O Movimento Cognitivo Na Psicologia

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O movimento cognitivo na psicologia Em 1913, John broadus Watson no seu manifesto comunista insistia na eliminação da psicologia de qualquer referência à mente, à consciência ou aos processos conscientes. Watson tinha muitos psicólogos seguidores e esses seguidores dos mandamentos de Watson eliminaram a menção e baniram todos os conceitos relacionados à terminologia mentalista. Para se ter uma ideia dessa eliminação, durante décadas os livros básicos de introdução à psicologia apresentavam somente descrições e explicações sobre o funcionamento do cérebro sem mencionar nenhuma discussão acerca de qualquer conceito relacionado à mente, As pessoas comentavam, em tom de piada, que a psicologia "perdeu a consciência" ou "perdeu a cabeça", desvalorizando ainda mais a disciplina. No entanto, de repente a psicologia resgatou a consciência. Em 1979, a publicação da revita American Psychologist apresentou um artigo intitulado “Behaviorism and the mind: a (limited) call for a retum to introspection" ("O behaviorismo e a mente: um apelo (limitado) para a retomada da introspecção"), resgatando não apenas a mente como também a suspeita técnica de introspecção. Antes desse acontecimento de 1979 três anos antes, em 1976, o Presidente da American Psychological Association Wilbert James McKeachie discursou ao público presente sobre as mudanças que estavam ocorrendo na psicologia, afirmando que o novo conceito incluía a retomada do enfoque na consciência. Após esse discurso, vieram às revisões dos livros básicos de introdução à psicologia, redefinindo o campo como uma ciência do comportamento e dos processos mentais e não apenas do comportamento, uma disciplina em busca da explicação do comportamento manifesto, bem como das suas relações com os processos mentais. Ulric Neisser Nascido em Kiel, na Alemanha, Ulric Neisser foi para os Estados Unidos, com os pais, aos 3 anos. Iniciou os estudos universitários na Harvard, formando-se em física. Impressionado com um jovem professor de psicologia chamado George Míller, Neisser chegou à conclusão de que física não era assim tão interessante. Mudou para a psicologia e frequentou o curso de Miller sobre a psicologia da comunicação e teoria da informação. Em 1950, depois de obter a graduação como bacharel em Harvard Neisser recebeu o título de mestrado na Swarthmore College, estudando sob a orientação do psicólogo da Gestalt. Em 1956 retomou a Harvard para onde obteve o Ph. D Em 1967, Neisser publicou a obra Cognitive psychology e disse ser esse um livro pessoal, uma tentativa de definir a si próprio e o tipo de psicólogo que almejava ser. O trabalho também foi um marco divisório na história da psicologia, uma tentativa de definir um novo tratamento para a disciplina. A obra tornou-se extremamente conhecida, e Neisser sentia- se constrangido por ser identificado como o "pai" da psicologia cognitiva. Neisser definia a cognição como os processos pelos quais “a informação sensorial recebida é transformada, reduzida, elaborada, armazenada, recuperada e usada”. (...), ou seja, a cognição está envolvida em tudo que o ser humano é capaz de realizar. Nove anos depois, Neisser publicou Cognition and reality (1976), expressando a insatisfação com a restrição da posição cognitiva e a dependência da coleta de dados em laboratório e não no mundo real. Insistia em afirmar que os resultados da pesquisa psicológica deviam ter validade em termos ecológicos. Com isso, quis dizer que os resultados deviam ser generalizados para as situações além dos limites do laboratório. Além disso, alegava que a psicologia cognitiva devia permitir a aplicação das descobertas aos problemas práticos, ajudando as pessoas a lidarem com as questões cotidianas particulares e profissionais. Decepcionado por não ter alcançado seu ideal de psicologia concluiu que o movimento da psicologia cognitiva tinha pouco a contribuir com a psicologia, no sentido de compreender como as pessoas lidam com as situações. Desse modo, a principal figura na fundação da psicologia cognitiva tornara-se seu crítico audaz, desafiando o movimento. A inteligência artificial Os psicólogos cognitivos aceitavam computadores como modelo para o funcionamento cognitivo humano, afirmando que as máquinas exibiam inteligência artificial e processamento de informação semelhante aos do homem.

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a cognição como forma de entender a psicologia e a inteligencia artificial.

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O movimento cognitivo na psicologiaEm 1913, John broadus Watson no seu manifesto comunista insistia na eliminao da psicologia de qualquer referncia mente, conscincia ou aos processos conscientes. Watson tinha muitos psiclogos seguidores e esses seguidores dos mandamentos de Watson eliminaram a meno e baniram todos os conceitos relacionados terminologia mentalista. Para se ter uma ideia dessa eliminao, durante dcadas os livros bsicos de introduo psicologia apresentavam somente descries e explicaes sobre o funcionamento do crebro sem mencionar nenhuma discusso acerca de qualquer conceito relacionado mente, As pessoas comentavam, em tom de piada, que a psicologia "perdeu a conscincia" ou "perdeu a cabea", desvalorizando ainda mais a disciplina.No entanto, de repente a psicologia resgatou a conscincia. Em 1979, a publicao da revita American Psychologist apresentou um artigo intitulado Behaviorism and the mind: a (limited) call for a retum to introspection" ("O behaviorismo e a mente: um apelo (limitado) para a retomada da introspeco"), resgatando no apenas a mente como tambm a suspeita tcnica de introspeco.Antes desse acontecimento de 1979 trs anos antes, em 1976, o Presidente da American Psychological Association Wilbert James McKeachie discursou ao pblico presente sobre as mudanas que estavam ocorrendo na psicologia, afirmando que o novo conceito inclua a retomada do enfoque na conscincia.Aps esse discurso, vieram s revises dos livros bsicos de introduo psicologia, redefinindo o campo como uma cincia do comportamento e dos processos mentais e no apenas do comportamento, uma disciplina em busca da explicao do comportamento manifesto, bem como das suas relaes com os processos mentais.

Ulric Neisser

Nascido em Kiel, na Alemanha, Ulric Neisser foi para os Estados Unidos, com os pais, aos 3 anos. Iniciou os estudos universitrios na Harvard, formando-se em fsica. Impressionado com um jovem professor de psicologia chamado George Mller, Neisser chegou concluso de que fsica no era assim to interessante. Mudou para a psicologia e frequentou o curso de Miller sobre a psicologia da comunicao e teoria da informao.Em 1950, depois de obter a graduao como bacharel em Harvard Neisser recebeu o ttulo de mestrado na Swarthmore College, estudando sob a orientao do psiclogo da Gestalt. Em 1956 retomou a Harvard para onde obteve o Ph. DEm 1967, Neisser publicou a obra Cognitive psychology e disse ser esse um livro pessoal, uma tentativa de definir a si prprio e o tipo de psiclogo que almejava ser. O trabalho tambm foi um marco divisrio na histria da psicologia, uma tentativa de definir um novo tratamento para a disciplina. A obra tornou-se extremamente conhecida, e Neisser sentia-se constrangido por ser identificado como o "pai" da psicologia cognitiva.Neisser definia a cognio como os processos pelos quais a informao sensorial recebida transformada, reduzida, elaborada, armazenada, recuperada e usada. (...), ou seja, a cognio est envolvida em tudo que o ser humano capaz de realizar.Nove anos depois, Neisser publicou Cognition and reality (1976), expressando a insatisfao com a restrio da posio cognitiva e a dependncia da coleta de dados em laboratrio e no no mundo real. Insistia em afirmar que os resultados da pesquisa psicolgica deviam ter validade em termos ecolgicos. Com isso, quis dizer que os resultados deviam ser generalizados para as situaes alm dos limites do laboratrio. Alm disso, alegava que a psicologia cognitiva devia permitir a aplicao das descobertas aos problemas prticos, ajudando as pessoas a lidarem com as questes cotidianas particulares e profissionais. Decepcionado por no ter alcanado seu ideal de psicologia concluiu que o movimento da psicologia cognitiva tinha pouco a contribuir com a psicologia, no sentido de compreender como as pessoas lidam com as situaes. Desse modo, a principal figura na fundao da psicologia cognitiva tornara-se seu crtico audaz, desafiando o movimento.

A inteligncia artificial

Os psiclogos cognitivos aceitavam computadores como modelo para o funcionamento cognitivo humano, afirmando que as mquinas exibiam inteligncia artificial e processamento de informao semelhante aos do homem.Vrias indagaes foram feitas a respeito sobre a IA, possvel supor, ento, que a inteligncia do computador seja igual do homem? Ser que o computador capaz de pensar? No sculo XXI, ser que as novas geraes de computadores simularo o pensamento humano?Para responder a essa questes, em 1950 o gnio da computao Alan Turing (1912-1954) props uma maneira de verificar a hiptese de que o computador seria capaz de pensar. Chamado de Teste de Turng. O Teste de Turing funciona da seguinte forma.

O entrevistador [um indivduo] estabelece duas formas diferentes de "conversao" com o programa interativo do computador. O entrevistador deve tentar descobrir qual das duas partes seria uma pessoa usando o computador para se comunicar e qual seria a prpria mquina respondendo. O entrevistador formula qualquer tipo de pergunta. Entretanto, o computador tenta enganar o entrevistador, ou seja, tenta faz-lo acreditar ser uma pessoa, enquanto a pessoa de verdade tenta mostrar que ela humana. O computador aprovado no Teste de Turing se o entrevistador no conseguir fazer a distino entre a mquina e o indivduo. Ou seja, Se o indivduo no conseguisse distinguir entre as respostas do computador e as humanas, a mquina estaria exibindo inteligncia semelhante do homem.

Muitos discordavam com a premissa do teste Turing. Um desses que discordavam tendo grande destaque foi o filosofo e escritor norte-americano Jonh Searle. Searle props o experimento mental chamado de "Sala chinesa" e argumentava que o Teste de Turing no poderia determinar se uma mquina pensava. A sala chinesa funciona da seguinte forma.

Searle pede para imaginar mos um sistema onde uma pessoa que no entende o chins colocada em um quarto fechado comduas aberturas.O sistema: um ser humano, que compreende apenas o portugus, equipado com um livro de regras escrito em portuguesas e diversas pilhas de papel, sendo algumas em branco e outras com inscries indecifrveis (o ser humano a CPU, 51o livro de regras o programa e o papel em branco e os com inscries indecifrveis so o dispositivo de armazenamento e o banco de dados). Pedaos de papel contendo um conjunto de ideogramas chineses aparecem um de cada vez na abertura da esquerda. A sua tarefa combinar, de acordo com o formato, o conjunto de smbolos com os de um livro. Quando voc consegue encontrar o conjunto correto, deve copiar outro conjunto de smbolos do livro em um pedao de papel e pass-lo pela abertura da direita. O que est acontecendo' aqui? Voc est sendo alimentado com as informaes pela abertura da esquerda e transmitindo dados pela da direita, obedecendo s instrues (o programa) recebidas. Assim como a maioria dos ocidentais, no se espera que voc leia ou compreenda chins. Voc est apenas seguindo as instrues de forma mecnica. No entanto, se um psiclogo chins estivesse observando a uma distncia bem razovel da parede com as aberturas, no conseguiria perceber que voc no sabe chins. As comunicaes chegam a voc em chins e, por sua vez, voc responde corretamente em chins, copiando-as do livro. No importa quantas mensagens voc receba ou as quantas respondam, ainda continua no sabendo chins. Voc no est pensando, est apenas seguindo instrues. No est demonstrando inteligncia, apenas obedecendo a ordens. Searle afirmava que os programas de computador que parecem compreender os diferentes tipos de dados recebidos e responder a essas informaes de forma inteligente estariam funcionando como a pessoa do problema da sala chinesa. O computador no entende as mensagens, tanto como voc no sabe chins, tanto voc como o computador esto funcionando exatamente de acordo com o conjunto de regras programadas. Vrios psiclogos cognitivos chegaram a concordar que o computador passa no Teste de Turing e simula a inteligncia sem realmente ser inteligente. Concluso, o computador ainda no capaz de pensar. Mas seu desempenho parece simular o pensamento, e isso nos remete s partidas de xadrez de 1997 que devastaram o campeo mundial Garry Kasparov. O que o deixara to abatido, levando-o a abandonar o jogo? O seu oponente era um computador. Fabricado pela IBM, o computador se chamava Deep Blue. Pesava cerca de 3 toneladas, e cada uma das suas duas torres media mais de 1,BOm de altura. Tinha uma capacidade de processamento de 200 milhes de posies por segundo; em trs minutos conseguia processar 50 bilhes de movimento. No foi toa que at o maior mestre do xadrez rendeu-se, desesperado.Todavia, com toda essa capacidade, o Deep Blue estava realmente pensando? A concluso geral foi de que a mquina no pensava, embora se "comportasse" como se estivesse pensando. O Deep Blue mostrou que a criao de um computador capaz de jogar xadrez como qualquer ser humano revela muito pouco sobre a inteligncia em geral. O computador, apesar do fantstico desempenho exibido, ainda precisa ser programado por um ser humano pensante.

O Papel da Introspeco

A aceitao das experincias conscientes fez os psiclogos cognitivos reconsiderarem a primeira abordagem de pesquisa da psicologia cientfica, o mtodo introspectivo introduzido por Wundt h mais de um sculo.Os psiclogos tentaram quantificar os relatos introspectivos a fim de permitir anlises estatsticas mais objetivas e manipulveis. Uma das abordagens, a avaliao fenomenolgica retrospectiva, consiste em pedir ao indivduo que avalie a intensidade das experincias subjetivas durante a resposta a uma situao de estmulo anterior. Em outras palavras, o indivduo avalia retrospectivamente as experincias subjetivas ocorridas durante um perodo anterior, quando lhe pediram para responder a um dado estmulo.Um psiclogo cognitivo notou que no somente a introspeco podia ser amplamente utilizada, como tambm que os estados conscientes revelados pela introspeco so "frequentemente bons preditivos do comportamento da pessoa".Embora alguma forma de introspeco constitua o mtodo de pesquisa mais frequentemente usado na psicologia contempornea, at os mais experientes psiclogos reconhecem as limitaes para a sua validao. Por exemplo, alguns sujeitos podem fazer relatos introspectivos socialmente desejveis, falando aos pesquisadores aquilo que eles querem ouvir em um esforo para agrad-los, ou seja, ocorreria um vis esses indivduos falaram somente o agradvel mais omitindo seus verdadeiros problemas. Outro problema com a introspeco que os sujeitos podem no ser capazes de avaliar alguns de seus pensamentos ou sentimentos, pois eles residem muito profundamente no seu inconsciente, um tpico ao qual os psiclogos esto dedicando ateno crescente.

A Psicologia Animal

No incio da dcada de 1990 dois psiclogos decidiram estudar 44 polvos vermelhos no aqurio de Seattle, Washington, onde cientistas e cuidadores haviam notado que os polvos tinham personalidades diferentes entre si. De fato, eles haviam dado nomes que correspondiam s suas naturezas. Uma fmea apresentou um comportamento tmido e foi chamada de Emily Dickinson, em homenagem poetisa. Outra era to agressiva e destrutiva que foi chamada de Lucrcia McEvil.Os psiclogos observaram o comportamento dos polvos em trs situaes experimentais e verificaram que diferiam em trs fatores: atividade, reao e fuga. A resposta pergunta: - os polvos tm personalidade?foi inexoravelmente afirmativa. Desde essa pesquisa, os estudos tm documentado caractersticas de personalidade em uma variedade de animais, incluindo peixes, aranhas, animais de grande porte, hienas, chimpanzs e cachorros. Por exemplo, algumas hienas foram observadas em um zoolgico por seus cuidadores que relataram que apresentam caractersticas semelhantes s dos humanos, como excitabilidade, sociabilidade, curiosidade e positividade. Ratos exibiram certo grau de empatia por outros ratos com dor, assim como os chimpanzs, elefantes e golfinhos. Os orangotangos com grau elevado de extroverso e amabilidade, e baixo grau de comportamento neurtico, tambm apresentam um alto grau de bem-estar subjetivo.Alm disso, os traos de personalidade exibidos por cachorros tm sido medidos com a mesma exatido que nos seres humanos.Se os animais so to semelhantes aos seres humanos em termos de processamento cognitivo, temperamento e personalidade, isso significa confirmao adicional da importncia da evoluo em todas as criaturas vivas? Como veremos o campo relativamente novo da psicologia evolucionista dedica-se investigar justamente essa questo .