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Ano XXIV Nº 298 junho de 2014 “Para o companheiro Adriano Nogueira com a maior simpatia e esperança em nossa luta.”, dedicatória do livro Verdade & Liberdade , de Patrícia Galvão, datada de 1951, ao editor do Linguagem Viva que faleceu há uma década, no dia 23 de junho. Verdade & Liberdade, Co mité Pró Candidatura Patrícia Galvão, publicado em 1950, foi oferecido ao Adriano quando Pagu esteve em Piracicaba para proferir uma conf erência e debate público com os companheiros de legenda, em 1951. Adriano a convidou em nome do Diretório Municipal do Partido Socialista Brasileiro. O Companheiro Adriano Nogueira Rosani Abou Adal Adriano Nogueira editou o Linguagem Vi va comigo, desde a fundação do jornal, em setembro de 1989, até a edição nº 178, junho de 2004, que circulou dias antes do seu falecimento. Conheci Adriano em 1986, em São Paulo, na s ede da UBE, Rua 24 de Maio, 250. Ele estava em companhia do saudoso Almeida Fischer - seu primo-, e me foi apresentado por Caio Porfírio Car neir o. Na época ele trabalhava no Tribunal Regional Eleitoral, Rua Franc isca Miquelina, 123. Morava na Rua Cel. Xavier de Toledo, 264, no prédio da Livraria Brandão, e passava os finais de semana em Piracicaba. Toda quarta, no barzinho do “tio Franco”, na UBE, era o ponto de encontro dos intelectuais e escritores brasileiros. A boemia e os ideais literários nos uniram. Os encontros pelos bares e restaurantes da cidade eram constantes. Fischer vinha com frequência para São Paulo e ficava hospedado na casa do Adriano. Na época tinha um Corcel II - o Johnny Alf - que nos conduzia para todos os cantos da cidade. Era mais que um carro e quase virou patrimônio da intelectualidade. Foi o Johnny que me c onduziu, pela primeira vez, à terrinha que adoro tanto. A amizade se consolidou. Resolvemos editar o LV numa boemia do Eldorado Boulevard. As reuniões de pauta do jornal eram realizadas na Leiteria Americ ana, no Bar Brahma e no Restaurante Parreirinha. Depois estendíamos a noitada para o Eldorado Boulevard, Café do Bexiga e Café Piu-Piu. Fechávamos o jornal nos finais de semana. Ficava hos pedada na sua casa, Rua Padre Conceição Meireles, 158. Era bem recebida pelos irmãos ‘Guga’, Iulda e Terez inha que morav am com ele. Logo mais chegavam os irmãos ‘Panhol’ e ‘Tito’ e as esposas Mercedes e Célia. Não havia computador. Tudo era na máquina de escrever e a diagramação, manual, com a régua de paica. A boemia piracicabana começava no saudoso Restaurante Brasserie, Praça José Bonifácio, 905. Choppinho bem tirado, com o colarinho na medida certa. No final era só contar as bolachas e pagar a conta. Tinha uma turminha boa que se r eunia lá, como o saudoso Henrique Cocenza que nos alegrava com os seus causos. Tempinho bom que não volta mais. Ainda bem está sempre vivo na lembrança. Pir acicaba passou a ser minha terrinha. Acho que fui adotada caipiracicabana, como dizia o vate João Chiarini. Adriano Nogueira, advogado, intelectual e escritor, nasceu em Piracicaba, Estado de São Paulo, a 8 de setembro de 1928. Colaborou, desde 1948, em jornais de Piracicaba e região. Na Faculdade de Direito, em Piracicaba, editou o jornal Thesis e foi Presidente do Diretório Acadêmico. Exerceu o cargo de Secretário da Academia Piracicabana de Letras e de Diretor da União Brasileira de Es critores. Publicou apenas um livro: Registros Literários, em 1998, pela Scortecci Editora. Segundo Caio Porfírio Carneiro, no prefácio da obra, “Temos neste livro muito da história cultural piracicabana e muito da Rosani Abou Adal é vice-presidente do Sindicato dos Escritores do Estado de São Paulo. www.escritorsp.org/ Almeida Fischer, Adriano Nogueira, Samuel Penido e Rosani, no Restaurante Um, Dois Feijão com Arroz, em São Paulo. Fábio Fischer história do País. O fecho da obra, onde o autor estuda aspectos políticos na vida de Euclides da Cunha, é um achado, porque vem provar, neste arremate, que Adriano, para além do seu estilo elegante, para além do cronista, do historiador e pesquisador das nossas letras, é um analista minucioso e preciso de qualquer tema que aborde.” Par a Adriano, Registros Literários é uma extensão do seu trabalho no jornal Linguagem Viva. Sempre se preocupou mais com os outros. Um ser humano que estava sempre disposto para ajudar, dividir, compartilhar e estender as mãos. Socialista e democrata de verdade. Pagu soube bem designá-lo no autógrafo. Companheiro é a melhor palavra para denominar o dileto amigo, porque sempre será o companheiro de lutas, da Literatura, do Linguagem Viva e da vida. Não vou pedir um minuto de silêncio, porque a luta continua e não devemos perder a esperança. Vale lembrar a quadrinha que era cantada pelos camaradas: “Companheir o me ajude Que eu não pos so cantar só. Eu soz inho canto bem, Com você canto melhor.”

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Ano XXIV Nº 298 junho de 2014

“Para o companheiro AdrianoNogueira com a maior simpatia eesperança em nossa luta.” ,dedicatór ia do livro Verdade &Lib erdade, de Patr íc ia Galvão,datada de 1951, ao editor doLi nguagem Vi va que f aleceu háuma década, no dia 23 de junho.

Verdade & Liberdade, ComitéPró Candidatura Patrícia Galvão,publicado em 1950, foi oferecido aoAdriano quando Pagu es teve emPirac icaba para prof er ir umaconf erência e debate público comos companheiros de legenda, em1951. Adriano a convidou em nomedo Diretór io Municipal do Par tidoSocialista Brasileiro.

O Companheiro Adriano NogueiraRosani Abou Adal A driano Nogueira editou o

Linguagem Vi va comigo, desde afundação do jornal, em setembro de1989, até a edição nº 178, junho de2004, que circulou dias antes do seufalecimento.

Conheci Adriano em 1986, emSão Paulo, na sede da UBE, Rua24 de Maio, 250. Ele es tava emcompanhia do saudoso A lmeidaFischer - seu pr imo- , e me foiapresentado por Caio Por f ír ioCarneiro.

Na época ele trabalhava noTribunal Regional Eleitoral, RuaFranc isca Miquelina, 123. Moravana Rua Cel. Xavier de Toledo, 264,no prédio da Liv rar ia Brandão, epassava os f inais de semana emPiracicaba.

Toda quarta, no barzinho do “tioFranco”, na UBE, era o ponto deencontro dos intelec tuais eescritores brasileiros.

A boemia e os ideais literáriosnos uniram. Os encontros pelosbares e restaurantes da c idadeeram constantes.

Fischer vinha com frequênciapara São Paulo e f icava hospedadona casa do Adriano. Na época tinhaum Corcel II - o Johnny Alf - que nosconduzia para todos os cantos dacidade. Era mais que um carro equase v irou patr imônio daintelectualidade. Foi o Johnny queme conduziu, pela primeira vez, àterrinha que adoro tanto.

A amizade se consolidou.Resolvemos editar o LV numaboemia do Eldorado Boulevard. Asreuniões de pauta do jornal eramrealizadas na Leiteria Americana,no Bar Brahma e no RestauranteParreirinha. Depois estendíamos anoitada para o Eldorado Boulevard,Café do Bexiga e Café Piu-Piu.

Fechávamos o jornal nos f inaisde semana. Ficava hospedada nasua casa, Rua Padre ConceiçãoMeireles , 158. Era bem recebidapelos irmãos ‘Guga ’, Iulda eTerez inha que moravam com ele.Logo mais chegavam os irmãos‘Panhol’ e ‘Tito ’ e as esposasMercedes e Cé lia.

Não hav ia computador. Tudoera na máquina de escrever e adiagramação, manual, com a réguade paica.

A boemia pirac icabanacomeçava no saudoso RestauranteBrasserie, Praça José Bonif ácio,905. Choppinho bem tirado, com ocolarinho na medida certa. No f inalera só contar as bolachas e pagara conta. Tinha uma turminha boaque se reunia lá, como o saudosoHenrique Cocenza que nos alegravacom os seus causos.

Tempinho bom que não voltamais. Ainda bem está sempre vivona lembrança. Piracicaba passou aser minha terrinha. Acho que f uiadotada caipirac icabana, comodizia o vate João Chiarini.

Adriano Nogueira, advogado,intelec tual e esc ritor, nasceu emPiracicaba, Estado de São Paulo,a 8 de setembro de 1928.Colaborou, desde 1948, em jornaisde Piracicaba e região. NaFaculdade de Direito, emPiracicaba, editou o jornal Thesis ef oi Presidente do Diretór ioAcadêmico. Exerceu o cargo deSecretário da A cademiaPiracicabana de Letras e de Diretorda União Brasileira de Escritores.

Publicou apenas um livro:Registros Literários, em 1998, pelaScortecci Editora.

Segundo Caio Por f ír ioCarneiro, no prefác io da obra,“Temos neste livro muito da históriacultural piracicabana e muito da

Rosani Abou Adal é v ice-presidentedo Sindicato dos Escritores do

Estado de São Paulo.www.escritorsp.org/

Almeida Fischer, Adriano Nogueira, Samuel Penido e Rosani, noRestaurante Um, Dois Feijão com Arroz, em São Paulo.

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histór ia do País. O fecho da obra,onde o autor es tuda aspectospolí ticos na v ida de Euc lides daCunha, é um achado, porque vemprovar, neste arremate, que Adriano,para além do seu es tilo elegante,para além do c ronis ta, dohistor iador e pesquisador dasnossas letras , é um analis taminucioso e preciso de qualquertema que aborde.”

Para Adr iano, Regis trosLiterários é uma extensão do seutrabalho no jornal Linguagem Viva.

Sempre se preocupou maiscom os outros. Um ser humano quees tava sempre dispos to paraajudar, div idir, compartilhar eestender as mãos . Socialis ta edemocrata de verdade.

Pagu soube bem designá-lo noautógrafo. Companheiro é a melhorpalav ra para denominar o diletoamigo, porque sempre será ocompanheiro de lutas, da Literatura,do Linguagem Viva e da vida.

Não vou pedir um minuto desilêncio, porque a luta continua enão devemos perder a esperança.

Vale lembrar a quadrinha queera cantada pelos camaradas:

“Companheiro me ajudeQue eu não posso cantar só.Eu soz inho canto bem,Com você canto melhor.”

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Não viveram os que f icaramcorroídos pela inv eja do sucesso dealguém e se encheram de despeito.

Não viveram os que sempreentupiram os seus corações com omais mons truoso dos ódiosirracionais.

Não viveram os que nuncasentiram a presença silenc iosa eemocionante da saudade.

Não viveram os que não sesolidarizaram com os sofredores e osconsolaram.

Não viveram os que procuraramcorromper a pureza, a inocência, asvirtudes, esmagando beija-f lores,lírios, camélias e rosas.

Não v iveram os que nãoacaric iaram uma c r iança, não abeijaram, não brincaram com ela, oulhe negaram um sorriso, uma palavrade ternura.

Não viveram os que, em nomeda verdade, des truíramestupidamente as ilusões das almasingênuas e sonhadoras.

Não viveram os que aplaudiramcom c inismo o er ro, o v íc io, ainjus tiça, o roubo, o c r ime, avenalidade, a cor rupção, aprostituição.

Não v iveram os que nãoamaram a cultura, a mús ica, apoesia, a obra de arte, a beleza.

Não viveram os incapazes de terpena de um inf eliz , de umdesgraçado, e que transformaram osseus corações em barras de gelo.

Não viveram os egocêntricos,que se preocuparam apenas com oseu bem-estar e f izeram de suasvidas uma auto-idolatria, sem ligarpara mais ninguém.

Não v iveram os jovens quezombaram dos velhos , e osdesrespeitaram com a impaciência,a injúr ia, os c retinos atos degrosseria.

Não viveram os mesquinhos,que se mostraram pequeninos nomodo de agir em relação aos nossossemelhantes e jamais tiveram umgesto de nobreza, de altruísmo, dedesprendimento.

Não viveram os que só queriam“relaxar e gozar” e que acharam queo principal é encher o estômago,dormir bem, defecar bem e ter voraze insaciável apetite sexual.

Estes não viveram!

Fernando Jorge

Fernando Jorge é escritor,jornalista, historiador, biógrafo,crítico literário e dicionarista.

www.fernandojorge.com/

“As torturas a que me submeteram, nosporões do Doi-Codi, deixaram sequelas queaté hoje não consigo avaliar com precisão.Mas creio que o seu efeito mais perverso éuma sensação insuperável de isolamento,um sentimento de solidão que se ins taloupara sempre.” (Rodolf o Konder (1938-2014)

“Sem querer parece piegas, havia umcomprometimento com o coletivo nos anos1960-1970, especialmente dos jovens, quenão faz muito sentido hoje. Os caras iampara a c landestinidade, muitos mor riam,eram torturados, abdic avam de vida pessoal,de carreira, f ilhos, porque acreditavam numacoisa” (Wagner Moura, ator bras ileironasc ido em 1976)

“Ele não poderia esc rever algo mais leve?”, um ( raro) leitor seperguntará. Poderia. Mas, hoje, rápida e fragmentariamente, queria meditarsobre algo: toda a tecnologia, não conseguiu expurgar o sentimento de“ilhamento” entre as pessoas, de solidão individual, de busca (de muitos)pela droga para f ugir do real. Não é monumentalizar uma geração. Adiscussão política é rala, superf icial, um Fla-Flu. Todos parecem só gostarde mexer em celulares. Lêem? O sentimento real de amizade (não virtual)parece abandonado. Pess imismo? Olhem ao redor. Quando ref lito, talpos tura não s ignif ica pessimismo. A vida é o valor maior – perdoem olugar comum. Várias vezes, escrevendo, escutava (como escuto agora),o canto de pássaros. O dia está azul. Es ta geração (citada ac ima)“fracassou? Como diria mestre Darcy Ribeiro, não queria estar ao ladodos que “ganharam. Ganharam? Empobrecimento espiritual, desigualdade,brutalidade nas relações, violência generalizada – e o golpe de 64 temenorme responsabilidade neste doloroso processo.Continuemos. Não peçoque aceitem o que eu digo. Mas que reflitam. Só isso: reflitam!

PS: O ator citado na epígraf e, f ilmará a vida de Carlos Marighella(1911-1969). Diz Moura: “É um filme sobre sacrif ício. Ele tinha uma visãoaguçada do f uturo, com muita lucidez, um dos únicos a entender, antesdo golpe, que a chapa ia esquentar muito. O herói que eu gosto de ver éesse, e que caminha para um destino trágico com altivez.”

FRAGMENTÁRIAS REFLEXÕESEm Memória de Dom Tomás Balduíno, com quem mantive

fecundo e proveitoso diálogo em Goiás Velho (Go)

Emanuel Medeiros Vieira

Dedicado à memória do inesquecível Rodolfo Konder

Não v iveram os que só sepreocuparam com os bens materiais,em detrimento dos bens espirituais,e que converteram os seus coraçõesem metálicas caixas registradoras,cujo som é assim: dinheiro, dinheiro,dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro,dinheiro, dinheiro, dinheiro.

Não viveram os que, praticandouma ação vil, traíram a conf iança dequem neles ac reditava e assimemporcalharam as suas almas ,cobrindo-as com f edorentos mantosde excremento.

Não v iveram os f alsos , oshipócritas, que Cristo comparou a“sepulc ros brancos , caiados porfora, mas cheios de ossos de mortose de podridão por dentro”.

Não v iveram os que f oramracistas, preconceituosos, e que pororgulho tolo, por se sentiremsuper iores , humilharam emaltrataram pessoas.

Não v iveram os que nãosentiram a dor indescritível de perder,levada pela mor te, uma pessoaquerida, pois como disse o poetaFrancisco Otaviano, em versos nosquais a verdade resplandece:

Quem passou pelavida em brancanuvem e em plácidorepouso adormeceu,quem não sentiuo frio da desgraça,quem pass ou pela vida e não sofreu,foi espectro dehomem, não foihomem, só passoupela vida, não viveu.

Meus amigos , v iver éemocionar-se, no bom sentido, ésentir que temos alma, amor, sonhos,esperanças, coração, lágr imas ,bondade, piedade, saudade. Quemnão possui tudo isto não está vivo, écomo um campo desprov ido deflores, árvores, pássaros, sombrasaconchegantes , só habitado porvermes , ossadas , escorpiões ,mortíferas cobras geradas na regiãodo horror e do espanto.

Emanuel Medeiros Vieira é escritor, poeta, contista e romancista.

Rodolfo Konder

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Poemas: II Antologia - 2008 - CANTO DO POETA

Trovas: II Antologia - 2008 - ESPIRAL DE TROVAS

Haicais: II Antologia - 2008 - HAICAIS AO SOL

Débora Novaes de Castro

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Poemas: GOTAS DE SOL - SONHO AZUL - MOMENTOS- CATAVENTO - SINFONIA DO INFINITO –

COLETÂNEA PRIMAVERA - AMARELINHA - MARES AFORA...

Antologias:

Haicais: SOPRAR DAS AREIAS - ALJÒFARES - SEMENTES -CHÃO DE PITANGAS -100 HAICAIS BRASILEIROS

Poemas Devocionais: UM VASO NOVO...

Trovas: DAS ÁGUAS DO MEU TELHADO

Conheci Adriano Nogueira no ano de1971, nos corredores da Faculdadede Direito do IEP (atual UNIMEP) ,

quando de seu ingresso no então Curso de Ci-ênc ias Jur ídicas e Sociais , do qual era eusegundanis ta.

Coleguismo de acadêmicos, a princípio, dis-cutindo questões ligadas ora com o andamentodos estudos, ora com a demora de reconheci-mento da Faculdade pelo MEC, ora fazendo di-gressões sobre os chamados “anos de chum-bo” e padecendo juntos da mesma asf ixia deideias, ideais e sonhos da juventude da época,impos ta pela ditadura militar.

Mas, apesar disso, hav ia espaço tambémpara as noites degustadas e bebericadas nasconfraternizações do Diretór io Acadêmico deDireito, ali na Rua Rangel Pestana, num tempoem que cada Faculdade tinha o seu própr ioDiretór io, e nes te era poss ível perceber osurgimento do sentimento mais puro que identi-f ica o universo estudantil : o espírito acadêmico,esse substrato mágico que permeia a diversida-de de indivíduos, e acaba por uni-los para sem-pre num magma de amizade e afeição.

Algum tempo após nossas formaturas, vol-tamos a ombrear em novas lutas, desta vezcomo profiss ionais do Direito, par ticipando domesmo escritório de advocacia, convívio esseque perdurou por pouco tempo, quando Adrianodecidiu-se pelo funcionalismo público, ingressan-do no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, eali permaneceu até sua aposentadoria, após oque entregou-se de corpo e alma ao magníf icoprojeto da criação e edição do Jornal literário “Lin-guagem Viva”, em parceria com a poetisa RosaniAbou Adal.

Na verdade, nem foram longos meus tem-pos de convivência com a pessoa de Adriano No-gueira, afastados pela distância entre São Pauloe Piracicaba e pela diversidade das atividadesque exercíamos. No entanto, se a convivêncianão foi ex tensa, nem por isso o liame surgidonos bancos acadêmicos deixou de se consoli-

Um Acadêmico BissextoJoão Baptista de Souza Negreiros Athayde

João Baptista de Souza Negreiros Athaydeé advogado, escritor e membro da Cadeira

n° 34, Patrono: Adriano Nogueira, daAcademia Piracicabana de Letras.

dar no tempo e com o tempo,na medida em que os raros re-encontros serv iam para reno-var sempre a substância e iden-t idade daquela amizade. Em1985, convidei-o para padrinhode meu primogênito Marco Au-rélio.

Estranho que, embora di-vergíssemos sempre em ter-mos de ideologias políticas, talfato não provocava nenhumdis tanciamento entre nós, tal-vez porque cult ivássemos amesma pureza de ideais e por-que bem compreendíamos ainfância dos nossos sonhos.

Nem mesmo a política es-tudantil nos abalava. Basta di-zer que foi para ele que perdi,pela primeira vez, uma eleição estudantil, e jus-tamente quando disputamos a pres idência doDiretório A cadêmico da Faculdade de Direito.Lembro-me de que, sem nenhuma amargura,nenhuma mágoa, acompanhei-o na comemora-ção dessa vitória, ali no Bigeto, em noite memo-rável de amizade e descontração, e sobretudo,de respeito mútuo.

Adriano era, na verdade, uma grande alma,dessas almas grandes que dignif icam osubstrato de humanidade que existe em cada umde nós; e como convém às almas dessa nature-za, era um homem simples em todos os aspec-tos : no modo de ser, de falar, de vestir, de convi-ver.

Era um literato, e conhecia a fundo o univer-so das letras, sem nunca dar-se ares de estu-dada intelec tualidade. Era um poeta, e definíssima sensibilidade; e, embora pouco se te-nha dedicado a tr ilhar as diáfanas veredas deParnaso, deixou-nos pérolas encantadoras, de-monstrando rara criatividade e inspiração poéti-cas.

Piracicabano apaixonado por sua terra, nãoeconomizava homenagens aos grandes valoresmorais e intelectuais que aqui pontif icaram, cul-minando por publicar o seu “Regis tros Literári-

os”, divulgando nomes e obras de poetas e es-critores locais que, ao longo do tempo, dignif ica-ram as letras piracicabanas. Não pode, contu-do, concluir o projeto de publicar outras ediçõesdessa obra, com que ampliaria o registro do pa-norama da Arte Literária de Piracicaba. Faleceuantes disso, deixando interminado o trabalho.

Tenho para mim que a escolha de seu nomepara Patrono da Cadeira nº 34 da nova Acade-mia Piracicabana de Letras resultou de ato damais pura justiça, posto que esta se patenteiaquando, mesmo no universo das paixões huma-nas, vislumbra-se o reconhecimento da legitimi-dade do verdadeiro mérito.

E a mim, a quem coube a honra de poderescolher ADRIANO NOGUEIRA por meu Patronona Galeria de Acadêmicos da APL, resta-me ocompromisso e a responsabilidade de dignif icar-lhe o nome, e esforçar-me por fazer jus à suadimensão como pessoa, como cidadão, comoprofissional e, também, como inesquecível lite-rato.

Athayde e Adriano Nogueira na reunião do CLIP -Centro Literário de Piracicaba

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Desde o tempo em que o temponão t inha pressa de passar,Sebastião Wences lau Borges viroumexeu em seus “baús delembranças”, reuniu algumas emliv ro, e nos brindou com o seuMemoriando, já na quarta edição,fato não muito costumeiro por aquinessas bandas das gerais . OMemor iando nos chegou ass imdevagarzinho, como que a pedirlicença para um proseio, foi seajeitando e encontrou o seu lugarentre os leitores passenses ,conquistando-os.

Nós, que nascemos há algunsanos(Melhor não dizer quantos) Mascomo diz ia, nascemos nos temposem que se amarrava cachorro comlingü iça e botava a raposa paravigiar as galinhas , em qualquercidade interiorana do nosso Brasil,nos identif icamos com esses causosmas contá- los como o Tiãosapateiro,só ele mesmo é capaz defazê-lo com tanta ternura para quegerações atuais saibam como eramos costumes daquele tempo e nós,contemporâneos do Tião, tenhamosa oportunidade de relembrar coisassupos tamente esquecidas . Naprimeira edição do seu Memoriandoeu havia dito que aquele livro era umtesouro guardado em baú delembranças e acreditava que noref er ido baú ainda havia muitasrelíquias . E eis que agora oSebas tião revira o Baú e retiralembranças que dormitavam lá e nos

Então Vamos Prosear

Caio Porfírio Carneiro é escritor, contista, historiador e membrodo Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.

Caio Porfírio Carneiro

IPaula,Pensei muito em lhe escrever. Pensei muito, noites seguidas, em lhe

telefonar. Pensei muito em lhe esperar no ponto do ônibus. Pensei muitoem ir esperá-la na saída do trabalho. Pensei, pensei, pensei, e, pensandobem, resolvi esc rever. Não sei se foi o pensamento mais correto.

Pensei, pensei, pensei muito em você. Isto diz tudo, penso eu.PedroIIPedro,Você pensa demais. Eu não penso nada.Paula

DUAS CARTAS

of erece, como bom contador decausos, outro tesouro,o Proseando,cujo título se adequa perfeitamenteao livro pois a leitura nos faz sentircomo se assentás semos ao lado doTião para um dedo de prosa e com acerteza de que outros encontrosdesses ainda acontecerão, históriasé o que não vão f altar visto que oautor valoriza aquilo que tem, noentanto suas lembranças não sãonostálgicas, mas a cada citação dávontade de repetir Luiz GuimaraesJunior em sua V isista à Casa Paterna,no verso;”Oh se me lembro, equanto”!

Vale lembrar a maneira de seexpressar do Sebastião,o seu jeitode buscar coisas passadas e trazê-las ao presente, numa linguagemsimples e gostosa de ler, o seu jeitoobservador como se es tivessepresente ali onde os f atos sepassaram, muitos pontos danarrativa nos remetem a algunscontos de Monteiro Lobato, aqueleque disse que “Um país se faz comhomens e com livros.”

Tião nos faz partícipe de suasmemór ias dos verdes anos masdepois cresceu, namorou, casou, éesposo, pai, sogro, avô e tornou-seesc ritor e hoje a Associação dosEsc ritores de Passos e região seorgulha em tê-lo como um dos seusmembros fundadores.Até o próximoencontro, certamente em outro livro.

Hilda Gouveia

Hilda Gouv eia é escritora,professora e membro da Academia

de Letras de Taguatinga e daAssociação Nacional de Escritores.

Conheci esseser humanoespec ial no

Centro Literár io dePiracicaba – CLIP.

Sempre de bem coma vida, alegre, dono de umaenergia invejável. Adoravaviajar, frequentar festas eeventos literários em boascompanhias.

Gostava de contarcasos, falar sobre literatura,sempre um bom papo,culto e bem inf ormado,pois lia diar iamente osjornais de grande c irculaçãonacional e todos os da terrinha.

Um gentleman como poucos,raridade que não se encontra maishoje em dia, daqueles que beijam amão das mulheres e sempre cedemo lugar.

Costumava presentear aspessoas que lhe eram caras compequenos mimos e livros. Quandosoube que minha f ilha jornalistaes tava esc revendo sua tese demestrado sobre Joel Silveira, trouxede presente para ela uma coleçãode livros desse autor.

Sabia da minha paixão poranimais e sempre me env iavalivros, publicações e curiosidadessobre o assunto. Par tic ipavaativamente de discussões e faziaparte de diversas entidadesculturais. Assíduo frequentador debibliotecas e feiras de livros.

Amou a vida e ela lhe deu o quetinha de melhor. Era, como se diz,um “bon vivant”.

Dez anos sem Adriano NogueiraIvana Maria França de Negri

Deixou uma legião de amigos,e essa saudade doída que, com otempo, virou doce lembrança.

Soube aproveitar muito bem av ida até os últ imos ins tantes ,quando o coração de poeta,pressionado pelas atribuições eemoções v iv idas ao longo daexistência, recusou-se a bater.

Seu gatinho preto, tão bemtratado e mimado, f icou órf ão deseus car inhos e os amigos selembrarão para sempre de suaimagem meiga, por tantoexemplares do Linguagem Viva embaixo do braço para distribuir.

O Clip f icou empobrec ido semsua presença. Voe em paz, amigo,no galope alado da poesia. Um diaa gente se encontra!

Ivana Negri integra o CentroLiterário de Pir acicaba, o GrupoOficina Literária e a Academia

Piracicabana de Letras.

Adriano, Rosani, Fábio Lucas eEv aldo Vicente, 10 anos do LV.

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1964, o livro-depoimento escrito por Almino Affonso

Quem viveu, viu. E quemv iu e par t ic ipou,consegue assegurar

um elo privilegiado na corrente dahistória.

A impor tânc ia desse livro –1964 na vi são do mi nis tro doTrabalho de João Goulart – AlminoAffonso – o mais recentelançamento es te ano da ImprensaOficial do Estado de São Paulo, nãose restringe apenas ao período dogolpe militar, nem se atém aospr inc ipais personagens quebloquearam o processodemocrát ico e tentaram perpetuaro arbítrio, as tor turas e os óbitos.

Tampouco, se res tringe aopapel daqueles que articularam aresis tência até As di retas-já e areconquista da legalidade. Ao longode suas 673 páginas desf ilam osfatos dos quais o autor participou,analisou ou tes temunhou e ospersonagens que ele conheceu.Amazonense nascido em Humaitáem 1929, formado em Direito pelaFaculdade de Direito da USP, eleitodeputado f ederal em 1959 enomeado ministro do Trabalho pelopresidente João Goulart em 1963,A lmino teve os seus direitospolí ticos suspensos por dez anose f icou ex ilado na Iugos lávia,Uruguai, Chile, Peru e Argentina, aolongo de 12 anos.

Como ministro, e como líder doantigo PTB no Parlamento, Alminoreconhece: “Meu liv ro é umtestemunho”. E é na condição detestemunha que ele vem saldar,com essa obra, nas palavras doesc ritor Fernando Morais , “umadívida de mais de tr inta anoscontraída com a memór iabrasileira”.

O mov imento que desaguouem “1964” nasceu muito antes doano do golpe. As forças contráriasao modelo de desenvolv imento doPaís v inham se agrupando eocupando terreno previamente àcampanha do “Petróleo é nosso”.Mesmo antes do retorno de GetúlioVargas ao poder,em 1950, Car losLacerda já provocava, através dojornal Tribuna da Imprensa: “O Sr.Getúlio Vargas, senador, não deveser candidato à Pres idência.Candidato, não deve ser eleito.Eleito, não deve tomar posse.Empossado, devemos recorrer àrevolução para impedi- lo degovernar.”

Essa linha de raciocínio estavadifundida entre os que secontrapunham à c riação daPetrobras e da Eletrobrás ,justamente as duas maioresempresas que f ixariam o patamardo desenvolvimento brasileiro naépoca. Embora jogados às cordaspela carta- tes tamento de GetúlioVargas , eles reagiram e se

Rosto tens de pontificada belezaO lhos negros, os teus, falam de amorSorriso franco, de fina nobrezaAdornando, tudo, por cabelos sedososNativa de Capricórnio, fagueira,Isso encanta Adriano Nogueira

Amiga dileta no meu destinoBemvinda sejas onde eu estiverOuças a mensagem do homem-meninoUma vez que és menina-mulher

Acalentes a esperança de tudo vencerD iante da vida que com a morte divisaApoiada no que sabes escreverLouvada escritora, jornalista e poetisa.

Acróstico inédito de AdrianoNogueira para Rosani Abou Adal

Nildo Carlos Oliveira

Nildo Carlos Oliveira é escritor,ensaísta, cronista e jornalista.

posicionaram contra a candidaturade Juscelino Kubitschek àPres idênc ia da República.Empossado, o ex -governadormineiro ser ia objeto do Memori alMilitar. Depois, teve de enfrentar osrevoltosos de Jacareaganga eAragaçras, que ele anistiou. Foramepisódios frustrados por conta daposição forte do general Teixeira Lottem defesa da legalidade.

Mas os golpis tas nãodesis tiam. Com a renúnc iaintempestiva de Jânio Quadros, queprovavelmente pretendia voltar aopoder com poderes ilimitados, elesinves tiram contra o governo deJoão Goulart, f inalmente apeado daPres idênc ia depois do cé lebrecomício da Central do Brasil, numcontex to polí tico agravado peloclima de radicalização cr iado emtorno das propos tas das Reformasde Base, que o seu governo - e apopulação – defendiam.

O livro está div idido em quatropar tes: O confli to vem de l onge;Sis tema par lamentar de governo;João Goul ar t, pres idente daRepública (capítulo em que o autorpormenoriza o perf il do presidente,a composição do seu governo e oPlano Tr ienal elaborado pelo

economista Celso Fur tado) ;Tragédia grega e Uma revisão dahistória.

A obra remete os leitores aoperf il de João Goulart, na expectativado autor de que eles se apercebamdo contraste “entre tantos que seapequenaram para er igir o regimemilitar, e a dignidade com o quepresidente se por tou, em todos osmomentos, deixando-nos liçõesque a meu ver f icarão”.

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Pacheco, Cleber- “ A ArtePoét ica de AricyCurvello”. Ediplat , Porto

Alegre, 2013, 1ª ed.Feliz é o criador que encontra

um c r í tico como o mestre pelaUFRGS, romancista, poeta e autorteatral Cleber Pacheco que,esmiuçando a obra do poeta daGeração 70 A RICY CURVELLO,cons tró i uma só lida análise, comreferenciais em Foucault, Blanchot,Umberto Eco, Alfred Bosi, Merleau-Ponty, Giles Deleuze, etc.. . Pacheconos mostra um signif icado f ilosóf icona obra de Aricy, onde o Nada estádiretamente ligado ao problema doSer/Não Ser, lembrando a aberturado liv ro “Mais que os Nomes doNada”: “começar outro recomeçar...”.

Na análise, depois de c itar amáx ima que “exis tir é o própriocaminho”, conclui que: “Se o instantereflete o tempo, o que caracteriza ohumano é, portanto, a Palavra”; “Otempo, de certo modo, é o própriointervalo entre o surgir e odesaparec imento” ; “A destruição/reconstrução e o começo/recomeçopodem ser captados pelalinguagem” . As observações dePacheco levam-nos a conc luir quehá uma constante preocupação emtorno do “eterno retorno”nietzschiano na obra do poeta Aricy,que escreve, inclusive, que “Ser éuma invenção constante”.

Esta ideia me parece nítida numterceto de Aricy Curvello que ilustraum monumento público. O poetanasceu em Uber lãndia (MinasGerais ), morando atualmente emSerra , no Espírito Santo, e é em suac idade natal que a Pref eituraconstruiu marcos em praças públicascom citações de poetas brasileiros.

TRÊS RESENHAS SOBRE LIVRO A RESPEITO DA POESIA DE ARICY CURVELLODo poeta da terra, A ricy Curvello,está lá escrito em pedra : “sementes/ só f lorescem/ s e apodrecem”, bemrepresentativo da ideia de retorno.

Segundo Pacheco, a peça-chave para se compreender a visãode mundo de Aricy Curvello está nopoema “Cézanne”. A “coisa ou algosemelhante a ela” se encontra nocoração do mundo e do próprio atode ver. Daí a proposta dopintor : pensar com apintura” ; “Por tanto,pensar é detectar algo aoinvés de apenas recair novazio e naquilo que sechama de nada. A otransportarmos para acriação poética, podemosdizer que o mesmo seaplica à pos turaaricyana.” Cézanne: “ Acriação do que exis te éuma taref a inf inita” -“Para o poeta é aindamais longe: é o ato criadorno sentido ar t ís tico eexistencial. Todo f im remete a umcomeço. Se o exis tir é passageiro,es tá sempre se renovando. Se apoesia nomeia, está se utilizando dosubs tantivo para chegar ásubstância das coisas. Como isso éimpossível, cabe ao poeta retomara tarefa ad inf initum.”...

Finalmente, a aná lise dopoema “O pintor de girassóis”, que“condensa e explora diferentescaminhos em nossa relação com oreal, com a percepção, a pintura e apoesia”. Para Aricy Curvello trata-sede s ituar-se além dos valores eideologias, sem retornar aos mitos eritos, mas apenas ao pré-categorialpor meio do Imprevisto, reatando póse pré num tempo outro que não o da

História tal como a concebemos, masa do Instante, único, irrepet ível,arrebatador mas não irrac ional,passível de expressão e formaartística e poética, mas não cabíveldentro de ‘escolas’ e ‘grupos” . Apintura de Van Gogh, assim,encontra seu signif icado na palavrapoética bem à maneira de Ar icyCurvello, como “Eterno retorno que

remete ao inf inito e aoabsoluto, não nosentido transcendentee tradicional, mas deciclo interminável doMesmo expressando-se como Outro.”

Gerson Valle, InPoiési s, Li teratura,Pensamento & ArteA no XXI n. 216,S a q u a r e m a /A raruama/ IguabaGrande/ Cabo Frio/Arraial do Cabo/ SãoPedro da A ldeia ePetrópolis (RJ), mar.

2014, p. 6.[GERSON VA LLE é poeta,

membro da Academia Brasileira dePoesia – Casa de Raul de Leoni.Trabalhou na FUNA RTE, no Rio, porvinte anos. Reside em Petrópolis/RJ.]

Cleber Pacheco, romancista,poeta e autor teatral, com várioslivros publicados, se debruçou sobrea poét ica de A r icy Curvello eproduziu esta obra , cujo enfoque éa poesia do polêmico escritor, semdúvida um dos autores maisrepresentativos de sua geração. Oanalis ta aborda exclus ivamenteaspectos literários e f ilosóf icos dospoemas de A ricy e retrata, com

espírito crí tico, as conexões comartistas plásticos e outros autores.O apêndice apresenta a For tunaCrí tica de A ricy Curvello e outrosregistros com uma visão completa daatuação do bardo.

Dirmar de Cairey t, in Escritorese Livros, Revista Acadêmica (ÓrgãoOf icial da A cademia Brasileira deEstudos e Pesquisas Literárias) Ano20 n. 33, Rio de Janeiro, abril 2014,p. 26.

Conheço a poes ia de A r icyCurvello desde o seu primeiro livro{Os Dias Selvagens te Ensinam,1979}. Desde logo me chamaram aatenção a excelência da abordagempolítico-social e a coesão do livro,pois “apresenta tanta unidade def orma e dicção que se podeconsiderá-lo um corpus dramático”.Sua poesia foi se distinguindo noslivros posteriores , a tal ponto quehoje o nome de A ricy Curvello setornou um dos mais importantes desua geração - a que estreou nosanos 70. O livro de Cleber Pachecoestuda cuidadosamente a poesiaaricyana e focaliza principalmente alinguagem do autor e suaimportância para a poética de seusversos. {.. .} De todo modo, é umprecioso volume que será sempre deconsulta obrigatória. Parabéns.

Fernando Py, in Literatura,Tribuna de Petrópolis, Petrópolis/RJ,6 dez. 2013, Coluna LAZER, p. 5

{FERNA NDO PY é poeta ecrítico. Amigo de Carlos Drummondde Andrade, de quem pesquisou epublicou a fortuna crítica dos anosvinte até 1935. Membro da AcademiaBrasileira de Poes ia – Casa de Raulde Leoni.}

Aricy Curv ello

di vulgação

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Livros

Profa. Sonia Adal da Costa

Revisão - Aulas Particulares - Digitação

Tel.: (11) 2796-5716 - [email protected]

Indicador Profissional

Utopia Selvagem , de Darcy Ribeiro, GlobalEditora, 6ª edição, São Paulo, 168 páginas. R$32,00.

O autor, intelectual, escr itor, educador,antropólogo e político, faleceu em 17 de fevereirode 1997. Foi membro da Academia Bras ileira deLetras.

A obra foi publicada pela primeira em 1982. Éuma história tocante, que convida o leitor a refletiracerca da capacidade de adaptação do serhumano às mais inusitadas circunstânc ias.

Global: w w w.globaleditora.com.br

Es quin@ De scontr aíd@, c rônicas deHildebrando Pafundi, RG Editores, 128 páginas,São Paulo.

O autor é esc r itor, jornalis ta, contis ta ,cronista e titular da coluna Esquina Descontraída(jornal v irtual w w w.cliqueabc.com).

Segundo José Bueno Lima, “O conto APresença de Quem Ama, incluído no seu recentelivro, No Ri tmo Sensual da Dança, é uma peçamagistral, com forte inf luência shakespeariana,que é uma das características do Hildebrando.”

Hildebr ando: [email protected] Editores: w w w.rgeditores.com.br

Tes tame ntos , poemas de Celso deAlencar, Quaisquer, São Paulo, 192 páginas.

O autor é escritor, poeta e tradutor.A obra tem posfácios de Márcia Denser,

Renata Pallottini, Carlos Felipe Moisés, GlaucoMattoso, Jorge Anthonio e Silva, FabrícioCarpinejar, Mirian de Carvalho, Claudio Willer,Péricles Prade e Álv aro Alves de Faria.

Segundo Glauco Mattoso, “A poesia deCelso Alencar, em sua faceta autodenominadaobscena, trabalha com esse mesmo enfoquedo que seria realmente chocante.” “Associa ocomponente libidinoso a dois outros que lheelevam exponencialmente o caráter ‘ofensivo’:relações f amiliares e, sobretudo, a f ace damorte.”

Quaisquer: w ww.dialetica.com.br

O Clip - Centro Literário de Piracicaba prestará homenagem aAdriano Nogueira na próxima reunião, dia 26 de julho, sábado, das15 às 17 horas, na Biblioteca Municipal de Piracicaba.

Estão progrmadas leituras de textos do homenageado e a inter-venção de membros do Clip e de Rosani Abou Adal que falarão so-bre a vida e obra de Adriano Nogueira.

O Sarau Literário Piracicabano, coordenado por Ana Marly deOliveira Jacobino, prestará homenagem a Adriano Nogueira (1928 -2004) e Rosani Abou Adal que será a poeta convidada do mês.

O evento será realizado no dia 15 de julho, terça-feira, às 19h30,no Museu Histórico Pedagógico Prudente de Moraes, Rua SantoAntônio, 641, Centro de Piracicaba.

Editores do LV serãohomenageados pelo

Sarau Literário e CLIP

Wilm

a Gorgulho

Adriano e Rosani

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Prof. Sonia

Notícias

Eduardo de Oliveira (1926-2012) , escritor,poeta e advogado, será homenageado peloSindicato dos Escritores do Estado de São Pauloem parceria com o Sindicato dos Jornalistas noEstado de São Paulo e CNA B - CongressoNac ional Afro-Brasileiro - , no dia 26 de junho,quinta, às 20 horas, no auditório Vladimir Herzogdo Sindicato dos Jornalistas, Rua Rego Freitas,530, sobreloja, em São Paulo. O evento contarácom as presenças do Prof. José FranciscoFerreira, f ilho do homenageado, de Carlos Lopes(jornal Hora do Povo) e de Dudah Lopes (piano),que farão uma homenagem especial ao professorEduardo. Será apresentado um v ídeo sobre oHino à Negritude com as participações do maestroJoão Carlos Martins e de Eduardo de Oliveira.

O Hino à Negritude , de autoria do professorEduardo de Oliveira, foi aprovado pelo CongressoNacional e sanção presidencial do projeto de lei300/09 que of icializa e torna obr igatór ia aexecução do Hino à Negritude nos eventos emalusão à comunidade negra em todo o territórionacional. A Secretaria de Políticas de Promoçãoda Igualdade Racial, o Conselho Nacional dePromoção da Igualdade Racial e o CongressoNacional Afro-Brasileiro realizaram no dia 28 demaio, em Brasília, um ato em celebração pelaconquista.

Feira de Trocas de Livros é realizadatodos os domingos no Espaço de Leitura doParque da Água Branca, das 14 às 17 horas, RuaMinistro Godói, 180, em São Paulo. Tel.: 11 2588-5811 - http://w w w.espacodeleitura.org.br/

O III Festival do Livro e da Leitura deDiadema, que será realizado de 25 a 27 desetembro, es tá com inscr ições aber tas aosinteressados em participar. Tels.: (11) 4055-9202/4055-9203, com Fábio e A dr iana.bibliotecac [email protected] 

Preparação de orig inais e revisão dete xtos , w orkshop com a par t ic ipação dospalestrantes Andréa Kogan e Fal Vit iello deAzevedo, será realizado no dia 23 de julho, quarta-feira, das 9h30 às 16h30, na Escola do Livro, RuaCristiano Viana, 91, em São Paulo.  Tel. (11) 3069-1300 - [email protected].

Andreia Donadon Leal proferirá palestrasobre Aldravismo no dia 26 de junho, às 17 horas,na Academia Mineira de Letras. No dia  28 dejunho, às 18 horas, no auditório do ICHS/UFOP,em Mariana, será lançado livro teórico sobre oMovimento Mineiro Literário: O A ldravismo. 

Raquel Naveira publicou a crônica Angélicaem w w w.topvitrine.com.br/artigo/angelica/#depo .

O Concurs o Sílvio Rom e r o deM onograf ias s obr e Folclor e e Cultur aPopular, edição 2014, promovido pelo Institutodo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional porintermédio do Centro Nacional de Folc lore eCultura Popular, está com inscrições abertas atéo dia 22 de agosto. Premiação: R$ 13 mil (1º lugar)e R$ 10 mil ( 2º lugar). http://w w w.cnfcp.gov.br/ -Tels.: (21) 2285-0441 / 2285-0891, ramais 214 e215.

O V Encontro Catarinense de Escritorese o III Encontro Internacional de Escritores deAlfredo Wagner e Região será realiz ado nos dias25 e 26 de julho, na Sociedade Recreativa UniãoClube, Praça da Bandeira, s/n, em Alf redo Wagner(SC). Está programada a 1ª Coletânea “Encontrode Escritores” – Homenagem a Mário Carabajal.O evento contará com as presenças de Prof. Dr.Mário Carabajal, Presidente Nacional da ALB, deSilas Correa Leite, Fernando Ritter, entre outrosconvidados. http://encontrodeescritores.com.br/

Andr eia Donadon Leal, Gabriel Bicalho,J.B.Donadon-Leal e J.S.Ferreira lançaram umacoleção de seis livros inéditos de literatura,extensão do Projeto Poesia Viva - a poesia bate àsua porta, sendo que cada aluno receberá umlivro, conforme faixa etária e nív el escolar.

Diego Mendes Sousa foi eleito primeiromembro t itular cor respondente da AcademiaCarioca de Letras.

Teatro de Camões, organizado por MárcioMuniz, foi lançado pela Editora Oficina Raquel,no Real Gabinete, no Rio de Janeiro.

Ferreira Gullar foi agraciado com o Prêmiodo Governo de Mi nas Gerais e receberá aimportância de R$ 120 mil.

O Grupo Projetos de Leitura distr ibuigratuitamente livros em braile. As ins tituiçõesinteressadas em recebê- los poderão obterinformações em w w w.projetosdeleitura.com.br .

Daniella Bauer lançou, pela Editora Biruta,Morada das Lembranças, história que apresentaos relatos de uma família fugindo da RevoluçãoRussa de 1917, rumo ao Rio de Janeiro.

Som br a de um Anjo , de A na BeatrizBrandão, foi lançada pela Editora Novo Século.São mais de 500 páginas de aventura e suspense,sem deixar de lado o toque sensível sobreescolhas e decisões, que a adolescência nos traz.

Música com Z, de Zuza Homem de Mello, foilançada pela Editora 34. A obra reúne 140 textosdo autor esc ritos ao longo da sua carreira - dasprimeiras reportagens enviadas de Nova York, em1957, até um ar tigo sobre os centenários deCaymmi, Lupicinio Rodrigues e Aracy de Almeida.O prefácio de Humberto Werneck.

Hildebrando Pafundi lançou Esquin@Descontraíd@, na Casa da Palavra Már ioQuintana, em Santo André, com apoio do ChaléPão de Queijo, PROTEMP, Prefeitura de SantoAndré e Secretaria de Cultura e Turismo.

Mad Me n e a f ilosof ia - Nada é o queparece, de James B. South, Rod Carveth, foilançado pela Editora Gente.

Juan Gabriel Vásquez, escritor colombiano,foi laureado com o prêmio literário IMPAC, o maisimpor tante da Ir landa. Ele é o pr imeirolatinoamericano a vencer o prêmio.

A 23.ª Bie nal Internacional do Livro deSão Paulo, que será realizada de 22 e 31 deagosto, no Pavilhão de Exposições do Anhembi,vende ingressos no site Tickets For Fun.

O Juiz de Direito William Costa Melo, da6ª Vara Cível da comarca de Goiânia, proferiu nodia 28 de maio a sentença no processo da açãode indenização por dano moral, que f oi requeridapor A laor Barbosa, em 2010, contra a f ilhaprimogênita de João Guimarães Rosa, por havercometido contra ele, em 2008, os cr imes decalúnia, injúria, difamação. A sentença, deferindoos pedidos da inicial, condenou a ré a pagarindenização em dinheiro – 30 mil reais corrigidosmonetariamente desde a citação, mais os jurosda mora de 1% (um por cento) ao mês – e apublicar a sentença nos mesmos jornais em queos crimes foram perpetrados.

Albe rto da Cos ta e Silva, membro daAcademia Brasileira de Letras, foi agraciado como Prêmio Camões 2014 e receberá a importânciade 100 mil euros (cerca de R$ 300 mil).

M ar co Aqueiva f inalizou um romance,resultado de uma premiação da Secretaria deCultura do Estado de São Paulo, cujo projeto foiaprovado pelo ProAC. A obra será lançada emcoedição pelas editoras Patuá e Dobra.

Ricardo V iveiros lançou Como encontraruma li nda pri ncesa, pela Editora Gaivota. Asilustrações são de Alexandre Rampazo.

A SBS Livraria Internacional abriu a SBSLivraria Internaci onal do Brooklin, Rua Carolinado Sul, 74. w w w.sbs.com.br.

A Editora Pe irópolis lança A ContradiçãoHumana, do esc ritor, ilus trador e músicoportuguês Afonso Cruz..

Mariza Baur lançou Era uma vez um padree um rei... em São Paulo, Porto Alegre e Gramado.

O I Encontro das Academias de LetrasJurídicas será realizado nos dias 11 e 12 deagosto, em João Pessoa (PB). Estão conf irmadasas presenças do Dr. Francisco Amaral, presidenteda Academia Brasileira de Letras, e do Dr. ClovisMalcher Filho, presidente da Academia Paraensede Letras Jurídicas.

A Editora Landmark lançou a ediçãobilíngue das nove peças teatrais, divididas em doisvolumes em um box exclusivo, de Oscar Wilde.

A Aldr ava Letras e Arte s e a A LACIBinstalaram uma sala de leitura na Vitrine Culturalde Mar iana, com realização da Sec retariaMunicipal de Cultura, que f icará aberta paravisitação até o dia 29 de junho, das 11h às 18h,no Centro de Convenções de Mariana. O projetoconta com a participação de representantes daAldrava Letras e Artes, da Academia de Letras,Artes e Ciênc ias Brasile, da Agricultura Familiarde Mariana e Região, do Clube Osquindô, CIANavegante de Teatro de Bonecos, Circovolante,Clube das Mães da Colina, Associação deArtesãos de Cachoeira do Brumado, AssociaçãoMarianense dos Artistas Plásticos e de Zé Pereirada Chácara.

di vulgação

Eduardo de Oliveira

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