O Protestianismo No Brasil

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ANTONIO GOUVÊA MENDONÇA O protestantismo no Brasil e suas encruzilhadas ANTONIO GOUVÊA MENDONÇA é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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  • ANTONIO GOUVA MENDONA

    O protestantismo no Brasil e suas encruzilhadasANTONIO GOUVA MENDONA professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

  • O ttulo deste artigo exige desde logo um

    esclarecimento preliminar sob pena de cair na

    confuso reinante quando se trata de estudar o

    campo religioso brasileiro sob qualquer ponto

    de vista. Nunca se viu uma diversidade religiosa

    to grande como a que se nota atualmente no

    Brasil. Para complicar mais ainda, a dinmica

    interna desse campo, que demonstra intensa

    itinerncia entre grupos religiosos, assim como

    as variaes numricas indicadas no ltimo censo

    (2000) apontam para a necessidade de se buscar

    conceitos mais atuais e capazes de estabelecer

    distncias e aproximaes entre os diversos gru-

    pos que disputam o espao religioso.

    Estamos diante do conceito de protestantismo

    brasileiro, usado sem maiores preocupaes pe-

    los primeiros estudiosos do assunto. Entre eles, o

    respeitvel historiador francs mile G. Lonard

    que, estando no Brasil por dois anos (1948-49)

    como professor contratado pela Faculdade de

    A utopia s

    trabalha em prol

    do presente a

    ser alcanado, e

    assim o presente,

    sendo a ausncia

    de distanciamento

    intencionada para

    o m, estar, no

    nal, borrifado por

    todos os intervalos

    utpicos (Ernst

    Bloch, O Princpio

    Esperana).

  • REVISTA USP, So Paulo, n.67, p. 48-67, setembro/novembro 200550

    Filosoa, Cincias e Letras da Univer-

    sidade de So Paulo, fez observaes e

    pesquisas que lhe permitiram publicar o

    seu O Protestantismo Brasileiro, hoje j

    na terceira edio (2002). Lonard, que

    publicou na Frana outros trabalhos sobre

    o protestantismo no Brasil, tambm autor

    da monumental obra Histoire Gnrale du

    Protestantisme, em trs volumes, a partir

    de 1961. No ltimo volume aparecem no-

    tas a respeito do Brasil. De certo modo, o

    conceito de protestantismo brasileiro ganha

    legitimidade com Lonard para expressar o

    cristianismo no-catlico no Brasil, embora

    j fosse usado por outros antes dele.

    Em 1973, com a publicao do livro

    Catlicos, Protestantes, Espritas por Cn-

    dido Procpio F. de Camargo, o conceito,

    includo entre duas outras religies (cat-

    licos e espritas), assume carter distintivo.

    Note-se aqui que os prprios protestantes,

    desde o incio de sua presena no Brasil,

    ainda no sculo XIX, preferiam o conceito

    evanglico. Bastam dois exemplos: o pri-

    meiro jornal protestante publicado no Brasil,

    que circulou de 1864 a 1892, chamou-se

    Imprensa Evanglica, como tambm a Con-

    federao Evanglica do Brasil, fundada

    em 1934 e extinta nos primeiros anos da

    dcada de 60 do sculo passado. Desde os

    primeiros tempos os cristos no-catlicos

    no Brasil se identicam como evanglicos,

    alis a auto-identicao oriunda mesmo

    desde os primrdios da Reforma conforme

    atesta o historiador Martin N. Dreher (1999,

    pp. 216 e segs.) (1). No fosse a diversidade

    confusa do campo religioso brasileiro, o

    conceito evanglico, hoje usado de modo

    universal pelos no-evanglicos, como a

    Igreja Catlica e a mdia, caberia perfeita-

    mente ao grupo cristo oriundo da Reforma

    do sculo XVI. Mas no cabe. O conceito

    traz consigo enorme confuso, a no ser

    para aqueles que, mesmo trabalhando com

    categorias cientcas, insistem em colocar

    sob a mesma categoria todos os grupos

    cristos no-catlicos.

    Assim, pergunta-se: o que mesmo isso

    que se chama protestantismo brasileiro?

    o mesmo que evanglico? e no . O

    conceito evanglico aplica-se parte dos

    cristos no-catlicos e no se aplica de

    maneira adequada ao vasto grupo dos assim

    chamados pentecostais e neopentecostais.

    claro que deixa de lado tambm todas as

    igrejas crists no romanas como as cha-

    madas em geral por orientais ou ortodoxas.

    Assim, quando se fala em protestantismo

    brasileiro vem logo tona a necessidade

    de definir, estabelecer o conceito com

    clareza. O que protestantismo e o que

    protestantismo brasileiro? Ainda, o que

    um protestante?

    O QUE PROTESTANTISMO?O protestantismo um dos trs prin-

    cipais ramos do cristianismo ao lado do

    catolicismo romano e das igrejas orientais

    ou ortodoxas. Essa categorizao, muito

    ampla e abrangente, a adotada por J. L.

    Dunstan (1980, p. 7). Justamente por sua

    amplitude, a categorizao desse autor

    deixa logo em aberto um problema: onde

    colocar o anglicanismo, hoje estendido

    por todo o mundo como uma comunidade

    que extrapola o Reino Unido? A Igreja da

    Inglaterra resulta, sem dvida, da Reforma

    Religiosa, mas, como se diz com freqn-

    cia, cou a meio caminho entre Roma e as

    igrejas protestantes, tanto luteranas como

    calvinistas. De fato, a ala propriamente dita

    anglicana recusa o ttulo de protestante.

    Desse modo, seria melhor estabelecer qua-

    tro categorias de igrejas crists mundiais:

    romana, ortodoxas ou orientais, anglicana e

    protestantes. Embora a ala chamada Evan-

    glica da Igreja Anglicana seja signicativa

    por se aproximar bastante dos protestantes

    em geral, creio no se justicar uma outra

    categoria, vez que o anglicanismo, apesar

    disso, mantm sua unidade.

    Interessa-nos agora a Reforma propria-

    mente dita. Em outro lugar (Mendona &

    Velasques Filho, 2002, , cap. 1) propus a

    diviso da Reforma em trs ramos: angli-

    cano, luterano e calvinista, ou reformado

    propriamente dito. Feita aquela ressalva

    quanto ao anglicanismo, os protestantes

    propriamente ditos so os luteranos e cal-

    1 Como nos chama a ateno esse autor, no confundir com os evanglicos de vertente inglesa mais moderna que de-signam a ala conservadora do protestantismo contemporneo e que esto sendo identicados atualmente pelo neologismo evangelical.

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    vinistas que se espalham pelo mundo em

    numerosa diversicao, particularmente

    estes ltimos. Ento, protestantes seriam

    aquelas igrejas que se originaram da Refor-

    ma ou que, embora surgidas posteriormente,

    guardam os princpios gerais do movimento.

    Essas igrejas compem a grande famlia da

    Reforma: luteranas, presbiterianas, meto-

    distas, congregacionais e batistas. Estas

    ltimas, as batistas, tambm resistem ao

    conceito de protestantes por razes de ordem

    histrica, embora mantenham os princpios

    da Reforma. Creio no ser, por isso, neces-

    srio criar para elas uma categoria parte.

    So integrantes do protestantismo chamado

    tradicional ou histrico, tanto sob o ponto

    de vista teolgico como eclesiolgico.

    Esses cinco ramos ou famlias da

    Reforma multiplicam-se em numerosos

    sub-ramos, recebendo os mais diferentes

    nomes, mas que, ao guardar os princpios

    fundantes, podem ser includos no universo

    do protestantismo propriamente dito.

    O QUE PROTESTANTISMO BRASILEIRO?

    Talvez a pergunta mais adequada seja

    esta: podemos falar em protestantismo

    brasileiro? Ou seria melhor falar em pro-

    testantismo no Brasil precisamente quando

    a referncia recai sobre as igrejas acima

    mencionadas? Embora seja certo que as re-

    ligies universais, como so as protestantes,

    sempre assimilam ou mantm traos das

    culturas locais, como me permitido falar

    em catolicismo brasileiro, por exemplo, o

    protestantismo que chegou ao Brasil jamais

    se identicou com a cultura brasileira. Con-

    tinua sendo um protestantismo norte-ame-

    ricano com suas matrizes denominacionais

    e dependncia teolgica. Por isso, prero

    falar em protestantismo no Brasil e no

    em protestantismo brasileiro. O mesmo vale

    para o que talvez fosse exceo, isto , o

    luteranismo. Apesar de proceder de verten-

    tes geogrcas e culturais diferentes, ambos

    os luteranismos brasileiros vinculam-se ao

    centro mesmo da Reforma Luterana, isto ,

    a Europa alem. Por essas razes, quando

    se fala em protestantismo brasileiro, creio

    que se deve entender por protestantismo

    no Brasil.

    O QUE UM PROTESTANTE, O QUE SER PROTESTANTE?

    O grande e maior princpio da Reforma

    o da liberdade e est explcito no talvez

    menor dos livros de Martim Lutero (2)

    e mesmo de toda a literatura reformada.

    Diz Lutero que o cristo senhor livre

    sobre todas as coisas e no est sujeito a

    ningum, mas completa: um cristo um

    servo prestativo em todas as coisas e est

    sujeito a todos. Essa aparente contradio

    se resolve assim: o cristo livre para fazer

    e no fazer ou, ainda, o cristo no est

    debaixo de nenhuma mediao e se refere

    diretamente a Deus pela f, instrumento de

    sua salvao. A salvao individual e sua

    vida religiosa pautada exclusivamente

    pela Bblia cuja leitura direta e tambm

    no mediada. Como pontica Dunstan, o

    homem o centro de sua religio.

    Em suma, o protestante o homem que

    se sente liberto por Cristo, segue exclusi-

    vamente a Bblia como nica regra de f

    e prtica, cultiva uma tica racional de

    desempenho para contribuir para a glria

    de Deus e vive moralmente segundo os

    10 mandamentos e os padres da moral

    burguesa vitoriana. A converso, que no

    perodo do Grande Despertamento (3) era

    mais propriamente uma reconsagrao

    vida devota, reajustava o indivduo ao

    modelo burgus vitoriano acompanhado

    da tica do trabalho apropriada ideologia

    do progresso. A preguia, a ociosidade e a

    falta de objetividade na vida, assim como

    desregramentos sexuais e desorganizao

    familiar, eram pecados graves para os vi-

    torianos (4). O protestantismo, principal-

    mente o calvinismo posterior, privilegiou

    as relaes sociais e econmico-polticas

    no sentido horizontal, buscando pr de

    2 Da Liberdade Crist, escrito em 1520 (Lutero, 2004). Ver tambm: Altmann, 1994.

    3 Grande Despertamento ou Grandes Avivamentos desig-nam movimentos esparsos de renascimento de vitalidade religiosa que ocorreram na Amrica do Norte a partir dos primeiros anos do sculo XIX.

    4 Quanto a isso muito interessan-te ver: Gay, 2000 e 2005.

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    lado todo tipo de dependncia piramidal

    ou vertical. Em suma, uma desconana

    permanente de monarquias absolutas em

    favor de repblicas democrticas. Isso ga-

    nhou muita fora aps a independncia das

    colnias norte-americanas e da expanso

    protestante durante o sculo XIX (5).

    No necessrio que nos alonguemos na

    discusso a respeito da chamada ideologia

    norte-americana protestante da inter-relao

    ntima entre evangelizar e civilizar. Outros

    autores j trataram dessa questo. Contu-

    do, oportuno lembrar que essa ideologia

    no exclusiva do protestantismo porque

    o mesmo papel que os Estados Unidos se

    propunham, e ainda se propem, de expandir

    o seu prprio modelo civilizatrio, isto ,

    o reino de Deus terreno, j empolgava, na

    oratria de Antonio Vieira, o velho Por-

    tugal seiscentista. No obstante, h que

    se estabelecer as diferenas entre os dois

    modelos: o reino de Deus por Portugal era

    um reino caracterizado pelo modelo de

    cristandade, vertical e monrquico, ao passo

    que o norte-americano era, e , democrtico

    republicano, horizontal e contratual.

    Em suma, o protestante um indivduo

    que professa uma religio individual, de

    conscincia, que se inspira na interpretao

    direta e pessoal da Bblia, pauta suas aes

    na tica racional do trabalho e na moral

    burguesa vitoriana. Sua racionalidade pro-

    cura manter a distncia a interferncia do

    extraordinrio no cotidiano, assim como sua

    individualidade o situa nos limites mnimos

    do poder sacerdotal ou eclesistico. uma

    religio quase secularizada e se aproxima,

    mesmo quando institucionalizada, de uma

    religio civil. As igrejas so comunidades

    de f e aprendizado religioso mtuo. A

    disciplina, que se prende mais a questes

    de tica, principalmente de moral, tende

    a se tornar elstica na medida em que, no

    gradiente seita-igreja, a comunidade se

    aproxima mais desta.

    Este o modelo, por que no dizer tipo

    ideal, do protestante histrico ou tradicional,

    ao qual se aplica bem, como j foi dito, o

    conceito de evanglico, mas que implica

    diculdades quando generalizado para todos

    os cristos no-catlicos.

    Este artigo trata exclusivamente do

    grupo de protestantes ou evanglicos que

    abrange aquelas igrejas j mencionadas,

    tanto as do chamado protestantismo de

    misso ou converso, quanto as do pro-

    testantismo de imigrao. Propomo-nos

    a analisar, dentro dos limites impostos, as

    idas e vindas desse tipo de protestantismo

    no Brasil em suas relaes histricas e

    dialeticamente relacionais com o universo

    poltico brasileiro e internacional durante os

    cerca de 180 anos de sua presena no pas.

    Tomaremos como ponto de interseco his-

    trica a chamada Conferncia do Nordeste,

    realizada no Recife (PE), em 1962, ltimo

    momento de convergncia identitria desse

    protestantismo antes do seu isolacionismo

    denominacional. No sero levadas em

    conta as questes e crises internas que, por

    vezes, agitaram as igrejas, mas exclusiva-

    mente como elas reagiram ao impacto dos

    momentos histricos externos.

    Propomos a seguinte periodizao: de

    1824 a 1916, perodo de implantao do

    protestantismo no Brasil; de 1916 a 1952,

    desenvolvimento do projeto de coopera-

    o ou pan-protestantismo e a chegada de

    um bando de teologias novas; de 1952 a

    1962, crise poltica e religiosa, ensaio de

    politizao do protestantismo e impacto do

    pentecostalismo; de 1962 a 1983, perodo

    de represso no interior do protestantismo,

    da revoluo neopentecostal, fortalecimento

    do denominacionismo e o isolacionismo

    das igrejas.

    PERODO DE IMPLANTAO: DE 1824 A 1916

    At o nal do sculo XIX todas as de-

    nominaes protestantes tradicionais ou

    histricas estavam estabelecidas no Brasil,

    sendo a ltima a Igreja Protestante Episco-

    pal, mais adiante conhecida simplesmente

    por Igreja Episcopal. Dada sua origem

    anglicana, hoje se chama Igreja Episcopal

    Anglicana do Brasil (6). No sistema de

    classicao ainda adotado, os episcopais

    5 Bastaria, neste ponto, assinalar o testemunho da missionria educadora metodista Martha Watts (1881-1908), fundadora do Colgio Piracicabano, em carta de abril de 1890, logo aps a proclamao da Repblica: O Brasil est indo para frente, e devemos seguir com ele, carregando a religio do Evangelho [] (Mesquita, 2001, p. 90).

    6 Ver o artigo de Calvani, O Anglicanismo no Brasil, neste Dossi.

  • REVISTA USP, So Paulo, n.67, p. 48-67, setembro/novembro 2005 53

    anglicanos so includos entre as igrejas

    do chamado protestantismo de misso ou

    converso que engloba congregacionais (7),

    presbiterianos, metodistas e batistas. Toda-

    via, no se pode deixar de lado o fato de que,

    na verdadeira origem, os episcopais angli-

    canos ligam-se tradio do anglicanismo

    precocemente instalado no Brasil ainda no

    perodo que antecedeu ao Imprio, isto ,

    aps os tratados feitos com a Inglaterra por

    D. Joo VI em 1810 (Aliana e Amizade e

    Comrcio e Navegao). A partir de 1820,

    os ingleses passaram a realizar cultos no

    templo construdo no Rio de Janeiro e, mais

    tarde, em outras partes do Brasil, notada-

    mente em So Paulo, pelos empregados

    da Estrada de Ferro que se construa entre

    Santos e Jundia (Ribeiro, 1973).

    Assim considerados, os ingleses angli-

    canos constituem o primeiro grupo do cha-

    mado protestantismo de imigrao, embora

    com a ressalva j feita de que eles mesmos

    no se consideram protestantes (seria me-

    lhor coloc-los no conceito generalizante

    de no-catlicos). Outro grupo importante,

    completamente esquecido no sistema de

    classicao, o composto pelos chama-

    dos confederados norte-americanos que

    se estabeleceram principalmente em Santa

    Brbara (SP) logo aps a Guerra Civil. Esses

    imigrantes, principalmente procedentes do

    Sul dos Estados Unidos, eram compostos

    por protestantes de praticamente todas as

    denominaes norte-americanas. Fundaram

    a cidade de Americana e construram sua

    igreja comum. Embora eles mesmos no ob-

    jetivassem a propagao de sua f religiosa,

    de modo indireto contriburam para isso,

    principalmente porque provocaram a vinda

    de pastores para atend-los que acabaram,

    alguns, por exercer atividade missionria

    entre brasileiros. Entre eles, presbiterianos

    do Sul dos Estados Unidos que se estabele-

    ceram em Campinas (SP), metodistas que

    ampliaram suas atividades para alm dos

    limites do territrio confederado e batistas

    que acabaram fundando sua primeira igreja

    em Salvador (BA) recebendo como primeiro

    membro um ex-padre brasileiro.

    curioso que a ao civilizatria que

    as misses protestantes pretendiam realizar

    no Brasil acabou sendo mais expressiva

    atravs de quem no tinha diretamente essa

    inteno. De fato, signicativa a contri-

    buio dos confederados que emigraram

    para a regio de Santa Brbara, tanto para

    a agricultura como para a indstria. H j

    expressiva literatura a respeito que merece

    ser levada em conta quando se estuda imi-

    grao e religio no Brasil. Deixamos para a

    Bibliograa a relao dos livros que tratam

    do assunto. Mas tambm curioso o fato de

    que at hoje descendentes daqueles confede-

    rados ainda se renem quatro vezes por ano

    nas cercanias da hoje Santa Brbara dOeste

    (SP) para relembrar os velhos tempos. Numa

    pequena capela, perto de um antigo cemitrio,

    em meio a um canavial, cantam os velhos

    hinos dos avivamentos religiosos do sculo

    XIX, ouvem o sermo de costume e parti-

    cipam de um jantar com os pratos tpicos

    do Velho Sul dos Estados Unidos. Assim

    narram, pitorescamente, os autores do mais

    recente livro publicado sobre a presena

    desses imigrantes norte-americanos no Brasil

    (Dawsey e outros, 2005, p. 37).

    Assim, ao lado dos imigrantes protes-

    tantes alemes que comearam a chegar

    ao Brasil em 1824 e os anglicanos ingleses

    que os antecederam, necessrio colocar os

    confederados norte-americanos que, apesar

    de no terem criado uma igreja prpria,

    contriburam para a presena protestante

    no Brasil. Ainda, a respeito do protestan-

    tismo de imigrao, oportuno mencionar

    os grupos que vieram j no sculo XX e

    que ainda mantm cultos segundo suas

    tradies denominacionais: reformados

    hngaros, holandeses, franceses e suos,

    batistas russos e letes, e os recentes pres-

    biterianos chineses e coreanos. So grupos

    que j merecem estudos parte.

    Mas voltemos ao perodo histrico em

    questo a m de tentarmos pontuar o sistema

    de ideais religiosos que o caracterizaria.

    Neste ponto, o pensamento bsico deve ser

    procurado no grupo do chamado protestan-

    tismo de misso ou converso, pois que foi

    este que se inseriu, na medida do possvel,

    na sociedade brasileira e esteve mais perto,

    embora com prudncia, das instncias polti-

    cas. Os imigrantes alemes, no interessados

    7 As igrejas congregacionais che-garam ao Brasil em 1858 com o missionrio Robert Reid Kalley. Os congregacionais originam-se principalmente da Esccia, quando grupos aderentes da Reforma calvinista lutavam pela separao entre igreja e estado (no-conformistas ou independentes). Ver: Cardoso, 2001.

  • REVISTA USP, So Paulo, n.67, p. 48-67, setembro/novembro 200554

    em propagar a f, limitaram-se inicialmente

    prtica da piedade e do culto.

    A no ser os congregacionais proce-

    dentes da misso de um escocs, todos os

    demais protestantes de misso originaram-

    se do protestantismo norte-americano.

    Como j tentamos demonstrar em outro

    trabalho (Mendona, 1995, parte, cap.1),

    o movimento religioso norte-americano

    ocorrido no sculo XIX conhecido por

    Grande Despertamento produzira um sis-

    tema teolgico mais ou menos uniforme

    que se superpunha s particularidades de-

    nominacionais. Resumidamente, esse sis-

    tema consistia em dois pontos principais:

    o princpio da converso, que se apoiava

    na regenerao, ou novo nascimento, que

    tinha como resultado a salvao individual

    (Graham, 1973, cap. 11), e a devoo

    tica do trabalho assim como disciplina

    moral. Duas alavancas para a ideologia do

    progresso, como j foi dito.

    Mas h ainda outro fator de ordem teo-

    lgica que, embora contraditrio no interior

    do protestantismo, veio marcar fortemente

    o protestantismo no Brasil. A controvrsia

    a respeito da abolio do sistema escravista

    abalara as igrejas americanas e provocara

    cises no interior de algumas delas, levan-

    do-as a se dividir entre norte e sul. Surgiu,

    assim, entre os conservadores, a idia de

    no comprometer a igreja com a questo

    escravista. A soluo foi racionalizar a

    escravido atravs de uma doutrina nova

    que cou conhecida por Teologia da Igreja

    Espiritual. Com base no preceito bblico dai

    a Csar o que de Csar e a Deus o que

    de Deus, a Teologia da Igreja Espiritual

    insistia em que igreja importavam as ques-

    tes espirituais e as materiais e polticas ao

    Estado (Mendona, 1995, p. 59).

    Buscando espao na sociedade brasilei-

    ra, o protestantismo, embora criticando com

    insistncia a religio ocial, manteve-se o

    quanto possvel afastado de questes de

    ordem social e poltica, sendo parcos os

    pronunciamentos a respeito da abolio

    da escravido. Parece ter contribudo para

    isso a composio do corpo missionrio

    que punha lado a lado nortistas e sulistas.

    Por isso, causou mal-estar entre eles um

    folheto publicado por um pastor presbi-

    teriano brasileiro contrrio escravido

    (Pereira, 1886). O fato que a doutrina da

    Igreja Espiritual permaneceu distintiva no

    protestantismo no Brasil distanciando-o

    sempre das atividades polticas e sociais.

    Era muito comum entre os protestantes a

    expresso: o crente no deve se meter em

    poltica. Parece tambm ter contribudo

    bastante para essa atitude o pr-milena-

    rismo que se instalou nele, expresso num

    messianismo de espera que tornava o el

    protestante indiferente diante das coisas

    deste mundo (Mendona, 2001) .

    Nesse perodo, o sentimento nacionalista

    que envolvia alguns dos mais inuentes

    pensadores e polticos brasileiros, como

    Eduardo Prado (1860-1901), principalmen-

    te em A Iluso Americana (1893), provocou

    velados conitos entre os protestantes de

    origem missionria norte-americana. Em-

    bora velados nos princpios, os conitos se

    tornaram evidentes entre os presbiterianos,

    particularmente em dois momentos. O

    primeiro foi a extino da Imprensa Evan-

    glica, em 1892. Fundado em 1864, esse

    jornal, que circulou durante vinte e oito anos,

    alcanando inclusive o universo catlico, foi

    encerrado por ordem das misses presbite-

    rianas que, alm de fech-lo, negaram aos

    brasileiros o direito de fundar outro com o

    mesmo nome. Sob a camuagem de desen-

    contros com a maonaria, o nacionalismo

    tambm provocou o primeiro cisma entre

    protestantes no Brasil que deu origem, em

    1903, Igreja Presbiteriana Independente

    do Brasil sob o signo do antimaonismo.

    O protestantismo, valendo-se das di-

    culdades que enfrentava a Igreja Catlica

    por causa de fatores como o regalismo e o

    galicanismo, que buscavam o afastamento

    cada vez maior da centralidade vaticana,

    assim como de conitos com a maonaria,

    teve, em nmeros absolutos, crescimento

    signicativo. Os presbiterianos foram os

    que avanaram mais at os vinte anos sub-

    seqentes Proclamao da Repblica,

    quando comearam a perder para os batistas.

    Ganharam espao tambm na atividade

    educacional em que investiram bastante, o

    que causou tambm diculdades no interior

  • REVISTA USP, So Paulo, n.67, p. 48-67, setembro/novembro 2005 55

    das prprias igrejas. Para muitos protestantes,

    a prioridade era converter pessoas ao pro-

    testantismo e promover o crescimento das

    igrejas; para outros, era necessrio educar

    para civilizar, causa que era bvia na men-

    talidade missionria norte-americana. Um

    protestantismo entusiasta e em desenvolvi-

    mento, mas j com crises internas, caracteriza

    esse primeiro perodo. Crises principalmente

    geradas por mentalidades diferentes e com

    prioridades divergentes.

    PROJETO DE COOPERAO E UNIONISMO: DE 1916 A 1952

    Momento histrico importante para

    o protestantismo no Brasil e na Amrica

    Latina foi o Congresso da Obra Crist

    na Amrica Latina, realizado na Zona do

    Canal do Panam, em fevereiro de 1916.

    Esse congresso, conhecido simplesmente

    por Congresso do Panam, foi uma reao

    Conferncia Missionria de Edimburgo,

    Esccia, realizada em 1910. Essa confern-

    cia, in uenciada pela amplitude colonialista

    da Inglaterra, rmou o princpio de que as

    misses s deveriam ter como objetivo o

    mundo no-cristo, o que exclua as reas

    ocupadas pela Igreja Catlica e punha em

    xeque todo o arcabouo missionrio pro-

    testante na Amrica Latina.

    Mas a histria, muitas vezes irnica,

    pregou mais uma vez uma de suas peas.

    O Panam, que pretendia rmar o princpio

    de que era necessrio fazer misso tambm

    nos pases catlicos por razes de ordem

    teolgica, no contava com outras razes,

    estas de carter mais forte porque geradas

    no mbito poltico internacional, e acabou

    provocando um impasse dentro do prprio

    protestantismo latino-americano. A polti-

    ca do pan-americanismo, provocada pelo

    presidente norte-americano James Monroe

    (1817-25), no desejava desagradar os

    pases latino-americanos, todos catlicos,

    alguns ainda mantendo a ligao Igreja-

    Estado. Assim, a pauta do congresso, toda

    preparada nos Estados Unidos, praticamente

    manteve a poltica de Edimburgo ao decidir

    pela prudncia em relao Igreja Catlica.

    A mensagem nal do congresso recomen-

    dou que a ao missionria deveria buscar

    reas no atendidas pela Igreja Catlica,

    principalmente entre os ndios.

    O pastor e educador presbiteriano bra-

    sileiro Erasmo Braga (1877-1932), consi-

    derado um dos pioneiros do movimento

    ecumnico, foi encarregado de resumir e

    publicar o pensamento o cial do congres-

    so, isto , o movimento pela unidade dos

    cristos latino-americanos, o que fez em

    seguida escrevendo a obra emblemtica

    do evento Panamericanismo, Aspecto Reli-

    gioso, publicada em Nova York (1916) em

    portugus e espanhol. A idia de unidade

    dos cristos, aqui entendida como unidade

    dos protestantes, foi posta em ao pela

    organizao, em 1917, da Comisso Bra-

    sileira de Cooperao. Fizeram parte da

    comisso presbiterianos, presbiterianos

    independentes, metodistas, congregacionais

    e episcopais, e o objetivo era produzir litera-

    tura religiosa em portugus, uma imprensa

    e livraria no Rio de Janeiro, uma revista da

    famlia, uma universidade protestante e um

    orfanato (Pierson, s/d).

    Esse ambicioso projeto, com fundos

    que excediam um milho de dlares, era

    inteiramente subsidiado pelas igrejas norte-

    americanas. Parte do projeto foi realizada,

    principalmente a partir da fundao da

    Confederao Evanglica do Brasil, em

    1934, embora j houvesse fracassado o Se-

    minrio Unido do Rio de Janeiro (1918-33),

    talvez o que viria ser semente da sonhada

    Universidade Protestante. Sempre em pauta

    a disputa entre brasileiros e missionrios

    norte-americanos. Contudo, sob a tutela

    da confederao, foram publicados vrios

    textos de instruo religiosa, principalmente

    revistas para as escolas dominicais mediante

    trabalho exaustivo do educador Erasmo

    Braga. Buscava-se a unidade dentro da

    diversidade do protestantismo.

    De fato, durante muitos anos foi possvel

    participar de cultos e escolas dominicais

    da maioria das igrejas no Brasil portando a

    mesma verso da Bblia, o mesmo livro de

    hinos e a mesma revista de escola domini-

  • REVISTA USP, So Paulo, n.67, p. 48-67, setembro/novembro 200556

    cal. Outro sonho era chegar a unir em uma

    s todas as igrejas protestantes no Brasil.

    O grande defensor desse sonho em viglia

    foi o auxiliar de Erasmo Braga, o pastor

    presbiteriano independente Epaminondas

    Melo do Amaral (1893-1962), que escreveu

    o livro clssico do chamado unionismo,

    O Magno Problema (1934), em que, entre

    outras coisas, critica o protestantismo bra-

    sileiro por ter copiado o modelo norte-ame-

    ricano com suas inmeras denominaes.

    O unionismo, como a educao teolgica

    comum, fracassou. No obstante, a reunio

    das igrejas protestantes na Confederao

    Evanglica chegou a dar alguns resulta-

    dos, ao menos na representatividade dos

    protestantes em algumas instituies bra-

    sileiras, como aconteceu com a nomeao

    de capeles para servir ao Exrcito durante

    a Segunda Guerra Mundial.

    O perodo, com a cooperao e muitas

    das idias do unionismo, promoveu a

    aproximao entre as igrejas no Brasil.

    Sobrelevando as diferenas teolgicas, as

    igrejas passaram a desenvolver programas

    evangelsticos visando ao prprio cresci-

    mento a partir de uma mensagem religiosa

    unicada em torno da converso individual

    e mudana de vida, muito semelhantes ao

    Grande Despertamento havido nos Estados

    Unidos no sculo anterior. Substitua-se

    o sermo tradicional, ou a usual homilia,

    pela conferncia religiosa. Um car-

    ter mais secular envolvia as reunies de

    culto. Para essas conferncias as igrejas

    envolviam os grandes pregadores da poca,

    mais pelos dotes oratrios do que por suas

    tradies denominacionais. Alguns nomes

    estrangeiros como Edwin Orr e Stanley

    Jones percorreram as igrejas fazendo con-

    ferncias. Destacaram-se brasileiros como

    os batistas Rubens Lopes e Rafael Gioia

    Martins, os presbiterianos Miguel Rizzo Jr.

    e Jos Borges dos Santos Jr. e os metodistas

    Almir dos Santos e Natanael Inocncio do

    Nascimento.

    Reprod

    uo

  • REVISTA USP, So Paulo, n.67, p. 48-67, setembro/novembro 2005 57

    Dentre esses clssicos pregadores brasi-

    leiros, herdeiros do melhor plpito cristo,

    um deles merece destaque porque se dife-

    rencia dos demais quanto direo de sua

    pregao: enquanto os outros seguiam a tra-

    dio do Despertamento, que procurava

    trazer convertidos para o interior da igreja,

    Rizzo empenhava-se em levar a f religiosa

    queles que normalmente relutavam em

    entrar num templo protestante. Para isso,

    usava espaos no sagrados como teatros

    e sales de conferncias em geral. Fundou

    tambm o Instituto de Cultura Religiosa que

    publicou revistas com o mesmo objetivo.

    Sua produo literrio-religiosa visava cha-

    mar a ateno para o Jesus varo-modelo

    e no teologizado, muito semelhante ao

    descrito pelos telogos do protestantismo

    liberal que preconizavam o seguir a Je-

    sus como essncia do ser cristo. No

    injusto pensar que o ideal de Rizzo seria,

    embora com muita antecipao no Brasil, o

    de um cristianismo anterior religio. Essa

    hiptese, para ser demonstrada, demandaria

    um estudo mais aprofundado de sua obra,

    mas no deixa de ser atraente.

    A tolerncia, e mesmo respeito, para

    com o catolicismo latino-americano por

    parte do Congresso do Panam gerou forte

    reao por parte de alguns lderes brasilei-

    ros, ambos presbiterianos. Eduardo Carlos

    Pereira, respeitado gramtico e pastor da

    ento recm-criada Igreja Presbiteriana

    Independente, e lvaro Reis, notvel ora-

    dor sacro e pastor da Igreja Presbiteriana

    no Rio, encabearam sria oposio ala

    mais aberta do congresso, cujo principal

    representante foi o tambm brasileiro e

    presbiteriano Erasmo Braga.

    Eduardo Carlos Pereira, cuja moo

    contrria poltica do pan-americanismo

    religioso sequer entrara na pauta do con-

    gresso, publicou em 1920 o livro mais

    polmico contra a Igreja Catlica: O Pro-

    blema Religioso da Amrica Latina, com

    o subttulo Estudo Dogmtico Histrico.

    Erudito, crtico e por vezes muito cido,

    Pereira conclui o livro grafando em desta-

    que: fora de Roma, dentro do cristianismo.

    Falecendo em 1923, Pereira por pouco no

    viu a volumosa e tambm erudita, assim

    como cida, rplica do jesuta Leonel Franca

    publicada no mesmo ano: A Igreja, a Refor-

    ma e a Civilizao. A douta polmica durou

    alguns anos tendo, de um lado, Franca, e

    de outro, vrios oponentes que assumiram

    o lugar de Pereira, todos presbiterianos.

    Pastores de outras denominaes tambm

    ajudaram a incrementar o debate atravs de

    artigos em revistas e jornais. O conito entre

    a religio hegemnica e o protestantismo

    emergente, de incio limitado disputa por

    is e territrio, agora guindara o plano da

    erudio histrica e teolgica

    No interior das denominaes, dois

    outros eventos histricos ocorreram nesse

    perodo, ambos tendo como motivo as

    relaes entre nacionais e missionrios es-

    trangeiros. Em 1925, os batistas brasileiros,

    atravs do movimento conhecido como

    Questo Radical, obtiveram parcial auto-

    nomia na gesto de fundos, movimento que

    prosseguiu sempre na direo da autonomia

    completa e de maneira complicada, dado o

    princpio batista da autonomia absoluta das

    igrejas locais. Por esse princpio, acordos

    de cpula, sejam atravs de comisses ou

    convenes, no as obrigam necessariamen-

    te (Pereira, 1982, cap. 12; Reily, 2003, pp.

    182 e segs.). Ainda dentro do contexto do

    movimento nacionalista, a Igreja Metodista

    do Brasil obteve sua autonomia em 1930

    (Josgrilberg, 1998).

    No podemos encerrar esse perodo,

    muito rico em mudanas no protestantismo

    mundial, especialmente no norte-ameri-

    cano, sem mencionar, embora em traos

    largos, algumas de suas repercusses no

    Brasil. Um desses movimentos foi o do

    Evangelho Social, que se liga diretamente

    ao pastor batista norte-americano Walter

    Rauschenbusch (1861-1918). Ligado ao

    protestantismo liberal, Rauschenbusch,

    aps estudos na Alemanha, desenvolveu seu

    ministrio pastoral entre imigrantes alemes

    numa das reas mais pobres de Nova York,

    e entrou num debate sobre os direitos das

    classes trabalhadoras. Convencido de que

    o pecado era tanto social como individual,

    talvez mais social, Rauschenbusch aban-

    donou, como os liberais, toda teologia

    metafsica em favor de uma teologia de-

  • REVISTA USP, So Paulo, n.67, p. 48-67, setembro/novembro 200558

    dicada ao reino de Deus neste mundo em

    lugar de uma meta ultraterrena. Traos do

    marxismo, sem dvida, esto presentes no

    pensamento do Evangelho Social quando,

    de modo mais direto, o protestantismo

    passa a pensar tambm nas relaes entre

    os indivduos.

    O Evangelho Social, enquanto corrente

    teolgica, foi bloqueado no Brasil. Contu-

    do, um dos seus projetos relativos ao reino

    de Deus, chamado nos Estados Unidos de

    settlement houses, ou centros sociais, surgiu

    nas igrejas locais maiores visando ajudar as

    pessoas de seus bairros atravs de servios

    sociais, recreao, bibliotecas, orfanatos,

    creches, hospitais e assim por diante. Al-

    gumas dessas instituies sobreviveram

    aos seus idealizadores e suas idias. Hoje,

    o Evangelho Social visto como grande

    heresia, pois o reino de Deus voltou a ser

    visto como algo para alm da histria. O

    clssico livro do Evangelho Social foi Nos

    Passos de Jesus (In His Steps), de Charles

    M. Sheldon, escrito em 1896. Consta ser

    um dos livros mais lidos no mundo e labora

    em torno da pergunta: em cada ao como

    agiria Jesus?

    Se o Evangelho Social foi uma das ex-

    presses diretas do liberalismo teolgico

    protestante, o fundamentalismo surgiu como

    uma reao tambm direta acolhida que

    o liberalismo dava aos preceitos e mto-

    dos da cincia moderna, principalmente

    inuncia crescente do evolucionismo. O

    ponto de partida do fundamentalismo foi

    dado na clebre Conferncia Bblica de

    Nigara, em 1878. Em poucas palavras, o

    fundamentalismo se dene pela defesa da

    ortodoxia protestante a respeito da Bblia

    como infalvel e acima de qualquer rein-

    terpretao que parta da cincia moderna,

    principalmente do evolucionismo. O fun-

    damentalismo institucionalizou-se como

    movimento internacional aps a Segunda

    Guerra Mundial com a fundao do Con-

    selho Internacional de Igrejas Crists, em

    1948, em Amsterd, sob a liderana do

    pastor presbiteriano norte-americano Carl

    McIntire (1906-2002). Voltando-se princi-

    palmente contra o movimento ecumnico,

    que tambm se institucionalizava, o ICCC

    (International Council of Christian Chur-

    ches), pela voz de seu fundador, chamado

    pelos seus adversrios de apstolo da

    discrdia, promoveu crises internas nas

    igrejas. As brasileiras, mormente as pres-

    biterianas, no caram imunes pregao

    de McIntire, que esteve no Brasil ao menos

    duas vezes, e acabou inuindo na criao de

    uma Federao de Igrejas Fundamentalistas

    que publicou durante bom tempo um jornal

    intitulado O Presbiteriano Bblico.

    O curioso que na mesma semana e na

    mesma cidade de Amsterd fundava-se o

    Conselho Mundial de Igrejas (WCC World

    Council of Churches), fruto de longa expe-

    rincia de convvio entre cristos de vrias

    tradies e denominaes. Esse convvio,

    sem dvida sob a inspirao do liberalismo

    da chamada Escola da Histria das Reli-

    gies, s aguardou o trmino da guerra para

    Reprod

    uo

  • REVISTA USP, So Paulo, n.67, p. 48-67, setembro/novembro 2005 59

    8 Wasp: white, anglo-saxon and protestant.

    ganhar corpo e institucionalizar-se. Um dos

    grandes inspiradores do movimento ecu-

    mnico foi o arcebispo luterano da Sucia

    Nathan Sderblom (1866-1931), professor

    de histria da religio em Upsala. Sder-

    blom conseguiu ultrapassar sua formao

    evanglica avivalista ao encontrar-se com

    a teologia liberal protestante e, no seu ideal

    de unio dos cristos, ultrapassou ambas as

    correntes. De fato, o movimento ecumnico,

    ento institucionalizado, pretendia estar

    acima das divises tanto eclesisticas como

    teolgicas dos cristos ao rmar-se sobre

    os princpios essenciais do cristianismo que

    pudessem ser aceitos por todos.

    Nesse ponto, estava armado todo o

    cenrio confuso e contraditrio do protes-

    tantismo no Brasil. Vrias alternativas, ver-

    dadeiras encruzilhadas, se lhe ofereceriam

    a partir dos anos seguintes.

    PERODO DE 1952 A 1962: A CHEGADA DE UM BANDO DE TEOLOGIAS NOVAS

    Entre as diversas encruzilhadas do

    protestantismo no Brasil, esse perodo de

    dez anos representa de fato a grande e de-

    cisiva encruzilhada desse protestantismo, o

    momento decisivo em que ele poderia ter

    assumido a realidade brasileira e passado a

    participar da histria do pas. Fatores his-

    tricos, muitos de natureza internacional,

    interromperam o processo, que culmina em

    1962 com a Conferncia do Nordeste e tem

    seu melanclico m nos anos 70.

    No perodo anterior, que transcorre em

    sua maior parte na Era Vargas, caracterizado

    pelo movimento unionista, o nacionalismo

    protestante girou em torno de movimentos

    de autonomia administrativa das igrejas,

    mas no abriu caminhos para a autonomia

    cultural ou, melhor dizendo, para que seu

    rosto se voltasse para o lado brasileiro.

    Exemplo disso foi a literatura destinada

    educao religiosa, unicada e usada pe-

    las igrejas participantes da Confederao

    Evanglica. No obstante ter a redao do

    material cado sob a responsabilidade de

    pastores brasileiros, como o competente

    educador Erasmo Braga, o modelo vinha

    dos Estados Unidos e era aqui traduzido

    e adaptado. Era incongruente com a reali-

    dade brasileira porque retratava o padro

    burgus da cultura norte-americana. As

    crianas, principalmente, viam e aprendiam

    na igreja coisas que pouco ou nada tinham

    a ver com suas vidas, embora as casas dos

    protestantes, em geral de classe mdia ou

    em ascenso, ostentassem traos sensveis

    de algo prximo ao wasp (8). Joo do Rio

    (1976, p. 87) parece ter sido o primeiro a

    observar e registrar em suas deliciosas cr-

    nicas esse trao curioso do protestantismo

    ainda incipiente no Brasil. Autonomia po-

    ltica (poder), mas no cultural, era o que,

    de fato, as igrejas ostentavam.

    Vargas, deposto em 1945, logo aps o m

    da guerra, deixara uma herana mesclada de

    alguns avanos, como as leis trabalhistas,

    o incio da industrializao, bem como um

    atraso poltico que ameaava o pas com a

    volta das mazelas da Primeira Repblica.

    Embora a Constituio de 1946 fosse re-

    conhecida como boa, grandes mudanas

    sociais exigiam reformas econmicas e

    polticas de base. Nova conscincia poltica

    brota entre intelectuais e jovens estudantes

    que passam a clamar pelas chamadas ento

    reformas de base. O nacionalismo volta

    com muita fora e exige um desenvolvi-

    mento econmico e social autnomo. A in-

    dustrializao e o conseqente crescimento

    das cidades geram tenses entre as classes

    mdias rurais e urbanas, ao mesmo tempo

    em que fazem aumentar a pobreza nas pe-

    riferias das grandes cidades. Esse cenrio,

    propcio para uma profunda revoluo so-

    cial, iria afetar muito de perto, parece que

    pela primeira vez em nossa histria, o quadro

    religioso incluindo o protestantismo.

    O protestantismo, j em sua terceira

    gerao no Brasil, formara em seu seio

    uma juventude burguesa intelectualizada

    pelo acesso s universidades que foram

    surgindo no perodo anterior. Treinados

    para liderana em suas igrejas, esses jo-

    vens comearam a ter logo parte ativa nos

  • REVISTA USP, So Paulo, n.67, p. 48-67, setembro/novembro 200560

    quadros estudantis que formavam os cen-

    tros acadmicos nas escolas superiores e,

    assim, passaram a ver a realidade sob outro

    ngulo, ou melhor, voltariam suas faces para

    o mundo real. Perceberam o quanto suas

    igrejas estavam alheias ao que se passava

    fora de suas portas. Passaram a falar outra

    lngua e se abriu um vazio entre eles e as

    lideranas eclesisticas.

    nesse cenrio que surge o bando de

    teologias novas (9) que atinge primeiro o

    Seminrio Presbiteriano do Sul, em Cam-

    pinas (SP), e se alastra por outros em pouco

    tempo. Ao mesmo tempo em que uma nova

    realidade histrico-social se abria para os

    jovens leigos das igrejas, aragens frescas

    do pensamento teolgico passaram a entrar

    pelas janelas dos seminrios.

    A histria do ensino de teologia nos

    seminrios brasileiros, talvez com exceo

    dos de tradio luterana europia, mostra-

    va uma prtica repetitiva de segunda mo

    com base em manuais clssicos de teologia

    metafsica. Frmulas frias e distantes. Nos

    seminrios presbiterianos, por exemplo,

    circulavam os manuais de A. B. Berkhof,

    de 1933, e o de A. H. Strong, de 1907, o que

    deveria ocorrer tambm em outros.

    Em 1952, chega ao Brasil e foi para o

    Seminrio Presbiteriano do Sul, em 1953

    o missionrio norte-americano Richard

    Shaull (1919-2002) para assumir um pos-

    to no corpo de professores. Ento com 33

    anos de idade, Shaull j se envolvera com o

    movimento estudantil atravs da Federao

    Mundial de Estudantes Cristos (Fumec)

    em sua 1a Conferncia Latino-Americana,

    realizada em So Paulo, em 1952. A Fumec

    dedicava-se evangelizao de jovens

    universitrios e ao estudo da Bblia em

    profundidade e cuja f deveria expressar-se

    no meio das lutas sociais (Shaull, 2003, p.

    94). Encontra-se com o pastor presbiteriano

    Jorge Csar Mota, que dirigia a incipiente

    Unio Crist de Estudantes do Brasil (Uceb),

    e vai, durante os anos seguintes, exercer

    forte inuncia nesse organismo. Shaull,

    como ele mesmo diz em suas memrias,

    acreditava na potencialidade desse mo-

    vimento como resposta nova gerao de

    protestantes ansiosos para aprofundar sua

    f e encontrar seu caminho no mundo.

    Shaull foi alm, dialogando com a UNE

    (Unio Nacional de Estudantes) e com as

    UEEs (Faria, 2002, p. 105).

    Estava a a liderana intelectual e prtica

    que os jovens protestantes brasileiros de-

    sejavam. Quanto ao pensamento teolgico,

    Shaull introduziu seus alunos no mundo

    ento desconhecido da teologia europia,

    pensamento produzido no turbilho da

    guerra e do ps-guerra. O principal nome

    que surge no cenrio seria o do reformado

    Karl Barth (1886-1968), tido como o maior

    telogo do sculo XX. Sua obra, conhecida

    por teologia dialtica ou teologia da Pa-

    lavra de Deus, posteriormente englobada

    sob o ttulo mais geral de neo-ortodoxia,

    apontava para a ao contnua de Deus

    na histria e com a qual o homem devia

    colaborar. A leitura de Barth, notvel por

    sua oposio ao nazismo, representava, no

    ps-guerra, um apelo aos cristos para que

    superassem o conformismo e avanassem na

    direo da construo de um mundo justo.

    Mais ou menos na mesma linha, passaram a

    circular outros telogos como Emil Brunner

    (1889-1966) e Rudolf Bultmann (1884-

    1976). O que despertou mais paixo entre os

    estudantes de teologia no Brasil foi Dietrich

    Bonhoeffer (1906-1945), enforcado pelos

    nazistas em um campo de concentrao nos

    ltimos dias da guerra. Bonhoeffer, em suas

    famosas cartas escritas da priso, reetia

    sobre a possibilidade de ser cristo num

    mundo secularizado, superando a religio

    e mesmo a igreja. Esse pensamento iria

    avanar pela dcada seguinte com o ttulo

    genrico de Teologia Radical.

    Richard Shaull, alm de levar a chamada

    teologia moderna para o ambiente em que

    atuava, ele mesmo passou a pr em prtica

    uma teologia da ao e no estilo aberto e

    ecumnico. Shaull aponta para a natureza

    dinmica de Deus e para o fato de que sua

    atividade na histria estava prosseguindo

    rumo a um alvo. Essa postura de Shaull foi

    logo vista como uma crtica e um desao

    s igrejas para que sassem da inrcia e do

    conformismo e tomassem parte e responsa-

    bilidade diante de um mundo em mudana.

    Passou a ser incmodo.

    9 Referncia expresso um bando de idias novas usada por Joo Cruz Costa em Con-tribuio Histria das Idias no Brasil.

  • REVISTA USP, So Paulo, n.67, p. 48-67, setembro/novembro 2005 61

    A inuncia de Shaull sobre estudantes

    universitrios e alunos de seminrios deu

    como resultado um distanciamento entre

    a juventude das igrejas, insatisfeita com a

    maneira como elas se comportavam perante

    o chamado estado revolucionrio do Brasil,

    e as autoridades que receavam subverter-se a

    disciplina eclesistica. Mas, mesmo assim, o

    Setor de Responsabilidade Social da Igreja,

    rgo da Confederao Evanglica, pros-

    seguia em suas atividades, principalmente

    sob a inuncia da Segunda Assemblia do

    Conselho Mundial de Igrejas realizada em

    Evanston, Estados Unidos, em 1954.

    A Conferncia de Evanston praticamen-

    te acirrou a crise nas igrejas brasileiras,

    principalmente porque participaram dela

    representantes das igrejas russas, o que

    serviu para que o Conselho Mundial de

    Igrejas fosse acusado de estar se abrindo

    para o comunismo. Desabrochava o conito

    entre o fundamentalismo representando

    pelo Conselho Internacional de Igrejas

    Crists e o ecumenismo representado pelo

    Conselho Mundial de Igrejas, com intensos

    reflexos nas igrejas brasileiras. Mesmo

    assim, o Setor de Responsabilidade Social

    da Igreja realizou trs reunies de estudos

    que antecederam a Conferncia do Nordes-

    te, em 1962. Em suma, o perodo mostra

    progressiva politizao da juventude das

    igrejas protestantes.

    Outro impacto que as igrejas sofreram

    no perodo considerado foi a exploso

    pentecostal no incio dos anos 50. A in-

    dustrializao e o crescimento das cidades

    decorrente da migrao campo-cidade

    provocaram, ao mesmo tempo, desajustes

    sociais, bem como certo descompromisso

    dos migrantes em relao s suas igrejas

    de origem. A migrao geogrca trouxe

    consigo uma migrao religiosa em busca

    de religies mais prticas e que tivessem a

    ver com o cotidiano das pessoas.

    A exploso pentecostal teve como ponto

    de partida o movimento de tendas de cura

    divina promovido pela chamada Cruzada

    Nacional de Evangelizao que alcanou

    o pas todo. Foi um movimento religioso

    tipicamente urbano que comeou em So

    Paulo em 1953. A cruzada era um brao da

    Igreja do Evangelho Quadrangular, igreja

    pentecostal originada no Sul dos Estados

    Unidos e que sustentava quatro princpios:

    salvao da alma, batismo com o Esprito

    Santo, cura divina e segunda vinda de Cristo.

    V-se que eram mantidas doutrinas comuns

    ao cristianismo protestante, como a salvao

    individual e o pr-milenarismo, assim como

    o batismo dos pentecostais tradicionais. A

    novidade era a nova nfase na cura divina.

    Ao lado da cura divina, como complemento,

    vinha o exorcismo de demnios. O histo-

    riador desse movimento, ele mesmo um

    dos seus pastores (Rosa, 1977, Introduo),

    queixa-se do desequilbro dos quatro pilares

    provocado pela nfase exagerada na cura

    divina. Todavia, para uma populao de

    um lado insatisfeita com a falta de atrativo

    em suas igrejas e, de outro, necessitada de

    apoio para o desamparo social em que vi-

    via, a cura divina, entendida no seu sentido

    mais amplo, constitua de fato a principal

    atrao simblica.

    A cruzada atingiu as igrejas tradicionais,

    bem como as pentecostais clssicas. Muitos

    pastores e leigos dessas igrejas, inuencia-

    dos pela nova prtica religiosa, vieram a

    fundar vrias igrejas no mesmo estilo. Na

    verdade, a Cruzada Nacional de Evangeli-

    zao foi a origem do neopentecostais.

    O perodo se fecha com as igrejas tradi-

    cionais situadas perante trs vias opostas a

    elas mesmas e entre si: o pentecostalismo

    de cura divina, o fundamentalismo e o

    ecumenismo incipiente.

    PERODO DE REPRESSO E ISOLACIONISMO DAS IGREJAS: 1962 A 1983

    Mesmo j com diculdades internas e

    externas por causa de reaes das cpulas

    das igrejas contra o avano da autonomia

    de setores leigos dentro da Confederao

    Evanglica, o Setor de Responsabilidade

    Social da Igreja caminhou na direo da

    realizao da sua quarta reunio de estudos

  • REVISTA USP, So Paulo, n.67, p. 48-67, setembro/novembro 200562

    que viria a ser conhecida por Conferncia do

    Nordeste. A organizao dessa conferncia,

    decisiva quanto aos rumos do protestantis-

    mo no Brasil, contou com a forte liderana

    do leigo presbiteriano Waldo Csar e a ins-

    pirao sempre presente de Richard Shaull,

    que j no era mais professor no Seminrio

    Presbiteriano do Sul.

    A Conferncia do Nordeste, que teve

    como tema Cristo e o Processo Revolu-

    cionrio Brasileiro, realizada de 22 a 29

    de julho de 1962 na cidade do Recife, j

    incorporava a crtica ao modelo econmi-

    co-poltico desenvolvimentista da dcada

    anterior. Para os mentores da conferncia,

    o Brasil estava dentro de um processo

    revolucionrio diante do qual as igrejas

    no poderiam se omitir. Por isso, a agenda

    da conferncia contava com dois aspectos

    complementares: de um lado, uma anlise

    de conjuntura que seria processada por

    socilogos e economistas neutros, isto ,

    que nada tinham a ver com as igrejas e,

    de outro, propostas teolgicas no sentido

    de chamar a ateno das igrejas para o seu

    papel na situao histrica pela qual o pas

    passava.

    H, pelo menos, dois documentos im-

    portantes sobre essa conferncia. Um deles,

    escrito por Waldo Csar (1962a), secretrio

    executivo do Setor de Responsabilidade

    Social da Igreja, da Confederao Evan-

    glica do Brasil, um dirio, uma crnica

    leve mas cheia de informaes sobre os

    bastidores da conferncia, seus conitos e

    aproximaes, enm, a dinmica interna

    de um encontro de tantas personalidades e

    tendncias diferentes. O outro a publica-

    o ocial do evento com o mesmo ttulo

    e que traz os textos das conferncias e os

    relatrios dos diferentes grupos de estudos

    (Csar, 1962b). Na Introduo a esse vo-

    lume, escrita por Waldo Csar, aparece em

    poucas linhas, e in totum, o projeto utpico

    que animava o setor jovem e politizado das

    igrejas protestantes no Brasil: A Confern-

    cia do Nordeste foi, antes de tudo, grande

    esforo neste sentido: levar a Igreja a falar

    a linguagem da poca em que vivemos e a

    encontrar-se com a sociedade brasileira

    (Csar, 1962b, p. xi).

    A representao da conferncia avizi-

    nhava-se, pela sua composio, da utopia

    unionista dos criadores da Confederao

    Evanglica. Todas as igrejas histricas do

    protestantismo nacional estavam represen-

    tadas. Duas utopias: a acima, expressa por

    Waldo Csar, e a unio protestante em torno

    dela. Veremos, mais adiante, que as foras

    ideolgicas, que iriam logo se desencadear,

    seriam mais fortes e venceriam. Quem de-

    nunciou isso alguns anos adiante foi o jovem

    Rubem Alves, um dos presentes na confe-

    rncia, ao publicar um artigo que se tornou

    muito conhecido nas dcadas seguintes.

    O artigo trazia o ttulo O Protestantismo

    Latino-americano: sua Funo Ideolgica e

    suas Possibilidades Utpicas. Esse artigo,

    publicado em ingls (Alves, 1970), em 1970,

    imediatamente comeou a circular, traduzido

    e mimeografado, nos seminrios brasileiros.

    Bem mais tarde saiu numa coletnea do

    prprio Rubem Alves (1982).

    As anlises de conjuntura, cujo espao

    era tomado pelas questes sociais provo-

    cadas pela industrializao e pela crise do

    campesinato, foram feitas por Gilberto

    Freyre, Celso Furtado, Paulo Singer e Jua-

    rez Rubem Brando Lopes. A chamada

    responsabilidade das igrejas diante do

    estado revolucionrio cou a cargo de

    pastores envolvidos com as novas teolo-

    gias, como o luterano Ernst Schlieper, o

    metodista Almir dos Santos, os presbiteria-

    nos Joaquim Beato, Joo Dias de Arajo e

    Sebastio Gomes Moreira, e os episcopais

    anglicanos Edmund Knox Sherrill (bispo)

    e Curt Kleemann.

    A Conferncia do Nordeste, com re-

    percusso nacional e internacional, causou

    grande impacto dentro das igrejas. A situa-

    o agravou-se com a chegada de novo

    bando de teologias novas, a intensicao

    do conito entre fundamentalismo e ecu-

    menismo e o golpe militar de 64.

    A dcada de 60 foi uma poca revolu-

    cionria com o impacto das novas tecnolo-

    gias e conseqentes mudanas sociais e o

    surgimento do tema esperana nos vrios

    setores da vida intelectual. Na losoa o

    tema aparece em Ernst Bloch (1855-1977)

    com O Princpio Esperana (1959), s

  • REVISTA USP, So Paulo, n.67, p. 48-67, setembro/novembro 2005 63

    agora publicado em portugus, e na teolo-

    gia surge Jrgen Moltmann (1926-) com

    sua monumental Teologia da Esperana,

    primeira edio em 1968. Em portugus

    acaba de sair a 3a edio. Em 1969, o

    telogo presbiteriano brasileiro, um dos

    participantes da conferncia, Rubem Alves,

    publica sua tese de doutorado nos Estados

    Unidos intitulada A Theology of Human

    Hope. Essa obra s saiu em portugus em

    1987 com o ttulo Da Esperana depois de

    ter sido publicada antes em outras lnguas.

    Vale considerar que o tema perpassa com

    igual intensidade o universo intelectual

    catlico como, por exemplo, em J. B. Metz,

    que, passando pelo tema da secularizao e

    por uma teologia do mundo, chega a uma

    teologia poltica. Nem mesmo a sociologia

    cou alheia ao movimento porque Henri

    Desroche (1914-1994) publicou Sociologie

    de LEsprance, em 1973. A traduo em

    portugus saiu em 1985.

    Duas outras correntes, paralelas por

    sinal, empolgam esse perodo. O telogo

    norte-americano Harvey Cox (The Secular

    City, 1965-66) trabalha o tema da relao

    entre a urbanizao e a secularizao,

    enquanto dois outros, tambm norte-ame-

    ricanos, William Hamilton e Thomas J. J.

    Altizer, levantam a bandeira da teologia

    radical, tambm chamada teologia da

    morte de Deus. Entram tambm por essa

    via Gabriel Vahanian (The Death of God,

    1961) e o bispo anglicano que causou sen-

    sao com Honest to God, 1963. Por sua

    vez, o telogo catlico Robert Adolfs chega

    ao extremo da crtica igreja acusando-a de

    ser tmulo de Deus. Em resumo, a massa

    da produo teolgica desse perodo, tanto

    protestante como catlica, procura mostrar

    que num mundo secularizado e aberto a

    mudanas, vez que destrudo pela guerra, era

    necessrio buscar novas formas de religio

    ou at mesmo superar a religio. A teologia

    radical, ou da morte de Deus, por certo no

    era atia, mas tinha implcita a idia de que

    o Deus da tradio havia morrido na cul-

    tura. As igrejas o haviam enterrado com

    suas frmulas antiquadas e emperradas. Era

    Nietzsche chamado lia com o clebre

    dilogo entre Zaratustra e o velho papa

    fora de servio, fora de servio porque

    sua instituio havia acabado. Estavam em

    jogo estrutura e poder das igrejas.

  • REVISTA USP, So Paulo, n.67, p. 48-67, setembro/novembro 200564

    Na Amrica Latina dois acontecimentos

    iriam centralizar o grande debate em torno

    da situao social, econmica e poltica. A

    ideologia desenvolvimentista seria ques-

    tionada pela tese da dependncia elaborada

    por Fernando Henrique Cardoso e Enzo

    Faletto (Dependncia e Desenvolvimento

    na Amrica Latina, 1965-67). A teoria se

    completava com a obra de Celso Furtado,

    j citada, sobre as origens do subdesenvol-

    vimento. Nesse ponto, tanto alguns setores

    das igrejas protestantes quanto da Igreja

    Catlica avanaram mais ou menos na mes-

    ma direo, isto , no sentido de envolver

    as igrejas na luta pela conquista de uma

    sociedade mais justa diante de um cenrio

    aberto a profundas mudanas.

    Assim, no cenrio protestante surge, em

    1961, a Junta Latino-Americana Igreja e

    Sociedade com o m de promover consultas

    sobre a responsabilidade social das igrejas

    evanglicas na Amrica Latina. Isal, como

    passou a ser conhecida, passou a publicar,

    em Montevidu, a revista Cristianismo y

    Sociedad, que teve larga circulao em toda

    a Amrica Latina. Essa revista, que servia

    de elo entre os protestantes da esquerda

    teolgica latino-americana, migrou por

    vrios pases at se extinguir melancolica-

    mente . Muitos brasileiros participaram de

    Isal, entre eles, com atuao saliente, Rubem

    Alves. Richard Shaull, mesmo no sendo

    latino-americano, foi um dos seus principais

    nomes. No cenrio catlico, o aggiorna-

    mento proposto pelo Conclio Vaticano II

    iria culminar na Segunda Conferncia do

    Episcopado Latino-Americano, em Me-

    dellin, Colmbia, 1968, com a declarao

    da opo preferencial pelos pobres, ponto

    de partida para a Teologia da Libertao

    que se desenvolveria na dcada seguinte. Os

    mais conhecidos nomes brasileiros inseridos

    nessa corrente teolgica foram os catlicos

    Leonardo Boff e Hugo Assmann. Do lado

    protestante, ao menos nos seus incios, o

    nome de Rubem Alves seria arrolado como

    um dos seus precursores. Mais tarde ele se

    afastaria tomando outros caminhos, princi-

    palmente quanto ao mtodo e linguagem

    da teologia (Cervantes-Ortiz, s/d).

    O protestantismo latino-americano,

    particularmente o brasileiro, mal chegou

    aos umbrais da Teologia da Libertao. Mas

    mesmo a simples aproximao dela atravs

    do movimento de Isal foi su ciente para o

    endurecimento das igrejas e o incio de um

    processo de represso, especialmente pela

    identi cao que as alas conservadoras das

    igrejas faziam entre ecumenismo e comu-

    nismo e a presso fundamentalista tanto

    interna como externa. Alm de tudo, por trs

    estava j o perodo de represso do regime

    militar. A presso fundamentalista externa,

    representada pela presena cada vez maior

    no Brasil das chamadas misses paraecle-

    sisticas, ou misses de f, assim como

    os clares ainda visveis do macarthismo

    provocaram o expurgo progressivo da ala

    chamada liberal ou modernista das igrejas

    representada por estudantes universitrios,

    seminaristas e jovens pastores. Em 1968,

    ao menos dois seminrios presbiterianos

    e um metodista foram fechados e seus

    alunos expulsos. Colaborou bastante, sem

    dvida, a generalizao do movimento de

    contracultura com seus re exos entre os

    estudantes brasileiros.

    H, pelo menos, trs trabalhos que

    retratam bem esse perodo de represso

    em algumas das igrejas protestantes brasi-

    leiras: de Joo Dias de Arajo, Inquisio

    sem Fogueiras (1976), de Rubem Alves,

    Protestantismo e Represso (1979), e um

    artigo bem elaborado e documentado de

    Leonildo Silveira Campos (2002).

    O con ito tambm signi cativo desse

    perodo aconteceu entre o ecumenismo,

    acirrado pela Assemblia do Conselho

    Mundial de Igrejas (CMI), em Nova Dlhi,

    ndia, e o Conselho Internacional de Igrejas

    Crists, expresso do fundamentalismo

    protestante. A Assemblia de Nova Dlhi,

    realizada entre 19 de novembro e 5 de

    dezembro de 1961, com a presena de 577

    delegados de 197 igrejas membros, decidiu,

    entre outras coisas, pela aproximao de

    outras religies, compreendendo-as melhor

    e, principalmente, por tomar conhecimen-

    to dos problemas econmicos e polticos

    decorrentes das rpidas mudanas sociais,

    particularmente do Terceiro Mundo. A rea-

    o do Conselho Internacional de Igrejas

  • REVISTA USP, So Paulo, n.67, p. 48-67, setembro/novembro 2005 65

    Crists foi imediata acusando o CMI de

    tentar aproximar-se da Igreja Catlica e de

    abrir espao para o comunismo.

    Algumas igrejas brasileiras j se haviam

    liado ao Conselho Mundial de Igrejas e

    colaboravam com seus projetos indiferentes

    ao conito. Outras, porm, principalmente

    as presbiterianas, dividiram-se interna-

    mente com grandes prejuzos pela perda

    de quadros, principalmente de intelectuais

    que tiveram de abandon-las procurando

    espaos nas universidades. Duas dessas

    igrejas assumiram posio de eqidistncia

    entre as duas instituies internacionais em

    confronto a m de no entrar abertamente

    na disputa. Contudo, as evidncias futuras

    apontam para uma deciso no-ocial, de

    conscincia, em favor da ala mais conserva-

    dora que recusava o ecumenismo e, por isso,

    promoveu expurgos em seus quadros.

    O cenrio internacional desse perodo,

    que tinha por principal personagem a Guerra

    Fria, ajudava o bloco capitalista conservador

    a manter aceso nas igrejas o sentimento an-

    tiecumnico e anticomunista, que ganhava,

    sob o verniz de verdades religiosas, foros de

    guerra de dois mundos, particularmente

    com o Armagedon (10) escatologista

    no governo Reagan. Em dado momento,

    os teleevangelistas, como Jimmy Swagart

    por exemplo, alcanando vrios pases com

    suas mensagens televisivas, anunciavam o

    reino de Deus pela Amrica. Pregavam

    o Kingdom Now. O mpeto dos telee-

    vangelistas foi contido pelos escndalos

    promovidos por alguns deles, inclusive o

    prprio Swagart, e revelados pela imprensa.

    Algumas organizaes chamadas misses

    de f, porque no faziam parte de igrejas

    ociais, estenderam braos conservadores

    para a Amrica Latina e ajudaram a arre-

    fecer os possveis mpetos renovadores

    da juventude protestante. Uma delas foi a

    Campus Crusade for Christ, fundada pelo

    norte-americano Bill Bright (1921-2003),

    cujo brao no Brasil se chamou Cruzada

    Estudantil e Prossional para Cristo. Ob-

    jetivava, como o prprio nome diz, atrair

    estudantes universitrios. Semelhante seria

    a ABU (Aliana Bblica Universitria).

    Outras muito conhecidas como Palavra

    da Vida, Vencedores por Cristo e Jovens

    da Verdade tinham o mesmo objetivo de

    atrair a juventude, paradoxalmente, a das

    prprias igrejas.

    Talvez a maior expresso da direita po-

    ltica e religiosa tenha sido o IRD (Institute

    on Religion and Democracy), fundado em

    1981 por Michael Novak e outros, a m

    de resistir linha progressista de organi-

    zaes crists como o National Council of

    Churches e sua ala ecumnica favorvel ao

    Conselho Mundial de Igrejas. Um dos seus

    membros fundadores, o pastor luterano Ri-

    chard J. Neuhaus, armou que o IRD tinha

    uma agenda poltica especca que era a

    Amrica Central e o combate Teologia da

    Libertao (11). No governo Reagan o IRD

    operava muito prximo do Departamento

    de Estado, em Washington.

    Um dos mais inuentes membros do

    IRD o conhecido socilogo Peter Berger

    (1923-), tambm telogo leigo. Outro, que

    se tornou conhecido no Brasil, foi o telogo

    catlico Michael Novak, j mencionado.

    Novak, em suas conferncias em So Paulo,

    em meados dos anos 80, provocou reaes

    negativas. Num encontro com professores

    do curso de cincias da religio da Univer-

    sidade Metodista de So Paulo, ao criticar

    a Teologia da Libertao e a teoria da de-

    pendncia, provocou um debate acirrado

    que terminou em constrangimento.

    O IRD, pelo seu apoio intelectual e

    logstico aos contra na Amrica Central,

    foi denunciado e combatido pelas esquerdas

    latino-americanas (Escurra, 1982).

    O chamado Movimento Evangelical,

    conservador e voltado para a converso

    pessoal, com sua presena subjacente, mas

    forte nas igrejas, vem colaborando para o

    quietismo que as isola do cenrio social.

    O smbolo do evangelicalismo atual

    o Pacto de Lausanne, rmado no grande

    Congresso Internacional de Evangelizao

    Mundial realizado naquela cidade sua em

    1974. Dela participou o conhecido evange-

    lista Billy Graham.

    O ltimo e grande desao s igrejas

    protestantes histricas nesse perodo foi

    o avano do movimento carismtico no

    interior delas mesmas gerando divises

    10 Nome de um campo de ba-talha proftico, onde os reis de toda a Terra se reuniro para uma batalha no grande dia do Deus Todo-poderoso (Apocalipse 16,16) (John D. Davis, Dicionrio da Bblia).

    11 htttp://rightweb.irc-on-line.org/groupwatch/ird.php (12/9/2005).

  • REVISTA USP, So Paulo, n.67, p. 48-67, setembro/novembro 200566

    que produziram as chamadas igrejas re-

    novadas. O neopentecostalismo, como

    se sabe, provocou verdadeira devastao

    nessas igrejas.

    CONSIDERAES FINAISA trajetria histrica das chamadas igre-

    jas protestantes tradicionais, particularmen-

    te as oriundas das misses norte-americanas,

    mostra um confronto permanente entre

    dependncia e autonomia. A autonomia

    poltica e administrativa foi sendo obtida

    ao longo do tempo, mas a nanceira ainda

    exerce forte ascendncia em alguns setores

    da vida dessas igrejas, o que no deixa de

    inuir na dependncia de idias e projetos.

    As aproximaes e distanciamentos peri-

    dicos entre utopias e ideologias, como

    lembrou Rubem Alves, sempre acabaram

    neutralizando o pensamento utpico e as

    levaram a uma espcie de recolhimento

    e indiferena pela realidade. Voltaram-se

    para o interior de si mesmas e construram

    nichos de salvao.

    As causas so mltiplas e no caberia

    levant-las exaustivamente neste ponto.

    Contudo, parece ser suciente apontar para

    duas, uma externa e outra interna. A externa

    a dependncia de matrizes de pensamento

    geradas em outro lugar ou, usando o j co-

    nhecido bordo, de idias fora do lugar. A

    interna a histrica represso da construo

    de um pensamento crtico que, comeando

    nos anos 40, vem exilando os intelectuais

    de modo a impedir que a autonomia vena a

    dependncia. Os quadros, enfraquecidos pela

    ausncia de pensamento vigoroso e livre, mal

    ensaiam o debate em torno de novas idias.

    Contudo, a abertura legal para a criao de

    cursos superiores de teologia com reconheci-

    mento ocial, inclusive pelas universidades,

    pode descortinar um horizonte novo para o

    pensamento losco-teolgico que venha

    a contaminar as igrejas e abrir aos poucos

    campo para a sua autonomia.

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