O menino sol que nunca queria dormir
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O menino sol que nunca queria dormir
Há muito, muito tempo, há milhões de anos atrás, não existia
nada à face da terra… Nada de nada! Nem mesmo pessoas ou
animais. Em contrapartida, o céu já era habitado: o Sol, a Lua, as
estrelas… já lá estavam todos. Naqueles tempos, eram ainda muito
novos, caprichosos, malucos e, por vezes, mal-educados. Sobretudo o
Sol! Passava o tempo a passear os seus raios novos e ofuscantes,
todo orgulhoso por ser o mais luminoso, o mais cintilante! Aborrecia
toda a gente com os seus raios, o seu calor e a sua luz.
— Para de brilhar! Fazes-nos mal aos olhos! — diziam as nuvens.
— Apaguem-no! Não consigo fechar os olhos! — resmungava a
Lua.
— Ah, estes jovens! Julgam que podem fazer tudo! — protestavam
as estrelas mais velhas.
— Nunca estás quieto? — suspirava a Terra, extenuada.
— É sempre de dia! Nem podemos fechar os olhos! — diziam as pequenas
estrelas, que, como todas as crianças, precisavam de dormir.
Todos os habitantes do Céu, cansadíssimos, irritados, tristonhos, começaram a
pensar no que fazer ao menino Sol para ele brilhar menos: fechá-lo num armário
escuro, pôr-lhe graxa preta…
— Isto não pode continuar! — trovejava a Trovoada. — Temos de encontrar uma
solução.
E teve logo uma ideia, que contou à Lua e às estrelas.
A Trovoada teve uma conversa com o menino Sol.
— Solzinho, tivemos uma ideia. Vais brilhar entre nós algumas horas e, depois,
ala!... vais brilhar para o outro lado da Terra. Assim, fazes dozes horas connosco e
doze horas com o outro lado. Enquanto lá estiveres, eles divertem-se e nós
dormimos. E enquanto estiveres entre nós, são eles a descansar. Assim, não precisas
de parar e toda a gente ficará satisfeita!
O pequeno Sol saltou de alegria face à ideia de ter duas casas e,
sobretudo, amigos em todo o lado.
Desde aí, há noite sobre a terra na primeira metade do dia, para grande felicidade
dos seus habitantes, que podem assim repousar. Foi nessa altura, aliás, que os
homens apareceram, dizendo que, com um pouco de sol durante o dia e um pouco de
escuro à noite, a vida seria bem agradável na Terra.
Sabe-se que, à noite, o sol nunca chega a desaparecer totalmente, mas que está
simplesmente do outro lado da Terra, a viver a sua segunda vida, na sua segunda
casa, à espera de voltar. É por isso que nunca se deve ter medo do escuro.