O Público Não Quer a Verdade, Mas a Mentira que Mais Lhe ...

89 Naccedilatildeo e Defesa

O Puacuteblico Natildeo Quer a Verdade Mas a Mentira que Mais Lhe Agrade

Fatores de Vulnerabilidade da Sociedade Portuguesa agrave Desinformaccedilatildeo

Resumo

A complexidade da desinformaccedilatildeo exige uma anaacutelise e uma resposta multidiscipli-nar sustentada na identificaccedilatildeo de fatores de risco e na sua mitigaccedilatildeo Para aleacutem dos contextos econoacutemico-sociais que permeiam a recetividade das populaccedilotildees agrave desinforma-ccedilatildeo como acontece atualmente em contex-to de pandemia identificaram-se trecircs aacutereas de atuaccedilatildeo preferencial onde as poliacuteticas puacuteblicas poderatildeo ter um impacto direto e positivo 1) no acircmbito das carateriacutesticas da populaccedilatildeo promovendo a literacia digital sobretudo entre grupos mais vulneraacuteveis 2) nos iacutendices de confianccedila destes grupos na comunicaccedilatildeo social e nas instituiccedilotildees oficiais 3) nas accedilotildees diretas destas institui-ccedilotildees que visem conhecer o fenoacutemeno para o regular de forma sustentada Em Portugal assiste-se a um desfasamento entre por um lado o desenvolvimento tecnoloacutegico das instituiccedilotildees e o uso cada vez mais frequen-te da Internet e por outro lado o conheci-mento real dos utilizadores sobre os riscos

e as vulnerabilidades da navegaccedilatildeo online e particularmente nas redes sociais nomeada-mente sobre a desinformaccedilatildeo Apesar de os iacutendices de confianccedila na comunicaccedilatildeo social e nas instituiccedilotildees ligadas agrave ciecircncia perma-necerem elevados apresenta-se como forte vulnerabilidade os baixos niacuteveis relativa-mente agraves instituiccedilotildees governamentais Por fim reconhecendo esforccedilos realizados no sentido de acompanhar algumas iniciativas europeias em Portugal falta legislaccedilatildeo e in-vestimento em investigaccedilatildeo sobre a desin-formaccedilatildeo e os projetos promovidos natildeo tecircm ainda resultados praacuteticos que faccedilam face agraves vulnerabilidades detetadas Perspetivar a evoluccedilatildeo e agir para minimizar o potencial impacto desta ameaccedila contribuiratildeo para proteger os portugueses e as instituiccedilotildees salvaguardando competecircncias e acesso a informaccedilatildeo de qualidade que satildeo condiccedilatildeo necessaacuteria para uma democracia saudaacutevel

Palavras-chave Desinformaccedilatildeo Puacuteblico Mentira Poliacuteticas Puacuteblicas Fake news

Abril | 2021Nordm 158pp 89-113

Inecircs NarcisoMestre em Criminologia pela Universidade de Leicester e doutoranda em Sociologia no ISCTE-IUL Colabo-radora do MediaLab do ISCTE-IUL

Ana Costa Licenciada em Criminologia pela Universidade do Porto e Mestre em Crime Global pela Universidade de Edimburgo

Inecircs Narciso e Ana Costa

90Naccedilatildeo e Defesa

AbstractThe public does not want the truth but the lies they like best Factors of vulnerability to misinformation in Portuguese society

The complexity of desinformation requires a multidisciplinar analysis and response based on identified risk factors and on actions designed to mitigate them Beyond the social and economical contexts that might make people more suscepti-ble to desinformation as the current pandemic scenary three areas were identified as specially relevant for political action due to the potential of generating direct and positive impact 1) dig-ital literacy should be promoted with a focus on the most vulnerable groups 2) confidence levels on official media and institutions should be im-proved 3) jointed action of different public and private entities must prioritize understanding and regulating desinformation in an efficient and ethical wayIn Portugal the institutions have suffered a tech-nological reform and developped in a significant

digital way and the number of internet users have grown substantially However the knowledge about the risks and vulnerabilities of internet use and particularly of social media does not meet the same standards Although the portuguese population shows confidence in media and science institutions the situation seems to be the opposite regarding the governmentDespite some efforts to follow european initia-tives Portugal is in need of legislation and in-vestment in research about desinformation as the current projects seem not to have real effect on the vulnerabilities It is the aim of this paper to help achieving real and positive results To foresee the evolution of desinformation and to act in order to minimize its impact will protect not only the portuguese people and institutions but also the access to quality information and the hability to differentiate which are essentials of a healthy democracy

Keywords Disinformation Public Lies Public policy Fake news

Artigo recebido 29032021Aprovado 06042021httpsdoiorg1047906ND202115805

O Puacuteblico Natildeo Quer a Verdade Mas a Mentira que Mais Lhe Agrade Fatores de Vulnerabilidade da Sociedade Portuguesa agrave Desinformaccedilatildeo


Introduccedilatildeo

A desinformaccedilatildeo eacute um fenoacutemeno que Portugal natildeo pode desconsiderar tomando uma posiccedilatildeo de espetador do conflito hiacutebrido que decorre entre outros paiacuteses e no seio dos mesmos em que conteuacutedo multimeacutedia eacute disseminado online e ope-racionalizado como arma Apesar das dificuldades de deteccedilatildeo e da ausecircncia de limites geograacuteficos da desinformaccedilatildeo jaacute foram detetados sinais de politizaccedilatildeo de conteuacutedos desinformativos online em Portugal (Cardoso et al 2019) pelo que as instituiccedilotildees nacionais devem estar conscientes da problemaacutetica e preparar desde jaacute uma resposta eficaz A ldquodesordem informativardquo (Wardle e Derakhshan 2017 p 10) que se verifica nos meios de comunicaccedilatildeo eacute altamente complexa e o termo rdquonotiacutecias falsasrdquo jaacute se tornou totalmente desadequado para aludir ao fenoacutemeno pelo que se torna essencial entender que tipos de conteuacutedos satildeo problemaacuteticos qual a motivaccedilatildeo por traacutes da sua criaccedilatildeo e como se disseminam Paralelamente eacute muito importante compreender que vulnerabilidades estatildeo a ser exploradas e como nos podemos proteger enquanto indiviacuteduos e sociedade jaacute que as consequecircncias da exposiccedilatildeo a conteuacutedos falsos ou maliciosos vatildeo muito para aleacutem de gerar confusatildeo ceticis-mo e falta de confianccedila numa pessoa instituiccedilatildeo ou governo podem influenciar os resultados de eleiccedilotildees promover conflitos regionais fortalecer vieses cogniti-vos ou seja pocircr em causa a liberdade a toleracircncia e a uniatildeo pilares da vida em sociedade e em democracia O presente artigo procura abordar a permeabilidade de Portugal agrave desinformaccedilatildeo numa avaliaccedilatildeo sustentada de trecircs aacutereas com influencia na sua produccedilatildeo propaga-ccedilatildeo e interaccedilatildeo (Paisana et al 2020 Loos e Nijenhuis 2020 Bayer et al 2019)

1) as carateriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo a sua literacia digital e a consciencializaccedilatildeo dos riscos da navegaccedilatildeo online

2) a relaccedilatildeo e a confianccedila dos cidadatildeos nas instituiccedilotildees democraacuteticas e o envol-vimento da sociedade civil e

3) o papel das instituiccedilotildees governamentais dos nuacutecleos de investigaccedilatildeo e de-senvolvimento e a sua relaccedilatildeo com o setor empresarial traduzidas em coo-peraccedilatildeo multidisciplinar na caraterizaccedilatildeo e combate ao fenoacutemeno poliacuteticas puacuteblicas de sensibilizaccedilatildeo e legislaccedilatildeo

Esta avaliaccedilatildeo seraacute feita atraveacutes da integraccedilatildeo de dados quantitativos e qualitativos com recurso a abordagem comparativa com dados internacionais numa metodo-logia mista que procura traccedilar um enquadramento geral do atual panorama iden-tificando fragilidades e aacutereas de maior solidez Como ponto de partida efetua-se um balanccedilo do conceito e da sua histoacuteria recente das estrateacutegias formas e origens



da desinformaccedilatildeo e do seu potencial impacto quer individual quer coletivo assim como dos desafios inerentes agrave sua deteccedilatildeo e o tipo de respostas existentes de onde emergem os fatores de influecircncia analisados

DefiniccedilotildeesTermos Utilizados

A expressatildeo fake news perdeu aplicabilidade nos modelos teoacutericos de desinforma-ccedilatildeo por ser amplamente usada para atacar a imprensa numa politizaccedilatildeo do ter-mo que remeteu para segundo plano a legitimidade dos factos apresentados Esta tendecircncia juntamente com a grande variedade de termos conexos como clickbait rumores dados falsos ou descontextualizados teorias da conspiraccedilatildeo propaganda entre outros tem gerado necessidade de categorizar para um melhor entendimento e resposta ao fenoacutemeno da desinformaccedilatildeo Assim tem sido amplamente divulgada a distinccedilatildeo de Wardle entre desinformaccedilatildeo ldquomisinformaccedilatildeordquo e ldquomalinformaccedilatildeordquo (Wardle e Derakhshan 2017) Desinformaccedilatildeo diz respeito a informaccedilatildeo falsa disseminada deliberadamente com intuito de enga-nar baralhar influenciar ldquoMisinformaccedilatildeordquo eacute informaccedilatildeo falsa disseminada sem se saber que natildeo corresponde agrave verdade Jaacute ldquomalinformaccedilatildeordquo refere-se a informaccedilatildeo verdadeira cujo contexto eacute alterado maliciosamente ou a dados privados que satildeo divulgados para humilhardenegrir algueacutem Todas vatildeo contra os standards e a eacutetica jornaliacutestica mas enquanto a desinformaccedilatildeo e a ldquomalinformaccedilatildeordquo satildeo normalmen-te motivadas pelo lucro e pela influecircncia poliacutetica ou simplesmente disseminadas para gerar confusatildeo e problemas a ldquomisinformaccedilatildeordquo ocorre essencialmente pelo desejo de o indiviacuteduo se mostrar como algueacutem informado que quer ajudar e pela vontade de pertencer a um grupo com ideias comuns Dado que estas diferenccedilas natildeo influem na base deste trabalho e tal como outros autores optam por fazer (Tandoc et al 2018) de forma a tornar a leitura deste artigo mais fluiacuteda seratildeo utilizados os termos desinformaccedilatildeo e conteuacutedos desinformativos para referir ldquodados que natildeo correspondem agrave verdademaliciososrdquo Importa desde jaacute mencionar que estes conteuacutedos tomam diferentes formas ndash texto imagem viacutedeo aacuteudio ndash sendo que o mais comum eacute serem compostos conterem texto sensaciona-lista e apelarem a sentimentos mais extremos (Shu et al 2020)

Histoacuteria Breve

Haacute vaacuterias deacutecadas que a desinformaccedilatildeo eacute utilizada para influenciar a opiniatildeo puacute-blica eou ganhar vantagem sobre oponentes Durante a Guerra Fria como recor-dam Shu et al (2020) era frequente o uso de informaccedilatildeo falsa ou manipulada via



estacotildees de raacutedio clandestinas e artigos em formato de notiacutecias para persuadir ou gerar confusatildeo A propaganda tendia a ser mais abertamente manipuladora com uma mensagem mais consistente mais emocional que informativa (Wardle e Dera-khshan 2018) A emergecircncia da sociedade em rede resultou num mundo mais conectado numa aparente democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo num acesso mais alargado agraves notiacutecias aos direitos e agraves diferentes perspetivas sobre a vida em sociedade conduzindo agrave criaccedilatildeo de comunidades de pertenccedila mobilizadas em redor de ideologias anteriormente isoladas O alcance da internet e o seu potencial de partilha ampla e raacutepida tecircm sido instrumentalizados para disseminar conteuacutedos desinformativos com essecircncia de propaganda e servir agendas especiacuteficas o que jaacute resultou em inuacutemeros episoacutedios de violecircncia e conflitos que puseram e potildeem em risco vidas humanas Com a utili-zaccedilatildeo generalizada dos smartphones por um lado eacute cada vez mais conveniente ler notiacutecias online e a utilizaccedilatildeo generalizada das aplicaccedilotildees de mensagens por outro lado permite que a informaccedilatildeo alterada ou falsa se espalhe de forma descontrolada (Shu et al 2020) Desta forma a desinformaccedilatildeo estaacute a ser disseminada por utilizadores isolados eou que natildeo confirmam antes de partilhar por jornalistas altamente pressionados para publicar mais e obter mais reaccedilotildees aos seus artigos por comunidades online que tentam difundir as suas ideias ou atacar ideias rivais e por campanhas altamente sofisticadas e organizadas que usam redes de bots e troll factories Neste ecossistema informativo sofremos uma sobreabundacircncia de estiacutemulos informativos que difi-culta a identificaccedilatildeo de fontes crediacuteveis (Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede 2020) e que deixa o nosso ceacuterebro exausto e mais facilmente influenciaacutevel

Estrateacutegias

Como afirma Waltzman (2017) dado que as pessoas passaram a ter a internet e as redes sociais como primeira fonte de notiacutecias e informaccedilatildeo estas consubstanciam atualmente o vetor ideal de ataque pela informaccedilatildeo Conscientes desta tendecircncia tanto partidos poliacuteticos como grandes marcas e induacutestrias apostam em fazer pas-sar a sua mensagem online tirando o melhor partido possiacutevel do modo como os modelos de negoacutecio dos sites e das redes sociais funcionam e da falta de limites geograacuteficos eacuteticos de regulamentaccedilatildeo e de responsabilizaccedilatildeo Os objetivos comerciais por detraacutes das redes sociais tecircm-nas levado a desenvolver algoritmos para conhecer os utilizadores os seus gostos e padrotildees de comporta-mento mas tambeacutem vulnerabilidades cognitivas e dependecircncias de forma a pu-derem identificar aqueles que mais provavelmente reagiratildeo e partilharatildeo deter-minado conteuacutedo Depois direcionam esses mesmos conteuacutedos a estes ldquoalvosrdquo



Quando estes os partilham existe uma maior probabilidade de os seus contactos confiarem e de partilharem sucessivamente porque surgem de algueacutem que conhe-cem Os conteuacutedos vatildeo sendo disseminados promovidos por cadeias de confian-ccedila peer-to-peer Este tipo de funcionamento gera filter bubbles ou echo chambers espaccedilos online em que se partilham conteuacutedos especiacuteficos relevantes para determinados utilizadores e que ao encontro das suas crenccedilas reforccedilando o seu ponto de vista (Pariser 2011) Este pro-cesso de exposiccedilatildeo repetida a uma ideia sobretudo se tiver origem em fontes diferen-tes pode natildeo soacute reforccedilar as ideias jaacute existentes como tambeacutem a resistecircncia a mudar de opiniatildeo mesmo que esteja comprovadamente errada Ao sentir esse reforccedilo natildeo soacute acreditamos mais como tendemos a partilhar tais conteuacutedos uma vez que sentimos que elevam a nossa reputaccedilatildeo e divulgam o nosso valor enquanto fonte crediacutevel De salientar que alguns autores defendem que vivemos uma altura de particular suscetibilidade agrave desinformaccedilatildeo Segundo explica Shu et al (2020) em tempos de crise as pessoas tendem a procurar informaccedilatildeo atraveacutes de fontes oficiais Quando natildeo encontram tecircm tendecircncia para procurar em redes natildeo oficiais para satisfazer a necessidade de saber Quanto mais incerteza sentirem maior a probabilidade de aceitarem informaccedilatildeo nova mesmo que natildeo confirmada Em paralelo perante a an-siedade frustraccedilatildeo e irritaccedilatildeo associadas agrave incerteza a desinformaccedilatildeo pode contri-buir para aliviar a tensatildeo emocional ao abordar as preocupaccedilotildees sentidas gerando conforto na sensaccedilatildeo de algo ter loacutegica e de se obter uma resposta De facto quando o ser humano tem medo a sua capacidade de raciociacutenio criacutetico fica reduzida e ele torna-se mais facilmente influenciaacutevel Estas condicionantes estatildeo particularmente presentes em tempos de crise econoacutemica social ou de potencial conflito Por fim importa destacar que as desordens informativas tecircm ganhado terreno fa-zendo uso de contas acessos e dados obtidos em ataques informaacuteticos Na guerra hiacutebrida assiste-se a uma estreita ligaccedilatildeo entre os ataques e a propaganda online servindo os primeiros como ferramenta de suporte para promoccedilatildeo de um uacutenico ob-jetivo final Esta instrumentalizaccedilatildeo por atores maliciosos sobretudo em estruturas mais organizadas torna necessaacuteria uma resposta participada por parte dos oacutergatildeos de defesa (Liederkerke e Zinkanell 2020)

MotivaccedilotildeesOrigens

Como jaacute mencionado a desinformaccedilatildeo consubstancia uma tentativa de manipu-lar a opiniatildeo em determinada direccedilatildeo que pode ocorrer por motivos ideoloacutegicos poliacuteticos econoacutemicos por reputaccedilatildeo ou pela diversatildeo de causar confusatildeo Pode ser realizada por indiviacuteduos ou grupos de forma mais ou menos organizada mas tambeacutem por estruturas sofisticadas



Pode ser coordenada direta ou indiretamente por Estados ou grupos de interes-ses que agem sobre uma entidade ou populaccedilatildeo especiacutefica durante determinado periacuteodo de tempo com recurso a ferramentas tecnoloacutegicas avanccediladas como troll factories e redes de bots que injetam de forma coordenada e sistemaacutetica conteuacutedos manipulados nas muacuteltiplas plataformas De forma altamente competente e dedi-cada estas cyber troops (Bradshaw e Howard 2019 p 9) imitam o comportamento humano geram atividade artificial identificam por um lado os utilizadores mais suscetiacuteveis e por outro os mais influentes para maximizar a exposiccedilatildeo e a credibi-lidade mas essencialmente a probabilidade de gerar determinado comportamento (Shu et al 2020) Frequentemente existem redes de entidades envolvidas algumas reais e outras que servem como proxy que promovem a disseminaccedilatildeo dos conteuacute-dos e dificultam a responsabilizaccedilatildeo Estas redes podem incluir grupos industriais privados organizaccedilotildees da sociedade civil subculturas da internet grupos de jo-vens coletivos de hackers movimentos marginais influenciadores digitais e volun-taacuterios apoiantes da causa (Bradshaw e Howard 2019) Relativamente agrave desinformaccedilatildeo criada e disseminada por Estados eacute de salientar o inventaacuterio global de Bradshaw e Howard publicado em 2019 depois da moni-torizaccedilatildeo e anaacutelise da manipulaccedilatildeo das redes sociais por partidos e governos nos 3 anos anteriores que identifica tendecircncias ferramentas capacidades estrateacutegias e recursos dos diferentes paiacuteses Neste acircmbito a Ruacutessia assume um lugar de destaque no processo de produccedilatildeo e dis-tribuiccedilatildeo de teorias da conspiraccedilatildeo em territoacuterio nacional e no estrangeiro escudando o Kremlin e barrando toda a informaccedilatildeo alternativa de forma altamente coordenada e a larga escala com uma rede de entidades de media incluindo desde jornais oficiais a paacuteginas nas redes sociais e empresas de trolls (Avramov 2018 Bennet e Livingston 2018) Dentro da estrutura da Defesa eacute reconhecida a existecircncia da Information Oper-ations Force dando expressatildeo real ao conceito de hybrid warfare (Hansen 2017) Por outro lado segundo Wang Rao e Sun (2020 pp 1 e 3) na China vive-se uma fakeness pandemic havendo mais de dois milhotildees de pessoas que satildeo pagas para fazer comentaacuterios nas redes sociais (Bennet e Livingston 2018) Em paiacuteses como os EUA a Alemanha a Hungria a Poloacutenia e a Turquia os ataques constantes agrave credi-bilidade da imprensa e a disseminaccedilatildeo de desinformaccedilatildeo far-right tecircm contribuiacutedo para polarizar a sociedade para pacircnicos morais episoacutedios de violecircncia e crimes de oacutedio (Bennett e Livingston 2018) Importa compreender que as cadeias de desinformaccedilatildeo satildeo muito complexas ra-ramente seguindo um fluxo uacutenico podendo surgir de entidades organizadas mas tambeacutem de comunidades natildeo estruturadas (Goode e Ben-Yehuda 2009 Nielsen e Graves 2017 Tiffen 2019) Frequentemente existe um misto de atividade organi-zada quer por Estados-Naccedilatildeo lobbys econoacutemicos ou poliacuteticos ou outros grupos de interesse com reaccedilotildees espontacircneas de indignaccedilatildeo popular



Impacto Individual e Impacto Coletivo

De forma a avaliar o risco associado agrave desinformaccedilatildeo importa compreender como a exposiccedilatildeo ao fenoacutemeno afeta a niacutevel individual e social Enquanto alvos da attention economy os utilizadores satildeo manipulados para passar o maacuteximo de tempo online em plataformas cujo modelo de negoacutecio foca o lucro (Bennet e Livingston 2018 Orlowski 2020) Perspetivar esta tecnologia da persua-satildeo a servir interesses poliacuteticos eacute especialmente preocupante mas eacute inegaacutevel que a atual sobreabundacircncia de conteuacutedos tanto pode influenciar em determinado sen-tido como apenas confundir ou desviar a atenccedilatildeo o que pode levar a fanatismos mas tambeacutem agrave desorientaccedilatildeo agrave desacreditaccedilatildeo e ao total desinteresse pelo estado das coisas (Liedekerke e Zinkanell 2020) De facto se cada um passar a ter os seus factos deixa de haver uma verdade e a necessidade de compromisso ou sequer de interaccedilatildeo crescendo a solidatildeo e a alienaccedilatildeo Tal agrava a polarizaccedilatildeo social as disputas entre grupos a proliferaccedilatildeo do racismo etc enfraquecendo a toleracircncia a solidariedade a coesatildeo social a seguranccedila nacional e o proacuteprio governo O decliacutenio da credibilidade dos canais oficiais de notiacutecias e a confusatildeo gerada pelos natildeo oficiais debilitam os processos de representaccedilatildeo poliacutetica e consequentemente o tecido social alimentando a instabilidade e a vulnerabilidade da proacutepria democracia Nesta post truth order em que os factos satildeo menos relevantes para construir opi-niotildeestomar decisotildees do que as emoccedilotildees os estereoacutetipos e as crenccedilas pessoais (Wang Rao e Sun 2020 p 14) importa notar que grupos com carateriacutesticas e experiecircncias diferentes satildeo expostos a informaccedilatildeo diferente e afetados de forma diacutespar sendo que este potencial para discriminaccedilatildeo e abuso de poder evidencia como utoacutepica a tese de que a internet constitui um acesso democraacutetico a informa-ccedilatildeo e oportunidades

Dificuldades na Deteccedilatildeo

A prevalecircncia das campanhas de desinformaccedilatildeo bem como o niacutevel de exposiccedilatildeo do puacuteblico agraves mesmas satildeo muito difiacuteceis de quantificar Apesar da reduzida evi-decircncia empiacuterica eacute indiscutiacutevel a existecircncia em quantidade e influecircncia ao ponto de distorcer o que eacute verdade e de impulsionar a dispersatildeo de ideias marginais em plataformas e redes sociais com alcance global Algo que dificulta a deteccedilatildeo e a resposta agrave desinformaccedilatildeo eacute o deplatforming fenoacute-meno mencionado por Rogers (2020) como o bloqueio de perfis por desrespeito de regras normalmente seguido pela raacutepida transiccedilatildeo dos mesmos para outras plata-formas sem ou com menor moderaccedilatildeo de conteuacutedos A deteccedilatildeo precoce de conteuacutedos desinformativos assume uma enorme importacircncia para minimizar o nuacutemero de pessoas influenciadas e consequentemente o dano



causado (Shu et al 2020) mas constitui um desafio especialmente complexo Quan-to a identificar quem eacute o agente eacute discutido se seraacute quem cria quem publica ou quem partilha Quanto a aferir a motivaccedilatildeo seraacute altamente discutiacutevel num meio em que os agentes sociais satildeo difiacuteceis de identificar e cujo estudo aprofundado impotildee evidentes limites eacuteticos De qualquer forma seraacute essencial rastrear os conteuacutedos tentar bloquear as contas envolvidas ou diminuir o seu alcance Tambeacutem intervir na rede de disseminaccedilatildeo parece relevante tentando detetar os noacutedulos mais sig-nificativos e diminuir o ritmo da partilha e o potencial de influecircncia Adicional-mente eacute possiacutevel incentivar os utilizadores a reportar conteuacutedos que suspeitem ser desinformaccedilatildeo e quando acima de determinado nuacutemero de alertas pressionar as plataformas a submeter a fact-checking e eventual remoccedilatildeo De salientar que importa estimular a Inteligecircncia Artificial ndash datamining machine learning etc ndash a mesma que tornou possiacutevel meios de desinformaccedilatildeo digital tatildeo so-fisticados como os deepfakes os emuladores de voz a escrita ldquofalsardquo que mimetiza fi-guras e plataformas conceituadas a desenvolver formas de detetar de modo eficiente conteuacutedos desinformativos gerar alertas monitorizar e identificar os responsaacuteveis

Resposta

Os diferentes paiacuteses tecircm tido respostas muito diversas agrave desinformaccedilatildeo No acircmbito de um esforccedilo inclusivo e colaborativo Funke e Flamini (2020) elaboraram um mapa e um resumo do tipo de accedilatildeo tomada por vaacuterios paiacuteses desde campanhas de literacia digital constituiccedilatildeo de task forces e elaboraccedilatildeo de relatoacuterios passando por propostas de lei investigaccedilatildeo criminal constituiccedilatildeo de grupos de ciberseguranccedila e de acordos entre o governo e empresas ateacute ameaccedilas detenccedilotildees bloqueios da internet monitori-zaccedilatildeo de sites e cobranccedila de impostos sobre as redes sociais com grande disparidade no que toca agrave eficaacutecia e ao impacto das mesmas nos direitos fundamentais Atendendo agrave dimensatildeo transnacional da desinformaccedilatildeo ao seu impacto individual e coletivo e agraves dificuldades em identificar conteuacutedos desinformativos e os responsaacuteveis pelos mesmos estruturar uma resposta poliacutetica eficiente implica integrar vaacuterias aacutereas profissionais e a sociedade civil em estrateacutegia compreensiva e coordenada a niacutevel nacional europeu e mundial com especial incidecircncia nos seguintes acircmbitos

Apostar na EducaccedilatildeoLiteracia Digital

As condiccedilotildees educativas estatildeo intimamente ligadas agrave literacia tanto digital como ciacutevica e cultural jaacute que implicam a apreensatildeo de referecircncias que melhoram a expe-riecircncia cognitiva e intelectual (Cardoso et al 2018b) Em particular a Literacia Di-gital a estrateacutegia mais eficiente para combater a desinformaccedilatildeo e o seu potencial de



manipulaccedilatildeo inerente (Cardoso et al 2018b) deve incluir o conhecimento de como a informaccedilatildeo eacute disponibilizada nas redes sociais e motores de busca reconhecendo que haacute motivos pelos quais determinadas informaccedilotildees e notiacutecias satildeo apresentadas ou omitidas e a capacidade de distinguir a informaccedilatildeo atraveacutes da verificaccedilatildeo de factos A investigaccedilatildeo demonstra que a literacia informativa eacute a que mais contri-bui para a capacidade de identificar e natildeo propagar conteuacutedos desinformativos (Jones-Jang et al 2019) e a sua aplicabilidade deve ser transversal a todas as faixas etaacuterias para ter um impacto concretoIntimamente relacionada refira-se a importacircncia da consciecircncia securitaacuteria na lite-racia digital com o objetivo de divulgar boas praacuteticas no sentido de detetar riscos e de diminuir a exposiccedilatildeo de dados Como jaacute referido vaacuterias campanhas de desinfor-maccedilatildeo usam a engenharia social ndash honeypots e phishing ndash para comprometer contas e perfis reais que depois utilizam para promover a disseminaccedilatildeo e credibilizar os conteuacutedos maliciosos (Liedekerke e Zinkanell 2020) Paralelamente conteuacutedos ob-tidos nestes ataques satildeo reutilizados para campanhas de ldquomalinformaccedilatildeordquo dene-grindo e expondo potenciais setores estrateacutegicos essenciais dos Estados

Fortalecer entidades oficiais de notiacutecias e instituiccedilotildees democraacuteticas

Um dos grandes desafios da atualidade eacute como materializar o apoio agrave criaccedilatildeo de uma imprensa independente cuja sustentabilidade econoacutemica natildeo dependa apenas da interatividade que o seu conteuacutedo gera (Rimscha 2016) Tal tornaria mais evi-dente a distinccedilatildeo entre os oacutergatildeos de comunicaccedilatildeo social estabelecidos e os meios alternativos cujo foco eacute a rentabilidade do seu conteuacutedo e natildeo o seu valor informati-vo Esse apoio deve-se tambeacutem traduzir numa regulaccedilatildeo eficaz assente nos direitos liberdades e garantias de um Estado democraacutetico Paralelamente eacute essencial que as instituiccedilotildees democraacuteticas se pautem por poliacuteticas de comunicaccedilatildeo mais transparentes acessiacuteveis e adequadas agraves preocupaccedilotildees manifestadas pela sociedade civil Essas preocupaccedilotildees satildeo muitas vezes traduzidas em desinforma-ccedilatildeo pelo que importa acompanhar o discurso puacuteblico nas redes sociais providenciar informaccedilatildeo oficial de forma proactiva consistente exata e nos momentos certos para prevenir especulaccedilatildeo natildeo soacute na perspetiva de identificar antecipadamente narrativas desinformativas mas tambeacutem para construir adequadas contranarrativas

Promover a accedilatildeo das instituiccedilotildees cooperaccedilatildeo regulamentaccedilatildeo e legislaccedilatildeo

Respostas eficientes dependeratildeo sempre do conhecimento holiacutestico do fenoacutemeno da desinformaccedilatildeo sendo complexa a variedade de atores e de interesses envolvidos



Por muito que diferentes entidades continuem a desenvolver esforccedilos para com-preender detetar sinalizar monitorizar e responsabilizar a aplicabilidade e o suces-so das suas propostas dependeraacute sempre do suporte ativo das empresas privadas sobretudo da internet da sua transparecircncia e vontade de adaptaccedilatildeo regulaccedilatildeo e responsabilizaccedilatildeo As entidades oficiais devem promover accedilotildees de pressatildeo junto destas empresas cujo modelo de negoacutecio eacute propiacutecio agrave divulgaccedilatildeo e promoccedilatildeo de conteuacutedos sensacionalistasmanipulativos com normas e leis que assegurem a li-berdade de expressatildeo e dificultem o seu uso como espaccedilos de propagaccedilatildeo de de-sinformaccedilatildeo Elencados estes trecircs campos de atuaccedilatildeo essenciais importaraacute projetar esta anaacutelise na realidade portuguesa e mais do que almejar neutralizar esta ameaccedila focar a accedilatildeo na reduccedilatildeo do seu impacto detetando vulnerabilidades da populaccedilatildeo e do paiacutes que propiciem a produccedilatildeo disseminaccedilatildeo e efeitos da desinformaccedilatildeo e con-cebendo respostas dirigidas e concertadas entre as diferentes aacutereas Seraacute tambeacutem relevante detetar os fatores de proteccedilatildeo e reforccedilaacute-los de modo a maximizar a im-permeabilidade dos portugueses aos conteuacutedos desinformativos

A Realidade Portuguesa

No contexto da realidade portuguesa e numa tentativa de identificar os fatores de risco quanto agrave influecircncia da desinformaccedilatildeo optou-se por destacar trecircs aacutereas de anaacutelise que se encontram obviamente interligadas e que correspondem agrave po-pulaccedilatildeo e literacia digital agrave relaccedilatildeo do cidadatildeo com as instituiccedilotildees e agrave accedilatildeo das instituiccedilotildees Para responder agrave complexa anaacutelise destas aacutereas identificaram-se questotildees essen-ciais variaacuteveis de anaacutelise e obtiveram-se dados recolhidos atraveacutes de distintos organismos e por diferentes metodologias com amostras e contextos espaccedilo-tem-porais diversos no quadro nacional e internacional Apesar de se fazer uso de dados quantitativos a parte empiacuterica do presente artigo pretende formular uma anaacutelise essencialmente qualitativa que evidencie fatores de risco proacuteprios da rea-lidade portuguesa num primeiro esboccedilo agregador desta mateacuteria A importacircncia estrateacutegica da anaacutelise destes weak signals jaacute eacute praacutetica regular como ferramenta de suporte agrave decisatildeo e tem utilidade comprovada (Mendonccedila et al 2012) natildeo obs-tante sofre criacuteticas de fragmentaccedilatildeo e continua a revelar dificuldade de afirmaccedilatildeo no setor acadeacutemico Seguem para cada aacuterea as questotildees de partida as variaacuteveis de anaacutelise e o levan-tamento de dados quantitativos e qualitativos considerados para gerar respostas preliminares



Aacutereas de anaacutelise Pergunta Variaacuteveis de anaacutelise Exemplos

Populaccedilatildeo e literacia digital

A populaccedilatildeo portuguesa tem carateriacutesticas e

haacutebitos que a tornam vulneraacutevel

Idade niacutevel de educaccedilatildeo religiosidade

utilizaccedilatildeo da internet e das redes sociais

literacia digital consciecircncia dos riscos

cuidados online

Dados demograacuteficos dados sobre

utilizadores da internet Iacutendice de Digitalidade

da Economia e da Sociedade Relatoacuterios

OBERCOM e inqueacuteritos do Instituto Nacional de Estatiacutestica

Relaccedilatildeo do cidadatildeo com as instituiccedilotildees

A desinformaccedilatildeo e a mensagem

inerente de que natildeo se deve confiar nas instituiccedilotildees oficiais tecircm influecircncia Que mobilizaccedilatildeo podem

gerar

Iacutendices de intervenccedilatildeo ciacutevica e poliacutetica

iacutendices de confianccedila nas notiacutecias e

nas instituiccedilotildees absentismo

Consumo e interaccedilatildeo com notiacutecias

peticcedilotildees puacuteblicas associativismo

confianccedila European Social Survey

Accedilatildeo das instituiccedilotildees Que esforccedilos estatildeo a ser tomados para mitigar a

desinformaccedilatildeo em Portugal

Investimento em programas de

sensibilizaccedilatildeo em nuacutecleos de cooperaccedilatildeo

e investigaccedilatildeo relaccedilatildeo com grupos

empresariais regulaccedilatildeo legislaccedilatildeo

Iniciativas de literacia digital

legislaccedilatildeo especiacutefica programa de

governo Orccedilamento do Estado projetos de financiamento relatoacuterio anual de Seguranccedila Interna

Populaccedilatildeo e Literacia Digital

1 Populaccedilatildeo e carateriacutesticas demograacuteficas

Segundo o Instituto Nacional de Estatiacutestica (INE) (2020) Portugal manteacutem tendecircn-cia de envelhecimento demograacutefico verificando-se um aumento da idade mediana da populaccedilatildeo residente de 431 para 452 anos entre 2013 e 2018 Quanto ao grau acadeacutemico da populaccedilatildeo residente em Portugal com 15 ou mais anos em 2019 a maioria tinha o niacutevel secundaacuterio e poacutes-secundaacuterio (PORDATA 2020) Segundo o Eurostat (2020) a populaccedilatildeo idosa portuguesa continua a ter uma taxa de escolari-dade baixa abaixo da meacutedia europeia e Portugal distingue-se como um dos paiacuteses com maior disparidade digital entre faixas etaacuterias Uma vez que eacute a populaccedilatildeo mais envelhecida que tem maior propensatildeo para ser alvo de desinformaccedilatildeo por serem faixas etaacuterias com menos educaccedilatildeo e menos



literacia digital os dados convergem e apontam para maior permeabilidade dos portugueses ao fenoacutemeno (Loos e Nijenhuis 2020) Quanto agrave religiatildeo Shu et al (2020) referiram que indiviacuteduos com crenccedilas religiosas ilusoacuterias ou dogmaacuteticas que natildeo se baseiam em factos cientiacuteficos tecircm menos pro-babilidade de desenvolver pensamento aberto e analiacutetico pelo que seraacute de ter em conta que mais de 90 dos portugueses satildeo religiosos segundo o censo realizado em 2011 (INE 2012) Ainda seguindo o mesmo estudo 7 declarou natildeo ter religiatildeo e 4 afirmou ter religiatildeo diferente da catoacutelica Quanto agrave nacionalidade dos cidadatildeos estrangeiros a quem foi concedido tiacutetulo de residecircncia e com estatuto de residente em Portugal (INE 2020) a brasileira era com enorme destaque em 2018 a mais representativa A produccedilatildeo de desinformaccedilatildeo tem um custo pelo que a existecircncia de grandes audiecircncias unidas pela afinidade linguiacutes-tica favorece a migraccedilatildeo de conteuacutedo Dado o enorme impacto reportado da desin-formaccedilatildeo nos resultados da uacuteltima eleiccedilatildeo presidencial no Brasil (Resende et al 2018) e a identificaccedilatildeo de conteuacutedo desinformativo de origem no Brasil sobre a COVID-19 a circular em Portugal sobretudo associados ao WhatsApp seraacute importante consi-derar o peso da comunidade como transmissora inconsciente de conteuacutedo e praacuteticas desinformativas por proximidade cultural e linguiacutestica

2 Comportamentos online e literacia digital

Segundo o INE (2019) mais de 76 da populaccedilatildeo residente em Portugal entre os 16 e os 74 anos utiliza a internet apesar de esta percentagem ser inferior agrave meacutedia UE-28 Natildeo obstante a percentagem dos que participam em redes sociais eacute superior agrave meacutedia UE e tem vindo a subir O acesso agrave internet em mobilidade tem registado niacuteveis idecircnticos agrave meacutedia europeia e tambeacutem manteacutem tendecircncia de crescimento Quanto agraves praacuteticas digitais dos cidadatildeos de acordo com o Iacutendice de Digitalidade da Economia e da Sociedade (IDES 2020) Portugal encontra-se bem abaixo da meacutedia europeia no que concerne ao capital humano e uso de internet que correspondem agraves capacidades e utilizaccedilatildeo eficiente da internet por parte dos utilizadores no dia a dia contrapondo com valores bastante positivos na digitalizaccedilatildeo das instituiccedilotildees e das estruturas de comunicaccedilatildeo e conectividade Cerca de 23 dos portugueses nunca usaram a internet num valor bem acima da meacutedia europeia de 11 (Rocha 2020) As taxas de utilizaccedilatildeo da internet satildeo significativamente mais elevadas para as pes-soas que completaram o Ensino Superior (987) e para aquelas que concluiacuteram o Secundaacuterio (969) A proporccedilatildeo de utilizadores de internet diminui de forma acentuada com a idade natildeo obstante a proporccedilatildeo de utilizadores no grupo etaacuterio dos 55 aos 64 anos ser 593 e 341 para a populaccedilatildeo com 65 ou mais anos de ida-de natildeo deixando de ser significativa (INE 2019)



O mesmo inqueacuterito concluiu que as atividades mais realizadas na internet se re-lacionam com a pesquisa de informaccedilotildees sobre bens e serviccedilos comunicaccedilatildeo por e-mail leitura de notiacutecias online participaccedilatildeo em redes sociais e visualizaccedilatildeo de viacute-deos em serviccedilos de partilha Em termos de dispositivos se em 2019 (INE 2019) o dispositivo mais utilizado para aceder a notiacutecias era o computador (portaacutetilde secretaacuteria) depois o smart-phone TV e tablet em 2020 detetou-se uma ultrapassagem definitiva do laptop pelo smartphone quer em termos de utilizaccedilatildeo geral quer como principal dispositivo para consumo de notiacutecias (Cardoso et al 2020) A grande desvantagem desta mudanccedila eacute que o smartphone pelas carateriacutesticas do aparelho dificulta a visualizaccedilatildeo e tran-siccedilatildeo entre conteuacutedos tornando mais complicada a verificaccedilatildeo do que recebemos e favorecendo a partilha raacutepida e imediata sem considerar a sua veracidade Quanto agraves redes sociais o Facebook manteacutem o estatuto de preferido dos portu-gueses seguido do YouTube tanto em termos gerais como para aceder a notiacutecias Contudo 761 dos inquiridos responderam incorretamente agrave questatildeo sobre como os conteuacutedos satildeo apresentados no Facebook o que evidencia desconhecimento so-bre a utilizaccedilatildeo dos algoritmos que decidem que conteuacutedos apresentar individual-mente e que geram consequentemente as referidas filtered bubbles de informaccedilatildeo (Cardoso et al 2020) Tal como referido supra destaca-se ainda a crescente utilizaccedilatildeo das aplicaccedilotildees de mensagens sobretudo do WhatsApp que tecircm assumido um papel preponderante no quotidiano digital dos portugueses em parte devido agrave crescente preocupaccedilatildeo com a privacidade tanto para o seu propoacutesito original de comunicaccedilatildeo como tam-beacutem para partilha de conteuacutedos noticiosos (INE 2019) A relevacircncia das platafor-mas de mensagens instantacircneas neste contexto eacute inegaacutevel por se tratarem de espa-ccedilos encriptados onde natildeo existe um moderador que remove conteuacutedo improacuteprio onde o mesmo se pode tornar viral sem conhecimento dos visados e considerando a impossibilidade de reportar ou remover ao contraacuterio das redes sociais Estas pla-taformas trouxeram a hipoacutetese de comunicar via aacuteudio atraveacutes de pequenos clips de voz o que veio permitir agrave populaccedilatildeo iliterada participar nas partilhas de conteuacute-do em aplicaccedilotildees moacuteveis com impacto jaacute visivelmente gravoso nomeadamente em linchamentos puacuteblicos de inocentes na Iacutendia (Garimella e Eckles 2020) mas ainda pouco estudado Mais perto em Espanha um estudo realizado no iniacutecio de 2020 por Salaverriacutea et al (2020) com base em trecircs plataformas de fact-checking concluiu que a desinformaccedilatildeo analisada foi sobretudo disseminada pelas redes sociais quan-do comparado com fontes oficiais com destaque para a plataforma de WhatsApp Essencialmente os conteuacutedos desinformativos eram em formato texto de prove-niecircncia nacional e subordinados a temas poliacuteticos Particularmente quanto agrave interaccedilatildeo com notiacutecias online 43 dos inquiridos re-feriram ter reparado em tiacutetulos ou viacutedeos mas natildeo ter tido qualquer interaccedilatildeo



Percentagens maiores 57 e 51 referiram ter feito gostopartilhado uma notiacutecia e ter clicado no link para saber mais sobre ela Dezassete por cento afirmaram ter publicado uma notiacutecia ou participado numa discussatildeo privada ou puacuteblica sobre determinada notiacutecia (Cardoso et al 2018b)

3 Consciencializaccedilatildeo de riscos e cuidados securitaacuterios

Apesar de a televisatildeo ainda manter um lugar fundamental quanto agrave produccedilatildeo e receccedilatildeo de notiacutecias constata-se que as redes sociais tecircm crescido quanto ao acesso e agrave visualizaccedilatildeo e em termos de importacircncia no quotidiano (Cardoso et al 2020) A seguir aos canais de 24 horas de informaccedilatildeo a maior parte dos inquiridos repor-tou ter visualizado notiacutecias via redes sociais seguido de programas de televisatildeo e websites e apps de jornais (Cardoso et al 2018b) Ainda assim quando questionados especificamente sobre as notiacutecias nas redes sociais os portugueses desconfiam mais destas do que de notiacutecias com origem em instituiccedilotildees e marcas noticiosas (Cardoso et al 2018b) Tal revela consciecircncia de que nem toda a informaccedilatildeo que circula online eacute verdadeira e haacute preocupaccedilatildeo em saber o que eacute real e falso na internet Segundo o Relatoacuterio Reuters (Cardoso et al 2020) Portugal eacute o segundo paiacutes cujos cidadatildeos mais se preocupam com a legitimidade de conteuacutedos digitais cerca de 75 Adi-cionalmente o uacuteltimo relatoacuterio da International Association for the Evaluation of Edu-cational Achievement (Fraillon et al 2018) com amostra focada apenas nas camadas mais jovens evidenciou que os jovens portugueses tecircm uma capacidade acima da meacutedia europeia de avaliar a qualidade da informaccedilatildeo que consultam na internet Neste acircmbito durante as suas atividades online os portugueses procuram proteger a sua identidade online limitando por exemplo o acesso aos conteuacutedos pessoais nas redes sociais verificando a seguranccedila dos sites visitados e natildeo autorizando a utilizaccedilatildeo dos seus dados para fins publicitaacuterios Menos frequentemente solici-tam a remoccedilatildeo de informaccedilatildeo pessoal em posse dos motores de busca (Cardoso et al 2018a) Quanto ao tipo de dados partilhados enquanto 806 dos portugue-ses estatildeo abertos a partilhar nome ou data de nascimento os dados que menos par-tilham online satildeo os dados de contacto como o nuacutemero de telemoacutevel ou a morada (apenas 309) Atraveacutes do Inqueacuterito agrave Utilizaccedilatildeo de Tecnologias da Informaccedilatildeo e da Comunicaccedilatildeo pelas Famiacutelias (INE 2019) apurou-se que mais de 14 dos utilizadores privados de internet (276) detetaram problemas de seguranccedila nos 12 meses anteriores sendo o inci-dente mais reconhecido o phishing Por outro lado 49 dos utilizadores de internet referiram ter limitado atividades na internet devido a preocupaccedilotildees com a seguranccedila principalmente em relaccedilatildeo ao fornecimento de informaccedilatildeo pessoal em redes sociais ou profissionais ndash 326 dos internautas ndash na compra de produtos ou serviccedilos (26)



nas atividades bancaacuterias (228) e aquando do download de ficheiros (226) Os por-tugueses com idades entre os 25 e os 34 anos e aqueles com estudos superiores satildeo os que mais tendem a reconhecer que sofreram incidentes de seguranccedila durante o uso da internet facto que evidencia maior risco para a populaccedilatildeo mais envelhecida e com estudos inferiores De facto o Centro Nacional de Ciberseguranccedila (2020) apurou que tanto os indiviacuteduos como as empresas em Portugal em 2019 reconheceram menos que sofreram incidentes de ciberseguranccedila comparativamente com a UE

A Relaccedilatildeo do Cidadatildeo com as Instituiccedilotildees Confianccedila e Mobilizaccedilatildeo

Apesar da desconfianccedila acima reportada revelada quanto agraves notiacutecias apresenta-das nas redes sociais os portugueses tecircm elevados niacuteveis de confianccedila nas notiacutecias e instituiccedilotildees noticiosas puacuteblicas e privadas em geral No relatoacuterio elaborado por Cardoso Paisana e Pinto Martinho (2020) numa parceria entre OberCom ndash Obser-vatoacuterio da Comunicaccedilatildeo ISCTE-IUL Media Lab e Reuters Institute for the Study of Journalism Portugal destaca-se no conjunto dos 40 mercados analisados como o paiacutes onde mais se confia em notiacutecias a par da Finlacircndia Esta elevada confianccedila dos portugueses de que as instituiccedilotildees noticiosas divulgam informaccedilatildeo iacutentegra precisa e honesta contrapotildee-se com a sua relaccedilatildeo com as insti-tuiccedilotildees governamentais nomeadamente os oacutergatildeos poliacuteticos e de justiccedila De facto pequenos estudos pontuais tecircm apontado que os portugueses confiam na grande maioria das instituiccedilotildees oficiais na investigaccedilatildeo cientiacutefica e nos media tradicionais natildeo sucedendo o mesmo com as estruturas de governaccedilatildeo poliacutetica (European So-cial Survey 2018a European Social Survey 2018b) Esta ideia parece corroborar os trabalhos jaacute realizados sobre a caraterizaccedilatildeo da desinformaccedilatildeo em Portugal cujos dados empiacutericos apontam para uma prevalecircncia de temas associados agrave corrupccedilatildeo e uma menor presenccedila de temas xenoacutefobos como temas virais no conteuacutedo desinfor-mativo que circula nas redes sociais portuguesas (Cardoso et al 2019) Aleacutem do sentimento de confianccedila importaraacute perceber como se mobilizam os por-tugueses no que toca ao que consomem na internet Atraveacutes do INE (2019) apu-rou-se que quase 25 dos utilizadores de internet teratildeo tido uma intervenccedilatildeo ciacutevica ou poliacutetica na internet 17 teratildeo publicado opiniotildees ou comentaacuterios e 154 teratildeo participado em consultas ou votaccedilotildees para a decisatildeo de questotildees ciacutevicas ou poliacuteticas Eacute interessante salientar que esta proporccedilatildeo embora tenha reduzido quanto a 2017 manteacutem-se superior ao registado para a UE-28 Ateacute que ponto esta mobilizaccedilatildeo online tem correspondecircncia no mundo real de forma a conduzir os portugueses a levar a cabo accedilotildees concretas decorrentes do impacto dos conteuacutedos desinformativos visiona-dos e poderaacute constituir uma ameaccedila Recentes protestos contra as medidas restri-tivas aplicadas pelo governo no acircmbito da pandemia da COVID-19 resultaram de



iniciativas de paacuteginas e grupos de Facebook em que circulam conteuacutedos que contes-tam a utilidade das maacutescaras a seguranccedila dos testes e o valor sanitaacuterio das medidas Em Portugal tecircm surgido nestas manifestaccedilotildees vaacuterias dezenas de pessoas enquanto noutros paiacuteses iniciativas equivalentes tecircm juntado milhares Como mencionado supra a confusatildeo criada pelos canais natildeo oficiais de notiacutecias e a diminuiccedilatildeo da autoridade dos oficiais gera duacutevida e instabilidade que podem afetar valores-base e a capacidade de raciociacutenio Se a niacutevel individual tal pode de-sorientar manipular e alienar agrave escala coletiva pode fragilizar os processos de re-presentaccedilatildeo poliacutetica a coesatildeo social e a toleracircncia propiciando conflitos e divisotildees e mesmo contestaccedilatildeo e resistecircncia agraves forccedilas e serviccedilos de seguranccedila agraves Forccedilas Ar-madas e ao governo o que potildee em causa a Seguranccedila Nacional e o funcionamento democraacutetico da sociedade Neste acircmbito entende-se que aleacutem da relaccedilatildeo entre os portugueses e os media em geral importa cuidar a relaccedilatildeo dos mesmos com as instituiccedilotildees estatais que consubstanciam o uacuteltimo reduto da seguranccedila da lei e da ordem com profissiona-lismo e transparecircncia para minimizar os efeitos da desinformaccedilatildeo na sua imagem autoridade e valor

A Accedilatildeo das Instituiccedilotildees Investigaccedilatildeo Sensibilizaccedilatildeo e Legislaccedilatildeo

As instituiccedilotildees nacionais tecircm procurado acompanhar aquilo que satildeo as diretrizes europeias e de desenvolvimento sustentaacutevel das Naccedilotildees Unidas Tem havido um forte investimento no acesso mais democraacutetico agrave internet e na digitalizaccedilatildeo das infraestruturas que se tecircm revelado no IDES (2020) No entanto a niacutevel da literacia digital pese embora o investimento nas camadas mais jovens haacute ainda um longo caminho a percorrer na formaccedilatildeo da restante populaccedilatildeo sobretudo nas zonas ru-rais e nas classes sociais mais desfavorecidas grupos demograacuteficos que correspon-dem exatamente aos que menor confianccedila demonstram nas instituiccedilotildees (Coelho 2017 Gil 2019) Esta dicotomia resulta numa vulnerabilidade acrescida visto que o desenvolvimento tecnoloacutegico das estruturas administrativas natildeo eacute acompanhado pela formaccedilatildeo dos quadros a operar nas mesmas e dos seus utilizadores As iniciativas de investigaccedilatildeo e as campanhas de sensibilizaccedilatildeo e os projetos exis-tentes tecircm resultado na sua maioria de financiamento europeu num quadro mais macro do projeto europeu como o INCoDe2030 e existem poucas e descentralizadas referecircncias exclusivamente nacionais de apoio institucional de combate e estudo da desinformaccedilatildeo de campanhas de sensibilizaccedilatildeo e de investimento em literacia di-gital Os projetos existem mas muitas vezes falta a materializaccedilatildeo final para chegar aos grupos que dela mais necessitam focando-se sobretudo na prestaccedilatildeo de serviccedilos digitais e menos na criaccedilatildeo de uma cultura digital que atenue em vez de reforccedilar



desigualdades entre os dois grupos (Aires et al 2018 Gomes 2019 Gil 2019) Do ponto de vista da criaccedilatildeo de fundos e nuacutecleos de investigaccedilatildeo natildeo se conhece ateacute ao momento nenhum projeto exclusivo sobre esta mateacuteria a niacutevel nacional Em termos legais existe ainda um significativo atraso em acompanhar o desenvol-vimento do setor tecnoloacutegico pese embora uma recente recomendaccedilatildeo de aplicaccedilatildeo de algumas medidas do quadro europeu (Resoluccedilatildeo de Assembleia de Repuacuteblica nordm 502019) A regulamentaccedilatildeo das plataformas dificilmente seria viaacutevel num qua-dro nacional e decorrem de momento iniciativas europeias nesse sentido como o Digital Services Act mas natildeo deixa de ser relevante destacar a forte discrepacircncia entre as medidas legais vigentes em Portugal e a relevacircncia que estas desordens informativas tecircm no quotidiano dos portugueses Muitas vezes a desinformaccedilatildeo materializa-se em campanhas de difamaccedilatildeo pessoal ou encontra-se associada a outros fenoacutemenos de desordem informativa como o re-venge porn 1 ou o doxxing2 e no uso de ferramentas como sistemas automaacuteticos de propaganda e perfis privados todos eles ainda natildeo regulados do ponto de vista legal e alguns com impacto profundo a niacutevel pessoal A impunidade com que mui-tas vezes estes fenoacutemenos se alastram no espaccedilo virtual com enorme dificuldade por parte das instituiccedilotildees competentes em garantir a aplicabilidade da lei resulta numa crescente descredibilizaccedilatildeo das instituiccedilotildees agravando as vulnerabilidades elencadas anteriormente Tanto o Centro Nacional de Ciberseguranccedila (2020) como o Relatoacuterio Anual de Seguran-ccedila Interna (RASI) respeitante a 2019 (Sistema de Seguranccedila Interna 2020) documen-taram um aumento dos crimesdenuacutencias relacionados com a informaacutetica sem que seja possiacutevel discernir ateacute que ponto se relacionam com a disseminaccedilatildeo de conteuacutedos que consubstanciem desinformaccedilatildeo Tambeacutem o governo portuguecircs quer no seu Programa quer no Orccedilamento do Estado determina estrateacutegias que deveratildeo ser aplicadas de forma valorizar a ciberseguranccedilaImportaraacute perceber se tais destaques oficiais se refletem ou natildeo no investimento concreto em capital humano aleacutem de tecnoloacutegico formado para este tipo de averi-guaccedilotildees projetos e iniciativas

Conclusatildeo

O presente artigo procurou efetuar um enquadramento da atual problemaacutetica da desinformaccedilatildeo focando alguns dos fatores facilitadores da sua propagaccedilatildeo com o objetivo de promover respostas eficazes de mitigaccedilatildeo do problema Nesse sentido

1 A publicaccedilatildeo natildeo consensual de imagens iacutentimas obtidas no foro de um momento privado2 Divulgaccedilatildeo propositada de dados privados sobre uma entidade com o objetivo de a prejudicar



destacaram-se trecircs aacutereas de anaacutelise No acircmbito da primeira aacuterea da anaacutelise as carateriacutesticas da populaccedilatildeo como consumidora e propagadora de desinforma-ccedilatildeo destacou-se a importacircncia da literacia digital sobretudo nas camadas menos jovens atraveacutes de uma maior consciencializaccedilatildeo do funcionamento da internet e dos seus riscos ao inveacutes de um foco apenas na digitalizaccedilatildeo dos serviccedilos do Estado esperando uma aprendizagem quase autodidata dos utilizadores atraveacutes da necessidade de aprendizagem o que acentua desigualdades e natildeo promove o uso consciente da internet contribuindo para o aumento do nuacutemero de utilizado-res da plataforma que tecircm dificuldades em compreender os seus riscos nomea-damente a desinformaccedilatildeo Num segundo plano de anaacutelise a relaccedilatildeo desta populaccedilatildeo com as estruturas ofi-ciais nomeadamente o Estado e a Comunicaccedilatildeo Social eacute essencial compreender como a desconfianccedila nas instituiccedilotildees as preocupaccedilotildees latentes e o medo do des-conhecido promovem um terreno feacutertil agrave desinformaccedilatildeo No panorama atual em que figuras de relevo atacam diariamente e descredibilizam agecircncias noticiosas o termo fake news natildeo soacute se banalizou como acaba por minar a confianccedila em fontes fidedignas e comprometer a passagem de mensagens importantes O comprometi-mento dos atuais modelos de negoacutecio dos grandes grupos de imprensa reduziu a qualidade informativa e conduziu ao crescimento do clickbait e da produccedilatildeo de con-teuacutedo em massa Assim o fortalecimento de uma imprensa independente assente num modelo econoacutemico menos permeaacutevel agraves regras de capitalizaccedilatildeo do conteuacutedo online impotildee-se como um dos primeiros passos essenciais Paralelamente as instituiccedilotildees democraacuteticas devem pautar-se pela transparecircncia correspondendo e incentivando accedilotildees da sociedade civil que questionem as suas decisotildees e processos de trabalho com uma comunicaccedilatildeo acessiacutevel clara e verificaacute-vel Adicionalmente importa criar estrateacutegias de acompanhamento mais regular de conteuacutedo sobre os principais eixos estrateacutegicos democraacuteticos a fim de identificar antecipadamente narrativas desinformativas estudar as preocupaccedilotildees latentes em que se sustentam e construir contranarrativas nos princiacutepios elencados supra No uacuteltimo plano de anaacutelise destacou-se a importacircncia da regulamentaccedilatildeo e da proatividade institucional em mitigar algumas das vulnerabilidades identificadas nos dois pontos anteriores Eacute essencial um maior investimento em investigaccedilatildeo multidisciplinar sobre as macro e micro realidades em que a desinformaccedilatildeo surge numa abordagem praacutetica que compreenda as narrativas subjacentes e os agentes sociais que permitiram a sua propagaccedilatildeo Uma legislaccedilatildeo que exija uma maior res-ponsabilidade das plataformas eacute tambeacutem fulcral para garantir que a aplicabilidade das leis natildeo termina na passagem para o virtual e que dessa forma natildeo eacute minada a confianccedila das viacutetimas nas instituiccedilotildees Transversalmente aos fatores referidos importa destacar o momento vivido mun-dialmente que poderaacute ter um efeito particularmente potenciador da desinformaccedilatildeo



A pandemia da COVID-19 pode ser considerada um periacuteodo de crise como men-cionado por Shu et al (2020) marcada pela ansiedade medo e incerteza fatores que propiciam a procura e aceitaccedilatildeo de informaccedilatildeo natildeo oficial natildeo confirmada para ob-ter alguma resposta e assim algum aliacutevio da tensatildeo e da falta de controlo sentidas A maior instabilidade e a menor capacidade de raciociacutenio criacutetico consubstanciam vul-nerabilidades que potenciam a influecircncia da desinformaccedilatildeo Transposta esta reflexatildeo para a realidade portuguesa identificaram-se fatores que manifestam maior vulnerabilidade o que visa informar decisores e promover me-didas no sentido de os colmatar Segue quadro agregador dos fatores identificados como fatores de riscovulnerabilidades fatores neutros e fatores de proteccedilatildeo de for-ma a antecipar e delinear respostas sustentadas ao fenoacutemeno da desinformaccedilatildeo

Fatores de RiscoVulnerabilidades Fatores Neutros Fatores de Proteccedilatildeo

Tendecircncia de envelhecimento da populaccedilatildeo

Aumento do acesso agrave internet em mobilidade

Frequecircncia do ensino superior a crescer

Prevalecircncia do niacutevel de Ensino Secundaacuterio e Baacutesico

Percentagem maior que a da UE no que toca a intervenccedilatildeo ciacutevica e poliacutetica online

Satildeo os jovens e populaccedilatildeo com maior niacutevel de ensino quem mais utiliza a internet

Populaccedilatildeo maioritariamente religiosa

Incidentes de ciberseguranccedila podem ou natildeo relacionar-se com disseminaccedilatildeo de conteuacutedos desinformativos

Televisatildeo manteacutem papel central na visualizaccedilatildeo de notiacutecias

Facilidade de migraccedilatildeo de conteuacutedo desinformativo

Confianccedila nas notiacutecias em geral mas desconfianccedila quanto agraves apresentadas nas redes sociais

Aumento acelerado dos utilizadores da internet tambeacutem nas faixas etaacuterias mais vulneraacuteveis

Preocupaccedilatildeo em distinguir real de falso

Grande percentagem de utilizadores das redes sociais

Preocupaccedilatildeo com dados partilhados online

Aumento da utilizaccedilatildeo das redes sociais e das apps de mensagens para aceder a notiacutecias

Limitaccedilatildeo de atividades online para evitar incidentes de ciberseguranccedila

Facebook eacute a rede preferida e os utilizadores tendem a desconhecer algoritmos de seleccedilatildeo dos conteuacutedos

Confianccedila nas instituiccedilotildees oficiais e de investigaccedilatildeo cientiacutefica




Aumento da utilizaccedilatildeo do smartphone em geral e para aceder a notiacutecias

Investimento na digitalizaccedilatildeo de infraestruturas

Aqueles entre os 25 e os 34 anos e com estudos superiores satildeo os que mais reconhecem incidentes de ciberseguranccedila

Iniciativas e campanhas de sensibilizaccedilatildeo sobretudo decorrentes do acircmbito UE

Os portugueses reconhecem menos que a meacutedia UE quando sofrem incidentes de ciberseguranccedila

Programa de Governo e Orccedilamento do Estado salientam ciberseguranccedila e ciberdefesa

Desconfianccedila nos oacutergatildeos poliacuteticos e de justiccedila

RASI destaca e alerta para a desinformaccedilatildeo

Literacia digital desigual na populaccedilatildeo

Iniciativas e campanhas de sensibilizaccedilatildeo pouco materializadas e adequadas

Atraso da regularizaccedilatildeo de setores online

Aumento do nuacutemero de crimes relacionados com a informaacutetica invasatildeo de privacidade de denuacutencias e de condenados

Imprensa economicamente fraacutegil e dependente da viralizaccedilatildeo de conteuacutedo para sobrevivecircncia

O quadro supra pretende traduzir a realidade da permeabilidade agrave desinformaccedilatildeo que se evidencia desfasada com um evidente desenvolvimento de determinados se-tores e um atraso significativo relativamente a outros pontos Destaca-se a importacircn-cia de reconhecer os fatores de proteccedilatildeo como casos de sucesso e replicar as lessons learned de forma a fazer face aos fatores de vulnerabilidade Um maior desenvolvi-mento desta avaliaccedilatildeo de risco no sentido de focar outros paiacuteses e as respetivas reali-dades nacionais concebendo modelos especiacuteficos de intervenccedilatildeo para cada variaacutevel surge como uma potencial proposta para seguimento do presente trabalho



Bibliografia

Aires L Santos R Guardia J Lima C e Correia J (2018) Mediating towards digital in-clusion the monitors of internet access places Observatorio (OBS) Journal 12(2) 196-213 httpwwwscielomecptscielophpscript=sci_arttextamppid=S1646-59542018000200012

Assembleia da Repuacuteblica (2019) Resoluccedilatildeo da Assembleia da Repuacuteblica nordm 502019 Diaacuterio da Repuacuteblica nordm 662019 Seacuterie I de 2019-04-03 1826-1826 httpsdreptwebguestpesquisa-search121942395detailsmaximized

Avramov K (2018) By Another Way of Deception The Use of Conspiracy Theories as a Foreign Policy Tool in the Arsenal of the Hybrid Warfare Information amp Security An Inter-national Journal 39 (2) 151-161 httpsdoiorg1011610isij3913

Bayer J Bitiukova N Bard P Szakaacutecs J Alemanno A e Uszkiewicz E (2019) Disin-formation and Propaganda ndash Impact on the Functioning of the Rule of Law in the EU and its Member States European Parliament LIBE Committee Policy Department for Citizensrsquo Rights and Constitutional Affairs httpsssrncomabstract=3409279or httpdxdoiorg102139ssrn3409279

Bennett W e Livingston S (2018) The disinformation order Disruptive communication and the decline of democratic institutions European Journal of Communication 33 (2) 122-139

Bradshaw S e Howard P (2019) The Global Disinformation Disorder2019 Global Invento-ry of Organised Social Media Manipulation Working Paper 20192 Oxford UK Project on Computational Propaganda httpcompropoiioxacukwp-contentuploadssites93201807ct2018pdf

Cardoso G Baldi V Pais P Paisana M Quintanilha T e Couraceiro P (2018b) As Fake News numa Sociedade Poacutes-Verdade Contextualizaccedilatildeo potenciais soluccedilotildees e anaacutelise OberCom httpsobercomptwp-contentuploads2018062018-Relatorios-Ober-com-Fake-Newspdf

Cardoso G Narciso I Moreno J e Palma N (2019) Online Desinformation During Portugalrsquos 2019 Elections MEDIALAB amp Democracy Reporting International httpsdemocracy-re-portingorgwp-contentuploads201910Portugal-First-Post-Election-Report-Social-Me-dia-2019pdf

Cardoso G Paisana M e Pinto-Martinho A (2020) Digital News Report 2020 Portugal Ober-Com mdash Reuters Institute for the Study of Journalism httpsobercomptwp-contentuploads202006DNR_PT_2020_19Junpdf

Cardoso G Paisana M Quintanilha T e Pais P (2018a) Literacias na Sociedade dos Ecratildes OberCom httpsobercomptwp-contentuploads201803OberCom2018-Literacias- na-Sociedade-dos-EcraCC83spdf



Centro Nacional de Ciberseguranccedila (2020) Relatoacuterio Ciberseguranccedila em Portugal Riscos e Con-flitos Observatoacuterio de Ciberseguranccedila httpswwwcncsgovptcontentfilesrelato-rio_riscosconflitos2020__observatoriociberseguranca_cncspdf

Coelho A (2017) Os seniores na sociedade em rede dinacircmicas de promoccedilatildeo da inclusatildeo e da literacia digitais em Portugal CIES e-Working Papers 2132017 httphdlhandlenet1007114535

European Social Survey (2018a) Media and Social Trust (Core ndash all rounds) httpswwweuro-peansocialsurveyorgdatathemeshtmlt=media

European Social Survey (2018b) Justice and fairness (ESS9 2018) httpswwweuropeanso-cialsurveyorgdatathemeshtmlt=justfair

Eurostat (2020) Ageing Europe ndash statistics on social life and opinions httpseceuropaeueu-rostatstatistics-explainedindexphpAgeing_Europe_-_statistics_on_social_life_and_opinionsEducation_and_digital_society_among_older_people

Fraillon J Ainley J Schulz W Friedman T e Duckworth D (2018) Preparing for Life in a Digital World IEA International Computer and Information Literacy Study 2018 Internatio-nal Report The International Association for the Evaluation of Educational Achievement httpiaveptimagesFicheirosPDFEstudos_InternacionaisICILSICILS_2018_Re-latC3B3rioInternacionalpdf

Funke D e Flamini D (2020) A guide to anti-misinformation actions around the world POYNTER httpswwwpoynterorgifcnanti-misinformation-actions

Garimella K e Eckles D (2020) Images and Misinformation in Political Groups Evidence from WhatsApp in India The Harvard Kennedy School Misinformation Review 1 (5)

Gil H (2019) A literacia digital e as competecircncias digitais para a infoinclusatildeo por uma inclu-satildeo digital e social dos mais idosos Revista de Educaccedilatildeo a Distacircncia e Elearning 2 (1) 79-96 httphdlhandlenet10400116490

Gomes M (2019) O eGovernment em Portugal literacia digital e dificuldades de difusatildeo de poliacuteticas puacuteblicas Tese de doutoramento Lisboa ISCTE-IUL httphdlhandlenet1007119551

Goode E e Ben-Yehuda E (2009) Moral Panics The Social Construction of Deviance (2ordf ediccedilatildeo) Wiley Blackwell

Hansen F (2017) Russian hybrid warfare A study of disinformation Danish Institute for Inter-national Studies report 06 httphdlhandlenet10419197644

Iacutendice de Digitalidade da Economia e da Sociedade de 2020 Portugal (2020) Comissatildeo Europeia httpseceuropaeunewsroomdaedocumentcfmdoc_id=66950

Instituto Nacional de Estatiacutestica (2019) Sociedade da Informaccedilatildeo e do Conhecimento ndash Inqueacuterito agrave Utilizaccedilatildeo de Tecnologias da Informaccedilatildeo e da Comunicaccedilatildeo pelas Famiacutelias ndash 2019

Instituto Nacional de Estatiacutestica (2020) As Pessoas 2018



Instituto Nacional de Estatiacutestica (2012) Censos 2011 XV Recenseamento geral da populaccedilatildeo V Recenseamento geral da habitaccedilatildeo Resultados Definitivos Portugal

Jones-Jang S Mortensen T e Liu J (2019) Does Media Literacy Help Identification of Fake News Information Literacy Helps but Other Literacies Donrsquot American Behavioral Scientist

Liedekerke A e Zinkanell M (2020) Deceive and Disrupt Disinformation as an emerging cybersecurity challenge AIES Studies 13 httpswwwaiesatdownload2020AIES-S-tudies-2020-13pdf

Loos E e Nijenhuis J (2020) Consuming Fake News A Matter of Age The Perception of Political Fake News Stories in Facebook Ads In Gao Q Zhou J (eds) Human Aspects of IT for the Aged Population Technology and Society HCII 2020 Lecture Notes in Computer Science vol 12209 Springer Cham

Mendonccedila S Cardoso G Caraccedila J (2012) The strategic strength of weak signal analysis Futures 44 (3) 218-228

Nielsen R e Graves L (2017) ldquoNews you donrsquot believerdquo Audience perspectives on fake news Reuters Institute for the Study of Jounalism httpsoraoxacukobjectsuuid6eff4d-14-bc72-404d-b78a-4c2573459ab8

Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (2020) Novel Coronavirus (2019-nCoV) Situation Report-13 httpswwwwhointdocsdefault-sourcecoronavirusesituation-reports20200202- sitrep-13-ncov-v3pdfsfvrsn=195f4010_6

Orlowski J (Director) (2020) The Social Dilemma (Documentary) Netflix

Paisana M Pinto-Marinho A e Cardoso G (2020) Trust and fake news Exploratory analysis of the impact of news literacy on the relationship with news content in Portugal Communi-cation amp Society 33 (2) 105-117

Pariser E (2011) The Filter Bubble What The Internet Is Hiding From You Penguin Books

PORDATA (2020) Populaccedilatildeo residente com 15 e mais anos total e por niacutevel de escolari-dade completo mais elevado httpswwwpordataptPortugalPopulaC3A7-C3A3o+residente+com+15+e+mais+anos+total+e+por+nC3ADvel+de+escolarida-de+completo+mais+elevado-2101

Resende G Messias J Silva M Almeida J Vasconcelos M e Benevenuto F (2018) A Sys-tem for Monitoring Public Political Groups in WhatsApp WebMedia lsquo18 Proceedings of the 24th Brazilian Symposium on Multimedia and the Web 387-390

Rimscha M (2016) Business Models of Media Industries Describing and Promoting Com-modification In Managing Media Firms and Industries 207-222

Rocha C (2020) Governo lanccedila plano estrateacutegico para ldquoacelerarrdquo Portugal no mundo digital Dinheiro Vivo 5 de marccedilo httpswwwdinheirovivopteconomiagoverno-lanca-pla-no-estrategico-para-acelerar-portugal-no-mundo-digital-12687321html



Rogers R (2020) Deplatforming Following extreme Internet celebrities to Telegram and alternative social media European Journal of Communication 35(3) 213-229 httpsdoiorg1011770267323120922066

Salaveacuterria R Busloacuten N Loacutepez-Pan F Leoacuten B Loacutepez-Gontildei I e Erviti M (2020) Desinfor-macioacuten en tempos de pandemia tipologia de los bulos sobre la Covid-19 El profesional de la informacioacuten 29 (3) httpsdoiorg103145epi2020may15

Shu K Bhattacharjee A Alatawi F Nazer T Ding K Karami M e Liu H (2020) Com-bating Disinformation in A Social Media Age Wires Datamining and Knowledge Discovery 10 (6) httpsdoiorg101002widm1385

Sistema de Seguranccedila Interna (2020) Relatoacuterio Anual de Seguranccedila Interna 2019

Tandoc Jr E Lim Z e Ling R (2018) Defining ldquoFake Newsrdquo A typology of scholarly defi-nitions Digital Journalism 6(2) 137-153 httpsdoiorg1010802167081120171360143

Tiffen R (2019) Moral Panics In H Tumber e S Waisbord (Eds) The Routledge Companion to Media and Scandal Routledge

Waltzman R (2017) The weaponization of information httpswwwarmed- servicessenategovimomediadocWaltzman_04-27-17pdf

Wang M Rao M e Sun Z (2020) Typology Etiology and Fact-Checking A Pathological Study of Top Fake News in China Journalism Practice

Wardle C e Derakhshan H (2017) Information Disorder Toward an interdisciplinary framework for research and policy making Council of Europe httpsrmcoeintinformation-disorder--toward-an-interdisciplinary-framework-for-researc168076277c

Wardle C e Derakhshan H (2018) Thinking about ldquoinformation disorderrdquo formats of misinformation disinformation and malinformation In I Cherilyn e J Posetti (Eds) Journalism fake news amp disinformation handbook for journalism education and training 44-56 httpsunesdocunescoorgark48223pf0000265552



AbstractThe public does not want the truth but the lies they like best Factors of vulnerability to misinformation in Portuguese society

The complexity of desinformation requires a multidisciplinar analysis and response based on identified risk factors and on actions designed to mitigate them Beyond the social and economical contexts that might make people more suscepti-ble to desinformation as the current pandemic scenary three areas were identified as specially relevant for political action due to the potential of generating direct and positive impact 1) dig-ital literacy should be promoted with a focus on the most vulnerable groups 2) confidence levels on official media and institutions should be im-proved 3) jointed action of different public and private entities must prioritize understanding and regulating desinformation in an efficient and ethical wayIn Portugal the institutions have suffered a tech-nological reform and developped in a significant

digital way and the number of internet users have grown substantially However the knowledge about the risks and vulnerabilities of internet use and particularly of social media does not meet the same standards Although the portuguese population shows confidence in media and science institutions the situation seems to be the opposite regarding the governmentDespite some efforts to follow european initia-tives Portugal is in need of legislation and in-vestment in research about desinformation as the current projects seem not to have real effect on the vulnerabilities It is the aim of this paper to help achieving real and positive results To foresee the evolution of desinformation and to act in order to minimize its impact will protect not only the portuguese people and institutions but also the access to quality information and the hability to differentiate which are essentials of a healthy democracy

Keywords Disinformation Public Lies Public policy Fake news

Artigo recebido 29032021Aprovado 06042021httpsdoiorg1047906ND202115805














Histoacuteria Breve





Estrateacutegias



















Resposta

























cuidados online








gerar













































Conclusatildeo
















































Bibliografia





































































Histoacuteria Breve





Estrateacutegias



















Resposta

























cuidados online








gerar













































Conclusatildeo
















































Bibliografia



























































Estrateacutegias



















Resposta

























cuidados online








gerar













































Conclusatildeo
















































Bibliografia









































































Resposta

























cuidados online








gerar













































Conclusatildeo
















































Bibliografia













































































cuidados online








gerar













































Conclusatildeo
















































Bibliografia


















































































Conclusatildeo
















































Bibliografia





































































































Bibliografia
























































O Público Não Quer a Verdade, Mas a Mentira que Mais Lhe ...

Documents

Transcript of O Público Não Quer a Verdade, Mas a Mentira que Mais Lhe ...