O Irrepresentável Existe Sobre Syrie La Barbarie Au Quotidien 2013 de Emin Özmen

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O irrepresentável existe? Sobre “Syrie: La barbarie au quotidien”(2013) de Emin Özmen Douglas Romão Universidade Federal Fluminense, Mestrando Resumo: Sob quais condições é possível declarar certos acontecimentos irrepresentáveis? Propomos, assim, a partir da argumentação de Jacques Rancière, em seu livro “O destino das imagens”(2012), e Georges Didi-Huberman, em “Imagens apesar de tudo”(2012), comentar a série fotográfica “Syrie: La barbárie au quotidien”(2013) de Emin Özmen, ganhador do prêmio de público no Prix Bayez-Calvados de 2014. Trata-se de uma série de nove fotografias de decapitações públicas promovidas pela facção armada Estado Islâmico em quatro vilarejos da região de Alepo, em 31 de agosto de 2013. Estas fotografias suscitaram debates no seio do júri profissional que escolheram não premiar seu trabalho. Além disso, veículos de comunicação, inclusive o jornal Sabah, onde trabalha o fotojornalista, não aceitaram publicá-las, com exceção de Time e Paris Match. Aqueles que negaram o fizeram sob a argumentação de serem imagens sangrentas insustentáveis, e, quando muito, promotoras de propaganda. De seu lado, o fotógrafo defende que é uma realidade vivida no Oriente Médio e que é necessário a ajuda de todos para impedi-la. De tal maneira, pretendemos pensar com Rancière como e em que condições é possível

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Resumo da apresentação de Douglas Romão no II Seminário de Estética e Crítica de Arte da USP

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O irrepresentável existe? Sobre “Syrie: La barbarie au quotidien”(2013) de

Emin Özmen

Douglas Romão

Universidade Federal Fluminense, Mestrando

Resumo:

Sob quais condições é possível declarar certos acontecimentos

irrepresentáveis? Propomos, assim, a partir da argumentação de Jacques

Rancière, em seu livro “O destino das imagens”(2012), e Georges Didi-

Huberman, em “Imagens apesar de tudo”(2012), comentar a série fotográfica

“Syrie: La barbárie au quotidien”(2013) de Emin Özmen, ganhador do prêmio

de público no Prix Bayez-Calvados de 2014. Trata-se de uma série de nove

fotografias de decapitações públicas promovidas pela facção armada Estado

Islâmico em quatro vilarejos da região de Alepo, em 31 de agosto de 2013.

Estas fotografias suscitaram debates no seio do júri profissional que

escolheram não premiar seu trabalho. Além disso, veículos de comunicação,

inclusive o jornal Sabah, onde trabalha o fotojornalista, não aceitaram publicá-

las, com exceção de Time e Paris Match. Aqueles que negaram o fizeram sob

a argumentação de serem imagens sangrentas insustentáveis, e, quando

muito, promotoras de propaganda. De seu lado, o fotógrafo defende que é uma

realidade vivida no Oriente Médio e que é necessário a ajuda de todos para

impedi-la. De tal maneira, pretendemos pensar com Rancière como e em que

condições é possível construir um tal conceito que proponha abarcar uma dada

experiência que a muitos se quer excedente do possível, não experienciável,

como situações de trauma. Somando-se a argumentação de Didi-Huberman,

talvez seja necessário fazer um exercício de trabalho, imaginação e montagem,

em tensão do demasiado e do nada, em vista de “reconhecer em cada

documento de barbárie algo como documento de cultura que mostra não a

história propriamente dita senão uma possibilidade de arqueologia crítica e

dialética”. Isto é, montar uma história anacrônica a partir dos fragmentos,

daquilo que por sorte do destino não foi apagado. Como diz Rancière, “O

discurso que quer saudar as ‘imagens’ como sombras perdidas, fugitivamente

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convocadas da profundeza dos Infernos, deste modo parece as sustentar

apenas ao preço de se contradizer, de se transformar num imenso poema que

faz comunicar sem limite as artes e os suportes, as obras de arte e as

ilustrações do mundo, o mutismo das imagens e sua eloquência. ”. Assim,

pensar criticamente se antes da censura sob o crivo do irrepresentável, uma

imagem bem observada saberia fazer desconcertar, renovar nossa linguagem,

e, portanto, nosso pensamento.

Palavras-chave: imaginação; irrepresentável; barbárie; ética; fotorreportagem