“O jogo como reflexo do processo de treino” · 2.3.2.7. Treino ... acordo com o documento...
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I
“O jogo como reflexo do processo de treino”
Orientador: Professor José Guilherme Granja de Oliveira
Carlos Filipe Sá Rebelo
Porto, Setembro de 2015
Relatório Final do Estágio Profissional
apresentado com vista a obtenção do 2º
Ciclo de Estudos conducente ao grau de
Mestre em Desporto para Crianças e
Jovens ao abrigo do Decreto-lei
nº74/2006 de 24 de Março
II
Ficha de Catalogação
Rebelo, C. F. S. (2015). “O jogo como reflexo do processo de treino”. Porto: C.
Rebelo. Relatório de Estágio profissionalizante para a obtenção do grau de
Mestre em Desporto para Crianças e Jovens, apresentado à Faculdade de
Deporto da Universidade do Porto.
PALAVRAS-CHAVE: FUTEBOL, MODELO DE JOGO, TREINO, JOGO
III
Agradecimentos
Ao meu Pai, âncora de dia-a-dia e fiel companheiro, pelo apoio
incondicional na perseguição do meu sonho. Ainda, pelas forças quando me
faltam e pelo amor intangível. Pelo exemplo na vida.
Ao Sr. Faria, pela oportunidade de me iniciar na minha profissão e por
todos os ensinamentos.
Ao Xavier, por anos de crescimento frenético e parceria contínua no
início da nossa viagem. Pelo exemplo no campo.
Ao Kiko, por toda a motivação e conversas intermináveis. Pela amizade
absoluta e compreensão atroz.
Ao amigo e professor Luís, pelo escrutínio minucioso e crítica constante.
Pela revisão de texto e pela amizade irrestrita.
Ao meu Avó, pelo que me permite ser ensinando-me melhor. Pelo amor
com que me olha.
Ao Professor José Guilherme, pela orientação, emprenho, compromisso
e sabedoria com que me guiou ao longo desta dissertação.
IV
V
Índice
Resumo.........................................................................................................................VII
Abstract..........................................................................................................................IX
Capítulo I.......................................................................................................................1
1. Introdução.................................................................................................................3
1.1. Problematização da prática profissional.......................................................3
1.2. Estrutura e finalidade do relatório.................................................................4
Capítulo II......................................................................................................................5
2. Contextualização da Prática.....................................................................................7
2.1. Contexto institucional........................................................................................7
2.1.1. O Clube......................................................................................................7
2.1.2. Condições de Trabalho............................................................................10
2.1.3. Escalão....................................................................................................11
2.1.4. Objetivos..................................................................................................15
2.1.4.1. Como coordenador....................................................................15
2.1.4.2. Como treinador..........................................................................16
2.1.5. Plantel......................................................................................................18
2.1.6. Competição..............................................................................................19
2.1.7. Equipa Técnica........................................................................................20
2.2. Contexto Funcional..........................................................................................23
2.3. Macro Contexto...............................................................................................24
2.3.1. Futebol.....................................................................................................24
2.3.2. Periodização Tática.................................................................................27
2.3.2.1. Uma nova abordagem ao jogo..................................................31
2.3.2.2. Complexidade...........................................................................32
2.3.2.3. Sistemas....................................................................................34
2.3.2.4. Funcionamento dos Sistemas...................................................38
2.3.2.5. Futebol como um evento caótico, determinístico......................39
2.3.2.6. Modelo de Jogo.........................................................................43
2.3.2.7. Treino........................................................................................57
VI
Capítulo III...................................................................................................................65
3. Desenvolvimento da Prática......................................................................................67
3.1. Concepção......................................................................................................68
3.1.1. Objetivos e expectativas iniciais..............................................................68
3.1.2. Análise do contexto..................................................................................71
3.1.3. Equipa......................................................................................................73
3.1.4. Modelo de Jogo.......................................................................................84
3.1.4.1. Organização estrutural adotada pela equipa............................85
3.1.4.2. Momentos de Jogo....................................................................86
3.1.5. Treino.....................................................................................................109
3.1.5.1. Primeira subfase.....................................................................111
3.1.5.2. Segunda subfase....................................................................112
3.1.5.3. Terceira subfase......................................................................119
3.2. Implementação das actividades....................................................................120
3.2.1. Operacionalização da primeira subfase.....................................122
3.2.2. Operacionalização da segunda subfase....................................123
3.2.3. Operacionalização da terceira subfase......................................128
3.2.4. Operacionalização da quarta subfase........................................131
3.3. Barreiras e estratégias de remediação..........................................................135
3.3.1. Operacionalização da quarta subfase........................................139
3.3.2. Operacionalização da quinta subfase........................................144
Capítulo IV................................................................................................................147
4. Desenvolvimento Profissional..........................................................................149
Capítulo V.................................................................................................................153
5. Considerações finais........................................................................................155
Capítulo VI................................................................................................................157
6. Referências Bibliográficas................................................................................159
Capítulo VII...............................................................................................................161
7. Anexos...................................................................................................................i
VII
Resumo
O Futebol tem conhecido diferentes processos operacionais que têm
potenciado o jogo até ao nível que hoje conhecemos. Algumas das mais
recentes metodologias de treino têm um papel importante nesta evolução,
começando pelo trabalho feito nas equipas de formação. O presente relatório
tem como objetivo apresentar o caminho e a reflexão das vivências
experienciadas durante a época desportiva de 2014/15 realizada no Clube de
Futebol S. Félix da Marinha. As funções de coordenação, de treinador auxiliar e
de treinador principal, que ao longo do ano foram assumidas, permitiram
vivenciar inúmeras e variadas situações de aprendizagem. O relatório pretende
apresentar o trabalho realizado e explicitar as decisões que ao longo do
processo foram tomadas. A época desportiva providenciou algumas das
experiências mais enriquecedoras pelas quais já passei, enquanto profissional,
permitindo o desenvolvimento de várias competências cruciais para a minha
formação enquanto treinador de Futebol e pessoa.
PALAVRAS-CHAVE: FUTEBOL, MODELO DE JOGO, TREINO, JOGO
VIII
IX
Abstract
Football has known different operational processes that have developed the
game to the level we know today. Some of the most recent training methods
have a very important role in this evolution, starting on the work done on the
youth teams. The objective of this report is to present the path and experiences
lived during the season of 2014/15 in Clube de Futebol S. Félix da Marinha. The
job done during the year as a coordinator, assistant and main coach, allowed
me to go through several unique learning experiences. This report intends to
present the work done and explain the decisions taken through the season. This
gave me the opportunity to live some of the most enrichening experiences I
went through as a professional, allowing me do develop several crucial abilities
to my formation as a football coach and person.
KEY-WORDS: FOOTBALL, GAME MODEL, PRACTICE, GAME
1
Capítulo I
Introdução
2
3
1. Introdução
1.1. Problematização da prática profissional
O presente relatório foi realizado no âmbito do 2º Ciclo em Desporto
para Crianças e Jovens – opção Treino de Futebol, da Faculdade de Desporto
da Universidade do Porto (FADEUP).
O estágio descrito visa a aplicação, num contexto prático, dos
conhecimentos adquiridos durante o percurso académico nesta instituição. São
exigidas competências necessárias à criação de um modelo de jogo de acordo
os objetivos do clube, e ao planeamento e gestão do processo de treino que
procure a aquisição dos princípios para executa-lo.
Pretende-se desenvolver um contexto em que o grau e quantidade das
minhas responsabilidades sejam elevados tendo, ainda, liberdade total para
experimentar as minhas ideias de jogo e metodologias de treino. Durante este
processo, será feita uma análise à influência dos treinos efectuados nos
comportamentos e competências dos jogadores.
O relatório decorreu após uma mudança de mandato na presidência do
clube, surgindo a nova direção com intenções de apostar nas equipas de
formação, definindo como seu principal objetivo criar um plantel sénior
constituído por jogadores que fizeram o seu percurso no clube.
Durante o período em que desempenhei funções, fi-lo como treinador da
equipa de sub-11, treinador da equipa de sub-19 e coordenador das equipas de
formação. De maneira a avaliar a influência das medidas implementadas, será
apenas descrito o trabalho efectuado enquanto treinador do escalão máximo de
formação.
4
1.2. Estrutura e finalidade do estágio
O relatório apresentado está estruturado, com os devidos ajustes, de
acordo com o documento “Normas orientadores para a estrutura e redação do
relatório de estágio do 2º Ciclo da FADEUP”.
Assim, está dividido em cinco capítulos: o primeiro, quarto e quinto
capítulos serão compostos pela introdução, conclusão e referências
bibliográficas, respetivamente, deixando a maior parte do conteúdo para o
segundo e terceiro capítulos que integrarão a contextualização e
desenvolvimento da prática, respetivamente.
A respeito destes dois últimos serão descritas duas funções diferentes:
uma enquanto treinador adjunto da equipa de sub-19, cargo que ocupei no
início da época, e em que descreverei o contexto de trabalho e a sua aplicação
prática; durará até à fase em que assumirei o cargo de treinador principal da
equipa. Esta, será descrita na fase final do capítulo do desenvolvimento da
prática.
A finalidade deste estágio passa por testar a aplicação dos
conhecimentos adquiridos e necessários ao planeamento de uma época
desportiva, enquadrando-os na prática enquanto treinador de uma equipa de
formação com objetivos específicos.
5
Capítulo II
Contextualização da Prática
6
7
2. Contextualização da Prática
2.1. Contexto institucional
2.1.1. O Clube
O estágio decorreu no Clube de Futebol S. Félix da Marinha, clube onde
trabalho há 4 anos, com estádio na cidade de seu nome, no distrito do Porto,
concelho de Vila Nova de Gaia.
Fundado a 27 de Maio de 1947, o clube amador alberga sete equipas
nos escalões de formação, uma equipa sénior e uma equipa de futebol
feminino.
A equipa sénior compete na 1ª Divisão Distrital da AF Porto, procurando
a manutenção após a promoção no ano passado. Até à presente época o
plantel era constituído quase exclusivamente por jogadores de outras equipas
do distrito do Porto e do futebol popular de Espinho, não havendo jogadores
formados no clube.
Todos os seus escalões de formação competem na divisão distrital mais
baixa, registando algumas subidas ocasionais, seguidas de despromoção à
divisão “habitual”. Nunca nenhuma camada competiu a nível nacional, sendo a
classificação média na 2ª Divisão Distrital da AF Porto o 7º lugar. Considero
pertinentes estas informações de modo a demonstrar o nível competitivo do
clube e as respetivas aspirações.
A equipa de futebol feminino foi criada este ano e é constituída por vinte
e três atletas.
A presente época representa para o clube um ano de transição, visto ter
conhecido uma nova direção que alterou a estrutura, a organização e os
8
objetivos do clube. A partir desta época, o clube procura construir o seu plantel
com jovens provenientes dos seus escalões de formação, tornando esse o seu
principal objetivo.
Durante o mandato da direção anterior, cada escalão trabalhava de
forma independente. O treinador era responsável pelo rumo do seu trabalho,
sem qualquer indicação dos coordenadores do clube, e podia definir os seus
objetivos de forma livre. Isto significa, também, que não existia um caminho
com fim comum ou uma cultura a respeitar.
Do meu ponto de vista, este contexto organizacional e funcional justifica
o número reduzido de jogadores do clube a chegarem ao futebol sénior. Não
podemos esperar que os jogadores formados nas camadas jovens satisfaçam
as necessidades do(s) treinador(es) do plantel sénior se não comunicarmos
com o(s) mesmo(s), e se não existirem linhas orientadoras para que o projeto
de formação tenha coerência, consistência e seja um processo evolutivo
gradativo.
Até há muito pouco tempo considerei isto uma vantagem para o meu
desenvolvimento enquanto treinador, já que tinha liberdade total para estruturar
a minha equipa e os meus treinos exclusivamente segundo as minhas ideias.
Contudo, com a proposta que me foi feita no fim da época passada, para
assumir o papel de coordenador da formação, tomei consciência da vantagem
da existência de linhas orientadoras para as diferentes equipas de modo a
todos terem um trabalho mais sistematizado e coerente. À medida que crescia
como entendedor do jogo de futebol, dentro e fora do campo, começava a
entender que as classificações obtidas dependem não só das capacidades dos
membros do plantel (incluindo equipa técnica) mas também das condições e
gestão de processos do clube.
Para uma equipa ter sucesso precisa de jogadores que desenvolveram
ao longo de vários anos ligações obtidas por treino estruturado e perspetivado
a longo prazo. Só assim podemos, realmente, automatizar um processo de
jogo, nunca com um trabalho de um ano só – à semelhança das épocas
9
anteriores. Colocávamos os jogadores num ciclo que limitava o seu
crescimento por falta de constância de princípios de jogo e treino.
Segundo a Lei do Efeito de Thorndike, um dos efeitos de um ato bem
sucedido é aumentar a possibilidade de ele ser repetido em circunstâncias
idênticas. Se um jogador tiver circunstâncias diferentes todas as épocas, é
impossível potenciar ao máximo a performance do mesmo nas circunstâncias
do jogo.
O desenvolvimento de um jogador trata muito mais do que o seu
desenvolvimento técnico e físico, dando-se cada vez mais importância à
tomada de decisão.
O que nós pretendemos na definição de um Modelo de Jogo é orientar
as decisões dos nossos jogadores para que estes se encontrem num contexto
que é coerente entre todos e favorável à equipa. A performance da equipa
neste contexto deve ser desenvolvida no treino. Por isso é que reforçamos
constantemente a seguinte ideia aos nossos jogadores: treinamos como
jogamos e jogamos como treinamos.
No sentido de corrigir os problemas existentes no departamento da
formação, a nova direção convidou-me a mim e ao meu colega para coordenar
este departamento, ficando eu com as camadas inferiores a sub-13 (inclusivé)
e destinando-lhe as camadas superiores.
O nosso principal objetivo como coordenadores dos escalões de
formação foi definir uma cultura futebolística para o clube, com metas e meios
comuns entre escalões e equipas. Para isto, procurámos contratar treinadores
que tivessem ideias sobre o processo de treino idênticas às nossas.
Tentámos, também, criar um Modelo de Jogo, apresentado pelo
treinador da equipa sénior, que deveria servir de base para o trabalho dos
restantes escalões, no sentido de preparar os jogadores da formação para as
exigências específicas no futebol sénior praticado no nosso clube.
Considero esta informação relevante neste ponto do trabalho porque
acho que o maior problema no clube é a falta de identidade.
10
2.1.2. Condições de Trabalho
O Complexo Desportivo do CF S. Félix da Marinha providencia para os
seus jogadores um campo de futebol de onze, dividido em dois campos de
sete, e três balneários (sem contar com o dos árbitros e treinadores), abertos
entre as 18h00 e as 23h00.
Foi da minha responsabilidade e do meu colega definir os horários de
treino das nossas equipas, mediante o período de treino pré-definido para a
equipa sénior.
Organizámos o plano de treino de modo a que as nossas equipas
treinassem entre quatro e cinco horas, em três ou quatro dias por semana, em
treinos de uma hora ou de uma hora e meia.
Todas as equipas têm disponível para o seu treino metade do campo em
que jogam. As equipas do meu departamento têm para cada treino um
conjunto de cones, dez coletes, dez bolas e garrafas de água. As equipas do
departamento do meu colega têm à sua disposição quinze bolas, embora todas
estejam em más condições.
Faz parte do material que deve ser distribuído pelos treinadores o
seguinte: quatro balizas de futebol de sete, dez mini balizas, quinze barreiras
de salto, oito estacas, dez cones de tamanho médio e grande, duas redes de
fut-volei, duas escadas para treino de coordenação e duas bolas número um
para o treino dos guarda-redes.
Considero que o clube apresenta três problemas graves que limitam
todo o seu processo de treino: falta de espaço para treinar, falta de balneários
para equipar e falta de bolas.
Existe ainda um departamento médico que funciona durante todo o
horário de treino.
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2.1.3. Escalão
Durante o meu percurso CF S. Félix da Marinha tive o privilégio de
trabalhar em todos os escalões à exceção dos Sub-9 e dos Sub-17. Conclui
que trabalhar com o escalão Sub-19 é o que mais me satisfaz e aquele em que
penso que tenho melhores competências.
A razão pela qual eu prefiro trabalhar neste escalão é a componente
competitiva inerente ao mesmo. À medida que os jogadores se aproximam do
fim do seu percurso de formação, esta torna-se cada vez mais notável.
A meu ver, este escalão destaca-se pela dificuldade em manter a
estabilidade emocional, já que os jogadores se encontram numa fase de
transição na sua vida.
Não posso negar que a curta diferença de idades é um fator muito
importante para o nosso trabalho. Pode ser visto como um défice, dificultando o
respeito e a admiração que os jogadores têm pelo treinador, como pode ser
uma vantagem, porque nos facilita a ligação emocional com os atletas, tendo
em conta que temos mais aspetos em comum.
À medida que um jogador de níveis distritais cresce e encurta o seu
tempo restante no futebol de formação, vai perdendo margem de progressão, e
fazendo do futebol uma parte cada vez menos integrante na sua vida, por outro
lado, um jogador de nível nacional vê a sua carreira cada vez mais perto de
começar.
Isto significa que quando um jovem de nível nacional tem um problema
externo ao futebol tem de o resolver para que a sua performance não seja
afetada. Se um jogador da minha equipa tiver um problema pessoal ou deixa
de ir aos treinos ou usa o treino para descarregar a sua frustração pessoal.
12
Esta falta de compromisso torna o meu trabalho bastante difícil, já que
demorei quase meia época para definir um grupo de trabalho em que pudesse
desenvolver os jogadores no sentido que pretendia.
De maneira a lutar para que isto fosse possível, fui obrigado a definir
alguns princípios que permitiam aos atletas entrarem nos meus planos de
trabalho:
A presença de todos os atletas é exigida em todos os treinos, caso
faltem devem avisar até às seis da tarde de maneira a manter o plano de
treino coerente sem afetar o trabalho do resto da equipa;
A falta de um atleta a um treino sem avisar resulta na exclusão do
mesmo da convocatória;
A falta de um jogador a uma convocatória resulta em três jogos fora da
convocatória;
A expulsão de um atleta em jogo, penaliza o jogador no dobro do
número jogos dados como suspenso pela federação (caso um jogador
seja expulso injustamente, ou por faltas que consideramos justificáveis
exclui a suspensão da equipa técnica);
Nenhum jogador pode desrespeitar outro jogador nem qualquer membro
da equipa técnica; caso aconteça, o jogador é excluído de toda a
semana de treino e da convocatória;
Só com estas regras conseguimos estabelecer um plano de trabalho
contínuo que não comprometa o desenvolvimento dos jogadores que
demonstram refinado sentido de responsabilidade.
Isto fez com que, a dado momento da época, o plantel ficasse reduzido a
doze jogadores; no entanto, asseguro que o trabalho feito com esses jogadores
fosse mais produtivo do que em momentos no início da época em que tivemos
mais de vinte jogadores para treinar.
Percebi também durante os dois anos anteriores que é obrigatório exigir
auto-superação constante dos nossos atletas, tendo em conta que se não
tivermos esta atenção os jogadores não terão vontade própria de serem cada
vez melhores, tirando qualquer propósito ao trabalho que fazemos.
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A cultura dos jogadores do nosso clube, como suponho que aconteça
em qualquer outro clube de nível distrital, é de desistir quando alguma coisa se
torna difícil, seja um erro individual que ceda um golo ou um erro na
arbitragem, levando-os a baixar a cabeça e imediatamente abdicar de todas as
ligações na equipa por pensarem que o mundo está todo contra eles.
Nestas idades considero crucial fazer uma gestão justa do plantel, já que
o sentido de justiça dos jovens nesta fase está bastante apurado, o que nos
obriga a sermos capazes de justificar e argumentar as nossas decisões de
modo a que o jogador não desanime.
Relato uma situação nesta época que explica muito bem o que pretendo
ilustrar: enquanto fazíamos um jogo de preparação contra o plantel juvenil, fiz
substituições constantemente de cinco em cinco minutos. Dividi o tempo de
jogo de forma igual entre todos os jogadores e toda a gente entrou pelo menos
duas vezes no jogo. Aconteceu um defesa central ser substituído logo após
falhar um passe longo, enquanto eu insistia constantemente para sair a jogar
em passe curto. Quando tirei o atleta ele questionou a minha decisão,
reclamando que achava injusto ter sido substituído apenas por falhar aquele
passe. Após ter mostrado ao jogador o meu plano e que estava a ser
substituído em último lugar percebeu as minhas intenções, pediu desculpa e
entrou com o dobro da atenção ao seu passe na segunda parte.
Muitas pessoas dizem-me que não devo explicações nenhumas aos
jogadores para tomar as minhas decisões e que estes devem confiar
cegamente na minha gestão.
Eu questiono: como é que um jogador pode confiar cegamente em mim
quando não me conhece nem aos meus processos? Prefiro gerir o meu plantel
com honestidade e abertura completa, uma vez que me sinto plenamente
confiante nas minhas decisões e preparado a justificá-las em qualquer caso.
Desta maneira julgo que consigo retirar o máximo proveito dos meus
atletas porque se não há vontade e estabilidade emocional durante o treino e
jogo, a performance dos atletas estará bem longe do seu potencial máximo.
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Acredito que falar abertamente com todos os atletas e estando
constantemente atualizado acerca do seu estado emocional permite-me ter
maior controlo sobre as suas performances e desenvolvimento.
A questão da motivação também é algo complicado neste escalão em
específico. Para além de preparar durante a semana a previsão que faço do
jogo a realizar, preciso também, todos os domingos de manhã, de dar uma
razão para estes darem tudo o que têm, já que sem este acréscimo não
encontram a motivação para tentarem mais uma vez superar a performance
anterior.
É preciso ter bastante cuidado neste ponto porque muitas vezes os
jogadores confundem a agressividade de jogo que pretendemos evidenciar
com hostilidade para com o adversário. Convém deixar isto bem claro de modo
a manter os jogadores concentrados para o jogo.
Acredito que só desta forma podemos manter um processo de trabalho a
longo prazo, justo para os jogadores e para os treinadores, o que em anos
anteriores era impossível.
Os meios e fins da nossa preparação também são específicos ao
escalão que treinamos. A nossa prioridade no que a objetivos toca é a
preparação formativa dos atletas, seguindo-se os objetivos preparativos e por
último os competitivos, como explico no capítulo seguinte (Objetivos).
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2.1.4. Objetivos
2.1.4.1. Como Coordenador
O projeto de coordenação das camadas jovens apresentado no final da
época anterior tem como principal objetivo a criação de uma cultura para o
clube. Pretendemos melhorar as ligações entre os diferentes escalões,
partilhando jogadores com potencial superior, alguns princípios de jogo nos
nossos modelos de jogo e metodologias de treino. Desta forma
proporcionamos aos jogadores o contexto de aprendizagem apropriado aos
objetivos definidos.
Para que estes objetivos fossem possíveis existiu a necessidade de
começar do zero. Contratar treinadores novos, que partilham das nossas ideias
de treino e jogo, o que fez com que perdêssemos muitos jogadores. Nesse
sentido, achamos por bem não discutir objetivos competitivos com nenhuma
camada, exigindo apenas que nunca se sobrepusessem aos objetivos
formativos e preparativos.
Pedimos aos nossos treinadores que tivessem uma atenção especial
para o comportamento dos nossos atletas. O clube tem um historial disciplinar
bastante mau e isso é algo que pretendemos mudar com urgência. Outra das
condições formativas que colocámos foi a utilização de todos os atletas do
plantel e o uso de todos os suplentes em todos os jogos.
Quanto aos objetivos preparativos, definimos alguns princípios que
gostávamos que os diferentes escalões apresentassem:
Dois tipos de defesas centrais – um tipo forte e bom na marcação e
outro rápido e inteligente nas coberturas defensiva, já que o clube não
pretende que os seus defesas defendam à zona; ambos os defesas
devem ser bons no passe e no cabeceamento;
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Médio defensivo – com bom passe curto e longo e com boa capacidade
decisão, ficando responsável pela decisão do jogo (ofensivamente); este
jogador deve ter um posicionamento muito recuado no campo,
colocando-se no meio dos centrais em momentos iniciais de
organização ofensiva;
Médio centro – muito móvel com capacidades ofensivas e defensivas e
grande capacidade aeróbia e passe curto; um médio “área-a-área”;
Dinâmicas entre os jogadores dos corredores laterais – que definam que
os defesas laterais abram no último terço e fechem no primeiro e
avançados interiores com o movimento contrário;
Também nomeámos dez jogadores dos Sub-19, Sub-17 e Sub-15 que
deveriam desempenhar papéis em diversas equipas técnicas, de modo a
melhorar a interação dos atletas do clube entre diferentes camadas. Pedimos
também aos treinadores que incentivassem os seus atletas a assistir aos jogos
das outras equipas do clube.
Pretendíamos com isto ocupar a carga horária dos nossos jogadores
evitando maus hábitos que já percebemos serem comuns no clube.
2.1.4.2. Como Treinador
Enquanto treinadores do escalão de sub-19, demos prioridade, como em
anos anteriores, aos objetivos formativos.
Tendo em conta que este é o nosso terceiro ano no cargo, já
conhecemos bem o tipo de atletas que temos em mão. A maior parte dos
jovens que jogam pela equipa de sub-19 não têm hábitos de vida saudáveis,
ainda menos de um atleta tratando-se, referindo-me ao consumo de drogas,
álcool e tabaco. Como já referi anteriormente, há também um grande problema
de disciplina tendo em conta a quantidade elevadíssima de cartões vermelhos
que a equipa arrecadava a cada ano.
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Assim sendo, a nossa maior atenção foi corrigir estes problemas.
Procurámos controlar ao máximo o tempo dos nossos jogadores e a forma
como estes o geriam, tornando uma grande parte deles ajudantes em camadas
inferiores, proibindo estes hábitos dentro do complexo desportivo e expulsando
qualquer jogador que se apresentasse em estados de alteração de consciência
ao treino.
Quanto à disciplina, o que decidi fazer foi criar duas regras: cada vez
que um jogador levasse um amarelo por indisciplina era imediatamente
substituído, e aumentam para o dobro os jogos de suspensão para
determinado tipo de expulsões. Inicialmente estas regras custaram-nos alguns
resultados e empenho dos jogadores mas os resultados compensaram o
esforço.
Os objetivos preparativos que definimos para esta época foram
aumentar o número de jogadores promovidos ao plantel sénior. Para isto,
mantivemos contacto constante com o treinador desta equipa, tentando fazer
com que os nossos jogadores correspondessem a qualquer necessidade sua.
Isto passa por criar um perfil do jogador que o treinador precisa e desenvolver
os nossos atletas nesse sentido, respeitando os perfis anunciados
anteriormente.
Foi preciso, também, eliminar a ideia pré-concebida de que os seniores
do clube não têm valor e de que não valia a pena trabalhar para chegar lá.
Decidimos nesta época definir objetivos competitivos diferentes das
épocas anteriores, visto que a divisão onde competimos é altamente
imprevisível, tendo apenas prometido a nós mesmos que iriamos pontuar,
marcar e ganhar mais vezes e sofrer e perder menos do que em todas as
épocas anteriores. Apesar de não transmitirmos nenhuma posição em que
esperávamos ficar, a equipa técnica concluiu que uma classificação entre o
sexto e o terceiro lugar seria satisfatória e realista.
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2.1.5. Plantel
Durante a presente época tivemos 23 jogadores à nossa disposição,
contudo, apenas 13 treinavam assiduamente. Destes 23, 2 eram guarda-redes,
8 eram defesas, 6 eram médios e 7 eram avançados. A maior parte do plantel
(14) eram Sub-19, os restantes (9) eram de primeiro ano. Dois dos jogadores
eram esquerdinos e os restantes destros.
As posições que aqui coloco são as posições que os jogadores me
indicaram ser de raiz, porque vi-me obrigado, por várias adversidades, a
adaptar as posições de dez destes jogadores.
Considero também importante referir que três destes jogadores jogam
futebol há menos de três anos e apenas onze treinam comigo há mais de um
ano. Este fator torna-se relevante porque apenas alguns dos nossos jogadores
trabalharam segundo a metodologia que usamos. Visto que durante os cinco
anos em que trabalhámos no clube nunca vimos nenhum treinador usar a
mesma metodologia que nós (à exceção deste ano), temos sempre o cuidado
de apresentar e explicar a nossa metodologia ao nosso plantel. Acredito que a
consciência que os jogadores têm do funcionamento e intenções do nosso
trabalho é um princípio chave para adquirirem as qualidades e comportamentos
pretendidos.
Atendendo aos objetivos a que nos propusemos no início da época
parece-me importante referir que contámos com dois jogadores sub-17 e um
Sub-16. Também será importante salientar que seis dos nossos jogadores
participaram regularmente nos treinos e em alguns jogos da equipa sénior.
19
2.1.6. Competição
A nossa equipa esteve envolvida na 1ª e 2ª fases da 2ª Divisão Distrital
da AFP.
Tendo em consideração o esforço para melhorar a interação entre os
escalões e a preparação dos jogadores, uma das medidas que tomámos esta
época passa por promover todos os jogadores e treinadores na 2ª fase do
campeonato. Ou seja, os jogadores de 2º ano de cada escalão treinam e
competem com o escalão superior (em que irão estar no ano seguinte). Em
alguns casos os treinadores também foram promovidos com o propósito de
iniciarem a preparação do próximo ano.
Atendendo ao fato de esta ser a minha última época no clube, isto
significa que o trabalho a fazer na 2ª fase não me compete a mim, restringindo,
este relatório à 1ª fase da competição.
A 2ª Divisão Distrital de Sub-19 representa o nível competitivo mais
baixo na Associação de Futebol do Porto. É dividida por séries, de modo a
englobar todos os clubes do Distrito do Porto que não compitam a níveis
superiores. Cada série pode ser constituída por doze a catorze equipas. Nós
competimos na série 1, com doze outras equipas (a nossa série é constituída
por treze equipas devido à desistência dos Dragões Sandinenses).
De modo a estabelecer um ranking classificativo entre todas as equipas
do distrito há a 2ª fase em que as séries são organizadas por classificação, ou
seja, os primeiros classificados de cada série vão competir entre eles, bem
como as equipas das restantes posições.
O primeiro classificado de cada série será automaticamente promovido à
divisão superior. O vencedor da série dos segundos jogará o play-off de
promoção. Visto que competimos na divisão mais baixa nenhuma equipa será
despromovida.
20
2.1.7. Equipa Técnica
Este relatório visa uma reflexão sobre a época de 2014/2015 como
treinador da equipa de sub-19 do CF S. Félix da Marinha. Durante esta época
desempenhei também os cargos de coordenador da formação e treinador da
equipa de sub-11 (cujos aspetos a referir serão limitados à pertinência do
trabalho).
A nossa equipa técnica era constituída por três treinadores, um principal
e dois adjuntos. Para além disso trabalhámos também em conjunto com o
treinador de guarda-redes da equipa sénior.
Desempenhei, ao longo desta época: treinador adjunto da equipa de
sub-19, de 1 de Agosto de 2014 até à oitava jornada, em 15 de Novembro de
2014, e, a partir desse momento passei a ser o treinador principal da mesma
equipa até ao fim da primeira fase, 29 de Março de 2015.
No início da época, o modelo de jogo da equipa foi criado por mim e
supervisionado pelo meu colega, que começou como treinador principal, em
conjunto com a equipa técnica do plantel sénior. Apesar de termos visões
ligeiramente diferentes do que deve ser o jogo, em geral partilhávamos as
mesmas ideias, o que facilitou a coordenação do modelo de jogo da equipa
júnior à imagem da equipa sénior.
Contudo, as preocupações que manifestamos no início da época
mostraram-se um problema durante o período competitivo culminando em
maus resultados para ambas as equipas.
Durante esta primeira fase, eu era responsável por preparar os treinos e
observar os jogos. A orientação dos treinos era dividida entre os três
treinadores.
21
A primeira vez que assumi o cargo de treinador principal foi na quarta
jornada, em que o meu colega não pode estar presente por motivos pessoais,
jogo este em que a equipa conseguiu a primeira vitória.
Mais tarde, outros motivos levaram o treinador principal a abandonar o
seu cargo. Perante o trabalho que vim a fazer enquanto seu adjunto, o meu
colega sugeriu ao vice-presidente do futebol juvenil que eu pudesse assumir a
equipa sobre a sua supervisão.
A primeira função que estabeleci foi definir objetivos concretos que
motivassem os jogadores a procurar a vitória novamente. Fi-lo através de uma
análise detalhada do nosso calendário, tentando explicar-lhes que tínhamos
defrontado todas as melhores equipas até ao momento, e através de uma
previsão de resultados consegui convencê-los de que até metade da época
conseguiríamos atingir uma classificação mais “justa” e consentânea com a
nossa parte.
Tenho consciência de que todos os treinadores que orientaram a nossa
equipa têm este discurso no início da época, tentando convencer os jogadores
de que podem vencer todos os jogos, por isso, tentei uma abordagem um
pouco diferente, mais realista.
Neste momento a nossa equipa estava classificada no 11º lugar, e os
jogadores pareciam não acreditar na vitória. Contudo, após analisar o
calendário apercebi-me de que tínhamos defrontado os adversários mais
difíceis, o que justificava, em parte, a nossa classificação, tendo até à altura
jogado contra seis dos primeiros sete classificados e conquistado quatro
pontos. Partindo do pressuposto que venceriam os últimos dois jogos (que
seriam contra os dois últimos classificados) garanti aos jogadores que tinham
capacidade para não perder nenhum dos outros três jogos e ganhar um deles,
conseguindo com isso o sétimo lugar até metade da época.
O meu objetivo nesta previsão não era convencer os jogadores que
seriamos capazes de magicamente vencer todos os jogos, mas sim mostrar-
lhes que no pior dos casos, conseguiríamos atingir os nossos objetivos se
dessemos passos pequenos no sentido certo.
22
A equipa fez, nesta fase, grandes progressos, chegando a criticar (em
termos irónicos) a minha previsão, já que tinham conseguido o sétimo lugar na
penúltima jornada.
Neste momento, fiz também uma análise ao jogo demonstrado pela
nossa equipa, ao que concluí que apesar de a equipa ter o modelo de jogo
muito bem assimilado revelava dificuldades a desequilibrar os adversários.
Posto isto, decidi remodelar o planeamento do treino e focar-me muito mais no
plano estratégico e em ações ofensivas perto da área adversária.
Visto que passei a ser o único membro da equipa técnica a acompanhar
os jogos, deixou de ser possível filmar os jogos, ao que a observação do jogo
passou a ser feita apenas de memória.
23
2.2. Contexto Funcional
As funções da nossa equipa técnica estavam distribuídas da seguinte
forma:
Criação e ajuste do Modelo de Jogo – Atendendo aos objetivos definidos
como coordenadores, o Modelo de Jogo criado esta época tinha em
vista a identidade apresentada pela equipa sénior. Nesse sentido, eu e o
treinador principal trabalhámos em conjunto com o treinador da equipa
sénior;
Plano estratégico – o que pretendo dizer com plano estratégico, são
todas as alterações que fazemos ao nosso Modelo de Jogo para nos
adaptarmos ao adversário. Esta função é desempenhada pelo treinador
principal;
Preparação e orientação dos treinos – este ponto era de um modo geral
preparado por mim. Eu defino o tempo que dedicamos a cada aspeto do
treino, sendo que o tempo dedicado a bolas paradas e preparação
ofensiva individual estava ao encargo dos outros treinadores. Visto que
nenhum de nós tem conhecimentos suficientes para proporcionar treinos
de qualidade aos nosso guarda-redes, coordenamos com a equipa
técnica dos seniores o seu treino individual. As restantes componentes
do treino eram preparadas por mim;
Preparação psicológica da equipa – apesar de os três contribuirmos
para as palestras da equipa, é o treinador principal que orienta a maior
parte;
Análise do Jogo – a análise do jogo é feita por mim.
Eu comecei a época como treinador adjunto, estando encarregue da
preparação dos treinos, análise do jogo e criação e ajuste do Modelo de Jogo.
A partir do momento em que assumi o cargo de treinador principal fiquei
responsável pelo plano estratégico e da preparação psicológica da equipa,
para além das funções que já assumia antes.
24
2.3. Macro contexto
2.3.1. Futebol
O Deporto assume, nos dias de hoje, um papel importante no quotidiano
do ser humano, seja pela sua prática, ou pelo entretenimento gerado pelo
mesmo, movendo massas a contemplar performances de grupos ou até
indivíduos.
Uma das características que nos diferencia dos animais irracionais, e a
mesma que representa a razão do meu apreço pelo mundo desportivo, é a
necessidade de auto-superação. O Homem é o único animal que, em
condições normais, não necessita de correr ou saltar, contudo fá-lo, porque
sente a necessidade de conhecer e ultrapassar os seus limites (Garcia, 2004).
Durante a minha adolescência, na passagem da compreensão da prática
desportiva como um evento lúdico para uma representação social e
antropológica, descobri a auto-superação e a capacidade de fazer emergir ou
potenciar esta necessidade nos outros, como o motor da minha dependência
pelo Desporto. Não foi para mim difícil definir, no fim do ensino secundário, a
que queria dedicar a minha vida.
A paixão que sinto pelo futebol não começou com o sonho de me tornar
treinador. Como qualquer jovem, era fascinado pelas habilidades e posição de
ribalta em que eram colocados os melhores jogadores e, como tal, sonhava
fazer parte das estrelas.
Quando me vi obrigado a afastar da prática, com 11 anos, a minha
paixão não desapareceu, continuando a absorver tudo o que este desporto tem
para me dar. Tornei-me um observador assíduo de todos os jogos que podia
ver, tentando saciar a vontade que tenho de continuar ligado à modalidade,
25
inspirado pelo FCP de José Mourinho, vencedor da UEFA e da Liga dos
Campeões Europeus,a equipa dos “Galáticos” do Real de Madrid e a vivência
do Europeu de 2004, no nosso país. Este é o período que guardo com mais
estima nas minhas memórias futebolistas e que me relembram da paixão que
sinto pelo jogo.
À medida que começava a compreender melhor as dimensões do jogo, o
meu interesse começou a orientar-se num sentido diferente, aprendendo a ver
o jogo longe da bola e a ter uma visão mais ampla do mesmo, com novos
ídolos, como José Mourinho e Carlo Ancelotti.
O entendimento do que deve ser um treinador de futebol tem sido
constantemente renovado. Atualmente, esta função reconhece a necessidade
de conjugação de várias áreas científicas para a obtenção dos seus objetivos.
Para além do treinador estar encarregue da organização, programação, e
supervisão das dimensões do jogo que podemos identificar em campo, o
trabalho de um treinador engloba outros setores, como a comunicação social, a
gestão quotidiana da equipa, incluindo aspetos como a saúde, higiene, dieta,
formação, educação, relações familiares dos jogadores, entre outras (FIFA,
2008).
Um treinador não é, hoje em dia, um mero estratega, mas sim um gestor
de todo o seu conhecimento, como referiu José Mourinho na conferência de
imprensa de apresentação da Pós-Graduação em Treino de Futebol de Alto
Rendimento na FMH.
As conclusões que cada um tira ao observar um jogo e a maneira como
o compreende, passam por um filtro criado pelas experiências e conhecimentos
que este possui. Consideremos dois adeptos que se juntam todos os fins-de-
semana no café para ver e discutir os jogos da equipa que apoiam. Jogaram na
mesma equipa durante a infância, um defesa e o outro avançado. Se a equipa
num momento da época apresentar falhas em ambos os setores, o defesa
criticará os erros defensivos e o avançado os erros ofensivos. Tudo depende
da perspetiva com que observamos o jogo, e para que orientações o nosso
“olho” foi treinado.
26
Só podemos ter sucesso se enchermos as nossas experiências de
momentos futebolísticos e análises imparciais, que exijam a consideração da
imensidão de possibilidades complexas dentro dos princípios e regras que
definem o jogo (Garganta, 2000).
Foi também nesta altura que surgiu a minha paixão pela tática, que
aumentou exponencialmente durante o meu período na FADEUP, onde me foi
apresentada uma metodologia que baseia a construção de um modo de jogar
específico baseado na transmissão clara e assertiva das ideias do treinador, a
Periodização Tática.
O futebol apresenta-se como um Jogo Desportivo Coletivo e, pela alta
complexidade, um jogo inteligente. É marcado pelos atributos psicológicos,
técnicos e físicos dos jogadores, bem como pela dimensão organizativa, que
tem vindo a ganhar importância na maneira como concebemos o jogo.
A Periodização Tática visa, através da contribuição de várias áreas
científicas, entender e conceber o jogo como um sistema complexo.
27
2.3.2. Periodização Tática
A Periodização Tática pretende, através de uma matriz conceptual e de
um conjunto de princípios metodológicos, facilitar e potenciar a criação de um
modo de jogar coletivo que seja interpretado por todos os jogadores da equipa
(Pivetti, 2012).
Cada vez mais autores (Queiroz, 1986; Frade, 1989; Jorge, 1989;
Monge da Silva, 1989; Grehaigne, 1992; Garganta & Pinto, 1994; citado por
Oliveira, 2004) têm caracterizado o Futebol como um jogo tático, que se
manifesta pela interação das diferentes dimensões. Nesse sentido, a tática
surge como a dimensão coordenadora de todo o processo, e a tomada de
decisão o pilar do trabalho efetuado sobre o Modelo de Jogo. Esta dimensão
integra as interações entre as restantes. O treinador deve ter as suas
convicções táticas que norteiam todo o processo de ensino-aprendizagem que
é o treino.
Para aperfeiçoar a operacionalização do treino, com o objetivo de
melhorar a transferência das ideias do treinador para equipa e respetivos
jogadores, este baseia-se na criação de contextos que estimulem uma tomada
de decisão orientada num sentido comum, bem como as capacidades
requisitadas por esses contextos (Oliveira, 2004).
A alta relação entre o treino e o jogo é uma das características
representantes da metodologia, sendo a seguinte frase um cliché do nosso
quotidiano: “treinamos como jogamos e jogamos como treinamos”, elevando a
importância da consciência das nossas decisões durante a prática.
Num ambiente complexo, a gestão eficiente da regulação do processo
depende de um curso de ação correto que pode ser melhorado através de
previsão e planeamento (Damasio, 2000; citado por Carvalho, 2006).
28
Vemos, hoje em dia, o treino como um processo de aprendizagem em
que se pretende transmitir as ideias do treinador (princípios específicos do
modelo de jogo) para que a equipa consiga resolver os problemas que o jogo
proporciona em função de uma lógica construída e de um modo concomitante.
Pretende-se, acima de tudo, que os jogadores tenham consciência do
contexto de jogo em que se encontram e que saibam em qualquer caso que
decisões podem e não podem tomar, mediante os interesses (princípios) de
cada colega e da equipa como unidade. Através da divisão do jogo em
momentos, zonas e a equipa em escalas é possível estabelecer princípios de
jogo e criar um rede de relações coerentes que representam a identidade única
de cada equipa.
Eu baseio a minha divisão do jogo em momentos segundo alguns
autores (Frade, 1989; Louis Van Gaal cit Kormelink & Seeverens, 1997;
Mourinho, 1999; Valdano, 2001 citado por Oliveira, 2004) que consideram que
o jogo deve ser dividido em quatro momentos, caracterizados no mesmo
trabalho da seguinte forma:
O momento de organização ofensiva consiste nos comportamentos dos
jogadores quando têm a posse de bola com o objetivo de criar situações
ofensivas e arranjar uma maneira de marcar golo (Oliveira, 2004).
O momento de transição defensiva trata os segundos seguintes à perda
de bola. Uma particularidade dos momentos de transição é o fato de a equipa
adversária estar desorganizada, o que pode ser aproveitado de várias formas
(Oliveira, 2004).
O momento de organização defensiva consiste nos comportamentos dos
jogadores quando não têm a posse de bola e o seu objetivo é organizar-se de
maneira a que o adversário não consiga criar situações ofensivas e marcar
golo (Oliveira, 2004).
O momento de transição ofensiva trata os segundos seguintes à
recuperação da posse de bola, sendo que a equipa adversária se encontra
desorganizada, dando-nos oportunidade de aproveitar esse momento para
nosso proveito (Oliveira, 2004).
29
De maneira a explicar melhor o que entendo pelas escalas da equipa,
suponhamos que estamos a definir princípios para uma equipa que em
organização defensiva procure pressionar e ganhar a bola rapidamente,
forçando o erro adversário, num sistema 1-4-3-3 (Oliveira, 2004):
Coletiva – Esta escala engloba a totalidade da equipa; Pretende-se
definir o comportamento do bloco, a nível de largura e profundidade;
Perante os nossos objetivos posso definir subprincípios como o
posicionamento e um bloco subido e largo;
Intersetorial – Procuramos nesta escala os subprincípios que
estabelecem o comportamento dos nossos setores e as relações entre
os mesmos, e como devem reagir ao comportamento do adversário; No
nosso caso, seria coerente pedir que houvesse pouca distância entre os
diferentes setores, e que o setor do meio se aproxime do setor mais
avançado, de modo a contrariar a superioridade numérica adversária;
Setorial – Define a relação dos jogadores do mesmo setor; Podia no
nosso caso definir que o setor defensivo se posicionasse em linha, e
bem perto uns dos outros para facilitar as dobras defensivas, dando
oportunidade a um destes jogadores sair rápido na pressão e ter a
retaguarda protegida e tentar apanhar o adversário em fora de jogo;
Grupal – Trata a relação do jogador, perante colegas próximos; Visto
que o nosso objetivo é recuperar a bola rapidamente, é importante
manter a pressão nos dois defesas centrais; supondo que estes se
encontram bastante afastados um do outro, impossibilitando o nosso
avançado de os pressionar aos dois, posso definir uma dinâmica entre
este e o médio mais avançado, de maneira a que consigamos
concretizar os nossos objetivos;
Individual – Coordena as decisões do jogador perante as suas
características, o momento e zona de jogo em que se encontra e os
comportamentos do adversário; Posso definir que o nosso avançado
pressione os defesas centrais sempre por dentro, obrigando-os a jogar a
bola para a frente ou para o corredor lateral.
30
Todo este processo tem como objetivo a criação de uma identidade de
jogo única para a nossa equipa, que favoreça os nossos pontos fortes e
esconda os nossos pontos fracos. Contudo, num jogo de futebol, esta não se
revela uma tarefa simples. A Periodização Tática procura trabalhar e
conceptualizar o jogo compreendendo-o e fazendo-o emergir numa perspetiva
complexa.
31
2.3.2.1. Uma nova abordagem ao jogo
Como JDC, o Futebol assume uma complexidade que deve ser
considerada e potenciada por uma abordagem sistémica ao jogo (Silva, 2008).
Procuramos interpretar os padrões complexos exibidos pela relação entre dois
grupos, cada um com a sua identidade, com o mesmo fim e meios diferentes,
que se defrontam num ambiente por natureza aleatório e cuja ligação torna o
jogo tão interessante (Garganta, 1997).
Este carácter exige uma abordagem que consiga de alguma forma
encontrar e criar padrões que dêem algum sentido ao jogo, evitando que este
se resuma a uma sequência de eventos aleatórios.
O seu entendimento tem conhecido abordagens que satisfazem essa
necessidade. O uso do termo “sistema”, como agregado de partes interativas e
interdependentes que, conjuntamente, formam um todo unitário com
determinado objetivo e efetuam determinada função (Bertalanffy, 1976), tem
vindo a ser cada vez mais utilizado para conceptualizar a compreensão dos
jogos desportivos de maior complexidade (Garganta, 1997).
32
2.3.2.2. Complexidade
“A complexidade refere-se à condição do universo que é inerente mas que, no entanto, é
demasiado rica e diversificada para a compreendermos a partir das perspetivas mecanicistas ou lineares
comuns. A complexidade trata da natureza da emergência, inovação, aprendizagem e adaptação”
(Santa Fé Group, 1996 citado por Silva, 2008)
O “Paradigma da Complexidade” surge em revés da conceção científica
tradicional, analítica e reducionista ou “Paradigma da Simplificação”, já que
estes não são coerentes com a realidade complexa em que vivemos (Morin,
1990).
Para compreender as limitações do pensamento do reducionista
consideremos um sistema e os seus constituintes. Não é possível entender a
sua organização se considerarmos apenas a totalidade, ignorando a
diversidade dos seus constituintes, ou as características dos mesmos
separadamente, sobrepondo a diversidade. Percebemos então a necessidade
de ir mais além (Morin, 1990).
Não podemos refutar que, em última análise, todos os organismos
podem ser reduzidos a átomos e moléculas, podemos, contudo, afirmar que há
algo, não-material e irredutível no funcionamento de um sistema complexo -
padrão de organização (Capra, 1996).
A complexidade encara a nossa realidade com constituintes
heterogéneos inseparavelmente associáveis (paradoxo do uno e do múltiplo)
que geram acontecimentos e acasos impossíveis de serem simplificados ou
reduzidos (Morin, 1990).
A causalidade linear explica-nos que todos os acontecimentos são
consequência de outro acontecimento prévio, estabelecendo uma linha de
acontecimentos que remonta às condições iniciais do universo. Este princípio
33
revelou-se insuficiente para explicar alguns acontecimentos de maior
complexidade. As suas propriedades não permitem ser deduzido a partir da
análise separada dos seus elementos. A causalidade complexa surge como
uma tentativa de explicar certos acontecimentos de maior complexidade, como
consequência da estruturação dos padrões em rede de que são constituídos os
sistemas (Capra, 1996).
O pensamento complexo aborda a construção do conhecimento
sistémico a partir da interação de todos os elementos. A compreensão é
estabelecida a partir de uma rede de elementos heterogéneos
interdependentes (Morin, 1990).
Considero justo referir que este paradigma não desvaloriza o anterior.
Pelo contrário, apoia-se no conhecimento que este nos concebeu para
conceptualizar uma perspetiva sistémica da nossa realidade, em que
reconhece a existência de duas estruturas: uma formal, que conta com os
elementos constituintes de um sistema, e outro funcional, que se debruça sobre
os processos e relações entre os mesmos (Tavares, 1996, citado por Castro,
2014).
O Futebol, enquanto jogo desportivo coletivo, pode, e deve, ser
analisado segundo este paradigma da complexidade. É caracterizado pelo
confronto entre duas equipas, que são constituídas por dois conjuntos que
procuram superiorizar-se dentro de um conjunto de ações permitidas pelas leis
de jogo (Oliveira, 2004).
Este contexto cria no jogo problemas motivados pela interação
permanente de relações de cooperação e de oposição, relevando a importância
do coletivo (Deplace, 1979 citado por Oliveira, 2004).
34
2.3.2.3. Sistemas
A teoria geral dos sistemas não procura uma resolução rápida para os
problemas colocados na organização de um sistema, mas identificar
propriedades, princípios e leis de qualquer tipo de sistema que permitam criar
condições de aplicação numa realidade empírica. Para além da natureza dos
seus componentes, analisa também as relações e forças entre eles, definindo
um sistema como um complexo de elementos em interação (Bertalanffy, 1976).
A diferenciação entre uma abordagem reducionista ou complexa tem
sido debatida em vários ramos, um dos quais o Futebol. Esta abordagem surge
face a três necessidades que o nosso desporto, perspetivado de uma forma
sistémica, partilha:
Reconhecer uma unidade complexa constituída por um complexo de
relações entre todas as partes, caracterizando as propriedades
dinâmicas entre os elementos de um todo, dando uma característica de
totalidade aos sistemas complexos (Grehaigne; Bouthier; David, 1997
citado por Pivetti, 2012);
Corresponder à necessidade multidisciplinar exigida para a
compreensão da complexidade das interações que estabelecem a
totalidade (Grehaigne; Bouthier; David, 1997 citado por Pivetti, 2012);
Criar uma linguagem comum entre as diferentes disciplinas que ajudam
a explicar os fenómenos complexos (Grehaigne; Bouthier; David, 1997
citado por Pivetti, 2012).
Segundo o novo paradigma científico, qualquer entidade individualizada
pode ser considerada um organismo, e qualquer organismo é um sistema ou
faz parte de um (Bertalanffy, 1976). A construção de uma visão do nosso
mundo em sistemas perspetiva a sua análise e compreensão sobre o estudo
de sistemas abertos (Bertalanffy, 1976).
35
Segundo (Bertrand & Guillemet, 1994, citado por Oliveira, 2004),
podemos apontar alguns pressupostos que caracterizam qualquer sistema:
Abertura: enquanto num sistema fechado os seus processos param
quando este atinge um estado de equilíbrio (determinado pelas
condições iniciais), num sistema aberto os processos continuam
constantemente sem que sem que este tenha descanso;
Complexidade: o conjunto de interações entre cada um dos seus
elementos e a relação de reciprocidade com o meio envolvente garante
um contexto de alta complexidade;
Finalidade: apesar da heterogeneidade dos elementos do sistema, estes
interagem em função de um objetivo;
Tratamento: relação dinâmica de reciprocidade entre o sistema e o meio,
promovendo trocas entre eles;
Totalidade: dá relevância à interação entre os elementos do sistema,
tornando cada sistema único. Se as interações entre os elementos forem
mais eficazes (sistema mais organizado) o todo será maior do que a
soma das suas partes;
Fluxo: refere-se à quantidade de interações entre os elementos do
sistema, entre o mesmo e o meio e vice-versa;
Equilíbrio: o seu estado de equilíbrio não é atingido consoante as
condições iniciais do sistema, sendo que depende das condições do
próprio sistema; Isto significa que um organismo funciona de forma ativa,
com ou sem estímulos externos, sendo que estes não estimulam
reações que já lhe são inerentes, mas modificam os processos num
sistema autonomamente ativo;
Num jogo de futebol, cada jogador estabelece uma relação com o meio.
As suas decisões serão tomadas mediante um contexto que é providenciado
pelo decorrer do jogo e, ao mesmo tempo, todas as suas decisões afetarão o
destino do jogo.
O mesmo acontece entre um jogador e os restantes colegas, sendo que
este tem liberdade de tomar as suas decisões, que devem ser orientadas pelo
36
Modelo de Jogo da equipa, contudo, a equipa terá de saber ajustar o seu
comportamento segundo as decisões de cada um dos seus jogadores.
Entendemos então que um sistema não pode ser compreendido pela
soma das suas partes, mas sim pelas propriedades emergentes do seu
funcionamento. É importante estabelecer ligações entre os elementos, sob
pena de perder a essência do bolo, ou da equipa de futebol.
De maneira a simplificar este sistema de relações, tomaremos o
seguinte exemplo:
Consideremos o nosso defesa central. Que contexto foi providenciado,
pelo jogo, a este jogador? Tem a posse de bola, em frente à nossa grande
área, com ambos os defesas laterais em amplitude sem marcação. O jogador
está num contexto que lhe é providenciado pelo meio, e a sua decisão, de
colocar a bola no lado esquerdo ou direito, irá afetar o decorrer do jogo.
De certa forma, este jogador poderia decidir fazer o que bem
entendesse, contudo, já implícito, este passará para um dos defesas laterais,
de acordo com os princípios específicos do Modelo de Jogo que lhe foram
instruídos. É isto que a equipa está à espera que o jogador faça, o que o torna
responsável pela totalidade do sistema, da mesma forma que se este não
tivesse em posse, teria de se deslocar para uma zona mais recuada do campo,
oferecendo uma linha de passe segura, mais uma vez, orientado pelos
princípios específicos do Modelo de Jogo.
Toda a equipa deve ter consciência dos fins e respetivos meios, de
modo a que saibam todos reagir de forma coerente aos contextos de jogo. O
defesa central sabe que não pode conduzir a bola e tentar fintar os adversários
(caso o Modelo de Jogo condene tais ações), porque é o jogador mais recuado
e se perder a bola, a equipa certamente sofrerá um golo. Estes ajustes às
condições do jogo devem acontecer no processo tanto ofensivo como
defensivo.
Entendemos o jogo como sistémico, já que o seu entendimento assenta
na compreensão de um sistema complexo e dinâmico de relações (Júlio
37
Garganta, 1999). Esta consciência permite-nos entender a sua natureza do
jogo e a relação que estabelecemos com a mesma.
38
2.3.2.4. Funcionamento dos sistemas
O entendimento de um sistema e o seu funcionamento não são
possíveis sem compreender conceitos como padrão de organização, uma
configuração de relações característica de um sistema em particular (Capra,
1996).
De acordo com o “Paradigma da Simplificação” a análise feita aos
sistemas tem um teor quantitativo, já no estudo de padrões visa-se uma análise
qualitativa. Procuramos caracterizar as relações entre os constituintes de um
sistema, sendo que sem elas, este deixa de existir (Morin, 1990).
Apesar da imparidade de cada sistema, podemos determinar uma
propriedade comum: todos os padrões estão estruturados em rede (Capra,
1996).
Se considerarmos um jogo de Futebol, conseguimos identificar alguns
padrões de ambas as equipas e, se calhar em certos momentos, prever o
desenrolar de uma ou outra ação. Contudo, não conseguimos prever o
desenrolar do jogo com precisão.
Isto deve-se à complexidade e não-linearidade dos sistemas
organizados em rede. Uma particularidade desta propriedade é o fato de uma
linha pode percorrer um caminho cíclico, o que dá aos sistemas uma
capacidade de se auto-organizarem (Foerster, 1961).
Este conceito é muito importante para o funcionamento de um sistema
que funciona em condições de não-equilíbrio, como o caso do Futebol. Apesar
de esta propriedade cíclica ser comum em todos os sistemas complexos, cada
um tem o seu método de auto-organização (Foerster, 1961).
Passamos a entender a sequência de eventos de um sistema de forma
não linear, o que nos leva à caracterização do jogo como um fenómeno caótico
(Garganta, 1997).
39
2.3.2.5. Futebol como um evento caótico, determinístico
O termo caos não tem, em termos científicos, o significado que,
normalmente, lhe atribuímos. Se pesquisarmos a palavra caos no dicionário da
língua portuguesa a definição que encontramos é a seguinte: estado confuso
dos elementos cósmicos antes da suposta intervenção de um demiurgo ou de
um princípio organizador do Universo; desordem; balbúrdia; confusão;
indiferenciação;
Sabemos que em sistemas dinâmicos complexos, os resultados podem
ser de carácter imprevisível, já que estão sujeitos a perturbações derivadas da
elevada quantidade de parâmetros e variáveis sobre a qual este se desenvolve.
Mesmo em sistemas sem perturbações, sabemos que qualquer erro na
determinação das condições iniciais pode ser amplificado. No entanto, é
sempre suscetível às suas condições iniciais, independentemente das
perturbações que ocorrem no mesmo, devido aos processos de auto-
organização (Frade, 1989; in Garganta, 1997).
Um jogo de Futebol trata-se de um sistema dinâmico complexo. Não é
previsível e o sistema em si está sempre dependente das suas condições
iniciais. Visto que não podemos controlar este caos nem prever os
acontecimentos futuros, mudamos a nossa abordagem. Procuramos criar a
ordem a partir da desordem.
Consideramos, por isso, o Futebol um fenómeno caótico determinístico
já que os seus acontecimentos são determinados consoante a ligação entre o
caos e a ordem (Garganta, 2000).
Dentro deste ambiente caótico, o jogador encontra-se numa rede de
relações de cooperação e oposição, exigindo uma participação psíquica aliada
à participação motora. Os momentos mais decisivos de um jogo de futebol são
quase sempre provenientes de uma boa decisão tomada em questão de
segundos, por vezes em frações de segundo.
40
Num primeiro olhar, perspetivamos o jogador num ambiente caótico.
Seria impossível prever que ele naquele momento se apresentaria naquele
lugar com aquelas condições. Contudo, o desafio e interesse do jogo estão, a
meu ver, precisamente nesse ponto.
O desenvolvimento do jogo providencia contextos diferentes sendo
impossível prever de forma precisa o seu decorrer, no entanto, procuramos ter
algum controle sobre este caos. O nosso objetivo passa a ser preparar os
jogadores de tal forma a que estes sejam capazes de reagir organizadamente
aos contextos em que se encontram, correspondendo à capacidade de auto-
organização inerente a qualquer sistema.
Para o jogador ser capaz de tomar uma boa decisão há uma imensidão
de informações que tem de considerar. A velocidade de aquisição desses
dados e resposta aos mesmos é estimulada pelo processo de treino que,
segundo a Periodização Tática, visa a aprendizagem de um Modelo de Jogo (a
ser explicado no subcapítulo seguinte).
O Modelo de Jogo procura criar coerência nas decisões, enquadrado
num contexto, cujo destino é monopolizado por um conjunto de decisões
individuais. Isto significa que o jogador deve decidir mediante um contexto que
lhe é providenciado pelo jogo (caos) e a decisão, que será tomada mediante o
Modelo de Jogo (ordem) afetará o decorrer do mesmo, criando uma relação
recíproca ambos. O desafio está em encontrar a coerência (entre os membros
da equipa) harmoniosa com o jogo.
É a função do treinador preparar a sua equipa para concretizar os seus
objetivos neste ambiente aparentemente caótico. A preparação não se limita a
desenvolver habilidades que possam ser úteis dentro de campo, dando-se
cada vez mais importância à tomada de decisão do jogador. Procuramos
enquadrar os jogadores com um macrossistema passível de perturbações,
tornando-os capazes de reagir organizadamente a estas perturbações. Não
nos chega preparar sequências que sejam executadas de forma exímia no
treino, pois essas sequências não vão ser executadas no mesmo contexto que
em jogo.
41
A equipa deve estar de tal forma enquadrada ao ponto de em qualquer
momento de jogo todos os jogadores sejam capazes de se adaptarem ao
contexto de jogo, apresentando um posicionamento coletivo que represente a
estrutura pretendida mediante os meios e fins estabelecidos.
O fato de o futebol ser jogado no limiar do caos não significa que se
encontre constantemente num estado de desequilíbrio. A auto-organização que
procuramos no nosso “sistema” contraria esta tendência, sendo que o
desempenho de uma equipa estará diretamente relacionado com esta
capacidade.
É a partir desta análise ao Futebol que percebemos cada vez melhor a
importância da tomada de decisão.
Durante a presente época, vi-me por várias vezes forçado a interromper
um exercício antes do tempo premeditado. Esta paragem inesperada surgia
quando me parecia que os jogadores estavam a treinar sem propósito
específico ou pelo menos sem consciência do mesmo.
Aproveitei muitas vezes estas paragens para relembrar os jogadores dos
objetivos do nosso treino. Senti a necessidade de relembrar que há objetivos,
procurando clarificar a diferença entre “jogar à bola” e jogar Futebol.
Para mim, a diferença prende-se pela consciência que temos do
contexto em que estamos e a maneira como interagimos com o mesmo. Se
queremos jogar Futebol temos de ter consciência que estamos inseridos num
sistema dinâmico complexo de relações de cooperação e oposição, e que
temos de tomar todas as nossas decisões com algum critério de modo a
contribuir positivamente para o mesmo.
É por esta razão que damos cada vez mais importância à tomada de
decisão, tornando do Futebol um jogo inteligente.
Referir que a preparação de uma equipa não passa apenas por
desenvolver capacidades que nos possam ser úteis no campo, não significa
excluir este aspeto do processo de treino. Estas capacidades são de vital
importância para ter sucesso na sua prática. Sem elas não poderíamos por em
42
prática as nossas intenções, contudo, sem as termos estabelecido, não
podemos aplicar a nossa técnica ou potência física.
De todas as dimensões do jogo (técnica, tática, física e psicológica) a
tática surge como dimensão coordenadora do processo, como explicarei numa
fase posterior do trabalho, já que esta dimensão merece mais atenção do que
as restantes, tendo em conta o seu papel no processo.
Esta compreensão do jogo assenta principalmente na consciência que
temos do nosso papel no jogo e das decisões que devemos tomar. Eleva-se o
papel do treinador e a importância do Modelo de Jogo e quão bem os
jogadores se enquadram no mesmo para o sucesso duma equipa.
43
2.3.2.6. Modelo de Jogo
O principal foco deste trabalho é a criação e o desenvolvimento de um
Modelo de Jogo, tornando-se crucial ter uma compreensão total do mesmo. A
minha noção foi estabelecida pelos conhecimentos que absorvi durante o meu
percurso na FADEUP, tanto na Licenciatura como no Mestrado de Desporto
para Crianças e Jovens, ambos com a especialização em Futebol.
Só consegui compreender e assimilar os conceitos que me foram
transmitidos quando me deparei com problemas reais durante a prática do meu
trabalho. Nos quatro anos enquanto treinador tentei ao máximo procurar esses
problemas, querendo com isto dizer que tentei assumir todas as
responsabilidades que me foram entregues, procurando problemas para me
obrigar a refletir e encontrar as soluções mais adequadas.
Acredito ser o mais importante nesta fase do meu percurso. Ter ideias,
problemas e arranjar soluções. Aquilo que podemos chamar o treino do
treinador. Para isso é preciso assumir responsabilidades para termos liberdade
de obter os nossos sucessos e cometer os nossos erros, aprendendo a partir
deles.
Como já referimos, entendo o futebol como um evento caótico por
natureza. Cabe-nos tentar criar ordem a partir da desordem, tentando
estabelecer um funcionamento complexo do nosso modo de jogar.
“Na aparência simples de um jogo de Futebol esconde-se um fenómeno
que assenta numa lógica complexa, decorrente da elevada imprevisibilidade e
aleatoriedade dos factos do jogo (…)” (Garganta, 1997, p. 124).
Trata-se de um evento competitivo coletivo suscetível a uma quantidade
inumerável de variáveis que o tornam por natureza aleatório. A obrigação de
um treinador é, através da modelação tática, tentar estabelecer alguma ordem
a partir desta desordem.
44
O estudo de um treinador passa, em grande parte, por observar e
absorver padrões neste “caos”. Analisando os comportamentos e
intencionalidades começamos a conceber uma rede de ações que representam
a identidade de cada equipa. É muito importante conceber uma estrutura que
respeite as características de todos os jogadores e relações entre os mesmos.
O que é a tática? (Garganta, 1997, p. 30) explica-nos da seguinte forma:
“(…), sendo atualmente conotado como a gestão inteligente do comportamento
face a situações que impliquem conflitualidade de interesses, ou concorrência
de objetivos, de que o desporto é uma das expressões mais representativas.”.
Entendemos então a tática como o meio ou método que estabelecemos
para atingir um fim. Se considerarmos os princípios mais fundamentais do jogo,
o nosso fim passa por ganhar, ou seja, marcar golos e evitar que marquem
golos na nossa baliza. A tática traduz-se na definição de como vamos fazer
isso. “O que faz o jogo é a transformação da causalidade em casualidade, ou
seja, aproveitar o momento; e quem ensina a aproveitar o momento são a
estratégia e a táctica.” (Garganta, 2000, p. 1).
Esta não é uma tarefa fácil porque, como já referimos anteriormente, um
jogo de futebol desenrola-se perante o conflito de dois sistemas, o que envolve
extrema complexidade no seu desenvolvimento. Esta característica inerente a
um desporto coletivo exige a compreensão de todas as relações entre os seus
intervenientes. “As relações interdependentes de cada jogador são
condicionadas pelo contexto de jogo, fazendo que cada elemento constituinte
seja parte de uma organização colectiva que não pode ser compreendida pela
análise descontextualizada das diferentes partes que a compõe.” (Pivetti, 2012,
p. 75)
Sem a modelação tática estas relações seriam apenas relações
aleatórias aos contextos de jogo. Já que estamos dependentes das condições
do jogo, a nossa solução é definir princípios que permitam consciência e
controlo sobre os contextos de jogo. “(…), a maneira de modelar a totalidade
complexa característica a um padrão de jogo requerido pela equipa é
operacionalizar os diferentes princípios de jogo segundo os acontecimentos
evidenciados nas diferentes situações de confronto.” (Pivetti, 2012, p. 124).
45
Cada jogador apresenta uma relação com o meio, com o adversário e
com a equipa. Estas relações são recíprocas em todos os sentidos: o jogador
depende do meio para tomar a sua decisão, contudo esta decisão vai afetar o
decorrer do jogo, tal como acontece com as decisões dos adversários e da
equipa.
Esta rede de relações entre os constituintes do jogo estabeleceria um
destino de jogo completamente imprevisível, se não fosse limitada pelos
princípios de jogo. De certa forma, estes princípios visam orientar o
comportamento dos jogadores de maneira a que seja previsível para os seus
colegas e imprevisível para o adversário.
O conteúdo e a lógica do jogo são representados pelas interações
definidas entre as dimensões. Esta complexidade implica que qualquer ação de
um elemento constituinte do jogo influencia a dinâmica geral do sistema.
Assim, a totalidade do jogo resulta das interações dos jogadores da mesma
equipa, como as relações de oposição. Este contexto coletivo faz com que o
jogo seja mais do que um somatório de acontecimentos (Silva, 2008).
O que é então o Modelo de Jogo e para que serve?
Trata-se de um conjunto de princípios, estabelecidos sobre uma matriz
conceptual que considere a totalidade do jogo, ajudando a equipa a agir e
reagir coerentemente aos contextos que defrontará, de maneira a atingir os
seus objetivos (Garganta, 1997).
Talvez por isso a coesão de uma equipa represente uma das
componentes mais importantes do futebol moderno, senão a mais importante.
Concepções de treino mais clássicas visavam a aquisição de habilidades
técnicas necessárias para o jogo e manutenção da ordem (Pivetti, 2012). Em
revés, na atualidade, muitos treinadores procuram ensinar os jogadores a gerir
a desordem de maneira ótima (Pivetti, 2012).
Desta forma, em vez de limitarmos as ações dos jogadores a sequências
preparadas em treino, procuramos estabelecer alguns limites na imensidão de
possibilidades que fazem parte do jogo, libertando, assim, a tomada de decisão
do jogador. Estes limites são os princípios de jogo, que devem ser
46
estabelecidos mediante todas as escalas da equipa e em todos os momentos
de jogo, de modo a evidenciar uma identidade própria da equipa.
Apesar de se pretender que cada equipa tenha a sua identidade única, o
nosso desporto assenta em princípios que o caracterizam e devem ser comuns
entre todas as equipas. Podem ser categorizados em três tipos (Oliveira, 2004):
Princípios fundamentais;
Princípios específicos ou culturais;
Princípios relacionados com o Modelo de Jogo;
Os princípios fundamentais assentam na seguinte lógica: recusar
inferioridade numérica, evitar igualdade numérica e criar superioridade
numérica (Oliveira, 2004). Atentemos nestes princípios e na relação que tem
com o equilíbrio da nossa equipa e desequilíbrio do adversário.
Apesar de considerar a obtenção da superioridade numérica um
princípio fundamental do nosso jogo, uma das estratégias que gosto de usar
contraria, de certa forma, este princípio. É indiscutível que para manter o
equilíbrio da nossa equipa este aspeto é indispensável, tanto defensiva como
ofensivamente. Também entendo que é possível criar desequilíbrios no
adversário através da obtenção de superioridade numérica numa zona mais
avançada do campo, sem comprometer a nossa estabilidade. Contudo, sei
também reconhecer que os jogadores que treinei não têm capacidades nem
competrências táticas, técnicas, físicas ou psicológicas para o fazer, nem acho
possível que no espaço de um ano o consiga fazer.
Tendo em conta que nesta fase da minha carreira me foco mais nas
qualidades dos jogadores do que nas minhas ideias, como explicarei adiante,
aceitei a natureza dos meus jogadores, fato que fez dom que uma das nossas
maiores fontes de golo passasse pela busca de inferioridade numérica.
Um dos nossos jogadores mais influentes, que jogava na posição de
meio-campo mais perto do avançado, tinha a capacidade de proteger muito
bem a bola em drible. Decidi que nos momentos em que este jogador tinha
espaço para iniciar o drible seria um dos nossos momentos de aceleração. Era
consensual para os avançados que quando este movimento era iniciado iam
47
ser criados desequilíbrios no adversário, visto que este jogador ia acabar por
atrair mais do que um jogador para o pressionar. Os nossos avançados deviam
neste momento procurar explorar o espaço criado nestes desequilíbrios (com
algumas exceções, como referirei posteriormente).
Considero a gestão espacial e numérica a principal preocupação de um
treinador e o principal foco do nosso processo de treino. Ainda assim, não
gosto de me prender à ideia de que devemos, em todos os casos do jogo
procurar a superioridade numérica, já a sua obtenção significa que teremos
inferioridade noutra zona, bem como o adversário. Acho que este princípio é
altamente definidor do nosso modo de jogar e permite ao treinador explorar a
sua criatividade na componente estratégica.
Para obter e aproveitar a gestão numérica temos de ter bem
estabelecidos os princípios específicos ou culturais, que estão divididos em
princípios ofensivos e defensivos (Queiroz, 1989 citado por Oliveira, 2004).
Os princípios ofensivos são:
Penetração – criar vantagem, espacial ou numérica, sobre o adversário,
para podermos atacar a baliza ou o adversário;
Cobertura ofensiva – apoiar o portador da bola e servir como primeiro
equilíbrio defensivo;
Mobilidade – ocupar os espaços de maneira inteligente, criando linhas
de passe para garantir a posse de bola e criar desequilíbrios na
estrutura adversária;
Espaço – saber ocupar o espaço de maneira a aumentar amplitude do
ataque.
A nível defensivo temos:
Contenção – condicionar o portador da bola de maneira a que o
adversário não consiga atingir os seus objetivos;
Cobertura defensiva – apoio à contenção, ajustado à baliza, zona do
campo e posicionamento adversário;
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Equilíbrio – garantir a cobertura dos espaços, linhas de passe e
jogadores livres;
Concentração – retirar amplitude ao bloco adversário.
Estes princípios devem ser comuns em qualquer equipa, já que sem os
mesmos não conseguimos reunir as condições necessárias para atingir os
nossos objetivos.
Com o propósito a que cada equipa funcione de maneira única, de
acordo com os seus recursos humanos, temos os princípios relacionados com
o Modelo de Jogo, que são específicos a cada equipa e podem ser
diferenciados em três tipos: grandes princípios, subprincípios e subprincípios
dos subprincípios.
Os grandes princípios devem ser definidos mediante o momento de jogo
e devem ser comuns a toda a equipa. O nosso objetivo, a nível ofensivo será
sempre marcar golo. Podemos fazer isso de várias maneiras, como atacar o
espaço nas costas da defesa rapidamente com o propósito de aproveitar o erro
adversário ou mantendo e circulando a posse de bola para criar desequilíbrios
e espaços para explorar de forma mais lenta. Estes princípios devem ser
entendidos e aplicados pelo coletivo da equipa como um meio comum entre
todos para a tingir um fim, também comum, de modo a que o processo seja
coerente.
Os subprincípios visam definir critérios que devem ser seguidos para
que o grande princípio seja cumprido. Se definirmos como grande princípio da
nossa organização defensiva pressionar com o objetivo de ganhar a bola
rapidamente forçando o erro adversário, alguns subprincípios poderão ser a
aproximação rápida aos adversários ou a subida do bloco para encurtar
espaços.
Os subprincípios dos subprincípios são pormenores individuais que os
jogadores dão aos subprincípios, de maneira a dar “imprevisibilidade à
previsibilidade”.
49
A equipa deve funcionar coerentemente em todos os momentos de jogo,
e devem estabelecer um Modelo de jogo que seja, como nos explica Carlo
Ancelotti (2013):
Equilibrado – deve garantir solidez defensiva em todas as fases do jogo;
Elástico – capaz de se adaptar às diferentes exigências e disposições
táticas dos adversários;
Racional – inteligente no ponto de vista em que exalta as qualidades dos
jogadores e esconda os seus defeitos;
Estes princípios devem ser estabelecidos perante um Matriz Conceptual,
de maneira a que possamos ter consciência das situações de jogo e tomar as
nossas decisões mediante o princípio definido, para cada contexto.
No meu caso é a Matriz Conceptual que me foi ensinada dentro da
Metodologia da Periodização Tática. De modo a compreender o jogo e o
contexto em que cada momento o jogador está inserido, é preciso saber
categorizar estes contexto ao pormenor, e estabelecer uma compreensão
comum entre toda a equipa.
Em primeiro lugar, acho que é importante compreender o “modus
operandi” desta metodologia, e a maneira como esta aborda as dimensões do
jogo. Como já referimos anteriormente, o futebol baseia-se em quatro
dimensões: Técnica, Tática, Física e Psicológica.
Esta metodologia tem um entendimento diferente acerca desta
categorização. A Tática é mais complexa, e manifesta-se pela interação
treinada de todas as dimensões. Desta forma, surge na Periodização Tática
como a dimensão coordenadora do processo.
Um dos objetivos desta metodologia é a construção de uma identidade
para a nossa equipa. Pretendemos definir, dentro dos possíveis, o decorrer do
jogo, de acordo com os nossos interesses. Esta identidade é estabelecida pelo
Modelo de Jogo que definimos, que por sua vez, se trata de princípios de jogo
definidos em diferentes momentos e escalas.
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Considero que a construção de um Modelo de Jogo deve começar no
momento em que nos encontramos mais vezes em campo, que para mim tem
sido a organização ofensiva e, por isso, começarei por aí.
Neste momento, a minha equipa tem a posse da bola, e todos os
jogadores encontram-se na posição em querem estar, prontos a criar
desequilíbrio ao adversário. Procuro que no início deste momento a bola esteja
num jogador recuado e na zona central do campo, sem pressão, com todos os
colegas de frente para este. A partir daí a equipa deve procurar desequilibrar a
organização adversária através de um conjunto de dinâmicas que criem
superioridade numérica em zonas mais avançadas do campo,
preferencialmente em condições de marcar golo. É também um requisito para
este momento de jogo a segurança defensiva caso a equipa perca a bola.
Tendo em conta que um Modelo de Jogo deve ser vivo e dinâmico
(Ancelotti, 2013), só é normal que caso a equipa perca a bola os jogadores
estejam longe da zona que devem defender. Durante esta época, as estruturas
posicionais defensiva e ofensiva eram diferentes, o que obrigava os jogadores
a recuperarem a sua posição rapidamente após a perda da bola.
Este é o momento que eu considero como transição defensiva. A equipa
deve procurar reorganizar a sua defesa de maneira a cobrir os espaços que
representam ameaça para a sua baliza, o mesmo não significa que todos os
jogadores devam recuar imediatamente. O comportamento coletivo do
Barcelona quando perde a posse da bola é o exemplo que costumo dar aos
meus jogadores para explicar o que entendo por transição defensiva. Visto que
esta é uma equipa que quer constantemente ter a bola, consideram mais
importante cobrir os espaços mais avançados no campo, para não deixar a
equipa ter a bola.
A partir do momento em que todos os espaços que pretendemos cobrir
estão seguros, entramos em organização defensiva. No momento em que
ganhamos a bola entramos automaticamente em transição ofensiva.
Estes momentos não acontecem de forma cíclica nem têm o mesmo
tempo dependendo, sempre, dos Modelos de Jogo de ambas as equipas. Um
51
jogo de Futebol é determinado pelo Modelo de Jogo das duas equipas e da
componente aleatória inerente a si mesmo (como qualquer desporto coletivo).
A adaptação do Modelo aos adversários está relacionada com a
componente estratégica. De modo a podermos derrotar um adversário em
específico temos de compreendê-lo como único, com a sua própria identidade.
Temos de encontrar o que está escondido e esconder o que quer que seja
evidenciado. “Conhece teu inimigo e conhece-te a ti mesmo; se tiveres cem
combates a travar, cem vezes serás vitorioso. Se ignoras teu inimigo e
conheces a ti mesmo, tuas chances de perder e de ganhar serão idênticas. Se
ignoras ao mesmo tempo teu inimigo e a ti mesmo, só contarás teus combates
por tuas derrotas.” (Tzu, 1913, p. 23).
Frequantemente me debruço sobre a questão, a propósito da modelação
tática, de esta dever ser criada em função das ideias do treinador, ou sobre as
características dos jogadores.
A Periodização Tática visa a criação de um Modelo de Jogo segundo as
ideias do treinador e operacionaliza o treino como um processo de
aprendizagem das ideias do treinador, ou princípios de jogo.
A meu ver, este processo nunca é começado do zero. Devemos tentar
encontrar o funcionamento natural da equipa e realizar pequenos ajustes de
modo a garantir todas as especificações referidas anteriormente. O Modelo
será sempre composto por ambas as vertentes.
A questão coloca-se então sobre qual deve predominar na identidade do
Modelo de Jogo.
Segundo a ideologia da Periodização Tática, o meu trabalho enquanto
treinador basear-se-ia nas minhas ideias. Durante a presente época incorri num
erro que espero não cometer novamente: considerar que um Modelo de Jogo
tem de ser simétrico. O Modelo que estabeleci no início da época visava
funções idênticas em duas posições do meio-campo (principalmente a nível
defensivo), contudo, os jogadores que jogavam nestas posições apresentavam
características completamente diferentes. Fiquei obcecado com os princípios
que estabeleci, tentando orientar certos jogadores para comportamentos que
52
não lhes são naturais. Naturalmente um jogador não pode agir da forma que
melhor entender, da mesma maneira que o treinador também não pode pedir
ao jogador que se comporte dum modo completamente diferente do que fez
toda a sua vida.
As minhas ideias visavam um Modelo completamente simétrico em que
um ataque do lado esquerdo seria exatamente igual a um ataque do lado
direito, e que os dois médios à frente da defesa se comportariam de igual
forma, ignorando as características individuais de alguns jogadores.
Percebi que a análise do plantel à nossa disposição é um passo
fundamental na criação de um Modelo de Jogo. Não falo de uma análise
acerca das características individuais dos jogadores como a capacidade de
fazer um passe ou um remate, mas sim das características que tornam cada
jogador único. O que faz cada jogador especial. O resultado da formação de
um jogador é em grande parte estabelecido pelo que este gosta de fazer. Isto
porque um jogador que goste de Futebol vai passar mais tempo a treinar
(inconscientemente) fora do campo do que durante o horário de treino. Este
“treino” é o que define um jogador, o que normalmente se denomina de
“Futebol de Rua”, cuja falta do mesmo tem sido apontada como uma das
grandes falhas na formação dos atletas atualmente.
Agora entendo que uma das características mais importantes de um
treinador é o conhecimento que tem dos seus jogadores e a coordenação entre
as suas ideias e as características dos jogadores. Saber o que torna cada
jogador único permite-nos estabelecer os sub dos subprincípios que conferem
imprevisibilidade à previsibilidade.
O treinador deve ter as suas convicções futebolísticas, contudo, estas
nunca devem ser dissociadas das características dos jogadores que tem à sua
disposição.
Outro problema com que me deparei esta época, e infelizmente só na
reta final pude compreende-lo, pretende-se pelo fato da alta rotatividade,
enquanto princípio chave na nossa gestão do plantel, ser um entrave à gestão
tática do mesmo. Dos cinco jogadores que tínhamos para desempenhar os dois
53
papeis de defesa lateral, quatro tinham preferência para surgir encostados à
linha no último terço do campo, enquanto que um preferia surgir numa zona
central. Dos cinco extremos, quatro preferiam entrar em drible para dentro e
apenas um ficava encostado à linha.
Perdemos muitos lances no último terço do campo porque eram poucas
as duplas que tinham as dinâmicas bem preparadas. Durante a análise desta
situação deparei-me com um fato curioso: as duplas que tinham mais sucesso
nestas situações específicas no último terço do campo, no corredor lateral, não
eram as que treinavam mais vezes este contexto, mas sim os que tinham
preferências coerentes. Segundo a cultura do clube, o defesa lateral deve abrir
e o extremo fechar sempre que se encontrem numa situação destas e,
inicialmente, preparava os meus treinos para desenvolver esta interação. No
entanto, os lances em que criávamos mais perigo eram os lances em que o
nosso único defesa lateral que preferia progredir para zonas mais centrais do
campo tinha o único extremo que preferia abrir no último terço a jogar à sua
frente. Com isto percebi que as ações preferidas dos jogadores são um fator
importantíssimo a ter em consideração na criação de um Modelo de Jogo, para
além das suas capacidades.
Percebo, agora, que tinha uma noção errada da construção tática de
uma equipa. Visualizava as funções de cada posição consoante algumas
(poucas) informações que recolhia das características dos jogadores, dava
solidez defensiva e criatividade (que agora percebo não o ser) à equipa através
de instruções simples que se revelavam eficazes. Neste momento tenho uma
abordagem muito mais complexa que tem como princípio base as minhas
ideias, muito embora não esqueça as origens e vontades dos jogadores à
minha disposição.
Uma relação “saudável” entre as ideias do treinador e as capacidades e
características dos jogadores é um dos princípios mais importantes no
processo de criação de uma equipa. Esta relação desenvolve-se sob um
contexto comum para ambos, em que se destaca a cultura do clube e da
competição.
54
No início desta época foi definido, como já referi, aplicar alguns
princípios impostos pelo futebol sénior. Isto passa por jogar com um bloco
muito alto e pressionante. Eu chamei à atenção para o fato de ser difícil para
uma equipa que jogue com bloco muito alto ter sucesso numa divisão em que a
maior parte dos jogadores são fortes em lances fortuitos de bolas lançadas nas
costas do defesa, contudo, os meus conselhos não foram ouvidos e o início da
época foi bastante atribulado.
O Modelo de Jogo deve ser criado mediante vários parâmetros, dos
quais, no meu ponto de vista, se destacam quatro: a cultura do clube, a
competição em que a equipa está inserida, as características dos jogadores e
as convicções táticas dos treinadores.
Considero a cultura do clube e da competição algo intemporal, ou que se
desenvolve a longo prazo, e às quais nos devemos ajustar, já que nos
enquadramos neste contexto.
Durante as épocas em que trabalhei no contexto em que estou
atualmente inserido (e o único que conheço) consegui tirar algumas conclusões
acerca da sua cultura: são poucos os clubes que têm uma identidade bem
definida e sabem o que procuram no jogo (uma característica que a meu ver
representa um dos grandes problemas das divisões distritais) e podemos
considerar o ataque rápido o método de jogo dominante.
Supostamente, deveria enquadrar num clube com uma identidade, que
me saiba dizer: aqui, queremos que jogues desta forma. Contudo, parece-me
que a cada ano, os jogadores devem ingressar num projeto completamente
diferente do ano anterior, tornando-os capazes de jogar de várias formas, mas
nenhuma a nível elevado.
Isto leva-me a pensar que criar um Modelo de Jogo em função das
ideias de um treinador pode ser prejudicial para o desenvolvimento dos
jogadores, embora reconheça que tal não acontece em níveis mais elevados.
Vemos, hoje em dia, jogadores de alto rendimento a praticar tipos de futebol
diferentes com taxas de sucesso semelhantes. Desta forma, poderei imputar
responsabilidades aos clubes de contexto distrital por perpetuarem um sistema
55
(no qual estou inserido) marcado pela falta de estruturação de um projeto a
longo prazo e que vise trabalhos diferentes dentro de uma cultura idêntica.
Não pretendo com isto dizer que o modelo não deva ser criado
consoante as ideias do treinador. Considero-me um treinador em formação.
Apesar de pretender aprender constantemente ao longo da minha carreira,
considero que esta definição é mais do que adequada pois ainda estou longe
de ter as capacidades necessárias para orientar uma equipa de alto nível.
Como tal, estou bastante interessado em amplificar as minhas ideias sobre o
jogo, abrindo-me completamente às capacidades demonstradas pelos meus
jogadores nesta fase inicial da minha carreira para construir o modelo da
equipa.
Sinto que desta forma posso conhecer e absorver todas as conceções
de jogo dos meus jogadores e explorar as que me pareçam mais adequadas no
contexto em que estou inserido. Assim, se treinar uma equipa que esteja
mecanizada em movimentos rápidos no ataque tentarei explorar essa
característica, mas orientar uma equipa que goste de construir o jogo
lentamente procurarei que a equipa melhore neste ponto.
Concluo, pois, que nesta fase da minha carreira modelo o jogo mediante
as características dos jogadores. Reconheço quando me dizem que desta
forma não desenvolverei suficientemente a minha capacidade de modelar o
jogo mediante o meu estilo, mas perspetivo a minha formação como uma
criança que, querendo começar a praticar desporto, deva experimentar vários
tipos para saber qual prefere. Assim, apresento-me para o mundo do futebol
como treinador nesta perspetiva sem esquecer que quero experimentar vários
tipos de futebol para saber de qual mais gosto.
Mais tarde, quando tiver já uma melhor ideia do que gosto e do que faço
bem, talvez possa estabelecer a minha identidade enquanto treinador e
procurar que os jogadores se enquadrem no meu estilo de jogo. Neste
momento não me parece, por falta de bases, ser possível fazê-lo durante
apenas um ano.
56
Na presente época o projeto foi, em parte, criado por mim e pelo meu
colega enquanto coordenadores das equipas de formação, e em que o nosso
principal objetivo passava por uniformizar uma forma de jogar comum a todo o
clube. Como tal decidimos, em conjunto com a direção, que seria praticado um
futebol de posse muito pressionante.
Enquanto treinadores da equipa sub-19 submetemo-nos a este tipo de
jogo de maneira a cumprir os nossos objetivos. A meio da época a equipa
técnica do plantel sénior foi alterada, bem como algumas ideias de jogo.
Foi nesta fase, altura em que assumi o cargo de treinador principal, que
alteramos o nosso modelo de jogo mediante as minhas ideias de jogo e que,
por sua vez, passam por potenciar as características dos meus jogadores.
Como exposto anteriormente, quando olhei para a equipa nesta fase
conclui que havia problemas quando tentávamos desequilibrar o adversário. O
que fiz foi abordar os avançados para saber porque é que não conseguiam
marcar golos. O que me disseram é que sempre jogaram com muito mais
espaço e gostavam de aproveitar a velocidade para explorar as costas da
defesa. Contudo, eu sei que grande parte dos jogadores dos setores mais
recuados do campo gostam de ter a bola e construir o jogo lentamente.
Tendo em conta que o meu objetivo é tentar satisfazer as
potencialidades e preferências dos meus jogadores, tentei fazer com que todos
tivessem o que queriam dividindo a equipa em dois estilos de jogo. Numa fase
inicial tentamos manter a posse de bola no nosso meio-campo, tentando atrair
o bloco adversário e diminuindo o espaço no nosso meio-campo para criar
espaço no do adversário.
Para evitar perder a posse de bola englobávamos todos os jogadores
neste processo. Numa fase em que encontrássemos espaço para explorar nas
costas da defesa organizávamos o ataque com um passe longo e quatro
jogadores envolvidos no ataque rápido.
57
2.3.2.7. Treino
Apesar de, nesta fase, o meu método de modelação de jogo não estar
de acordo com a Periodização Tática, visto que dou prioridade às
características dos jogadores, aplico as suas ideias no que toca ao processo de
treino.
A metodologia que aplico percebe o treino de maneira um pouco
diferente. Procuramos, prioritariamente, orientar a tomada de decisão dos
jogadores de maneira a desenvolver as ligações da unidade da equipa. Trata-
se de um processo de ensino-aprendizagem que visa a aplicação das
convicções táticas do treinador, de modo a criar um entendimento coletivo do
que deve ser o jogo mediante os objetivos da equipa. O desenvolvimento das
restantes dimensões está dependente da maneira como pretendemos definir o
jogo.
De acordo com o supracitado, o contexto em que estive este ano
inserido apresentava algumas limitações no que toca à modelação do nosso
jogo. Em termos teóricos cada clube tem a sua identidade e que é
representada por todas as equipas que o integram. Tal não acontecia no CF S.
Félix da Marinha. Ainda assim, quando fui convidado para este cargo, defini
como principal objetivo unificar o modo de jogar entre as diferentes equipas -
um processo que demoraria muitos anos a concretizar.
De modo a atingir este objetivo muitas reuniões foram feitas entre a
equipa técnica do plantel sénior e os coordenadores das equipas de formação,
no sentido de encontrar um modo de jogar aceitável entre todas as equipas. A
visão da direção, que era defendida pela equipa técnica do plantel sénior
contratada no início da época e, posteriormente a um período de adaptação,
defendida por todo o clube, visava um futebol pressionante de construção
lenta.
58
O processo de treino adotado no clube vai ao encontro desta
metodologia. O objetivo do treino é fazer emergir uma identidade própria e
potenciar as habilidades requisitadas no jogo, cujo decorrer é influenciado por
esta mesma identidade. Tentamos, dentro dos possíveis, adaptar-nos ao jogo e
orientá-lo para um contexto em que estejamos confortáveis.
A Periodização Tática visa, mediante os problemas com que os
jogadores se defrontam no jogo, a construção de conhecimento e tomada de
decisão, o conjunto de princípios que chamamos modelo de jogo, sobre os
contextos táticos específicos providenciados no jogo (Pivetti, 2012).
Procuramos então no treino, através de exercícios base, que chamamos
jogos reduzidos, providenciar aos jogadores contextos idênticos aos que
esperamos encontrar em jogo, e orientar os jogadores para decisões que
sejam favoráveis à equipa, sem retirar a liberdade dos mesmos.
Considera-se que o Futebol é constituído por quatro dimensões: tática,
técnica, física e psicológica, contudo, a metodologia utilizada vê a primeira
dimensão de forma diferente. A tática é considerada uma dimensão mais
complexa, manifestada pela organização entre as restantes dimensões
(também complexas, mas não tanto como a tática). Assim, a tática é
considerada a dimensão coordenadora de todo o processo.
As restantes dimensões devem então ser trabalhadas mediante a
modelação tática da equipa. Se no nosso modelo está definido que o avançado
centro deve servir maioritariamente como um apoio de costas para a baliza,
interessa-nos trabalhar na dimensão técnica elementos concordantes com as
necessidades do jogo, como a proteção da bola com o corpo, primeiro toque e
receção orientada para remate, por exemplo.
Na dimensão física devemos trabalhar força, equilíbrio e aceleração na
direção oposta. Também teríamos preocupações na dimensão psicológica, já
que o jogador teria estar bastante concentrado e paciente. Para além de
potenciar estas habilidades é também muito importante orientar a tomada de
decisão de jogador para que este se encontre nestas situações em jogo,
procurando espaço entre a defesa e o meio-campo e a linha defensiva em vez
59
de explorar o espaço nas costas da defesa. Os elementos que referi são
apenas aspetos individuais. De modo a que estes contextos surjam em jogo,
temos de fazer emergir, através do treino, uma identidade para a equipa que
esteja de acordo com auilo que procura.
Suponhamos que no nosso modelo de jogo temos definido que os
nossos defesas laterais não devem participar nas situações ofensivas no último
terço, contudo, pretendemos que o extremo apoie defensivamente o defesa
lateral no primeiro terço. O tempo que dedicaríamos a trabalhar a relação entre
o defesa lateral e o extremo teria objetivos defensivos.
O processo de treino deve considerar esta necessidade de
desenvolvimento das habilidades em todas as dimensões, momentos e escalas
de jogo.
Sustentada em diferentes áreas do conhecimento, a Periodização Tática
é uma metodologia utilizada por diferentes equipas de distintos níveis de
desempenho e de todos os escalões etários.
De maneira a conseguirmos preparar uma época de acordo com esta
metodologia existem alguns conceitos que devemos absorver.
Como narrado anteriormente, a aquisição dos princípios de jogo é um
processo complexo a longo prazo e a sua estruturação é feita a partir de uma
Matriz Conceptual. Segundo a Periodização Tática, esta matriz articula esta
aquisição com os diferentes Momentos de Jogo e com as Escalas da equipa, já
explicados anteriormente.
Procuramos que os exercícios de treino proporcionem uma repetição
sistemática dos princípios e subprincípios representados do nosso Modelo de
Jogo, por isso todo o treino deve ser modelado à volta destes.
Tradicionalmente uma época divide-se em três estruturas: Macrociclo,
Mesociclo e Microciclo, contudo, para a Periodização Tática divide-se em duas:
Macroestrutura, uma época desportiva, e Microestrutura ou Morfociclo, espaço
temporal entre dois jogos. O termo Morfociclo Padrão é uma nomenclatura
específica da Periodização Tática e representa uma semana de treino que visa
a preparação da equipa para o jogo a decorrer tendo em conta as conclusões
60
tiradas do jogo anterior, funcionando dentro da lógica de feedback de que a
partir do treino construímos o jogo, e a partir do mesmo tiramos as conclusões
de como estruturar o treino (Tamarit, 2013).
Este é um aspeto fundamental da metodologia. Reconhecemos que o
Futebol, felizmente, é um Desporto demasiado complexo para ser previsto, o
que torna impossível planificar uma época inteira antes de esta sequer ter
começado. A observação semanal da nossa equipa é muito importante para o
desenvolvimento da mesma. Deve ser criado um plano a longo prazo dos
treinos da equipa, contudo, este plano deve ser passível a alterações, mediante
as conclusões tiradas da observação feita ao resumo do nosso trabalho
semanal (o jogo). Só desta forma, é possível acompanhar e orientar o
desenvolvimento individual e coletivo da equipa no sentido pretendido.
Apesar da estruturação dos ciclos de treino serem semanais, há uma
organização a longo prazo que visa a conjugação entre jogadores e princípios
a fim de definir uma cultura de jogo, que é dependente do que a equipa
demonstra durante a semana. É por isso que utilizamos a nomenclatura
morfociclo, já que a expressão é diversificada, porém, com alguns padrões
identificadores de forma (morfo) que se perpetuam sob uma organização não
linear (ciclo) (Pivetti, 2012).
A organização cíclica do morfociclo modela-se em torno das conclusões
tiradas após análise do jogo efetuado e toda a semana deve ser estruturada de
forma a que os jogadores apresentem a melhor forma possível para este dia. O
processo que aplicamos tem como premissa de que após esforços de máxima
exigência no jogo, a equipa só se encontra pronta para efetuar tais esforços
quatro dias depois.
Uma maneira de entender e organizar a estrutura de um morfociclo é
organizar os diferentes dias de treino por cores, como me foi ensinado na
faculdade. O dia de jogo é representado por um verde que aglomera todas as
cores do morfociclo, ilustrando a aquisição de todos os princípios trabalhados
durante a semana.
61
Atendendo às evidências empíricas bioenergéticas em que a
Periodização Tática se baseia, temos apenas três dias para trabalhar a
aquisição dos princípios com alta exigência física e psicológica (sem nunca
comprometer a forma dos jogadores para o dia de jogo). Consideramos estes
os dias de operacionalização aquisitiva.
A operacionalização aquisitiva está dividida em três tipos de esforços a
que chamamos subdinâmicas: tensão de contração, duração de contração e
velocidade de contração. Destes esforços, o que mais se assemelha ao jogo é
a duração de contração, e por isso deve ser trabalhada a meio da semana,
quando os jogadores recuperaram durante quatro dias, em que trabalhamos os
grandes princípios. Os subprincípios e subprincípios dos subprincípios devem
ser trabalhados nos dias imediatamente antes e depois, estando os exercícios
do dia antes mais relacionados com elevada tensão muscular e os dias depois
alto grau de velocidade (Tamarit, 2013).
A nossa semana fica então estruturada segundo ilustrado na Figura 1.
Domingo Segunda-
Feira
Terça-Feira Quarta-
Feira
Quinta-
Feira
Sexta-Feira Sábado Domingo
Jogo Folga Recuperação
Ativa
Tensão de
Contração
Duração
de
Contração
Velocidade
de
Contração
Recuperação
Ativa e Pré-
Ativação
Jogo
Figura 1 – Morfociclo padrão
A ideia é que o somatório de todas as cores culmine na cor do dia de
jogo. A cor que mais se assemelha à do dia de jogo é a de quinta-feira (neste
caso).
A questão do dia de folga é uma discussão ainda em aberto e deve em
todos os casos ser adequada às circunstâncias de trabalho, podendo ser
estabelecido no dia antes, ou depois do jogo.
No primeiro dia de treinos (terça-feira) os jogadores encontram-se ainda
em processo de recuperação em relação ao jogo passado. O nosso objetivo
neste dia deve ser ajudar os jogadores a faze-lo em especificidade. Devemos,
por isso, definir para este dia exercícios em que a tomada de decisão seja mais
simples, mas sempre coerentes com a dinâmica do modelo de jogo.
Aproveitamos para trabalhar os nossos subprincípios e subprincípios dos
62
subprincípios a nível individual, grupal, setorial e intersetorial com exercícios de
complexidade reduzida (Tamarit, 2013).
Sendo o objetivo principal recuperar os jogadores, os exercícios
efetuados não devem representar um elevado nível de qualquer uma das três
subdinâmicas, tendo um carácter descontínuo em que os tempos de execução
são mais pequenos e os de recuperação maiores (Tamarit, 2013).
O treino de quarta-feira representa o primeiro dia de operacionalização
aquisitiva. A subdinâmica associada a este dia é a tensão de contração. Os
exercícios devem por isso ter muitas mudanças de velocidade e direção, saltos,
quedas, bolas divididas e outro tipo de situação que exijam força e variação
entre contrações concêntricas e excêntricas. Para proporcionar este contexto
devemos proporcionar aos jogadores exercícios em espaços curtos, com
poucos jogadores e também baixo tempo de execução para que a intensidade
possa ser sempre bastante elevada (Tamarit, 2013).
Os princípios que modelam os exercícios deste dia devem ser os
subprincípios e os subprincípios dos subprincípios a nível individual, grupal,
setorial e intersetorial. Aproveitamos para trabalhar neste dia situações
específicas do jogo em que os jogadores se encontrem perto da bola e esta se
mova pouco, exigindo movimentações rápidas em espaços curtos (Tamarit,
2013).
Como já referi anteriormente, o treino de quinta-feira é o dia que se
assemelha mais ao dia de jogo, justificando o porquê de ser no meio da
semana, permitindo-nos segundo o princípio da alternância horizontal em
especificidade, o dia em que podemos induzir maior intensidade tática,
complexidade e volume (Pivetti, 2012).
Devemos tirar proveito deste dia para trabalhar os grandes princípios e a
organização coletiva da equipa nos diferentes momentos. Devemos tentar
proporcionar aos jogadores um contexto bastante aproximado do de jogo,
colocando algumas regras que proporcionem repetição sistemática de certos
contextos coletivos e intersetoriais. De modo a proporcionar maior
complexidade os espaços devem ser maiores, exigindo maior desgaste
63
cognitivo. Os exercícios devem ser mais pautados e com maior tempo de
execução (Tamarit, 2013).
Na sexta-feira, devemos incidir em exercícios que permitam desenvolver
subprincípios e subprincípios dos subprincípios com situações que exijam
velocidade na tomada de decisão e execução dos nossos jogadores (Tamarit,
2013).
Os exercícios devem por isso ter alguns jogadores e um espaço
reduzido de maneira a que estes sejam capazes de encontram soluções
rápidas (Tamarit, 2013).
Tendo em conta que este dia antecede o dia anterior ao jogo, o desgaste
emocional inerente aos exercícios deve ser mais baixo do que nos dias
anteriores, por isso trabalhamos os princípios enunciados. O tempo de
execução deve ser pequeno e o tempo de repouso de acordo com os
objectivos pretendidos.
Por último, no sábado, voltamos a ter como maior preocupação a
recuperação dos jogadores, estruturando os nossos exercícios com baixa
intensidade e duração. O desgaste emocional também deve ser baixo, tendo
em conta que este dia antecede o jogo e a nossa maior preocupação deve ser
recuperar e pré-ativar os jogadores. Isto não significa que não possamos
trabalhar alguns princípios de jogo, desde que não comprometamos a forma
dos jogadores, podendo aproveitar para trabalhar aspetos mais estratégicos e
bolas paradas (Tamarit, 2013).
No meu clube disponho de quatro treinos entre jogos, sendo o primeiro e
o último de 1 hora e 30 min e os outros dois de 1 hora (à Segunda-feira, Terça-
Feira, Quarta-Feira e Sexta-Feira).
Normalmente, os nossos jogos são ao domingo, por isso eu deixo a
primeira hora do treino de segunda-feira para a recuperação ativa, sendo a
última meia hora e o treino de terça-feira para treinar tensão de contração. O
treino de quarta-feira é ocupado pela duração de contração e o de sexta-feira
pela velocidade de contração na primeira hora e recuperação e pré-ativação na
última meia hora.
64
65
Capítulo III
Desenvolvimento da Prática
66
67
3. Desenvolvimento da Prática
Pretende-se neste capítulo descrever o planeamento e execução do
projeto desenvolvido durante a presente época, bem como algumas reflexões
sobre o mesmo. Este capítulo está dividido em duas fases: uma que descreve
o trabalho efetuado enquanto treinador adjunto (dois primeiros subcapítulos), a
segunda reporta-se à minha atuação enquanto treinador principal (dois
subcapítulos finais).
Começarei pela conceptualização do projeto enquanto treinador adjunto
da equipa de sub-19. De modo a satisfazer os novos objetivos do clube, a
nossa tarefa passa por desenvolver um modelo de jogo de acordo com a
equipa técnica dos seniores, bem como preparar os jogadores para
enquadrarem as necessidades do seu plantel. O primeiro subcapítulo descreve
o planeamento da época inteira. Atendendo às alterações ocorridas, só
descreverei no subcapítulo seguinte o trabalho efetuado até à data de 15 de
Novembro de 2014. O período posterior a esta data será inteiramente tratado
no subcapítulo seguinte. Finalmente, concluirei com algumas considerações
acerca do trabalho efetuado.
68
3.1. Conceção
3.1.1. Objetivos e expectativas iniciais
A proposta efetuada no final da época anterior inclui a ocupação de três
cargos: treinador principal de uma das equipas de formação (sub-13),
coordenador da formação e manter a função de treinador adjunto da equipa de
sub-19. Juntamente com o meu colega, enquanto coordenadores de todas as
equipas de formação definimos como principal objetivo para as equipas de
formação ter mais jogadores a atingir o futebol sénior dentro do clube. O meio
para atingir este objetivo seria criar uma identidade comum dentro do clube.
Enquanto treinadores da equipa mais próxima do escalão sénior, o nosso papel
torna-se crucial para apresentar os resultados a curto prazo do nosso projeto.
Quando digo curto prazo refiro-me ao espaço temporal de uma época.
Pretendíamos uniformizar os objetivos formativos, metodologias,
princípios de jogo e estratégias de ação nas equipas de formação, segundo as
metodologias e ideias concebidas pela equipa sénior. Desta maneira, visámos
conduzir a formação dos jovens do clube no sentido de construir um plantel
sénior com mais jogadores formados no clube.
Como treinadores da equipa mais próxima do fim da formação,
procurámos interagir constantemente com a equipa técnica do plantel sénior.
Tivemos várias reuniões em que nos foi explicado o seu Modelo de Jogo, para
que definíssemos os princípios que deveriam ser comuns nas equipas do
clube.
Os grandes princípios e sub-princípios que ficaram acordados para o
modelo de jogo base da formação foram as seguintes:
Praticar futebol de posse;
69
Jogar com um bloco muito alto, largo e pressionante;
Predominância do passe curto;
Construir o jogo lentamente;
Ter um médio defensivo como principal construtor de jogo;
Definir dinâmicas de alta rotatividade no meio-campo;
Jogar com defesas laterais ofensivos;
Jogar com avançados interiores em vez de extremos;
Avançado centro joga a maior parte do tempo de costas para a baliza;
Sistema: 1-4-3-3;
Dinâmicas nos corredores laterais que implicam que os defesas laterais
defendam por dentro e ataquem por fora, e os avançados interiores o
inverso;
Coincidentemente, grande parte das ideias da equipa sénior eram
concordantes com as nossas, contudo, olhando ao contexto em que estamos
inseridos e aos jogadores que temos à nossa disposição, apresentámos alguns
aspetos que não achámos adequados ao nosso contexto.
A nossa primeira preocupação foi a colocação do bloco em
profundidade. A competição em que todas as equipas do clube estão inseridas
inclui muitas equipas que baseiam o seu ataque em passes longos e jogadores
rápidos na frente. Este tipo de jogo constitui um risco para equipas que jogam
com um bloco muito alto, representando uma ameaça demasiado frequente ao
nosso tipo de jogo. Apesar dos nossos avisos, a equipa técnica do plantel
sénior insistiu fortemente que aplicássemos este princípio na nossa equipa.
A nossa segunda preocupação foram as dinâmicas de alta rotatividade
no meio-campo, o que implicaria que todos os jogadores do nosso meio-campo
soubessem jogar nas três posições, e exigia dos mesmos alta mobilidade e
capacidade aeróbia, algo que o nosso plantel não conseguia corresponder.
Sugerimos o estabelecimento de um médio fixo mais defensivo, a trabalhar em
conjunto com dois médios com dinâmicas idênticas. A nossa sugestão foi
aceite e chegamos a um consenso rápido acerca dos princípios comuns a
definir entre o nosso escalão e o plantel sénior.
70
O nosso objetivo para a época seria criar um modelo de jogo,
competitivo, que correspondesse aos interesses do plantel sénior, promovendo
os jogadores cujas competências lhes dão mais probabilidade de ingressar no
mesmo.
Tendo em conta o número de atletas que nos anos anteriores eram
promovidos ou treinavam com a equipa sénior, mais do que uma vez, era
baixo, decidimos definir para nós também expectativas baixas: ter um jogador a
jogar pelo menos uma vez durante a presente época no plantel sénior, ter 5
jogadores que a algum ponto da época treinaram durante mais de um mês com
a equipa sénior e três jogadores inscritos na época seguinte.
Os únicos objetivos competitivos definidos para esta época foram
melhorar as estatísticas da equipa de sub-19 do clube em anos anteriores,
procurando registar mais pontos, mais vitórias, mais golos marcados e menos
derrotas e golos sofridos.
71
3.1.2. Análise do contexto
Como já referi anteriormente, a nossa equipa compete na 2ª Divisão
Distrital do Porto. Eu e os meus colegas fomos treinadores deste escalão
durante os dois anos anteriores, o que nos permitiu estabelecer algumas ideias
acerca da qualidade e características da maior parte das equipas a defrontar.
Na presente época, competimos contra doze equipas, dez das quais
defrontámos em épocas anteriores.
Existem algumas características que notei serem comuns em grande
parte das equipas da nossa divisão. Há um hábito de colocar jogadores mais
altos na posição de defesas centrais, jogadores mais fortes fisicamente no
meio-campo ou a avançado centro e jogadores mais rápidos no corredor
lateral. Poucos defesas centrais têm a capacidade de dar largura à sua equipa
no seu próprio meio-campo. Poucas equipas defendem à zona, sendo que
geralmente há um central de marcação e um líbero.
O Arcozelo é na maior parte das vezes candidato aos primeiros lugares
da nossa competição, bem como o Oliveira do Douro e o Serzedo. Estas
equipas demonstram um futebol muito semelhante, de posse e construção
lenta. Jogando em 1-4-3-3, o Arcozelo e o Serzedo normalmente destacam-se
pela existência de um médio defensivo de grande qualidade e o Oliveira do
Douro apresenta um médio atrás do avançado que também se destaca.
Noutra categoria posso colocar o Vilanovense e o Perosinho, duas
equipas que normalmente alcançam classificações superiores ao nosso clube
praticando um tipo de futebol diferente. O Vilanovense destaca-se por ter
extremos muito rápidos e centro campistas com muita qualidade no passe
longo, sendo que resolvem a maior parte das suas situações em ataque rápido.
Esta equipa também costuma disputar os lugares de promoção. Já o
Perosinho, apesar de ter o mesmo estilo de jogo destaca-se mais pela
qualidade dos seus defesas e eficácia nas bolas paradas.
72
O Leverense é um caso à parte. Esta equipa não costuma ter
classificações superiores à da nossa equipa, contudo, beneficiam esta época
de jogadores de outro clube que não se inscreveu esta época.
As restantes equipas (Gervide, Gulpilhares, Pedroso e Canelas 2010)
competem normalmente pelos lugares mais abaixo na tabela, como o nosso
clube, praticando um futebol rápido à espera do erro do adversário.
Visto que nunca competi contra o Candal ou o Avintes no escalão sub-
19 não posso fazer uma caracterização do seu tipo de jogo.
Estas informações permitem-nos tirar algumas conclusões sobre grande
parte das equipas contra quem vamos jogar. A primeira é a já referida
preocupação de jogar com um bloco muito alto, quando mais de metade das
equipas da nossa divisão terem mais eficácia a jogar contra as equipas que
assumem este posicionamento.
Em segundo, parece-me lógico atacar com o propósito explorar espaços
reduzidos, já que a maior parte das equipas não estão treinadas para tirar
partido do mesmo, bem como um bloco pressionante, visto que grande parte
dos defesas têm dificuldade em acertar um passe quando pressionados.
Em terceiro, não me parece lógico procurar golos através de
cruzamentos pelo ar, já que os defesas centrais são normalmente bem
preparados para esse tipo de jogo.
73
3.1.3. Equipa
O plantel com que terminámos o período pré-competitivo era composto
por vinte jogadores. Apenas dois destes eram esquerdinos, treze sub-19 e sete
sub-18. Para além disso, contamos ainda com a participação de três jogadores
do plantel sub-17.
A análise feita ao plantel foi efetuada durante a segunda fase da época
anterior e apenas sete jogadores integraram o plantel no início da presente
época. Quatro jogadores tiveram de abandonar a equipa durante a época por
motivos pessoais.
Ao analisar a qualidade e as características dos jogadores, concluímos
que alguns podiam ser benéficos para o Modelo noutras posições, por isso
abordámos a possibilidade de adaptar algumas posições. Todas as sugestões
foram bem aceites.
Passarei agora a uma descrição detalhada do plantel à nossa
disposição. Visto que não posso colocar os nomes dos jogadores definirei um
número e posição para cada uma deles que servirá para todas as referências
no trabalho:
74
Guarda-Redes
GR1 – Jogador de segundo ano, que competiu connosco neste escalão
durante os dois anos anteriores, por isso é um guarda-redes experiente
tanto na competição como nas nossas metodologias e ideias de jogo.
Tem boas capacidades físicas, sendo que se destaca pela resistência,
salto e reflexos. Contudo, não tem as bases corretas no que toca à
colocação dos apoios, o que o dificulta a defesa de remates a longa
distância. Não tem medo de ter a bola nos pés, mas não se excede
muito, optando sempre pela decisão mais fácil. Tem bons reflexos, e sai
muito bem no 1vs1, mas não tem um comando de área muito bom,
causando alguns problemas nas bolas paradas. Tem um bom contributo
para o plantel a nível psicológico, promovendo um ambiente de
seriedade, responsabilidade e espírito de grupo. Por esse motivo foi
nomeado como um dos sub-capitães.
GR2 – Este guarda-redes é de primeiro ano e trabalha connosco pela
primeira vez. Do nosso ponto de vista, tem mais potencial e capacidade
que o GR1. É muito coordenado com os pés, tanto nas deslocações a
curta distância como com a bola nos pés, sendo muito útil na circulação.
Toma algumas decisões erradas no 1vs1, visto que tem tendência a
afastar-se demasiado da baliza. Tenho de reforçar a técnica fantástica
de pés deste guarda-redes, sendo que é capaz de fazer passes precisos
até ao meio-campo com os dois pés e até fintar um avançado.
GR3 – Por último, incluo também um guarda-redes do escalão de
juvenis que se juntou a nós durante alguns jogos. É seguro, não se
excedendo muito nas suas decisões. Defende muito bem bolas paradas.
75
Defesas Centrais
DC1 – Este defesa não é um jogador que se destaque pelas
capacidades físicas ou técnicas, contudo, podemos contar com ele
graças aos teus atributos intelectuais. É muito alto e lento, tendo apenas
vantagem no jogo aéreo, comprometendo bastante em situações de
1vs1. Apesar de não ter uma técnica muito boa é muito inteligente
taticamente, conseguindo sempre arranjar espaço suficiente para
conseguir executar os elementos que lhe são requisitados durante a
posse de bola. Joga futebol há onze anos, todos no clube. Tem muito
pouca experiência de jogo, já que as suas características físicas sempre
o colocaram de lado nos planos de outros treinadores. É o segundo ano
que este jogador joga sob o nosso comando.
DC2 – Apesar não ser um jogador rápido, compensa com o seu ótimo
posicionamento e leitura de jogo. É muito forte na marcação, desarme e
antecipação e competente na circulação contudo, não tem a capacidade
de arriscar mais num passe. Não é muito alto contudo, quando está só
consegue colocar muito bem os cabeceamentos. É um defesa central
que no clube se chama “de marcação”, referenciando a típica distinção
entre este tipo de defesa central e o líbero. Isto quer dizer que é o
homem que marca o avançado quando a bola está longe e o primeiro
dos defesas centrais a sair na pressão. Joga futebol há nove anos, todos
no nosso clube e é a primeira época que trabalha connosco.
DC3 – Defesa central que apresenta características de líbero. Posiciona-
se na linha da defesa quando esta está subida e atrás da mesma
quando está recuada. É sempre o primeiro homem a recuar, tendo
grande aceleração e velocidade máxima, o que lhe permite fazer bem a
dobra sobre ambos os defesas laterais. Cabeceia e desarma muito bem.
Na circulação de bola é muito simples e clínico, com ações simples e
repetitivas executadas a uma velocidade mínima que não comprometa a
circulação, não correndo riscos. Ocasionalmente sobe em drible e lança
76
um passe longo, nunca avançando do meio-campo. Este jogador fez
todos os seus seis anos de formação no clube e esta é a segunda época
que trabalha connosco. Este jogador só nos acompanhou até 7 de
Setembro de 2014, abandonando após a décima primeira jornada.
DC4 – Este jogador é um médio adaptado a defesa central. Posiciona-se
bem e gere bem a marcação do avançado com o outro defesa central.
Ofensivamente é muito produtivo para a circulação da bola, visto que é
rápido a receber, rodar e passar. Consegue fintar o avançado e tem um
passe e remate longo muito tenso com boa colocação. A sua
capacidade de decisão do jogo compromete um pouco a sua
performance e psicologicamente é muito fácil de desanimar. Cede na
circulação contra uma boa pressão coletiva e é bastante impaciente,
frustrando-se com facilidade. Este jogador foi formado no clube, estando
apenas três anos ausente do mesmo. Este é o segundo ano que
trabalha connosco. Só nos acompanhou até 19 de Outubro de 2014,
após a quinta jornada, voltando em Janeiro, para jogar meses depois.
DC5 – Defesa do escalão inferior, que se juntou a nós durante alguns
jogos. É muito baixo e rápido, mas muito astuto. Desarma muito bem e
não compromete na circulação.
77
Defesas Laterais
DL1 – Defesa lateral com boas capacidades físicas e psicológicas. É
capaz de percorrer o corredor direito durante todo o jogo com muitas
iniciativas ofensivas. É mais inteligente do que a maior parte dos
adversários vencendo grande parte das situações de 1vs1, tanto
ofensiva como defensivamente. Não possui grandes capacidades
técnicas, tendo alguma dificuldade no passe e no cruzamento, contudo,
é muito astuto e inteligente taticamente. Não baseia a sua progressão
em drible e na qualidade técnica, mas sim na boa exploração de espaço.
É um jogador muito regular e aberto aos princípios definidos por nós.
Joga futebol há sete anos, todos no clube, e trabalha connosco pelo
segundo ano consecutivo. Apesar de já ter jogado como defesa direito e
esquerdo, é muito melhor quando joga do lado direito.
DL2 – Um dos poucos esquerdinos do nosso plantel, este jogador tem
características únicas. Tem um currículo fantástico, tendo já jogado em
dois clubes de primeira divisão, contudo, tem também as suas limitações
que o trouxeram novamente ao nosso nível. A sua capacidade técnica é
fenomenal, sendo capaz de fintar qualquer defesa do nosso
campeonato. O seu passe e remate curtos são muito precisos e é
também muito rápido. É muito inteligente e defende e ataca muito bem.
O seu único problema é o joelho esquerdo. O jogador sofreu uma lesão
que nunca foi bem tratada, o que causou problemas no jogador,
tornando-o incapaz de realizar esforços de grande força como rematar
ou cruzar. Este é o primeiro ano do jogador no clube.
DL3 – Este jogador ingressou na equipa para treinar e jogar numa
equipa de futebol pela primeira vez, todavia, sempre se mostrou muito
empenhado em aprender tudo o que precisava para executar as suas
funções. Visto que tem boa capacidade física, principalmente velocidade
e resistência, e uma técnica razoável, consideramos este jogador um
defesa lateral. Como o DL2, jogador preferido para a posição de defesa
78
esquerdo era muitas vezes requisitado para jogar a avançado interior, o
DL3 tornou-se opção para defesa esquerdo, visto que tinha facilidade
em jogar com ambos os pés. Tem boa aceleração, que aproveita bem
para resolver situações de superioridade numérica e também cruza
bastante bem. Tem alguma dificuldade em princípios básicos defensivos
como a marcação e a manutenção da linha defensiva.
DL4 – Jogando tanto a lateral como a avançado interior, procura sempre
o corredor lateral. Tem boas capacidades físicas, nomeadamente a
velocidade e o equilíbrio, contudo, não possui muita qualidade técnica.
Sabe defender tão bem quanto atacar e os seus comportamentos são
muito idênticos nas quatro posições, sempre procurando o corredor
lateral para cruzar. É um jogador muito útil para jogar a avançado interior
contra equipas com laterais muito ofensivos, pois é muito competente a
acompanhá-los. É o seu quinto ano a jogar futebol, todos no clube, e
trabalha connosco pelo segundo ano consecutivo. É muito útil para jogos
em que tem participações simples com muito espaço, já que executa
bem o que lhe é pedido.
DL5 – Dotado em velocidade e técnica, este jogador é muito útil em
qualquer posição no corredor esquerdo e um dos poucos esquerdinos
da nossa equipa. Defensivamente, é muito aguerrido e tem grande
aceleração, dando sempre pouco espaço aos avançados adversários.
Tem boa finta, o que lhe permite progredir pelo campo sem grande
assistência e decide muito bem no último terço. A sua baixa estatura
permite-lhe driblar rapidamente por entre os adversários, no entanto,
como apresenta pouca força tem dificuldades em circunstâncias que o
adversário tem a bola e se apresenta na mesma direção dele. É o seu
quarto ano a jogar futebol, mas é o primeiro ano no clube.
79
Médios
MC1 – Utilizado exclusivamente como médio defensivo, este jogador era
o cérebro da nossa equipa. Ele juntava-se à defesa para ver o jogo todo
e decide o lado do nosso ataque. Passa a fase defensiva do jogo à
frente da defesa, sempre perto do médio mais ofensivo da equipa
adversária e tem um desarme muito bom, particularmente quando o
adversário não se encontra de frente para ele. No processo ofensivo não
sobe muito e durante a presente época passava a maior parte do tempo
entre os defesas centrais para dar largura ao nosso jogo, subindo
apenas quando a bola ficava algum tempo perto da área adversária para
tentar aproveitar o seu forte remate. Não acho que tenha capacidade de
jogar noutra posição do meio-campo. Tem um passe excelente, tanto
curto como longo e também resolve muito bem situações em espaço
reduzido, o que o torna muito útil em momentos de transição ofensiva.
MC2 – À semelhança do MC1, joga normalmente numa zona mais
recuada do campo, contudo, a sua mobilidade permite-lhe explorar
melhor espaços mais adiantados do campo. A inteligência deste jogador
permitia-lhe em várias ocasiões encontrar espaço entre a nossa linha
defensiva e o ataque, momento este, em que aproveitava o seu pé
direito ou esquerdo para colocar passes rápidos e acelerar o jogo.
Apesar de fazer parte do escalão sub-17, tentamos usar este jogador
sempre que possível. É muito calmo, finta bem e consegue passar a
bola com muita qualidade com os dois pés.
DC4 – Este defesa, originalmente um médio chegou a fazer alguns
minutos na sua posição de origem, contudo, não respeitava muito bem a
sua colocação em momentos de organização ofensiva e transição
defensiva, por isso não era a nossa posição.
MC3 – É um jogador muito móvel e com boa leitura do jogo. Consegue
encontrar espaço em todas as zonas do campo e envolve-se muito no
jogo. Tem uma capacidade técnica enorme, conseguindo por si criar
80
espaço através da finta. No nosso modelo, podemos contar com este
jogador para apoiar a defesa na circulação, criar superioridade numérica
nas linhas com os laterais e apoiar a equipa no último terço do campo se
o ataque não for concretizado rapidamente. Também tem rápida reação
à perda de bola dobrando qualquer jogador do meio-campo ou do
ataque. Tem a capacidade de explorar o espaço à frente da defesa e
rodar ficando com espaço e de frente para o jogo entre a defesa e os
avançados, sendo o protagonista da maior parte dos momentos de
aceleração do jogo.
MC4 – Originalmente é um “10”, contudo, quando se apresentou no
início da época mostrou intenções de melhorar as suas características
defensivas. É um jogador mais fixo, seguindo o mesmo posicionamento
que o MC3, entre a bola e o centro do campo, não se envolvendo tanto
no jogo. Procura espaço mais longe dos colegas e tenta resumir as suas
funções a dois ou três toques. Apesar de não ter a capacidade defensiva
do colega é mais rápido a encontrar espaço no último terço do campo.
No início da época cometemos um erro enorme. Em vez de olhar às
características dos jogadores consideramos demasiado a visão que tínhamos
do modelo de jogo, que passava por jogar com um “6” e dois “8”, ignorando por
completo situações de progressão pelo setor central do campo, em que os dois
“8” apoiavam apenas o corredor lateral. Procurávamos criar algo contra a
natureza que se revelou a nossa maior arma ofensiva durante a época. O
nosso “10” e melhor marcador da equipa: MC5.
MC5 – Inicialmente olhávamos para este jogador como um “8”, porque
dessa forma tínhamos um modelo de jogo idealizado, perfeitamente
simétrico e lógico, mas cedo percebi que o Futebol não é assim. O
nosso modelo mostrou durante o início da época ótimo a nível defensivo
e em parte a nível ofensivo. Eramos capazes de manter a posse de bola
e chegar ao último terço do campo, contudo não conseguíamos marcar
golos. Isto acontecia porque muitas vezes chegávamos a ter os dois
médios do mesmo lado a dar superioridade numérica nos corredores
laterais, mas ninguém do meio-campo a auxiliar o ataque. Percebemos
mais tarde que o nosso “8” consegue na maior parte das vezes apoiar
81
na linha após o momento de aceleração, visto que circulávamos sempre
a bola antes de acelerar o jogo, não sendo necessário jogar com dois
jogadores com a mesma função, acabando por aceitar o funcionamento
do meio-campo com um “10”. É um médio muito ofensivo que participa
apenas no processo defensivo no último terço do campo. Apesar da sua
contribuição defensiva para o jogo ser mínima este jogador tem uma
capacidade enorme de desequilibrar a equipa adversária. Consegue
arranjar espaço entre a defesa e meio-campo adversários com ou sem
bola. A sua melhor habilidade é o drible. Com a bola nos pés, explora
espaço intuitivamente de uma maneira completamente imprevisível. Não
demonstra a sua habilidade através de toques habilidosos mas sim
através de acelerações e desacelerações, com muitos toques na bola
em espaços curtos ou longos. A decisão do momento, direção e
amplitude do movimento deste jogador com a bola é algo que que não
compreendo e fico feliz por tal acontecer. Para além disso tem um
remate forte e colocado, revelando-se no fim da época como o melhor
marcador da nossa equipa.
82
Avançados
AI1 – Este jogador tinha alcunha de “ferrari”, visto que é muito rápido.
Tem boa capacidade técnica, beneficiando de boa finta e bom remate
para criar ocasiões de golo. Joga muito bem nas costas da defesa
adversária, mas não dá grande contributo ao nosso jogo. Tem alguma
dificuldade, como o resto do plantel, em finalizar quando está sozinho
contra o guarda-rede, contudo, encontra-se muitas vezes nestas
situações. Após algum tempo conseguimos habituar este jogador a
chegar à linha final e cruzar rasteiro, uma ligação que com o nosso
habitual avançado deu origem a muitos golos.
AI2 – Preferencialmente, usávamos este jogador como avançado
interior, contudo, conseguia executar bem todas as posições na frente
de ataque. É muito inteligente a pressionar e decide razoavelmente em
espaços curtos. É, contudo, pouco dotado fisicamente, apresentando-se
em desvantagem perante a maior parte dos adversários.
AI3 – Este avançado é também muito rápido, e com muitas iniciativas
ofensivas. Não tem, contudo grandes qualidades técnicas, partilhando
do mesmo problema que o AI1 contra o guarda-redes adversário. Tem,
no entanto, intuição para o golo e cabeceia relativamente bem.
AI4 – Jogador que entrou no plantel como novato no mundo do futebol.
Apesar de não ter nenhuma noção do que é o jogo e de não possuir
capacidades técnicas que o permitissem juntar ao plantel, o plantel
pediu para o mante, ao que nós concordamos. Tinha boas capacidades
físicas, o que o tornava útil em algumas situações.
AC1 – Por último, temos o nosso único avançado. É um jogador muito
forte e com grande capacidade de guardar a bola de costas para o
adversário. Não tem boas movimentações dentro da área, não obstante,
contribui bem para a posse, graças à sua simplicidade. Não é muito
rápido e não cabeceia muito bem, o que me obrigou a reduzir o seu
leque a duas ou três opções, em que se tornou especialista: a situação
83
do cruzamento já referida com o AI1 e receber a bola na entrada da
área, rodar e chutar.
O reconhecimento destas capacidades e características permitiram-nos
fazer uma gestão do plantel que orientasse o processo de treino fosse
orientado para os princípios a trabalhar.
Atendendo à instabilidade do plantel, tentámos encontrar em cada
jogador as características requisitadas para duas funções, de maneira a termos
sempre duas opções, treinadas, para qualquer posição.
Assim, mesmo que num dia nos faltem todos os jogadores de uma
posição, temos a capacidade de adaptar as funções dos colegas para
salvaguardar que trabalhamos os princípios estabelecidos para a unidade de
treino.
Eu tenho por hábito usar jogadores fora da sua posição como estratégia
para adaptar o nosso jogo às características do nosso adversário, algo que fiz
muito enquanto treinador principal da equipa na segunda metade da época.
Estas adaptações devem ser previamente preparadas em treino.
84
3.1.4. Modelo de Jogo
O modelo de jogo criado no início da época tinha como princípio base ter
a posse da bola. Esta cultura foi implementada pelo treinador da equipa sénior
contratado no início da época e visava a prática de um futebol de posse e
pressionante.
Pretendia-se que a equipa jogasse com um bloco muito alto e que
tentasse sempre ter a posse da bola, por isso de construção lenta.
Atendendo à elevada capacidade técnica e tática em espaços reduzidos
do nosso plantel sentimo-nos capazes de criar um modelo de encontro com as
intenções da direção do clube.
O nosso primeiro objetivo em termos ofensivos é garantir segurança na
posse de bola, sendo que no momento da sua recuperação no nosso meio-
campo devemos ter sempre pelo menos oito jogadores para garantir que temos
condições para organizar o nosso jogo lentamente. Posteriormente,
pretendemos que a equipa se envolva toda na construção do ataque, formando
uma linha defensiva com três homens na linha do meio-campo.
Defensivamente, procuramos pressionar a equipa adversária até ao
defesa mais recuado, libertando o guarda-redes adversário da pressão.
Procurámos garantir uma pressão alta através de uma boa ocupação de
espaços, defendo à zona e obrigando a equipa adversária a cometer erros.
Atendendo à capacidade aeróbia e técnica dos jogadores do nosso
meio-campo (à exceção do trinco), pretendemos que estes sejam muito móveis
e participativos no jogo, procurando apoiar a progressão pelos corredores
laterais, onde pretendemos atuar a maior parte de jogo.
85
3.1.4.1. A organização estrutural adotada
A organização estrutural adotada pela nossa equipa é 1-4-3-3 (como
ilustrado na Figura 2). Não me sinto confortável em defini-lo deste modo,
porque apesar de as posições dos jogadores estarem definidas com um
guarda-redes, quatro defesas, três médios e três avançados, a nossa equipa
passa a maior parte do tempo em 1-3-4-3 (também ilustrado na Figura 2),
atendendo às dinâmicas implementadas, já que estas implicam que em
momentos de organização ofensiva, os defesas laterais subam no terreno e o
médio defensivo recue para a linha defensiva.
A maior parte do tempo que dedico a pensar no modo de jogar da
equipa reside no funcionamento do meio-campo e considero por isso que este
é o sector que dá vida e dinâmica à nossa equipa. Dediquei grande parte do
tempo a adaptar a equipa às características dos médios que jogam.
Figura 2 – Organização estrutural em organização defensiva (à esquerda) e em organização ofensiva (à direita)
86
3.1.4.2. Momentos de Jogo
A minha prioridade durante a época foi sempre ajudar os jogadores a
entender em que contexto de jogo estão inseridos. Para isso, ensinei-lhes, de
maneira muito breve, a maneira como eu leio o jogo e a divisão dos momentos
e escalas, para que partilhássemos todos da mesma maneira de ver o jogo.
Visto que quase todos os jogadores estavam habituados a jogar com
medo de ter a posse de bola e a tentar jogar sempre para a frente, considerei
prioritário incentivar a uma abordagem diferente.
Este foi o nosso principal foco durante a pré-época: apelar a um jogo de
construção lenta. Para isso, definimos que o conseguiríamos se criássemos
situações com espaço e superioridade numérica. Após explicar aos jogadores
os momentos de jogo, apresentei-lhes o seguinte esquema (ilustrado na Figura
3), que prevê uma sequência de 15 minutos de jogo contra uma equipa das
equipas mais fracas do nosso campeonato, sugerindo que desta maneira
conseguiríamos ter um jogo calmo e tranquilo, em que teríamos perfeita
consciência do que está a acontecer:
Figura 3 - Previsão de um jogo
87
Pretendemos com isto clarificar alguns pontos aos nossos jogadores:
A maior parte do jogo seria disputada em organização ofensiva;
É imperativo estarmos pouco tempo em transição defensiva, o que nos
obriga a ter boa reação à perda de bola;
Se possível evitar este momento, completando todas as jogadas em
remate e fazendo falta no momento de perda de bola;
Devemos ser perspicazes e orientar o adversário a terminar o momento
de transição ofensiva rapidamente, obrigando-os ou a entregar a bola;
O momento de transição ofensiva termina quando o defesa lateral sobe
e o trinco se coloca no meio dos defesas centrais;
É no momento de organização defensiva que pretendemos ganhar a
bola cedo, já que as equipas adversárias não vão demorar muito tempo
a definir o lance;
A nossa transição ofensiva deve ser um momento de curta duração e
deve dar sempre origem a um momento de organização ofensiva, já que
pretendemos que a equipa construa o jogo lentamente;
É muito importante para mim que os jogadores tenham um entendimento
coerente entre toda a equipa de quando começa e termina cada momento e
quais as suas funções em cada um.
Passarei a descrever o que pretendemos de cada momento de jogo,
mediante a zona onde está a bola. Começarei pela organização ofensiva
porque é o momento em que passaremos a maior parte do tempo de jogo.
88
Organização Ofensiva
De maneira a melhorar o entendimento dos jogadores e considerar todos
os contextos de jogo dividi a organização ofensiva em três submomentos: um
primeiro, em princípio o de maior duração, em que pretendemos manter a
posse de bola, correr menos riscos e recuar o bloco adversário; um segundo,
que se trata de um momento imediato em que procuramos acelerar jogo; e um
terceiro em que aumentamos a intensidade, e deve ser executado
rapidamente, para que possamos beneficiar da nossa capacidade de resolver
situações em espaços reduzidos, arriscar mais e tentar desequilibrar a defesa
adversária e criar oportunidades de golo.
Para considerarmos que estamos em organização ofensiva, precisamos
de corresponder a duas condições: ter a bola sob o controlo de um dos
jogadores mais recuados da nossa equipa com espaço e tempo para decidir
bem e a estrutura estar de acordo como os nossos objetivos.
Esta alteração da estrutura deve-nos dar três garantias: ter
superioridade numérica, ter os jogadores posicionados de forma a aproveitar
toda a largura do campo para que possam ter mais espaço e dinâmicas que
permitam adaptar-se a diferentes blocos pressionantes. Para isso temos
também de ter jogadores capazes de executar ações de passe e de receção
com velocidade e precisão.
A organização estrutural em
que nos apresentamos em
momentos defensivos é o 1-4-3-3.
Esta organização apresenta
algumas desvantagens para
atingirmos os objetivos pretendidos,
por isso em organização ofensiva
posicionamo-nos em 1-3-4-3, como ilustra a Figura 4.
Figura 4 - Organização estrutural dos setores defensivo e médio em organização ofensiva
89
Como é que recuamos o bloco adversário?
Procuramos progredir no terreno pelos corredores laterais. Por isso,
pretendemos que no primeiro submomento da organização ofensiva os dois
defesas laterais subam, e durante a circulação de bola, ameacem o espaço no
meio-campo adversário. Para o poderem fazer, precisam de ter coberturas e
dois homens atrás da sua linha (defesas centrais) não chegam. Por isso, de
maneira a suportar uma circulação que permitisse as tarefas dos defesas
laterais, o trinco deve descer para o meio dos centrais para que estes possam
fazer uma cobertura e dar apoio ofensivo seguro aos defesas laterais. Os
avançados devem estar fora deste processo, procurando apenas esticar o
bloco adversário para trás. Assim sendo, criamos algumas dinâmicas,
ilustradas na Figura 5, que nos permitiam garantir a manutenção da posse com
todas as particularidades referidas:
Médio defensivo – desce para o meio dos centrais:
Defesas centrais – abrem:
Defesas laterais – encostam ao corredor lateral e sobem;
Médios – ocupam o espaço em frente à defesa para ajudar na
circulação;
Figura 5 – Dinâmicas de alteração da estrutura na transição ofensiva
90
Neste momento, temos reunidas todas as condições para manter a
posse de bola e obrigar o bloco
adversário a recuar. Os dois médios
respeitam uma dinâmica simples de
aproximação à vez para ganharem
espaço aos adversários e ajudarem
na posse de bola, como ilustra a
Figura 6.
Desta maneira, conseguimos ter a bola com
superioridade numérica no nosso meio-campo (a
não ser que equipa adversária coloque oito homens
a pressionar nesta zona) criando a seguinte rede de
linhas de passe ilustrada na Figura 7.
Podemos dizer que o grande princípio da nossa organização ofensiva é
reduzir os espaços no meio-campo adversário, tendo como subprincípio
frequentes variações de flanco.
Procuramos construir o jogo de forma lenta, contudo, temos definido um
momento (segundo submomento) em que procuramos acelerar o jogo. Para a
definição deste momento, foi muito importante ensinar ou habituar os nossos
defesas a uma leitura de jogo adequada aos nossos objetivos.
Tendo em conta que procuramos acelerar jogo através dos corredores
laterais, indiquei aos jogadores a obrigatoriedade de recolher duas informações
antes de tomarem a sua decisão: o posicionamento do extremo adversário
mediante o nosso defesa lateral (do lado onde está a bola), e o número de
jogadores envolvidos na nossa zona de ação (que depende do comportamento
do meio-campo adversário). Não me senti na necessidade de explicar isto aos
nossos médios defensivos, já que estes entendiam relativamente bem o
contexto de jogo, contudo, os defesas centrais e laterais demonstravam muito
mais dificuldade em tomar este tipo de decisões.
Figura 6 - Dinâmicas de manutenção de posse
Figura 7 - Rede de linhas de passe entre o guarda-redes,
os defesas e os médios, organizados em 1-3-4-3
91
Este momento de aceleração pode acontecer com o nosso bloco em
profundidades diferentes, dependendo da reunião das condições indicadas no
parágrafo anterior e a colocação do bloco adversário. Se jogar com o bloco
muito recuado devemos circular a bola de um lado para o outro, ameaçando
ocasionalmente pouco espaço no corredor lateral, até subirmos o bloco até ao
meio-campo para aí acelerar jogo. Se o bloco for alto procuramos faze-lo ainda
no nosso meio-campo.
Foi também definido que, preferencialmente, o avançado adversário
esteja mais longe de bola do que o nosso trinco (sendo que a bola já se
encontra no corredor lateral).
Pretendemos que esta organização gere situações de 2x1 ou de 3x2.
Apesar de incentivarmos os jogadores a arranjar soluções para estes
contextos, propusemos algumas dinâmicas para que estes consigam, em
momentos que tenham dificuldade, reunir as condições necessárias para
acelerar o jogo.
Para jogar contra equipas que pressionem com um bloco alto
procuramos acelerar o jogo ainda no nosso meio-campo, com as dinâmicas
ilustradas nas Figuras 8,9 e 10.
Médio faz movimento de aproximação ao defesa central;
Defesa central passa para o médio;
Médio passa de primeira para o defesa
lateral;
Usada quando o extremo adversário
abandona a marcação do defesa lateral para
pressionar o defesa central (tapando a sua
linha de passe para o defesa lateral);
Esta dinâmica deve ser executada muito rapidamente;
Figura 8 - Dinâmica de aceleração nº1 vs bloco alto
92
Defesa central passa para o guarda-redes ou para o médio defensivo;
Guarda-redes ou médio defensivo passa
longo de primeira para o defesa lateral;
Esta dinâmica é usada quando os médios não
conseguem arranjar espaço para receber a
bola e os defesas centrais estão a ser
pressionados pelos avançados (não
conseguindo passar para o defesas laterais);
Quando os defesas laterais se apercebem desta situação devem recuar
antes de o defesa central fazer o passe; Desta forma o defesa central
tem mais uma opção e o defesa lateral tem mais espaço para receber o
passe à frente;
Médio defensivo centro sai do meio dos defesas centrais para explorar o
espaço à frente da defesa;
Este deve logo acelerar jogo num dos
defesas laterais;
Implica que os médios subam, bem como os
defesas centrais que também devem fechar;
Após a definição do passe, o defesa lateral
que não for envolvido no ataque deve recuar;
Esta dinâmica é usada quando a equipa adversária concentra a sua
pressão nos corredores laterais;
Como já referi anteriormente, decidimos o momento de aceleração
consoante o bloco adversário. As dinâmicas representadas são aplicadas
Figura 9 - Dinâmica de aceleração nº2 vs bloco alto
Figura 10 - Dinâmica de aceleração nº3 vs bloco alto
93
quando enfrentamos um bloco alto, em que pretendemos acelerar o jogo numa
zona mais recuada do campo.
Caso enfrentemos um bloco mais recuado, procuramos circular a bola
de um flanco até ao outro até conseguirmos estabelecer a linha defensiva no
meio-campo.
A nossa organização no meio-campo adversário é um pouco diferente.
Para começar, deixamos de ter o guarda-rede para a circulação, limitando o
início de todas as dinâmicas aos três homens mais recuados (defesa central e
médio defensivo).
Estes três jogadores têm quatro referências de passe: defesa lateral,
avançado interior, médio e avançado centro. A partir destas opções,
selecionámos um conjunto de dinâmicas permitem ao jogador mais recuado ter
várias opções para acelerar o jogo.
Se o defesa lateral não estiver
marcado é a opção mais fácil, já que o
nosso objetivo no momento de aceleração é
levar a bola até ele, contudo, a maior parte
das vezes o extremo estará a cortar a linha
de passe para este. Nesse caso, devemos
procurar explorar o espaço referido na
Figura 11.
Se esta ação fosse executada no nosso meio-campo, o objetivo seria
colocar a bola no defesa lateral, e se não conseguíssemos deveríamos voltar a
circular. Nesta zona não tratamos do momento de aceleração da mesma
maneira. Em vez de começar quando a bola chega ao defesa lateral, deve
começar qualquer homem (com exceção aos defesas centrais) que tenha
espaço no meio-campo adversário, seja o defesa lateral, o avançado interior, o
médio centro, o médio defensivo centro ou o avançado centro.
Neste momento, podemos entrar no terceiro submomento da nossa
organização ofensiva, em que os jogadores assumem um carácter mais
incisivo e procuram atacar a baliza.
Figura 11 - Espaço a explorar quando a linha de passe do defesa central para o
lateral está tapada
94
De maneira a ajudar os jogadores mais avançados a definirem os lances
apresentamos as dinâmicas ilustradas entre as figuras 12 e 16.
Avançado interior faz movimento de
aproximação;
Defesa lateral sobe;
Defesa central ou médio defensivo coloca
passe longo no defesa lateral;
Avançado interior faz movimento de
aproximação;
Defesa lateral sobe;
Defesa central passa para avançado interior;
Avançado interior toca de primeira para o
médio que passa para o defesa lateral;
Estas duas dinâmicas dependem da velocidade
de progressão do defesa lateral;
Avançado interior faz movimento de
aproximação;
Defesa lateral sobe;
Avançado interior combina com médio;
Defesa central faz movimento de aproximação;
Defesa central ou médio defensivo passa para
avançado centro;
Avançado de centro toca de primeira para o
médio;
Médio passa para o defesa lateral ou
Figura 12 - Dinâmica de aceleração com avançado
interior nº1 vs bloco recuado
Figura 13 - Dinâmica de aceleração com
avançado interior nº2 vs bloco recuado
Figura 14 - Dinâmica de aceleração com
avançado interior nº 3 vs bloco recuado
Figura 15 - Dinâmica de aceleração com
avançado centro nº1 vs bloco recuado
95
avançado interior atrás da linha defensiva;
Avançado interior faz movimento de aproximação
para receber, rodar e rematar;
No momento de aceleração, a equipa decide de que lado pretende
efetuar o ataque. Nesse momento, o trinco deve sair da linha dos defesas
centrais para pressionar mais rapidamente o médio mais avançado após a
perda da bola e o defesa lateral do lado contrário ao ataque deve fechar,
formando novamente uma linha de três jogadores, que será explicado e
ilustrado no subcapítulo seguinte.
Ao analisar o plantel à nossa disposição, percebi que grande parte dos
nossos jogadores possuem capacidades táticas que lhes permitem manter a
posse de bola em situações de superioridade numérica com muita facilidade.
Contudo, o setor ofensivo tem dificuldades em gerir situações de igualdade
numérica. Estes jogadores têm iniciativas muito simples e têm uma visão de
jogo muito pouco ampla, permitindo-lhes apenas criar e resolver situações
simples a um ou dois passes ou lances individuais.
No início da época planeava que toda a equipa se envolvesse no
processo de construção do jogo, contudo, cedo percebi que alguns jogadores
(principalmente os nossos avançados interiores) não conseguem ter estes
comportamentos durante muito tempo no jogo, começando impacientemente a
explorar o espaço atrás da defesa adversária.
Figura 16 - Dinâmica de aceleração com
avançado centro nº2 vs bloco recuado
96
Transição Defensiva
O momento de transição defensiva trata-se, para nós, do período de
tempo em que não temos bola e a nossa equipa não se encontra na estrutura
organizativa defensiva: 1-4-3-3.
Após o momento de aceleração pretendemos que a equipa defina o
lance obrigatoriamente. Para isto, temos de nos preparar para perder a bola, já
que corremos mais riscos. De maneira a facilitar a recuperação rápida
reestruturamos a nossa organização, de maneira a ocupar melhor os espaços,
colocando mais jogadores perto da bola.
Suponhamos um ataque do lado esquerdo, como ilustra a Figura 17.
Após definir o lado do ataque, o
defesa lateral do lado contrário ao
ataque de fechar e ocupar a
posição do defesa central mais
perto de si, para que este possa
ocupar a posição do médio
defensivo, que por sua vez sobe
para proteger o espaço em frente à defesa.
Mesmo com estas preocupações ainda durante a organização ofensiva,
a nossa organização é diferente da que pretendemos para a nossa
organização defensiva. Mesmo que percamos a bola durante outro
submomento da organização ofensiva, haverá sempre jogadores fora da sua
posição. O momento da transição defensiva trata do período em que os
jogadores recuperam a sua posição.
Este não seria um processo muito complicado, contudo, não nos
podemos esquecer que pretendemos manter sempre uma pressão alta, ou
seja, temos de conjugar estes dois objetivos neste momento.
Figura 17 - Movimentações do lado contrário ao ataque perante a definição do mesmo
97
Os princípios da nossa transição defensiva são
definidos mediante a zona onde perdemos a bola,
separando o campo em três setores, transversal e
longitudinalmente. Prevemos que os setores em que temos
mais probabilidade de perder a bola sejam os assinaldos a
amarelo na Figura 18, já que esta representa as zonas em
que corremos mais riscos.
Esta é a primeira situação que representarei porque é
a que representa maior ameaça para o nosso modelo.
Pretende-se que a equipa esteja em momentos de organização ofensiva
e defensiva com o bloco muito alto. Eu vejo isto como um problema
considerando os princípios de transição ofensiva da maior parte das equipas da
competição em que estamos inseridos.
De modo a combater esta fragilidade, defini alguns princípios que em
conjunto com a “armadilha” de fora de jogo nos permitem ter o bloco alto nos
dois momentos designados de “organização”, sem correr o risco, que me
parece inevitável, de sofrer muitos golos em contra-ataque.
A experiência que tenho na competição em que estamos inseridos,
permitiu-me tirar algumas conclusões acerca da maneira como a maior parte
dos nossos adversários aproveita o momento de transição ofensiva:
Aproveitam este momento para progredir rapidamente em passe longo;
A maior parte destes lances são definidos em dois passes ou menos;
Lances individuais em que a bola é lançada pelo ar para um dos
avançados é a maior fonte de golos dos nossos adversários;
Qualquer defesa central tem capacidade e intenção de executar um
passe longo se tiver espaço;
Muitas equipas procuram o trinco para definir o jogo através do passe
longo;
Figura 18 - Zonas de maior risco de perda
de bola
98
Mediante estas conclusões definimos alguns princípios na transição
defensiva que nos permitem impedir que a bola chegue aos avançados antes
de termos a defesa e o meio-campo organizados.
Como já referi, a prioridade é estabecer a organização defensiva (1-4-3-
3) sem que os adversários tenham espaço para colocar um passe nas costas
da nossa defesa e ao mesmo tempo encurtar esse espaço temporariamente.
1. Encurtar o espaço atrás da defesa:
Na circuntância que estou a explicar, espera-se que a nossa linha
defensiva se encontre perto da linha do meio-campo com três homens (dois
defesas centrais e o defesa lateral do lado contrário ao ataque). Estes três
jogadores devem recuar até uma linha tangencial ao círculo do meio-campo.
No momento de organização ofensiva pretende-se que o guarda-redes
se encontre fora da área e damos instruções para que este recue apenas após
a equipa adversária ultrapassar a nossa linha defensiva (caso este não consiga
intercetar o passe), ou o bloco seja obrigado a recuar por consequência de
uma bola parada. Caso o guarda-redes consiga intercetar o passe para as
costas da nossa defesa tem instruções para retirar a bola do campo
imediatamente, correndo o mínimo de risco possível. Desta forma, limitamos o
espaço entre a nossa linha defensiva e o guarda-redes.
Isto permite-nos, também, em momentos que um dos defesas centrais
ou trinco tenham a bola com espaço, subir a linha defensiva para apanhar o
adversário em fora-de-jogo.
2. Reestabelecer o sistema de organização defensiva:
O único jogador que se apresenta fora da sua posição é o defesa lateral.
Pretendemos que após a definição do lance este recue imediatamente. Este
princípio pode apresentar um problema, já que há a possibilidade de o
avançado interior não estar suficientemente perto do lance para encurtar o
espaço ao jogador que recebeu a bola, tornando necessário que seja o defesa
lateral a executar esta função. Caso a responsabilidade de pressionar recaia
99
sobre o defesa lateral, o avançado interior deve recuar imediatamente e ocupar
a sua posição.
Esta medida resolve o problema da reestruturação do sistema e a
pressão no portador da bola, contudo, surge outro problema.
3. Encurtar o espaço ao adversário:
Se o avançado interior e o defesa lateral partilharem as funções que
acabei de referir, é necessário que mais um jogador se envolva neste
processo, para evitar superioridade no momento da perda de bola. O avançado
centro deve-se aproximar do defesa central mais próximo e o avançado interior
do lado contrário ao ataque marcasse o outro defesa central, enquanto cada
médio se aproxima de um jogador.
Caso o médio seja o homem
mais perto do portador da bola, este
deve pressiona-lo, ficando o extremo
encarregue da marcação em falta do
seu lado.
Estas dinâmicas estão
ilustradas na Figura 19.
Quando a perda de bola ocorre dentro da área do adversário, definimos
apenas que o jogador mais perto da bola deve pressionar, obrigando-o a jogar
mal. Caso a pressão não seja eficaz, não usamos a armadilha de fora-de-jogo,
sendo que os cinco homens mais recuados devem baixar o bloco e os cincos
mais avançados tentar cortar o lance, ou obrigar a jogar para trás para a equipa
se organizar e subir novamente o bloco.
Ao dividir o campo em três setores de profundidade, não pretendo que
os jogadores interpretem isto de forma literal. Apesar de ser possível perder a
bola em vários contextos no segundo terço do campo, consideramos para este
setor que a perda de bola durante o momento de aceleração.
Figura 19 - Funções de transição defensiva perante perda na linha
100
Se a equipa se encontra já toda no meio-campo adversário não temos
outra alternativa senão correr para trás e tentar parar o lance.
Caso aconteça enquanto a equipa está ainda
com o bloco médio, deve estar organizada como no
Figura 20.
De acordo com a nossa organização,
prevemos que possamos perder a bola nos
contextos ilustrados na Figura 21:
Novamente consideramos as dinâmicas do momento de organização
ofensiva, e concluímos que estes são os contextos em que temos mais
probabilidade de perder a bola:
Passe entre o médio e o defesa lateral intercetado;
Defesa lateral perde a bola em drible;
Dinâmicas entre o defesa lateral, médio e avançado interior;
Dinâmicas entre os médios e o avançado centro;
Em qualquer um destes casos, a perda de bola representa muito perigo
para a nossa baliza, já que três dos nossos jogadores se apresentam fora da
sua posição, estando principalmente vulneráveis no corredor lateral, visto que
os nossos defesas centrais são lentos, e neste contexto têm alta probabilidade
de defrontar um extremo rápido.
Figura 20 - Organização estrutural dos médios e
atacantes durante a organização ofensiva com
bloco médio
Figura 21 - Contextos em que é mais provável perdermos a bola
101
Posto isto, definimos em primeiro lugar que caso não fosse possível
recuperar a bola imediatamente ou fazer contenção (impedindo a progressão),
os nossos médios ou defesas laterais devem fazer falta para impedir que o
adversário dê continuidade ao lance em que tem vantagem.
A nossa resposta prioritária à perda de bola nestes contextos não é
reestabelecer o sistema. Visto que o adversário se encontra bem mais perto da
nossa baliza consideramos que impedir a sua progressão deve ser a nossa
prioridade.
Posto isto, é muito importante termos bem definido quem é o jogador
que executa pressão após a perda da posse de bola. A reestruturação do
sistema será feita após o lance ser parado.
No primeiro caso, em que o passe entre o médio e o defesa lateral é
intercetado, pretendemos que um destes jogadores corra atrás do jogador que
recuperou a bola, obrigando-o a decidir
de forma precipitada, como ilustra a
Figura 22. Para além disso, neste
momento o médio defensivo deve sair
imediatamente da linha defensiva para
fazer contenção ao portador da bola,
impedindo a sua progressão.
Pretende-se com esta organização chegar mais perto do nosso sistema
defensivo, tendo como prioridade impedir a progressão do adversário.
Caso o defesa lateral perca a bola após receber este passe e estiver a
iniciar a sua progressão em drible, a pressão deve ser efetuada de modo a
direcionar o adversário para a o corredor lateral. Na maior parte dos casos o
defesa lateral não consegue aproximar-se suficientemente rápido do adversário
ao ponto de impedir a sua progressão, por isso, esta tarefa será
desempenhada pelo avançado interior e médio, tal como a seguinte imagem
ilustra:
Figura 22 - Funções de recuperação
102
Pretende-se que o médio faça contenção ao lado
do adversário, impedindo a sua progressão para o meio,
não tentando o desarme. O avançado interior deve-se
tentar aproximar e assumir esta função, dando
condições ao médio de retomar a sua posição. Se o
adversário se conseguir aproximar da nossa defesa
antes de o avançado interior conseguir aproximar-se
dele, esta contenção passa a ser responsabilidade do
defesa central do lado do ataque. Esta contenção dá
tempo ao defesa lateral de chegar perto da bola, que
estará na sua posição de organização defensiva, como
ilustra a Figura 23.
Esta medida tem como objetivo afastar o
adversário do centro do campo e aproximar a equipa do
seu sistema defensivo. Só tentamos o desarme quando
ambos o defesa lateral e avançado interior estiverem
perto da bola, cobrindo todas as suas linhas de passe
menos o defesa lateral adversário, sendo obrigado a
jogar para trás, permitindo-nos subir a linha defensiva.
Deve haver comunicação entre o defesa central e o médio defensivo,
para determinar se é necessária a contenção do defesa cenral no lance ou não.
Caso não seja, o médio defensivo deve abandonar imediatamente a linha
defensiva para cobrir a linha de passe para o médio mais avançado da equipa
adversária.
A perda de bola durante a dinâmica entre o defesa lateral, avançado
interior e médio é a única circunstância em que não pedimos ao defesa lateral
do lado do ataque que recue imediatamente, ou tenha o avançado interior a
desempenhar esta função. Pretendemos que neste contexto, tal como na
dinâmica entre os médios e o avançado centro, que os jogadores envolvidos se
aproximem da bola, recaindo a função de desarmar sobre o jogador que está
mais avançado no campo. Tomei esta decisão mediante o espaço e o número
de jogadores que normalmente estavam envolvidos nestas situações. Tendo
Figura 23 - Dinâmicas de recuperação na linha
103
em conta que a maior parte das equipas da nossa divisão não tem grande
interesse em trabalhar situações de espaço reduzido pareceu-me ser o
momento em que podemos tirar maior proveito desta característica, tendo
todas as condições reunidas para encurtar imediatamente o espaço ao jogador
que tem a bola.
O único princípio que definimos para a transição defensiva após perda
de bola no primeiro terço, ou durante a circulação é que a reação à perda de
bola deve ser imediata e o primeiro jogador a pressionar deve ser o que se
encontra mais perto do lance.
A nossa principal preocupação na transição defensiva centra-se em
impedir a equipa adversária de cumprir os seus objetivos, que na maior parte
dos casos consistem em colocar a bola rapidamente nas costas da nossa
defesa. A minha experiência como treinador do escalão de sub-19 da 2ª
Divisão Distrital do Porto ensinou-me que é impossível manter neste momento
um bloco muito alto, visto que é praticamente impossível pressionar o
adversário imediatamente após a perda de bola.
Assim sendo, visto que a equipa sénior definiu este princípio como
obrigatório, a solução que arranjei foi recuar o bloco temporariamente, com as
dinâmicas referidas anteriormente. Em quase todos os casos procuramos fazer
contenção para obrigar o adversário a jogar para trás ou para a linha (à
exceção da dinâmica entre os médios e o avançado centro, em que este último
pode tentar o desarme por trás do jogador).
Outra observação bastante clara que tirei durante as épocas anteriores é
que quando este passe longo é executado pelo jogador que recupera a bola ou
pelo trinco, o objetivo do adversário costuma ser fazer a bola chegar ao defesa
central que coloca o passe longo de primeira.
Neste sentido, visto que já clarificamos como anulamos a primeira
hipótese, falta-nos perceber como anular a segunda. Neste momento nós
aproveitamos para reestabelecer o bloco onde se pretende que este esteja,
aproveitando este momento para tentar apanhar o adversário em fora-de-jogo.
104
O princípio final da nossa transição ofensiva é subir o bloco no momento em
que é efetuado um passe para trás.
105
Organização Defensiva
Entendemos o momento de organização defensiva como os contextos
em que a nossa equipa se encontra com o bloco subido e o adversário com a
bola controlada. Pelo conhecimento que temos do nosso campeonato, a maior
parte das equipas apresentam-se em 1-4-3-3 em momentos ofensivos, tal
como nós em momentos defensivos. Visto que o nosso grande princípio deste
momento é recuperar a bola rapidamente, resta-nos definir como vamos gerir a
inferioridade numérica no meio-campo adversário e as movimentações do
adversário.
Uma diferença entre a nossa transição e organização defensiva que
considero importante explicar aos jogadores é que no primeiro permitimos que
a equipa jogue para trás para podermos subir o nosso bloco, enquanto que no
segundo temos de obrigar a equipa a jogar para a frente e mal.
Cada jogador deve ocupar a sua zona, sendo que os defesas laterais
devem acompanhar o extremo quando ele recua, como acontece com os
defesas centrais e o avançado centro. Estes devem-se gerir mediante o lado
em que o avançado está. A tarefa dos avançados interiores é também bastante
simples, sendo que se devem posicionar de maneira a não ser possível jogar
com o defesa lateral.
A gestão mais complicada na organização defensiva é na zona central,
que depende da organização do bloco
adversário. Se jogarmos com uma equipa com
dois médios mais avançados, o nosso médio
defensivo e um dos médios devem dividir a sua
marcação mediante a zona onde estes estão.
O avançado centro e o outro médio devem
ocupar a pressão aos defesas centrais e médio
defensivo, respeitando a dinâmica ilustrada na Figura 24.
Figura 24 - Dinâmica de pressão entre o avançado centro e o médio mais
ofensivo
106
O médio defensivo nunca deve estar sem marcação ou pressão, bem
como o defesa central que possui a bola, deixando apenas o outro defesa
central livre.
Caso o adversário se apresente com dois médios recuados e um mais
avançado, o nosso médio defensivo assume a marcação do médio mais
avançado e os outros médios organizam-se como anteriormente referido,
havendo trocas dos dois lados.
Temos consciência de que haverá momentos em que o adversário se
colocará no nosso meio-campo. Definimos para esse momento um modelo de
contenção que visa a recuperação de bola entre os defesas e os médios
avançados. Caso o defesa lateral adversário suba, o avançado interior deve
acompanhá-lo, contudo, o papel defensivo deste jogador, bem como dos
restantes adversários é encurtar o espaço quando a equipa adversária joga
para trás. Esta estratégia foi criada pelo meu colega (treinador principal) e a
ideia é encurtar os espaços à frente da nossa área e todas as linhas de passe
para as costas da nossa defesa,
obrigando o adversário a jogar para
trás. Nesse momento, os avançados
tentam o desarme pelas costas do
portador da bola, ao mesmo tempo
que o nosso bloco sobe (o avançado
não precisa de ficar com a bola,
apenas desvia-la para um dos médios
que sobe com o bloco). Neste
momento, a equipa deve entrar em
ataque rápido, aproveitando o
desequilíbrio adversário.
O modelo de contenção foi
criado por mim e respeita as
dinâmicas ilustradas na Figura 25.
Figura 25 - Basculação do bloco em
organização defensiva
107
Transição Ofensiva
No nosso entender, este momento representa o período de tempo entre
a equipa recuperar a bola e garantir a sua segurança. Quero com isto dizer que
temos a posse de bola, num jogador com espaço, de frente para o jogo e com
várias opções para manter a circulação. Pretendemos também que a equipa
altere a estrutura antes de atacar os espaços mais avançados do campo.
O grande princípio deste momento é então garantir que mantemos a
posse de bola. Já expliquei, no subcapítulo da organização ofensiva, quais os
requisitos para o conseguir, bem como as alterações na estrutura. O outro
aspeto que considero importante para concretizarmos o nosso objetivo é a
alteração da amplitude da equipa, o que deve ser feito enquanto mantemos a
posse.
O que mais me preocupa são os momentos em que o adversário é
desarmado perto da nossa área e tem muitos homens no nosso meio-campo. É
preciso alterar a mentalidade dos jogadores perante a recuperação da posse,
já que muitos jogadores ainda estão habituados a aliviar a bola.
Para o conseguir, defini uma estratégia que nos permite manter a posse
de bola sob pressão e ter condições de procurar um jogador alvo com espaço.
Os nossos princípios defensivos implicam que os médios se aproximem
bastante das linhas, dando-lhes mais responsabilidades defensivas do que os
avançados interiores. Foi assim definido para que estes possam servir como
jogadores alvo nas nossas transições ofensivas.
No momento da recuperação estes devem procurem o espaço mais
interior entre os defesas e os médios adversários. Colocam-se de costas para a
baliza e ter espaço suficiente para segurar a bola e jogar num defesa que tenha
espaço. Esperamos que esta deslocação não seja imediata, por isso, definimos
um posicionamento para os jogadores que lhes permite colocar a bola com
qualidade num avançado interior.
108
O aspeto mais importante deste posicionamento é a direção para que os
jogadores estão virados, sendo que os médios devem estar de frente para os
nossos defesas e os defesas de frente para o jogo, deixando a
responsabilidade de colocar a bola num dos jogadores alvo para os defesas.
A função dos médios seria apenas colocar a bola em condições para os
defesas o fazerem, demorando o tempo suficiente para atrair a pressão. A bola
deve ser colocada em condições de os defesas conseguirem fazer o passe de
primeira.
Outro aspeto importante neste posicionamento é que os jogadores
ocupem linhas diferentes de largura, como ilustrado na Figura 26.
No momento em que a bola é jogada no avançado anterior a equipa
deve seguir as instruções para a alteração da estrutura.
Temos outra referência para quando os jogadores não se sentem
confortáveis a jogar a bola pelo chão, podendo colocar a bola pelo ar no
avançado que tenta cabecear para os avançados interiores, que o apoiam no
posicionamento referido.
Figura 26 - Ocupação dos corredores em largura durante a organização defensiva
109
3.1.5. Treino
O pilar da estruturação dos nossos treinos a longo prazo é uma
distribuição dos momentos de jogo. Sinto que é muito importante adequar o
planeamento do treino mediante as condições em que o trabalho é feito.
No nosso caso começámos a trabalhar, antes da época começar, com:
Um modelo de jogo base a seguir;
As nossas ideias de jogo;
Informações provenientes de uma época a trabalhar com doze dos
jogadores do plantel;
Informações provenientes de breves observações a sete jogadores que
já faziam parte do clube;
Conhecimento superficial acerca de grande parte dos adversários contra
quem competimos.
Perante o contexto em que trabalhamos decidimos dividir a época em
cinco subfases. Pretendemos em cada uma estabelecer um período em que
trabalhamos os quatro momentos de jogo.
A primeira subfase consiste na primeira semana de treino. O nosso
objetivo é dar a conhecer aos jogadores os princípios mais gerais do Modelo de
jogo. A segunda decorre entre as duas semanas seguintes, período este em
que apresentamos os princípios mais específicos de cada momento. As
semanas restantes do período pré-competitivo constituem a terceira subfase.
Aproveitaremos este momento para desenvolver as competências exigidas nos
contextos de jogo criados pelos nossos princípios.
Durante estas duas primeiras subfases somos mais rigorosos com os
jogadores, dando-lhes menos liberdade criativa. O que é importante neste
período é que conheçam os contextos que vão encontram e como os criar,
para numa fase posterior poderem adquirir o conhecimento e competências
específicas para resolver os problemas criados pelos mesmos.
110
No início da época planeámos os treinos todos até à terceira subfase.
Posteriormente, ainda antes do campeonato começar, avaliamos o
desenvolvimento da equipa, ajustamos o Plano de Macrociclo consoante as
suas necessidades e estabelecemos que princípios devem ser mais frequentes
no nosso plano de trabalho durante o período competitivo.
A quarta subfase constitui a primeira volta da nossa competição. Uma
parte dos treinos é composta por exercícios que visam a introdução de
princípios e dinâmicas não trabalhadas anteriormente e a outra parte visa
exercícios que apurem as falhas mais importantes do jogo anterior. Visto que
não temos mais do que algumas informações sobre as características dos
adversários, não podemos, nesta subfase, dedicar muito tempo dos nossos
treinos a preparar estratégias de ação para os jogos que finalizam cada
semana de trabalho.
A última subfase constitui a segunda volta da nossa competição.
Durante este período, dividimos o tempo de treino entre princípios a trabalhar,
definidos pela observação semanal e adaptar o nosso modelo de jogo aos
adversários, criando estratégias defensivas e ofensivas específicas.
No meu entender, desta forma apresentamos e interiorizamos os
princípios de jogo de forma progressiva, aproveitando os meios que temos para
trabalhar e o timing em que os podemos usar. Tendo em consideração que o
plantel está sempre aberto, o número de jogadores é muito instável e só temos
informações específicas dos adversários no segundo jogo em que os
defrontamos.
Relativamente à calendarização dos jogos de preparação planeámos
marcar cinco nas semanas antecedentes ao início da época. O ideal seria jogar
contra três equipas de reputação inferior à nossa, que jogassem com um bloco
baixo, e duas equipa de reputação similar ou mais alta que a nossa, uma com
um bloco recuado e outra com um bloco alto e pressionante.
O plano do Macrociclo ilustrado no anexo 1 representa o planeamento
das três primeiras subfases.
111
3.1.5.1. Primeira subfase
Os treinos desta subfase foram criados tendo em consideração a
instabilidade no número de jogadores que treinam. Os exercícios visam apenas
a introdução de alguns princípios gerais. Nesse sentido, os contextos criados
todo o espaço de treino e muitos jogadores.
No primeiro treino, dividimos a equipa em dois e deixamos os jogadores
jogar livremente. De maneira a começar a incentivar um jogo mais rico em
passes em largura, deve ser colocada uma baliza de futebol de sete em frente
à de futebol de onze, em cima da linha de meio-campo, para o jogo ser
disputado num espaço com mais largura do que profundidade.
Os treinos restantes também ocupam todo o espaço de treino, com
algumas condicionantes. Definindo apenas o número e posições dos jogadores
de cada equipa controlamos algumas circunstâncias do jogo. Se a intenção for,
como é o caso, trabalhar o momento de organização ofensiva com os setores
defensivo e médio e organização defensiva com o setor médio e atacante,
damos superioridade numérica à primeira, para que passe a maior parte do
exercício com a posse de bola.
Se, por outro lado, pretendermos trabalhar as transições ofensiva e
defensiva com as mesmas equipas, podemos alterar o objetivo do exercício de
marcar golo para executar dez passes sem que o adversário toque na bola,
exaltando a necessidade dos avançados recuperarem a bola rapidamente e os
defesas de manterem a posse de bola perante a pressão adversária.
Os jogadores que não começam no exercício executam treino de
coordenação. O objetivo é não ter nenhum jogador parado e dividir o tempo
que cada passa no exercício de campo com os colegas que estão de fora,
trocando cada vez que os que estes terminam as sequências de passos do
treino de coordenação.
112
3.1.5.2. Segunda subfase
Esta subfase corresponde às segunda e terceira semana de trabalho.
Neste período, pretendemos trabalhar os quatro momentos de jogo,
introduzindo alguns princípios mais específicos.
A ideia dos meus colegas era estabelecer um segundo ciclo que
ocupasse o restante período pré-competitivo. Eu sugeri a criação desta subfase
porque em quase todos os momentos esperamos dos jogadores
comportamentos diferentes dos que normalmente fazem parte do seu
reportório.
Se os quatro momentos fossem distribuídos pelo restante período pré-
competitivo, disputaríamos o primeiro jogo de preparação com apenas um
momento de jogo treinado e os dois últimos com algum trabalho sobre todos os
momentos. Apesar de os resultados dos jogos de preparação não terem
grande relevância, sinto que é importante para a motivação dos jogadores
conseguirem bom desempenho contra os seus adversários. Para isso,
considero que é importante ter um jogo coerente e minimamente fluido, ou seja,
é preciso ter alguma ideia dos princípios mais gerais de todos os momentos de
jogo. Desta forma, os jogadores abordam os jogos de preparação sabendo o
que a equipa deve procurar fazer nos diferentes momentos de jogo.
Visto que a equipa sénior não treina durante o mês de Agosto, treinámos
quatro vezes por semana, durante uma hora e meia, ou seja, um total de oito
treinos, com o primeiro jogo de preparação no fim da segunda semana. Um
cuidado que tivemos para este período foi aumentar a intensidade dos treinos
progressivamente.
O nosso objetivo é apresentar os subprincípios que dão critério aos
grandes princípios de cada momento, para na subfase seguinte desenvolver as
competências necessárias para ter sucesso a executá-los.
113
Quanto à distribuição das subdinâmicas, é dedicado o primeiro treino e
metade do segundo à tensão de contração, a segunda metade do segundo
treino e todo o terceiro a treinar sob a subdinâmica de duração de contração. O
último treino da semana é dedicado a velocidade de contração. Esta
distribuição serve para todas as semanas de treino de Agosto.
Estabelecemos dois dias para cada momento e decidimos começar pela
transição ofensiva porque entendemos que este é o momento em que
procuramos alterar mais drasticamente a mentalidade dos jogadores.
Durante esta subfase, os treinos foram estruturados da seguinte forma:
os jogadores entram no campo e organizam dois “meínhos”, um hábito que a
equipa já tinha de anos anteriores. Este período também nos é útil para eu
conseguir colocar o material onde preciso, visto que não há intervalo entre
treinos. Ocupámos a primeira meia hora de treino com este “meínho”,
aquecimento e “jogos” lúdicos relacionados com a subdinâmica específica de
cada dia.
Posteriormente, dividimos a última hora de treino em dois ou três
exercícios.
O nosso foco nos dois primeiros treinos foi desenvolver as ligações entre
os defesas e os médios no momento de transição ofensiva. Tendo em conta o
estilo de jogo a que o plantel estava habituado, acho que é importante cortar as
ligações que os defesas e médios tinham com os avançados no momento que
recuperamos a bola. Os exercícios foram criados no sentido de colocá-los num
contexto em que começam sem a bola e, quando a recuperam, têm objetivos a
curta distância. Também queremos dar uma ideia clara da alteração da
estrutura neste momento, preparando os treinos seguintes de organização
ofensiva.
Quando treinamos sob subdinâmica de tensão, os exercícios são
baseados em jogos reduzidos de 1x1, 2x2, 3x3 ou 4x4. São condicionados de
modo a criar os contextos de jogo em que pretendemos que equipa desenvolva
a sua capacidade de resolução de problemas. De maneira a exemplificar como
pretendemos treinar um certo princípio, passarei a descrever um exercício
114
executado neste dia, com o intuito de melhorar os processos de remoção da
bola da zona de pressão:
O plantel é dividido em equipas de dois e três jogadores. As equipas de
três são compostas por dois defesas (um lateral e um central ou dois centrais)
e um médio (o médio defensivo faria preferencialmente com os defesas
centrais e os restantes médios com pelo menos um defesa lateral na equipa).
As equipas de dois são compostas por dois avançados.
São criados três espaços, segundo a
Figura 27.
Os dois campos na linha são ocupados
pelas equipas com um defesa lateral e um
central, e as equipas só com defesas centrais
lateral jogam no meio. Visto que a maior parte
dos nossos adversários não envolve muitos
homens no ataque, pretendemos que os dois
setores mais recuados consigam, numa fase
inicial, fazer a transição ofensiva sem o apoio
dos avançados interiores.
Normalmente, distinguimos os jogos reduzidos em dois tipos: cíclicos,
em que a bola é reposta pela equipa que sofre (como num jogo de futebol) ou
sequenciais, quando independentemente de quem cumpre o objetivo, a bola
parte sempre da mesma equipa.
Posto isto, este exercício é executado de forma sequencial. A bola sai
sempre dos avançados na linha mais recuada do quadrado e devem tentar
resolver uma situação de 2x2 (o médio está fora do processo defensivo). O seu
objetivo é, para quem joga na linha, ter a bola controlada na zona marcada a
tracejado no fim do quadrado. Os avançados que jogam no meio devem tentar
fazer golo após saírem do quadrado. A ideia é, contudo, ter mais atenção à
equipa dos defesas quando ganham a bola. Nesse momento, o médio entra no
exercício e o objetivo da equipa que joga na linha é ter a bola controlada dentro
das zonas a tracejado na lateral e na frente do quadrado. Acho importante
Figura 27 - Exercício de transição ofensiva num dia de tensão de
contração
115
frisar que estes não podem entrar no quadrado em drible, tendo de abrir
progressivamente e receber a bola lá. Quem joga no meio deve tentar fazer
golo numa das duas mini-balizas.
O sistema de pontuação funciona a favor da equipa atacante, tendo em
conta que os seus objetivos são mais difíceis. Por cada golo marcado ou
espaço explorado a equipa ganha um ponto. Os defesas também pontuam
cada vez que concretizam os seus objetivos, contudo, cada vez que não
conseguem perdem um ponto, com o propósito de incentivar a que estes não
corram tantos riscos e tenham mais calma nas suas decisões.
Um aspeto importante a relembrar aos jogadores é que no jogo, se o
lateral tiver oportunidade de levar a bola para a linha, deve, contudo, o objetivo
do exercício é trabalhar os casos em que não têm espaço para o fazer,
incentivando a procurar outras soluções.
Este exercício deve ser executado durante cerca de vinte e cinco
minutos. Cada equipa deve fazer três séries de três minutos e meio, com três
minutos e meio de repouso entre séries. Assim, nos campos em que há duas
equipas repetidas, alternam o tempo de execução e repouso. Desta maneira,
podemos incentivar a intensidade alta durante a execução, graças ao grande
tempo de repouso.
Nos dias em que trabalhamos a saída de pressão, o “meínho” é feito de
maneira deferente. Visto que os processos de remoção da posse exigem
muitas movimentações em espaços curtos e nas costas dos adversários, decidi
contrariar o “meínho” estático que os jogadores fazem. Coloquei quatro mecos
em quadrado, com sete passos de largura. Há três jogadores por fora e um no
meio. Quem está por fora não pode dar a linha de passe diagonal, podendo
apenas receber a bola se estiver em cima de um meco. Assim, têm de estar
sempre em movimento, dando duas linhas de passe ao portador da bola.
116
Outro exercício que usámos para trabalhar a
transição ofensiva, mais especificamente a alteração da
estrutura perante a posse de bola executado num dia
em que trabalhamos a duração de contração, é o
seguinte: é executado de maneira sequencial com duas
equipas, criando um espaço retangular como ilustrado
na Figura 28. Uma equipa deve ter sete jogadores
(defesas e médios) e a outra seis (médios e atacantes).
A bola começa sempre da equipa de seis e o seu objetivo é marcar golo,
atacando a baliza por dentro do retângulo. O objetivo da outra equipa é
conquistar a posse de bola e colocar todos os jogadores fora do quadrado,
representando a nossa estrutura neste momento. Posteriormente, a equipa
pontua por cada passe de primeira efetuado pelos médios dentro do espaço
definido.
Quanto aos treinos de organização ofensiva, pretendíamos melhorar a
capacidade de manter a posse no nosso meio-campo, envolvendo os sete
jogadores mais recuados (sem contar com o guarda-redes). Para além disso,
pretendíamos também introduzir o conceito de momento de aceleração.
De maneira a trabalhar a manutenção da posse de bola, tínhamos por
hábito realizar um exercício que chamamos “meínho de três equipas”,
geralmente utilizado em dias de subdinâmica de duração:
Consiste na criação de três espaços, dois quadrados, com vinte passos
de largura, separados por um retângulo de cinco passos. São criadas três
equipas de seis (com os quatro defesas e dois médios ou três médios e três
avançados), que se devem colocar uma em cada espaço. A equipa que está no
retângulo está no meio, e a bola é entregue a uma das outras equipas. O
objetivo da equipa com bola é fazer dez passes e colocar a bola no outro lado.
A equipa do meio deve pressionar com três homens (que podem vir a ser
quatro ou cinco numa fase posterior). Caso ganhe a bola deve colocá-la do
outro lado, ocupando a partir daí o quadrado onde recuperou a bola. A equipa
que perde a posse passa para o meio.
Figura 28 - Exercício de transição ofensiva num
dia de tensão de contração
117
O momento de aceleração foi maioritariamente trabalhado
através de jogos reduzidos de 3x3, que ocuparam durante a época
grande parte dos nossos treinos. Os espaço usado para estes
jogos está ilustrado na Figura 29.
Numa fase inicial, definimos como objetivo do exercício
entrar no espaço a tracejado. Posteriormente, colocámos uma
baliza na profundidade deste espaço, obrigando os jogadores a
marcar de primeira quando entram no mesmo. Com isto pretendíamos que num
espaço cada vez mais reduzido a equipa conseguisse colocar a bola no defesa
lateral. Quando queremos treinar o momento de aceleração no nosso meio-
campo as equipas são constituídas por dois defesas (um lateral e um central) e
um médio. Quando o trabalho é direcionado para o meio-campo adversário, os
jogadores envolvidos são um defesa lateral, um avançado interior e um médio.
Aproveitamos este exercício para automatizar as dinâmicas de momento de
aceleração referidas anteriormente.
Relativamente à transição defensiva, a nossa principal preocupação era
melhorar a reação da equipa à perda de bola, procurando dificultar a tarefa do
portador da bola. Tentámos também desenvolver individualmente os nossos
defesas no que os possa ajudar a defender o espaço nas suas costas
(cabeceamento, recuperação em velocidade, desarme por trás, etc…). Um
exercício que realizámos muitas vezes durante toda a época, com o propósito
de estimular uma reação à perda de bola, consiste em colocar uma baliza de
futebol de sete em cima da linha da área, de frente para a baliza de futebol de
onze. A equipa é dividida em dois, formando duas filas no poste esquerdo de
cada baliza. Destas filas deve sair um ou dois jogadores (dependendo se o
exercício está a ser feito em 1x1 ou 2x2) que procuram finalizar na baliza dos
adversário. Não há recargas, para que logo após o primeiro remate esteja a
sair um jogador da outra equipa, que deve ser rapidamente pressionado. Ao
colocarmos as balizas muito perto, pretendemos que os jogadores rematem
mal tenham oportunidade, obrigando a uma reação muito rápida à perda de
bola. Este treino deve ser executado nos dias em que trabalhamos sob a
subdinâmica de tensão.
Figura 29 – Meínho de
três equipas
118
Outro exercício que executámos muitas vezes com o mesmo propósito
foi o seguinte: é criado um quadrado pequeno, com sete passos de cada lado.
São colocadas quatro mini-balizas entre os cones e são criadas três
equipas de dois. Dentro do quadrado, duas das equipas tentam manter a posse
de bola contra outra equipa, criando uma situação de 4x2. Quando a equipa
que está no meio ganha a bola deve tentar marcar golo numa das mini-balizas.
Contamos o número de golos marcados e falhados.
Os treinos de organização defensiva visavam a organização do bloco.
Um exercício que usámos nos treinos iniciais para poder organizar a pressão
foi o seguinte: é utilizado todo o espaço de treino e são colocadas duas mini-
balizas no meio-campo, bem abertas. As equipas devem ser constituídas pelos
defesas e médios ou médios e atacantes, gerando um jogo de 7x6, com
superioridade na equipa que não tem atacantes O objetivo desta equipa é
marcar golo nestas duas mini-balizas, pontuado um ponto por cada golo. O
objetivo da equipa atacante é recuperar a bola e marcar golo, pontuando um
ponto por recuperar a bola e três por marcar golo.
119
3.1.5.3. Terceira subfase
Durante o mês de setembro, a equipa treinou apenas três vezes por
semana, durante uma hora e meia, de maneira a satisfazer as necessidades do
plantel sénior. Definimos por isso uma subdinâmica para cada dia, estruturando
cada treino da mesma forma que na subfase anterior.
As quatro semanas dedicadas a esta subfase visam a aquisição de
competências para resolver os contextos executados nas semanas anteriores.
Nesse sentido, começamos a dar mais liberdade criativa aos jogadores, para
que estes consigam autonomamente arranjar soluções para os problemas
criados. Ainda assim, temos um conjunto de dinâmicas (referidas na
subcapítulo do Modelo de Jogo) que podem ser apresentadas e treinadas pelos
jogadores, dentro do contexto dos exercícios criados.
Estes estão, também, passíveis a novas condicionantes, que são
estabelecidas no sentido de ajustar os problemas anotados na observação
semanal.
As duas últimas fases dividem o período competitivo, cujo planeamento
é feito durante o mesmo. Os princípios não associados à correção de erros do
último jogo da quarta subfase está representada no anexo 2.
120
3.2. Implementação das atividades
Este subcapítulo visa descrever a execução dos treinos e jogos até 15
de Novembro de 2015, oitava jornada.
As condições em que o estágio é efetuado dificultam bastante o
planeamento dos treinos. O problema surge, a meu ver, pelo principal princípio
e lema do clube: “Um clube de Todos, para Todos”. Este lema caracteriza bem
a cultura do clube. A intenção é ser um clube justo e acessível a todas as
classes, apoiando atletas que não têm possibilidades de pagar as suas
despesas. Toda gente tem direito de fazer parte do clube. No entanto, esta
cultura foi mal interpretada.
Durante as minhas épocas no clube percebi que a falta de compromisso
dos atletas é um problema sério, que dificulta bastante o trabalho dos
treinadores. Durante o período pré-competitivo chegámos a ter vinte e dois
atletas, todos inscritos. No início do período competitivo, tínhamos definido
vinte jogadores que participaram de forma assídua nos treinos. Numa fase
posterior da competição, o nosso plantel era constituído por dezasseis
jogadores, para no final da época acabar com dezoito.
No meu entender, o fato de o clube ter, pelo seu lema, de aceitar
qualquer jogador que queira integrar uma das suas equipas, não permite ter
aspirações competitivas muito altas, por várias razões.
Um caso que tivemos concreto desta época foi o do nosso inicial
capitão. A meio da época decidiu que queria sair do clube, para um clube de
igual dimensão que lhe prometeu participação no plantel sénior. Este jogador,
mesmo sendo o capitão da equipa, abandonou-nos durante o campeonato
como já tinha feito noutros escalões, sabendo que caso quisesse voltar tinha o
seu lugar no clube, o que aconteceu, apesar da minha oposição.
121
A experiência que tenho dos últimos anos mostrou-me que a
instabilidade nas equipas do nosso clube é algo comum. Muitos jogadores
abandonam a época a meio por várias razões, voltando mais tarde. Como
treinadores, somo obrigados a aceitar para treinar qualquer jogador que num
treino queira participar, tendo apenas o direito de decidir quem joga. Como é
óbvio isto dificulta bastante o processo de treino.
A nossa equipa técnica tem por hábito conduzir os treinos da seguinte
forma:
- no início do treino, eu coloco o material no local para os exercícios a
executar, enquanto os meus colegas acompanham os jogadores nos
“meínhos”. Posteriormente, dou o aquecimento aos jogadores e os três
orientamos os “jogos lúdicos”. De seguida, a equipa é dividida, havendo
sempre jogadores que não enquadram a tempo inteiro nos exercícios com mais
teor tático. Estes exercícios são conduzidos por mim e por outro meu colega,
sendo que o terceiro fica com os exercícios com menos teor tático.
De maneira a avaliar a evolução da nossa equipa em todos os
princípios, usamos dois parâmetros: as pontuações dos exercícios de treino e a
observação feita aos jogos efetuados.
A análise dos jogos é feita por mim. Enquanto desempenhei a função de
treinador adjunto, era da minha responsabilidade filmar os jogos e fazer a
posterior análise, definindo que princípios deveriam ser novamente trabalhados
de acordo com as indicações do treinador principal.
A pontuação dos exercícios é algo a que damos muita importância. Não
só permite manter alta competitividade no treino, como nos possibilita
determinar que jogadores ou setores têm mais capacidade para executar as
funções pretendidas.
122
3.2.1. Operacionalização da primeira subfase
O objetivo desta semana de treino é ter a oportunidade de observar as
habilidades dos novos jogadores do plantel e de que maneira estes se
enquadram com os jogadores que já jogavam connosco no ano anterior.
Aproveitámos também este período para dar a entender aos jogadores os
grandes princípios do nosso modelo de jogo.
A ideia que pretendi transmitir é a existência de algo mais importante do
que cada jogador, o Modelo de Jogo. Para haver uma consciência coletiva de o
que é, em cada momento, o jogo, tem de haver princípios que nos orientam. Os
jogadores devem executar o Modelo de Jogo porque este foi criado com
intenção de exaltar o que há de melhor neles. É sobre este pacto que
propomos aos jogadores um jogo de qualidade, com posse de bola e
oportunidades ofensivas.
Tentámos não parar muitas vezes o treino, mantendo-nos dentro do
campo a dar indicações breves aos jogadores. À medida o fazíamos, estes
tinham tendência a falhar menos passes. Isto aconteceu porque nesta fase
procurávamos incentivar os jogadores a cometer menos riscos e jogar pelo
seguro. No entanto, marcavam também menos golos e perdiam mais bolas
porque demoravam mais a decidir.
Apesar da distribuição dos momentos pelos dois dias, o nosso maior
feedback incidiu sobre as situações de transição ofensiva, já que este era o
aspeto que mais nos preocupava.
123
3.2.2. Operacionalização da segunda subfase
Esta subfase reporta-se às segunda e terceira semanas de trabalho. O
período tratado visa uma abordagem, ainda breve, a princípios de jogo mais
específicos. Pretendemos ter a equipa minimamente preparada, em todos os
momentos de jogo, para o primeiro jogo de preparação que conclui estas duas
semanas de treino.
Os treinos de processo ofensivo visavam o trabalho dos defesas e
médios. Posto isto, esperávamos que nos exercícios de treino estas equipas
tivessem melhores resultados. O primeiro momento trabalhado foi a transição
ofensiva, mais especificamente, os processos para tirar a bola da zona de
pressão e a alteração da estrutura para a organização ofensiva.
Os exercícios que visavam trabalhar a remoção da bola da zona de
pressão tiveram pontuações bastante baixas, por parte de ambas as equipas.
Relativamente à alteração de organização estrutural, sinto que os jogadores
adquiriram muito bem e rapidamente as movimentações necessárias para o
fazer.
Os dois treinos seguintes visavam o trabalho sobre a organização
ofensiva. Pretendíamos introduzir as dinâmicas de circulação de bola e do
momento de aceleração. De maneira reforçar a manutenção da posse,
decidimos trabalhar apenas as dinâmicas de aceleração no nosso meio-campo,
continuando a trabalhar maioritariamente com os defesas e médios.
As equipas com jogadores destes dois setores conseguiram resultados
muito satisfatórios nos exercícios de posse de bola pontuando sempre mais do
que os adversários, bem como nos exercícios relativos ao momento de
aceleração.
Convém ter a noção de que no treino do momento de aceleração os
exercícios foram executados em superioridade numérica, num espaço muito
124
grande, de maneira a promover ações de sprint. Este fator facilita os resultados
favoráveis nestes exercícios.
Na semana seguinte, o nosso foco estava nos médios e atacantes.
Começámos a trabalhar o momento em que perdemos a bola, que
pretendemos que equipa seja rápida a reagir, tentando dar o menor espaço
possível ao adversário, no menor tempo possível. Estes treinos tiveram alta
intensidade, ao que tivemos de aumentar os tempos de recuperação dos
exercícios, com o intuito de manter essa intensidade. Os jogadores reagiram
bastante bem às nossas ideias relativas a este momento, tanto no primeiro dia
como no último. Ainda assim, as pontuações atingidas não foram muito altas.
Os dois dias a meio da semana visavam o trabalho sobre a organização
defensiva. Estes foram os treinos em que a equipa demonstrou piores
resultados. O nosso objetivo era explicar aos jogadores como devemos manter
o adversário sob pressão em todos os momentos. Os exercícios relativos a
este trabalho envolviam maioritariamente situações de inferioridade numérica e
pouca posse de bola para os jogadores que tínhamos mais atenção (médios e
atacantes). Os jogadores demonstraram-se desmotivados e por isso
impacientes na pressão. Foi bom notarmos a vontade dos jogadores de
quererem ter a bola, contudo, não foi fácil organizar a pressão.
Podemos tirar duas conclusões acerca do fato de termos obtido baixas
pontuações nos exercícios desta subfase: a equipa estava com pouca eficácia
nos processos pretendidos, no entanto, notou-se a intenção de executá-los.
Não podemos esperar que os jogadores demonstrem uma boa performance no
início da época, ainda para mais quando lhes pedimos comportamentos a que
não estão habituados.
A nossa atenção e feedback foram dedicados às intenções dos
jogadores, premiando as boas decisões, criticando as más e desculpando as
más execuções técnicas.
Os jogadores demonstraram boa abertura aos princípios apresentados e
vontade de adquirir as competências e conhecimento específico para os
executar.
125
Esta subfase foi concluída com o primeiro jogo de preparação.
Infelizmente, não foi possível calendarizar jogos nas condições ideais para nós,
conseguindo apenas marcar quatro jogos, todos com equipas de qualidade
similar ou inferior à nossa e que jogavam com organização defensiva em bloco
baixo.
O primeiro jogo foi disputado fora, a 24 de Agosto de 2014, contra o
Clube Desportivo dos Outeiros, uma equipa do futebol popular de Espinho.
Nesta fase, já tínhamos feito dois treinos e meio a trabalhar cada momento de
jogo. A equipa já tinha uma noção do estilo de jogo que pretendíamos jogar,
não tinha, contudo, as competências e conhecimento específico para resolver
as situações que lhes eram colocadas em jogo.
As nossas principais anotações para os jogadores foram não chutar a
bola para a frente sem critério, ter em atenção ao momento de jogo em que
estão e quais as suas funções. Pedimos também para jogar sem medo de ter a
posse de bola, desafiando-os a manter a posse no nosso meio-campo durante
algum tempo antes de progredir para o ataque.
Tirei algumas conclusões sobre este jogo que representam uma
avaliação inicial da equipa em campo:
Transição Ofensiva:
o Os nossos defesas centrais mostraram-se muito eficazes neste
momento, jogando a maior parte das vezes com o guarda-redes e
dando amplitude muito rapidamente;
o Ambos os guarda-redes cumpriram bem as suas funções neste
momento;
o Os defesas laterais demonstraram alguma dificuldade neste
momento;
o Todos os jogadores do meio-campo portaram-se muito bem neste
momento;
o Os nossos avançados tiveram um participação indireta, mas
importante, na recuperação de bola;
Organização Ofensiva:
126
o Uma nota importante para este momento é que o adversário
colocou apenas um homem a pressionar os nossos três homens
de trás, colocando os extremos a marcar os defesas laterais e os
três médios no seu meio-campo;
o O nosso guarda-redes esteve particularmente bem neste
momento, mantendo muito bem a posse de bola para a nossa
equipa, conseguindo inclusivamente colocar passes nos defesas
laterais; a única anotação feita à sua performance neste momento
foi não encurtar o espaço atrás da defesa quando todo o nosso
bloco está no meio-campo adversário;
o Os defesas centrais e médio defensivo conseguiram gerir bem a
pressão adversária neste momento, conseguindo ter o avançado
adversário de um lado e a bola do outro contudo, neste momento
decidiam mal, jogando quase sempre a bola para as costas da
defesa;
o Os defesas laterais reagiram mal à pressão adversária, acabando
por tentar explorar quase sempre o espaço nas costas da defesa
adversária; Das poucas vezes que recuaram foram forçados a
jogar para trás, já que era difícil jogar com o meio-campo;
o O fato de o adversário colocar apenas um homem na frente
implica que forma uma linha de cinco para a nossa linha de
quatro, o que se revelou bastante eficaz para bloquear a
participação do nosso meio-campo neste momento;
o Visto que os avançados ainda não tiveram muito treino neste
momento, e o que tiveram envolve o defesa lateral ter bola, a sua
participação foi também bastante escassa neste jogo;
o Quando o adversário subiu a pressão, a equipa não foi capaz de
manter o bloco;
Transição defensiva:
o O coletivo mostrou-se muito eficaz neste momento, visto que os
avançados reagiram muito bem à perda de bola, resultando em
recuperações rápidas para a nossa equipa;
Organização Defensiva:
127
o No que toca a este momento, a nossa equipa mostrou-se um
pouco desconcentrada, visto que sempre que o jogo parava e o
adversário mudava o comportamento do seu bloco estes não
acompanhavam.
Vencemos o jogo por diferença de dois golos. Apesar de estes terem
surgido de lances individuais ou erros do adversário, notámos na equipa
algumas intenções certas e percebemos as que temos de trabalhar mais. O
único golo que sofremos foi a partir de uma bola parada, algo que ainda não
treinamos.
Durante o período em que fui treinador adjunto, era da minha função
filmar os jogos. Isto permitia-me fazer uma análise bem detalhada dos
comportamentos dos nossos jogadores. Com o vídeo dos jogos, fazia também
uma estatística individual da performance dos jogadores. O anexo 3 demonstra
os primeiros quinze minutos dos cincos jogadores mais recuados no primeiro
jogo de preparação.
128
3.2.3. Operacionalização da terceira subfase
Neste momento, a maior parte do plantel parece já ter percebido em que
sentido pretendemos desenvolver a equipa. Quero com isto dizer que apesar
de estarem ainda longe de ter as competências e o conhecimento específico
para executar o modelo de jogo, demonstram algumas intenções de acordo
com o que é pretendido.
Esta subfase visa uma repetição mais intensa dos princípios
anteriormente trabalhados. Perante as observações do último jogo, decidimos
fazer algumas alterações no planeamento dos treinos, que podem ser
consultadas no anexo 4.
As alterações efetuadas não implicam a reestruturação completa das
unidades de treino. Apenas visa a repetição de alguns dos exercícios já
executados, com pequenas condicionantes para satisfazer as necessidades
mais urgentes.
Após o último jogo, concluímos que a equipa conseguiu, como
prevíamos, passar a maior parte do jogo em organização ofensiva, graças às
evoluções nos processos de transição ofensiva. A alteração da estrutura e
alteração de amplitude pareçam ser dois princípios bem assimilados. A saída
da zona de pressão parece estar bem assimilada quando a bola é recuperada
na zona central do campo, enquanto que nos corredores laterais, claramente,
precisa de mais trabalho.
Os processos de organização ofensiva parecem ter algumas falhas.
Apesar de termos demonstrado boa capacidade de manter a posse de bola,
estávamos a fazê-lo na zona errada do campo. Quando o bloco adversário
subia, os defesas recuavam muito. Mesmo quando o bloco não era muito
pressionante, a nossa posse era feita entre os defesas centrais, o médio
defensivo e o guarda-redes, deixando os médios e os defesas laterais fora do
processo. No momento em que podíamos acelerar o jogo recorríamos quase
129
sempre a passe longo. Acho que esta reação é normal, tendo em conta que os
jogadores, têm apenas meio-campo para treinar, procurando sempre os
espaços mais recuados. Temos alguma dificuldade em ligar o nosso jogo entre
os quatro jogadores mais recuados (incluindo o guarda-redes) e o resto da
equipa.
Perante estas conclusões decidimos dedicar mais tempo à organização
ofensiva e menos à transição ofensiva. Trabalhámos este momento durante
dois dias, em que insistimos na saída da zona de pressão quando a bola é
recuperada nos corredores laterais. Quanto à organização ofensiva, obrigámos
os jogadores, nos exercícios de circulação, a jogar fora da área e sem usar o
guarda-redes. Os exercícios de aceleração de jogo foram iguais aos
executados anteriormente.
Na organização defensiva estivemos preocupados com a manutenção
da pressão nos exercícios, o que nos levou a diminuir os tempos de execução
e aumentar os tempos de recuperação, de maneira a permitir mais pressão em
todos os exercícios.
Estas quatro semanas foram inteiramente dedicadas à repetição de
exercícios já executados anteriormente. A equipa parece já ter uma noção do
modo como queremos jogar, contudo, não é, ainda, capaz de arranjar soluções
para os problemas que surgem nos contextos de jogo. Neste período, tentamos
dar aos jogadores muito tempo de repetição dos princípios que revelaram mais
falhas, como o momento de aceleração da equipa, que se apresentava neste
momento como o nosso maior problema.
Visto que só conseguimos marcar quatro jogos de preparação, a única
semana em que não tivemos jogo foi a primeira desta subfase. Vencemos
todos os jogos amigáveis, tendo como último resultado sido de 5-0 sobre AD
Argoncilhe.
Durante este período, a equipa revelou grandes melhorias,
principalmente no que toca aos processos de organização ofensiva. Os
jogadores envolvidos no momento de aceleração começaram a demonstrar
resultados cada vez mais eficazes. Posto isto, começamos a juntar os
130
avançados interiores aos defesas laterais, de maneira a desenvolver as
dinâmicas de aceleração no meio-campo adversário.
Relativamente às dinâmicas de manutenção de posse de bola, focámo-
nos em tornar a equipa independente do guarda-redes e usar mais os médios,
perdendo o medo de jogar por fora da pressão adversária. Durante esta fase,
os nosso guarda-redes passaram a fazer um dos treinos (segunda-feira) com a
equipa sénior.
Fomos aumentando o número de jogadores a pressionar, de maneira a
dificultar a manutenção da posse. No final desta subfase os dois setores mais
recuados mostravam-se capazes de manter a posse em inferioridade numérica
(com o adversário desorganizado).
O que mais nos preocupava para o período competitivo era a
incapacidade da equipa de envolver os avançados no ataque (saindo em passe
curto), ter a posse de bola no meio-campo adversário e a reação da nossa
defesa à perda de bola no meio-campo.
Há um fator que acho muito importante referir. Neste momento,
tínhamos no nosso plantel dois médios defensivos (um adaptado a defesa
central) e quatro médios interiores. Eu tinha por hábito separar estes quatro em
duas categorias: dois deles eram “8” por natureza e outros dois “10”. Esta era
uma análise que fazia mediante os aspetos em que estes eram mais fortes e
mais fracos, segundo os nossos princípios de jogo.
Uns salientavam-se por ajudar a defesa a subir no terreno e os outros
com tendência a criar desequilíbrios na frente. O meu colega decidiu jogar em
todos os jogos de preparação com dois médios que eu considerava mais
ofensivos. Eu chamava à atenção para este aspeto, mas a decisão era mantida
em prole de manter a equipa mais ofensiva.
No último jogo, alinhámos com um médio de cada categoria, e, no meu
entender, a equipa teve um desempenho muito melhor em todos os momentos.
131
3.2.4. Operacionalização da quarta subfase
Esta subfase corresponde ao espaço de tempo compreendido entre o
início do período competitivo e a décima terceira jornada, a 21 de Dezembro de
2014.
Após a primeira semana de treinos, a nossa semana assume uma
estrutura definitiva de quatro treinos por semana. A duração dos treinos de
segunda e sexta era de uma hora e meia. Os treinos de quarta e quinta tinham
uma hora de duração.
Durante este ciclo, os treinos foram divididos entre exercícios que
incidiam sobre as falhas apontadas na observação semanal e a introdução de
princípios cada vez mais específicos do nosso modelo de jogo.
Estes princípios em falta visam o trabalho sobre os subprincípios,
ilustrado nos anexos 5 e 6:
Introduzir dinâmicas de ataque rápido para quando a bola é recuperada
no meio-campo adversário (Transição Ofensiva);
Aumentar o leque de dinâmicas de circulação de maneira a dar
competências aos nossos setores mais recuados de manter a posse de
bola perante diferentes blocos pressionantes (Organização ofensiva);
Aumentar o leque de dinâmicas do momento de aceleração quando é
efetuado no nosso meio-campo e no meio-campo adversário
(Organização Ofensiva);
Manutenção da reação à perda de bola (Transição ofensiva);
Introdução da dinâmica de pressão entre o avançado centro e o médio
mais ofensivo (Organização Defensiva);
Trabalhar o Modelo de Contenção (Organização Ofensiva).
132
Na entrada do período competitivo, a equipa apresenta uma confiança
fantástica, com vitórias em todos os jogos de preparação, colmatados pela
exibição final. A equipa parece bem preparada em todos os momentos, com
mais dificuldade no momento de aceleração. O único aspeto que não tínhamos
ainda trabalhado e nos preocupava eram as bolas paradas. A primeira semana
será então dedicada ao trabalho destes aspetos e o trabalho de alguns
princípios de transição e organização defensivas.
O primeiro jogo foi realizado em nossa casa contra o CUD Leverense,
que acabou por se revelar como o campeão da nossa série, terminando com a
nossa derrota por 5-2.
Apesar dos meus avisos relativamente ao meio-campo que seria titular
neste jogo, o meu colega decidiu colocar dois médios mais ofensivos à frente
do nosso médio defensivo.
O adversário pressionava diferente de todas as equipas que tínhamos
defrontado nos jogos de preparação. Apesar de não pressionarem diretamente
os nossos defesas centrais, cobriam muito bem todas as linhas de passe,
incluindo a do guarda-redes. Pressionaram desta forma durante os primeiros
dez minutos, recuando o bloco após isso.
Apesar de todos os esforços da equipa técnica contra a tendência dos
nossos defesas centrais de usar passes longos sempre que querem jogar para
a frente, a nossa resolução de lances ainda era dividida entre passes curtos e
passes longos. A pressão criou uma grande distância entre os nossos defesas
centrais e laterais (principalmente do lado esquerdo). Conseguimos sair a jogar
algumas vezes pelo lado direito, onde a avançado interior jogava um dos
jogadores que treinou muitas vezes a defesa esquerdo, estabelecendo boas
ligações com o defesa lateral direito.
Quando o adversário recuou o bloco permitiu-nos aproximar mais da
baliza adversária e até rematar, contudo, conseguiram aproveitar melhor os
nossos desequilíbrios nos momentos em que recuperavam a bola.
Foram muito eficazes na ligação entre o extremo e o avançado. A
pressão fraca no nosso meio-campo permitiu que os médios colocassem a bola
133
no pé dos extremos, que quando conseguiam arranjar espaço perante o nosso
defesa lateral, isolavam o avançado. Outro erro que a nossa equipa cometeu
foi na transição ofensiva. Quando os nossos médios perdiam a bola, no meio-
campo adversário, a nossa defesa não recuava, criando muito espaço nas
nossas costas.
Entrámos na segunda parte a perder 3-0. O meu colega decidiu nesta
altura seguir o meu conselho e trocar um dos médios mais ofensivos por um
com características mais equilibradas.
Apesar de termos conseguido equilibrar o jogo na segunda-parte e criar
muitos lances de perigo através de jogadas de passe curto, não chegou perto
de equilibrar o resultado.
Perante os maus resultados obtidos nos primeiros jogos, a maior parte
dos nossos treinos durante as duas semanas seguintes ao primeiro jogo foi
dedicada à melhoria de aspetos anotados após os jogos, acabando por não
treinar as dinâmicas de ataque rápido.
Os treinos de organização ofensiva acabaram por ser também uma
repetição dos exercícios realizados anteriormente, atendendo à falta de
capacidade da equipa de criar desequilíbrios no adversário.
No terceiro jogo tivemos um percalço. O treinador principal anunciou a
sua saída da equipa ao intervalo do jogo. Após os jogadores o contactarem,
voltou no treino seguinte, que foi inteiramente dedicado a palestra. O meu
colega aproveitou a situação para marcar algumas regras disciplinares que
tinham de ser cumpridas para a sua continuidade.
Por outras circunstâncias, quem conduziu o quarto jogo fui eu, segundo
o título de diretor. Perante algumas alterações que fiz no onze inical, a equipa
venceu por 3-0. Tentar dar mais equilíbrio à equipa, tanto emocional como
tático. Deixei de fora alguns jogadores que, a meu ver, destabilizavam o
plantel. Coincidentemente, eu via nestes jogadores algumas falhas que
comprometiam o nosso estilo de jogo. Após este jogo, alguns dos jogadores
que deixei de fora abandonaram a equipa.
134
Os três jogos seguintes foram novamente conduzidos pelo meu colega.
A equipa conseguiu em todos os jogos ter a maior parte da posse de bola,
contudo, demonstrávamos muita dificuldade em criar situações claras de golo.
Sinto que tivemos pouca sorte no calendário competitivo. Nos sete
primeiros jogos, defrontámos as quatro equipas que acabaram a época nos
primeiros quatro lugares. Estes resultados criaram uma imagem errada do valor
da nossa equipa.
Durante este período, os jogadores não demonstraram grandes
evoluções nos treinos. Estagnaram na progressão que registámos durante o
período competitivo apontada pelos resultados, tanto dos jogos como nos
exercícios.
Após a oitava jornada, o treinador da equipa dos seniores foi despedido
por maus resultados. Para o seu lugar foi contratado o treinador dos iniciados.
Visto que a direção não tinha ninguém para assumir a posição de treinador de
sub-15, foi o treinador principal da nossa equipa que os foi treinar. Visto que
esta responsabilidade impede o meu colega de comparecer aos jogos e alguns
treinos da nossa equipa, eu fui nomeado treinador principal da equipa.
135
3.3. Barreiras e estratégias de ação
Considero que a maior barreira desta época foi a mudança de treinador
da equipa sénior. O plano que tínhamos anteriormente estabelecido foi
parcialmente esquecido. Para além disso, sinto que com o novo treinador não
foi possível ter um entendimento tão claro do Modelo de Jogo pretendido para
as camadas de formação.
A nossa equipa também sofreu as consequências. O novo treinador da
equipa dos seniores era o treinador da equipa de sub-15. Visto que não havia
outro treinador para o cargo, o meu colega teve de assumir a responsabilidade
de liderar esta equipa, deixando-me a mim como treinador principal. A
metodologia de treino mantém-se exatamente a mesma e os treinadores que
acompanham os treinos também, faltando apenas um, no treino de quinta-feira.
As únicas diferenças no que toca à nossa equipa técnica são o fato de eu
conduzir a equipa durante os jogos.
Estas trocas de cargos tiveram mais consequências relativamente ao
modo de jogar das nossas equipas, obrigando-nos a voltar a planear o período
restante da época. O novo treinador dos seniores teve, durante esta época,
problemas com o meu colega que assumia o nosso plantel, no entanto, o novo
treinador do escalão superior já foi meu treinador, o que facilitou a
comunicação entre o plantel sénior e a nossa equipa. Numa reunião inicial com
o mesmo, à qual fui sozinho, foram estabelecidos alguns parâmetros acerca do
funcionamento comum entre os dois planteis. Ainda não tinham sido definidos
princípios táticos para a equipa sénior, contudo, eu apresentava algumas
preocupações e sugestões relativamente ao nosso modelo de jogo.
Pretendia manter a prática de um futebol de posse mas menos
pressionante. A minha principal preocupação não era a pressão que a nossa
equipa tinha até esta altura feito, mas a profundidade do bloco que a mesma
exige. Sugeri, por isso, uma nova estratégia para a nossa equipa. A ideia é
136
manter todas as dinâmicas ofensivas que têm sido bem executadas pela
equipa, ou seja, a manutenção da posse de bola e o nosso momento de
aceleração no nosso meio-campo. Estas dinâmicas eram anteriormente
aplicadas para recuar o bloco adversário e ter vantagem na exploração de
espaços curtos no meio-campo adversário. O objetivo da nossa circulação de
bola passava a ser o de atrair o bloco adversário de maneira criar
desequilíbrios no meio-campo adversário e dar espaço aos nossos médios
para decidir o jogo através do passe longo.
O meu raciocínio foi o seguinte: a equipa demonstra muita qualidade em
resolver situações em espaços curtos quando envolve os defesas e os médios,
no entanto, surgem dificuldades quando envolvemos os avançados no
processo ofensivo. Isto deve-se ao fato de todos os nossos avançados terem
sido ensinados durante toda a formação a explorar o espaço nas costas da
defesa. Visto que dedicámos pouco tempo ao trabalho dos mesmos, segundo
um estilo de jogo diferente, estes não revelam muitas competências em
espaços curtos.
Esta decisão pode parecer um pouco incoerente da nossa parte,
mediante as ideias da direção, contudo, após a mudança de treinadores, os
únicos objetivos que nos foram transmitidos foi uma mudança nos resultados
competitivos. Tendo em conta as capacidades dos jogadores, as nossas
decisões parecem-me ser as mais adequadas mediante os objetivos propostos.
A meu ver, o grande erro foi cometido pela direção. A nova visão que
trouxe para o clube pareceu-me ser demasiado romântica, algo que levou as
equipas do clube a resultados que não conseguiam aceitar.
Neste momento, perdemos também o nosso capitão de equipa, que
como já referi, saiu para um clube rival, o Serzedo. Não fizemos nenhuma
alteração nos capitães, nomeando em cada jogo um dos três sub-capitães para
assumir o cargo do colega.
Relativamente às alterações feitas no nosso modelo de jogo, alteramos
apenas os seguintes princípios:
Transição Ofensiva:
137
o Não foram feitas alterações neste momento;
Organização Ofensiva:
o Passa a haver uma distinção entre os dois médios; um tem como
função apoiar a circulação de bola e colocar a bola no defesa
lateral; outro tem funções mais ofensivas, tentando encontrar
espaços no meio-campo adversário;
o Após o momento de aceleração (que só é executado no nosso
meio-campo), caso não haja condições claras para progredir pelo
corredor lateral (agora sem ajuda dos médios), o objetivo passa a
ser encontrar um médio com espaço no meio para este decidir o
jogo rapidamente;
o Após termos a bola com pelo menos um médio e todos os
avançados atrás da sua linha procuramos explorar o espaço nas
costas da defesa adversária;
Transição defensiva:
o A única alteração feita neste momento foi a colocação do bloco
após a perda. Em vez de procurarmos apanhar os adversários em
fora-de-jogo, colocando a linha defensiva em cima do meio-
campo, recuamos o bloco até três passos atrás da tangente mais
recuada do círculo de meio-campo;
Organização defensiva:
o As alterações feitas à profundidade do bloco tornam a nossa
tarefa de pressionar o adversário em todos os momentos mais
difícil, já que cria muito mais espaços entre a defesa e o ataque;
os médios foram alertados para este fato, obrigando-os a
defender mais afastados;
o O que mais me preocupa é, no caso de equipas que jogam com
defesas laterais pouco ofensivos, o espaço criado entre o nosso
defesa lateral e avançado interior. de maneira a manter a pressão
quando o extremo adversário recua, os defesas laterais devem
sair da linha defensiva para pressionar. o resto da equipa deve
fechar ainda mais de maneira a manter as coberturas planeadas
no início da época.
138
Mediante as alterações efetuadas no modelo de jogo, decidi fazer
algumas alterações nos nossos planos de treino relativos ao período restante
da época.
139
3.3.1. Operacionalização da quarta subfase
Visto que a maior parte das alterações foram feitas no momento de
organização ofensiva, dedicámos o período restante da quarta subfase ao
trabalho sobre este momento. Os treinos foram na mesma divididos entre
exercícios direcionados para os princípios mencionados no Macrociclo e
exercícios direcionados às correções definidas pela observação semanal, como
se pode observar no anexo 7.
As mudanças no processo defensivo foram informadas aos jogadores
através de indicações, trabalhando apenas em exercícios relativos à correção
de erros.
De maneira a dar a entender como trabalhámos estes princípios,
passarei a explicar um exercício relativo ao trabalho de cada um:
Nos treinos de subdinâmica de tensão mantivemos os jogos reduzidos
3x3, com dois defesas e um médio. Acrescentamos uma condicionante: é
adicionado um espaço a tracejado interior ao espaço que anteriormente servia
como objetivo. Para a equipa pontuar, após o defesa lateral entrar no espaço
em profundidade deve tentar marcar golo numa baliza colocada no novo
espaço, onde podem entrar os médios de ambas as equipas. Desta maneira
incentivamos o defesa lateral a procurar o médio após o momento de
aceleração.
Para além de repetirmos muitas vezes os exercícios de superioridade
numérica que envolvem um defesa lateral e um avançado interior de 2x1,
realizámos um exercício nos treinos de subdinâmica de velocidade que visava
acelerar o jogo com um médio se este conseguisse ter a bola no meio-campo
com espaço.
Inicialmente, este exercício foi executado em 5x4, evoluindo para 5x5,
6x5 e finalmente 6x6.
140
A equipa que tem superioridade numérica é a equipa constituída pelos
atacantes, defesa lateral e médio centro. Posteriormente é adicionado outro
médio. A outra equipa é composta, inicialmente, pela linha defensiva,
adicionando um médio de cada vez.
A bola deve partir sempre de um passe do defesa lateral para o
avançado interior que a entrega ao médio centro. A partir daí a equipa tem
liberdade para decidir o lance, desde que o faça rapidamente. É definida uma
linha entre a área e o meio-campo onde a linha defensiva deve começar para
posteriormente, descer até à área.
Este exercício foi executado inúmeras vezes durante o período restante
da época. Visto que voltámos, neste momento em específico, às condições que
os jogadores envolvidos sempre se sentiram mais confortáveis, não foi muito
difícil para eles cumprir as tarefas propostas. O que tentei fazer foi criar uma
base que desse condições ideais aos jogadores para fazerem o que faziam
antes, através de aliviar a bola. Procuramos atrair o bloco e encontrar espaço
num dos nossos médios que, posteriormente, lançava um dos atacantes em
profundidade.
Decidi, quanto à preparação psicológica da equipa, basear a nossa
motivação em quatro princípios. Três destes já faziam parte dos pequenos
diálogos que ia tendo com os jogadores, passando-os para a palestra de jogo:
a necessidade constante de auto-superação, as novas probabilidades de
integrar no plantel sénior e sermos fieis ao nosso modelo de jogo para que este
nos favoreça.
Para além disso, achei que a equipa precisava de uma mudança na sua
confiança. De maneira a facilitar a relação dos jogadores com o jogo e o seu
resultado decidi definir objetivos a curto prazo. Tentei explicar à equipa que as
equipas que tínhamos defrontado até à altura faziam parte do grupo das
equipas mais competentes da nossa divisão, e que nós não estaríamos fora
desse grupo se vencêssemos às equipas teoricamente inferiores, fazendo
justiça na classificação.
141
Nesse sentido, após a nona jornada fiz uma apresentação do calendário
competitivo, juntamente com uma previsão de todos os jogos da nossa
competição. Tentei mostrar aos jogadores que com resultados realistas,
conseguindo três vitórias e um empate, a equipa conseguiria estar classificada
em oitavo lugar com quinze pontos. Nesse momento a equipa estava
classificada no décimo primeiro lugar.
Os jogadores mostraram que eu estava errado, conseguindo nesses
quatro jogos quatro vitórias consecutivas, algo que já não era conseguido pelo
escalão de sub-19 há pelo menos oito anos.
Destes jogos sinto-me na obrigação de descrever a décima primeira
jornada. Neste momento, a equipa tinha oito pontos, vinha de duas vitórias
consecutivas e íamos defrontar o Serzedo, na altura classificado em sexto
lugar.
Inspirado no jogo da Liga dos Campeões entre o Bayern de Munique e o
Manchester City, decidi definir para este jogo uma estratégia de jogo. Apesar
de não conhecer o adversário, sabia o tipo de futebol que praticavam e que
tinham qualidade individual superior à nossa. A minha intenção era apresentar
um modelo nunca visto pelo adversário. Consistia num Modelo de Contenção.
Para este jogo a nossa estrutura organizativa defensiva foi 1-5-3-2, sem
avançado centro.
Focámos o nosso jogo numa organização defensiva muito forte,
esperando o erro adversário. Foi criada uma linha defensiva de cinco homens,
constituída por três defesas centrais, um defesa esquerdo e um médio
defensivo. À sua frente, estava colocada uma linha de três, constituída por dois
médios e um defesa lateral.
O meio-campo deveria manter alguma distância da linha defensiva,
criando, intencionalmente, muito espaço entre a linha defensiva e média.
Quando a bola é colocada neste espaço um defesa deve sair rapidamente na
pressão para tentar apanhar o adversário com a bola de costas para a baliza.
A Figura 30 ilustra a estrutura organizativa da equipa nos momentos
defensivos.
142
As setas amarelas representam os
jogadores que saem na pressão quando a
bola é jogada nas costas dos nossos
médios. Quando um sai na pressão os
restantes devem fechar, formando uma
linha de quatro jogadores.
Ofensivamente, em vez de explorar
imediatamente o espaço nas costas da
nossa defesa, visto que tínhamos mais homens no meio-campo, procurávamos
colocar a bola imediatamente nestes. Como segunda opção, tínhamos os
avançados interiores que recuavam para jogar nele de primeira, tal como nos
treinos.
A partir deste momento, temos dois jogadores no meio-campo com
muito boa capacidade de drible, médio avançado centro e o defesa direito, e
um médio com passe longo muito bom. Devemos acelerar jogo com qualquer
um destes três jogadores.
Foi um jogo que o adversário dominou por completo, tendo mais posse
de bola e mais oportunidades, contudo, fomos premiados pela nossa
organização defensiva e eficácia no ataque vencendo o jogo por 1-0.
Conseguimos terminar a primeira volta da competição e a nossa quarta
subfase em sétimo lugar com dezassete pontos. Nos cinco jogos seguintes à
alteração do modelo de jogo conseguimos alcançar treze pontos em quinze
possíveis.
Durante esta fase da época, os exercícios que executávamos visavam
maioritariamente o trabalho do setores médio e atacante. Desta maneira,
procurámos dar critério à nossa circulação, usando para criar condições de
decidir o jogo num estilo diferente. Os jogadores envolvidos sempre
conseguiram ter pontuações muito boas, indicando uma evolução fantástica no
processo ofensivo.
Figura 30 - Estrutura organizacional defensiva do jogo da 11ª jornada
143
O fato de a maior parte do tempo ter sido dedicado a melhorar
competências ofensivas, a equipa não acusou na sua qualidade defensiva.
Este processo sempre esteve muito bem assimilado desde início. O que nos
comprometia os resultados era a falta de concretização ou até de criação de
oportunidades de golo. A melhoria na eficácia da equipa fez com os
adversários fossem obrigados a abrir mais o jogo e avançar o bloco mais
rapidamente, criado situações de espaço curto onde pretendíamos.
As dinâmicas trabalhadas em treino demonstraram-se fieis ao jogo. O
envolvimento dos avançados melhorou bastante, não só quando são
requisitados no espaço atrás da defesa adversária, como no espaço entre esta
linha e o meio-campo adversário. A simplificação de processos permitiu a estes
jogadores entenderem as suas funções de modo mais claro, melhorando
bastante a performance dos mesmos.
144
3.3.1. Quinta subfase
Após a primeira volta do nosso campeonato, o nosso plantel era
composto por dezasseis jogadores, no entanto, tinham toda a confiança da
equipa técnica. Sabíamos que podíamos pedir qualquer coisa a este grupo e
eles seriam capazes de executar com todas as suas capacidades. O fato de
estes jogadores nunca faltarem a um treino sem avisar, permitiu-nos preparar
muito melhor os mesmos.
A partir do mês de Fevereiro voltámos a ter dois jogadores que tinham
previamente saído, ambos defesas centrais. Decidi não deixar um deles jogar,
o jogador que tinha sido anteriormente capitão. Apesar de ser obrigado a
enquadrá-lo novamente no plantel, a decisão de o colocar a jogar ficou para
mim, ao que decidi convocá-lo para todos os jogos, não o usando nenhuma
vez. O outro jogador integrou na equipa apenas como suplente, de maneira a
recompensar os jogadores com mais assiduidade ao longo da época. Nesta
altura foi também chamado um jogador ao plantel sénior para treinar
permanentemente, jogando ocasionalmente por nós.
Visto que só tínhamos sete dos primeiros oito jogos filmados, decidimos
não dedicar nenhum tempo dos nossos treinos às estratégias específicas aos
adversários. Este tempo de treino foi dedicado a rotinar os jogadores para as
posições em que iam jogar. Atendendo à quantidade de jogadores que
constituíam o nosso plantel, fui obrigado a ajustar muitos jogadores a novas
posições. Estes tempo de treino serviu para dar tempo de treino a esses
jogadores nas novas posições, relembrando os princípios mais importantes do
nosso modelo de jogo.
Após uma fase inicial a dar continuidade ao trabalho de organização
ofensiva, definimos, também, um período para introduzir os princípios de
organização defensiva que visavam a dinâmica entre o avançado centro e o
médio mais ofensivo, como está ilustrado no Plano de Macrociclo no anexo 8.
145
O restante período de treino seria composto pelas correções exigidas
pela observação semanal, que neste momento se resumia às anotações que
eu tirava durante o jogo. As últimas três semanas também foram dedicadas
exclusivamente a estas correções.
Durante esta subfase tivemos doze jogos, a segunda volta completa. Em
trinta e seis pontos possíveis, conseguimos vinte e um. Na primeira volta
conseguimos apenas dezassete pontos. Perante as observações feitas durante
a primeira volta, previ que nesta fase conseguíssemos alcançar vinte e seis
pontos, no entanto, a nossa prestação não foi a melhor em dois dos jogos.
A saída de jogadores do plantel afetou bastante o nosso desempenho na
segunda volta, no entanto, esta circunstância foi compensada pela melhoria na
qualidade de treino.
Os jogadores que participaram assiduamente nos treinos durante toda a
época mostraram grande capacidade de executar os princípios trabalhados. À
exceção de dois dos três jogos que perdemos durante esta fase, a equipa
mostrou-se muito capaz de disputar o jogo com o adversário. Tínhamos quase
sempre a maior parte da posse de bola, com uma taxa de sucesso fantástica
nos processos de transição ofensiva.
A melhoria mais notável nesta fase foi, contudo, os processos de
organização ofensiva. O exercício que foi maioritariamente executado nesta
época visava um contexto em que o nosso defesa lateral tinha a bola nas
costas do avançado anterior, algo que treinámos durante toda a época. Este é
um processo de construção lenta, em que os jogadores não demonstram
vontade de progredir no campo. Esta fase foi trabalhada até às alterações no
Modelo de Jogo e foi sendo cada vez melhor executada à medida que ao
período competitivo passava.
Os processos trabalhados enquanto fui treinador principal completaram
o quadro ofensivo da equipa, tornando os jogadores capazes de demonstrar
um jogo fluído e consciente em todos os momentos.
Durante a segunda volta, os jogadores conseguiram criar muitas vezes o
contexto que procuramos, fruto do trabalho efetuado numa fase inicial da
146
época, mas, mais importante que isso, foi a capacidade dos jogadores de
aplicarem as suas competências naturais nesse contexto. Esse foi o principal
foco do nosso treino durante a última subfase, que se demonstrou muito eficaz
nos jogos disputados.
147
Capítulo IV
Desenvolvimento Profissional
148
149
4. Desenvolvimento profissional
Este estágio apresenta-se como um contexto de aprendizagem novo por
diversos sentidos. Durante o meu percurso profissional tinha já executado
funções de treinador adjunto e principal de equipas de formação, no entanto, o
trabalho efetuado durante estas épocas não tinha objetivos definidos pelo
clube.
Uma das funções executada esta época, que tinha como principal
objetivo resolver este problema, foi a de coordenar as equipas de formação.
Até este ano, perspetivava o desenvolvimento dos jogadores enquadrado no
clube, com preocupações muito gerais e de curto prazo. O importante era
identificar situações em que os jogadores tinham dificuldade e providenciar
condições de treino para desenvolverem competências associadas aos
contextos de jogo.
Enquanto coordenador, tive de adotar uma postura diferente. Uma vez
que me foram encarregues as equipas inferiores a sub-13, inclusive, tive de
desenvolver um plano organizativo que visasse o desenvolvimento em todas as
dimensões dos jogadores a longo prazo, estruturado segundo um quadro de
princípios táticos definido pelo plantel sénior.
Esta planificação suscitou a necessidade de desempenhar tarefas novas
que proporcionaram um contexto de aprendizagem prática bastante
enriquecedor.
Em primeiro lugar, fui encarregue de definir os horários de treino das
equipas de formação. Segundo, foi também da minha responsabilidade
contratar os treinadores das equipas e orientar a metodologia utilizada por eles.
Esta não se afigurou tarefa muito complicada, visto que todos os treinadores
que ocuparam as posições em questão demonstraram interesse e ambição em
aprender. Estava no entanto, ciente de que não poderia ser paladino nesta
matéria. Assim, esforcei-me por encontrar um sistema em que esta
150
metodologia fosse implementada no treino dos jogadores mais jovens de forma
progressiva e acompanhando a idade, enquanto a restante componente era
fornecida pelo método de Coerver, método esse que era posto em prática por
um dos treinadores que contratei. Para tornar isto possível tivemos reuniões
formativas mensais, em que eu e o treinador em questão explicávamos as
metodologias a aplicar.
Para além disto, o exercício desta função teve outras vantagens
profissionais como a expansão de contactos e interações com clubes vizinhos.
Também as funções desempenhadas enquanto treinador tiveram uma
abordagem diferente. Até agora, as funções eram desempenhadas livremente,
sem qualquer linha orientadora.
O papel desempenhado enquanto treinador principal da equipa de sub-
10 colocou-me num contexto em que a equipa treinada inclui jogadores com
pouquíssimas competências para praticar o desporto. Tive a oportunidade de
observar os erros mais básicos da prática do jogo, que caso surgissem num
contexto com mais qualidade no passado me passavam despercebidos,
aprendendo também como desenvolver essas competências mais básicas.
As funções descritas neste documento foram as de treinador adjunto e
principal da equipa de sub-19. Enquanto treinador adjunto tive experiências que
não tinha tido antes, como a análise dos jogos por vídeo, que anteriormente era
feita durante o jogo, e a coordenação de um Modelo de Jogo mediante os
princípios definidos para o clube. Apesar de o meu contato com a equipa
técnica do plantel sénior ter sido reduzido, foi um processo bastante
interessante.
Contudo, considero que treinador principal foi a função mais
enriquecedora de todo o estágio, desempenhada durante os quatro meses
finais da época.
Enquanto adjunto, passava os jogos na bancada. Estava fora do campo
durante o momento para o qual trabalhávamos toda a semana, apenas com a
capacidade de comunicar com o meu colega via telefone e sem grande
resultado. Nestes momentos muitas eram as ideias a passarem-me pela
151
cabeça: o extremo direito adversário finta sempre em direção à linha, ou o meio
campo está a pressionar mal. No entanto, nada podia colocar em prática.
Quando assumi o cargo de treinador principal passei a poder ajustar a
equipa mediante as minhas ideias e as ideias que treinávamos, havendo uma
ligação muito mais direta e imediata. Para além disso, permitiu-me gerir o
estado emocional dos jogadores durante o próprio jogo, incluindo algumas
indicações rápidas nas paragens. Uma situação de nível estratégico que me
ficou na memória e apliquei muitas vezes esta época foi quando, num lance,
José Mourinho indicou ao seu extremo que não acompanhasse a subida do
defesa lateral e ficasse no espaço criado pelo mesmo. Quando a sua equipa
recuperou a bola colocou-lha imediatamente para que percorresse o meio-
campo adversário e assistisse para golo. Descobri que estes pormenores são o
que me dá mais prazer no jogo. Durante a presente época não tive
oportunidade de treinar nenhuma destas situações, no entanto, agora que
entendo melhor os contextos em que posso ou não posso fazê-lo, pretendo
conduzir estes processos de forma mais eficiente no futuro.
Nunca me tinha sido dada a oportunidade de gerir psicologicamente um
plantel, algo que desenvolveu de maneira incisiva as minhas competências
enquanto treinador
Num cômputo geral, sinto que este estágio foi tremendo para o
desenvolvimento das minhas competências associadas ao desporto tanto pelas
novas funções, quanto por aquelas que vinha já executando, mas desta vez em
contextos diferentes.
152
153
Capítulo V
Considerações Finais
154
155
5. Considerações finais
Os conhecimentos teóricos adquiridos durante o percurso académico e
aplicados neste estágio corresponderam às competências necessárias para o
planeamento e execução de uma época desportiva com objetivos específicos.
Como novo principal objetivo do clube, o nosso trabalho constituía em
potenciar jogadores da nossa equipa para integrarem o plantel sénior. Visto
que não estão em causa as medidas adotadas enquanto coordenadores,
tomaremos em conta apenas o trabalho feito enquanto treinadores.
Apesar de todos os escolhos que se levantaram perante a equipa e o
clube, sinto que fomos capazes de manter um plano de trabalho eficaz com os
jogadores do plantel com maior assiduidade.
O objetivo deste trabalho é avaliar a influência dos processos de treino
nas competências e conhecimento específico demonstrados no jogo. Nesse
sentido, de maneira a obter uma avaliação semanal do desenvolvimento da
equipa e dos jogadores individualmente, tivemos em conta dois parâmetros de
avaliação: os resultados dos exercícios de treino e análise feita aos jogos.
Durante o período pré-competitivo obtivemos respostas excelentes em
ambos, já que os jogadores em foco nos treinos começaram a época quase
sem pontuar nos exercícios, chegando ao fim do mesmo período tendo
sucesso em praticamente todos e adicionando resultados positivos nos jogos
de preparação; observamos evolução substancial por parte da equipa nesta
fase.
Iniciada a época pudemos verificar uma quebra de rendimento que
rapidamente foi invertida pela modificação da estrutura organizativa e
respectivo Modelo de Jogo. No meu entender, os resultados obtidos não estão
relacionados com a falta de treino, mas sim com adequação dos jogadores ao
seu papel.
156
Os comportamentos e competências que lhes foram exigidos não foram
constantes durante a época. Isto deveu-se à alteração da equipa técnica do
escalão sénior. Ainda assim, os comportamentos foram ajustados e os
objetivos atingidos.
Respeitante às metas traçadas para a equipa técnica, incluíam melhorar
os registos disciplinares e competitivos, bem como o número de jogadores
formados no clube a integrar o plantel sénior. Parece-me justo dizer que
correspondemos positivamente a todos.
Durante a presente época, dois jogadores actuaram pela equipa sénior e
outros seis treinaram com a mesma durante pelo menos uma semana. Após
visitar o clube na época seguinte, fui informado que quatro destes jogadores
fazem parte da equipa.
Sinto que este estágio teve um carácter altamente formativo na minha
carreira. A intenção inicial era aplicar os conhecimentos adquiridos durante
esta fase da formação académica, sendo definidas responsabilidades que
apontavam a um contexto específico. Para além disso, surgiu também a
oportunidade de assumir todas as responsabilidades de um treinador principal,
as quais nunca recusaria. Isto permitiu-me desenvolver ainda mais
competências, com muito mais experiência “em campo” e liberdade para
executar as minhas ideias com fins concretos.
157
Capítulo VI
Referências Bibliográficas
158
159
6. Referências Bibliográficas
Ancelotti, C. (2013). Mi Árbol de Navidad. Bertalanffy, L. v. (1976). Teoria dos Sistemas - Série Ciências Sociais. Capra, F. (1996). A Teia da Vida - Uma Nova Compreensão Científica dos Sistemas
Vivos. 249. Carvalho, R. (2006). A operacionalização da forma de jogar que se pretende (modelo
de jogo) e a sua representação mental: o papel da consciência e o contributo das neurociências na compreensão do sucesso na Periodização Tática.
Castro, F. (2014). Do Treino ao Jogo e do Jogo ao Treino. FIFA. (2008). El entrenador - la dirección técnica. Foerster, H. v. (1961). A Predictive Model for Self-Organizing Systems. Garcia, R. P. (2004). Antropologia do desporto: o reencontro com Hermes. Garganta, J. (1997). Modelação Táctica do Jogo de Futebol. 318. Garganta, J. (2000). O JOGO DE FUTEBOL: ENTRE O CAOS E A REGRA. Revista
Horizonte, 7. Júlio Garganta, J. F. G. (1999). Abordagem Sistêmica ao Jogo de Futebol: moda ou
necessidade? Movimento, 11. Morin, E. (1990). Introdução ao Pensamento Complexo. 177. Oliveira, J. G. (2004). Conhecimento Específico em Futebol - Contributos para a
definição de uma matriz dinâmica do processo ensino apredizagem/treino do Jogo.
Pivetti, B. M. F. (2012). Periodização Tática - O futebol-arte alicerçado em critérios. 293.
Silva, M. (2008). O desenvolvimento do jogar, segundo a periodização tática. Tamarit, X. (2013). Qué es la "Periodización Táctica"? Tzu, S. (1913). A arte da guerra.
160
161
Capítulo VII
Anexos
162
i
7. Anexos
Macrociclo
Pe
río
dos
Período Preparatório Período Competitivo
Su
bfa
s.
Geral Específico Pré-competitivo
Me
se
s
Agosto Setembro
Me
so
cic
lo
Ob
s
Org
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f
Org
Of
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ef
Org
De
f
Mic
rocic
lo Observaçã
o e introdução
de princípios
gerais
Introdução aos
Subprincípios ofensivos
Introdução aos
Subprincípios Defensivos
Consolidação da alteração da
estrutura e saída da zona
de pressão
Consolidação da
circulação de bola e momento
de aceleração
Reação à perda de
bola
Organização da
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Pla
no
de
Unid
ade
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Ob
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Anexo 1 - Excerto de Plano de Macrociclo (representa as três primeiras subfases segundo o planeamento inicial)
ii
Macrociclo
Pe
río
dos
Período Competitivo
Su
bfa
se
s
Competitivo
Me
se
s
Setembro
Outubro Novembro Dezembro
Me
so
cic
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Prep
Trans Of
Trans Of
Trans Of
Org Of
Org Of
Org Of
Trans Def
Trans Def
Trans Def
Org Def
Org Def
Org Def
Mic
rocic
lo
Preap. par ao
primeiro jogo
Introdução de
dinâmicas de
ataque
rápido
Introdução de
dinâmicas de
ataque
rápido
Introdução de
dinâmicas de
ataque
rápido
Manutenção
da posse
; Momento de Aceleração
Manutenção
da posse
; Momento de Aceleração
Manutenção
da posse
; Momento de Aceleração
Contenção de
bola no
corredor
lateral
Contenção de
bola no
corredor
lateral
Contenção de
bola no
corredor
lateral
Din. de
pressão
(MC e AC); Mod. de
contenção
Din. de
pressão
(MC e AC); Mod. de
contenção
Din. de
pressão
(MC e AC); Mod. de
contenção
Pla
no
de
Unid
ade
de T
rein
o
Anexo 2 - Excerto do Plano de Macrociclo (representa a quarta subfase segundo planeamento inicial)
iii
Minutos 0 - 15
Jogador Defesa Fácil 100%
Defesa Difícil 0%
GR 2
3 0 0 0
Passe Curto 100%
Passe Longo 67%
10 0 2 1
Lançamento 100%
Chuto 0%
2 0 0 1
DL 1
Linha de Passe 33%
Arrancada 0%
3 6 0 0
Passe Curto 100%
Passe Longo 100%
2 0 1 0
Drible 0%
Finta 0%
0 0 0 1
Lançamento 50%
Marcação/Interceção 0%
1 1 0 1
Desarme 0%
Cabeceamento 0%
0 0 0 0
DC 4
Marcação/Interceção 100%
Desarme 0%
2 0 0 0
Passe Curto 100%
Passe Longo 20%
7 0 1 4
Drible 100%
Finta 67%
3 0 2 1
Cabeceamento 50%
Rápido a Abrir 80%
1 1 8 2
DC 3
Marcação/Interceção 100%
Desarme 0%
1 0 0 0
Passe Curto 100%
Passe Longo 0%
9 0 0 1
Drible 0%
Finta 0%
0 0 0 0
Cabeceamento 100%
Rápido a Abrir 83%
2 0 10 2
DL 2
Linha de Passe 70%
Arrancada 0%
7 3
Passe Curto 86%
Passe Longo 0%
6 1 0 0
Drible 0%
Finta 100%
0 0 1 0
Lançamento 0%
Marcação/Interceção 100%
0 0 3 0
Desarme 50%
Cabeceamento 100%
1 1 1 0 Anexo 3 - Estatística dos primeiros quinze minutos dos cinco jogadores mais recuados no
primeiro jogo de preparação
iv
Macrociclo
Pe
río
dos
Período Competitivo
Su
bfa
se
s
Pré-competitivo
Me
se
s
Agosto Setembro
Me
so
cic
lo
Trans Of/ Org Of
Org Of Org Def/
Trans Def Org Def
Mic
rocic
lo
Saída da zona de pressão Circulação de bola
Momento de aceleração
Momento de aceleração
Circulação de bola
Reação à perda de bola
Ajuste do bloco
Organização da pressão
Ajuste do Bloco Bola Paradas
Pla
no
de
Unid
ade
de T
rein
o
Sa
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ha
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no
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Mo
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de
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acele
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Mo
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Mo
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acele
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Anexo 4 - Excerto de Plano de Macrociclo (representa a segunda primeiras subfase após as alterações efetuadas)
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rápido
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Mom. de aceleração
Man. da posse
Mom. de aceleração
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Mom. de aceleração
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Anexo 5 - Excerto de Plano de Macrociclo (representa parte da quarta subfase após as alterações efetuadas)
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médio e avançado Modelo de Contenção
Dinâmica de pressão entre
médio e avançado Modelo de Contenção
Dinâmica de pressão entre
médio e avançado Modelo de Contenção
Dinâmica de pressão entre
médio e avançado Modelo de Contenção
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Anexo 6 - Excerto de Plano de Macrociclo (representa a outra parte da quarta subfase após as alterações efetuadas)
vii
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Anexo 7 - Excerto de Plano de Macrociclo (representa parte da quarta subfase após as alterações estruturais no clube)
viii
Macrociclo P
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Período Competitivo
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Competitivo
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Anexo 8 - Excerto de Plano de Macrociclo (representa a quinta subfase)