O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

162
hist6ria dos bairros de sao paulo a nobre e antigo bairro cia sc barros ferreira prefeitura m unicipa l . secretaria de educacao e cultura

description

Série História dos Bairros, 10 (1971)

Transcript of O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Page 1: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

hist6ria dos bairros de sao paulo

a nobre e antigo

bairro cia scbarros ferreira

prefeitura municipal . secretaria de educacao e cultura

Page 2: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira
Page 3: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

o Nobre e Antigo

BAIRRO DA sf:

S arros Ferreira

escreveu

LeN 1377981 st RIE

HIST6RIA DOS

BAIRROS

DE SAO PAULO - X

Page 4: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira
Page 5: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Prim eiro pr emio do III Conc ur iWMunicip al de HIs l6r ia des Bairros deSao Pau lo, promovido pelo Depa rta·me nto de Cu1tura da Secrelarla deEduca~ iio e Cullura da Prefeilura doMunicip io de Sao Pa ulo, e oulorgadopela Comi ss ao Julgadora assl rn een s­t itui da: Dr. Pedro de Oliveira RibeiroNelo, Dr. Ped ro Br asil Bandecchi eDr. J ose Ped ro Leile Cordeiro.

Page 6: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira
Page 7: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

INDICE

Intr6ito .... . .....•. .... ..... . . . . . . .... ..... . . . ...........•.. ... 9

o r atio do Colcg io 16

A Ev()lllC;iio • . ....••..... . . . ...... ..... . . . ....... .. ..... ......... 21

Os Templos . ...... ... . . ...... .... . .. . .... . . •.. ... . ..•... . •. . .... 3 1

Inicio de Temo-Pris _. _ " .. . .. 32

A Igreja do Rosano _. . . . . . . . . . . . . .. . . . .. . . . . 36

Rcmodela,.ao da Ctdade 39

Convcnto e Igre ja do Canno ... . .. . ... ....... • • . . . . ....... . •. •. .. 43

Sao Fraecisco , 0 M'U Largo. 0 set! Ccnven to e Igre ja • •...... .. . . .... 4-1

Dots Vclhos Logradouros .. . . •...• • •. .... .•... ....... . ........... 48

o Largo da Se .....•... ............. .. . ............. . ....... ... 49

T res TC'tllplos .... . . . . . . . .... .. . . . . . . . . ... .. . . . . . ... .... • . . . . . • .• 50

A Catcdral 50

Sao Bento .... •.. .. . ... ........ . . . .. .... ..... . . ..... . .. . . . ... ... 52

Boa Morte • . .••• • . • . ......•.. .. .•.. •.... . .. . • • •..... .. . ..... • .. 55

As Ruas . . . .•.• . .. . . . . . . . . . . . • . . • • . . • • .... ... • . . . . .. •...•..••. . • 56

A Pra~a da se 62

A Avenjda Sao Joao e Rua Sao Jose __ .. 69

o Largo Joao ~ lcnd('s i2

o Largo da ~liserk6rd ia 75

Sao Bento i 7

o Largo &1 Se e Ruas Vizi nhas ...• .... . . ..........•. .. .... •.... . 79

Os Becos ... . . .•.. . .... •... ... . . ... .•..•. . .• ...... •..........•. . 8 1

Tebas E~istiu? ... .. . .. ...... ..• . .. . . . ....... . .. . . .. . .. . . . . .. .... 82

o Parque D. Pedro II 83

o HAIRRO D A SF: 7

Page 8: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

A Companhia da v arzea do Canno .

Os Viadutos . • •. • . • . . . . . . . . . . • . . . . . .. . . . . . . . .

o Viaduto da Boa Visla . . . . . . . . . . . . . . • . •.

Os :\Iereados .... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . •

o Bairro da se Experunenta e Ensina ........... ... ... ...... .• ... .

Os Bondes de Burros . . . . . . . • . • . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . .

Parte 0 Primeiro Bonde Elkrico ... . .. ......• .... ...•......... . . .

Um Sistema de :\Ict ropolitano •. • . . . . . . . . . ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . .

A lIumin ac;;ao •.• .....• .. . . . . . . . . • . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . .

A Transformacao .

~ Iut;u.Ocs .

o Pcrcurso dos B,,"dl'~ no Cc.·ntro .

A Djvcrsuo

Os T catros

Os Cmemns

o T ri;'ll1gulo

Os Monumc ntos .

o "Marco Zero" .

Os jornnis

o Idilio ........ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ••

o I'ri mc iro Cem iterio . . . . • • . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .•

Ch;lguinhas •.•. • . • . . . . . . . . . . . . • . . . . . . . . . . . . . . . . • . . . . . . . . . . . . . . ..

o Enlorcamento . . . . . . . • . . .• . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . .

o ~Iilagre .

Inicjo de uma Dcv~ .

Uma Rua Desaparecida ..... . .. . . .... . . .... . . .... . . . .. . . . . . . . ... •

Os Tres Grandes da st· . .

o Tribunal de Justis-a . . . . . . . . . .

A Fat'1.lldade d e Direitc . .

Completa-se a T ra nsform;t<;uo .

Exemplus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

I'olitit-a c Adminislras-uo .

o l'm.o C II Senado .

o Coveroo ~ I unieipal .

Os lntcndentcs .

Hibliografia

85

88

9293

00

101

10"2

104

107

112

115

118

120

121

125

125

127

128

130

129

J32

""135

136

13e

13.

137

139

140

H 2

147

149

150

152

153

157

• o 8 .URRO DA S£"

Page 9: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

INTROITO

Urn "rimance " popular, Jesses derima casuante e encadeada, de quea "Nau Cotarinela" 10; a mais di­[undida expressiio, entoa:

"Dobram as sinos do St.Jesus. quem morreria . . ."

Eram sempre as slues da Se que anunciavam com sua plan­gencias au alegres repiques as acontecimentos marcanres do coti­diana. Logo que uma povoacao passava de vila a cidade tinha comoprincipia, tornado questao de honra, a construcao de uma igrejacatedral, de uma majestosa St . servindo de base a euforicas compa­racoes.

o mundo hispanico espalhou pelo contincnte temples majcs­tosos que se tomaram simbolos do grandiose, caracteristica domi­nante do povo peninsular. A Se constituia urn coroarreruo. Eratambem a parte mais nobre da povoacjo. E 0 seu bairro 0 nucleo

mais importante.

Em Sao Paulo, 0 bairro da Se foi a scmente de tudo quebrotou depois. Ate onde chegava 0 dobrar dos sinos gente erguiamoradias. Continuou sendo 0 exemplo para todas as soluczes gene­ralizadas. A comecar pete crescimento para 0 alto. Aparentcmenteos recenseamentos marcaram diminuicllo constante da populacso da

o BAIRRO DA S£ 9

Page 10: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Se. De 25 mil almas lui um seculo passou a 12 mil em 1920 , tinha8.68 2 pelo recensea mento de 1960. Por estimative, 8.707 em dezembrode 1964 . Hoje deve ter menos resldentes. Por que as mor adias cederamlugar aos predios de escrltorios, oficinas, cart6rios, consult6rios, lojasde toda a sorte. Povoa-se com dezenas de milhares de pcssoas logoque amanhece. Chega mais genre, sempre mais genre a medida queamadurece 0 dia. Despovoa-se a medida que se aproxima a noite.Dcpois das 20 horas aqueles predios que se assemelhavam a formi­guciros, que cram colmeias humanas, tomam 0 aspccto frio, silencioso,quase Iunereo de jazigos. As luzcs apagam-se. As mdqulnas cessamde matraquear. 0 silencio assenta como poe ira invisfvel. Se urn peda­cinho de reboco se desprende e cal, ao atlngir 0 chao ressoa comopcqucna trovoada domiciliar .

No entanto, dura nte 0 dia ajunta-se uma populacjto f1 utuan:ecalculada em urn milhao de almas. Chcga m para urn encontroquatquer, por motives de ncgoclos, para tratamcnto ; fcchado 0 ne­

gocio, feita a cc nsulta ou 0 tratamento, cada qual parte, regressandoao lar . F ica apenas uma populacao de numerosos empregados esperandosua vez de part ir. E quando 0 sol se esconde pingam as seis boras

da tard e, pelos elevadores descem multidocs que as ruas nao poderiamcenter se saissem de uma 50 vez. Form am-se rios de gente. Sao caudai sacclcrados, em dcmanda dos pontos de embarque. Duran te uma hera

o centro da cidade e urn mar humano que vai baixando lentamen te,as ondas que embarcam nos onibus superlotados.

As 9 horas da noite 0 bairro da Se este morto.

Terminou a praia- mar hum ano.

Uma pergun ta se levanta : 0 que e a bairro da Se, no presea te?

Quais a s seus limites, suas confrontacocs?

Impoe-se explicar que h3. de fate duas Circunscncoes. A 4.&, aRua Major Diogo, 218, a partir de 1932. E a 1.&, a Rua Vinte c

Oua rro de Maio, 208, ate esse ana .

Para fins de reglstro de Imoveis as llmltacocs sao as seguintes:

Run Tabatingucra , Parque D. Pedro II ao longo da margem esquerda

do Tamand uatel ate a Rua Carl os de Sousa Nazare, onde cncontra

com a Avenida Prcstes Maia pcla qual segue do lado do Mostclro deSao Bento. Prossegue ate a Praca da Bandeira. Sobe pela Rua

10 o 8.-\IRRO D A S£

Page 11: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Riachuclo, entra na Praca Joao Mendes. Do lado da Catedral pertencea St . Do lado oposto e ja distrito da Liberdade.

Corrcsponde a cidadc que 0 Marechal Daniel Pedro Millier en­controu em 1820 e que Taunay clta, transcrevcndo trecbos em Histcr lada Cidade de Sao Paulo sob 0 Imperio. Tinha como apendice as Ire­gucsias do Born Jesus do Bras c San (sic) Ephigcnia. A Ireguesla daSe dividida em Se Sui com nove quartelroes e Se Norte, com 19quarteiroes. E dentro dessa area ou a cia encostadas chacaras de frutase cha. Como grandes edificios sao citados: Sc Catedral, Conventos doCarmo, Sao Bento. Santa Teresa (Recolhimcnto) , Sao Francisco,Palacio do Govemo, Ouartcl Militar, Casa da Camara c Cadeia.

Num dcscampado 0 Convcnto e Igreja da Luz. Como ediffciosmenotes as Capelas da Miseric6rdia, Sao Goncalo, Santo Antonio doRemedio (sic), Boa Morte e Rosario.

Os limites sao geograflcos. Bern definidos pclos rios Tamanduateie Anhangabau.

Sabre 0 Tamand uatei un;a ponte de alvenaria. Na altura da Ladeirado Carmo, onde Muller construiu 0 paredao que acabou com os dcsli­zamcntos tratados de "vocorocas". E urna ponte de madeira. Possivel­mente a que aparece na plama do scgundo-tencnte do Real Corpo deEngcnhciros Rufino Jose Felizardo e Costa, de 1810, com posterioresretoques de Pedro Miiller, e com a denominacjo de Ponte do Fonseca.Tres pontes de alvcnaria sabre 0 Anhangabau, a primeira em sequenciaa Rua Miguel Carlos, depois da Consutuicao, atual Florencio de Abreu.Era antiga trilha alargada por ordem do Capitao-General Franciscoda Cunha Meneses em 1782. Chamou-sc primeiramentc Miguel Carlosporque ali era chacara do procurador da Coroa Miguel Aires deCarvalho. Evitava 0 antigo rodelo, 0 "Caminho para a volta grande".dando acesso aos campos do Guare, atual Luz. A segunda, na Ladeirado Acu. A terceira ao fim da Rua do Piques, continuacao da Rua doOuvidor. A c6pia de Cursino de Moura, de 1841. baseada naplanta de Rufino Jose Felizardo e Costa nao menciona a ponte deSanta Efigenia, que Dcbrer incluiu no seu album de aquarelas sabreSao Paulo, datado de 1827, no qual figurarn, entre outros aspectos,como 0 atcrrado do Bras, Ladeira do Carma. como rim do caminhodo Rio de Janeiro ; Palacio do Governo com a Igreja do Coleglo; euma vista gcral da cidade.

o BAIRRO I>A S F:: 11

Page 12: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira
Page 13: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Curiosos pormenores se observam ncsscs trabalhos, como 0 vcs­tuario dos bomcns, integrado por espantosos chapc us c os trajcs dasmulhcres. As figuras formando cenas de costumes.

Na Primcira Circu nscncao, it Rua 24 de Maio, 208, estao osregistros a partir de 1866. A obrigatoricdade da Inscricao foi csta­belecida pelos atos 1833 e J863 e por lei de 20 de dezcmbro de 1905.Fixados as areas de accrdo com a divisao em Iregucsias. Era bernmaior do que a a'ual 4.8 Circunscricao, que foi sua celula-rnater.Abrangia a cidadc daqucle tempo.

D primeiro regisrro existcmc rcfcre-sc a im6vel na Rua da Con­solacao, n." 60. Data de 1866.

Urn pormenor curioso: ali, naque1e carto rio, trabalhou Arturda Silva Bemarocs, que foi mals tarde presidente da Republica. Dcixoua sua assinatura como escrcvcnrc cnquamo estudava na Faculdadc deDlrclto. Urn dos registros corn sua caligrafia tern data de 1900.

o fate de a Inscrcno des imovcis tornada obrigatoria s6 noultimo quartclrao do scculo passado cxplica a acontccido com Ordemde Sao Bento quando vendeu predios de sua propricdade no Largo deSao Bento, por premcntc neccssidade. Fora cndossantc da Ordemno Rio de Janeiro, a qual Iniciou grande melhoramentos na baixadaf1u minense que, dcvido a crisc de 1930, malogrararn. Entdo a Ordemde Sao Paulo tcve que vender scus imcveis no centro. E quando 0

jurisconsulto Abraao Ribeiro, advogado dos menges, examinou aspapcis, nao enconrrou precisao, do ponte de vista juridico, para serhomologada a venda. A solui;ao encontrada foi a posse por usucapiao,pais tratava-se de bcns tides, havidos e mantidos por muitos decenios.Pcnodo muito maior do que 0 minimo de trinta anos de posse mansae pacifica, como detenn inava a legislacao vigorantc.

Dutra pcrgunta sc levantava: E quais as confrontacces da par6quiada Sc.

A antiga Ireguesla era imcnsa. Abrangia tudo quanta a vistaalcancava. A medida que os crmos sc povoaram comccaram as sub­dlvisocs! Prolifcraram as novas paroquias. A imensidao antiga la-serestrlnglndo. Urn quadro on Sacristia da Categral informa as coo­Irontacccs.

A atual Ircgucsia da Se limita-se com a Par6quia da Consolacaopcla Rua Dr. Falcao e Rua Libero Badar6. Com a Par6quia de Santa

() 8.'IRRO tH. SF: 13

Page 14: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira
Page 15: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Eflgenia pela parte alta da Rua Llbero Badaro e Largo S. Bento.Com a Paroq uia de Sao Vito Martir - Bras, pelas Ruas Varnhagem eViote e Cinco de Marco. Com a Par6qu ia de Nossa Senhora da PazpeIa Rua Fred erico Alvarenga, Ru a das Carmelites, Rua Oscar CintraGordinho, ccmeco da Rua Glicerlo, Rua Conde de Sarzedas, RuaTomas de Lima (de ponta a ponta), Rua da GI6r ia, depois da curva,Rua Sao Joaquim, Rue Galvao Bueno, Rua America de Cam pos,Largo da P6lvora . Neste ponto ja entra na Par6qu ia de Sao Joaqu im,do Cambuci e Paroqu la Nossa Scnhora do Carmo - Liberdade,pais tern como fronteira a Rua Jaceguai. Termina na Paroquia deSao Francisco com a qual 0 limite e feito pela Avenida BrigadeiroLuis Antonio e depois pclos largos de Sao Francisco e Ouvidor, pros­seguindo ate a jun~ao da Rua Jose Bonifacio com Rua Libero Badaro.Inclui, portanto, grande trecho da Libcrdade, como as pracas Setede Sctembro, Carlos Gomes, da Libcrdade, Almeida JUnior. E as ruastransversals ate a Rua Tomas de Lima e dos Estudantes, Santa Luzia,Dr. Lund, Sao Paulo e Barao de Iguape. Do outro lado do espigao,as ruas Asdrubal do Nascimento, Jandaia, da Assembleia e Dr. Rod rigoSilva. Inclui ainda as capelas des Aflitos e Santa Cruz dos EnforcadosS bern maior do que a area da 4.8 Circunscrlcao do Reglstro deJmdveis.

A atual Se nao se Iimita ao bairro. a uma das doze Adminls­tracoes Regionais em que a capital paulista foi dividida, em cumpri­menta de urn velho plano de descentraltzacao admin istrat ive. Terncomo limite extrema sui a Avenida Paulista. Segue pclas ruas Para iso,Topazio, Machado de Assis, Jose do Patrocfnio. Kimb6, trecho daCoronel Diogo, ate a Avcnida Lins de Vasconcelos, pela qual descc.Em seguida, dcscnvolve-se pela Rua Barao de Jaguara ale atingir a Ave­nida Alcantara Machado, continuando poe esta ate a Rua DomingosPaiva, passando aRua Monseahor And rade ate a Rua Joao Teododo epor este ate a Rua Paraiba. Continua pela Avenida Dr. Carlos de Cam­

pos, pela Marginal Esquerda do Ticte e por esta prossegue no trechochamadc Elisabe te Nobiano, continuand o ate a Avenida Rudge, atin­

gindo a Avenida Pacaembu, que faz urna especie de venice de gra nde

dngulo agudo com a larga arteria que corte a varzea do Born Retire .

Continua pela Avenida Pacaembu e ao chegar a Praca do Estedio

segue pela avenida lateral denom inada Paulo Passalaqua. Rurna de-

o DAlRRO DA sr. 15

Page 16: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

pois em direcao a Rua Fagundes, acompanha a Rua Major Natanaclate a Avenida Dr, Arna ldo c por csta atinge a Avcnida Paulista.Consultand o a mapa da cidade verifica-se que esses limitcs englobamnumerosos bal rros, como Barra Funda, Born Rctiro, Pari, Santa Cecilia,Santa Efigenia, Co nsolacao, Bela Vista, Liberdade, parte do Cambucie do Bras.

Area imensamcntc maior do que 0 bairro da Se, constituido pelomiolo da cidade. E que foi a area da cldadc antiga de S. Paulo, nocorneco do seculo passado. Tem as scus Iimites nos antigos largosde Sao Bento, Sao Francisco, Carmo, Joao Mendes e Rua Tabatingiiera.

Hoje, aprescnta singular contraste: e a parte da capita l queconcentra maior numero de pcssoas por metro quadrado e de noitcse despovoa. A populacao, atraves dos rcccnscamentos, como pcssoasresidentes, diminui eontinuameote. No entanto e na sua area qu e sccrguem os maiores cdificios paulistanos. AS de maior capacidade. asde maie r altura . Ab rigando milhares de cscri 'ortos, de eonsult6rios, debancos, de oficinas e de lojas.

Em varlas ruas, sc a populacao que trabalha nos cserit6rios elojas tivcsse que sair ao mesmo tempo nao haveria possibilidade deeseoamento. As vias nao tern capacidadc para reccber de urn s6 vezas multidocs que sc foram conccntrando durante vanes horas nosmulriplos anda res.

Ja foi dito que todo 0 dinheiro circulantc do Brasil nao daria paracomprar de eontado os im6veis cxistentes dentro da sua area.

Sao Paulo nasccu nessc bairro. B uma suntuosa projccao notempo prescnte de humilima fundacao do passado .

o PAn o DO COLEG IO

A hist6ria da frcgucsla e bairro da SC cntrosa-sc com a de SaoPaulo. De tal maneira que nao se pede destrincar ondc comcca umarua e onde termina urna cronica. Ate 1800 tudo foi uma coisa s6.

o bairro da Se nasccu ali 0 0 Patio do Colegio no dia 25 dejaneiro de 1554. Para 0 Padre Serafim Leite, que sc tornou incon­teste autoridades sabre tcmas paulistanos do seculo XV I, ap6s a suahoncsta c proffcua pesqulsa, pubhcada sob a dcnominacilo de -His/aria

o RAIRHO DA Sf:

Page 17: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

da Com panhia de l esus, no Brasil. a Iundacao de Sao Paulo e ante­rior . Data de quando Manuel da N6brega subiu, em 1553, ao planalto,cscolhendo 0 lugar em que seria erguido 0 Coleglo.

Mas nessc andar de coisas ainda houve posslvelmente fundacaoanterior de urna vila de Sao Paulo de Piratininga, por ordcm de MartimAfonso de Sousa.

No prirneiro caso, temos 0 trecho da carta de Manuel de Nobrega,de 30 de agosto de 1553, nos scguintcs termos :

"Ontcm, que foi dia da dcgolacao de Sao Joao Batista, vindoa urna aldeia se ajuntaram novamentc e se apartam os que se conver­tern e pus dois irmaos para os doutrinar, fiz solenernente uns 50 cate­cum enos' ' . . .

Para Serafim Leite essa carla e a cenidao de idade de S. Paulo.Nobrega nao fieou por ai. Acompanhado de urn filho de Jo5.o Ramalhoc do jcsuita Antonio Rodrigues afundou no scrtso chegando it aldeiade Manicoba, onde fica a atual I1u, 40 leguas alem do planalto. Visavaatlngir 0 Paraguai, no que foi impcdido pela prudencla de Tome deSousa.

No segundo case, anterior ainda, outra povoacao de Sao Paulocxistiu. e muito expressivo 0 registro do famoso Diorio de PercLopes de Sousa e relativo a data de 22 de janeiro de 1532: "A todosnos pareceu tao hem esta terra que 0 Capirao J . determinou de pavoarc dcu a todos as homens terra para fazercm Iazendas. Fez uma vilana ilha de Sao Vicente c outra a nove leguas dentro pclo scrtao, aborda de urn rio que chama Piratininga e repartiu a gentc ncstas duasvilas. E fez nclas oficinas e pes tudo em boa ordem e justice."

Tempos ai, pais, a prova da existencia de urna povoacao rnuitoanterior.

Tudo isso diz respeito, afinal, a fundal;ao de urn povoado cnao da vila. 0 primeiro nucleo estava slmado entre a foz do Anhan­gabau e do Tamanduatel. Desapareceu, scm deixar vesuglos. comosuccdcu a Santo Andre da Borda do Campo, muiro citada nas cre nicas.Niio restou nada que Iizessc garantir ou mesmo pressupor : "Foi aqui."Mas e multo Importante a data da cxtincao de Santo Andre, porqueresultou a vinda do pelourinho, insignia municipal, 0 que aconteceuem 1560. Dessa maneira a existencia de Sao Paulo de Piratininga

o 8 :\IRRO D.\ S£ 17

Page 18: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

passa a ser considerada como vlla e com representacao municipal apartir desse ano.

Joao Mendes Junior asslm opinava salientando : "A Camaracompunha-se ao que parece e resulta da diffcil Ieitura des redadoslivros da vereanca do Arquivo Municipal, de um ju(z ordinar io, seupreslden-e nato, de Ires vcrcadores, de uma almotace, de urn escrivaoe de um procurador do Concelho."

Em 20 de maio de 1561, ja a Camara Municipal de Sao Paulode Piratininga representa ao Governo da Metropole, pcdindo armaspara a defesa contra selvagens "e bern assim - destaca ainda JoaoMendes na sua Monografia sobrc 0 Municipio da cidade de SaoPaulo - que 0 produto dos dfzimos seja gaslo em fortificar a vila".

Isso foi feito. Muralhas de talpa circundavam a povoacao exis­tcntc. Sao Paulo cabia no especo do ehamado T riangulo, au scja acolina que ainda hoje pede pcreebcr-se pelas ladeiras cxistcntes daAvenida Sao Joao, General Carneiro e Porto Gcral.

Manuel Alves de Sousa, a proposlto das primeiras atas paulistanascementa que 0 volume com 0 ndmero I , do Arqulvo Municipal, naocontern os manuscritos dos dois primeiros anos da vida municipal,nascida em 1560. A primeira ata conhecida data de 1.0 de janeirode 1562. Por eta se sabe que a Camara Munical era constitulda porAntonio Cubas, juiz ordinario; Jose Aires, procurador do Concelbo;Garcia Rodrigues, vereador. As atas dos dois primeiros anos deCamara perderam-se. assim como as des aDOS de 1565 a 1571, asde 1574 e tambem do pcriodo de 1596-1599.

A segunda ata contida no volume publicado que abrange 0 periodo1562-1569 traz uma informacao muito elucidativa. Datada de 4 dejaneiro de 1562 revela: a reuniao foi "nas cazas de l arge Moreirapor niio haver casas de cosello e na dita Camara" .

Nao havia, pois, ediffcio da Camara. A municipalidade reunia-sena moradia de urn edil.

A povoacao ia prospcrando. A ara de 6 de outubro de 1583 diz:"ncs ta vlla de Sao Paulo do Campo ao domingo, ao sair da igreja,como de costume nesta vila se apreguarao as postures".

Dois fatos: existe igreja com movimento de ficis e uma CamaraMunicipal utuante.

18 o BAIRRO D.... S£

Page 19: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Niio tern cadcia, fato posto em evidencia na ata de 9 de novembrode 1583 em que e relatado como Pedro Dias, 0 coxa, matou urnfrade a punhaladas e a justice 0 tinha preso e era mister ter prisoese carcerelro , e a "cadeia nao tern nad a disso" , 0 que significava naooferccer segura nca. E surge 0 rcquerlmceto "como vercadores destavila de parte de Sua Majestadc, que mande dar as prisoes necessariesporq uanto nao ha com que castigar as malfeitores".

A 16 de dezembro de 1581 a Camara reunc-se e determinaprovldencias para que tlrem 0 gado que anda nas capoeiras de Garepe.Os donos sao intimados a guarda r melhor seus animais. Na reunlaode 17 de fevereiro de 1582 sao fixadas multas de mll-rels, sendometade para quem acusar e metade para as obras do Concelho davila, a quem bolir com a gado sem liceuca, der pasta que fO r doConcclho, pegar fogo em campo au capoeira. 0 que dcmonstra abun­dancia de gado e ccrto deslclxo.

As ala s desse ana falam na obrlgacao de limpar os terrenos"dos muros arora vintc brasas cravciras" c explica "dos muros velhospara for a c dcntro quem tiver chams" - 0 que indica a existencia deIor tificaciio.

A de 14 de abril de 1590 ja contem espccif lcacoes notaveis aodcterminar que nenhum a pessoa edifiquc casa ou curral junto afazcndado vizinho a menos de duzcntas braces de distancia sob malta de50 reis para 0 "concelho cativos c acuzador" .

o Patio de Coleglo e, pais, pcla histor ia e posicao 0 luger maisnobre da cidade. 0 mals evocativo e, de certo modo , 0 mals largado .Ali nasceu Sao Paul o de Pirat ininga. E dura nte as primeiros scculoscentrallzou a vida do novo burgo que despontava entre tremendosperigos. Pat io do Coleglo passou a scr chamado. Serviu de cemlterio,de pon to de rcuniao para os vivos, que iam assistir a missa, c paraas mortos que transbordaram da nave central da pequena lgreja queos jesuitas ergueram. 0 que t inha de rnais evocativo a picareta derrubou.Scm maier necessidade. Assim desapareceu a velha igreja do Colegloque nao era, por certo, a primitlva. Resultava de var ies c sucesslvasreformas. Mas 0 que ainda restava teve a rufna acelerada. Segundo 0

Padre Seraf im Leite, ate para 0 seu telhado encaminharam as aguasdas chuvas, a rim de se aprcssar 0 desmantclamento, em tempos deagressivo positivismo.

o BAIRRO DA Sf: 19

Page 20: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

A semente da metropole de hoje Ioi ali lancada ha mais de quatro

seculos. Nos campos de Piratininga, de Serra Acima, dcnominada,

alern da vila de Santo Andre da Borda do Ca mpo, peste avancado

na boca do ser tao. 0 Padre Manuel de Paiva, a mandado de Manuel

da Nobrega , chegou com mais doze jesuitas. Entre eles Jose de

Anchieta, ainda adolescente. Os chcfes indios Ca iubi e Tlb lrtca ajuda­

ram com seu gentio a crguer uma construcao rustica. Troncos, barro

e cobertura de patmas. Em vol'a se fixaram os guai nas.

E porq ue muito gr ande era 0 perigo, a medida que se fixava m

os habltan tcs, cstendiam uma for tlflcacao. Para se defendercm des

ataqucs dos ind ios hostis que vagucavam pclos campos de Piratininga,

em som de guerra.

A Iort ificacao era, annal, mais uma cerca do que solida mu­

ralha . De pau-a-piquc. Alguns trce hos de bar ro de sopapo. De vczem quando, uma especic de baluarte para pcrmanente atalaia. A for­

tificar;ao dcscnvolvla-se em volta do trecho que ficou sendo conhccido

como "Trlangulo". Acompanhava 0 alto da ladcira fngrcme em euja

base se dcscnvolvcu seculos depois a atual Ru a Lfbcro Badaro . Es­

trareglcamcnte, a fortificacao era pcrfeita e lsso ficou demonstrado

por ocasiao do ataquc dos tarooios, guainds e canj os confcderados,

em 1561. Tibirica comandou a dcfesa. A luta foi sangrenta . Tcrr ivcl.

Entre os ataques estava gente do seu sangue. Seu sobrinho Joanharo.

Ou tro chefe indfgcna era Piquerobi.

Sobrc a primitiva capcla broto u urna igrcja, acrescida de grande

colcglo. E muito tarde comeca ram a aparecer passagcns substerrancas

atribuidas a necessidade de fuga em assedio. Passaram a construir mis­

tcrio. Escondcrijo de dcsaparecido lesouro?

o colegio representou 0 inicio. Dois anos apes e que ao Iado

subiu a capcla. Em 1556 , portanto . Em volta ia crescendo a povoacao .

Meia duzia de camlnhos, pomposamente conhecidos como ruas.

So dois secutos dcpois, como resultado de riqucza das minas, cole­

gio e igreja reeeberam grande imp ulso. As parcdes fora m aumentadas.

Tiveram cobertura de telhas cozidas. J a formavam urn sobcrbo con­

junto. Coleglo e igreja.

20 () HAlH.RO UA S ~

Page 21: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

A EVOLU<;AO

A cerca tipo murafha nao Ioi precaucao inutil. Comprovou-oo assalto c assedio de dai s dins em 1561, pelo gentio guiana que quaseconseguiu 0 sell intento destruidor. Assim comecou Sao Paulo. Cresceu

em volta da Ircguesia , igreja e Casa do Colegio. No scculo XVII cabiadentro da celina inicial. Tinha por Iimites os conventos com respcctivoslargos: Sao Bento, Carma , Sao Francisco .

A mcdlda que se sucedla m os decsnios, a vila crcscla c a igrcja eo Cole gio tambcm. lam aumcntando em ruimero e qualidade as mora­dias em volta . D. Angela de Siqucira contr ibuiu para grande reformades construcccs jesuitas. A Compan hia de Jesus ia ficando mais pros­pera, com as doacoes e herancas. Muito paulista prospero tcstavalegando-l hc seus bens como 0 Iamoso Padre Pornpeu. 0 celebre Cresuspaulista. No comeco do seculo XVIII foi concluida a terre da Igreja, dotijolo, pcdra e cal. Surgiu enrac 0 conjunto que ia pcrdurar ate fins deseculo passado. 0 largo passou a ser chamado Pat io e tomou-se 0

local das gra ndes cerimonias paulistanas. Eram entao freqiientes, na­

queles tempos de acendrada fe, as grandes procissocs. E entre todas

destacava-sc a de Corpus Christi. Entao a Camara Municipal ordcnava

que fossem fechad as com palmeiras todas as ruelas de accsso. Uma

cortina vegetal cercava 0 Patio do Colegio e 0 largo ancxo da Se,

formando duas alas.

Com a cxpulsao dos jcsultas ao tempo de Pombal em 1759

aconteceram grandes transformacoes em decor rencia do confisco de

bens da Compan hia de Jesus. Entao, a capi tania de Sao Paulo tevc

como Govcrnador D. Luis Antonio de Sousa Botelho Mourao, Morgado

de Mateus, que ocupou os idificios dos loyolanos, determlnando obras

de adapt acgo que duram de t 765 a 1769 .

o convente foi ocupado para scde do govemo. Do que era rcstou

apenas a pa rte extema intacta . Ao vice-rei , 0 Morgado de Marcus

relatava : " Mande l Iazcr quase de novo a ter re deste Colcgfo, todo 0

alpendre da porta ria, todas as pnsocs c corpo da guarda destc govemo

e hospital des soldados e dos ncgros. rctalhar por diferentcs vezcs c

a cada passe (pc lo perigo que cor rem as paredcs por serem de terra )

grande quantid ade de conscrtos particulares e precisos, uma veranda

o B.U RRO lB . St. 2 1

Page 22: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

que era muito necessaria para desafogo dos corredores, que saoabafedkos."

Ia reccber 0 Patio do Colegio, anos dcpois. em 1793 a Casa daOpera. De certo modo enquad rava-se na tradicao cultural [esuitica.No dia 1.0 de novembro de 1556. ao scr inaugurada com muita soleni­dade e alegria a igrcja nova do Coleglo, fora reprcscntado 0 drama daPaixao, com a ativa panlcipacao de [ovens indios discfpulos de An­chieta. A represcntacao teatral intcgrava os proccssos pedagogicos desjesultas.

A nova Casa da Opera obcdeceu aos padroes do tempo - detaipa, barro socado dcntro de fonnas de madeira conhecidas comotaipas. A consolida r as pared es de argila, tron cos finos. As paredcscaiadas com tabatinga, protegidas por salientes belrais. de covado.

Quand o alvoreccu 0 seculo XIX, chegaram i1ustres vlsltantes,que legaram seus dcpoimento s nct avels. Entre elcs Saint-Hilaire, quevisitou 0 ant igo jesuttico transformado em Palacio do Ooverno. Rela­tou: " A posicao do ediflcio era tao bern escolhida - como a de todasas construcoes feitas no Brasil pelos padres da Companhia de Jesus.Erguid o em uma das extremidades da cidade (consideraodo-sc a parteja densam ente povoada ), estava a cia ligado pela sua fachada, queIormava do ts lades de uma pequena praca quadrada. Seus Iundosdavam para 0 campo. 0 ediffcio, constitu ido por dois corpos que secncontravam em angulo reto, urn deles tenninado pela igreja. Nesteultimo, as jane1as eram muito pr6ximas umas das outras e as do outrocorpo do predio guardavam uma distancia maie r do que resultavaurn disparate arquitet6nico, no dizcr de Saint-Hilaire.

Conservava 0 aspecto de urn mosteiro. A rcforma do Morgadode Mateus transfonnara a interior, Iazendo de varias celas saloesligados por compridos e misticos corredores.

A Casa da Opera, que os estudan tes de Diretto dirigiam e no

sell palco representavam, era conhecida como Teatrinho do Palacio, ecomo tal funcionou ate 1860.

Conheceu dias de esplendc r em mclo de singular comprecnsaodo sell dramatico valor hist6rico.

o nobre Colcgio por muitos dccenios foi 0 umbigo de maximos

acontccim entos como palco de marcantes Ieltos da hist6ria nacional.

2.2 o B.4.1RRO D...... Sr.

Page 23: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Ali ficou hospedado D. Pedro I, logo apes 0 famoso Grito doIpiranga. Foi por isso a primeira sede do governo brasileiro . DoBrasil como nacao independcntc.

La funcionou, no primeiro andar, a Assembleia Provincial. Eao lado, 0 Corre io Geral. E tambem as primeiras reparticoes do fisconaclonal . Brasileiro pela primeira vez.

Em 1855 era rcqucrido na Camara Municipal que fosse feitoo nivelamento do Largo da S6 e do Largo do Palacio, consideradosos mais Importante logradouros pautistanos. Eram-no, de fato . Naproposta pitoresca recomendacao: que fOsse contratado engenheiroingles para 0 service. Fato talvez explicavel pelo motivo de estarcntao em foco a construcao da ferrovia Sao Paulo Ra ilway.

o cafe surgiu como torrente de riqueza. Era lavoura nova compromissores dias de fartura . Em 1860 a Camara aprovou lei dctermi­nando a artonzacao dos principals largos paulistanos. A comecarpeIo Largo do Coleglo, enrao chamado Largo do Palacio. A arbori­zacao, com especies de " boa qualidade", devia estender-se a ruaslargas, a espacos njo menores de vinte palrnos.

A rublacea comecava a criar uma sltuacao de desafogo. Masem 1870 ainda a capital paulista figura em decimo lugar entre ascapitais do Brasil. Bstava dcpois de Cuiaba, Sao Luis e Niter6i.

A partir Jesse ano ec10dc a riqueza cafeeira que Ferri considerao maior fen6meno agricola do seculo. Chegam multidoes de imigrantes.A vida oa capital paulista transforma- se. Surgem novas concepcoesurbanisticas. 0 advento de empreiteiros italianos implanta 0 famosotratado de Vignola . 0 velho estilo bras ileiro e peste de lado e passaa prcdominar 0 neoclasslclsmo. Entre 1870 c 1880 acelera-se a rcformaurbana. E dcitada abaixo a ala perpendicular do antigo conjuntoconventual. Em 1885, 0 Largo do Palacio e tran sformado ern jardimgradeado, com pequeno por tae de acesso. No lado da Lade ira GeneralCarneiro e construido urn singular monumento de urr: a muther despe­jand~ agua num tanque. Quatro medalh6es simbolizam os principai srios da Provincia de Sao Paulo. Urn coreto e erguido no local ondchoje comcca 0 Viaduto da Boa Vista , que ida ter infcic s6 na decadade 30. Ramos de Azevedo recebc a incumbencia de construir os ediffciosdas Secretarias da Agricultura , Fazenda e Ju stica. Opta pclo estiloneoclasslco. Parecem magnificos aos paulistanos da epoca. Julio Ri-

o BAIRRO DA SI';, 23

Page 24: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira
Page 25: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

beiro enalteee as Iinhas dos predios . 0 que restara do velho convenrorecebe nova retorm a. Passa a Palacio de dcspacho e moradia do Gover­nad or, q ue comeca a chamar-se Prcsidentc do Estado. Com a comprada mansao de Elias Chaves, 0 Presidcnte Rodrigues Alves muda-scpara aquele solar que rccebe a dcnomlnacao de Palacio des CamposEliseos.

A igreja do Colegio mira. Ramos de Azevedo incluira-a noconjunto que reformou e transformou no Palacio do Govemo paultsta ,Sede da admlnistracdo cstad ual por muitos anos. Dcpois foi totalmenteocupado pela Secretar ia da Educacnc .

Ate que no Governc do Engcnhciro Lucas Nogueira Garccz foio prcdio e terrene objeto de devolucao a Companhia de Jesus. Surgiu,entao, no local, uma tentativa de rcsta uracao de parte do antigo con­vente e cape la. Na ocaslao Ioram encomrados perfeitarnente delineadosos allcerces da antiga terre. E tambem pregos cnormes, Ieitos na bigornaa martelo, atrib ufdos ao jesuita mcstre-de-obras Afonso Bras, no Ion­ginquo seculo XVI. Tabuas de cane lcira, que ainda recendiarn, talha­das a enxo. E outras colsas evocativas. I:: recordada cntdo a sucessivatransformacao. Em 1881, scndo Governador da Provincia, Florsncicde Abreu, e demolida a ala pcndicular do antigo conjunto que for­maya urn " L". Surgem jardins com aleias sombreadas. Combustoresde gas, ilumlnacao rccente, que determine multo cntusiasmo, sao ins­

talados . Oito deles perduraram ate 1941, cnfrenlando a concor renclada elctr ieidade. Tinham ficado esquecidos. Mas todas as noites urnfuncionario de Sao Paulo Gas Company ia accnde-los com uma haste

de bamb u que lembrava urn canlco de pcsca, tendo na ponta urnapcq ucna tocha Incandescentc.

Em 1886, no Govemo Joao Alfredo foi levada a cabo a reforrr.ado que restava do antigo convento. Transfonn ado no Palacio doGovsmo do fim do seculo. Em 1896 ruia 0 tclhado da igreja por Ial'ade conscrvacao. Corria 0 mes de marco. Nada foi fcito para 0 res­taurar.

A Curia accltou a propos ta de construcao de uma lgreja nova, naRua Jaguaribe, para onde foi levado grande parte do espollo, como

° attar-me r de talha dour ada . Muita gente rccolheu lembrancas consi­deradas hoje de imcnso valor histc r icc e artistico , inclusive marav i-

o B."-IRRO 1>."- S F:

Page 26: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Ihoso oratorio . 0 retogio da torre continua a marcar 0 tempo no fron­tispicio da Igreja de Sao Goncalo, que pertence a jesuitas.

Proximos it igreja existie urn cemlter io onde tinham sido enter­rados numerosos paulistas. Ent re eles Tibirica, cujos despojos foramlevados para a cripta da Catc:dral. 0 total desses monos e esrimado

em seiscentos. 0 cemiteric onde tanta gente foi sepultada acabou porsua vez enterra do sob passclos e lajc tas dos grandes predios vizinhos,urn dos quais a Calxa Econemica.

A antiga sacristia da Igreja do Colegio ia alem de vin:e centi­metros da atual garagcm da Central de Policia, 0 que mostra a imensatransformacao opcrada, ap6s a expulsao dos jesuitas e confisco dosseus bens, e como fa i dcstruido 0 que havia de mais expressive emSao Paula do Campo, depots Sao Paulo de Piratininga.

Na administracflo Fir miniano de Morais Pinto (1 920-1926), parlnspiracao ao Sr. Washington Lu is, que cultivava a hist6ria e cultuavaa tradlcao, foi erguido 0 rnonumento aos fundadores de Sao Paulo,obra do escultor Zani.

Em 1953 aconteceu a mudanca da Secretar ia da Bducacao, queocupava 0 antigo Palacio do Govemo, para 0 novo e modem o pred lodo Largo do Arouche. Entdo aconteceu a restauracao aproxlmadado que antes existira. Constru ida uma capela para acolher 0 femurde Anchieta enviado em urna de metal. E onde passo u a ser rezadamissa, dentro da nave transformada em museu-relicarlo.

A metropole modem a procura atualrnente redimir 0 abandonoe aprovcitamento distorsivo do nobi lissimo local. A cidad e do comecodo seculo rejeitara 0 antigo vilarejo , contava entre 5 a 6 mil almas, eacabara de ser elevada a categoria de cidade por carta regia datadade 11 de julho de 171 1. Atualmente esse projeto-contricao esta emcurse . A Prefcitura pretend e reparar com grandiosidade a irreverenciaque destrocou 0 conjunto arquitetenico mais evocati ve de todo 0

Brasil. Para 0 local foi programada abra condizente com a lugar, suahisl6ria para poderosa for~a simb6lica e os recursos da modem a, fab u­losa e rica metr6pole ali plantada ha quatro seculos. .E:. uma especiede reparacao penltente, em resposta it placa que, numa parede secular,miraculosamcntc poupada :

"Esta e a terra de Anchicta e dos bandeirantes. A primeira deSao Paula em rna hora demolida. Seus alicerces encobertos pclo catca-

26 o BAIRRO DA S£

Page 27: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

mento cncerrarn centenas de tumulos dos primciros paulistas. E deverdo nosso povo reconstrul-la".

A Curia Metropolitana nao defendeu na ocasiao a conservacnoda antiga igreja como deveria tcr feito, talvez por terncr confli:o como Estado, influenciado pelo positivismo cntao agressivamente atuantena epoca. 0 Bispado aceitou a oferta de 350 contos a titulo de indc­nlzacao pelo terrene e restos do ediffcio antigo, e foi "pregar emoutra freguesia''.

Mas alem do terreno, do tcmplo e convento restou imensa area,sobrancclra ao Parque D. Pedro, e a area livre livre, antes ocupadapelo mercado da Ladcira General Ca rneiro, que ali funcionou rnuitoanos. Durou ate a lnauguracao do Mercado Central, construldo pelafirma Ram os de Azevedo, considerado majcstoso dcmais para a finali­dade. Foi prcconizada a demollcao dos pred ios das anngas Secretariesc integracao do tcrreno no moderno projeto.

Numa das frentes do antigo patio - antes ficava no centro- ergue-se 0 monumento aos fundadores da cidade, scm placa debronze em que ressoa a vaidade incontida dos govcrnentes, como setorncu habito difundido nos ultimos trin ta anos.

Nem 0 nome do escultor, 0 velho Zani, autor do monumento aAlfredo Maia, defronte a Estacao da Sorocabana, c de Verdi, queesteve muitos anos ao centro da extinta Praca do Correio e foiremovido para urn canto do Anhangabau, ondc nfio perturba com acolossal musa dedilhando incansavelmcnte a lira da inspiracao.

Apenas no granito Iiso se Ie em letras simples simetricamentegravadas: "Gloria imortal aos fundadorcs dc Sao Paulo - MDLlV·MCMXXIV ,"

19251 Ano da inauguracao festiva, com discursos alusivos e muitamuslca.

No alto uma estatua no estilo da Vitoria da Samotracia, coma roupagem inflada pelo vento da gloria, os braces erguidos.

Ao centro baixos-relevos em bronze, refcrentes aos primeirostempos de Sao Paulo. Cenas de violencia a que se succdem quadros deserenidade, catequese e arnor. A primcira mlssa esbocada e num de­calque bronzeo do quadro de Parrelras, com 0 Jesufta Manuel Paivacomo cclebrante junto do altar rustico c os doze: irmaos inacianosque subirarn com ele de Sao Vicente, ajoelhados em volta, em postura

o BAIRRO DA S~ 27

Page 28: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

de prece e nos rostos a exprcssao de quem, na terra, enxerga asportas do ceu.

Ha a acrescentar , como pormenor inesqueclvel, que ali foi enter­rado Martim Afonso Tibirica, falecido em 25 de dezembro de 1562.Chamou 0 Padre Fcmao Luis Carapcto, que falava a lingua gcral,para 0 confessor, dias antes de sua morte provocada pclas temidas"ca mdras de sangue" , identificada mais tarde como amebfasc aguda.E escreveu Anchieta a respeito, em carta ao Padre-Geral Diogo Lainez:"Foi enterrado em nossa igreja, com muita honra , acompanhando-otodos os cristaos portugueses com a cerca de sua confraria. Ficoutoda a capitania com grande sentimento de sua morte, pela falta quescntem, porque este era que sustcntava os outros, conhecendo-sc-lhcmuito obrigados pclo trabalho que tomou de defender a terra . Maisque todos cremos que the devemos nos, os da Companhia, e por lssodeterminou dar-the em conta nao so de benlcitor, mas ainda defundador e conscrvador da casa de Pirat ininga e de nossas vidas,porque havendo elc ajudado a Iaze-Ia com suas propr ias maos chavendo-os ajudado a sustcnrar logo em principia de sua formacaoquando nao haviam portugusscs alguns, agora 0 quis fazer comodefensor pes em sua mao a vida de dez irmaos, que no tempoda guerra nos achamos em Piratininga e todo 0 mais povo dos portu­guescs: c pbs em suas maos, d igo, porque quase rodos os daqucletempo, que sc recolheram conosco, dependiam dsles; e se quisessc

conscntir naquela maldade dos seus (como sles mal pcnsavam) , poucohouvera de fazer em nos matar c comer. Creio que basta isso paradar a cntender a obrlgacao que tcmos todos de 0 encornendar a Nosso

Senhor. Praza a sua Divine Vontade de nos abrir a porta para sefazer algum proveito na conscrvacno de tanta gentilidade que ha nestaterra."

Assim acabou e Ioi ali enterrado Tibirica, 0 principal chcfe

dos guianases e 0 primeiro paulistano.

No portico da Igreja do Coracso de Maria, na Rua l aguaribe,vecm-sc duas placas. Ao ler 0 tcxto nelas gravado tem-se a imprcssaode que sao duas lapides mortuaries. Ressoam na mente de maneira

como urn dobrar plangente de sines.

A primeira placa diz ussim:

28 o BAIRRO DA S~

Page 29: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

"Este santuarlo diocesano, sob a invocacao do Ima­culado Coracao de Maria foi erigido em substituicao daprimitiva igreja do Colegio, constru ida no Largo do Palacio,nesta capital, pelos padres da Companhia de Jesus e quefoi demolida por ameacar ruina em 0 ano de 1892. Aspedra fundamental se acha colocada na parte inferior dabase da pr imeira coluna do cruzeiro no lado do Evangelho.Ate 0 dia da Inauguracao estc santuar lo custou 320 contosde reis que 0 governo diocesano apticou na construcao. 0restan te foi angariado entre os fieis da d iocese pelos padresmissionaries do Imaculado Coracao de Mar ia incumbidosda execucao das obras."

Ao lado , noutra coluna do portico, uma placa igual a primciranas dimcnsocs e aspccto registra :

"Foram iniciadas as obras destc santuarlo no dia 13de marco de 1897, sob 0 pontificado romano de Sua Santi­dade, Papa Leao XII I, sendo bispo diocesano 0 Ex.w'Rev.w Sr. D. Joaquim Arcoverde de Albuquerque Caval­canti, Presidente da Republica dos Estados Unidos doBrasil 0 Dr. Prudente de Morais Barros, presidente doEstado de Sao Paulo 0 Dr. Manuel Ferraz de CamposSales, presidente da Camara Municipal 0 Cel. AntonioProost Rodovalho. 0 santuario foi solenemcntc aberto aoculto aos 2 de fevereiro de 1899."

Ha dias, 0 altar-mor da antiga Igreja do Coleglo, que cstava dolade dircito de quem entrava na nave da Igreja do Imaculado Coracaode Mari a, voltou para 0 Patio do Coleglo. Pa ra 0 novo templo queali esta scndo crguido, reproduzindo integralmente a antiga igreja dcsa­parecida, 0 que podia tcr side evitado pclo refOrc;o no devido tempodas paredes e do teto.

Sabe-se, dcssa forma, que a Igreja do Col egio tcve no comeco doseculo conformados herdeiros.

Dentro, na nova capela, enconrra-se 0 altar-mor do temple maisantigo e nobre de Sao Paulo.

o BAlitl\O DA S~

Page 30: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

. ,

I .

Page 31: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

OS TEMPLOS

As cidades do Brasil nasceram sob a solene Invocacao de Deus.Houve sempre mlssa campal e seus alicerces podcm considerar-se as­sentes nas primeiras palavras ..10 mistico ceJebrante : "I ntroibo ad altareDei ..r.

Nasceram e cresceram com todos os sacramentos " In nominePatris et Filii et Spiritus Sancti".

A igreja do Colegio serviu de ponto de part ida e de aglutinacao.Logo nos primeiros aDOS hi se reuniram as mulheres c cnancas porocasiao do terrivel ataquc os silvicolas "com grandcs alaridos".Depois, qu ando as " bandciras" comecaram a dcvassar os sertocs paraque todos Iosscm na graca de Deus. E no regrcsso para agradccimentopublico e solcnc da volta com vida . A porta da igrcja cram lidosos cditais da Camara, porque ninguem dcixava de comparccer amissa, considerado dever de todo 0 born cristfio.

Mas a igreja do Colegjo era dos jcsuitas. Havia que construir umaigreja matriz. Colsa decidida logo nos primeiros anos de cxlstenciade Piratininga. Mas de dificil cxccucao.

Muitos anos foram precisos e resoluta perseverance para levar atermo a igreja que nao chegou, afinal, ate nossos dias. Primciro foia agita~ao e inseguranca dos primeiros anos da vita, tao cercada depcrigos. E ja nesse tempo era assinalada a existencla de Iorasteirosmarginais que noo queriam trabalhar e em tal numero e tal fama queo Ouvidor Andre Pires recebia de um morador da vila de Santosdenuncia de ser Sao Paulo terra sem fe e scm [ustica e que a serintentada guerra contra os carij6s mals valia comeca-la contra estavila. Mais parccia uma segunda Rochcla. Entao, na Camara, houveacesa discussao de que Ilcou a Iumaca nas atas da Camara Municipal,com dcvido registro em ala. porque tambem havia a acusacao de njoserem Ieitos os services devidos de cooperacao comum e largados esta­'lam pontes e camlnhos. As coisas andavam muito ruins. Na entradada vlla gada manso e gada bravio que punha em risco os moradoresc os donos deviant deles tornar conta. A vila parccia casa scm donoc era preciso pOr ordcm nela. a comccar pela nomcacao de um alcaidc,tendo indicado Bras Cubas tres nomes. l! antiga a duvida triplicc ...Foi escolhido Andre Casado, por tres anos, c multo tinha que fazer,

o BAIRRO D ."- ss 31

Page 32: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

a comecar pclo conserto da casa do Concelho, cuja parcde, ao ladodo Coleglo , de barriguda, gestava urn dcsabamento. Tudo isto sepassava entre ameacas extcmas e morticinios pelos silvlcolas do scrtaovizinho. Paulistas e indios manses tinham sido mortos. Faltava segu­ranee nos caminhos. Havla per isso guardas nas sendas do campo,cstava proib ido afastar-sc da vila porque cram alarmantcs as noticiasque chegavam do sertao , onde Antonio A renso vira mui ta gente pcrecerc soubcra pclos indios que uma bandelra fora dcstrocada, seus componentes mortos e eomidos.

Em tal situacao , que aglutinava a gente do planalto e lhc incul­cava uma so vontadc e uma s6 re, preparavam-sc armas c reforcavam­se as muralhas defensivas. Nao sc podia pretender que a matriz tives seandamento rapido. Os Indios tupin inquins, que se tinham mostradoamigos c com eles tinha havido rclacoes de boa vlzlnhanca, mostravam­se agitados, prctcndiam atacar a vila , tudo destruir c lcva r ate padresprisioneiros, declarando-se allados des inglescs, que rondavam pclolite ral . Tal era 0 e1ima que envolvla Sao Paulo, de tcrrfvcl angustia,quando 0 scculo XVI chegava ao fim. Os quatro cavalos do Apocalipserelinchavam nos quatro pontes cardiais e scus cavalciros lancavama esguia e tctrica sombra sobrc a pcquena e valorosa vila do planalto.E isso que se scntc na ata da Camara Municipal de 1.0 de janeirode 159 1, explicando os motives pctos quais duran te os scls rncsesante rlorcs nao se haviam cfetuado rcuniocs. TOOos tinham partidopar a a guerra e a vila fiea ra scm gente.

Mas, passando 0 perigo, de novo foi dcbatida a ncccssida dc damat riz, dcvcndo os oficiais do Rei distante provldcnclar a construcdoda capela-mor, os om amcntos c sino. 0 povo paullstano crgueria 0

corpo da igrcja, cspcra ndo apenas aviso dos govcma dores quc man­davam da Bahia. 0 Padre Bartolomeu Simoes Pereira insistia naurgencia da construcao da matr iz, pois a vila tinha cntao para rnaisde cento c quarenta moradores.

INICIO DO TEMO-PRIS

Essas paginas antigas das atas da Camara sao uma rude epopcla

a que nne Iaham grandiosidades homcrlca c camoniana. Poem a

32 o BAIRRO DA Sf:

Page 33: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

ruostra os alicerces de Sao Paulo. 0 que era de taipa sumiu, mas ficoua tradicao da fibra de sua gente. Aquela ccntena e meia de moradores,aquelc punhado de gente dccidida, tudo agilentou.

Pagava os dizimos ao rei, defendia 0 chao, safa aguerra preventivacontra 0 gentio sublcvado, voltava a insistir com os governadores dis­tantes para que contribufssem com a sua parte da Casa de Deus einiciava a construcao da matriz, scm perder a n09aO pratica das coisas.Opoe-sc a urna sentence do ouvidor-geral que mandava degredar FemaoAlvares, 0 unico tclheiro da vila. E argurnentavam contra tal rigor.Fernao era ademais um soldado valentc. Ora, a sltuacno era de pcrigoe faltavam homens decididos, capazes de manejar 0 areabuz e acspada. Alem dlsso, quem, coxa elc, na vila tao pobre, sabia fazertelhas? A igreja matrlz estava por lcvantar , carecla de cobcrtura. Equem fabricaria as tclhas necessaries a nao ser ele, Femao Alvares,criatura que tinha uma partfcula fidalga no nome e na nova terrase ocupava de trabalhos servis? Tanto 0 service de Deus como 0 deSua Majcstade exigiam abrandamento da pena, pclas razoes alegadas,16gicas, praticas, que estavam acima da imediata apllcacao de umacondenacao severa por uma culpa passada e mal conhecida.

No entanto, 0 Padre Lourenco Dias Machado aparecia entao comovigario estimado, por cuja pcrmanencia a Camara se intercssa, c dainicio a matriz em epoca tao dificil, de inseguranca e de divcrgenciacom os jesuitas, aos quais ele, padre, negava 0 dominio temporal dasaldeias, sendo panidario da guerra preventive contra os silvfcolasque infestam 0 scn ao e des quais partiam ameacas contra aquelepunhado de gente que agilcntava, isolada, no planalto, a ronda continuado perigo crescentc. A selva e 0 nomadismo barbaro lhes eramadversos e estavam empcnhados na sua extincno.

Varies anos se tinham passado, cbcios de dificuldades e delnquietacao. E ao finar-se 0 seculo XVI, era accrtado, afinal, comDomingos Luis c LUIS Alvares 0 corpo da igreja e a capcla da matriz,sendo espccificado que fariam as taipas e 0 corpo da igrcja, c a capclade talpa de pilao, "a quatro reais 0 taipal de cutelo ou de pcdaccpara ser tambem contados com as que Ioram mandados e a paga detude em quartcis e partes em dinheiro, cera, couros e pano de algodaoa como andar pela terra". As cumeeiras, portas e batentes seriam ,

pagas de acordo com valor. Reuniu-se a populacao para indicae quem

o nAlRRO DA Sf:: 33

Page 34: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

seriam os cob radores da cola devida a igreja. E tambem deveriamverificar se 0 preco ajustado era 0 mais barato. Havia os que consi­deravam excessivamente caro quatro reais por taipa, que co nsistia,afinal , em per uma tabua de urn lado e uma tdbua de out re, enchero espaco de argila hem socada com pedras e agua e, por vezes, sape,service feito geralmente pelos indios e escravos. Quatro austeros paulis­tanos foram designados para esse fim. Eram elcs Matias de Oliveira,Jorge Moreira, Paulo Roiz e Baltasar de Godoi. Seriam os arbitrcs. .Que nao faltaria dinheiro para as obras estavam confiantes. Nao falha­ria a contrib uicao geral do povo para a igreja, para bern dos vivose dos mortos, pais era na nave dos temple s q ue sc inumavam os cada­veres para ficarem sob a guarda pcrpctua de Deus. Dcvia ser ja nolugar escolhido, "por j <i defuntos ali haver e ser a local no centro davila como era convcnlcntc". Demolida a eape la exlstentc, erguida peloPadre Lourenco Dias Machado, comccou 0 novo temple em 5 deoutubro de 1598.

Dois anos dcpoi s, aparcceu 0 protesto de Jose Fernandes contramoradorcs que nao mandaram escravos nem pessoa alguma paraajudarem nas taipas da matriz e deviam ser condenados, cada urn, emdots mil-reis, como puniliao e exemplo.

Era obra modesta. Mas nem mesmo assim andava raplda. Emagos to de 1601 , faziam-se calculos para saber 0 custo das cumeeirasdes rres portas e tabudo grande e ser escolhlda a ripa "que hoi mistera capela da igreja". Com as chuvas as coisas piora ram. Materiaisestragavam-se ao aba ndono. Madeira aparelhada deteriorava-se ao arlivre. Empenava com as alternatives de chuva fort e e sol ardent e. Daia adverte ncia da neccssidade de "urn tegipau de palha para que naosc pcrdcssc a madeira, por custar multo e estar paga" , 0 que indicaque nOO era abundante a madeira-de-lei no planaho. 13 havia limitacoesao corte ale de pinheiros, que njc devia ser feito scm Iicenca daCamara . Era realizado recru tamento de genie para services dentroda igrcja. Mas as coisas andavam dificeis , pois a fascinacno do ouroarreglmentava braces e Ideias. Era mais poderosa do que a re . . .

E em alrcrnativas de atividades se passavam os mescs a pontode a vigario da vila, Padre Paulo Lopes, nao poder utilizar a matriz,interditada pela Camara. e Diogo Martim Machuca detcrminar notestamento que Iossc seu cad aver entcrr ado na Igrcja de Santo Antonio

o Bi\IRRO D,\ se

Page 35: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

"que serve de matriz nesla vila" . As outras coisas publicas naoandavam melhor. 0 pe:lourinho calra . A sua rcconstrucao de tijolosfora calculada em seis mil-rels, terce parte em dinheiro e as outrasduas partes em pane de algOO50 a quatro reais a vara e cera a meiotestae. Surge urn conrrato com Cornelio dc Arzao para acabar amatriz. Corrie 0 ana de t 6 t O.

Homem pratico, exigiu 0 necessario. Oucria Icrragens e as rna­deiras necessaries. 56 dcssa maneira poderia dar acabamento ao corpoda Igreja, cape:1a e sacns tla. Impunha-se a coopcracao de quatro mocosque ~soubessem do oficio e da gente necessaria para ajudar a erguere colocar as pecas pesadas de madeira. 0 trabalho executado seriaavaliado por dois homens, um deles indicado pela Camara, outro porele como construtor. E como jn comccava a aparecer ouro em razoavelquantidade, 0 ter~o do custo ser-Ihe-ia pago em ouro, e as duas partesrcsrantcs em pano de algodao, a oito vintens a vara a cera a Iresvintens 0 arratcl. Alem de carne e outras coisas de facH comcrcio.Por esse contraste de prccos se deduz a inflacflo dctcrminada peloaparecimento do metal prccioso a elevar 0 custo dos tecidos e da cera .f; nesse ponte que aparece 0 Padre Joao Pimentel que cstimula asobras, insistente com camaristas e governador para conclusao do templo.Monsenbor Silveira Camargo cita a respcito urn trecho do livre detombo da S6 de Sao Paulo: "Mostrou-Ihc a Divina Providencia 0

luger onde os moradores deviam abrir os alicerces, adiantando-se-Ihesscm duplicado trabalho, paus tao levantados e de grossura tal que sOIhes serviram os mais pequcnos para madeiramento dela, mas comoafirmam pessoas antigas que a viram fabricar, alcancaram-lhes 0

scrviram de colunas para as naves de que era a sua arqultetura".

Mas Cornelio Arzeo, 0 contratante das obras, iria scr presopor Ordcm da Inquislcao e os camaristas que haviam recebido 0

encargo de coletar as contribulcoes acabaram sendo rcsponsabilizados,pagando 0 tribulo recolhido. 0 dinhciro nao chcgara para as obras.E em oulubro de 1611 reunia-se a Camara para provldcnciar, poiscrescia a amceca de perdcrem-se os services executados. Os briosdes paulistanos estavam nisso cmpcnhados. Os opcrarlos que tra­

balharam na construcao qucriam rcccbcr os cern cruzados que Iheseram dcvidos. Era precise levamar novas contrlbuicocs. Mas a maioriarecordava 0 dinheiro j a pago e ndo cncontrava ressonancia a ameaca

o B.o\IRRO DA S£

Page 36: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

de perder-sc 0 que cstava feito. "Os oficiais ficavam desobrigadose protcstavam abrir mao das ditas obras, de hoje em dia ntc, regis­trava uma ata da Camara. Entao, 0 Padre Joao Pimentel interveio.Crep itavam as cr iticas como fogueira de lenha verde. Os zclososcamarlstas queriam tomar contas aos oficiais. Impunha-se apurar 0

dinheiro gasto e que Iora arrccadado para as obras. A ord cm eratUGO verificar direito, " para descngano destc povo c das partes" .Par fim as obras prosscguiram. Foi sugerida a troca de Orago, quescria Santo Imid o, pois a paroquia se chamava "Sao Paulo do Campo" .E em 1612 era afina l inaugurada a nova igreja. Ond e?

De tanto esfcrco, de tan ta tenacidade nada ida chegar ate nossotempo. Nem urn pano de muros . Ficou ate a incerteza do local. Cons­trucoes de taipa com facilidadc 0 tempo as dcsfazia. Depois a expa nsao

obrigou a dcrruba r a cidade de talpa qu e restara.A matriz antiga, que figura com tanta Irequencia nas Alas da

Camara da Vila de Sao Paulo, que suscitou tanta luta e tao Iaiscantes

discussoes, nem hoje sc sabe ao cerro onde erguia as suas torres e

seu sino. A ultima ma'riz ficava no Largo da SC e nao passou docomsco do scculo. Dcsapareceu do cspaco, mas sua existencia ficoufundamente assinalada no tempo.

A IGREJA DO ROSARIO

A desaparecida Igreja de Nossa Senhora do Rosario dos HomcnsPre'os de Sao Paulo muito reprcsentou no passado da Ircguesia da SC.

Dignificou a presence da fe e cultura dos negros afrieanos de procc­

dencla banto, com sua cultura milenar. Hoje, ad mite-se que qualqucragrupamcnto humano tern sua cultura, embora nne sc enquadrcm nas

limitacocs que houve par bern denominar civllizacao. Os conccitos

modernos a respcito sao mais esclarecidos c por isso mcsmo rnais co-n­

prcensivos, amplos tambem.o negro afrlcano apa receu no planalto poueo dcpois da fundacao

de 550 Paulo. Sabc-se que Afonso Sard inha, 0 homcm das minas deouro c ferro , reccbeu-os de Angola para as suas lidas agrfcolas, minci­

cas e mctaldrgicas.

36 o BAIRRO V A ss

Page 37: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Esses bantos trouxera m eonsigo uma crenca fort e, em que Iemanjricos deuses Orixas cstava m prcscn tcs no culto da Virgcm e Sao Bcncdlto .Foi a mclhor c sutil mancira de conunuarcm com suas praticas reli­giosas que "requcrlam cornplicados e vlstosos rituals, cantos, rezas,cxprcssoes corcograficas'', po ls reunia m, a parte religiosa, manlfestacocsartisticas c rccreacao ariva. A adoracao it Virgem viera ja pronta daAfrica onde as missionaries portu gusscs haviam djfundido a adoracaoa Mae de Deus, Iacilmentc accltc pala transmutacao do ant igo cultode Iemanja.

Da rnassa de escravos recebidos da Africa melo milhciro ficouna Vila de Sao Paulo, em 1711 elevada a cidadc. A maior partecsrava sujeita a irmandad es religiosas do Canno, Sao Bento, SantaTeresa, Sao Francisco. A situacao de exllados compulso rtos, vivendcem regime escravo, tornou bern accita a reuniiio de todos em con­frarias que Ihes facultou 0 cuho dos mottos a sua maneira, a expressaoda fe com seus ritos, a possibifidadc de alforria, a oportunidad e defestas colctivas com 0 usa de scus intru mcntos tradicionais. Assim sereuniram e constituiram uma confraria que ergueu U!T a capela nosconfins da povoacso. Adotara m por sfmboto e scnha a rosario fci.o deeontas grossas trabalhadas com capim.

o morto pode ser baixado com sua baeta com missa ritual, acorn ­

panhado "com a Iugubrc lamento dos atabaques noturnos''.

A cidadc era a Ircgucsia da St . Urn ar raia l car actcr fstico forma dopor meia duzia de ruelas ladcadas de casas terreas, tendo como centroa Patio do Colegic donde partia urn caminho quasc rete cortan do 0

tabule iro natural e tcrminava num cabcco donde part ia uma r lbancciraconhecida como Acu. Iria scr a inicio da Avcnid a Sao Jc iio.

Ali ja sc vinham reunindo as "malungos" em plena campo emque mcdrava 0 capim barba -dc-bode cera urr:a solidao. Ali decidiramerguer uma capela, seguindo 0 exemplo dos bra ncos, para a praticado scu culto. Rustica e pauperrima, em tcrras consldcradas dcvoluras,solicitando a cl-rci sino e ornamento para sercm colocados "pellospobres escravos e preros com toda a devocam na ca pela que cdlti.canto por gra<;a do Exmo. e Revmo. Sr. D. Antonio de Guadalupe" .

Em 1718 a Irmandade de Nossa Scnhora do Rosario dos Pretosestava ja organizada c a consrrucao da igreja comecada em 1730.Em 1725 0 crmltao dcclarava ter a Importancia de 10 mil cruzados,

o BAlRRO DA Sf: 37

Page 38: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

alem des pianos para construcdo do ediffcio. 0 local era "plene des­campado, olhando para as extcnsfssimas varzeas do Tamanduatei edo Tiete que constituiam boa vista; 0 que deu origem a conhccida ruado centro, outro ra cxfguo caminho que circundava 0 cabeco da me n­tanha" .

Construido 0 templo, a partir dos meados do scculo XVII I. "Ca­minho do Guare", depo is Rua Manuel Pires Linhares, passou a ruaque vai do Patio da SC para Nossa Senhora do Rosario dos Homens

Pretos, lugar que "singrava urn suburbio tao d istante que, para C1e,se exilavam os contagiados de bcxlgas, nos anos das grandes e tragicascpidcmias" .

Domingos de Melo T avares aparece como adrninistrador perperuoc fundador da igreja. AD ser solicitada car ta de data de terra apontacomo cncarregado da dirccdo da Iabrlca 0 Sargcnto-Mor ScbastiaoFernando do Rego, aquelc a quem e atr ibuida a famosa estc ria de

ter transformado trocando as barras de ouro do dfzimo por barras dechumbo.

Junto da igreja foi reservada urna area de terrene para ccmiteric

des negros. Para todos os enterros urn so caixiio. Ficou a informacgo

de que 0 sepultamento des irm5.os falecidos dos "malungos" era feitoa nc ite, com ritual. prop rio, em que eram evocados, dlsfarcadamente,

ritos ancestrais. "Ritmado pclas pancadas certas e surdas da mao-de­

pilao que servia de socador, repercutindo na terra como se fora 0 som

cavo e rouco do vclho atabaque, cadenciado pelos lamentos das melo­

peias tristes", Rita que transco rria tugubremcnte pela noitc afora.

Eram famosos as feitos religiosos celcbrados na Igreja do Rosario.com programa de dances e canticos no adro, cxccutando a celebre

musica dcnomioada Tambaque, "cantando c dancando, os pretos dan ­cavam com suas parceiras adornadas de rodilha de pano braneo na

cabcca, pulseiras de prata, e de rosario de contas vermclbas e dea ura no pcscoco. Pcgavam no vestido c faziam rcquebrados, scndo

as pares vltoriados com salva de palmas por numcrosa assistencia,tocando quantos instrumcntos esquisitos haviam, saudando 0 Rei c aRainha com sua Corte. composta de grande numero de titulares cdamas que sc aprescntavam muiro bern vcstidas" .

38 o R.-\JRRO D:\ 51=::

Page 39: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

REMODELA<;AO DA CIDADE

Em 1858 Coram feitos grandes consertos na Igreja do Rosario dosHorncns Pretos. Na ocasifio urn edil sugere dar ao edificio mclhoralinhamento na parte que fazia frente para 0 Beeo do Born Jesus, trechode rua en!re a atual Quinze de Novembro c a Rua Sao Bento. Essasugcstao alarmou a Irmandade. Seria 0 preludio da dcmolicno.

Eclodiu a lavoura cafeeira, com maior repercussao social que asantigas lavras de DU ro. Mudava-sc a fisionomia da povoacao rapida­mente. Erguiam-sc sobradoes. Em 17 de Icvereiro de 1870 a Comissaode Finances, 11. qual competia a elaboracao do orcamento a ser submc­lido a aprovacao da Assemblela Leg islative Provincial propunha dcsa­proprlacno de parte dos predios no canto do Patio da 56 e Rua dalmpcratriz, para cndircitar a mcsma rua, assim como desapropriacao,c "corte na travcssa que, da mcsma rua e patio do Rosario va sair arua de Sam Bento" .

Visa a formacao de urn tridngulo ex6geno, com vertices no cantocsqucrdo da igre]a, no fim da Rua 15 e no principio da Rua JoaoBrfcola .

o edil Coronel Rodovalho propun ha, na scssao de 16 de fevercirode 1878, a desapropriacno e corte na rravcssa da Rua da Impcratriza salr de Sao Bento, partindo da Igreja do Rosario.

Existiam velhos casebrcs vizinhos da igreja, ocupados por negrose pertencentes it Irmandade. A Comissao de Obras Publicas propoe

a compra das casas e terrenos entre as ruas dos Rosario e S. Bentopara alargamento por 6 contos de reis.

A ata da sessao da Camara Municipal de 29 de feverciro de1872 especifica "desapropdacao dos quartos que ficarn ao lado dircito

da Igreja do Rosario, a fim de se abrir a mesma rua na parte que entrana Rua de Sao Bento" .

Como era a igreja? De salida talpa. Com Irente para a Rua XVde Novembro. Quatro janelas, ter re do lade esquerdo, abaixo do qual

ha uma janela c duas portas. Na face voltada para 0 pequeno Largodo Rosario, uma porta dando entrada a sacristla c, aeima deja, umajanela. Alfredo Moreira Pinto, habituado a csplcndores, sintetiza:

"0 scu interior cfeio e muito cncgrecido."

o BAIRRO DA st

Page 40: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Na verdadc tinha dcfront e urn adro modesto, de igreja antiga." Urn tria-ngulo exogeno no cabcco da mon tanha."

Ina ser sacrlflcada para dar lugar a atual Praca Antonio Prado.Nas casas desapropriadas moravam easels de pretos Iibcrtos que viviamdo preparo e venda de doces, gcleias, pinhao, milho-ve rdc cozido,pamonhas e pacoca.

Na sessao da Camara de 5 de junho de 1874 0 edil Capitao JoseGuedcs Homem Portinho propunha urn chafanz de tres tornelras, emIrente a Rua Sao Bento, rnelhoramcnto "reclamado pclos moradoresdaquela ci rcunferencia que muito se resscntem da falta de agua potavelpara as necessidades da vida" .

Propunha que a ague Iossc tirada da caixa que se acha colocadaa Rua do Principe.

o chafariz foi festivamente inaugurado, com fogos, nuisica, infla­mados discursos no dia 7 de setembro de 1874. Prcsentc 0 Dr. EmestoMariano da Silva Ramos, Prcsldcntc da Camara Municipal e JodoTcodoro Xa vier, Prcsldente da Provincia. Dczenovc anos dcpols eraconstitufda a Compan bla Cantarelra, para Iornccer agua encanada,e 0 chafariz do Rosario foi retirado com veementcs protcstos dosmoradores, a pon to de tee sldo utilizada a Fc rca Publica para contera rnultidao exaltada.

Em agcsto de 1903, scndo Prefelto de Sao Paulo 0 ConselheiroAntonio Prado. cntro u em entendimento com a Im-andadc. para com­pra da igreja e terre ne . Ofereceu 180 contos e uma area no Largodo Paicand u para cons' rucao de u:n novo temple. Depois elevadapara 250 comes, com doa~ao de uma pcquc na area do Paicandu.A Inn andade pedira 500 contos. 0 prcfeito, porem. manleve a pro­posta. 0 Ato 159 de 26 de dczembro de 1903 assim esta redigido:"0 prcfeho do Munidpio de Sao Paulo, usando das atribuicoes queIhe sao conferidas por lei e de acordo com a autorlzacao contida na Lein,o 698 e 24 de dczernbro de 1903, resolve ab rir no Tcsouro Municipalurn credito suplementar de 250 contos a verba Dcsapropr lacoes doorcamcnto vigentc, pur conta do saldo vcrificado no corrente cxercicio,a lim de dar cumprimcnto 1'1. referida Lei 0 .0 698 de 24 de dczcmbrode 1903 - Sccrcraria-Geral da Prcfcitura do Municipio de Sao Paulo,26 de dczcmbro de 1903. 0 Prefeitc Antonio Prado - 0 Diretor- Alvaro Ramos."

40 o 8,.\1880 D ,.\ Sr.

Page 41: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

A Igreja do Rosar io transfcriu-sc, a titulo provisor io, para a Igre]ade Sao Paulo de Pedra rta Praca da S6, que ia ser demolida cntflo.Foi abcrta concorrencla para a construcao de nova igreja, concorrenclaganha pcla firma Rossi e Brennl, por 159 contos.

o terrcno do Paicandu era ruim. Encharcado. Obrigou a custososaliccrces. A 7 de janeiro de 1905 era feita a cobertura do novo templo.A 15 de abril de 1906 0 Capelao Joao Nepomuccno Manfredo Leiteproccdia it bencflc do novo templo. A transladacao das imagcns e inau­guracao marcada para 0 dia 2 1 desse meso Foi urn festao. A procissaosaiu da Igreja de Sao Bento de Pedra acompanhada pela banda doMaestro Carlos Cruz. Seguiu pelo Patio do Coleglo, Rua Boa Vista,"adcntrou a Rua do Rosar io, agora Jc iio Bricola, Largo do Rosarioagora Praca Antonio Prado, scguindo as Ruas de Sao Bcn:o, Dircita,atravcssou 0 Viaduto do Cha, para desembocar na Rua ConsclbctroCrlspinianc, ate a-ingir 0 Largo Paicandu''.

Ao atingir a nova igreja foi 0 cortejo saudado com uma salva devinic e urn tires.

No dia 1.0 de janeiro de 1905, 0 Dr. Pedro Vicente de Azevedo,Vice-Prefeito entao, assinava a Lei n.v 799, dlspondo : "Art. 1.0 - Ficadcnominada Praca Antonio Prado 0 atual Largo do Rosario. Artigo 2.°- Fica denominada Alameda Eduardo Prado a antiga Alameda An­tonio Prado. Arligo 3.° - Rcvogam-sc as disposicoes em contrarto'' .

Dcsapareceu a Jgrcja. Era uma vcz 0 Largo do Rosario.

Mas corrcu ainda grande risco na decada de 40. Entao a Pre­feitura proeurava local para crgucr 0 monumento a Caxlas, de autoriade Brccheret. Tomara-se obscssiio a homenagcm ao patrono do Exer­cito. Foi examinada a situacso da igrcja. E entao os assesse res doPrefeito Prcstes Maia encontraram urn sltuacao dificil c deploravel.a terreno fora cedido em comodato. E em tais condlcocs scria infimaa lnderuzacao a pagar. 0 Prefeito Antonio Prado nao (ora generosoc 0 Prcfcito Prestes Maia nao estava disposto a proeeder de maneiramais liberal. Salvou 0 templo da Irmandade de Nossa Senhora doRosario a mudanca de Governo Federal e consequentcmcnte do Estadoe do Municipio. 0 projeto ficou agua rdando opor.unidadc. Na Admi­nistracao Arruda Pereira foi dcfinitivamentc escolhida a Praca PrinccsaIsabel a scr ampliada em face das grandes dimensoes do monumento,que so foi montado pclo Sr. Ademar de Barros como prefeitc. 0

o BAIHno DA sr. 41

Page 42: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira
Page 43: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

conjunto de bronze, fundido em pecas no Liceu de Artes e Offcios ,ha muito tinha sido transport ado para 0 local . 0 projeto era paraabrir uma grande praca, 0 que exlgia a desapropriacao de numerososim6veis. Ao centro seria implantado 0 monumento. Imenso. Na pataerguida da montada de Cexias senta-se pcrfeitamente urn homem,como se Iossc uma poltrona. Mas tendo 0 Sr. Janie Quadros substi­tuido 0 Engenheiro Ann ando de Arruda Pereira do Oovemo do Muni­cipio, 0 projeto foi revisto. 0 Sr. Carlos Alberto de Carvalho Pinto,Secretar lo das Finance s, opinou que a snuacso I inanccira da Prefeituranao permitia ta ts gastos. As desapropriacoes foram reduzidas amerade.Consequentemente 0 monumento passou a ocupar 0 alto da praeaprojetada, e que era afinal 0 meio da praca realmentc programada.A Ca mara Municipal aprovou diligentcmente a amputacdo do projetoinicial que acabou scndo rcstaurado e ampliado no Govemo do Briga­deiro Fa ria Lima. Jri a Prefcitura dispu nha de rccursos rnais amplos,gracas a rcforrnulacao da distrlbuicao das rcndas, introduzida peloGoverno Castelo Branco e que em quatro anos somcnte permitiu aelevacao da reccita municipal de 68 milh5cs de cruzeiros novos em1964 para 1.200 milboes de cruzeiros novos em 1969.

CONVENTO E IGREJA DO CARMO

o convento Ioi crguido em local Iart amcnte arborizado. Eramata . Dominando a ba ixada, 0 solo era fertil,

A igreja Ioi ccnstruida pelas Carmelltas Dcscalcas e da Refor rr:ade Santa Teresa.

Frei Antonio de Sao Paulo apa rece como principal Iundador .Em 1696 0 tcrcelro carmelita Domingos da Cos ta e sua mulher MariaAguiar comprometcm-se a fazer todas as obras de carpintaria quea cape la e a casa de Santa Teresa necessltam, s6 reccbendo a metadedo valor das obras depols de avaliadas. Em fins do scculo XVII jlicxlstia parte da atual igreja, Docu mento de 1698 faz referenda aCapelade Nossa Senhora do Ca rmo e a Capcla de Santa Teresa. a sacristiae consist6rio. Obras de arte, f1orais, pintura e dccoracao a ouro nasacrlstla datam de 1725.

Em 1959 comccou a ultima refonna.

o BAlRRO D.... Sf: 43

Page 44: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Ha muita coisa agora a elucidar. No temple atual cncontram-sctelas magnificas de autoria de Frei Jcsufno de Monic Ca rmelo, queMario de Andrade considerava urn dos maiores pintores do scculoXV III. Embo ra parcca incr fvcl aquele tesouro, dcco rava 0 teto doRccolhimento de Santa Teresa, na rua a que dcu 0 nome, e demolidona primcira decade des:e scculo. Aquelas obras de arte iam ser tiradasfora quando 0 Sr. Braullo Silva, tesoureiro da Orde m do Ca rmo, pcdiuas pintu ras e levou-as para a igrcja, onde se encontram.

'I'ambcm 0 teto da Igreja do Ca rmo e pintado por Frei Jcsufnode Monte Carmelo. Fo ram tombados pclo Minlstcrio da Educacao.Recentementc, tecnicos do Departamento do Patrimonic Hlstonco Na­donal vieram a Sao Pau lo proceder a rcstau racao das plnturas, remo­vendo dois grossclros rctoqucs que haviam sofrido c rest ituindo aspinturas a bcleza inic ial.

Ha ainda nos teres da sacristia e sala do conslstc rio pinturas dePedro Alexandri ne, de notavel inspiraeao. E no interio r da nave en­contram-sc as capclas dos Sete Passes , com imagc ns do seculo XVIII ,vindas do Reino. :£ hoje uma mais ricas igrejas. 0 seu conjunto naofoi semprc asslm. A terre e relat ivamcnte reccnte. Data de 1906.A terr e com sinos erguia-sc ao lado 0 Convento do Ca rmo, de­

molido na decade de 20. 0 novo convento, na Rua Martiniano deCarvalho, foi construfdo dentro dos principios do mais puro estilobarr oco. ° arqu iteto foi a Portugal conheccr temples do seculo XVIIIc dcpols a Bahia c Minas.

Qua ndo 0 novo convento ficou concluido dou-se a transfcrenciado grande e velho sino para a nova te rre. Depois, .foi solenementerransfcrlda a imagem de Nossa Scnbora que fora adorada no altar-merda capela do velho convento. Foi urna ccrimenia comovcnte. Muitagcntc chorava ao ver a procissao passar.

SAO F RANCISCO, 0 SEU LARGO,o SEU CON VENTO E IGR EJA

Os limites do bairro da 515 constituiram distantcs arrabaldes dacidadc de Sao Paulo ainda no comeco do seculo passado. Dales existevaga recordacao e restrita amostra. Integram hoje 0 centro da cidadc.Como, por exemplo, 0 Largo de Sao Francisco, corac ao de nossaCapital. Urn ermo distantc c lemido no seculo XVlI , quando arribou

44 o BAlRHO DA Sf:

Page 45: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

urn grupo de franciscanos, sob a direcao de Frei Manuel de SantaMaria . Tinham part ido da Bahia, Trazia-os a missfio de crguercmurna igreja e urn convento da sua Ordem. De Sao Francisco, chamada.Procuraram na ampliddo que era a vila de S. Paulo, no cocoruto dochapadao contido entre os cursos do Tamanduatcf e Anbangabau,urn local apropriado. Terreno amplo e em lugar sossegado. E asslm,no ano da grace de 1639, iniciaram a construcao de taipa, que era 0

material do tempo. E mais as senzalas, reservadas aos escravos, por­que integravam a sociedade do tempo. Sabre eles assentava a maquinada producao. Tanto particulares como ordcns religiosas tinham naescravatura a garan tia do pao. E os do convento deviam cuidar daproducao agricola. Ou melhor, hortfccla, para que a eumen-ecso detodos cstivesse assegurada. Os trades nao se isolaram no seu con­vento. Procuraram ser uteis a coletividade de que participavam. E em1776 criaram uma cscola no convento. Em Portugal, 0 Marques dePombal acabara de modernizar as universidades e introduzira emCoimbra grandcs inovacocs. A escola dos franciscanos passou alecionar filosofia e seus complcmentos entao mui'o recomendados,como Moral, Teologia, Exegetica, Retorlca, Hebraico, Grego e Latim.Dcspertou grande interesse 0 curso. E dessa maneira, aquelc recantoantes tao sossegado conheceu 0 alvorcco estudantil. Ali tinbam sidolancadas as scmentc da Faculdade de Direito de Sao Francisco, queiria surgir em 1827 por decreto do Ooverno imperial. 0 local esco­Ihido foi 0 Conven to de Sao Francisco. Em 1828 era a Academiains'alada numa sala que entao servia de sacrlstla c que ficava situadanos fundos, com porta para 0 claus'ro - clucida urn tcxto-do tempo.Nfio tardou que 0 Governo imperial pcdisse a cn'rcga do resto doconvcnto. Os frades foram transferidos para outras casas religiosas.A biblioteca da Ordem, formada por mais de cinco mil volumes, passoua Academia .

o governo combinou pagar urn conto de reis. Deve-se levar emconta que 0 dinhciro, cntao, tinha irnenso poder aquisitivc . Ainda assimfoi prelr0 bern barato, pois da biblioteca constavam verdadeiras preciosi­dadcs.

o fato dcmonstra que as ordcns rcligiosas desempenhavam bene­

fica e ativa fun~1i.o cultural c que dos conventos irradiava para alemdos muros claridade maior do que a das velas votivas.

o BAIRRO DA Sf:

Page 46: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

/~

..

~I

/

"I

Page 47: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Desses primores culturais antigos restou a trad i~ao da rica biblio­teca.

Ha urn pormcnor : a quantia de um conto de reis a ser paga pelabiblioteca fieou na promessa.

A Faculdade de Diretto ganhou fama naeional. Atraiu jovensde todos os recantos do Pais. No vclho largo dcscmbocavam as RuasSao Bento, do Jogo da Bola, de Freira, da Casa Santa. Iriam rcccbcrnova dcnominacllo com a proclamacso da Republica.

Tudo por ali ia muito bern, quando acontcccu uma dessas mani­festacocs incandcscentes que atestam os grandes deseuidos : urn incen­dio. Irrompcu com grande violencla. As ehamas consumiram rapida­mente 0 que fora urn maravilhoso alta-mor da igreja e mais 0 preciosoarqulvo. Era a repcticao de uma tragedia eomum no Brasil, que j lidestrufra anteriormcnte outras preciosidades. E eontinuaria ainda aconsumir como sucedeu a velbas igrcjas do Rio de Janeiro.

Protessores com ajuda dos alunos, que eram mocos de Iamfliasprosperas, reconstruiram a igreja. E 0 Govemo imperial contribuiurestaurando 0 convento. Dcssa maneira, 0 que foi derrubado em1934 para ali erguerem a nova Faculdade de Dircito nao era a pri­mitiva construcao, a legitima do seculo. Mas 0 novo editfcioem vez de obscrvar as caractcrlsticas fundamentais da arquitcturapaullsta, proeurou reunir uma porcno de motives das obras dos mcs­tres mlnciros do seculo XVIII , entre os quais Alcijadinho, ncm scm­pre justificados. Como as cstreiras [anelas excelcntes para as terresrcdondas das lgrejas do genial arqu iteto brasileiro, mas deslocadas emlargos frontispicios.

A reforma fieou a cargo da firma Severo & Vllares. Na ocasiaoo Engenheiro Ricardo Severo levou ao diretor da Faculdade, Protes­soc Alcantara Machado, uma~ao de esbocos. Eram outres tantassugcstoes, uma delas bascada numa grande escola do Canada. Houveprefersncia do esboco da atual Iachada . Argumentou 0 EngenhciroRicardo Severo que era born rcproduzic em Sao Paulo motivos arqui­tetonicos inconfundlvelmente brasileiros, a scmelhanca do que existiana antiga Vila Rica e nao se sabia sc iriam ser conservados. Nfioexistia, entac , 0 DPH AN; nem OUTO Prete, antiga Vila Rica, tinhaside tombada como monumento naeional. Agora, ao lado, a igrejade Sao Francisco csta passando por maravilhosa restauracao. £ que

o 8:\1880 D:\ Sf:

Page 48: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

a Ordem ccdeu em 1940 terrene seu a firma construto ra Maia eLelo, para construir urn eranha-ceu a troco da cxploracao por vinteanos. Termin ado esse prazo entrou de posse do im6vel com cujaalta renda pede efetuar os Iraba lhos de restauracao. Os antigos dou­rados Ioram renovados. Urn dureo esplendor Iulge alualmente dentroda majestosa nave . Os altares de talha ganharam novo aspecro. Urndetes revela nlt ida influencia oriental. E uma renda em madeira nun-aexuberante mistura de mot ives chineses e hindus.

DOlS VELHOS LOGRADO UROS

Tcve 0 Largo Joao Mendes varies e sucessivos nomes. De SaoGoncalo, porque num canto se ergue a igreja a esse santo dcdicad a ;Municipal, porque nout ro canto estava 0 Pace Mu nicipal, com arespeet iva cadeia . Solucao muito comum nas velhas cidadcs. Cama ra cPrefeitura no mesmo prcdio. E a cadeia no anda r tcrrco. Largo doTcat ro, porque Ij existia 0 grande Teatrc Sao Jose, devorado pelaschamas. Por fim Largo Joao Mendes, que ia ser muito ampliado coma demolicao de velhas cdificacocs. Num lado, 0 Paco, que passou 1\

Assembleia Legislativa. Do outro , a Igreja dos Remedios, derruba dana Administracao Prestes Maia. P agou a Prefeilura infima desapro­priacao. Oitocentos con tos scmente. Pediu a confraria os azulejosque revestiam a Ironta na . Nao Ihe foram dados. Arrancados sem cuida­do foram levados para 0 Viveiro Manequinho Lopes, no Ibirapuera.Nunca ma is se ouviu falar neles. Uma nova igreja foi ccnstruida como dinhcirc da desapropriacao a Rua Tenente Azevedo, pclos enge­nheiros Salfati e Buchignani, que haviam construido a Igreja de NessaSenhora da Paz. Na nova Igreja dos Remedios adotaram a estilo pe­ninsular, conhecido como lorr.bardo.

Na praca , que surgiu com a demolicao do predio do antigo Con­gresso mais a Igreja dos Remed ios, rcstou apcnas 0 Templo de SaoGoncalo, construtdo em 1759 . Mas que passou por varies rctormas.A cabou recebcndo na sua terre 0 relogio que pcr tcnccu a igreja do

Colcgio.

Mais auriga era Nossa Scnhora dos Remedios. Datava de 1727.

Co nstitufa uma relfquia do seculo XV III .

48 o SAIRRO D A Sf:

Page 49: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Com a Igrc]a Ioi-sc 0 predio da bibliotcca cstadual, que the Iica­va ao lado, num vclbo sobradao.

o LARGO DA S£

Primeiro Iora cha mado Patio da Se. E era urn grande largopara 0 bairro. Ouase contemporaneo do Patio do Colegio. Hojc !>C

nos apresenra ainda pequeno, devido ao contraste dos grandes prediosvizlnbos. Mas inicialmentc consistia r.a quart a part e da supcrficicatual. Nclc dcscmbccavam uma porcfio de ruas cstrcltas. Uma dclas,chemava-se Beeo dos Mosquitos. E a atual Rua Felipe de Oliveira,alargada rccentcmentc em toda a cxtcnsao. Rua da Esperance. Ruado Quar tet de Sao Goncalo, eram as ourras. Na Rua da Esperancecmcndavam-sc os botecos mal Irequentados. Ali tinha existido a pri­meira igrcja da Se. Modestfsslma. Por isso iria logo ser substituidapor outra muito maior, razoavcl temple cm 1745. Sofreu granderC£orma em 1764. Tinha a estrutura de uma eruz latina. Nob re cs­cadaria de granito dando accsso a entrada principal. Havia uma re­

cntrancia do lado dircito aproveitada para es tacionamcnto de carrosde aluguel. De elegantcs tilburis, como enrao se dizia . Com 0 surtncateeiro. a cidad e enriquecida procurou melhorar 0 seu tcmplo maior .Em 1884 Ioram Ieitas reformas de ceri a amplitude. Consldcradasainda insuficien tes. E assim, no comeeo do seculo, era decldid a novatransformac ao de vulto. Sacrificou-sc a Igreja de Sao Pedro de Pcdra,crguida em 1740, c q ue ocupava 0 terrene onde hojc sc cncontra aCalxa Economica Federal. 0 incendio do Teatro Sao Jose deixaraum grande espaco vazio. A antlga catedral Ioi demolida . E surgiua atual da Se, ao Iundo da qual comecou a ser constru lda a novacatedral em 1911. Como predorninava entao graride contusao, 0 estilcarl nou veau Iazia furor, 0 vclhc colonial parecia coisa do passado,decidiram as promotorcs do novo templo rccuar ainda nos seculos

e adota r 0 modele das grandcs ea tcdrais da Idade Media . E asslmfoi projetado 0 novo temple em csrilo gotico. Em pcdra durissima foi

iniciada. T ao dura que gastava rapidamente picos e cinzcis dos JX'­drelros. A obra ida sair por altissimo prcco . Ate que ficou resolvidousar colunas de concreto com revesnm cnto de granite . Nao mais

o 8.-\tRRO DA Sf: 49

Page 50: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

uma peca sO de granite durissimo. Dos mais duros que h:i no mundo,ao passo que a pedra das catcdrais curopdias c muito mais Iacil detalhar . Do que foi 0 antigo Largo da SC ficou apenas urn pedaco deterrene integrado na grande praca de nossos dias.

TR£S TEMPLOS

Deixamos para urn capitulo especial os dois temples que saoconsidcrados antsticamente os mais ricos : a Catedral e Abadia deSao Bento. Hd a incluir urn terceiro, pobre, mas alta mcnte evocativepela participacao na histcria paulista. Eo a Igreja da Boa Mortc, eujairmandade irrompc atraves das cronicas dos seculos XVII( e X IX.

A CATEDRAL

As torres da cated ral chcgaram as agulhas terminais. lei se des­tacam inconfundivelmente nas serran ias denticuladas do macico dosarranha-ceus. Eo 0 fim feliz de uma epopeia em granito comecada em1913, qua ndo a Mitra, por escritura de 24 e 28 de abril desse ano ,escolhcu a area para construcao do novo e suntuosc temple entreas Ruas Marechal Deodoro e Capltao Salomao. A area ia do Iron­tispicio da antiga SC ate ao Largo de Sao Oo ncalo, dcpois LargoJoao Mendes. As ruas citada s passaram a intcgrar 0 novo largo quesurgla.

Era uma ideia que Ilorescia. A sementc fora plantada na reuniaopromovida por D. Duarte Leopoldo c Silva, arcebispo mcrropolitano,no Palacio Sao Luis, em 15 dc janeiro de 1912, e de qual participa­cipa ram as velhas e ricas familias de Sao Paulo. A finalidade era cons­titu ir a comissao que iria angariar os recursos para 0 emprcc ndimentotorn ado posslvel pcla riqueza proporcionada pclo cafe que determinaraprofunda tranrormacao da arquitetura, das mentes c dos costumes.

o arquitcto Maximiliano Hckl foi incumbido do projcto. Por

ser alienfgena prcferiu 0 estilo g6tico das catedrais Iamosas de outrostempos. Ainda n50 estava conhecido 0 nosso estilo barroco , nos pri­mores do Alcijad inho. Entac impcrava a chamada art nouveau,

o BAIRRO D:\ S£

Page 51: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

o projeto de Herkl que evocava Noire Dame, as catcd rais de Reims,Colonia e Milao, pa receu adequado e born. "Foi submctido aos maiorcsmcstrcs da Europa", informa Leonardo Arroyo. As dlmcnsoes cramde 111 metros de comprimento por 46 de largura. Capacidade "desuas naves glgantcscas para c ite mil pcssoas" . Assim foi cscrito. esque­cendo-sc de que a grande Igreja de Cunha , do seculo XVII I, podeacolhcr dez mil. Seguem-se as descrlcccs do memori al: fachada prin­cipal compost a de urn Irontao central decorado. Duas torrcs lateralscom altura de 97 metros, " 0 que permitc serem vistas de qualquer dospontos da cidade". Hojc, apcnas apo ntam no rccortc estupe ndo dosarra nha-ceus. Quatro cstatuas do lade esquerdo do portal, des profetasIsaias, Jeremias, Bzeq ulel e Daniel. No mclo, Sao Joao Batista. Dooutre lado, os cvangclistas: Marcus, Marcos, Lucas c Joao. Ainda nafachada nobre as csculturas de Santo Aranasio, Siio Cirilo, Siio Gre­gorio Nazianzeno , Sao Jofio Crisostomo, Santo Ambrosio, Sao J ero­nimo, Santo Agostinho c Sao Gregorio Magno.

Por dentro cuma riqueza, fcita de emulacao de ofertas das grandcsIor nm as patrfclas. Altares de mosaicos de grandes ar tistas de Vencza.Vitra is maravilhosos, no estilo das mais famosas catedra is do mundo.

Escultu ras de bronze de notavels escultorcs peninsulares. Tudo rcves­

tide de granito . No inicio, pensara 0 Arcebispo Dom Duarte em cons.tru ir 0 templo todo de . pedra , de fina cantaria trabalhada . Mas logo

verifieou a impossibilidade. 0 custo serla fabuloso. E 0 nosso graniteera durfssimo. Logo cmbo tava picos e cinzcis acabados de afiar.

Impos-se montar ate uma forja dcntro do temple para que os pcdrci­ros tivessem scmprc afiados seus instrumcntos cortantes. Foram rcu­

nidos os mclhores mcslres e oficiais em cantaria. Entre tan tos ficou

famoso Onofre Montefusco que ali cresceu e trabalhou quarenta anos.talhando 0 granito duro. A solucao cncontrada para apressar e tornarmenos dispendiosa foi crgucr as colunas de concreto e as parcdes detijolo, revestindo-as de granite trabalhado. H ouve tambem modificacocsdiversas. As classlcas fOl has de acanto Ioram substituidas por motives

tirades da flora e fauna brasileiru. E a catcdral comecou a subir. Masquando eclodiu a crlsc do cafe, explodiram as diflculdadcs de dinhciro.

As obras entraram em rltmo vagaroso . Apesar dos estorcos e daassistencia tccnica gratuita do arquiteto Alexandre de Albuquerque.

o BAIRRO DA Sf: 51

Page 52: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

__ ,1

Page 53: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Depois de sua motte substi tuido par outro cngcnhciro de grande fama :Anhaia Melo.

Mas antes fora tc rminada uma catedral em profundidadc : a cr ipta .Exigi u grande csforco, tccnica carte.A eripta e urn templo subterraneo, on dc Ioi encerrada a alma do

tcmplo c rcunida a gloria de Sao Pau lo nos tumulo de Tibitica eDiogo Antonio Feij6. Alta r "em scvcra harmonia com 0 meio" , des­taca Ado lfo Augu sto Pinto. Capcla em forma tradicional de cruz.Em volta as cameras mortuaries dos bispos da dioce se de Sao Paulo,dcsde Dom Bernardo Rod rigues Nogueira ( 1745- 1748) ale Da m JoseGaspa r de Afonseca e Silva ( 1939·1943 ) .

Nos nimulos de Tibirica c Feijo, cvocativos e maravilhosos re­rabulos de bronze de autoria do cscultor Jose Cucc, que trabalho udurante tres dccenlos no cmbclczamcnto interne do temple. A parteart ist ica csteve-lhc confiada.

Com a couclusao das torres terminou a obra colossal que chegoua ser co nsldcrada sinfonia inacabada. Vaiicina ram-l hc ale que aca­baria scm torres, como acontcccu com Noire Dame de Paris. Urndia, os pa ulistas enchcram- se de bnos. T inham ficado outra vez ricos.Fizeram doa czc s multiples e de vulto . A catedral foi te rminada.

SAO BENTO

A suntuosa igreja de hoje c bern diferente do modesto templeanterior que jd se aprescntav a majes tosc em rclacao a ermidazinha aliimplantada com grande fC c rcgada de cspcrancas em 1598.

Taunay dedlcou min ucioso estudo a respeito, que dcnominou His­((Jria Antiga da Abadia de Siio Paulo (1598-1772)./Conta rodosos pcrcalcos, rcgistrando qu e em 1637 0 mosteiro ja era abad ia,segundo escrit ura de doacao de M iguel Aires Maldonado e sua mulherBarbara Pinto , da s tcrras de Borda do Campo, para todo 0 sempre,em 24 de abril do ano acima citado . Em 164 1 ali dcfrontc acontcceuo famoso episodic da aclamacao de Amador Bueno.

Ha a informacao que a igreja consrrufda pa r Fernfio Dias, con­sidcradc fundador, c como tal figura na efigie em bron ze csculpid a

po r Frei Adalbcrto Gresn igt, nflo Ioi crguida no local da ennida

o DAlHno DA Sf: 53

Page 54: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

de F rci Mauro. Fem fio Dias dirigiu as obras em que trabalha ram seusIndios. T res altares, ao centro 0 dedicado a padrocira Nessa Senhorado Mont Serrate. Sucedcram-se lutas contra os homens c 0 tempo.Discussao sObre validade dos titulos que 0 abadc e obrigado a mostrarna rcuniao da verea nca de 16 de maio de 1767, provando a proprie­dade das terras desde a ponte do Anhangabaa pela cstrada de NossaSenhora da Luz ate a aguada do Acu.

Depois vern a amcaca de ruida. Em Is·n 0 Vcreador Silvapede que se proccda a uma vistoria. S indicado 0 cngcn helro militarJose Jacques da Costa Ourique pa ra proccdcr a vistor ia . No seurclator io deslaca "rebocos em ruina, inumeros buracos." Mas concluique a te rre csta sollda. 0 temple nao havia rccebido zclosa cosc rvacao.

No comeco do seculo e rcsolvlda a rcconstrucdo. A comissao de obrasfoi constitufda por D. Miguel Kruse, 0 abadc lucido que crlou aFaculdadc de Filosofia ; Dr. Jofio Lourenco Madein e os frades cultfs­simos D. Joao e D . Amaro . A pedra do novo templo era lancada a13 de novembro de 1910. Esta ria complcta mcntc tcrmina da dozeanos depois. A igreja in tcr por orago Nossa Scnhora da Assc ncso.

Na sua decoracao cooperaram frades artistes e de grande ins­

piracao 0 Monge Ad albcrto Grcsnigt e 0 Irmgo Clemente Fi rschaufderam ali 0 melhor do seu talcnto. Gresnigt foi convidado para decorara Igreja de San to Anselmo, em Nova torque.

Em Roma esculpiu 0 ni mulo de Pio X l. Pinte r, escultor, arqui­tcto, musico, urn art ls' a inspirado scmpre com 0 Iccundc talent ocriador em todos os campos.

Na co nstrucao da igrcja foi emp regado gra nite vcrmc1ho c gra­nita azul, como rcvestimcnto das paredes de tijolos bern con dos.o cstilo e uma mistura de bizantino com gotico , com trechos inspi­rados no mais pUTO romdnico. Tela chato, interrompido por moldu rade d ifcrentes formas e tamanhos.

Nos dias 6 e 7 de agosto de 1922 realizou-se a sagracao daBasilica Abaci al. Era sabado e dom ingo. As solcnldadcs ficaram parmuito tempo lcmbradas pclo esplendor. Foram dirigidas pclo enviado

especial do Papa Pio Xl. Comccaram as 16,30 horus de sabado com apurificacao da nave c des altarcs. No domingo den-se a consagracao,com mlssa pontifical. No alta r-moe cstavam inumados os restos de

o B,URRO DA sr

Page 55: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Fcmao Dias, bcnfeitor, que pcdira 0 sepultamento na sua igreja deNessa Senhora do Mont Serrate, e para ali trazidos por seu filhomais velho dos sertoes do Sumidouro, onde morreu em 1681.

Narra Afonso de E. Taunay que aberto 0 antigo jazigo foramencontrados urn femur de bomem agigantado, tres vertebras do sacro,pedacos do parietal e do occipital a que aderiam restos de umacabclelra, ruiva, cncanccida, de cabelos muito finos, de individuoindubitavelmente branco. Ao lado havia duas solas de sapatos, scmsalros, bern conservadas, pcdacos de cordiio como de Sao Franciscoe galao de prata. E 0 que e mais curioso, uma grande funda guame­cida de couro para hernia, apoiada numa cinta tambem de ferro ecujo uso devia ser sobremancira Incemodo para individuos menosrudcs que 0 estoico bandeirante.

Foi levado para a sua nova scpultura, com cxequlas acompanhadasda opulencia e da bcleza J esse cantico grcgoriano caractcrfstlco dasccrimonias bcncditinas que sc descnvolvem no ambiente majcstoso dabasilica de hoje. No mcdalhao le-se: "Fcrdinandus Pais Lcme, fun­dater" .

BOA MaRTE

Restou quase que miraculosamente. E como scmpre fora. Recebeua imagcm de Nosso Senhor Born Jesus que estava na Igreja do Colegio,considerada impresslonante pcla angdstia impressa no seu rostosemlcoberto por abundante cabcleira natural, feita de cabelos de mulhetjovem e com toda a probabilidade resultado de promessa.

A tradicao muito difundida c que os seus sines repicaram Icstiva­mente a 7 de setembro de 1822, anunciando a proclamacao da Inde­pcndencia. E contlnuavam tocando quando D. Pedro, rccem-aclamado,ao lado passou. Mas outra vcrsfio cque os sinos autores de tao sonora ercssonante noticia foram as tres da antiga S6, des quais a maioral secnccntra na Igreja de S. Gcraldo, na par6quia do Padre Dcusdedit deAraujo, lucido cultor J us coisas do passado.

Os temples vizinhos e Iamosos dos Conventos do Carma e SantaTeresa dcsaparcccram, sacrllicados a nccessldade de alargar ruas an­tigas.

o B.4.IRRO DA Sf: 55

Page 56: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

A Igreja da Boa Morte Iicou. Construlda por irmandadc fun­dada na igreja do Colegio, quase foi atingida pelo furor pombalinocontra as jesuftas .

Foi obje to de dcvassa , que comprovou tcr sido inst itu fda noColeglo a "d cvocam chamada da boa motte."

Francisca Leite de Escobar dcpos que (he certificaram que seganhavam muitas indu1genCias e Ihe deram " urn papelinho que co ns­lava tac-somente do que se havia de rczar" . Tudo deu em nada.A irmandade de Ness a Senhora da Boa Morle e Homcns Pardos uadasc frcu e dcu infcio a co nstrucao da igreja que em 180 7 ainda sc en­contrava em obras no terrene adquirido a 24 de julho de 1802 deJoaq uim de Sousa Ferreira, fazendo ca nto para a rua que vinhado aq uartclam ento de Volun'ario para 0 Tabatinguera . A 14 de agostode 1810 as merr.bros da confraria assistiam a ben~ao do templo, comtransfcrencia processional das imagc ns a 25 do mcsmo mes do Con­vente do Carma para os novos altares. A terre dominava a pa isagem.

Servia de csculca. E quando cram cspcradas visitas Ilustr cs, vindaspcta cstrada do lpiranga, davam os sines 0 sinal da aproximacao, "repi­ca ndo Icsrivamente" . Os demais sines respondiam. Os do Ca rmo, daSC, Siio Oon calo. Remedios. Sao Franci sco c, do outre lado do An han­gabau, os de Sarita Efigenla.

Cinco janclas de Ircntc, terre II direita (csquerd u de quem cntra ) .por ta principal, duas laterals. Altar-mer dedicado a Nossa Senhorada Boa Morte. Dois la.crais del.cades a Nossa Senhora da Piedade ca Nessa Senhora da Conceicao. 0 seu orago passou a Ne ssa Senhorada Assuncao. Foi scdc da Par6quia da Se, criada em 1591, a primciraparoquia de Sao Paulo de Piratininga.

AS RUAS

A cidade resultou da fregucsia da S 5. Foi 0 seu primeiro bair ronascido na " colina histo rica", ondc Ioi rezada a primcira rnissa. Cres­ceu em volta . Nne tumultuosamcnte. mas Iuuclonalrncnte. Para 0 ur ba­nista Ulhoa Cintra muito Iucidamcntc de acordo com as ncccssldadcslocals c 0 tempo . Os programas posteriorcs de melhoramentos urbanos

e que estavam crrados.

56 o 8 .4.IRKO 1>:\. st::

Page 57: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

A primcira rua Ioi topograficameut e de lineada. Era a rota dosPinhciros, onde apo navam as can oas que usavam 0 rio Grande, a partirdo alto da Serra de Paranapiacaba e chcgavam pclc J urubatuba. Ca­

minho do Padre Jose, perigo dos tamoios, chcgou a scr lntcrd ltadcpor Mem de Sa.

Saia do ad ro do Coleglo, passava pelo adro da M isericordia,ho]e esquina da Rua Direita com a atual Rua Alvares Penteado. Sc­guia pelo trccho da Rua Dlreita, dobrava na esquina da Capela dede Santo Antonio, cont inuava ate ao Piqu es, onde atravessava a'.ponte do Anhangabaii e comcca 0 Ca minho Mata-Fome. Galgava o .Aniceto e subia 0 Ca nguacu, nome do espigao que leva a AvenidaPaulista. la-se acomoda ndo ao lerreno.

Chamou-se durante muito tempo Caminho dos Pinheiros e tam.bern Cam inho da Pon te. Documento do ano de t 756 assim se rcferc :"Carninho da Pon:e e Pinhciros ate 0 Anhangabau ,"

Os primeiros povoadores Iinham as propriedadcs em volta davita e a moradia de ntro dcla . Foi assim nos primeiros decenios comoo dcmonstra pctieeo de Bras Cubas de 1567, em que diz: "Ondeetc, suplica ntc, tern sua fazenda htl muitos anos, a saber: uma errnidade San to Ant on io, cobcrta de tclhas c casas fortes, por rcspcito aoscontranos, e gente e gado vacum e terras onde fez muitos mantimentos

com que sempre ajudou a sustenrar seus engcnhos a desaguar os queha ncsra cap itania e as armadas de Sua Alteza, que na d ita fazendalui rnuitos anos que tern vinhos com que dizem mlssas nesta capitania,quando nao sc tern do Reina, e com mantimcntos da dna fazc ndaajudou a sustcntar as guerra s que tivemos com estes nossos indios,no tempo que puscraru cerco a vita de Sao Pau lo, ({UC havcra scisou scte anos pouco mais ou mcnos Ihe mata ram muito gada e scusescravos, pelejando no di to ccrco por defender a terra aos inimigos."Esta nos Aut os de Vistoria que a Provincia Carmelita Auminensemoveu a~ao contra a Uniao Federal c se encon tra no Arquivo do Con­vente Carmelita de Santos.

Essa fazenda com capela de Santo An 'onio ficava na Mecca .

A crmida foi dcpois mudada para o lugar ond c soc cncontra aigre]a do mcsmo nome, a Praca do Pa triarca.

Uma citacao do Padre Manu el Mendes de Almeida e elucidati va.Diz : "Antes da matriz bouve uma capela com 0 titulo de Santo

o BAIRRO D.4.. Sit 57

Page 58: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Antonio, junto ao Rio Anhembi, hoje vulgarmente chamado Tiete, ecuja cdificacao sc lgnora e se acha de todo demolida.

Nos alvorcs de sciscentos 0 Pad re Paulo Lopes, vigjirio de SaoPaulo, estava com a matr iz interditada pela Camara Municipal efazia as offclos paroquiais na Capela de Santo Antonio, existente navila. Em 1603 Diogo Martins Machuca dcterminava cm scu testa­mento lavrado a 12 de julho que Fosse enterrado na Igrcja de SantoAntonio, que agora serve de matriz nesta vila. A matriz foi inter­ditada por ameacar ruir. Suas paredes "estavam fora do compasso" ,opinaram as sindicos da Camara enviados para verificar a sua daobra.

Nessc ano de 1603 D. Francisco de Sousa volta do sertao :'lsua rcsidencia. Morava em predio assobradado de propr lcdadc deDomingos Luis Carvoelro, 0 que construiu a Capela de Nossa Senhorada Luz, no Guarc ou Guarepc, tambcm conhecido como Pirat ininga,que se limitava com 0 Mosteiro de Sao Bento e comprecndia toda avarzc a entre 0 Anhangabau e 0 Tamanduatef ate 0 Tiete. 0 predioassobradado do Carvociro ficava perto da matr iz.

Para sc comprccnder melhor a expansao do bairro da 56, quecontinuou scndo a celula-mater da capital paulista, convern inter­calar aqui como surgiu 0 Mosteiro de Sao Bento. 0 local era co­nhecido como Inhapuambucu, que significava elevacao, luger alto.Ali morara Tibirica.

Dcpois da morte do grande chete indio Frei Mauro Teixeira,monge rnuito religiose e abstincnte, de louvavel vida c cxemplarescostumes, ali ergueu uma ermida. No alto do vale, na parte rnaisaprazivcl. A capelinha ficou sob a lnvocacao de Sao Bento.

Corria-Ihc, por baixo ao nascente, 0 Tamanduatei e "a feichar,o rio Anhangabau, pela parte poente".

Durante varies anos ali residiu Fre i Mauro, qual anacoreta , napcnitencia, solidao c recolhimento espiritual.

Urn dia paniu a chamado de scu superior para ir cuidar cmoutro lugar de outras almas, dcixando como scu procurador ManuelPrete , de g1oriosa memoria.

Assim, 0 pequeno temple ficou scm rnongc residenciaLEm 1609 chegaram com 0 Governador D. Francisco de Sousa

Ires bcnedltinos com urn programa a cumprir. Eram elcs Fr ei Mateus..,.

S8 o HAIRRO DA S£

Page 59: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

da Assuncno, primeiro prior do mosteiro a ser erguido e os pregadoresFrei Bento da Purificacao e Antonio da Assuncao.

A ermida de Frei Mauro Teixeira cedeu lugar ao novo templeque tern por padroeira Nossa Senhora do Mont Serrate, a pcdidodo Governador D. Francisco de Sousa.

Afonso de Taunay reCere que 0 caminho do Guard que passavajunto do convento Coi fechado pelos trades c aberto outro para oslados da ponte do Anhangabad.

Na ocasiao 0 Padre Joao Pimentel, vlgario da Parcquia de SaoPaulo, recebcu rnuito bern os bencditinos, conversou com 0 Governa­dar s6bre a matriz. Salicntou a neccssidadc c urgencia do templocomccado em 1588, desfeito em 1598, reiniciado -a seguir pelo PadreLopes, em 1599. Mas que se encor urava "fora do eompasso" e parisso intcrd itado. E possivcl que naquele tempo, como hojc, a su­prema autoridade civil tivesse promctldo a melhor boa vontadc e dissoniio passasse.

Ja cntao a vida dccorria mais serena e farta . A far inha demandioca substituira em parte 0 trigo. A carne procedia, em suamaioria, de animais domesrlcos, com prcdomlnancla do porco e ani­mais selvagens de pelo e pena. Ab6bora, feijao e favas integravama alimentacao com frutos variados colhidos nos pornarcs Iormados comcspccies do Reino, como nozes e marmelos. Uvas de grande varicdadcde castas. 0 mel era amplamente usado. No infcio fora prcciso repri­mir severamente 0 canibahsmo, que cstava protun damcntc arraigado.Ha rcfcrencia a expressive easo. Depois de repclido 0 assalto dos

silvicolas, Tibirica chegou a concordar em que os Ccridos e mortos

contrtirios f6ssem comldos no Patio do Colegio, 0 que nso aconteceu

devido a cncrgica intcrvcncao dos jesuitas. Como a volta da scguranca

prospcravam as culturas em redor da vila.

a bairro da S6 era uma cspecic de prcdcstinacao. Tivera sua

escolba determinada pela topografia . a s rcglstros antigos sao porvezes assombrosos. Em 1594 Frci Antonio de Sao Paulo Iunda 0

Convcnto do Carmo. A construcao foi crguida num verdadcira marafechada, com arvores sccularcs em que sc dcstavam cnormes palmeiras.

•Na outra ponta surgia 0 convento de Siio Bento com scu largo, em

que ia aconteeer a celebre aclamacfio de Amador Bueno.

o UAIRRO DA ss 59

Page 60: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Foi erguido em sesmaria do Capitao Jo rge Correia, "eonformeconsta do livro de registro cxistcnte na Tesour aria Geral" . Em 1600comccou 0 convento e trinta anos depois dccidiram os manges eons­Iruir nova igrcja c eclebra ram com 0 Ca pitao- Mor Fcm eo Dias Paiscontrato "para sstc paulista se encarregar da fatura da mcsmaigrcja'', sendo ao que pareee mais tarde construfdo novo con­vento, pois 0 que ora cxtstc nao C 0 primitive, sendo que este sc achaunido aqucle pelo inter ior c e conhccido como Convento Velho. Iar assar por completa reforma no comeco de scculo. Entao surgiu novoconvcnto majestoso, e em seguida 0 viaduto de ligacao sabre 0 Anhan­gabau, cfctuando a ligacflo com 0 Largo de San ta Ef igenia.

A rua, posteriormentc charr: ada Dircita, que era curva obcdc­cendo a tcpografia local c sc chamava de Santo Antonio e depo is daMisericordia. porque nela cstava a igreja dessc nome.

Ali morava a aristocracia rural do lempo, como Afonso Sard inhaprlmclro, e pelos anos fora paulistas cmincntcs como Amador Bueno,o acla mado rei em 164 1. Fcm ao Dias, governador das Esrneraldas,Pedro Taques de Almeida , capit ao-mor e seu genre 0 prospcro Barto­lomeu Pais de Abreu, que descobriu a rota das minas de ouro deGoias. Depois da epoca das grandes avcnturas e das profundas pcne­tracoes pelos scrtocs, passa ram a morar, os detcntores das grandcsfort unas , em casas providas de grande conforto, ccmostentosas fa­chadas.

Em 1767 0 rccenscamento cntac cfctuado localizava ali as me­lhorcs residencias de Sao Paulo. Ainda no scculo passa do era a ruadas mansocs apalacadas, como a de Nlcoleu Vergueiro, regcn rc doImperio, e 0 sobradflo cstentoso do Baran de Tic te, const rucao mag­nifica da era de setcccntos. Em 1822 ali morava 0 Cor onel Franciscolnacio de Sousa Oueiros c na sua casa se realizaram conciluibulosque levaram a proclamacao da Indcpcndencia. Saint-Hila ire, que estevcem Sao Paulo ria prtrneira dccada do seculo passado, rcglstrou quenaquela rua rcunia-sc 0 que de melhor possuta Sao Paulo . La cstavao seu mais belo aspec ro urbano . As casas eram de salida talpa. betase bern cuidadas. Caiadas com Irequencla. Multo bran cas, "proporcio­nando avista urn real aspceto de conforto e asseio".

Em I I de dezernbro de 189 1 cinco cdis aprovara m a indicacacsubstituindo 0 nome tie Rua Direita por D. Pedro de Alcantara . Mas

60 o nATRHO DA Sf.:

Page 61: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

sere dias dcpois a delibcracdo ffcou scm cfeito. Rua Direita cont inuouscndo chamada. Chamara-sc antes Rua de Santo Antonio, porqucera caminho que lcvava aqucla capcla logo transforrnada em igrcja.Dcpois Rua da Misericordia, porquc 1<1 Iicava a Santa Casa c Igrcjada Misericordi a. A primeira dcnominacao no seculo XV I. A segundano scculo X VIII. Em 12 de marco de 1897 novamcntc lhe tcntaramtrocar 0 nome para Floriano Peixoto. Mas a Lei n.v 4 16 de 28 deagosto de 1899 rcstaurou-Ihc a denominacao. Direita significava ruaprincipal.

o reccnscamento de 1822 encontrou urn estabclccime nto deIazc ndas secas e Icrragcns, chamado ncgoclo. Havia mais : umncgocio de fazcndas secas, urn de ferragem, um armezcm de rno­lhados, uma botica , uma doccira, urn cirurgiilc, urn cclciro e urntabcliao. Vinic c oilo logos ou scja rcsldencias, onde morava m 116mulhcres c 108 homcns. Nesse ano moravam na Rua Dircita 0 PadreVicente Pires da Mota, 0 Dr. Nicolau Pereira de Campos Verguciro.Depurado a Constltuinte Portugussa, 0 Brigadeiro Manuel RodriguesJordao, 0 Brigadelro Jose Vaz de Carvalho, 0 Coronel Franciscolnacio de Sousa Ouciros, que se tornou Iamoso como chefe da"Bcrna rda'' , 0 Coronel Jose Joaquim, Govcrnador das Armas daProvincia.

Rua Alvares Penteado - No seculo XVII chamou-sc FranciscoCubas. Depois Rua da Ouiranda, em seguida Rua do Come rcio. 0seu nome atuall hc foi dado pela Lei Municipal n.v 977 de 29 de janeirode 1907, em homcnagcm ao industrial Antonio Alvares Leite Penteado,fundador da Bscola de Cornercio, que hojc tem sell nome. Doara-Iheo cdificio em que passou a funeionar.

Por ocasiiio do reccnseamcnto de 1822 havia 39 Iogos. Mora­yam 115 homens c 94 rnulheres. Tinha 8 casas de fazendas secas,duas de fazendas secas c molhadas, urn latoaria, 0 que significa umaoficina de funilaria de artigos domesticos, urn tabelino, uma loja defcrragens, do is negocios de molhados, quatro vcndas, urn bilhar. ARua do Ouvidor tlvcra sempre solcne importancia, devido aos ilustresmoradores. Primeiro foi chamada do Governad or, porque 1<\ morou,em 1598, D. Francisco de Sousa . Depois, ali tiveram residencia 0

Dr. Jose da Costa Carvalho, Marques de Montalegre, solido homemde negocios: Capitao-mor J050 Batista Passes, membra do Govemo;

o HAIRRO V A Sf; 61

Page 62: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Bar ao de Sousa Queir6s e seu irmao Marques de Valcnca ; Tomas LUIsAlvares, rico comcrcian te, com majcstosa mansao, ondc sc rcalizou 0

bnl hantc baile oferecido aos impcradores, na noite de 14 de marcode 1846, comemora ndo 0 transcurso do anivcrsdrlo da ImperatrizTeresa Cristina. Festa por mul tos aDOS lembrada e a qual compa­rcceu a fina flor da juventude paulistana. Tomas Alvares era rnaisconhecido como Tomas da Cruz. Hoje e a Rua Jose Bonifacio, emhomenagem a Jose Bonifacio, 0 M6<;o, que ali morou . 0 nome deOuvidor resultara de nela ter morado 0 primeiro ouvidor de SaoPaulo, Dr. An tonio Lui's Peleja, "de rna memoria pelo muito malque ag iu". Ele fora nomcado a 13 de agOsto de 1699 . A dcnomtoac soatual foi aprovada em scssao da Camara Mun icipal, em 7 de janeirolie 1887. Tinha in fcio do Patio da Sc, 0 logradouro qu e malor trans­formacao sofreu.

A PRA<;:A DA S£

Era urn pequeno adro de igrcja. Sua crlacao absorveu 0 miololie tres ruas que desaparcceram em todo ou em parte e que foram pormuitos anos chamadas de Sao Goncelo, da Espe rance c Santa Teresa.Do outre lado Ilcava a Rua do Ouartel, por tangenciar 0 Ouartelda Prirneira Linha, demolido em 191 5, e em cujo terrene se erguc 0

Palacio da J ustice. 0 resto da Rua do Ouartcl e hoje a XI de Agosto.A Rua do Sao Goncalo chamou-se do Irnperador , ap6s a visita dafamilia real em Ieverelro de 1846. Irnplantada a Republica viroulogo Marechal Deodor o, em 13 de novernbro de 1889. Dela so restouo atual aJinhamcnto da Praca da sc, do lado dircito de quem sobe.A Rua da Espera nce forma 0 al inhamcnto do lado esqucrdo. As de­molicoes comecaram em 1911 . Estavam preticam ente tcnninadas em]9 13, quando comecou a construcao dos modem os cdiflcios. A Ruada Espcranca fora antes a Rua do Santi ssimo. Pcla Rcsolucao n.? 84,de 18-3- ] 897, passou a Capltao Salomao. Vma travessa Iigava aRua do Sao Go ncalo a Rua da Esperance, como contlnuacno da an tigaRua da Freira, ja entiio dcnominada Senado r Fc ij6. A cscadaria da

catedral nessa antiga travcssa asscnta. A praca incorporou ruas cstreltas.£ uma soma de leis desap ropriando lmovels. A Lei 1.324 de 3 1 de maiode 1910 autorizava a emissiio de letras a juros de sere par cento, amor-

., o B.URRO DA SI=:

Page 63: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

tizavcis em quarenta anos, para pagamcnto des prcdios da ruas SantaTeresa c Mareehal Dcodoro, "nccessa rlas a construcao da catcdral".A Rua de Santa Teresa fora an terlorm cutc chamada Rua Dctnis doSantfssimo. Passou a Rua Dctni s da Se. Porquc ncla existia 0 Rcco­Ihimento dc Santa Teresa, recebcu a denomlnacao dessa padrocira.

A nova pra~a exigiu grandes rccursos e 0 sacrlffclo de dois velhostemplos: a Igreja de Sao Pedro da Pedra e a glorlosa Igreja da Se,no caracrerfsco estilo brasileiro. Resolvida a abcrtura da nova pracasucederam-se as leis desapropriatcrtas. A Lei 1.338, de 27 de junhode 1910 aprova acordo para aqulslcao des predios n.? 3 da RuaMarechal Deodoro, 0.° 6 da Rua Capltao Salomao. Ao projeto decrlacao da prar;a junta-sc 0 do alargamento das rua atluentes. A Lei1.354, de 4 de outubro de 1910 autorizava a compra de parte dospredios 7 c 9 da Rua Jose Bonifacio para alargamcnto dcssa via.

A Lei 1.438, de 20 de julho de 1911, autorizada 0 prefeito a com­prar, por utilidade publica, os prcdios ruimeros 8, 10 c 12 da 'I'ra­vcssa da Se.

A Lei 1.444, de 12 de agesto, autoriza a compra dos predios9-A, 9-B, 11 e 11-A da Rua Marchal Deodoro c n.? 2 da Rua SantaTeresa.

A Lei 1.446, de 29 de agosto. asslnada pelo vice-prefeito As­drubal Augusto do Nascimento autoriza a compra do predio n.v 5da Rua Marcchal Deodoro.

Cornplementa a Lei 1.327, de 1.0 de junho, que pcrrnitia a com­pra do prcdlo de 0 ,° 35, na Rua Marechal Dcodoro, por 28 contosde rels. Uma lei do mcsmo ano vale urn registro. Tern 0 n.v 1.393.Data : 20 .3. 1911. 0 prcfciro, pelo anigo primeiro, autoriza 0 arrcn­damento pelo pram de 25 anos, do "atual Teatro Colombo", propriomunicipal que esta servindo de deposito de carne, situ na Praca SaoPaulo, para tra nsformacno em casa de espetaculos e divertimentospublicos. Surge, assim, 0 Teatro Sao Paulo.

Quando 0 seculo passado caminhava para 0 tim, a cidade rece­cebeu subitc impulse e espra lou-se pelas chas vizinhas da Se. Masa rua principal continuou sendo a Direita. Nela Maud abriras eufamoso banco, cuja falencia tevc imensa repcrcussao e contr ibuiu paraa cxpansso imobiliaria, pois os capitalistas passaram a recear dcpc­sitos. Acharam mais garantida a invcrsao em imoveis.

o UAIRRO DA S(:: 63

Page 64: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira
Page 65: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

A Rua Dircita, desde os prim6rd ios da povoacao aeolheu oshomens bons do concelho, que cram os mais dlgnos c prospcros.Ficava intram uros. Porque, de tate, cxistiu fortificacao com rnurosde taipa . Que cssas dcfcsas existiram provam-no as atas da Camara.

Na ala de 26 de marco de 1590 c dcterminado pregao para quetodo 0 morador da vila cstivesse pronto com suas armas e manti­mento s "para que sendo necessarlo acudao co dilligencia e q sclevanten os rnuros da vila cada hu 0 q Ihe coubcr em seus chao s . .. "

Nos invenrarios apontam continua s referencias a moradias naRua Direita de Santo Antonio, assim chamada por ter como principalponto de refcre ncia aqucle tem ple.

Maria Lcme ao tcsrar tala do dote dado a sua filha Isabel, quandose casou com Marques Mendes - alcm de cern cabecas de gada vaeu mgrande e algumas crlas, duas pela s de Guln e, e qua-re da terra, umascasas tcrrcira de dai s lances com scu quintal na Rua Direita de SantoAntonio.

A capcla Iicava no rim da povoacao.

Quando em 1642, Frei Fra ncisco das Neves chegou a Sao Paulo,"dcsde logo sc convenceu de quc 0 sitio junto a ermida de SantoAntonio, cscolhldo pelo antecessor contra a parecer da comunidadec a Camara da Vila, nao era born para se construir 0 con vente . Ncosomente Iahava agua, mas tumbem se aehava muito exposta it inclc­mencia do tempo. Nisso t inha razno pois ficava 0 sitio sobranceiro

no Vale do Anha ngabau".

A Rua Senador Fcijc chamou-sc pnrneiram entc Rua da Freira.Como gcralmcntc acontecia , havia fator determinante servindo decausa batisrna1.

A li morava senhora de tradicional familia pa ullsta, rccolhida noConven to de Santa Teresa, que teve grande rcssonancia e hojc capcnasacidcntal ponto de referencia.

Na Rua Senador Feijo naseeu 0 indomito regenrc. Nessa casaem que veio ao mundo costumava ficar semprc que vinha a cidadc,pois possuia grande fazenda, onde morava, com numerosa escravarla,no atual bair ro Rcgcnte Feij6 .

A "case-grande" ainda cxiste com scnzala pcgado , agora ambasocupadas pelos dormito ries e salas do Orfanato Analia Franco.

o IlAtRno ])A Sf: 05

Page 66: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Ali podc se vcr a capcla em que Fe ija rczava mlssa. Ha vintcanos, existiam as calecas nas quais viaja va para 0 centro da cidadcpartindo daquclc fim de mundo de entao .

a fato de ali ter nascido determinou a denominacao da RuaScnador Diogo Fcijo, depcis abreviada para Scnador Feij6.

a rcccnscamento de 1822 encontrou vintc c da is fogos, scssentae oito mulheres e vinte c oito homens como morad ores.

A vida decorrla com grande austeridadc. As mulheres nao saiama rua scm companhia. Nem as propria famfl ias, scm que as aeom­panhasse 0 respective chefe. As mul heres so apareeiam asvlsltas quandoestas eram de senhoras.

A Rua Quintino Bocal uva foi prlmeiram ente Rua Conego Tom eporque, em 1765, 1<1 morava a Ccncgo Tome Pinto Gu edcs, do cabido

da SC de Sao Paulo. Passon , em seguida . a Rua da Cruz Preta , pelarazno de ter sido implantada uma grande cruz prcta na esqu ina demaior evidencia. Depois, Rua do Princ ipe, apes a visita da familiareal. Implantada a Repu blica. passou a Quintina Bocaiuva .

Da Praca do Pat riarca, nascida na esquina dos Ouatro Cantos.partia a antiga Travcssa de Santo Antonio, conhecida como vclhocaminho que levava ao ser rao, c que se rransformou em Ladeira Dr.Falcao, oficialmente Rua Dr. Falcao Filho , em memori a do lente daAcademia Dr. Clement e Falcao de Sousa Filho. Ao sui do Lar go deSao Goncalo tinha inicio a Rua da Polvora, atual Avenida da Libcr­dade, depo is de ter sido C6nego Lcao, da Force c do Cc mite rio, porqueali exis tiram a Iorca e 0 Ce mlte rlo dos Aflitos. Ra zjio tam bem pcla quala atual Rua Galvao Bueno Dctni s do Ce mitcrio e, em seguida, de s

Bstudantcs. Mais para cima ficava a Chacara de D. Alexandrinade Morais, que ia proporcionar 0 chao do bairrc do Parafso, onde selocalizou a c1assc media a partir da scgunda metadc do seculo passado .

a prestfgio do bairro da Se mantinha-sc, apesar das bruscasmutacocs. Muita confusao surgiu com as mudancas de r.omes.

A Resolucno Municipal 0 .° 84, de 18 de m arco de 189 7 dcu 0

nome de Capl tao Salomao a Rua do Santissimo. Fora a da Esperance .

que tinha 22 casas e ondc moravam 5 costureiros, I quita ndeiro eum ciru rglao-rnor.

Passou a intcgrar a Praca da Se.

66 o HAmRO l B . se

Page 67: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

o Patio da Se Iicava compreendido entre as Ruas Fio rianoPeixoto c Venceslau Bras, esta chamada rua que vai para Sant aTeresa. Recebeu a atual deaomlnacao a 13 de julho de 1918 pela LeiMunicipal 2 .136 . La morou no numero 2 0 Dr. Manuel Joaquim deOrnelas, de grande projC\'ao poll'ica .

No Patio da Se moraram 0 Coronel Francisco Pinto Ferraz c 0

Capitao Caetano Pinto Homem, avo do Dr. Americo Brasiliense Senor,comissario pagado r das tropas.

A praca atual, alcm das ruas citadas , abso rveu 0 terrcno ocupa­do pela Igreja da Se. cuja dcm olicao comecou em 1911 .

o recenscam cnto de 1822 ali cncomrou "sere moradi as em quercsidiam 34 mulhercs e 24 bomens. T inham loja s no pavimento terreo

de urn sapatciro, um alfa iate e uma rendeira.

Do Patio da 56 partla a Rua Dircita no trecho comprcendidoentre a Ru a do Rosario, depois Im peratriz, atual 15 de Novcrnbro co Largo da Misericordia com onzc fogos em 1822. Neese trecho cnteo

moravam a fam ilia Cantinho, 0 administrador des Cor rc los, Joaquim

de Abreu Ran gel; 0 Ca pitao Pedro Taqucs Alvim; 0 Coronel Fran­

cisco Inacio de Sousa Queir6s; 0 Capitao de Engenheiros Jose Joaquim

de Abreu.

Tinha vizinha a Rua An chieta, inicialmente chamada travessa do

Colegio. Em scguida Rua do Palacio e pela Resolucao Municipal n.v 86 ,

de 17 de dezembro de 1887, recebeu a dcnominacao atual. Em 23 de

outubro de 1908 a Lei 1.146 deu 0 nom e de Anchie'a ao Largo do

Palacio.

Para evitar confusocs, em 1.0 de abril de 1936 0 Prefeito Fabio

Prado denomino u de Patio do Colcg io 0 Largo do Palacio do Govemo,justificando a denorninacao anterior.

Na an tiga Travessa do Colegio, no num ero 1I, residiram as ir;r.fu;

do Tcncnte-G eneral Jose Arouche de Toledo Ro ndon , con hccidas como

.)S meninas da Casa Verde, por ser pintada de verde . A sslm tratadus

mcsmo dcpois de provectas senhoras. E porque possufam chacaras na

zona norte, para 0 local levarnm a denornlnacno.

Par isso se chama 0 bairro Casa Verde . Fato estudado pclo

historiador Au rel iano Leite.

o HAIRRO DA SF: 67

Page 68: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira
Page 69: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

A AVENIDA SAO JOAOE RUA DE SAO JOSe.

A transtormacso de Siio Paulo comccou em 1870, qua ndo eclodiuo rush: cafceiro que teve a ca ractcnza -lo uma riq ueza torrencial e 0

advento crescente de multidOcs de Imigran tes peninsula res. As primeiras

(d onnas Coram tlmldas, limitand o-se a pavimentacao c alin hamen.os

das ruas velhas e extensao de services publlcos a vias acabadas desurglr. 0 maior melhoram ento dcssa epoca e tambC:n 0 mais caro Ioi

a dcmolicao da lgreja do Rosar io c abertu ra da atual Praca Antonio

Prado, no seu lugar. Ia succdcr-se modificacao profunda na estrutura

urbana. A primcira Case Coi caractcrizada pcla tran-rormaeso da velha

Run de S5.o Jose numa via larga. E ra antes uma viola ladeada de case­

bees ocupados por dccaldas.

Edua rdo da Silva Prates, grande Iazendciro, dono da Fazcnda deSanta Gcrtru des, em Rio Claro, era proprictarlo de terras no Vale do

Anhangabau c das casinholas com (rente para a Rua de Sao Jose.

Em (ace do projeto de remodclacao daquele logradouro central deci­

d iu-so a cooperar, construindo dois predlos modemos, ao gOs'o (ranees,

identicos no estilo com est rut ura de ferro , considcrados lncombustlvcis.

o material veio todo da Franca. 0 service, que mais parccla de monta­gem do que de consrrucao, foi dirigido pelo Engenhei ro Samuel das

Neves, pai do cngenheiro Cris tiano das Neves, autor do projeto da

Estac;ao Sorocabana, hoje chamada J ulio Prestes, e que foi prefei 0 deSao Paulo. No primeiro desscs pred los esteve lnstat ado 0 Govemo

municipal. 0 segundo, junto ao Viaduto do Cha, abrigou por muitos

anos 0 Autom6vel Clubc. Iria ser substituldo por urn predio de 32

anda rcs, a ca rgo do Engenheiro Alfredo Matias. Urr a das carac terfs­

ticas desses predios foi 0 pioncirismo no genero de construcao : oitenta

sapatas de concreto com da is metros de diamerro. Vigas de ferro de

20 a 50 quilos por metro linear substituindo 0 travejamento; tclhado

de ard6sia.

Ed uardo da Silva Prates, Conde de Prates, por services prestados

.) colctivldadc c a Igrcja, titulo conferido pclo Papa Leilo XIII , vivcu

de 1860 a 1928.

o B,URRO DA Sf; 69

Page 70: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Na ocas iao , 0 arquiteto frances Bouvard, com tcndencias avan­cadas para 0 tempo, participou ativamcntc na transformacao da cidadcantlga.

Bssc tecnico gaule s iria coopcrar intcnsamcnte na admlnistracaodo Barno Duprat, que sucedeu ao Prefeito Antonio Prado no pcrfodo19 11-19 14.

Foi nessa admlnistracao que foi melhor aproveitado 0 Vale doAnhangabau, onde ainda existla m chacaras de flures c de verduras,Foi a Badia de Duprat que mandou projetar c construir 0 vladuto deSanta Bflgenia.

Sucedeu-Ihe 0 Sr. Washington LUIs, que fora sccretarlo da Justice.Coneomitantemente, em a nova Rua de Sao Jose transformada na atualRua Libera Badaro era dado inicio a Avcnida de Sao Joiio, que tiveragenesis na ingreme c estreita Ladcira do Acu. Reccbeu ao centro umalinha de bondcs. a s vciculos quando atingiam 0 alto da ladeira c entra­vam na Praca do Patriarca dava m urn pulinho, ao ajus tarem as rodasdia nteiras no novo plano. Entre a Rua Libcro Badar6 e a preca aoalto funcionava m 0 Cafe Brandao, 0 Salao Ingles, a Chapc larla Cardosoe o Cafe Rio Arno. Do ou'ro lado a casa Alberto Rodrigues (Chapc lariaAlberto) , 0 Salao Sport e a Livraria Teixeira. Para baixo da RuaLibero Badaro abriam as portas da Casa Leh re e a loja de armarinhode Miguel Jose. A Pcnsao Lola estava instalada no primeiro andar dopredio n.v 15 e no terreo a Casa Sord i, que negociava em ar mas.

Sucediam-se os Bijou Salao e 0 Bijou Theatre, cinemas exploradospor Francisco Serrador.

o Pala cete Prates fieou Iamoso. Abrigou a Prefeitura ate ao anade 195 t , quando foi vcndido ao Banco Mercan til que fez a comprapara ali const rulr urn prcdio de muitos andarcs. A scmclhanca do quefora Iei to com seu irmao junto do Viaduto do Chao 0 Prefcito ArrudaPereira assumi ra 0 compromisso de mudar a Prefeitu ra para Prcdioalugado na R ua Florencio de Abreu, ao lado do Mos teiro de SaoBento.

La vinha funcionando tambcm a Camara Municipal desdc 1948.Ocupava os andarcs terreo e primeiro piso. Para esse fim tinha sldofeita grande reforma a cargo da firma Maia Lclo, sob a direcao doengenheiro municipal Cristiano Ribeiro da Luz. Foi cntao arranjadaeondignamente a sala de scsszcs. Ali funcio nou a prlrrclra Camara

70 o BAIRRO DA Sf:

Page 71: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Municipal paulistana, depois da Ditadura. Tevc como primeiro presl­dcute 0 Sr. Marter Junior. La se tornou popular 0 Sr. Janie Ouad ros,

ate entao urn i1ustre dcsconhecido.

Depois que 0 gab inete do prefeito mu dou, a Camara Municipaltomou conta de todos os andares c dcnominou a cdificio de PalacioAnchieta . Em face da demora da execucao do Pace Municipal decidiudesapropriar 0 cdiffcio. Urn grupo de vercadorcs insistia em tal soluc aoalegando que se trat ava de urn prcdio que exprimia cabalmente aprimcira fase de tran sformacac de Sao Paulo.

Esgotavam-se os prazos para mudanca conccdidos pclo BancoMercanti l que adquirira 0 predio do Conde Prates. Pretenderam pediro tombamento ao Ministcrio da Bducacao. Ali estivcra instalado 0

Exec utive c 0 Legislative Municipal por rnais de meio seculo. Masafinal Ioi rcsolvida a construca o de urn predio para Camara Mun icipal,junto ao Viaduto Jacarcl no terrene dcsapropnado para 0 Pace Muni­cipal, limitado latcralmentc pclas Ruas Santo Antonio e Santo Amaro.Area const rufda de 37. 500 mc'ros quadrados. Treze andarcs. Notope urn helipon o. Dez elevado res. Beleza c confe rto. A Camaraccmccara a mudar-sc em meados de 1969. Em janeiro de 1970 j :lesrava la instalada . E principiava a demollcao do velho Palacete Prates,para no seu lugar scr constru ldo urn predio moderno de 25 andaresc de alusslma renda .

Antes a Rua de Sao J ose chamou-se Rua Nova de Sao Jose, abertaem 1786. 1788, pelo Govcrnad or da Capitania Marechal Frei JoseRaimundo Chichorro da Gama Lobo. Descnvolveu-sc na beirada dacncosta do Anhangabari e logo abaixo da ribanccira antiga em eujotope passava a Rua Mart im Afonso, atual Sao Bento. Ainda hojc scnota a difcrcnca de nfvcl quando urn prcdio antigo c dcmolido. Facil­mente percebido tambem denrro do Ediffcio America. Entre SaoBento c Lfbcro Badaro sao tres andarcs.

o nome atual foi dado em 19 de novembro de 1899 em homena­gem ao pa ntletarlo que ali residia c foi assasslnado a tiros ern 20 denovembro de 1830. Fazia 59 anos que isso acontecera quando a Ca­mara Municipal aprovou a nova c tambem atual denomlnacao. Em­baixo alinhavam-sc modesras casas terrcas dos fins do seculo XVII I.No alto, dcfrontc da atual Praca do Pat riarca erguia-se a imponenciado sobrado dos Barocs de Itapetininga, be-d ado pela viuva, que casou

o 8AIR RO DA Sf: 7I

Page 72: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

em segunda mi pcias com a Bardo de Tatu f, firrrc opos itor a suadcsapr opr lacno para construcao no local do Viaduto do Chd, inauguradoa 6 de novembro de 1892, da ta que sc podc tambcm coas idc rar donascimento da praca alual. Defronte, du ra nte decenios, funcionouo Iamosc Mappin Stores, firma inglesa que se dcstaca va pelos pro­dutos de fina qualidade. Mudou de lugar e de donos. Esta hoje nacsquina da Rua Xavier de Toledo e Praca Ramos de Azevedo.

o LAR GO l OAO ME ND ES

Naqucle local muitas foram as transfor macoes. Pode-se mesmodizcr que aquelc pcdaco de chao do bairro da SCdefine a cvolucao dacap ital paulista. Existiu primciro a Patio da Cadcia, situado ao ladoda Igreja de Nes sa Scnhora des Remedios. Existlam pcquc nas e velbascasas. Cinco ao todo em que moravam 28 pessoas, scndo 2 1 rr.ulheres.Asslm surgiu primeiro a Largo Sete de Setcmbro. A crlacao do largovisou melhora r 0 accsso ao Caminho do Mar, atual Rua da Glor ia,assim dcnominada porq ue dave acessc a Chacara da Gloria. Pen o, aRua do Cemlterio, pclo motive de scrvir 0 primeiro ccmiteno quc bouvena capital e que Ilcava defronte do Largo de Sao Paulo, depois PracaAlmeida J unior , agora absorvida na sua quase totalidad c pcla AvenidaOcste-Leste. Ao fundo da nccrcpole ficava a Rua Dctnis do Cerruter io,que passou a Rua dos Estuda ntes e, finalmente, Gal vao Bueno, emhomcnagem a merror ia do professor Carlos Mariano Galv ao Bueno,catcdratico de filosofia. Ensmava no Curso Anexo a Faculdade deDircito. Tendo morrido num desastre, 0 impacto detcrm inou que seunome Iosse dado a Rua dos Estuda ntes, pais muitos deles tinham sideou ainda cram seus alunos. 0 nome de Rua dos Bstudantes Ioi trans­fcrido para a Travessa do Cemitcrio.

o Largo da Cadcia rccebcu acrcsctmo, scndo emcndado ao adrode S5.o Goncalo, ond e sc crguia a capela dcdicada a Sao Goncalo

Garcia . Bern antiga. Brctou da provisao assinada pelo Bispo D. FreiAntonio da Madre de Deus Galvao, pcrmltindo a construcfic de urn

temple tendo por orago aquelc san:o. A capcla estava construfda em1767 . Dcla resultou a atual lgreja de Sao Goncalo, que apa rece Ire­quentcmcn te nas cronlcas por ca usa de cstorvos causados postcriormcnte

o BAIRI\O lB. ss,

Page 73: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

ao tnifegc . A igrcja resultou da tcnacidadc da Irmandade de SaoGoncalo dos Homcns Pardos. Antes 0 local era amplo deserto apcrdcr de vista, entre 0 Caminho do Mar c 0 Caminho do Carmoque vai para Santo Amaro. Ser-Ihe-ia implantada ao centro a R ua daP6lvora, que foi 0 pr imeiro tracado c remota origem da Rua daLibcrdade.

Em 1786 era erguido 0 predio da Cadeia Publica, que ia scrinaugurado cinco anos dcpois.

Em 179 1 era dado por conclufdo 0 novo cdificio. Inauguradonao apcnas como cadcia, mas tambcm par a acolher orgeos govcm a­menla is, entre eles, a titulo provis6rio, 0 Pace Municipal. Chama­ram-the Casa do Povo. Ali foram tomadas rcsolucocs de maximaimportancia para a vida paulistana. E ate com rcpcrcussao pa ra avida nacional.

No Largo de Sao Oc ncalo como era chamado se rcuniu 0 povoem 23 de junho de 1821 para aclamar 0 primeiro GOVCfflO Provisorlo.o sino da Casa da Camara tocou a rebate. Juntou-se multidfio. Enaqucla manhf gloriosa ali foram tomadas declsoes que levaram alndcpcndcncia.

Era urn predio solido, que sofrcu reforma e ampliacao urn seculodcpois para acolhcr U Asscmbleia Provincial.

Por muitos anos ali funcionou a Camara des Deputados e 0

Scnado de Sao Paulo, ao tempo em que 0 Poder Lcgislativo paulistaera intcgrado pa r duas Cameras de Reprcscntantcs. Defronte Iicavaa Igreja de Nessa Senhora des Remedios. No local cxistira a Capc1ade Sao Vlccn:e, erguida em 1728, por Sebastlao Rodrigues do Rego,o ramose transformador dos quintos reais em chumbo.

E ao 1ado cnfileiravam-sc velhas casinhas tfr reas, muito dan ifi­cadas. Foram demolidas para ser constru fdo 0 glorioso Teatr o SaoJose. Os trabalhos duraram de 1858 a 1864. A inauguracao constituiu

uma das dates maxlmas da vida do bairro da S6, que era 0 cerebrac coracao da grande c nova cidade que ec1odia.

I ria ser dcstru ldo por vlolcnto incendio em 15 de fcverciro

de 1898.

o tcrrcno que ocupava passou a scr intcgrado na area da novaca tedral.

o BAIRR<> DA Sf.: i3

Page 74: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Em 1930 0 Largo de Sao Goncalo chamava-sc Praca Dr. JoaoMendes, em obedie ncia a Lei n.v 102, de 20 de novcrnbro de 1898.Fora primitivamcnte 0 Largo da Cadeia . As dcnominacocs populatescram funcionais. Rcsulravam de uma caracteristica de urn ponte de rete­rencia dominante.

A Catcd ral ia surgindo em cantar la de granito.De urn lado ficava 0 predio da Asscmblcia Legislativa. Dctrontc

a Blblloteca do Estado, encostada na Igreja des Remedios. Ao altoa Igreja de Sao Goncalo, tendo junto 0 sobradeo da familia Mendesde Almeida. Ao centro urn jardim bem cuidado. Grandes arvores emvolta . E no mcio a henna do ilustre professor de Direito, que deunome ao logradouro , Em volta rodavam os bondes que dc-randavarnVila Mariana, Cambuci, lpiranga, Bosque da Saudc e Santo Amaro.

Esse aspccto interiorano, rcpc usantc, perdurou ate decade de1940.

Em 1942, 0 Engenheiro Prestes Maia, como Prcfeito de Sao Pau­lo, decidou atacar a reforma da Praca Joao Mendes para receber 0

Viaduto Dona Paulina, com a construcao contratada com a firma deGastao Vidigal, que iria dcsistir da obra devido a alta de materiais. 0atraso do viaduto , porcm, nao retardou 0 projeto global.

Dcsapropriada a Igreja dos Remedios foi iniciada a dcmolicno queabrangeu 0 predio da Biblioteca do Estado. Surgiu assim novo egrande espaco livre, com a jun~ao do antigo largo do templo. As

linhas dos bondcs de Vila Mariana passaram a Iazcr retorno no alto

da nova praca. Durante uma scrrana foi reunida grande quantidadede maqulnas. Para nfio causar prolongada pcn urbacao ao trafego tudo

Ioi plancjado em mindcias durante um meso Atacados as trabalhos, 0

Prefcito Maia passou a morar no seu gabinete do Palacete Prat es.

Assim procedia para resolver qualquer dificuldade que surgisse scmdcmora . a scrvlco dccorria scm intcrrupcao em vinte e quatro horas.

A pressa foi tamanha que os bondes ao entrarcm na nova praca,para retorno, ficaram com as portas abrindo do lado de fora doabrigo. Impos-se mudar 0 scntido do baliio de retorno. Em vez de

dcsccrcrn a Rua da Libcrdade para voltarem pcla Praca Carlos Gomes

tlvcram que efetuar a volta ao contrar lo. E assim passaram a podcrreccbcr os passagciros do lade do abrigo da Igrcja de Sao Goncalo.

74 o HAIRRO Hi\. S£

Page 75: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

o jardim antigo desapareceu. Outra perspectiva, outra fisiono ­mia. Mas 0 predio do Congrcsso ainda pcrsistiu alguns anos, tendo

nas vizmhanc as um cinema pulguento chamado Recreio.Tendo sido logo construfdo 0 Viaduto Jacarel, pela firma Caval­

ca nt! e Junqueira, tornou-se urgente 0 Viaduto D . Paulina, que cons­titu ia 0 fecho da Aven ida Circular.

o nome rcsultou da grande chacara que ali existia, pcrtencen tea D. Pau lina de Ou ciros, onde fora eultivado cafe.

Devido Ii diferenca de n ivel impuscra-se a solucfio em declive.Tres eram os viadutos devido a topografia : D. Paulina, Jaearei cNove de Julho. Todos Sics tiveram os projeto s recstudados e cnca­rccidos, para recebcrem no interior passagem dupla rescrvadas aslinhas do metropoli tano, somando 580 metros.

Foi tamb cm cstudada a localizacao da estacao do prirneiro aneldo subway na Praca Joao Mendes.

Terminado c cntrcguc 0 Vladuto D. Paulina, ficou pran ta asupcrffcie, a anel da Aver uda Circular, que passou a desafogar aeentro da cidade duran te urna decade.

Transto rmara-se totalmente a fisionomia do velho bairro da 56no local. Do que fora restava apcnas como ponto de refcrencia aIgreja de Sao 0 0n'c;:a10 .

o LAR GO DA MISERICORDIA

1716 - A Igrcja da Misericord ia csta ern obras. Mas e 0 melhortemple para scrvlr de S6 provisor ia. D. Joao V cscrcve ao Gover­nador c Capitso-General da Capi'ania de Sao Paulo que " informadode que a igrcja paroqui al, que por ora devia scrvir de Catedral scesta reedificando e ser necessarlo que, enquanto sc nao poe em termosde fazerem nela os oficios e Iuncoes pontificals, e 0 service do Co rase destine outra para esses misteres. E fui scrvido haver por berndecreta de cinco do presente mes e ana que inter inamente se cxercitemna Igreja da Misericordia sem prejuizo nem interrupcao dos exer­ctclos pertcnccntcs a Irmandades da Misericordia".

Em 1745 a Igrcja da Misericordia ainda continuava Ca tedralpravis6ria.

o namno DA S~ 75

Page 76: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Em despecho de 1747 D. Joao V determ inou que 0 Ouvidor daCapitania passe a "mora r nas casas em que residiam seus antecesso­res, vizinhos a Igrcja da Misericord ia", site oa Rua Direita, tendourn largo com a sua denominaeao.

Determ inou ainda D. Joao V que fosse construida uma grandecatedral.

Comccava a jorrar 0 ou ro das Minas. Ma s 0 bispo de SaoPaulo "de harmon ia com scu Cabido di rigiu ao rei de Portugal urnoficio atc ncloso dcclarando que a matr iz que se estava construindoera baslan te vasta para scr er igida catedral."

Mais tarde se comemou:Se Iosse executada a vontade deste grande monarca a nossa catc­

dral seria hoje urn monumcnlo digno de scu a110 destine. Naquclaepoca Portugal nao econormzava dinhei ro pa ra 0 esplcndor do cultoca tollco.

o que dcmonstra 0 Co nvento da Marfa, em que foi gasta grandeparte do ouro proveniente do Brasil.

Houve en tao 0 mais pesado luto que 0 Bairrc da Se conh eeeu .

Morrcra " 0 muito poderoso Rei e senhor Dom Joao V, queem sua gloria dcscansa". Chegou ordem para " tcdas as dcmonst racoesde sentlrucnto e sufrag ios costumados nos Ialccimentos dos scnhorcsdsstc rcino''. Ordenaram os camaristas solcnes cxcquias na Scdc Ca­tedral, com a presence do Ouvidor-Geral e todos os nobres cida daos.Com fumo em sinal de do . cha peus e as fivclas cobertas de luto, de

mulhercs vestidas de luto correspondcnte it sua dignidade. Fecharam

os trib unal s e dobravam as sinos d ia c no ite, de mcia em mcia bora ,anunciando com seus toq ues plangcntes os sufraglos em todos astcmplos. Porras c janclas fechadas. Mu1la lie dez mil-reis e cade iaa quem nao participassc do luto pelo passamento do multo po dcrosorei e senhor Dom Jose V, que Iora desta para melhor. 0 balrro daS6 tomou luto colet ivc que determinou um a co rrida it lojas que ven­dias 0 antigos condizen'es.

Os que prc tcndcram aprovcirar-se da situacao para c1evar osprecos fora m ameaca dos pc!o Ouvidor-Geral da Comarca, Dr . l ose Luisde Me lo, com multa de 30 mil-reis e cadeia .

Em 17 de junho de 1752 a cated ral e terminada C marcad a parao dia 29 com transl adacao solene do Santissimo Sacramento para

7. o BAIRRO lB. SF:

Page 77: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

a S6 nova. Grande procissao cucarfstica salu da Igreja da Misericor­dia que pcrdeu 0 presngio. E a importa ncia . Iria scr demolida. Dejarcstou a dcnominacao do largo do seu nome. 0 terrene, como per­tencia a l rmandade, foi vcndido.

Nas decadas de 20 e 30, no local , em predio prop rio estavam oscscritor ios cent rals das lndustrias Matarazzo.

Entre as ruas important es do bairro da se destaca-sc a XV deNovcmbro, inicialmen tc Rua do Rosario. Articulava-se com a Rua

de Sao Bento, antes da formacao da Praca Antonio Prado. E noscculo XVII chamou-se Rua de Manuel de Linhares, porque nela

morava e sua impo rtancia Ihc dava dcstaque.

Em seguida c em conscqtlencia da igre]a, R ua do Rosario dos

Homcns Preros. Tendo visitado Sao Paulo a familia imper ial, emhc mcnagem da sobcra na passou em 26 de fevereiro de 1846 a Rua da

Impcratrlz. Prociamada a Republica, a Camara Municipal, com repu·blicana diligencia em 19 de novcmbro de 1899, fixou-Ihe a dcnomi­

nacao prcsente. Dcsdc entao XV de Novembro ficou sendo chamada.

SAO BENTO

Sua importancia ja em 1822 foi assinalada pclo rccenscamentoa cargo da 4.a Compan hia de Ordenanca, cujo levantamento registrou

78 Iogos, 238 mulheres e 214 homens. 23 neg6cios, 5 alfaiates,5 cosrurei ras, 4 ourives. 4 vendas e unitariamcnte relojoeiro, requerente,solicitador, carpinteiro , escnvao, fiar:de ira.

Em sciscentos dcnominada Mar tim Afonso. Em scguida RuaDircita de Sao Bento e como tal foi conhccida c chamada a'e1700, quando ficou sendo Rua de Sao Bento s6.

Eclode Canudos com grande rcpercussao nacionaJ. A 12 de marco

de 189 7 a Camara Mu nicipal muda-l hc 0 no -ne para Moreira Cesar.Mas vol tou 0 born sensa c a nome. A Lei n.v 41 6 de 28 de agostode 1899 determtnou que Rua de Sao Bento eontinuasse. Pouco

tempo depo is a Light implantava-Ihe ao centro uma linha de bondes.Na ocasiao do rccenscamenro 1822 contava 53 Iogos. La rnorava

o BAIRRO D." SF; 77

Page 78: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

entao 0 Capitao- Mor Eteuterio da Silva Prado no numcro 22 e 0

Cap itao Joaquim ADriano de Godoi, que foi tesoureiro da Irm andadc

da Misericordia, rcsidia no numcro 14.

Co m a denominacao de Sao Bento ficou scmpre sendo conhecidco largo, antes tratado de Patio.

E existlu, tarnbem, a Rua da Figueira de Sao Bento, que esten­

dia entre 0 largo e a pon te do Anhangabau.

A topografia com 0 tempo sofreu gra ndes modlticacoes. A ponteflceva no Rio Anhangabau, na baixada que sc cstendia ate a Luz.Havia no alto 0 caminho au Rua de Miguel Carlos porq ue ali ficava

a chacara de Miguel Carlos Aires de Carvalho, procur ador da Coroa

no pcriodo de 1786· 1788. Foi 0 tracado original da atual Rua Flo­

rencio de Abreu.

Dcscendo em dlrccao do Tamanduatef, a Ladeira Consntuicao,

cvccando 0 juramenlo da Consrituiceo por D. Joiio VI , em 1821.

A denominaciio Flo rencio de Abreu constitu iu homenagem ao

senador rio-grandcnsc que govemou a Provincia de Sao Paulo e cujo

nome complete era Florencio Carlos de Abreu e Silva.

E proximo dessa area espremia-se 0 Beco da Lapa. Depots Tra­vessa do Grande Hotel, porque ali funcionava urn des maiores hoteis

que 0 bai rro teve. Agor a chama-se Rua Dr. Miguel Cou to.

Ao tempo do Grande Hotel erguia-se na Ladeira de Sao J oao umgrande edificio .

Onde hoje se estcnde a Rua Libera Badarc houve pesqulsas aprocura de restos dos amigos muros de taipa que defenderam a Pc­

voacso do seculo XV I, cnlao bern menor do que 0 bairro da Se. Afo nsode Freitas infonnava que 0 Beco do Acu era uma passagem Ingreme

e estreitlssima, ala rgada em 1810. A descida do Acu formava uma

csquina com a Rua de Sao Bento. Em 18 14 foi ali erguido majestoso

predio . De grandcs proporcocs em relacao as caslnhas terreas vizi­nhas. Cento c urn aD OS dcpoi s foi demolldo. Em seu lugar , em 1915

comecararn as preparat ives par a as fundacoes do Prcdio Martin elli, de

vinte c qua'ro anda res e conslderado a maior arranba-cc u de concreto

do mundo, pa is os de Nova lorque sao de estrutura de ace.

o BAIRRO DA Sf;

Page 79: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

o LARGO DA sa E RUAS VIZINHAS

A Rua Paranapiacaba tcve tcmpre muita importancia e grandec1asse. Inicialmente conhecida como Travessa do Padre Capac, passoua Rua do Mexia entre 1826 e 1830. Mexia era 0 regimcnto de Infan­taria organizado em 1775, pete Coronel Manuel Mexia Leite. naturalde Elvas, cidade de Portugal. Foi conhccida tambdm como Rua da ..Sete Casas, poT sec esse 0 numcro de residencies em que viviam24 mulhcres e 14 homens.

A Ru a Benjamim Constant chama va-se Travessa do J6go de Bola.Em 1765 Rua do Ferrador, porquc ali Ierrava cavalos velha paul istan o.

Em 1770 passou a Rua de Sao Francisco poT dar accsso diretoao largo, igreja e convento dessc nome. Passou a Rua do J6go de Bola.porquc ali morava Manuel Mart ins Duarte, conhccido como 0 bara­tciro do j6go da bola. Dcpois da visita da familia impcral rccebeu adenominacao de Rua da Princesa. Veio a Republica . A 19 de novembrode 1889 passou it Ru a Benjamin Co-tstant .

Do outro lado da Praca da S: houve a Rua Debaixo de SantaTeresa, primeiramenle ehamado Beco das Minas porque ali moravamnegros quitandeiros da n~ao Mina, na Africa, donde procedlam. Dcpoisintcgrou 0 comeco da Rua do Ouartel. atual 11 de Agosto, entre aRua Venceslau Bras e Santa Teresa.

Rua Floriano Peixoto desde 1.0 de agosto de 1907, assim eha­mada. Lei de n.o 1027. Ant es foi chamada Rua da Fundicao, porqueali funcionou a Casa da Fundic;1io do Ouro. La mon tada em 1680para fund ir 0 escasso ouro de Sao Paulo, porque ouro abundante sohouve a partir dos meados do seculo XVIII , encontrado em Minas e

Golas. A fundicao Ioi restaurada em 1727. Rua da Fundicao voltoua scr.

Rua 11 de Agosto, hoje, quase totalmcntc desaparecida, polsgrande par te Ioi integrada na Praca Clovis Bcvllaqua. Chamou-se pri­meiro Rua do Quartel , justificadame nte. No quartelrao ocupado atual­mente pclo Palacio da Jusnca ficava 0 Quart el da La linha, amploedifleio iniciado polo Ca pltao-Gcneral Martim Lopes Lobo Saldanhaem 1775. A 4 de outubro de 1790 0 Ca pitao-Gcncral Bern ardo Josede Lorena inaugurava 0 prcdio do quartet. Ia scr dcmolido em 191 5.Chegou por curto pcriodo a ser denominad a Cabo Roque. em conse-

o BAIR RO DA st. 79

Page 80: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

quencla de fantastica histc ria de hero fsmo c dcvotamcnto da ordcnancado Coronel Antonio Moreira Cesa r na campanha de Can udos. A Rcso­lucao n.v 84 de 18 de marco de 1897 the dcu a dcnommacao de CaboRoque, logo depois supdmida quando ficou dcmonstrado que tudonao passava de fantasia. Voltou a chamar-sc Rua do Quartel.

A Lei municipal n.v 1.033 de 7 de ag6sto deu-Ihc a denomin acao

atual comemo rando a instituicao dos cursos jurldlcos.

Inicialmentc ia da Rua Santa Teresa ao Largo do Pelourinho.

E justificando plcnamente a deno minacao a atual Rua Felipe deOliveira chamava-se Travessa do Ouartcl. 0 Largo Scte de Setembroau 0 Patio da Ca deia, aumentado com 0 cspaco ocupado por variascas lnbas demolidas do que resultou 0 Largo do Pelourinho. Finalmcnte,Sctc de Sctcrnbro, integrado na Praca Joao Mendes.

Silveira Mar tins era a Rua das Flores que, em 1822, tinha 53fogos. La viviam entao 83 mulhcrcs c 30 horncns. Catorzc costureiras,tres cngomadci ras, tres vcndas.

Em maio de 1897 trocaram-lhe 0 nome para Coronel Ta -r.arlndopela Resolucao 82. 0 povo rejeitou-o, nflo tomando conhecimento datroca. A Lei 4 16, de 28 de agosto de 1899, rcstabclcccu a floridadenominacao, mudando depois para Silveira Martins.

Rua Tabatingiiera cornecou com segmcntcs. P rimciro foi a Ladeirada Tabatingiiera. Ficava entre 0 Bcco Sujo e a Passagem de Taba­tingilcra. Surgia a caminho que passou a ser conhecido como Ladeirada Tabatingiiera. Ja exlstla a Igreja da Boa Morte. Par isso a nova viacornccou a ser chamada de Rua Dctras da Boa Mortc. Como elemcntode clucidacao. Para melhor lccalizacao. Passou a nomcs que depois teveque adaptar-se a nova situacao. Tabatinguera foi ehamada. Ladeirac rua passaram a cons tituir uma coisa so. Uma rua so, desdc 28 demarco de 19 14, por fO rr;a da Lei 677. Ali morava 0 Dr. Rodrigo Silva.Prctendcram dar a rua seu nome. Ele residira no n.v 66. Mas a suges­

tao nao foi avantc. 0 nome ja pcgara. Varies paulista ilustres la nas­ceram.

Anita Garibaldi so podia scr nome relativam cn:c recente em buirro

de tanta tradicao . Fora, par muitos decenios, Rua Dctrus do Ouartel.

Dcpois Rua do Trem, porque ncssa via estava instalado 0 chamado

trcm bclico da guamicao de Sao Paulo.

o HAlRHO D A Sf;

Page 81: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

o rccenseamc nto da 3.& Companhia de Orde nancas encontrou24 Iogos e 45 moradores. Tinha duas vendas. Nela morava urn mei­rinho.

A Lei n." 1.010 de 6 de novembro de 1907 conferiu-lhe a atualde nominacao. I:: apcnas urn pedaco da Rua Anita Garibaldi, muitoconhecido por causa do Corpo de Bombeiros.

Rua da Boa Vista sempre Coi chamada. Foi assim batizada pelopovo. E como fundamcnto. Bela era a vista. 0 panorama que dela secontemplava. Com essa denominacao aparece nos autos e inventariosdesdc 1711 - informou Alcantara Macha do . La morou 0 BrigadeiroJoaquim Mariano Galvao. Ja ba stante poputosa por ocasiao dorecenseamento de 1822.60 fogos, 231 moradores des quais 148 mu­Iheres.

E como gente que trabalhava, duas fiandciras, duas rendeiras,onzc costureiras, duas cngornadciras, urn alfaia tc, urn ourlves, urn se­lciro, urn tecedor de panos, dois sapateiros.

OS BECOS

Alvares Penteado teve 0 primeiro trecbo com denomin acao quasepejorative. Chamou-sc Beco da Cachaca.

Entre a Rua de Sao Bento e a Rua Alvares Penteado encurva­va-se a Rua do Cotovelo hoje chamada Rua da Quintanda. Formav ade fato urn cotoveto que foi suavlzado, mas ainda se nola.

Abaixo ficava 0 Beco do Inferno. "Urn lugar imundo, esburacado,cscurc e mal Irequentado", cita Byron Gaspar . "Ninguem podia neletransltar scm 0 necessdrlo culdado, tamanha era a sujeira que haviaem toda a sua extensao." I:; a atual Rua do Comerclo entre a RuaXV de Novembro e a Rua Alvares Penteado.

Os prirnciros mclboramentos que Ihe mudaram a fcil;ao rccebcu-odo Senador Jose Fernandes Torres, quando Presldcntc da Provincia.

o Deco da Barr a c a atual Ladeira Por to Gcral c com essadcnomlnacao atravcssou muitos decenios.

Assim se chamava por ocaslao do recenscamcnto de 1822,quando ali morava, no numcro 2, 0 Tencnte-Coronel Anton io Ma ria

o JI."-IRRO DA Sf': 81

Page 82: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Quar tim, membra do Govsmo Provisorio, prova de que nao era demau usa e rna Iama .

Como complemento desse sistema vrano estendia-sc a Rua doPiques, que dava acesso a Est rada de Pinheiros. 0 nome de Piquesderiva do comercla nte Antonio Ferreira Piques que morava no localem 1780 . Era antes conhecido como Anbangavahy de Cima no altoa Rua do Pared iio, muro de arrimo, que 0 Engen heiro Daniel PedroMuller construiu em 1814. Realizou importan tes mclhoramentos , entr eeles 0 muito e1ogiado muro de pcdra da Ladeira do Carma, que acaboucom os temldos deslizamentos. E a pon te de pcdra sobre 0 Taman­duatei. E tambem a pirfunide do Piques, aquelc grecioso obelisco,no centro do largo, que 0 Co nde de Palma, em 1814, denominou deLargo da Memoria. 0 obellsco foi dedieado a rnemorla da norma­llzacao do Governo paulista c fcmbranca de terrivcl seca que assotaraSiio Paulo. Proximo da base eantarolava a agua de urn chafariz.

A Lei n." 397, de 20 de maio de 1899, passou a Xavier de Toledo.Ali morara 0 Coronel Francisco de Paula Xavier de Toledo .

Paralelamente, deseendo do alto safa 0 Beco de Mata a Fame,que ia ser uma das arteries paulistanas mais impor tantes.

Urn dos trechos a Lei n.o 2258 denominou em 1920 de RuaEpitac io Pessoa. Outre trecho Rua Ipiranga. E, finalmente, AvenidaCircular .

Como rua convergente, a Rua Nova da Ponte do Lorena , como

ponto de partida da Estrada para Cidade Nova . A Rua Nova da Pontepassou a Rua da Palha . Depois, a Sete de Abril, q ue manteve com

sua estreiteza e curvas determinadas pela topografia antiga.

TEBAS EXISTIU?

Tebas aprcscnte-se como personagem de destaque na vida do

bairro, no seculo XV II I. Tinha talentos multiples, sabendo encontrarsolucao adequada para cada caso. Sua fama se espalhou e para

qu alquer obra de vulto c mais diffcil logo seu nome era lembrado.

o Tebas fora escravo. Era preto. Conseguiu rcconstru ir a antigacatedral com grande terre ao lado, 0 que para a epoca e os materia is

82 o BAIRRO D.-\. Sf:

Page 83: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

usados pareceu singular Iacanha. Era obra tida como Impossfvcl paraos mestres-de-obras do tempo.

Ganhava pataca e meia por dla. Quando terminou a obra con­seguiu a suficiente para comprar a alforria. Depois de famoso torna­ra-se urn homem livre. l ria exccut ar obras dlvcrsas de utilidade pu­blica. E entre as mais destacadas, figura 0 chafa riz do Largo daMisericordia, pclas solucoes tecnicas que tcvc que criar, a fim delever agua abundante mas distante ate as blcas, atravcssando prat i­cament e 0 mlolo do bairro.

Assim se formou e cresceu a fama de Tebas, atra ves de dai sseculos.

Mas como a correr dos tempos aperfeiccou-sc a pesquisa histo­rica. Como acontcceu com os santos de gra nde prestlg io populartambem Ioi examinado com maior rigor a existencia qu asc mfstlcade varies personagens. Sobre 0 famoso Tcbas, que se chamava defato Joaquim Pinto de Oliveira, Monsenhor Silveira Camargo, umaautoridade em assuntos da Igreja, relata que 0 sino grande da Se estavarachado, nao havia cadeiras curais, os conegos sentavam-se em bancoscobcrtos de pano verde. 0 edificio carccia de obras urgente. Ascongruas estevam atrasadas. E opina em seguida :

"Nao encomramos nenhum Joaqu im Pinto de Oliveira Tebasem trabalhos da catedral . 0 cabido contratou as service s com Bentode Oliveira Lima, porque 0 front ispicio ameacava rufna em 1764, sinalde que njo foram bans as services anteriores e se nee era 0 segundoapelidado Tebas, 0 primeiro niio e 0 que dizem, caso tenha construidoa torrc no temple de D. Frei Antonio . Tebas seria escravo do ConegoPaulo de Sousa Rocha."

o PARQUE D. PEDRO II

Uma aquarela de Debret, do comeco do seculo passado , rnostrao que era balxada do Carma . Urn aterro corta a varzea que a Taman­duatei inundava todos os anos, na epoca das chuvas, transformando-oem temido pantano. 0 aterrado comecava na Ladeira do Carmo, quetangcnciava a igreja e convento des quais recebera a nome. Naarecebera ainda os muros de arrimo e estava por issc a passagem

o BAIRRO DA S£ 83

Page 84: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira
Page 85: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

sujcua a dcshzamentos de terr a, muito temidos e Ireqtientes, tratadosde vacorocas. Mas os mur os eram obras de alto custo, superando aspossibilidades dos recursos de cntao. Embaixo era uma terra turfosa,com area superior a 500 mil metros quadrados. Ia ser ali a primeiramodificacao de vulto da cidadc que lhe nascera ao lado.

Em 1848 foi iniciada a retiflcacao do trecho varzea no em quesupcrava 0 Tamanduatef, formando sete vcltas semelhante a lacadas.Governava enta o Pires da Mota a Provincia de Sao Paulo. Com aeliminacao das curvas do rio espc rava-se mais rdpldo escoamentodas dguas.

Anos depois, Joao Tcodoro Xavier, outro Presidente da Pro­vincia, que ficou Iarnoso pelo interesse que ded icou aos problemasurbanos da capital, procurou melhora r 0 aspccto da varzea.

Assim surgiu urn pcqueno parque dcnominado llh a dos Amores.tria desaparecer quando obras mats amplas fora m atacadas, peloater ro de grandes areas e ap rofundamento do lei:o do rio, em 1898.

No comeco do seculo, 0 edit Augusto Silva Te les ap resentavaprojeto publicado com 0 titulo de Melhoramentos de Silo Paulo,procurando dar nova feicilo a Varzea do Carmo. Sallentava : consi­derado meio seculo antes zona distante a pont o de em seu terreneser localizado 0 gasometro de Sao Paulo Gas Compa ny. E em ho­menagcm ao Imperador, cujos restos mortais voltavam ao Brasil, foidado ao novo parque a denominacao de D. Pedro II.

Conheceu urn curto perlodo glorioso com a construcao do edificiodo Palacio das Industnas c Mercado Central. Como isso acontcceue que a frente vai descrlto.

A COMPAN HIA DA VARZ EA DO CARMO

A Compan hia Mecanic a, que havia efctuado grande parte da cana­Iizacilo do Tamanduatci, para 0 Govemo do Estado, rccebcu propostada Prcfeitura para cfctua r a urbanizacao da varzea. Tratava-se decxccutar 0 prcjero cntilo elaborado para 0 parque, cortado de ruas talcomo atravessou as decades de 30 a 60. Corr;o 0 Tesouro Municipalnao dispu nha de recursos, propos 0 prefeitc, entao 0 Sr. WashingtonlUIS Pereira de Sousa, quc 0 service Iosse pago com os terreno s rema-

o 8 .4. tRHO 0 .4. S ~

Page 86: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

nesccntes. pertencentcs ao Municipio. A Companhia Mccanica, entaopoderosa organizacao empreite ira, nao achou vantajosa a perm ute deterras por services. Desistiu. Acontcceu , entao, que a Sr. WashingtonLuis tinha por sccretano 0 Sr. Antonio Almeida Braga , pessoa depres ugio na colo nia lusa. £ Ie se propos consegui r os recursos neces­sarios, atr aves de uma companhia a ser conslituida por elementos deprojecao no comcrcio e finances. Assim surgiu a Companhia da varzeado Carmo, tendo como presidente 0 Viscondc de Morais, Iamo so porsua imensa for tuna. Para 0 Conselho Fiscal foi nomeado 0 Enge nheiroRicardo Severo da Fonseca e Costa, socio do cscntorio de Engenhariae Construcoes Ramos de Azevedo. Os escrit6rios da nova cmpresa

foram instalados no predio do Banco Pon ugues do Brasil, a RuaXV de Novembro. Ocupava ali todo 0 ultimo andar.

Comecaram scm demora as trabalbos de urbanizacno do parque.A primeira grande guerra ehegara ao fim . Cor ria 0 uno de 1918.Maquinaria e mjio-dc-obra niio falt avam. Com a fim da guerra, "cssacxtcnsa e pitoresca supcrficie, em plena coracao da cidade, podendoscr transformad a em arr.plc e soberbo parqua. 0 qu o: daria a Sao

Paulo um encanto exccpcional, aprovei tando 0 cu rso gracioso dorio" . Dcstacava: "Tudo foi dcscurado e ve-se poueo a pouco ser

invadido 0 Iormcso campo por babitacoes primit ives e pouco bigie­mcas. dando a tude urn aspccto mesquinho, sense repugname".

Aind a 0 Tamanduatei, inicialmente conhecido como Piratininga,

famoso pcla ab unddncia de peixes, nao se tomara 0 csgoto a ceo

aberto do A BC e dos bairros paulistanos do Ipiranga e Cambuci.

Em 19 11, 0 Prefeito Antonio Prado considerou uma das metas de

seu govem o tran sform er a Varzea do Carmo num grande pa rquc

central. Foi incumbido do projeto 0 Engenhciro vi-or Freire, a quem

a cldade e devedora dos primciros estudos urba nlsucos de amplitude.

Mas como pouco depois 0 conselheiro dcixou 0 govemo da cidade,

o plano ficou no Iund o das gavetas do G overno mu nicipal aguar­

dando hora e vcz.

Estava sendo atacada a ultima seccao do cana l do Tamanduatci,

iniciada em 1896. Eliminava as sere voltas e mudava 0 alveo antigo que

ia transformar-se em Ieito da Rua Vinte e Cinco de Marco. Ali exlstira

movimentado porto. Co m gra ndes e ni sticos armazens. Ali apo rtavam

o BAIRRO D A S~

Page 87: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

grandes canoas carrcgando mercadorias diversas, sobretudo ccramicada reglao de Sao Bernardo. Dessa atividade cxtinta restou a cvocativadenominacao de Ladeira Porto Gera!.

Ja entao dois arquitetos palsaglstas Ira ncescs, Bouvard e Ca­chet, tinham realizado e entregue 0 projeto da urbanizacao da Varzeado Carmo , que em 1920 estava em execucao. Constituira-se umagrande companhia.

Em 1921, cram esperados os despojos do Segundo Imperadordo Brasil. 0 canal do Tamanduatef acabara de scr concluido. Termi­nado tambem 0 ajardinamento de area substancial do antigo parque,aflufam multid6es it procura de trabalho.

Ao cabo de dois anos 0 service cstava praticamente terminado.As vendas des lotes tiveram infcio no fim de 1920. Eram em mediade duzentos metros quadrados com sete metros de frente.

ln formou 0 Sf. Antonio Ferreira da Fon seca, que foi alto fun­

clon ario da Companhia, que 0 ulti-ro lote foi vendido a razao de

conto de reis 0 metro quadrado a Nagib Elias. Muitos foram os com­pradcres da colonia stria, entre os quais Nagib Orbi, Salim Gabriel,Almad Miuharam.

72.200 metros quadrados tinham restado para lotear e vender,

depois de executado 0 projeto do parque com seus relvados. ruaspavimentadas e rccantos arbori zados. Complexa rede subtcrranca drc­

nara 0 antigo e imcnso pantano.

Os lotes 16 c 12, de un- a area maior, foram adqui ridos pclaPrefeitura para construcno do Mercado Central.

Do projeto constava grande campo de Iutebo l c areas para es­portes varios. Mas foram eliminados do plano, it ultima hora.

Ta mbem funcionou, por muitos anos, junto it Rua Cantareira,urn mercadinho de frutas e verduras conhecido como Mercado Caipira,

suprimido com a Mercado Central.

Com a urbanizacao do parque desapareccram as portos do Ta­

manduatci, denominados Beco das Barba s, na atual Ladeira PortoGeral, da Figueira, na foz do Anhangabau; da Tabatinglicra, dcfrontea rua do mesmo nome. Hi 0 rio cstava dificil de navegar, devldo osbancos de are ia, entulhos e aguapes.

o BAIRRO D A sit 81

Page 88: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

os VIA DUTOS

Muita gente passa ao lado e lgnora 0 significado daquelas obrasem plena coracso da cldadc, no Vale do Anhangabau . Trata-se dapassarcla ha muito estudada, considerada ur gente para evitar urntransite sincopado pclos pedcstrcs. 0 Viaduto do Cha foi 0 primciroclo no tempo e na distancia das cncostas do vale. Surgiu a nccessidad ede Ilgacao das duas encostas. Ao fundo corria 0 corrego Anhangabau .Jules Ma rtin planejou a sua execucao em 1879. Sao Paulo tornara-scuma cidade rica, mas de administracao pobrc. Por issc faltavam re­cursos para a cxccucso do projeto. Eclodiu tambcm firme obstinacaodo Badia de Tatui. Niio pcrmitia a dcmollcno do majcstoso sobradoque se crguia, ent no, na Rua Nova de Sao Jose, e cu]o fro ntispfciotomava toda a frent e da atual Praca do Patriarca. Solucno dura emface da fortuna e prestfgio polit ico do Ba rno.

Acabou cedendo. E a estrutura metalica foi encomendada em

Duisburg, na Alcrr anha. A pon te de ferro media 250 metro s de com­primcnto c 14 de Jargura. Por isso, qua ndo anos depois, no tabuJeiro,foram instaladas linhas de bonde no comeco do seculo, impos-seaumentar sua largura .

Os trabalhos do viadu to tivcram infcio em 1888 e estavam con­

clufdos quat ro anos depois . A lnauguracao rcalizou-se em 6 de no­

vembro de 1892. Foi 0 acontecim ento maximo da cidadc nessc ano.

Vma fotografia da epoca registra 0 ato . 0 viaduto aparece corrourn navio cmbandeirado. Ao centro fora instalado grande! portae

que era fechado ao cair da noite. Cobravam tres vintens de pcd agio,

pagamento suspenso quando 0 transite aumentou.

o viadu to serviu plcnamcnte durante tres decades. Mas com

o aumento do trafcgo passou a cresccr 0 receio de desmantclamento

subito. E ceria vcz, urn gaiato , aproveitando a visita do Senador

Azcrcdo, conhecido como grande jogador, escrevcu a quadr inha

brejeira :

"Ontem 0 Artur me dissc.

Todo a tremor de medo.

o viaduto joga tan to.

Qu e ate pareee 0 Azercdo."

88 o BAm RO DA se

Page 89: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

A armacao metrilica passava sabre a antiga chacara de cha, per­tencente ao Cadete Santos, depols Barrio de Itapetinlnga. Dai the adveioo nome. Em 1936 foi resolvida a sua substituicao por moderno viadutode concreto, construfdo em duas fascs. Uma parte ao lado da cstrut uraantiga, mal foi terminad a, demoliram a armacao mctalica c no seu Iugarconstrufram a outra mctade, com arco central de 6 metros de vao.Embalxo, 0 vale ainda pcrmaneccu alguns anos com suas caracterfsticasrepousantes de logradouro interiorano. Com bancos e arvorcs, rcccbeua atua l feicao na primeira administracao do Engenheiro Prestcs Maia,entre 1942 c 1944. Teve como complemento a Praca da Bandcira. Naodas Bandeiras. Eo errado dizcr no plural. Pois foi asslm denominadana data da bandeira nacional. Ja entao tinha sido projetada a AvenidaItororo, agora chamada Vinte e Tres de Maio .

A Rua Batao de Itapctininga, como grande eixo leste-oeste, brotouno dia da demollcao da residencia, da Baronesa de Tatui,

J a fora Icita a subdivislio da Chacara do Cha, que ocupava 0

vale. Pertencera a Joaquim Justo da Silva, narao de Itapetininga.Tinha por limite a Rua Nova de Sao Jose, que ia ser alargada e t rans­formada na atual Rua Lfhcro Badaro. Inclufa os quarrciroes tanger..ciados pela Rua Vinte c Quatro de Maio ate ao Largo dos Curros,atual Praca da Repub lica. 0 Barao de Itapelininga morreu e deixouviuva que desposou 0 Bargo de T atuf. Bste sc opes tenazmente acxccucao do Viaduto do Cha, que impunha a dernollcao do soberbosobrado onde morava c cujo frontispfcio tomava tcda a frcnte daatual Praca do Patriarca.

Antes da ponte tinham pcnsado num aterro . Mas aconteceu queno d ia 1.° de janeiro de 1850, ao ca ir da tarde, toldou-se 0 ceu edesabou uma tromba de agua. A violencia foi arrasadora. A pas:.a­gem para as aguas rcse rvada no ate rro nao bastou. As aguas acumu­ladas nos tanques do Reumo e Bcxiga lransbordaram. 0 Anhangabauengrossou. Tornou-se urn rio cauda loso. 0 ate rro cxistcntc para pas­sagem no vale foi erodido e rodou. Bvldenciou-se, assim, a necessidad epremente de uma ponte, que acabo u scndo construfda. 0 local c quefoi contes-ado pclo Barao de Tatul, que chegou a rccorrer ao Govemoimperial protestando contra 0 projeto. Recusava implacavelmente qual­quer acordo. Ate que se viu na contingencia de transigir, prcssionado

pelo seu proprio cunhado que integrava 0 Governo municipal.

o BA lRnO DA Sf;

Page 90: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira
Page 91: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

No dia da inauguracao do viaduto, 0 Diorio M ercanut publicavana primeira pagina uma sepultura e os versos:

Por alma do miscrando,Que faz ncsra cova fria.Oh mortais que ides passando.Rezai uma Ave-Maria.

Aludia a avareza do Barao de Tatui que se tornara lcgcndaria.

Ha uma refcrencia expressive ao empre iteiro atcmao Joj o Grundtque construiu a parle de carpintaria do Palacio dos Campos Eliscos.~Ie veio para 0 Brasil em consequencia de uma noticia publicada numjomal alemao pcdindo urn mestre carpinteiro para dirigir a construcaode uma ponte de madeira no Vale do Anhangabau. Mas que seriauma grande ponte, requcrcndo pcrfeito dominic do offcio.

Durante seculos a Ladeira de Sao Joao fora a Ladeira do Acu, quepara uns significa "vcncno' e para outros "clevacao enxuta" . Explicandoo ultimo significado lcmbravam que, embaixo, ficavam as rnargcnsbeejosas do Anhangabau , urn modesto c6rrego a maior parte do ano,mas que se tornava caudaloso no pcriodo das dguas. Fizera-n a.errospara aproveltamenro da zona pantanosa. Depois Coi lancada uma pontede madeira; ja existia primeiro a ponte do Marechal, dcpois da Abdi­

cacao. Mais tarde, alem da ponte, noutro aterrado foi erguido urn

mercadinho que sobreviveu Ires dccadas e acabou cedendo luger aPraca do Correio. E do outro lado, iria erguer-se sotidissima construcao

de concreto, que mais lembrava uma fortaleza, e Ioi necessaria dernolir

com dinamlte. 0 construtor usou excessive porcentagem de cimento.

Ainda se conhecia mal o concreto. Ali funcionou a Delegacia Fiscal,

ostensivamcnte, sem que a PreCeitura conseguisse a sua mudanca edesapropriacao. Isso foi conseguido em 1946 na administracno do Pre­feito Abraeo Ribeiro, por ser cntao Ministro da Fazenda 0 paulista

Gastiio VidigaJ. Foi conseguida a desapropriacao pelo valor do tom­

bamcnto e logo iniciada a derrubada do prcdio para conclusao das

obras de remodelacao do Vale do Anhangabau.

Entao Coi efetuada uma sigilosa vistoria do Viaduto de San-aEflgenia, inaugurado em 19 13. e do qual se dina que nao apresenrava

o BAIRRO DA st. 91

Page 92: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

a necessaria solidcz para 0 trafcgo pcsado que cstava suportando. Ostecn icos op inaram que nao oferecia perigo.

Fora iniciado em 1910. Merle 225 metros de extensao. Para aepoca constituiu complernento do Largo de Sao Bento, que recebeu,por sua vez.. tratamento adcquado. No acabame nto do viaduto foramin'roduzidas ornamentacoes ao gosto da chamada art nouveau, quechegava ao fim .

No novo Viaduto do CM aconreceu urn pormcnor ja csq uec ido.Ao lado do antigo predlo onde funcionou muitos anos 0 AutomovelClube existia urna rua cstre ita de accsso ao vale, con tornando 0 prc dlo.

£ atualmentc larga calcada, formando urr.a espccie de larguinho entrea passeio do viadutc c a Rua Lfbero Bada ro.

Nessa rua estreita, asfaltada . entre cantciros. estacio navam taxis,o que era de grande conveniencia.

A cidade, alem de ofcrcccr hondes frcqlientcs, com lugar paraviajar sentado, ainda linha urn service de carros de alugucl bern distri­buldo pOT todos os ponte s centrals.

Essa rua era em curva, tornando suave a descida.

Com a viaduto surgiu a escadaria da Galcria Prestes Maia. a qualccnstitufa wn a espccie de pcnitencla, ate que por indicacao do cd ilNicolau Tuma foi instalada a eseada-rolante. Houvc, no entanto, urnpeulistano que timbrava em subir os dcgraus que sabia de cor. Erao Sr. Joao Samp aio. Fazia-o com afinidadcs de exercfcio, apesa r dos70 anos. E tambem porqu e ja enxergando mal devido a idade temianao accrtar 0 pe no devido degrau a entrada e depois ir csbarrar ccair na saida. Achava, por isso, mais convenicmc e seguro subir osdegraus.

a VIADUTO DA BOA VISTA

o viaduto da Rua da Boa Vista foi 0 ultimo cia de articulacaodo vclho centro , 0 mlolo da cidade. Bspecle de coronar la do coracaodo bairro da SC.

Por muitos anos pcrmancccu aqucle hiato com projcto pronto nofundo des gavetas da Divisiio dc Obras da Prefcitura . Mas para aquslestempos de imensa (alta de reCUT1iOS apresentava-se como obra de custoclcvado, acirna das possibilidades orcamentanas . Logo no inicio da

., o BAIRRO D."- Sf:

Page 93: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

decada de 30, 0 urbanista Anhaia Melo, convidado para prefeito peloInterventor J oao Alberto, assumiu 0 governo da cidade e poueos diasdepots de sua posse dcclarava, desencantado :

- Nad a se pode fazer. A Prefeitura arrecada quarenta mil contose gasta com funcicnal isrnc, pagamento de juros c amortizacao de em­prestimos contraidos para obras out ro tanto.

A situacao financeira municipal tinha piorado com a crise docafe. Vcrificava-se cntao a alarmente rccessno como nunca aconteceraantes. E em ta is condicccs nno era possfvel atacar obras de vulto .o propr io calcamcnto de ruas centrals tivcra 0 progra "l1a interrompido,par causa do recurso impct rado pelos proprietaries lindeiros quecc nsldcravam a cobra nca da taxa de calcamento inconstitucional.

Dada a nccessidadc do viadu:o, ao tempo do Engenhciro Art urSab6ia, Dlretor de Obr as, c, por tanto, perfeito conhccedor dos proble­mas municipals, 0 projeto fci tirade do fundo da gaveta em que jaziae tevc cxecucao. Em 1931 foi testado, para vcrificacao da capacidadcde resistencia. Reccbeu trilhos no centro e passou a ser utllizado pclaslinhas de bondcs da linha Vila Mariana- Ponle Gr ande.

OS MERCADOS

As atas da Camara Mu nicipal elucidam a frequencla com que alegislative paulistano interferia na disciplinacao dos precos c controlede geac ros, pro ibindo a salda para fora das fronteiras, a fim de evitar

a conscquente alta . Da ata do dia 16 de maio de 1952 : "q nlngucmtire ca mcs da terra ate 0 sor capitao nao fazer a guerra ne alevnotasenos mat imetos g ha." Mas tal proposta dctenn ina a critica : "q uato as

carnes lhes nno paresia ben ivytarse lso porq avia em abundasia p'"tudo."

Com 0 correr dos anos e 0 apcrfcicoamento das culturas, a

lntroducao de novas tecnicas, ja as limitacoes anteriores a saida deprodutos agrcpccuarlos haviam cessado c surgido estimulos econo­micos pela facilitacao da sua vcnda. Surge cntao mercado permanente

que se localiza na rua pa r muitos enos conhecida como Travcssadas Casinhas. E; a atual Rua do T esouro .

o BAlRRO DA Sf: 93

Page 94: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira
Page 95: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Ali cxlstlam sete pequenas easas terreas que pertenciam ao muni­cipio. Era eobrado aluguel aos ocupantcs, que cram vendedores deverduras e frutas, quitandas e acouguelros.

Referencia d'e 1798: "as casinhas do Coneelho em que se reeolhemos que vern vender mantimentos a esta cidade." Especifica : "Es tivc­ram arrendadas a Severino, de 21 anos, filho de Antonio Pinto da Silva,onde se recolheu e vendeu ncste ano de 98 (1798), alcm ao que sevende pclas ruas, milho, feijao, arroz e far inha, eargas de alqueire cmcio, toucinho, tudo vindo das vizinhas de Jund iai, Sao Joao e Ju­queri."

Tinh am side construidas entre 1770 e 1773. A rua era cstrcita.As casinhas avancarn ate meio da atual Rua do Tesouro. Haviam sidoconstruidas em ter rene par ticular, que foi desapropriado. Era antesocupado por urn predio com Irente para a Rua do Rosario, tendoquintal ao longo de urn beeo que descmbocava na Rua do Comerclo,atualmente chamada Alvares Penteado.

As casinhas do eoncelho foram demolidas para no local scrconstrufdo 0 predio em que funcionou 0 Tesouro do Estado, dcpoisocupado pelo Diario Oficial. Antes da demoltcao "as casinhas" scr­viram de mercado de verduras.

Com a expansao do bairro impuseram-se novas normas para 0

abastecimento.Existia dcsde ha muitos anos no extremo sui 0 mcrcado de Pinhei­

ros. Era uma especic de feira cotidiana. Ali afluiam os prod utos agri­colas do Municipio de Santo Amaro . Mas ficava muito distante. Eraurn fim de mundo para 0 tempo.

As "sete casinhas" nao atendiam mais. Surgiu entao a Mercadoda Ladelra General Carneiro. Ficava no sope da colina hlstor ica. Foiderr ubado logo depois da lnauguracao do Mercado Central, construidoem area urbanizada pcla Companhia Varzea do Carmo.

o espaco amplo que ocupava foi transformado no atual largoajardinado.

Mas existira concomitantemente outro rnercado no local da atualPraca do Correia. Existira primeiro uma ladeira estreita, muito ingreme,ladeada de casebres. Foi alargada em meados do seculo passado.

Do outro lado do Rio Anhangabau ficava a casa-grande da chacarado Coronel Francisco Inacio de Sousa Oueiros. Mais acima ficava

o BAIRRO DA 51!. 95

Page 96: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

o tanqu e do Zunega c dcstacava-se a vastidao do Hospital Militar , aolado do Seminario da Gloria, de que restou a evocacao da Rua doSeminario.

a mercado fora erguido no sope da ladeira com places enormcsde ferro , facilmente ajustavcis.

Era uma especie de edificio pre-moldado, importado da Belgica.Tinha oito espa<;osas janclas, sendo quatro de cada lade da porta.Uma escadaria the dava acesso, pois as paredes mctdllcas haviam sidemontadas sabre altos alicerces de alvenarta, de dols metros de altura.a telhado era formado de grandcs placas. Foi construldo em 1890.Em 1914,0 edit Alcantara Machado atacou-o na Camara Municipal,denominando-o de "barracao scm estenca, sujo, imundo". Acrcsccntou:"Precisamcs suprlmlr 0 galpao ignobil que ali csta a dois passos docentro, afrontando a nossa cullura e conspurcando a cidade."

Dlscursou no mals candente e florido estilo do tempo.

Conseguiu 0 objetivo. a Mcrcadinho de Sao Joao, como era co­nhccido, foi derrubado. Talvez a expressao fiel scja desmontado, poisera feito de placas ajustavcis e aparafusadas.

No seu lugar surgiu a Praca do Corre io.

Ao centro, a colonia italiana, entao no apogeu do seu presnglo,implantou-Ibe 0 monumento a Verdi , cujas arias rnaviosas eram trau­tcada s por toda a gente c se cscutavam por todos os cantos.

As bancas de verduras, frutas e carnes foram transferidas paraurn mercado de emcrgencla, na Rua do Anhangabau, quase por baixodo Viaduto de Santa Efigenia, quc acabara de ser conclufdo.

o BAIRRO DA S£ EXPERIMENTAE ENSINA

o bairro da SC constitui urn compendio de cnsinamcntos. Nelesurgiam todos os melhoramcr uos publicos. Nelc foram primclro expc­rimcntados.

Era ja uma cidade. Aumentara a populacao. Tra nsporte nfloafligia ainda . a cavalo e a mula resolvlam 0 problema . Por lsso posturamunicipal tornara obrigat 6ria a colocacao de argolas a pouco mais decovado da calcada para poderem ser amarradas as monta das. Era

96 o BAlR RO DA S~

Page 97: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

preciso resolver a q uestao da dgua. Havia as conhccidas biquinhas.Mas ta l solucao era de aldeia. Mats rur al do que urbana. Impunha-seo chafanz, como ja era com um noutras vilas e cidades do reino dePortugal e Brasil.

Surgem varias referencias score 0 proble ma de agua e solucoes.o Te ncnte-Coronel Bernardo Jacinto Gomes cede ao Govem o da Capi ­tania uma parcela de terreno do seu qu intal, de sua easa na Rua daCruz Preta, depois Rua do Principe e agora Qu intino Bocaiuva . Note -sea expressao que rcvela 0 esp irito pu blico do tempo : cede. Desti nava-seaconstrucao de uma caixa de ague para ali rr enta r 0 chafariz da Mise­ricordla . A ague proccdla do T anque das Freiras. pertencente ao Rcco­lhimento de San-a Teresa. Os mananciais mais impor tantes cstavamsnuados no Mor ro do Caguacu c Iormavam os depositos conhecidoscomo Tanques Municipal c Santa Teresa, mal protcgldos e por issofamosos pclo elcvad o mlmero de an imais que neles sc afogavam conta­

minando as aguas.o chafariz da Misericordia fora construfdc em 179 3, ao tempo

do General Bernardo Jose Lorena e custeado por contribuicao volun­taria do povo. Foi recebido com aplausos menos por tr adicional familiaque ha muito residia dcfro nte. Devido 0 baru lho des carrcgadores deagua, em sua maioria escravos, e cenas que considc rava degradantesmudou-se pa ra a Rua Tabat ingiiera . 0 Iamoso Tebas fora cons trutor,com pcdras da regiao de San to Amaro. trazidas de canoa ate ao portode Tabaunguera.

A populacao crescia. Era prec ise mais ague. Em l O de julho de1857 0 engenheiro ingles William Elliot era incumbido de proceder acanalizacao da agua para os chafarizcs da cidadc. Governava a Pro­vincia 0 Dr. Francisco Diogo Pereira de Vasconcelos. que em face dainsuficiencia de agua adqui riu terrenos onde existiam ma na ncia is.

A solucao antiga ja sc tam ara insuficiente para abastecc r 0 bairroda Se q ue csrava circundado de novos bairros em expansao. Surgira

a Co:npanhia Can tarcira. visando 0 abastecirnento de dgua em normasmodcmas, como propos em rcunifio memoravel 0 Coronel Proost Ro­dovalho, que ia ter 0 scu nome Iuncbre mentc ligado, por muito s

dccenios, a exploraciio do Service Funerario.

o chafa riz do Largo da Misericord ia foi rcmovido em t 886 par ao Largo de San ta Cecilia. 13 pcrdcra 0 aspecto bucolico anterior,

o fJAtnnO DA Sf: 97

Page 98: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

cercado de arvores de acolhedoras copas, acabou desmanehado naadminist racao de Antonio da Silva Prado, em 1.° de julho de 1903.Suas pecas foram removidas para 0 almoxarifado municipal.

Era 0 ponto final das ditlculdad es que se vinham agravando,desre a scculc XVI, quando em 1590 a Camara punta os mocos quetossem encontrados nas fontes pegando alguma mulher, em ata assimrcdigida : "asenrarao q qoalquer pessoa bramco ou negro macho quese achar na fonte ou lavadouro peguando de moca escrava, ou India ,ou branca paguara pro lso qulnh cntos rs C 0 mesmo paguara quoalquerpesoa q for a fontc nao tendo Iii q fazer."

Em 1613 vern a dcterminacao de que nenhurn mancebo de quin­ze anos para cima f6sse as aguadas ou fontes da vila.

o Engenheiro Mario Savelli, em Il istoria do A proveitamentodas A guas do R egiao Paulista, comenta: que nao eram numcrosasas "minas" utillzadas. Uma estava atras da casa de Joana Annes,entre a atual Rua Lfbero Badaro e a Avenida Sao Joao. A outra emlugar nee identifieado fluia para 0 Tamanduatcf. Havia a aguadaAnhangobahy e Hiaeuba, vizinha da atual Praca do Correlo. Em1744, a Camara contrata com Cipria no Funtan , pedreiro, a cons­trucao de urn chafariz na paragem chamada Inhangavahu, feito depedra c cal, capaz de servcntia do pavo , com capacidade de ficarvistosa a fonte. Com doze palrr os, em quadra de chao lajcado, duasplas de boa pedra. E mais com front ispicio de doze palmos em quadracom sua cimalha bern feita. Ficou nos planos.

Os religiosos dos conventos da Luz, Sao Francisco, Carma e

Recolhimento de Santa Teresa j ll. haviam lui mui:o rcsolvido 0 problemado abastecimcnto de seus conventos com aducao propria, aproveltando

aguas da bacia do Anhangabau, aduzidas par urn pequeno canal. Urnrego revesado de pedra. a mana ncial do Saracura foi usado. Existiamvarlas bieas em diversos pontos da cidade. Em 1744 eram adq utridos

quatro predios na Rua Direita, 'junto da Igreja da Misericordia, paranelas instalar a Santa Casa. Era de certo modo a princfpio do trad i­clonal chafariz. Ja a Camara Municipal determinara reparacoes na

Hica do Acu, situada na Ladeira de Santa Ifigenia. Mas a agua era

de rna qualidade. Freqiientemente apareeiam detr itus e animais mortos

no rego que conduzia a agua para a Ionte.

98 o nAIRHO DA Sf:

Page 99: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

£ em 1774 que a situacao comeca a melhorar vela consuu cao decha tarizes. 0 do Ouart cl, suprido pelas aguas do alto Anhangabau, 0Corrcgo das Almas. 0 tanq uc do Sao Francisco c 0 chafariz da Mise­cordia, a cargo do famoso 'Tebas, que usou pedras de Santo Amaro,transportadas em canoas ate ac por:o de Tabatlnguera, no Taman­duatei. Ficou dele a descncao. Quatro torneiras. No alto esfera ar.mla r.

Em 1858 havia catorze chafa rizes jorra ndo agua .Em 1872 Sao Paulo tern vintc e sets mil almas e precisa de muita

agua. 0 Inspetor de Obras aprescn' a projcto para urn chafariz pira­midal no Largo do Palacio, com Ires torneiras e deriv acecs para 0

Largo de Sao Bento, para scte tornciras: Largo de Sao Goncalo , comduas tomciras: e dcrlvacao para os largos de Sao Francisco, Carmoc Rosar io.

Urn des principais rrananciais estava no Saracura , aDuente doalto Anhangabau, onde havia urn Iarto bosque que servia de refugio acscravos Iugidos. A agua descia margeando 0 camin ho do Piques c 0

paredao da atual Rua Xavier de Toledo.Com a constituiciio da Companhia Cantarcira rnuda-sc a situacao.

Os cngenhclros inglescs James Budless, Hooper e Daniel Fox, estudamurn plano de abastecimcnto bascado na captacao do Ribeirao PedraBranca na Serra da Ca nrareir a.

Em 1882 alguns chafarizes recebem agua dali. Mas e rrtnimo 0

interesse em pedir ligacj o domiciliar. A Companhia pede a cooperacaodas autoridades. Para cstimular as ligacoes sao demolidos em 1893 oschafarlzes cnrregucs 007.£ anos antes no Carmo e Rosario.

Quando foram derrubar 0 ultimo cclodiu veemcnte protcsto quedegenerou em revolta. A Pollcla entrou em a<;ao. Mas a CompanhiaCantareira ndo servia a contento. 0 rescrvatorio que construfra naConsolacac nao bastava. SO d ispunha de duas adutoras . Vma estavano Ipiranga com reservatorto na Agua Funda com capacidadc de3.400 metros cubicos diaries de vazao. E a Cantareira que supria 0

rcscrvatorio da Consolacao.

o Govemo avocc u 0 fornccimcnto de agua procurando aumentaro volume aduzido.

Em 1899 era dcmolida a velha caixa da Rua Quintino Bocaiuva.A agua ali depositada mio era potavet. Ja fora construfdo novo rescr­vatorio na Consolacao para dczenove milh6es de litros.

o B.4. IR RO D .4. ss 99

Page 100: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

L BN

01

131798 1

Page 101: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Em 1906 eram atacadas as obras da adutora do Cabucu paraquarenta milhoes de lures. Em t 907 entrava em opc racao 0 rcservator lodo Araca. Jorravam as tom ciras do bairro da Se.

Para constituicao da Companbia Cantarclra em 1877 havia sideIixado 0 cap ital de mil contos, constituido por cinco mil acees deduzcntos mil-reis cada uma.

Durante muitos ancs ainda a agua continuou d istribuida em pipast ransportadas em carros a ca rgo de escravos .

os BONDES DE BURR OS

o primeiro sintoma do primeiro e insoplrdvcl impulse de expan·sao cncontra-se na adocao do primitivo sistema de transporte coletivo.o Bngenhclro Nicolau Rod rigo Franca Leite sabe de novo mctodoadotado nas grandee mctropolcs. Propoc a sua adocno em Sao Paulo.Obteve a conccssao da exploracao do service em 187 1. Trata-se depcq ucnos vefculos que rodam sabre trilhos e reccbcm a denomlnacaode bondes.

A concessao foi transfenda por Franca Leite It Companhia Carrisde Ferro de Sao Paulo.

o primciro veiculo da primeira linha entre 0 Largo do Carm o ea Bstacao da LUl rodou no dia 2 de oulubro de 1872. 0 trajetodescnvolvia-se. It falta de viaduto entre 0 Patio do Colegio e a Rua daBoa Vista, peta Rua 15 de Novembro, descendo a Rua F lorencio deAbreu. Teve urn pcriodo de prosperidade, logo seguido de dificuldades ,pois muita genre preferia usar a t ilburi, carruagem mais rapida econfortavcl.

A Companhia Ca rris dispunha de 34 carros de passageiros puxa­dos por muares. Foi expandindo suas linhas. 0 Engcnheiro AnhaiaMclo evocou recentcmcntc como era 0 transportc rclativamcntc rapldo

c dcsimpcdido. Seu pai era medico e morava na Avenida Paulista, cntao

arborizada com magnolias que floriam e cheiravam muito bern. 0condutor do bondc, ao chegar a porta do medico, batia, prcvenindo :"Doutor, esta na hora." 0 medico descia a cscada do jardim, entre­

gava-lhc a maleta que 0 condutor deposltava em lugar apropriado,

o 8....IRRO l>A .Sf: 101

Page 102: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

no banco . Dava pa rtida . 0 pcrcurso ate ao centro dernora va mciahera.

Tudo evoluia rapidamente no fim do seculo. A Lei 304, de 13 dejunho de 1897, concedia 0 rransporte coletivo a vciculos traclonadosa eletricidade. A Companhia Carris nao se conformou, como adiantese vera. Travaram- sc rr.emoraveis brigas.

Ate 1907 ainda roda vam bondes a bur ros entre a Ponte Grandee o Alto de San tana. HI 0 bairro da Sc conhccia entao urn autent icosistema metropolita no a ccu aber to . Eram os bondes cletricos.

PART E 0 PR IM EIRO BONDE ELf:T RICO

o dia 7 de maio de 1900 serve de ma rco a evolucao da Ca pita l cconstitui uma referend a dominante oa vida do bairro da Se. Naq ucledia partiu do Largo de Sao Bento 0 primeiro bonde clet rlco. Ia chciode bande iras como navio tr iunfalmente empavesado. Na dlrccao, 50 ­

lone, pousando para a poster idade, 0 Vlce-Diretor de Obras PubllcasEugenio Guilhcn , tendo ao lado, na plataforma descobcrra, Alipio Bor­ba , chcfe do rrafego da Light. E pa ra diri gir de fato , 0 rnotorneiro n.v 3.

Estavam presentes os Consclhciros Rodrigues Alves e Domingos deMorais, Prcsidente c v lcc-Prcsidcntc do Bstado, respcctivamentc. EAnto nio da Silva Prado, Prefeito da Capital. Esse bonde estava re­pleto de depu tados e vcrcadores. E havia mais scls completando 0

cortejo inaugural para conduzircm as pcssoas cmtncntes da epoca.Era urn dia claro de outono. De sol clare, que brilha na foto­

grafia cntao tirada, rcvelando guarda-sois abertos.

Quinze bondes foram pos'os em service, com as mesrr.as carac­terlsncas, nove bancos, 45 assento s, dois motorcs GE, t ipo 58, de37 HP.

A primcira linha destinava-se a scrvtr a Barra Funda.

Na Alameda Limei ra fora const rufda a Casa des Carros, paraguardar os novas veiculos.

A viagem inaugural dos sels bondcs foi urn succsso. Passaramentre aclamacoes. Terminada a viagcm os vefculos continuara m rodan­do ate anoite, postos a disposic ao do povo pela Companhia, graciosa­mente, para propa ganda do novo sistema.

102 o BAIRRO DA Sf,

Page 103: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

No dia 13 de maio era inaugurada a linha do Born Retire ea 17 de junho a de Vila Buarque.

Era a consagracao da eletricidade que despontava, 0 comecoda sua adocao em crescente escala .

Ja existia 0 tra nsporte de bondes puxados por burros. Para 0

tempo haviam constituldo urn exito que logo malogrou. Transportelento. que irr:undiciava a ruas de cxcrementos des rnuares.

Em 1896, 0 Comendador An tonio Augusto de Sousa, gerente daCompanhia vecao Paulista, au seja, des bondes de burros , tivera a suae-encso chamada pa ra 0 bonde eletrico acabado de apa reccr nosBstados Unid os e nas grandcs capiraia do Vclho Mundo. Deduziulogo a sua import ancla e anteviu 0 fim dos veiculos de tracao animal.

Arnerico de Campos, tendo ido ern missao oficial ao Ca nada,conhcceu ali Francisco Anton io Gualeo, capi tao da Marinha Italiana,que entcndia de assun tos de cletr icidade . Vieram juntos para SaoPaulo, associara m-sc ao Comendador Antonio Augusto de Sousa pararcqucrerem a concessao do service de bondcs clc tricos. Chama-se pri­vilcgio de service . Conscguiram-no da Carrara Municipal. Mas naodispunham do capital necessdno. 0 projeto inicial era para uma Iinhada Penha ao centro . Aq uele bairro estava em expansao . 0 Bras, jauma colmeia proletdria era uma garantia de passagctros em meio doiraje to.

A dificuldade de capital fc i resolvida no Canada, onde sere ca pi­talistas subscreveram as acoe, da The Sao Paulo Railway Light and

Power Co., no total de seis milhOcs de dclares. Sousa e G ualeo trans­Icr iram 0 seu privilegio a nova empress por escrltura lavrada em28 de setembro de 1899 . Ja em meados desse ana Iora iniciado assen­tamento dos trilhos da linha Penha, a parti r da Ru a Vinte e Ci nco deMarco, ond e cntao ficava 0 Mercado q ue ali funcionou ate ao fim dadccada de 20.

Mas a Companhia Vtacao Paulista reagia protestando em J uizo.Conscguiu embargo de s trabalhos na Pr imeira v ara. A Light logoobtc vc ganho de causa, 0 que motivou violenta oposic ao por pa rte daCornpanhia ViaC;50 Paulista, que utilizou seus cmprcgados em ataquesdccla rados. Ao rnesmo tempo que pedia e obtinha mandad o de pnsaocontra a supcrlntendcntc da Light, R. C. Brown, c 0 Engcnheiro-ChcfeHartwell, 0 que os ad vogado s da empresa canadcnse conseguiram sustar.

o HAIRRO f)A Sf: 103

Page 104: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Em face dcssas djficuldad cs inespcradas a Iinhn de bondes cletricospara a Pcnha nao podc ser inaugurada como cstava programada para1900. S6 iria ss-lo a 2 de janeiro de 190 1.

Mas acontcceu coisa mais impon ante : 0 bonde cletrico justifieoua construcao da primeira usina hidrcletr ica de grande capacldadc docontinente, que ia ser 0 ponte de partida para a lnstalacao de novasusinas e propiciar a rapida industnalizaclio. v elo dirigir as trabalhos

jovem engenhciro ehamado Cooper, que iria, anos depois, or ientar aconstrucao das maiores hidrcletr icas nortc-arncrlcanas e mals tardeas imensas usinas russas do Dicper. Assim naseeu a legenda "Sao

Paulo, a maior centro industrial da America Lati na" . Os cscrltorlosda Light foram instalados na Rua XV de Novembro.

A inauguracao da primeira linha de bonde cletnca foi aeonte­cimcnto de tama nha rcpercussao que urn cstabelccimento hoteleiroanunciava:

"Hotel Joachim - Hoiel lnauguruciio dos Bondes

eietricos - Rua de Silo l oiio, 61 - Estacao Merca­dinho - Menu especial".

Onde comccava a Rua Sao Joao fora feito grande aterro . 0 R ioAnhangabau fora mctido debaixo da terra . Surgiu urn mercado, feitode placas de ferro fund ido. Uma firma bclga fomccia esse material com

que Ioi montada a cstacao de Bananal. grande cent ro produtor de

cafe no ultimo quar tel do seculo passado. Cham avam-lhc Merca­dinho de Sao Joao. Dcsaparcceu no final da dccada de lO, deixando

espaco para a Praca do Correio.

Urn outro mereado surgiu na Rua Anhangaba u, proximo do"alicerccs do Viaduto de Santa Efigenia. Iria desaparccer antes de 1930.

UM SISTEMA DE METROPOLl TAN O

Todo 0 bairro da S6 foi servldo, a partir de 1901, de urn verda­deiro sistema de metropolitano a sol aberto, pcla conjugacao de urn

perfeito sistema viario a supcrficie. Circulavam os bondes pelas ruas

10' o BAIRRO D A se

Page 105: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

centrals . 0 cha mado " T riangulo", Iorma do pelas Ruas XV de Novem­bro. Sao Bento e Direita, dava entao escoamcnto faeil ao trafcgo.Na decade de 20, 0 "T riangulo", as dczesscte horas. era 0 ponto deconvcrgencia da elegancia paulistana . Desfilavam as clegantes pelascalcadas. Os jovcns rices da epoca exibiam os uhim os tipos de auto­mc veis. Ja no fim da decade, a Guarda-Civil, primorosamcnte orga­nizad a pelo seu diretor Pereir a Lima, tornara-sc orgulho de Sao Paulo.Na Praca Patriarca gue rdas -cive a cavalo dirigiam 0 tran sito comalt iva impo nencia . Pelas ru as cent rais ronronavam bondcs oferccendolugares vagos para viajar scntado. 0 bonde da linha Ponte Grandedcsfilava pela Ru a Libcro Badar6, articulando os Largos de Sao Bento.Sao Francisco, Joao Mendes e da Polvora.

Havia urn bonde famoso. Aparccia inopinadamcnte, oterccendotranspo rte para todos os recantos do centro e redondczas do bairro daS6. Era 0 Tamandarc. l' ussava por todos os largos e ladciras tradi­cionais do velho bu rgo, subia urn trecho da Rua da Libcrdadc, f1cxio­nava a esqucrda. tangenciava a Acllmacao, varava 0 Gtlcerlo, entravano Parque D. Pedro, contornava 0 Mercad o Centra l, ondc dcixavae recebia passage iros . Devidc as suas exccpcionai s Iranqulas usavaas linhas de outros bondcs para voltar ao centro, que at ravessavatriunfalmente.

As linhas de Higjenopolis ligavam 0 Largo da se ao Largo doArouc hc. Muita gente demandava a Praca da Republica utilizava osbondes dessas linhas. Continuava a passagem a du zentos rels. Nosd ias de chuva ou de sol forte poucos se at reviam a atravessar 0 Viadutodo C ha oHavia os bondes que faziam 0 pcrcurso do T ri:ingulo e tinhamponto de parada prox imo do Palacete Prates, ondc cstava instaladaa Prefeitura, com suas principais reparticoes. As atu ais secretariescram divisoes c departamem os.

Entfic, como os bondcs eram trequentcs c neles havia invariavel­mente lugar, muita genic cntrava no primeiro cletnco que passava.o condutor prcvcnia : "Otha a d ireita", quando havia plngcntes, namaier parte da s vezes mais para gozarem a frcscura do ar da man hiiou tarde do que por falta de luger. E assim transpunha 0 Viadu to doCM. Os que iam senta dos reparava m distraidamentc nos avlsos-lcmas :

"Cortcsia obriga a cortesia'', "Prevenir acidentes c dever de todos" .Ou relia 0 celebre anuncio :

o BAIRRO DA Sf: ,os

Page 106: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

"Esta vcndo 0 cavafbeiro,

o bela ripe Iaceiroque esta sen-ado a seu lade?No enta nto acreditequase morreu de bronquitcsalvou-o 0 rum creoso'ado".

Dependurado no balaustrc 0 condutor ia cobrando as passagens.Em 1927 a Light ja previra a necessidade de mclhorar 0 sistema .

Chamou Iamoso tecnico canadcnse, 0 Engcnhciro Norman Wilson.Ele e1aborou urn projeto de metropolitano com linhas varandc a colinacen tral. Aprovcitava as possibilidades topograflcas c delas tirava 0

maximo provcito. 0 projeto foi aprescntado c discutido na CamaraMunicipal. A empresa executava as obras por sua conta. Ao cabo detrinta anos transferia todas as linhas e material rodante para 0 Muni­cipio. Pedia como compcnsacao 0 aurrento das passagens, que era de200 reis . para 300 rcis, nas linhas que varavam a colina central. Duzcn­tos reis continuaria 0 preco nas demais linhas. Com esse aumento naspassagens pretcndfa cobrl r 0 capi:a l investido, mais os respectivos juros.

Naqucles tempos havia confuse nocao sabre services publicos,privilegios, monopolies. A Sao Paulo Railway cons:ituia urn maucxempto.

Govemava Sao Paulo, na ocaslao, 0 Engcnheiro Pires do Rio.Ele tinha vcteldadcs de ser clcito Prcsidente do Estado. Entao paraganhar popularidade e evidencia detcnninou opos lcao ao projeto porcausa do aumento das passagens e encomendava aos urba nlstas UlhoaCin tra c Prestos Maia 0 Iamoso projeto das avenidas, que iria comccara scr executado so dez anos depots .

o projeto do Metro politano nao conscguiu aprovacao. 0 planodas avenidas obteve gra nde exito e a primcira classiflcacao num con­curso do Institu te de Enge nharia do Rio de J aneiro . Com ele ficouern evidencla 0 Engenhciro Prestes Maia.

Quando em 1938 0 Sr. Ademar de Barros foi nomeado interventor,indagou de seu amigo, Engcnhclro Guilherme Winter, quem Ihe sugeriapa ra Prefeito. Elc lhc respondeu: Tern ai urn engenhciro que obteve 0

pnmciro premia do Institute de Engcnharia do Rio com urn projetode avenida s em Sao Paulo.

106 o B.-\.IRRO D.-\. st.

Page 107: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

- Quem e?- Chama-se Prestes Maia. 1:: Iuncio nado da Secretarla de v lacao,

de que sou titular.- Traga-o aqui.a Engenheiro Guilherme Winter levou 0 Engenheiro Prestos Maia

que nessa mesrna ta rde foi nomeado . I a saiu do Palacio des Cam posEliseos como Prefcito da Cap ital.

Naquela mesma noire combinava com seu velhc amigo e cola­

borador Ulhoa Cinrra a execucao do P lano da s Avcnidas, que havia mestuda do juntos, a comccar pela Avcnida Circular .

o Prefeito P ires do Rio nada pudera Iazer. Fora destituido pclarevotucao de 1930.

Os estudos do mct ropolitano de Norman Wilson acabaram sendootcrccidos ao Institute Historico . Continham mtnuciosas perspectivasde s prcdios das ruas por on dc as Iinhas lam passur. No subsclo evi­dcnrcmentc, po is era j u urn subway.

Assim se perdeu a possibilidade de anicufacao de tod as as pracasdo bairro da Se po r sistema viario rapldo, cuja ncccsstdade se foievidenciando e se torn ou progressive c pungcnrc nus decadas pes te­riores a 19 30 .

A ILUMI NA<;:AO

"Faea-se a luz". E a Luz foi Ieira . No ba irro da Se, h:i muitosseculos. Progrediu lentamente. No comeco toch as carregadas pelosescravos ou lanternas. Algumas delas de furta-fogo, uma heranca dosco nrurbados dias mcdievais. Consistia numa placa corredica que oculta.va 0 fogo no caso de perigo. As atas da Camara Municipal sao ilumi­nada s por fugazes clarocs do sistema usado. Nos [ins do sfculo XVIIcram lumin aries encaixadas em locais prcprlos das fachadas. Obriga­torlos po r ocaslao de Iestas religiosas emao mu ito Irequentes. Ou paraIestejar acontecimcntos Importan tcs. desd c nascimcnro na casa rcalou no sobradiio de urn goveman te menor. E ram usados tigd inhas deoleo ou sebo com urn pavlo fixado de algod ao no fundo. Em 1829 0

Governo da P rovincia, instalado no Patio do Colegio, punha a dispo­s i~:io da Camara Municipa l vinte e quatro lampiocs j :i colocados nasvias publicas e mais alguns que cstavam scndo const ruidos no T rem

o B..\IRRO DA Sf; 101

Page 108: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira
Page 109: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Nac ional. Ficava este junto a atual Rua Anita Garibaldi, em rua cha­mada Atras do Ouart el . 0 trem era 0 conjunto behco da guamicao deSao Paulo. Vma especie de arsenal, com 0 aparclbamento r ecessano.

Mas a falta de recursos do cnirio municipal era gran de, pa raag tlentar encargos de Humlnacao. E cnquanto a Camara nao conseguiarcndim cnto especial para a iluminaciio das ruas, urn fiscal foi incum­

bido de cntra r em contacto com as moradores mais prospcros paradeles conseguir prom~sa do encargo de mantcrem acesos os lampioes.Entao surgiram no centro do ba irro da 56, que era por sua vez 0 cent roda clda de, cinco lampioes enormcs. cuja luz baca resutt ava da chamade urn pavlo alimentado com oleo de mamona ou de peixe. Os donosdas casas encarregavam-se de alimcntar de combustfvel os lampioese de acende-los quando descia a noire. Service geralmente confiadoaos cscravos da s casas prospcras.

E vern a dcscricito desses lampioes, urn tanto exagerada, carica­tura l: "e norme geringonca de ferro, pregada na parcde de uma esquina,estendcndo por cima da rua urn longo brace, em cuja ponte estavapcndurado urn larnpiao". 0 termo ma is adeq uado scria "enforcado",pcla semcthanca bambol eante. Mas hoje urn lampiao desses, com umalampada eletrica dcmro, seria urn requinre mais apreciado em ricamansao paulista.

Em 1830 0 predio da Cadeia Publica osrenrava qu atro desseslamplccs, nos scus qu atro cantos . Eram aceso s todas as no.tes, rnenosquando fazia luar. Usavam azeite de peixc, recebido de Santo s, emlombo de burro.

As atas municipals de 1835 e 1836 rcgistram que 0 assunto deilurninacao cont inuava em detalhc. Em 1840, 0 Governo da Provinciaintervem paternalm ente . Determina a instalacao de cen to e urn lamploesde quatro Iuzes, 0 que signiticava urn recipien tc de qu atro faces envi­dracadas.

Mas nem scmpre a luz agradava, a porta, mesmo de grac e. Ale­gavam da nos. Na Rua de Sao Jose cclod iu protesro vecmcntc, justi­ficado pcla fuligcm rcsultante da furnace. Dcssa maneira era Ircquentca mudanca.

Em 184 2 era inslituido urn service regular.

Em 1847 era finnado contrato com Afonso Milfiet , que "tinhauma Iabrica de gas hidrogenio", pa ra a instalacao de 160 Iampioes.

o B.4.IRRO D.4. S ~ '09

Page 110: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Condlcao: "a luz devia ser mantida a noite toda, menos nas horasem que a lua esrivcsse apareccndo".

Em 1860 as ruas de todo 0 atual bairro da Se estavam ilumi­nadas. Duzentos lampioe s ao redo. varies delcs "de feitura maiselegantc". Eram colocados no alto de pastes de ferro.

Lei orcame ntaria para 1861/1862 au tori zou 0 Govemo a con­Iratar com Cam ilo Bourrou1 a ilumin aci lo publica da capital "pelomodo mais co nvenlente, de co ntor mldade com as propostas aprcsenta da"pe lo dito Bourroul - Lei n.o 885, de 3 de agosto de 1861" .

Em 1863 eco nrratada por vinte e cinco anos a iluminacao publicae particular com Jose Dutton e Francisco Jaques Alvim. Aparecemcolunas e candelabros nas rua s. Duzentos e dezessete lamploes a que­rosene, sendo q uatro no interior do Palacio, doze no interior daCadeia e vinte c dois na Correic ao. A clausula 31 do contr ato deter­minava : " A iluminacao das ruas a queroscne sera accsa meia horaantes da entrada da lua, mcia hera depois da entrada do sol, c apagadamcia hora ao amanhecer."

A clausula 32 fixa va : " Em noltes de temporal a iluminacao aquerosene sera de menor intensidade que de ordinario.'

o bairrc da Seserv ia de teste a ilurninacdc da metropole mod ernaem ernbr iac dentro da sua area.

Mas em 1872 apareceu novo e moderno melhoramento - 0 gas.H a cid ade, que era afinal 0 bairro da S6 COOl algumas excrecenciaspromissoras, contava cerca de vi nte e cinco mil almas. Havia 0 contratovigentc de iluminacao . Novo contrato se impunha . Lavrado de maneiraque motivou depois muitas controvcrsias. A Iluminacao a gas passoua iluminar as ruas ce ntra is, e em seguida os novos bai rros que des­pon-avam.

Em 1870 Ioi constitujda a Companhia de Gas. Chegou de Londreso Engenheiro W. Ramsay para d irigir a montagem das instalacoes.

Em 1872 noticiava 0 antigo Diorio de Silo Paulo, que logodcsaparcccu : "A concorrencia do povo nao obstante 0 mau tempo foiimensa . E os empresdrios nao se poupavam em dar explicacoes emostra r tudo aquclcs cxpcctadorcs.

"Foi iluminado com esplendor 0 Palacio do Govemo e a Ca tedral."Quinhentos c cinqilcnta lampioes foram logo instalados. 0 gaso­

metro Ioi instalado na antiga Chacara do Ferrao

110 o B.4.IRRO IH . SE:

Page 111: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Mas no comeco do seculo surgia, vt'oriosa, a clctricidade. A

lfmpada eletrica mio trazia apenas a mensagcm dos novos tempos,

mas tambem a solucao par a a iluminacao das ruas. Apareceu tr iun­

falmente na Rua Bardo de Itapetininga e nas ruas do Triang ulo. A

Sao Paulo Tramway Light and Power Co. Ltd. finnou coruratoscom comerciantes intcressados. No comeco por meio de Hmpadas de

area. Em 19 10 eram iluminadas co m luz eletrica as escadarlas do

T eatro Municipal.

A Hmpada eletrica gan bava rapidamentc ter rene, apesar das

restricoes resultant es do conirata com a Sao Paulo Gas Co.• embora

subsidierla do mesmo grupo da Light.

Essas restricocs iriam pcrdurar. Em 19 11 havia 8.706 cornbus­

torcs a gas e 780 lampadas elctricas, pa rte de arco, part e incandes­

centes. Em 19 15 0 numcro de combustores tinha creseido . Passara 3

9.396 , em 1916 somavam 9.605. as Iocos cletr tcos sc mentc 92 I.

Em 1927 terminava 0 cont rato ant erior e a 23 de outubro de

1929, assinado novo cont ra to com 0 Govemo do Estado, atraves da

Sccretana de v iacao, com vigencia ate 2 1 de dczembro de 1960 .

Surgiram entao os lam pioes ornamentals da Rua Libero Badarc , da

Praca da Se, do Largo de Sao Francisco. Com tres lanternas decora­

tivas. Em cotunas que pa reciam de bronze. Nas ruas mais estreitas ,

como Benjamin Cons tant, Quintina Bocaiuva, Scnador Fcija , uma co­

luna com uma lantern a ro. Nas ruas rr ais estreitas como Alvares

Pcnteado e Travessa do Comerclo urn grande foco central, pendente

de fios seguros nas Iachadas.

Era a comecc da reforma de iluminacao. Com a transfcrencia

da cobra nca do impasto predial do Estado pa ra a Prcfcitura 0 con­

trato da iluminacao passou para 0 Municipio.

Tendo tcrminado em 21 de dezcmbro de 1960 impos-sc novo

corurato com reformulacao complcta. Nao mais service por coma da

cmpresa conccssionaria . . Totalmente a cargo do Municipio, desdc a

instalacao de novas lurniru i rias ao consun:o medido. Antes era por

Ioco e por ana. Passou a ser cobrado por mes c conformc 0 consumo

de qu ilowatt s.

o B.4. IR RO DA SF: II I

Page 112: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

A TRANSFORMAf;:AO

A grande transformacao da cidade de Sao Paulo, que passou amoderna metrop ole, comecou na decade de 20 e no bairro da Se.

Tern como exprcssao 0 "Martinelli". No local onde sc crgue jacxistira urn prcdio majcstoso para 0 tempo e que fora tarnbfm n:otivode orgulho. Como succdcu com 0 Hotel Bsplanada, com a inaugura­~ao marcada para 0 diu l,? de marco de 1933, quando rnorreu RuiBarbosa. A cozinha nflo estava concluida . 0 falcclmcntc do grandejurista servlu de justificativa para 0 ad iameato da abertura daq uelchotel, que sc propunha colocar Sao Paulo no mcsmo nivel de hospedanaJ us mais famosas capitals.

o Grande Hotel, na travcssa a que dell nome, atual Miguel Couto,ja era considerado ultrapassado, bern como 0 famoso Hotel do Oeste,que con tinuou sendo, por muito s anos, dcvldo a sua mesa farta, pre­ferido pela gen-e rica do inter ior que nuo saia do Brasil e par issonao sofrera 0 impacto do "Ritz", de Paris.

o Hotel Termin us, na mesma ocaslao, d isputaria a clientele demats alto nivel. Nele reservara aposcntos em carater permanente aEngcnheiro Pires do Rio, Prefeito de Sao Paulo.

o Prcdio Martinelli surgiu como urn desafio, com seus 25 andarese 100 metros de altu ra, quando se denominavam arranha-ceus aspredios de 8 e 10 andarcs das Ruas Lfbcro Badaro e Boa Vista.

A iniciativa coubc a Jose Martinelli, cmp reiteiro bern sucedldonas construcocs e que os cngcnbciros considerava m apenas urn bornmcstrc-dc-obras. Nne podia, por isso, mctcr-se a construlr scm cnge­nbciro rcsponsavcl.

Conseguiu formar uma firma sal ida, de que part iclpava enge­nheiro habilitado. Chamo u-sc Amara l & Simoes. Aprovada a plantadell inicio a obra. Mas na ccasiiio cram prccarios os conhccimentosdo subsolo . Ao serem abcrtas as fundacoes surgiu urn rio subtcrraneo,que descia do alto da Praca Antonio Prado. A solucno tornou-se dificile cara. A firma que fora constitufda abriu Ialencia . Surgiu, entao,muita duvida sob rc 0 empreendimento . Era a primeira vez que seco nstru la no mundo urn prcdio de tais dlmensoes em concreto. Exis­tlam ou tros mais altos, mas de estrutura de ace. as defensores doconcreto sairam a lica e 0 emprce ndimento conscguiu recursos. 0

112 o IJAIBHO l)A se

Page 113: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

scu custo estava ca lculado em cinqilenta mil centes. Acabou tcrminadocm 1928. Se dcmora urn ano mais teria ficado abandonado, poiseclodiu a crise do cafe, que derrubou urna porcao de firmas consi­dcradas solidissimas e deixou pobre muito rmhoneno.

A obra prosseguiu sob a direcao do Eugenbciro ltalo Martinelli,sobrinho do rico construtor .

Na primeira Circunscricao de Im6veis, no ana de 1913, figurao rcgistro das propricdades antigas e entao adquiridas para dcrrubarc no local ser construido 0 predio que se tornou, por muitos anos ,o sfmbc lo do esplcndor de Sao Paulo.

Figuram no livre 3-A - A quadra tinha como proprietarto 0Capltao Jose Inacio da Rocha Varnek e outros. Entre os "outros"D. Regina Cabral da Rocha e Vicente Aurelio da Costa Ca bral.

o Martinelli abriu novas conccpcoes em altura e uso do concreto.Dcbelada a crisc cafccira 0 Banco do Estado, que Iunclonava numprcdio retanvamcntc modesto da Rua XV de Novcmbro, decidiu cons­truir urn predio que seria 0 mais alto da cidadc e cm ponte dominante.o local e 0 que hoje ocupa. Mas iria logo no inicio tornar-se noticiasensaclonal. Uma das esracas das fundacoes cede u na fase de provas.Contratara a obra a firma do Engenhe iro Plinio Botelho do Amaral,que dcixou de merecer contianca, sendo a cxccucao da planta entreguca firma Camargo & Mesquita. Aconteceu, entao. urn episodic des­conhecido do grande publico. A diretoria do Banco do Estado decidiuconstrui r no tope a te rre atual. Era entao prefeito 0 Engcnheiro PrestesMaia. Como zeleva pelo aspecto da cidade, niio con fiou a mngucmo seu proposito. Urn enta rdcccr chamou 0 Engenheiro Lauro Girar­delli, chefe do Depa rtamento de Cadastro, e saiu para verificar pes­

soalm cnte se a te rre a ser acrescentada ficava exatamcnte no clxoda Avenida Sao J050, no alto de 32 andares, 161 metros acima donivel da Praca Antonio Prado.

Expllcou, cntno, que ° Banco do Brasil ia construir urn novoedificio, na csquina da Avcnida Sao Joao com a Rua Libero Hadaro.

Dcveria ter a mcsma altura do Martinelli. E dcssa maneira os trescdiffcios fonn ariam um conjunto urbanistico simctrlco. Martinelli deurn lado, Banco do Brasil do outro e ao fundo 0 prcdio do Banco

do Estado, mais alto, como fecho har monioso.

o 8AIRI{O D A Sf: 113

Page 114: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Aconteceu, porem, que a planta do Banco do Brasil, ap rovadacom a mesma altura do predio Martinelli, quebrou as regras.

Quando ja era prefeito 0 Engenheiro Armando Arruda Pereira,o Sccrctarlo de Obras, Engcnheiro Dario Bueno, notou que a cons­trucao do pred io destinado ao Banco do Brasil j{l estava ultra passandoo edificio Martinelli. Dctcrmlnou 0 embargo des dots ultimos andarcs.Alegaram os constr utores que 0 numcro de pavimentos era 0 da planta.

Mas verificaram os cngenheiros municipals que houvcra aumento dope direito de cada pavimento, do que rcsu ltou maior altura ao cabo

da obra.Hou ve intcrvcncao polnica. Pressao federal. A Prefcitura acabou

levantando 0 embargo.

Antes, ja houvera interrupcao do service, dcvido a urn incendiono madeiramc. Ardcram os andaimcs e 0 revestimcnto extem o de scgu­ranca . As chamas sopradas por vente forte aproximavam-sc terrivel­mente do Predio Martinelli, que sofrcu danos de menta. Bstouraramas vidracas. As parcdes soltaram a revcstimen:o. E no arcabouco doedificio em obras foi preciso rcfazer varies colunas e andares por nfiooferecerem seguranca. Os tecnicos do IPT recolheram material paracxperlenclas. E de acordo com os scus laudos prosseguiram as obrasa cargo do Engenhciro Mario Dorsa. A planta viera do Rio deJa neiro, de autor ia do Arquiteto Viana, cujos prcstimos foram con­tratados pela dirccao do Banco do Brasil.

Esses percalcos e as adcquad as solucocs puserarn em evldenciaa cvolucao tccnica da artc de contruir . Por cssa ocasifio acontecerao caso do cdificio da Companhia Paulista de Seguros, na Rua LfberoBadaro, 148. Quando arcabouco de concreto chego u a Iase finalfoi constatada grande inclinacao. Era q uase uma nova versao daterre de Pisa. Dado 0 alarma foram adotadas provldenclas conside­rad as qua se tcmerarius. Conslstlam no congelamento do solo. Con­seguida a rigidez necessaria, proccdcram a profunda escavacao naqual asscnta ram solldas sapatas de concreto, como preconizara 0

Engenheiro Oscar Machado, dirctor de Obras da Secretarla da Vlacao,alcgando que 0 sistema de estacas, embora Iossc par multos preco­nizado, pa r detcrm inar grande rOOu o:; 110 no custo das fundacocs, naooferecia uma garantia total, a semelhanca do provado sistema desapatas, como era 0 casu do Martinelli.

114 o BAInRO DA SF:

Page 115: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Construtdas as sapatas a grande profundidade no solo congcladoe, conscquentemcnte, duro como se fora rocha, passa ram a usar ma­cacos hid niulicos para reconduzir as paredes ao prumo, proccsso muito

. lenro, de rnilimetros pa r dia. Urn de s macacos dc rcrmina ra a etevacsode urn centimetre, causando 0 aparecimen:o de Iissu ras. Corrigida

a lacuna, as ob ras de aprumo prossegulram c hoje 0 predio a RuaLibero Badaro, n,v 148, ndo aprcsenta mals qualqucr vestigia dapen gosa inclinacac inicla l.

MUTAC;OES

o ultimo logradouro a sofrer grandes mutacoes foi a Praca daSe. Reccbeu na Administracao A rruda Pereira a sua fcil;30 atualeomplctada pclo mon umcnto a Anchieta, oferccido a cidade petegrupo do Banco Lar Brasileiro, por ocaslao des comcmoracoes doIV Ccntenario. f: de autoria do escultor Hcitor Usai. LUIS Barone eautor do monumento a Nobrega, na Praca Clovis Bevilaqua, menu­menta que tern uma longa e co r uraditoria historla.

Surgira a discussao sobre qual 0 fundador de Sao Paulo : Nobregaou Anchieta. E surgiram artigos a favor e cont ra numa linguagcmcandente sobre 0 monumento a N6brega, a jesufta portugues . Anchieta

era canarino. Co nscquenternente, estavarn em jogo os brios lusitanos

e reacendia a vclha dispua entre Portugal e Espanha.

Aberta conccrrencia ganhou 0 primeiro lugar 0 eseultor Caetano

Fraearolli. A conccpcao era gra ndiosa. Co nsistia num conjunto de

figures. de cinco metros de altura . dispostos no alto da praca defronte

da eatcdral e de tal maneira que a po pulacao participava do monu­mento scmpre que por ali passava . Fixado 0 prcco de exec ucac, 0

escu ltor iniciou os trabalhos. Mas a inflal;3o dete rminou alta desprecos de materiais e mao-dc-obra. 0 artista n30 se impresslonou.

Deixou 0 tempo passar e pediu reajustamento. Tal necessidade nac

Ioi compreendida pelos integrantcs da comissao organizadora do monu­

mente. Acharam 0 ped ido descabldo, alcgando que infringia clausula

contratual. 0 escultor negou-se a executar a obra alegando prejuizo.

A comissao achou desaforo e dccidiu con .ra'ar 0 escultor classitlcado

em segundo lugar, que ja fizcra rr onumcn to a Ancfueta.

o B.\.IRRO D:\. S ~ 1I5

Page 116: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Dcssa maneira 0 monumenro grandiose de Fracarolli ficou noprojct c. E quando cbcgou a ocaslao de insta lar 0 segundo. 0 PrefeitoMala, que muito aprcclava 0 grandiose me men to, recusou-sc a cedero alto da Praca da SC. Concordo u em que fossc montad o na vastidaoda Praca Clovis Bcvilaqua.

Antes da tra nsformacso da Pr aca da S6 0 ultimo largo que reeebeunova fei<;ao foi 0 Largo de Sao Bento. Entrara no seculo XX com 0

scu aspecto antigo, ladeado de cons trucoes ata rraca das , na maior iaresidenciais . Ao centro, urn ja rdim com urn belo chafariz em que aagua cantarolava numa abundancia que se ia tomar escassa e hojepareccria despcrd icio. Em volta . cstacionava m tflburis e landaus, 3espcra de passageiros em prcssa, gcratmcnte para percursos curtos naconcepcao de distancia de nossos dias de motonzacao cresce ntc. Coma dcmollcac do velho Co nvento de Sao Bento, ou rro predio surgiu nolocal. Em 190 3 recebeu novo traramcnto c nova feiryiio que. em 191 3,foi completado com 0 novo Viadu to de Santa Efigenia. Era prcfcitoo Barao de Duprat, "s imples industrial e come rciante que tinha comoorie ntado r 0 arqulteto frances A . Bouvard". Data dessa epoca a trans­formacao da Praca da Se, que exlgiu a demolicao da Igreja de SaoPedro de Pedra, construida em 1740, e a supressao de varias ruelasvizinhas, entre as quais a Rua Esperance e Vid a des Mosquitos, ondese concentrara 0 mcretrlcio.

Como a novo convento, surg iu, em 1903, a Colegi o de Sao Bento,oficializado em 1905, dada a alta qualidade do cnsino. Comccara comextemato cxcluslvamcntc. Foram scus alunos Prcstes Maia, AfonsoTau nay, Gui lherrne de Almeida, Lucas No gueira Garcez, Godotredoda Silva Telos. Cassie Vidigal, entre outros dcstacados valeres tee­nicos.

A Praca da Republica, ant igo Largo ou Campo dos Curros, dcpois

Largo 7 de Abr il, ganhou a denomin acao com a proclamacao da Repd­blica e nova dimensao com a consrrucao da Escola Normal ern 1894,pela firma Ramos de Azevedo. cntao a prcferida pelo Governo, pelaserieda dc.

"Cur ro" significava 0 compartimento em que ficavam os touros,antes de enlrarem na arena, porqu c entao ali sc rcalizavam touradas,diversao supr imida com 0 adve nto do regime rcpublicano. Tou radasevocam requintes monarquicos. Multo se falava da s tou rada s reais.

116 o B:\IRRO 1>.4.. S~

Page 117: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Tinha ao cen tro urn chafariz, como era da tradlcao e ia ressurglr coma dcn ominacao de fontcs lumlnosas. Por influencia de Pari s foi arbo­rizada com platanos que nao provaram bern em Silo Paulo. Ataeadospar toda a sorte de pragas, desabavam de subito sabre os veiculos queestacionavam junto. Varies foram os casos, fclizmcnte, sem tragedies.As vftimas era m os auto movcis que haviarn buscad o a sombra de suas

copas.

Na ad minisrracao Prestes Maia, com a aber tura da Avenlda Ipi­ranga, sofreu ampu tacao de larga faixa . Pretendia aquelc prefcito cor te­[a ao melo, dando prossc gulmento it Aveni da Vieira de Carvalho. Naolevou avante 0 pro jeto dev ido ao veementc prot cs:o de s mor adorcs dasvizinh ancas, que invoca ram a necessidadc de urn logradouro tranqiiilopara as cr iancas dos apartamentos vizinhos. Teri a ficado uma especie denovo 0 Largo Joao Mendes, transformado em pistas da nova AvenidaCircular. Fora tambem urn largo sereno , com coreto ao cent ro, usa dopa ra as rc'retas de qui ntas e domingos a cargo da Bandas dos Bombei­ros. A Igreja de Nossa Senhora dos Remedios, construida em 1727, Ihcservia de limite num lado. Do outro, a ed ificio do Congress o, con he­eido como Palacio da Asscmbleia , e que acolhe ra an tes a Cadeia e aCamara Municipal. Num canto, a Igreja de Sao Go ncalo Garcia , nascidade uma capcla que, em 1763, se destaca no noncnirlo porquc NicclauAlves da Fonseca, an tigo portciro da Camara e con hecido pela alcunhude "Carranca''. realizava obras Iazcndo aliccrces pa ra a mcio da rua,"sendo intimado a parar com tais dcsma ndos, sob pena de scis mil-rcisde multa c trinta dias de cadcia''.

Em 1766, surge out ra refcrencla clara nas Atas da Camara, deter­minando que se flzcsse "0 caminho do Pira nga ale 0 alto de SiloGoncalo Garcia," que era 0 fim do bairro da Sc e da cida dc de cntfio.Nove de dezcmbro de 1787. Os camaristas inaugura m a sua no vacasa "no patio da Igreja de Sao Goncalo Garcia" . Dois anos depoisC posta em concorrencia "a calcada de ped ra da rua que va i de SaoGoncato Garcia a descer para 0 Largo da SC. " Tudo correra bem parao temple e para 0 local em 20 de outubro de 1756, provlsao do segundoblspo de Sao Paulo, Frci Anton io da Mad re de Deus Galvao. Concede

Hccnca para erguer a capel a. A construcao comcca em 1757. No altar­

mor foi entro nizada a imagcm de Sao Goncalo que estava na Igre]a

de Santo Anton io.

o HAIRRO DA Sf: II i

Page 118: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Em 1858 ruia uma parte do temple. a governo prov incial, ncsscstempo s de aeendrada fe, eonsiderou de interesse publico a reconstru­l;ao, contribuindo com urn conto de rcis, quantia de clevado poderaquisitivo para a epoca.

Em 1878, a Baroncsa Silva Carneiro conccdia substanclal ajudapermitindo a construcao do frontisplcio e para angariar os recursosnecessar ies it completa rcstauracao eram instituidas tres loterias em1880 e 1881. Em 1892 , 0 Professor Joao Mendes e 0 Padre Cesar DeAngclis promoviam uma subscnc ao entre os ficis. Rendeu trinta ce ntes.Foram aplicados na conclusao das obras. Deu ainda para compraro al.ar- mor do Santuario de Nossa Senhora da Aparecida de Guara­tingucta, tra zido para 0 templo que ressurgira.

Dc certo modo, na pon ta da antiga Rua de Sao Goncalo. agoraQu intino Bocaiuva, crguia-se majestoso prcdio. Fora construfdo em1873. Nele tunctonou 0 Tcsouro do Estado, a Camara Municipal e 0

Forum. Iria desaparecer na decade de 30, depois de ler acolhido 0

Tribunal de Justica, enquanto nao era term inado 0 etua l Palacio daJ ustice. Legou 0 seu nome a Rua do Tcsouro e ao largo do mesmonome. Fazia frente para a Rua do Tesouro e lateralmente estendia-sesobre a Rua XV de Novcmbro.

13 na ocasiao govem ava a cidadc 0 Engcnhciro Jose Pires doRio, que assumiu a Prefeitura em fevereiro de 1926. Fora ministrodo Govem o de Epitaclo Pcssoa. E confirmado prcfeito pclo periodode tres anos, em 30 de outubro de 1928.

Nao tcrminou seu govemo devido a revolucilo de outubro de19 30 .

Con tratara com a Companhia Mecanica Importadora a pavimen­tacao da cldad e. Foi entflo que a a Rua Direita reeebeu calca mcntode novo tipo com revestimento de asfalto natural, rna-erial entaorecehido na Ifha de Trindade e que se caracterizava pcla grande du­racao .

o PERCURSO DOS BONDES NO CE NTRO

Uma fotografia de urn dia cnsolarado de 1920 mostra 0 Largo deSao Bento com urna porcao de taxis enfileirados, acspera de passageiroseventuais e, por via de regra , entao dificcis.

118 o BAIHHO DA Sf:

Page 119: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Scls linhas duplas de bondes se entrecruzam, sendo que duas daovolta ao largo. Uma delas prosscgue e afunda na cstreiteza crepuscularda Rua de Sao Bento.

o miolo do bairro da SC era cruzado por uma porcao de linhassobrepostas. Urn anexo do otkio L 1.334 / 5.615 elucida a importanciado scrvlco e a frequencia dos velculos. Nas cinq ucnta linhas extstentes,com 297.492 metros de extensso rodavarn 5 14 bondes e 36 reboques,scndo que a quasc totalidade passava pelas ruas centrals ou a clastlnha acesso. Dos largos de Sao Bento e do Tcsouro parti am bondespara 0 Bras, Penha, Pari. 0 refcrido ancxo ao oticio L-I .334, inforrna:"Os bondes da Vila Po mpela trafegam regularmente durante tooo 0

dia pela cidadc e seu itincrano no centro e 0 seguinte : entram peteViaduto do Cha, seguem pclas ruas Lfbero Budaro, Jose Bonifacio,Dircita, XV de Novembro, Joao Brfcola, Boa Vista, Largo de SaoBento, Rua Ltbcro, Viaduto do Ch5. e itinerarie s. Algumas vezcs estescarros sobem a Avenida Sao Joao em lugar de voltar pclo Viaduto .A linha da Casa Verde tern parte de seus car ros dcsviadas pcla cidadeC outra parte da a voila no Largo de Sao Bento, fazendo ai 0 seuponte final."

A maioria dos bondes Iazia 0 seguintc h inerario : Viaduto deSanta Efigenia, ruas Libero Badarc . Jose Bonifacio, Dircita, XV deNovembro, 1030 Brfcola , Boa Vista, Largo de Sao Bento, v taduto deSanta Efigenia . " Estes carros entrarn com 0 letreiro "Cidade" e durante

o sell percurso os condutores mudam a extensao . Essa mudanca 6 Iei:aentre 0 Largo de Sao Ben:o e Largo da Se, "Os bondes da linha I aba­

quara fazem pon to no Largo da S6 e em certas horas alguns carrossao desviados para a Rua XV de Novembrc , ruas Boa Vista, Libera

Badaro, Largo Sao Bento, ruas Libero Badaro, Jose Bonifacio, Direita,

Largo da S6 e itineraries. Este fato 6 rnuito comum nas horas de

grande movimento no Largo da 56, 0 que coincide com 0 congesnona­

menta do transite da cidadc.

Ou tros carros da linha Jabaquara, provindos da Rua da Liberdade,

dcsccm 0 Largo da SC, ruas XV de Novembro, Joao Brfcola , Boa Vista,

Florencio de Abreu, Estacfio da Luz, Florencio de Abreu, Largo da

Se c itineraries. Estes carros sao bern frcqtlentes d uran te 0 dia e au­

mcntam nas horas de grande movirncnto."

o 8 .URRO D..... Sf. 119

Page 120: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Essa informacao foi dada como resposta a oficio do cngcnheiromunicipal Nesto r M. Ayrosa, chefe de dlvisao, solkitando que osbondcs da linha Pompeia trafegassem "pela Rua Libera Badaro, nalinha situada no lado direito de quem desce da Praca do Patr iarca[sic] para a Avenida Sao Joao."

Foi solicitada tambem, nos termos das dispo sicocs de No n." 1.069,a suspensao do trafego de bondes extraordinar ios des Iinhas co:npontes de partida da Praca da Se c Lar go de Sao Bento, por aumen­ta rem 0 congcstlonamento do trafego, que se vinha agravando de unopara ano.

Ouanto ao tipo des bondes cram asslm dcfinidos : carros aberto ...de nove buncos. scm vestibulo, 185 ; carros abe rtos de nove bancoscom vestibule, 66 ; carros ab ertos de onze bancos com vestibule, 23;carros abertos de treze ba ncos com lanternim c com vestibu la , 7; carrosabcrtos de trezc buncos scm lanternim, 9 7; carros Iechudos, lot com5I assentos.

Os carros abcr tos de nove buncos tinham 45 lugarcs. Os de onzcbancos. 55 lugares; os de rrczc bancos, 65 lugarcs. Sornavam IS, de42 lugares. Os carros reboques variava m de capacidade, havendo atede quinze bancos e 75 lugares; de dez bancos e 50 lugarcs.

A DlV ER 5AO

o primeiro teatro que existiu foi 0 do Patio do Colegio. A CasaOpera, com as represcntacoes inicialmen:e a cargo de estudantes deDireito . Havia tambem urn salao terrco na parte do ed ifieio ocupadopelo Palacio do Governo em que sc real izavam representacoes ceraconhecido como Teatrinho. Pcrdu rou ale 1860.

a Teatro Sao Jose surgiu depois, em 1864. Ocupav a 0 terrenoonde atualmente ficarn os fundos da Catedral. Foi casa de espetaculosfamosa. Resultou da opulencia do ca fe. 0 gosto requintado pclas artcs.a par do crescentc Iascfnio de Paris. La reprcsentou a pr imeira com­panhia d ramatica paulista, subsidiada pelo Govem o do Estado . U Ircp rcscntou a famosa artiste Eugenia Camara, por quem sc apaixonouCastro Alves. Farnosos cspctaculos ali se realizaram e delcs ficou dura­dou ra fama . Em 1898 urn sinistro cla rao alvorocou a cidade. Era 0

12. o IU.lRRO D:\ Sf:

Page 121: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Teatro sao Jose que ardia. E nas chamas sc consumiram as mais bclasrradicocs culturais, as mais gloriosas cvocacoes estudantls. Muita gentechorou de saudoso pesar. Foram chamas que ajudaram a resolver aedificacao da Catedral. Rcscrvou-lhe 0 local.

Noutro ponte do bairro, para as lades do antigo Acu, surgiamnovas sol ucoes. Na ladcira, agora chamada de Sao Jcao, apareccu 0

"B ijou Salao", tendo ao lade 0 " Bijou Teatro'' . 0 pr lmclro passavafilmes no inicio da dccada de 10. Eram explorados par FranciscoSerrado r, primeiro cmprcsarlo do cinema em Sao Paulo e Iundadorda grande cade ia de cinemas que ain da ma ntem 0 scu nome. An tesfuncionara nos pavilhoes do Ca ssino Paulista.

Rua Boa Vista ab riu 0 pr imitive Teatro Santana. Nele funcion ou

o primeira cinema de Sao Paulo. 0 Teatro Politeama Ioi dcpois Ire­qucntad fssimo cinema. Ali rcprcsenraram com panhlas de rename inter­nacional, como a de Sara Bernard, Zaconi, Pcrtini e Pepa Ru iz.Diziam que a acustica era magnifica. Ja Sao Paulo tinha nova menta­lidade, pois quando , em 1690, cogitaram de instalar uma Casa deOpera, a opostcao foi vecmentc. a s vcrcadorcs opinaram que era "coisaprejudicial a Republica e grande ofensa a Deus. E ainda prejudiciala conscrvacno da cidade".

Quiros eram as tempos e a mentalidade.o segundo cinema funcionou na Rua X V de Novembro. Era 0

Iris. A diversao eontinuava conccntrada no bairro da S6.

A projecao dos filmes era feita em tela molhada para maiornitidez da imagcm. As cadeiras de palhinha no chamado estilo austrfaco.As fachadas profusame nte iluminadas . Vma ea mpanhia retin ia aguda­mente a porta para alrair a atencao des transcuntcs, antes de comcca ra scssao. Urn cartaz do Bijou Salao anu nciava em 1912 : 0 Misterioda Ponte de No tre Dame. Mais acima, 0 Politcama, Iamoso.

OS T EAT ROS

A madrugada de 15 de novcmbro de 1898 foi marcada por dra­matico lncendio. Aquele clarao vermclho nao era da aurora que des­pontava, mas de uma gloria que morria. Quando 0 sol surgiu 0 TcatroSao Jose dcixara de existir . Mas sua gloria fora tamanha que logo

o BAIIUHl DA sr. 121

Page 122: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

urn grupo de paulistanos de boa vontade e eultura se congrcgou e surgiunovo Teatro Sao Jose ao lade do Viaduto do Ch a. com Irente para aRua Xavier de Toledo, ondc atua lmente se ergue 0 predio da Ligth.

Pol urn pcriodo glodoso para 0 bairro da Se. Nos seus palcos

represcntaram glories intem acionais cujo renomc ainda perdu ra. Duse,Coquclin, Novelli, Schelchi. Ao alvorecer 0 secuto XX urn movimento

eclodiu pa ra construcao de urn teatro municipal para espctaculos Jfricose espetaculos de alia eultu ra a semelhaoca da Opera de Paris e dasgrandes capitais, e das mais cultas cidades europeias como Milao, comscu famoso "Scala" . Nao tendo a Prcfeitura grande recetta. 0 Governodo Estado tomou a si a Incu mbencia e honra da construcao do novoteat ro cujos trabal hos comccaram em 1903 e terminaram em 1911. 0projcto, de autoria do arq uiteto italiano Domiciano Rossi, construcaodo cscnt crio Ramos de Azevedo. 0 preco foi de 4.500 contos de reis.

Na noite de I I dc setcmbro de 1911 rcalizou-sc a Inauguracao.Constituiu 0 maior acontccirn ento do ano.

Viera a Companhia de Tutta-R uffo intcgrada por nouivcis canto­res. Entre outros os tenorcs Bonci c An giolo Pintucci. As sopranosAdeline Agostinelli. Lina Vitale, Aida Gonzaga, dirct or da orquestraEdoardo Vitale. Coreografo, v mcenzo Dell'A gostino. Como baritoneo chete da tournee, TiUa-Ruffo. A peca escolhida: Hamiel, deA mbroise Thomas, compositor frances emao multo aplaudido. 0 papclde Ofelia eoube a Maria Pcreto. 0 ba ixo Ludiskar intcrpretou 0 papelde rei e Flora Perini, celebre contralto, como rainha.

o Teatro Municipal ficoo lorado. Nao se via lugar vez io desde aplateia as gateri as. Imenso 0 entusiasmo e maior ainda 0 brilho e 0

luxo. "0 faiseamcnto das pedrarias de alto preco no colo das damas,os be los rostos, os arustlcos pcntcados, cram postos em relevo pclosIocos de lUI, numa movimcntacao lumlnosa, forte e encantadora . Foi

urna verdadeira testa do nosso progrcsso, de nossa cultura artlstica,

uma festa paulista , uma fcsta da cidade," publicava 0 Corr eira Paulis­

(m l0 , no dia seguinte .

o Diorio Popular comentava :

"A lnauguracao do novo tcatro consubstancia uma vclha vontadc

que, por diferentes homcns dc passagem pelos podercs municipal e

cstadual, vern scndo corporificada. A neohum deles se dcvem regatear

122 () BAIRRO D.' Sf:

Page 123: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

louvores pelo co ncurso que presraram it ideia. ate que ela se trans­formou em notavel reahzacao."

Todos concorda vam que fora uma gra nde e inesq ueclvcl Iesta.Dcpois de Hamiel , a Companhia levou a cena Tristao e Isolda,Monon Lescaut e La Boheme.

o preco era 300 mil-rels por duas polt ronas para cinco rcclras.

Na mesma ocasiao, no novo Te at ro Sao Jose, dct ront e do Mu ni­cipal, anunciava com empolgados d izcres a chegada de famosa Com­pan hia de Operetas em transite pcla Am erica do Sui, inic.ando a rem­porada com A Vitiva A legre, com Ana Maner)' e Erne Gravini.

E cnquanto era espe rada a Com panhia de Opercta s, que rcgressavade Buenos Aires, no palco do Teatro Sao Jose 0 notabilissimo violi­nista Fran z von Vccsy da va uma sene de conce rtos aplaudidissimos.

No Tcatro Politcama, na rnesma ocaslao, Palmira Bastes rcprc­scntava a pcca A Honeca.

No Tcatro Santana co n.inuava em ca rtaz, c com casas chelas, aopera comica de Mcssagcr chamada Veronica. 0 tr ibuno Alexand reBraga. rcccm-chegado de Portugal , rce llzava conferencias em que abor­dava ° regime republ icano recem-Implamedo no seu pa is.

Houve out ros teat ros. 0 Cassino Antanica, no centro da atualAvenida Prestes Maia . vizjnho as Iundacoes do Viaduto de SantaEtigenia.

Foi desap ropriado no inlcio da decada de 40 para eXCCUl;aO danova arteria denominada prcvisoriamcnte de Avcnida An hnngabauSuperior.

Era casu de cspetac ulos usada pclas co:n panhias tea'rai s derevistas e comedies , 0 chamado teatro Iigeiro. Ali rcprcsentou em1928 a Companhia de Margarida Max. entao no apogeu de sua carreira.

Na Rua D. Jose de Barros funcionava ° Teatro Apolo, ondeRaul Roulien, como ator e ca ntor. mormcnte de tangos, cntao muitcem moda, fazia succsso no pcriodo de 1928- 1929.

Ja na Ru a 24 de Maio 0 Teatro Sant ana era alugado pclas com­

panhias tea trai s, que chegavarn a Sao Paulo integradas por elencosIamosos. Entao cram comuns as Iemosas companhias portuguesas.Amelia Rei Colaco ali rcalizou uma serie de pecas farnosas entre asqua is Topase, entao muito comentada. Era a coqueluche da

o BAIRRO D.... SF: 123

Page 124: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

epoca. Amelia Rei Cclaco trazia no seu elenco at orcs de muito rcnomecomo Samuel Dinis.

Outra lamesa artista, Lucilia Simoes, representou com sua com­panhia intcgrada pclos maior cs val6res cenicos portugueses do tempo.E com casas rcplctas 0 nosso Iarnoso Leopoldo Freis.

Havia tambfm 0 Teatro Boa Vista , usado por companhias de alto

gabarito. Ficava na csquina da Ru a Boa Vista com a Ladeira POrtoGcral.

Nas decades de 10 c 20 0 teatro encontrava grande numcro deaprcciadores e por via de regra muito exigcntes. 0 gosro pelo tca trocomecou a dcclinar com 0 aperfetcoarnento do cinema, mormcnt e docinema sonoro.

Paulo de Oliveira Castro Cerqucira, em sua obra Um Secuio (IeOpera, relata com pormenores a vida tea tral de Sao Paulo conccntradano ba irro da SC. 0 glorioso Siio Jose, inaugurado a 4 de julho de1864, em sua primcira cxistencta ate que 0 fogo 0 consumiu desde osaliccrccs, rcaflzou 45 3 reprcscntacocs, tendo levado il cena 58 op eras,entre clas, com gra nde exltc . Cava/aria Rusticana, de Mascagni,compleme nrada da prlmcira vez pelo primeiro a'o do Boccaccio c dasoutras vezcs cnccnada com /I Pagliassi, de Leon Cavallo.

Dcpols do incendio foi constr uido 0 n6vo Teat ro Siio Jose, inau­gurado em 28 de dezem bro de 1909 , ond e hoje sc crgue 0 predlc daLight.

Com 0 incendio do Teat ro Pollteama em 19 14, passou a ser usadco Teatro Santana , que foi inaugurado em 6 de maio de 1900 , numcasarao da Rua Boa Vista , e usado para a tcmporada lirica de 1901 .Devin a sua cxistencia a urn hornem rico c cutto: Ant onio AlvaresPentcado. Houve urn segundo Teal ro Santana , a Rua 24 de Maio, inau­gurado a 25 de abrtl de 192 1.

Inforrna 0 cscrtror J . F. Almeida Prado que as companhia s fran ­ccsas de comed ic da vam preferencia ao Santana, opinando que nacexistia em Paris nada que se the comparassc no genera. Em born gesto

e confOrto. Resultara, dcssa vez, da associacao da fortuna c cullurados irmfios Armand o c Silvio Pcrueado. Era urna casa de cspctaculosprovida de aquecimcnto central, 0 que rcprcscntava cxccpcional rc­qu into para 0 tempo. Foi demolido em 1960 para, em seu lugar , screrguido urn arranha-ceu de grande renda , dcvldo ao excelentc ponto.

124 o BAIRRO DA S ~

Page 125: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Silvio Pentcado promctcu construir urn novo c mais modcrno Santana,ao que 0 Prefeito Prcstcs Maia objctou ser uma grande promessa masincxcquivcl por ter passado 0 tempo dos grandes tcatros particulates.

OS CINE MAS

Os cinemas comecaram a proliferar depois de 1910. Um dospn mciros foi 0 Bijou, explorado por Francisco Serrador. A deno­mlnacao era 0 fascinio da epoca por tude que vinha da Franca . E 0

Aris na Rua XV de Novembro.Na decade de 20, quando 0 cinema passou a dtvcrsao popular de

Iato. funcionavam no centro divcrsas casas de projccao. 0 Triangulona Rua XV de Novcmbro, com sesszes contfnuas a partir do meio-dia.

o Sao Bento, na Rua de Sao Bento, ondc hoje sc cncontra aCasa Paiva, que comccou num sobradao da csquina da Rua XV deNovcmbro com 0 Largo do Tesouro.

o Alhambra na Rua Direita, proximo a Praca Patriarca. Erainternamentc dccorado com arabescos lembrando 0 interior de umamesquite.

o Rccreio na csquina da Rua Riachuclc , proximo ao LargoJoao Mendes.

o Santa Helena na Praca da se, 0 mais luxuoso de todos, entao.Em 1927 realizava vcsperais com 0 uso compuls6rio do smoking.Exibia filmes escolhidos. Os melbores que Hollywood produzia, consi­derados superproducces.

o Republica, em 1928, estava ern evidencia com a projecao dofilmc Ben-llur, tendo como protagonista Ramon Navarro.

Terminado 0 Predio Martinelli, hoje Edificio America, comentrada pela Rua de Sao Bento, era inaugurado 0 Cine Rosario, quedurante urn lustre tcve a melhor Ircquencla paulistana

o TRIANGU LO

Sao Bento, XV de Novcmbro, Dircita.As tres ruas Iormavam de fato a figura geomctrica de urn trirm·

gulo. DOli Ihes adveio a denominacao de Triangulo.

o BAIRRO DA Sf. 125

Page 126: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira
Page 127: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Nclas se havia conce ntrado 0 comercio mais fino c as agencies

c scdes dos malo rcs Bancos. Foi assim varies dccsntos, mormcnte nadccada de 20, com cafes e casas de cha com orquestras. 0 cafe erascrvido sabre mesas de rnarmorc, scm prcssa, amaveis garcocs.As 5 horas da tarde convcrgtam as "mclindrosas'' c "a lmofadinhas".Na entrada do Joma l (If) Comercio, na Rua Di relta, reuniam-se o~

intclcctuals jovens do tempo para vcrem as elegantcs dcsfilar. Co:n­pareciam os autornovcis dos ultimos modclos. A "B aratinha" tinhnali consagracao. Os bondes passavam tilintando, pcdindo passagcm.Gcn:c enrrava c saia no Hotel T riangulo, com cn 'rada pela RunDireita.

A Casa Aloma. com seus "c has das cinco", torna ra-se pontoobrigat6rio de convergencia e de encontros da gente chiq ue. 0 salacficava no ultimo andar . 0 service era pnmoroso. Os garco cs Impc­cavcis c majcstosos. A Casa Aloma gozava, alias, de tamanha famaque 0 Pr incipe de Gales, mais tarde Eduardo VII , em visita aAm ericado Sui, procurou visitar cspontancamcntc 0 celebre cstabclccimento.La cstevc numa manh f de outubro de 1933. Percorreu tcd a a Ca seAloma, pais sua viagem tinha por finalidadc conhcccr a situacao docomerclo de Inglatcrra no exterior e scus concorrentes. E aquelc erao maior concorrcnte do celebre Mappin Stores, outro estabc lecimentoIamoso que vcndia artigos de fina qualidade em sua maioria de pro­ccdencia inglesa. Anualmente, seu gerentc ia a Inglaterra Iazer com­pras. En tre os artigos adquiridos cntao, vinharn os celebres "Cheviots"do ar tcsanatc escoces.

o Triangulo era imensa vitrina do que mc1hor possula a capitalpaulista c concentrado no miolo do bairro da Se. T inha uma imcnsapopulacao flutuante e transitcria. Rcquint ada , que fazia pon to e marcavacnconro nos seus estabelccimcntos maravilhosos para urn maravilhosomundo Ieminino.

OS MONUMEN TOS

Scmpre foi pobre em monumcntos . Talvcz porqu c a cscultura surgecomo a ultima das artes a tcr cultores. Os dois monumcntos cxistcntcspor rnuitos anos foram 0 de Jose Bonifacio, 0 Moco, r.o Largo de SaoFrancisco, c 0 de Fcij6, no Largo da Llberdadc. 0 primeiro encontra-sc

o HAlRRO DA SF. 127

Page 128: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

dcnt ro des Arcades. Para hi. Ioi mudado em conscquencia da rcmode­l a~ao da pcqu cna praca por motives viar ios e tfio logo Ioi terminado 0

novo predio, com projeto c exccucao confi ado ao cscri rort o Ramos deAzevedo. depois Severo & Vilares. As obras terminaram em 1938.

A escultura de Feijo foi removida para 0 deposito da Divisfic deParqucs e l ardins quando tivcram inicio os trabalhos do rnctropolitano.

Como 0 mats famoso e apreciado continuou sendo no bai rro daSe 0 monu mento aos fundadorcs da cidade. Houve depoi s a Anchicra,da Praca da Se, otena das organizacoes SuI America e Lar Brasilciro,de autoria do escultor italiano Heitor Usai, radicado no Brasil dcsde1929 ; e 0 de Nob rega, na Praca Clovis, oferta da Colonia Portuguesede Sao Paulo, e de autoria do escultor Luis Marone. Datam de 1954,quando Sao Paulo comcmorou seus quatro secutos.

Na Praca Jcao Mendes cxistiu a herma daquelc jurisconsulto aocentro do jardim, por varias decades. Foi dali mudada por ocasiaoda reforma da praca na prirneira Adminlstracac Prcstes Maia. Erae autoria de William Zadig. E como resultassc grande espaco livre aliinstalou a Prcfeitura 0 monurr: ento ao pequeno jornalciro, que cntaoera urna nota alcgrc do cotidiano da cidadc e acabou com a instalacaode bancas de jornais, tornado negocio prospero. Aprescnta-sc juntocom 0 peque no engraxate. c utra figura inconlu ndfvcl de Sao Paulo dadec-ada de 30, de antes da lcglslacao social. De au torla do escultorRicar do Cipicchia, tern como tnulo -Contando a Feria".

No Patio do Colegio, desde 1925, ergue-se 0 monu mento aosfundadores da cidadc, noutra pagina ja cirado.

o " MARCO ZERO"

Nao e 0 mais bclo, mas apresenta-se como 0 mais funcional dosmonu rncntos paulistanos e pcculiarmentc da Praca da SC.

Ali foi mais implantado do que crigido no diu 18 de scternbrode 1934.

Era prcfcito 0 Sr. Fab io da Silva Prado. rcprcscntava 0 marcodas d istancias oficialmente medidas, reatando a trad lceo secular quecontava as leguas a partir da por ta da Igreja da SC. La cstava 0 umb igodo marco da mcia legua.

.'" o BAIR RO D.\. S~

Page 129: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Dcpois as distancias pas~aram a scr afcridas confusamcnte. Parao Rio de Janeiro 0 ponto de referend a Iicava na Penha. Para Santos,no Sacoma. Para Golas, no Largo Padre Pericles, nas Pcrd izcs. Pa raMinas, rumo da atual Femiio Dlas, na Ponte Grande. Para 0 Paranac Mato Grosso, no Largo de Pinheiros.

Em 1921, 0 Sr. Amenco R. Neto iniciou campanha prcconizandouniformizacgo. Urn ponto unico c central para todas as rotas. Mas sotrczc anos depois conseguia ver realizado 0 objetivo. Na elaboracao doMarco tcvc a coopcracao ar tfstica do pintor Jean Gabriel Villin.

E urn pns ma hexagonal, de marmore, implantado numa plata­forma com dois degraus de granito. No tope havia uma placa debronze, oferecida a Prefcitura pcla seccno paulista do Touring Clubcdo Brasil, em que estavam gravados os itineraries principals para osque buscavam as rotas do mar, Parana, R io de Janeiro, Goias, Minase Mato Grosso.

Trss mescs dcpois a placa foi roubada. E dessa forma 0 marcoficou mutilado. 0 marco esta orientado de forma que cada angulomarca a direcao da rodovia tronco que da acesso ao Estado dcmandedo,simbolicamcnte rcprcsentada. Parana, uma araucaria. Santos, um na­vic . R io de Janeiro, 0 Pao de Acucer. Minas, material de mincracao,entre eles uma lanterna. Golas, uma bateia. Malo Grosso, auibutosdas bandelras.

A exemplo de Sao Paulo, outros Bstados passaram a adotar emsuas capitais 0 "Marco Zero."

o m ILlO

Agora csta no Largo de Sao Francisco, pela vontade dos cstu­dantes. Tem uma tonga e dramatica hist6ria.

Em 1920, 0 cscultor sueco Willian Zadig, professor do Liccu deArtcs c Offcios, casado com formosa moca paullsta da familia CapoteValente, reccbcu encornenda do Centro Academico XI de Agosto,para cscutplr um conjunto dcstinado ao monumcnto a Bilac, a sererguido no fim da Avenida Paulista. Aceitou a incumbencia e procuroudar-lhc 0 melhor desempcnho. Ao alto, 0 busto do poeta. De urn ladoficava urn grupo de bandeirantes cxprcssando Fcrnao Dias Pais e pas-

o DAm no DA Sf: 129

Page 130: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

slvelrncnte seu genre Borba Galo, alusdo ao pocma que eontava acpopeia do "Govemado r das Esmeraldas."

Em 1936 a Prefeitura desfez 0 conjunto em face das cnucas aomonumento e impccilhos ao translto. Diziam que lhe Ialtava inspiradacxecucao. A mao de Bilac, recitando, mais parecia um caranguejosaindo da manga.

o grupo de bandeirantes foi eolocado na entrada do GinasioFernao Dias, em Ptnheiros, no local em que 0 Prof. Alfredo Gomesinforma e afirma ler sido a scde do sttlo do Capac. que pertenceu aofamoso bandeirante, semeador de cidades no deserto.

o busto de Bilac Ioi parar no Centro do Parque Bresser.o outro conjunto, de bronze, conhecido como l difio, inspirado

no celebre 0 Beiio, de Rodin, passou a tcr uma histone atn bulada.Estava esquecido no "Mancquinho Lopes". Mal o Sr. Janio Quadrosassumiu a Prcfcitura, vlsltou 0 horto municipal. Viu 0 l dilio. Deter­minou ao chefe de Parques e Jardins: "Artur, coloquc este bronze noLargo do Cambuci. Morel no bairro e por isso conhcco 0 seu esquc­cimcnto por parte da Prefeitura. Vamos rcpard-lo."

o Sr. Artur Etzel logo eumpriu a ordem. Mas dias dcpois, urnpai que Iora busear a filha no grupo escolar vizinho rcparou na estatuae promoveu um movimento de protesto. Imoral - disscram na repre­sentacao. Logo 0 prefeito determinou que 0 bronze voltasse ao deposito.Ali Iicou ate que na administracao Faria Lima Ioi eolocado na entradado tunel da Avenida Nove de Julho. 0 edit Antonio Sampaio passoupor la. reparou no busto, lcmbrando-se no easo do Largo do Cambucie soltou discurso na Edilidade. Entao, os cstudantcs de Direito resol­veram intervir. Compareccram de madrugada com urn caminhac , car­regararn a escultura para 0 Largo de Sao Francisco, onde permanece.Invocaram seus direitos, pois na (und i~ao no monumento a Bilac entrarao "cobre" do Centro XI de Agosto.

Na ocasiao urn delegado indagou do prefeito se queria a dcvclucao.Faria Lima respondeu para dcixar Iicar. Crier brigas para que?

as JORNAIS

Todos os jomais paulistanos, vivos au mortos, ou ainda agoni­zanies, nasceram, prosperaram e morreram no bairro da Se. Tinham

130 o BAIRRO D ..\ SF.;

Page 131: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

nas sua ruas redacao c oficina. a vcnerando Diorio Popular com ccoucom oficinas e redacao a Rua da Imperat riz, atual XV de Novcmbroe por muitos dccsnlos funcion ou na Rua Jo fio Brfcola, em solidosobrado de tres and arcs, 0 ultimo delcs ocupado por muitos enos pclafam ilia do Iundador Jose Maria Lisboa. a prcdio foi aquirido pelasorganlzacocs Novo Mund o e no seu conju nto incorporado. Defront e,por muitos e muitos anos estevc 0 Correio Pautistano , a cuja rcdacaopcr tenccram, na fase aur ca, os cscrhorcs Afon so d'E. Taun ay, PHnioSalgado, Menott i Del Picchia, Casstano Ricardo, Mota Filho, GenolinoAmado, Hermes Lima.

o Jamal do Comercio tinha a redacao na Ru a Dircita , proximoda Praca do Pat riarca.

A. porta de entrada cstacionava 0 jomalista ama zonense Paulo deMedeiros, com epsilon e palheta cobrindo-Ihe a calva luzidia. Na RuaXV de Novembro, no seu pcrfodo de esplcndor , teve redacao a [ornalA Ptateta, quasc defro ntc do Cafe Gu arani, que servia a rubiaceas6bre mesas de marm orc com pes de bronze e cadclras de asscnto cencosto de couro Iavrado. Ao cntardccer uma orq uestra tomava as­sento numa cspecic de core de cape la e atacava as muslcas em voga,com prcdominancia de tangos, em plene succsso na decade de 20.

o Estado de S. Paulo teve por muitos anos a rcdacao empredio demolido, com frcnte para a Praca An tonio Prado, ondc seergue hoje 0 cdficio do City Bank. Dcpols passou para a Rua da BoaVista, csquina da Ladcira Porto Gera!. Dali desccu para a zona do

Mercado, dond e saiu para as atua is lnstalacoes da Ru a Martins Font es,entrada pelo Viaduto Nove de J ulho.

o Diorio da Noite nasceu num prcdio da Ru a de Sao Bento, noquarteirao entre a Rua Dr. Miguel-Couto e a Praca do Patr iarca, onde scma nteve ate 1927, ano em que mudou para 0 prcdio conheeido como

Rotisserie, na esquina da Ladeira Dr. Falcao, com entrada pelo antigoViadu to do CM.

Foi nesse predio que nasccu 0 Diorio de Silo Paulo, em 1929 .No mesmo prcdlo, na ocasiao, numa cspecic de cave, tunclonou,

com grande mo vimento, a Cidade de Miinchen, cervejaria Iamosa,com orquestra alcrna.

Quando ° pred io foi adquirido pclas Indastrias Matarazzo, osdai s jornals mudaram a oficina comum c rcdacocs para a Rua Sete

o aamno DA Sf: 131

Page 132: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

de Abril, ond e ocupa ram 0 predio de oito andares, que ia scr demolidoanos depots. Em seu lugar surgiu 0 atual arranha-ceu des Assoclados.

As FollJQS da Manlrii e F{'[lra da Tarde tiveram a redacao,po r varies dccenios, na Rua do Carow. no trecho agora de nominadoRoberto Simonsen. Ali sc instalou 0 primeiro diretor Ped ro Cunha que,em 193 0. vendcu as jornais, que eram de sua propriedade, ao Iazen­deiro Otaviano Alves de Lima. Quando este. por sua vel, negociou as"Folhas", aco nreceu a muda nca da redacao e ofieinas pa ra 0 bai rrcdos Cam pos Eliseos, Primeiro para a Alameda Cleveland. Dali paraa Alameda Barao de Limeira.

o Diorio Nacionot. que rcve grande clrculacao (1 928-1932) ,comecou na Rua Benjamin Constant, passou pa ra 0 sobrado antigoda fam ilia Mendes de Almeida . na Praca Jose Mendes, onde aeabo uap6s 0 malogro da rcvolucno de 1932, da qual fOra porta-voz. Porisso morre u com cia.

o PR IMEIRO CEMITER IO

o comeco do ba irro da Libcrdade integra a freguesia da Se.Constituia 0 complc mcnro sui do bairro, a comecer pclo Lar go doPelourinho, onde principiava a Rua do Cemiterio, tambcm Cam inhodo Mar, depots Rua da Gloria, por dar acesso a Ch acara da Gloria,onde foi instalada uma colonia de imigrantes.

o primeiro cemlteno civil paulistan o, por que antes os mortoscram enterrados nas igrejas. nos seus adros, foi ali instalado. Faziafrente para 0 Largo de Sao Paulo. depois Praca Almeida J unior . Pas­sava-lhe ao lado a Rua des Estuda ntes.

Ali ficava a Capela dos Anitos. A Ru a do Cemitcrlo Ihe da vaaccsso.

Do lado de cima descnvolvia-se a Rua Concgo Leao, depoisda Forca, em seguida da P61vora e, finalme nte da Liberdadc.

A primeira dcnomina cao rcsultara do fato de 1<i morar 0 ConcgoLcfio Jose de Sena , sacrlstao-mor da Se.

Num pequeno logradouro vizinhc funeionara a-Casu da Polvora .Deu 0 nome ao largo.

Junto. arqueava-sc 0 morro da Iorca. onde aeon teecu 0 dram aticoenforea mento de Chagu inhas .

132 o 8.\1RRO 0,.\ st.

Page 133: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

A transformacao foi imensa. A pa rtir de 1820. Surgiu a Rua doMeio, atual Dr. Rod rigo Silva, e Rua de Baixo, agora Ca rlos GomesDcscn volvcndo-sc ao fundo da necropolc acompanhava a lopografi a aRua Detras do Ccmlteno, a atual Galvao Bueno.

Para alem do ccmitcrio sucediam-sc as chacaras.Na capcla cram recolhidos os defuntos para a ultima oracao

de corpo prescnlc. Informa Afonso de Freitas que para ali cramlevados as cadavercs dos supliciados e dos pobres. A genre de possespertencia a Irm andad es religiosas que procediam a tnum acso emcarneiras cxisrcntcs nos templos.

o Cemitcrio dos Afli tos Iuncionou ate 1858, quando foi abcrtoo da Consolaceo, considcrado exccssivamcnte dista nte. Decla rad o ex­tinto 0 velho cemite rio, foram retirudas as ossadas das sepulturas ca area lotcada e posta a venda pcla Cu ria. a ncgocio foi eonfiado aolcilociro Roberto Jose Tavares, sob a fiscalizacao do Conego Ant onioGu imani cs Barroso, tesourciro intcri no da Catcdral. 0 conscntimcntoIol dado pelo Bispo D. Uno Dcod ato Rodrigues de Carvalho , em 1883.Razfio : nfio havia mais ncccssidadc daquelc ccmite rio em face danova nccropolc da Consolacno. A Capcla dos Aflitos fora construidapcla Mitra c po r era continuou sendo conscrvada. Ficou entreguc azcladcrcs, por nao mais existir Irmandade que sc Incumbissc de suaadminlstraeiio. E que nunca existiu visto nfio consrar de docu mcnrosou rcgistros oficiais.

A Iunda cao da ca pcla e atribuida ao Bispo O. Manuel da Res­surrcicao, que exe rceu suas altas Juncoes sacerdotais entre 1774 e1789 .

Da Capcla dos Aflitos, nos fins do secuto, Tcd im Barreto feza seguinte descr icao : "U ma por ta ao centro e ao alto a rctula, depoisa cruz no frcntispic io recortado ao gosto da arquitctura religiosescteccntista ou princfpios do oitoccntismo. A csqucrda a terre (micade do is andares. No pnm ciro, 0 relc gio. No segundo, 0 ca mpa nano.Em rccntrancias bilaterais duas port as toscas. Junto da quc se vc acsqucrda , crcntcs de todas as racas, cspecia lmcntc criaturas simples,porque nao possucm na ter ra, senao as espcrancas do ceu, improvisaramurn velorio pau pcrrlmo. jd negro de inumeros anos, em que pcrcncmcnteIlutua a chama sangrent a das velas que acendcm por intecao da salmas. Nessa igreja dissc missa 0 Padre Pascoal Ganizcu. que morreu

o BAIRRO DA SF. 133

Page 134: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

em consequencia de ferimentos recebidos no Bras, durante a revotocsode 1924, e q ue sc notabilizou como uma das figuras pau listanas popu­lares de outrora, e por sinal razoavclmentc opulcnto. Alcm das pro­pr iedades que possuia no Bcxlga, foi scu, muito scu, adquirido como suor de suas rezas, 0 sobrado que ainda exisrc, com a forma tlpicade ferro de engomar, cncravadc entre dais arra nha-ceus que ladelam,na Praca da Bandeira, as Ruas do Ouvidor e Sao Francisco, que neletcnni nam em angulo agudo" .

o ccmiterio ao fundo da capcla era des mais tristes e pobres.Num canto Iicava a Santa Casa do tempo. Do outre lado 0 campoda Perea . Depois de csvazlado das antigas ossadas , tornou-se terrade vivos.

CHAGUINHAS

Ele Ioi urn condcnado que se tomou Icnda. E esta canonizadopelo povo. Com sua morte brotou urn culto, sempre crescente, cadavez mais incandescentc, pais diariamcntc ali crepita urn mar de chamasde vclas.

Aconteceu na manha de 21 de setembro de 1821. Os soldadosFrancisco Jose das Chagas e Joaquim Cotindiba esrava implicadosnum motim na cidadc de Santos, par causa do atraso do pagamento.Houvera mortos e mui ros feridos. Maodada tropa de Sao Paulo. ossoldados rebclados foram presos e julgados. 0 que cram de Santos alimesmo foram executados. Enforcados em mastros de navie s. FranciscoJose das Chagas e Cound lba, par screm do planalto, para Sao Pauloforam cnviados. Logo julgados c condcnados a pena de Iorca.

Acontecc que a forca estava velha e caindo de padre par faltade U50 .

Mas em 23 de egosto de 1820 instalara-se a Junta de J ustice ecia queria justificar a sua existencia. Mandou construir uma fOrcanova. em lugar bern publico, vizinho do ccmite rio. No seu local ficaatualmeme 0 Largo da Liberdade. Houve, no entanto, pedidos declernencia. Inslstencia na comutacao de pcna . Mas Martim Fra ncisco,que fazia par te da Junta. invocou 0 perigo do mau exemplo e cxigiuo cumprimenlo da sentence.

Dessa maneira os dois soldados deviam acabar enforcados .

134 o BAIRRO DA sr.

Page 135: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

o que depois se passou Ioi urna coisa tetrica. Uma exccucaobrutal. Houve mcsmo quem atrlbufssc a firmeza de Martim Franciscoa odic pcssoat.

Uma filba do Marques de Va lenca, em carte, divulgou ta l supo­siljao. Falava-se mesrno na existencia de urna rnulher cstirnulando 0

Andrada contra Chaguinhas. Nao COra apenas a revolta do Batalhaode Cacadores sediado em Santos, na noite de 27 para 28 de julhc ,dcsordem em cujo balance figurava ate urna cr lanca assassinada. Havia

mot ive mais poderoso ainda, impedindo que a justica de serra abaixo

nvcsse defmitivamcnte julgado 0 caso.

Chaguinhas foi envlado para Sao Paulo. Aqui Iol novamente ou­vido. E condenado a morre r na Iorca com seu companheiro.

E na manha fria de setembro eles foram tirados da cadeia, levados

aCapcla des Aflitos, e depois ao campo da COrea, entre eseolta de sol­dildos, de Iuzil ao ombro, baioncta calada.

o ENFORCAM ENTO

Os condenados estavam emedrontados. Caminbavam cabisbaixos.Cadenciadamente, Iunereamente, ruCavam os tarnbores. Urn frade pro­

curava dar resignacao e alcnto aos infelizes. Em volta da forca aden­sara-se a multidao. Porque a crucldade humane nao dispense urn

espc taculo de horror.

La estava a Jusrica representada pelo cscnvso, para ler em tomlugubre a sentence.

Dcpois, urn grande silencio. 0 soldado Joaquim Jose Cotindibafoi empurrado ate junto do carrasco, que ninguem sabc mais quem era.

nem po rque motivo ou M. qu anto tempo exercia tal funlj3.o.

Passaram 0 lace da corda no pescoco de Cotlndiba. Os tambores

rufaram alto. E 0 [usticado estrebuehou na ponta da corda. Unsscgundos de cstcn ores horrorosos. E acabou morto, a lingua fora daboca, numa cspantosa carranca.

Chaguinhas tudo viu. Tudo Coi obrigado a prescnciar. Chegou a

sua vcz. Passaram-lhe 0 taco no pescoco.

o 8 .URRO DA Sf: .35

Page 136: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

o MILAG RE

E fci entao que aeo nleeeu 0 incspcrado, que passou a scr con­siderado milagre e evidentc prova de inocencia. A corda reben tou .E como era heblto do tempo , a Irmandade da Miser icordia cobnucom sua bandeira 0 eorpo do scntenciado.

Ma s 0 carrasco havla recebido instrucoes scvcras. Decidiu pro ­ceder a novo cnforcam cnto. Preparou novo lace que passou comraiva no pcsco;o de C haguinhas que cstava aturdido. Novam ente acorda partiu . E cntao num so grito , a multid ao opinou :

- M ilagre! Milagre tUma voz gritou :- Soltcrn 0 condenado! Basta! Basta!Mas fora m buscar 0 lace de couro de urn tropelro que passava.

E ate esse rebentou . Aeabaram com 0 condcnado a paulad as.Depois chcgou a ordem de suspender a sentence . Ja era tarde. Esse

aspccto de martirio em conscqu encia de firmc intolcrancia. com trans­gressao de princfpios de di rcito e que deu a au reola a memoria deChaguinhas.

E desde cntao passaram a ardcr chamas votivas, em nerncrocrescentc, ate sc transformarem no temporal de fogo que crcpita d ia­rlamentc dcn tro da Capela de Santa Cr uz dos Enforead os.

INICIO DE UMA DEVO<;:AO

No comeco foi apc nas uma cruz que tinha ao lado uma mesavelha sabre a qu al cram queimadas velas ainda em ruimero diminuto.Acendia m-nas por alma des condenados. Ma s logo correu que cssaschamas votivas ncm a chuva nem 0 vente conseguiam apa gar.

A cruz cstava erguida em local mais distantc. Foi scndo mudadan mcdida que a cidade se expandia para 0 lugar ond e hoje se crguca igrejinha de Santa Cru z de s Enforeados.

E assim sc finn ou a lcnda de san tidade de Chaguinhas que ganhouampl itude dcsdc 0 dia em que foi conhccido 0 Iatfdico atraso. 0 tribun almilitar comutara a pcna de enforcamento. Mas a ordem nao chegaraa tempo . Ja 0 co ndcnado estava morto.

136 o BAIRHO DA Sf:

Page 137: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Por isso seus passos ainda ecoam nas noltcs de temporal, assina­lando a sua presence de soldado enquanto ardem as vclas cujas chamasnem a chuva nem 0 vento forte conseguem apagar.

Assim dizem. E assim acontece diariamente naquelc recanto antigode Sao Paulo, que nfio perdcu as caractcrtst lcas nobres em mcio decolossal transformacao em redor.

VOl novo templo surgiu, com linhas pretcnsiosas. E a Igreja deSanta Cruz. Dentro de uma ala crepita urn mar de chamas. Mas dooutre Iado, escondida, denrro de urn recuo, ao fim de uma vicla, con­tinua com sua tradlcao e humiIdade, a vclha capelinha dos AfIitos.Scm innandadc para dela tomar conta. Mas protegida pcla tradicao.Pelo multo que represcnta dentro do passado de Sao Paulo. Taoproximo e ja tao csquccido.

VMA RVA DESAPAR ECIDA

Per muitos dcccnios foi paImilhada pcIa gcntc do bairro c de fora.Era uma prolongamento da Rua do Principe. Ficava nas trascirasdo prcdio da Assemblela, onde primciro fora a cadcia .

Com a Republica rcccbcra 0 nome de Rodrigo Silva e na csquinacom Rua Riachuelo ficava 0 Teatro Recreio, que tcve seus dtas degloria c acabou como cine "poeira", que passava filmes sensacionaisainda no inlcio da decade de 40. Quando 0 casarao da Assemblciafci demolido, a sua area passou a integrar a Praca Dr. Jo fic Mendes,acabada de abrir e constitufa, afinal, a ampliacao do antigo largocnquadrado peIa Assembleia de urn lado e a Igreja dos Remedios, dooutro.

OS TRIOS GRAN DES DA se

No prindpio da Avenida Sac Joao, onde a S6 comcca, ergue-sco conjunto dos Ires maiores ediffcios da capital. E sao: Martinelli,Banco do Estado e Banco do Brasil, com suas hist6rias noutro localcontadas.

Mas nem sempre se mcdem os prcdios pclo scu tamanho. Podematcrir-sc e ale com mcIhor expressao, maior realidade comparat iva,

o BAIRRO DA Sf: 137

Page 138: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

pelo que representam para a coletividade paulistana em geral e parao bairro da Se, em particular. E temos nesse caso, como os tresgrandes de fato: a Catedral, 0 Palacio da Justice c a Faculdade deDireito. Velhas instltulcoes em rnajestosos cdiftcios novos.

A Catcdral, dentro do vclho espfrito do idioma, poderia ser deno­minada como uma grande fabrica ou colossal mole de granite traba­lhado. Trata-se, porem, de termos exilados do linguajar cotldiano. Fi­quemos, portanto, na dcnominacno contcmporanca de construcao oucdificio. S6 agora a catedral esra tendo as tort es terminadas. A nave,porcm, foi dada como conelufda em 1954. 0 que nao significou 0

termo das obras. A entrega do templo ao culto passou a questao dehonra, integrando as comcmoracoes do IV Ccntenario. 0 dia 25 dejaneiro serviu de data inaugural. Mui ta coisa, porem, fieou paraarrcmatar.

Faltaram as ressonancias do fabuloso orgao adquirido. Seria em25 de novembro de 1954. Dia Universal de Ac;ao de Graces, queaconteceria a solcne c sonora inauguraciio do instrumcnto majestosocncomendado a firma Balbiani Vegezzi Bossi, de MiUio. Fantasticopcla ressonfincia e numerosos registros sonoros de Ilautas, fundos,arcos, palhetas. Fora instalado atras do altar-mor. Dividido em doiscorpos, com cinco tcclados de 61 tcelas cada urn. Cerca de dez miltubas sonoros entre grandes c pcqucnos. E por lsso considcradoo maior no genero do Continente. Vlsfvcis para os leigos, 250 tubesdlspostos na ampla frcnte do instrumento e Iabrlcados com chapasintciricas, de zinco, as bocas de forma gotica, em relevo, arnsticamcntetrabalhadas a mao. Representava 0 remate interno da abside c 0 fimde urn esforco que consumira 154 toneladas de marmore de Carrara,dez toncladas de marmorc verde de 51. Denis, 75 toneladas de marmoreamarclo, de Viena; 166 toneladas de marmore de Galdana; 4 toneladasde fosforo antigo do Egito; 15 toneladas de bronze, alem de onix,lazulita e malaquita para os remates ricos.

Urn tcsouro fantastico, cujo remate coubc ao arquiteto Luis

Anhaia Melo diriglr. E encontra exprcssfto esculrural em 102 cstaruase 96 baixos-rclcvos.

A Catedral rccnc, de fate , urn accrvo artfstico singular. No scuembclezamcnto cooperaram artistes de renome intcrnac ional. Max In­

grand, que exceutou a rcstauracso des vitrais de Notre Dame, de

138 o BAnmo DA Sf:

Page 139: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Paris, e autor de vitrais de admtravcl execucao e que "sobressaempela ajustada harmonia e pelo tom dourado da luz",

Marcelo Avenall executou a maravilhoso vltral dos Santos Anjos.Giovane Hajnal, de origem hungara, Iamoso por suas telas de seismagnificos vitrais da nossa catcdral.

Lorenzo Micheli Gigotti cxccutou 0 grande mcdalbao de mosaicode Santana, 0 vitral restante e mais cinco.

Francesco Bencivenga, Gilda Nagnl, Alfredo Biagini, VenanzioCroccni, Eugenio de Courtcn, Ton i Fredler, Francesco Nagnl, todosnotavels artlstas, cooperaram com scus talentos, nas pinturas dos vitra is,baixos-relevos, paineis, esculturas, a gr~a de seus anjos, toda a finadecoracao do interior. Nos paineis magnificos em que se alternamfiguras e sfmbolos que, no altar-me r, atingem 0 maximo esplcndor daarte sacra com os anjos portadores dos imrumentos da Paixao e osquatro anjos dos quatro fins do Sacrificio.

Estupendo, tambem, 0 frontal do altar de Sao Paulo, com baixo­relevo, em marmore de Carrara, e 0 frontal do altar de Sant'Ana pre­cedido de dois anjos de bronze.

A pia batismal, em mdrmore amarelo de Sena, inteiramente es­culpida de baixos-relevos, constitui urn primor da arte sacra. A colunaC coroada por urn globe terminndo pclo monograma de Cr isto.

E de rigoroso simbolismo e manifica cxccucao. Grande pia depcrflro, com tampa de prata, com sfmbolos gravados a cinzel. Balaus­trada de marmore com paineis reprcscntando cenas das vldas deAnchieta e N6brega.

o T RIBUNAL DE J USTI<;:A

A J ustice clegeu a Se para morada. Sempre la funcionou, oranum predio, ora noutro. Nem sempre com confortc mas conservandoa majcstade.

As refcrencias jurfdicas a respcito da sua sedc dao ao Tri bunalde Jusrlca, insralado em 187 1 na Rua da Boa Vista, em predlo como numcro 120.

Passou, a titulo provis6rio, cnquanto aquele prcdio sofria amplareforma, para a Rua Jose Bonifacio, 27, no mes de janeiro de 1887 .

o BAI RRO D." SF: 139

Page 140: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

c rnajestosotomou posse

no atualPisa, que

Voltou para a R un Boa Vista c para a predio, antes ocupado, jaampliado convenientemente, e 1<i permaneceu ate 1900.

De 1900 a 1909 funcionou em predio da Rua Marcchal Dcodoron.s 8, rua que tcve antcriormente os nomcs de Sao Goncalo e comotal figura na planta de Rufino Jose Fclizardo e Costa, e depois doImpcrador.

De 26 de maio de 1909 a 1915 passou para Run Jose Bonifacio,antigo n.v 13.

No perfodo de 1915 a 1933, estevc na Rua Brigadeiro Tobias,n.v 93, antigo 8 1, tendo funcionado tambcm no antigo predio doTesouro, a Rua do Tesouro, sobradao majestoso que fazia esquina coma Rua XV de Novembro.

Em 21 de janeiro de 1933 era oficialmente lnstalado no atualpalacio da Praca Clovis Bevilaqua, falando na ocasifio 0 MinistroUrbano Marcondcs de Moura.

o primciro presidcnte do Tribunal, jaedificio, foi 0 Ministro Teodomiro de Toledono da 15 de setembro de 1933.

A FACULDADE DE DlREITO

Pela alussima significa<;ao as "Arcades" representant imcnso, niios6 da Se, como de Sao Paulo c inclusive do Brasil. Participou fccunda­mente na vida nacional. Prova-o a sepulture do misterioso JulioFranck, a quem atrlbuem a Iundacno da "Bucha". Nas "Arcades'cstudaram Jose Bonifacio, 0 M6<;o; Castro Alves, 0 altissimo pacta.Pclos seus bancos passaram os mais brilhantcs jurisconsultos, diplo­matas, poctas e prosadorcs. Uma placa de bronze cita os vinte c cincointcgrantes da FEB que cursaram a "Academia" . Outra placa, lembmque Guilherme de Almeida , 0 prfncipe dos poetas braslleiros, ali seformou em Direito. Como 0 poeta Pedro de Oliveira Neto, prcsi­dentc da Academia de Lctras Paulista, fato cvocado por uma placadc bronze, tambem. Na Faculdadc de Sao Francisco esrudou Arturda Silva Bernardes, cscrevcnte do Rcgistro de Irnoveis da PrimeiraCircunscrlcao. Foi na maturidade 0 discutido Prcsldentc da Repu­blica. 0 predio novo c muilo diferente daquclc que esscs academlcos

140 o 8 AIRRO DA Sf:

Page 141: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

conhcceram. A reforma foi gran de. Constitulu uma transformacnocompleta. Tao ample qu e os vencrand os alun os a lamcntam ainda.Para eles foi tirad o 0 Iascfmo da s "Arcades".

Conservara a gravidade asceuca dos antigos frades. Nos c1aus­tros permanecera viva a tradicao. Ali se fundia m 0 ensino e a fe.

Mesmo aqu eles que nao criam se deixavam Iasci nar pcla sere­nidade daquele reclnto de frades e acei tavam a oracao. Vadas gcracoesse sucederarn nos bancos da "Academia", que conscrva va a sua antigaau ster idade arquitetonica.

Ate que , em 1934, 0 dirctor da Faculdad e, Professor Alcanta raMachado, achou que era a hora de modernizar 0 predlo, tornando-oma is confortavel. E tambcm mais r ico.

o escrit6rio Ramos de Azevedo, que constr uira 0 Palacio da

Justice. 0 Teatro Muni cipal. a Escola Caetano de Ca mpos , os prediosdas Sccre tarlas de Es tado Ioi convidado a elaborar urn projcto. Varla ssugestocs surgiram. Afinal acabou sendo aceito 0 atual sob a justifi­cativa de que reunia mot ivos tirados do ba rroco brasileiro.

Assim 0 ap resen tou 0 Engenheiro Ricardo Severo, chefe da firmaSevero & Vilares.

o Professor Alcantara Machado achou born e as obras nao ta rda­ram a ter inicio.

Mas nao scm viva oposicao por parte de urn grupo de protessorespartldarios de ob ras de conservaczo, mas nao tao ampl as que a1terassema estru tura do predlo.

Essa opos icao persistente fez com que as ob ras nao Iossem

apresentadas como globa l refonna do ed ificio antigo, em que moravaa tradlcao.

A expticacao do Engenheiro Rica rdo Severo , da firma Severo &

Vilares, de que la scr urn reposltor lo do que havia de ma is exp ressive

no barroco brasileiro, da escola do Aleijadi nho, nfio convenccu. Nao

ab randou a oposicao. Por isso nao acon tcccu a lnau guracao festivaqua ndo os trabalhos de rcforma foram lerm inados. Ai comcca ram as

crlticas des arqu itctcs. Acha ram a fachad a uma incornp recnsao do

cspfrito da arquitetura realmentc brasileira do seculo XVII I e que

fora mot ivo de espanto e clogio por pa rte de Blaise Ccnd rars, 0 arauto

o B..\IRRO 0 ..\ 51! \4\

Page 142: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

do modernismo. Tendo ido a Minas, em 1924, voltou encantado comas visocs de Congonhas do Campo, Sao Joao del Rei e Ouro Preto .Mas nao era um predio nesse cspfrito que ia scr construido, comenta­ram. Alem de confusa aplicacao ornamental nem materials nobrestinham sido cmprcgados. As ornamentacoes, por economia, havlamsido cfetuadas em cimento moldado, quando em pedra-sabao teriam

outro efeito. Urn dos mais severos crttlcos foi 0 diretor do Servicedo Patnmonio Historico e Artistico Nacional, Sr. Rodrigo de Melo

Franco. Se esse Service do Ministeno da Educacao ja exlstlsse teriaimpedido que Iossc levada a cabo a "reforma", opinou.

Muita coisa estivcra ali entrosada. Inclusive no banal cotidiano

do largo existira urn chafariz que em 1829 entrou em reparos. Eraconhecido como do Curse Juridico.

E apes os succssos de 7 de abril de 1871 passou a Chafariz da

Liberdade.

Representava muito apreciada contribuicao, pois a agua era ven­

dida em' barris de vinte litros a oitenta re is. Nem sempre lfmpida ."Barris de lama, pagos a precos altos" - c1amava urn edil na Ca mara,

pedindo provldenclas contra tal cstado de coisas.

Agora 0 largo perdeu a antiga feicae. E do tradlclonal conjuntorestou a Igreja de Sao Francisco, a qual csta sendo restitufdo 0 antigo

esplcndor . Novamcnte os altares brilham como se Iosscm de ouro.A talha antiga fulgura como nos tempos das Minas quando reccbcu

altares ricos, tornando-se uma amostra da opulencia dos tempos.

COMPLETA-SE A TRANSFORMAc;AO

A primeira "urbanizacao" data, de Iato, da administracao docomerciante e industrial , Raimundo da Silva Duprat, que tcve como

assessor 0 urbanista frances A. Bouvard, alias muito combatido pclos

[ovens engenhciros paulistas. En tre eles Alexandre de Albuquerque.

Comecou com a tra nsformacao do Vale do Anhaagabau numparque aprazfvel, com caractcrfsticas repousantcs interloranas. Ate entaoali perduravam antigas chacaras.

142 o BAIRHO DA sa

Page 143: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Rua Nova de Sao Jose e alargada e surge como arteria modcm a,estimulando os espfritos empreendedores. Logo entusiasma 0 CondePrates, que contrata vultoso cmprestlmo com 0 Bane HypothecaireFerdinand Pierre, para construcao de dois grandes prcdios - 0 PalacioAnchieta, primciro conhecido como Palacetc Prates, e outre ao Iado,junto ao Viaduto do Chao Por causa da clausula cambial quase que 0

cmpreendedor Ed uardo da Silva Prates perde a sua magnifica prop rie­dade rural, a Fazenda Santa Ocn rudes, em Rio Claro.

o exemplo foi scguido e surgiram os primeiros ediffcios de oitoandar es, pomposa mente chamados de "arranha-ceus'' , providos de ele­vadores Ientos, com portas de sanfona de ferro. Representaram umaousadia para a decade de 10 .

o bairro ant igo transformava-se.A cidade que surgiu entre 1890 e 1920 perdera 0 contato com

o passado. Era uma cidadc italiana, de fronto es, plat iba ndas, terraces.Na oplniao do urbanlsta Ulhoa Cinta a velha cidade, representada pclobairro da SC, cstava rigorosamente certa para 0 local e para 0 tempo.As ruas nao precisavam ser mais largas porq ue diminuto c Iento erao tnifego. Os muares entravam no centro. Por isso havia posturamunicipal tornando obr igator ias argolas a altura de covedo, nas ruas,c entre elas principalmente a Direita, para poderem ser amarrados oscavalos e burros de carga.

o que extstia era uma preciosa amostra de uma arquitctura ade­quada para 0 meio, perfe ita nos mctodos de construir e aproveitamentodos rccursos naturais. Predominara a taipa algarvia, que provara bernnas regiocs mediterraneas c de cuja rcslstencia restaram sclidas amostrasem Pompcia e Herculano.

Tornou-se proccsso de construir tao difund ido que, no seculoXV II, os taipai s, ou seja, as tormas, tinham grande valia. Eram afo­rados a part iculares e aceitos como pcnbor.

De Sao Paulo a tecnica de constru ir passou a Bahia . Constitufaurn sistema que prova ra plcnamente. Exigia apurada execucao, 0 quecsta evidenciado no parecer da comissao designada para inspccionar asobras da ma triz em 1609. Opinaram os tecnicos da epoca que nadapodia scr feito para cvltar 0 desabamento. Nao adiantava m escoras,pois os muros "es tavam fora do compasso" . Dssse sistema de construiririam chegar atc ao nosso seculo varias igrejas, das quais restaram

o BAIRRO DA Sf'.

Page 144: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

unicamcntc c foram tombad as a tempo pclo Ministeno da Educacao,as magnfflcas amostras de Sao Miguel, Nossa Scnhora da Co ncclcao,de Votoruna, e Nossa Senhora do Rosario, do Embu .

Era urn processo tao adeq uado ao Continente que ainda hojc seconstrocm casas populares no Paraguai que correspondem as primitiv esmoradias rurais paullstas. Dai a suposlcao quase afirmativa de quena hist6ria da arquitetura de Sao Paulo esta a hist6ria geral da arqui­tetura do Brasil, como sugerc Tedim Barreto.

Para 0 Arqultcto LUIs Saia, no solar c capela do sitio de SantoAntonio reside, de fato e Incont estavelmente, a afirmacao de umaarquitetura ja genumamentc bra silcira , liberta dos canones do VelhoMundo.

Essas coisas ignoravam, ou nflo estavam amadurecidcs para ap re­cia-las, os govcm antes do rim do seculo, como conseqtiencia de umaconjugacao de acon tecimcntos fatais. 0 rush cafeeiro teve como con­sortc a abolicac e a imediata queda da monarquia . Houve a incvitavelmodif icacao dos quadros adminlstratlvos com repcrcussao no govem oda cidade. A Camara Municipal e reunid a e troca os names das ruas.A Rua do Impcrador passa a Marcchal Dcodoro. Da Impcratriz, aXV de Novembro. Da Princesa muda para Benjamin Con stant. DoCondcu d'Eu para Glicerlo. Do Principe para Oul ntino Bocaiuva.

No alvcrcccr do scculo a transformacao levada a cabo pelo Pre­Ieito Duprat Ioi muito combat ida, como arras registramos, pelo Enge­nheiro Alexandr e de Albuqu erque. Bstc elaborou projeto ligando a RuaFlorencio de Abreu, por meio de larga avenida, com a Brigadeiro LUISAntonio, at raves da Rua Sao Bento. 0 que seria rnais uma avenldamas nao uma sotucao.

o certo teria sido constru ir uma cidadc nova ao lado da antiga.

Evitaria 0 compactamento prcscnte, de muito dificil solucao. Estascndo dcmolida scm deixar pesar. De certo modo, representa apcnas

uma transicao aprc ssada . Nao tern mals a aureola da tradicao. Apre­scntava-sc como a mupa nova de jovem que esta em pleno crescimento.

Mas que ainda nao parou de crescer.

Desapareceram ate os vestfgios daquele correr de casas altas, de

sobrados, que em fins do seculo XV III formavam urn conjunto nobre,como cita Domin gos Lu is'

144 o BAIRHO DA Sf;

Page 145: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

A Rua Dircita consc rvara a grandeza des tempos em que nelahaviam morado Amador Bueno, Pedro Taqu cs de Almeida, Bar totomeuPa is Abreu, os comerciantes for tes. 0 Badia de Ticte Ii tivera ma­[estoso sobrado e nela ficava 0 chamado palacio de Nicolau Vergueiro.Regentc do Imperio. Em confor tavel ca sarao vivera 0 Coro nel Inaciode Sousa Ou elros, onde se processaram concili abutos precursore s daIndepcndencia. E em 1875 ali abria as portas 0 Banco Maua. Em18 l 9. Saint-Hi laire. tendo passado por Sao Paulo. registrava : "Ascasas (da Rua Dircita) sao de taipa mas soltdas e bern caiadas, comgrandcs verandas e em muitos adornava urn real aspccro de asscio econforto."

Exprimia urna evol ucao urba na acentuada. pais a pri mitiva cidadenao rivera ruas e sim cinco caminhos que iam se tomar. com 0 correrdos anos, as arterias principals, mantidas ate boj e.

Fora inicialmcnt e uma evolucno lcnta, que sc pod e afcrir peloconfronto de datas dos ccmiterios. Des Affitos, em 1818, instalado ,na Gloria. e que esteve aber to ate 1858, ano da abc rtura do Cemi­terlo da Consotecso.

o bairro que ia surgir em substi tuicao ao an tigo foi uma consc­quencia da conjuncao de tres fatc rcs: a riqueza do cafe, 0 advcntode con truto rcs italianos Integran do a grande massa de imigra ntespeninsulares e a necessldade de aplicar crcscentes ca pitais proporcio­nados pclo rush cafceiro.

Os peninsulares irnplao taram suas tecnicas. Erarn moradias este­rcotipadas, obcd ccendo a uma 56 planta. No comeco foram os mestres­de-ob ras com 0 celebre "Tratado" de Vignola. a que expllca a abun­dancia de Irontoes classicos e de platiband as em substltulcao aosacolhcdores beirais. Se elcs houvcsscm introduzido a galcria, tao cc­mum nas cidades italianas, teriam contribuido para urna cidade nco­Ihedora. construida pa ra ab rigar 0 pedes tre numa regiao onde cbove200 dias por ann , Eliminaram a bciral protetor. Em seu lugar a friaplatibanda classica, prop ria de terras de sol. Chegaram depois os arqui­tctos. Varies delcs cercados de fama, como G. T. Brussi, L. P ucci,Domiziano e Claud io Rossi. Bessl ou Bozzi, juntamente com Pucci,projetou 0 inicio do Monu mento do lptranga, com a planta e construcaodo predio do atua l Museu Paulista. Linhas neoclassicas. Projctaramainda 0 palacetc do Dr. Eulilio Costa, na Ru a Florencic de Abreu e 0

o BAmno DA SF: 145

Page 146: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

palaccte da Chacara do Carvalho, para 0 Consc1heiro Antonio Prado.Essa a razao da predominancia dos motives renasce ntistas ate nas vilasresidenciais, nas manszes das Iilhas do Conselheiro it Alameda AntonioPrado. Sucederam-se ondas de artlstas italianos e de grande numcro deexcclcntes decoradores, pintores e escultores. Muitos delcs Ioram aco­Ihidos no Liceu de Artes e Oficios . Ali ensinaram . Felisberto Rauzinic urn dos expoen tes dessa epoca e dessa turma. Danuziano, ao lado deRamos de Azevedo, coopera no projeto e construcao dos edificios daEscola Politecnica e da Escola Caetano de Campos. 0 conde florentineG iulio Mich eli, formado em Paris, chega com gra nde fama. Part icipoudas construcoes da Rua Lfbcro Badaro. Glusepc Chiapcrri , com 0

Conde Micheli, projeta 0 Viaduto de Santa Efigenia.

Chiaperri e Micheli acabaram forma ndo uma sociedade que tevc ascu ca rgo grandes cdiflcacocs do tempo. Como 0 Banco Frances eItaliano na Rua XV de Novembro c a Igreja de Santa Cecilia, alemde grande numcro de prcdios majcstosos para a epoca. Foram multoadmirados, entao. Mas tr adu ziam. afinal, nao 0 despr ezo, mas de ccrtomodo a ignorancia do antigo cstllo brasileiro, que co nstituia penosaexpcr lencla at raves dos seculos it procura de uma solucao sat isfa toria.E que acabara por sec cncontrada .

A influencia da Franca cstava tambem presente. Dominou emcerto momento a eharnada art nouveau, que teve 0 seu perfodo deesplendor, atestado pela abundancia de portoes, que ainda se veem naRua da Consola cao e vizin hancas da Estacao da Sorocabana . NoCemiterio da Consolacao h;i jazigos de art nouveau pura.

A mansao do Co nde Alvares Penteado, em Higicnopolis, e urnprimer no genero . La Iunciona atualmente a Faculdad e de Arquitetura .Constitui urn compendio completo do que foi esse t5.o discut ido estilo,dominante no comeco do scculo e que deixou exprcssocs incon tundtvclse perenes na arquitetura e na pintura.

A influencia de Pa ris iria , no entanto, alinhar na Rua LiberoBadaro uma seric de cdificios que pareciam safdos do Boulevard desCapuchins. S6 faltavam os platanos de Paris, para integral complcmc ntoda paisagcm. Pouco depols, Giovani Battista Bianchi chcgou. E tom ar­sc-la durante duas decade s 0 arquiteto da moda . Mocmente da pujantecolonia italiana, enriquecida com 0 cafe e na incipicnte industrianacional.

14. o 8." IRRO IH . St.

Page 147: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Bianchi tomou-sc 0 arquitcto de eleilrao da familia Matarazzo.Construiu 0 Hospital Humbcrto Pr imo, mais conhccido como HospitalMatarazzo, as mansOcs des Crespi. da Coadessa Mar ina, dos CondesAdriano e Raul. E 0 solar da Condessa Renata Crespi.

Chegcu a Sao Paulo em 191 1. Ficar am em evidcncia suas man­sees. Uma das mais Iamosas a Vila Monte Murro.

Tevc outros projetos famosos, inclusive na zona rural. Como naFazenda Santa Cruz, dos Crespi ainda. E a casa do Conde Crespi. emSanto Amaro. Deu novas formas as lnstalacoes industriais. £ citado 0

Nido, na Mooca, intcgrando 0 Cotonificio Crespi. Obra de 1935, foimuito comcntada na cpoca pcla Icvcza das colunas em arnplas janelas.

Pa r volta de 1930, acontcceu a eclosfto dos principios funcionaisda arquitctura modcm a. Do funclonallsmo racional, peste em Iocopcla vinda do arquitcto frances Corbusier . Flavin de Carvalho dcfendiaa ncccssldndc dn adocao de novos processos de construir e ficou emcvidencia com 0 audaz projcto para urn novo Palacio do Gove rno emlinhas ousadamentc Iunclonais. Gregori Warehawchik e Rino Levi iriamliderar com Palanti c Calab, depois, a nova fase das construcocs. Assolucecs arqultetonlcas cncontram amparo e ampla adocao, de quesao prova os novos arranha-ceus do centro.

EXEMPLOS

Na decada de 30 ainda existiam vencrandos sobrados no velhoestilo, com varanda de ferro trabalhado e rcca tada aparencia de rcsi­dencias de familia. Havia diversos na Rua Quintino Bocaiuva. Cerravez, 0 Arqul tcto Carlos Alberto Gomes Cardim comentou, desolado, adcsa lmada indlterenca com que era m pcrmit idas reformas scm gostonem respeito pelo equilibrio das linhas das antigas construczes. Naorcsta mals ncnhu m desscs nobrcs solares. Das antlgas mansoes, resta ,etualmentc, pclo Iatc de tee scrvido de cscriror lo a Companhia deGas, 0 pahicio da Marquess de Santos, junto ao edificio da Central dePolicia. Conscrvava Olinda ha poucos anos 0 largo portal que clavapassagcm as ca lccas puxndas por soberbas parclhas.

Ha dois anos a inda pod ia sc admirar urn sobrado tfpico pau lis­tano, cspecic de ultimo abc nccrragem de urn tipo de construcao c urn

o BAIRRO DA Sf: Hi

Page 148: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

estilo de vida . Fora rnansao de urn ramo de genre paulisla ilustre.Quando a centro sc tornou eminentcmentc comercial, foi alugado pclaantiga Sao Paulo Railway para scus escr itorios de dcsp achos ao criarurn service rodoviar ic complementa r.

Essa casa scrviu de residencia :is irmas de Jose Arouche deToledo Rondon, conhecidas como as "Meninas da Casa Verde", porquecram scnhoras da Iazcnda de Casa Verde, da qual resultou a denorni­na~ao prcscntc do pr6spero bairro da zona norte. Ficava na Travcssado Colegio. hoje Rua Anchieta. "Oferccia aspectos solarcngos, osten­tendo sacadas de ferro forjado e beirais salientes, com telhas vidradasde calha, como omamcnto. As janelas cram guamecidas de rctulaspintadas de verde. Tcriam tide a mesma c6r das dcrnais pccas demadeira da fachada", escreve 0 historiador Aureliano Leite.

As meninas da Casa Verde gozavam de grande prestigio. Seuirmiio Jose Arouche era . alcm de homem muito rico. diretor da Fa­culdade de Direito.

Jovens, "gcntis c fcstciras", conseguiram muita popularidade. JofioMendes e Azevedo Marques informarn que essas Irmas moravamscmpre juntas, na mesma casa. Eram conhecidas pclas mocas e depoisvelhas da Casa Verde."

No pcriodo de cstiagem iam passar longus temporadas na proprie­dade alem Ticte, quando amadureciam as jabuticabas e ofereciamscus ultimos frutos os abacatclros. Bsse era 0 sitio das mccas da casaverde da Travessa do Colegio.

Assim continuaram a ser conhecidas e tratadas. Ale que a juven­tude desertou, a velhice compareceu e a mar ie as levou. Picou 0 sitioque Ihes dora 0 nome. Coubcram em alguns palmos tie terra, elasque "possufam chao que nao acabava mais", como descendcntes deAmador Bueno.

Ja tinha side csqueclda sua ilustre ascendencia.

Amador Bueno e seu pai Bartolomeu Bueno haviam requendo eobtido a concessao de tres sesmarias. Como era uso, tinham casa navila, atua! hairro da SC. Amador na Rua Dircita. 0 invcntdrlo de Lou­renee de Siqueira (volume 13.0 de Inventarios e Tcslamentos) registraque aos 22 de abril de 1634 , 0 Ju iz dos Ortaos, Jeronimo Bueno, dcua Amador Bueno, a ganbo, vinte e cinco mil-rcis de dinheiro contadoC vai por ai afora ate a este ponte elucidative: "c 0 dito Amador

I4S o DAm no D:\ S£

Page 149: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Bueno se obrigou a 0 tirar a paz e a salvo ao dito seu Ciador e quepara compdmcnto do que dito elle hypothecava umas casas de doislances sobradadas que tern ncsta vila na rua que vai para 0 SantoAntonio, que partcm com Perc Goncalves Varcjao e Jorge Goncalves."

Essa dcnominacdo de "rua que val para 0 Santo Antonio" era 0

primeiro trccho da Rua Dlreita a partir do Patio do Colcgio.Seu descendente imediato - Amador Bueno da Veiga - tinha

grande casa com quintal que se prolongava ate ac Tamanduatei, comIrcntc para a Ladeira do Canno. Infonn a 0 historiador Aureliano Leiteque obieve informacocs compietas a respeito dos bens desse anccs­tral seu.

POLlTICA E ADMINISTRACAO

A partir do sccuto XIX 0 bairro da Se torna-se 0 nuclco de urnanova e impctuosa mct ropole que passa a ser conhccida como "A cidadeque mais cresce no mundo". Politica municipal e urna dccorrencia deIatores cconomicos de ceria modo prcmcntcs. A tccnica comparcce.Surge 0 urbanismo como ciencia no horizonte. Histor ia e urbanisrnose cntrelacam na narrativa.

Comeca 0 seculo XIX. Do bairro da Se comecam a scr guiados"Provincia" e "Municipio".

Ainda Sao Paulo nao conhecia prefeitos. £Ies foram criados pelaLei numero 18 de 1835. Estabclecia que os govemadorcs da cidadcpodcriam propor ao governo a nomcacfio de subprcfeitos para asIregucsias cxistentes e capelas curadas. Tra tava-se, pois, de racionalsubdivisao administrativa.

o Prcfeitc LUIs Antonio de Sousa Barros, paulista multo acatadopara 0 tempo, mal nomeado, logo propos a aomeacao de subprefeitospara as Iregueslas existemes e cram Santa Efigenia, Born Jesus do Bras.Conccicao dos Guarulbos. Nessa Senhora da Pcnha, Nessa Scnhorado 0 , Cotia, e Sao Bernardo. Erarn, pois, oito as Iregucsias. E matsa capcla curada do Embu.

Hoje, a maior parte dcssas subprcfcituras sao municipios. Mas,por urna reviravolta do destine integram, com muitas cutras mals. 0

Grande Sao Paulo. A Se, que era 0 RUelCO principal, dividia em duaspartes: Norte da Se e Sui da $C, para fins eleitorais. Os paulistanos do

o BAIRRO D.\. Sr. 14.

Page 150: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Nor te votava m no cdilicic da Cam ara, situado no Largo Municipal,qu e integra hoje 0 amplo logradouro conhccido como Praca JoaoMendes. Os paulistanos do Sui da Se voltava m no cdlffcio da Relacao,a Rua Boa Vista .

o PA<;O E 0 SENADO

Os prim6rd ios da administracao municipal Ioram de grande auste­ridade. E tambfm cminentcmcnte dcmocraticos. 0 Senado da Camara

tinha am plos e justificados pode res. Dele constava urn juiz, dois verea ­dores, urn procu rador do Concelho c urn almotaccl, ou sc]a, inspetor

de pesos c medldas, cabendo-Ihe ainda Iixar prccos de gcnero etabcla r scrvlcos. Dada a pobrcza inicial, nao havia paco. As reuniocs

rcalizavam-se na casa de urn dos cdls. E da pobreza des primcirostempos cxiste a prova do que acontcceu com Afonso Sardinha, mais

tarde urn dos homens mais rices de Sao Paulo. Senhor de minas deouro e numerosa cscrava rla . Alcgou nao podcr compareccr lis scssoesda Camara por nao ter botas decentes para calcar. No ultimo quartclraodo seculo XVI foi construlda urna casa de talpa, cujo descnho figuranum mapa dos arq uivos cspanho ls e serviu de inspiracao a urn descnho

de Wasth Rodrigues. Nela estavam reunidas scdc do municipio. com

sua casa de concelho e cadeia. Em 1619 estava instalado em casa

comprada a Francisco Ruiz Velho . Prcco: 40 mil-reis. Mas por falta

de obras ou defic iencia da consrrucao, quarent a anos dcpois ameacavaruina. 0 Senado da Camara rnudou -se para urn predio alugado. Sets­

centos e quarenta reis custava 0 aluguel.

No comeco do scculo XV III Iol iniciada a con..trucao do PaceMunicipal. Predio rcrmtnado em 1720. Serviu ate 0 fim do seculo,

quand o Ioi constru fdo novo Paco. No Patio de Sao Goncalo, ondepassou a Iunclonar . Em 1879 iria abrigar a Asscmbleia Provincial

q ue se tor nou Ca mara de Dcputados c Scnado paullsta, dcsde a

lmplanracao da Republica ate 1937. Quando foi projctado 0 aumeuto

do Largo Joao Mendes. 0 ed iffcio dcsapareccu. Em 1943 as picaretasdcmoliram-no. Ju ntamcnte com a Igreja dos Remedios, que Iicava de­

fron tc.

o IU. IRRO D:\. S£

Page 151: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Foi na Administracao Prestes Maia ( 1938-1945 ) que ganhouproje to da velha aspiracao do Pace Municipal, que reuniria todas asrepar ticocs do govemo paulista no c tambem a Ed ilidade .

Desapropriou a Prefeitura todos os imoveis que formavam 0

miolo do Ca rma, comprecndidos ent re a Rua de Santa Teresa e aRua Anita Ga ribaldi. E eonfinava embaixo com a Rua do Carmo eao alto com 0 Palacio da J ustice . Eram casas terreas em sua quase

toralidadc, de bciral de c6vado. Urn pcdaco arqul tetonic o do scculoXv l II. Quase lntacro. Ali funcionava uma porca o de oficinas erestauranres, entre eles 0 Posilipo, famoso pelos camaroes fritos. Foitudo derr ubado. 1<1. havia sido aberto e julgada concorrencia publicapara cscolha do projcto do edificio do Pace . Classificar-sc-ia emprimeiro lugar 0 trabalho de autoria de Antonio Severo, de Iinhasclassicas, muito do apreco do Prefeito Prcstes Maia.

o predio ia ser erguido no centro da praca, resultante da demo­licao das vc1has casas. E de que rcsuhou a Praca Clovis Bevilaqua.Felizmcntc, depots de aberta a praca acharam os tecnicos municipaisque a cidade prcclsava de amplo logradouro central e 0 Pace irlaprovccar sat uracso do trafego. 0 Vale do Anhangabau acabara depassar por grande rcforrna, rccebcndo 0 aspecto atual, de sala devisitas adcquada a uma grande metr6pole - definiu 0 EngenheiroConst antino Rodrigues, asslstcntc tecnico do Prcfeito Maia . Passoua Ialar-sc da nccessldade de urn fecho arq uitetonico ade quado para

o Vale do A uhangabau, em face de dois arranba-ceus cntao em fase

de construcao.

o prefeito entao resolvcu que 0 Pace Municipal fOsse construldono rope do pa rque c com esse objctivo desaproprio u a fileira de pre­dios cxistcntcs na convcrgencia da Rua de Santo Antonio com a

Rua de Santo Amaro, onde se abrc 0 atual jardim e funcionou 0

Teatro de Alumfnio, ali instalado na Adrninistracao Arruda Pereira ,scndo Sccrc tarlo da Ju stlca 0 advogado Nelson Marcondes do Amaral,

fate que provou vccmentes crfticas e acalouradas discussoes na Ca­

mara Mu nicipal.

Mas 0 Prcfeito Mala foi substituido pclo Sr. Abraiio Ribeiro.

o projcto do Pace passou por severa revlsao do prirneiro Sccretanode Obras, Engenheiro AmadeL Chegou a ser sugerida a cornpra do

o BAlRRO DA Sf: 151

Page 152: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

predio do c m , para ali sc instalar a Prefeitura a titulo provisorio,proposta repelida .

As obras do Pace Da O tiveram 100CIO. Ouarro ancs se passararn.Assumiu 0 Govemo municipal 0 Engenheiro Armando Arruda Pe­reira.

Uma de suas primelras preocupacocs foi a construcao do PaceMunicipal. 0 projeto, no entanto. ja era considerado superado. Acidade crescera. 0 bairro da Se tomo u-sc majestoso conjunto dearranha-ce us de esnlo Iuncional .

o Banco do Estado dcs'acava-se como urn dcsafio de 1940, a ideiado Pace foi posta de Indo. 0 Prefeiro Arruda Pereira, tcndo entradcem con tato com 0 Arquiteto Niemeyer, obrcvc dote urn projeto delinhas modernas. Era formada par urn quadrllatero com capacidadepara reccber todas as rcparticocs municipals, tendo ao lado umagrande cupula, dentro da qual iria funcionar a Camara Municipal,com umpla sala de scssocs e cspaco para as mult iplas comissocs e secre­taria-gcral. Aberta ccncorrencia, foi ganha pcla firma consrrutoraAlfredo Mat ias. Custo da obra completa: 380 milbocs dc cruzeiros

vclhos. 0 service de tcrr aplcnagem comecou. Mas houve clcicocs mu­nicipais . Foi eleito 0 Sr. Janie Ouadros. As obras paralisaram para

revisiio do projcto. E nada mais Ioi fcito. De novo prefeito 0 Engc­

nheiro Prestes Maia, 0 projeto foi reformul ado. A Caixa EconomicaFederal concedeu emprestimo de 300 milhoes de cruze iros para cons­

Iruc;ao do pavilhac destinado a Cam ara . As obras foram atacadas em

regime de administracao. Acabaram somentc em 1969. Importaram emmais de 15 milhoes de cruzeiros velbos. 0 edificio destinado ao Ga binete

do prcfelto e Secretarias Ioi amputado do projeto, por nan mais ser

aco nselbavel a sua instatacso em tal lugar em face da satc recso dotraf ego nos vlad utos c runs limitrofes.

o GOV£RNO MUNICIPA L

A Lei numero 18, de 1835, ia determiner profunda modirlcacao

no sistema adminis trat ive municipal pela criacao do cargo de prefeito,que nao cxistia na antiga leglslacao portuguese. Cbamou-sc Lei dos

152 o B.... IRRO 0:\ Sf:

Page 153: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Prefeitos . Esses novas govem antcs eram de nomeacao do chefe doGovern o.

A criacao de subprefeituras tinha Iinalidades estr itamente admi­nistrativas.

Flcava a ca rgo delas cuidar das nccessidadcs muis prcmentcs dasareas sob a sua jurisdicdo. Frontciras dcvidamente demarcadas.

Dentre os prefelros, asslnala ram-se por services prestados Lu isAntonio de Sousa Barros, J oaquim Lopes Guimaraes, Miguel AntunesGarcia, Brigadciro Joaquim Jose Morais de Abreu, Padre Pedro Gomesde Camargo.

Numerosos foram os subprcfeitos.

Mas esse sistema administrative niio contcntou. 0 cargo doprefeito era de nomeacno do prcsidcnre da Provincia . £::s IC devla obe­d iencia ao Co nselho-Gera l da Provincia. Era cmpossado pcla CamaraMunicipal. Ti nha que atc nder a injuncoes dos ed ls.

o chefc do Govemo da cidadc estava sujcito a dupla o rientacao.o mesmo aconrccia com os subprefcitos. No fundo, as dcclsoes careciamde apolo final dos Conselhos Municipais c des chcfes supremos daProvincia . E cram gra ndcs e freq iicntes os dcscntcndim cntos. Resultoudcsmoralizacao. a ponto de pcssoas nomeadas nac aceitarem os cargos,Iato rclatado nas mensagens anuais do prcsidente da Provincia aAsscmbleia Legislative. Com a proclamaceo da Republica, mudou .Surgiram, entao, os intcnd entes.

OS INTENDENTES

Representaram uma curta Iasc de translcao na administ racaomunicipal.

Em Sao Paulo, dissolvida a Camara Municipal , pclo Ato de 10de janeiro de 1890, tao logo fora proc lamada a Republica, Ioi criado

o Conselho de Intendencia composto de Clementine de Sousa c Castro,Antonio Pa is de Barros, Ca ndido Franco de Lacerda , J050 Alvares

Rubi iic Ju nior, Joao Batista de Melo Oliveira, Joaquim Paiao, Jose

Hipolito da Silva Dutra, Luis de Anhaia Melo e Manuel Lopes deOliveira.

o B.4.IRRO IH. SF: 153

Page 154: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Clementine de Sousa e Castro foi e1eito presidentc dcssa corpo­ral;ao, exercendo 0 cargo com aplausos ate dos edversdrios, segundoregistra almanaque da epoca, de 12 de janeiro de 1890 a 12 dedczcmbro de 1891 .

Prestou assinalados services, notadamente na organizacao corn­plcta da quallficacao elcitoral que scrviu para as elcicoes de deputadosa Constituinte e pr imeiras elei~Oes do Congresso Paulista, dcputadose senadores Iederais por Sao Paulo.

Com a saida de Clementine de Sousa e Castro, exerceram asJuncoes de lntendentes varlos vereadores, com Juncoes determinadas.As intcnde ncias tomaram-se uma cspecic de secretarla de hoje. Assim,Pedro Vicente de Azevedo Iol intedente de F inances. Joao Francode Camargo, de Obras Municipals . Braulio Gomes. de Higiene e Saud cPublica. Joao Alvares da Siqucira Bueno, da Justica c Policia.

As intendencias cram orgfl os executives . Cada uma delas Iormavauma sccrctaria. as poderes Executive s c Legislativos cstavam, ainda,con fusamcntc entrelacados. A Constituicao Federal de 1891 outorgavaa autonomia aos municlplos. Complete. Mas a Camara Municipal, comcxcrcfcio gratulto, elcita por voto popular , chamara a si as Iuncoesadministra tivas, elegendo os intendentes que deviam reger os destinesda cidade.

Com a Lei nemero 374 de 1898 era mc1hor organizado 0 governodo municipio. Volrou a criar 0 cargo de prcfeito como expressao doPodcr Execut ive. Mas que dcvia ser urn vereador cleito pelos seuspares . E mantinha quatro Intendencias. cujo preenchimemo era Ieitopclo Govemador da cidadc.

Dessa maneira fieou orga nizado 0 Govemo paulistano. Com E xe­cutlvo e Legislative ja separados . Embora scm a completa divisao

presente.Antonio Prado foi entao c1eito prefeito de Sao Paulo.

E dcsprezados por elc a s cargos de subprefcitos nascldos da lei

de 1836.De certo modo, todo 0 poder se conccrurave , cnt fio, na Ca mara

Mu nicipal.Sendo, afinal, 0 bairro da SC 0 coracao da mctr6polc, cabe de

ccrto modo aqui 0 rol des govemantcs paullstanos :

,5-1 o 8A.1RRO D A S~

Page 155: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Antonio da Silva Prado, 7-1-1889 a 15-1-1911 ;

Raimundo da Silva Duprat, 15-1-1911 a 14-1-1914 ;

Washington Luis Pereira de Sousa, 15-1-19 14 a 15-8-19 19;

Firminiano de Moraes Pinto, 15-1-1920 a 15-1-1926.

De 15-9-19 19 a 15-1-19 20, respondeu pclo expediente 0 Vice-Prefeito Alvaro Gomes da Rocha Azevedo.

Jose Pires do Rio, 15-1-1926 a 28-9-1930;

Jonquim Jose Cardoso de Melo Ne:o, 24-10-1930 a 5-12-1930;

Luis Anhaia Melo, 15-12-1 930 a 25-7-1931;Francisco Machado de Campos, 25-7-1931 a 13-11-1931;Luis Anhaia Melo, 13-11-1931 a 4-12-1931;Hcnrique Jorge Guedcs, 4-12-1931 a 23-5-1932;Godofrcdo da Silva Telcs, 23-5-1932 a 2-10- 1932;Teodoro Augusto Ramos, 28-12-1932 a 1-4-1933.

Ent re 3- 1Q..1932 e 28-12-1932, respondcu pelo cxpcd'iente a Enge­nheiro Artur Saboia , diretor de Obras, e Olinda nos pcriodos 1-4-1933a 22-5- 1933;

Osvatdo Gomes da Costa, 22-5-1933 a 31-7-1933;

Carlos dos Santos Gomes, 31-7-1933 a 2 1-8-1933 ;

Antonio Carlos de Assuncao, 21-8-1933 a 6-9- 1934;

Fabio da Silva Prado, 6-9-1934 a 24-4-1938;

Francisco Prestcs Maia, 7-5-1938 a 1Q..1I -1945 ;

Abra5.o Ribeiro, 10-11-1945 a 14-3-1947;

Cristiano S'ok fc r das Neves, 14-3-1947 a 29-8-1947 ;

Paulo Lauro, 28-8-1947 a 25-8-1948;

Millon Improta, 25-8-1948 a 3-1-1949;

Asdrubal Euryrisses da Cunha. 3-1-1949 a 27-2-1950;

Lincu Prestcs, 27-2-19 50 a 31-1-1951;

Armando Arruda Pereira, 1-12-1951 a 8-4-1953.

Scguiu-sc novo pcrfodo de instabllldade politica c succdcram-seos prcfeitos:

Janie da Silva Ouadros,

Porphyrio da Paz,

o B." IRRO DA SF: 155

Page 156: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

William Shakespeare Salem,

Line de Matos,

Wladimir de Toledo Piza.

A seguir volta a rcgularidade na sucessao municipal com:

Ademar de Barros, 1957-1961;

Prestes Maia, 1961-1965;

Faria Lima, 1965-1969.

A 8 de abril de 1969 expirou sen mandate, tendo sido nomeadoo Engcnheiro Paulo Salim Maluf para exerccr 0 cargo para 0 qualfora ccsignado pelo Gcvemador Abreu Sodre.

156 o H..\!RRO 1>:\. Sf:

Page 157: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

BIBLI OGRAFIA

A:\[AR AL ( R. JOUVIAXO ~ - 0 3 Pret04l do R03d rio

ARAUJO {Pe. DE USDE DIT ) - IA mpada3 do S aR IIl/i"io

A la./! da Camara .1I rmicipal d~ S. I'allio

AN CII IETA (J Ost DE~ - Cart as Jelfltit icalf

ALCANTARA MACHADO - V ida e Marte do Ua luleirante

ALM EIDA troxo ME NDE S DE) - Morwgrufia flo M /lJlicipio rlu C irlu.de de S. I' aulo

ARROYO ( LEON ARDO) - 19 rejas fie S. Pallia

AZE VE DO MARQUE S ( MANU E L EU FRASIO) - A po llla lllf'llt 03 Jli3'torieo.s, Geografico. e Elltat u t icoll

BAT ISTA PERE IRA - A Cido de de Allchietu

CALI XTO (B ENEDITO ) - Capitan Ui de I tanltai m

BARRETO (PAU LO TEDHI) - L igeira$ l\.·otall lIob1Y A rqllitet llrfl Colo­nial

CORDE IRO (J. P. LEIT E ) - A Criaf40 du Dioce3e de S. Pa lllo

BRUNO ( E RNAN I SI LVA) _ lI is Mria3 e T"udit;oes fla Cidade de S.Poulo

CARDI I\1 (I<'Jo;R NAO) - Missuo flo Padre Cris !Ot'uo Gouveia

CAMARGO (PA ULO F LORENCIO DA SI LVEIR A) - A Igre; fI 110

H istoria de S. Paulo.

COSTA ( LU CIO) - A A rq llit f'lllra Je.sllit it'a no Brasil

ELLI S (ALlo'RE DO) - 0 Ra ndciritnllO Pald ista

F ERRE IRA (T ITO LIVIO ~ _ H is toria do Civilizat;oo Rrallileira

o HA IRR O DA se 157

Page 158: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

F RE ITAS (A F ONSO A. DE ) - Diciondri c do .lhm icipio de S. Paldoe T radii;Of!S e Reminisoencia» Paulistas

GASPAR (BYRON) - R uas P ri nc ipaie de S . Faulo 110 A llo de 1822

UOLAN DA (S E RGIO BUARQUE ) - Capetae Ihltigas de S . Paulo

LE IT E (Pe. SE RAF IM ) - Hieteria da Com]!allhia de JCSIUl no Brasil

LER Y (J E AN DE) - H istotia de lima V iagcm a Tetra do Brasil

LE ME (LUfS GONZA GA DA SI LVA ) - Genealogia Palllista

MADRE DE DEUS ( lo' RE I GASP AR DA) - Mem oria 1)(ll"a a Capi/aniade S. V icen te

"IOURA (PAU LO CU RSINO) - S. Panlo de Outrora

MOURAO (CAR VAL HO) - Oil Munic ipios, enc I mpod allcia Politica

MALHEIR O DI AS (CARLO S ) - HistOria (la Colollizai;ao P01·tUgUesflJW Brasi l

MART INS (ANTO NIO EGID IO) - S . Paulo A ntigo

MOUT INHO (JOAQUI M FERREIRA) - N o,ficia sabre a Provincia deMatQ Grosso

OLIVEIRA (MACHADO ) - Quadro H ietorico da Prov incia de S . Paldo

PEREIRA DA CON CE H;AO (ALFREDO) - A Batalha de Ex pu'nsaQ. eUniriade do Bra8il

P ITTA (SE BAS TIAO DA ROCHA) - Hietoria da A merica

P I NTO (ADOLFO AU GUS T O) - A Catedral de S . Paldo

PIZZA (ANTON IO TOLEDO) - Documen /oR Intereseontc e

POM BO (JOSE F RAN CISC O ROCH A) - H istoric- do Brasil

SANTANA (NUTO) - Metr6pole

SANDE (ANT ONIO P AI S) - RelaMrio ao COJ18Clho Ult raman"no

SAVE LLI (MARIO) - H ietorico do Aprovcita mento de Agltas da RcgiaoFaul is /a

T AQUES (PEDRO DE AL ME IDA PAI S LEM E) - [n! tn'tnai;oell Ilobreas Minas de S. Paulo

TAU NAY (AFONSO D' ESCRAGNOLE ) - Hilltoria Sd sccntiata daVida de S . Paulo - S. Paulo nos Primeiros A noll

VASCONCE LOS {Pe. SIMIlO) _ Vida do V enenl vel Pad,'e Jose A nchiela

E mais elementos eolhldo s noll [om a ls Es/a do de S . Paulo, Did rio Popu-lar, Correia Paltlistano. Diario da Nott e.

Rev ist a (w AJ'quivo Municipal

Anais ria Camara Municipal

A nais do /Itnseu: Paltlis fa, Car tes c dates de te rrae.

v olumes de leis ap rovadas pelo Lcgi ajativo Municipal deade 0 inieio doseculo

Estudos de BRASIL BAND ECCH I e depoimentoa do historiador AURE­LlANO LEITE.

158 o BAIRRO DA ss

Page 159: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira

Esta ohm Coi COInposta e tcr minou-sc suaimprcssiio no roes de dczcmbro de mil nov e­ce ntes c sc tcnta c urn nus Oficinas d e Ar­tes Gnificas Disordi S. A" scndo Prdcitodo ~ funidpio de S1\o Paulo 0 Eng.o JoseCarlos de Figueiredo Fcrraz c Secretdric deEdnc acao e Cultum o Prof. Nathanael Pe­rei ra de Souza. Dirctor do Departamentode Cultura o Dr. Alberto Soares de Almeidac Chcfe do Arqu ivo JI istb riClJ 0 Prof.Eduardo de J. M. do Nascime nto C co rnAssistencia Tec nica do Sr. Jose des Santos.Intcw-u cia a sc ric de monograftas inhtu­ladns lIistarin de s Bairros de Silo Paulo,cscolbklas em concurso publico e prcmiadaspclo Departamento de Cullum da Sccrctariade Educacdo e Cultura da Prcfc itura doMunicipio de Sao Paulo. Edicdc do Depar­tame nto de Cultuea da Secretaria de Edu­car,:ao c Cultura da Prefc tturu do Muntciptode Sao Paulo - 1971.

Page 160: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira
Page 161: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira
Page 162: O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira