele Jesus, os ceus se abriram num aguaceiro tor-rencial.

    Acena do lado de fora da porta de Watchmanera aomesmo tempo divertida e comica. Onde estavaoDeus deElias? Ele estava desencadeando uma tem-pestade naquela martha, de proporcoes nunca vistaspelo povo de Mei-hwa. A agua ja tinha alcancado 0nivel do portico demuitas casas, e chovia a cantarospor toda a cidade. Watchman teve que se esforcarpara nao rir, ao ver os carregadores do idolo lutandopara nao perder 0 equilibrio,

    Onde estava 0deus Ta-Wang? Ele oscilava notopo da plataforma, surdo ante os grttos de seus ado-radores. Foi entao que os carregadores escorregarame 0 idolo veio abaixo, espatifando-se na calcada. Acabeca e 0braco esquerdo saltaram longe do restodo corpo. Os habitantes do vilarejo teriam ouvido acomemoracao dos seis obreiros de Watchman, se 0rugir da tempestade nao fosse tao alto.

    Aestatua danificada foilevada as pressas parauma casa, onde urn sacerdote pagao pas sou algumtempo fazendo preces diante dela. Quando a tempes-tade finalmente abrandou, ele saiu pelas mas procla-mando: "Hoje era 0 dia errado. 0 festival deve serrealizado no 14Q dia, as 6 horas da tarde."

    Watchman sabia que Deus ouvira 0desafio, eorou em silencio: "Senhor, concede-nos tempo bornate a hora mencionada. Temos muito 0que fazer." Epelos proximos tres dias e meio, os amigos evange-lizaram ousadamente sob 0mais limpido dos ceus.Mais de trinta aldeoes que haviam vivido nas trevasconverteram-se publicamente a Cristo num climamaravilhoso, ate as 6 horas da tarde do 14Q dia. Exa-tamente na hora estabelecida, uma tempestade gtgan-tesca, que rivalizava com a primeira, desabou sobreo vilarejo. 0 diluvio resultante decretou 0fim do do-minto de Ta-Wang sobre 0 povo, para sempre.

    No dia seguinte, Watchman retornou a terraflrme, fortalecidoem sua fepela licaoadvinda dopoderde Deus, 0que the serta uti!na epoca de sua detencao

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    Watchman Neee aprisionamento anos depois: nao im?Olia q~ao duraseja a provacao - mesmo que se~s arrugos mais chega-dos venham a trai-lo - Deus esta presente e Sua obradeve prosseguir.

    1 Kinnear, p. 452 Kinnear, p. 533Lee, p.334 Lee, p. 505 Lee, p. 58

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    CapftuJo6Tu d o D epe n d e d a F e

    liT1 o-sheng," disse Margaret Barber duranteuma das visitas deWatchman a missao, "uma peque-

    na folha de uma arvore pode bloquear a lua inteira,conforme 0ponto de vista da pessoa."

    "Mas, senhorita Barber", respondeu ele, "quefolhas sao essas que preciso remover para permanecerinteiramente na luz?"

    "Meu jovem amigo", disse ela, "se eu podarsua arvore para voce, voce nada aprendera. Vocepre-cisa encarar a verdade interior por si mesmo",

    Ele retornou a sua existencla espartana napequena cabana em Ma-hsien e passou longas horasolhando flxamente 0Rio Min, refletindo sobre suavida. Sua honesta auto-analise finalmente levou-o aperceber duas barreiras que 0 estavam impedindode seguir em total obediencia, duas pequenas folhasque bloqueavam sua visao do plano perfeito de Deus.A primeira area problematic a era sua duvida emrelacao a fe,

    Ap6s a formatura no Trinity College, Watch-man deixou para tras a educacao formal e tornou-seautodidata em teologta e nas Escrituras. Ele lia comvoracidade; mas, independentemente de quanta es-tudasse, ele nao conseguia eliminar urn temor que 0havia perseguido por anos: 0de que urn ateu instruidoou urn brilhante critico da Biblia pudesse convence-10 de que a Palavra de Deus nao era conflavel. Eletemia que as duvidas decorrentes disso pudessemforca-lo a afastar-se da fe . Mas aconteceram dois Inci-dentes que flnalmente 0 sossegou.

    55 1Watchman Nee Capitu lo 6 - Tudo Depende da F e

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    o primeiro foi a historia que the foi contadapor urn simples alfaiate de nome Chen, que vivia naprovincia de Watchman. A (mica parte da Biblia queo Sr. Chen possuia era uma pagina que havia encon-trado, contendo os ultimos 12versiculos do Evange-lho de Marcos. Sem ter como saber que a maioriados anttgos manuscritos mais conflaveis nao incluiaaqueles versiculos (tornando-os, portanto, nao con-flaveis para os eruditos modernos), 0pequeno alfaiateentesourou cada palavra e veio a conhecer a JesusCristo pessoalmente atraves delas. De fato, eledecidiu, apos orar muito, testar 0versiculo 18 (N.T.:"...pegarao em serpentes; e, se alguma cousa mortiferabeberem, nao lhes fara mal; se impuserem as maossobre enfermos, eles flcarao curados.") em sua propriavila. Multo embora soubesse instintivamente que 0dom de Deus da salvacao em Cristo fosse multo maisimportante que os dons de cura, eleiniciou uma cam-panha de porta em porta a fim de provar a veracidadedo versiculo 18. Deus honrou sua fe simples; e aposa cura miraculosa de urn de seus vizinhos, ele silen-ciosamente retornou a sua loja para continuar tra-balhando e diariamente testemunhando a seusclientes.

    Watchman ficou profundamente comovido poressa historta e, apos refletir a respeito dela, passou alancar mao da mesma resposta confiante sempre queera atacado por eruditos liberais e criticos da fe: "Sim",ele responderia calmamente, "existe uma grande dosede razao no que voce diz- mas eu conheco meu Deus.Isso e 0suftciente."!

    Urn outro incidente nao apenas 0 curou dequaisquer duvidas remanescentes acerca da fecrista,mas levou-o a confrontar a segunda area problematicaque 0impedia de prosseguir em completa obediencia,Numa vila proxima, ele encontrou urn lavrador recem-convertido que estivera diante de urn dilema moral.Seu pequenino campo de arroz ficava exatamente

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    acima da corrente de imgacao da encosta, e ele traba-lhava duro para bombear manualmente a preciosaagua montanha acima ate 0tanque deretencao. Repe-tidamente, seu desonesto vizinho, da fazenda abaixoda sua, subia a encosta sorrateiramente e drenavaseu suprimento de agua a fimde irrtgar seus proprioscampos la embaixo.

    Frustrado e zangado, 0 lavrador crtstao procu-rou seus novos arnlgos na igreja, em busca de conse-lho. "Arneseus Inimigos e ore por aqueles que 0perse-guem", eles the citaram as palavras do Senhor. Aposterem orado juntos, ele sabia 0 que tinha de fazer."Devo andar a segunda milha", disse ele, e retornoupara sua fazenda para urn trabalho de amor. Logodemanha, montou seu equipamento e bombeou parabaixo agua suficiente para os dois campos pertencen-tes a seu vizinho. Entao, a tarde, ele bombeou urnsuprimento para seu proprio campo.

    Esperando vinganca emvez de amor, 0vizinhoficou profundamente tocado. Subiu a montanha eperguntou ao lavrador cristao por que ele havia agidode maneira tao bondosa. Apos diversos encontros,havia dois lavradores cnstaos vivendo naquela en-costa.

    Quanto mais Watchman observava 0Espiritode Deus operando nas vidas daqueles que encontra-vam a Cristo atraves de seus esforcos evangelisticos,menos ele duvidava de sua fe . Ele sabia que agoradeveria lidar com a segunda barreira que 0mantinhalonge de ser preenchido com "a medida da estaturada plenitude de Cristo" (N.T.:Efesios 4~13):sua con-formidade a forma ocidentalizada (e frequenternenteinerte) de quase-crenca, que se passava por cris-tianismo em seu pais.

    Por toda a China, 0estado da igreja institucio-nal havia decaido para urn morno secularismo religio-so. Ainveja denominacional e os sacerdotes orgulho-sos haviam praticamente paralisado 0movimento do

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    ~p

    II Watchman Nee Capit ul o 6 - Tudo Depende da F e

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    l Espirito emmeio ao sistema eclesiastico estabelecidopelos mtsslonarios ocidentais. Como resultado, 0sen-timento nacionalista antiocidental, antlcristao, estavaencontrando receptividade entre muitos chineses.

    Acorrupcao da igreja era 6bvia, e ainda assimWatchman via urn grande nurnero dejovens famintosde alimento espiritual - muito embora estivessemdesiludidos com a forma presente do cristianismona China. Ele se convenceu de que a resposta estavanum retorno ao padrao da verdade de Deus, encon-trada no Novo Testamento. E tomou uma decisao:em vez de capitalizar 0fervor nacionalista e antimis-sionario da epoca, elemanteria seus contatos ociden-tais e devotaria sua vida ao melhoramento da quali-dade espiritual da vida crista dos chineses. "Na obrade Deus", disse Watchman, "tudo depende do tipo deobreiro enviado e do tipo de conversao obtida.'?

    Amente agucada e a paixao por santidade flze-ram de Watchman urn dos poucos intelectuais cris-taos na China capaz de compreender c1aramente 0problema real da igreja em sua terra natal: a fe doscristaos era demasiadamente superficial; nao estavaenraizada no conhecimento da Palavra de Deus. "0meu povo esta sendo destruido, porque the falta 0conhecimento", c1ama 0Senhor [Oseias 4.6).

    Watchman sabia que de algum modo teria queconscientizar seus compatriotas de que 0Cristianis-mo era mais do que 0perdao inicial dos pecados oua mera garantia de salvacao, Os cristaos imaturosprecisavam aprender a veneer 0pecado diariamente,como urn diligente "povo da Biblia", Jesus precisavaser mais do que Aquele que nos conduz ao Paraiso;Ele deveria ser nossa pr6pria vida na Terra.

    Mas, como poderia ele transmitir esse conceitoa seu povo? Ele estava demasiadamente ocupado pre-gando nos vilarejos, sem dispor de tempo para escre-ver com a seriedade necessaria, para registrar seuspensamentos na forma de livros. "Alemdomats", con-

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    siderou ele, "sou muito jovem para urn projeto dessamagnitude ... e tenho uma vida inteira pela frente."Deus estava prestes a mudar esse modo de pensar.

    Watchman contraiu uma tosse bastante seriae comecou a acordar demadrugada suando profusa-mente ou tremendo ate os ossos. Uma visita ao Dr.Wong resultou num diagn6stico sombrio: tuberculo-se. De fato, por acaso, Watchman ouviu 0born doutorcomentando com sua enfermeira, num gabinete in-terno: "Pobre rapaz! Lembra-se do ultimo caso seme-lhante? 0 paciente morreu em seis meses.?"

    De inicio, Watchman foi novamente tornadopor uma profunda depressao. "Senhor, como isso po-de estar acontecendo?" - ele questionou. "Tenho tan-tas coisas a fazer por Ti. Como 0 flm pode estar taopr6ximo se eu ainda mal comecei?"

    Ap6s uma nova bateria de exames de raios-X,o doutor aflrmou: "Vocenao devemais vir me consul-tar. Eu estaria apenas tirando seu dinheiro. Naopossolhe dar esperancas", Por mais estranho que issoparecesse, essa noticia acalmou seu espirito e ani-mou-o a agir, Watchman conc1uiu: "Se you morrerem breve, Senhor, que se]a enquanto estiver escre-venda sobre todas as coisas maravilhosas que 0Espirito Santo tern me ensinado a partir de Tua Pa-lavra". Foi des sa maneira que teve inicio sua lutapara escrever 0 Homem Espiritual (The Spiritual Man),a obra-prima de sua, ate entao, curta vida.

    Por flm, com a ajuda de seu querido amigo,Faithful Luke, Watchman foi deixado aos cuidadosde Margaret Barber em White Teeth Rock. E foi laque a febre alta, que frequentemente acompanha atuberculose avancada, apoderou-se de seu corpo. Elepersistiu em escrever, muitas vezes redistribuindosuas anotacoes, outras vezes perdendo varies diaspor absoluta falta de mem6ria.

    Certa vez permaneceu acamado, inconsciente,por urn periodo tao longo que se espalhou, entre seus

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    Watchman Nee Capitulo 6 - Tudo Depende da F e

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    amigos (edestes para as igrejas por toda a provincia),o boato de que ele havia morrido. Ao sair daqueleestado, a primeira coisa que pode ver foi a expressaode preocupacao no rosto da senhorita Barber. Aindade cenho franzido, ela sorriu suavemente e the disse:"Meu querido To-sheng, a vit6ria esta em Cristo."Quando consciente, ele podia ouvi-la citando-lhe asEscrituras."Aquele que sofreu na carne deixou 0pecado",ela citou Paulo (N.T.:1 Pedro 4.1b). "To-sheng, vocepode me ouvir?" - ela perguntou. "0 poder se aper-feicoa na fraqueza (N.T.:2 Co 12.9). 0Senhor estafortalecendo 0 seu interior."

    "Nao ha nada de novo no que voce esta pas-sando", ela sussurrou. "Voceesta simplesmente 'le-vando no corpo 0 morrer do Senhor Jesus Cristo'(N.T.:2 Co 4.10). Nao desista, meujovem amigo. Avit6ria esta em Cristo."Afebre intensa retomou, mas Watchman recu-sou-se a se dar por vencido. Embora sua pele estivessequente aotoque, seu espirito estava ainda mais quen-teoTendo pedido caneta e papel, pos-se a escreversofregamente. Uma enfermeira ja experiente, que visi-tava a senhorita Barber e que havia feito 0possivelpor Watchman, desfazia-se em lagrtmas cada vez queentrava no quarto do paciente e constatava suas la-mentaveis condicoes. Acerta altura, ela confidenciouaos amigos: "Ja vi muitos pacientes, mas nunca urntao doente quanta este. Temo que ele s6 tenha tresou quatro dias de vida.?"

    Quando seus colegas tentaram convence-lode que ele certamente morreria se insistisse naqueleesforco, ele se calou, em seu quarto, e pos-se a es-crever ainda mais resoluto. A enfermidade agravou-se de tal modo que, quando deitado, Watchman naoconseguia mais respirar sem sentir dores. Assim, elese apoiava em uma cadeira de encosto alto, pressio-nava seu t6rax contra a escrivaninha e punha -se a

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    escrever, Como ele pr6prio testemunhou mais tarde,'satanas vinha ate mim naquele quarto e dizia: 'Jaque voce vai morrer logo, por que nao de modo con-lortavel e sem dor?' E eu retrucava aos grttos: '0 Se-nhor deseja dessa maneira. Agora, caia fora daqui!?"

    Ap6s quatro meses de batalhas dimas, todosos quatro volumes deThe Spiritual Man estavam empi-lhados sobre a mesa pr6xima a sua escrivaninha.Tornado pela debilidade, Watchman orou: "Agora,per-mita que seu servo parta em paz."

    Ele agonizava ... e sabia disso. Sua amiga, RuthLee, que estava em visita a missao, tambem sabia.Ela reuniu diversos cristaos dos arredores e levou-os a orar e a jejuar por urn periodo de tres dias emfavor de Watchman. Ao final desse tempo, em suacama e com dificuldades para respirar, Watchmanrecitou os tres versiculos que surgiram de maneiraclara em sua mente: ..... porquanto pela feja estaisfirmados" (2Corintios 1.24); ..... andamos por fe" (2Corintios 5.7); e .....tudo e possivel ao que ere" (Marcos9.23). A partir daquele exato instante, ele creu queDeus 0havia curado. Enquanto isso, os cristaos per-maneciam em oracao num OUtrOaposento no andarde baixo.

    Aprova daveracidade desses versos nao demo-rou a manifestar-se. A Palavra de Deus Ihe dizia:.....pela feja estais flrmados". Ele ergueu-se lentamen-te de seu leito de morte e vestiu-se com as roupasque nao usara por 166 dias. Mais cambaleante doque propriamente de pe, encharcado de suor, Watch-man lembrou-se das palavras .....andamos por fe".Deu dois passos e sentiu que iria desmaiar.

    "Onde queres que eu va?" - ele perguntou aoSenhor. A resposta Ihe veio: "Desca a escada ate 0quarto onde se encontra a irma Lee". Com grandediflculdade, ele atravessou 0 quarto e abriu a portapara 0van da escada. Ela era pertgosarnente ingreme,e parecia impossivel de se transpor. "Tudo e possivel",

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    sussurrou-lhe 0Espirito Santo, e ele comecou a des-cer. A cada passo, ele exc1amava: "Andamos por fe:andamos por fel' Ao fmal dos 25 degraus, ele se deuconta de que estava totalmente curado!

    Com lagrimas nos olhos, Watchman caminhouvtgorosamente para 0 quarto de Ruth Lee. Bateu aporta, e quando a abriram, a senhorita Lee e seusamigos emudeceram de assombro. Por quase umahora, e1esse mantiveram sentados em silencio, sorrin-dopara ele, incapazes deverbalizar sua alegria. Final-mente, Watchman rompeu 0 silencio e relatou toda ahist6ria de sua cura. Doces momentos de celebracaoe louvor se seguiram.

    Alguns dias depois, emuma manha de domin-go, Watchman permaneceu de pe num culto matinalde adoracao e caminhou por cerca de tres horas, pre-gando poderosamente a Palavra de Deus.

    1 Kinnear, p. 662 Kinnear, p. 693 Kinnear, p. 714 Lee, p. 925 Lee, p. 91

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    Capitulo 7Morrer Para Viver Com Cristo

    E m maio de 1928, mais saudavel do que jaestivera em anos, Watchman decidiu transferir a basede seu mlnisterio para Shanghai. Ele tinha dois bonsmotivos para tal. 0 primeiro era que sua colaborador