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Renato Borges

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Renato Borges

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Sentimento oceânico de união com o “Todo”

• Freud inicia seu ensaio, O Mal-Estar naCultura, a partir de uma reflexão sobre osentimento oceânico de união com o“Todo” que existe em todo ser humano,segundo crê seu amigo Romain Rolland,com quem Freud manteve uma regularcorrespondência e onde este tema foienfocado

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Sentimento Oceânico

• Para Rolland a fonte da religião pode remontar-se a um sentimento muito particular, ao qual denominou de sentimento oceânico, não vinculado diretamente à fé religiosa.

• Rolland define este sentimento de estar unido ao Todo, como prova que há uma energia que os sistemas religiosos captam e aproveitam. Porém, para Freud a fonte da religião é outra, trata-se do desamparo infantil e da nostalgia pelo pai.

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Estado de desamparo infantil• É nesse estado de desamparo

profundo diz Freud que se remonta aorigem da religião e não no sentimentode união com o Todo, como defendiaseu amigo Roland.

• No entanto, Freud chama atenção paraeste sentimento oceânico como chavepara a demarcação do nosso Eu.

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Desamparo e a angústia da solidão

• O ser humano tenta fazer de tudo parafugir do desamparo e da angústia dasolidão, daí sua necessidade constante deconstruir e elaborar sistemas religiosos eideologias salvadoras, como uma“Weltanschauung”

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Fuga do desamparo e da angústia da solidão

• Por isso leva a cabo diversos procedimentos, taiscomo:– distrair-se em alguma atividade,– procurar satisfações substitutivas,– sublimar a pulsão ou canalizá-la para satisfações

artísticas e científicas.– ou se narcotizar com drogas, etc.,

Tudo isso a fim de fugir do desamparo, conquistar a felicidade e afastar o sofrimento.

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Felicidade versus civilização• A resposta de Freud relacionada ao Mal-estar na

cultura e a felicidade versus civilização se fezesperar bastante, pois este texto O Mal-Estar naCultura foi sendo publicado paulatinamente.

• Somente aparece no penúltimo capítulo eproporciona uma idéia de quais são as armascom que a psicanálise conta para lutar contra estaespécie de inimigo interno, esse cavalo de Tróiaque vem com a cultura.

• Não somente as armas que conta, senão tambémas que a psicanálise recomenda e as que contra-indica

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A procura da felicidade

• Os métodos mais comuns que as pessoas, geralmente, usam para fugir do desprazer e conquistar a felicidade são:

– Meio químico para anular o desprazer: a droga.

– Evitar o desprazer dominando as necessidades: o yoga, o budismo.

– Transladar as metas da pulsão, evitando o "não" da realidade exterior: a arte.

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A procura da felicidade

– Romper, simplesmente, com a realidade: oeremita.

– Romper com a realidade e substituí-la poruma outra nova: a psicose.

– Afiançar a decisão do cumprimento dafelicidade, sem afastar-se da realidade esem evitar o desprazer, mas deslocando ameta da libido: o amor

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A procura da felicidade

• Freud em suas reflexões sobre os destinos ecaminhos particulares que cada indivíduo procurapara encontrar a felicidade faz sua a frase deFrederico, o Grande: "Em meu domínio cadahomem pode atingir a bem-aventurança a suamaneira.“

• Freud também recorda o que diz Kant: os piorestiranos são aqueles que querem obrigar ao povoa ser feliz, segundo a maneira que eles, ostiranos, indiquem-lhes

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Programa do Princípio do PrazerSer Feliz

• Segundo Freud é irrealizável, e, por sua vez, éimpossível também abandoná-lo.

• Cada um ensaia seu próprio caminho, segundotrês tipos de eleição:– vínculos sentimentais.– satisfações narcisistas.– realizar-se mediante a ação.

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O caminho da neurose• O caminho da neurose, não é isento de criação, pois

os sintomas são satisfações substitutivas, sendo quetambém indicam o caminho a sua maneira, pois cadaqual inventa um pouco os seus próprios sintomas

• A neurose é uma resposta às exigências culturais,pois a cultura exige respeito a seus ideais. Oneurótico é aquele que diz "basta!", e o diz com seussintomas.

• O neurótico não pode suportar a frustração que acultura exige em lugar de seus ideais.

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Sublimação

• A sublimação é um dos destinos da pulsão e porsua vez, exerce um grande papel na economiapsíquica individual e na própria civilização, poissem a sublimação pulsional não teríamoscivilização e nem cultura, conforme afirmouFreud, ao longo de sua obra

• Sobre esta questão lembrar a importância que tem osupereu (ideal do eu) nessa operação de sublimaçãodos impulsos que geralmente são de natureza sexual eagressiva

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O supereu (superego)• O supereu (superego), além de exercer, as

funções de auto-observação e de consciênciamoral (voz da consciência), contém nossosníveis de aspiração mais elevados, na condiçãode ideal do eu.

• Classicamente, o supereu é o herdeiro docomplexo de Édipo e se forma a partir dasidentificações com os pais e da interiorizaçãodas exigências e das interdições parentais.

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O conflito

• O conflito que um indivíduo enfrenta na procura dasatisfação para suas necessidades pulsionais pode nãoestar diretamente ligado às forças que compõem àrepressão como a moralidade, a vergonha e a

repugnância.

• Mas ao choque entre os ideais elevados de seu supereue a gratificação de suas pulsões, pois um supereu comaltos níveis de exigências culturais, sociais e morais,torna-se crítico e severo com qualquer desejo que venhadesviar a pessoa de seus ideais e de sua sublimidade.

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O amor de meta inibida

• O amor de meta inibida funda laços sociais, enquanto o amor sexual plenamente realizado não cria laços sociais fora do casal. Por isso diz Freud que a cultura ameaça o amor sexual.

• A vida sexual do homem culto tem recebido grave dano,impressiona-nos às vezes pensar que esta se encontraem processo involutivo.

• Muitas vezes a gente crê discernir que não é só apressão da cultura, senão algo que está na essência dafunção sexual mesma, e que nos nega a satisfação plenae nos leva por outros caminhos.

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A Solução da psicose• Além da solução neurótica, Freud se refere à

solução radical da psicose

• A psicose, essa forma de fuga da realidade comsua própria solução, visitou as casas de nossoscriadores mais fecundos. E não é por acaso

• O último procedimento para afastar o sofrimentoda vida que é examinado por Freud é o do amor

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A solução pelo amor• O amor nos coloca numa situação paradoxal, pois,

precisamente ao amarmos é quando nos colocamos mais a mercê do outro e consequentemente, ao alcance dos infortúnios e das dificuldades da vida

• Há seres humanos que resolveram este problema,transformando o amor sexual num amor sexual de metainibida, e assim se consegue um amor que não éoscilante, que não sofre as vicissitudes da contingência,nem desenganos, nem decepções, nem tormentas enem desilusões

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Destinos e caminhos

• Claro está que todos estes destinos ecaminhos particulares dependem de uma sériede fatores que há de se levar em conta

• Os caminhos para organizar a libido e a vidasexual do ser de linguagem que somos, e quedá como resultado nossos modos de gozo enossos entraves particulares, esses caminhosnem sempre são acessíveis e nem sempre sãofáceis, nunca é de mais dizê-lo

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O amor sexual pleno

• O amor sexual pleno é mais bem algoanti-social, e até poderia dizer-se que viveum pouco dessa anti-socialidade. É distoque este amor respira. Por isso Freud diz:a cultura ameaça este amor pleno

• Além do amor de meta inibida há ochamado amor cortês que foi um inventodo século XII, por isso que José Ortega eGasset diz (quiçá em seus "Estudos sobreo Amor") que "o amor é um estilo literário"

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Por que fracassa o programa do princípio do prazer?

• Se os seres humanos querem a ausência da dor e dodesprazer e almejam vivenciar intensos sentimentosde prazer é porque o princípio de prazer rege opsiquismo

• Dominar as paixões, ou psicanaliticamente falando, aspulsões é menos doloroso do que uma paixão (pulsão)não dominada

• Freud na segunda tópica postula um algo além doprincípio do prazer que chamou de pulsão de morte eque, por sua vez, se opõe ao princípio do prazer. Éesse além, o principal responsável pelo fracasso doprograma do princípio do prazer

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POR QUE SE JOGA A CULPA NA CULTURA?

• Jogar a culpa na cultura pelos males dacivilização, não é justo, pois a cultura, comomesmo afirmava Freud, protege o homem danatureza e regula suas relações sociais

• O homem primitivo compreendeu muitocedo que para sobreviver devia viver emcomunidade

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A pulsão e sua relação com o mal-estar na civilização

• Definitivamente há uma relação conflituosaentre pulsão e civilização que jamais seráultrapassada, uma vez que ela é da ordemestrutural e por isso produtora dedesarmonia nos laços sociais

• Em relação ao instinto pode dizer-se quenão há no ser humano este "saber" inscritono corpo ou nos genes, que seja utilizávelde modo imediato, como se fosse umacaixa de ferramentas

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A pulsão e sua relação com o mal-estar na civilização

• Para compreender o mal-estar na cultura, épreciso compreender o limite que esta impõe àsexualidade humana, pois além decircunscrever a satisfação sexual, a culturaexige outros sacrifícios, como pôr entraves àagressividade dos homens

• Pode se dizer que a pulsão de morte é omaior obstáculo à cultura, é uma dascausas do Mal-estar na Cultura

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Eros e Thánatos e sua relação com a civilização

• Através da mitologia das pulsões – (Eros eThánatos) podemos acompanhar o textofreudiano - O Mal-estar na Cultura

• Neste texto Freud denuncia em toda extensãoo desamparo humano, retirando qualquergarantia de superá-lo, seja por meio da arte,da religião ou da ciência

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O Mal-estar e a religião• Freud no capítulo II faz uma breve observação a respeito da

religião: as vezes, esta consegue poupar a muitos seres humanos a neurose, mas a um preço elevado

• Qual é este preço?

• Paralisar a inteligência e infantilizar-los psiquicamente

• Ademais a religião deforma o mundo com uma interpretação delirante, ou seja, uma interpretação louca dos fatos

• Finalmente, leva-os a aceitar o destino, e a fazê-los depender da vontade divina. "Deus o quis assim", tal é a frase de resignação do religioso ante a vida que lhe toca viver

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A questão de uma Weltanschauung

• Era, pois inevitável que, no final de sua vida, Freud voltasse, de maneira mais sistematizada, seu interesse para os fenômenos culturais e sociológicos

• É quando escreve O Mal-estar na cultura, O Futuro de uma ilusão, Por que a Guerra e A Questão de uma Weltanschauung

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A questão de uma Weltanschauung

• Freud diz que a relação mais problemática entre as Weltanschauungen

• É a que se estabelece entre a religiosa e a científica

• Por reconhecer que aquilo que a ciência oferece para a humanidade é muito pouco e muito severo

Comparado com as onipotentes ofertas proporcionadas pelas ilusões religiosas.

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A questão de uma Weltanschauung

• Frente às dificuldades da condição humana, com seu desamparo, sua fragilidade, seu desconhecimento, sua perplexidade frente à morte, a religião oferece todas as respostas e reasseguramentos desejados

• A ciência, pelo contrário, faz-nos ter que lidar com o desconhecido e trabalhar para chegar a um conhecimento eficaz, não nos poupando a visão de nossa própria finitude e limitações

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O sentimento de culpa e o mal-estar na cultura

• A cultura está unida indissoluvelmente com uma exaltação do sentimento de culpa, que quiçá chegue a atingir um grau dificilmente suportável para o indivíduo

• Existem duas origens para o sentimento de culpa: o medo à autoridade e o temor ao supereu. A união de ambos resulta muito efetiva para o desenvolvimento da cultura

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O sentimento de culpa e o mal-estar na cultura

• o preço pago pelo progresso da cultura reside na perda de felicidade por aumento do sentimento de culpa

• A evolução da sociedade requer o controle dos instintos sexuais e agressivos do indivíduo, de maneira que existe uma estreita relação entre civilização, repressão e neurose

• Quanto mais avança a primeira, mais necessária se faz a segunda e maior é a frustração gerada

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O sentimento de culpa e o mal-estar na cultura

• Sob a coação do processo civilizatório, a agressividade se converte em sentimento de culpa

• Este sentimento de culpa não se percebe como tal, senão que permanece inconsciente ou se expressa como um mal-estar

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O sentimento de culpa e o mal-estar na cultura

• O sentimento de culpa seria o mal-estar da cultura

• o preço que pagamos por vivermos em sociedade, reprimindo a sexualidade e a agressividade

• Sob esta óptica, o mal-estar é estrutural, próprio do processo civilizatório e da organização do psiquismo humano

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Pulsão destrutiva, agressiva• Freud o segue texto do Mal-Estar na Cultura,

no qual afirma:

• Que é na pulsão destrutiva, agressiva, advinda da pulsão de morte, que se encontra o maior entrave para cultura

• Em função do ser humano não poder existir plenamente fora da civilização

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Civilização e o mal-estar• A civilização torna a existência humana

problemática, por não ser mais natural, ou seja, as leis da natureza são substituídas pelas leis da cultura

• Em razão de que, se por um lado, a civilização em si, provoca um mal-estar, por outro lado, sem civilização não teria humanidade, seríamos só outros primatas regidos pela natureza

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Desigualdade provocada pela natureza

• Se buscarmos a igualdade para todos os homens, existirá uma objeção muito óbvia a ser feita:

• a de que a natureza, por dotar os indivíduos com atributos físicos e capacidades mentais diferentes introduziu injustiças contra as quais não há remédio

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A Sociedade do Espetáculo• O que diria Freud hoje da nossa sociedade atual, • denominada por Debord de "sociedade do espetáculo?”

• Sociedade onde o poder - seja qualquer que seja sua inclinação - para perpetuar-se em sua situação de privilégio instala o "espetáculo"

• Onde a realidade é totalmente escamoteada pela manipulação das massas através da midia e da propaganda, feitas onipresentes e oniscientes, muitas vezes apenas para vender ilusões e mistificações.

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A Sociedade do Espetáculo• Nesta sociedade, a midia é pletora da informação

• na verdade desinforma sistematicamente na medida em que não expõe, ou o faz de forma distorcida, justamente aquilo que efetivamente interessa saber e informar

• Ambas – midia e propaganda - se empenham em fragmentar o raciocínio lógico e destruir a noção de história, promovendo um eterno e autônomo presente, Na ignorância ou na negação de um passado conectado ao futuro

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A Sociedade do Espetáculo• Nesta sociedade, a irracionalidade a tudo

permeia, a produção econômica é regida por demandas artificialmente criadas e a única lógica vigente é a de permanência do poder, que usa de todos os recursos para perpetuar-se

• “O espetáculo se confunde com a realidade, ao irradiá-la", diz Debord. Claro que tudo isso está muito longe dos argumentos sustentados pela Weltanschauung científica, psicanalítica, em sua luta contra a ilusão

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A Sociedade do Espetáculo• Por dificultar o acesso à realidade, por alimentar

sistematicamente ilusões, por negar a castração simbólica, essa "sociedade do espetáculo" dá margem ao que muitos chamam de novas formas de subjetivação:

• Como os novos transtornos de caráter, os transtornos de ordem narcísica, as personalidades bordelines, e os transtornos alimentares que são, por sua vez, as novas edições das histéricas dos tempos de Freud

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O campo do mal-estar contemporâneo

• As “religiosidades do espetáculo” com sua irracionalidade mortífera

• Presa fácil dos discursos totalizantes ou hegemônicos

• Alimentam toda sorte de fanatismos políticos e religiosos, associados à promessa de felicidade

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O mundo das patologias narcísicas

• A midia, especialmente a toda-poderosa televisão, bombardeia-nos ininterruptamente com imagens de sucesso sexual e financeiro, mostrando um novo Olimpo, onde desfilam os atuais deuses cheios de beleza, juventude, dinheiro e fama

• Ela promete o acesso a este Olimpo, desde que sigamos suas instruções de consumo, insistentemente propagadas através da publicidade

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As dificuldades da conciliação• Como conciliar Eros e Thánatos e os processos

de civilização/cultura, se ambas as forças em seus limites máximos, representam elementos contra o processo civilizatório?

• Ora, se o processo de civilização pressupõe e impõe formações homogêneas em detrimento daquilo que é heterogêneo, reforçando a massificação que pressupõe a fascinação amorosa e a identificação narcísica que leva à indiferenciação e à massificação, o Mal-estar continua

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Civilização e anulação dos espaços

• O que está em questão é a progressiva anulação de espaços que acolham o imprevisto, a paixão, o perturbador, a singularidade, o estranho e a diferença

• Por outro lado, é impossível não pensar nos interstícios dessa relação paradoxal (entre Eros e Thánatos e os processos de civilização/cultura) através das sutilezas que o texto: O mal-estar na Cultura nos mostra

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A questão que Freud nos oferece

• É impossível também não deixar de perguntar: por que somos sempre tão infelizes e desamparados em nossa aventura da vida?

•• Em Mal-estar na cultura, Freud afirma que as causas do sofrimento

psíquico são três:

• O poder superior da natureza

• A fragilidade de nossos próprios corpos

• Inadequação das regras que procuram ajustar as relações mútuas dos seres humanos na família, no estado e na sociedade

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A questão que Freud nos oferece

• Em Totem e Tabu Freud já tinha defendido a tese

que ele retoma no Mal-estar na Cultura, de que a civilização só pode existir

porque o poder do grupo submete os indivíduos que abrem mão de seu poder pessoal em prol da convivência com seus semelhantes

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A essa tese já fora defendida por Hobbles

• Em 1651, no Leviatã, Hobbes descreve a natureza humana assim:

•• “Ao homem é impossível viver quando seus

desejos chegam ao fim, tal como quando seus sentidos e imaginação ficam paralisados

•• A felicidade é um contínuo progresso do desejo,

de um objeto para outro, não sendo a obtenção do primeiro outra coisa que o caminho para conseguir o segundo

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As novas formas de subjetividade da atualidade

• Estas novas formas estão circunscrevendo o campo do mal-estar contemporâneo

• ao traçar um paralelo entre o mal-estar na atualidade e o mal-estar na psicanálise

• e coloca de um modo surpreendente e interessante, dois "emblemas da modernidade": Marx e Freud

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As novas formas de subjetividade da atualidade

• Pondera-se que a modernidade foi construída em torno do ideário da revolução, a ser promovida pelo sujeito coletivo que tem em Marx o representante da materialização teórica dessa utopia, que marcou de forma indelével os séculos XIX e XX

• Na medida em que se acreditou na revolução como modelo, através do qual o sujeito coletivo sempre poderia reinventar um elemento radical e básico da psicologia humana, o mundo marxista se fez a representação teórica e política da potência desejante do sujeito coletivo

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As novas formas de subjetividade da atualidade

• Freud é enunciado como o catalisador possível das transformações da individualidade ou seja,

• o desejo se faz o único meio através do qual o sujeito pode reinventar seu eu e traçar uma outra história

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Os herdeiros destes ilustres emblemas da modernidade

• sabemos que os herdeiros de Marx transformaram seu pensamento numa ordem mecanicista e econômica

• Os de Freud transformaram, de maneira paradoxal,

• O discurso freudiano numa modalidade de pensamento fundado na exaltação da individualidade e no registro do desejo, sendo que tal individualismo é a marca registrada da sociedade moderna, denominada por Debord de "sociedade do espetáculo” e por Verdú de "capitalismo de ficção"

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Conclusão• Para Freud a cultura exige o sacrifício da

satisfação sexual. No mundo ocidental a exigência cultural é seguir o preceito bíblico: "amarás a teu próximo como a ti mesmo", porém este quase nunca é seguido, ademais é um amor de meta inibida

• Freud se pergunta de que meios se vale a cultura para controlar a agressão que se opõe à ela? Trata-se de uma formação psíquica que Freud denominou de supereu (superego)

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Conclusão• O Mal-Estar na Cultura reexamina considerações a

respeito do sentimento de culpa, sua relação com o supereu, as relações de ambos com a cultura e com uma clínica possível da cultura: uma "patologia das comunidades culturais“

• Quando Freud pesquisa psicanaliticamente a origem do supereu, e de que se alimenta este, de que se "engorda", resulta quiçá que este “remédio de controle é “pior do que a doença”“. Porém é um remédio que, no entanto, tem-se que ingerir. Melhor dito: que já foi ingerido. Como vimos em todo este texto