O Homem Paranormal - Os Fatos e a Realidade Da Parapsicologia (Georges Pasch)

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O HOMEM PARANORMAL OS FATOS E A REALIDADE DA PARAPSICOLOGIA Georges Pasch Tradução de Michèle I. Koralek MERCURYO ÍNDICE Introdução O método de exame - As bases do método científico - Os corpos do homem - A reprodutibilidade - A experiência e o testemunho - A ciência clássica oficial - Os que

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O HOMEM PARANORMAL OS FATOS E A REALIDADE DA PARAPSICOLOGIA

Georges Pasch

Tradução de Michèle I. Koralek

MERCURYO

ÍNDICE Introdução O método de exame - As bases do método científico - Os corpos do homem - A reprodutibilidade - A experiência e o testemunho - A ciência clássica oficial - Os que

acreditavam e os que não acreditavam Primeira parte PROPRIEDADES MISTERIOSAS DO CORPO HUMANO 1. Combustão humana espontânea Os fatos - Combustão espontânea com pequenas chamas - Teorias e explicações -Combustão espontânea pontual - Conclusões 2. Hipertermia 3. Imputrescibilidade (incorruptibilidade) Casos antigos - Casos modernos - Análise dos fatos 4. Inédia Os fatos - As explicações da inédia Conclusão Segunda parte O ESPÍRITO E A MATÉRIA (Fenômenos físicos da parapsicologia) 5. Os raps 6. Telecinesia (TK) Estudos experimentais - Estudo experimental dos fenômenos de poltergeist - TK e os animais - Mesas giratórias - Angélique Cottin, a "menina elétrica" - Conclusão 7. A Psicocinesia (PK) Os fatos - Uri Geller 8. Materialização e desmaterialização Aportes - Os fatos - Objetos deslocados - Animais deslocados 9. Passagem através da matéria 10. Levitação Os fatos - A perda de peso acompanhando a levitação - Teletransporte e "vôo psi” 11. Materializações mediúnicas Materializações perfeitas - Moldagem das materializações Desmaterialização do médium - As vozes múltiplas Terceira parte ASSOMBRAÇÕES E APARIÇÕES 12. Poltergeists

Estudo geral - Fenômenos dos poltergeists - A personalidade do poltergeist - Os fatos -Fenômenos incendiários 13. Formas intermediárias e atípicas dos poltergeists Poltergeist agressor - Passagem do poltergeist à infestação: um poltergeist assassino -Assombração benévola - Assombração consciente 14. As casas assombradas Os fatos - Estudo experimental de um fantasma in loco 15. Assombrações marítimas Quarta parte OS PODERES DA MENTE I. AS CAPACIDADES 16. Telepatia (TP) Telepatia e sugestão - Transmissão a partir de submarinos submersos - Transmissão a partir da nave espacial Apollo - Transmissão telepática do homem ao animal - ...e ao vegetal - Casos de transmissão telepática do animal ao homem 17. Clarividência Estudo sistemático da vidência pela escola de J. B. Rhine - Aplicação da vidência à pesquisa científica - Edgar Cayce 18. Clariaudiência 19. Percepção extra-sensorial (PES) por intermédio de um objeto (PESOR) 20. Xenoglossia II. PODERES DA MENTE SOBRE A MENTE 21. Exteriorização da sensibilidade - Trabalhos de De Rochas 22. Possessão - Agressão pelo médium "possuído" - Incorporação III. PODERES DA MENTE SOBRE SEU CORPO 23. Os estigmas - Estigmatização diabólica 24. A incombustibilidade do corpo humano. A resistência ao fogo Os fatos - Os anastenares gregos - As explicações 25. Resistência às ações mecânicas As convulsionárias de Saint-Médard - As convulsões - As curas milagrosas - A "comedora de detritos" - As "sugadoras”

IV. PODERES DA MENTE SOBRE OS CORPOS DOS OUTROS 26. Médiuns de cura Matthew Manning - Curas instantâneas 27. Cirurgia com as mãos nuas Os controles - Os cirurgiões do além 28. Curas milagrosas Os fatos e as categorias dos que recebem os milagres - Estudos científicos das curas milagrosas V. NÓS SOMOS VÁRIOS? 29. Personalidades dissociadas Caso Mollie Fancher CONCLUSÃO A constituição física do homem Os corpos do homem

INTRODUÇÃO Este trabalho apresenta um apanhado dos fenômenos paranormais concernentes ao homem. Alguns deles, que a ciência clássica evita ou afasta, são relativos a certas propriedades da mente humana, enquanto outros dizem respeito à existência, além do corpo físico conhecido, de um outro corpo, geralmente designado como corpo sutil ou corpo astral. Para que se pudesse abranger totalmente o conjunto dessas questões, apresentando, para cada uma, um número suficiente de casos controlados, foi necessário sacrificar o lado pitoresco e anedótico, inútil para a clareza da exposição. Foram conservados apenas os casos claros, que não admitem interpretações alternativas. A maior parte está referenciada. Reportando-nos aos textos citados, encontraremos um número bem maior de outros casos. Neste exame crítico de FATOS, as discussões teóricas foram rigorosamente excluídas. Consideraremos aqui apenas os fatos, seu controle e as conclusões que deles é possível

tirar. As comparações entre duas interpretações possíveis, com as razões que permitem inclinar-se mais para um lado que para outro, são mantidas apenas na medida em que delas se deduzem as conclusões. Estas conclusões podem ser, portanto, classificadas como demonstrações científicas e não como opiniões; elas são o próprio objetivo deste livro. O método de exame A realidade dos fenômenos ditos paranormais é um assunto controvertido: enquanto alguns prosseguem em seus estudos, outros afirmam que, à parte certos fatos aberrantes que, no momento certo, reintegrarão o domínio clássico, a maior parte destes fenômenos não existe. Melhor que uma demonstração teórica, a ausência completa destes fatos dos tratados e dos manuais demonstra que, diante do paranormal, a posição dos "oficiais" não é a de uma expectativa racional, mas sim a de uma rejeição dogmática. Não se pode esclarecer tal questão controvertida sem entrar na discussão, já bastante densa. No entanto, é possível desempatar o debate, com a condição de se ter uma base de exame indiscutível, situada acima do conflito. Algo como um padrão de comparação, com o qual se possa confrontar, não os próprios argumentos antagonistas, o que seria bem temerário, mas a qualidade global da argumentação de cada campo, o que é factível, pois, apesar de sua alta competência, os pesquisadores podem cometer erros metodológicos, cuja gravidade um não-especialista pode perfeitamente estimar. No que diz respeito à disputa entre os adeptos e os adversários dos fenômenos paranormais, esta confrontação situa-se ao nível das experiências e de sua interpretação. Ora, a base indiscutível para tal exame existe: é o bom e velho método científico, tal qual foi elaborado e aperfeiçoado ao longo dos séculos, desde os gregos até os nossos dias. A aplicação precisa deste método, nos casos de oposição aparentemente irredutível entre os "pro-" e os "anti-psi",* geralmente permite detectar erros suficientemente graves para que se possa rejeitar uma das duas opiniões como indefensável e, por conseqüência, considerar a outra como verdadeira. Realiza-se, assim, o esclarecimento da questão. * Chamamos de "psi" o conjunto dos fenômenos estudados pela parapsicologia. (N. da T.) Ao emprego do método científico é preciso acrescentar algumas considerações ditadas

pelo bom senso, das quais a principal é considerar sem efeito toda opinião proveniente de uma pessoa ignorante da questão. Deveríamos ter vergonha de lembrar tais tolices, mas a situação se repete com muita freqüência entre os adversários do paranormal. Seguros de suas ações, eles outorgam-se o direito de falar daquilo que ignoram. Como o demonstra todo este livro, essa confrontação tende, via de regra, à confusão dos adversários dos fenômenos paranormais, ou seja, à confirmação destes fenômenos. Se todas as objeções contra um fato são retiradas, é porque o fato passou pela prova da crítica. As bases do método científico 1. "A experiência é a fonte única da verdade" (Henri Poincaré). 2. Só existem, no Universo, os objetos e as relações entre os objetos. O objeto é considerado aqui em seu sentido mais geral: tudo aquilo que tem uma existência qualquer, material, perceptível ou mental. 3. Um objeto, no sentido geral, tem apenas uma propriedade geral, a de existir: ele existe ou ele não existe. 4. Uma relação só pode ser verdadeira ou falsa. A existência de um objeto não depende e não pode depender de qualquer raciocínio. Opor um raciocínio ou uma consideração, quaisquer que sejam, a um objeto que existe denota confusão mental. Uma relação pode existir apenas na mente de alguém; ela não tem existência no mundo exterior. Corolários - Se um objeto é incompatível com uma idéia, esta idéia deve ser modificada. - Uma proposição pode ser verdadeira: 2 x 2 = 4; falsa: 2 x 2 = 3; absurda: 2 x 2 = uma vela; incerta: an + 2 + cn + 2 # cn + 2; ou desconhecida: x = ? As três últimas proposições são relativas apenas a alguém. A terceira é de Tchekhov, a quarta, de Fermat.

- Uma afirmação infundada é uma crença e encontra-se fora do conhecimento racional e deste livro. - Todo método que esteja em contradição com o que precede é falso. O que precede nada tem a ver com "a natureza final", "a coisa em si" e outras elucubrações escolásticas. Trata-se das bases da metafísica verdadeira, aquela que prolonga racionalmente a física sem introduzir hipóteses inúteis, exposta, por exemplo, em Hoëne Wronski, que demonstrou que, em última análise, o mundo reduzia-se aos elementos existentes, à idéia que se faz destes elementos e ao elemento de ligação que mantém juntos estes dois elementos heterogêneos (o ser não tem qual-quer propriedade do pensamento, o pensamento não tem qualquer das propriedades do ser). "É preciso adaptar as teorias à natureza e não a natureza às teorias." Os corpos do homem O homem, com seu aspecto comum, é um ser bem mais complexo do que leva a crer a ciência clássica. As facetas insólitas do homem, demonstradas pelos fatos expostos neste livro, tornam-se bastante evidentes através dos numerosos fenômenos paranormais, que se confirmam uns aos outros e conduzem às mesmas conclusões. Entretanto, como esses aspectos do homem total não são evidentes - quer para o observador normal, que não os vê, quer para o pesquisador oficial, que os nega ao mesmo tempo em que se desinteressa dos fatos -, fomos obrigados a mencioná-los com uma certa terminologia, desde o início de nossa exposição. É por isso que, antecipando-nos à conclusão geral do trabalho, damos, abaixo, o esquema da verdadeira constituição do homem, com seus diferentes corpos, tal qual resulta dos fatos experimentais. 1. Corpo físico 2. Corpo vegetativo, ligado à vida do corpo. Seu bloqueio "no lugar" explica, talvez, a não decomposição de certos corpos. 3. Corpo sutil (astral), responsável pelas aparições e pelos fantasmas. 4. Inconsciente. Esta entidade, conhecida dos psiquiatras, pode tornar-se distinta e autônoma nas personalidades dissociadas, nos poltergeists e nas materializações perfeitas. 5. A mente consciente. Pode existir fora do corpo, como o demonstram os fenômenos da

experiência fora do corpo, a experiência autoscópica e a experiência transcendental. A maior parte dos fenômenos paranormais é provocada pela existência do corpo astral, pela atividade individual do inconsciente e pela possibilidade de a consciência deixar seu corpo. No Oriente, onde esses estudos têm, sobre os nossos, um avanço de vários séculos, dá-se o esquema seguinte: 1. Corpo físico, corpo denso. 2. Duplo etérico, corpo astral, veículo do Prâna. 3. Prâna = Vitalidade (sopro de vida). 4. Kâma = Corpo dos desejos, paixões, emoções. 5. Manas = Inteligência. 6. Buddhi = Veículo do Atmâ. 7. Atmâ = Espírito. - O Atmâ, o Buddhi e o Manas superior constituem a tríade imortal. É "o espírito". - O Kâma e o Manas são condicionalmente imortais. Constituem a "alma". - O Prâna, o duplo etérico e o corpo denso são mortais. É o "corpo". A reprodutibilidade Entre as mais freqüentes críticas levantadas contra os fenômenos paranormais, encontramos que são variáveis, imprevisíveis e, sobretudo, não reprodutíveis, sendo que esta última característica coloca-os à parte dos fatos científicos. Esta afirmação, que só pode provir de ignorantes mal-intencionados, é simplesmente contrária à verdade. Há dois séculos que se experimenta neste campo, sendo que as materializações, a levitação, a ectoplasmia, a clarividência e a telepatia foram reproduzidas um número incalculável de vezes, com resultados idênticos. Os fenômenos espontâneos, tais como a imputrescibilidade, a inédia, a combustão espontânea do corpo, as assombrações, repetem-se sem variar. Encontraremos exemplos destes fenômenos, em particular, em cada capítulo deste livro. A experiência e o testemunho Outro assunto predileto dos adversários do paranormal é o papel preponderante da testemunha.

O fato é que todas as experiências e todas as observações nas ciências são feitas por testemunhas: tudo o que sabemos das mesmas é o que delas é relatado. Entretanto, a repetição das observações e das experiências permite eliminar esse elemento humano e a relação adquire objetividade. Conseqüentemente, eliminando-se a testemunha incômoda, não se terá que discutir o seu relato. É o que praticam correntemente os "anti-psi", sobretudo por ignorância. Assinalemos apenas alguns dos procedimentos utilizados: "Apenas mentes fracas podem interessar-se por estas coisas" - Resposta: "Falam de Pasteur, Curie, Crookes e Edison?". "Hábeis charlatães, ilusionistas enganaram pesquisadores ingênuos" - Resposta: "Foram organizadas experiências na ausência de médiuns (entre as quais as da SORRAT); existiram médiuns ricos e independentes, que não buscavam qualquer publicidade, como KIuski; fenômenos espontâneos foram observados na ausência do operador (Efeito Geller)" . "São efeitos de sugestão de massa" - Resposta: "Este argumento se reduz a supor que todo mundo é louco". Et coetera. Na realidade, a literatura paranormal não difere em nada da de qualquer outra área científica: há livros, periódicos, organizações de estudo, algumas universitárias e, finalmente, muitas publicações sobre o "psi" utilizam os periódicos oficiais. O estudo dos fenômenos paranormais encontra, da parte dos cientistas oficiais, uma oposição ora velada, ora aberta; caluniosa no primeiro caso, frenética e brutal no segundo. Esta oposição acompanha-se de uma recusa absoluta de informar-se sobre o que está sendo combatido, com uma intransigência total. A razão desse exclusivismo, que se acreditava extinto desde as fogueiras da Inquisição, é que os supostos racionalistas não têm aqui os fatos científicos para discutir, mas sim uma doutrina de estrutura religiosa para defender. Esta doutrina pode ser resumida em um dogma único: "O materialismo é a única doutrina científica da filosofia; o mundo é material, a matéria é primária e a consciência deriva dela". Segue-se daí, notadamente, que os movimentos da matéria explicariam todos os fenômenos da natureza. Como todas as doutrinas gerais, o materialismo foi necessário, mas, a partir do momento em que ele se proclamou como explicação única e exclusiva da natureza, inseriu-se, fatalmente, entre todas as outras doutrinas que, ao longo dos séculos, opuseram-se ao progresso. E os defensores de uma doutrina que está a ponto de fossilizar-se tornam-se automaticamente perseguidores. Daí vem a triste imagem das ciências parapsicológicas, que, enquanto nos estão abrindo as portas para um mundo novo, encontram-se expostas aos ataques rancorosos e fanáticos por parte daqueles que deveriam ser os primeiros a aplaudi-Ias. Não é necessário buscar qualquer explicação racional para sua atitude contra os

parapsicólogos: é o ódio sagrado contra aqueles que se rebelaram contra o dogma. A ciência clássica oficial A ciência racionalista fundamenta-se numa limitação dogmática dos fatos a serem estudados, unicamente às entidades de matéria e de energia, num certo espaço-tempo. Em particular, a vida deve explicar-se pelas reações da matéria orgânica e o funcionamento da mente pelo funcionamento dos tecidos cerebrais. Ora, os fenômenos paranormais só podem ser explicados admitindo-se, de uma parte, a existência de uma mente independente do corpo, cujo funcionamento não apela às realidades físicas conhecidas e, de outra parte, a existência de formas de energia desconhecidas da física clássica. Resulta daí que os fenômenos paranormais não existem. Se eles existissem, todas as bases da ciência clássica deveriam ser revistas, o que não pode ser considerado. É uma verdade dogmática. As conseqüências da mesma são as seguintes: 1. Afirmar a realidade dos fenômenos paranormais não é um erro que poderia ser retificado por procedimentos racionais das ciências. É, exatamente, uma heresia, que deve ser combatida e aniquilada. 2. Na erradicação de uma heresia, todos os golpes são permitidos. O que digo é corroborado por inúmeros exemplos, antigos e modernos. Quando um cientista se engana, permanece-se no plano da discussão científica: publicam-se refutações, os erros são esclarecidos... Na luta contra o "psi", os mais baixos golpes parecem estar autorizados. Os "anti-psi" outorgam-se o direito de falar como autoridades sem se darem ao trabalho de se informar. "Não quero perder meu tempo estudando fatos que contradizem os conhecimentos bem estabelecidos", escreveu Faraday. Crookes, mais filósofo, replicou-lhe: "Um fato nada pode contradizer, ele existe". Conseqüentemente, para combater o "psi", é permitido dizer qualquer coisa. Assim, por exemplo: "O próprio Rhine abandonou suas experiências". Elas seriam inoperantes após vinte e cinco anos de trabalhos positivos. "Em Saint-Médard, só vimos mulheres que tinham convulsões". A calúnia é muito utilizada. É um procedimento econômico: uma vez eliminado o autor, não há que se preocupar mais com o que ele disse. Mesmer foi acusado de charlatanismo e expulso da França; na realidade, ele partiu por vulgares razões financeiras; foi ele quem descobriu o hipnotismo médico. Uri Geller é um trapaceiro: é

exato que, a exemplo de muitos outros médiuns que se apresentam no palco, Geller consegue suplementar dons momentaneamente enfraquecidos com o recurso de comparsas. Mas a autenticidade. de seus dons excepcionais é absolutamente indiscutível (ver capítulo 7). Geller foi submetido a provas de controle, até durante semanas a fio, em condições draconianas (radiografia dos dentes para revelar um eventual receptor miniaturizado); ele convenceu quase todos os profissionais. Nestas condições, pretender que ele tenha podido enganar a todos é simplesmente estúpido. A destruição física dos adversários das doutrinas oficiais utilizou, em outros tempos, a fogueira (Giordano Bruno, Michel Servet). A destruição ligada à perseguição levou ao desespero André Vesale, fundador da anatomia, que queimou seus manuscritos; a seguir, forçado a fazer a peregrinação a Jerusalém, ele foi abandonado, doente, na ilha de Zante, onde morreu. Campanella foi aprisionado durante vinte e sete anos no século XVII. Carré de Montgeron, aprisionado e em seguida banido até sua morte, no século XVIII. Spinoza escapou da faca. Mais perto de nós, encontramos: Semmelweis, que derrotou a febre puerperal mas se opôs às doutrinas reinantes, foi perseguido em toda parte, arruinado, morreu no asilo (em meados do século XIX). No século XX, Reich, arruinado, morreu na prisão; Edmonds, presidente do Senado, juiz supremo do Estado de Nova York, foi forçado a demitir-se como conseqüência de suas publicações sobre os fenômenos paranormais; o coronel De Rochas precisou renunciar ao posto de administrador da Escola Politécnica pelas mesmas razões; Hoene Wronski, matemático e filósofo, foi expulso do Observatório de Marseille, ainda pelas mesmas razões (início do século XX). Progressivamente, foram retirados aos adversários de todas estas vítimas os meios de serem nocivos demais, mas eles ainda fazem o que podem. Meu último exemplo sobre as formas que pode tomar a luta contra o estudo objetivo dos fenômenos paranormais é instrutivo. Ele é recente. Em 1979, a célebre empresa de construção aeronáutica McDonnellDouglas decidiu financiar com até quinhentos mil dólares uma pesquisa destinada a estabelecer a realidade do fenômeno de psicocinesia (PK). Ela encarregou desse trabalho a Universidade Washington de Saint Louis (Missouri). A universidade confiou o trabalho ao professor Peter Philips, físico competente e prudente. O ilusionista Randi,conhecido como o "caçador de psi", ofereceu-se para o controle das experiências. Considerando que não seria possível trapacear nas experiências, Philips declinou da oferta. E recrutou, então, os sensitivos, através de pequenos anúncios. Ele conservou dois, entre os trezentos que se apresentaram. Os experimentos prolongaram-se por três anos, ao término dos quais os dois manipuladores receberam um atestado oficial, reconhecendo seus dons em PK.

Randi revelou, então, que os dois sujeitos não passavam de trapaceiros formados por ele e que conseguiram enganar o infeliz cientista. De fato, é normal prevenir-se contra a fraude, mas ainda pode-se supor que os principais colaboradores de um trabalho não vieram propositalmente para sabotá-Io. Há um mínimo de integridade a exigir dos assistentes. No direito penal isto leva um nome preciso: abuso de confiança e trapaça. Há pelo menos um laboratório de parapsicologia de onde Randi foi expulso por estas razões (em Grenoble). Para sermos exatos, ao mesmo tempo em que causou um grave dano a um cientista honesto, Randi não fez senão demonstrar sua própria desonestidade. Se ele pensa ter fornecido um argumento aos "anti-psi", isto faz ainda com que pese uma séria suspeita sobre sua capacidade intelectual. Podemos aproximar Randi da Sra. Golligher, médium trapaceira, cuja atividade semelhante conduziu um honesto pesquisador, Crawford, professor de mecânica na Universidade de Belfast, ao suicídio em 1920. É verdade que as ciências e os estudos do paranormal encontram-se excluídos das exposições fundamentais dos clássicos, mas não se deve crer que os cientistas oficiais os ignoram. Esses fenômenos foram objeto de pesquisas e de estudos pelas comissões científicas, academias das ciências, grandes hospitais, ministérios. Os trabalhos do campo extracientífico figuraram nas publicações fundamentais das ciências oficiais há bastante tempo. Enfim, várias universidades contam com laboratórios e seções oficialmente dedicados aos estudos do paranormal, por exemplo nos Estados Unidos e na União Soviética. Teme-se que, apesar de sua brilhante contribuição a estes estudos no passado, a França, envolvida pelo espírito chamado, não se sabe por quê, cartesiano, fique nos últimos lugares da lista. Os que acreditavam e os que não acreditavam Não se trata de extrair um argumento persuasivo de um apelo à autoridade, mas é normal considerar a opinião dos cientistas e dos pensadores reconhecidos, dos quais se conhece o valor intelectual e a profundidade de pensamento. Não existem pesquisadores que, tendo efetuado experiências longamente, tenham se pronunciado contra os fenômenos "psi". Por outro lado, na lista dos adversários encontramos vários grandes nomes que não se deram a esse trabalho, mas que nem por isso deixaram de falar com segurança, extraída de uma convicção a priori. Citemos: Lord Kelvin, Wirchow, Lalande, Babinski, Mendeleiev, Haeckel, Engels. O espírito objetivo dos partidários do "psi" se sobressai ainda do seguinte fato: alguns

admitiram os fenômenos em geral, mas negaram outros, insuficientemente demonstrados na época. Um certo número de cientistas, após terem negado os fatos paranormais, retrataram-se, algumas vezes publicamente: Lombroso, o célebre psiquiatra italiano, classificou inicialmente os espíritas entre os anormais. Retratou-se publicamente. Richet, fisiologista francês, prêmio Nobel, zombara de Crookes. Retratou-se publicamente. Alfred Russel Wallace, célebre naturalista inglês, opôs-se inicialmente aos espíritas, mas mudou de opinião em seguida. Oliver Lodge, físico britânico, inicialmente adversário dos fenômenos "psi", tornou-se em seguida um entusiasta defensor dos mesmos. Théodore Flournoy, fisiologista suíço, retratou-se, assim como Richet e Lombroso. John A. Wheeler, ciberneticista, publicou, em 1979, afirmações caluniosas contra J. B. Rhine, as quais desmentiu em seguida. Antes de ter efetuado experiências, William Crookes pensava que os fenômenos "psi" explicavam-se pela fraude. Camille Flammarion, que dedicou sessenta anos de sua vida à parapsicologia, começou sendo cético. Muitos dos adversários do paranormal alegaram, como prova definitiva de sua descrença, que esses fatos contradizem as verdades demonstradas, e, portanto, não podem existir. Tal raciocínio é monstruoso, pois, um objeto que existe, seja ele objeto material ou fato demonstrado, não pode ser reduzido à inexistência por um jogo de argumentos. Alguns exemplos são prova disso: "Estes fatos não podem existir, pois contradizem nossos conhecimentos melhor estabelecidos" - Michael Faraday. "Este fato" - tratava-se da inédia, bem atestada, de Louise Lateau - "é uma impostura ou então um milagre. Ora, o milagre não existe; é, portanto, uma impostura" - R. Wirchow (1860). "Se eu o tivesse visto, não acreditaria, porque é uma impossibilidade física" - Dr. Bouillaud, professor de Medicina. Tudo o que precede permite afastar, definitivamente, do campo de uma discussão razoável os detentores de uma oposição sistemática à realidade dos fenômenos paranormais, seja como incompetentes, seja como desonestos, da mesma forma que os ingênuos que crêem poder reduzir o paranormal com a ajuda de alguns ajustes de última hora. Quanto à verdade, ela resulta do exame imparcial dos fatos, que é o objeto deste livro.

Primeira Parte

PROPRIEDADES MISTERIOSAS DO CORPO HUMANO Os fenômenos misteriosos que têm por sede o corpo humano, examinados nesta primeira parte, estão limitados àqueles que ocorrem na ausência de intervenção evidente de um fator externo ao corpo, ou seja, proveniente de outras pessoas, de forças da natureza ou da própria mente da pessoa. Estes fenômenos podem afetar tanto o corpo morto como o vivo, sem que a pessoa se aperceba disto. Entre os primeiros, temos a combustão espontânea, bem conhecida na medicina legal. Classificamos aí, igualmente, a inédia, que é o fato de viver sem comer, do qual temos vários exemplos, até nós tempos modernos. A causa desse mistério permanece inexplicada. Entre os segundos, encontramos a imputrescibilidade do cadáver, com toda uma série de fenômenos misteriosos que podem acompanhá-Ia. Por outro lado, classificamos como "o poder da mente sobre os corpos" (capítulos 23 a 27) os fenômenos que se encontram sob a dependência, consciente ou inconsciente, da mente. São: os estigmas, a incombustibilidade, a resistência à ação mecânica, o alongamento corporal, o poder dos médiuns de cura e dos cirurgiões psíquicos, os "cirurgiões de mãos nuas".

1 COMBUSTÃO HUMANA ESPONTÂNEA

A combustão espontânea do corpo humano consiste de uma autoinflamação seguida de uma combustão mais ou menos completa de um ser humano, sem causa reconhecível. Chama-se Spontaneous Human Combustion (SHC). Foi designada igualmente como pirocinesia e consciência incendiária. Diferentemente da inédia, mais particularmente circunscrita aos extáticos, esta misteriosa calamidade parece atingir pessoas absolutamente comuns. Ela faz parte de uma extensão futura da fisiologia. Os casos de combustão espontânea são numerosos, perfeitamente autenticados e modernos. Como, na maioria dos casos, ela leva à morte, esses casos figuram nas atas da polícia e nas decisões da justiça. A distinção entre a combustão e a inflamação espontânea, feita por certos autores, não é essencial. Os dois fenômenos podem estar ligados. A inflamação sem fonte próxima ao corpo poderia explicar-se, pois conhecemos os corpos que se inflamam espontaneamente no ar. O inexplicável está mesmo na combustão da substância do

corpo, que não é, normalmente, combustível. Esta reação desconhecida poderia levar à inflamação espontânea, unicamente pelo efeito exotérmico, sem a intervenção de qualquer fonte externa. Foram realmente registrados casos de pessoas capazes de desenvolver, na superfície do corpo, cargas de eletricidade estática podendo atingir 30.000 volts e provocar faíscas. Esse fenômeno poderia explicar a inflamação brusca, mas certamente não a combustão em si. Os fatos A combustão espontânea do corpo humano é conhecida há muito tempo, Em 1763, Jonas Dupont apresentou, em Lyon, uma tese de doutorado: De incendiis corporis humani sponraneis; ele foi o primeiro a tratar do assunto oficialmente. Vicq d'Azyr diz ter conhecido pessoalmente vários casos do fenômeno (Encyclopédie méthodique). Entre os trabalhos recentes, citamos: Fire from Heaven or How Safe Are YOU from Burning? (Fogo do Céu ou o quanto VOCÊ está seguro de não queimar?), de Michael Harrison (1976). Uma moça de dezenove anos, Maybelle Andrews, dançava com seu amigo Billy Clifrord num night-club, de Soho, quando se viram chamas brotarem de suas costas, de seu peito e de seus ombros, atingindo seus cabelos. Ela morreu antes de chegar ao hospital. Billy, gravemente queimado tentando salvar suà amiga, explicou que não havia chamas nuas no local; elas pareciam brotar da própria garota (Shurmacher). Phyllis Newcombe incendiou-se sem razão aparente e foi queimada diante de uma multidão, num dancing, em 1938. O Sheffield Independent relata o caso de um empresário da construção. G. A. Sheferdson, que acenava para um grupo de operários os quais ultrapassava, de carro, quando estes o viram transformar-se repentinamente numa tocha humana. Em outros casos recentes, pessoas foram queimadas parcialmente na cabine de seu caminhão, sem que se pudesse descobrir a menor causa para isto (A. F. Smith em Birkenhead. M. Éveillé em Arcis-sur-Aube). A eletricidade estática poderia ser invocada, mas não no caso de Maybelle Andrews, que estava dançando o watusi e cuja pele estava certamente coberta por uma fina película de suor. Aliás, os pneus de um caminhão não a isolam do solo? * * Na realidade, é justamente o isolamento através dos pneus que propicia o acúmulo de eletricidade estática no caminhão, a qual não pode ser facilmente descarregada no solo. (N. daT.)

O caso célebre e particularmente bem estudado de combustão espontânea é o de Mary Hardy Reeser, de sessenta e sete anos, de Saint Petersburg (Flórida). No dia 1º. de julho de 1951, um forte cheiro de queimado desprendeu-se de seu apartamento. Sua porta, cujo trinco estava quente demais para ser tocado, foi forçada. O ar do apartamento estava extremamenle quente. Havia um círculo de aproximadamente 120 centímetros de diâmetro, dentro do qual se encontravam uma certa quantidade de molas de assento, um montículo de cinzas e alguns restos do corpo. O chefe de policia, J. R. Reichert, declarou: "Até onde podem ir as explicações lógicas, aí está uma das coisas que simplesmente não pode acontecer, mas aconteceu". A condessa Cornelia Bandi de Cesena tinha sessenta e dois anos de idade quando queimou espontaneamente. O caso já é antigo, pois o Annual Register que o relata data de 1763, mas foi estudado pelo fisico David Brewster. Os vizinhos perceberam uma fumaça amarelada, muito espessa, exsudando das janelas do quarto da condessa. Ao entrar, encontrou-se um monte de cinzas a 1,50 metro da cama. Do corpo, só restavam as duas pernas e uma parte do crânio. O ar do quarto estava cheio de uma fuligem em suspensão, da qual os móveis estavam cobertos; esta fuligem era úmida e colante e exalava um odor fétido. Nem os móveis nem o assoalho haviam sido danificados: apenas as duas velas de sebo sobre a mesinha de cabeceira haviam derretido, mas os pavios estava intactos. Curiosa combustão! O assoalho não se inflama, as meias permanecem intactas, assim como os pavios, o que indica uma temperatura não excedendo 120ºC. Por outro lado, os ossos foram reduzidos a pó, o que exigiria uma temperatura de pelo menos 1.300ºC, que teria provocado o incêndio geral do aposento, tanto quanto uma bomba incendiária. Por outro lado, ainda, a fuligem flutuante é característica das combustões incompletas a baixa temperatura, com uma oxidação insuficiente: e a fumaça amarela semilíquida, ou seja, pesada e compacta, é aquela das destilações a baixa temperatura. O célebre médico Vicq d'Azyr relata, na Encyclopédie méthodique, que conheceu vários casos semelhantes, onde só restaram algumas partes ósseas. Quando a SHC era ainda desconhecida, ao presenciar um corpo assim queimado, a polícia e a justiça só podiam concluir que se tratava de um crime. O caso seguinte é, sem dúvida, o primeiro em que o médico conseguiu convencer os magistrados do contrário e salvar o acusado. Em 1725, urna certa Sra. Millet, mulher de um padeiro de Reims que se embebedava todos os dias, foi encontrada consumida entre uma masseira e uma salgadeira, que não tinham qualquer marca de fogo. Do corpo só restaram as pernas e algumas

vértebras. O assoalho estava queimado 50 centímetros ao seu redor. Para a infelicidade de Millet, a casa era cuidada por uma empregada muito bonita. O caso, evidente para os juízes, foi conduzido eficazmente e Millet, condenado. A corte de apelação, mais esclarecida, reconheceu os fatos da combustão espontânea e Millet foi absolvido. Nem por isso deixou de ficar arruinado: atormentado pela tristeza, foi reduzido a terminar seus dias no hospício. Combustão espontânea com pequenas chamas A combustão espontânea com grandes chamas, que acaba por queimar o corpo tão completamente que até mesmo os ossos são reduzidos a cinzas talvez seja de natureza diferente: trata-se de pequenas chamas azuis elevando-se na superfície do corpo e que não se deixam apagar. O caso seguinte é relatado por Lecat. Em 1749, em Plerguer-par-Dob, uma certa Sra. Boiseon, de oitenta anos, muito magra e que, havia vários anos, só bebia aguardente, estava sentada em sua poltrona diante do fogo, quando a camareira a encontrou queimando. Com seus gritos, as pessoas acorreram e alguém quis abafar a chama com a mão, mas o fogo passou para e/a, como se a mão estivesse encharcada em álcool inflamável. A velha senhora foi molhada com água, mas o fogo pareceu ativar-se. Da vítima só restou um esqueleto enegrecido, do qual uma perna e as mãos se soltaram; a poltrona ficou apenas chamuscada. Essa impossibilidade de apagar com água as pequenas chamas de SHC, que foi constatada em diversos outros casos, indicaria uma reação interna fornecendo, ao mesmo tempo, o combustível e o comburente, à maneira dos explosivos químicos. A menos que a explicação esteja situada completamente fora dos domínios conhecidos da química. O Dr. Richond relata que, em 1927, M. D., de vinte e quatro anos de idade, magro e muito sóbrio, queixou-se, uma noite, de fortes dores nas mãos, a ponto de urrar de dor. Os vizinhos que acorreram viram suas mãos cobertas de chamas azuis. Aspersões de água fria de nada adiantaram. Com as mãos cobertas de lama de cuteleiro, ele correu ao médico. As mãos estavam vermelhas e inchadas e uma espécie de fumaça ou vapor elevava-se delas. Dentro da água fria as chamas se apagavam, mas reapareciam espontaneamente após alguns minutos. A água, na qual ele mantinha as mãos, aquecia-se; quando ele retirava as mãos da água, uma espécie de gordura escorria sobre os dedos e as chamas reapareciam. O fenômeno finalmente regrediu e o doente recuperou-se de suas queimaduras três semanas mais tarde. M. H., professor de matemática na Universidade de Nashville, Tennessee, voltava para

casa num dia de inverno de 1835, quando sentiu uma dor aguda e viu uma chama de várias polegadas de altura surgir de sua perna. Bateu nela com a palma das mãos, sem qualquer efeito. Ele conseguiu apagar a chama isolando-a com a ajuda das mãos em concha. Encontrou um pequeno buraco na roupa de baixo, mas a calça permaneceu intacta. A queimadura levou muito tempo para cicatrizar. Ao conjunto das características anormais da combustão espontânea é preciso acrescentar a da insensibilização das vítimas. Foi assim que um fazendeiro britânico encontrou sua empregada varrendo tranqüilamente, enquanto as chamas elevavam-se de suas costas (ele conseguiu apagá-Ias). Por outro lado, a Sra. Madge Knight queimou em sua cama, lançando gritos horríveis e acabou morrendo no hospital. As chamas elevavam-se de suas costas. Em 1939, um bebê de onze meses morreu de maneira idêntica em seu berço. Os lençóis sequer escureceram. Teorias e explicações A combustão espontânea do corpo humano permanece absolutamente misteriosa, pois contradiz as leis conhecidas da física, da química e da fisiologia. Teoricamente, o corpo humano é combustível: um combustível de má qualidade, contendo 80% de água. Entretanto, para inflamar-se e continuar a queimar, além do combustível e do comburente (oxigênio), é preciso ainda que o combustível seja levado a uma temperatura suficiente (estas três condições formam o "Triângulo dos bombeiros"). A terceira condição não está presente, aqui. É esta a razão que faz com que não possamos inflamar um bife e nem atear fogo a um tronco de árvore com um fósforo. Os amontoados de cadáveres puderam ser queimados durante as epidemias e nos campos de morte, mas só depois de criar-se um calor suficiente, com a ajuda de carvão e de óleo. As experiências diretas mostraram que, para queimar inteiramente um cadáver, são necessários aproximadamente 200 quilos de madeira. Além disso, os ossos permanecem inteiros, ao passo que na SHC eles são destruídos. Aventou-se uma eventual combustibilidade particular dos tecidos saturados de álcool dos grandes bebedores. Muitas vítimas da SHC eram, de fato, beberrões. Mas esta hipótese é contrariada pelos fatos: os tecidos só podem dissolver quantidades extremamente reduzidas de álcool (um bife mergulhado longamente no álcool não queima). O sangue pode dissolver algumas gramas por litro, o que de modo algum o

torna combustível. Este álcool elimina-se muito rapidamente pela respiração e pela urina. Os gases combustíveis podem acumular-se em certas cavidades do corpo (um açougueiro teve o rosto queimado ao abrir um boi), mas nunca num ser vivo. A pequena chama azul faz pensar no hidrogênio, embora não se conheça qualquer reação capaz de produzir este gás no corpo. De acordo com Dupuytren e Liebig, as tentativas de reduzir a combustão espontânea a um conjunto de fenômenos naturais limitam-se a combinar os efeitos da combustão do álcool e das gorduras. A experiência não confirma esta possibilidade. Stevenson e Gaddis propuseram a formação, nos tecidos, de certas substâncias particularmente combustíveis - talvez fosfagênios. Esta linha de pesquisa está em contradição com o fato fundamental da constância da energia química potencial de um sistema fechado. Se alguma substância particularmente exotérmica se formasse a partir dos tecidos do corpo, ela queimaria melhor, mas outras, formadas ao mesmo tempo, queimariam com dificuldade ainda maior. A lei fundamental da conservação da energia, uma das bases do Universo, indica que os dois efeitos se compensariam. Melhor dizendo, nenhuma transformação interna pode fazer com que um mau combustível se torne um bom combustível. Admitir uma "diátese particular" das vítimas da SHC significa não explicar absolutamente nada. Admitir uma causa geral e explicar, efetivamente, são coisas totalmente diferentes. Entre as vítimas da combustão espontânea, encontramos uma proporção elevada de mulheres idosas, sedentárias, gordas e que bebiam muito. Mas a lista compreende também pessoas jovens, em boa saúde e que não bebiam, o que torna particularmente precária a explicação pela combustão do álcool e das gorduras do organismo. As listas das vítimas mostram, igualmente, uma proporção anormal de eclesiásticos. Acrescentamos a estas relações incompreensíveis a relação entre a SHC e a atividade magnética do sol. O fato é que, quando se transfere para um gráfico a curva periódica desta atividade, constata-se que os casos de SHC ocorrem preferencialmente nos picos da curva. Este fato poderia indicar que a explicação se encontra fora do domínio clássico e poderia passar pelo estudo das estruturas magnéticas do corpo, estruturas que os clássicos ignoram totalmente, mas que encontraremos numa grande parte dos fatos expostos neste livro, sob a qualificação de sutis. A pequena chama azul indica nitidamente uma causa interna, completamente diferente de uma oxidação pelo oxigênio do ar. A fumaça amarela ou negra, a fuligem gordurosa, os odores empi-reumáticos indicam de fato uma combustão lenta, mas uma combustão lenta do tipo conhecido deveria, justamente, ter podido ser apagada facilmente. Estas reações lentas são, portanto,

secundárias. A característica certamente mais estranha da combustão espontânea é a não-propagação do fogo aos objetos circundantes. Enquanto são encontrados no centro do aposento um monte de cinzas e os ossos reduzidos a pó, em vez de um incêndio geral observa-se que permanecem intactos os móveis próximos, as roupas de cama e as do corpo! Combustão espontânea pontual Para conciliar a coexistência paradoxal de uma temperatura muito alta com uma ação térmica muito fraca sobre os objetos circundantes, propomos uma hipótese de trabalho que tem o mérito da simplicidade. A estrutura astral do corpo (o corpo sutil) é material. Ela é organizada, portanto, constituída de elementos discretos, unidos por ligações análogas a forças de valência. Estas estruturas, sendo de natureza física (aparentemente magnética), têm, forçosamente, uma esfera de estabilidade própria, fora da qual são destruídas. Apesar da nossa total ignorância sobre sua constituição precisa, podemos afirmar que esta destruição é acompanhada de um desprendimento de energia, aquela que assegurava a estabilidade da estrutura e cujo valor corresponde a esta estabilidade. Uma tal destruição, iniciada por uma desestabilização local, poderia proceder progressivamente de um elemento magnético ao outro, destruindo, ao passar, o tecido orgânico correspondente. O calor desprendido teria origem pontual, resultando numa temperatura elevada, mas, ao mesmo tempo, em quantidade muito pequena, o que permitiria que sua dissipação ocorresse simultaneamente à sua produção: teríamos aí a explicação possível para uma temperatura muito elevada, tendo apenas uma ação térmica localizada reduzida. O exemplo de uma reação de propriedades análogas é fornecido pelo urânio, espontaneamente radioativo, que se encontra nos esmaltes cerâmicos, reagentes químicos e vidros. Ora, este elemento é radioativo e seus átomos destroem-se espontaneamente, o que não apresenta qualquer perigo. Estas explosões são, no entanto, as mesmas que na bomba de Hiroshima: é suficiente acelerar a reação, com as conseqüências que se conhecem. A destruição progressiva da matéria por elementos discretos seguiria, na SHC, uma via análoga. Uma variante, talvez mais simples, desta hipótese é a combustão que ocorreria pontualmente, com uma temperatura suficiente para destruir os tecidos moles: 400°C seriam suficientes. No que concerne a destruição dos ossos, seria suficiente que as ligações químicas da parte mineral do esqueleto fossem afetadas pela destruição da

estrutura astral. Uma tal reação é posta em evidência, por exemplo, na cirurgia "psi": tudo aí se explica, admitindo-se que o operador corte apenas a estrutura astral, seguindo-se o afastamento dos tecidos físicos, como se estivessem sendo cortados, também; mas eles tornam a soldar-se instantaneamente, assim que as bordas da incisão são reaproximadas. Na combustão espontânea, não havendo reconstituição do corpo astral, os elementos do osso não podem mais reestruturar-se e permanecem sob a forma de pó mineral. Harrison atribui à SHC a mesma origem de certas febres inexplicáveis: ela seria bioplasmática, ou seja, astral (Fire from Heaven). Conclusões A combustão espontânea do corpo humano, da qual temos numerosos exemplos modernos, não pode ser explicada pelas leis conhecidas da física, da química, da fisiologia. Nós não compreendemos nem como esta reação começa nem como ela pode prosseguir. O corpo humano é combustível, algo como um combustível muito ruim, mas o cálculo das calorias não leva a nada. Para que um fogo possa manter-se e propagar-se, é preciso um combustível, um comburente e uma temperatura suficiente. As árvores queimam bem, mas não se pode acender um tronco de árvore com um fósforo. A temperatura desta combustão constitui, também, um enigma. De um lado, encontramos freqüentemente que o fogo reduziu os ossos a pó, o que exige uma temperatura de 1.500ºC, a de um alto-forno. Por outro lado, o fogo só raramente se comunica aos objetos circundantes. Esta temperatura muito baixa é confirmada, em certos casos, por todas as características de uma destilação lenta das matérias orgânicas (caso Cesena). Poderíamos pensar numa combustão em temperatura extremamente elevada, que se faria pontualmente, à maneira de uma decomposição radioativa; assim, haveria uma destruição local da matéria, mas sem uma elevação global de temperatura, capaz de iniciar uma combustão exotérmica. A hipótese de uma reação interna sem fornecimento de comburente externo seria confirmada pela observação repetida de uma pequena chama azul surgindo na superfície do corpo, resistindo à água e parecendo prender-se aos objetos em contato com ela. Esta reação seria suscetível de se transformar numa reação de grandes chamas, seja por uma aceleração da reação, seja por dar início a um outro mecanismo.O sítio destas reações poderia ocorrer no corpo hiperfísico, o que explicaria as diferentes particularidades deste fenômeno.

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HIPERTERMIA A hipertermia consiste numa elevação considerável da temperatura do corpo, ligada a um estado extático, mas na ausência de qualquer causa mórbida. Esta elevação pode ser considerável e ultrapassar nitidamente aquela que, nas doenças, leva a uma morte rápida. Trata-se, portanto, de um fato decorrente de um funcionamento fisiológico diferente do metabolismo normal, mas que não pode ser classificado entre as síndro-mes ou os sintomas patológicos. Se a hipertermia só fosse descrita nos trabalhos antigos, seríamos levados a duvidar delas, ainda mais tendo em vista que essas constatações são sempre qualitativas. Este fenômeno, cuja intensidade entra em contradição com nossos conhecimentos fundamentais de fisiologia humana, poderia ser relacionado a uma ilusão de exaltação mística ou psíquica, se não tivesse recebido, no caso recente do padre Pio, uma confirmação precisa, através de medidas com o termômetro. Francesco Forgione, mais conhecido pelo nome religioso de padre Pio, morto em 1967, atraiu sobre si as atenções das autoridades eclesiásticas, dos médicos, dos cientistas e de uma massa de crentes e de incrédulos. O padre Pio, que tinha a saúde fraca e cuja vida de ascese o deixava freqüentemente doente, estava sendo cuidado. Os médicos puderam constatar que o mercúrio do termômetro médico ultrapassava o máximo para o qual o instrumento havia sido concebido e que, a força da dilatação térmica sendo considerável, o termômetro estourava. Como o fato repetia-se regularmente, acabou-se por medir a temperatura do capuchinho sob a axila utilizando-se um termômetro para banho, o qual foi, naturalmente, cuidadosamente padronizado com relação a um termômetro médico. Dessa forma, a temperatura do religioso pôde ser medida: ela era de 48,5°C (e, naturalmente, alguns graus a mais em caso de febre). Normalmente, uma temperatura ultrapassando 41°C põe em risco a vida do doente e é raro vê-Ia ultrapassar os 42°C (excepcionalmente, 44-45°C no tétano, seguida de cura). Mas não se trata de negar os fatos: se a temperatura de 48,5°C é normalmente incompatível com o fato de permanecer vivo nas condições normais, é porque as condições não o eram; elas eram particulares e deveriam ser estudadas. Como o padre Pio apresentava, igualmente, a faculdade da inédia, ou seja, do jejum integral, é evidente que seu organismo funcionava de acordo com um metabolismo absolutamente particular. Sobre este segundo modo de funcionamento normal do corpo humano, nossos conhecimentos são dos mais tênues: alguns clarões nas trevas. Há,

talvez, uma relação com o fenômeno - tão misterioso quanto - da combustão espontânea e talvez também com o desprendimento de calor que revelam os corpos incorruptíveis. Algum laço pode existir entre estes três fenômenos térmicos. A hagiografia nos deixou vários exemplos bem atestados de hipertermia, onde ela é conhecida pelo nome de lncendium amore (Chama do amor), pois é provocada por um estado de exaltação mística. Não se trata, certamente, de um fenômeno espiritual, pois a espiritualidade não possui características intrinsecamente termógenas. A Igreja man-tém, aliás, o fenômeno sob suspeita. Os extáticos atingidos pela hipertermia eram obrigados a combatê-Ia. Stanislas Kostka encharcava suas roupas em água fria. Maria Madalena de Pazzi (1565-1607) rasgava e rejeitava seus hábitos e, no rigor do inverno, corria assim pelo jardim monástico e rolava na neve. Ela teria terminado por semear a desordem entre as religiosas se estas não tivessem se acostumado às excentricidades daquela que era tida como santa, ainda em vida. Na ocasião da autópsia de certos hipertérmicos foram encontrados estranhos inchaços. O de São Filipe Neri quebrou-lhe duas costelas, que se projetavam para fora. O calor de hipertermia continua a desprender-se após a morte. O corpo da venerável Serafina de Deus do convento de Capri (morta em 1699) permaneceu extremamente quente durante mais de vinte horas. Foi necessário abrir o corpo e retirar o coração. Ora, era março e a temperatura estava baixa. Santa Catarina de Gênova bebia, para refrescar-se, uma mistura de água, vinagre e sal pulverizado. Antes de sua morte, ela começou a perder grandes quantidades de sangue, que lhe queimava a pele, o que indicava que sua temperatura deveria ser de ao menos 50°C.

3 IMPUTRESCIBILIDADE (incorruptibilidade)

A conservação anormal de certos cadáveres coloca um problema para a ciência. Este fato relaciona-se com a fisiologia ordinária, pois é certo que nenhum espírito anima estes corpos mortos. Todavia, o estado no qual se encontram os corpos incorruptíveis pode ser devido a alguma particularidade psicofisiológica anterior à morte do sujeito,

pois o fenômeno é particularmente freqüente nos santos e nos extáticos. Os estados de consciência voluntariamente induzidos pelos iogues, que sabem provocar assim modificações importantes da fisiologia do corpo, poderiam ter a mesma origem. Mas é provável que estes fenômenos permaneçam incompreensíveis aos clássicos enquanto eles não se resolverem a admitir a existência do corpo sutil. A imputrescibilidade nada tem a ver com o coma prolongado pela manutenção artificial das funções vegetativas, que pode ser mantido durante anos. Os corpos incorruptíveis foram encontrados mornos, com a carne flexível e a tez rosada, séculos após o sepultamento. Este estado fisiológico particular encontra-se fora dos conhecimentos da ciência clássica. A conservação anormal dos cadáveres é freqüentemente acompanhada de outros fenômenos, entre os quais citamos: o desprendimento de odores aromáticos; a exsudação abundante de sangue ou de um líquido diferente, por exemplo oleoso; uma temperatura que se mantém acima da temperatura ambiente. Trata-se aí, certamente, de fisiologia. Daí resulta que, primeiramente, este campo se liga ao da parapsicologia e, em segundo lugar, que, mais uma vez, a ciência clássica deve ser alargada muito além de seus limites atuais. Para o exame dos fatos, é conveniente separar os casos dos corpos dos santos daqueles que foram encontrados acidentalmente. O fenômeno físico é provavelmente o mesmo em ambos os casos, mas o controle dos fatos é muito diferente: para os corpos santos, os indivíduos sendo conhecidos e freqüentemente célebres em vida, os exames e a autópsia foram praticados por médicos, o que permite utilizar as observações, a despeito da acusação geral de credulidade e de falta de espírito crítico que poderiam ser levantadas, caso só fossem disponíveis os testemunhos das autoridades eclesiásticas. Para os corpos descobertos ao acaso, nas escavações, só temos testemunhos desprevenidos e em geral sinceros, mas insuficientes. Os achados modernos são seguros, mas o primeiro estudo científico ainda está para ser feito, pois os corpos têm sido, em geral, novamente sepultados. Casos antigos A 14 de abril de 1485, sob o pontificado de Inocêncio VIII, operários que extraíam mármore de um local da Via Ápia descobriram um sarcófago de mármore branco, dentro do qual foi encontrado o corpo de uma jovem que parecia ter de quinze a dezesseis anos. Os olhos bem abertos estavam brilhantes e os membros flexíveis. Ela tinha belos cabelos negros. Tendo-se espalhado o rumor da descoberta da virgem romana, a multidão,

entusiasmada, carregou o caixão em triunfo até o Capitólio. O papa, preocupado com esta admiração por uma pagã, mandou raptar durante a noite a jovem morta, que foi enterrada em segredo, em local jamais descoberto. Observou-se que o corpo sepultado sob a Via Ápia fora aí enterrado, necessariamente, antes da construção dessa via que ligava Roma a Brindisi, pois a lei romana jamais teria permitido, a qualquer um que fosse, cavar uma via imperial para uma sepultura. Ora, os trabalhos da Via Ápia começaram em 312 a.C. No momento de sua descoberta, a jovem romana repousava, portanto, em seu caixão, fazia pelo menos mil, setecentos e noventa e sete anos... Num mausoléu situado perto da Albânia, foi descoberto, durante o reinado de Alexandre VI (1492-1503), um corpo de mulher bem conservado, flexível, de rosto corado. Porque o povo era da opinião de que se tratava de uma santa, o papa mandou jogar os despojos no Tibre. Em outubro de 1968, perto de Dunaujvaros, na Hungria, foi descoberto, no local onde havia um antigo cemitério romano, um sarcófago de pedra de três toneladas, dentro do qual se encontrava um corpo bem conservado, que julgou-se ser de um legionário, mas que antes deveria ser de um tribuno, se não um governador de região. Na autópsia, os pulmões foram encontrados bem conservados. A Panônia, atual Hungria, foi ocupada pelas legiões romanas em 14 d.C., sob o reinado de Tibério. Isto perfaz, no mínimo, mil novecentos e cinqüenta e quatro anos. Eis algo ainda melhor. A revista Archeologia no. 54, de janeiro de 1973, relata a descoberta de uma tumba chinesa de dois mil e cem anos de idade, na província de Hounan. O sarcófago era composto de seis baús estreitamente encaixados um dentro do outro e continha o corpo de uma mulher que morreu com aproximadamente cinqüenta anos. Era, provavelmente, a esposa de Litsang, primeiro-ministro dos Tai. Esta conclusão foi confirmada pela riqueza dos objetos funerários que acompanhavam a sepultura. Segundo o relato apresentado pelo grupo de estudo formado por professores do Instituto de Medicina de Hounan, o tecido subcutâneo do cadáver estava elástico, as fibras intactas e as artérias crurais apresentavam uma estrutura próxima da de um cadáver recente. Ao injetar-se um anti-séptico no corpo, observou-se o tecido macio inflar-se à passagem do líquido que se dispersava aos poucos. Os corpos que a cal não queima Mais impressionante que a conservação no ar, eis os corpos que resistem à cal viva. Quando São Francisco Xavier morreu, no dia 2 de dezembro de 1552, seu corpo foi colocado numa caixa, que foi preenchida com cal para recuperar mais depressa os

ossos do santo, tendo em vista seu transporte para Goa. Dois meses e meio mais tarde, quando se quis assegurar da completa destruição das carnes, o corpo foi encontrado fresco e rosado, como o de um homem adormecido. Não havia qualquer traço de corrosão. Foi-lhe feito um corte perto do joelho e o sangue escorreu. O corpo exalava um odor agradável. Em 1612, ou seja, sessenta anos mais tarde, o corpo parecia tão fresco quanto antes e, quando foi-lhe destacado o braço direito para ser enviado a Roma, o sangue escorreu normalmente, fresco e fluido. Em 1727, foram descobertos num jazigo do Hospital de Quebec os cadáveres inteiros e intactos de cinco religiosas mortas em 1707, quando houve uma epidemia. Após vinte anos, estes corpos apresentavam todos os sinais de vida e deixavam escapar um sangue "vivo e claro" , a despeito do fato de que estavam inteiramente recobertos de cal viva. Para avaliar em sua justa medida a estranheza desta resistência à cal viva, é preciso saber que ela simplesmente destrói os tecidos vivos. O caso de Roseline de Villeneuve permite dar mais um passo em direção ao conhecimento. Um passo muito pequeno... Nascida em 1263, esta santa morreu a 17 de janeiro de 1329 em La Celle-Roubaud, perto de Ares en Provence. Vários meses após o seu sepultamento, a terra continuava a desprender um forte perfume. O corpo, que estava em contato direto com a terra, foi exumado. Ele estava no mesmo estado em que havia sido sepultado, cinco anos antes. Os olhos azuis haviam conservado todo o seu brilho. Eles foram enucleados e de-positados num relicário de prata. O corpo permaneceu inalterado nos diversos traslados que se seguiram. Em 1661, segundo o padre Sabatier, o jovem Luís XIV veio a La Celle-Roubaud e pôde admirar o estado do corpo e o brilho dos olhos. Para agradar ao jovem soberano, o médico do rei, Antoine Vallot, enfiou uma agulha em dois pontos do olho esquerdo: a pupila alterou-se imediatamente. Esta foi a prova de que os olhos eram naturais. Notou-se, em 1887, que os insetos haviam atacado o corpo da santa no interior do relicário, que foi invadido pela umidade. O corpo foi embalsamado e colocado, a 6 de julho de 1894, num novo relicário hermeticamente fechado, onde pode ser visto hoje. O período de resistência espontânea deste corpo à corrupção durou, portanto, quinhentos e cinqüenta e oito anos. Os trabalhos dos químicos precipitaram a dessecação e o enegrecimento do cadáver (exame em 1951). O que é notável é que as duas relíquias - o corpo e os olhos começaram a corromper-se ao mesmo tempo, o que demonstra que esta conservação de quase seiscentos anos não era devido a uma desnaturação (Dr. Larcher). Isso demonstra, igualmente, que o corpo era perfeitamente corruptível por si mesmo (Robert Ambelin). Qualquer que seja o mecanismo, a reação de incorruptibilidade é, portanto, uma reação natural.

Não somente a massa das duas relíquias, mas também sua composição química e histológica são muito diferentes. O fato de que elas tenham começado a corromper-se simultaneamente após vários séculos de conservação faz pensar que, sem dúvida, um laço unia ainda os olhos da santa ao seu corpo: um laço invisível. Reencontraremos tal tipo de ligação em vários capítulos deste livro. Casos modernos Voltemos ao caso dos corpos cuja conservação não é devido a um estado psicofisiológico particular, que poderia ser aquele dos santos. Sem serem comuns, os casos de incorruptibilidade não são raros. Os comissários imperiais, delegados pelo imperador da Áustria, foram ao cantão de Medreiga, Hungria, e mandaram abrir quarenta tumbas, onde foram encontrados dezessete cadáveres conservados. É verdade que se encontravam em pleno país escolhido pelos vampiros... Em 1932, a Sra. Henriette C., gerente do escritório da agência funerária de Brive, acolheu do chefe dos coveiros o relato de uma exumação geral, feita vários anos antes, de uma seção do cemitério, cujas concessões centenárias estavam esgotadas. Por entre os destroços, as lajes apagadas e as ossadas recuperadas que, conforme o costume, haviam sido incorporadas à terra, foi encontrado o corpo de uma jovem vestida com um belo vestido branco. O cadáver estava intacto, flexível, os membros ligeiramente mornos, os olhos bem abertos; a moça sorria. Ela estava no local desde, ao menos, cem anos antes! Não se podia destruir o corpo, tão bem conservado. Com o consentimento das autoridades administrativas e do comissário de polícia, o corpo foi novamente se-pultado. Para evitar-lhe o risco de nova exumação, foi enterrado sob uma alameda, onde a jovem morta prossegue seu estranho e inquietante sono, há mais de cem anos. O célebre poeta italiano Alessandro Mazzoni, morto em 1873, foi encontrado num perfeito estado de incorrupção no cemitério dito "monumental" de Milão, em 1959. Em 1960, um motorista de táxi britânico, Leslie Narvey, alugou uma casinha na West Kimmel street, em Rhyl, no País de Gales; ela estava desocupada fazia vinte anos. Ao abrir o armário da cozinha, ele teve o maior choque de sua vida: dentro do armário, em pé, apoiado na parede, estava o corpo de uma mulher, vestida com um penhoar florido e um pijama rosa. Ela parecia dormir tranqüilamente. Os policiais chamados provaram que a última ocupante do local, Sra. Frances Alice Knight, tinha sido assassinada. O médico legista atribuiu a conservação do corpo a uma mumificação por falta de ar, por estar o armário embutido hermeticamente fechado. A explicação é, bem entendido, absurda: qualquer um que tenha visto

múmias jamais poderia confundi-Ias com um corpo humano em perfeito estado de conservação. Quanto à ausência de ar num armário, isto é alta fantasia. O arcipreste Alexis Medvedkov, superior da antiga Igreja Russa de Ugine, nascido em 1867, faleceu a 22 de julho de 1934 no Hospital de Annecy, de câncer no intestino, após uma operação. Os cirurgiões solicitaram um sepultamento rápido, pois o câncer acelerava a decomposição. Em 1956, o cemitério de Ugine teve sua destinação inicial alterada. Ao se abrir o caixão, na presença das autoridades administrativas habituais, do comissário de polícia e das autoridades religiosas ortodoxas, dentre as quais o bispo, encontrou-se o arcipreste com o rosto corado, absolutamente intacto, flexível, os hábitos sacerdotais em perfeito estado; o corpo estava morno ao toque. Ele estava num perfeito estado de conservação, apesar do câncer e do calor de julho de 1934. O corpo foi transferido para o novo cemitério de Ugine, e, em 1957, a pedido da administração ortodoxa da Igreja Russa na Europa Ocidental (rue Daru, 12, Paris), para o cemitério russo de Sainte-Genevieve-des-Bois, perto de Paris. A cada transferência, o corpo era encontrado no mesmo estado, e, notadamente, sempre morno. Análise dos fatos É certo que a incorruptibilidade é a ação de um metabolismo raro, talvez de vários mecanismos diferentes. O metabolismo geral da ciência clássica está em falta, aqui. Neste campo, sofremos uma falta terrível de dados essenciais. Seria urgente dispor de um corpo incorruptível para fazer análises histológicas, citológicas e químicas. Não se trata, evidentemente, de ir reclamar qualquer pedaço de uma relíquia venerada às autoridades eclesiásticas, tanto quanto de retirar de seus ataúdes Napoleão ou Lênin. Mas, uma vez que se faz autópsia nos mortos, que corpos são dissecados para os estudos de medicina, não haverá, portanto, nenhuma objeção a que se utilize um corpo anônimo, eventualmente encontrado em estudo de incorruptibilidade. A medicina poderá, então, dar um passo à frente, talvez importante. Atualmente, nós ignoramos tudo do mecanismo que permite a um corpo morto ficar, durante lapsos de tempo extremamente longos, num estado de perfeita conservação. Apenas alguns detalhes permitem entrever uma possibilidade de resposta. Primeiro, estas reações são naturais e podem chegar a um termo, como testemunha o caso de Roseline de Villeneuve, cuja imputrescibilidade teve fim após cinco séculos e meio. Trata-se mesmo de uma reação e não de um estado estacionário, pois, nos casos de mumificação, de congelamento ou de dessecação, o corpo permanece indefinidamente no mesmo estado, uma vez que a mumificação, o frio ou a dessecação

interromperam todas as suas reações químicas. Este é, igualmente, o caso dos cadáveres aparentemente frescos encontrados nas turfeiras. Extraídos deste meio conservador, eles se decompõem rapidamente. Por outro lado, os incorruptíveis se encontram num estado análogo àquele de um corpo vivo, com uma suspensão das reações biológicas, incompatível com a composição química dos tecidos e a temperatura ambiente. De acordo com tudo o que ensina a ciência clássica, estes corpos deveriam evoluir e continuar a se deteriorar. Ora, nada disso acontece. Conseqüentemente, há um agente desconhecido que vem se sobrepor à bioquímica conhecida. A pesquisa deste agente dará a solução do problema. Mas teme-se que a transição seja feita com dificuldade. Saberemos por que certos corpos se conservam quando conhecermos melhor a natureza da matéria viva, com sua contrapartida invisível. Por enquanto, nossos mestres obstinam-se a ignorar esta orientação e esperam sempre trazer a estrutura do que é vivo ao mundo do físico, seguindo um materialismo retardatário. Esta hipótese deixa a porta aberta às idéias novas. Os cientistas objetam que a existência do corpo invisível, o corpo astral, não está demonstrada. É preciso responder-Ihes que eles só terão o direito de falar depois de se terem dado ao trabalho de examinar os fatos existentes. Enquanto isso, suas crenças nos são indiferentes. Um fato particularmente interessante mostra que se trata mesmo de uma reação contínua: é que os corpos incorruptíveis foram encontrados constantemente mornos. O fato não foi registrado para todos os casos de conservação simplesmente porque não se pensou nisso, ou então porque ele foi considerado um detalhe banal ou evidente no caso de um milagre. Ora, para permanecer morno, um corpo deve, forçosamente, desprender energia, cuja origem só pode ser biológica. Os tecidos não ocultam reservas suficientes para alimentar uma tal fonte, mesmo reduzida, durante séculos, mesmo supondo-lhes as transformações mais extraordinárias, pois a energia total de um sistema não pode exceder um certo limite. Além deste limite, forçosamente, alguma energia deve ser trazida do exterior. Se isto se revelasse exato, o corpo incorruptível funcionaria como um transformador de energia e não como um acumulador. Supor, como foi proposto, uma reação atômica com decomposição nuclear de umafração dos átomos é uma fantasia gratuita, sem qualquer base. Refutamos, para terminar, a explicação muito difundida, segundo a qual a conservação do corpo seria devido a uma propriedade particular da terra. Os corpos neste estado foram encontrados em sarcófagos de pedra (caso da Via Ápia, de Hounan), sem contato com o solo. Que dizer, também, do cadáver encontrado no armário?

Haveria em todos estes casos um miasma conservador, de natureza desconhecida para a ciência? Particularmente incompreensível é, igualmente, a resistência de certos corpos à ação destrutiva da cal viva (São Francisco Xavier, as religiosas de Montreal). Por entre os fenômenos secundários que podem acompanhar a incorruptibilidade dos corpos, assinalados o do desprendimento de uma substância oleosa e perfumada (myroblythie). O recordista de myroblythie deve ser Youssef Maklouf, com o nome religioso de padre Charbel, monge maronita falecido em 1898, cujo corpo, apesar de eviscerado, continuou a produzir a misteriosa substância à razão deaproximadamente 400 gramas por ano, até 1977, ano no qual foi canonizado, após o que o corpo se decompôs normalmente.

4 lNÉDIA

Um dos fenômenos mais estranhos da fisiologia humana, ignorado pela ciência clássica, é a inédia, que é o fato de não se alimentar, ou seja, de se viver sem comer. É bastante difícil verificar rigorosamente uma inédia completa durante um tempo prolongado, pois a fraude, proposital ou inconsciente, poderia se realizar ao menor descuido do controle. Por outro lado, como os jejuadores absolutos vivem, respiram e gastam uma certa energia, da qual não se percebe a origem, o estabelecimento do fato apre senta um interesse muito grande para a ciência. Os controles rigorosos nunca ultrapassaram um período durante o qual qualquer um poderia jejuar sem inconveniente. Todavia, certos inedíacos foram literalmente atormentados pelos controladores médicos durante anos. Na casa de Mollie Fancher, chegavam sem avisar a toda hora do dia ou da noite; eles vasculhavam a cama, as roupas e o quarto de Louise Lateau; analisavam os elementos vomitados para assegurar-se da ausência de qualquer digestão e, enfim, eles constataram a reabsorção ou a atrofia completa das vísceras, a ponto de, sob a pele do ventre, a mão tocar diretamente a coluna vertebral. Se tivesse havido a menor fraude, é impossível que ela nunca tivesse sido revelada, como foi, entretanto, o caso. O controle da vida de uma pessoa não se faz por meio de procedimentos de laboratório. O que dá uma força particular a estas conclusões é que, com muita freqüência, os inedíacos não tiravam qualquer vantagem material de seu singular estado e que as considerações publicitárias lhes eram totalmente estranhas. Freqüentemente, tratava-se de moças simples, piedosas sem exagero e que terminavam paralíticas, acamadas, às vezes cegas. Nenhuma delas se queixava; elas podiam ter visões celestiais consoladoras. Mollie Fancher conservou um caráter agradável e cheio de humor; Louise Lateau,

moça simples, trabalhou no campo até acamar-se definitivamente; o pai de Teresa Neumann, camponês modesto mas homem íntegro, recusou uma oferta de meio milhão de dólares para deixar filmar a paixão atroz de sua filha. Por que fraudar, então? Seria preciso que houvesse um mínimo de razões, ainda que fossem psicopatológicas. Além disso, nós dissemos que um controle absolutamente rigoroso só foi praticado durante um tempo muito curto. No caso de Teresa Neumann, este controle foi realizado durante quinze dias; no entanto, foi exercido sem qualquer interrupção, dia e noite, por vários observadores competentes e juramentados, sendo ao menos dois, simultaneamente. Esta experiência permitiu que se percebesse, não que Teresa não se havia alimentado durante duas semanas, o que teria sido banal, mas que seu peso permanecia rigorosamente constante, apesar da respiração, e que, após ter perdido quatro litros de sangue e de suor durante suas Paixões das sextas-feiras, este peso reconstituía-se milagrosamente ao longo do dia seguinte, sempre na ausência de qualquer fornecimento de matéria. Nós temos aí a prova rigorosa do fenômeno da inédia. A busca da fraude é, bem entendido, inseparável da descrição dos fatos da inédia; ela dá um resultado infalivelmente negativo. Pode-se também discutir as possibilidades fisiológicas do jejum total, mas aqui a discussão não leva a nada, por falta de dados científicos. De uma parte, toda a fisiologia clássica está presente para afirmar a impossibilidade de viver sem comer; de outra parte, numerosos exemplos concordantes mostram que é possível. Uma vez que não podemos suprimir os fatos por meio de raciocínios, a teoria é que deve ser modificada. A inédia leva, com freqüência, à atrofia das pernas, que então se dobram sob o corpo, realizando-se freqüentemente a atrofia de Charcot-Marie. Este foi o caso de Marthe Robin, de Santa Teresa d'Ávila, de Catherine Emmerich. Teresa Neumann quase teve uma perna amputada. Estes estados podem ser acompanhados de estigmatização. Foi o caso de Janet McLeod, jovem escocesa do século XVIII, cujas pernas estavam dobradas sob seu corpo. Joséphine Durand, jovem suíça paralítica, praticava a inédia desde a idade de quatro anos, exceto na comunhão. Ela foi examinada por uma comissão de médicos calvinistas, que encontraram as vísceras de seu abdome aparentemente reabsorvidas ou achatadas, a pele do ventre colada à coluna vertebral. Um outro ponto comum, freqüentemente observado nos que jejuam integralmente, é uma perda total ou parcial da visão. O que é curioso é que os místicos indianos, muito mais conscientes dos mecanismos fisiológicos em jogo do que nós, situam o órgão desencadeador do jejum na medula espinal superior ou na garganta, onde se encontra, justamente a tireóide. Vemos ai um

começo de explicação mais racional - e mais respeitosa, também, da verdadeira espiritualidade que a intervenção contínua de um Deus "tapa-buraco" ou de um diabo para criancinhas. Houve casos, pouco numerosos, de falsas inedíacas, sendo que o controle médico não teve dificuldade em desvendar a fraude em poucos dias. As autoridades eclesiásticas mantêm a inédia sob certa suspeita. Para os antigos, a intervenção do diabo era sempre possível. Atualmente, melhor informada que um bom número de cientistas racionalistas, a Igreja atribui as capacidades excepcionais dos santos antes aos fenômenos parapsicológicos. Os fatos A extática holandesa do século XV, Santa Lidwine de Schiedam, jejuou durante vinte e oito anos. Paramhansa Yogânanda relatou em 1950 que a mística indiana Giri Bela, jejuando integralmente desde a idade de doze anos e quatro meses, dobrou o recorde da holandesa, pois jejuou durante cinqüenta e seis anos. Teresa Neumann cessou de se alimentar em 1927 e morreu em 1962. Seu corpo foi controlado várias vezes pelas autoridades eclesiásticas e médicas reunidas. O padre Pio alternava períodos de inédia e de alimentação, mas ele nunca absorvia mais que duzentas e cinqüenta calorias por dia, quantidade que cobre unicamente os gastos energéticos habituais do organismo. Marthe Robin cessou de alimentar-se em 1928 e morreu em 1979. Seu jejum durou, portanto, cinqüenta e um anos. A única exceção à integralidade de sua inédia era a absorção da hóstia: é um denominador comum nos inedíacos católicos. Caso de Louise Lateau Louise Lateau (1850-1883), extática estigmatizada, praticou a inédia durante uma dúzia de anos. Era uma filha de camponeses, simples e piedosa, que, até o dia em que acamou-se definitivamente, continuou a trabalhar duro. Aos treze anos de idade, foi derrubada e pisoteada por uma vaca e ficou muito doente. Agonizante, ela começou a ter visões durante as quais conversava com visitantes celestes. Em seguida, surgiram estigmas, que sangravam particularmente todas as sextas-feiras durante os êxtases. O nojo progressivo pela comida levou-a à inédia completa em 1871. Numerosos controles médicos nada revelaram. Os alimentos ingeridos eram rejeitados. O leite vomitado não estava coalhado, o que indica a ausência de suco gástrico no estômago.

Louise só retinha a hóstia (ela comungava todos os dias), com a condição de que fosse consagrada. Ela devolvia as não consagradas e as colheradas de água pura. Em 1876, acamou-se definitivamente. Todos os esforços para fazer com que a inédia de Louise fosse interrompida, tanto por parte de seus amigos, como de seus detratores, foram vãos. Ela não tinha, naturalmente, qualquer excreção. Com uma autorização especial do bispo, seu médico ordenou-lhe solenemente que dissesse a verdade. Louise, que era devota, jurou que, tão verdadeiro quanto o fato de que iria morrer, ela jamais havia ingerido o menor alimento, nem bebida, nos últimos sete anos. Este sermão foi repetido várias vezes. Caso de Mollie Pancher Ela apresentou, ao lado da inédia, uma série de outros fenômenos paranormais. Está descrita no capítulo das personalidades dissociadas (capítulo 29). Caso de Teresa Neumann Um controle rigoroso foi realizado sobre a extática Teresa Neumann durante quinze dias. Veremos todo o proveito que se pode tirar de um controle realmente, científico desta duração. Teresa Neumann, a extática de Konnersreuth, na Baviera, jejuou rigorosamente durante trinta e seis anos, de 1926 a 1962. As autoridades religiosas solicitaram ao bispo do qual dependia a aldeia de Konnersreuth que procedesse a um inquérito. Para proteger-se de uma possível acusação de parcialidade, o bispo confiou este inquérito ao Dr. Seidl, médico habitual da extática. Seidl era conselheiro sanitário e cirurgião-chefe do Hospital de Waldsassen. Além disso, não se podia acusá-Io de tornar-se repentinamente um partidário da tese da realidade dos fenômenos, pois, após ter começado a tratá-Ia, ele declarou que os "fenômenos" da extática explicavam-se como sendo crises de histeria. O Dr. Seidl, que pôs em jogo nada mais nada menos que sua reputação e sua carreira, elaborou um protocolo particularmente severo da prova, que durou quinze dias e quinze noites, ininterruptos, do dia 13 de julho de 1927 às 13h30 ao dia 28 de julho às 13 horas. Durante este tempo, Teresa foi colocada sob a vigilância de quatro religiosas, todas enfermeiras diplomadas e bem informadas sobre os cuidados com os neuropatas. Elas prestaram juramento diante da comissão episcopal e receberam do Dr. Seidl instruções precisas. A vigilância deveria ser exercida por pelo menos duas irmãs, que deveriam guardar silêncio absoluto, para não incomodar os outros e nem distrair-se. Elas

acompanhavam Teresa em todos os seus deslocamentos. Estavam encarregadas de tudo medir: o pulso, a temperatura e o peso, várias vezes por dia. Do sangue que Teresa perdia com abundância, na ocasião de seus êxtases dolorosos, a cada sexta-feira, quando ela revivia a Paixão de Cristo, eram colhidas amostras em lâminas de vidro para serem analisadas. Em certos dias da semana, a amostra era retirada do lóbulo da orelha. As taxas de hemoglobina eram medidas ao mesmo tempo. Conservavam-se, igualmente, as roupas sujas do sangue dos êxtases, os véus para cabeça e as compressas de gaze da ferida na região lateral do abdome. Os êxtases e os estigmas eram fotografados, principalmente às sextas-feiras, quando possível. As enfermeiras deviam observar tudo, especialmente as relações que Teresa podia ter com o mundo. À menor dúvida, ou se uma resistência qualquer lhes fosse oposta, elas deveriam alertar imediatamente o médico, por telefone, por carta ou pessoalmente. Durante toda a duração do controle, o Dr. Seidl chegou várias vezes, inesperadamente, acompanhado de outros observadores. As atas dos relatos das religiosas mencionam nove destes controles. Estes controles permitiam estabelecer que Teresa Neumann comungava com freqüência. Ao longo destes quinze dias ela absorveu 0,33 grama de hóstia (ela só comungava com um oitavo da hóstia, para poder engoli-Ia), e, como a hóstia era umedecida, ela absorveu também 45 centímetros cúbicos de água. O total diário foi de 22 miligramas de pão e 3 gramas de água. As análises do sangue não mostraram qualquer sinal de abstinência. No entanto, foi do peso que surgiram os resultados mais brutalmente incompatíveis com os nossos conhecimentos clássicos. O peso de um homem aumenta naturalmente com o alimento ingerido e decresce, em seguida, com a eliminação natural de gás carbônico e de água. Quando não se come nem se bebe, o peso decresce também, pois as mesmas excreções são produzidas pelas reações biológicas normais. Ora, o peso de Teresa permanecia exatamente estável e igual a 55 quilos. Pelo menos entre o domingo de manhã e a quinta-feira à noite, pois durante cada êxtase doloroso da sexta-feira ela perdia aproximadamente 4 quilos, em forma de sangue e de suor. Mas estes 4 quilos perdidos na sexta eram extraordinariamente recuperados durante o sábado seguinte. O controle do Dr. Seidl estendeu-se por duas semanas e cobriu, portanto, dois destes êxtases. A perda e a recuperação destes 4 quilos de líquido foram sempre idênticas. É inútil, portanto, invocar a duração insuficiente do controle. Caso se tratasse apenas de tentar surpreender a inedíaca em flagrante delito de fraude ao alimentar-se sub-repticiamente, as duas semanas teriam sido, de fato, insuficientes. Mas o que o controle revelou foi o suficiente para demonstrar o caráter paranormal dos fatos,

principalmente com a espantosa recuperação do peso a partir de nada. Ao menos, de nada que nós conhecemos. Na realidade, por viver em meio a um grande número de pessoas, sem nunca isolar-se (ela não tinha necessidade disto), Teresa Neumann foi controlada durante trinta e seis anos e "o investigador chamava-se povo", como disse E. Boniface, que dedicou três trabalhos a Teresa Neumann, sendo o último publicado em 1979. Nós dispomos de uma verificação análoga, sumária, porém segura. O extático, igualmente estigmatizado, padre Pio, célebre pelos fenômenos de bilocação, era parcialmente inedíaco. Certa vez, durante uma indisposição de oito dias, ele tomou apenas um pouco d'água. Como ele havia se pesado antes e depois, pôde-se constatar que ganhou peso. Teresa Neumann teve uma resposta absolutamente comparável. Ela dizia subsistir de alguma coisa e ninguém a interrogou sobre isto. Aos resultados do controle de sua inédia, é preciso acrescentar que Teresa comungava com assiduidade, mas, estando freqüentemente doente, ocorriam-lhe vômitos, durante os quais ela expelia a hóstia, que se encontrava infalivelmente intacta, não tendo sofrido qualquer ação do suco gástrico. Uma destas regurgitações ocorreu três dias e duas noites após a ingestão e a hóstia não estava alterada. Entretanto, se a hóstia terminava por ser digerida - o que, neste caso, não quer dizer que era digerida por vias normais, do que o organismo de Teresa era mesmo incapaz, mas, simplesmente, que era assimilada -, Teresa desfalecia e devia comungar de novo, imediatamente. Se o padre tardava a vir, uma hóstia surgia espontaneamente dentro de sua boca, o que é, bem entendido, um milagre, conhecido, porém, na parapsicologia, sob o nome de aporte (capítulo 8). Com Teresa Neumann, o caso reproduziu-se várias vezes e pôde até mesmo ser controlado. Assim, o professor Wutz, também padre, viu uma hóstia consagrada desaparecer de seu cibório, enquanto Teresa comungava desta forma pouco banal. O fato pôde ser confirmado, segundo o Dr. Steiner, pois ela deu detalhes sobre o que havia se passado ao longo da missa. Durante este tempo, ela havia ficado em sua cama. Que os racionalistas e os incrédulos não se sintam desanimados por estas atividades especificamente cristãs. Fenômenos análogos em todos os pontos são atualmente produzidos por Uri Geller, especialista do showbiz e por Matthew Manning, um inglês, proprietário de uma clínica de saúde que utiliza procedimentos "psi". As explicações da inédia Nós não podemos explicar como se pode viver sem comer. Não sabemos nada sobre isso.

Este "nós" compreende a ciência clássica. Os inedíacos gastam um mínimo de energia para mover-se e para respirar; eles irradiam calor e expiram gás carbônico. A contribuição em peso da hóstia, freqüentemente ingerida (várias inedíacas sendo moças religiosas), não corresponde aos gastos em energia e em matéria, mesmo na ausência de excreções, o que é normal para um inedíaco. Qual é então a origem da energia e da massa corporal que se reconstitui espontaneamente? O fenômeno do aporte, na acepção que este termo envolve nos fenômenos espíritas, seria talvez a explicação desta alimentação fora do natural. Com bastante freqüência foram vistos aportes formarem-se na boca do médium. Como o estômago dos inedíacos está achatado e absolutamente não funciona, o que se constata tanto na palpação quanto nas análises químicas, supõe-se que as substâncias nutritivas poderiam penetrar diretamente no sangue, evitando assim o trato intestinal. Esta suposição não é mais extraordinária que o aporte de flores na boca do médium. Ela está de acordo com a experiência. As alternativas a esta suposição são muito mais duvidosas. Pode-se supor a criação de substâncias a partir do nada, o que contradiz o princípio fundamental que diz que tudo deve ter uma causa. Uma transmutação de elementos, por exemplo, do oxigênio do ar inspirado em carbono assimilável, é uma reação, até prova em contrário, totalmente fantasiosa. Considerou-se também a transmutação da energia psíquica em carbono. Falou-se, igualmente, de Deus, para quem nada é impossível: isto seria confundir Deus com um prestidigitador. Louise Lateau disse uma vez, falando dos médicos que a atormentavam: "Se eles soubessem de onde tiro minhas forças!". Louise era uma camponesa inculta e nenhum dos doutos que a ouviram dignou-se a refletir sobre isso. Eles estavam ocupados procedendo às MEDIÇÕES altamente científicas e às experiências diversas, tais como aproveitar-se da insensibilidade de Louise em estado de êxtase para infligir-lhe queimaduras experimentais no braço com a ajuda de amoníaco e retirar-lhe pedaços de carne para amostras. Bastaria que lhe fizessem algumas perguntas... mas eis que eles estavam ocupados pincelando-a com amoníaco. É mais científico do que tentar tomar distância, para melhor avaliar o caso e refletir! E quem já ouviu falar de CIENTISTAS pedindo informações a uma camponesa?

CONCLUSÃO Os fenômenos paranormais que se manifestam sob forma de modificações da temperatura do corpo, morto ou vivo, permitem, com aquilo que é conhecido na

medicina clássica, esboçar um esquema. A passagem aos conhecimentos precisos será objeto da ciência futura. Os conhecimentos já estabelecidos podem ser assim resumidos: 1. Certos estados psíquicos podem induzir no corpo um outro patamar de equilíbrio térmico, correspondente a um metabolismo diferente e cujo mecanismo é, atualmente, desconhecido. A temperatura do corpo estabiliza-se, então, muito acima da normal e mesmo acima dos estados patológicos conhecidos (48,5°C registrados). 2. Um outro metabolismo pode manifestar-se nos cadáveres. Ele se caracteriza pela imputrescibilidade do corpo, que guarda um aspecto fresco, os olhos brilhantes, os músculos flexíveis e o sangue não coagulado. A temperatura se mantém, então, nitidamente acima da temperatura ambiente, mas faltam-nos as medidas. O mecanismo deste estado é desconhecido, sendo, talvez, ligado ao precedente. 3. Um outro fenômeno térmico afeta acidentalmente o corpo humano vivo: é a inflamação espontânea, seguida de combustão total ou parcial. Normalmente, o corpo humano não é inflamável. O mecanismo deste fenômeno é misterioso e contrário aos conhecimentos clássicos, mas podemos supor uma reação sendo desencadeada. 4. A inédia, ou a ausência total de alimentação, não só contradiz nossos conhecimentos melhor estabelecidos, como até mesmo choca o bom senso. Os inedíacos não se alimentam, mas produzem trabalho que absorve energia, irradiam calor e expiram gás carbônico, cujo carbono deve, certamente, provir de algum lugar. Estabeleceu-se que, após uma perda excepcional de peso, este reconstitui-se espontaneamente. A explicação de todos estes fenômenos é possível se admitirmos a existência do corpo astral, confirmado, aliás, pela maior parte dos fenômenos paranormais. Esta hipótese não permite ainda fornecer os me canismos precisos destes fatos misteriosos, mas propõe aos pesquisadores uma linha de pesquisa a seguir, enquanto as doutrinas clássicas fe-cham as portas à investigação e nos deixam diante de uma série de fatos incompreensíveis, que só nos resta negar.

Segunda Parte O ESPÍRITO E A MATÉRIA

(Fenômenos físicos da parapsicologia) Esta parte agrupa os fenômenos físicos provocados pela intervenção de pessoas dotadas de certas faculdades particulares, inatas ou adquiridas. Historicamente, eles foram observados durante sessões espíritas, o agente sendo então o médium. Por isso são conhecidos como fenômenos mediúnicos. Seu estudo sendo dependente da parapsicologia, nós os chamaremos também de fenômenos físicos da parapsicologia. Estes fenômenos afetam a matéria. O que os distingue da física clássica é a intervenção obrigatória da mente, consciente ou não, do operador, inseparável do fenômeno. Quando eu pego uma colher e a dobro com a mão, pode-se distinguir uma ação psicológica (a intenção), uma ação fisiológica (o esforço muscular) e uma ação física (a torção da colher). Estas ações podem ser consideradas separadamente e dizem respeito a ciências distintas. No entanto, quando a colher é torcida pelo esforço da vontade do operador, sem que ele mesmo possa dizer como procede, trata-se de um campo de conhecimento que, dentro do esquema clássico, é representado por um vazio total. Não só não se sabe nada a respeito, como nem sequer há interesse em saber. Sua existência é negada. Os fenômenos mediúnicos compreendem, esquematicamente, os grupos seguintes: - os raps: golpes sonoros provocados nas paredes e nos objetos; - a ação física sobre os objetos: deslocamentos, torção, passagem através da matéria; - a levitação de pessoas; - a ação direta sobre a chapa fotográfica e a fita magnética; - as materializações; - a escrita automática ou direta. Vários destes fenômenos são conhecidos há muito tempo e foram atestados na Idade Média e na Antiguidade. Quando uma assistência numerosa vê, em pleno dia, o médium americano Colin Evans subir até o teto no meio de um quarto, toda ilusão ou sugestão estando eliminada, não se vê em virtude de qual argumento seria negada a levitação, em tudo análoga à de Simão, o Mago, relatada pelos Evangelhos. O termo "médium" foi adotado pelos espíritas. Segundo a crença inicial do espiritismo, estes fenômenos são provocados pelos espíritos dos mortos, assim como por outros espíritos que povoam o além. A comunicação nos dois sentidos passa obrigatoriamente por uma pessoa dotada de poderes particulares, que serve assim de "intermediário" (medium, em inglês).

Os parapsicólogos e os psicofisiologistas explicam a maior parte destes fenômenos pela atividade do inconsciente humano, conhecido dos clássicos, mas que consegue exteriorizar-se através de um mecanismo desconhecido. Os parapsicólogos, entretanto, ao inverso dos cientistas clássicos, reconhecem, ao menos, sua existência. Todavia, a intervenção dos espíritos do além não se encontra inteiramente excluída e certos casos parecem muito difíceis de explicar de outra forma, que não pela deliberada intervenção de espíritos de mortos.

5 OS RAPS

O termo inglês "raps", geralmente adotado em parapsicologia, designa pancadas sonoras provocadas pela ação mediúnica: estes golpes ressoam tanto no interior das paredes ou dos móveis, como em sua superfície. A intensidade dos raps pode ir de um leve tamborilar ao barulho de grãos de areia que caem com grande intensidade. Encontraremos, no capítulo das assombrações, o caso de uma casa assombrada, na qual produzia-se o que os habitantes descreveram como o barulho da "queda de um piano de cauda". Em outro caso, o estrondo fez crer que se tratava de um terremoto ou do desmoronamento de um telhado. Os raps podem ser provocados por um médium em transe, por um sensitivo inconsciente, como na pequena assombração; finalmente, na ausência de qualquer sensitivo, pela psicocinesia espontânea recorrente (RSPK). Em numerosos casos de raps há, certamente, uma inteligência oculta, com a qual é possível estabelecer uma comunicação, além de toda hipótese concernente à identidade real desta inteligência, pois os fenômenos seriam os mesmos, quer se trate de um morto,do inconsciente de um vivo ou de um espírito não humano. Em certos casos, após terem sido satisfeitos pedidos simples, os golpes numa casa assombrada cessaram. Se explicações mais detalhadas se mostrassem necessárias, poder-se-ia tentar estabelecer a conversação com o autor dos raps através do alfabeto morse (uma batida para "ponto", duas para "traço") ou do número de batidas designando o lugar da letra no alfabeto (uma batida para A, duas para B, vinte e seis para Z). Uma propriedade estranha dos raps é que, a despeito de sua intensidade, algumas vezes eles só podem ser ouvidos por uma parte dos assistentes. Assim, no caso de Cherchell, o estrondo foi tamanho que os habitantes da casa assombrada precipitaram-se para fora, pensando que o telhado desabava. Os vizinhos, que não dormiam, nada ouviram. O problema da natureza das percepções de nossos sentidos em

geral é colocado, mas poderia tratar-se de dois fenômenos distintos. Um estudo interessante dos raps foi feito por Andrija Puharich, na casa da Sra. C.Ross. O fenômeno tendo se manifestado na casa desta não-profissional, foram organizadas sessões divertidas entre amigos. O Sr. Puharich se fez convidar e foi autorizado a proceder às verificações que desejasse. Ele começou por assegurar-se de que nenhuma das pessoas presentes trazia consigo objetos que pudessem imitar os raps. Ele registrou, em seguida, os sons de baixa freqüência num captador sismográfico ligado a um osciloscópio com a fotografia da onda sonora emitida. Outros aparelhos registravam, simultaneamente e em sincronismo, as conversas e todos os outros ruídos. Ele colocou eletromiógrafos em todos os presentes, o que permitia assegurar-se de que nenhum deles fazia esforços musculares. Eles podiam elevar as mãos até 10 centímetros acima da mesa emissora de raps. Acima disso, os raps cessavam. A presença da Sra. Ross era necessária. Em quatro meses de experiências, o Sr. Jochems e sua mulher adquiriram a capacidade de fazer o mesmo, o que confirma, uma vez mais, que os fenômenos "psi" não são raros e que esta faculdade pode ser desenvolvida pelo exercício. O detalhe técnico interessante, descoberto pelo Sr. Puharich, é que o registro da vibração no osciloscópio mostrava, não um choque inicial seguido de amortecimento progressivo, como produziria, por exemplo, um objeto ao chocar-se, mas uma oscilação mantida, de intensidade constante, que enfraquecia bruscamente sem mostrar decrés-cimo prolongado. Este tipo de barulho é muito difícil de reproduzir. Ele parece confirmar a suposição de que os fenômenos "psi" afetam a matéria pelo relaxamento de certas forças de coesão interatômicas. Este mecanismo seria aquele dos fenômenos de psicocinesia. É confirmado pelas análises metalográficas do professor Hasted das moedas torcidas por psicocinesia, por exemplo por Uri Geller. Uma ação mecânica, sozinha, não pode dar tais resultados. O estudo dos raps é inseparável do das mesas ditas "giratórias", que estão entre os fenômenos mais correntes das sessões mediúnicas. Para falar, as mesas produzem batidas audíveis, seja no seu interior, seja levantando-se para bater no assoalho. São estes movimentos que fazem com que sejam chamadas "giratórias". Em vários procedimentos mais fáceis de realizar, substitui-se a mesa por objetos leves que vêm designar as letras de um alfabeto ou portadores de um lápis que escreve sobre o papel. As mesas giratórias indicam bem o parentesco entre os raps e os movimentos da mesa.

6

TELECINESIA (TK) A telecinesia (TK) é o deslocamento de objetos unicamente pela força da vontade. Esta definição não pressupõe qualquer mecanismo invisível e fundamenta-se num fato constatável. Esta faculdade pode ser inata. O berço do pequeno Dunglas Home, futuro célebre médium, era freqüentemente balançado por mãos invisíveis. É mais simples supor uma força telecinética da criança, já dotada, que queria ser embalada, do que a intervenção de espíritos ou do anjo da guarda. Esta faculdade seria mais difundida do que se pensa, mas não sei se algum estudo estatístico foi feito. Aqueles que quiserem verificar se possuem o dom, devem colocar-se num local calmo, onde possam estar certos de não ser incomodados e concentrar-se em objetos extremamente leves, como fósforos ou pedacinhos de papel, para depois passar, progressivamente, aos objetos mais pesados. Sem remontar aos prodígios da Antiguidade, podemos citar o filósofo Francis Bacon, que, no século XVII, falou da possibilidade de influenciar a distribuição de cartas de um jogo e o lance dos dados, usando a vontade. Seguindo seu fundador AIlan Kardec, os espíritas pensam que o verdadeiro responsável pelos fenômenos de TK são os espíritos presentes. O primeiro estudo positivo de TK parece ter sido o trabalho do conde Agenor de Gasparin sobre as mesas giratórias, efetuado na Suíça, em 1854. O professor Marc Thury, da Universidade de Genebra, confirmou-o no ano seguinte. Foi William Crookes quem postulou a existência de uma energia psíquica particular, exercendo-se diretamente sobre a matéria. Esta hipótese reconcilia a hipótese espírita com os fatos materiais, tais como a TK. Foi necessária a potência de espírito deste grande cientista para propor uma explicação mais ousada que a de seu compatriota Newton. Os espíritos receosos de seus sucessores, no entanto, possuem uma irresistível tendência para camuflar as fissuras do edifício clássico ao invés de consertá-Ias, e, ao mesmo tempo em que admitem os fatos, tentam reduzi-Ios unicamente às modificações físicas. Estudos experimentais A TK foi submetida a controles variados e rigorosos, tanto para a realidade dos fenômenos como para sua avaliação quantitativa. O ponto particularmente importante é o de isolar a aparelhagem registradora dos efeitos de qualquer influência externa. Harry Price, diretor do Instituto de

Parapsicologia de Joanesburgo, utilizou um manipulador telegráfico, colocado, juntamente com o aparelho registrador, no interior de uma bolha soprada numa mistura de água e sabão glicerinado. A bolha, uma vez posta no lugar, era recoberta por uma campânula de vidro e esta, por sua vez, colocada no interior de uma gaiola de tela metálica que desempenhava o papel de gaiola de Faraday. O conjunto era recoberto por uma caixa de madeira com visor. Após as experiências, cujos resultados eram positivos, retirava-se a caixa de madeira, a gaiola metálica e a campânula de vidro e assegurava-se de que a bolha de sabão glicerinado estava intacta. John Beloff, psicólogo da Queens University de Belfast, sugeriu que a psicocinesia se exerce a nível subatômico, e pode portanto ser detectada numa emissão radioativa,reação extraordinariamente independente das condições externas. Chauvin e Genton realizaram estas experiências em 1965, tendo como sujeitos dois colegiais. Com relação ao número de golpes que seriam obtidos na ausência de todo efeito de TK, o número efetivamente obtido deu um coeficiente de 10 elevado a 9, ou seja, a proporção de um bilhão para um. Os resultados foram publicados no Zeitschrift für Parapsychologie und Grenzgebiete der Psychologie, em 1965. Helmut Schmidt operou sobre um dispositivo de lâmpadas colocadas em círculo e conectadas de modo que só pudessem ser acesas em seqüência, porém nos dois sentidos de rotação. Um dispositivo estocástico (Capaz de acionar aleatoriamente um circuito) comutava o sentido e devia ser influenciado pela TK, para impor um dos dois sentidos de preferência ao outro. O resultado sobre trinta e duas mil tentativas foi globalmente positivo, com a relação de probabilidade de 10 elevado a 7, ou seja, dez milhões para um. Os resultados foram publicados no New Scientist em 1971. W. E. Cox exerceu a ação TK sobre um relógio elétrico movido por uma corrente que passava através de uma solução salina. A ação era exercida sobre a velocidade dos íons da solução. Os resultados positivos exprimem-se pela relação de 103. Esta última série indicaria uma ação de TK a nível atômico. Todavia, esta ação se exerce também sobre os materiais com estruturas eletromagnéticas totalmente diferentes, como a madeira ou o plástico. É plausível que a conduta correta deva levar em consideração a estrutura sutil da matéria, atualmente ignorada na física. O sueco Haakon Forwald dedicou-se ao problema da avaliação da energia TK (Journal of Parapsychology, 1954). Ele utilizou cubos de bétula, que fazia rolar num declive rugoso, terminando numa mesa horizontal. Tratava-se de fazer com que os cubos se desviassem da linha mediana. Ele obteve, para cada cubo sob influência TK, uma ação de aproximadamente 300 dinas. Ele retomou estas experiências com cubos de baquelita, zinco, cobre, chumbo, prata e

alumínio. Verificou-se que as distâncias de desvio do eixo central eram independentes do peso dos cubos. Forwald tomou o cuidado de proceder à detecção de traços de qualquer radiação secundária, mas não encontrou nenhuma. Forwald sugeriu uma hipótese particular: a matéria seria capaz de emitir energia e a mente só serviria para desencadear o processo. Ele procurou, então, nos cubos, traços de todas as energias secundariamente emitidas possíveis, mas nada encontrou. Para prevenir-se contra influências psíquicas outras, mesmo desconhecidas, que não as do sensitivo da experiência, o aparelho de lançamento dos dados foi automatizado até a eliminação das contagens dos resultados, registrados automaticamente. Este excesso de precaução justifica-se, pois, em parapsicologia, sabe-se que a consciência da qualidade dos resultados já obtidos exerce uma influência certa sobre os lances seguintes. O aparelho automatizado sacudia então os dados, enquanto o sensitivo se concentrava. Quando este último apertava o botão de acionamento, um alçapão se abria, os dados caíam na bandeja, os pontos eram registrados e o resultado inscrito - tudo isto no interior do aparelho. Após cento e setenta mil lances de dados, os resultados foram significativos, com uma probabilidade de serem conduzidos ao acaso de aproxi-madamente 1%. Um fato estranho, do qual não se vê a razão, é que o sensitivo da experiência devia apertar o botão. Se o desencadeamento fosse também automatizado, o resultado seria nulo (probabilidade de obtenção). Esta necessidade de manter um mínimo de contato entre o operador e os objetos manipulados parece confundir-se com magia pura. Permanece aberta a questão de saber se a força que faz rolar os cubinhos é a mesma que, em outras circunstâncias, pode deslocar as camas, os fogões e os armários cheios de livros. Entre as pesquisas experimentais citamos ainda as experiências de Chauvin e Genton (1967 e 1968), que constataram a influência da TK na decomposição radioativa do nitrato de urânio, fenômeno extraordinariamente independente das influências externas. Schmidt e Pantas registraram uma influência "psi" sobre dois geradores aleatórios, um de construção bem mais complexa que o outro. Os geradores eram substituídos um pelo outro durante a experiência sem o conhecimento dos sujeitos, sem que se pudesse detectar diferença de atividade. Esta notável experiência demonstra que a ação "psi" se exerce ontologicamente sobre o resultado, sem se pertubar com a complicação da cadeia de transmissão. Resultados análogos foram obtidos sobre uma célula fotossensível (Braud, 1980) e sobre a variação de peso de certos objetos (Cox, 1971, e Forwald, 1969).

Ingo Swann pôde influenciar um magnetômetro supercondutor (detector de quarks), ultrablindado e completamente insensível às influências externas, que ele bloqueou totalmente durante quarenta e nove segundos (Targ e Puthoff, 1974). Ele pôde descrever o aparelho que se achava invisível sob o assoalho. Conseguiu influenciar, igualmente, um calorímetro blindado (Schmeidler, 1973). Estudo experimental dos fenômenos de poltergeist Após os estudos feitos, de certa forma in loco, sobre os médiuns ao longo das sessões, restava transportar inteiramente a experimentação ao laboratório, isolando nitidamente o médium, gerador obrigatório das forças misteriosas, dos objetos sobre os quais são exercidas estas forças. Este passo foi dado em 1961. Para eliminar o médium e o estafante controle antifraude, John G. Neihardt, professor de literatura inglesa na Universidade de Columbia, resolveu operar sobre si mesmo. Ele começou, portanto, por ir estudar com um xamã índio dos Oglala e tornou-se também xamã. Em 1961, ele fundou em Rolla, Missouri, a Society for Research into Rapport and TK (SORRAT), onde fenômenos muito diversos foram submetidos a uma investigação rigorosa. Ele associou-se aos serviços do Dr. William Cox e do Dr. Richard. Lembramos que o termo rapport designa (também em inglês) o estado no qual o hipnotizado torna-se surdo e cego para o mundo exterior, percebendo apenas a voz do hipnotizador. Todos os objetos sobre os quais deveria exercer-se a influência do professor-xamã eram encerrados numa gaiola de vidro montada sobre sensores. Neste espaço fechado foram produzidos fenômenos de telecinesia, de levitação e de teletransporte. Cox substituiu a gaiola de vidro por um aquário de 30 decímetros cúbicos com fundo de madeira e cantoneiras de aço, fechado por duas fechaduras especiais que eliminavam toda possibilidade de fraude. A seguir, eram acrescentados cabos de aço com um sistema de fechadura suplementar, que um serralheiro profissional vinha verificar periodicamente e certificava sua segurança a cada exame. O aquário era rodeado por câmeras automáticas que se punham em funcionamento ao primeiro movimento, qualquer que fosse, no interior do dispositivo. Relés estavam ligados aos objetos contidos, por intermédio de sensores especiais. Deste modo, foram tomadas seqüências de trinta segundos. Nos filmes, via-se igualmente o relógio de controle, cujo ponteiro dos segundos permitia deduzir as velocidades dos deslocamentos de TK. Desde o princípio dos estudos, conseguiu-se obter peças quebradas, torcidas ou fundidas (por exemplo, um termômetro de mercúrio fundiu). Um lápis escreveu um

pequeno texto irônico, endereçado ao Dr. Coxo Desde 1979, o dispositivo experimental continua a ser aperfeiçoado. Magníficas fotografias em cores foram publicadas. Resultados espantosos foram assim obtidos sob um controle dos mais rigorosos. Estas experiências fazem justiça quanto à repetitiva afirmação de que os fenômenos "psi" "não são reprodutíveis". Citemos ainda um lápis que escreveu sozinho frases e poemas. Quem foi o autor dos mesmos? Os dados forneceram combinações de pontos solicitados com vários dias de antecedência. Quem os manipulava? Uma vez iniciados, os fenômenos produziram-se igualmente na ausência dos experimentadores. Lembramos que, com Uri Geller, as colheres continuavam a torcer-se após sua partida. Correio "psi” O resultado mais espetacular, especialmente desconcertante, obtido pela SORRAT, foi, incontestavelmente, o teletransporte da correspondência, que foi denominado também correio psicocinético ou correio "psi". Encerra-se no aquário uma carta e um envelope virgem. Vê-se, então, aparecer o endereço no envelope, a carta introduzir-se no mesmo e em seguida o envelope desaparece. As cartas expedidas desta forma chegaram ao seu destino na Inglaterra, na Austrália e na Itália. Para quem admite o teletransporte, já é um belo resultado. Mas eis que o mecanismo do fenômeno complica-se singularmente: as cartas chegavam com os selos necessários e devidamente carimbadas. Estabeleceu-se, então, uma vigilância na agência do correio de Rolla. Constatou-se que, por vezes, as cartas materializavam-se no centro de triagem e, nestes casos, elas já estavam seladas. Em outros casos, esta estranha correspondência circulava evitando a triagem de Rolla. Apesar disso, ela chegava, com freqüência, mais depressa que a correspondência normal. Pessoas conhecidas atestaram tê-Ia recebido, como, por exemplo, o parapsicólogo John Beloff, na Inglaterra. Se estas cartas desmaterializavam-se para reaparecer na agência do correio do destinatário, tudo se explica. Mas, de onde vinha então o carimbo das cartas que não passaram pela triagem? O invisível manipulava o carimbo sob as barbas dos funcionários do correio? Ou existiria uma cópia em algum outro lugar? E os selos postais? Se eles vinham da SORRAT seria normal, mas, se eles provinham dos guichês de Rolla ou da impressora central, seria roubo. Além disso, se as estampas eram criadas por uma operação "psi", tratar-se-ia de falsificação e uso de falsificação, delito penal. De mais a mais, se podem ser criados selos desta forma, por que não

dinheiro? Esta é mais uma ameaça que a parapsicologia faz pesar sobre a nossasociedade. As experiências da SORRAT foram retomadas pelo parapsicólogo britânico Julian Isaacs, com a equipe da Alston University, de Birmingham, composta de espíritas e médiuns espontâneos. O material era essencialmente o mesmo que em Rolla, mas mais sofisticado. O Sr. Isaacs decidiu que iria demonstrar que qualquer um era capaz de suscitar os poltergeists. De acordo com H. Bender, esta capacidade seria tão difundida quanto a telepatia espontânea. TK e os animais O Dr. Helmut Schmidt colocou os animais num espaço fechado, cujo aquecimento era regulado por uma aparelhagem estocástica que cortava ou ligava novamente a corrente, sendo que as sucessivas decisões eram comandadas por uma série de números aleatórios. Na ausência de intervenção externa, o registro deveria mostrar durações aproximadamente iguais dos dois regimes (aquecimento/parada). Ora, o registro re-velou que, a cada parada, o aquecimento era restabelecido mais depressa do que teria feito o dispositivo automático: os animais influenciavam ativamente, portanto, o conjunto do dispositivo. Se o aquecimento tornava-se excessivo para o gosto do animal, ele o cortava, seguindo o mesmo esquema. O Dr. Schmidt verificou, assim, a influência "psi" dos frangos, dos gatos, dos lagartos e dos ovos frescos sobre a aparelhagem eletrônica. Dizendo de outro modo, os fetos de frangos possuem poderes "psi" análogos aos dos frangos que já estão fora da casca materna. Encontram-se outras provas da vida psíquica nas experiências do Sr. Baxter sobre as plantas. O Dr. Schmidt operou também sobre baratas, mas com um dispositivo diferente. As baratas eram submetidas a choques elétricos desagradáveis, que podiam evitar agindo sobre a máquina distribuidora de choques com uma ação "psi" . Ele constatou um fato espantoso: ao invés de reduzir a freqüência dos choques, as baratas os aceleravam recebendo-os assim com maior freqüência do que a que seria obtida de uma máquina não influenciável pelo "psi". A aproximação holística, levando em conta a ação pessoal, mesmo que inconsciente, do experimentador, permite sugerir uma resposta. Schmidt diz ter uma simpatia natural pelos gatos, lagartos, frangos, e, sem dúvida, pelos ovos, mas confessou nutrir uma profunda aversão pelas baratas. Era ele, portanto, que, sem o saber, induzia a aparelhagem a infligir aos infelizes insetos torturas não merecidas. Deixo o leitor responder à questão que se impõe: as baratas possuem uma alma? e os ovos? Eles são mesmo vivos, não?

Watkins obteve resultados semelhantes com lagartos. Mesas giratórias A designação tradicional de "mesas giratórias" provém do procedimento simples e há muito tempo empregado pelos espíritas para evocar os espíritos dos mortos. Ele consiste em provocar golpes num móvel leve, geralmente uma mesinha com um só pé, sendo que os golpes permitem a comunicação com o "espírito" através de um código conven-cional qualquer. Os golpes podem ser produzidos no próprio material do móvel; neste caso, são raps. Porém, mais freqüentemente, a mesa se põe em movimento, e, levantando-se, bate contra o assoalho, o que aparenta o fenômeno da telecinesia. O meio mais simples, popularizado por inúmeros desenhos e caricaturas, para fazer a mesa falar consiste em sentar-se ao redor da mesma e sobre ela colocar as mãos com as palmas para baixo e tocando-se ligeiramente. É o que se chama "formar a corrente". Se o fenômeno se manifesta, a mesa começa a estremecer e a estalar. É preciso, naturalmente, observar o silêncio e concentrar-se durante algum tempo. O sucesso não é garantido, a menos que entre os participantes haja uma pessoa mais dotada. Ao manifestarem-se os fenômenos, pode-se começar pelo ritual "Espírito, estás presente?" e iniciar a conversa. A crença nos espíritos não é necessária, mas as fórmulas ajudam na concentração e no trabalho do inconsciente. A mesa giratória pode adquirir grande mobilidade e levantar-se no ar. As mãos que formam a corrente podem então ser erguidas até uma dezena de centímetros; a corrente pode até mesmo ser interrompida e são suficientes algumas mãos planando no ar. No melhor dos casos, viu-se a mesa agir independentemente, continuar o diálogo e passear pelo aposento. Ela pode até mesmo perseguir os incrédulos que a teriam desagradado, golpeando-os nas costas com suas bordas (episódio de Chilovsky). Existem vários outros procedimentos utilizados nas comunicações mediúnicas, todos envolvendo o inconsciente, os movimentos reflexos e também a telecinesia. Todavia, para sermos exatos, em certos casos não se pode excluir com certeza a intervenção de espíritos, quaisquer que sejam. Os antigos falavam de "fluido", o que não deve estar longe da verdade, pois a dupla natureza do espírito se assemelha bastante a isso. Entre os teóricos das mesas giratórias encontram-se Agenor de Gasparin, Babinet, Jobert de Lamballe e o cirurgião Velpeau. Para os curiosos que desejariam tentar fazer girar as mesas, é preciso indicar que os procedimentos do gênero oui-ja ou "pires" são muito mais fáceis para pôr em prática (é preciso muito menos fluido) e podem dar resultados igualmente espetaculares. Além

disso, as mensagens são muito mais rápidas. Nos casos que se seguem, a mesa reagiu energicamente contra aqueles que a desagradavam. Tendo desafiado Eusapia Palladino, em termos pouco agradáveis, a fazer uma levitação, o major Davis quase foi esmagado contra um armário por uma pesada mesa de mármore que foi levitada. Quatro pessoas tentaram retirá-Ia, sem conseguir. A mesa só relaxou a pressão a pedido da médium. Chilovski, co-inventor com Langevin da sonda ultra-sônica, não acreditava nos fenômenos espíritas. Numa sessão organizada em sua casa, a mesa que batia atirou-se sobre ele, dando-lhe uma forte pancada nas costelas. Quando Leadbeater, também médium, acusou a mesa de falsidade, esta atirou-se sobre ele, tentando atingi-Io no rosto. Um caso bem conhecido é o dos relógios que param quando são usados por certas pessoas. Pude verificar o fato com minha mãe, na qual o fenômeno produzia-se algumas vezes: o relógio funcionava no meu pulso ou sobre a mesa, mas, quando era colocado nela, parava em menos de um minuto. Angélique Cottin, a "menina elétrica” Angélique Cottin, menina simples do vilarejo de Bouvigny, de catorze anos de idade, era tecelã de luvas de seda. Na noite de 15 de janeiro de 1846, uma mesinha de carvalho maciço foi vista deslocando-se espontaneamente, apavorando as outras operárias. No dia seguinte, os estranhos fenômenos continuaram: era suficiente que Angélique se aproximasse para que os móveis, mesmo pesados, se pusessem a dançar e se revirassem. Apesar da opinião unânime do vilarejo, o padre, homem de bom senso, recusou-se a exorcizar a "possuída" e solicitou um tratamento médico. Ele procedeu também a verificações: os objetos mais diversos eram empurrados pela aproximação e pelo simples contato com as roupas de Angélique. Um certo Sr. Farémont, convencido de que se tratava de fenômenos elétricos, nada pôde detectar do lado de fora do corpo de Angélique, mas observou que os membros da jovem contraíam-se com um ritmo interno e seu pulso se modificava. Este ritmo comunicava-se, aparentemente, aos objetos influenciados: viu-se uma arca de 75 quilos levantar-se e cair de novo ao ritmo de quarenta a cinqüenta saltos por. minuto se Angélique a tocasse com sua saia.

Observador perspicaz, o Sr. Farémont aconselhou aos que quisessem estudar o "torpedo* humano, verdadeiro peixe elétrico terrestre" a não pertubá-Ia em seus hábitos e deixá-Ia rodeada de móveis familiares, para não espantar os fenômenos. Este judicioso conselho, no entanto, não foi seguido. Médicos, farmacêuticos, padres, engenheiros, um procurador do Rei, mais de mil pessoas ao todo, puderam constatar e estudar os fenômenos. Colocando um dedo no cotovelo da menina provocava-se um choque elétrico. No alto da cabeça ou na altura do cerebelo, todo o seu corpo era projetado para a frente. Os efeitos eram anulados aproximando-se de sua coluna vertebral, quer ela soubesse ou não, um bastão de cera para lacre ou um tubo de vidro convenientemente esfregados. Um ímã aproximado de sua cabeça provocava formigamentos dolorosos. * Torpedo: espécie de peixe que produz descargas elétricas. (N. da T.) Em fevereiro de 1846, Angélique, levada a Paris, foi examinada por Arago, secretário da Academia das Ciências, com sua equipe. Eles constataram todo um conjunto de fenômenos: rotação rápida de pequenas rodas de papel por efeito de sopro (elétrico) saindo do punho e da dobra do cotovelo, mas apenas do lado esquerdo; o braço esquerdo era mais quente que o outro e animado por contrações e estremecimentos insólitos. Uma comissão, da qual fizeram parte Becquerel, Geoffroy Saint-Hilaire, Babinet e outros membros da Academia das Ciências, foi nomeada a pedido de Arago, para examinar os fenômenos. Desinteressando-se dos fenômenos realmente extraordinários de movimentação de objetos a distância, que nenhuma teoria elétrica pode explicar, pois a eletricidade é totalmente sem efeito sobre objetos de madeira, estes cientistas escolheram exatamente o aspecto elétrico para estudar. Eles reuniram uma considerável aparelhagem elétrica, inclusive a máquina de Wimshurst, que lançava faíscas, o que teve o dom imediato e previsível de apavorar a jovem camponesa - lembrem-se das recomendações de Farémont! O pavor da jovem foi tal que os fenômenos foram bruscamente interrompidos. A comissão concluiu, portanto, que os fenômenos inexistiam. Esta conclusão mostra todo o desprezo dos ilustres obtusos pela possibilidade de terem diante de seus olhos um fenômeno inteiramente novo. Assustando a pobre Angélique eles literalmente mataram a galinha dos ovos de ouro! Eles maltrataram o material humano que deveria ser particularmente cuidado, tendo em vista a extrema raridade dos fatos. Não se tratava de medir os amperes, mas sim de estudar o organismo que os produzia! As divergências políticas certamente tiveram seu papel: a Academia era, em

sua maioria, monarquista e católica, enquanto Arago era liberal. Era 1846. Em 1988 a situação não mudou em nada. Quando uma maravilha se produz sob nossos olhos, vê-se aproximar um peão diplomado trazendo um milivoltímetro. A natureza do fenômeno não o interessa, ele quer medir os milivolts. Tudo o que se pode dizer atualmente é que uma disfunção qualquer provocou em Angélique contrações involuntárias, concomitantes ou causadoras de uma atividade telecinética. É pouco... Conclusão Parece difícil explicar os fenômenos de TK sem recorrer à intervenção de uma força que não entra em nenhuma das categorias das forças físicas conhecidas. Não é uma força "psíquica", pois ela age sobre a matéria, o que um espírito, imaterial por essência, não pode fazer. Por outro lado, esta força certamente está na dependência direta da mente humana. Este duplo aspecto seria seu caráter distintivo principal, que a coloca à parte de tudo aquilo que se conhece na física, assim como na psicologia: é uma concepção inteiramente nova. Se a mente pode agir diretamente sobre a matéria, como postulou Crookes e como resulta de numerosos fenômenos "psi", é a nossa concepção de mente que deveria ser reconsiderada, juntamente com partes importantes da nossa teologia e da nossa física. Os medrosos esperam sempre que o aspecto chocante dessa entidade com dupla face do fenômeno "psi", esse Janus meio físico, meio psíquico, poderá ser explicado por alguma descoberta inesperada, do tipo fluido ou radiação desconhecida, provocada pela mente e responsável pelo lado material dos fenômenos "psi". Eu penso que tal esperança é vã. Haverá, fatalmente, em algum lugar, dois elos contíguos, um psíquico ou mental, como quisermos, e o outro material. A dificuldade será apenas deslocada. Será preciso decidir-se a encarar uma realidade híbrida, meio psíquica, meio material. Não há razão alguma para não admitir, para os fenômenos "psi", uma natureza complexa que choca o bom senso. Desde a teoria da relatividade de Einstein, esse gênero de bom senso não tem mais crédito na ciência.

7 A PSICOClNESIA (PK)

A psicocinesia é a deformação física dos objetos apenas pelo esforço da vontade. A onda atual de psicocinesia (PK) foi lançada por Uri Geller, médium israelense, em torno de 1972. Nos anos que se seguiram, ele foi testado, controlado e estudado por um

número considerável de pesquisadores e de grupos de estudos de diferentes países do Velho e do Novo Mundo. Os fenômenos tão diversos que produzia este médium, um dos mais admiráveis de todos os tempos, convenceram quase todo mundo, inclusive vários ilusionistas, inicialmente bastante decididos a denunciar uma fraude. Em 1973, Uri Geller apresentou-se à televisão britânica, mostrando garfos e colheres que torcia apenas pela força da vontade. Um espantoso resultado seguiu-se: os telespectadores foram convidados por Geller a tentar fazer o mesmo e numerosas crianças e adolescentes revelaram-se perfeitamente capazes de fazê-Io: um novo jogo foi lançado! A passagem de Uri Geller pela televisão de vários países, onde ele fazia diante da câmera a demonstração de seus talentos, suscitou regularmente a revelação de uma multidão de jovens prodígios que, como para Hasted, na Inglaterra, forneceram sensitivos de qualidade aos parapsicólogos locais. Houve vários na Itália, na África do Sul e no Japão. Atualmente uma campanha de difamação é conduzida pelo conjunto dos adversários da parapsicologia contra Geller, cujas proezas tornaramse extraordinárias pelo fato de que ele se apresentava profissionalmente diante do público. Sabe-se que a tese geral dos oponentes é de que os fenômenos paranormais simplesmente não existem. O principal e, pode-se dizer, o único argumento é que foi demonstrado que Uri Geller trapaceia. Cita-se com freqüência o inimigo do paranormal, o ilusionista Randi. O que diz Randi? Que ele viu Geller "fazer gestos de ilusionista profissional". A demonstração da desonestidade de Geller se reduz, portanto, ao seguinte raciocínio: "Geller pôde trapacear, portanto, trapaceou". É verdade que, ocasionalmente, Geller trapaceia, pelas necessidades do show-biz. Mas é verdade que temos um considerável número de depoimentos de especialistas que confirmaram a realidade de seus dons psíquicos, entre eles vários ilusionistas profissionais, portanto inicialmente céticos. Os fatos Ambroise Roux criou, na Companhia Geral de Eletricidade, um laboratório de eletrônica especializado no estudo dos fenômenos "psi". Para estabelecer indiscutivelmente a realidade da psicocinesia, o engenheiro Pierre Janin lá criou um aparelho especial, o tychoscope, que se compõe essencialmente de um pequeno objeto móvel que se desloca sobre uma mesa, mudando continuamente de direção, seguindo uma curva inteiramente aleatória. Os comandos provêm de um computador, que fornece os parâmetros dos deslocamentos. Mas o computador registra também os deslocamentos, independentemente do comando, o que permite controlar

continuamente o caráter realmente aleatório dos deslocamentos do tychoscope. Se uma influência qualquer é exercida sobre o móvel, o computador a detecta, com uma sensibilidade bem maior que a do olho humano. Se um sujeito exerce uma ação qualquer sobre o móvel, o computador registra uma trajetória dominada por esta ação. Ao longo de três anos de estudos, o laboratório da CGE examinou duzentos e quinze sensitivos, metade homens e metade mulheres, entre executivos, funcionários, estudantes e donas de casa. Nenhum deles, exceto um, jamais havia participado de experiências de parapsicologia. Quatro tipos de casos foram registrados. No primeiro, não há qualquer ação e a trajetória permanece aleatória. No segundo, bastante freqüente, a ação existe, muito fraca para ser detectada pela visão, mas registrada pelo computador. No terceiro, apesar do caráter aparentemente aleatório dos movimentos, o sensitivo chega a imprimir no tychoscope uma orientação geral bem visível, tal como a de percorrer a mesa no sentido de seu comprimento. No quarto caso, o mais raro, a manifestação "psi" é espetacular, como a da jovem mulher que, nunca tendo participado de experiências de parapsicologia, conseguiu fazer o tychoscope atravessar uma mesa de 3,50 metros em linha reta para fazê-Io cair em seu colo. Em torno de 40% dos sujeitos das experiências mostraram anomalias indiscutíveis. O cálculo das probabilidades mostrou que 18% dos sujeitos asseguraram um coeficiente de 10 elevado a -5, 8% entre 10 elevado a -6 e 10 elevado a -9 e, enfim, 4% de 10 elevado a -9 a 10 elevado a -18. Estas experiências estabelecem a realidade objetiva da psicocinesia. Resulta, uma vez mais, que as faculdades paranormais não são, de modo algum, excepcionais. Em 1974, Matthew Manning, que iria tornar-se o maior médium de cura da Europa, então com dezoito anos de idade e vítima de poltergeists, cujas manifestações terminavam, fez uma demonstração de PK diante de uma assembléia de vinte e um cientistas, dentre os quais Brian Josephson, prêmio Nobel de física e o psiquiatra Joe Whitton. Ao longo dos testes, este último identificou em Manning uma forma de onda cerebral ainda desconhecida, em forma de rampa ascendente. O professor U. B. Hasted, físico, apelou às crianças para a produção de fenômenos. Estes sujeitos fazem, aliás, cair por terra a objeção da desonestidade do operador que faz o que quer do pesquisador ingênuo. Isto era possível quando a coisa era praticada nos primórdios do espiritismo e na escuridão (como ainda se pratica), mas não se vê bem como nem por que um garoto de seis anos, aliás encantado por ser o centro do interesse geral, poderia, em plena luz, enganar um físico de renome e toda sua equipe. Hasted mediu bem a importância da atmosfera psicológica para assegurar melhores resultados. Não se deve tratar o sensitivo como cobaia, mas como amigo e colega, e,

principalmente, não manifestar qualquer hostilidade. Eis aqui uma experiência rigorosamente impossível de trapacear: Hasted encerra um punhado de clipes num globo de vidro selado e os transforma numa massa emaranhada, após tê-Ios torcido. Curiosamente, a ação é facilitada se no globo é feito um pequeno furo. Por quê? Hasted encontrou um sujeito que podia torcer peças de madeira. Mais recentemente, descobriu-se, na Suécia, um outro capaz de dobrar pratos de porcelana, sem que o esmalte nem a cobertura rachem ou descasquem. Estas experiências foram repetidas em vários países e um balanço absolutamente positivo foi publicado em 1976. Na França, Jean-Pierre Girard foi estudado pelo professor Crussard de Grenoble e pelo Dr. Bouvaist. Girard manifestou numerosas capacidades "psi" depois de ter sido atingido por um raio em 1942, quando ainda era criança. Ele conseguiu amolecer e endurecer objetos. Por exemplo, ele conseguiu dobrar, sem tê-Io tocado, um parafuso de aço temperado, encerrado num tubo rígido de plástico, fechado, seguro pelo Dr. Wikander, sueco. Girard foi também estudado pelo professor Hans Bender da Universi-dade de Freiburg (Alemanha), na Suécia, na Inglaterra pela equipe do professor Hasted e por William Cox, parapsicólogo e ilusionista. É preciso acrescentar que Girard possui uma atividade comercial suspeita no domínio "psi". Assim como para Geller, a questão interessante é a da realidade de seus dons "psi", cuja demonstração é distinta de suas atividades. No que diz respeito aos jovens, o Dr. Cantor, o psiquiatra inglês, não conseguiu descobrir qualquer efeito nocivo, nem físico, nem psíquico, depois do exercício dos poderes "psi" pelas crianças. Pelo contrário, as experiências aumentam a confiança em si mesmas. Uri Geller Desde 1972 a psicocinesia dispõe de um sujeito "psi" excepcional: Uri Geller. Muito cooperativo, ele deixou-se examinar por várias dezenas de especialistas, em laboratórios, institutos de pesquisa e centros hospitalares. Ele convenceu numerosos céticos da autenticidade de seus dons, entre os quais ilusionistas profissionais. Sabe-se que Geller amolece, dobra e quebra os objetos metálicos: colheres, garfos, chaves, hastes, anéis, etc. O estudo da fratura permite deduzir quais foram as forças aplicadas que levaram à ruptura da peça e até mesmo a que temperaturas a região da fratura foi submetida. As diferenças são perfeitamente visíveis, mesmo para um leigo. As fotos obtidas através de um microscópio eletrônico de varredura foram publicadas

nos livros dedicados a Geller. Constata-se, habitualmente, que as fraturas são devido à fadiga do metal. O microscópio eletrônico mostra então que o metal ao redor da fratura está fortemente deformado pelos esforços: ele apresenta partes esticadas e outras como que marteladas a frio. Com as peças deformadas por Geller, não há nada disso: o metal foi "fatigado" em toda sua massa. Para exercer esta ação, Geller passa levemente os dedos sobre um objeto seguro por alguém; algumas vezes o objeto começa a torcer-se em menos de três segundos. Um prestidigitador experimentado pode criar a ilusão de fazer o mesmo. Até mesmo se o objeto foi fornecido por um espectador, acontece-lhe de exercer sobre ele esforços capazes de torcê-Io sem que o não-especialista o perceba. Por outro lado, no caso da psicocinesia, tal qual é exercida por Geller, as diferenças são tais que nenhum prestidigitador do mundo é capaz de reproduzir os fenômenos que, com Geller, são habituais: 1. Os esforços exercidos por Geller sobre as colheres foram medidos. Eles eram ínfimos. Além disso, Geller era observado por ilusionistas profissionais, o que excluía a fraude. 2. Geller consegue deformar os objetos colocando suas mãos sobre as da pessoa que, sozinha, toca o objeto deformado. 3. Geller opera também a distância, por exemplo, a 1,50 metro da mesa sobre a qual repousa o objeto. 4. Ele deforma igualmente os objetos encerrados dentro de recipientes rígidos fechados. 5. Fenômeno ainda mais estranho, os objetos deformados por Geller continuam a torcer-se uma vez cessada a ação. Equipes inteiras de pesquisadores observaram assim uma colher torcer-se lentamente, sozinha, sobre a mesa, durante dezenas de minutos após a partida de Geller. Este último fenômeno não foi mencionado pelos adversários do "psi". Intimados a se explicar, eles afirmaram que todos são trapaceiros ou alucinados (eu ouvi!). 6. O amolecimento do metal no local da dobra foi constatado diversas vezes por controladores que pegaram o objeto enquanto ele se deformava. A consistência do metal foi comparada à da massa de vidraceiro, da borracha e da goma de mascar.

7. Resta ainda explicar o que se chamou "efeito Geller". Durante suas apresentações na televisão, Geller convida, algumas vezes, os telespectadores a tentar fazer o que ele mostra: torcer colheres por um esforço de pensamento, fazer funcionar de novo relógios de pulso e de parede que estavam parados. O relógio da psicóloga Thelma Moss, do Instituto de Neuropsiquiatria da Universidade da California, Los Angeles (VCLA), estava parado fazia dezesseis anos. Pôs-se a funcionar de novo. Parece que a presença de Geller, mesmo que exercida apenas a partir da "telinha", é capaz de induzir as mesmas capacidades em certos telespectadores. A cada apelo, descobre-se no país uma série de sensitivos capazes de reproduzir os fenômenos. Esta faculdade parece particu-larmente desenvolvida nas pessoas que têm entre dez e vinte anos. Hasted, em Londres, conseguiu até mesmo constituir equipes de estudo de jovens, onde os caçulas tinham cinco anos! Os objetos torcidos e fraturados por Geller foram estudados pelos métodos de micrometalurgia. Verificou-se que as fraturas eram de dois tipos: algumas são devidos a uma diminuição da ductilidade, tal que a fratura se produz por influência de uma força mínima; as outras começam como uma fissura superficial que se desenvolve em profundidade. Além disso, estudou-se o metal por pesagem, por ativação neutrônica, por meio de sensores eletrônicos implantados e pela pesquisa da corrosão química (resultados negativos). O encontro de Uri Geller com o ilusionista profissional dinamarquês Leo Leslie mostra como é possível realizar um controle suficiente dos fatos duvidosos em pouco tempo, sem recorrer a procedimentos extraordinários, sempre exigidos pelos críticos. Leslie conseguiu juntar-se a Geller em seu camarim, após a sessão de music-hall. Este último prestou-se às experiências com sua costumeira boa vontade. A equipe compreendia Leslie, um jornalista, um fotógrafo, um psicólogo e um membro da equipe do estúdio. Todos estavam a par da natureza dos experimentos. Nenhum dos amigos de Geller foi admitido no local. Uma câmera focalizava as mãos de Geller. Acrescentamos que Leslie pensava que Geller utilizaria, para torcer o metal, um procedimento de corrosão química (é uma superstição tenaz e infundada: pensa-se na amálgama que o mercúrio forma com o cobre, mas o ferro simplesmente não se combina com o mercúrio, tanto que este é transportado em recipientes de ferro). Para a transmissão de pensamento, Geller se propôs a reproduzir um desenho que Leslie faria. Este, sentado num sofá, tinha as costas viradas para Geller. Só havia pessoas da equipe de Leslie, portanto nenhum cúmplice; não havia espelho. O psicólogo fixava as mãos de Uri; o fotógrafo fazia fotos. Para eliminar a possibilidade de deduzir a natureza do desenho pelo ruído do movimento do lápis, Leslie

contrariava os movimentos e falava sem parar, encobrindo o ruído do lápis. Leslie desenhou uma flor. O que elimina toda possibilidade de trucagem é que Geller terminou seu desenho antes que Leslie tivesse começado o seu. Ele pensou mesmo ter falhado, pois não sentia mais passar a corrente psíquica: a corrente, qualquer que fosse a sua natureza, já tinha passado! Para a deformação de objetos, Leslie levou uma chave de aço esmaltado. A chave torceu-se enquanto Leslie a segurava em sua mão! Leslie concluiu destes dois experimentos que os dons "psi" de Geller eram autênticos e passou para o campo dos convictos. O diretor do Instituto Sul-Africano de Parapsicologia, Alan Price, procedeu em 1974 a uma pesquisa sobre o desencadeamento dos fenômenos de psicocinesia produzindo-se a uma certa distância de Uri Geller, principalmente quando de suas demonstrações no palco ou na televisão. Price recolheu cento e trinta e sete casos sérios, de acordo com sua estimativa menos de 10% do total para o país. Isto se explica pela apatia do público e o medo do ridículo. Entre os casos mais notáveis, citamos: - Um relógio de pêndulo antigo, parado havia quarenta anos, que voltou a funcionar. - Uma moça, que subiu ao palco numa sessão de Uri, adquiriu, desde então, a faculdade de adivinhar desenhos e números. - Enquanto Geller operava na televisão, várias chaves torceram-se, em casas de mulheres, algumas das quais nem mesmo assistiam à sessão. - A voz de Geller apenas pode desencadear os mesmos efeitos. À parte algumas afirmações dogmáticas, o mecanismo do "efeito Geller" permanece totalmente misterioso. Constatar o fato não o explica e atribuí-Io a uma propriedade essencial da mente é o mesmo que recorrer à faculdade dormitiva do ópio.

8 MATERIALIZAÇÃO E DESMATERIALIZAÇÃO

Aportes Este termo designa, em parapsicologia, o surgimento, suscitado pelo médium, de objetos cuja origem é desconhecida. Vindo do meio espírita, ele indica um objeto que aparece "a partir do ar", como dizem os ingleses e que é certamente trazido de algum lugar.

Quando o objeto é deslocado de um lugar conhecido para outro, pode-se falar em telecinesia (TK). Esta distinção, atualmente útil para classificar os fenômenos, desaparecerá em seguida. O fenômeno é clássico, desde há pelo menos cento e cinqüenta anos. Ele foi estudado em 1820 por um francês, Dr. Billot, num jovem cego, sensitivo parapsicológico espetacular, que fazia surgir flores. O especialista atual dos aportes é o inglês Paul McElhoney, que diz ser guiado pelo espírito Ceros. Os objetos aparecem na boca de McElhoney e a operação se dá em plena luz. O escritor Michel Cleary viu aparecerem, assim, cravos. Ora, ele havia pedido à sua mãe, falecida, que lhe fizesse chegar cravos, a partir do outro mundo. E Ceros anunciou que os cravos eram um presente para Cleary de uma senhora que se encontrava no além. Antes, Cleary havia examinado a boca e a garganta do médium, para assegurar-se de que não havia regurgitação. A ausência de regurgitação foi verificada igualmente pelo parapsicólogo Guy Lyon Playfair. Os fatos Uma das mais célebres médiuns de aportes do século passado foi uma inglesa, a Sra. d'Espérance. Seu espírito guia era uma jovem árabe falecida, chamada Yolanda, que se materializava completamente durante as sessões. A pedido da Sra. d'Espérance, uma planta cresceu em alguns minutos num vaso cheio de areia e água, colocado fora do alcance da médium. De acordo com sua indicação, a planta foi recoberta por um tecido e os presentes cantaram suavemente: o vegetal havia produzido uma flor. Era uma Ixora crocata, planta, nessa época, quase desconhecida na Inglaterra. Um jardineiro cuidou dela durante vários meses. Agnes Nichols, que operou entre 1860 e 1880, aproximadamente, era especialista em aportes "sob encomenda". Uma pessoa lhe havia pedido um girassol, do qual não era época; a planta materializou-se imediatamente, com um torrão de terra. Não podia tratar-se de ilusionismo; a planta só poderia provir de um país do hemisfério sul. Em 1904, um grupo, do qual fazia parte Ernesto Bozzano, operava com um sujeito muito dotado. Bozzano pediu o aporte de um pequeno bloco de pirita que se encontrava sobre sua mesa de trabalho, a 2 quilômetros de distância. O espírito, cansado, disse que tentaria. Viu-se o médium tensionar-se, mas não houve aporte. O espírito anunciou, então, que estava muito cansado para a materialização, mas acrescentou: "Acendam a luz". Foram vistos, então, os assistentes recobertos por uma fina poeira. Era pirita, e estava sobre suas roupas e em seus cabelos. Em sua casa, Bozzano constatou que faltava um grande fragmento do bloco. O caso confirma o

mecanismo da transferência dos objetos dos aportes por desmaterialização e rematerialização, sob a influência da mente do médium, a menos que se creia numa intervenção dos espíritos. Neste caso, os espíritos utilizariam um mecanismo análogo. Resta a questão da reconstituição dos objetos após a transferência. Que a transferência se faça em forma de fina poeira, vá lá; mas, para reconstituir a forma exata do objeto, é preciso que exista um molde, um esboço, para ordenar as partículas em sua disposição inicial. Este papel seria desempenhado pela forma astral (ou qualquer outro termo que se desejar). Matthew Manning provocou aportes involuntariamente. Um dia, ele encontrou sobre sua escrivaninha o disco novo que buscava, em vão, comprar. Sua proveniência permaneceu misteriosa. Ele realizou outros aportes de objetos, mas nunca de objetos de primeira necessidade. Uma vez, tomado de uma forte e súbita fome, num trem sem vagãorestaurante, ele foi ao banheiro para refrescar-se, e, no momento em que recolocava sua luva de toalete na mala, descobriu uma garrafa de cerveja e uma torta de maçãs! Eis um belo exemplo de aporte a grande distância. Puharich foi ver Uri Geller em Israel. Ele tinha uma câmera, cujo estojo havia esquecido nos Estados Unidos. Uma manhã, ele viu Geller precipitar-se em sua casa: o estojo tinha vindo espontaneamente! Ora, o estojo estava num armário fechado à chave, em Ossining, a aproximadamente 6.000 quilômetros de distância! O médium americano Charles Bailey foi estudado por Thomas Stanford (irmão do fundador da universidade do mesmo nome). Precauções draconianas foram tomadas: após a revista, o médium foi trancado numa gaiola de madeira, a qual era revesti da por uma rede. Nestas condições, o médium conseguiu fazer surgir dentro da gaiola pássaros e pei xes vivos, braceletes, bandeiras e três manuscritos: um tibetano, um se- gundo, indiano, e um terceiro, chinês; cebolas e flores. Todos estes ob jetos encontram-se num museu na Universidade de Stanford. Mas de onde vinham estes manuscritos? Eles deveriam pertencer a alguém! No dia 28 de junho de 1890, a Sra. d'Espérance fez crescer, em alguns minutos, um lírio de 2 metros de altura, com onze flores, das quais sete abertas. Foram cortadas duas destas flores. Neste momento, Yolanda, espírito-guia da Sra. d'Espérance (materializada), manifestou-se muito amedrontada e pediu para desmaterializar a planta. Já cansada, a Sra. d'Espérance não conseguiu fazê-lo, para o maior desespero de Yolanda. A planta foi guardada até a sessão seguinte, que ocorreu no dia 5 de julho, quando ela conseguiu transferir novamente a planta ao seu ponto de partida -ao menos, é o que supomos: o fato é que a plan ta desapareceu, com seu vaso. Nos arquivos da SPR estão guardadas as duas flores secas e a impressionante fotografia da

Sra. d'Espérance ao lado da planta. Pergunta-se o que foi perturbado pelo deslocamento: teria sido o descontentamento do proprietário da planta, que o médium sentiu por intermédio do espírito-guia? Pode-se distinguir várias categorias de deslocamentos "psi" de objetos: 1. O objeto desaparece, para reaparecer em seguida, por exemplo na sala ao lado. Este fenômeno manifesta-se muitas vezes espontaneamente, na presença de médiuns, como Uri Geller, que não pode circular sem desordenar ou destruir objetos à sua volta. 2. O objeto pode desaparecer sem que se saiba para onde ele foi enviado. No caso da pequena assombração rural, conseguiu-se reencontrar estes objetos, por vezes muito tempo depois, em lugares inverossímeis, como por exemplo o parafuso de prensa para cidra, reencontrado um ano mais tarde, enterrado numa grande batata. 3. Inversamente, na presença de médiuns de aporte, pode-se assistir à aparição de objetos desconhecidos ou desaparecidos há muito tempo. No que concerne à proveniência das flores e frutas dos aportes, as entidades diretoras que se exprimem pela boca do médium sempre afirmaram, com a maior firmeza, que não lhes é permitido roubar. Os objetos provêm, portanto, de um lugar onde crescem no estado selvagem. Esta seria uma confirmação indireta da hipótese psicanalítica dos fenômenos mediúnicos. Sabe-se, de fato, que o inconsciente de uma criança de oito a dezessete anos é que é responsável pelos poltergeists. Nesta época se é esperto, mas não existe maldade, pouco responsável, no entanto, associal, mas essencialmente moral e bom. Este horror diante da idéia do roubo aplica-se bastante bem às declarações dos espíritos-guias. Objetos deslocados É ao capítulo da TK que é preciso, certamente, ligar os que foram justamente denominados "objetos vindos de parte alguma". Trata-se de objetos feitos pela mão do homem que foram encontrados em cavidades naturais. Conhecem-se vários casos autênticos deste espantoso fenômeno. A única explicação plausível é a de que se trata da conclusão de um deslocamento telecinético. Se estes objetos encontram-se em locais impossíveis é porque foram trazidos de outro lugar.

É necessário que eles se encontrem numa cavidade. Dirigido a uma rocha, um objeto teletransportado só pode materializar-se desde que haja uma cavidade suficiente. A cavidade parece às vezes ter sido feita com as dimensões do objeto a ser alojado. Esta seria então uma ação ontológica, o que não é uma objeção no domínio "psi", cujas forças são normalmente inteligentes. A matéria da cavidade desmaterializa-se, para ressurgir em forma de poeira. Eis uma lista de objetos "deslocados", escolhidos entre os que foram melhor atestados: Um dedal de costura, de ferro, foi encontrado no interior de um bloco de carvão em 1880. Descrito no The American Antiquarian de 1883, ele foi mal conservado, descamou, esmigalhou-se e foi perdido. A idade do carvão foi estimada em setenta milhões de anos. Em 1852, durante uma dinamitação de rochas perto de Dorchester, em Massachusetts, foram encontrados dois fragmentos que, reunidos, formavam um sino esculpido com flores incrustadas e guirlandas de vinha, todo de prata pura. O objeto está descrito no Scientific American. Em 1891, uma corrente de ouro foi encontrada numa cavidade em forma de anel, no interior de um bloco de carvão, em Illinois (René Noorbergen). Em torno de 1840, um filete de ouro artificial foi encontrado dentro de um granito, cuja idade estimada era de vários milhões de anos, na Grã-Bretanha. A literatura dos "mistérios", como O Despertar dos Magos, faz grande alarde sobre um objeto metálico misterioso, conhecido como o "cubo de Salzburg". Apesar das descrições, não era um cubo, nunca esteve em Salzburg e foi encontrado em 1885, dentro do território de uma fundição. Sua única face plana provém da amostragem que foi feita para análise, que aliás nada revelou de particular. Animais deslocados O caso dos animais encontrados vivos, após haver ficado por um tempo extremamente longo debaixo da terra, onde certamente não puderam penetrar normalmente, é muito difícil de classificar. Não se pode aproximá-Ias dos corpos incorruptíveis, cadáveres que permanecem frescos a despeito da fisiologia, uma vez que estes animais estavam bem vi vos. Eles também não se encontravam num estado de vida com o metabolismo mais lento, como os faquires. E mais: como foram parar ali? No dia 23 de junho de 1851, na escavação de um poço perto da estação de Blois, foi encontrado um sapo, perfeitamente vivo, entre dois blocos rochosos, enterrados a uma profundidade de 19 metros. A rocha parecia moldada em torno dele. Um outro sapo, igualmente vivo, foi descoberto em 1862 por mineiros em Newport, a

uma profundidade de 200 metros. Nas pedreiras de cal, em Lux e em Thalbott, no estado de Indiana, foram encontrados, diversas vezes, lagartos vivos. Estes lagartos eram de tom acobreado e não possuíam globo ocular. Eles sobreviviam alguns minutos. De acordo com a idade da pedra dentro da qual estavam encerrados, eles deveriam estar ali fazia dezenas de milhares de anos. Combinando o melhor possível nossos conhecimentos dos fenômenos "psi", pode-ríamos pensar que estes animais foram transportados para lá pelo mesmo mecanismo, talvez psicocinético, que o dos objetos encontrados também no interior das rochas. A pedra cederia, por desmaterialização, para alojá-los, formando uma cavidade com a forma adequada. A possibilidade de sobrevivência é uma outra questão em aberto. Entretanto, é preciso observar que o tempo durante o qual estes animais poderiam ter estado na rocha não tem termo de comparação com a idade da própria rocha. A razão destes deslocamentos de animais poderia ser simplesmente o desejo de escapar de um predador. Projetado, assim, para o interior de uma rocha, o infeliz animal perece por não saber, talvez, como sair.

9 PASSAGEM ATRAVÉS DA MATÉRIA

A passagem dos corpos sólidos através da matéria é um fenômeno físico que entra em absoluta contradição com os dados mais indiscutíveis da nossa ciência. Por exemplo: um prego atravessa a parede, é visto saindo pouco a pouco e, finalmente, cai, como no caso de Anne-Marie, citado mais adiante. Sabe-se que os átomos da matéria sólida são mantidos em seus lugares por forças eletromagnéticas de atração e de repulsão, que se neutralizam a distâncias precisas, e que estas forças explicam o estado sólido da matéria (Niels Bohr). As distâncias que separam os átomos são muito maiores que as dimensões dos próprios átomos, de modo que a matéria seria composta, principalmente, de vazio. Pode-se ter uma idéia disto se imaginarmos duas ou três bolas de tênis flutuando num espaço do tamanho do interior da catedral de Notre-Dame. Em pura teoria, nada se oporia a que um sólido passasse através de um outro sólido. Na realidade, a teoria do estado sólido se opõe a isto, e com justiça, pois, assim que um átomo se afasta de sua posição de equilíbrio, ele é imediatamente trazido de volta por forças que aumentam com extrema rapidez. É como se as bolas de tênis mencionadas há pouco estivessem ligadas umas às outras por barras de aço. No estado líquido, os átomos e as moléculas mantêm uma mobilidade que permite a inserção de outras moléculas: é desta forma que o açúcar se dissolve na água, mas suas

moléculas afastam as moléculas da água. A passagem através da matéria sólida exige, portanto, que as forças interatômicas que mantêm as partículas no lugar sejam neutralizadas de uma maneira ou de outra. O mecanismo desta ação nos é atualmente desconhecido. Existe, no entanto, a possibilidade de que esta explicação (se é que é uma explicação) seja grosseiramente falsa, pois ela despreza a existência e o papel do duplo astral, papel este ainda menos conhecido. O que nos faz pensar no astral é que a desmaterialização explicaria bem a passagem através da matéria. Ora, temos algumas razões para crer que a desmaterialização, seguida da nova materialização do objeto, existe e foi até mesmo observada (confira o capítulo precedente). No caso de Anne-Marie, o Dr. Hans Bender observou particularmente bem, com outras testemunhas, a passagem através da matéria (Baviera, 1969). As pedras caíam do teto sem saltar de novo ao tocar o solo. Em geral, estavam quentes. As testemunhas viram pregos, fechados num armário, sair progressivamente do teto para cair no assoalho. Vi- ram também garrafas e outros objetos sair lentamente do teto da casa e, em vez de cair, descer lentamente em ziguezague, como se estivessem sendo carregados. Esta última particularidade observa-se freqüentemente nos fenômenos psicocinéticos dos poltergeists. Projéteis os mais diversos são lançados, às vezes com grande força, contra paredes, portas e janelas. Na rue des Gres, em Paris, uma casa foi, assim, praticamente destruída. Pessoas também podem ser visadas, mas, ao contrário do que ocorre com os objetos, ao aproximar-se da pessoa visada, o projétil estranhamente diminui de velocidade e pousa no solo, como uma folha morta, caindo em movimento espiralado. Muito raramente as pessoas são machucadas. O caso de passagem através da matéria observado pelo jovem médium Matthew Manning tem de excepcional o seguinte: ele observou o objeto elevar-se no ar. Ele tomava seu banho na escola, quando viu o tampão do ralo erguer-se no ar e ser repentinamente projetado na dire ção de uma janela com uma velocidade tal que parecia impulsionado por uma forte tacada. Manning esperava ver a janela estourar com o choque, mas o tampão passou através do vidro e foi depois encontrado no outro cômodo. É provável que ele tenha observado, na realidade, dois fenômenos distintos: um deslocamento telecinético e uma desmate rialização momentânea, necessária para atravessar a janela, seguida de nova materialização. Lembramos que o poltergeist de Manning distinguia-se por um comportamento invariavelmente civilizado. Grottendieck observou, em 1906, pedras caindo através do teto de uma casa. Ele tentou pegá-Ias, mas não conseguiu: as pedras esquivavam se sempre. Como o lugar onde reapareciam era sempre o mesmo, ele colocou sua mão no trajeto, sem sucesso, porém.

Entre os observadores que puderam constatar a totalidade dos movimentos de PK, podemos ainda citar Roll, Carrington, Owen, Thurston e Zorab. Thurston relata que uma pequena colher partiu muito rapidamente em linha reta, indo bater na cabeça do vizinho de mesa do observador, caindo, em seguida, normalmente. O vizinho, no entanto, só sentiu um contato levemente perceptível. Os casos seguintes só podem explicar-se por uma desmaterialização seguida de rematerialização: - os anéis de madeira enfiados no pé de uma mesinha (Lombroso); - um anel de acaju enfiado dentro de outro de marfim (Crookes); - um anel de madeira enfiado na mão e impossível de retirar (Leadbeater); - o Dr. Gerlow, operando com o médium W. Donnely, nos Estados Unidos, viu surgir um pedaço de lava do Etna num jarro fechado e selado. O Dr. Gerlow encerrou sua aliança no mesmo jarro e o médium a fez sair. Uri Geller, por diversas vezes, fez desaparecer objetos variados, encerrados emrecipientes fechados, como, por exemplo, a metade de um cristal de carboneto de vanádio, corpo de extrema dureza. O cristal foi cortado em dois. Em outra ocasião, uma aparição entregou a Geller uma peça de caneta, desaparecida anteriormente durante uma sessão. Estes numerosos fatos atestam a realidade da desmaterialização. Além disso, o estudo das deformações sofridas pelas peças metálicas torcidas pela ação "psi" mostra que se produz um afrouxamento das ligações interatômicas, como demonstram, por exemplo, os estudos metalográficos do professor Hasted. A. Puharich chegou à mesma conclusão estudando os raps com a ajuda de material sismográfico de grande sensibilidade. Os soviéticos chegaram à conclusão de que esta ação sobre as ligações interatômicas écaracterística das ações "psi". A desmaterialização e o afrouxamento das ligações podem explicar a passagem da matéria através da matéria. Estando as forças de coesão e de repulsão suspensas, os átomos e moléculas possuem espaço suficiente para introduzirem-se uns entre os outros. Este esquema exige ser completado. Se as forças de coesão fossem simplesmente suprimidas, o objeto material desabaria, perdendo sua estrutura. Ora, alguma coisa mantém as partículas em sua ordem primitiva e permite a reconstrução do objeto quando a ação "psi" deixa de exercer-se. Só podemos imaginar o corpo sutil, ou ainda corpo astral, no desempenho de tal papel. Alguma coisa semelhante se produz quando o cirurgião "psi", após ter operado, fecha novamente a incisão e se podem ver os tecidos unirem-se imediatamente, sem mesmo deixar uma cicatriz. Foi assim que os pregos observados pelo Dr. Bender no caso de Anne-Marie, que

deixavam o armário para atravessar toda a espessura do teto, saíam deste, e, diante de várias testemunhas, caíam no solo em sua forma primitiva e não sob forma de um fino pó de ferro. Talvez esta não seja uma explicação estritamente científica, mas é uma proposta de mecanismo possível. Talvez os pregos passassem pelos cômodos do andar superior. Ou, simplesmente, se transformassem em fina poeira para reconstituírem-se ao redor de seu corpo astral, o qual não tem nenhuma dificuldade em atravessar qualquer coisa. Os objetos que acabaram de atravessar a matéria estão mornos ou quentes. Sendo a matéria estável, a desmaterialização deve ser endotérmica e esta energia absorvida pode ser, ao menos em parte, restituída na rematerialização. Leadbeater constatou nas peças de xisto assim transferidas uma temperatura superior a 100°C.

10 LEVITAÇÃO

Entre os fatos paranormais, um dos mais incríveis e espetaculares é a levitação. Consiste na elevação e no deslocamento do corpo humano acima do solo, sem apoio nem utilização de qualquer força conhecida. O fenômeno foi observado um grande número de vezes, por coletividades e testemunhas competentes, sem que se tenha conseguido revelar fraude alguma. As fotografias tiradas e reveladas por especialistas sérios constituem uma prova objetiva. O levitado pode elevar-se apenas alguns centímetros, mas pode também percorrer, assim, distâncias consideráveis. Aimé Michel, em sua obra intitulada Le Mysticisme, publicada em 1973, observa que, se o espetáculo oferecido não tem a mesma importância, o desastre para a ciência clássica continua o mesmo. Entre os santos católicos, em cerca de um em cada cem podia levitar. Os deslocamentos na levitação em geral não são rápidos. Todavia, foram registrados, em alguns casos raros, velocidades consideráveis e grandes distâncias percorridas. Podemos reservar para estes deslocamentos rápidos o nome de teletransporte ou de "vôo psi". Em todos os casos, é uma variedade de telecinesia que o operador, consciente ou não, aplica a si mesmo. Nos relatos antigos pode haver confusão entre o teletransporte, em que o sensitivo é transportado corporalmente, e a bilocação, em que ele se materializa em outro local, enquanto seu corpo físico permanece onde estava. De acordo com numerosas lendas célticas, os druidas sabiam levitar e também transportar cargas importantes através dos ares. Este talento faz parte dos poderes dos magos, xamãs e feiticeiros de todos os povos.

Se o estado de transe necessário à prática da levitação torna-se freqüente, a levitação pode tornar-se também habitual e ser realizada sem uma preparação especial. Pode-se aprender a levitação, como se aprende qualquer coisa. Maharishi Mahesh abriu, há poucos anos, um curso de levitação na Suíça. As fotografias mostram vários rapazes jovens, sentados na posição do lótus, com um deles flutuando no ar. Os estudantes, ao menos no começo, sentam-se sobre espessas almofadas, para amortecer a queda em caso de interrupção do fenômeno. Os fatos A levitação sempre foi praticada por todos os povos da Terra. Ela está descrita nas lendas e no folclore. A semelhança dos relatos com o que pode ser observado atualmente demonstra que estes fatos deviam ser, ao menos em parte, reais e não inspirados pelo desejo natural de igualar-se aos pássaros. A Srta. Thévenet, uma das convulsionárias de Saint-Médard, foi observada em estado de levitação por um sábio beneditino, D. La Taste, que constatou: "Ela elevava-se, de tempos em tempos, a sete ou oito pés de altura e até o teto. Ao elevar-se, erguia a três pés de altura duas pessoas que se apoiavam sobre ela com todas as suas forças. Os físicos verão aqui nada mais que a natureza?" (ele queria dizer que o prodígio só podia ter sido provocado por forças diabólicas). Ele prossegue: "Acontecimento mais prodigioso num sentido, acontecimento horrível! Enquanto a Srta. Thévenet se eleva, com a cabeça para cima, suas saias e sua camisa dobram-se, por si mesmas, sobre sua cabeça. A natureza alguma vez operou tais efeitos ou pode operá-los?" (Lettres théologiques, 1739, t.lI, p. 1.310.) Para compreender todo o horror do bom padre, lembramos que, nessa época, as mulheres usavam saiotes, mas não usavam calcinhas nem calças. A calça comprida, introduzida mais tarde, foi inicialmente considerada uma depravação e violentamente denunciada pelos pregadores. P. Y. Plunkett observou e fotografou, em 1936, o yogue Subbhaya Pullivar (confira Inexpliqué), que levitava na posição horizontal, a 1 metro do solo. Após a sessão, os alunos do yogue carregaram-no para sua tenda. Plunkett observou-o sub-repticiamente, levantando um canto da lona, e viu que o yogue levava aproximadamente cinco minutos para descer novamente ao solo. Após a descida, seus membros estavam num estado de rigidez tal que era impossível dobrá-los. Um dos mais célebres médiuns de levitação foi Dunglas Home, estudado especialmente por Crookes. Home levitou com a idade de dezenove anos. Acontecia-lhe de levitar sem que soubesse; por exemplo, quando notava que sua poltrona flutuava a uma dezena de

centímetros acima do solo. Sobre as levitações de Home, possuímos mais de cem teste-munhos. Ele realizou centenas. O episódio sem dúvida mais célebre ocorreu no dia 16 de dezembro de 1868, no Buckingham Gate, Ashley Place. No salão, bem iluminado pela lua, encontravam-se William Crookes, Lord Lindsay, Lord Adar e o capitão Wyrme. Como não fazia frio, as janelas de guilhotina estavam erguidas até a metade. Home encontravase em outro aposento, cuja parede externa formava um ângulo reentrante com a parede externa do salão. De repente, viu-se Home, que chegava do lado de fora, flutuando em posição horizontal, entrando no salão e sentando-se numa poltrona. O espanto dos espectadores foi ainda mais compreensível, por encontrarem-se no sexto andar! Um dos membros do grupo foi inspecionar o aposento de onde partiu Home. Ao lhe perguntarem como havia feito para atravessar a janela, que estava erguida a apenas 50-60 centímetros, como resposta, Home deixou-se cair para trás e, deitado de costas, elevou-se no ar e saiu pela janela, a cabeça na frente, flutuando. Esta performance foi publicada por Lindsay no jornal da Sociedade Dialética de Londres (que precedeu a SPR). O que se menciona mais raramente é que, quando Home passou para a sala vizinha, de onde voltou pelos ares, Lord Lindsay ouviu uma voz que murmurava em seu ouvido: "Ele vai sair por uma janela e entrar pela outra" . Lindsay comunicou imediatamente a mensagem a seus amigos e os três aguardaram, imaginando ansiosos uma experiência tão perigosa. Médium de rara potência, Home podia carregar consigo objetos consideráveis: ele ergueu, a 80 centímetros, aproximadamente, uma poltrona e até mesmo um piano de cauda. Ele fez levitar a mulher de Crookes. Quando de uma sessão ocorrida em São Petersburgo em 1866, na casa da baronesa de Taubé, Leon Tolstoi relata, numa carta dirigida a sua mulher datada de 17 de junho de 1866, ter visto Home flutuando acima das cabeças dos presentes e ter-se assegurado disto ao tatear-lhe os pés. Home flutuava em posição horizontal, com os braços cruzados sobre o peito. Uma ata foi redigida pelo Dr. Karpovitch, na presença do general Filozofov e da princesa Havanschky. Lembremos que Home só operava em plena luz. Entre outros levitantes, citamos Stanton Moses, Eusapia Palladino, Carmine Mirabelli, médium de cura brasileiro, o médium americano Collin Evans, que foi fotografado elevando-se verticalmente em direção ao teto, numa sala bem iluminada e no meio de uma multidão; Fontana; Willy Schneider, que foi controlado por Geley e Sudre; Ruggieri que, certa vez, carregou até uma altura de 3 metros os dois controladores que se mantinham ao

seu lado. Convidado a levitar, Uri Geller deitou-se para trás em sua cadeira e, assumindo a posição horizontal, levitou em plena luz, no meio dos espectadores. Foram publicadas excelentes fotos deste fato, por exemplo em Inexpliqué. Casos de levitação entre os santos foram relatados com bastante freqüência. O exemplo mais famoso é dado por São José de Copertino (1603-1663), nascido na Apulia. Doente de nascença, entregou-se a uma ascese que arruinou sua saúde. Tornando-se padre franciscano, ele continuou a jejuar e a autoflagelar-se, o que lhe valeu uma certa reputação de santidade. Um dia, no meio das preces, elevou-se no ar e, desde en-tão, não cessou de levitar. Esta levitação era provocada por seus estados extáticos, o samadhi dos indianos. Nele, este estado podia ter diversas causas, como a música ou uma visão do céu estrelado. Ele parecia controlar seu vôo e podia também deslocar consigo pesos consideráveis: foi assim que colocou no lugar uma grande cruz de madeira, que dez operários esforçavam-se para deslocar. Ele fez levitar consigo outras pessoas, segurando-as pela mão ou pelos cabelos. Um médico, diretor de uma revista de hipnotismo, foi assistir a uma sessão com um parente seu, Sr. X., tão incrédulo quanto ele. O Sr. X., em termos bastante grosseiros, desafiou a força desconhecida a produzir alguma coisa diante dele. O médium não tardou a responder, com um argumento irresistível: levantou aquele que o tinha desafiado até o teto da sala, o que, sem dúvida teria sido suficiente para convencê-lo, mas, para que não restasse a menor dúvida (e se fosse apenas sugestão?), ele o deixou cair tão pesadamente que o incrédulo quebrou um braço. A perda de peso acompanhando a levitação Santa Teresa testemunha que, no momento da levitação, ela se sentia como se estivesse sendo erguida e que, depois, seu corpo parecia tão leve que seus pés mal tocavam o solo. Tratava-se mesmo de uma perda de peso. Os êxtases de Santa Maria Madalena de Pazzi (1565-1607) eram acompanhados por uma estranha atividade e uma agitação que nada tinha, em si, de edificante. Seu confessor, o padre Cepari, conta o que viu: "Ela ia de um lugar para outro a uma velocidade incrível, subindo e descendo as escadas com tal agilidade que mais parecia voar que tocar o solo com seus pés. Saltava com segurança nos lugares mais perigosos. No dia 3 de maio de 1592, ela entrou correndo no coro e, sem qualquer ajuda humana, sem qualquer espécie de escada, saltou até uma cornija a quinze varas do chão, para lá pegar um crucifixo que estava pendurado. Todos estes gestos teriam provocado vertigem em quem quer que fosse."

Sendo o comprimento da vara variável, os diferentes comentaristas modernos dão à altura da cornija valores que vão de 7 a 18 metros, o que permite conceder a Santa Maria Madalena de Pazzi, como escreveu Aimé Michel (Phénomenes phisiques du mysticisme), o título de campeã perpétua de salto em altura (ou, a seus biógrafos, um gosto imoderado pelos recordes). Quer sejam 7 ou 18 metros, a impossibilidade física continua a mesma. Ou as testemunhas são todas mentirosas ou se tratava ali de um fenômeno desconhecido. Médiuns como Geller, Home, Evans e Ruggieri levitam diante das testemunhas, em plena luz e são fotografados: nada de ilusão, nem fraude, nem mentira. Fenômeno misterioso, que os clássicos se recusam a estudar, mas que existe a despeito do silêncio de seus manuais. Por que não admitir a autenticidade de fatos similares, que ocorreram na Itália de Leonardo da Vinci e de Galileu? As testemunhas ficaram impressionadas pelo fato de que, durante seus saltos, cambalhotas e piruetas, a jovem santa nunca se machucava. A razão para isto é a mesma que lhe permitia saltar até a cornija da igreja. Suas forças físicas seriam multiplicadas, ou então seu peso e sua inércia seriam reduzidos proporcionalmente. Entretanto, na primeira hipótese, ela teria empurrado pessoas e objetos e os choques teriam sido ruidosos. Na segunda hipótese, seus deslocamentos, longe de serem podero-sos, seriam graciosos e nada seria desarrumado à sua passagem. Seu peso pode ser deduzido a partir dos dados do salto até a cornija: todos os cálculos feitos, resulta que a extática devia pesar 1 ou 2 quilos. Por outro lado, considerações simples mostram que sua massa inercial era reduzida na mesma proporção, o que é muito mais extraordinário. A mesma agilidade surpreendente era empregada por outra santa, Margarida do Santo Sacramento. Era encontrada nos diferentes locais do convento e, além disso, parecia não se importar com as portas fechadas, através das quais passava. Foi vista elevando-se nos ares para colher um fruto. Anne-Marie Emmerich, que preenchia as funções de sacristã, subia às cornijas inacessíveis, segurando-se a elas sem medo, acostumada, desde a infância, a sentir-se sustentada por uma força invisível, seu "anjo bom", como dizia. A perda de peso do corpo foi atestada explicitamente também por Santa Teresa d'Ávila e por Marie d'Agreda. Parece que a prática constante da levitação pode tornar o corpo incrivelmente mais leve. Alexandra David-Neel viu, no Tibete, um monge que tinha se tornado tão leve que estava carregado de correntes para não voar com o vento. Allan Bennett tornou-se monge budista. Em 1902, Aleister Crowley reencontrou-o lá: ele tinha se tornado tão leve que se erguia "como uma folha".

Uma aplicação desta diminuição de peso existia no Tibete: os lung-pas, os "homens-vento". Após anos de preparação e de práticas ascéticas, estes correios, que circulavam entre os mosteiros, conseguiam deslocar-se a grandes velocidades, podendo cobrir centenas de quilômetros por dia. David-Neel viu um: ele não parecia correr, mas saltava como uma bola. Eles são capazes disto, pois não pesam quase nada. A explicação vem de Pema Chöki, princesa tibetana, filha do rei de Sikkim. Teletransporte e "vôo psi” A levitação caracteriza-se principalmente por uma suspensão no ar, enquanto no teletransporte o corpo é rapidamente impulsionado para a frente. Uri Geller, que tem, decididamente, todos os talentos "psi", forneceu, involuntariamente, o exemplo de um deslocamento rápido no ar. No dia 9 de novembro de 1973, Uri passou algum tempo na casa de amigos em Nova York e, antes de despedir-se, ficou conversando na rua por alguns instantes. Finalmente, quando se dirigia para casa, desmaiou. Ao retomar a consciência, encontrava-se sendo rapidamente propelido pelos ares. Sua trajetória terminou numa marquise de lona, que ele furou ao cair numa varanda. Sua queda foi sobre o tampo de vidro de uma mesa, que se quebrou. No meio dos destroços, Uri julgou ter fraturado o joelho. Ao ouvir o estrondo, o dono do local acorreu imediatamente. Era Andrija Puharich, seu amigo e mentor, que percebeu que possuía aí uma prova: entrou imediatamente em contato, por telefone, com aqueles que tinham visto Uri, tanto na casa de amigos como na rua. Ele obteve, assim, a prova do fenômeno. Não se sabe se Uri foi propelido de um ponto a outro com uma velocidade finita, ou se ele foi desmaterializado e depois reconstituído na chegada, o que pôde ser constatado em vários casos de TK. Em todo caso, ele percorreu uma distância de aproximadamente 50 quilômetros, num tempo que não ultrapassou cinco minutos, ou seja, a uma velocidade de pelo menos 600 quilômetros por hora. Em 1871, a médium londrina Sra. Guppy, que estava em sua casa, numa noite de verão, fazendo contas com uma amiga, foi subitamente teletransportada a vários quilômetros de distância, numa casa onde se desenrolava uma sessão espírita, na escuridão, como se deve. De repente, um dos gentlemen participantes gritou: "Meu Deus, há alguma coisa sobre minha cabeça!" As luzes foram acesas. A "coisa" que esmagava o infeliz espírita era a própria Sra. Guppy, que pesava em torno de 100 quilos. Além disso, ela tinha sido materializada tal como estava em sua casa, ou seja, vestida simplesmente com uma camisola. Pode-se imaginar o efeito causado por esta abundante materialização em plena era vitoriana, na recatada Inglaterra. De fato, ela

tornou-se a "maior" piada londrina da temporada. Este teletransporte deve ter sido mais ou menos instantâneo. Outro caso de teletransporte a grande distância remonta ao século XVII. Um português, morando em Goa, na Índia, foi, de acordo com seu próprio relato, repentinamente transportado ao local de seu nascimento, em Portugal. Convencido de que era um perigoso feiticeiro, o pobre homem foi queimado vivo. Entretanto, talvez se tratasse apenas de um caso de amnésia... No dia 8 de junho de 1873, Auguste Arnaud, de trinta anos de idade, trabalhava numa vinha quando foi visto sendo arremessado, numa velocidade extraordinária, em direção a uma cruz. Quando as três testemunhas acorreram ao local, encontraram-no completamente rígido, de pé diante da cruz. A elevação acima do solo pode ultrapassar uma simples flutuação e tornar-se uma verdadeira ascensão nos ares. A beatificada Agnes da Boêmia recitava salmos num jardim quando, subitamente deslumbrada, elevou-se nos ares, onde suas duas companheiras logo a perderam de vista. Somente depois de uma hora foi que ela reapareceu, "o rosto radioso de graça e de alegria". Santa Colete também desaparecia completamente no espaço, durante suas orações contemplativas. Estes deslocamentos consideráveis poderiam ser designados, mais particularmente, como "vôos psi".

11 MATERIALIZAÇÕES MEDIÚNICAS

O extraordinário fenômeno de materialização, que se pode obser var durante as sessões mediúnicas, consiste na aparição de uma substância visível e palpável, que pode organizar-se em membros isolados, mais ou menos bem formados e em corpos inteiros, geralmente huma nos, mas também de animais, inclusive pássaros. No caso extremo da materialização perfeita, estas criaturas efêmeras adquirem uma vida autônoma e um caráter próprio e sua consistência não difere da dos seres vivos. Entretanto, elas se desfazem e desaparecem no fim da sessão. As materializações perfeitas, sem contar as outras, vêm sendo observadas, estudadas e fotografadas há mais de cem anos por comissões científicas, pesquisadores ilustres como William Crookes e consideráveis grupos amadores, como, por exemplo, a corte de Napoleão III. Os órgãos e tecidos materializados formam-se à custa de uma substância primordial, exteriorizada em sua maior parte pelo médium e tam bém, em menor parte, pelos assistentes. Esta substância primordial pode apresentar-se no aspecto sólido, líquido ou gasoso. Na maior parte dos médiuns, a forma gasosa predomina, embora em alguns,

tais como Eva Carrere e Franck Kluski, predomine a forma sólida. Este último, banqueiro e escritor, realizava trabalho voluntário na Polônia e na França. De acordo com o Dr. Geley, os fenômenos geralmente desenrolavam se desta forma: Percebia-se, primeiro, o desprendimento de um forte odor de ozônio, antes mesmo dos fenômenos e, por vezes, até antes de entrar no laboratório. Este sintoma premonitório era constante. O odor dissipava-se tão bruscamente quanto havia surgido. Viam-se, então (a luz era muito fraca), vapores ligeiramente fosforescentes flutuando ao redor do médium, principalmente em torno de sua cabeça, elevando-se como fumaça leve. No vapor surgiam, em seguida, focos de condensação, na forma de luzes muito suaves e efêmeras. A seguir, elas se condensavam sob forma de mãos, dedos ou rostos, freqüentemente luminosos. No final, as materializações estavam perfeitamente formadas e eram palpáveis. O caráter transitório e proteiforme das luzes, sua multiplicidade, seu afastamento do corpo do médium, sua organização e seu comportamento intencional excluem a fraude. Aliás, no caso de Kluski, homem rico, que trabalhava como voluntário e não tirava qualquer vantagem desses estudos, não seria necessário sequer levantar essa questão. Para que se possam compreender certas aparências paradoxais das aparições, é preciso acrescentar às já estranhas propriedades da ectoplasmia, a noção de ideoplastia, propriedade que possuem as formas materializadas de ser influenciadas pelo pensamento inconsciente do médium e de moldar-se, assim, às representações mentais e recordações deste último. É esta propriedade que explica as figuras achatadas, incompletas e defeituosas, assim como as representações reproduzidas, por vezes com exatidão, pelas fotografias publicadas em jornais, que demonstravam (como foi injustamente julgado) tratar-se de fraudes inábeis. Os estudos posteriores anularam completamente essas discussões. A matéria ectoplásmica pode também formar espécies de alavancas que podem servir para manipular os objetos. Estas formações são freqüentemente animadas por pulsações luminosas. O Dr. Osty descobriu que o ritmo destas pulsações está ligado ao ritmo respiratório do médium, fato que pode ser utilmente aproximado da psicofisiologia do yogue. A imperfeição das formações ectoplásmicas torna-se evidente à luz da noção de ideoplastia. Compreende-se quão rara pode ser a organização psíquica capaz de criar, na primeira tentativa, formas perfeitas. Todos pensam poder imaginar facilmente um rosto ou uma mão humana, mas, se isto fosse verdade, todos seriam capazes de desenhá-Ios com perfeição, o que não é o caso. O inconsciente que dá forma às materializações só dispõe, aparentemente, para o seu trabalho, de representações

plásticas do sensitivo. Se este nunca se exercitou, o inconsciente só poderá dispor, para suas criações, de formas esquemáticas, inábeis ou infantis. As análises químicas e citológicas da matéria ectoplásmica foram feitas diversas vezes: são decepcionantes. Ao que parece, só revelaram muco e células epiteliais provenientes dos orifícios naturais do corpo do médium, arrastados pela passagem do ectoplasma. Materializações perfeitas Materializações particularmente interessantes e, infelizmente, muito raras, são aquelas que atingem a perfeição na imitação do corpo humano normal, com todas as suas características físicas e psíquicas. A aparição, neste caso, em nada se distingue de uma pessoa viva, salvo pelo fato de que ela só existe no período entre sua materialização e seu desaparecimento, no decorrer da sessão. Estes seres desconcertantes e, pelo fato de emanarem de um médium, completamente diferentes podem tornar a surgir, sessão após sessão, durante anos. Por fim, desaparecem definitivamente, muitas vezes anunciando com antecedência o término de sua existência intermitente. O caso Katie King A materialização perfeita mais famosa foi, certamente, a de Katie King, produzida pela médium Florence Cook e estudada durante vários anos por Crookes, entre 1869 e 1874. A autenticidade das materializações de Katie King levantou discussões infinitas e extremamente desgastantes para qualquer um que queira, honestamente, descobrir a verdade. A intransigência de uns e a pusilanimidade intelectual de outros contribuíram para tornar a questão ainda mais obscura. Os espíritas afirmavam que Katie era um espírito, enquanto seus adversários diziam que era uma hábil trapaça. Ora, as sessões durante as quais Katie King se manifestava aconteciam principalmente na casa de Crookes, o qual viu perfeitamente a verdade. As referidas ses sões prolongaram-se por vários anos, com um número considerável de testemunhos irrefutáveis. Existem quarenta e quatro fotografias destas sessões, que a mostram de braço dado com Crookes, na companhia de outras pessoas e ao lado da médium. Katie King, como ela própria denominou-se, em nada se diferenciava de uma moça viva. Podia ser tocada e consentiu em sentar-se no colo de Crookes, que estava apaixonado por ela... Foi cortada uma mecha de seus cabelos, a qual ainda é conservada na SPR (Crookes tinha se assegurado de que os cabelos iam realmente até o couro cabeludo). Katie aparecia sob luzes fracas, mas nunca na escuridão. Certa vez,

ela permitiu que o lampião a gás fosse colocado em sua maior potência e todos puderam observar que ela começou a derreter como se fosse uma estátua de cera. Finalmente, só restou sobre o solo sua cabeça (já bastante danificada), que terminou por desaparecer. Ainda se publica que Katie King parecia-se com Florence Cook. Vários autores sérios acreditaram nisto. Na realidade, o aspecto de Katie era variável: quando a médium não estava em boa forma, elas se pareciam mais, no entanto na maioria das vezes não era o que acontecia. Katie era 15 centímetros mais alta, muito mais bonita, suas mãos eram maiores, seu pescoço era liso - Florence Cook tinha aí uma cicatriz, seus cabelos eram ondulados, loiros com um tom acobreado, enquanto os da médium era lisos e negros; suas orelhas não eram perfuradas como as da Srta. C.; sua pulsação era de 75 batidas por minuto, enquanto a da Srta. C. era de 90 e, enfim, seus pulmões mostravam-se sadios quando auscultados, enquanto a Srta. Cook tinha uma tosse ruim. Interrogada quanto à sua identidade, Katie disse ser filha de John King, um espírito bastante conhecido entre os espíritas, que ela se chamava Morgan e que havia vivido dois séculos antes, na Jamaica. Florence Cook tinha quinze anos no início das aparições de Katie King. Ela não recebia pagamento. O caso da Sra. d'Espérance (1855-1919) Diferente de muitos outros médiuns, a Sra. d'Espérance (inglesa, apesar do nome) era culta, inteligente, fina e interessou-se pelos fenômenos que ela mesma provocava. Ela relatou suas observações numa obra, Au pays de I'ombre (1897), que constitui, assim, um testemunho em primeira mão. Acrescentamos que ela conservava lembranças precisas de seus estados de transe, o que não é o caso de todos os médiuns. Dotada de um equilíbrio superior, ela mantinha toda sua lucidez durante os transes mais profundos. Quando a Sra. d'Espérance entrava em transe, ela sentia algo sobre seu rosto e suas mãos, como se fossem teias de aranha. A seguir, o ar parecia-lhe mais denso e ela respirava com dificuldade. Quando esta impressão cessava, uma figura iria surgir. A materialização mais notável da Sra. d'Espérance era Yolanda, uma moça árabe, que aparecia e desaparecia diante de todos. Ela foi fotografada, particularmente ao lado da médium. Não se podia tocá-Ia. Ela participava das diferentes tarefas das sessões, tais como trazer água e dar de beber à médium. Ocupava-se de fazer surgir objetos e "mandá-los de volta", se fosse o caso.

Enquanto isto, a Sra. d'Espérance sentiase como num sonho. Ela podia pensar e sentir, mas não conseguia mover-se. Cada movimento um pouco mais rápido de Yolanda a fazia transpirar; todo esforço de Yolanda a esgotava mais depressa do que se ela mesma o fizesse. Seus músculos se contraíam se Yolanda segurava um objeto, ela sentia se alguém tocava Yolanda e se ela estava descontente. Sentiu a queimadura provocada pela parafina líquida, quando Yolanda ali colocou a sua mão para fazer um molde. Ela também sentiu quando, certa vez, Yolanda cravou um espinho de roseira no dedo. Pode-se certamente reconhecer nestes fatos as características da exteriorização da sensibilidade. O mais curioso era o laço afetivo que ligava a Sra. d'Espérance a Yolanda. Ela nutria pela jovem-fantasma sentimentos maternais, enquanto pelas outras aparições que produzia (Ninia, Leila) tinha só curiosidade. Durante as sessões, os sentidos da Sra. d'Espérance ficavam mais aguçados e ela percebia, particularmente, ruídos que seriam inaudíveis em seu estado normal. Após as sessões, a Sra. d'Espérance sentia-se mal e tinha náuseas seguidas de vômitos. A causa disto era, certamente, que, para materializar-se, Yolanda emprestava substância aos assistentes e era ela mesma quem a reabsorvia. A prova para esta suposição foi dada em 1893, em Cristiania, quando a Sra. d'Espérance teve a surpresa de não sentir qualquer mal-estar: os assistentes concordaram em abster-se de álcool e de tabaco antes da sessão. Quando havia doentes entre os assistentes, ela sentia, depois da sessão, indisposições correspondentes às doenças. Pessoas que faziam uso de álcool provocavam nela indisposições quase tão desagradáveis quanto as produzidas pelos fumantes. Pode-se entrever o mecanismo desta ação. A matéria do fantasma, emprestada do médium e, parcialmente, dos assistentes, é restituída. Talvez cada um dos doadores retome a substância de acordo com sua contribuição, mas tudo leva a crer que as diferentes contribuições se misturam, ou pelo menos se contaminam mutuamente, durante a materiali zação. É por isso que o médium recebe células (ou elementos de células) modificadas pelo hábito do álcool ou do fumo, ou ainda contaminadas por uma doença. Estes elementos modificados espalham as substâncias ativas na parte não contaminada do corpo do médium através da circulação sangüínea, o que provoca reações normais de rejeição por parte dos tecidos sadios. Acrescentamos que esta hipótese poderia ser verificada facilmente através de análises. Interrogada por Aksakoff, a Sra. d'Espérance respondeu que Yolanda possuía sua própria individualidade e sua própria consciência, mas que ela sabia que, de certamaneira, Yolanda lhe pertencia, fazia parte dela mesma. "Ela é tão voluntariosa e caprichosa como qualquer garota de treze a catorze anos, pouco inteligente, mas

simples e curiosa" , dizia. No início, Yolanda parecia não saber o que era uma cadeira, pois sentava-se no encosto e caía. Mas ela compreendia o uso do papel e dos lápis e sabia utilizar vestidos e jóias. Yolanda nunca havia se manifestado fora das sessões, o que foi o caso de outros "espíritos" da Sra. d'Espérance, entre os quais uma menina chamada Ninia. Certa noite, quando ela morava na Inglaterra, estava cantando com seus filhos quando uma voz se fez ouvir, juntando-se ao coro. "É você que está cantando, Ninia?", perguntou a Sra. d'Espérance. "Sim", foi a resposta. Dito isto, as crianças correram pela casa, mas não encontraram o fantasma cantor, cuja voz mudava de lugar, indo de um andar para outro. Numa sessão ocorrida em Cristiania, a Sra. d'Espérance estava sentada entre três outras crianças, quando uma pequena forma aproximou-se: era Gustavo, o irmãozinho falecido das crianças. Estas o reconheceram, e, nem um pouco espantadas, ofereceram-lhe uma parte do bolo que estavam comendo. A aparição abriu o papel e apresentou o bolo aos presentes, que aguardavam, preocupados. Gustavo foi acariciar o rosto de sua mãe, que estava presente, voltou para sentar-se entre seus irmãos, onde ficou por alguns minutos, depois evaporou-se e desapareceu. Em seguida, apareceu uma menininha. Sua mãe e sua irmã, que estavam de luto, a rodearam, abraçaram e beijaram... mas foi a Sra. d'Espérance quem sentiu os braços delas ao redor do pescoço, suas lágrimas no próprio rosto e seus beijos. Mergulhou numa verdadeira agonia de dúvidas. Seria ela mesma ou seria ela a menininha que recebia todo este carinho? O caso de Estelle Livermore Estelle, esposa do banqueiro americano Livermore, apareceu durante cinco anos a seu marido, no decorrer de sessões que foram submetidas a um controle dos mais severos. Estelle materializava-se com uma semelhança perfeita. Como ela só conseguia falar com dificuldade, na maioria das vezes ela escrevia o que tinha a dizer sob os olhos do próprio Sr. Livermore, que conservou uma centena de cartas escritas com sua letra. A caligrafia, o estilo, o conteúdo, tudo nestes documentos testemunhava sobre a identidade da personalidade que se manifestava. Além disso, várias destas cartas foram escritas em francês, língua que Estelle dominava perfeitamente, mas que o médium utilizado ignorava completamente. Estas manifestações duraram cinco anos e depois cessaram, como ela mesma havia anunciado. Aksakoff revelou que o lápis do banqueiro era geralmente manipulado, em escrita

direta, por uma mão, mais ou menos bem formada. Uma vez preenchida, a folha levantava-se e a mão, por vezes reduzida a uma luz esférica, virava-a e escrevia no verso da folha, ficando então a escrita invisível, o que excluía a sugestão ordinária. É importante salientar que as linhas terminavam antes das bordas da folha, sem nunca ultrapassá-Ias. Brincadeira de um morto Este caso notável, quer tenha sido provocado pelo espírito de um morto, por um espírito brincalhão de outra origem ou pelo inconsciente, não menos brincalhão, de um dos presentes, ocorreu durante uma sessão espírita. Ele foi recolhido por Leadbeater. A sessão acontecia num pequeno cômodo contíguo a uma sala grande, num apartamento desocupado. Entre os participantes havia um cético, que reclamava da pobreza dos fenômenos produzidos. Ouviu-se, então, na grande sala ao lado, um som de passos extremamente pesados que se aproximavam da porta, quando, subitamente, a porta foi arrebentada e surgiu... um elefante! Os participantes não ficaram se per-guntando se a aparição era real - ela o era o suficiente para estraçalhar a grande porta! - e precipitaram-se para a porta que havia do outro lado do cômodo, que dava acesso a uma escada. Logo estavam sãos e salvos, na rua. Passado um certo tempo, decidiram voltar ao apartamento, com exceção do cético, agora inteiramente convencido. Seria necessário acrescentar que a materialização capaz de pulverizar uma porta maciça pode ser tão perigosa quanto um ser real do mesmo peso? Moldagem das materializações O processo utilizado para obter moldes das materializações é o seguinte: são colocados sobre uma mesa dois recipientes, um contendo cera derretida flutuando sobre água quente e outro com água fria. O fenômeno se produz no escuro, sendo o médium controlado e mantido a distância. Ouve-se o som de um líquido sendo agitado, e, ao acenderem-se as luzes, encontram-se ao lado dos recipientes, moldes de uma ou duas mãos, de pés ou de rostos. Aparentemente, a parte materializada foi mergulhada na cera e em seguida na água, onde a fina camada aderente foi solidificada. A seguir, a aparição desmaterializa-se, sendo o molde deixado sobre a mesa. Ao realizar a moldagem de uma mão normal, seria necessário partir o molde para

retirá-Io, por ser o pulso mais estreito. Uma mão de borracha poderia ser utilizada. O molde poderia também ser preparado com antecedência, partindo-o e colando-o novamente, graças a uma ferramenta quente. No entanto, o controle moderno não deixa espaço para os truques. O Dr. Geley preparou uma cera à qual acrescentou colesterol, substância invisível mas fácil de ser revelada. Este fato não foi comunicado a nenhum dos participantes da sessão, pois, se dele soubessem, pode riam fazer o papel de cúmplices involuntários. Geley comprovou a autenticidade da cera dos moldes. Isto não é tudo. Os moldes de cera foram examinados por dois escultores-modeladores profissionais. Estes experts confirmaram que: 1. Os moldes não foram partidos nem colados novamente com o calor. 2. Os detalhes das contrações dos músculos e da pele excluem a possibilidade de moldagem sobre uma peça. Estes moldes foram obtidos de mãos vivas. 3. Algumas destas mãos têm o tamanho de uma mão de criança, mas sua anatomia é a de uma mão de adulto. Sabe-se que as aparições possuem tamanhos variáveis. Vertendo-se gesso no interior dos moldes, consegue-se uma reprodução daquilo que serviu para fazê-Ios. Desmaterialização do médium As aparições que se materializam até uma consistência normal possuem massa e podem ser pesadas. Descobre-se que seu peso varia muito, podendo variar para uma mesma materialização sem modificações visíveis no aspecto. A desmaterialização completa do médium foi observada por Olcott, que tomou o cuidado de fixá-Io em sua cadeira, com a ajuda de uma linha de costura selada com seu próprio lacre, de modo a excluir qual quer possibilidade de que o médium se soltasse, prática utilizada por certos prestidigitadores de music-hall. Olcott assegurou-se de que, durante a materialização completa, a cadeira estava vazia. Ao final da sessão, o médium estava de volta, sendo que a linha e o lacre estavam intactos. A desmaterialização do sujeito pode ser espontânea. O jornalista L. Knebell assistia a uma sessão de ilusionismo de William Neff, quando viu este último tornar-se transparente, o que não o impediu de continuar seu número, retomando depois a opacidade normal. Interrogado, o ilusionista disse ser um fato costumeiro, o qual não

tinha meios de controlar. Numa sessão de testes, a médium Srta. Fairland foi costurada den tro de uma rede provida de registradores de peso. Durante a materialização de uma forma que passou por todos os assistentes, a médium perdeu 27 quilos, ou seja, a metade do seu peso. Este peso foi reconstituído no final da sessão, todavia com uma perda de 1 a 2 quilos. Este fenômeno foi observado desde o princípio do espiritismo. Adare observou-o em Home em 1869. A perda de peso foi medida por Crawford, Maxwell e Demonchy. A investigação de Aksakoff reúne onze testemunhos (1895). Excelentes observações, objetivas e subjetivas ao mesmo tempo, foram fornecidas pela Sra. d'Espérance sobre ela mesma. Na sessão do dia 11 de dezembro de 1893, na presença de uma numerosa assistência, ela havia produzido várias materializações, quando, ao colocar as mãos sobre seus joelhos, descobriu que, na verdade, elas repousavam no assento onde estava sentada. Tateando-se, ela descobriu que não possuía mais que a parte de cima do corpo e, ao inclinar-se para frente, quase caiu. Completamente transtornada - e não era para menos -, pediu a várias pessoas que viessem certificar-se de que ela estava realmente sentada na cadeira. As pessoas constataram que, sobre a cadeira, repousavam apenas as saias da médium. Contudo, cada vez que as mãos atravessavam o espaço onde deveriam estar suas pernas, ela sentia uma forte dor. Após aproximadamente uma hora, ela recuperou a totalidade de sua pessoa; no entanto, levou dois meses e meio para recuperar-se do choque nervoso sofrido. A Sra. d'Espérance pensava que a desmaterialização do corpo do médium ocorria em graus variáveis a cada sessão, mas que, desta vez, a desmaterialização havia sido irregular, afetando apenas uma parte do corpo, enquanto a outra permanecia intacta. Em outra sessão, disse a Sra. d'Espérance, foi como se todo o seu corpo estivesse num estado semifluido, pois ela podia falar e mover-se, mas, quando um assistente colocou a mão em seus joelhos, viu-a afundar até a cadeira, o que provocou uma grande dor na médium. Além disso, embora pudesse falar e mover-se, ela não conseguia ficar em pé, pois seus membros estavam amolecidos demais para sustentá-Ia. As vozes múltiplas O fato de que um médium possa assumir a voz de um morto pode ser extremamente convincente, mas é permitido que se proponham interpretações que não apelam ao além, como, por exemplo, uma criação de origem telepática. As vozes múltiplas, entretanto, colocam outros problemas, que não podem ser reduzidos à telepatia. A produção, por um único médium, de várias vozes simultâneas e distintas pode ser

colocada entre os fenômenos paranormais mais refratários a uma explicação clássica. Fisiologicamente, é pura e simplesmente inconcebível. Eis alguns casos bem controlados. A Srta. Etta Wriedt, médium americana, praticava a voz direta em estado de transe. Ela foi examinada por um cético, o vice-almirante W. Usborne Moore, que mostrou-se convencido ao ouvir várias vozes, falando aparentemente ao redor da médium. Que a voz parecesse partir, não da médium, mas de algum lugar próximo, explicar-se-ia pela locali zação espacial da origem dos sentidos, o que é muito aproximativo (esta é a base da ventriloquia). No entanto, a produção simultânea de diver sas vozes permanece inexplicada. Para os espíritas, não há aí qualquer dificuldade: uma vez que são os espíritos que falam, por que não seriam vários deles a falar? Conhecese também a divisão das funções da glote, da qual apenas uma parte pode ser utilizada no extremo agudo (a metade, e, excepcionalmente, um terço e um quarto no caso da cantora Mado Robin). No entanto, a utilização em separado das frações é desconhecida na fisiologia clássica. Invocar um "mecanismo psi" é o mesmo, aqui, que não dizer nada. A Sra. Margery Grandon, casada com um professor da Universidade de Harvard, manifestou este mesmo poder mediúnico ao produzir todo um coro de vozes. Ela foi estudada minuciosamente, mas nada de interessante foi descoberto. Durante uma sessão, ouviu-se também um coro de quatro vozes, sendo duas masculinas e duas femininas. À sessão assistiam apenas homens de confiança. Waldemar G. Bogoraz registrou vozes múltiplas produzidas pelos xamãs siberianos. Não se tratava de ventriloquia, uma vez que as vozes podiam provir de um ponto distante do xamã.

Terceira Parte ASSOMBRAÇÕES E APARIÇÕES

Classificamos separadamente as assombrações e as aparições, de acordo com o critério seguinte: as assombrações são devido a um mecanismo independente de uma consciência atuante, enquanto uma aparição é sempre alguém que aparece, mas na forma de um "fantasma". As assombrações se subdividem, por sua vez, em duas categorias distintas: a pequena assombração e a grande assombração. Na pequena assombração, a origem das manifestações é o inconsciente de um indivíduo obrigatoriamente presente no local. Este inconsciente é bem conhecido na psiquiatria clássica e apenas a sua atividade para além do corpo físico ultrapassa o

quadro dos conhecimentos oficiais. É o poltergeist, ou "espírito-que-bate", assim denominado segundo sua manifestação mais freqüente, que é a de provocar pancadas sonoras nos objetos. A grande assombração é aquela das casas assombradas. Sua principal manifestação consiste na aparição visível de um fantasma ligado a um local determinado e cuja conduta é tão automática e estereotipada quanto a do poltergeist pode ser deliberada e variada. O fantasma de uma casa assombrada aparece nos mesmos lugares, percorre o mesmo trajeto, faz os mesmos gestos e desaparece. Ele não reage a qualquer solicitação e age com a monotonia de um autômato. Via de regra, o fantasma representa alguma pessoa morta há algum tempo. Ao contrário das assombrações, as aparições são manifestações conscientes: o espírito que as anima não é o inconsciente dos psiquiatras, mas a consciência racional ordinária daquele que surge desta maneira particular. Os motivos das aparições não diferem daqueles que fariam agir os vivos. As aparições podem provir de agonizantes ou daqueles que vão morrer em breve (mas que podem não desconfiar disto). Elas podem tam bém ser emitidas pelos vivos: livros inteiros foram dedicados a este fe nômeno. Elas podem, enfim, provir dos mortos recentes, que, literal mente, retornam, com objetivos variados. Reagrupamos aqui outras for mas raras, atípicas ou intermediárias de aparições, de acordo com suas características ou com seus motivos. Os animais podem emitir fantasmas, da mesma forma que os humanos. Certas aparições, de comportamento deliberado, parecem não provir de um sensitivo humano. Elas podem "assombrar" uma certa região, um país, a marinha de um país ou ainda determinadas famílias. A elas se atribui em geral um valor premonitório para desastres. Isto pode ser verdadeiro para certas aparições, mas é certamente falso para outras, como os encontros com navios-fantasmas, os quais, apesar de um lenda persistente, não são premonitórios de catástrofe alguma.

12 POLTERGEISTS

Agrupa-se, geralmente, sob o nome genérico de poltergeists, o conjunto dos fenômenos produzidos espontaneamente, sem causa aparente ou detectável, que consistem de ruídos, deslocamentos ou projeções de objetos, podendo prolongar-se por tempos muito variáveis. Os fenômenos mais freqüentes dos poltergeists são projeções de pedras, telhas e objetos diversos, principalmente contra as paredes externas das casas, deslocamentos e quebras de objetos no interior das casas, e, principalmente, pancadas ruidosas (daí a tradução

de poltergeist como "espírito barulhento" ou "espírito-que-bate", dada ao conjunto des-tas manifestações). Na realidade, o talento dos espíritos-que-batem não se limita, de forma alguma, às pancadas. Eles são capazes de tudo. A origem desses fenômenos deve ser buscada na atividade inconsciente da mente humana. Há quase sempre um agente no centro das manifestações. Além disso, a inteligência que está por trás das atividades corresponde realmente à idade mental do inconsciente, tal como é conhecido dos psicanalistas e tal como se manifesta nos fenômenos das personalidades dissociadas. O sensitivo que emite o poltergeist pode, em geral, ser facilmente identificado. Com a sua saída, as manifestações cessam radicalmente, para reiniciarem-se com o seu retorno. Por vezes, elas podem acompanhá-Io em seus deslocamentos. Estudo geral Causas das manifestações dos poltergeists O estudo detalhado dos fenômenos permite cercar as causas destas manifestações. Esta causa apresenta-se sob a forma de uma entidade pensante, consciente e, ora mais, ora menos, mal-intencionada com relação aos vivos. Na maioria das vezes, o responsável é uma mulher, criança ou adolescente, raramente ultrapassando a idade da maturidade sexual. Esta idade situa-se entre doze e dezessete anos. Foi relatado o caso de um garoto de seis anos. No caso de adultos, são neuróticos ou histéricos, ou ainda pessoas que atravessam um período de graves problemas afetivos. São freqüentemente os casos de órfãs sob a guarda da Assistência Pública ou de jovens assalariados solitários. Pesquisas recentes levam aos seguintes resultados: em 1977, Roll estudou cento e dezesseis casos conhecidos e descobriu que vinte e dois sensitivos, num total de noventa e dois, tinham crises histeriformes; sessenta e um tinham menos de dezenove anos; trinta e oito viviam afastados de seus pais, portanto sob a influência de um stress afetivo ao qual os poltergeists forneciam uma descarga necessária (catarse). Os sensitivos não apresentavam qualquer particularidade física ou mental. Durante a emissão do poltergeist, o sensitivo freqüentemente enfraquece, adormece ou tem síncopes, tremores e convulsões. Com maior freqüência, ele se sente esgotado. Seus movimentos tornam-se lentos. Todos estes sintomas puderam ser observados também nos médiuns: a identidade dos fenômenos provocados indica claramente a identidade dos mecanismos. Solfvin e Roll verificaram (1976) que a atividade poltergeist era acompanhada, nos emissores, do surgimento de um traçado epileptiforme no eletroencefalograma.

Fenômenos dos poltergeists Pancadas nos objetos ou no interior das paredes. Sua força pode ser considerável. Objetos deslocados. Podem sê-Io brutalmente ou com delicadeza. Foram vistos móveis grandes e pesados sendo derrubados, mas também frágeis bibelôs transportados e pousados com delicadeza. O peso dos objetos deslocados pode ultrapassar aquele que um homem poderia levantar. A passagem através dos muros e paredes pôde ser observada diretamente. Os objetos deslocados podem sair, assim, de um cômodo fechado e também escapar de recipientes fechados. Quando tocados imediatamente após terem atravessado a matéria, percebe-se que estão quentes, às vezes a uma temperatura de 100°C. Arremesso de pedras, telhas, objetos diversos. Na maioria das vezes, a casa é apedrejada ou atingida por estes objetos. Foram vistos verdadeiros bombardeios, podendo até mesmo perfurar as paredes externas. O objetivo evidente destas projeções, que só raramente penetram no interior da casa, é a destruição das portas, das janelas e do telhado. No entanto, também foram vistos projéteis que chegavam rapidamente, diminuíam de velocidade e depois caíam molemente, sem bater em nada. Esta lentidão anormal foi muito bem observada em numerosas ocasiões. Abertura espontânea e repetida de portas e armários. Ruído de passos e de correria. Anomalias de funcionamento das instalações elétricas ou telefônicas (Bender, 1969). Efeitos visuais sugerindo acúmulo de água (Cox, 1961). Os clarões ofuscantes (Roll, 1976). Vozes são ouvidas mais raramente. São geralmente palavras indistintas pronunciadas por uma voz cavernosa, gritos, lamentos. Sopros gelados, eflúvios nauseabundos, odores perfumados (raros). Os depoimentos dos casos precisos são sempre perfeitamente concordantes, quer se trate de testemunhas comuns ou de policiais. Encontraremos no caso da paróquia de Ars uma lista particularmente rica em manifestações de poltergeists. Freqüência e duração das manifestações Na França, entre 1925 e 1950, foram registrados oficialmente trinta e oito casos, ou seja, um a cada oito meses (Tizané). Numerosos não são registrados, nem pela polícia nem pela justiça, seja porque os fenômenos pouco incomodavam, seja por terem cessado.As chuvas de pedras atiradas foram descritas por Plínio, o Jovem, e nunca mais cessaram. O Sr. Maxwell, advogado geral na Corte de Apelação de Bordeaux, descreveu

casos de rescisão de contratos de locação por causa de assombrações. Há ao menos um caso de um proprietário de taberna assombrada, na Inglaterra, que fez um seguro contra a assombração, para o caso em que os clientes, perturbados, abandonassem seu estabelecimento. A duração registrada das manifestações vai de um dia até dezoito meses (em 1934, em Savigny-Ie-Vieux). As assombrações remanescentes podem continuar por longos anos. A reação das vítimas Depois de alertar os vizinhos, as vítimas dos golpes, dos móveis derrubados e dos vidros quebrados dirigem-se, se são religiosos, ao padre, o qual, depois de hesitar, vem exorcizar e benzer o local. Pode acontecer que as preces sejam eficazes, mas, na maioria das vezes, elas não têm efeito. Os agnósticos ou anticlericais recorrem aos videntes, aos feiticeiros, aos magos ou aos radiestesistas, que chegam, instalam arames, procuram cadáveres enterrados e bonecos de feitiçaria, pronunciam fórmulas, fornecem pentáculos e amuletos. Tudo isto, bem entendido, em troca de remuneração. Se o caso atinge os jornais, estes são seguidos por charlatães, cuja variedade e cuja ganância são difíceis de imaginar. O penúltimo estágio é a chegada da grande imprensa, que vai desde o envio de um fotojornalista até o caminhão de filmagem e o material para obras públicas, que servirá para abrir valas para a descoberta de cadáveres ou de tesouros. Evidentemente, eles nunca descobrem nada, o que conforta os céticos. Se a sucessão de pancadas e de paredes apedrejadas continua, passa-se ao último estágio: o das armas de fogo! O fazendeiro, então, se armará e, emboscado à janela ou entre os arbustos, crivará de chumbo a direção de onde parecem vir os projéteis. O procedimento é certamente perigoso para os vizinhos, os policiais, os cachorros e os transeuntes. No entanto, os resultados podem ser surpreendentes. Os espíritos, apa-rentemente amedrontados, podem até mesmo parar, brusca e definitivamente, toda e qualquer manifestação sobrenatural. É um comportamento revelador. A personalidade do poltergeist Os fenômenos de poltergeist são produzidos fora da consciência do emissor e, aliás, fora das possibilidades de uma ação consciente. É mais cômodo considerar a causa dos fenômenos como sendo uma entidade particular, dotada de um caráter próprio. Esta entidade pode ser estudada segundo suas manifestações concretas, o que permite delimitá-Ia e fazer-lhe uma espécie de retrato médio. Esta aproximação revela um

lado interessante do inconsciente humano, a ser estudado pela psicanálise experimental, e nada tem a ver com a sua "natureza". Esta entidade independente foi denominada "hóspede desconhecido" por Tizané. O hóspede desconhecido pode agir contra os interesses de seu autor. Ele pode forçá-Io a confissões fantasiosas, pois o inconsciente esforça-se para preservar sua própria integridade, mesmo se isto causa o maior dano ao emissor. A ignorância destes fenômenos levou muitas vezes os juízes a condenar indivíduos que acusavam a si mesmos de malefícios que eram fisicamente incapazes de perpetrar. Atualmente, os psiquiatras conhecem bem este mecanismo. O inconsciente age mesmo como um ser autônomo, eventualmente maligno e vampiresco, escondido no fundo do sujeito agente das assombrações, pronto para uma emboscada. O comportamento do hóspede desconhecido prova que ele pode ter medo, particularmente de tiros. Portanto, ele possui uma parte material, que os golpes rápidos podem danificar. Aí se percebe toda a analogia com o ectoplasma, o qual, se manipulado brutalmente, pode acarretar repercussões sobre o médium. Igualmente curioso é o fato, várias vezes registrado, de que as investigações parecem incomodar também o hóspede desconhecido. Foram vistos casos em que a simples chegada ao local de um parapsicólogo era suficiente para interromper as manifestações. É possível se comunicar com o hóspede desconhecido através de tábuas ou'-ja ou de pancadas provocadas por ele, combinando-se um código qualquer para interpretá-Ias. Constata-se, então, que se trata de uma inteligência banal, medíocre, freqüentemente inferior à do médium. Isto corresponde bem à entidade do inconsciente. O tédio é uma das causas operantes das manifestações do inconsciente. Uma pesquisa moderna constatou que 86% destas manifestações passaram a ocorrer após a mudança para conjuntos habitacionais para pessoas de baixa renda. O ambiente despersonalizado e deprimente des tes locais poderia induzir condições propícias à produção dos fenômenos? Dingwall (The Unknown - Is It Nearer?, 1956) descreve o caso de uma garotinha, cuja mãe começava a ausentar-se, deixando-a sozinha. O poltergeist manifestou-se com golpes, bater de portas e arremesso de pratos. Tudo parou quando a mãe parou de se ausentar. Dingwall assegurou-se de que a criança não falsificava os fenômenos. Foram registrados alguns casos onde o poltergeist continuava a manifestar-se apesar da mudança repetida dos moradores. É uma passagem progressiva da pequena à grande assombração, o que dá uma idéia do possível mecanismo desta última, uma vez que o dos poltergeists está bem estabelecido. Alguns poltergeists puderam, assim, continuar sua atividade durante anos. Sitwell cita

o de Wellington Mill, que continuou durante doze anos, exibindo uma espantosa variedade de manifestações: ele mostrou-se sob a forma de um macaco, de um gato, de uma mulher velada e de um homem de pés pesados. Quanto aos ruídos, ele os produzia de todas as espécies imagináveis, indo de apitos e batidas a comentários feitos com uma voz gutural e ao barulho de uma máquina em funcionamento. In-cluímos aqui o caso das casas assombradas, cujas manifestações podem persistir por séculos a fio. Os fatos As casas assombradas foram noticiadas em todos os povos do mundo, desde a mais alta Antiguidade. Os exemplos, bem atestados, seriam suficientes para preencher várias dezenas de volumes. Em 479 a.C., o general lacedemônio Pausanias, acusado de traição, refugiou-se no templo de Minerva, foi cercado por muros e morreu de fome. Seu espírito, asseguravam, lá manifestou-se durante muito tempo, por gritos e barulhos assustadores. M. G. Morice, doutor em direito, publicou nos Annales des sciences psychiques de 1893 o caso, extremamente bem estudado por um grande número de testemunhas, de um castelo assombrado em Calvados, construído em 1867. Manifestações as mais diversas foram percebidas pelo proprietário no dia-a-dia. Foram notados golpes, o som de um corpo pesado descendo as escadas, passos, por vezes numa sala fechada, gritos, urros e soluços e o som de um pequeno órgão tocando. Em seguida, o deslocamento de objetos, portas e janelas abrindo-se lentamente, sozinhas, diante de várias testemunhas. Travesseiros foram encontrados sobre o parapeito externo de uma janela pregada (os pregos foram arrancados). Livros religiosos esparramados, deslocamentos absurdos de objetos, uma massa d'água caindo pela chaminé (com um tempo bom e seco lá fora), apagando o fogo. Certa noite, como os cães uivavam em direção ao parque, o proprietário, pensando tratar-se de malfeitores, soltou-os. Os cães precipitaram-se furiosamente nos arbustos cerrados, mas recuaram e fugiram imediatamente, com o rabo entre as pernas e ganindo. Nada foi encontrado nos arbustos. Os cães certamente haviam percebido a entidade que dava origem a todos os fenômenos. Em 1914, manifestações análogas afligiram a família do Sr. Boussoulade, importante funcionário do Ministério das Finanças e proprietário de um castelo em Vodable, Auvergne. Os ocupantes eram freqüentemente fechados a chave em seus próprios quartos, sendo a chave depois encontrada nos lugares mais imprevistos. Estes fenômenos só aconteciam na presença, obrigatória, de uma prima.

Um dos casos mais espetaculares de poltergeists é recente e pôde ser estudado à vontade. Manifestou-se entre agosto de 1978 e setembro de 1979, em Enfield, nos arredores do norte de Londres, numa família com duas filhas, sendo Janet, de doze anos, aparentemente, a agente dos fenômenos. O poltergeist começou com sons moderados, entre os quais um ruído de passos leves. Em seguida manifestou-se uma voz rude e maldosa, não identificada, mas que se apresentava como um homem de setenta e dois anos, que morava numa rua próxima. Toda a gama de fenômenos de assombração desenvolveu-se, então, rapidamente. Papéis e roupas inflamavam-se espontaneamente e fósforos pegavam fogo dentro das gavetas. As facas eram torcidas. Pedras estouravam no chão. Janet e sua irmã eram brutalmente atiradas para fora da cama com tanta freqüência que terminaram por deitar-se no chão. Em Londres, grande centro de estudos dos fenômenos paranormais, houve uma afluência de todos os especialistas, que procederam a constatações e medidas. Além disso, a casa foi invadida por amadores, cientistas, parapsicólogos, ocultistas, membros de seitas e iluminados, que observavam e tiravam fotos. Brinquedos foram atirados na cabeça dos fotógrafos. Não satisfeito por jogar Janet para fora de sua cama, o poltergeist a fez levitar diversas vezes. Vê-se, nas fotos publicadas, a infeliz deslocando-se perto do teto, esperneando e gritando. Para os deslocamentos de objetos pesados, este poltergeist superouse. Ele levantou o fogão e atirou para fora da casa objetos tão maciços quanto um sofá, uma cômoda e uma cama de casal. Estas últimas proezas demonstram claramente que o poltergeist pode desenvolver esforços muito superiores àqueles dos quais o agente, em condições normais, é capaz. Apesar da difundida opinião de que ele nada pode fazer que o sujeito, fisicamente, também não possa, é evidente que uma menina de doze anos não poderia levantar estes móveis. Durante o tempo em que estes "espíritos-que-batem" manifestaramse - treze meses! -mais de mil e quinhentos fenômenos foram registrados, na presença de numerosos especialistas. Os pais das crianças divertiam-se e tratavam este poltergeist, relativamente inofensivo, com um humor e uma calma deliciosamente britânicos. O poltergeist que se manifestou no dia 7 de julho de 1972, numa pensão para moças, na rua Agassis, em São Paulo (Brasil), principiou num quarto ocupado por cinco jovens bancárias. Uma voz gritou: "Luiza! (nome de uma das moças) Tem uma mão na tua cama!". Era falso. No entanto, meia hora mais tarde, uma tigela de leite decolou do alto de um armário e pousou no chão, como uma folha seca. As moças, aterrorizadas, pediram

ajuda a um padre, que recitou preces e benzeu o local. No momento em que ele descia as escadas, uma garrafa voou sobre sua cabeça, espatifando-se contra a porta de entra-da. A seguir, a garrafa de água benta elevou-se no ar e foi derramar-se sobre uma das moças, que estava deitada em sua cama. Este foi o sinal para desencadear o poltergeist de uma vez. As panelas despejaram seu conteúdo em toda parte, os copos espatifaram-se contra as paredes. Um pote de mel atravessou uma vidraça sem quebrá-Ia, indo quebrar-se contra um muro. Objetos pesados foram atirados na escada. Outros objetos desapareceram, como notas de dinheiro introduzidas numa garrafa e reencontradas depois em locais impensáveis. A polícia veio, revistou a casa, não encontrou nada e foi embora, fazendo manifestações jocosas de dúvida. O caso espalhou-se. Diversos jornais e revistas publicaram artigos ilustrados com fotos. O pai-de-santo, vindo de um centro de candomblé, visitou a casa durante seis dias, apelou para um de seus próprios guias e colocou velas e copos de cachaça em vários pontos estratégicos ao redor da casa. Além disso, ele levou uma das moças para fazer uma "limpeza" espiritual, chegando a sacrificar uma cabra para o espírito perturbador. O pai-de-santo explicou que se tratava de um espírito que sofria, mas que incomodava as pessoas. Independente do que se possa pensar da explicação e dos procedimentos do pai-de-santo, os fenômenos cessaram de uma vez. O Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicofísicas pesquisou, interrogou vinte e seis testemunhas e registrou mais de seis horas de depoimentos. A conclusão foi de que se tratava de um caso de psicocinesia espontânea recorrente (RSPK), que desemboca geralmente em violências físicas, que se exprimem ao acaso. Um outro notável poltergeist foi registrado na fazenda de Kenzo Okamoto, lavrador japonês, imigrante, perto da Ponta Porã, no estado do Mato Grosso (Brasil). Ele vinha ocorrendo há três anos, o que é raro. Um jornalista, Kazunari Akaki, foi enviado ao local. De início decididamente cético, ele foi rapidamente convencido quando o jipe do qual acabava de sair deslocou-se 40 metros, subindo uma ladeira (ele pesava 2,5 toneladas). Akaki publicou uma série de dezoito artigos ilustrados com fotos no Jornal Paulista. Em dezembro de 1972, uma exposição foi dedicada a este poltergeist, em São Paulo. A seguir, o poltergeist se pôs a provocar incêndios, em condições às vezes difíceis de explicar, como quando traçou no telhado de sapé uma queimadura de 1 centímetro de largura, com 3 metros de comprimento. Pelo lógica, o telhado inteiro deveria ter-se incendiado! Os Okamoto, ao que parece, acabaram por acostumar-se a este brincalhão invisível. Tornado um clássico, este caso de poltergeist incendiário aconteceu na cidade de

Suzano (São Paulo, Brasil), em 1970. É também notável pela repetição de suas manifestações e pela qualidade dos depoimentos o delegado viu o fenômeno desenrolar-se diante de seus próprios olhos. Uma adolescente de quinze anos, Irene, estava lavando roupa numa casa vizinha à sua, quando uma forte explosão se fez ouvir em sua própria casa, da qual seus pais estavam ausentes. Ao ver a fumaça que saía, os vizinhos precipitaram-se e constataram que um guarda-roupa tinha-se incendiado, sendo que várias roupas tinham buracos de queimaduras. Na noite do mesmo dia, os lençóis pegaram fogo nas duas camas. Irene estava a uns 20 metros da casa. Durante a noite seguinte, o dono da casa foi acordado pelos gritos provenientes do quarto onde dormiam as quatro crianças. Estas lhe disseram que uma bola de fogo havia entrado e incendiado seus colchões. Não conseguindo apagar o fogo, eles arrastaram os colchões para fora da casa, onde foram consumidos. Dez minutos mais tarde, o sofá da sala pegou fogo. Ele foi totalmente molhado e depois arrastado para o quintal, onde voltou a pegar fogo, mesmo encharcado de água. Um carro de polícia, que passava naquele instante, parou para ver o que significava tal balbúrdia no meio da noite. Um dos policiais ligou para a delegacia. O delegado associou o fato à queixa que havia recebido do proprietário, alguns dias antes, de que a casa havia sido bombardeada por pedras, que tinham quebrado vidros e telhas. Decidiu, então, ir ver com seus próprios olhos o que havia. Esperando a chegada de seu superior, um policial pegou do chão um calendário e pendurou-o na parede do quarto. Alguns minutos mais tarde, o calendário ficou enegrecido e pegou fogo. O policial esclareceu que a chama era azul como a do gás e que era real: ele pôs o dedo nela e se queimou. Com a chegada do delegado, ele pegou uma folha de jornal e fixou-a na parede da sala. Diante do delegado, a folha, ainda que úmida, não tardou a inflamar-se também. Os incêndios espontâneos tornaram-se declarados nos dias seguintes, destruindo os objetos no armário da cozinha, uma cama empresta da pelos vizinhos e o berço do bebê. Houve, ao todo, dez incêndios. A família havia apelado a um padre, que recusou-se a exorcizar o misterioso incendiário. Ela voltou-se, então, para os espíritas. Assim como no caso da rua Agassis, o poltergeist desapareceu. Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Pesquisas Parapsicológicas demonstrou que o sujeito emissor do poltergeist era Irene. De personalidade muito forte, ela não se dava bem com o pai, que batia nela com freqüência. A família era desunida e o pai, com problemas de visão, não conseguia um emprego estável. É provável que, sensível e frus-trada, Irene fornecesse, de uma maneira ou de outra, a energia de que precisava o

demolidor invisível (conclusão de Guy Playfair). Em 1958, na cidade de Seaford, nos Estados Unidos, surgiu um espírito cuja atividade consistia em destampar as garrafas. O autor desta bizarra atividade inconsciente era o jovem James, de doze anos, que nada percebia. A intensidade do fenômeno era inversamente proporcional à distância na qual se encontrava James. Pergunta-se que estranho complexo poderia ter este médium. Em Galdares (Pireneus Orientais), em 1936, o filho de um fazendeiro entrou num quarto de sua casa e viu o armário de roupas aberto e a roupa da casa sendo atirada no chão, diante de seus olhos. Ele segurava um forcado e, imediatamente, desferiu um golpe terrível dentro do armário. Ele ouviu o lamento de uma voz humana e as depredações cessaram. É um caso raro, em que o poltergeist foi diretamente atingido, o que demonstra que essa entidade tem toda a razão em temer também as armas de fogo. Teria sido interessante examinar imediatamente os moradores da fazenda e os vizinhos: poderiam ser encontradas marcas no corpo do médium. Foram vistos exemplos disto em alguns casos de materializações espíritas. Para citar um caso recente, eis o de Sacha K., treze anos, de Enakievo, URSS, que principiou no outono de 1986. Houve a gama completa dos malefícios: pancadas, objetos pesados deslocados ou revirados, aparelhagem elétrica que se punha a funcionar e parava espontaneamente, lâmpadas que estouravam, até mesmo as que não estavam num soquete. Aparições e vozes perseguiam os habitantes e inscrições ameaçadoras surgiam nas paredes. O caso foi estudado por químicos, psiquiatras, pelo Centro Nacional de Saúde Mental perto da Academia de Ciências, pelo Laboratório das "Atividades Transespaciais do Cérebro" da Academia de Ciências e outros. Sendo, os incêndios espontâneos a grande especialidade deste poltergeist, a família acabou abandonando o apartamento, inteiramente destruído (Izvestia de 11 de abril e 27 de maio de 1987). Casos limitados às pancadas sonoras Um exemplo perfeito de manifestações reduzidas a pancadas sonoras é o da "casa assombrada de Poitiers", habitada pelo Conde d'Ourches, que estudava os fenômenos espíritas, e por sua irmã, que era médium. Em janeiro de 1864, produziram-se barulhos que pareciam detonações de artilharia ou explosões de pequenas bombas. A Srta. d'Ourches apresentou queixa e policiais foram colocados no interior e no exterior da casa, mas nada descobriram. Um comandante, surpreendido por uma explosão

muito próxima, sofreu uma comoção. A multidão diante da casa era tão grande que foi necessário requerer um piquete de soldados para desobstruir a rua. Após uma parada de alguns dias, devido ao exorcismo, o barulho recomeçou. Não há nada de novo sob o sol. De acordo com Guilherme de Auvergne, bispo de Paris, falecido em 1249, foi no mesmo bairro SaintPaul de Poitiers que um "espírito brincalhão" introduziu-se numa casa, atirando pedras e quebrando vidraças. O espírito batia também nas pessoas, mas levemente. Não se sabe como ele procedia. Em Cherchell, na Argélia, numa casa assombrada, as pancadas eram tão formidáveis que, certa vez, seus moradores pensaram tratar-se de um ciclone ou de um terremoto e, de outra vez, pensaram que o telhado houvesse desabado. Nada disso acontecia, e os vizinhos, mesmo os que não dormiam, não ouviram nada. Qual era, então, a natureza exata desse barulho? De qualquer maneira, não era simplesmente física. Casos limitados ao lançamento de objetos O comportamento dos objetos lançados pelos poltergeists difere radicalmente dos lançamentos ordinários. Se são destinados a destruir, por exemplo, uma casa, sua distância de arremesso e a precisão com que atingem o alvo ultrapassam absolutamente as capacidades de qualquer homem. Por outro lado, quando os projéteis visam as pessoas, em geral, ao se aproximarem das mesmas, eles diminuem de velocidade e pousam no chão, exatamente como se estivessem sendo seguros por uma mão invisível: foram vistos caindo levemente como uma folha morta ou em ziguezague. Citamos ainda o caso da rue des Gres, onde, para destruir os objetos que se encontravam num cômodo com as venezianas fechadas, o poltergeist utilizou-se apenas de telhas e pedras achatadas, que podiam penetrar pelas estreitas fendas das janelas. Eis agora duas histórias de casas assombradas na ausência (provável) do emissor, o que as colocaria na categoria das manifestações remanescentes (RSPK); Elas aconteceram em plena Paris do século XIX e foram atestadas pelo povo, pelos jornais, pela polícia civil e militar, por oficiais de justiça e pela própria justiça. Em janeiro de 1849, fenômenos extraordinários revolucionaram o bairro de Montagne-Sainte-Genevieve, da Sorbonne e da place Médicis (então place Saint-Michel). Durante os trabalhos destinados a abrir uma nova rua, ligando a Sorbonne ao Panthéon, cortando a rue des Gres (que não existe mais), os demolidores chegaram a um depósito de lenha e carvão, onde se encontrava uma casa desabitada. Esta casa mansarda, com um andar, isolada das outras casas, estava bastante afastada da rua e separada da zona de demolição por grandes escavações.

Assim que a casa foi liberada, começou a ser atacada, todas as noites, por uma chuva de projéteis (paralelepípedos, pedras de construção e fragmentos de muros), lançados com violência tal que as portas e janelas foram reduzidas a migalhas e as paredes atravessadas pelas perfurações, como se sob o efeito de uma catapulta. A proveniência exata dos projéteis nunca foi descoberta. Uma severa vigilância, noite e dia, foi exercida, sob a direção do comissário de polícia e dos engenheiros. O chefe de serviço da Sûreté permanecia no local. Cães de guarda foram soltos nas redondezas. Apesar de tudo isto, nada pôde esclarecer as causas do fenômeno, nem impedir a des-truição da casa. Como os observadores estavam postados nos telhados das casas vizinhas, é certo que os projéteis passavam bem acima de suas cabeças. O resumo acima foi extraído da Gazette des tribunaux. Todavia, outros fenômenos, que foram registrados depois deste caso, deixam entrever uma outra razão possível para a invisibilidade dos projéteis: eles não vinham de longe, mas eram desmaterializados no próprio local, acelerados nessa forma e novamente materializados em pleno vôo. De fato, a partida dos projéteis "psi" só foi registrada nos casos de deslocamentos lentos, de certa forma demonstrativos, enquanto os bombardeios destrutivos nunca puderam ser observados no instante em que os objetos eram lançados. Aproximadamente dez anos mais tarde, no mesmo bairro, fenômenos semelhantes ocorreram na rue des Noyers. O apartamento ocupado pelo Sr. Lesage, economista do Palácio de Justiça, foi submetido, em torno do mês de junho de 1860, a um bombardeio de projéteis de proveniência desconhecida, que quebravam os vidros, penetravam no aparta mento e chegaram aferir, com certa gravidade, as pessoas que lá se encontravam. Os projéteis consistiam de fragmentos consideráveis de ma deira semÍcarbonizada, pedaços muito pesados de carvão, etc. A em pregada doméstica do economista foi atingida por diversos projéteis no peito e sofreu contusões. Lesage requereu a assistência da polícia. Vários agentes de vigilância foram atingidos pela artilharia invisível. Tendo a vida se tornado insuportável nesta casa sitiada, o Sr. Lesage solicitou ao proprietário a rescisão do contrato de aluguel. Para redigir o ato, foi chamado o oficial de justiça Vaillant. Este mal havia co meçado a redigir o ato, quando um enorme pedaço de carvão, entrando pela janela, espatifou-se contra a parede. O oficial de justiça serviu-se do pó para secar a página (como havia feito outrora o general Junot). Assim como na rue des Ores, os projéteis provinham da vizinhança imediata. A empregada, também atingida, era uma jovem que poderia ser a médium inconsciente dos lançamentos.

Pesquisas, das mais minuciosas, em nada resultaram. No entanto, o proprietário do imóvel tendo sido acusado de ser ele mesmo o autor das perturbações, com o intuito de recuperar o apartamento, intimou a comparecer diante do tribunal o diretor do jornal Le Droit, cujo artigo citava também os acontecimentos análogos da rue des Ores. Considerando que, em ambos os casos, os acontecimentos permaneceram sem explicação, o jornal foi condenado a pagar uma multa por difamação. No caso da rue des Ores, Mirville descreveu longamente sua conversa com o proprietário, o carvoeiro Lerible, que lhe mostrou sua mobília destruída e o ferimento na têmpora causada por um projétil, que por pouco não o matou, o que mostra bem que ele não era responsável pelos fatos. Lerible mostrou a Mirville o que poderia esclarecer o mecanismo dos projéteis provocados pelo poltergeist: um quarto com as venezianas fechadas, cheio de pedras e de fragmentos de telhas, todos de forma achatada. Pois, a partir do momento em que o carvoeiro fechou as venezianas, pensando em preservar sua mobilia, os projéteis passaram pela fenda restante, longa e estreita, sendo escolhidos de forma a poder passar por ela. Tal escolha não é rara nessas manifestações e faz parte da extraor-dinária habilidade dos atiradores invisíveis. Sem dúvida são forças inteligentes, mas de uma inteligência bem medíocre. Conhecem-se poucos casos nos quais as pedras atiradas foram vistas desde o instante de sua partida, para depois elevarem-se no ar, antes de se precipitarem. Os Annales des sciences psychiques de 1913 relatam um destes casos, que ocorreu em Marcinelle, perto de Charleroi, durante quatro dias. O alvo a ser atingido era a casa do Sr. Van Zanten, na rue César-de-Paepe. A polícia civil e militar e o ministério público investigaram, em vão. O número total dos projéteis foi em torno de trezentos. Eram pedras, que, segundo os observadores, só podiam vir de uma casa situada em frente, a uma distância de aproximadamente 150 metros. A precisão com que eram arremessadas era espantosa: por exemplo, se o vidro de uma janela fosse quebrado ao meio, as pedras seguintes vinham destruí-lo completamente. Os projéteis chegavam descrevendo uma espiral. O mais espantoso era que eles evitavam sistematicamente as pessoas, no caso um garotinho que brincava no jardim e uma menininha que dormia em seu berço, perto da janela aberta. A pequena empregada foi atingida na cabeça por uma pedra do tamanho de meio tijolo, mas, curiosamente, no local atingido não ficou nenhuma marca ou arranhão. A uma distância de 150 metros, ela deveria ter sido seriamente ferida! Esta empregada, de aproximadamente quinze anos, seria provavelmente a médium inconsciente responsável pelas manifestações, pois estas só começavam depois que ela

havia se levantado. Um operador humano, lançando centenas de projéteis durante quatro dias, teria sido infalivelmente pego em flagrante pelos policiais (os quais supuseram até mesmo o uso de uma catapulta). A extrema precisão e a diferença de comportamento dos projéteis com relação a objetos e seres humanos, estes últimos sendo poupados, mostra claramente uma intenção e uma vontade oculta controlando as manifestações. Todos estes objetos projetados, com uma lentidão anormal, em ziguezague ou seguindo trajetos particulares, evitando as pessoas, podendo atravessar obstáculos (particularmente, no caso da rua Agassis) e que estão quentes ao toque no momento da chegada, podem ser explicados se admitirmos que não foram lançados, mas sim, desmaterializados e transportados ou transferidos no espaço de outra maneira que não pela força brusca de um impulso único, na partida. Fenômenos incendiários Os fenômenos incendiários são sempre precedidos por assombrações sonoras ou por manifestações de um poltergeist. Perto de CasseI, uma moça provocava, ao dormir, pancadas na porta do celeiro, que eram seguidas de fogo nos móveis. Nos arredores de Carlisle, os mesmos fenômenos eram produzidos por Tom Seralynn: uma hora depois que ele adormecia, manifestações de poltergeists, seguidas de incêndios, ocorriam na vizinhança. Esta relação de causa e efeito foi estabelecida pela polícia. O Dr. Stefan Hock, especialista alemão em poltergeists, observou pessoalmente, numerosas vezes, fenômenos incendiários. Perto de Lübeck, projeções de pedras terminavam sempre com o fogo nas cortinas da sala. Colocando-se ao lado da mesma, ele viu que, assim que o barulho dos projéteis no telhado cessava, uma fagulha surgia no canto da cortina. Estudos experimentais mostraram que uma faísca pode aparecer nos momentos de extrema fadiga, após outros exercícios de TK. Quando a pequena Maryse Tournade estava nervosa, fazia queimar as lâmpadas elétricas (o filamento fundia-se). O fenômeno diminuía se ela fosse isolada no chão. Trata-se mesmo, portanto, de uma sobrecarga de tensão elétrica. Vozes dos poltergeists Estas vozes são raras. Na maioria das vezes, reduzem-se a gemidos e resmungos. O primeiro a fazer um estudo geral das vozes foi o Dr. Gilles de Tourette, no século XIX.

Ele constatou a freqüência de ecolalia, repetição mecânica das palavras, e de coprolalia, uso de termos e de expressões escatológicas. São os sintomas conhecidos dos jovens traumatizados, mais freqüentemente pela puberdade, que estão na origem dos poltergeists. Excepcionalmente estas vozes podem adquirir uma intensidade, uma nitidez e um caráter explícito que fazem pensar numa outra intervenção que não a do inconsciente do agente. Em alguns destes casos, hesita-se entre um desdobramento de personalidade e a intervenção de entidades do além.

13 FORMAS INTERMEDIÁRIAS E ATÍPICAS DOS POLTERGEISTS

Poltergeist agressor O caso seguinte foi descrito pelo Dr. Gibier (Spiritisme, 1891). Trata-se de três gentlemen ingleses que se fecharam num quarto de uma casa desabitada, à noite e sem luz, após terem prometido solenemente ficar sérios. O cômodo, que tinha como únicos móveis a mesa e as três cadeiras onde eles se sentaram, entrelaçando as mãos para formar uma corrente, estaya mergulhado na mais completa escuridão. Cada um deles, munido de velas e fósforos, deveria acendê-Ias à menor manifestação insólita. De repente, ouviu-se um grito de aflição e um estrondo terrível, seguido de uma chuva de projéteis sobre a mesa e sobre os assistentes. As velas foram acesas às pressas: a placa da lareira havia sido levantada e projetada na cabeça de um deles, que jazia sob a mesa, gravemente ferido. Ele permaneceu dez dias em coma. Em outro caso comunicado ao Dr. Gibier, foi também na escuridão total que um violão que levitava veio chocar-se violentamente contra a testa de um dos participantes, o qual guardou uma cicatriz. O golpe fora bem dirigido, apesar da escuridão. O Dr. Gibier, que foi um dos principais colaboradores de Pasteur, desaconselhava formalmente a prática de sessões espíritas para simples divertimento. Ele dizia haver aí um perigo certo, tendo ele mesmo esbarrado na morte. O exemplo perfeito de agressões do poltergeist contra seu autor é aquele com o qual sofreu toda a sua vida o abade Vianney, mais conhecido como o cura d'Ars. Durante mais de trinta anos, as manifestações ocuparam-se em destruir a tranqüilidade da qual ele tanto precisava. As pancadas sonoras faziam-se ouvir na paróquia d'Ars,

especialmente entre 1824 e 1855. Lá foram vistas línguas de fogo, uma fumaça de origem desconhecida que preenchia o quarto, vários princípios de incêndio, alguns diante de testemunhas. O infeliz cura, sobrecarregado de trabalho, era continuamente atormentado por manifestações sonoras: gritos lúgubres, vozes dirigidas diretamente a ele, para ameaçá-Io e blasfemar. O cura d'Ars teve direito, também, a uma gama completa de sevícias corporais. À noite, ele era esbofeteado e espancado e seus cabelos eram arrancados. Às veze murros e pontapés sucediam-se durante horas. Não há como duvidar da sinceridade do abade Vianney, homem de uma simplicidade total e de uma candura desarmante, aliás avesso a qualquer idéia de literatura ou de publicidade, assim como a toda cre-dulidade. As agressões atingiam também os visitantes. Até mesmo bebês que lhe eram trazidos algumas vezes recebiam golpes. O cachorro da paróquia foi atirado contra o muro. O gato foi, diversas vezes, lançado no rosto dos visitantes. A paróquia de Ars era por vezes invadida por revoadas de morcegos, sobre os quais se pergunta se eram atraídos pelo organizador de todos estes malefícios ou por alguma particularidade relacionada a locais assombrados, a menos que fossem criados à maneira das materializações mediúnicas. À noite, o vigário ouvia um rebanho de carneiros pisoteando o sótão, enquanto no cômodo de baixo, um cavalo escoiceava. O quadro representando a Santa Virgem foi diversas vezes manchado com excrementos humanos, daí a aparição ter sido considerada pela Igreja (justa ou injustamente) como indicativa de uma infestação diabólica. Citam-se ainda objetos que se tornavam quentes; uma chuva de alfinetes que espetavam; um queijo mole atirado à cabeça de um policial. O próprio vigário considerava estes fenômenos como normais, uma vez que Deus deixava que acontecessem. O poltergeist que se manifestou em 1972 em Sorocaba (São Paulo, Brasil), era igualmente violento: quebrou móveis, feriu um cão, sobre o qual fez desmoronar um armário, provocou contusões numa mulher com um tijolo voador e em uma de suas filhas, que teve o rosto queimado com água fervente quando a chaleira lhe foi arrancada das mãos. Particularmente impressionante, no entanto, foi o deslocamento da caixa d'água, que só poderia ser levantada por três homens. Este poltergeist acompanhava a família em suas mudanças. O agente inconsciente era a pequena Yara, de doze anos, que estava por perto na hora das manifestações. À noite, tudo cessava se a luz fosse acesa, como se o poltergeist temesse ser surpreendido em flagrante delito. Numa pacífica família de Indianápolis (USA), manifestou-se, em 1962, um poltergeist mordedor, que atacava principalmente a avó. A família incluía uma jovem na

puberdade. Passagem do poltergeist à infestação: um poltergeist assassino - o caso Bell John Bell possuía uma rica propriedade de exploração agrícola no condado de Robertson, no Texas. Entre os nove filhos do casal estava Betsy, doze anos, certamente ligada à origem dos fenômenos que ocorreram entre 1817 e 1821. Tudo começou da maneira habitual, com um poltergeist: pedras atiradas, barulho de correntes... As pancadas logo atingiram uma intensidade tal que faziam estremecer a casa, juntando-se a elas, em seguida, repugnantes ruídos de deglutição. Após uma curta interrupção, devido a um exorcismo do local, tudo recomeçou, mas desta vez uma voz manifestou-se, emanando de diferentes pontos das paredes. A voz apresentou-se como uma feiticeira, decidida a fazer o mal. Ela gritava, fazia ameaças, caçoava. Respondia às perguntas. Toda a vizinhança passou pela casa do agricultor, inclusive as autoridades e o médico local. A bruxa atacava principalmente Betsy, que era esbofeteada durante o sono. Os fenômenos a acompanharam quando tentou-se mandá-Ia para outro lugar. Ao seu retorno, a violência dos efeitos redobrou: à noite, Betsy e seu pai eram violentamente espancados e esta ia enfraquecendo aos poucos. Os efeitos persistiam enquanto Betsy dormia, mas cessavam imediatamente se ela desmaiava. A feiticeira gostava de repetir sermões, recitava a Bíblia, cantava com uma voz admirável e, logo em seguida, excedia-se em obscenidades. Produzia também aportes, principalmente de frutas frescas. Para o aniversário de Betsy, foram frutas exóticas: bananas, nozes, laranjas. A voz deixou claro: "Eu mesma as trouxe das Antilhas" . Por força das perseguições, ela conseguiu romper o noivado de Betsy, que se tornou histérica. A feiticeira advertiu que atormentaria John até o fim de sua vida e, para alcançar seu objetivo, pôs mãos à obra. No dia 19 de dezembro de 1820, o fazendeiro foi encontrado em sua cama, em estado de coma. O médico chegou a tempo para ouvir a bruxa gritar: "É inútil cuidar do velho John, ele nunca irá se levantar desta cama!". Revirando a farmácia familiar, o médico encontrou um frasco não etiquetado, contendo ainda um terço de um líquido colorido. À pergunta do médico, a feiticeira respondeu: "Eu mesmo o pus aí e dei ao velho John uma forte dose enquanto ele dormia". O médico testou o líquido no gato da casa, que estirou-se e morreu. Então, o médico teve um gesto que tornou esta história para sempre inacabada: atirou o frasco no fogo... O episódio do gato pode ser posto em dúvida, pois, apesar do desgastado clichê

literário, "venenos fulminantes" são excepcionalmente raros. O ácido cianídrico é um deles. É bastante fácil de preparar, mas conserva-se mal, não podendo ser guardado. Teria a feiticeira assaltado a farmácia local? Ou então, agindo em estado de transe, não teria a própria Betsy feito o que era necessário? O médico acompanhava a família e a feiticeira desde o princípio e poderia saber, ou adivinhar, a verdade. Ele poderia ter julgado que já bastava uma vítima, à qual seria inútil acrescentar uma outra, perfeitamente inocente, mas designada para isto. Retomemos o relato dos acontecimentos. Na manhã seguinte, John Bell morreu sem recobrar a consciência. Para festejar sua vitória, a feiticeira cantava alegremente. Mas, logo em seguida, sua força maléfica enfraqueceu consideravelmente e suas respostas tornaram-se confusas. Tendo sido desfeito o complexo que unia a filha ao pai, o poltergeist deixava de ser alimentado. Algum tempo depois, numa noite da primavera de 1821, durante o jantar, a família ouviu, dentro da lareira, um estrondo semelhante a um tiro de canhão: algo havia penetrado na sala e explodiu, mas sem ferir ninguém. Uma voz gritou: "Eu vou embora! Estarei ausente por sete anos". A bruxa cumpriu sua promessa. Em 1828, diversos barulhos manifestaram-se na casa.De comum acordo, todos decidiram ignorálos. Antes de desaparecer, a voz anunciou que retornaria em cento e sete anos. Entretanto, seja por ter ela superestimado suas próprias forças ou sua longevidade, seja por ter-se desinteressado do caso, a feiticeira não voltou mais a manifestar-se na casa que cento e sete anos depois ainda pertencia à família Bell. Assombração benévola - caso Mamtchitch - Drury Lane Neste caso, estudado por Aksakof no final do século passado, uma morta apareceu durante anos a um magistrado russo, Sr. Mamtchitch. Uma jovem, de nome Palladia, tinha sido entregue ao convento por sua mãe, na ocasião da morte súbita de seu marido. O magistrado, ajudado pelo irmão de Palladia, conseguiu arrancá-Ia do convento, mas a adolescente, então com quinze anos, era tuberculosa e morreu, de uma ruptura de aneurisma, em 1873. Três anos mais tarde, ele começou a ver o fantasma de Palladia, que lhe aparecia cerca de três vezes por semana. Ela tinha sempre a aparência calma e estava vestida com a roupa que usava no momento de sua morte. A duração da aparição era de dois a três minutos e ele era sempre o único a vê-Ia. A cada aparição, Mamtchitch perdia a fala, empalidecia, lançava um grito e sua respiração parava. Em 1879, como Palladia aparecera sentada tranqüilamente sobre a

mesa na qual trabalhava, ele decidiu dirigir-lhe a palavra: "O que você sente agora?". Seus lábios não se moveram, mas ele ouviu claramente uma voz pronunciar a palavra "quietude" . Em 1885, ou seja, doze anos após sua morte, Palladia apareceu-lhe, desta vez não com o pequeno sorriso que tinha algumas vezes, mas realmente alegre, e, aproximando-se, disse: "Eu estive, eu vi", e, sempre sorrindo, desapareceu. Na noite do mesmo dia, uma moça que estava na casa deles contou-lhe que, de manhã, sentira que alguém estava à cabeceira de sua cama e ouviu uma voz que dizia: "Não tenha medo de mim. Sou boa e amorosa". Voltando a cabeça, não viu nada. Um ano depois, Mamtchitch casou-se com esta jovem que via então pela primeira vez. Ainda cinco anos mais tarde, em 1890, Palladia surgiu diante dele quando estava com seu filho, Oleg, de dois anos. A criança viu a aparição, e, apontando-a com o dedo, disse: "A senhora". Não era, portanto, uma alucinação! Mamtchitch revelou também que, cada vez que via o fantasma, seu cachorro vinha para junto dele, aterrorizado. Os acessos de estranha fraqueza que acometiam Mamtchitch cada vez que via a aparição, mesmo quando estava em numerosa companhia, excluem a invenção pura e simples. As reações da criança e do cachorro mostram qqe não se tratava de uma alucinação. O estado no qual Mamtchitch se encontrava, então, parece-se muito com o dos médiuns de materializações. Sem dúvida, era ele o autor dos fenômenos inconscientes, inicialmente desencadeados pelo choque da morte súbita de Palladia sob seus olhos. Todavia, esta explicação não contradiz a tese espírita, pois ele poderia até mesmo fornecer uma certa matéria para a materialização, mas esta era animada pelo espírito de Palladia, sempre ligada ao seu benfeitor. Se uma assombração benévola manifesta-se como uma atividade simpática do além, é nesta categoria que podemos classificar certos fatos que acontecem no palco do teatro londrino de Drury Lane, onde continua a aparecer o célebre fantasma do Homem de Cinza. Estes fatos me foram comunicados por George Hoare, arquivista e especialista na história do teatro. Drury Lane especializou-se em grandes espetáculos de comédia musical. Várias comediantes relataram ter sido guiadas no palco por mãos amigáveis, para melhores colocações, durante os primeiros ensaios. Betty Jo Jones, comediante americana, foi assim guiada para a parte de baixo da cena, o que melhorava o conjunto da peça. No dia seguinte, ela viveu novamente a mesma experiência, e, tendo voltado para seu novo lugar, o invisível diretor deu-lhe um amigável tapinha de encorajamento nas costas. A cantora Doreen Duke, que se apresentava em O Rei e Eu, foi assim dirigida por

duas mãos que pousavam em seus ombros e a guiavam no palco. Várias vezes, elatambém sentiu um tapinha de encorajamento. Assim como Betty Jo Jones, ela está certa de que estas manifestações não fazem parte deste mundo. Feliz teatro este, no qual, além de quatro fantasmas diferentes, vistos por várias testemunhas, os antigos comediantes ou diretores ainda continuam a ajudar seus colegas vivos, a partir do outro mundo! Na realidade, a visibilidade da entidade que "assombra" é secundária: ela compete à percepção, e não à existência da aparição. Esta pode permanecer invisível aos olhos normais, mas ser perfeitamente percebida pelos animais e pelas crianças pequenas, agentes com poderes maravilhosos, no entanto sistematicamente negligenciados nestes estudos. O hábito pode também ter o seu papel na aquisição de uma percepção do além. Temos vários casos de enfermeiras que, de tanto velar os que estão morrendo, acabaram por ver aqueles que vinham para acolher o recém-chegado. A verificação dos fatos utiliza o testemunho daqueles (numerosos) que morrem em plena consciência dando os nomes das pessoas, que a enfermeira pode depois identificar através de fotos. Em outro relato, consta que a Sra. McLaughlin foi morta num bombardeio de Londres, em 1944. Seu marido, acometido de câncer, estava sendo cuidado por sua filha. Na véspera de sua morte, esta falava com ele quando o viu virar a cabeça, sorrir e dizer: "Eu não vou demorar, minha querida". Eis o que conta sua filha: "Meu pai morreu na manhã seguinte. Meu filho de três anos, nascido após a morte de minha mãe, estava no andar térreo, esperando poder visitar o seu avô. Quando o levei para a sala de estar, ele me disse, de repente: 'Mamãe, não gosto daquela senhora que suoiu para ver o vovô. Ela não me deixou ir com ela'. Ninguém havia subido. A criança só poderia ter visto a própria avó.” Assombração consciente No caso seguinte, embora não tenha matado ou tentado matar ninguém, o espírito declarou-se pronto para passar aos atos. A antiga taberna Bird Cage, de Thame, em Oxfordshire, tem uma espécie de torre de dois andares, a qual, segundo a tradição, teria servido de prisão. Daí o nome do local, "gaiola de pássaro". Segundo uma outra versão, lá se trancavam leprosos, aos quais se passavam a comida através das grades com um bastão. Quando o Sr. e a Sra. Neville recuperaram a estalagem, constataram pancadas sonoras nas paredes, manifestação comum de poltergeists - aqui sob forma remanescente. Além disso, sentia-se, às vezes, uma horrível presença.

Um cliente importunava, com brincadeiras a esse respeito, a Sra. Neville, que servia no bar, quando uma caneca de cerveja soltou-se do prego, elevou-se no ar e veio bater na nuca da Sra. Neville. O trajeto deliberado da caneca foi perfeitamente observado por vários consumidores, sendo que um deles, apavorado, fugiu correndo. Os raps e a sinistra presença acabaram por aterrorizar as crianças. Na Inglaterra, onde o fantasma é tão conhecido quanto qualquer pessoa, costuma-se tratá-Io racionalmente, como uma pessoa (que é) e capaz de compreender (o que acontece). Isto é sempre mais inteligente do que tratá-Io como a uma incompreensível calamidade, com exorcismo, policiais, feiticeiros e espingardas carregadas de chumbinhos. A Sra. Neville, então, subiu ao quarto que havia no alto da torre e, dirigindo-se ao espírito, falou-lhe durante uma meia hora. Disse-lhe que compreendia bem que ele não era feliz, queixou-se também, e, insistentemente, pediu-lhe para não assustar as crianças. Depois disto, a presença do espírito continuou a fazer-se sentir, mas os raps cessaram, o que vem confirmar que é preciso tratar os fantasmas com humanidade e gentileza. Um grupo de investigadores (não espíritas) veio fazer sessões no quarto assombrado e combinou comunicar-se com o espírito através de pancadas. Ficaram sabendo, assim, que se tratava, de fato, de um leproso, que outrora estivera preso no Bird Cage, mas que havia sido apedrejado até a morte pelos aldeões, que não desejavam tal promiscuidade. Os pesquisadores do grupo ofereceram-se para ajudar o infeliz, se pudessem. Este recusou violentamente as preces. Ele não acreditava em Deus e odiava os homens. Não queria ser incomodado. Finalmente, ele lhes disse: "Sumam daqui, ou eu os mato!". E ele era perfeitamente capaz disto, basta lembrar da caneca de cerveja... O estado no qual se encontrava esta entidade que assombra o Bird Cage se parece estranhamente com o inferno cristão ou budista, revisto pela teosofia. Sem julgamento, sem Diabo e sem chamas, mas sendo a alma mantida num estado horrível, do qual não pode escapar. Na taberna The Grotto, em Marsden, Inglaterra, que tirou seu nome das vastas cavernas escavadas nas escarpas costeiras, bem debaixo dela e que foram outrora esconderijo de contrabandistas, um fantasma vem todas as noites para esvaziar um grande recipiente cheio de cerveja, que lhe é deixado. Se ele não encontra sua cerveja, revira os móveis. Ele foi um contrabandista, que roubou seus companheiros. Para se vingar, estes o colocaram numa cesta que podia ser erguida até o teto, muito alto, da caverna, por uma corda (servia para descarregar mercadorias no alto). O traidor então foi pendurado e deixado lá, bem no alto, para morrer de sede.

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AS CASAS ASSOMBRADAS Os fatos Numa escola para moças, em Folkestone, em 1879, começou a ser encontrada, todas as manhãs, na lousa, uma inscrição feita com giz: "Socorro, salvem-me!". Um professor trancou-se na sala durante a noite. Ele nada viu, mas, de manhã, lá estava a inscrição. Acabou-se por descobrir que uma das internas tinha dons psíquicos, como o de provocar estalos nos móveis. Após alguns testes, o fenômeno cessou. Um ocultista londrino, James Ward, pouco satisfeito com o resultado, decidiu estudar o caso sem levar em conta a lógica experimental. A pesquisa que ele desenvolveu revelou que, antes de 1879, havia no lugar da escola um convento, onde foi encerrada à força uma jovem religiosa, que lá morreu. Munido destas informações precisas, ele interrogou Elisabeth, a interna com dons paranormais: esta revelou-lhe que tinha freqüentemente o mesmo sonho, no qual ela usava um véu de religiosa e chorava na escuridão. Não era, então, um poltergeist provocado por Elisabeth, mas uma entidade consciente que utilizava a mente dela como intermediária. A não ser que se tratasse de recordações da vida passada, tendo a infeliz religiosa reencarnado na médium, que veio habitar, como pensionista, justamente o local de seu antigo suplício. O fantasma de Nathaniel Hawthorne O poeta americano Nathaniel Hawthorne trabalhava regularmente na biblioteca do Ateneu, em Boston. Na sala de leitura, o reverendo Harris, octogenário, vinha sempre ler o seu jornal. O eclesiástico morreu. Entretanto, no dia seguinte e durante semanas a fio, o poeta o reencontrava em sua cadeira habitual. Os outros leitores calavam-se. Depois de um certo tempo, o fantasma parecia aguardar a chegada de Hawthorne, como se estivesse esperando a oportunidade para entrar em comunicação com ele. Mas qualquer conversa era proibida na sala de leitura. Após algum tempo, o fantasma desapareceu. É um pena que Hawthorne não tenha solicitado o depoimento dos outros leitores, que poderiam ter visto o fantasma. Todavia, um detalhe confere a este testemunho isolado uma força singular. Hawthorne habitava uma casa assombrada, onde, segundo ele, sentia às vezes uma presença que passava pela janela, embora jamais tenha percebido nada. No entanto, seria fácil para ele "enfeitar" o caso, aumentando ou acrescentando detalhes, mas ele nunca fez nada disso!

O Homem de Cinza, fantasma do Teatro Real de Drury Lane Entre os numerosos fantasmas ingleses, um dos mais célebres é o Homem de Cinza, que assombra o não menos célebre teatro de Drury Lane. O fantasma é um jovem esbelto, alto, vestido de cinza. Ele veste uma capa, um chapéu de três bicos, botas de cavaleiro e leva um sabre à cinta. Geralmente aparece sentado na primeira poltrona da quarta fileira do balcão. A seguir, ele se dirige para a parte de trás da sala e desaparece na parede próxima ao camarote real. O fantasma aparece somente entre 10 horas da manhã e 6 horas da tarde, ou seja, em plena luz. Não emite qualquer som e move-se sem pressa, como habitué do local que é, sem dúvida. Interpelado, ele não responde. Se alguém tenta barrar seu caminho, ele se dissipa, para reaparecer mais adiante. De acordo com seus trajes, o Homem de Cinza vem do século XVIII. Ele usa uma peruca branca, a não ser que sejam seus próprios cabelos. Os pesquisadores que se interessaram por esta aparição pouco banal acham que este rapaz cortejava uma das atrizes, que era notada também pelo diretor. Seguiu-se uma briga, durante a qual ele foi apunhalado, sendo seu corpo rapidamente emparedado numa pequena passagem. Esta explicação fundamenta-se numa descoberta feita em 1848, quando pedreiros descobriram que uma parte da parede soava oco. A parede foi posta abaixo e encontrou-se um quartinho, ou parte de um corredor, onde jazia um esqueleto, coberto por alguns farrapos que ainda aderiam aos ossos. Entre suas costelas, estava enfiado um punhal de estilo cromwelliano. O local onde ele foi encontrado é exatamente o mesmo onde o fantasma costuma desaparecer. O inquérito judiciário não deu nenhum resultado. Não se sabe exatamente quem era a vítima, nem as razões do assassinato. Os restos mor tais foram enterrados no pequeno cemitério de Drury Lane, que em 1853 foi transformado num pequeno parque infantil, conhecido como Drury Lane Gardens. O arquivista e historiador George Hoare, que freqüenta o teatro de Drury Lane há trinta anos, enviou-me toda uma documentação a respeito e assegurou-me que o fantasma continua lá, e, por muito tempo continuará ainda, espera ele. Em sua carta, ele se refere ao fantasma como "nosso amigo". Utilizei seus artigos e notas para o meu texto. O número de pessoas que viram o Homem de Cinza é considerável. As horas durante as quais ele aparece são as dos ensaios. Numa ocasião, o fantasma atravessou a sala diante de toda a troupe: setenta artistas! O historiador do teatro, W. J. Macqueen Pope, o viu diversas vezes. Ele também foi visto nas seguintes ocasiões: em 1942 pelos oficiais dos Serviços Oficiais de Recreação

(Entertainment National Service Association, ENSA), ligados ao teatro durante a guerra; pelo ator de TV Henry Oscar, diretor da ENSA; em 1950, o comediante Morgan Davis observou-o por uns dez minutos num camarote, enquanto ele próprio estava no palco. Ele viu a figura levantar um braço e constatou que era parcialmente transparente, pois podia ver através dela a porta do camarote, iluminada, atrás da aparição. Morgan Davis nunca ouvira falar no Homem de Cinza antes. Este foi também o caso do enciclopedista Eric Rosenthal, que, alguns anos mais tarde, viu a mesma aparição. Por duas vezes, as equipes de investigadores de fenômenos paranormais permaneceram no local, mas nada de nítido puderam observar. Num dos casos, uma espécie de luz cinza-azulada foi observada no camarote real. Ela não tinha forma definida e não projetava qualquer sombra. É certo que, no único nível em que aparece o Homem de Cinza, encontram-se reunidas certas condições favoráveis à sua aparição. Seus sinais são os mesmos que durante sessões de materialização espírita. Em 1949, John Ellison, o célebre entrevistador da BBC, notou no teatro, onde o fantasma fora visto dois dias antes, uma "tensão psíquica muito nítida" , no nível em que costumava ocorrer a aparição. Um engenheiro da BBC sentia, lá, formigamentos por todo o corpo, enquanto outro tinha a sensação de que seus cabelos iam eriçar-se (indícios de angústia, mas também de tensão elétrica). Uma notável contribuição ao capítulo da detecção do Homem de Cinza na ausência de visibilidade foi fornecida por James, o gato do teatro. De caráter amigável e dócil, ele evita rigorosamente o nível onde circula o fantasma. Tentou-se levá-Io à força, mas ele começou então a miar com força e a debater-se furiosamente. O Homem de Cinza, em todo caso, torna mentiroso o provérbio que diz que os fantasmas dão azar. Este, não somente nunca assustou ninguém - ele só aparece em plena luz do dia - como, invariavelmente, traz sorte ao teatro. De fato, se for visto durante um ensaio, é um sinal certo de que a peça será um sucesso. Hoare cita uma longa série de peças, principalmente grandes espetáculos de comédia musical, que confirmaram esta regra. Por outro lado, não foi visto nos ensaios nem na apresentação de Pacific 1860, que, contra todas as expectativas, foi um fracasso. Um teatro britânico tão antigo como o Drury Lane, construído em 1663, possui pelo menos três outros fantasmas: o comediante Charles Macklin, o comediante Dan Leno e o empresário e também comediante Charles Kean. Estudo experimental de um fantasma in loco

Neste caso, um fantasma pôde ser observado e estudado à vontade durante sete anos. A Srta. Morton, uma estudante de medicina, mudou-se para uma casa assombrada. Ela via o fantasma: era uma senhora de alta estatura, vestida de preto, que percorria sempre o mesmo trajeto. Descia as escadas, entrava no salão, onde ficava algum tempo no vão de uma janela, percorria um corredor e depois desaparecia. Foi vista também circulando no jardim. Ela parecia-se muito com uma pessoa que havia ocupado a casa anteriormente. Durante sete anos, ela foi observada pela Srta. Morton, assim como por outras seis pessoas e ouvida por outras vinte. A Srta. Morton dedicou-se a uma série de experiências com o fantasma da dama de negro. Eis, aqui reunidos, os resultados deste estudo: - Os fios que eram estendidos nos locais de passagem do fantasma, pela Srta. M., permaneciam intactos. - A Srta. M. tentou, diversas vezes, iniciar uma ,conversa: o fantasma parecia perceber sua presença, mas nunca respondeu. Este é um ponto a favor da Srta. M.: se pretendemos nos relacionar com os fantasmas, o que já parece bem difícil, é preciso tentar, principalmente, tratálos com humanidade e gentileza. - O fantasma afastava-se sempre que se tentava tocá-Io. - Por uma ou duas vezes, a Srta. M. conseguiu encurralá-Io num canto: o fantasma, então, desaparecia. - Tentar agarrá-Io levava ao mesmo resultado. - O pai da Srta. M. nunca o via. - O gato parecia não percebê-Io. No entanto, os gatos detectam bem o corpo astral consciente e as presenças maléficas invisíveis. Eis um fato favorável à hipótese dos invólucros astrais, vazios de vida, das grandes assombrações. - O cão, outro detector "psi", agia como se visse alguém: ele se aproximava balançando a cauda, sentava-se, mas depois recuava, com o rabo entre as pernas, indo refugiar-se debaixo do sofá. Um outro cachorro foi encontrado várias vezes aterrorizado. A visão do cão no campo astral deve ter um alcance maior que o nosso. A reação dos cães, neste caso, é diferente da que eles têm diante de um morto, que não temem. Seria por uma questão de cheiro, tão importante para os animais? O cão teria medo de um morto que anda? Ou de um vivo que não tem cheiro? Nota sobre o poltergeist remanescente. Psicocinesia espontânea recorrente (RSPK) Vimos, nos capítulos precedentes, que os fenômenos de poltergeists podem formar uma série contínua, de acordo com suas prováveis causas. Numa das extremidades da série,

temos o inconsciente humano provocando, pancadas e, a seguir, exteriorizando-se para agir mais livremente, fora do corpo do médium. Mais adiante, podemos suspeitar da intervenção de entidades externas e, finalmente, sua atividade torna-se evidente, como no caso do leproso do Bird Cage. Todavia, em certos casos, certamente não há nenhum inconsciente para incriminar, nem entidade não humana para acusar dos fatos incompreensíveis. É assim nos dois casos seguintes, aliás pouquíssimo documentados. Trata-se de seixos voadores em locais desertos: o Songe Fjord na Noruega e a cratera vulcânica de Kintamani, em Bali. Como deveria haver, em sua origem, uma causa para estes deslocamentos de seixos, poderíamos ver aí o exemplo de uma ação remanescente. Os acontecimentos da rue des Ores e da rue des Noyers, já citados, seriam outros exemplos. Conhecem-se vários casos de casas que eram assombradas, não por um fantasma passivo e inofensivo, mas por entidades conscientes e maldosas ou rancorosas, que atacavam os ocupantes para expulsá-Ios, deixando suas intenções explicitamente claras.

15 ASSOMBRAÇÕES MARÍTIMAS

Podemos reunir aqui, sob este título, cinco grupos de fatos: 1. Um navio pode ser assombrado, da mesma forma que uma casa, por uma entidade que fica ligada a ele. É, por exemplo, o caso do Watertown. 2. Uma aparição pode manifestar-se em diferentes navios. Neste caso, ela assombra uma certa extensão marítima ou a marinha de uma certa nação ou de uma determinada língua: é o caso do capitão Ladylips. 3. A aparição pode agir de maneira consciente, como, por exemplo, tendo assumido uma missão. Este caso, mais conhecido entre as aparições terrestres, é raro entre as aparições marítimas. Citamos a Dama Branca. 4. Também consciente, a aparição pode ter sido provocada por um médium, em geral inconsciente. Nestes casos o médium sempre pôde ser identificado. 5. Finalmente, temos o caso de um navio assombrado por uma entidade consciente e maléfica. É uma infestação, análoga à do Bird Cage, cujo exemplo é dado pelo caso do Ivan Vassili. Os navios-fantasmas, sob certos pontos de vista análogos aos fantasmas das casas assombradas, formam um vasto assunto, que será tratado num outro volume. As aparições, que assombram os navios da mesma forma que assombram as casas terrestres, podem ser fantasmas passivos ou aparições deliberadas, com a diferença de

que elas assombram grandes extensões marítimas, deslocando-se com o navio assombrado. Por outro lado, os navios-fantasmas são, eles próprios, fantasmas, que assombram o próprio mar. O petroleiro Watertown, da Cities Service Co., partiu da Austrália para o Caribe. Durante a viagem, dois marinheiros, James Courtney e Michael Meehan, morreram asfixiados por vapor de gasolina e foram devidamente submersos nas proximidades da Califórnia. As cabeças dos dois mortos reapareceram sobre a água, flutuando como se fossem bolas, perto do costado do navio. Elas pareciam um pouco inchadas. Apareciam e desapareciam seguidamente, de modo que praticamente toda a tripulação pôde vê-Ias. Um relatório oficial foi redigido. Infelizmente, não havia aparelho fotográfico a bordo, na ocasião. Assim que o navio chegou ao canal do Panamá, as cabeças desapareceram. O capitão fez seu relato à direção, que remeteu-lhe um aparelho fotográfico. Assim que o navio entrou nas águas do Pacífico, as cabeças reapareceram dançando sobre as ondas. Suas dimensões eram variáveis, ora menores, ora maiores que o normal. Elas foram fotografadas e estas fotografias foram controladas. Nestas condições, não há ri-gorosamente nenhum efeito óptico que possa explicar o fenômeno. Estas bolsas flutuantes, de dimensões variáveis, mostram, primeiramente, que o fantasma dos mortos permanece ligado ao navio e, em segundo lugar, que o mar parece possuir uma entidade territorial que desempenha o papel de revelador, que torna a estrutura da aparição visível ao olho humano. Se uma tal estrutura não existisse, seria necessário saber sobre qual molde invisível ela volta a se formar, a cada vez. Enfim, a variedade das dimensões das aparições indica uma plasticidade do material visível. qualquer que seja sua natureza. No extremo oposto destas aparições inofensivas, eis o caso de uma assombração maléfica. Construído em 1897, o Ivan Vassili partiu do Báltico para Vladivostok com material militar. Uma aparição manifestouse a bordo: ela era nebulosa, vagamente luminescente e de forma humana. Sabe-se que os marinheiros são supersticiosos. mas esta entidade em particular inspirava um terror incontrolável. Houve pânico a bordo; um marinheiro saltou no mar e afogou-se. O navio partiu de Vladivostok para Hong Kong. Durante a viagem, houve dois suicídios e uma morte "de terror". O capitão Sven Andrist jogou-se ao mar pouco antes da chegada. Em Hong Kong, a tripulação desertou em massa e precisou ser substituída por chineses e marujos corajosos. O navio partiu novamente, para a Austrália. O trajeto foi marcado pelo suicídio do tenente Hanson e, ao chegar a Sydney, os homens desertaram novamente, com exceção de um, corajoso ou inconsciente. O navio assombrado, mais uma vez, retomou a viagem, em direção a San Francisco. Durante a travessia, desta vez mais longa, do Pacífico, houve três pânicos

gerais, três afogamentos e, para coroar tudo isso, o capitão suicidou-se com um tiro na cabeça. Em San Francisco, não foi mais possível encontrar voluntários para embarcar. O Ivan Vassili ficou no porto, onde acabou por incendiar-se. A nebulosidade luminescente do Ivan Vassili seria um exemplo quase perfeito de um "demônio" . Para aqueles a quem repugna a idéia de uma entidade infernal, eu sugeriria uma outra linha de investigação: a aparição seria, talvez, tão inanimada quanto as cabeças flutuantes do Watertown, mas sua estrutura material - e ela era mesmo material, pois era visível! - emitiria automaticamente uma vibração numa determinada freqüência capaz de induzir no cérebro humano uma sugestão de terror (tal freqüência é conhecida). A terrível aparição do capitão Ladylips tem a particularidade de assombrar as marinhas britânica e americana, ou seja, de língua inglesa. Em 1783, como conseqüência de um naufrágio, o capitão e seus homens conseguiram lugar num bote equipado para a caça à baleia. Nestes botes, atualmente substituídos pelos botes lança-arpão acionados a partir do navio, o arpoador ficava na frente e o cabo ligado ao arpão ficava enrolado na parte de trás do bote. Quando a baleia era arpoada, mergulhava, desenrolando o cabo que passava em grande velocidade entre os remadores sentados dos dois lados do bote. Se, ao desenrolar-se, o cabo formasse uma laçada, esta passava entre os homens e, se, por acaso, uma mão ou um pé ficasse preso no laço, o homem, arrancado de seu banco com força irresistivel, seria arrastado para a água e se afogaria. Ao fim de um certo tempo, conseguiu-se arpoar um tubarão, mas ele mergulhou, uma laçada formou-se no cabo e agarrou o capitão pela mandíbula, que lhe foi arrancada. Vendo-se à morte, o capitão, cujo nome era Ladylips, ofereceu-se para ser comido e cortou as próprias veias com sua faca de marinheiro. O fantasma do capitão aparece, assim, com seu maxilar arrancado, a tez cadavérica e desprendendo um horrível cheiro de peixe podre. Entre suas aparições recentes, assinalamos a do destróier Stoddart, da marinha dos Estados Unidos e, para a marinha britânica, a do couraçado Iron Duke e a do navio Queen Elizabeth. Entre os fantasmas marítimos que se conseguiu fotografar, citamos um dos antigos comandantes da fragata Constellation, cuja relíquia é conservada no forte de Baltimore. O comandante foi identificado graças ao seu uniforme. Conhecida pelo nome Dama Branca, esta é uma aparição, e não um fantasma passivo, que se manifesta na marinlia. Ela possui a particularidade, rara nos fantasmas, de dirigir-se aos homens. O capitão Richard Brown, comandante do Usk, a viu em 1863, quando a Dama lhe declarou: "Volta, senão perderás teu barco e tua vida". Brown

obedeceu. Ele talvez tivesse perecido com o barco, mas a alternativa que escolheu custou-lhe seu brevê de capitão. A bordo do Jeune Mathilde, durante uma campanha na Islândia, os marujos ouviram gemidos de desespero, como se alguém estivesse dependurado no mastro da proa. O capitão, que já conhecia o fenômeno, disse aos jovens para não se inclinarem, pois havia perigo de morte, e para fingir que não ouviam nada. Parece que os mortos não gostam disso (Anatole Le Braz, Légende de Ia mort chez les Bretons armoricains). Nós não podemos explicar em detalhes o caso dos aviões assombrados. Trata-se dos aviões da Eastern Airlines, dos Estados Unidos, nos quais foram utilizados elementos de um Trisiar que havia caído em 1972 num pântano da Flórida. Nestes aviões, reaparecem os fantasmas de Bob Loft, piloto, e de Don Repo, mecânico-chefe do avião acidentado (pesquisa de John G. Fuller).

Quarta Parte OS PODERES DA MENTE

I. AS CAPACIDADES

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TELEPATIA (TP) A telepatia já foi descrita por Petrarca. Esta capacidade parece muito difundida: de acordo com C. Flammarion, uma pessoa em cada dez é capaz de telepatia. Apenas a agitação e o barulho da vida moderna nos impedem de nos apercebermos disto. A distância não enfraquece a transmissão TP. Experiências foram realizadas entre Londres e Nova York, entre Novossibirsk e Moscou e a partir da cápsula espacial Apolo XIV. A emissão atravessa às vezes paredes de aço compacto e já foi captada a partir de uma câmara hermética de chumbo, com as bordas mergulhadas em mercúrio (experiências soviéticas). Por outro lado, ela é enfraquecida pelo vidro (Chauvin). Todas estas características indicam que se trata de algo radicalmente diferente de uma emissão eletromagnética. Telepatia e sugestão Dentro do esquema clássico, a sugestão só cria alguma coisa na mente do sugestionado, sem que nada lhe corresponda no mundo real. Certos fatos, no entanto, permitem duvidar dos fundamentos desta concepção.

Em 1899, na Salpêtriere, Charcot convidou Flammarion a pegar um cartão em branco num jogo virgem, imaginar que seu retrato estava nele e recolocá-Io no jogo, após tê-Io marcado com um sinal invisível. Depois de embaralhar o jogo, Flammarion apresentou-se a uma hipnotizada, pedindo-lhe que procurasse ali o seu retrato. Ela o encontrou imediatamente, o que deixou o astrônomo cheio de espanto. É verdade que o hipnotizador estava lá, mas a alucinação era incontestável. A sugestão ficou ligada a um objeto material, misturado a outros, entre os quais não era possível distingui-Io. Portanto, algo material ficou preso a este cartão específico. Eis um outro fato estranho. Após se ter persuadido um hipnotizado de que uma folha de papel branco era a imagem de uma linda moça, entregou-se a folha a ele, que a pendurou acima de sua cama. Aproveitou-se sua ausência para virar a folha de cabeça para baixo. Entrando novamente no quarto, o hipnotizado exclamou imediatamente: "Quem foi o imbecil que virou a imagem?” A conclusão que se impõe é a de que a imagem sugerida não pode ser inteiramente imaginária, pois uma imaginação não pode ser virada de cabeça para baixo. Uma certa estrutura material liga-se, portanto, fisicamente, ao suporte, aparentemente virgem: o pensamento criou alguma coisa. Esta conclusão, que parece inevitável, é incompreensível dentro do esquema clássico. O que é certo é que a pretensão deste esquema clássico, a de explicar o mundo, está mal fundamentada. Transmissão a partir de submarinos submersos: Nautilus e URSS As experiências de transmissão telepática organizadas pelo almirantado americano a bordo do submarino Nautilus, em submersão prolongada, aconteceram entre os dias 25 de julho e 10 de agosto de 1959. A transmissão deveria atravessar o casco metálico do submarino e toda a profundidade da água do mar, sem contar a distância até a recepção em terra. Foram utilizadas cartas Zener. Todos os dias, um aparelho que embaralhava automaticamente as cartas entregava uma ao comandante, que a colocava num envelope, carimbado em seguida. O sujeito da experiência, conhecido pelo nome codificado de "tenente Jones", estava a bordo, numa cabine isolada. Só tinham acesso a esta cabine duas pessoas: o comandante, que entregava-lhe pessoalmente os envelopes, e um marinheiro encarregado de levar-lhe as refeições. A recepção das mensagens era feita em terra pelo "sujeito Smith", que estava também isolado, sob vigilância. As experiências ocorriam duas vezes por dia. Houve 70% de resultados positivos, sendo que a probabilidade era de 20%. Portanto, 50% dos acertos eram devidos à transmissão TP. Estes resultados nunca foram publicados oficialmente.

Os soviéticos fizeram experiências ao mesmo tempo que as do Nautilus, também a bordo de um submarino atômico, submerso sob o gelo polar. Estas experiências utilizavam um efeito de transmissão análogo ao que foi descoberto nas plantas (efeito Backster): foi levada para bordo uma ninhada de filhotes de coelho, que eram sacrificados em momentos diferentes. A mãe, que ficava em terra, conectada a vários eletrodos, acusava a recepção do misterioso sinal da morte de seus filhos. Os detalhes desta última experiência não foram publicados. Transmissão a partir da nave espacial Apollo Muito mais notáveis que as experiências precedentes são as que foram realizadas a bordo da Apolo XIV: havia também um casco estanque para atravessar, o vácuo absoluto e, principalmente, uma distância enorme separando o emissor do receptor. Os resultados foram publicados, mas não pelas fontes oficiais. Esta experiência, que constitui a incontestável demonstração da realidade da telepatia, foi realizada durante a missão ApoIo XIV, do dia 31 de janeiro ao dia 7 de fevereiro de 1971. O relatório geral encontra-se em "An E.S.P. test from Apollo XIV" (uma experiência de percepção extra-sensorial a partir da Apollo XIV), por Edgar Mitchell, no Journal of Parapsychology, voI. 35, no. 2, de junho de 1971. O procedimento consistia no envio das imagens das cartas Zener por Mitchell. Alguns destes envios eram programados com antecedência; outros não eram predeterminados, mas eram espaçados de quinze minutos entre um e outro. Procedeu-se, com as mesmas pessoas, a duzentas e sessenta e cinco tentativas prévias de recepção, que forneceram um desvio de + 13 e sessenta e seis êxitos (em vez de cinqüenta e três). As experiências em vôo comportavam duas séries, sendo uma no trajeto Terra-Lua e outra no trajeto de volta. Houve ao todo duzentas e setenta e cinco tentativas. Os resultados foram analisados independentemente por duas equipes: uma com Rhine e a outra com Karl Osis. Os resultados foram os seguintes: 1. O primeiro pode parecer inverossímil, salvo para aqueles que não ignoram os fenômenos de telepatia: os testes revelaram-se premonitórios, pois os resultados indicavam mais freqüentemente o resultado futuro do que aquele que estava sendo mostrado. 2. O sucesso, em cada dez mensagens, era de 37,5%, em vez dos 20% esperados, de acordo com a simples probabilidade, ou seja, não longe do dobro. É preciso insistir a respeito das condições extremamente severas desta notável série de transmissões TP. Já são de causar espanto as distâncias das transmissões realizadas em terra: de Londres a Nova York, de Novossibirsk a Moscou, o que consiste em vários

milhares de quilômetros. No experiência da Apollo, a distância, variável, era de várias centenas de milhares de quilômetros! O vácuo transmite bem as ondas eletromagnéticas, mas elas enfraquecem proporcionalmente ao quadrado da distância. No caso em questão, trata-se de alguma outra coisa, pois a TP ntravessa a gaiola de Faraday da blindagem metálica da cápsula (e dos submarinos) e não enfraquece com a distância. Transmissão telepática do homem ao animal O neurofisiologista Bechterev (1853-1927), operando em 1914 sobre o cão são-bernardo Lord, transmitia-lhe, por sugestão mental, quantas vezes devia latir. A experiência sempre dava certo, com a condição de não ultrapassar o número nove, senão o cão continuava latindo. A um outro cão podiam ser sugeridas seqüências mais complexas de operações, como, por exemplo, saltar sobre uma mesa, depois sobre outra, levantar-se sobre as patas traseiras e bater com a pata num determinado objeto. As experiências tinham êxito quando, depois de haver transmitido a sugestão, o experimentador se retirava. Este podia agir sobre o cão através de uma porta fechada. Bechterev trabalhou particularmente com o famoso adestrador de animais Wladimir Dourov (1863-1934), que abandonou completamente os antigos métodos de treinamento, baseados nas punições, utilizando apenas os reflexos absolutos e condicionados, assim como o contato mental. Este último procedimento permitiu-lhe adestrar animais originalmente considerados os mais refratários ao treinamento, como as raposas e os texugos. ...e ao vegetal As plantas reagem aos pensamentos e aos sentimentos do homem: são reações afetivas. O dossiê sobre a vida psíquica das plantas, relações que podem unir o homem ao vegetal e aplicações práticas destes fatos já é bem farto. Mencione-se aqui, a título de exemplo, uma planta equipada com um detector de mentiras, que reage com um sobressalto, evidentemente de pavor, se uma pessoa postar-se diante dela pensando fortemente em alguma intenção maléfica, tal como destruí-Ia. Cite-se também o grande selecionador americano Burbadge; que utilizou a persuasão para produzir, por exemplo, cactos sem espinhos, e, finalmente, que colheitas 30% superiores foram obtidas utilizando-se a música e a dança. Casos de transmissão telepática do animal ao homem

Um excelente exemplo desta participação do pensamento animal na telepatia é aquele do cão do escritor Rider Haggard. Certa noite, o escritor teve um pesadelo, no qual lutava desesperadamente pela vida, como se estivesse se afogando. Como ele emitia sons estranhos e horríveis, sua mulher acordou-o. Antes de conseguir responder-lhe, ele teve tempo de ter outro sonho: viu seu cão de caça negro, animal afável e inteligente, que atendia pelo nome de Bob, deitado entre os arbustos perto da água. A cabeça do cão formava um ângulo anormal com o corpo. O cão tentava falar com seu dono através de palavras, mas, não conseguindo, transmitia-lhe de maneira indefinível, a mensagem de sua morte iminente. Em seguida, tudo dissipou-se. A coleira do cão foi encontrada numa ponte de estrada de ferro não protegida e, seu cadáver, três dias depois. Parece que ele havia sido atropelado por um trem e atirado na água. A mente do cão fez tudo que lhe era possível para comunicar-se uma última vez com seu dono. E depois as pessoas se espantam ao ver, com tanta freqüência, os fantasmas acompanhados de seus cães! Um outro caso nos é fornecido por Nicolas Tesla. No início de sua extraordinária carreira, o genial inventor havia proibido a si mesmo toda vida pessoal, de modo a não conhecer nem mulheres nem discípulos. No entanto, ele mantinha misteriosas relações com os pombos. Entre estes, ele gostava particularmente de uma bela pomba branca, que retribuía-lhe o afeto. Certa noite, sua janela estando aberta, um pombo pousou sobre sua mesa de trabalho. Tesla quis adormecer de novo, mas sentiu que o pássaro o chamava. Ele então levantou-se e viu a sua pomba branca. Esta lhe comunicava telepaticamente que iria morrer. De manhã, o pássaro ainda estava sobre sua mesa, mas estava morto.

17 CLARIVIDÊNCIA

(lucidez, criptoscopia, visão além da telepatia, segunda visão, vidência) Pode-se ver sem os olhos, ouvir sem os ouvidos. Não por uma hiperestesia dos sentidos da visão e da audição - pois as observações provam o contrário -, mas através de um sentido interior, psíquico, mental. A esta declaração de C. Flammarion (L'Inconnu) acrescentamos que as formas visuais ou. auditivas de que são revestidas as percepções extrasensoriais provêm da faculdade geral da mente de traduzir o conhecimento puro em formas que lhe são geralmente reveladas pelos órgãos dos sentidos, entre os quais a audição e a visão ocupam um lugar preponderante.

As ocorrências de percepções sem a ajuda dos órgãos dos sentidos são inumeráveis. Encontra-se um excelente exemplo na Encyclopédie de Diderot, de 1778, no artigo "Sonambulismo". O termo designava, então, a faculdade de andar durante o sono. O responsável por esta história é o arcebispo de Bordeaux, que, ele mesmo, contou-a ao enciclopedista. Quando ainda estava no seminário, ele lá conheceu um jovem eclesiástico sonâmbulo, o qual, adormecido, levantava-se, pegava papel, compunha e escrevia sermões. Curioso, o futuro arcebispo ia todas as noites ao quarto do padre, para observar as manifestações desta "doença". Terminada a página, o padre a relia em voz alta e, se alguma parte o desagradava, ele a riscava e acrescentava o que era preciso, corrigindo as concordâncias, se necessário. A redação, a releitura e as correções eram feitas com os olhos fechados. A testemunha tentou interpor um cartão entre o papel e o rosto do sonâmbulo, para assegurar-se de que este realmente não fazia uso da visão. O padre continuava a escrever, sem aperceber-se de nada. Victor Hugo foi convencido da realidade do fenômeno pela bemsucedida tentativa de leitura de um texto oculto, realizada pelo famoso médium Alexis. Este indicou, além do próprio texto, curto, a cor do papel e a brochura da qual Hugo havia extraído a folha (Henri Delaage, Les Mysteres du magnétisme). Na casa de Alexandre Dumas, na presença de várias testemunhas, o mesmo Alexis conseguiu ler livros fechados e cartas seladas. A ata relatando o acontecido foi assinada pelo escritor e pelos assistentes. Alexis também descreveu para Dumas uma quantidade de detalhes sobre os objetos que lhe pertenciam e sobre os lugares em que Dumas vivera, em Tunes, que o médium não conhecia. Esta sessão foi descrita, com detalhes, na imprensa do dia 17 de outubro de 1847. Na polêmica que se seguiu então, tentou-se ridicularizar os signatários, afirmando que Robert Houdin produzia as mesmas maravilhas todas as noites no Palais Royal. No entanto, o ilustre prestidigitador atestou ter examinado Alexis e que estes fenômenos não poderiam ser produzidos por nenhum dos meios relevantes à sua arte. Ele descreveu, em carta ao marquês de Mirville, uma partida de cartas entre ele e Alexis, na qual este indicava quais seriam as cartas ainda não viradas e aquelas que iriam sair. Mesmo de olhos fechados, Alexis jogava cartas melhor do que um não-vidente. Ele foi estudado também por Charles Richet. Solicitado para tentar localizar um funcionário da casa de penhores que desaparecera com grande quantia em dinheiro, Alexis indicou, sucessivamente, as cidades de Paris, Bruxelas e Spa, nas quais o ladrão perdeu tudo no jogo. Ele foi preso exatamente como havia previsto o médium. O médium também jogava cartas com os olhos cuidadosamente vendados. Jogou assim

dez partidas: ele via as cartas e freqüentemente dizia quais eram. Não se tratava de reconhecimento ao toque, pois ele nomeava também as cartas de seus adversários. Observava-se um silêncio total, o que excluía toda possibilidade de conivência com um eventual comparsa (Dr. Frappart, Lettres sur te magnétisme, 1840). Alice, uma sensitiva não profissional, viu e descreveu, com profusão de detalhes, o desenho de uma moldura que lhe foi apresentado dentro de um envelope fechado por Héricourt, um amigo de Richet. Mas ela descreveu também, dentro da moldura, a imagem de um oficial: era a de Héricourt, tal como estava representado dentro da moldura real, que estava em sua casa. A leitura através de envelopes duplos e triplos foi repetida centenas de vezes, especialmente entre 1820 e 1860 e, em 1831, diante de uma comissão da Academia de Medicina. A telepatia pode ser descartada através de procedimentos elementares. Crookes colocou-se entre o médium e a mesa e colocou o dedo sobre o jornal que estava atrás dele. O médium leu corretamente a pala vra escondida por seu dedo. Em 1870, Camille Flammarion recebeu da princesa Carolath o re lato de um sonho, no qual, preocupada com uma pessoa querida, ela a via deitada num cômodo octogonal, atapetado de damasco vermelho. Na cabeceira da cama havia um quadro representando o Cristo coroado de rosas por um gênio celeste, com versos de Schiller, que a princesa pôde ler. Dois anos mais tarde, convidada para ir a um castelo na Hungria, ela reconheceu o cômodo, inclusive o quadro, que jamais havia sido copiado nem reproduzido, e que ela, portanto, só poderia ter visto em sonho. Os fatos eram anteriores à carta uma dezena de anos. Eis o relato da Sra. Sidgwick, que fez experiências com a mulher de um mineiro de Durham, chamada Jane (Annates des sciences psychiques, 1891, no. 280): O Dr. F., que magnetizava Jane, avisou a um de seus clientes, o Sr. Eglinton, que ia tentar fazer com que Jane dissesse o que este Sr. faria à noite, entre 8 e 10 horas. Jane disse: "Eu vejo um senhor muito gordo, ele tem uma perna de pau e não tem cérebro. Ele se chama Eglinton, está sentado diante de uma mesa onde há uma gar rafa de brandy, mas ele não bebe". Este resultado é impressionante, pois Eglinton, que era muito ma gro, havia posto na cadeira um manequim, coberto com muitas roupas para que parecesse corpulento, e, sobre a mesa, colocara uma garrafa de brandy. J. Maxwell (Les Phénomenes psychiques) cita o caso da Sra. Agullana, vidente profissional. Adormecida, ela fez uma "viagem" até a casa de M. B. e o viu semivestido, andando descalço sobre pedras (era tarde da noite). Interrogado no dia seguinte, M. B. relatou que não se sentira muito bem e, a conselho

de um amigo, tentou o método Kneipp. Para fazê-lo, ele devia andar descalço sobre os primeiros degraus da escada de pedra. Uma inglesinha de três anos, que fazia suas preces noturnas, recusou se a rezar para o feliz regresso de sua avó, em sua viagem de volta da Rússia. "Eu não rezarei, esta noite, para que minha avó chegue em boa saúde, porque ela já chegou". Respondendo às perguntas que lhe fizeram, ela disse que havia visto o navio no porto e que sua avó ia muito bem, o que era verdade. O fato chamou a atenção de sua mãe, que acres- centou que a capacidade de visão a distância era dom de família, sendo que ela mesma havia visto, desta maneira, a explosão sucedida a bordo do Great Eastern (Daily Telegraph, 23 de agosto de 1906). Ingo Swann, artista de Nova York e um sensitivo de experimentos "psi", foi estudado, no Instituto Stanford, por Targ e Puthoff. Eles certificaram-se, principalmente, da constância das faculdades de Ingo. Em uma das experiências, os objetos que ele deveria descrever estavam escondidos num baú de madeira com fechadura. Ingo descreveu tudo e disse: "Vejo uma coisa pequena, mas que está bem viva e até se move!". Era uma mariposa. Targ e Puthoff conseguiram descartar o elemento telepático, confirmando assim a vidência pura de Ingo. Com este objetivo, uma equipe circulava de carro, enquanto Ingo ficava no Instituto Stanford com o controlador. O lugar para onde a equipe deveria ir era escolhido ao acaso pelo diretor do Serviço de Informação do Instituto. Os homens da equipe, vigiando-se mutuamente, iam até lá de carro, portanto sem contato com Ingo nem com o controlador. A seguir, a equipe retomava e levava o sensitivo, que podia, assim, comparar sua visão com a realidade. O emparelhamento às cegas dos resultados era feito, portanto, por uma pessoa independente. Os duplos resultados eram em seguida apresentados a um juiz, que também ia ao local indicado como alvo, para verificar . O Izvestia do dia 14 de junho de 1987 relata o caso de Julia Vorobyeva, uma operadora de guindaste de trinta e sete anos que recebeu uma descarga de 380 volts, ficou em estado de coma durante duas semanas e passou mais duas com dores de cabeça terríveis e insônia total. Após sua melhora, ela repentinamente adquiriu o dom de ver o estado patológico dos órgãos internos das pessoas. Passou a receber os doentes, fazendo assim diagnósticos infalíveis. Ela passou também a ver a radiação infravermelha, os defeitos do solo debaixo do revestimento da estrada, etc. Vorobyeva foi estudada por vários cientistas, médicos e físicos, que constataram suas capacidades e desejaram estudá-Ias e utilizá-Ias racionalmente. Eis um outro fato para engrossar este dossiê. O Bulletin de Ia Société minéralogique de France de 1937 descreveu, com o apoio de fotografias, cristalizações da naftalina na

essência de terebentina, dentro de vidros de relógio. A experiência é clássica: a naftalina dá, após a evaporação da essência, uma cristalização em raios que se formam a partir de um centro. O pesquisador utilizou a essência de terebentina obtida a partir das amostras de resina retiradas de árvores individuais. Quimicamente, a essência é um hidrocarboneto de fórmula simples e única, cujas propriedades estão descritas em todos os manuais. Ora, a despeito dos manuais, descobriu-se que a cristalização dependia da árvore. Os dois resultados mais espetaculares foram que, por um lado, a terebentina obtida a partir de uma árvore torta fornecia uma cristalização em espiral e que, por outro lado, uma árvore com tronco duplo fornecia uma figura que possuía dois centros de cristalização. Este trabalho, fácil de reproduzir, passou despercebido. Ele destoa no meio universitário. Uma ciência que tem pretensões à universalidade tem o dever de responder às perguntas. A homogeneidade não pode ser assegurada à custa de exclusões dogmáticas. O Dr. Pfeiffer descobriu (colégio médico Hahnemann, da Filadélfia) uma reação análoga de diagnóstico das doenças a partir das figuras formadas pela cristalização do cloreto de cobre com a adição de uma gota de sangue. Na realidade, nestes dois fatos, trata-se da influência exercida por uma estrutura complexa (árvore, homem) sobre um de seus constituintes simples, que, de acordo com a nossa química, não são mais ligadas ao conjunto. A experiência mostra que, contrariando os conhecimentos clássicos, estes constituintes conservam uma sutileza suficiente para escapar ao clássico mas real o bastante para influenciar as cristalizações. Estudo sistemático da vidência pela escola de J. B. Rhine O estudo dos fenômenos misteriosos dependeu durante muito tempo da participação obrigatória de médiuns, os únicos capazes de provocar estes fenômenos. O grande mérito de J. B. Rhine foi o de eliminar o médium, o que renovou os estudos neste campo. A grande idéia de Rhine foi ele ter postulado que todos os indivíduos possuem, numa proporção talvez menor que a dos médiuns, as mesmas capacidades. No caso de ensaios numericamente mensuráveis, tais como a adivinhação do baralho Zener, a proporção de êxitos de um amador será tão pequena que permanecerá indiscernível, no meio dos inevitáveis erros de experiência. No entanto, repetindo-se o ensaio um grande número de vezes, este pequeno excesso, se constantemente repetido, terminará por formar um

indiscutível excedente no meio das flutuações. Em matemática, este excedente recebeu o nome característico de valor significativo. Quando o número de tentativas aumenta, as dispersões devido ao acaso tendem para seus valores teóricos, ou seja, as medidas não deturpadas por erros sistemáticos tendem para o valor teórico verdàdeiro. Porém, se um pequeno efeito sistemático, tal como uma influência paranormal, existe, seu valor relativo permanece constante e acaba por destacar-se das flutuações, sob forma de uma constante que avalia o efeito. O desvio, que poderia ser devido ao acaso para um pequeno número de observações, torna-se perfeitamente significativo para uma quantidade elevada. Os trabalhos de Rhine começaram em 1930, na Universidade Duke, onde ele era professor de psicologia (e onde uma cadeira de parapsicologia foi fundada em seguida). Rhine utilizou um jogo de vinte e cinco cartas, trazendo cinco símbolos, cada um deles repetido cinco vezes (estrela, retângulo, cruz, círculo e linhas onduladas), que foram chamadas baralho Zener. O primeiro resultado global foi publicado em 1934, três anos após o início das experiências (Extrasensory Perception). O melhor sensitivo de Rhine, ao fazer os testes, obteve, sobre setecentas tiragens de vinte e cinco cartas, uma média de 8, em vez de 5. A probabilidade de obter tal resultado ao acaso é representada por 1 sobre 10 elevado à potência de 1.400. Este desempenho, por si só, serviria para excluir o acaso e estabelecer a vidência como uma realidade. Para proteger-se de todas as críticas possíveis e, especialmente, para derrubar a acusação de ter selecionado os resultados, Rhine reuniu todos os trabalhos efetuados com as cartas Zener durante esses três anos, incluindo até mesmo as séries preparatórias e de controle, cujo resultado era nulo (cinco em vinte e cinco). A média assim calculada era de sete respostas certas em vinte e cinco, em mais de oitenta e cinco mil provas (p = 6.10 elevado a -4). Em seguida, Rhine registrou numerosas séries excepcionais. O recorde de vinte e cinco cartas adivinhadas (em vinte e cinco) foi batido quando ele desafiou um de seus melhores sensitivos a fazê-Io. Note-se que ele lhe havia prometido cem dólares em caso de êxito. Uma vez que estas experiências, que modificaram toda a orientação dos estudos de parapsicologia, foram retomadas com cartas e desenhos variados no mundo inteiro, onúmero de séries desse colossal con junto de pesquisas situa-se atualmente na considerável faixa de vários milhões. As precauções mais extraordinárias foram tomadas à medida que surgiam críticas. Trabalhou-se especialmente com incrédulos, cujas taxas de êxito foram as mesmas. Rhine suspendeu estas experiências após vinte anos, quando já não havia mais o que fazer.

Os cegos que vêem A visão na ausência dos olhos pode chegar até uma definição mais ou menos perfeita. Este era o caso de J. Goodfield, descrito no Psychical Reserch de outubro de 1931, que jogava baralho. Ele tinha certa dificuldade para trapacear, pois já não tinha a visão física. Sendo a vidência hereditariamente transmissível, pode-se esperar que, numa população, este fato possa desempenhar um certo papel social. É, efetivamente, o caso das ilhas Hébridas, ao norte da Escócia, onde se encontram velhos cegos que, após um certo treino, conseguem enxergar o suficiente para não se tornarem totalmente inválidos devido sua deficiência. Influência da distância sobre a transmissão "psi” Sabia-se, há muito tempo, que a ação "psi" independe da distância. Os radiestesistas que trabalham com mapas registram resultados sensivelmente idênticos, quer o terreno prospectado esteja diante de suas casas, quer do outro lado da Terra. Em 1980, Spirkine, operando com a médium Djourna Davitaschvili, submeteu este fenômeno a um controle rigoroso. A transmissão era feita entre Novossibirsk e Moscou, a uma distância de 4.000 quilômetros. O transmissor era colocado num laboratório blindado e antimagnético. O "paciente", permanentemente ligado a um eletrocardiógrafo e a um eletroencefalógrafo, ignorava o momento da intervenção. Durante as longas séries de experiências, Djourna conseguiu agir sobre seis dos dez eletrocardiógrafos, influenciando o ritmo cardíaco. No caso dos eletroencefalógrafos, ela registrou nove sucessos em dez. Enfim, operando ainda a 4.000 quilômetros e sem o conhecimento do "paciente", ela provocou o aparecimento, no braço deste, de um estig-ma vermelho, semelhante a uma queimadura de primeiro grau. O controle destas experiências era muito severo e comportava contratestes. A comparação destes resultados com aqueles que são obtidos normalmente em laboratório, a uma distância de alguns metros ou dezenas de metros, assim como o isolamento elétrico e magnético, são provas suficientes de que a transmissão utiliza um canal totaltnente diferente das ondas eletromagnéticas. A ciência oficial, no qúe diz respeito à transmissão, só conhece a ação material*'ou a radiação eletromagnética, que engloba todas as radiações não corpusculares conhecidas. Podemos entrever toda a importância da revolução decorrente do advento de um tipo de onda diferente e, talvez, de algo mais além das ondas. Vários fenômenos paranormais deixam entrever a existência de

radiações que parecem radicalmente diferente das radiações eletromagnéticas conhecidas da ciência clássica. Aplicação da vidência à pesquisa científica O grupo Möbius, fundado em 1976 por Stephen A. Schwaitz, ocupa-se de selecionar médiuns com vistas à sua utilização na arqueologia. Salientamos que Möbius estudou uma superfície que, entre outras espantosas propriedades, tinha um lado só, (1) sendo virada paradoxalmente sobre si mesma. Esta superfície, portanto, simboliza bem a pesquisa "psi" - temporal. O grupo Möbius tem como créditos a seu favor a descoberta de sítios arqueológicos importantes na América Latina, Estados Unidos e Oriente Médio. Eles também localizaram centenas de objetos afundados no mar, a profundidades de até 900 metros. Eis, a título de exemplo, o relato da expedição organizada pelo grupo Möbius no sítio de Maréa, no Egito. A expedição compreendia arqueólogos, parapsicólogos, diversos meios de controle e dois sensitivos treinados em psicometria: George McMulIen, que exumou para o Dr. J. Norman Emerson vestígios proto-índios na América do Norte, e Hella Hammid, que havia sido estudada anteriormente por Puthoff e Targ. O museu do Cairo enviou, com urgência, o célebre egiptólogo Fauzi Fakarami para assegurar um controle especial. Os dois sensitivos foram deixados no deserto, sem ter recebido a menor instrução. McMulIen indicou, em pleno deserto, um conjunto de ateliês bizantinos enterrados. Ele desenhou sua planta na areia, com o pé. HelIa Hammid, após alguns dias de adaptação ao calor, descobriu também, em pleno deserto, uma necrópole desconhecida.Muitas outras tentativas ocorreram na pesquisa científica. Que tentação a de poder resolver problemas sem laboratório, sem sujeitos nem amostras e sem instruções! É muito mais arriscado, no entanto, buscar, através de tais procedimentos, informações que não podem ser verificadas em objetos materiais, tais como as cerimônias ou os conhecimentos teóricos do passado, pois, na ausência de verificações, poderíamos perder-nos nessas criações psíquicas irreais. Numerosos místicos aí se perderam (por exemplo, Santo Yves d'Alveydre, que dedicou inúmeros trabalhos à reconstituição de uma história rigorosamente fantasiosa da humanidade). 1. Para fazer uma fita de Möbius, pegue uma tira de papel e cole as duas extremida-des, após ter torcido uma delas com meia volta. Se fizermos um risco contínuo na tira com um lápis, poderemos verificar que ela, de fato, tem um lado só. Recortando a tira

no sentido do comprimento, ao meio ou a um terço da largura, você verá outras maravilhas. (N. do A.) Edgar Cayce Edgar Cayce (1877-1944) foi um dos mais dotados videntes de nosso tempo. Ele foi estudado e descrito em numerosos trabalhos e seus escritos foram conservados e continuam a ser explorados por uma instituição que lhe é dedicada. De inteligência medíocre, foi mal nos estudos. Seus dons particulares lhe foram concedidos por uma voz que se fez ouvir quando ele ainda era jovem. Quando em estado de transe hipnótico, Cayce assumia um tom de voz professoral, designava-se por "nós" e começava sempre seus diagnósticos "médicos" pela fórmula: "Nós vemos o corpo". Foi aplicando este método que Cayce, sob hipnose, curou-se de uma laringite crônica, sugerindo restabelecer a circulação numa região da glote em contração nervosa. A medicina clássica assumiu sua derrota diante deste caso de cura em poucos minutos. Mais tarde, atingido por uma bola de beisebol na nuca, ele foi levado para casa em coma. Logo que voltou a si, ordenou que se fizesse um cataplasma de ervas e cebola crua, após o que caiu num sono normal e acordou curado. Comentário do pai de Cayce: "Garoto danado, ele pode fazer tudo quando está dormindo!” A atividade médica de Cayce começou por sua própria cura e prosseguiu tanto por curiosidade como por necessidade material. Saindo do transe, ele não se lembrava de nada, mas seus diagnósticos eram fielmente registrados. Todas estas anotações foram conservadas, totalizando trinta mil casos. Elas são citadas como "leitura de saúde", tradução ruim do termo inglês que quer dizer "exposição". Destas "leituras", nas quais Cayce certamente e facilmente sobrepujou a medicina clássica, extraímos três casos: Uma jovem mulher foi internada, tendo como causa alienação mental. Cayce descobriu que um dente do siso bloqueado comprimia o nervo que comandava um centro nervoso do cérebro. A extração do dente foi seguida pela volta ao normal da doente. Aimée Dietrich, de dois anos, teve uma gripe complicada, seguida de convulsões e que acabou atingindo o cérebro. O desenvolvimento da garotinha parou, como conseqüência desta afecção rara, de conseqüências fatais. Cayce achou que, anteriormente à gripe, ela havia sofrido uma queda, que provocou uma infecção no local traumatizado. Cayce recomendou uma intervenção osteopática. Três meses mais tarde, Aimée havia recuperado uma saúde perfeita. O terceiro caso apresenta uma situação médica desesperadora, um diagnóstico

impossível de estabelecer por vias normais e um tratamento inexplicável, que funcionou. Tudo isto num paciente terminal. Em março de 1938, Cayce recebeu a visita de uma jovem mulher que estava morrendo de tuberculose, operada várias vezes, com um pneumotórax, sufocando e que só se deslocava agarrada a alguém. Sua mãe, desesperada, só conseguiu arrastá-Ia a contragosto ao "diagnosticador psíquico" (título que Cayce dava a si mesmo), pois a filha estava convencida de que iria encontrar um charlatão. Cayce entrou em transe e declarou: "Sim, nós temos o corpo aqui. Nós vemos seu estado e as causas específicas deste estado. Os efeitos das perturbações foram tomados pelas causas. O corpo apresenta uma afecção da circulação pulmonar que afeta todo o sistema. A causa está no sistema nervoso. As pressões no sistema cérebro-espinal são produzidas na dorsal superior, e, mais espe-cificamente, na cervical inferior, provocando um espessamento dos tecidos, que se inflamam e pressionam a pleura. Esta afecção foi causada primeiro pela inalação de um corpo estranho, uma poeira, por exemplo. Depois, as perturbações acentuaram-se com a lesão produzida ao nível da espinha dorsal.” Como é que Cayce poderia saber que a moça havia sido vigia num centro recreativo de uma zona industrial, muito poluída, de Nova York? E que, fazia quinze anos, havia caído de uma árvore, ferindo-se exatamente no lugar que ele indicava? Mas, depois do diagnóstico, eis que ele ordenou um singular tratamento: "Prepare um barrilete de carvalho, calcinado por dentro, de aproximadamente cinco litros. Encha-o até a metade de aguardente de maçã (não de cidra). Tampe-o de modo que os vapores possam ser inalados pela boca e pela laringe, para os brônquios e para os pulmões. Faça isto pelo menos três ou quatro vezes por dia" . O resto das instruções compreendia exercícios para a coluna vertebral e um regime que, entre outras coisas, autorizava o leite fervido e até mesmo alguns cigarros por dia, mas com uma interdição absoluta do leite cru. Os médicos, naturalmente, tinham-lhe feito beber litros de leite cru. Três meses mais tarde, a moça revivia: ela havia perdido 6 quilos de gordura prejudicial, seu pneumotórax havia sido interrompido e ela se sentia bem. O médico que a tratava, estupefato, declarou que não compreendia nada, mas disse: "Seja o que for que estiver fazendo, continue". Ela casou-se e levou uma vida ativa e feliz. Voltemos a Cayce. Era um homem simples, protestante devoto, tendo como única leitura a Bíblia. Ele lutou, durante muito tempo, com todas as suas forças, contra seu próprio poder, no qual via uma intervenção do demônio. Cayce não era o único conhecido capaz de diagnosticar psiquicamente: Andrew Jackson fazia diagnósticos e prescrevia tratamentos, mas, ao contrário de Cayce,

trabalhava em estado de vigília. Este era também o caso de Maria Valtorte. Em trinta e cinco anos, Cayce acumulou mais de trinta mil diagnósticos psíquicos, sem nunca deslocar-se, sem conseguir lembrar-se o que ele lamentava - e sem contato com os pacientes. Ele dizia "eu vejo o corpo" e, efetivamente, o via, ainda que o corpo estivesse do outro lado do mundo, chegando a dar detalhes de suas vestimentas. Certa vez, a consulente o interrompeu para desculpar-se, pois o paciente não estava mais no local que ela havia indicado. Então, Cayce retomou: "Nós vemos o corpo no lugar em que deveria estar...", o que permite pensar que a vidência de Cayce se fazia de uma forma bem distinta do deslocamento espacial. Os documentos deixados por Edgar Cayce são conservados, estudados e editados pela Associação para a Pesquisa e a Iluminação, * em Virginia Beach, presidida por seu filho. Além de seus diagnósticos e tratamentos, Cayce deixou outras provas de seus dons de vidência. Ele previu com precisão a descoberta de documentos essênios, a Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa. Esta última previsão data de 1913. Cayce previu, em particular, uma grande transformação geológica, súbita e catastrófica. A costa oeste da América será submersa e vastos territórios surgirão do mar ao longo da costa leste. Na Europa, o norte mergulhará no oceano. Cayce situou esta catástrofe entre 1986 e 1995. Daqui a alguns anos, saberemos se Cayce estava certo ou não. Cayce interessava-se particularmente pelo Antigo Egito e pela Atlântida. Ele aplicou seus dons de vidência para transportar-se ao passado, onde esteve com os atlantes. É certo, porém, que, de uma forma ou de outra, ele captou as opiniões correntes contemporâneas. Assim, de acordo com ele, Quéops foi construída em torno de 5.000 a.C., ele situa a Atlântida em 10.000 a.C., data encontrada na obra de Platão e que é inverossímil. Cayce também previu a descoberta de vestígios arqueológicos em Bimini, mas os muros submersos que lá foram descobertos nada mais eram que formações naturais. * Association for Research and Enlightenment, Inc., Virginia Beach, USA." (N. da T.)

18 CLARIAUDIÊNCIA

A clauriaudiência é o equivalente auditivo da clarividência: enquanto o clarividente vê certas coisas, o clariaudiente as ouve. Este fenômeno foi menos estudado que, por exemplo, as aparições, pois, na Europa, "ouvir vozes" faz pensar imediatamente num desequilíbrio mental. O estudo científico da clariaudiência foi feito por C. Flammarion, que recolheu uma enorme quantidade de fatos, rigorosamente repertoriados e controlados por ele (La Mort et son mystere et Apres la mort). Este estudo foi retomado por Rhine. Segundo o professor L. L. Vassiliev, a clariaudiência não deve ser confundida com a telepatia nem com a clarividência, pois suas características são totalmente diferentes (final dos anos 50). As mensagens dos "emissores específicos" freqüentemente provêm de pessoas que vão morrer ou que já estão mortas. Além disso, o clariaudiente em geral não é um médium, mas uma pessoa próxima ao morto. Eis alguns casos de clariaudiência com emissor não específico, pre monitória de acidentes. Em Edimburgo, na Escócia, uma menininha brincava sempre em um local que estava situado num nível mais baixo qua a via da estrada de ferro. Sua mãe a levava lá todos os dias e, certa vez, voltando para casa, ela ouviu uma voz que dizia: "Mandealguém imediatamente para buscar a sua filha, ou algo horrível irá lhe acontecer" . Ela não deu atenção. A voz voltou e repetiu as palavras ameaçadoras - a mãe resistiu, ainda. Mas, da terceira vez, ela foi tomada de terror e de tremores e apressou a empregada para buscar a menininha. Pouco tempo depois, exatamente no local onde ela brincava, uma locomotiva veio a espatifar-se, depois de descarrilar. O caso seguinte foi objeto de uma pesquisa de C. Flammarion e também da parte de Myers, da SPR: Lady Eardley recuperava-se de uma doença. Ela tinha o hábito de trancar a porta quando tomava o seu banho e foi o que fez, nesse dia. No momento exato em que ela ia entrar no banho, uma voz lhe disse: "Abra a porta". A voz era bem distinta, bem exterior e, no entanto, parecia vir, de alguma forma, dela mesma. Ela não conseguiu dizer com precisão se a voz era masculina ou feminina. Ela olhou ao redor e não viu ninguém. Então, a voz retomou: "Abra a porta!" . Ela começou a ficar com medo, perguntando-se se não estaria doente ou ficando louca. Como ela se preparava novamente para entrar na banheira, a voz repetiu sua ordem, uma terceira e, talvez, uma quarta vez. Lady Eardley deu um pulo, abriu a porta e entrou no ba-nho. Ao entrar, ela desmaiou e caiu na água. A camareira, que estava no quarto ao lado, ouviu o barulho da queda, correu e conseguiu salvá-Ia. Se a porta estivesse trancada, ela teria começado a bater e, depois, não conseguindo forçar a porta, teria

ido buscar ajuda. Enquanto isso, sua patroa teria se afogado. A voz vinha, sem dúvida, da própria moça. No entanto, esta premonição que se manifestou, neste caso, na forma de uma ordem imperativa, repetida até seu cumprimento, e, principalmente, bem audível, está fora das possibilidades de explicações ortodoxas. Todas as famosas sensitivas soviéticas (Nina Kulagina, Varvara Ivanova, AlIa Vinogradova, Djouma Davitaschvili) tiveram clauriaudiência. Varvara Ivanova ouviu, certa noite em que estava em Tachkent, uma voz de homem idoso que, gaguejando, chamava-a para socorrê-Io. No dia seguinte, retornando a Moscou, ela encontrou o homem, idoso e gaguejando, que a esperava para que ela o magnetizasse. Haviam detectado nele um tumor canceroso e ele estava lá fazia dois dias, dirigindo suas preces à foto da médium, para que ela voltasse. No momento em que a mensagem foi recebida por Varvara, ele se pôs a chorar. Espantosa, pitoresca e comovente história autêntica esta. Não falaremos sobre a possibilidade, bem conhecida, de ouvir, ou melhor, ouvir de novo, acontecimentos que ocorreram no passado, como o caso das duas inglesas que ouviram o desenrolar da batalha de Dieppe, muitos anos depois da mesma. Este fenômeno, na verdade, diz respeito à estrutura desconhecida do tempo e encontra-se fora do tema abordado por este livro.

19 PERCEPÇÃO EXTRA-SENSORIAL (PES) POR INTERMÉDIO DE UM OBJETO (PESOR)

(Psicometria, metagnomia) Os termos mais usados para designar este fenômeno estão entre os que tiveram os piores critérios de escolha da parapsicologia: psicometria quer dizer "medida da alma" (ou da psique) e metagnomia significa "o que está além da percepção". O primeiro nome poderia aplicar-se aos testes de inteligência e o segundo, à vidência. O sensitivo que apresenta este talento particular ou o adquire em estado de transe ou sob hipnose, pode fornecer informações sobre um objeto que lhe é entregue e que ele não conhece. As informações podem ser relativas ao passado do objeto, aos acontecimentos que se desenrolaram na sua presença, aos seus sucessivos proprietários, etc. De acordo com o professor Sergueiev, a PESOR seria extremamente difundida. Seu mecanismo pode ser acompanhado através do efeito Kirlian. O sujeito 1 manipula durante várias horas um objeto, por exemplo, uma moeda, passando-a em seguida ao sujeito 2. A kirligrafia do segundo sujeito mostra, então, uma figura extraordinária.

Algo se passa, incontestavelmente, entre o objeto e o médium improvisado e trata-se, bem entendido, de informação. Há, portanto, comunicação entre a "aura" do sujeito e o objeto. Os Drs. Raikov e Kazatskine demonstraram o fato utilizando a hipnose. Todo homem pode solicitar a memória de um objeto. Pode ser muito difícil separar os fatos da PESOR dos relacionados à telepatia e à vidência. Como explicar os detalhes relativos ao futuro, tais como a cura do cão ou o acidente provocado pelo carro amarelo, citados adiante? O objeto traria também, em si, uma marca do futuro? O Dr. Ducasse levou um pequeno vaso, quebrado e consertado, proveniente das escavações de Pompéia, a Hurkos, que apalpou o pacote e lhe disse: "Eu vejo uma explosão, isto se passou há muito tempo; ouço uma língua estrangeira; vejo uma cor escura (nuvem de cinzas descritas por Plínio); está remendado. O proprietário do objeto certamente está morto, mas não o Dr. Ducasse. Ele vai bem". É um pouco vago, mas, afinal de contas, satisfatório. Um objeto foi colocado numa caixa, que não foi mostrada a Hurkos. Este declarou estar vendo uma coleira de cachorro e pêlos castanhos. "Este cachorro", diz Hurkos, "está mancando da pata traseira esquerda. O veterinário acha que é uma artrite, mas na realidade é uma neurite. Ele será curado por uma espécie de choque." Dentro da caixa não havia coleira, mas sim uma corrente. Por outro lado, o diagnóstico médico estava exato e o cão, efetivamente, curou-se, depois que um carro o atropelou, aliás sem machucá-Io. Num outro caso, Hurkos viu que a dona do objeto apresentado iria desenvolver um tumor, que ele cJesenhou exatamente, sobre uma das trompas de Falópio. O tumor só surgiu seis meses após esta premonição e foi operado. Foi um caso de clarividência premonitória. A detecção telepática se faz muito bem sobre fotos. Esta era outra especialidade de Hurkos. Foi-lhe mostrado um envelope contendo a foto de uma criança. Hurkos viu que a criança seria atropelada por um ônibus amarelo, num cruzamento, numa quarta-feira. Antes do cruzamento, ele descreveu o itinerário seguido pela criança: era o que ela fazia para ir à escola. Os pais, justamente preocupados, que lhe haviam levado a foto, pediram conselho a Hurkos. Este lhes disse para manter a criança em casa às quartas-feiras, durante quatro semanas. Após este prazo, a criança voltou a freqüentar a escola às quartas-feiras e, seis semanas após a sessão, foi atropelada, aliás sem gravidade, no cruzamento indicado, por um grande carro de cor amarelo-queimado. O acidente foi admiravelmente previsto, apesar de alguns detalhes, como o tipo de veículo e sua cor, embora o amarelo-queimado não deixe de ser um tipo de amarelo.

O escritor Julian Huxley trouxe outra foto, num envelope. Hurkos, então, descreveu longamente uma senhora. Huxley o interrompeu e mostrou a foto, que era a de seu neto. Hurkos refletiu e corrigiu-se: ele havia descrito, na verdade, não a foto do envelope, mas a que se encontrava dentro da maleta de Huxley, na qual o sensitivo se apoiara. Eis, a seguir, um exemplo de verificação moderna da clarividência, realizada no Instituto de Parapsicologia de Utrecht, em Gérard Croiset. Em 24 de fevereiro de 1961, sob a direção do professor W. H. Tenhaeff e na presença de algumas dezenas de membros da SPR, cada um dos assistentes colocou um objeto dentro de uma caixa com vinte e quatro compartimentos. Enquanto os objetos eram colocados, Croiset estava ausente. A caixa, posta sobre a mesa, foi coberta com um lenço e orientada sucessivamente em várias direções, de modo a impossibilitar a localização dos compartimentos. Croiset entrou na sala e, sentado a cinco metros de distância da caixa, deu suas impressões sobre um dos objetos. Suas "impressões" foram registradas num gravador. Em seguida ele foi autorizado a retirar o objeto da caixa: era uma pulseira, colocada pela Srta. L. H., que nunca havia encontrado Croiset antes. A fita gravada foi novamente ouvida, mas desta vez os comentários de Croiset foram seguidos pelos da Srta. L. H., que haviam sido registrados num outro aparelho. Estas operações foram observadas por Tenhaeff e pelo presidente da sessão, que era o comissário de polícia. Constatou-se que a maior parte dos comentários do clarividente era exata. Ele descreveu várias pessoas que tinham estado em contato com a Srta. L. H. e chegou até a descrever um encontro que ela havia tido e que havia esquecido completamente. Gérard Croiset tornou-se um especialista na localização de desaparecidos, sendo que a polícia recorreu diversas vezes aos seus serviços. Foi assim que ele indicou que o corpo de um garoto afogado seria encontrado numa barragem. Nada foi encontrado no mesmo dia, nem no dia seguinte, mas, no terceiro dia, o corpo apareceu, como previsto.Em outra ocasião, uma jovem de família rica desapareceu e temia-se um seqüestro. Concentrando-se, ele declarou que a estava vendo, saindo de um cinema, sem conseguir, no entanto, especificar o lugar. De fato, a moça, num impulso, decidiu ir ver uma amiga em Nova York, e, no momento da sessão, realmente estava saindo de um cinema. Na França, Jean-Louis Crozier também especializou-se na localização de pessoas desaparecidas. Em julho de 1988, sua lista de sucessos contava com cento e oitenta corpos reencontrados. Ele trabalhava com o auxílio de uma varinha. * * O autor refere-se, provavelmente, a uma varinha de radiestesia. (N. da T.)

20 XENOGLOSSIA

A xenoglossia é O fato de se falar uma língua que não foi aprendida. Pode-se distinguir a xenoglossia direta, na qual as letras escrevem-se sozinhas no papel, e a xenoglossia indireta, na qual o médium escreve o que é ditado por um interlocutor invisível ou então fala numa língua que desconhece. Por outro lado, quando a pessoa permanece consciente e não se modifica, trata-se de uma lembrança, pois o conhecimento de uma língua implica que ela foi aprendida em algum lugar, e a explicação mais simples, se não a única válida, é a de que isto aconteceu durante uma outra existência. Em outros casos, quando uma outra pessoa substitui a pessoa normal, da mesma forma que numa troca de personalidade, isto pode ser atribuído à lembrança de uma encarnação anterior ou então à intervenção passageira de um espírito estrangeiro, ou seja, a uma possessão. A xenoglossia direta assemelha-se, evidentemente, à escrita direta. O fato de que um lápis possa escrever sozinho já é suficientemente extraordinário para que não cause espanto caso escreva em chinês. A glossolalia, na qual os sonâmbulos falam ou escrevem pseudolínguas inexistentes, elaboradas por seu próprio inconsciente (caso do marciano de Hélene Smith, que foi estudado por Flournoy) compete ao campo da psiquiatria e nada tem a ver com a xenoglossia. Assim como acontece com outros poderes mediúnicos, a xenoglossia pode ser desencadeada como conseqüência de um choque. O Rheinischer Merkur, de Koblenz, do dia 31 de maio de 1947, relata dois casos. O primeiro é o de um camponês siciliano, abstêmio, que um dia embebedou-se na companhia de amigos. Ao acordar, ele se pôs a falar grego, mas não o grego moderno e sim o grego clássico. E o homem, no entanto, era absolutamente inculto. O segundo caso é o de Ihansi, uma garotinha que caiu do terceiro andar. Ela não se machucou, mas começou a falar vários dialetos hindus antigos, já desaparecidos. A hipótese de que as recordações precisas de uma vida anterior possam explicar a xenoglossia pôde ser demonstrada nos casos seguintes. O caso de Robin Hull Este caso foi constatado por Melvyn Douglas no início de sua carreira cinematográfica. O pequeno Robin emitia, inconscientemente, sons estranhos e incompreensíveis, continuando a fazê-Io mesmo quando já falava melhor. Quando ele completou cinco

anos, uma amiga, adepta da reencarnação, pediu para verificar se não se tratava de uma língua existente. Foi trazido um professor, especialista em línguas asiáticas, que identificou, em parte, um dialeto falado ao norte do Tibete. A outra parte lhe era desconhecida. Seguiu-se um estranho diálogo: - Onde foi que você aprendeu? - Na escola - disse a criança. A mãe interveio: - Robin, mas você nunca foi à escola! - Fui, sim. Eu estive, antes. O professor: - Que escola era essa? Você se lembra? Depois de refletir, Robin respondeu: - Sim, eu me lembro: Era nas montanhas. Mas não naquelas onde nós vamos no verão. A família passava as férias na montanha, e o professor continuou: - Como era a escola? Era feita de pedra ou de madeira? Esta pergunta poderia identificar a região. O menino assegurou que a escola era de pedra. Quando lhe foi perguntado se os professores eram homens ou mulheres, ele disse que eram homens, mas que usavam vestidos compridos com cintos de corda - monges tibetanos. Ele também deu detalhes sobre a própria escola. Extremamente perturbado, o professor fez uma viagem à provável região. Ele acabou por encontrar a escola, na região de Kuen-Lun, cujo acesso não era proibido na época, como era o do Tibete central. O médico nova-iorquino Marshall W. McDuffie e sua mulher Wilgelmine tiveram gêmeos, que falavam entre si uma língua totalmente desconhecida. O médico levou-os à Universidade de Columbia, onde a língua não pôde ser identificada. Foi somente por acaso que se descobriu tratar-se de... aramaico (I. Stevenson). O aramaico é uma língua semítica, falada ainda hoje em certas regiões do Oriente Médio. No caso deles, assim como no de Robin, trata-se, evidentemente, de uma reencarnação, cujas lembranças podem comportar o uso da língua da vida passada do sensitivo. A pesquisa de Stevenson conta com vários exemplos. O caso de Laura Edmonds Um dos casos mais marcantes e minuciosamente estudados foi o de Laura Edmonds, filha do juiz Edmonds, que foi presidente do Senado e membro da Corte Suprema de Justiça de Nova York. Laura, sua filha, católica muito devota, só falava o inglês e algumas palavras de francês.

Em 1859, o Sr. Edmonds recebeu a visita do Sr. Evangelides, de nacionalidade grega, que pôde conversar com Laura em grego moderno. Seria mais exato dizer que, na verdade, ele conversou com N. Botzaris (irmão do conhecido patriota), amigo íntimo de Evangelides, morto na Grécia. Durante a conversa, o Sr. Evangelides chorou ao receber de seu amigo do além a notícia da morte (na Grécia) de seu filho, o que, mais tarde, foi confirmado. Várias pessoas assistiram a esta conversa. Evangelides, que, até então, jamais havia assistido a qualquer manifestação espírita, aproveitou a ocasião para fazer diversas experiências, de modo a apreciar a natureza desse gênero de fenômeno: ele abordava diversos assuntos, que a moça, então com dezesseis anos de idade, certamente não poderia conhecer. Ele mudava de assunto constantemente, passando bruscamente de questões de ordem privada a questões po-líticas, filosóficas e fisiológicas. Conclui-se que, neste caso, tratava-se não somente do domínio de uma língua desconhecida pelo sensitivo, mas sim de uma espécie de possessão da jovem médium por uma pessoa distinta (Aksakof, p. 358). Em outras ocasiões, sempre em estado de transe, Laura Edmonds falou várias outras línguas: francês, latim, italiano, português, espanhol, polonês, húngaro, hindi e vários dialetos hindus, línguas estas pertencentes a grupos lingüísticos muito diferentes. Edmonds concluiu, a partir do exame do caso, que tratava-se realmente do falecido amigo de Evangelides, que falava pela boca de Laura, pois esta era a única explicação possível para os fatos. Antes desta visita, Laura jamais havia ouvido a língua grega, era a primeira vez que Evangelides os visitava e eles nunca tinham se visto. O caso de Laura Edmonds ilustra bem a dificuldade que existe para se diferenciar as variadas interpretações dos fatos paranormais. Falar línguas que nunca foram aprendidas poderia explicar-se pelas recordações das reencarnações precedentes, no entanto, neste caso, o sensitivo deveria permanecer consciente, como demonstram, por exemplo, os casos da pesquisa de Stevenson sobre as recordações de vidas passadas. No entanto, Laura não se lembrava dessas conversas. Ela parecia estar numa espécie de transe. Por outro lado, as línguas que ela falava formam três grupos, o que, sem excluir a possibilidade de terem sido faladas por um filólogo, indicaria antes três pessoas: um erudito ocidental, um polonês ou húngaro e um indiano. Ora, as pesquisas do tipo Stevenson indicam que há uma tendência para renascer no mesmo país, por-tanto a única solução que eliminaria todas estas contradições seria a de que Laura era invadida, possuída se preferirmos, por diferentes espíritos. Os detalhes do caso Evangelides o confIrmam. Finalmente, conclui-se que Laura era uma médium de voz direta e que a hipótese dos espíritas (a da possessão pelos espíritos) encontrava-se ali brilhantemente confirmada.

O caso de Ninfa Filiberto Este caso foi minuciosamente relatado pelo Dr. Nicolas Cervello, de Palermo, numa brochura intitulada: Histoire d'un cas d'hystérie avec cérébration spontanée (Palermo, 1855). Uma jovem de dezesseis anos foi tomada de graves crises histéricas, ao longo do ano de 1849, com fases de sonambulismo. No dia 13 de setembro" Ninfa falava com muita facilidade e rapidez uma língua incompreensível. Supomos que fosse o grego, pois, num transe, ela escreveu: "Estive em Atenas; vi esta amável cidade e as pessoas lá falam como eu...” No dia 14, ela não compreendia. o grego nem o italiano, mas falava exclusivamente o francês, língua que conhecia com muita imperfeição. Quando lhe foi dito que ela havia falado grego, ela se pôs a rir e disse que jamais havia aprendido o grego ou qualquer outra língua que não a sua e que ela era uma parisiense, vivendo em Palermo. Ela zombava de nosso sotaque e de nossa pronúncia... No dia 15, ela falou durante muito tempo o inglês, língua que ignorava completamente, com dois ingleses. Durante esta conversa, ela expressou sua surpresa por tardarem a trazer-lhe seu chá. Ora, nunca se toma chá de manhã na Sicília! Neste dia, sua voz estava quase apagada. Quando ficou tão fraca a ponto de precisar exprimir-se por sinais, ela encontrou um meio engenhoso para fazer-se entender: ela pedia um livro inglês, e, segurando-o, indicava com o dedo diferentes palavras, com-pondo assim a frase que queria dizer. É importante salientar que este procedimento só está ao alcance de uma pessoa que tenha um excelente conhecimento da língua! No dia 16, ela anunciou ser nativa de Siena e descreveu minunciosamente as obras de arte desta cidade. A pronúncia de Siena é muito bonita e harmoniosa, impossível de ser adquirida sem que se tenha nascido lá... A moça permaneceu neste estado até o dia 18. Ela previu que sua paralisia desapareceria nesse dia, o que de fato aconteceu. O mais curioso é que, à medida que a paralisia desaparecia, o toscano puro que a doente falava aparecia no meio de uma frase em dialeto siciliano, sua língua materna. Mais adiante, ela não se lembrava de nenhuma das línguas que havia falado durante a crise. Este caso foi integralmente relatado e discutido pelo Dr. F. Halm nos Annales des sciences psychiques. O caso de Anita Ripoll Em 1912, o conde Mijatovitch, representante da Sérvia na Inglaterra, levou a uma

sessão da Sra. Wriedt um amigo croata. A voz de um médico, velho amigo do diplomata e falecido pouco tempo antes, manifestou-se e dirigiu-se ao seu compatriota. Eles conversaram durante algum tempo em croata. Era a primeira vez que a Sra. Wriedt ouvia esta língua. Em outra ocasião, Mijatovitch teve a felicidade de poder conversar longamente em sérvio com sua mãe, falecida. Estes casos foram descritos pelo vice-almirante Usborne Moore. Denis Bradley, trabalhando com o médium Valiantine, estava na casa do Sr. De Wickoff quando um dos experimentadores precisou ausentar-se. O Sr. De Wickoff imaginou então substituí-Io por seu copeiro e por sua cozinheira espanhola, Anita Ripoll, que, recém-chegada aos Estados Unidos, desconhecia a língua inglesa. Valiantine utilizava uma espécie de megafone, que levitava e ia tocar os assistentes. Era deste instrumento que as vozes saíam. Ao tocar a cozinheira, esta gritou. Imediatamente, uma voz, saindo do megafone, gritou, com um acento de viva afeição: "Anita! Anita!" E seguiu-se uma conversa apaixonada, volúvel, intensamente meridional, entre a mulher e seu marido, falecido. Mesmo sem conhecer o espanhol, ninguém poderia enganar-se quanto à natureza dos sentimentos expressados. Nem o marido nem a mulher pareciam espantados com a natureza supranormal de sua conversa. Estas duas almas simples" que nunca tinham realmente meditado a respeito da sobrevivência, aceitavam a situação como normal. O Sr. De Wickoff, que acompanhava a conversa, não pôde deixar de tomar parte, dirigindo-se, em espanhol, ao "espírito" José. Imediatamente, José e Anita trocaram de língua, passando a falar em seu dialeto nativo, que era o basco misturado ao espanhol corrompido, como soubemos mais tarde. Este episódio é indiscutível, pois ninguém poderá supor que o médium, sabendo antecipadamente que um membro do grupo seria substituído, teve o tempo de dominar o patoá basco-espanhol. Sem contar o incidente de "José", que, assim que percebeu que alguém ouvia a conversa com sua mulher viva, mudou no mesmo instante de língua, adotando seu patoá nativo, para fugir aos ouvidos indiscretos. O caso Rosemary-Nona Este é um exemplo de rara beleza, de uma xenoglossia indiscutível. O professor Frederic H. Wood trabalhou com a médium escritora, Srta. Rosemary, jovem culta e inteligente. Seu Le Cercle du roi produziu vários volumes de notas. Num dado momento, apresentou-se um espírito, dizendo chamar-se Lady Nona e ser uma princesa babilônia que havia desposado um dos faraós das antigas dinastias,

identificado como sendo, sem dúvida, Amenhotep III (1408-1372 a.C.). Como conseqüência das intrigas dos sacerdotes, Nona foi atirada no Nilo. No outro mundo, ela desenvolveu faculdades mediúnicas para ajudar os vivos. Como ela e o faraó se amavam, quando este morreu eles se reencontraram no além. Lady Nona falava com a médium e escrevia em egípcio antigo, estudado pelo egiptólogo Hulme. Foi ele quem definiu com precisão a época, a partir de certos detalhes precisos e da filologia. Em 1887, descobriu-se, em Tell EI-Amarna, a cópia de uma carta do rei da Babilônia KadaIhman-Bel a Amenhotep III, na qual ele perguntava sobre as razões do desaparecimento de sua irmã: "Tu desejas que eu te conceda a mão de minha filha, enquanto minha irmã, que meu pai te deu em casamento, já está contigo e ninguém mais soube dela, ninguém mais a viu, ninguém sabe se está viva ou morta". Uma delegação foi enviada da Babilônia à corte do faraó. As damas da corte lhe foram apresentadas, mas a irmã do rei não estava entre elas. Estes detalhes confirmaram o relato de Lady Nona. Entre outras identificações, citamos a descrição do faraó, que foi comparada à que se encontra no British Museum, e os instrumentos musicais, dos quais a Lady Nona, ela própria musicista, deu várias descrições detalhadas. A filologia contribuiu para precisar a época na qual viveu a princesa: ela utilizava palavras específicas do Império do Meio (2.400-1.356 a.C.). Por exemplo, para dizer "não", em vez de In ou Inan, ela empregava Bin, que era então muito moderno. O verdadeiro nome de Nona (= Desconhecida) era Telika. Lady Nona utilizou primeiro o inglês. Tendo o egiptólogo perguntado a Wood se não havia no texto palavras egípcias (não havia), Nona começou a enviar-lhe mensagens nesta língua. A primeira foi: Ahyi-taahula = Saúdo a ti. Enfim! A 21 de novembro de 1931, Wood dirigiu-se a Nona: "Inuh-hirath, nee-soo-saht, Nona", "Saúdo a ti, ó princesa Nona". Este texto foi escondido da médium. Nona, entretanto, respondeu: ''Ah-neesh-u-en, P'a-ahsee-men", "Protegidos, nós o somos" (isto, na verdade, está subentendido), e acrescentou em inglês: "Eu respondi às palavras dele". Parecia que a resposta não correspondia à mensagem, mas, qual não foi o espanto de Hulme quando, ao receber a resposta, percebeu que Nona havia tomado a palavra "saúdo" por "proteção" (Proteção a ti!) que é, de fato, o sentido muito mais usual da palavra. Este erro varre todas as hipóteses não espíritas, tais como a telepatia, a telemnésia ou a criptomnésia. Hulme, muito impressionado, declarou que "este surpreendente equívoco era a prova mais extraordinária da identificação pessoal de Lady Nona" . O egiptólogo e a médium acabaram por encontrar-se quando Wood levou Rosemary à casa de Hulme. Seria mais exato dizer que o egiptólogo encontrou a rainha, que

utilizava ora a mão, ora a laringe de uma jovem inglesa. A conversa desenvolveu-se em parte em inglês e em parte em egípcio. O sábio, seguro da identidade de sua interlocutora, pediulhe numerosas explicações. A título de exemplo, à pergunta "Qual é o som do sinal da águia?", Lady Nona observou que não se tratava de uma águia, e sim de um falcão. O egiptólogo, por sua vez, pensava no abutre, mas o falcão egípcio está, de fato, mais próximo da águia do que do abutre. Para terminar, ela assinou com seu hieróglifo egípcio. Opinião final do professor Wood: este caso será resolvido apenas se abandonarmos os preconceitos da escola. Nos anos 20, o Dr. Neville Whymant, sinólogo, cético quanto à possibilidade de comunicação com os espíritos dos mortos, estando presente a uma sessão do médium George Valiantine, pediu para falar com Confúcio. K'ung-fu-T'Zu manifestou-se e teve uma longa conversa com o sinólogo, citando textos, discutindo variáveis e explicando, como só um erudito chinês poderia fazer. O médium expressava-se, na ocasião, em chinês antigo oficial. Ou, desnecessário dizer, era Confúcio quem falava? De qualquer forma, Whymant declarou-se inteiramente convencido. Há vários casos análogos conhecidos. Uma entidade que se denominava "Nepenthes" escrevia em grego antigo, língua desconhecida de todos os assistentes.

II - PODERES DA MENTE SOBRE A MENTE

21 EXTERIORIZAÇÃO DA SENSIBILIDADE

Considera-se que há exteriorização da sensibilidade quando os órgão dos sentidos do sujeito, geralmente em estado hipnótico, são afetados pelos estímulos aplicados, não diretamente sobre o seu corpo físico, em diferentes locais, claramente externos ao corpo e, particularmente, aos objetos para os quais a sensibilidade do sujeito em questão foi transferida. Este fenômeno foi estudado em seus mínimos detalhes por De Rochas. A percepção exterior ao corpo pode ser excercida pelo duplo astral exteriorizado, que pode ser seguido através de vidência. Este duplo pode ser desdobrado pela vontade do sensitivo. Ele está ligado ao corpo físico por um cordão fluídico que pode ser rompido, por exemplo aplicando-lhe uma chama, o que parece não apresentar qualquer perigo. Quando o duplo é picado por um objeto pontiagudo, surge um estigma vermelho no

lugar correspondente, no corpo do sensitivo. Quando o "fantasma" da Sra. Lefevre, uma sensitiva usada por De Rochas, teve perfurado um dedo, foi o dedo da própria médium que sangrou. De Rochas tentou conectar o "fantasma" a um fio, através do qual era transmitida a música tocada por um aparelho e constatou que o sensitivo também a ouvia. Estas experiências mostram que é preciso reavaliar nossas idéias sobre as possibilidades do enfeitiçamento, apressadamente relegado ao nível das superstições. Numa sessão aberta ao público, De Rochas mostrou, assim, que uma espectadora,colocada em rapport hipnótico com uma boneca de cera, sentia a dor das picadas quando a boneca era espetada com longos alfinetes. Lembramos que o estado de rapport hipnótico é bem menos perfeito que a hipnose profunda. A sensibilidade pode também ser transferida para uma chapa fotográfica: o hipnotizado sente os arranhões que são feitos em sua imagem (De Rochas). Boirac realizou o seguinte experimento sobre a transferência de sensibilidade: um copo d'água, que ele havia segurado por algum tempo, foi posto em contato com outro copo d'água, para o qual havia sido transferida a sensibilidade do sensitivo. Os dois líquidos foram ligados através de um fio metálico isolado, dobrado em forma de U, e Boirac constatou, então, que o sensitivo sentia as picadas ou beliscões que lhe eram aplicados. Alguma coisa, portanto, ligava Boirac à água de seu copo, esta à água do copo do sensitivo hipnotizado e esta última ao próprio sensitivo. As sensações do paciente em estado hipnótico ficam muito exacerbadas. Durante uma experiência, Boirac bebeu algumas gotas de licor chartreuse. O hipnotizado exclamou que a bebida lhe subia à cabeça e, ao levantar-se bruscamente, estatelou-se no chão: estava bêbado! A pessoa que está em rapport com o operador não ouve o que as outras pessoas dizem, a menos que estas toquem o operador. Eis um teste moderno da exteriorização da sensibilidade, feito por Tischner. Uma senhora, em estado de hipnose profunda, ficava sentada numa poltrona com espaldar alto. Sua sensibilidade era, então, transferida para um copo d'água que trazia uma marca de identificação invisível por fora. Tischner pegava o copo e colocava-o sobre uma mesa, atrás do encosto da poltrona, onde já estavam dois outros copos idênticos, também marcados. Durante esta manipulação, um ajudante virava as costas. A seguir, o próprio Tischner virava as costas, enquanto o ajudante mudava a posição dos copos, embaralhando-os. Para evitar que o ajudante identificasse o copo pelo toque, pois poderia estar mais quente, ele usava luvas. A seguir, quando mais ninguém conseguia dizer qual dos copos estava carregado de eflúvios , Tischner picava e arranhava a superfície da água dos copos. Apesar de todos

os seus esforços para induzir a erro a hipnotizada, esta sempre indicava corretamente o copo "carregado". Não houve um só erro, num total de duzentas e cinqüenta provas. Esta senhora não era telepata e nem clarividente. A probabilidade de atingir este escore ao acaso é de 1 sobre um número que possui uma centena de zeros. Estas experiências foram repetidas, sempre com sucesso. Trabalhos de De Rochas De Rochas estudou longamente a transmissão das sensações por meio de condutores metálicos, da água e de outras substâncias. Ele se colocou em rapport com o médium romeno Politi, o qual acusava uma contração imediata dos músculos da mão e do braço se ele mergulhasse uma bengala na mesma água na qual De Rochas mergulhava a sua. Tomando o cuidado de colocar o médium de costas para ele, para evitar um possível efeito de sugestão pela visão, ele pôde constatar que, na água do rio Marne, a transmissão se fazia muito bem a 400 metros, desde que ele se colocasse rio acima, em relação ao médium. A esta distância registrou-se um atraso de três ou quatro segundos na transmissão. Contra a correnteza, a transmissão limitava-se a uma distância de cinqüenta metros, aproximadamente. Através do jato de uma mangueira de irrigação, a transmissão ocorria com a condição de que o médium se colocasse após o hipnotizador, no sentido do jato. O mesmo era válido para uma pequena queda d'água. O ferro conduz muito bem a sensibilidade. Com Politi, De Rochas operou com trilhos de trem: à distância de 1.100 metros, o choque transmitido era tal que os dedos de Politi se contraíram e os tendões de seu pulso vibraram violentamente. Ele largou a bengala, soltando um grito e praguejando em romeno. As tentativas foram até os 1.300 metros, também com efeitos positivos. Não sei se estas experiências foram retomadas. A transmissão pelos trilhos não acontecia se o terreno estivesse molhado demais. Com a Sra. Lambert, De Rochas constatou a transmissão da sensibilidade através de uma árvore, que era tocada por duas bengalas, mas apenas de baixo para cima, ou seja, se De Rochas tocasse a parte de baixo do tronco e a Sra. Lambert um galho. Não ocorria transmissão quando ela tocava as folhas. Poderia ser devido à influência da direção de circulação da seiva? O junco transmite o efeito melhor que a madeira comum; o ferro laminado, melhor que o ferro forjado. Haveria aí uma influência da orientação das moléculas. Uma barra de ferro isolada por verniz não transmite nada (efeito de superfície?). A transmissão melhora se o condutor é seccionado.

Estudo sistemático da transmissão da sensibilidade por um condutor metálico De Rochas fez um estudo sistemático do fenômeno utilizando um arame galvanizado de 200 metros de comprimento, montado sobre estacas com isoladores de vidro. A reação do sujeito posto em estado de rapport era provocada quando o experimentador apertava uma das extremidades. À medida que as experiências se prolongavam, a transmissão melhorava e, assim, foi constatado que bastava-lhe roçar levemente o arame para provocar a reação. Do outro lado, bastava à Sra. Lambert colocar a mão no prolongamento da sua extremidade do arame, a uns 10 centímetros de distância. Para interromper a transmissão, De Rochas soprava no arame. No final, era suficiente para ele olhar fixamente para o arame para estabelecer o contato. Colocando o arame de ferro na terra, o fenômeno era suprimido, ao passo que, se o arame fosse de cobre, a transmissão não era interrompida. Sabe-se que o cobre conduz melhor a eletricidade que o ferro. Temos aí, portanto, a prova de que a transmissão da sensibilidade utiliza um agente que não é de natureza elétrica. De Rochas assegurou-se de que o cobre parava igualmente os eflúvios da Sra. Lambert. Ele salientou que estas conclusões só eram válidas, até prova em contrário, para ele e para a Sra. Lambert. Não saberíamos ser mais prudentes! É impossível descrever aqui todos os efeitos que De Rochas descobriu ao longo de suas experiências. Eles podem ser encontrados em seus livros. Assinalamos, entre outros, o fato de que uma bobina de cobre exercia uma atração ou uma repulsão sobre o braço da Sra. Lambert em estado de rapport, variando conforme se tratasse do braço direito ou do esquerdo. Parece haver aí uma analogia elétrica. De Rochas propôs a teoria segundo a qual uma tela de ferro acumularia o fluido vital, subtraindo o do magnetizador . Ele tentou colocar na cabeça da Sra. Lambert uma espécie de calota de tela de ferro, ligada por um arame a uma outra calota, que era colocada em sua própria cabeça. Ele pensava, talvez, provocar uma transmissão de pensamento, mas só conseguiu provocar na Sra. Lambert cefaléias muito desagradáveis. Com Joséphine, outra sensitiva experimental, ele fez no fio transmissor um corte profundo, o que provocou uma dor bastante forte e a aparição, algumas horas mais tarde, de um estigma linear vermelho no local onde o fio passava. Ele conseguiu transmitir-lhe mensagens simples, utilizando um código convencional. Um barbante seco conduz mal a "radiação vital", mas a conduz bem se está molhado. Outro efeito curioso, descoberto por De Rochas, consiste em apoiar fortemente a mão sobre uma mesa. Quando o sensitivo apóia sua própria mão no mesmo lugar, assegura-se a transmissão. Este efeito aumenta se a pressão é exercida através de uma tela de ferro.

Raio vetor da radiação vital no ar. Em vez de operar sobre um condutor material, pode-se exercer ações diversas, tais como pinçamentos, picadas, etc. sobre o raio digital, que emana das extremidades dos dedos. Uma ação idêntica pode ser constatada sobre o raio ocular, que emana dos olhos do operador. É desnecessário lembrar que estes efeitos, experimentalmente constatados, situam-se completamente fora dos limites dos conhecimentos da ciência clássica e que eles podem justificar e explicar diversas práticas de magia, particularmente a feitiçaria. De Rochas operou também sobre o raio refletido num espelho e constatou que a transmissão fazia-se igualmente bem. É suficiente, portanto, operar sobre a imagem vista num espelho. Eis algo que demonstra a realidade do "mau-olhado" . Neste ponto, nos encontramos muito longe de nossos ensinamentos universitários. Lembramos que aí deve estar a explicação da incompreensível ação do olhar sobre as oscilações de um pêndulo (carta de Chevreul a Ampere em La Revue des deux mondes, 1833) e de diversas experiências modernas. Salientamos entre as aplicações da transferência de sensibilidade a transferência da doença às plantas, colocando os curativos de uma ferida, os pêlos do membro doente, etc. no buraco que foi escavado no tronco de uma árvore vigorosa, que é depois tampado hermeticamente. Podese localizar uma árvore vigorosa num jardim e, à noite, enviar-lhe mentalmente sua doença ou a de outra pessoa. É um procedimento simples, fácil, eficaz e barato. A árvore não sofre com ele (as plantas alimentamse de nossos resíduos). Na transferência da doença aos animais (zooterapia), numerosas receitas foram estudadas e estão sempre em uso. Encontramos a aplicação de um animal familiar sobre o local doente e a aplicação de carne fresca. O pó de simpatia é uma receita atribuída ao cavaleiro Digby (1603-1665) e consiste em tratar o material que foi utilizado no curativo com o pó ou com uma solução concentrada de sulfato de ferro ou de cobre. É necessário que o procedimento seja feito ao lado da pessoa ferida.

22 POSSESSÃO

No sentido mais geral, a possessão seria a invasão da pessoa por uma entidade psíquica que consegue imiscuir-se no funcionamento normal do espírito invadido, dominá-lo em maior ou menor grau, subjugá-lo, ou, até mesmo, expulsá-lo completamente de seu corpo. A pobreza dos nossos conhecimentos relativos à estrutura real de nossa mente, bem como nossa ignorância quase completa no que diz respeito ao além, impedem-nos de distinguir fenômenos atualmente confundidos sob uma denominação única, mas que são, provavelmente, distintos.

O desdobramento da personalidade, descrito aqui, pode ser considerado como um caso, perfeito, aliás, de possessão. Os fenômenos de poltergeist, também descritos aqui, mostram uma atividade extracorpórea da possessão. A possessão provisória é representada pelo médium, que, em estado de transe, assume a personalidade de um morto. Isto não é válido, naturalmente, para os casos em que o próprio inconsciente do médium se põe a representar um papel "teatral". Estão descritos, mais adiante, vários casos que entram nesta categoria. Agressão pelo médium "possuído” Na noite do dia 5 de abril de 1904, uma sessão reuniu em torno do médium L. P. o pesquisador Bozzano e outras quatro pessoas. Após algum tempo, o médium manifestou um grande medo, levantou-se, lutou contra um inimigo invisível, rolando no chão, e correu para um canto da sala, berrando: "Para trás! Vá embora! Não, eu não quero. Me ajudem!" As testemunhas, não sabendo o que fazer, concentraram seus pensamentos em Luigi, o espírito-guia do médium. Acalmando-se aos poucos, o médium suspirou e murmurou: "Ele se foi! Que cara feia!” Luigi, o espírito-guia, manifestou-se, então, pela boca do médium e explicou que estava presente à sessão um espírito da mais baixa categoria, contra o qual ele não conseguia lutar e que possuía um sentimento de ódio implacável contra um dos membros do grupo. Neste momento, o médium exclamou: "Aí está ele, de novo! Eu não posso mais vos defender! (Lembremo-nos de que era o espírito-guia que falava.) Sus-pendam-na... Luigi certamente queria dizer: "Suspendam a sessão", mas já era tarde demais. O médium, urrando e tomado de fúria, agarrou-se à garganta de um dos presentes, decidido a estrangulá-lo com todas as suas forças. Ele rugiu: "Finalmente eu te reencontro, covarde! Eu fui soldado na marinha real. Você se lembra do caso do Porto? Você me deu a morte, mas hoje eu vou me vingar e te estrangular". Depois de uma terrível luta corpo a corpo, os assistentes, reunindo todas as suas forças, conseguiram arrancar a vítima, meio estrangulada, das garras do médium, que urravacomo um tigre e acabou caindo em completo abatimento, desfalecendo sobre o tapete. Esta incrível agressão contra a vítima, que o relato designa como "Sr. X", foi estudada por Bozzano, que tinha como pontos de partida as menções da "marinha real" e do "caso do Porto". Bozzano estava certo de que não se tratava de fantasias, ainda mais porque a vítima não tinha protestado contra a grave acusação de homicídio. Sabia-se que, em sua juventude, ele havia servido na marinha, como oficial. Eis o que Bozzano encontrou: Durante um cruzeiro de instrução, o tenente X,

passando perto de uma taberna no Porto onde o navio fazia escala, ouviu um barulho de vozes furiosas de bêbados e, percebendo que falavam em italiano, compreendeu que eram marinheiros da sua tripulação. Entrou e, reconhecendo os homens, ordenou-lhes que voltassem ao navio. Um deles, mais bêbado que os outros, recusou-se a ir, chegando a ameaçar seu superior. O oficial, irritado, puxou a espada e golpeou o peito do homem, matando-o. Ele foi levado ao conselho de guerra, condenado a seis meses de prisão numa fortaleza - punição máxima para um oficial - e, quando a pena foi cumprida, foi convidado a demitir-se. Estes eram os fatos. Os remorsos do oficial teriam sido capazes de criar um fantasma no espírito do médium? Longos anos haviam se passado entre o assassinato e a sessão espírita. Por que, então, este súbito furor? Mas as vias do inconsciente são impenetráveis... É preciso observar que este caso realiza com rara perfeição uma possessão no sentido eclesiástico do termo. Tudo se passou exatamente como se o médium tivesse sido possuído pelo espírito do marinheiro morto! O Dr. Gibier, colaborador de Pasteur e fundador do Instituto Pasteur de Nova York, conta o seguinte caso em Spiritisme, fakirisme occidental (1891). Em 1886, Gibier realizava experiências mediúnicas num laboratório da Escola Prática da Faculdade de Medicina de Paris. O laboratório ficava ao lado de um anfiteatro, no qual se encontrava, justamente, um cadáver que havia servido ao Dr. Gibier para estudos de medicina operatória. Assistiam às sessões dois amigos de Gibier, um médico e um jornalista. O médium, Sr. S., era um gigante americano, que produzia materializações e fenômenos de TK. Na primeira sessão, não houve fenômenos nítidos. O médium sentiase pouco à vontade e queixava-se de "más influências" . À saída, receberam uma chuva de pancadas nas costas, principalmente o médium. Quando voltavam para casa, de carro, as pancadas continuaram a chover no teto do veículo. Na sessão seguinte, enquanto se dirigiam ao laboratório, dois frascos de vidro foram atirados contra eles. Um deles atingiu um dos participantes, enquanto o outro espatifou-se nos degraus da escada que subiam. O prédio estava vazio. No laboratório, durante algum tempo tudo correu normalmente. O Dr. Gibier disse, em tom jocoso (mas em francês, para não ser compreendido pelo médium, que ele não queria perturbar), que, se o homem disseqado fosse um mau elemento, faria todo o possível para impedir que eles conseguissem realizar suas pesquisas. No mesmo instan-te, o médium entrou em transe, agitou-se convulsivamente e depois levantou-se, com os olhos saltados, agarrando um pesado banco de carvalho e fazendo-o girar no ar. Os assistentes afastaram-se rapidamente, mas o Dr. Gibier ficou preso onde estava, de costas para a parede, atrás de uma mesa e entre um aquecedor e um móvel. O

americano apontou para ele o indicador esquerdo e, com a mão direita, atirou o banco, soltando um gemido rouco e gutural. Gibier protegeu-se, usando a mesa como escudo. Esta foi rachada ao meio. Ele a empurrou contra o médium enfurecido, que largou o banco e deixou-se cair numa cadeira, tomado por convulsões. Ele voltou a si rapidamente e não se lembrava de nada. Eles retomaram a sessão; no entanto, desta vez, o médium foi colocado no lugar onde estava antes o Dr. Gibier. Imediatamente, o americano teve um segundo acesso e avançou novamente sobre Gibier, brandindo sua cadeira. Este protegeu-se primeiro com o banco, mas depois, lembrando-se de um procedimento do qual ouvira falar como sendo infalível em tais circunstâncias, jogou fora o banco e dirigiu seus dedos para o rosto do médium, desejando violentamente que ele fosse imobilizado. O efeito foi instantâneo: o americano atirou a cadeira para trás, com tanta força que ela despedaçou-se, tremeu violentamente e foi bruscamente transportado alguns passos para trás. Em seguida deixou-se cair no chão, retorcendo-se com tanta violência que se podiam ouvir suas articulações estalando. Ele foi reanimado por alguns passes magnéticos. Gibier dedicou várias páginas de seu trabalho para descrever os perigos destas manifestações. Quando já se viu o suficiente para convencerse, é preciso deixar o perigo que oferece esse tipo de investigação para aqueles que possuem a força e a competência necessária para enfrentá10 e levar os trabalhos a um bom termo. Sua explicação, que não difere daquela dos espíritas nem da dos teósofos, é a de que as larvas podem apoderar-se do corpo astral disponível e causar danos irreparáveis (termos do Dr. Gibier). Incorporação Designaram-se com este nome os casos, raríssimos, nos quais o espírito de uma pessoa se encontra no corpo de outra, sem que se saiba para onde foi aquele que, aparentemente, foi expulso. Eis um destes casos, contado pelo Dr. H. Larcher no no. 18 da Revue métapsychique: Em Budapest, Iris F. adormeceu profundamente, após quinze dias de doença. No dia 5 de agosto de 1933, ela acordou, mas não reconheceu nenhuma das pessoas que lhe eram próximas. Em vez de húngaro, ela só falava o alemão e o espanhol. Ela revelou chamar-se Lucía Alterez de Salvio, disse que tinha catorze filhos e que seu marido, Pedro de Salvio, era ferroviário. Todos eles moravam em Madri. Depois desta transformação, ela se pôs a preparar pratos espanhóis e a fumar,

enquanto lris jamais havia fumado. Ela dançava e cantava canções espanholas. As buscas em Madri não deram resultado, pois a família havia deixado a cidade durante a guerra civil. No entanto, descobriu-se que Lucia havia morrido, esmagada por um carro blindado ao tentar salvar seu filho mais novo. Isto ocorreu três meses antes da curiosa doença de lris. Apesar disso, Pedro foi encontrado muito mais tarde e foi ver IrisLucia. Ele ficou estarrecido! Ela deu detalhes que somente os dois conheciam e o nome de seus catorze filhos. A incorporação foi tecnicamente dominada no Oriente, onde ela pode ser praticada à vontade. Este é, por exemplo, o caso dos tulkus tibetanos. O caso seguinte, no qual a magia certamente desempenhou um papel essencial, foi descrito por Christie-Murray em Réincarnation - anciennes croyances et évidence moderne (Newton Abbot, Londres, 1981). O chefe do monastério Ky-Rong acabara de morrer. Para substituí-lo, foi escolhido um menino de oito anos, um tanto simplório, que foi colocado numa liteira, sobre os joelhos do corpo embalsamado do morto, sendo ambos recobertos com um véu. Logo, ouviu-se um grito e, arrancado o véu, o garoto surgiu declarando: "Eu sou o Lama Me Thon Tsampo" . Com os olhos faiscando de uma luz insólita, ele se pôs a falar com autoridade, discutindo os pontos da doutrina e profetizando. Ele reconheceu, bem entendido, os objetos que lhe haviam pertencido. Jasbir, três anos e meio, de Uttar Pradesh, morreu de varíola. Durante a noite, ele ressuscitou. Depois de permanecer mudo durante vários dias, declarou que se chamava Sotha Ram, que tinha vinte e dois anos e que havia morrido recentemente, batendo a cabeça numa queda. Ele morava num vilarejo das proximidades. Tendo pertencido à casta dos brâmanes, ele recusava todo alimento que não tivesse sido preparado segundo as regras da casta. Acabouse por descobrir a família e a criança reconheceu seus pais, assim como outros membros da comunidade. Preferindo esta família à de Jasbir, ele acabou abandonando esta última e foi morar com a família de Sotha Ram, ou seja, a sua. Quanto a Jasbir, ele foi, aparentemente, expulso. Entretanto, o caso poderia ser diferente do que parece. Talvez Jasbir estivesse realmente morto, tendo seu espírito deixado o corpo, mas, estando este ainda vegetativamente vivo, o espírito de Sotha Ram, que acabava de deixar o seu, poderia ter aproveitado a disponibilidade oferecida para reencarnar-se imediatamente. Tratar-se-ia, então, não de uma incorporação, mas de uma "ressurreição" com substituição de espírito, ou melhor, de uma troca de espíritos no mesmo corpo.

lII. PODERES DA MENTE SOBRE SEU CORPO

23 OS ESTIGMAS

No sentido mais amplo que este termo possui, principalmente na psiquiatria, os estigmas são marcas que aparecem na pele de certos sujeitos, principalmente femininos, quer sejam santos e misticos, quer sejam histéricos ou, enfim, hipnotizados. No sentido limitado ao domínio cristão, os estigmas que surgem nos extáticos reproduzem as cinco chagas de Jesus. A fraude torna-se particularmente fácil no caso dos estigmas, que podem ser imitados de inúmeras maneiras. A religiosa Magdalena da Cruz confessou a impostura e foi condenada à reclusão monástica por toda a vida. Não se conhecem casos de estigmatização antes do início do século XIII. A natureza dos estigmas é variável e pode ir de um avermelhamento superficial da pele até feridas profundas, que atravessam os tecidos do corpo. Resumindo a orientação do pensamento católico moderno, o padre Thurston S. J. considera todos estes fenômenos, em geral, como efeitos de uma sugestão histérica: - A chaga na parte lateral do corpo é realizada por estigmas que podem assumir formas tanto lineares como puntiformes, ou, ainda, forma de lua crescente. Não se pode perceber, aí, uma intervenção "do alto" para reproduzir a chaga de Jesus. - No caso de Gemma Galgani, as chagas sangrentas reproduziam, tanto nas dimensões quanto nas posições, as que estavam representadas num grande crucifixo diante do qual ela costumava rezar. - A extática Catherine Emmerich foi marcada primeiro com uma cruz no peito. Esta cruz tinha a forma, muito particular, de um Y, que reproduzia a do crucifixo de Coesfeld, pelo qual ela tinha grande devoção quando pequena. A sugestão é evidente. - Quando se considera coletivamente os casos de extáticas revivendo a Paixão, com os sintomas físicos correspondentes, percebe-se que as aparências objetivas seguem a história tradicional, ou melhor, suas diferentes variantes, pois, além dos textos evangélicos temos os apócrifos, que são textos antigos e veneráveis, que forneceram numerosos detalhes bem conhecidos. Um dos apócrifos descreve detalhadamente a cru-cificação. O padre Thurston conclui sua demonstração estabelecendo um paralelismo perfeito entre as atividades das extáticas revivendo a Paixão de Cristo e as personalidades dissociadas, bem conhecidas da psiquiatria. A quase totalidade dos casos de estigmatização está ligada a desordens nervosas. Nos últimos sete séculos, só foram

notados dois casos de estigmatização masculina. Entre as propriedades particulares dos estigmas, podemos salientar: - o desaparecimento quase instantâneo dos estigmas, assim como seu ressurgimento em certas circunstâncias, o que faz pensar numa disjunção dentre o corpo físico e seu duplo astral. A cirurgia com as mãos nuas deu lugar a hipóteses semelhantes: apesar das aparências, os tecidos não são realmente cortados e a operação propriamente dita utiliza uma desmaterialização da matéria. A incisão se fecha quase instantaneamente porque apenas o corpo sutil foi cortado e a volta ao estado normal é feita por uma rematerialização; - que o estigma é uma ferida sui generis que, entre várias outras particularidades, possui a de não evoluir. Ao contrário das demais feridas, o estigma não cicatriza (por mais que se faça de tudo para isso), não cresce, não se infecciona, não evolui. No padre Pio, o estigmatizado, estes estigmas persistiram por cinqüenta anos. Eles foram controlados, em particular, pelo Dr. Bignami, materialista convicto. À morte do capuchinho, os estigmas desapareceram sem deixar vestígios. As constatações dos médicos e as fotografias tiradas logo após a morte atestaram o fato. Não se conhece, atualmente, nenhum mecanismo psicofisiológico ou neurológico que possa produzir lesões iguais aos estigmas (Babinski, Lhermitte). Estigmatização diabólica Assim como para a infestação diabólica, que é uma forma de assombração, nós conservamos o termo "diabólica" para designar uma forma particular de estigmatização. A palavra não implica uma crença na existência do Grande Chifrudo, inimigo de Deus e dos homens, mas foi usada por ser um termo cômodo. Sem contar que a Igreja detém aqui a prioridade na denominação, como é de regra nas ciências. Uma vez que, segundo a Igreja Católica, o Diabo tem um poder que se estende sobre o nosso mundo, é natural pensar que ele possa enviar estigmas aos seus próprios eleitos. Eleonora Zügun, nascida em 1913 na Romênia, manifestou fenômenos de poltergeist em torno de 1925. O que estes fenômenos tinham de particular é que eles atacavam a própria Eleonora. Ela foi estudada por Harry Price, que unia à qualidade de parapsicólogo a de prestidigitador, assistido pelo Dr. Fielding Ould. O espírito, ou o poltergeist, como preferirmos, deixava no corpo da menina arranhões sangrentos, freqüentemente formados por onze traços paralelos. Ele também a mordia nos braços: o sinal deixado mostrava a marca de seis dentes em cima e cinco em baixo, mas o que ele tinha de particular é que também podia aplicar-se a uma superfície plana, como no ombro, formando um círculo, como se a mandíbula estivesse com-

pletamente deslocada (à maneira dos peixes ciclóstomos). Ela era também espetada por alfinetes que provinham da casa. Apresentava, inclusive, dermografias. Foi assim que se viu surgir em seu braço a palavra DRACU, que, em romeno, quer dizer diabo. Por que duvidar do autor, uma vez que o malefício está assinado? O que distinguia estas manifestações era seu caráter inesperado. Naturalmente, tudo foi feito para eliminar a fraude, fosse ela consciente ou não. Os investigadores cobriram o braço de Eleonora com uma gordura tingida ou com um pó fino, colorido e adesivo, que deveriam ser encontrados depois na boca ou nas unhas da menina, caso ela mesma provocasse os ferimentos. O resultado deste controle era sempre negativo. Aliás, as marcas de garras foram vistas formando-se sob os olhos dos observadores. As conclusões deste caso podem ser adotadas com reserva, no entanto as observações são boas. O caso teria uma explicação animista, segundo a qual o inconsciente de Eleonora tinha tendências masoquistas. Não há por que espantarse: não é de nosso ego consciente que dependem estas pulsões.

24 A INCOMBUSTIBILIDADE DO CORPO HUMANO.

A RESISTÊNCIA AO FOGO A resistência do corpo humano à ação do fogo é um fenômeno paranormal que está entre os que são mais contrários aos nossos conhecimentos mais elementares. Uma criança de dois anos que coloca o dedo na chama de uma vela já sabe que o fogo queima. Entretanto, em determinadas circunstâncias, os homens podem passear sobre brasas e sobre pedras incandescentes sem que seus pés apresentem o menor traço da ação do calor, sendo que até suas roupas ficam intactas! Estes fatos, que se repetem a toda hora e nos mais diversos países do mundo, contradizem claramente a física, a química e a biologia mais elementares que nos são ensinadas, bem como o bom senso vulgar. Os pés destes homens devem queimar: ora, eles não queimam. É evidente que alguma coisa vem anular os efeitos da alta temperatura. Como nenhum agente físico desempenha este papel, trata-se, por tanto, de uma ação da mente. Esta evidência é corroborada pela possibilidade de treinamento psíquico no exercício da incombustibilidade, as sim como pela capacidade do executante de conferir a incombustibilidade a outras pessoas, por meio de uma pequena cerimônia simples.

Podem-se distinguir, no conjunto dos fenômenos paranormais de resistência às altas temperaturas, dois tipos de fenômenos: 1. A resistência geral ao fogo. Ela pode ser inata ou adquirida, por exemplo por um treinamento que faz parte do xamanismo. A pessoa que apresenta este fenômeno pode exercê-Io em estado de transe ou em seu estado normal. Ela pode, então, colocar as mãos ou a cabeça nas chamas, segurar um ferro em brasa, lambê-Io e engolir líquidos extremamente quentes, como o breu derretido e inflamado. 2. A pirobacia, ou marcha sobre o fogo, consiste em caminhar sobre um leito de carvão ardente ou lajes de pedras incandescentes. Duas particularidades caracterizam a pirobacia: ela pode ser concedida pelo operador a outras pessoas através de um ritual rápido, como um toque, e, além disso, a proteção estende-se às roupas e aos sapatos, embora haja uma curiosa exceção - a dos sapatos de couro, que nem sempre são protegidos. No mais, multidões inteiras foram observadas passando numa vala de fogo sendo que delas faziam parte inclusive europeus. A pirovassia é uma variante da pirobacia: ela consiste em danças sobre o carvão em brasa. Esta dança particular pratica-se atualmente na Grécia pelos anastenares (ver mais adiante). Os fatos A resistência do corpo humano ao fogo é um fenômeno particularmente digno de interesse, pois, além de ser conhecido nos mais diferentes países do mundo, ele entra em contradição com as noções mais elementares da nossa química. Este fenômeno foi atestado desde a alta Antiguidade; foi freqüente na Idade Média; é encontrado hoje na África, entre os xamãs siberianos, no Japão, entre os índios americanos, na América Latina, na Austrália e na Europa. Em 1637, os feiticeiros mostraram ao padre jesuíta Lejeune, que tinha ido evangelizar os huronianos de Quebec, como eles conseguiam segurar entre os dentes pedras em brasa e como, para aliviar os doentes, eles os esfregam com brasas. Desafiado a fazer o mesmo, apesar de toda a sutileza de sua dialética, o padre jesuíta foi obrigado a confessar-se derrotado. Em 1731, fenômenos extraordinários ocorreram sobre o túmulo do diácono François Paris, morto quatro anos antes. Diante dos fenômenos de histeria coletiva e da afluência cada vez maior de pessoas, o rei ordenou o fechamento do cemitério de Saint-Médard, onde se encontrava o túmulo do diácono. Ora, à parte a histeria e a desordem, fenômenos extremamente estranhos produziam-se no local, sendo amplamente observados por um grande número de testemunhas, entre as quais per-

sonagens importantes. Foram vistas levitações, a incombustibilidade dos corpos e das roupas e o endurecimento das carnes do corpo, o que as tornava resistentes às facas e às pontas. Um magistrado agnóstico, Carré de Montgeron, (1) foi encarregado das investigações. Ele constituiu uma comissão de inquérito, compreendendo dois padres e oito funcionários reais. 1. Menciona-se também que Montgeron era jansenista. Na verdade, ele tornou-se jansenista justamente em conseqüência de suas observações em Saint-Médard. Antes disso ele chamava a atenção por levar uma vida um tanto dissoluta. (N. do A.) Tendo constatado os fenômenos, Montgeron, impressionado pela autenticidade dos mesmos e vendo neles objeto de estudo e não motivo para escândalos, apresentou seu trabalho ao rei. A justiça optou por abafar o caso, que escapava ao controle das autoridades religiosas oficiais e mandou esse metapsíquico, muito avançado para sua época, refrescar as idéias na Bastilha. Foi assim que o obscurantismo triunfou mais uma vez e que o estudo dos fenômenos parapsicológicos, que teria podido iniciar-se com um material excepcional, sofreu um retardo de duzentos e cinqüenta anos. Eis o exemplo de um documento que registra fatos observados em Saint-Médard. Estes referem-se à "Salamandra". "Nós, abaixo assinados, François Desvernays, padre, doutor em teologia no Estabelecimento e Sociedade da Sorbonne; Pierre Jourdan, licenciado da Sorbonne, cônego de Bayeux; Milorde Edouard de Rumond Perth; Louis-Basile Carré de Montgeron, conselheiro do Parlamento; Armand Arouet, tesoureiro da Câmara de Contas; Alexandre-Robert Boindin, escudeiro; Senhor de Boibessin (e mais vários burgueses de Paris e escudeiros), certificamos ter visto, no dia de hoje, entre 8 e 10 horas da noite, a denominada Marie Sonnet, tendo convulsões, com a cabeça sobre um banquinho e os pés sobre um outro, estando os mencionados banquinhos inteiramente dentro de uma grande lareira, um de cada lado, de maneira que seu corpo estava no ar, acima do fogo, que era extremamente violento e que ela ficou pelo espaço de trinta e seis minutos nesta situação, por quatro vezes, sem que o lençol que a envolvia, não vestindo roupas, tivesse queimado, embora a chama a ultrapassasse algumas vezes, o que nos pareceu absolutamente sobrenatural. Atestando o fato, assinamos neste dia 12 de maio de 1731. Assinado: (seguem os nomes precedentes). Mais, certificamos que, enquanto assinávamos o presente certificado, a mencionada Sonnet colocou-se novamente no fogo da maneira acima enunciada e lá ficou durante nove minutos, parecendo dormir acima do braseiro que estava muito ardente, lá havendo quinze

achas e um pequeno feixe de lenha queimando durante as mencionadas duas horas e quinze minutos.” Esta passagem é freqüentemente mal citada: compreende-se "por, quatro vezes" como "em quatro vezes", enquanto o documento diz, explicitamente, que era "recomeçando por quatro vezes", o que, contando com os nove minutos suplementares, perfaz bem o total indicado, com alguns minutos entre cada "cozimento". Marie Sonnet não era a única a apresentar tão notável e completa resistência ao fogo. Um amigo de Carré de Montgeron pendurou no pescoço de outra incombustível, Gabrielle, maçãs e ovos e, desse modo, ela os pôs a cozinhar, simplesmente colocando a cabeça nas chamas. Foi relatado que, no Tibete, os monges podem ficar no meio das chamas. São os mesmos monges que ficam ao relento, seminus, com temperaturas muito abaixo de zero. Diante das perseguições religiosas sofridas pelos budistas, conheceram-se numerosos casos de bonzos que foram queimados vivos, ateando fogo ao próprio corpo, encharcado de petróleo. Observou-se que no momento em que, horrivelmente queimado, o corpo tombava definitivamente, o rosto dos sacerdotes permanecia perfeitamente impassível. Poderia tratar-se de um autodomínio sobre-humano. Mas também podemos supor que, talvez, tendo sacrificado a própria vida, o religioso punha-se no mesmo estado que lhe permitia andar sobre o fogo e que, enquanto seu corpo queimava, ele nada sentia. No século XX, as informações tornam-se cada vez mais detalhadas e confirmam, exatamente, as antigas. O abade Despatures, futuro bispo de Mysore, na índia, foi convidado pelo rei a assistir a uma cerimônia de caminhada sobre o fogo. Uma vala de 2 metros por 4 metros foi preenchida com carvões em brasa, numa espessura de pelo menos 25 centímetros. O padre aproximou-se e constatou que a vala irradiava um ca-lor insuportável. Um maometano, do norte da índia, achava-se numa das extremidades da vala. Ele convidou um dos servos a entrar e, como este resistia, agarrou-o e o empurrou. O infeliz, apavorado, primeiro tentou sair, mas, a seguir, exibiu um largo sorriso e caminhou lentamente sobre as brasas. Os outros servos, então, o seguiram e depois foram os músicos do rei, entre os quais vários cristãos, com seus instrumentos, cujas partituras de papel não se inflamaram, bem como suas roupas. Alguns amontoados de folhas secas de palmeira foram jogados na vala, para provar que não havia truque: as chamas, que se elevaram imediatamente, subiam mais alto que a cabeça dos músicos e roçavam suas partituras. Neste momento, dois europeus, o chefe da polícia local (católico) e um engenheiro civil, que assistiam à cerimônia, perguntaram ao rei se poderiam participar também, ao que o rei aquiesceu. Eles desceram na vala, totalmente vestidos. Interrogados pelo futuro bispo, responderam que se sentiam bem, que estavam no braseiro mas que o fogo

não os queimava. Ao final da cerimônia, o muçulmano dono do fogo caiu, contorcendo-se no chão. Trouxeram-lhe água, que ele bebeu com sofreguidão. Um brâmane, então, explicou ao padre: "Ele tomou para si a queimadura do fogo". Seria este o segredo da transmissão? Talvez, mas certamente não é a explicação: seria preciso saber como se faz para "tomar para si" uma ação física. Esta é mais uma manifestação dos poderes da mente. O desenrolar da caminhada no fogo é idêntico na Polinésia, nas ilhas Fiji, na ilha Reunião, na Índia e em outros lugares. Nos Estados Unidos ela é praticada pelos Apaches Sioux, Cheyennes e Pueblos. Na ilha Reunião, uma cerimônia é organizada todos os anos durante a quaresma, pela comunidade indiana, na presença das autoridades e do prefeito. A cada vez, um incrédulo atira qualquer coisa no fogo para verificar se não é um truque e, a cada vez, o objeto queima imediatamente. Em 1890, quatro britânicos assistiam a uma festa vudu na ilha de Raratoa. Todos os presentes ultrapassavam a vala repleta de pedras em brasa. O Dr. Gudgeon, o Dr. T. Hocken e seus dois amigos, tendo previamente recebido a proteção do xamã, passaram também: eles nada sentiram, a não ser um leve ardor. Apenas um dos quatro virou-se para trás e foi muito levemente queimado (isso nos lembra a mulher de Lot...). Hocken quis medir a temperatura emitida pelo fosso: a uma distância de 2 metros, a solda metálica que protegia o termômetro derreteu quando o mercúrio se aproximava de 200°C. Em 1935, uma experiência foi organizada na Universidade de Londres. A vala de carvão media 7 metros de comprimento e a temperatura das brasas chegava a 430°C. Um jovem hindu muçulmano percorreu-a quatro vezes. Os céticos argumentaram que ele caminhava depressa demais para queimar-se, mas nenhum deles quis fazer omesmo para demonstrar a validade de sua hipótese. A resistência do corpo humano ao fogo foi estudada em Dunglas Home, ao longo de numerosas sessões. Para provar que os carvões utilizados estavam mesmo em brasa, Home deixou que, por diversas vezes, as pessoas queimassem os dedos, após o que ele as imunizava através de dois passes rápidos. As pessoas, então, tornavam-se capazes de manipular impunemente os mesmos carvões. Este foi o caso de Lord Lindsay, acadêmico que queimou deliberadamente um dos dedos. Home colocava a cabeça nas chamas de uma lareira e a sacudia como se estivesse debaixo de uma ducha. Em certa ocasião, Home colocou um sininho metálico, aquecido até o rubro, nos cabelos de uma senhora. De outra vez, foi um carvão incandescente, no colo de outra senhora, que estava usando um vestido de musselina branca, o qual ficou intacto. Em ambos os casos, nenhuma manipulação suspeita foi notada.

Estando hospedado na casa do Sr. Samuel Carter Hall, editor do Art Journal, Home colocou sobre a cabeça do dono da casa um bloco de carvão ardente, tão grande que era obrigado a segurá-Io com as mãos. De acordo com o depoimento da Sra. Hall, Home assentava sobre o carvão os cabelos brancos do Sr. Hall, que sentia apenas um calor moderado. Assim como a maioria das faculdades paranormais, a resistência ao fogo, que é uma prática do xamanismo, pode ser inata. Eis alguns exemplos. No século XVII, um ferreiro inglês chamado Richardson fazia demonstrações de uma completa insensibilidade ao fogo. Ele era tão conhecido na Inglaterra quanto na França, onde um artigo do Journal des savants lhe foi dedicado em 1677. Ele engolia pedaços de carvão em brasa e também colocava sobre sua língua uma pedaço de carvão ardente, sobre o qual era colocado uma ostra. Atiçava-se então o carvão, que lançava chamas e fagulhas, até que a ostra se abrisse e fosse cozida. O mesmo homem bebia uma mistura inflamada de breu, cera e enxofre, que ainda queimava em sua boca; brincava com uma haste de ferro aquecida a ponto de ficar branca, mantendo-a entre os dentes, embora não por muito tempo. A relação destes fatos pode ser encontrada na obra de John Evelyn. Entre nós, no século XVII, o feiticeiro Thomas Boullé foi acusado de manter relações com o Diabo, para poder caminhar sobre brasas sem se queimar. Seus juízes fizeram questão de provar-lhe que esta incombustibilidade diabólica era de má qualidade: eles o queimaram vivo, em Roueo, a 22 de agosto de 1647. Em 1871, o New York Herald relatou que Nathan Cooker, um negro de Thlbot County, em Maryland, podia colocar os pés sobre uma pá aquecida até o rubro e mantê-Ios aí até que a pá esfriasse. Ele podia fazer o mesmo com sua língua, lambendo a pá. O homem foi examinado por vários médicos, que constataram a ausência de queimaduras, tanto nos pés como na língua. Cooker derramava chumbo derretido na própria boca, bochechando com o mesmo, até que esfriasse e se solidificasse. Nenhum truque foi descoberto. Cooker exercia a profissão apropriada para os seus talentos particulares: ele era ferreiro. Melhor que o ferreiro gaulês de Asterix, ele dispensava as pinças, pois podia segurar com as mãos o ferro incandescente, enquanto forjava! Esta proeza foi devidamente atestada por dois juízes. Nesta época ele tinha em torno de cinqüenta e oito anos. Era um homem ignorante e analfabeto, que descobrira suas capacidades ainda na infância, quando era um criado: ele contava a maneira como conseguia roubar nas cozinhas, pescando bolinhos no óleo fervendo e consumindo-os com auxílio de café fervente. O artigo do New York Herald foi retomado na The Spiritual Magazine de janeiro de 1872. Ainda mais perto de nós, em 1927, K. R. Wissen, de Nova York, descobriu, nas

montanhas do Tennessee, um rapaz que pegava com firmeza carvões em brasa sem nada sentir e que considerava isto como fato normal! O missionário Faurie descreveu um Richardson chinês, Bruno Kiong. Ele manipulava impunemente carvões em brasa e os colocava nas roupas, sem que estas queimassem. Era um feiticeiro-curandeiro, cuja arte praticava-se na família fazia dois séculos. Ele fazia seus números com carvões ardentes nos mercados, a título de publicidade, para atrair a clientela. Os anastenares gregos Fenômenos análogos à caminhada sobre o fogo existem também na Europa, mais exatamente na Grécia. Do ponto de vista da fisiologia paranormal os fatos são os mesmos, mas a explicação histórica é, aqui, muito particular. Trata-se de nada mais nada menos que do renascimento das festas dionisíacas, mas, desta vez, com uma colaboração cristã. Os fenômenos de pirobacia e pirovassia são praticados por um grupo especial, que não é uma sociedade no sentido comum da palavra, pois só podem fazer parte deste grupo aqueles que provam sua capacidade de incombustibilidade. Estes homens e mulheres levam o nome de anastenares (aqueles que gemem). Pesquisas de diversos estudiosos gregos mostram que estas cerimônias são muito antigas. Entre os nomes que eram dados às participantes destas cerimônias, encontramos as bacantes e as mênades, conhecidas pelas orgias e pelos excessos aos quais se entregavam, em homenagem ao seu deus. Um texto do século XII cita, como sede destas atividades, o vilarejo de Kosty. Outrora, várias festas, com duração de oito dias, lá eram celebradas. O fogo sobre o qual se passava era permanentemente conservado. Estas festas eram seguidas de orgias, detalhe comum a numerosos rituais de fecundidade. Esta atividade foi perseguida pela Igreja Ortodoxa, mas a perseguição de nada adiantou. Entretanto, as inúmeras perseguições, as proibições e as prisões acabaram por produzir seus frutos, coroados pela expulsão dos anastenares pelos búlgaros em 1914. Os anastenares entraram para a clandestinidade e passaram a organizar suas cerimônias sempre em segredo. O Dr. Tanagras, erudito grego, percebeu que estas cerimônias representavam um precioso legado do passado e trabalhou incansavelmente para reintegrá-Ias à vida moderna. Ele precisou lutar tanto contra a indiferença dos sucessivos governos quanto contra o esquecimento do público. E conseguiu: os anastenares foram reencontrados e, daí em diante, as festas de Dionísio voltaram a ser celebradas na Grécia, com a única diferença de que o deus pagão foi substituído por São Constantino, bem cristão, e que os tirsos foram trocados por ícones. Quando a Igreja

se vê confrontada com um culto diferente, tenta primeiro abafá-lo e eliminá-lo. Se não consegue seu intento, ela o incorpora. Estas incorporações dos cultos locais, juntamente com a eventual elevação das divindades ao nível dos santos, são numerosas em todas as religiões. Atualmente, a pirobacia e a pirovassia são praticadas em Langada, perto de Tessalônica, em Marolevki, em Maliki e em Santa Helena. Imensas multidões participam das festas, inclusive professores, diplomatas estrangeiros, oficiais superiores do exército, jornalistas e turistas. A Sra. Diamantoglou descreveu a cerimônia anastenar ocorrida em Langada no dia 21 de maio, dia de São Constantino: "Após a caminhada solene, os sete anastenares, cinco mulheres e dois homens, puseram-se a dançar ao som de uma orquestra de instrumentos populares. A dança era frenética e, depois de uma meia hora, os dançarinos entraram em estroplegia, isto é, em estado de transe. Seus olhos reviraram-se, deixando aparecer só o branco. Finalmente, entraram na área de fogo, que atravessaram várias vezes, durante vinte minutos, após o que a dança recomeçou. Eles dançaram, então, durante mais vinte minutos, pisoteando os carvões em brasa. Todos estavam descalços, desde a primeira vez em que entraram no fogo.” As solas de seus pés foram examinadas após estas demonstrações e não mostraram qualquer queimadura, nem mesmo vermelhidão. Como acontece nas outras partes do mundo, suas roupas também permaneceram intactas. A Sra. Diamantoglou viu um rapaz que estava assistindo à cerimônia sair do meio dos espectadores e precipitar-se, completamente vestido e calçado, no fogo, para aí dançar, junto com os dançarinos. Suas roupas e sapatos não apresentavam qualquer marca do fogo. No ano seguinte, ele fazia parte dos anastenares. Os anastenares são camponeses, dedicam-se ao trabalho no campo. Todos eles gozam de uma saúde perfeita e nunca consomem álcool. Ao contrário de todos os demais homens insensíveis ao fogo, os anastenares agem em estado de transe. As explicações A caminhada sobre o fogo e os outros fenômenos de incombustibilidade suscitaram um grande número de explicações. Estas se caracterizam pela gratuidade dos argumentos e pela ingenuidade dos autores, reduzindo-se freqüentemente a fantasias sem consistência. Podemos citar as seguintes: - As lajes não seriam (ou não estariam mais) quentes e os tições estariam mais ou

menos apagados. Esta "explicação" pressupõe que milhares de testemunhas não foram capazes de distinguir uma laje incandescente de uma laje morna. As testemunhas também viram as chamas elevando-se acima das cabeças dos que andavam nas brasas e as folhas das árvores próximas retorcendo-se sob o efeito do calor. As medições feitas com termômetros indicaram centenas de graus (Hocker; Colquhoun). O coronel Cudgeon comeu ti cozido sobre lajes que ainda per maneciam quentes, meia hora após o fim da cerimônia. . - Os pés coriáceos dos indígenas. Esta explicação supõe que os pés dos indígenas sejam recobertos por uma pele particularmente insensível. Isto é estúpido: a pele, mesmo coriácea, queima. E esta explicação omite os europeus que participaram da cerimônia e se cala sobre a proteção que se estende às meias e às calças. - As receitas misteriosas foram invocadas desde a Antiguidade e este argumento é sempre reutilizado. A realidade é que não existe qualquer substância ou tratamento que possa proteger a pele da ação do fogo. Encontram-se, entre estas receitas, a utilização do alume, do cloreto de mercúrio, o tratamento pelo ácido sulfúrico e a aplicação de sal grosso. Com exceção da possibilidade de recobrir as mãos ou a língua com uma camada espessa (foi proposto o açúcar recoberto de sabão duro), que leva, evidentemente, algum tempo até ser atravessada pelo calor, estas receitas são ilusórias. Vários pesquisadores as experimentaram (Hyslop, Batchelder) e queimaram-se da mesma forma. Aliás, os pés dos indígenas que foram examinados não traziam qualquer camada protetora, tampouco os dos europeus. - Umidade e rapidez de contato. Invocou-se a lavagem prévia dos pés com água, o que formaria, no contato com as lajes ardentes, uma camada protetora de vapor (por calefação). Adiantou-se a hipótese da adição do cloreto de cálcio. Isto é alta fantasia. A rapidez de contato pode ser válida, mas apenas para uma duração muito breve. Jirl Walker conseguiu correr, descalço, sobre 1,50 metro de carvões em brasa. No entanto, os que caminham sobre o fogo fazem-no lentamente, ou então dançam, durante muito tempo, no meio das chamas. - A natureza porosa das pedras, que permanecem pouco aquecidas, enquanto as chamas aparecem apenas nos espaços entre elas, foi proposta. Na realidade, as pedras se aquecem pelo fogo que se acende sobre elas. É uma invenção sem consistência. - A explicação pelo estado extático ou hipnotizado dos que caminham. Estes estados poderiam explicar a insensibilidade (opera-se bem sob hipnose), mas não a incombustibilidade, nem a resistência das roupas, inclusive das meias. - A explicação pela magia. Explicar é propor um mecanismo. Indicar a origem não significa explicar, a menos que esta origem indique o mecanismo, o que não é o caso. - A transmissão hereditária, da mesma forma, nada esclarece sobre o mecanismo.

- A ação de um fluido protetor, desprendido graças à exaltação dos dançarinos, foi invocada no caso dos anastenares gregos. É pura invenção, aliás, uma invenção estúpida. - A explicação pela ilusão. Este último refúgio daqueles que negam só pode satisfazer a um débil mental. Ele supõe que multidões, milhares de testemunhas, cientistas e oficiais, eram todos psicopatas. Isso sem contar a prova das fotografias e dos filmes. Só nos resta confessar que a resistência do corpo humano ao fogo não tem, atualmente, qualquer explicação, por mais medíocre que seja.

25 RESISTÊNCIA ÀS AÇÕES MECÂNICAS

A resistência às ações mecânicas, demonstrada por certas pessoas no estado de êxtase, talvez não seja, por si só, mais extraordinária que a resistência ao fogo, mas parece particularmente incompreensível. Quando um homem fica no meio das chamas, pensamos que há aí alguma coisa que não compreendemos, o que é verdade, mas para a qual a su posição de que "é um truque" parece assentar bem. Esperamos que uma análise química, por exemplo, o revele, para que possamos dizer: "Ah! então era isso..." Enquanto que, quando se vê uma mulher ser golpeada com uma barra de ferro no ventre ou atingida pela ponta de um sabre, que nem ao menos a perfura, vemo-nos na total impossibilidade de compreender. Estes golpes poderiam matar cinqüenta pessoas, mas a extática grita que isto lhe faz bem e pede para baterem mais forte! Foi isto mesmo que pôde ser observado no cemitério de Saint Médard, em Paris, em 1731. No que diz respeito às agressões físicas, várias pessoas, que foram designadas pelo nome de convulsionárias, submeteram-se a elas voluntariamente, dizendo que isto as aliviava de seus sofrimentos. Entre estes "tratamentos" havia marteladas, paula- das e golpes com uma barra de ferro, aplicados com toda a força de homens vigorosos, no peito, no ventre, nos quadris e nas tíbias. Outras doentes tinham os seios esmagados por pinças. Enfim, outras ainda re sistiam a enxadas de lâminas afiadas e a pontas de sabre. A Srta. Gabrielle Moler tornou-se convulsionária com a idade de doze anos. Era uma menina muito piedosa. Foi examinada por várias pessoas, inclusive pelo capelão do rei; foi submetida a golpes no ventre e sob o queixo, sem qualquer efeito. Dois homens atacaram-na, ao mesmo tempo e com a mesma força, com dois instrumentos pontudos, um aplicado em sua garganta e o outro na nuca: as pontas, que deveriam matá-Ia, nem mesmo deixaram marcas! Quatro lâminas de enxada foram afiadas até cortarem como facas, sendo que duas foram recortadas em arco. As quatro foram empurradas ao

redor da garganta e em torno de um seio, sem qualquer efeito. Um comitê de mulheres examinou o seio e o encontrou intacto. Deixou-se cair sobre seu ventre um pilão de 22 quilos, de uma altura de 60 centímetros. O pilão batia e pulava, como sobre uma superfície de madeira. A operação foi repetida noventa vezes. Ela pediu para que batessem em sua barriga com uma barra de ferro. Estando presente o principal investigador oficial, o conselheiro de Estado Carré de Montgeron, este ofereceu-se para manejar a barra, não por sadismo ou por simples curiosidade, mas para auferir dados que fossem mesmo de primeira mão. Ele manejava uma barra de ferro bruto, com as duas extremidades recurvadas em forma de pés, pesando de 12 a 14 quilos. A Srta. Moller gritava que ele estava batendo com pouca força e que isto não a aliviava, o que, aliás, era visível. Assim, Montgeron acabou golpeando-a com todas as suas forças, por sessenta vezes. Estava ainda muito fraco para ela! Então ele foi afastado por um homem de força descomunal, que a golpeou, uma centena de vezes, com terrível vigor. É preciso dizer que, seguindo as indicações da "paciente" , os golpes não eram aplicados em qualquer lugar do ventre, mas sim exatamente no plexo solar. Durante este procedimento, a Srta. Moler ficava de pé contra uma parede, que foi abalada pela violência dos golpes. Montgeron observou bem que a barra se afundava profundamente nas vísceras. Ele quis concluir com perfeição a demonstração, assegurando-se de que os golpes eram suficientemente fortes. Assim, ele pegou a barra e saiu para o pátio, pondo-se a bater num muro de pedra. No vigésimo quinto golpe, os restos da pedra na qual batia foram atirados do outro lado do muro, deixando um buraco de 15 centímetros de largura. Utilizou-se também, na Srta. Moler, um pilão talhado em ponta, com o qual foi golpeada no ventre, com todas as forças: para se ter certeza de que ela não recuava, foi colocada de costas para a parede. Uma pedra de 27 quilos foi munida de dois cabos em forma de T. A pedra era erguida pelos cabos a 50 centímetros de altura e deixada cair sobre seu ventre e seu peito, sendo também utilizada para assentar-lhe violentos golpes, sempre sem efeito. Marie Sonnet, "a Salamandra", que podia ficar entre fortes chamas, apresentou também uma espantosa resistência aos golpes e às pontas. Ela se deitava curvada, formando um arco, apenas com a cabeça e os pés tocando o solo e a curva dos rins "repousando" sobre uma estaca vertical pontiaguda. Uma pedra de 23 quilos libras era então erguida bem em cima dela, até o teto, de onde se deixava que caísse sobre seuventre recurvado para cima. Não foi encontrada qualquer marca, tanto da pedra como da ponta da estaca. De Lan, que assistiu às exibições das convulsionárias, descreveu, entre os fenômenos

que pôde observar, mulheres que batiam com todas as forças suas cabeças contra as pedras e outras que tentavam ser esquartejadas, sendo cada um de seus membros puxado por um cavalo. De Lan contou quatro mil golpes durante uma única sessão. Os golpes eram desferidos com a ajuda de grandes pedaços de pau e de achas de lenha, especialmente na altura dos rins e nos ossos das pernas, o que deveria quebrá-Ios. No entanto, eles não se quebravam e as extáticas declaravam-se aliviadas. Outras, deitando-se no chão, eram pisadas no estômago, no pescoço, nos olhos, na garganta, no ventre. Tentava-se arrancar-Ihes um seio, sem resultado. Algumas enfiavam-se alfinetes na cabeça, mas diziam nada sentir. Dom Lataste estimou que centenas destas extáticas devem ter recebido, em vários meses deste singular tratamento, de trinta a quarenta mil golpes de acha. A irmã Escolástica fazia-se suspender, de cabeça para baixo, com as saias previamente amarradas abaixo dos joelhos, após o que era erguida e precipitada com a cabeça no chão, um grande número de vezes. A garota Turpin inchava extraordinariamente e exigia grandes auxílios para ser tratada. Ela recebia golpes de acha nas cristas dos ossos dos quadris e na altura dos rins, com uma força que lhe parecia sempre insuficiente. Para aliviá-Ia, resolveram confeccionar verdadeiros porretes com grossos pedaços de carvalho, cuja ponta era talhada em forma de cabo, com um diâmetro em torno de 6 centímetros. Nisette (Denise) recebia pancadas na cabeça. Para contentá-Ia, as achas foram, finalmente, manejadas por quatro homens. Ela foi também submetida à estrapade, * tentou ser esquartejada por seis homens e foi pisoteada por outros quinze. Um cavalo certamente não teria resistido. * Estrapade era o nome dado ao suplício no qual o condenado era pendurado por uma corda e depois solto, caindo na água ou a alguns pés do solo. (N. da T.) A prancha. Este singular remédio foi imaginado por uma jovem convulsionária que sofria de inchaço. Observador atento, Montgeron havia registrado este inchaço. Para aIiviá-lo, uma sólida prancha era colocada sobre a moça e os homens subiam nela, tantos quantos coubessem na prancha. Os homens seguravam-se uns aos outros e alguns apoiavam levemente um dos pés no chão. Foram contados, assim, mais de vinte homens de uma vez, pesando, no total, mais de uma tonelada. Esta pressão servia para desinchar a extática. As convulsionárias de Saint-Médard

Os extraordinários fenômenos que ocorreram sobre a tumba do diácono jansenista François Paris, no pequeno cemitério de Saint-Médard, em Paris, apresentam um conjunto de fatos insólitos, de uma riqueza inigualada: vários capítulos deste livro receberam aí confirmações múltiplas e incontestáveis. O cemitério, transformado desde então no pequeno jardim público de Saint-Médard (no 5º. arrondissement), situava-se, então, às portas de Paris. Os fenômenos duraram em torno de um ano e tiveram uma publicidade sem igual, que a disputa que opunha os jansenistas à Igreja só fez aumentar. Paris inteira lá desfilou, desde o povo mais simples até os grandes do reino, com os doutores da Sorbonne, os médicos, os magistrados e os estrangeiros. A bibliografia completa do caso das convulsionárias de SaintMédard, inclusive os textos inéditos que ficaram em forma de manuscritos, ultrapassa trezentos números. As monografias contemporâneas a respeito do assunto continuam a surgir, de tempos em tempos. Ou seja, são poucos os casos tão bem documentados, tanto pelo número de depoimentos quanto pela qualidade dos observadores. Lembraremos apenas algumas datas: - O diácono de Paris morreu no dia 1º. de maio de 1727, com trinta e sete anos. - As convulsões e os milagres sobre seu túmulo tiveram início na primavera de 1731. Foram seguidos de fenômenos semelhantes, por exemplo, em Troyes e em Corbeil. - O cemitério foi fechado por ordem do rei a 27 de janeiro de 1732. As portas foram muradas e guardas postados em frente. É exato que alguém foi escrever na porta o conhecido dístico: De parte Roi, défense à Dieu De faire miracle en ce lieu. * - O decreto real contra as convulsionárias data de 17 de fevereiro de 1733. Ele se deve ao fato de que, embora estando proibidas as sessões abertas ao público, elas continuaram a acontecer, entre quatro paredes, em casas particulares. * "Da parte do Rei, proibição a Deus De fazer milagre neste local." (N. da T.) Os fenômenos de Saint-Médard poderiam ter servido de um brilhante ponto de partida para o estudo dos fenômenos paranormais, mas foram apagados pela estúpida disputa dogmática, coroada pelas proibições oficiais. - As categorias dos fatos que ocorreram no cemitério de Saint Médard foram: - As curas miraculosas, "convulsões" que deram nome ao conjunto dos fenômenos; a incombustibilidade; a resistência do corpo às ações mecânicas; a levitação.

Acrescentamos à relação as descrições da "comedora de dejetos" e das "sugadoras", pois estes dois fenômenos escapam igualmente às explicações da fisiologia conhecida. A reunião de fenômenos tão diversos, no mesmo momento e no mesmo lugar, torna evidente que a origem comum dos fenômenos paranormais encontra-se no funcionamento da mente humana, a qual pode exercer seus poderes sobre o corpo e sobre a matéria inanimada. As convulsões As convulsões, das mais diversas formas, produzidas no cemitério de Saint-Médard, são distintas das curas. A razão das convulsões permanece obscura, mas este tipo de fenômeno histérico e contagioso é bem conhecido da psiquiatria clássica. Contudo, certos fatos extraordinários, como o caso do Sr. Fontaine, continuam sendo de difícil compreensão. Os fatos desenrolaram-se de 1732 a 1733. Doente e enfraquecido, a ponto de não conseguir parar em pé, Fontaine, no entanto, se pôs a girar rapidamente sobre uma das pernas, com a outra estendida para a frente. Ele fazia isto, obedecendo a uma irresistível compulsão, duas vezes por dia: uma vez às 9 horas da manhã e outra em torno das 3 ho ras da tarde. As sessões duravam de uma hora e meia a duas horas. A velocidade de rotação era de sessenta voltas por minuto. O Sr. Fontaine foi observado por inúmeras testemunhas, que acorriam para ver este novo tipo de dervixe girador, que totalizava, portanto, em torno de doze mil rotações por dia. Após a sessão matinal ele sentia uma ligeira melhora, mas, após a segunda sessão, ele se sentia perfeitamente bem. Tendo se convertido ao jansenismo, começou a praticar o jejum e, sempre obedecendo a um impulso incontrolável e irresistível, ele passou a fazer gargarejos várias vezes por dia com vinagre forte, durante dezoito dias. Sua boca e sua língua ficaram em carne viva. Ao final deste período, ele estava descarnado e moribundo. Retomando a alimentação por ordem de seu superior, ele inchou desmesuradamente. Após um último jejum de quarenta dias, ficou completamente curado. Que caso extraordinário, com detalhes incompreensíveis! Parece que, em seu último jejum, Fontaine foi atingido pelos mesmos fenômenos que atingem os inedíacos (até mesmo o vinagre parecia-lhe insípido). É verdade que, afinal, ele curou-se. Mas por que as sessões de rotação? As curas milagrosas

Limitamo-nos a fazer um resumo dos casos mais notáveis: - Dom Alfonso de Palacios, jovem nobre espanhol, tendo perdi do a visão em um dos olhos e com o outro enfraquecendo cada vez mais, estava quase cego. Depois da aplicação sobre o olho de um pedaço da camisa do beato e de uma visita ao túmulo do diácono, ele ficou completamente curado. Os médicos, uma multidão de testemunhas e vinte e dois padres de Paris atestaram o fato. - A Srta. Thibault, com sessenta e cinco anos de idade, montruosamente hidrópica, * com as articulações dos dedos da mão esquerda soldadas e o corpo coberto de ulcerações e feridas purulentas, foi curada depois de ficar, por um quarto de hora, deitada sobre o túmulo do beato. Montgeron cita in extenso os atestados dos médicos, entre os quais os médicos do rei, os da corte e os cirurgiões dos hospitais, os dos padres e também os dos incrédulos. - Marie-Anne Couronneau, de sessenta e oito anos, criada, estava com o lado esquerdo do corpo paralisado fazia um ano. Só conseguia deslocar-se com a ajuda de um sistema de tiras de pano, amarradas à perna inerte e presas ao pescoço, com uma muleta sob o braço direito (sadio); sacudindo o corpo, projetava o lado paralisado para frente. Ela foi examinada pelo Dr. Boudou, primeiro cirurgião do Hôtel-Dieu, sumidade de reputação mundial, o que garantia a realidade e a gravidade da afecção. Depois de deitar-se sobre o mármore do diácono, ela sentiu-se percorrida por um estremecimento e levantou-se, curada. Boudou examinou-a novamente, no mesmo dia. A cura havia sido completa e definitiva. - Marguerite-Françoise Duchêne estava, havia vários anos, reduzida a um estado cadavérico: vivia deitada, com horríveis enxaquecas, vômitos de sangue, sufocamentos, tumores inflamados, etc. Recobrou a saúde perfeita após várias visitas ao túmulo do diácono. Montgeron dá inúmeras justificativas do caso. - Philippe Sergent, cardador, era hemiplégico. Um dos lados de seu corpo estava totalmente inerte e azulado. Em sua terceira visita ao túmulo do diácono ele foi subitamente curado. O procurador-geral, que testemunhou o milagre, comoveu-se até as lágrimas. Os depoimentos incluem todo o pessoal do hospital. Entre os que atestaram o fato, encontra-se o tenente-geral da polícia. A "comedora de detritos” O Sr. Le Paige, famoso jurista parisiense que estudou esta moça durante muito tempo, descreveu-a como uma jovem de boa família, muito cuidadosa com sua pessoa. Ela se alimentava de excrementos e de urina. Ao que parece, suas refeições eram preparadas com cuidado: as matérias eram às vezes diluídas e outras vezes fervidas.

Como regra geral, ela ingeria em torno de um litro por dia. Le Paige passou vinte e um dias pesando suas rações. Depois destas três semanas, ela passou a acrescentar fuligem de chaminé, resíduos de unhas, escarros e líquido menstrual, para variar as refeições. É possível absorver dejetos sem ficar, obrigatoriamente, doente: foram vistos homens, desesperadamente famintos, comendo carne podre, couro curtido ou terra. É possível até mesmo acostumar-se (mitridatismo): os indígenas do norte da Sibéria consomem carne de mamutes que estão congelados há, aproximadamente, vinte mil anos (o célebre explorador russo Kozlof experimentou e ainda pôde ser salvo, mas escapou da morte por pouco). Entretanto, o que não combina com os nossos conhecimentos de fisiologia é ,o perfeito estado de saúde da "comedora de detritos", que permanecia ativa e alegre. Ela dizia que sua boca continuava fresca. E, além disso, o que permanece totalmente misterioso é o fato de que, por várias vezes e diante de numerosas testemunhas, ela tenha vomitado em torno de meio copo de leite fresco. Le Paige experimentou-o, levou-o para casa e o observou: era, realmente, bom leite fresco... Esta última proeza selou, definitivamente, a reputação de santidade da "comedora de detritos". Este leite misterioso, em todo caso, não vinha de um estômago normal, onde ele teria sido infalivelmente coalhado. As "sugadoras” Mencionamos mais um fenômeno, que talvez não seja milagroso: trata-se das sugadoras, também chamadas "psilas* milagrosas". Eram mulheres que limpavam as feridas chupando o pus. Como não existiam, naquela época, nem os antibióticos nem os bactericidas à base de sulfa, os doentes que eram levados ao cemitério de Saint-Médard encontravamse num estado difícil de imaginar. Só a descrição de Charlotte Laporte, que, após elevar aos céus uma prece que lhe desse forças para suportar a prova, mergulhava o rosto numa massa de podridão e a aspirava, engolindo tudo, já é de virar o estômago. Este procedimento era, certamente, eficaz, não se deve duvidar: durante a Primeira Guerra Mundial, utilizavam-se, para curar feridas purulentas complicadas, larvas da mosca da carne. Estas larvas preferiam as feridas à carne fresca. Eram criadas em ambiente estéril. Estranhamente, Charlotte Laporte nunca ficava doente.

IV. PODERES DA MENTE SOBRE OS CORPOS DOS OUTROS

26 MÉDIUNS DE CURA

Matthew Manning O maior médium de cura do nosso tempo, Matthew Manning, nasceu em 1956. Ele é pintor, médium, escritor e produz fenômenos de portergeists. Pratica também a telepatia e a psicocinesia, consegue agir sobre os peixes e outros animais e pode modificar fatores biológicos, tais como a taxa hemolítica do sangue. Ele foi estudado nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha e na Alemanha. Sob um duplo controle, Manning conseguiu fazer com que suas ondas eletroencefalográficas correspondessem às de um sujeito experimental. Ele também destruiu células cancerosas, em vinte e sete casos em trinta. Estas experiências foram realizadas em San Antonio, Texas, pelo Dr. Kmetz, que se recusou a publicar resultados com porcentagens tão espantosas. Homem culto, Manning foi Wa a índia para procurar um guru. Quando estava no Himalaia, ele teve uma iluminação espiritual: percebeu que sua alma estava ligada a tudo que o cercava e que este estado de consciência universal era, ao mesmo tempo, como uma presença ao seu redor. Como médium de cura, Manning possui duas capacidades: ele visualiza o mal e canaliza energia externa para curá-lo. Ele imagina o órgão doente como se estivesse com a cor vermelha no lugar afetado. Em seguida, ele "imagina" - mas esta "imaginação" só deve ser uma contrapartida do que se passa na realidade ao nível dos órgãos ou dos tecidos - mergulhar com a mão, na parte doente, uma enorme esponja que absorve a cor vermelha. Esta esponja, então, é retirada e espremida, até ficar limpa. Se necessário, ele recomeça, até retirar completamente a cor vermelha. Durante esta operação, tanto Manning quanto o doente têm uma sensação de calor e de formigamento. Algumas vezes, o doente sente leves choques e sensações de extirpação. Manning registra 95% de sucessos. Às vezes a cura é extremamente rápida, como a de Friedrich Landenberger, em Freiburg, que não conseguia mais mover os braços devido a uma osteoartrite e que, durante uma sessão pública, recuperou a mobilidade completa em alguns minutos. De acordo com Manning, que é tão culto quanto expert em matéria de curas, os males atuais de nossos contemporâneos provêm da perda de contato com as grandes energias do Cosmo. O que o médium de cura faz é restabelecer esta harmonia perturbada ou perdida. Este é um mecanismo que convém não afastar das explicações propostas. Manning tem uma clínica (39 Abbeygate Street, Bury St. Edmunds, Suffolk IP33 1LW).

Setenta e cinco por cento de seus clientes são tratados de câncer. Ele atua pela destruição seletiva das células cancerosas. Manning pode também torcer colheres, tanto quanto Uri Geller, mas, como ele disse, quando a noite chega e ele se vê diante de um monte de colheres que nem mesmo podem ser usadas, para que serve isso? Curas instantâneas Certas curas podem realizar-se num tempo muito breve, ou seja, instantaneamente. Tratando-se de um fenômeno tão pouco compatível com o desenvolvimento normal dos processos fisiológicos e, principalmente, tão rápido, os depoimentos antigos devem ser olhados com cautela. Philippe de Lyon era um destes médiuns de cura excepcionais, capazes de realizar o que se parece com os clássicos milagres. Certo dia, ele passeava pelo campo com alguns amigos, quando viu, sentado diante de uma casinha, um camponês visivelmente doente. Philippe fez parar o veículo, desceu e interrogou-o: o homem disse que, havia anos, tinha os "rins quebrados" e não conseguia fazer qualquer esforço. Philippe lhe pediu, então, gentilmente, para levantar uma pedra que havia ali e que deveria pesar em torno de 50 quilos. O homem se pôs a rir diante do pedido absurdo, mas Philippe continuou insistindo tanto ("Tente, apenas, isso me agradaria tanto") que o camponês, afinal, levantou-se, inclinou-se e ergueu a pedra sem esforço, ficando petrificado de surpresa. Sua cura foi fulminante e definitiva. No hospital, sob controle médico, Philippe trabalhava no serviço de seu amigo, o Dr. Encausse, ocultista, conhecido pelo nome de Papus. Ele conseguiu transformar, imediatamente, uma hidrópica à beira da morte numa pessoa esbelta e curada. O caráter quase milagroso desta cura esconde, no entanto, uma dúvida imensa: onde foi parar a água do edema? Seja como for, uma comissão médica assistiu ao milagre e assinou a respectiva ata, com exceção de seu presidente, o professor Brouardel, que se recusou sob o pretexto de que ele "não havia compreendido o que se passava diante de seus olhos". Aí está um terceiro milagre: ao ver seus princípios serem pisoteados, um professor universitário, de mente saudável, adota repentinamente um comportamento psicótico. Neste mesmo serviço, uma criança raquítica de dezoito meses, com as tíbias em arco, que não conseguia ficar em pé, foi curada em dez segundos, diante dos médicos e de outras testemunhas. Encontraremos outros exemplos da atividade paramédica de Philippe de Lyon no trabalho do Dr. Philippe Encausse (filho de Papus). Nós não estudaremos aqui, em geral, os médiuns de cura que são conhecidos e estão

organizados (na França: GNOMA = Groupement national pour l'organisation des médecines auxiliaires), nem as organizações (Christian Science, etc.) e nem os locais famosos do tipo de Lourdes, sobre os quais existe uma imensa literatura, por vezes crítica (padre Thurston, Aimé Michel). É necessário acrescentar uma observação sobre Lourdes, que é objeto de controvérsias anticlericais. A comissão oficial encarregada de constatar os milagres é aberta a qualquer médico, desde que apresente seu diploma, sem levar em consideração as suas opiniões. Por outro lado, a realidade das curas foi constatada por médicos absolutamente anticlericais. A comunicação segue regras cuja severidade aumenta cada vez mais. O total de curas milagrosas registradas desde 1858 é de apro-ximadamente setenta e cinco. Na realidade, o exame objetivo dos fatos mostra que ocorre, em Lourdes, pelo menos uma cura milagrosa por mês. É preciso saber ainda, para não imitar uma crítica fácil demais, que vários antigos casos famosos jamais seriam admitidos atualmente; no entanto, ainda são citados, embora não satisfaçam às regras fundamentais que definem uma cura milagrosa. Assim é nos casos Gargam e Dribault: a paralisia do primeiro era evidentemente de natureza psicossomática (se não simulada); a cura da Sra. Dribault só foi parcial, pois ela curou-se do mal de Pott, mas morreu de tuberculose pulmonar.

27 CIRURGIA COM AS MÃOS NUAS

(Cirurgia psíquica) A cirurgia psíquica, também chamada de cirurgia com as mãos nuas, é ampla e abertamente praticada no Brasil e nas Filipinas. Consiste em operar, mesmo os mais graves casos, sem anestesia, sem assepsia e com ferramentas quaisquer, como, por exemplo, facas de cozinha ou tesouras para unhas, sem complicações pós-operatórias e com uma cura definitiva e imediata, sendo que o operado pode partir logo após a operação. O operador é, em geral, inculto e nem mesmo se dá ao trabalho de lavar as mãos antes de operar. Não se consegue imaginar um desafio maior para a ciência racional. Diante dos fatos alegados, a primeira questão a ser colocada, e, poderíamos dizer, a

única que realmente importa, é saber se os fatos em questão foram comprovados. Consideramos como nulos os pretensos testemunhos dos enviados da mídia, cujo objetivo é, a pretexto de instruir o público, unicamente diverti-Io e distraí-Io. Os controles George Meek empreendeu uma série de controles, entre 1973 e 1975, nas Filipinas e no Brasil. Para prevenir-se contra todas as objeções possíveis, a equipe de controle compreendia um pessoal médico, composto de cirurgiões, biologistas, químicos e psiquiatras, bem como hipnotizadores, parapsicólogos e prestidigitadores. Foi trazido um sofisticado equipamento, com um completo laboratório de análises químicas e biológicas, raios-X, microscópio eletrônico, etc. Os pacientes que seriam operados apresentavam afecções variadas, que haviam sido bem estudadas anteriormente. CIRURGIA CLÁSSICA CIRURGIA COM AS MÃOS NUAS É necessário estabelecer o O diagnóstico é feito diagnóstico antes da operação imediatamente Erros no diagnóstico: possíveis Sem erros de diagnóstico Anestesia necessária Sem anestesia Assepsia necessária, sob pena Nunca há infecção, apesar da de infecção total falta de assepsia Deterioração, às vezes grande, Terminada a operação, esta da zona operada não deixa traços Perdas de sangue Hemorragia insignificante Cuidados pós-operatórios e, O operado vai embora curado eventualmente, hospitalização Necessidade de dispor de local O cirurgião opera em qualquer apropriado, de pessoal e de lugar, sozinho e com qualquer material especial material Possibilidade de causar danos Não há danos Operação às vezes bastante Duração insignificante demorada Custo elevado da intervenção Custo da intervenção: nulo Algumas fraudes à parte, a equipe só registrou estrondosos sucessos. Os cirurgiões de

mãos nuas não utilizavam anestesia, nem assepsia. Nunca se constatou infecção nem choque pós-operatório. É inútil salientar que, doutrinas e teorias à parte, a cirurgia psíquica é infinitamente superior à cirurgia clássica. Eis aqui reunidas, numa tabela, as diferenças que fazem ressaltar uma conclusão instrutiva (ver tabela acima). Acrescentamos que, muitas vezes, o cirurgião psíquico operou com sucesso casos considerados como desesperadores pela medicina clássica. A comparação entre as duas colunas leva, irresistivelmente, à conclusão de que, se você precisar ser operado e tiver a felicidade de poder fazê-Io através de um cirurgião psíquico, será um erro não aproveitar tal oportunidade. Voltemos à equipe de Meek. Um de seus membros, Donald Westerbeke, bioquímico em San Francisco, vendo os espetaculares resultados de Agpao, pediu para ser tratado. Ele havia perdido um olho, como conseqüência de um tumor no cérebro, considerado inoperável nos Estados Unidos. Tony Agpao curou-o completamente em duas sessões: não restou qualquer traço do tumor. Eis um outro caso, de um doente levado pela mesma equipe. Olga Farhit, de Los Angeles, apresentava uma paralisia, decorrente da destruição da medula óssea, que abrangia a cabeça e as costas. Agpao extirpou do local "uma enorme massa de cartilagem e de sangue" e a paralisia desapareceu, como por encanto. Ao retornar, ela foi ao hospital, onde o cirurgião declarou: "Eu não compreendo nada. Tudo foi limpo" . Tony Valentine, jornalista de Chicago encarregado de prestar contas do trabalho da equipe de Meek, concluiu que não havia truque, nem sugestão hipnótica, nem mistificação, nem milagre. Os procedimentos simplesmente funcionam, e isso é tudo. A equipe de Meek concluiu: há, nos casos das operações psíquicas, uma desmaterialização orgânica que a ciência não saberia explicar, mas de cuja existência não se pode duvidar. Sigrun Seutemann observou mais de seis mil operações. Suas conclusões são extremamente curiosas, pois, sem negar a indiscutível realidade das intervenções, ele afirma que se passa alguma coisa diferente daquilo que se pode observar, ou melhor, que a natureza das cirurgias psíquicas é muito mais misteriosa do que parece. Segundo ele, o corpo só é cortado raramente, pelos mais dotados, como Agpao, por exemplo. O tecido conjuntivo que se materializa na superfície revela-se, em 98% dos casos, não humano. Penetramos aqui num mistério muito mais extraordinário do que o fato de fazer uma incisão nos tecidos com as mãos nuas. Estes resultados foram confirmados, no que

compete a cada um, por Lyall Watson e por G. Meek. O parapsicólogo tcheco Andrija Puharich, estabelecido nos Estados Unidos, estudou o mais hábil e o mais rápido dos médicos psíquicos, Arigó. Sua equipe compreendia dez médicos e oito cientistas de diversas áreas (biologistas, químicos, etc.). Eles observaram e controlaram mil diagnósticos feitos por Arigó. O diagnóstico era sempre instantâneo. (1) Arigó prescrevia, então, o tratamento, que podia compreender até quinze medicamentos, as indicações do laboratório, as quantidades e as doses. 1. De acordo com um antigo princípio chinês, o verdadeiro médico faz o diagnóstico imediatamente, o médico simplesmente bom interroga o doente, o medíocre o ausculta e o mau médico manda fazer análises. Eu conheci verdadeiros médicos. (N. do A.) Entre os mil diagnósticos feitos, a equipe de Puharich controlou com exatidão quinhentos e cinqüenta, com um novo exame do doente imediatamente após. Para os outros quatrocentos e cinqüenta, o controle foi parcial, uma vez que a equipe não dispunha, no local, de todo o material necessário, como, por exemplo, para um controle microbiológico. O resultado do controle dos quinhentos e cinqüenta casos foi simples. Arigó jamais foi pego cometendo qualquer falta. Ele era tão infalível quanto preciso. Em aproximadamente 5070 dos casos, Arigó dizia: "Lamento, não posso fazer nada por você" . A equipe de Puharich confirmou que se tratava de casos desesperadores. Em 1968, o relatório de Puharich ainda não havia sido publicado. Christian de Corgnol fazia parte de um grupo de dez observadores parisienses e acompanhou, pessoalmente, aproximadamente seiscentas operações. A fraude existe entre os "pequenos" cirurgiões, mas nunca entre os "grandes", que sempre se submetem a todos os controles. Durante os dez anos em que as comissões de estudiosos se dedicaram a controlar os fatos, não foi recolhida qualquer prova tangível de fraude. Corgnol não encontrou, tampouco, provas de qualquer morte que tenha ocorrido após os tratamentos efetuados pelos cirurgiões psíquicos nas Filipinas. Numerosos doentes chegam após terem sido controlados por seus médicos. O autor, que trouxe como provas cinco horas de filme e dois mil diapositivos, observa que as críticas que denigrem os cirurgiões de mãos nuas nunca provêm dos doentes. Estes ataques são, invariavelmente, comandados pelos médicos e pelos laboratórios farmacêuticos, a quem a cirurgia psíquica faz sombra. Reencontramos aqui os ataques, de um passado ainda recente, à acupuntura e à homeopatia. Aliás, os médiuns de cura realmente curam. Se não fosse assim, eles já não teriam clientela há muito tempo!

É impossível citar todos aqueles que procederam às pesquisas, tanto no Brasil quanto nas Filipinas. Citemos, por exemplo, Harold Schneider. Lyall Watson escolheu para seus estudos Luzon, verdadeiro centro produtor de médiuns de cura. A maioria deles pertence à União Espírita Cristã. O treinamento consiste de orações, humildade e do conhecimento de certos capítulos da Bíblia que tratam da cura, particularmente o salmo CXIX. Só isto. A maioria deles jamais freqüentou escola, nenhum deles possui conhecimentos médicos nem compreende o que faz. Entre os práticos estudados por Watson, mais de trinta operam com as mãos nuas. Watson fez três viagens às Filipinas, totalizando oito meses de pesquisas intensivas. Ele e suas equipe assistiram a mais de mil operações, realizadas por vinte e dois cirurgiões psíquicos diferentes. Suas técnicas eram mais ou menos idênticas. Entre estes médiuns de cura verdadeiros, infiltraram-se alguns charlatães. Alguns autênticos, por estarem sobrecarregados de trabalho, chegaram a usar, também, técnicas fraudulentas. As conclusões de Watson vão ao encontro das de Seutemann. Assim, ele colocou num frasco um fragmento de tecido que pareceu materializar-se sob os dedos do operador, mas o fragmento desapareceu do frasco, que estava no bolso de Watson. Com Joseph Sison, de Barong Bong, Watson observou mais de duzentas operações. Ele sempre se colocava bem na frente do operador, do lado oposto ao do paciente. Ele observou surgirem, entre os dedos do operador, líquidos, algumas vezes tecido conjuntivo e, diversas vezes, objetos claramente estranhos ao corpo, tais como um prego enferrujado, vários sacos plásticos, uma lata de ferro, um graveto com três folhas e um pedaço de vidro quebrado. A cada vez, o objeto parecia surgir entre os dedos do operador. Que os cirurgiões psíquicos operam e curam, já está totalmente provado pelas pesquisas. No que diz respeito ao mecanismo, já seria suficientemente extraordinário que o operador cortasse a carne e os ossos com um simples gesto da mão, o que ele, aparentemente, faz, e que a incisão se fechasse, completa e instantaneamente, sem deixar vestígios, o que todos constataram, também. No entanto, a realidade é ainda mais extraordinária e obriga a mudar completamente a abordagem para que se possa compreender o que se passa realmente. Durante as operações com as mãos nuas, tecidos biológicos e objetos heterogêneos absolutamente banais aparecem, sem que o operador tenha a menor necessidade deles. Nenhum deles jamais afirmou extrair objetos estes do ventre do operado. Por que motivo então estes aportes viriam atrapalhar o campo operatório? Algumas vezes, o sangue e os tecidos trazidos nem mesmo são humanos! Esta imperfeição da mecânica em jogo, aliás não prejudicial ao resultado médico, seria devido a um mecanismo de

compensação necessário. Outras observações de Watson demonstram que estamos lidando aqui com um nível de realidade totalmente diferente. Juan Blance, de Pasig, corta carnes a distância, apenas com um gesto feito com a mão. Ele pode fazê-Io através de uma folha de plástico, que não é cortada. Trata-se, então, de algo totalmente diferente de um golpe de bisturi, ainda que "astral". José Mercando de Bagig faz, também a distância, picadas com agulha, das quais ele habitualmente retira uma gota de sangue. Watson apresentou-se com o braço protegido por uma folha de plástico dobrada em quatro. Ele constatou que a picada não afetava a folha plástica, mas constatou, também, que a análise do sangue que ele recolheu na agulha de injeção (Watson é biólogo) revelou que este não era humano: os eritrócitos possuíam núcleo (estes eritrócitos nucleados são encontrados na medula óssea, onde se formam, mas nunca no sangue). Os cirurgiões do além A técnica dos cirurgiões psíquicos pode ser explicada admitindo-se certas noções, como a vidência, juntamente com a psicocinesia. Mas, num certo limite, encontramos certos casos onde a intervenção das entidades do além parece se impor. Nós já pudemos observar esta mesma progressão no caso das assombrações: primeiro, um inconsciente exteriorizado, com emissor facilmente detectável; depois, casos duvidosos; e, finalmente, a atividade, por vezes humana e por vezes não humana, mas que atua, certamente, a partir de um outro plano de existência (Bird Cage). Caso Northage-Reynolds O médium Isa Northage operava não somente em estado de transe, como muitos outros cirurgiões psíquicos, mas na presença de um médicoespírito chamado Reynolds. Existe um relato oficial, assinado por um médico militar, o capitão G. S. M. Insall, que observou duas operações de hérnia. O capitão havia verificado anteriormente todo o material, assim como as saídas da capela, que foi construída especialmente para Isa. Ele também foi autorizado a controlar todos os assistentes do médico e todas as pessoas presentes. Inicialmente, Reynolds deu suas instruções oralmente, e, em seguida, apareceu. O médium encontrava-se em estado de transe profundo. O espírito-cirurgião -evidentemente materializado - limpou, com o auxílio de pinças e chumaços de

algodão, a região umbilical, para mergulhar aí a mão e depois limpar de novo. O próprio capitão servia-lhe de assistente, passando os instrumentos, recolhendo os tampões, etc. A explicação mais simples dos fatos seria a de que o médium, em estado de transe, teria saído em "viagem astral", passando a operar, em seguida, após uma materialização conveniente. Sob esta forma, ele disporia, evidentemente, dos conhecimentos e das capacidades análogas às dos cirurgiões psíquicos. Entretanto, é preciso lembrar que estes últimos afirmam ser dirigidos por um médico do além. Em certos casos, este operador, naturalmente falecido (para nós...), pôde ser reencontrado. Em outros casos, embora todas as informações tenham sido fornecidas com precisão, não se conseguiu encontrar qualquer sinal, como, por exemplo, no caso do "Doutor Fritz", de Arigó. Então, o inconsciente dirige, seja seu próprio corpo material, seja um outro, exteriorizado e rematerializado. Ou então, uma entidade do além dirige o cirurgião psíquico, em estado de transe necessário à comunicação, ou vem operar pessoalmente, fabricando para si mesmo (com a ajuda do médium) um corpo provisório. Entretanto, nada permite afirmar que todos estes casos tenham uma explicação única. O caso de Arigó - Dr. Fritz Observou-se Arigó operar com um espírito invisível, o do Dr. Fritz, cirurgião alemão que foi morto na Primeira Guerra Mundial. As testemunhas foram o Dr. Ary Lex, professor da Universidade de São Paulo, membro da Academia de Medicina, o Dr. Oswaldo Conrado, diretor do Hospital das Clínicas, o Dr. Leite de Castro e o Dr. Ladeira Marques, ambos do Rio de Janeiro. A descrição que segue abaixo é deste último: "A paciente estava deitada sobre uma velha porta. As tesouras, os escalpelos, uma faca de cozinha e uma pinça hemostática encontravamse numa lata de conservas vazia. Com a ajuda do espéculo, Arigó introduziu bruscamente, violentamente, na vagina da mulher, três pares de tesouras e dois escalpelos. Ele segurava uma das hastes da tesoura e todos nós vimos a outra haste mover-se, abrindo e fechando a tesoura. Não podíamos ver se o mesmo acontecia com os outros instrumentos, mas ouvíamos nitidamente o choque de metal contra metal e o som característico dos tecidos sendo cortados. Após alguns minutos, Arigó retirou as tesouras, e, ao ver o sangue que saía, parou e disse: 'Que não haja mais sangue, Senhor'. A operação prosseguiu, sem hemorragias ul-teriores. Arigó retirou o tumor que havia extirpado do ventre da jovem mulher, a qual permanecia consciente, e fechou as bordas da incisão, pressionando-as, uma contra a

outra. Toda a operação levou apenas alguns minutos.” Diante de uma descrição como esta, discutir as teorias é perda de tempo. Como sempre, os detratores apegam-se a algum detalhe que poderia, esperam, dar-Ihes razão. Eles não vêem o mais interessante. Se, sob seus olhos, Jesus ressuscitasse um cadáver, eles tentariam apagar o fato, uma vez que Jesus não tem diploma, enquanto eles, sim. Um Instituto de Estudos Fritzianos foi fundado e funciona atualmente para estudar as relações que se podem manter com o além. O caso do Sr. Chapman e do Dr. Lang Este título lembra a célebre dupla Dr. Jekyll e Sr. Hide, nascida de um desdobramento. Bem mais extraordinária, a dupla Chapman-Lang era composta de um vivo e de um morto, mas, ao contrário da outra dupla, esta era bem real. Aos quarenta e cinco anos, Chapman teve a revelação de seu dom de cura num centro espírita onde entrava em transe. O espírito que se manifestou através dele declarou ser o Dr. William Lang, que fora cirurgião no Hospital de Middlessex, de Londres, entre 1880 e 1914. Contrariamente a vários médicos do além, dos quais não se encontraram pistas na ocasião das verificações, a existência do Dr. Lang foi confirmada por seus amigos. A neta de Lang, Sra. Susan Fairtlough, mostrou-se, de início, nitidamente hostil aos apelos que lhe foram feitos. Depois, ao ouvir Chapman tomar a voz de Lang, ou, se preferirmos, Lang falar por intermédio de Chapman, ela ficou horrorizada e, finalmente, completamente atônita. O espírito revelou-lhe detalhes de sua infância que ninguém podia conhecer. A Sra. Fairtlough respondia: "Sim, vovô... Não, vovô". A questão da identidade de Lang-Chapman é, na realidade, de pouca importância. Quando em estado de transe, Chapman curava, e, neste aspecto, igualava-se aos maiores médiuns de cura. Chapman agia diretamente sobre o corpo astral. Operava com ajuda de instrumentos invisíveis e auxiliado por uma equipe de cirurgiões igualmente invisíveis, entre os quais seu próprio filho Basil, que fora médico em vida. Chapman jamais prometia, mas promovia melhoras, sempre. No entanto, seus maiores êxitos são realmente extraordinários e ultrapassam todas as possibilidades da medicina clássica. Eis o exemplo de Joseph Tanguy, um francês que se dirigiu a ele, em 1974, com um tumor inoperável no cérebro e poucos meses de vida. Após três meses de tratamento feito por Chapman, o tumor foi completamente reabsorvido e a cura confirmada pelos exames. Numerosos médicos franceses garantiram os diagnósticos de Chapman e a eficácia de seus tratamentos. Eles lhe enviavam os casos difíceis. Seus diagnósticos eram feitos logo

à primeira vista. Ele possibilitou a cura de um tumor maligno no cérebro após um ano de tratamento. Uma criança de sete anos, paralítica desde o nascimento, recuperou o uso dos membros em uma sessão. No caso de uma artrite muito avançada nos quadris, ele fez com que desaparecessem as dores. Conseguiu também dissolver cálculos renais e da vesícula.

28 CURAS MILAGROSAS

Os fatos e as categorias dos que recebem os milagres "Um milagre não ocorre em contradição com a natureza e sim com aquilo que nós conhecemos da natureza" (Santo Agostinho). Esta referência é uma excelente base de discussão entre parapsicólogos e teólogos. Eis um milagre realizado pelo padre Pio, do mosteiro de San Giovanni Rotondo, na Apulia. Este capuchinho estigmatizado morreu em 1967. Este milagre é, portanto, moderno, tendo sido controlado pelo Instituto de Parapsicologia de Freiburg. Trata-se de uma cura a distância. Em 1950, um artesão italiano, de Viareggio, ao erguer um objeto pesado demais, desabou no chão. Desde então, passou a usar um colete de gesso e suas pernas ficaram paralisadas. Na véspera do dia da atta di presenza ( o não-comparecimento levaria à supressão de seu abono familiar), por insistência de sua mulher, crente, ele examinou a fotografia do padre Pio num livro que lhe era dedicado. Sendo ele mesmo um incrédulo, disse, então, zombando: "Se você já conseguiu fazer tantos milagres, então faça um para mim". No mesmo instante, viu um capuchinho que entrou e lhe disse: "Levante-se, pois você está curado" . A imagem desapareceu, deixando um perfume de lírios. Sua mulher nada viu. Então... ele se levantou: estava, efetivamente, curado e sua cura havia sido definitiva. Certos milagres antigos soam como autênticos e são atestados por testemunhas. Sabe-se que a fé pode provocar milagres. Eis um deles, duplo aliás, tal qual foi relatado por Tácito.

No ano 60 da Era Cristã, o imperador Vespasiano, ao passar por Alexandria, no Egito, foi abordado na rua por um homem que, de joelhos, implorou-lhe que curasse sua cegueira cuspindo em seus olhos. - Por que me pedes tal coisa?" - perguntou o imperador Dirige-te aos médicos. - Não, foi o deus Serapis quem ordenou que me dirigisse a vós - respondeu o cego. Vespasiano, homem corpulento, de origem camponesa, que soube evitar a decomposição do Império e encher os cofres do Tesouro, esvaziados por seus predecessores, era bem o contrário de um taumaturgo, mas era um homem prático. Ele começou a rir e depois recusou, dizendo que, sendo um simples mortal, não poderia realizar tais milagres. Nisso, veio juntar-se ao cego um homem com os braços paralisados,enviado ao imperador para sua cura pelo mesmo Serapis. Este homem pediu ao imperador que o "pisoteasse com seu pé imperial". O imperador, por fim, cedeu: cuspiu no rosto do cego e pisoteou energicamente o paralítico. Então, diante de uma grande multidão, o duplo milagre aconteceu: as mãos do paralítico reencontraram seu vigor e o cego pôde ver a luz do dia. O prodígio foi amplamente conhecido e descrito nas crônicas. Apenas os cristãos recusaram-se a acreditar. Eles não podiam admitir que os milagres fossem realizados por um pagão, um pecador e, além disso, um de seus perseguidores. Este milagre não apresentava carimbo de autenticação! Estudos científicos das curas milagrosas Existem vários estudos científicos das curas milagrosas: Goddard estudou as curas da Ciência Cristã (Christian Science) em 1899 e o psiquiatra inglês L. Rose estudou noventa e cinco casos de doentes, sendo a maior parte tratada a distância pelos médiuns de cura (1955). Há dois estudos dos casos antropológicos de curas paranormais: o de Kurt Trampler (1963), de duzentos e quarenta e sete casos, e o de Finckler (1980-81). Todavia, estes estudos não são críticos. Turner, em 1969, utilizou a fotografia Kirlian, obtendo imagens extraordinárias de pacientes tratados pelos médiuns de cura e, simultaneamente, dos médiuns enquanto tratavam. Ele trabalhou com doentes e também com animais e flores. Seu manuscrito ainda não havia sido publicado em 1986. A comissão Muntendam (Países Baixos, 1981) estudou os médiuns de cura. Sua conclusão foi de que os mesmos exercem uma ação indiscutivelmente benéfica para a sociedade. Não era o objetivo desta comissão pronunciar-se sobre a eficácia dos tratamentos, no entanto ela observou a preocupação dos médicos diante do sempre

crescente sucesso das medicinas paralelas. O que foi observado, diversas vezes, pelos diferentes pesquisadores é que o fato de "crer" ou o de "não crer" não parece influenciar, de modo algum, as chances de sucesso das terapêuticas mentais, o que elimina a explicação pela sugestão e auto-sugestão. Estudos experimentais prosseguiram desde 1965. Verificou-se a atuação sobre as enzimas, as bactérias, as células cancerosas. Algumas séries de estudos mostraram-se inteiramente negativas, enquanto outras deram resultados absolutamente positivos. Experiências com animais Bernard Grad, pesquisador da Universidade McGill, em Montreal, trabalhou com o médium de cura Oskar Estebany. Provocou-se um bócio experimental em camundongos pela ingestão de Tiuracil, aliada a um regime alimentar carente de iodo. Os animais foram tratados por Estebany, que passava as mãos acima das gaiolas: o crescimento do tumor foi diminuído pelo tratamento. Para eliminar uma possível influência devido à sua proximidade, Estebany magnetizou bolas de algodão hidrófilo, que eram introduzidas nas gaiolas duas vezes ao dia. Nas gaiolas de controle eram colocadas bolas de algodão não tratadas. Os resultados positivos foram confirmados. O retorno à alimentação normal levou à redução do bócio em todos os sujeitos, entretanto esta redução foi mais rápida nos animais tratados. Uma outra série de experimentos, feita ainda com camundongos e com o mesmo médium de cura, consistia em medir a velocidade de cicatrização de uma ferida, feita experimentalmente, nas costas dos animais. A série comportava trezentos animais. Os resultados foram conclusivos. Experiências com o homem Enfermeira e pesquisadora de fenômenos paranormais, D. Krieger estudou a imposição das mãos, e, tendo obtido resultados positivos, ensinou o método a um grupo de jovens enfermeiras. Bons resultados foram obtidos, em particular no aumento do sentimento de bem-estar e para as taxas de hemoglobina. Knowles obteve resultados semelhantes para as dores osteoartríticas (mas não sobre os artefatos provocados). Para ele, o fator principal é "a intenção mental de curar". Uma outra interpretação é a da liberação das potencialidades autoterapêuticas do doente. Collip (1969) trabalhou com um médium de cura sobre dezoito crianças com leucemia, que estavam desenganadas. As crianças foram tratadas sem saber, através de

encantamento. A sobrevida das crianças foi sensivelmente prolongada, sem atingir, todavia, um valor matematicamente significativo. A influência da esperança na cura Redher, médico praticante da Alemanha, tratou, sem que eles soubessem, através de um conhecido médium de cura, três pacientes abandonados pela medicina clássica (1955). Suas doenças eram, respectivamente: uma inflamação crônica da vesícula biliar, com presença de cálculos, complicações devido a uma grave intervenção abdominal e câncer generalizado, sendo que este último estava à beira da morte. O tratamento dos doentes, feito sem que eles soubessem disso, não resultou em nenhum efeito. Então, Redher falou-Ihes do maravilhoso médium de cura e fez nascer nos doentes a esperança de um verdadeiro alívio para os seus males. Anunciou, enfim, que, no dia seguinte, o mé dium os trataria a distância, numa determinada hora. No momento in dicado, ocorreu um alívio rápido e espetacular dos sintomas: os doentes curaram-se e retomaram uma vida normal. Extremamente notável é o fato de que, no momento da famosa sessão, o médium não estava trabalhando. Aparentemente, os doentes foram curados porque acreditavam nisso. Não se pode, todavia, excluir a possibilidade de um efeito retarda do ou da influência do desejo do médium de curar. Os médicos clássicos não admitem tais explicações, mas, sobre este assunto, suas opiniões só poderão ser levadas em consideração quando eles tiverem formulado uma teoria válida sobre a cura milagrosa. É fato conhecido de todos os práticos, há muito tempo, que a esperança do doente desempenha um papel essencial na sua cura - basta que nos lembremos das palavras de Jesus dirigindo-se a uma mulher que havia sido curada de suas hemorragias, quando esta veio tocar a fímbria de sua túnica sem que ele visse: "Vai, tua fé te curou". No entanto, o que é mais estranho é o papel desempenhado pelo que o médico espera do tratamento, mesmo quando esta esperança não corresponde à eficácia do tratamento administrado. Em 1941, Le Roy tratava pacientes com angina à base de aminofilina, e, para assegurar-se da realidade de seu efeito curativo, administrou placebos a alguns deles. A aminofilina mostrou-se eficaz, embora, mais tarde, tenha se revelado totalmente inativa nesses casos. Como única causa eficiente para este sucesso, só podemos ver a esperança - injustificada - de Le Roy. Esta influência do médico vem sendo estudada desde 1956. Toone (1973) cita pesquisas que confirmam este fato. Três médicos foram encarregados de testar o efeito

da vitamina E no tratamento da angina do peito. Um dos médicos acreditava na sua eficácia e os outros dois, não. Estes últimos constataram que o efeito do medicamento foi nulo, enquanto, para o primeiro, o resultado foi positivo. Esta experiência foi repetida diversas vezes, duplamente às cegas, o que eliminava a ação direta sobre o doente. Uma vez que o médico ignorava a quais doentes o medicamento seria administrado, isto significa que sua influência mental era orientada, sem que soubesse, por uma vidência inconsciente. A influência da esperança do doente explica-se por um efeito de autosugestão, mas as experiências mencionadas eliminam esta explicação. Tudo se passa como se a esperança do médico adquirisse uma existência material autônoma e passasse a agir eficazmente, sem que o seu criador soubesse. Esta forma de ação não se insere, aparentemente, em nenhum dos esquemas clássicos conhecidos. Citamos ainda o efeito do Meprobamato, tranqüilizante leve, estudado por Uhlenthut, Cantor, Neustadt e Payon (1959). Alguns dos que o prescreviam eram circunspectos e outros, entusiastas (atitude taumatúrgica). Ignoravam quais pacientes receberiam o produto, pois estes eram sorteados. Os pacientes, por outro lado, não faziam a menor idéia de que estavam participando de uma experiência. O Meprobamato mostrou-se eficaz unicamente para aqueles que esperavam seu efeito. Nos céticos, não se constatou qualquer diferença em relação ao placebo. Este trabalho foi confirmado, em grande escala, através de uma experiência feita simultaneamente em três centros de atendimento psiquiátrico, em 1966 (Uhlenhut et al.). O que o terapeuta espera do tratamento, portanto, exerce um efeito poderoso, a despeito do procedimento às cegas. Confirmou-se, pois, cientificamente, a boutade paradoxal do grande médico que dizia: "Apresse-se a utilizar este remédio, enquanto ele ainda faz efeito". Dando mais um passo na eliminação dos fatores psíquicos possíveis, Solfvin (1982) conseguiu demonstrar que uma simples espera passiva seria suficiente para assegurar um efeito positivo. Ele recrutou um certo número de estudantes de Veterinária e explicou-Ihes que iriam participar de um estudo-piloto sobre a "eficácia das terapêuticas mentais sobre camundongos contaminados". Resultados notáveis e perfeitamente confiáveis, segundo ele, teriam sido obtidos anteriormente. Ele necessitava de pessoas sem idéias preconcebidas, para garantir os cuidados necessários aos camundongos. Cada estudante recebeu, então, uma gaiola com doze camundongos bem marcados, dos quais deveria cuidar. Entre os doze camundongos, seis haviam sido contaminados por uma cultura concentrada de Babesia rhodaini, parasita causador da babesiose, enquanto os outros seis serviam de controle, tendo recebido apenas uma dose muito fraca dos parasitas,

incapaz de levar ao desenvolvimento dos sintomas durante a experiência. O tratamento deveria ser administrado mentalmente, à metade dos animais de cada grupo, sem especificar qual metade seria. Cada estudante deveria pesar diariamente os camundongos e fazer um relatório sobre o comportamento observado nos mesmos. Na realidade, nenhum médium de cura colaborou nas experiências. Além disso, todos os sujeitos haviam recebido a mesma dose de hematozoários. Os próprios estudantes, sem saber, eram, na verdade, o objeto desse estudo. A variável dependente era representada pela porcentagem de glóbulos vermelhos destruidos após um período de incubação de nove dias. As contagens dos glóbulos eram feitas por um labor~tório cujo pessoal ignorava totalmente a experiência em questão. Apesar de uma grande dispersão dos resultados, o efeito foi nitido e significativo: os camundongos supostamente contaminados tiveram sua taxa de eritrócitos mais fortemente diminuída. Os estudantes não sabiam quais os animais que seriam (supostamente) tratados e quais não o seriam. Este foi um procedimento semelhante ao procedimento "duplamente àscegas". Ora, o efeito de cura mostrouse estatisticamente significativo, com vantagem para os animais que os estudantes acreditavam estar sendo tratados. O resultado mais notável do trabalho de Solfvin foi o de salientar a incapacidade das técnicas de procedimentos "duplamente às cegas” para eliminar as causas de confusão e os fatores não específicos que venham falsear os resultados das pesquisas sobre as terapêuticas mentais. Mesmo operando com o "duplamente às cegas", como o fez Solfvin, surgem fatores que não são devidos a qualquer terapêutica mental. Os resultados obtidos são semelhantes ao efeito placebo. Isto não significa que os tratamentos sejam ineficazes, mas, simplesmente, que os efeitos específicos de um tratamento não podem ser distinguidos dos efeitos não específicos.

V. NÓS SOMOS VÁRIOS?

29 PERSONALIDADES DISSOCIADAS

O estranho e inquietante fenômeno das personalidades dissociadas faz parte da psiquiatria clássica, e considera que a multiplicação de personalidade que pode suceder-se no esquizofrênico resulta de uma dissociação da personalidade, o que não explica os detalhes característicos dos casos particulares de Billy Mullighan ou de Mollie Fancher. Como acontece para muitos outros fenômenos, a interpretação clássica - que é suficiente para explicar a grande maioria dos casos - mostra-se falha quando

se trata de cobrir todo o campo conhecido com uma teoria única. Os casos de personalidades múltiplas, nos quais uma delas guarda uma lembrança completa dos fatos, enquanto a outra só se recorda dos períodos em que ela mesma estava consciente, podem dar lugar a penosas tragédias. O Dr. Azam relatou, em 1858, o caso de Félida X. Moça normal, inteligente, porém triste e melancólica, ela assumia um segundo estado, separado de seu estado normal por crises de um sono invencível que duravam alguns minutos. Neste outro estado ela era alegre, risonha e lembrava-se perfeitamente de tudo o que acontecia em seus dois esta dos. No seu estado normal, ela não tinha qualquer lembrança de sua segunda personalidade nem do que acontecia nesse período, o que contribuía, naturalmente, para deprimir ainda mais a infeliz. No início, este segundo estado ocupava de uma a três horas do dia. A seguir, a duração aumentou, até ocupar a metade de seu tempo. Ela se casou. Então, a duração do segundo estado aumentou ainda mais, até permanecer, sem interrupção, durante uma semana inteira. Depois disso, durante vários anos, ele durava de três a quatro meses, com períodos de três a quatro dias para o estado normal, durante os quais sua existência se tornava intolerável: roubavam-lhe a própria vida e ela se via envelhecer, enquanto a outra, que ela não conhecia, usurpava seu lugar e o afeto dos seus. E esta intrusa era, naturalmente, mais simpática! Mais tarde, o segundo estado decresceu e, com a idade em torno de quarenta e sete anos (ela estava velha, agora...), reduziu-se a algumas horas, a cada vinte e cinco ou trinta dias. Sob todos os outros aspectos, Félida era normal. Apesar da tradicional denominação de "dupla personalidade", a quantidade de personagens produzida por este fenômeno pode ultrapassar em muito o número dois. No caso de Sibyl, submetida na infância a um inimaginável inferno de sevícias, sua reação produziu dezesseis personagens diversos (inclusive dois homens). Conseguiu-se curá-Ia após onze anos de tratamento, incluindo hipnose, quimioterapia e psicanálise. Os diferentes personagens acabaram aceitando apagar-se e desaparecer, concordando entre si em ajudar a pessoa central, ou seja, a própria Sibyl. É preciso lembrar que os diferentes personagens foram reabsorvidos, mas não expulsos. * * Aliás, foi feito um excelente filme com esse caso, denominado Sybil, com Sally Field como a paciente e Joanne Woodward como a psicanalista. Esta já havia protagonizado outro filme, com o mesmo tema, As Três Faces de Eva. É a história real de uma jovem de dupla personalidade: uma, tímida retraída, sem graça, contida; a outra, vulgar, libertina. A personalidade "normal" não sabia da segunda (que aparecia durante um "sono" da primeira), mas a libertina sabia da outra, de quem não gostava. Aos poucos, com o tratamento, começa a nascer uma terceira personalidade que foi crescendo e

integrando os dois outros aspectos. Com a integração, conseguiu equilibrar-se, tornar-se forte, segura de si mesma e verdadeiramente normal. (N. do E.) O caso de Sibyl não constitui, entretanto, o recorde desta assustadora afecção muito parecida com a antiga possessão demoníaca. No caso de Billy Mullighan, o número destes personagens era de vinte e quatro. Infelizmente para Billy, entre eles havia um "durão" chamado Ragen, que cometeu delitos. (Ele falava com um sotaque iugoslavo.) O corpo de Mullighan, animado por Ragen, foi julgado irresponsável pela justiça, o que significou uma bela vitória para a defesa, que conseguiu fazer com que os juízes admitissem este singular caso de demência. Mas a administração penitenciária não permitiu um tratamento, que poderia prolongar-se por vários anos. Assim, Billy ficará na prisão pelo resto da vida. Observamos ainda que outro dos vinte e quatro personagens escreveu ao Dr. Keyes, especialista que havia cuidado de Billy, uma carta em árabe, língua que Billy não conhecia. Talvez este caso fosse apenas o de uma personalidade dissociada, mas onde foi que Billy, dissociado ou não, aprendeu o árabe? Ou, mais exatamente: quem aprendeu, quem conhecia o árabe tão bem a ponto de escrever nesta língua? Por esquanto, só se pode ver uma resposta: aos fragmentos da personalidade dissociada de Billy, vieram enxertar-se (unir-se? introduzir-se? associar-se?) entidades independentes, entre as quais, uma falava árabe (em vida, suponho) e outra o sérvio. Demônios, se assim o desejarem... Todavia, se compararmos este caso aos fenômenos de xenoglossia, eis que emerge uma outra solução, verossímil, pois apela apenas a um mínimo de hipóteses. Nas encarnações precedentes, Billy poderia ter sido árabe e iugoslavo. Mais uma vez, os demônios se revelariam ser apenas... nós mesmos. Caso Mollie Fancher Esta americana, que se tornaria célebre como inedíaca e vidente, nasceu no Brooklyn, em 1848. Desde a infância, ela tinha dificuldades para ingerir alimentos. Para combater esta inapetência, o médico prescreveu-lhe a equitação. Em 1865, ela caiu do cavalo e bateu a sua cabeça na beira da calçada. No ano seguinte, ao descer do bonde, seu saiote ficou preso no vagão e ela foi arrastada por vários metros. Estes dois acidentes deixaram-na inválida e acamada. Suas pernas, dobradas sob seu corpo, atrofiaram-se. Ela foi atingida por desordens nervosas e cegueira. Além disso, durante longos anos ela não ingeriu quase nenhum alimento. Foi neste estado que ela desenvolveu uma série de estranhas faculdades, as quais, em vez de deixá-Ia num estado vegetativo, permitiramlhe levar uma vida ativa, das mais

extraordinárias. Seu braço direito, dobrado sobre sua cabeça, estava quase completamente paralisado, com exceção do polegar e do indicador. Levando o braço esquerdo à mesma posição, Mollie podia trabalhar, sem ver, naturalmente, o que estava fazendo. Aliás, ela estava cega! Suas faculdades de clarividência desenvolveram-se a ponto de suprir totalmente a visão normal. Era desta forma que ela trabalhava, confeccionando flores artificiais de cera colorida. Era um trabalho delicado e ela escolhia as nuances das cores com precisão infalível. Em nove anos, ela utilizou 2.835 quilos de cera. Ela trabalhou também com lã. Durante este período, escreveu aproximadamente seis mil e quinhentas cartas, ou seja, duas por dia. Para escrever, ela segurava o lápis com o punho esquerdo fechado. Mollie lia as cartas sem precisar abri-Ias e lia os livros apenas passando a mão sobre suas páginas. Podia também falar de acontecimentos que se passavam em outras cidades, mesmo afastadas. Ela nunca dormia. Jamais manifestara interesse pelo espiritismo, que não via com especial simpatia. Era crente. Entre seus amigos, havia pastores presbiterianos e batistas. Foi também um caso de múltipla personalidade, com cinco personagens diferentes, que só se manifestavam à noite. Suas aparições eram anunciadas por violentas convulsões e um estado de transe, freqüentemente com catalepsia. Estes personagens sucediam-se desordenadamente. A melhor fonte de informações sobre Mollie Fancher é o livro do juiz Abram H. Dailey. É uma obra confusa, mas reforçada por depoimentos de outras pessoas, especialmente médicos e por artigos publicados no New York Herald. Dailey confirma que Mollie não estava ligada aos espíritas, mas possuía uma profunda experiência pessoal do outro mundo e com os espíritos dos mortos, com os quais se relacionava. "A consciência de todas estas coisas", disse Mollie, "é tão clara quanto a minha vida nesta terra." Ela dizia também ter estado em "lugares absolutamente celestiais" (most heavenly places). Infelizmente para nós, ela não nos deixou qualquer detalhe. E ninguém a interrogou! É preciso acrescentar, ainda, a respeito do juiz Dailey, que não se conseguiu identificar este personagem. Importantes depoimentos sobre Mollie Fancher provêm também do Dr. S. Fleet Speir, que cuidou dela durante vinte e sete anos, e do Dr. Ormiston, que ajudou Fleet freqüentemente. Miss Crosby, a tia de Mollie, deixou anotações preciosas, igualmente confirmadas pelos médicos. Os médicos fizeram tudo o que podiam para surpreender Mollie simulando sua

inédia. Apareciam em sua casa a qualquer hora da noite, sem avisar. Os eméticos que lhe foram administrados revelaram sempre um estômago absolutamente vazio. A ausência quase completa de alimentação foi comprovada para um período de catorze anos. Por exemplo, durante um período de oito meses, Mollie ingeriu, no total, quatro colheres (de chá) de ponche com leite, duas de vinho, um pedacinho de banana e um pedacinho de biscoito. Isto corresponderia a aproximadamente trinta calorias por ano. Notou-se uma ausência de excreção durante três meses. Foram tentadas, sem sucesso, diversas formas de alimentação artificial, depois abandonadas. O alimento, introduzido à força através de uma sonda estomacal, era invariavelmente rejeitado. Vários outros médicos esforçaram-se, também, para descobrir uma fraude, mas acabaram por convencer-se da realidade: Mollie simplesmente não comia. O Dr. West publicou o seguinte fato: no exame de palpação do ventre, a mão tocava diretamente em sua coluna vertebral, ou seja, as vísceras haviam sido reabsorvidas. Há um depoimento de Mollie que deixa entrever perspectivas que nos parecem fechadas. No início de sua doença, como sua tia Crosby a incitava a comer, ela respondeu que recebia alimento de uma fonte que todos ignoravam. Seria muito fácil dizer que Mollie não era médica e imaginava coisas, mas não se pode esquecer que o fato de que os inedíacos vivem sem perder peso contradiz nossos conhecimentos mais firmemente estabelecidos, enquanto Mollie, moça inteligente, era a única testemunha válida! A cegueira de Mollie foi controlada. Seus olhos ficavam abertos, mas não tinham secreção e podiam ser tocados com os dedos. Durante nove anos ela realizou todos os seus trabalhos com as mãos acima da cabeça. Os depoimentos fornecidos pelos Drs. Speir e Ormiston ao longo de quinze anos de observações nunca entraram em contradição. Seus artigos no New York Herald e o livro Mollie Fancher, de Dailey, foram inteiramente confirmados. Mais tarde, foi perguntado ao Dr. Ormiston se ele nada mais tinha a dizer sobre este estranho caso, mas o médico insistiu na absoluta exatidão de tudo que havia dito anteriormente. Mollie via perfeitamente, sem auxílio dos olhos. Suas partes particularmente sensíveis eram o topo da cabeça e a testa. Lembramos que ela trabalhava com suas flores de cera acima da cabeça. Para ler as suas cartas, ela as colocava sobre a testa. Com o rosto totalmente coberto, Mollie descrevia as pessoas presentes no quarto e o que estavam fazendo. O professor Henry Parkhurst, astrônomo, fez uma experiência decisiva. Para eliminar a simples transmissão de pensamento, sempre possível quando o experimentador sabe o que o vidente deve ver, ele recortou num jornal, sem olhar, uma tira de papel, que colocou num envelope, fechando-o. Mollie, que nesta época

não conseguia falar, soletrou através de batidas as palavras que distinguia, assim como toda uma série de números. Ela estranhou particularmente os números, pois o texto do jornal era compacto. Quando o recorte foi examinado, ao lado das diferentes palavras que Mollie lera corretamente, notou-se que havia uma lista de artigos votados pelo Parlamento e numerados, sendo estes os números lidos por ela. Portanto, ela conseguia mesmo ler bem as letras e os números sem vê-Ios. Mollie Fancher também tinha o dom da premonição. Ela avisou ao Dr. Speir que ele seria roubado, o que de fato aconteceu (uma valiosa maleta de instrumentos). Se ele tivesse levado mais a sério o aviso, teria se precavido, mas nossa mente tem tendência a bloquear as informações que não provêm de um canal lógico, racional. Mollie também descreveu, várias vezes, o conteúdo das cartas que estavam para chegar. Podia também ver as pessoas que se dirigiam para sua casa e as que chegariam logo depois. Depois de nove anos, sua paralisia desapareceu e sua consciência retornou. Ela pensava ter dormido apenas uma noite! Na verdade, havia adormecido aos quinze anos e agora tinha vinte e quatro. Repentinamente, ela recobrou o uso de seu braço direito, o que ficava dobrado acima da cabeça. Entretanto, a grande habilidade que havia desenvolvido, por exemplo para a confecção de flores artificiais, desapareceu junto com a paralisia e ela foi obrigada a aprender tudo de novo. Quando Mollie retomou sua vida normal, perdeu todas as recordações desses anos que haviam passado. Era, portanto, um caso de personalidade múltipla. Seríamos tentados a atribuir o estado extraordinário no qual ela viveu todo este tempo a uma perturbação mental, mas existem os fatos: visão sem os olhos, premonição e inédia; sendo que nenhum deles pode ser explicado dentro do esquema das ciências clássicas. Mollie Fancher era uma garota inteligente, alegre e amável. É preciso observar que ela não tinha segundas intenções de desacreditar o misticismo católico, algo que sempre se pode suspeitar dos protestantes "duros" e incrédulos. Só nos resta deplorar amargamente a falta de interesse, tanto da parte dos médicos quanto dos que eram próximos a Mollie, quando ela afirmava conhecer o que a alimentava, bem como sobre o que ela poderia revelar a respeito do outro mundo, ao qual tinha acesso, e sobre as relações que mantinha com os mortos. Seria, no mínimo, tão interessante quanto tentar convencê-Ia de fraude! Louise Lateau deixou, a esse respeito, uma informação exatamente idêntica. Ela sabia o que a alimentava e os médicos agiram, então, como no caso de Mollie Fancher: negligenciando o depoimento, mas dedicando-se obstinadamente aos controles. Pensava-se que eram pesquisadores, mas, na verdade, não passavam de enfermeiros.

CONCLUSÃO

A CONSTITUIÇÃO FÍSICA DO HOMEM (esboçada de acordo com o desenvolvimento futuro dos conhecimentos)

Quando uma ciência está no seu início, como é o caso da parapsicologia, o que importa, em primeiro lugar, é a direção na qual as pesquisas se orientam, assim como a proibição de toda e qualquer exclusão de dados, pois é assim que se esbarra nas descobertas fundamentais. Quanto à precisão que se mostra necessária mais adiante pode ser nefasta no estágio inicial dos conhecimentos. O espírito de rigor não substitui o espírito de pesquisa, e, quando introduzido inoportunamente, pode bloquear este último. Entre os mecanismos propostos para a interpretação de um fato, aquele que cobre o maior número de fatos diferentes é o mais provável, ou, se quisermos, o mais próximo da verdade (O Princípio da Conservação da Energia, a Lei de Newton, a constituição celular dos seres vivos, são notavelmente amplos). É este princípio, o da maior abrangência, que nos permitirá escolher entre os mecanismos possíveis a solução a ser adotada. Acrescentamos ainda que nem a perfeição, nem a homogeneidade interna de uma explicação, de uma teoria ou de uma ciência inteira podem garantir a verdade, se afastarmos os fatos incômodos. A história das ciências mostra que foi a partir dos fatos aberrantes que se desenvolveram, sempre, os prolongamentos que acabaram demolindo a construção que se acreditava perfeita. Os fenômenos misteriosos examinados neste livro dizem respeito ao homem, mas, como nós evoluimos num meio material, eles nos reveIam, também, certas propriedades inesperadas da matéria que estão em total desacordo com a física oficial. A telecinesia e a psicocinesia mostram que a mente tem características físicas (princípio de Crookes), podendo agir diretamente sobre a matéria. Trata-se não apenas de uma ação física ordinária, exercida por um agente particular, mas sim de uma força com características diferentes das forças conhecidas. A passagem de objetos sólidos através de outros objetos é totalmente incompreensível para um físico: o mecanismo atuante revela um relaxamento desconhecido das forças de coesão interatômicas. Neste caso, trata-se mesmo de uma realidade completamente nova. A levitação e a perda de peso do médium durante as materializações são também opostas aos "nossos conhecimentos melhor estabelecidos". A acumulação destas fraquezas contrárias à realidade lembra, singularmente, os estábulos de Augias. Os corpos do homem

O homem é constituído de vários corpos distintos, coexistindo no estado normal. Éstes corpos não são o resultado de uma concepção teórica nem uma construção escolástica destinada a confirmar algum dogma estabelecido a priori, nem mesmo uma forma cômoda de designar um conjunto de características quaisquer. Os corpos do homem são entidades distintas, tais como resultam das observações dos fenômenos, sejam paranormais (a maior parte) ou não, sendo estes bem conhecidos dos clássicos. Consideraremos, então, como "corpo" distinto toda entidade que emana do homem e pode ser percebida, distinta e isoladamente dos outros corpos. Não se deve exigir mais no atual estágio dos nossos conhecimentos. Existem, aliás, várias listas destes corpos. A mais simples é a dos materialistas incondicionais (apenas o corpo físico), a seguir a lista ternária dos ensinamentos tradicionais (corpo + espírito + alma), finalizando com as listas de sete a nove termos das doutrinas esotéricas. Estes estudos datam de vários séculos, no Oriente. Encontraremos estas descrições, por exemplo, na teosofia. Todas estas concepções se complementam e estão interligadas, ao contrário das invenções dogmáticas e teóricas, que podem ser puras fantasias. O corpo físico. É o corpo denso, visível, o único admitido pelos materialistas. A descrição anatômica do corpo atingiu com a biologia molecular uma perfeição inigualada, com a condição de limitar-se ao corpo inanimado. Quando se trata, no entanto, das reações deste corpo, ou seja, da fisiologia, esta perfeição não resiste à prova dos fatos. O metabolismo normal, não patológico, do corpo humano é um estado de equilíbrio que ocorre a uma temperatura constante, próxima de 37°C. No entanto, existe um outro mecanismo metabólico confirmado por um estado estável a uma temperatura próxima de 50°C, e que persiste algum tempo após a morte. Este patamar térmico é, de acordo com a ciência clássica, incompatível com a vida. O estado de incorruptibilidade de certos corpos evidencia um outro estado estável -podendo prolongar-se por milênios - que não corresponde a nenhum estado conhecidopela nossa medicina. Estes corpos não se corrompem, permanecem flexíveis e mornos, o que indica um prpcesso energético desconhecido, que tanto pode ser uma reação inter-na totalmente misteriosa como uma reemissão de energia cósmica. O que acaba por tornar este fenômeno totalmente incompreensível é o fato de que os corpos neste estado não são atacados pela cal viva, que normalmente destrói tanto os tecidos mortos quanto os vivos. Uma alternativa análoga deve ser invocada para explicar o fenômeno da inédia:

embora os inedíacos não se alimentem mais, eles liberam energia térmica e gás carbônico. Aqui temos alguns dados precisos (Teresa Neumann, o padre Pio): seu peso, mesmo após uma perda brutal (os êxtases de Teresa Neumann), reconstitui-se espontaneamente, contrariando todos os nossos conhecimentos já estabelecidos. Parece que se confirma a hipótese da absorção da energia e da matéria a partir do meio ambiente. O fenôneno da combustão espontânea do corpo humano estaria ligado às mesmas causas. Aparentemente, trata-se de uma reação que explode. No entanto, diante do obstinado silêncio da fisiologia clássica, que persiste apesar dos documentos oficiais de mais de dois séculos atrás, temos o direito de nos perguntar se as teorias clássicas sobre o equilíbrio térmico do corpo não estariam omitindo o essencial. O mecanismo proposto por elas não seria falso, porém parcial e secundário. Seria o mesmo que ocorre com relação à visão: embora o mecanismo da visão seja bem conhecido, a visão extracorpórea ou extra-ocular revela que a percepção visual ao nível da mente é algo totalmente diferente. A resistência do corpo humano aos agentes que normalmente deveriam destruí-Io é também da competência da fisiologia. Fazem parte desta categoria a resistência ao fogo, inata ou adquirida, assim como a resis tência às ações mecânicas. Trata-se, talvez, de uma intervenção da mente, guardando algumas analogias com os fenômenos psicossomáticos. Entretanto, mesmo sendo este o caso, o papel da mente seria discutível. A resistência ao fogo pode ser inata - onde está, então, a intervenção da mente? Por outro lado, a hipótese de Crookes atribui à mente propriedades físicas, o que transformaria nossas noções fundamentais sobre ela, tanto quanto sobre a matéria. A exteriorização da sensibilidade e a transmissão das reações psicofisiológicas pela matéria é um outro campo desconhecido, ainda a ser explorado. Tudo o que foi dito poderia justificar a existência de um corpo vital, o das reações do ser vivo, que seria distinto do corpo inanimado, do corpo físico. Corpo astral (corpo sutil, corpo biofísico). Este ultrapassa o corpo físico. A parte que o ultrapassa pode ser percebida pelos sensitivos e manipulada, com objetivos medicinais. Na morte, ele se separa do corpo físico, como envelope material dos corpos seguintes. Ele se manifesta, também, nos fenômenos de exteriorização da sensibilidade e na viagem astral. É ele, sem dúvida, que serve de envelope visível nos fenômenos da bilocação e do desdobramento espontâneo. Isolado, o corpo astral forma um invólucro vazio, que pode ser percebido pelos videntes, pelos animais (cães) e pela aparelhagem eletromagnética. Estando nesta forma, ele pode tornar-se visível como fantasma, com uma existência irregularmente

periódica. Em geral, este invólucro sofre uma degradação progressiva. O corpo astral existe também nos animais, nas plantas e nos objetos inanimados. Os navios-fantasmas formam uma categoria bem conhecida de objetos do mundo astral que se tornam temporariamente visíveis. O conhecimento e a percepção. Os fenômenos da exteriorização da sensibilidade, do desdobramento dos operados e acidentados que vêem o próprio corpo e a viagem astral voluntária mostram que os sentidos podem receber informações de outras maneiras, sem passar pelos órgãos especializados. A descrição clássica da percepção limita-se, portanto, apenas a um dos possíveis modos de transmissão dessas informações. O mecanismo da vidência é muito semelhante: ele consiste na aquisição da informação sem passar pelo canal habitual da percepção seguida por uma cadeia de deduções lógicas, mas sim através de uma percepção direta dos fatos e dos acontecimentos, mecanismo que a ciência clássica ignora. Uma categoria de fatos particularmente estranhos e absolutamente incompatíveis com os esquemas clássicos da ciência é o laço que une todo objeto a outros com os quais esteve em contato, observado na percepção extra-sensorial com objeto intermediário. Outro fato, ainda mais estranho, é a ligação, análoga, que existe entre o objeto e suas representações fotográficas ou pictóricas. A mente e a matéria. A mente, ao menos na forma em que nos é acessível, apresenta aspectos tanto de uma natureza espiritual quanto de uma natureza material. Por esta razão, pode agir diretamente sobre a matéria, sem recorrer a um intermediário (ação imediata). Os fenômenos decorrentes desta faculdade são os raps, a telecinesia, a psicocinesia, os poltergeists, a levitação, a desmaterialização de objetos (à qual está relacionada a cirurgia com as mãos nuas), os aportes, a passagem através da matéria e a combustão espontânea de objetos. Começamos a perceber que a matéria, seja animada ou dita inanimada, pode moldar-se estreitamente ao molde astral, que lhe concede sua coesão e sua estrutura. Esta inesperada conclusão resulta dos fatos da desmaterialização do médium, da psicocinesia, da passagem através da matéria e da cirurgia psíquica. Os próprios fundamentos da física não seriam o que parecem ser. Esta é a oportunidade para nos lembrarmos da opinião segundo a qual a base última do Universo seria mental. Os três físicos que chegaram, independentemente a esta conclusão, e que não se tornaram ilustres por causa da parapsicologia, chamavam-se Einstein, Eddington e Planck.

O espaço é uma entidade esquiva, que fez falhar até mesmo a sagacidade de um Kant, que declarou ser o espaço “uma categoria do espírito" (os físicos, mais filósofos que Kant, encontraram mais tarde. neste mesmo espaço uma curvatura, porém uma categoria do espírito não pode ter uma curvatura). A respeito do espaço, os fenômenos paranormais nos fornecem também informações fundamentais. O espaço é preenchido (constituído?) por uma substância sutil, que está em comunicação com o corpo sutil do homem. Este meio transmite certas informações e, sendo material, pode ser assimilado pelo corpo sutil. As relações entre a substância sutil e a substância física são relativamente desconhecidas. No entanto, a substância sutil pode, por condensação, transformarse em substância física. O meio sutil transmite também certas formas de energia, por analogia com a transmissão da energia radiante. É preciso evitar ver no meio astral uma ressurreição do antigo éter dos físicos. Embora exista uma certa semelhança superficial, trata-se de algo totalmente diferente. O espírito consciente é a consciência comum. O materialismo, evidentemente, admite a consciência, porém nega uma existência independente à entidade "espírito". A consciência seria, de acordo com os materialistas, a produção secundária de um funcionamento celular que atingiu um nível suficiente de complexidade. Esta concepção foi totalmente invalidada por todos os fenômenos nos quais a consciência se encontra fora do corpo: viagem astral, experiência de desdobramento dos operados e dos acidentados, bem como os numerosos casos de recordações das vidas passadas (pesquisas Stevenson, etc.), nos quais o espírito de alguma forma deslocou-se de um corpo a outro. Todos estes fatos demonstram a existência autônoma e a sobrevida do mesmo. O inconsciente (o subconsciente) dos psicólogos e dos psicanalistas. Classicamente, é o lado afetivo da consciência, relacionada à vida dos sentimentos, às personalidades dissociadas (Pierre Janet) e aos atos falhos (Freud). No entanto, mais além, os fatos já não confirmam a visão oficial. Os fenômenos de poltergeists escapam às explicações clássicas. Os "espíritos-que-batem" não somente revelam uma individualidade distinta do sujeito emissor (o que se constata também nas personalidades dissociadas) como podem circular e agir independentemente, a ponto de vir a atacá-Io. Classificamos este último caso como os "poltergeists masoquistas", mas isto apenas de acordo com a óptica européia. Na reali-dade, o inconsciente é, de fato, uma entidade independente e pode ter suas razões para tomar-se de aversão por seu companheiro obrigatório. Em sua forma independente, esta nova entidade possui um corpo sutil próprio, que é

bem material. A prova disso é que pode ser ferido (caso de Galdarès). Estas constatações nos aproximam singularmente das concepções orientais, segundo as quais a unidade de nosso ser consciente é apenas uma ilusão, pois somos constituídos de um conglomerado simbiótico de entidades, algumas imortais e outras perecíveis, que começam a dissociarse no momento da morte física. O inconsciente manifesta-se exteriormente ao sujeito emissor nos fenômenos de materialização mediúnica perfeita, sendo que os melhores não podem ser distinguidos dos seres vivos (Katie King, Yolanda). O material que forma o corpo desses seres é fornecido pelo corpo do médium e é por ele reabsorvido quando a materialização desaparece. A teoria do inconsciente, porém, mostra-se completamente falha nos casos em que suas capacidades e conhecimentos não podem ser explicados por uma analogia com aqueles que o sujeito possui. É o caso, principalmente, do conhecimento de línguas estrangeiras: o árabe para o dissociado Billy Mulligan, os dialetos hindus para a garotinha acidentada de Ihansa e os fenômenos de xenoglossia, onde o número de línguas estrangeiras ou sucessivamente conhecidas pelo sensitivo pode chegar a vinte. Nenhuma dissociação pode explicar o bom conhecimento de uma língua que não foi aprendida. As explicações contrapostas são, pois: a possessão por uma entidade estrangeira e as lembranças precisas de uma ou mais encarnações anteriores. Ambas as explicações postulam, evidentemente, a existência do espírito separado do corpo, sua sobrevida e a reencarnação. Os chamados "espíritos". A intervenção consciente de "espíritos" identificáveis como sendo de homens que vieram em nosso mundo é evidente em muitos outros fenômenos, tais como as aparições deliberadas, aqueles que retornam para continuar um trabalho, como os que se manifestam no teatro Drury Lane, de Londres, as assombrações benévolas (caso Mamtchitch) ou as malévolas (caso Bird Cage). As capacidades desconhecidas do homem colocam-nos em comunicação com o que chamamos de "outro mundo" e os espíritos que o povoam. Os diferentes ensinamentos distinguem aí os homens que já viveram, os seres superiores (anjos), as diferentes categorias de seres inferiores (elementais, demônios), certos mortais e outros dotados de imortalidade. O estudo aos possíveis contatos a serem estabelecidos com estes seres, que serão examinados de forma mais completa em outro volume, confirma a capacidade dos seres humanos de seguir ou na direção do bem ou na direção contrária, tornando-se, assim, rancorosos e malévolos. Estes últimos desempenhariam bastante bem o papel de demônios, enquanto outros agiriam à maneira dos anjos. Seria necessário anexar a eles as criações do pensamento, seres que, embora efêmeros, apresentam características

idênticas às de outras criaturas. Quanto aos seres de essência superior, tais como os anjos cristãos, os demônios tibetanos, as huris e os diabos, estes poderiam revelar-se como símbolos e invenções táticas, destinados a manter os crentes no bom caminho (entendendo-se que todos os outros bons caminhos são maus). A criação poética, a fraqueza dos homens, seus medos e suas esperanças são uma poderosa ajuda para que se tornem reais estas criações de sua própria mente. Neste caso, o homem seria o único habitante neste Universo.