O PÓS-OPERATÓRIO DE CIRURGIA CARDÍACA NA PERCEPÇÃO … · O Pós-operatório de cirurgia...
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CRISTIANE FRANCA LISBOA GOIS
O PÓS-OPERATÓRIO DE CIRURGIA CARDÍACA NA PERCEPÇÃO DE PACIENTES
Dissertação apresentada à Universidade de Franca, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Promoção de Saúde. Orientadora: Profa. Dra. Olga Maimoni Aguillar.
FRANCA 2005
CRISTIANE FRANCA LISBOA GOIS
O PÓS-OPERATÓRIO DE CIRURGIA CARDÍACA NA PERCEPÇÃO DE PACIENTES
Presidente: ________________________________________________ Profa. Dra. Olga Maimoni Aguillar Instituição:
Titular 1: ________________________________________________ Nome: Instituição:
Titular 1: ________________________________________________ Nome: Instituição:
Franca, _____/_____/_____
DEDICO este trabalho a meus pais Altair Franca Lisboa e José Antonio Mota Lisboa por ter ajudado a conquistar essa vitória me dando força e acreditando sempre; a Júnior, o grande amor da minha vida.
AGRADECIMENTOS
A Deus por ter me proporcionado condições de realizar este objetivo tão desejado;
especialmente à Profa. Dra. Olga Maimoni Aguillar, minha orientadora. Cada
etapa desta pesquisa foi realizada com os seus ensinamentos. Obrigada pelo carinho, confiança e dedicação;
à Profa. Dra. Rosana Aparecida Spadoti Dantas, uma pessoa que admiro muito,
que me ajudou bastante a ingressar na área científica e a aprender a “caminhar” com mais confiança;
à Profa. Dra. Maria Aparecida Tedeschi Cano, pelas sugestões oportunas; à Profa. Amândia Santos Teixeira Daltro, minha professora da graduação, uma
grande amiga, que me incentivou a seguir na área acadêmica; aos meus irmãos César e Fábio pelo carinho; à minha avó Anita Franca “in memorian” pelo exemplo que sempre foi para
mim de determinação e coragem; à minha tia Ana, pelo incentivo e apoio constantes; às amigas Aurieni Moretti Porto, Giovanna Maribel e Carina Marosti, pelo
apoio e amizade; à Débora, minha professora de inglês, pela amizade e ajuda na conquista deste
objetivo; à Ana Maria, secretária da Universidade de Franca, pela disponibilidade
sempre presente quando precisei; à Cassandra Fernandes, diretora da Divisão de Enfermagem 12 do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, pela compreensão e apoio; ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Ribeirão Preto, por ter fornecido o
campo de pesquisa para realização deste estudo; aos pacientes, que com seus relatos, nos possibilitaram avançar em busca de
uma assistência à saúde com maior qualidade e humanidade.
RESUMO
GOIS, Cristiane Franca Lisboa. O Pós-operatório de cirurgia cardíaca na percepção de pacientes. 2005. 75 f. Dissertação (Mestrado em Promoção da Saúde) - Universidade de Franca, Franca. Este estudo teve como objetivos conhecer a percepção dos pacientes com relação à experiência de submeter-se à cirurgia cardíaca e permanecer numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e identificar os fatores geradores de estresse para os pacientes durante a permanência na UTI. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de caráter descritivo e exploratório, realizada com oito pacientes submetidos à cirurgia cardíaca e internados na unidade especializada, a qual faz parte de um hospital público, referência no interior do Estado de São Paulo. Os dados foram coletados através de entrevista e de um questionário para caracterização dos dados sócio-demográficos e clínicos dos pacientes. A análise das entrevistas foi realizada utilizando-se a análise de conteúdo, na modalidade análise temática. Emergiram neste estudo os temas: o ambiente de CTI e o pós-operatório: experiência marcante; experiência desagradável: sede, tubo, e dor; as relações com os profissionais de saúde: impessoalidade, presença profissional significando segurança e conforto e, orientação e informação significando segurança e esclarecimento; após a experiência cirúrgica: medo e ansiedade como algo já superado.
Palavras-chave: cirurgia cardíaca; pós-operatório; estresse; paciente cirúrgico; enfermagem.
ABSTRAT
GOIS, Cristiane Franca Lisboa. Heart surgery post-operatory in patients view. 2005. 75 f. Dissertation (Masters in Health Promotion) – Universidade de Franca, Franca. The objetive of this study is to notice the patients view in relation to the heart surgery experience while being at Intensive Therapy Ward and identifying the stress factors to the patients. It is a descriptive and exploratory and qualitative research, which has been done with 8 patients after heart surgery and Intensive Therapy Ward stay in a Public Hospital in the State of São Paulo. The data collection were performed by interviews and a social demographic and clinic instrument to a better characterization of the interviewed patients. The interviews were submited to the topic analyses and the the results were: Intensive Therapy Ward enviroment and the post-operatory: strong experience; painful experience: thirsty, tube and pain; the relationship to the health professionals: impersonal relationship, health profissional presence related to security and comfortness and, orientation and information meaning security and elucidation; after the surgery, fear and anxiety have disappeared after that.
Key words: heart surgery; post-operatory; stress; surgical patient; nursing.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 9
1 REVISÃO DA LITERATURA................................................................................. 11
1.1 A CARACTERIZAÇÃO DO PACIENTE SUBMETIDO À CIRURGIA CARDÍACA: sentimentos mais comumente apresentados (medo/ansiedade) ................................... 11
1.2 A UNIDADE PÓS-OPERATÓRIA DE CIRURGIA CARDÍACA ENQUANTO FONTE GERADORA DE ESTRESSE....................................................................... 15
1.3 A EQUIPE QUE ATUA NA UNIDADE DE RECUPERAÇÃO PÓS-OPERATÓRIA DE CIRURGIA CARDÍACA...................................................................................... 24
2 OBJETIVOS .............................................................................................................. 27
2.1 OBJETIVO GERAL.................................................................................................... 27
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...................................................................................... 27
3 A PESQUISA EMPÍRICA........................................................................................ 28
3.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO .............................................................................. 28
3.2 O UNIVERSO DA PESQUISA E A POPULAÇÃO ESTUDADA ........................... 29
3.3 COLETA DOS DADOS.............................................................................................. 30
3.3.1 Considerações sobre a entrevista como método na pesquisa qualitativa..................... 31
3.4 PROCEDIMENTOS.................................................................................................... 32
3.5 ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................................ 33
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................... 35
4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA ............................. 35
4.2 AS CATEGORIAS ANALÍTICAS............................................................................. 37
4.2.1 O ambiente de CTI e o pós-operatório: experiência marcante .................................... 37
4.2.2 Experiência desagradável: sede, tubo e dor ................................................................. 42
4.2.3 As relações com os profissionais de saúde: impessoalidade, presença profissional significando segurança e conforto e, orientação e informação significando segurança e esclarecimento..................................................................... 49
4.2.4 Após a experiência cirúrgica: medo e ansiedade como algo já superado.................... 55
4.3 SINTETIZANDO O OBSERVADO........................................................................... 58
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................ 60
SUGESTÕES ......................................................................................................................... 64
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 66
ANEXOS ................................................................................................................................ 71
9
INTRODUÇÃO
O trabalho profissional dirigido a pacientes submetidos à cirurgia cardíaca, no
Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, suscitou-nos o interesse em aprofundar nosso
conhecimento sobre os fatores geradores de estresse em uma unidade de recuperação pós-
operatória de cirurgia cardiovascular. Como enfermeiros, vivenciamos o impacto gerado nos
pacientes quando esses se vêem na unidade especializada no período pós-operatório imediato.
Esta unidade, caracterizada como um Centro de Terapia Intensiva (CTI) é
provida de recursos tecnológicos e humanos altamente especializados, destinados ao
tratamento de pacientes que necessitam de cuidados intensivos pela gravidade do estado de
saúde. Inseridos nesse contexto, estão os pacientes submetidos à cirurgia cardíaca, os quais
são encaminhados a essa unidade após a intervenção cirúrgica.
Durante o período pré-operatório, estes doentes encontram-se internados em
enfermaria, ambiente com poucos aparelhos, onde podem receber visitas de familiares e têm a
possibilidade de deambularem pelos corredores e satisfazerem suas necessidades de higiene,
alimentação e eliminação por si próprios. Opondo-se a esta situação, no CTI, eles se
depararam com um ambiente bem diferente, cheio de ruídos e luzes produzidos por diversos
aparelhos, estão restritos aos seus leitos, assumindo uma condição passiva. Tal situação tem
sido identificada como geradora de estresse para os pacientes, não só pelo ambiente em si,
mas também pelo estado de risco em que se encontram.
Além dos fatores já citados, temos que considerar o receio que os pacientes têm
da anestesia, da cirurgia, o medo da morte e do depois; eles temem o desconhecido e a
10 possibilidade de ocorrer alterações no seu cotidiano. Todas estas questões podem interferir na
qualidade de vida dos doentes e familiares, refletindo-se em um estado de tensão que pode
interferir no pós-operatório.
Quando o paciente chega ao CTI é seguida uma rotina para seu recebimento. A
equipe centraliza suas ações a fim de promover o restabelecimento dos padrões fisiológicos
do doente. Cuidados com o sistema de respiração artificial, colocação dos drenos torácicos no
sistema de drenagem, coleta de sangue para exames complementares, entre outras ações, que
têm como objetivos prevenir e detectar possíveis intercorrências no pós-operatório imediato.
A preocupação em executar as rotinas e monitorar a todo tempo as funções vitais do paciente
submetido à cirurgia cardíaca absorve a atenção da equipe de saúde que visa, em suas ações,
restaurar o equilíbrio homeostático do paciente, privilegiando os aspectos biológicos em
detrimento dos psicossociais e psicoespirituais.
As atividades diárias realizadas pela equipe são muitas vezes desempenhadas
seguindo um esquema frio e impessoal, mecanizando a assistência dispensada. O paciente a
todo tempo é monitorizado, através de aparelhos e da observação intensiva dos profissionais,
porém, nem sempre ele é visto, abrangendo toda a extensão da palavra. Ou ainda, suas
atitudes de desespero e inquietação são algumas vezes avaliadas de forma pontual, fora de
todo esse contexto que envolve o antes, o durante e as perspectiva de futuro que cada um
criou para si. Durante o período em que o paciente permanece na unidade especializada ele é
constantemente abordado por médicos, por membros da equipe de enfermagem, por
fisioterapeutas; todos desenvolvendo ações visando a sua recuperação. Todavia, para o
doente, essa dinâmica pode ser considerada estressante.
Empiricamente, a equipe identifica fatores considerados estressantes para o
paciente, pela visão e experiência pessoal que cada profissional tem do ambiente e condição
do paciente, o que não assegura que há sintonia entre o modo de vivenciar que é próprio do
paciente e o modo de interpretar essa realidade pelos olhos de quem cuida.
11
1 REVISÃO DA LITERATURA
1.1 A CARACTERIZAÇÃO DO PACIENTE SUBMETIDO À CIRURGIA CARDÍACA: sentimentos mais comumente apresentados (medo/ansiedade)
Passar para a condição de paciente é uma mudança que muitas vezes tem que
ser enfrentada de uma hora para a outra, dependendo do estado de saúde e da necessidade de
assistência de cada caso. Como resultado, o paciente identifica essa realidade, analisando os
possíveis fatores geradores de estresse, de acordo com sua percepção.
A perspectiva de submeter-se a uma cirurgia cardíaca amedronta o paciente por
ser uma mudança na rotina de vida, pela sensação de falta de perspectiva de futuro e, pelo
desconhecimento do que vai ocorrer. Esses fatores, associados às características de cada
indivíduo, podem desencadear alterações emocionais importantes. “A preocupação maior
envolvendo o paciente cirúrgico decorre da obscuridade das informações, englobando
aspectos próprios ao procedimento cirúrgico ao qual será submetido” (SANTOS;
CABERLON apud PAULA; CARVALHO, 1997, p. 35).
No pré-operatório de cirurgia cardíaca o paciente deve ser adequadamente
orientado e ter suas dúvidas esclarecidas, é o momento em que algumas situações inerentes ao
procedimento anestésico-cirúrgico poderão ser comentadas, porém, a literatura ressalta que as
complicações pós-operatórias não necessitam ser mencionadas ou podem ser minimizadas
(BAGGIO; TEIXEIRA; PORTELLA, 2001).
O coração possui um significado muito forte para a manutenção de uma vida
12 saudável e a cirurgia neste órgão desgasta emocionalmente o paciente e sua família, pela
ameaça ao futuro e a reestruturação do cotidiano (OLIVEIRA; SHAROVSKI; ISMAEL,
1995).
O pré-operatório para o paciente que irá ser submetido a uma cirurgia cardíaca
é um período singular em sua vida, mesmo que ele já tenha sido submetido à outra cirurgia. A
não aceitação, sobretudo para o paciente assintomático, faz parte deste período, no qual a
decisão final, para autorizar ou não a cirurgia cabe a ele (OLIVEIRA; ISMAEL, 1990).
Os pacientes, durante o período perioperatório, vêem-se frente a uma realidade
diferente e amedrontadora que desencadeia estados de tensão com comprometimento
emocional, fisiológico e cognitivo. A ansiedade e o medo são estados emocionais muitas
vezes observados no desenvolvimento da assistência de enfermagem ao paciente cirúrgico
(GOIS; JUAREZ; SAWADA, 2002). A ansiedade resulta da interação do indivíduo com o
ambiente que se apresenta como ameaçador e das alterações neurológicas e fisiológicas que
derivam desta situação (MAY apud PENICHE; CHAVES, 2000).
Os fatores estressantes presentes no contexto do CTI geram no paciente,
sentimentos de medo, ansiedade, insegurança e depressão (KOYZUMI; KAMIYAMA;
FREITAS, 1979). Enfrentar um ambiente onde tudo lhe soa como estranho e se reflete como
dependência, gravidade, saúde instável e risco de morte, é uma experiência traumática para o
paciente no pós-operatório de cirurgia cardíaca.
Braga e Cruz (2003), realizando pesquisa com 75 pacientes submetidos à
cirurgia cardíaca, com o propósito de investigar sobre o estado de impotência apresentado por
esses pacientes no pós-operatório, concluíram que 58,7% dos pacientes entrevistados
apresentaram algum grau de impotência. A NANDA – Nortth American Nursing Diagnosis
Association (2001-2002) define impotência como sendo a percepção de que uma ação pessoal
não irá alterar significativamente o resultado; sensação de falta de controle sobre a situação
presente ou sobre algum acontecimento imediato e, lista dentre outros fatores relacionados, o
13 ambiente que assiste à saúde. Campus (apud BRAGA; CRUZ, 2003) ressalta que o modo pelo
qual o paciente cardíaco vê a doença é particular e está relacionado a um sentimento
ameaçador de perda. Braga (1999), fazendo uma comparação entre pacientes cardíacos em
tratamento medicamentoso e pacientes submetidos a tratamento cirúrgico, coloca que os
primeiros sentem-se com maior controle da situação e da doença quando comparados com os
pacientes que necessitam de tratamento cirúrgico. Atribui isso ao fato da cirurgia cardíaca
levar a uma mudança na sua condição de vida, visto que agora o paciente passa a depender
dos profissionais da saúde, assumindo assim uma posição passiva e achando-se incapaz de
contribuir na sua recuperação.
Para o paciente submetido à cirurgia cardíaca, o período em que permanece na
unidade de recuperação pós-operatória, significa a etapa mais difícil. No pós-operatório
imediato, ele encontra-se despertando da anestesia, tomando aos poucos consciência do seu
estado e de si próprio, além dessa alteração do nível de consciência ele se vê: amarrado ao
leito e ligado a sondas, sentindo dor, respirando com ajuda de aparelhos, usando cateteres e
drenos e conectado aos monitores (LAMOSA, 1990; OLIVEIRA; SHAROVSKI; ISMAEL,
1995). Nessa fase a comunicação oral encontra-se dificultada pela presença de tubos na boca
ou no nariz, dando lugar à comunicação não verbal a qual nem sempre é rápida e precisa,
gerando desconforto e apreensão. Santana (2000), procurando identificar os sentimentos
apresentados pelos pacientes internados num CTI com relação à internação nessa unidade
especializada, verificou que para o paciente, ter suas necessidades básicas não satisfeitas
significa o principal fator que leva a sentir-se mal nesse tipo de unidade.
Estudo realizado em um hospital no noroeste dos Estados Unidos com 43
pacientes submetidos à cirurgia cardíaca e internados num CTI evidenciou que estar com
tubos no nariz ou na boca representa os principais geradores de estresse para os pacientes
(SOEHREN, 1995). Esses fatores também foram levantados por Novaes et al. (1997) em
pesquisa realizada num CTI com 50 pacientes, a qual tinha por objetivo estudar os fatores
14 estressantes para o paciente e correlacioná-los com as variáveis demográficas. Os pacientes
acrescentaram que, sentir dor e insônia, são fatores também bastante estressantes nesse setor.
Cochran e Ganong (1989), em estudo realizado num hospital universitário no oeste dos
Estados Unidos, abordaram 20 pacientes internados num CTI geral e 23 enfermeiros
assistenciais que atuavam nesse local. O estudo tinha por objetivo comparar a percepção dos
enfermeiros e pacientes com relação aos fatores estressantes para o paciente num CTI.
Concluiu que, além dos estressores anteriormente descritos, “ser furado por agulhas”, é outro
gerador de estresse para o paciente.
O CTI, por ser uma unidade de tratamento intensivo, guarda características
próprias que a diferenciam das demais unidades do hospital. Os pacientes temem o CTI por já
terem uma percepção quanto ao local e estado de saúde dos doentes aí internados. Para o
paciente, ter sido submetido à cirurgia cardíaca e estar internado numa unidade de tratamento
intensivo é uma experiência nova e difícil.
Toda essa realidade nova que foi abruptamente imposta desestrutura o paciente
que se sente atingido em sua auto-imagem, com medo do seu estado de saúde, a mercê de
profissionais que nem sempre lhe transmitem segurança e empatia. A ameaça à saúde provoca
ansiedade no paciente já fragilizado pelo seu estado (SAWREY apud GOMES, 1988).
Para Horta (1979), uma estudiosa das práticas de enfermagem, saúde é o
equilíbrio dinâmico entre tempo e espaço, e doença, o resultado do desequilíbrio de não ter as
necessidades atendidas. Maslow (1954) hierarquizou as necessidades humanas básicas em
cinco níveis: 1 - necessidades fisiológicas; 2 - necessidade de segurança; 3 - necessidade de
amor; 4 - necessidade de estima; 5 - necessidade de auto-realização. Para este autor o
indivíduo só ultrapassa o nível seguinte quando tem a necessidade anterior pelo menos
minimamente atendida. Mohana (1964) classifica as necessidades básicas em três grupos:
necessidades psicobiológicas, necessidades psicossociais e necessidades psicoespirituais.
Durante o período de internação, mais especificamente após a cirurgia, muitas das
15 necessidades básicas podem não ser atendidas, influenciando o equilíbrio do paciente e seu
nível de satisfação (BAGGIO; TEIXEIRA; PORTELLA, 2001). No pós-operatório de
cirurgia cardíaca as necessidades mais destacadas, de acordo com estudo realizado por Leite
et al. (apud VALLE; GUEDES; ALBUQUERQUE, 1990), com pacientes no pós-operatório
de cirurgia cardíaca, são as necessidades fisiológicas de oxigenação, conforto, repouso e sono,
alívio da dor, equilíbrio hidroeletrolítico, estabilidade da temperatura, eliminação,
mobilização, exercício, alimentação e, as necessidades psicossociais de segurança, auto-
estima e controle e, prevenção de infecção.
Romano e Mutarelli (1995), abordando as alterações neurológicas, cognitivas e
psicológicas decorrentes da cirurgia cardíaca, salientam que o sucesso de uma cirurgia não se
restringe à correção da patologia em si, essa é apenas uma etapa do processo rumo à
reestruturação da qualidade de vida. Sendo assim, o ato cirúrgico, a qualidade de vida após a
cirurgia, a reintegração no núcleo familiar e a re-socialização, retratam o sucesso da cirurgia,
vista agora de uma maneira holística. Esses autores também acrescentam que percebendo essa
realidade que envolve o antes, o durante e o depois da cirurgia, é possível entender as
condições psiconeurológicas do paciente após a cirurgia cardíaca, entender como a
preservação das funções cognitivas superiores interfere na avaliação da qualidade de vida pós-
cirúrgica. Os fatores psiconeurológicos ligados ao ambiente refletem as características do
local onde o paciente permanece no pós-operatório.
1.2 A UNIDADE PÓS-OPERATÓRIA DE CIRURGIA CARDÍACA ENQUANTO FONTE GERADORA DE ESTRESSE
Estresse, fator bastante referenciado pelos autores consultados, foi inicialmente
definido como uma variável biológica, apresentando manifestações físicas facilmente
16 identificáveis. Todavia, a utilização da definição como sendo um fator psicológico, deu ao
fenômeno uma conotação subjetiva e indeterminada, induzindo a opiniões variadas a respeito
da definição mais apropriada (DUARTE, 2002). Para Giannotti (apud DUARTE, 2002) o
conceito de estresse tem sido utilizado quase sempre de maneira vaga e indiscriminada.
Levantamos, portanto, algumas definições deste conceito com o propósito de entendê-lo
melhor e assim analisá-lo no âmbito da unidade pós-operatória de cirurgia cardíaca.
Embora todas as pessoas vivenciem formas de estresse durante o curso de suas
vidas, podendo este estímulo impulsionar ao crescimento individual, por outro lado, o estresse
quando em excesso, pode interferir na manutenção de um nível de vida desejável (POTTER;
PERRY, 2000).
A vida consiste de um equilíbrio dinâmico, alternando estado de estresse e
homeostase. O ser humano possui um complexo sistema formado por componentes do
Sistema Nervoso Central. A parte do sistema nervoso que exerce o controle das funções
viscerais do organismo é o sistema nervoso autônomo, sendo esse sistema um dos
responsáveis pelo controle da pressão arterial, da motilidade e secreção gastrintestinal, do
esvaziamento da bexiga, da sudorese, da temperatura do corpo, dentre outras atividades que
exerce. Os sinais autonômicos eferentes chegam às partes do corpo por meio de duas
subdivisões principais que são o sistema nervoso simpático e o parassimpático (GUYTON,
1993).
O sistema nervoso simpático é fortemente ativado nos estados emocionais.
Quando grande parte do sistema nervoso simpático é ativado, temos, segundo Guyton (1993):
elevação da pressão arterial, elevação da concentração de glicose no sangue, aumento da
atividade mental, dentre outras alterações.
Estudo recente demonstrou que o estresse mental pode afetar processos que
são relevantes para a hemostase e trombogênese, podendo levar a um aumento da ativação
plaquetária, aumento da viscosidade do sangue e reduções agudas do volume circulante
17 plasmático (LOURES et al., 2002).
O estresse faz com que os centros corticais e hipotalâmicos estimulem o
centro vasomotor, que emite impulsos para o coração e para as artérias. No coração temos um
aumento da freqüência e contratilidade, enquanto que os impulsos vasoconstrictores nas
artérias elevam o tônus vasomotor. Também são enviados estímulos à medula supra-renal que
desencadeiam a liberação de adrenalina e noradrenalina que vão atuar no coração e artérias,
causando aumento da resistência periférica e da contratilidade cardíaca (PORTO, 1994).
O sistema cardiovascular está intimamente ligado na adaptação ao estresse e,
portanto, sofrendo as conseqüências da sua exacerbação. A literatura nos traz que os estados
de estresse mental, agudos e crônicos, podem ser fatores de risco para maior
morbimortalidade por doença cardiovascular (LOURES et al., 2002).
Destacaremos a seguir alguns modelos sobre o estresse descritos pela literatura
os quais facilitaram o entendimento das suas origens e seus efeitos, cada um realçando um
aspecto diferente: modelo de estresse baseado na resposta, modelo de adaptação, modelo
baseado no estímulo e modelo baseado na transação (POTTER; PERRY, 2000).
Seyle (apud POTTER; PERRY, 2000) desenvolveu o modelo baseado na
resposta, denominado de bioquímico, no qual descreve a seqüência de eventos apresentada
pelo organismo como resposta ao estresse, resposta esta puramente fisiológica. Seyle
desenvolveu pesquisas com animais que eram submetidos a estímulos agressores diferentes
como temperatura, choque elétrico, sangramento. Controlando as respostas orgânicas a esses
estímulos, por meio de dados clínicos e da avaliação pós-autópsia, Seyle chegou a conclusão
que existia um mesmo padrão de resposta frente aos estímulos variados. Essa resposta seguia
uma seqüência mais ou menos constante, e foi denominada por esse pesquisador de ‘stress’. A
seqüência de respostas psicobiológicas foi chamada de Síndrome de Adaptação Geral (SAG)
e possui três fases seqüenciais que são definidas como fases de alarme, de resistência e de
exaustão. A fase de alarme gera mudanças hormonais, como resposta do sistema nervoso
18 central e do sistema nervoso autônomo simpático, preparando o corpo para enfrentar a
ameaça. Nesta fase temos atividade mental aumentada, pupilas dilatadas, aumento do débito
cardíaco e freqüência respiratória, glicose aumentada, dentre outras alterações. A fase de
resistência ocorre quando a exposição ao estímulo ameaçador é prolongada e os hormônios
produzidos nesta fase tendem a aumentar a capacidade adaptativa às demandas. A última fase,
de exaustão, acontece quando o organismo não consegue se adaptar ao estresse. Ela só ocorre
quando o estímulo agressor perdura por um período maior do que a capacidade física e
psíquica que o indivíduo tem de conviver com ele.
O modelo de adaptação baseia-se na compreensão de que o indivíduo vivencia
mais ansiedade e estresse quando não está preparado para agir com as situações estressantes.
Este modelo propõe quatro fatores responsáveis para o entendimento de que dada situação é
estressante ou não para o indivíduo. O primeiro é a capacidade do indivíduo para agir frente
ao estresse, fator que está relacionado quase sempre à experiência prévia com uma situação
parecida; ao sistema de apoio e á percepção global quanto ao estressor. O segundo refere-se às
práticas e normas presentes no grupo da pessoa, dependendo deste fator, falar sobre o estresse
pode contribuir para a adaptação ao agente agressor ou o indivíduo pode simplesmente
responder para não destoar do grupo. O terceiro refere-se ao ambiente social e sua
contribuição na adaptação ao estressor. O quarto compreende os recursos utilizados para lidar
com o agente estressor (MECHANIC apud POTTER; PERRY, 2000).
O modelo baseado no estímulo realça, de acordo com Mcnett (apud POTTER;
PERRY, 2000, p. 343), que:
- Os eventos de mudança de vida são normais e exigem o mesmo tempo e duração de adaptação. - As pessoas são recipientes passivos do estresse, e suas percepções do evento são irrelevantes. - Todas as pessoas têm um limiar comum do estímulo, e a doença acontece em qualquer ponto após o limiar.
19
O modelo baseado na transação, desenvolvido por Lazarus e Folkman (1984),
considera que a pessoa e o ambiente interagem mutuamente, tal modelo é citado em Potter e
Perry (2000). Para aqueles autores o estressor é o resultado da percepção individual,
percepção esta que tem suas origens nos processos psicológicos e cognitivos.
Estresse pode ser entendido como qualquer situação na qual uma demanda não
específica exige que o indivíduo reaja e tome uma atitude (Seyle apud POTTER; PERRY,
2000). É uma situação tensa, fisiológica ou psicológica, que pode afetar a pessoa em todas as
dimensões humanas. A resposta ao estresse é influenciada pela intensidade, duração e âmbito
do estressor, e pelo número de estressores presentes no momento. Estressores são definidos
como sendo estímulos precedentes ou precipitantes de mudança. Podem ser classificados em
internos (aqueles que se originam dentro da pessoa como, por exemplo, uma febre) ou
externos (aqueles que se originam fora da pessoa como, por exemplo, mudanças ambientais
ou nas relações sociais) (POTTER; PERRY, 2000).
Diante da definição de estressores externos proposta por Potter e Perry (2000),
podemos considerar que, em uma unidade de recuperação pós-operatória de cirurgia cardíaca,
encontramos estímulos que estão presentes no ambiente físico e social desta unidade e que
podem ser fontes de estresse para os doentes.
O hospital e toda sua equipe de profissionais podem se apresentar para o
paciente e família como uma situação diferente a qual gera desconforto emocional. A unidade
de recuperação pós-operatória de cirurgia cardíaca, como todo centro de terapia intensiva,
pela complexidade dos pacientes assistidos e de suas características, enquanto unidade de
internação especializada amplifica esse estado de tensão (MOURA, 1973). Pesquisas apontam
que os distúrbios psíquicos, observados em alguns pacientes no pós-operatório de cirurgia
cardíaca, estão relacionados com a própria unidade de recuperação e as rotinas que aí são
seguidas (KORNFELD et al., 1982).
Estudo realizado com pacientes e familiares sobre o significado cultural,
20 atribuído ao centro de terapia intensiva, constatou que este local é considerado como
desconhecido e assustador e que o momento da alta é tido como a liberdade dos pacientes
para a vida (LEMOS; ROSSI, 2002).
O paciente durante a hospitalização está fragilizado por se encontrar numa
condição que lhe foi imposta de uma hora para outra, num ambiente novo e impessoal, onde
seus costumes e horários pessoais nem sempre são seguidos, estão cercado por profissionais,
pessoas diferentes, com as quais não convivem no seu dia a dia, gerando uma relação
interpessoal muitas vezes “fria” e distante. Takito (1985) ressalta que a percepção do paciente
com relação ao ambiente hospitalar influencia diretamente no seu estado de bem estar e
segurança. Acrescenta que a enfermeira tem a responsabilidade de intervir nesse processo
rumo à recuperação da saúde.
A todo tempo profissionais de todo o mundo estão desenvolvendo materiais e
equipamento a fim de oferecer aos profissionais de saúde meios de assistir ao paciente com
maior segurança. Todo esse avanço tecnológico, acompanhado da especialização dos
profissionais que atuam em centros de terapia intensiva tem contribuído de forma decisiva
para a redução dos índices de morbimortalidade, porém, mesmo com todo esse progresso,
observa-se a falta de participação do paciente na fase em que permanece no CTI (VALLE;
GUEDES; ALBUQUERQUE, 1990). O aperfeiçoamento técnico dos centros de tratamento
intensivo gera em caminho contrário, impacto emocional nos pacientes. Sensibilizar-se com
essa constatação não deve ser apenas um pensamento casual, pois as alterações fisiológicas e
emocionais observadas nos pacientes podem gerar complicações desastrosas e ameaçadoras
(KORNFELD, 1979).
Por outro lado, também encontramos estudos realizados em CTI, que mostram
este setor visto de uma forma diferente e não negativa. Um estudo realizado com pacientes
que permaneceram internados em CTI e em Unidade Intensiva Coronariana, verificou que
grande parte dos pacientes percebeu as unidades especializadas como ambientes que
21 exprimem segurança devido à presença constante dos profissionais (MOCAVERO, 1980). O
mesmo aconteceu em outro estudo realizado também numa Unidade Intensiva Coronariana, o
qual acrescenta a alta tecnologia como sendo um fator positivo mencionado pelos pacientes
(BARBATO; KOYZUMI; ENGEL, 1982).
Como vemos, existe um contra ponto a ser considerado quando estamos
pesquisando sobre os fatores estressantes para o paciente internado num CTI. Sem dúvida esta
unidade “guarda” características particulares que são consideradas estressantes para o
paciente. Todavia, alguns pacientes também conseguem vê-la como um local tranqüilo e
seguro. Talvez estas duas maneiras diferentes de os pacientes verem a unidade sejam reflexo
da condição em que se encontravam quando estavam internados, mais ou menos expostos a
procedimentos invasivos, o que pode influenciar a avaliação. Todavia, os pacientes no pós-
operatório de cirurgia cardíaca, por terem sido submetidos a um procedimento cirúrgico
complexo, sempre são expostos aos mesmos procedimentos invasivos, o que facilita a análise
da percepção destes pacientes com relação a experiência vivenciada.
A unidade pós-operatória de cirurgia cardíaca apresenta algumas características
que podem ser fonte de estresse para o paciente e familiares, tais como: as camas são
dispostas perto umas das outras, fazendo com que os pacientes participem do que está
acontecendo com o doente ao lado; há constante expectativa de que aconteçam emergências;
interrupção das atividades rotineiras pelas “urgências médicas”; presença de equipamentos
dispostos próximos aos leitos; luminosidade artificial e permanente; não possuir, em sua
maioria, janelas que possibilitem ao paciente acompanhar a evolução do dia; existência de
alarmes sonoros e luminosos provenientes de aparelhos (GOMES, 1988). Observamos que
para os pacientes que já se encontram internados nessas unidades, presenciar a chegada do
paciente no pós-operatório imediato, é uma situação de suspense e expectativa.
Pesquisa realizada com pacientes no pós-operatório de cirurgia cardíaca e que
permaneceram internados num CTI, verificou que o ambiente desta unidade é visto como
22 negativo por estes pacientes, sobretudo por interferir nas necessidades de sono e repouso e por
permitir que os pacientes que ali estão presenciem o que está ocorrendo com os demais
pacientes (PAGLIUCA, 1980).
Investigar como os pacientes, familiares e mesmo os profissionais da saúde
percebem os fatores estressantes presentes em unidades de tratamento especializadas tem sido
o objetivo de alguns estudos (NOVAES et al., 1997; NOVAES; KNOBEL; BORK, 1999;
GOIS; DANTAS, 2004). Nos estudos de Novaes et al. (1997) e de Novaes, Knobel e Bork
(1999) os autores identificaram que a dificuldade para dormir em decorrência de ruídos
provenientes de aparelhos é um fator bastante estressante para os pacientes internados num
CTI. Os autores também investigaram 50 respectivos familiares e 50 profissionais de saúde
que prestaram cuidados a esses pacientes, tendo por objetivo comparar a avaliação do
paciente, com relação aos fatores estressantes presentes na unidade de tratamento intensivo
com a visão da família e profissionais de saúde. Gois e Dantas (2004) realizaram uma
pesquisa em duas unidades pós-operatórias de cirurgia cardíaca localizadas, em um hospital
universitário e outra em um hospital privado no interior do Estado de São Paulo. O objetivo
foi identificar quais os fatores geradores de estresse para os pacientes internados em uma
unidade especializada, na visão dos profissionais, tendo como amostra 58 profissionais de
enfermagem, incluindo enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem. Os autores
concluíram que “não conseguir dormir” foi considerado um dos fatores mais estressantes para
o paciente na opinião dos enfermeiros, o vem ao encontro com a visão dos profissionais e
familiares do estudo de Novaes, Knobel e Bork (1999). Para esses enfermeiros, “estar
amarrado por tubos, ter tubos no nariz e/ou na boca, ter dor” e “não ter explicações sobre o
tratamento” são, em ordem decrescente, os fatores mais estressantes para os pacientes
submetidos à cirurgia cardíaca e internados num CTI.
Outra pesquisa desenvolvida com 50 pacientes no pós-operatório de cirurgia
cardíaca teve como objetivos obter junto a este público maiores informações a cerca do
23 preparo recebido para a cirurgia, percepção após o procedimento cirúrgico e propor sugestões
para diminuir os traumas ocasionados pela experiência da cirúrgica. Concluiu-se que, com
relação ao ambiente do CTI, além do barulho emitido pelos aparelhos, os pacientes sentiam-se
incomodados com as vozes dos componentes da equipe de saúde (VALLE; GUEDES;
ALBUQUERQUE, 1990).
Ferguson (1992), pesquisando sobre os fatores que contribuem para o
surgimento da dor em pacientes internados em CTI, após serem submetidos à cirurgia de
revascularização do miocárdio, concluiu que a dor, sintoma intrínseco ao procedimento
anestésico-cirúrgico, também é decorrente do estado psicológico e do ambiente da unidade de
terapia intensiva.
A presença do tubo orotraqueal, a aspiração traqueal, o medo de morrer, o
barulho e a dor foram considerados os fatores mais estressantes na visão dos pacientes, de
acordo com o estudo de Seidler e Moritz (1998). Eles abordaram 60 pacientes que
permaneceram internados no CTI de um hospital universitário por período superior a 24
horas, sendo a amostra predominantemente composta por pacientes com insuficiência
coronariana e por pacientes em pós-operatório imediato.
Pereira et al. (2003) realizou estudo num CTI geral para adultos o qual teve por
objetivo verificar o nível de pressão sonora equivalente nessa unidade especializada.
Concluíram, após oito meses de observação com o uso de um Analisador de Ruído, que o
nível de ruído encontrado, em decorrência dos alarmes, equipamentos e conversas entre os
membros da equipe, apresentava-se acima do recomendado, tornando o ambiente do CTI
estressante para os pacientes e profissionais.
Entender como os pacientes internados em unidades especializadas sentem-se
pode auxiliar a definir quais são os fatores estressantes presentes nestas unidades, propiciando
a construção de protocolos que transformem o setor em um local mais adequado e agradável
(BION apud SEIDLER; MORITZ, 1998).
24
Embora existam trabalhos abordando o estresse vivenciado pelos pacientes em
centros de terapia intensiva (COCHRAN; GANONG, 1989; NOVAES et al., 1997;
NOVAES; KNOBEL; BORK, 1999; SEIDLER; MORITZ, 1998), eles foram realizados com
indivíduos internados com patologias diversas, não especificamente o doente submetido à
cirurgia cardíaca. Consideramos que a pessoa submetida à cirurgia cardíaca se diferencia pelo
porte e complexidade da cirurgia e risco de vida no trans e pós-operatório, sobretudo, no
imediato, consideramos ser relevante investigar como ela percebe o ambiente da sala de
recuperação pós-anestésica.
Os pacientes submetidos à cirurgia cardíaca, de acordo com nossa experiência,
têm um tempo de permanência nas unidades especializadas que varia de 48 a 72 horas,
durante esse período é normal ocorrer situações que incluem um largo espectro de
perturbações comportamentais. Decorridas as primeiras 24 horas de internação, já é possível
reconhecer reações psicológicas em pacientes que estejam conscientes e orientados e
vivenciando o medo da morte (NOVAES; ROMANO; LAGE, 1996).
Segundo Weiss (1979), a morbidade verificada em pacientes internados nessas
unidades é conseqüência, em parte, das alterações do nível de consciência, das reações
emocionais internas e de comportamentos ligados a estas situações.
1.3 A EQUIPE QUE ATUA NA UNIDADE DE RECUPERAÇÃO PÓS-OPERATÓRIA DE CIRURGIA CARDÍACA
Assistir ao paciente cardíaco cirúrgico envolve uma equipe multidisciplinar na
qual cada um de seus membros executa funções complementares a dos demais elementos
(GOMES, 1988). O dinamismo do setor traduz a emergência dos cuidados prestados aos
25 pacientes.
A equipe de enfermagem, tendo o enfermeiro como líder, representa o elo mais
forte de ligação entre o paciente e o ambiente da unidade em que se encontra, por ser este
profissional aquele que, por maior tempo e de forma contínua, exerce atividades junto ao
paciente.
Durante a permanência do paciente na unidade pós-operatória de cirurgia
cardíaca são vários os fatores que podem lhe causar desconforto, como já foi abordado
anteriormente. Na tentativa de atenuar sua tensão, muitas vezes os profissionais agem
empiricamente, analisando o estresse do doente através de sua avaliação pessoal.
Cornock (1998) replicou, em um hospital no Reino Unido, o estudo realizado
por Cochran e Ganong (1989) e também evidenciou que a avaliação do paciente, quanto aos
fatores estressantes num CTI, não coincide com a avaliação dos profissionais de saúde. Esse
resultado também foi obtido por Novaes et al. (1997). Para esses autores, os enfermeiros
tendem a valorizar os itens estressores com maior intensidade do que os pacientes. A
explicação desse fato pode estar na projeção dos sentimentos da equipe no paciente. Nestes
estudos, profissionais da enfermagem mostraram-se sensibilizados pelo sofrimento do
paciente e exteriorizaram a constante pressão psicológica sob a qual trabalham. Os principais
fatores estressantes para o paciente, na visão dos profissionais de saúde foram, em ordem
decrescente: ter dor, ter tubos no nariz e/ou na boca, estar amarrado por tubos e não conseguir
dormir, enquanto que os pacientes apontaram como fatores mais estressantes, em ordem
decrescente: ter dor, não conseguir dormir, ter tubos no nariz e/ou na boca e não ter controle
sobre si mesmo. Esse último fator foi considerado menos estressante pelos profissionais de
saúde (NOVAES; KNOBEL; BORK, 1999).
Assim vemos que há diferença na percepção dos pacientes e profissionais de
saúde quanto aos fatores mais e menos estressantes para o paciente internado num CTI.
Estudos de Novaes, Knobel e Bork (1999) e Raeside (1997) mostraram que além da avaliação
26 dos doentes, a avaliação dos familiares também pode diferir da dos profissionais. O autor
deste último estudo, o qual foi realizado num CTI neonatal com 12 mães e 12 enfermeiras,
acrescenta que os profissionais devem individualizar o cuidado em busca da modificação e do
controle do ambiente como fonte de estresse para cada paciente atendido.
Novaes, Knobel e Bork (1999) referem que a humanização dos centros de
terapia intensiva está intimamente vinculada à atuação de profissionais de saúde frente aos
fatores estressantes ao paciente. Elpern et al. (1992) colocam que a atuação específica da
equipe sobre os fatores estressantes ao paciente é a chave para um tratamento mais de acordo
com as necessidades do paciente internado nos centros especializados em assistir pacientes
críticos, favorecendo assim uma evolução clínica melhor do doente. Sendo assim, “a tarefa de
assistir o indivíduo na situação de doença e hospitalização leva a necessidade de saber o que é
bom e o que incomoda no ambiente para recuperação de sua saúde” (TAKITO, 1985). Desta
forma, vemos a importância de pesquisar sobre a percepção do paciente quanto à cirurgia
cardíaca e a unidade especializada, local onde permanecem após a cirurgia, a fim de que se
possa adequar a assistência à saúde às necessidades de cada paciente, considerando aqui
saúde não apenas como um fenômeno biológico, mas também como um fenômeno social.
Por concordarmos com as considerações feitas por Novaes, Knobel e Bork
(1999), Elpern et al. (1992) e Takito (1985) e, por considerarmos a unidade de recuperação
pós-operatória de cirurgia cardíaca uma unidade de tratamento intensivo, realizamos este
estudo científico com a finalidade de identificar os sentimentos e opiniões dos pacientes frente
à experiência de terem sido submetidos à cirurgia cardíaca e ficarem internados num CTI.
Tal proposta de investigação se justifica uma vez que o paciente é o elemento
principal da assistência à saúde e identificar sua percepção com relação à cirurgia cardíaca e a
unidade de internação especializada, enquanto fonte geradora de estresse, irá contribuir para o
planejamento de uma assistência mais adequada com as necessidades do paciente,
possibilitando uma recuperação mais rápida e menos traumatizante.
27
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
• Conhecer a percepção dos pacientes com relação à experiência de submeter-
se à cirurgia cardíaca e permanecer num CTI.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Identificar os sentimentos dos pacientes frente à experiência de ser
submetido à cirurgia cardíaca e terem permanecido num CTI.
• Identificar os fatores geradores de estresse para os pacientes durante a
permanência no CTI.
28
3 A PESQUISA EMPÍRICA
3.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO
Trata-se de um estudo qualitativo de caráter descritivo e exploratório. Optamos
pela pesquisa qualitativa entendendo que neste tipo de estudo devemos utilizar um método de
investigação que possibilite um maior conhecimento e entendimento da realidade vivenciada
pelos sujeitos investigados. Nas ciências sociais, a pesquisa qualitativa promove a análise de
dada realidade, a qual, pela subjetividade, não poderia ser interpretada numericamente
(MINAYO, 1994a).
Utilizamos Bardin (1977) como referencial metodológico, que propôs técnicas
de análise de conteúdo a serem aplicadas em investigações psicossociológicas e no estudo de
comunicações de massas.
Os depoimentos foram analisados através de uma análise qualitativa. A
característica da análise qualitativa é a inferência ser baseada na existência do índice (tema,
palavra, personagem e outros) e, a partir daí, partimos para o estabelecimento dos núcleos
significantes, que constitui a comunicação (BARDIN, 1977).
29 3.2 O UNIVERSO DA PESQUISA E A POPULAÇÃO ESTUDADA
O estudo foi desenvolvido no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (HCRP),
junto à enfermaria da clínica cirúrgica, local onde os pacientes são encaminhados após
receberem alta da Unidade Pós-operatória de Cirurgia Torácica e Cardiovascular.
A população do estudo foi constituída por pacientes submetidos à cirurgia
cardíaca que permaneceram internados na unidade especializada em cuidados pós-operatórios
imediatos de cirurgia cardiotorácica. Os critérios de inclusão dos pacientes foram:
• ser maior de 21 anos;
• estar consciente e orientado;
• concordar em participar do estudo.
A amostra do estudo foi de conveniência, composta por oito pacientes
submetidos à cirurgia cardíaca e que estiveram internados na unidade pós-operatória
especializada dessa instituição no período que variou entre 36 e 76 horas. Quando
desenvolvemos estudos clínicos, a amostra geralmente é constituída por sujeitos que atendem
aos requisitos previamente estabelecidos e são de fácil acesso para o pesquisador. Devido a
essa característica, recebe o nome de amostra de conveniência (HULLEY; NEWMAN;
CUMMINGS, 2003).
Utilizamos a técnica de saturação para delimitarmos nossa amostragem.
Quando as convergências dos conteúdos das falas dos pacientes apresentaram repetições,
encerramos a coleta dos dados (HABER, 2001). O número de sujeitos não constituiu uma
preocupação visto que uma amostragem ideal é àquela que possibilite ao pesquisador entender
a totalidade do problema a ser investigado em suas diversas dimensões (MINAYO, 1994a).
30 3.3 COLETA DOS DADOS
Em virtude da natureza do estudo, foi utilizada a entrevista como técnica de
coleta de dados. A entrevista foi de livre narrativa tendo como ponto norteador para o
paciente uma questão orientadora: “Gostaria que o senhor(a) me falasse sobre a sua
experiência de ter sido submetido à cirurgia cardíaca e de ter permanecido na unidade
especializada após a cirurgia. Como o(a) senhor(a) a descreveria?”
O que torna a entrevista um instrumento privilegiado de coleta de informações para as ciências sociais, é a possibilidade da fala ser reveladora de condições estruturais, de sistemas de valores, de normas e símbolos (sendo ela mesma um deles) e, ao mesmo tempo, ter a magia de transmitir, através de um porta voz, as representações de um grupo determinado em condições histórias, sócio-econômicas e culturais específicas (MINAYO, 1994b, p.109-110).
No presente estudo, buscamos trazer a realidade vivenciada pelos pacientes aos
seus discursos a fim de possibilitar o acesso ao universo de assimilação e atribuição que os
próprios sujeitos referiram à experiência de ter sido submetido à cirurgia cardíaca e ter sido
internado numa unidade pós-operatória de cirurgia cardíaca.
Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra, as gravações
foram conservadas para possibilitar informação paralinguística (BARDIN, 1977).
Além da entrevista, elaboramos um instrumento de coleta contendo dados
sócio-demográficos e clínicos do paciente, a fim de melhor compreensão da realidade
contextual de cada um dos pacientes entrevistados (Anexo A).
31 3.3.1 Considerações sobre a entrevista como método na pesquisa qualitativa
A entrevista possibilita entender o pensamento dos sujeitos de forma ampla e
em consonância com o modo de pensar, sentir, entender o mundo de acordo com seus valores
e crenças, propiciando coletar informações relevantes sobre o passado próximo ou antigo
(THOMPSON; BURKE apud BIASOLI-ALVES, 1998). Para Bogdan e Biklen (1997), a
entrevista é um diálogo induzido por uma das pessoas, com a intenção de obter dados sobre a
outra, propiciando ao pesquisador entender intuitivamente como os sujeitos vêem o mundo.
Acrescentam ainda a necessidade de se estabelecer um rapport que favoreça a
espontaneidade, naturalidade e credibilidade. É necessário que os propósitos e a garantia do
sigilo estejam explícitos.
Com relação à técnica da entrevista, Trivinõs (1992) entende por entrevista
semi-estruturada àquela que parte de perguntas básicas, amparadas em teorias e hipóteses
pertinentes à pesquisa e que possibilitam um leque de outras interpretações sobre a mesma
realidade, como resultado de novas hipóteses que vão sendo percebidas à medida que são
colhidos os relatos dos sujeitos da pesquisa. Mais alguns aspectos com relação às entrevistas
são levantados, como serem flexíveis; não serem castradoras, invasivas, nem induzirem
respostas; impedirem um comportamento que pareça avaliativo e uma postura pessoal que
possa interferir no relacionamento paciente-entrevistador (DUARTE, 2002). Por outro lado,
as críticas com relação aos estudos qualitativos ressaltam a não objetividade dos dados como
“significados, motivações, aspirações, atitudes, crenças e valores”, o que suscita dúvida com
relação aos resultados dos estudos (DUARTE, 2002, p. 33).
Contrapondo, Silva (1996) defende a utilização da metodologia qualitativa e
acrescenta que a análise dos fatos históricos, que retratam as participações individuais e
coletivas não é fiel e completa com a utilização apenas a análise quantitativa.
32
Com referência à análise do conteúdo dos dados obtidos, estes devem ser
tratados de forma criteriosa, evitando dispersão, dispondo-se, para tanto, da categorização dos
dados e submetendo-a a juizes ou pares (BARDIN, 1977; FRANCO, 1986). Acrescentando,
Duarte (2002) ressalta a necessidade de se explicitar todos os passos metodológicos seguidos,
a fim de garantir o caráter científico da pesquisa.
Bardin (1977, p. 38) define a análise de conteúdo como sendo “um conjunto de
técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de
descrição do conteúdo das mensagens”. Acrescentando, a análise de conteúdo propicia um
entendimento isento de participação pessoal, através da utilização de técnicas de análise
previamente estabelecidas.
A análise temática, modalidade da análise de conteúdo, trabalha com os
significados das mensagens emitidas. É a reunião e organização de “itens de significação”,
codificando-os segundo uma determinação prévia (BARDIN, 1977, p. 77).
3.4 PROCEDIMENTOS
Inicialmente o projeto foi encaminhado e aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa do Hospital das Clínicas, de acordo com o Processo HCRP nº 11593/2003 (Anexo
B), seguindo as normas que regulamentam a realização de pesquisas envolvendo seres
humanos (BRASIL, 1998).
A coleta de dados foi iniciada pela consulta ao prontuário do paciente para
coleta dos dados sócio-demográficos e clínicos dos pacientes. Em seguida os pacientes foram
entrevistados individualmente, numa sala privada na enfermaria de cirurgia, após convite e
sua aceitação, em um período não superior a 48 horas após a alta da unidade de recuperação
33 pós-operatória de cirurgia cardíaca. Estabelecemos este período por acreditarmos que os
pacientes estariam com as lembranças da referida unidade ainda presente.
Os participantes do estudo foram devidamente esclarecidos sobre a pesquisa,
direitos e cuidados a eles garantidos. Foi assegurado que as informações obtidas
impossibilitariam a identificação dos sujeitos e que a não concordância em participar do
estudo não implicaria em prejuízos ao atendimento dos pacientes na instituição. Aos
pacientes, foi lido pela pesquisadora o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo
C), o qual foi assinado pelos pacientes que concordaram em participar da pesquisa.
Foi realizado um estudo piloto com dois pacientes, o que permitiu verificar se a
questão norteadora contida na entrevista iria possibilitar o alcance do objetivo da pesquisa,
além de ter propiciado familiarização da entrevistadora com as questões técnicas do uso da
entrevista, tais como a necessidade de haver um bom rapport, o risco de interferência, dentre
outras.
3.5 ANÁLISE DOS DADOS
A pesquisa foi desenvolvida com base na metodologia apresentada por Bardin
(1977). Após transcrição na íntegra das gravações das entrevistas, estas foram submetidas à
análise de conteúdo, na modalidade análise temática. A análise de conteúdo constitui um
conjunto de instrumentos metodológicos aplicados na descrição de conteúdos das mensagens,
a partir do uso de técnicas de análise, garantindo assim o rigor científico. A análise de
conteúdo visa, através do uso de técnicas de análise, obter indicadores que possibilitam a
inferência de conhecimentos pertinentes às condições de produção ou recepção das
mensagens.
34
As fases seguidas para proceder à análise do conteúdo, foram, de acordo com
Bardin (1977, p. 95):
I. Pré-análise;
II. Exploração do material;
III. O tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação.
A pré-análise constitui a fase de organização do material, corresponde ao
período em que as intuições emergem a partir de uma leitura flutuante, porém é nessa fase que
as idéias iniciais tornam-se operacionais e sistematizadas, de forma a traçar um esquema
preciso de desenvolvimento dos passos sucessivos, num plano de análise.
Na exploração do material procedemos à codificação, “processo pelo qual os
dados brutos são transformados sistematicamente e agregados em unidades, as quais
permitem uma descrição exata das características pertinentes do conteúdo” (HOLSTI apud
BARDIN, 1977, p.103).
Os dados contidos nas entrevistas foram tratados de forma a se tornarem
significativos e válidos. Procedemos à categorização dos dados, desmembramento do
conteúdo das mensagens em unidades, categorias segundo re-agrupamentos semelhantes,
tendo por objetivo uma representação organizada dos dados brutos (BRANDÃO, 2003).
A categorização possibilita ao pesquisador abstrair todas as informações
possíveis, muitas vezes implícitas, com base na análise dos dados apresentados (BARDIN,
1977).
O tratamento dos resultados foi feito utilizando-se da inferência (dedução
lógica) e da interpretação.
35
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA
Visando a melhor caracterização dos pacientes entrevistados, quanto aos
aspectos sócio-demográficos e clínicos, apresentaremos a seguir um quadro de forma
descritiva, no qual constam: idade, sexo, estado civil, escolaridade, cirurgia realizada,
possíveis complicações no trans e pós-operatório e, tempo de permanência na unidade.
Quadro 1 - Dados sócio-demográficos e clínicos dos pacientes entrevistados P Idade Sexo Estado
Civil Escolaridade Cirurgia
realizadaComplicações
no trans- operatório
Complicações no pós-
operatório
Tempo de permanência na unidade
P1 27 A F Casado EF incompleto
TV Não houve Não houve 50 horas 15’
P2 25 A M Amasiado EF incompleto
CV Não houve Não houve 44 horas 10’
P3 73 A M Casado EM completo RM Não houve Não houve 67 horas 20
P4 68 A M Casado EF Completo RM Não houve Não houve 36 horas 45’
P5 61 A F Viúvo EF incompleto
RM Não houve Não houve 38 horas 45’
P6 53 A M Casado EF incompleto
RM Não houve Infecção renal crônica agudizada
76 horas
P7 50 A M Casado Analfabeto TV Não houve Não houve 41 horas
P8 36 A M Casado EF incompleto
TV Não houve Não houve 36 horas 45’
P – paciente; A – anos; M – masculino; F – feminino; EF – Ensino Fundamental; EM – Ensino Médio; TV – troca de válvula; CV – correção de válvula; RM – revascularização do miocárdio
36
Foram entrevistados oito pacientes submetidos à cirurgia cardíaca, incluindo
cirurgia para Revascularização do Miocárdio, Correção e Troca de Válvula. A faixa etária dos
pacientes estudados variou entre 25 a 73 anos, sendo que três tinham menos de quarenta anos
de idade, dois tinham acima de quarenta e menos que sessenta anos de idade e três tinham
acima de sessenta anos de idade. Com relação ao sexo, seis eram do sexo masculino e dois do
sexo feminino. No que se refere ao estado civil, seis eram casados, um era viúvo e o outro
morava junto com o parceiro. Dos pacientes entrevistados, um possuía o primeiro grau
completo, um tinha o segundo grau completo, cinco possuíam o primeiro grau incompleto e,
um era analfabeto.
A maioria dos entrevistados possuía baixo nível de escolaridade, o que veio a
ser mais um fator, dentre outros já mencionados, que justificou termos optado por uma
metodologia qualitativa, utilizando a entrevista como instrumento de coleta de dados. Sendo
saúde também um fenômeno social e não apenas biológico, torna-se relevante conhecer e
considerar as necessidades próprias de cada sujeito, advindas das condições sociais,
econômicas e culturais nas quais estão inseridos, possibilitando assim, um entendimento fiel
da realidade estudada. Minayo (1998, p.16) afirma que “qualquer ação de tratamento, de
prevenção ou de planejamento deveria estar atenta aos valores, atitudes e crenças dos grupos a
quem se dirige”.
Com relação às complicações no período pós-operatório, verificamos sua
presença em apenas um dos pacientes e na análise dos dados, esse fator não se mostrou
relevante. No tocante à permanência dos pacientes na unidade especializada, verificamos que
o tempo médio de internação foi de 49 horas.
Durante o trajeto da análise dos dados, fizemos inicialmente uma leitura
descompromissada do conteúdo a fim de “tomar” parte do material em estudo e penetrar na
realidade de cada paciente de forma desnuda e sem pré-julgamentos. Em seguida agrupamos
os depoimentos, destacando as unidades significantes e, posteriormente, reagrupamos as
37 diferentes unidades em grandes categorias, adicionando as variantes das falas para o mesmo
tema. Ao final do nosso trabalho de análise emergiram algumas categorias analíticas, que
apresentaremos a seguir.
4.2 AS CATEGORIAS ANALÍTICAS
4.2.1 O ambiente de CTI e o pós-operatório: experiência marcante
A unidade pós-operatória de cirurgia cardíaca, sendo caracterizada como um
CTI guarda em sua estrutura, na dinâmica de trabalho e pacientes que assiste, características
particulares, quando comparadas às demais unidades do hospital. O CTI, referência para o
nosso estudo, é estruturado de forma que os leitos são dispostos próximos uns do outros, sem
paredes que promovam a privacidade, permitindo que um paciente presencie o que está
ocorrendo com seu vizinho ao lado. Isto pode gerar tensão e ser mais um elemento a interferir
no sono do paciente que já está sujeito a ter a qualquer instante seus raros momentos de sono
interrompido devido a toda uma estrutura e rotina que “tem” que ser seguida durante sua
permanência na unidade.
Homens e mulheres são internados no mesmo ambiente, o que pode gerar uma
situação constrangedora, pois, no pós-operatório imediato, os pacientes ficam sem camisola
ou pijamas, cobertos por lençol e cobertor. Mesmo com todo cuidado para resguardar a
privacidade, é comum vermos as partes íntimas dos pacientes expostas, pois, devido ao estado
em que se encontram, os pacientes descobrem-se constantemente como uma ação reflexa
38 motivada pela dor, impaciência de estar naquela condição, deitados muito tempo ou ansiosos
devido ao seu estado de dependência, imposto pela cirurgia.
Nos centros de terapia intensiva as luzes são mantidas acesas durante 24 horas.
Na unidade referência para o nosso estudo a luz natural não incide, o que dificulta para o
paciente acompanhar a evolução do dia e ter noção de tempo. O ar condicionado permanece
sempre ligado, gerando um ambiente frio, o que pode incomodar o paciente. O barulho
produzido pelos aparelhos é contínuo e monótono, o telefone toca a qualquer hora, o ruído
produzido, associado às conversas paralelas entre os membros da equipe que atua na unidade,
gera um ambiente estressante para o paciente.
Os familiares não podem ficar ao lado do paciente por muito tempo,
restringindo-se ao horário de visitas que é geralmente de uma hora, o que é insuficiente para
alguns pacientes e familiares. Todavia, não é incomum ouvirmos pacientes relatando que
preferem não receber visita dos seus familiares, pois têm medo de não agüentar a emoção.
Por outro lado, temos a condição do paciente no pós-operatório imediato:
entubado, com drenos, tendo seus membros superiores contidos durante o período em que
permanecem com o tubo endotraqueal, sobre uma cama, praticamente imóvel, devido à dor e
incapacidade física. Como resultado da cirurgia, totalmente dependente dos profissionais,
impossibilitado de satisfazer suas necessidades humanas básicas por si mesmo. Essa situação
nova vivida pelos pacientes, dentro do contexto da unidade, foi caracterizada como
estressante para a maioria dos pacientes entrevistados.
Por todo esse contexto que envolve o CTI e o paciente no período pós-
operatório de cirurgia cardíaca, o momento de permanência nessa unidade é considerado o
mais difícil e traumatizante sendo assim expressado por eles:
“[...] a recuperação que é mais difícil [...] a gente fica isolada, sem ter uma
pessoa da família [...] o que me estressou um pouco foi a cama e tem alguns aparelhos lá que
apitam bastante [...] faz bastante barulho [...] não conseguia dormir [...]” (P1)
39
“[...] não acho ruim nenhum de ficar com homem, com mulher lá, tem muita
gente que reclamou [...] a única coisa que eu tenho a reclamar mesmo é sobre ficar deitado
demais da conta, não pode levantar, não pode sair, não pode nada [...] não tava mais
agüentando de dor nas costas [...] queria tomar um banho [...] o telefone perturba [...] na
hora que você ta cochilando ele toca muito alto [...]” (P2)
“[...] a unidade lá bom não é [...] a gente quer subir logo pra enfermaria por
que aqui a gente tem liberdade [...] aqui a gente consegue ir ao banheiro [...] já to andando,
independência [...]a recuperação dessa cirurgia é muito lenta [...]a recuperação que é difícil,
não é fácil não, a gente precisa ter força de vontade [...]” (P3)
“[...] lá embaixo, lá na unidade [...] eu vi tudo diferente [...] que lugar
estranho [...] você não sabe qual que é dia, qual que é noite [...] lá, me assustei um pouco
sim, comigo não vi acontecer, eu vi com um senhor [...] cheio de fio pra todo lado e aparelho,
eu disse: meu Deus será que o homem ta morrendo? [...] foi uma experiência nova, apesar
[...] de sempre lá ser gelado [...]” (P5).
“[...] você fica meio [...] fora do ar [...] parece que você fica meio bobo [...]
fica meio passadão [...] queimava as costas, porque você fica numa posição muitas horas
[...]” (P6)
“[...] o mais custoso é ficar lá aqueles três dias, deitado em riba daquela cama
lá [...] não dormindo, por que a gente não dorme, lá é dia e noite, se alguém falar que dormiu
eu desminto [...] eu começava querer dormir, aquele barulhão de gente [...] eu não dormir de
jeito nenhum [...]” (P7)
“[...] aqui em cima já é bem melhor por que você movimenta, você anda, vai
pra lá, vem pra cá, vai no banheiro, tudo né, você mesmo faz [...] eu [...] acordei [...] entrei
40 em desespero, que eu tava todo amarrado [...] ” (P8)
De acordo com a análise dos dados, vimos que o paciente vivencia a situação
da cirurgia e, ao mesmo tempo, torna-se expectador do que está acontecendo ao seu redor. Os
gestos e atitudes da equipe são observados, assim como a percepção do local onde se
encontra. Um paciente relatou em sua fala a diferença de tratamento que observou entre uma
auxiliar de enfermagem e outra, acrescentando, retratou a condição de fragilidade em que se
encontrava e que, portanto, necessitava de atenção e dedicação. Situação semelhante à
verificada por Koyzumi, Kamiyama e Freitas (1979), em estudo com pacientes no pós-
operatório de cirurgia cardíaca eletiva, o qual procurava entender a percepção destes pacientes
com relação à cirurgia e o CTI. Os autores identificaram, com relação aos cuidados de
enfermagem, que estes pacientes têm expectativa de atenção individualizada, observação
constante e, pronto atendimento às suas necessidades.
Waldow (apud BAGGIO; TEXEIRA; PORTELLA, 2001) coloca que o cuidar
traduz-se em ajudar o paciente no seu crescimento, ajudar a enfrentar momentos difíceis,
estando sempre acessível e sendo participativo. Mencionamos também aqui o ambiente da
recepção do centro cirúrgico, ainda que não faça parte do CTI e, portanto, pareça fora do
contexto do tema proposto, mostrou-se relevante ser destacado apenas para contextualizar a
fala de um paciente que mencionou objetos como o relógio, chegando a recordar a hora de
chegada no centro cirúrgico.
“[...] antes da cirurgia eu não lembro nada, só lembro que era cinco e cinco,
eu entrei e tinha um relógio lá [...] são diferentes uma moça com a outra [...] você [...] vê a
pessoa não te dar aquela atenção que você precisa, você fica mais desestruturado [...]” (P8)
Inversamente ao que se poderia imaginar, um dos pacientes esboçou em sua
fala uma maneira diferente de ver o ambiente do CTI no tocante a presença de pacientes em
41 situações de saúde “pior” a qual se encontrava, vivenciando essa situação de forma positiva e
encorajadora:
“[...] tinha pacientes em piores condições que eu, então aquilo me animava um
pouco [...]” (P3)
Para estes pacientes, portanto, passar pela experiência do pós-operatório num
CTI é, sobretudo: difícil, em isolamento, conviver com barulho, ter restrições, falta de
privacidade, dependência, permanecer deitado muito tempo, não dormir, estar num ambiente
estranho, desorientação quanto ao tempo e espaço, estar amarrado e, ter força de vontade.
Vemos que nossos resultados coincidem com os da literatura ao caracterizar o
CTI como sendo um setor que carreia características singulares, tanto pela estrutura física,
equipamentos e atividades que ali são desenvolvidas, quanto pela gravidade dos pacientes.
Potter e Perry (2000), definindo estressores externos como sendo aqueles que se originam fora
da pessoa, como as mudanças no ambiente, nas relações sociais, nos permite caracterizar o
CTI como um lugar estressante para o paciente. Gomes (1988) vê este setor como uma
unidade geradora de estresse em virtude da dinâmica que aí é seguida, confirmando o
observado por nós através dos pacientes entrevistados. Kornfeld et al. (1982) relacionaram os
distúrbios psíquicos, muitas vezes apresentados por pacientes no pós-operatório de cirurgia
cardíaca, também à unidade especializada.
Alguns outros autores têm considerado a permanência no CTI como o período
mais difícil para o paciente, por estar numa condição nova, no caso do paciente submetido à
cirurgia cardíaca, entubado, nas primeiras horas; restrito, para que não puxe a cânula
endotraqueal; com drenos e cateteres; cercado por aparelhos e expostos aos ruídos produzidos
pelos monitores, são os fatores que incomodam o paciente (LAMOSA, 1990; OLIVEIRA;
SHAROVSKI; ISMAEL, 1995; NOVAES et al., 1997; NOVAES; KNOBEL; BORK, 1999;
PEREIRA et al., 2003; GOIS, DANTAS, 2004; SEIDLER; MORITZ, 1998).
42
No ambiente do CTI existe o ruído dos aparelhos, próprio da alta tecnologia e
dinâmica de trabalho. Além disso, o barulho resultante das conversas entre os membros da
equipe que ali atuam, também foi um fator estressante muito referenciado pelos pacientes.
Com relação a este aspecto, vemos que Nightingale (apud BILEY, 1995), no século XIX, já se
preocupava quando dizia que o “barulho desnecessário é a mais cruel falta de cuidado que
pode ser infligida, tanto a doentes, como a pessoas saudáveis”.
Maslow (1954) ressalta a necessidade que todo ser humano tem de ter suas
necessidades biopsicossociais satisfeitas, o que choca com a condição em que o paciente se
encontra no CTI, limitado, dependente, tendo alterados seus hábitos e horários pessoais de
organizar a vida, influenciando na sua satisfação frente à realidade vivenciada.
Kornfeld (1979) defende a opinião que deve haver uma preocupação quanto ao
impacto gerado no paciente quando este se encontra internado no CTI, ressaltando que o
avanço tecnológico e a especialização dos profissionais que atuam nessas unidades, geram em
caminho inverso, alteração emocional nos pacientes.
4.2.2 Experiência desagradável: sede, tubo e dor
Da sede
Durante o pós-operatório de cirurgia cardíaca na unidade especializada é
mantido um controle hídrico rigoroso. Devido à circulação extracorpórea, associada à
hipotermia induzida, realizada na maioria das cirurgias cardíacas, ocorre uma alteração na
composição hidroeletrolítica dos pacientes (BRECKENRIDGE; DIGERNESS; KIRKLIN;
PACIFICO; DIGERNESS; KIRKLIN apud LUCCHESE, 1985).
43
Ocorre um aumento de 7 a 19% da distribuição de água no espaço extracelular
nos adultos, principalmente, no compartimento intersticial (LUCCHESE, 1985). A fim de
diminuir os riscos de complicações provenientes do excesso de líquido no espaço extracelular,
como a congestão pulmonar e a insuficiência cardíaca, em pacientes com disfunção
ventricular, é realizado no pós-operatório um controle hidroeletrolítico rigoroso, visando
manter um balanço negativo.
Por outro lado, temos que o adulto perde aproximadamente de 600 a 1000 ml/
24 horas em perspiração insensível, podendo chegar a 1500 ml em caso de febre e, o rim é um
órgão que necessita, para executar sua função depurativa, de 1000 a 1500 ml de água e, a
produção de água endógena do indivíduo é em torno de 400 a 500 ml/ 24 horas. Diante disso,
Ferreira (1986) estipula que no pós-operatório normal o volume necessário para o adulto está
em torno de 2000 a 3000 ml/ 24 horas. Sendo assim, encontramos cirurgiões que preconizam,
no pós-operatório, uma administração de líquido intravenoso maior, a fim de prevenir
insuficiência renal aguda.
Na unidade que realizamos o estudo alguns cirurgiões preconizam um débito
cardíaco igual ou acima de 100 ml/ hora, o que leva a uma restrição hídrica menos rigorosa
após a liberação de líquidos por via oral. Porém, não há uma conduta uniforme entre todos os
médicos que assistem aos pacientes no pós-operatório de cirurgia cardíaca, no tocante à
ingesta hídrica.
Com relação ao tempo de jejum, Fortuna (2002) recomenda jejum absoluto nas
primeiras 24 horas após a cirurgia, só iniciando a ingesta de líquidos a partir do primeiro ou
segundo dia de pós-operatório.
Em nossa pesquisa observamos que o jejum absoluto e o controle hídrico
rigoroso agridem o paciente, levando-o, algumas vezes, ao desespero. Para a equipe de
enfermagem, que presta assistência por maior tempo junto ao paciente, as solicitações de água
são muitas vezes pouco consideradas como parte das necessidades básicas do paciente. Às
44 reações de desespero por não poder saciar a sede e a necessidade de manutenção do controle
hídrico prescrito, parecem fazer parte de realidades diferentes, visto que nem sempre o
profissional se dispõe a conversar com o paciente buscando explicar o porquê da restrição,
quantas vezes se fizer necessário. A sede foi analisada como um fator bastante estressante
para os pacientes, de acordo com os relatos apresentados:
“[...] a gente passa um pouco de sede, sede dá bastante [...] é muito difícil
[...]” (P1)
“[...] não tenho nada que reclamar de lá a não ser a sede. Nossa! A gente
quase morre de sede [...]” (P2)
“[...] o pós-operatório a gente sente àquela sede [...] o duro é a sede, dá uma
sede que você vê a pessoa lavando o chão [...] você escuta aquele barulho d´água, àquela
coisa, dá vontade de pular lá [...]” (P6)
“[...] dispois da cirurgia [...] àquela sede, eu vou falar pra você, eu quase
morri de sede, eu por mim eu morria viu. Mas por causa da sede, de tanto passar sede [...]
naquela doidura pra tomar água, secura pra tomar água e não tinha como eu beber água [...]
ficava doidinho de sede [...]” (P7)
A sede para o paciente submetido à cirurgia cardíaca reflete-se como: difícil,
fator mais estressante, desespero, “secura”.
A sede foi o fator mais apontado como fonte de estresse para o grupo estudado.
Entretanto, na literatura pesquisada, este não foi identificado como um dos fatores mais
estressantes na opinião dos pacientes dos estudos de Cochran e Ganong (1989), Soehren
(1995), Novaes et al. (1997) Novaes, Knobel e Bork (1999); Seidler e Moritz (1998) e dos
profissionais (COCHRAN, GANONG 1989; NOVAES; KNOBEL; BORK, 1999; GOIS,
45 DANTAS, 2004). Isso pode ser justificado pela diferença dos pacientes que fizeram parte dos
estudos, uma vez que não tinham sido todos os pacientes submetidos à cirurgia cardíaca; pela
conduta adotada pelos médicos que assistiram aos pacientes entrevistados, com relação ao
controle hídrico e, mesmo por motivos climáticos, visto que Ribeirão Preto, cidade na qual se
localiza o hospital onde desenvolvemos a pesquisa, ser muito quente.
Outro aspecto relevante é o fato de a nossa pesquisa ter sido realizada
utilizando a entrevista como instrumento de coleta de dados, a qual permite que o sujeito da
pesquisa discorra de acordo com sua visão da realidade vivenciada.
Do tubo
Em nosso local de estudo os pacientes, no pós-operatório de cirurgia cardíaca,
permanecem entubados durante aproximadamente as seis primeiras horas de pós-operatório.
Não há um tempo pré-estipulado para que ele permaneça sob ventilação mecânica invasiva,
depende da evolução individual de cada um.
A entubação endotraqueal ocorre devido à necessidade de ventilação mecânica
pelo paciente, pois, com a administração dos agentes anestésicos há uma depressão
respiratória reversível. Mesmo com todos os cuidados durante o tempo em que permanece
entubado e após a extubação, o paciente pode apresentar desconforto como sensação de
alteração na fala ou irritação nas vias aéreas superiores.
Com relação ao período de tempo que o paciente deve permanecer entubado,
existem alguns critérios seguidos, de acordo com a literatura. Fortuna (2002) estabelece
algumas condições: nível de consciência restabelecido, força muscular preservada,
estabilidade hemodinâmica, ausência de extra-sístole ventricular, não estar em uso de
anestésico endovenoso, ausência de sangramento. Este autor acrescenta que a extubação
precoce, nas primeiras três horas após a cirurgia, é uma prática que tem sido estimulada para
pacientes que atendam aos critérios acima.
46
A entubação é um procedimento inerente à cirurgia cardíaca, ou seja, o
paciente necessariamente deve passar por esta experiência. Entretanto, a mesma deve ser
suavizada, como por exemplo, com a diminuição do tempo de permanência da cânula
endotraqueal.
Observamos que a presença da cânula endotraqueal, referida pelos
participantes da pesquisa como tubo, foi relacionada a dor, à perda da fala e ao sentimento de
desespero. A extubação também foi referenciada pelos pacientes como momento ruim:
“[...] acordei [...] eu tava já sendo desentubado [...] elas falaram pra mim ter
calma que não ia doer [...] senti muita dor na hora [...]” (P2)
“[...] mais após a cirurgia, a desentubação é [...] eu achei muito ruim [...]
depois que tirou o tubo da garganta agente perde a fala [...] a gente tentava falar [...] na
hora que eu tava com o tubo e depois que tirou o tubo também, que eu perdi a voz, certo, aí
eu fiquei receoso de ficar sem fala [...]” (P3)
“[...] você vai acordando, acordando, percebendo uma coisa assim na
garganta [...]” (P6)
“[...] no momento em que eu acordei [...] eu achei que ia morrer, aquele troço
na minha boca [...] àquela mangueira, entrei em pânico [...] aquilo pra mim é a pior coisa
que existe no mundo [...]” (P8)
Em outras falas a presença da cânula endotraqueal e o momento da extubação
foram apenas citados, porém, vale ressaltar que se o paciente ficou com a lembrança em sua
memória dessas passagens, é porque foram de alguma forma relevantes.
47
“[...] Eu só entrei no centro de anestesia, já me levaram para o centro
cirúrgico, à hora que eu saí de lá, eu já acordei, já tiraram o tubo [...] eu achei que fosse
ficar entubada [...]” (P1)
É oportuno destacar que o paciente (P1) foi extubado logo que acordou da
anestesia, já na unidade, o que explica ter apenas mencionado o tubo, sem adjetivá-lo de
forma negativa.
A presença do tubo e a extubação refletiu-se para o paciente como: experiência
dolorosa, alteração temporária da fala, pânico, experiência vivida.
O tubo apareceu nos discursos como fator estressante, de acordo com a análise
dos dados, corroborando os achados da literatura pesquisada, que o relaciona como um dos
fatores mais estressantes para o paciente internado num CTI, assim como para o paciente
submetido à cirurgia cardíaca. Os pacientes mencionaram o tubo, aparecendo nos discursos, a
experiência do antes e do depois de retirá-lo.
Soehren (1995), Novaes et al. (1997) Novaes, Knobel e Bork (1999), Cochran
e Ganong (1989) e Seidler e Moritz (1998) concluíram, em suas pesquisas, que a presença do
tubo endotraqueal significa um dos fatores mais estressantes para o paciente, o que vai ao
encontro dos nossos resultados.
Da dor
A dor foi referenciada pelos pacientes estando relacionada à incisão cirúrgica, à
permanência no leito e, à náusea.
Durante o período pós-operatório imediato o paciente encontra-se debilitado e
ainda em convalescença sentindo fortes dores em decorrência do procedimento cirúrgico e do
seu estado ainda debilitado. Após o primeiro dia de pós-operatório ele já está provavelmente
extubado, sem drenos, menos “invadido”, tendo maior condição de se mobilizar, contudo,
devido ao esforço, ainda pode sentir dor.
48
A dor representa um sintoma relevante para o paciente, no entanto, no dia a dia
da assistência de enfermagem, muitas vezes ela é avaliada empiricamente, sem qualquer
critério que a caracterize melhor e possibilite estratégias adequadas para eliminar ou diminuir
os efeitos do fator etiológico.
Os pacientes, sobretudo quando estão com a cânula endotraqueal, sentem ânsia
de vômito o que causa dor devido ao esforço que fazem na musculatura torácica e abdominal.
Devido à náusea ser um sintoma já esperado, são prescritas medicações antieméticas para
serem administradas quando necessário. Talvez, devido a todo esse cuidado de se evitar que o
paciente apresente náusea, tenha sido um fator relatado por apenas um paciente.
A presença da dor no pós-operatório dificulta a mobilização ativa do paciente,
interfere no esforço da tosse e, compromete no estado geral do doente (BARBOSA, GINANI,
SOUZA, 1986).
“[...] a gente fica muito tempo deitado [...] dor nas costas, uma dor nas costas
que era a mesma coisa assim de ta arrancando um osso lá dentro [...]” (P2)
“[...] a única coisa que me incomodou foi o vômito [...] por que depois que
você começa, você evita de dar ânsia, é aquela dor intensa [...]” (P5)
“[...] a dor em si do peito, àquela dor tava demais [...]” (P8)
Para os pacientes entrevistados a dor é um sintoma que significou: reflexo de
permanecer muito tempo deitado, reflexo da ânsia de vômito, reflexo da cirurgia em si.
A dor foi um sintoma pouco referenciado pelos pacientes entrevistados,
resultado que vai de encontro com a literatura pesquisada. Pesquisas realizadas com pacientes
internados em CTI, as quais utilizaram escalas as quais continham os possíveis estressores
para o paciente internado nesta unidade, verificaram que a dor foi considerada um dos
sintomas mais estressantes para este paciente (NOVAES et al., 1997; NOVAES; KNOBEL;
49 BORK, 1999; SEIDLER; MORITZ, 1998). Ferguson (1992), em sua pesquisa com pacientes
no pós-operatório de cirurgia cardíaca e internados em CTI, verificou que a dor, além de estar
relacionada ao procedimento anestésico-cirúrgico, também é decorrência do estado
psicológico do paciente e do próprio ambiente do CTI.
Apesar de ser uma cirurgia das mais agressivas para o paciente devido a vários
fatores como: incisão da pele; esternotomia, onde o esterno é dividido com o auxílio de uma
serra; uso de afastador esternal durante todo o procedimento, o que, após a cessação do efeito
anestésico, causa dor; longo tempo na mesma posição durante e após a cirurgia, dentre outros
fatores intrínsecos ao perioperatório; vemos que, no nosso estudo esse sintoma não foi muito
referenciado pelos pacientes. Tal resultado pode ser justificado pelo fato de a dor relacionada
à incisão cirúrgica já ser esperada e, portanto, não merecer ser referida pelo paciente. Além
desse aspecto, temos que no pós-operatório são prescritas medicações analgésicas, as quais
são ministradas na medida da necessidade.
4.2.3 As relações com os profissionais de saúde: impessoalidade, presença profissional significando segurança e conforto e, orientação e informação significando segurança e esclarecimento
Impessoalidade
No CTI em que realizamos nossa pesquisa os profissionais utilizam crachá de
identificação o qual sempre está à mostra. Contudo, observamos que, durante a assistência
prestada, não há a preocupação por parte dos profissionais de inicialmente apresentar-se ao
paciente, identificando-se pelo nome e função. Por outro lado, a maioria dos pacientes ali
atendidos tem um nível cultural reduzido, alguns são analfabetos. A diminuição da capacidade
visual é outro fator a ser considerado, alguns pacientes usam óculos e, na unidade
50 especializada, eles encontram-se sem eles nas primeiras horas. Tais fatores podem justificar o
fato de os pacientes não identificarem os profissionais pelos nomes ou função.
A impessoalidade foi uma característica também observada em algumas falas
dos pacientes quando se referiam aos membros da equipe de saúde. Observamos que os
pacientes em nenhum momento se referiram a algum profissional pelo nome. Com relação à
categoria profissional, alguns pacientes referiram o profissional pela função que exercem.
“[...] me levaram para o centro cirúrgico [...] à hora que eu saí de lá eu já
acordei, já tiraram o tubo [...] eles tratam a gente muito bem [...]” (P1)
“[...] o cara que aplica a anestesia conversou comigo, foi dois rapaz, não
lembro o nome [...] vi a hora que eles falam o nome deles [...] as moças não pode tirar a
entubação [...]” (P2)
“[...] o de melhor [...] que aconteceu foi o atendimento de umas garotas, umas
meninas [...] senti muita firmeza naquela hora [...]” (P8)
A impessoalidade nas relações com os profissionais de saúde significou uma
característica natural entre os entrevistados.
Tiveram pacientes que até chegaram a diferenciar alguns dos profissionais pela
função, mas ainda de forma impessoal. Desta forma, percebe-se que há uma deficiência com
relação à identificação pessoal dos profissionais que atuam na unidade pós-operatória de
cirurgia cardíaca. O fato de ser um Hospital Universitário, onde é grande o número de
profissionais, docentes e alunos da área de saúde que lá atuam, exige que medidas mais
efetivas de relacionamento interpessoal se estabeleçam.
Numa relação entre profissional de saúde e paciente, a impessoalidade é um
elemento necessário, uma vez que cada ser humano tem sua individualidade e maneira própria
de enfrentar as situações da vida. Sendo assim, é importante que o profissional se identifique e
51 identifique cada paciente pelo nome, a fim de que se estabeleça uma assistência
individualizada.
Novaes, Knobel e Bork (1999) ressaltam que a humanização nos centros de
terapia intensiva está intimamente relacionada à atuação dos profissionais e, tendo sido a
impessoalidade um elemento bastante presente nas falas dos pacientes, percebe-se uma
necessidade de se estabelecer um relacionamento, paciente-profissional mais pessoal e
particular.
Presença profissional significando segurança e conforto
No CTI os pacientes são assistidos pelos médicos plantonistas, fisioterapeutas e
pela equipe de enfermagem. Durante a permanência na unidade, os pacientes são
monitorizados com aparelhos todo o tempo, tendo os profissionais de enfermagem 24 horas
assistindo-os, o que assegura que qualquer alteração seja imediatamente detectada, oferecendo
assim, segurança para o paciente, que, mesmo considerando a unidade e o período em que
permanecem nesta, como estressante, ressaltam a presença dos profissionais de forma
positiva.
“[...] não te deixam nem um minuto [...]” (P1)
“[...] cada enfermeira fica pra uma pessoa, àquela enfermeira fica sempre
atenta [...]” (P2)
“[...] o fisioterapeuta tem me ajudado muito [...]” (P3)
“[...] na acepção do médico ele achar melhor uma cirurgia, e é onde que eu
participei [...]” (P4)
“[...] as enfermeiras [...] os médicos, eles não são médicos, eles são amigos da
gente, então eu me sentir mais assim, segura de mim [...] eu confiei neles, primeiramente em
Deus e depois neles [...] não deixaram nenhum instante de dar atenção [...]” (P5)
52
“[...] lá nas Clínicas, eles não faz uma coisa sem ver os exames [...] eles
começa pela raiz, não começa lá de cima, começa pela raiz [...] trataram como se eu fosse
um bebezão [...]” (P6)
Encontramos na literatura que os pacientes sentem sua vida ameaçada enquanto
permanecem na unidade especializada, esse sentimento está intimamente ligado a toda uma
cultura que existe com relação ao CTI e aos pacientes que aí permanecem internados. Estar
numa unidade como esta significa, para o paciente, estar grave, instável e, portanto, ainda com
risco de vida. Porém, vemos que a presença sempre constante dos profissionais e a certeza da
qualidade do serviço prestado foram assimiladas pelos pacientes, refletindo-se como sinônimo
de segurança. Barbato, Koyzumi e Engel (1982), em pesquisa com pacientes coronariopatas
internados em um CTI, verificaram que uma grande parte dos pacientes sentia-se tranqüilos
por estar nesta unidade, devido à atenção contínua dos profissionais e a tecnologia aí
existente.
Para os pacientes, a presença dos profissionais que os assistiram na unidade
significou: segurança, apoio, atenção, mesmo sem que os identificassem ou soubessem seus
nomes ou profissões.
Orientação e informação significando segurança e esclarecimento
As falas analisadas nos permitiram perceber o quão importante é para o
paciente ser informado do que vai acontecer com ele durante a cirurgia e, principalmente, no
pós-operatório. A falta de informação cria no paciente expectativa, apreensão quanto ao por
vir. Pudemos perceber que os pacientes que relataram terem recebido orientação prévia
quanto à cirurgia e ao pós-operatório, tanto pelos profissionais, quanto informalmente, pelos
próprios colegas de quarto, relataram essa experiência de forma menos traumatizante.
Contudo, pudemos perceber que não é conveniente mencionar acontecimentos negativos,
mesmos que a experiência esteja relacionada a algo entendido como ruim, como, por
53 exemplo, a presença da cânula endotraqueal e a sede. O fato deve ser abordado de forma a não
amedrontar que vai passar pela situação.
Para o paciente, saber que não está sozinho e que existem pessoas ao seu lado
cuidando e dando segurança, foi outro aspecto observado após a análise dos discursos.
No período de coleta dos dados desta pesquisa ainda não eram realizadas
visitas pré-operatórias de enfermagem, como rotina da unidade onde o estudo foi realizado.
Como a unidade faz parte de um hospital universitário, os pacientes eram orientados pela
equipe de saúde como um todo, não pela enfermeira necessariamente, profissional que
permanece por maior tempo prestando assistência junto ao paciente no pós-operatório. Desta
forma, foi identificado nas falas dos pacientes, estresse gerado pela não informação de
aspectos importantes à sua recuperação:
“[...] a gente desconhece os procedimentos, né, quando vai retirar um dreno
ou fazer curativo a gente imagina que a dor é muito forte [...] a maior dificuldade da gente é
o desconhecimento [...]” (P3)
“[...] eu acho que é a tensão [...] de a gente não saber o que vai acontecer
[...]” (P1)
“[...] eu acho que a gente não pode passar as coisas mau pra pessoa [...]”
(P6)
Para os pacientes, ser orientado, no pré-operatório e no pós-operatório,
significa diminuição do estresse:
“[...] eu já fui pra lá bem ciente do que ia acontecer [...] meus companheiros
meu de quarto [...] me falaram, que eles já tinha ido [...] então pra mim deu tudo certo por
causa disso, fui muito bem instruído [...] tinha três colega de quarto, cada um contava uma
coisa [...]” (P2)
54
“[...] eu lembrei tudo daquilo que era planejado pela equipe da cárdio [...]”
(P4)
Dessa forma vemos que a orientação e a informação significam para os
pacientes entrevistados: estar ciente do que irá acontecer, acontecer o planejado. Por outro
lado, a falta de orientação e informação, é entendida como: dificuldade, desconhecimento,
tensão.
Após o período de coleta de dados, foi implantado, como rotina, a visita pré-
operatória de enfermagem para os pacientes que se submeterem à cirurgia cardíaca, a qual é
realizada pela enfermeira da unidade pós-operatória de cirurgia cardíaca, que desta forma
orienta os pacientes sobre a experiência pela qual irá passar.
Nossos resultados vêm ao encontro dos estudos que preconizam a orientação
de enfermagem no pré-operatório como estratégia para diminuir o estresse do paciente no pós-
operatório. Santos e Caberlon (apud PAULA; CARVALHO, 1997) ressaltam a importância
para o paciente de saber o que vai acontecer com ele durante e após a cirurgia. Verificamos,
pela análise das falas, que o desconhecimento gera tensão e que quando o paciente é orientado
e informado esta tensão diminui.
Como pudemos constatar através dos relatos, essa orientação pode ser
realizada, tanto por profissionais, quanto pelos próprios pacientes. Quando transmitida pelos
próprios pacientes, cada um relata para seu colega como foi sua experiência, porém, vale
ressaltar que, de acordo com as falas, é conveniente serem transmitidas somente experiências
positivas e encorajadoras, aspecto já abordado por Baggio, Teixeira e Portella (2001), quando
colocam em sua pesquisa que, de acordo com a literatura, as complicações do período pós-
operatório não necessitam ser mencionadas ou podem ser minimizadas.
Sintetizando, temos que para o paciente cirúrgico, o desconhecimento e a
desinformação são fontes geradoras de estresse diante da expectativa de algo novo.
Constatamos também que a via informal, como forma de conhecimento da realidade, através
55 de conversas com colegas de quarto, parece ter sido eficiente e talvez devesse ser melhor
explorada pela equipe, de forma planejada.
4.2.4 Após a experiência cirúrgica: medo e ansiedade como algo já superado
Para o paciente, a cirurgia significa um momento decisivo em sua vida, pois ele
tem em suas mãos a decisão de optar por fazê-la ou não. O receio do desconhecido, o medo de
que ocorra alguma mudança na sua rotina de vida ou no seu papel social, são alguns dos
elementos que influenciam o paciente nesse momento. Vimos que a ansiedade e o medo estão
bem presentes no pré-operatório, visto que se submeter a uma cirurgia é visto pelo paciente
como uma ameaça à vida e, quando se trata de cirurgia cardíaca esse sentimento é
amplificado, devido ser o coração um órgão nobre.
Não obstante, temos que, no pós-operatório, já na enfermaria, esses
sentimentos de medo e ansiedade não foram relatados com intensidade, o que parece estar
relacionado com a percepção que os pacientes têm da cirurgia como algo já superado. Os
pacientes optam em fazer, ou, em outras palavras, aceitam serem submetidos à cirurgia
cardíaca, quando os tratamentos menos invasivos, clínicos, não resolvem seu problema de
saúde, o que “soa” como a única opção a ser tomada e que tem que ser aceita. Porém, quando
se vêem operados, num primeiro momento, sofrem devido ao seu estado de total dependência,
limitações físicas e também por estar num lugar estranho e estressante, contudo, num segundo
momento, esse sofrimento dá lugar à sensação de etapa vencida e de ter sua saúde
restabelecida.
“[...] dá um pouco de medo [...]” (P1)
56
“[...] com medo a gente vai mesmo [...]” (P2)
“[...] descreveria de grande risco [...] a gente participa ou se expõe a ela para
que venha a ter o êxito do resultado daquilo que está fazendo [...] vinha tentando de uma
maneira pra se [...] desobstruía as veias, mas, como não houve sucesso [...] partiu pra uma
técnica que vinha a ser a cirurgia [...]” (P4)
“[...] a gente fica na ansiedade [...] fiz outras cirurgias, mas que nem essa não
[...] igual a essa não[...]” (P5)
“[...] to satisfeito, então esse medo, àquela coisa, parece que enterrei num
lugar [...] se tivesse que fazer outra eu até faria [...]” (P6)
“[...] eu achei ótima a cirurgia [...] por que na condição que eu tava [...] então
o remédio não adiantava [...] o remédio era a cirurgia [...]” (P7)
Contraditoriamente, encontramos também pacientes que julgaram a cirurgia
cardíaca como simples, o que parece estar ligado à comparação com o que vivenciou no
período pós-operatório. Embora a cirurgia faça parte de um todo que engloba o antes e o
depois, o paciente seccionou e comparou de forma estanque, vendo o procedimento cirúrgico
em si como a etapa mais simples.
“[...] a cirurgia cardíaca é, na minha impressão, é uma cirurgia simples [...]”
(P3)
A percepção que os pacientes têm da cirurgia cardíaca e os sentimentos de
medo e ansiedade mostraram-se intrinsecamente ligados. A experiência da cirurgia para o
paciente significa: cirurgia de grande risco, resultado positivo, procedimento necessário,
última alternativa. O medo e a ansiedade aparecem como: um sentimento esperado.
57
A literatura pesquisada confirma a análise dos dados no tocante ao medo e à
ansiedade sentidos pelos pacientes frente à cirurgia. Gois, Juarez e Sawada (2002) colocam
que o paciente, no período perioperatório, vivencia uma situação diferente e amedrontadora, a
qual gera alteração emocional, fisiológica e cognitiva. “A ansiedade pré-operatória pode ser
uma resposta antecipada a uma experiência que o paciente pode perceber como ameaçadora
para o seu papel habitual na vida, para sua integridade corporal, ou mesmo para a própria
vida” (BRUNNER; SUDDARTH, 1998, p. 314).
O sentimento de não aceitação mais visível é do paciente assintomático,
observado no pré-operatório (OLIVEIRA; ISMAEL, 1990). A idéia de ser submetido à
cirurgia cardíaca amedronta, pois o coração tem um significado muito forte na manutenção da
vida, gerando, como reflexo, um sentimento ameaçador que desgasta o paciente (OLIVEIRA;
SHAROVSKI; ISMAEL, 1995). Acrescentando, vemos em Braga (1999) que o paciente
cardíaco em tratamento medicamentoso sente-se mais tranqüilo, tendo maior controle da
situação, quando comparados aos pacientes que necessitam serem submetidos a um
procedimento cirúrgico, pois, para os pacientes, a cirurgia implica em grandes mudanças em
suas vidas.
Observamos que os pacientes, talvez por terem sido entrevistados só no
período pós-operatório, demonstraram, em suas falas, um sentimento de “etapa vencida”,
como se sentissem que o pior já havia passado. O medo e a ansiedade foram mais remetidos
ao período pré-operatório, quando referiram a tensão inerente a esse momento que antecede a
cirurgia. Diante destas duas realidades que se apresentaram, do antes e do depois, acreditamos
que seria interessante a realização de futuras pesquisas com pacientes no pré e pós-operatório
de cirurgia cardíaca, a fim de entender melhor como eles vêem esses dois momentos.
58 4.3 SINTETIZANDO O OBSERVADO
Após a análise temática do conteúdo das entrevistas, emergiram temas que
refletiram a essência da percepção dos pacientes submetidos à cirurgia cardíaca e internados
no CTI: Ambiente de CTI e período pós-operatório: experiência marcante; a desagradável
experiência da sede, da cânula orotraqueal e da dor; as relações com os profissionais de saúde:
a impessoalidade, a presença profissional significando segurança e conforto e, orientação e
informação significando segurança e esclarecimento; após a experiência cirúrgica: medo e
ansiedade como algo já superado.
Com relação ao ambiente do CTI e o período da recuperação como sendo uma
experiência marcante, destacamos que para o paciente significa: uma experiência difícil,
isolamento, barulho constante, restrições, falta de privacidade, dependência, permanecer
deitado muito tempo, não dormir, ambiente estranho, não ter noção de tempo e espaço, estar
amarrado, mas também ter força de vontade para superar esta etapa.
A sede foi considerada como um fator muito estressante para os pacientes
entrevistados, refletindo-se como: difícil, fator mais estressante, desespero, secura.
A presença do tubo e a hora da extubação refletiram-se para o paciente como
sendo: uma experiência dolorosa, alteração temporária da fala, gera pânico, faz parte da
experiência vivida.
A dor foi um sintoma pouco referenciado pelos pacientes, estando, quando
mencionadas, relacionada à: permanecer muito tempo deitado, à ânsia de vômito, à cirurgia
em si.
No tocante às relações com os profissionais de saúde, temos que para os
pacientes a impessoalidade mostrou-se muito visível e significou uma característica comum
entre os entrevistados: as moças, o cara, umas garotas... Para os pacientes, a presença
59 profissional significando segurança e conforto, foi expressa como: segurança, apoio, atenção,
mesmo sem que os identificassem ou soubessem seus nomes ou profissões. A orientação e
informação significando segurança e esclarecimento foi identificado pelos pacientes como:
estar ciente do que irá acontecer e, acontecer o planejado. Por outro lado, a falta de
orientação e informação, foi mencionada como: dificuldade, desconhecimento, tensão.
A percepção da cirurgia cardíaca e o medo e ansiedade como algo já superado
mostraram-se intrinsecamente ligados para os pacientes quando analisamos suas falas. Fica
claro que a cirurgia é uma etapa necessária, imposta pela sua condição de saúde. O medo e a
ansiedade, presentes no pré-operatório, são sentimentos inerentes ao paciente nesse período,
porém, no pós-operatório, estes sentimentos apareceram com menor intensidade, diante o fato
já consumado. A experiência da cirurgia para o paciente significa: cirurgia de grande risco,
resultado positivo, procedimento necessário, última alternativa. O medo e a ansiedade
aparecem como um sentimento esperado.
60
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com relação ao tipo de pesquisa, consideramos que a pesquisa qualitativa
mostrou-se bastante apropriada para o alcance dos objetivos propostos, uma vez que
possibilitou ao paciente expor sua experiência de forma espontânea e de acordo com sua
percepção, o que garante um resultado confiável. Pudemos fazer um contra ponto com outras
pesquisas que utilizaram metodologias quantitativas e instrumentos de coleta de dados como
as escalas de estressores, as quais elencavam os possíveis fatores estressantes ao paciente num
CTI. Verificamos neste estudo que os pacientes relataram quais eram os fatores estressantes já
sabidos, além de permitir o surgimento de elementos novos, os quais enriqueceram nosso
entendimento da realidade estudada.
Com base na análise dos dados, após proceder ao confronto destes dados com a
literatura e, considerando a experiência de atuar numa unidade especializada em assistir
pacientes no pós-operatório de cirurgia cardíaca, vemos que a equipe de saúde que atua
prestando assistência ao paciente no perioperatório de cirurgia cardíaca vê o paciente como
sendo uma pessoa que se encontra numa situação desconfortável, a qual exprime insegurança
quanto à manutenção do seu papel social e integridade da sua vida. Todavia, vimos que na
época de coleta de dados do estudo não havia um planejamento de trabalho previsto para ser
desenvolvido junto ao paciente com o objetivo de prepará-lo para essa etapa.
Após a fase de coleta dos dados, foi implantada a visita pré-operatória de
enfermagem, o que acreditamos que ajude a diminuir a tensão presente no pré-operatório, na
medida em que possibilita ao paciente expor suas dúvidas, medos, orienta e informa
61 adequadamente quanto ao perioperatório.
A orientação e a informação são também elementos essenciais para que o
paciente diminua o estresse no período pós-operatório. Neste sentido, enfatizamos as
conversas informais entre os pacientes como um aspecto que se mostrou relevante e positivo
dentro deste contexto. Sendo assim, acreditamos que seria interessante proporcionar encontros
planejados entre os pacientes que já foram submetidos à cirurgia cardíaca com os que ainda
irão ser submetidos, nos quais o enfermeiro atuaria como elemento facilitador.
Acrescentando, Baggio, Teixeira e Portella (2001) colocam que as orientações têm que ser
planejadas tendo como fio condutor o pressuposto de que um bom resultado no pós-operatório
é fruto de uma adequada orientação pré-operatória, onde o profissional tem que ter a
habilidade de identificar o que o paciente quer e necessita saber, adequando as orientações e
informações a cada paciente. Zago (1993) oportunamente ressalta que a informação não é
necessariamente sinônimo de segurança, acrescentando que quando o paciente expõe seus
medos é possível ter como resultado a redução da tensão e participação do paciente.
O preparo psicológico do paciente no pré-operatório faz parte dos cuidados
para a cirurgia. O paciente deve ser orientado de acordo com a necessidade de conhecimento
que apresentar, com seu nível cultural e capacidade de assimilação, quanto: à anestesia, a
cirurgia e ao pós-operatório.
Confirmando a necessidade de orientação e informação que se mostrou
evidente no nosso estudo, alguns autores colocam que uma das medidas mais adequadas para
diminuir os transtornos psíquicos dos pacientes é fornecer informações sobre a condição de
saúde e sobre a assistência de enfermagem que lhe é prestada (KOYZUMI; KAMIYAMA;
FREITAS, 1979).
O cuidado de não aumentar a ansiedade já presente no paciente é de
fundamental importância. Para tanto, o enfermeiro tem que conhecer antecipadamente a
situação de cada paciente.
62
Como vimos, a sede foi muito referida pelos pacientes, significando um fator
muito estressante. Diante disso e considerando o estresse um estado que pode influenciar na
recuperação do paciente e no seu tempo de permanência na unidade, gerando assim mais um
elemento a influenciar no restabelecimento do paciente, acreditamos que o controle da ingesta
de líquidos deveria ser melhor discutido com a equipe de saúde a fim de tentar adequar o
controle hídrico às necessidades fisiológicas, principalmente pelo fato de encontrarmos
poucas referências na literatura mostrando a sede como problema, portanto, parece ser um
problema bem peculiar do grupo estudado.
A cânula endotraqueal foi um fator também muito referenciado e considerado
estressante. Os pacientes referenciam-na como parte de um contexto ou a mencionam apenas,
o que significa que sua lembrança permanece presente em suas mente.
Surpreendemo-nos, entretanto, pelo fato da dor não ter sido muito referida
pelos pacientes. Embora a cirurgia cardíaca seja um procedimento complexo, que agride
muito o paciente devido ao trauma cirúrgico, conseqüências da circulação extracorpórea e
tempo de cirurgia; os pacientes entrevistados deram mais atenção a outros fatores estressantes.
Talvez a dor já seja um sintoma esperado, devido ao porte da cirurgia e, pelo fato de
medicações analgésicas serem ministradas sempre que há necessidade.
Verificamos que os pacientes em suas falas não identificaram os profissionais
pelos nomes, o que talvez esteja relacionado com o fato de ser um hospital escola e terem
todo tempo um grande número de profissionais abordando-os: a equipe médica, de
enfermagem, fisioterapeuta, nutricionista e alunos, abordando-os.
A confiança nos profissionais ficou bem visível no nosso estudo. Os pacientes
relacionaram a presença dos médicos, enfermeiros e fisioterapeuta, com momentos vividos
que lhe refletiram segurança, apoio e atenção.
No tocante à percepção da cirurgia, os pacientes entrevistados demonstraram,
através da análise dos dados, que a vêem como uma etapa a ser cumprida, pois é a única
63 opção frente ao estado de saúde em que se encontram. O medo e a ansiedade estão presentes
no pré-operatório e os pacientes referem esses sentimentos como esperados para quem irá ser
submetido a uma intervenção cirúrgica como esta.
64
SUGESTÕES
A realização do referido trabalho nos permitiu um aprofundamento do tema e
nos motivou a elaboração de sugestões com vistas a proporcionar uma assistência de
enfermagem que possibilite o atendimento às necessidades do paciente. Entendemos que
algumas adequações podem ser viabilizadas, como:
• Flexibilizar o horário e permanência dos familiares e/ou amigos na unidade,
a fim de que os pacientes possam desfrutar da presença das pessoas que lhe
são queridas, por maior tempo ou nos horários que se fizer necessário.
• Proporcionar maior individualidade aos pacientes. A privacidade é
importante quando assistimos no mesmo ambiente da UTI pacientes de
sexos opostos ou com estado de saúde mais e menos crítico.
• Minimizar os ruídos ambientais como: volume do telefone e as conversas
dos profissionais. O barulho dificulta o paciente dormir, interferindo no sono
e repouso.
• Possibilitar uma melhor diferenciação dia/ noite diminuindo o número de
luzes acesas e/ou intensidade durante a noite, proporcionando um ambiente
propício para o sono e possibilitando ao paciente acompanhar a evolução do
dia.
• Dar maior atenção à mobilização, movimentando o paciente no leito assim
65
que for possível. Mudar de posição pode favorecer a diminuição da dor nas
costas que foi tanto referenciada pelos pacientes entrevistados, além de
evitar o risco de lesão cutânea.
• Estimular a participação dos pacientes quando for desenvolver alguma
atividade ou intervenção, estimulando a interagir na sua recuperação,
sentindo-se assim como parte do processo.
• Orientar e informar o paciente no pré-operatório quanto ao trans e pós-
operatório de acordo com as necessidades e capacidade de assimilação de
cada um.
• Orientar o paciente, reforçando a importância do controle hídrico; à
necessidade da restrição dos membros superiores, retirando a restrição ao
leito logo que o paciente estiver consciente e orientado.
• Discutir com a equipe sobre as queixas dos pacientes com relação à sede,
buscando, juntos, uma forma de diminuir este fator causador de estresse.
• Proporcionar reuniões planejadas, orientadas por enfermeiro e psicólogo,
entre pacientes que já foram submetidos à cirurgia cardíaca e pacientes no
pré-operatório, a fim de que as experiências possam ser transmitidas de
forma tranqüila, diminuindo o estresse do paciente que irá ser submetido à
cirurgia, além de fazer com que o paciente que já passou pela experiência da
cirurgia , se sinta útil.
• Avaliar e considerar como importantes as queixas de dor, procurando
identificar a causa e, em seguida, solucionar esse problema apresentado
66
através de mudança de decúbito, reposicionamento no leito, medicação
analgésica ou antiemética, se a dor tiver sido provocada pela náusea e/ ou
vômito.
• Apresentar-se sempre ao paciente pelo nome e função que exerce, a fim de
que o mesmo estabeleça “um canal aberto” com o profissional, requisitando
sempre que necessitar.
• Mostrar-se sempre solícito e presente, atendendo aos chamados com
presteza, gentileza e humanidade, a fim de que o paciente se sinta seguro e
confiante na assistência prestada, o que irá contribuir favoravelmente na sua
recuperação.
67
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72
ANEXOS
73
ANEXO A –– ENTREVISTA Nº_______
Dados de identificação do paciente
Idade____anos Estado civil ____________
Sexo ( F ) ( M )
Grau de escolaridade :
( ) Primeiro grau incompleto ( ) Segundo grau completo
( ) Primeiro grau completo ( ) Terceiro grau incompleto
( ) Segundo grau incompleto ( ) Terceiro grau completo
Diagnóstico___________________________
Cirurgia realizada______________________
Complicações no trans-operatório _______________________________________________
Complicações durante a sua permanência na Unidade Pós-operatória de Cirurgia Cardíaca
___________________________________________________________________________
Tempo de permanência na Unidade Pós-operatória de Cirurgia Cardíaca
___________________________________________________________________________
74
ANEXO B –– Aprovação do Comitê de Ética do Hospital das Clínicas
75
ANEXO C –– Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
1. NOME DA PESQUISA: “O Pós-operatório de cirurgia cardíaca na percepção de
pacientes”.
2. PESQUISADORES RESPONSÁVEIS: Enfª Cristiane Franca Lisboa Gois e Enfª Profª Draª
Olga Maimoni Aguillar (Orientadora).
3. PROMOTOR DA PESQUISA: Universidade de Franca.
4. PATROCINADOR QUE APÓIA FINANCEIRAMENTE A PESQUISA: pesquisadores
responsáveis.
Sendo o paciente o elemento principal da assistência à saúde, propusemo-nos a desenvolver
esta pesquisa, certos de que a mesma irá contribuir no planejamento de uma assistência mais
adequada com as necessidades do cliente. O estudo tem o propósito de conhecer a percepção
dos pacientes com relação a sua experiência pós-operatória de cirurgia cardíaca. Acreditamos
que através dos depoimentos dos pacientes poderemos analisar a assistência a eles dispensada,
identificando quais os fatores positivos e negativos observados durante a sua permanência na
unidade especializada em assistir pacientes no pós-operatório de cirurgia cardíaca. Sua
participação neste estudo é voluntária e consiste em falar para mim sobre sua experiência no
pós-operatório de cirurgia cardíaca. Este estudo não lhe acarretará qualquer gasto, risco
ou desconforto e asseguramos que você não será identificado. Caso decida participar do
estudo, você poderá interromper suas respostas durante a entrevista, sem nenhum prejuízo da
sua inserção nesta instituição de saúde. Caso necessite de maiores informações, mesmo após a
conclusão da sua participação, você poderá entrar em contato conosco, através do endereço
abaixo. Obrigada pela sua participação.
76
EU ___________________________________________, abaixo assinado, tendo sido
devidamente esclarecido sobre todas as condições que trata o Projeto de Pesquisa intitulado
“O pós-operatório de cirurgia cardíaca na percepção de pacientes”, que tem como
pesquisadores responsáveis as Sras Cristiane Franca Lisboa Gois e Olga Maimoni
Aguillar. Declaro que tenho pleno conhecimento dos direitos e das condições que me foram
assegurados, a seguir relacionados:
1 - A garantia de receber a resposta a qualquer pergunta ou esclarecimento de qualquer dúvida
a respeito dos procedimentos, riscos, benefícios e de outras situações relacionadas com a
pesquisa e o tratamento a que serei submetido.
2 - A liberdade de retirar o meu consentimento e deixar de participar do estudo, a qualquer
momento, sem que isso traga prejuízo à continuidade do meu tratamento.
3 - A segurança de que não serei identificado e que será mantido o caráter confidencial da
informação relacionada à minha privacidade.
4 - O compromisso de que me será prestada informação atualizada durante o estudo, ainda
que esta possa afetar a minha vontade de continuar dele participando.
Declaro, ainda, que concordo inteiramente com as condições
que me foram apresentadas e que, livremente, manifesto a minha vontade em participar do
referido projeto.
Ribeirão Preto, ______ de _____________ de ______.
Cristiane Franca Lisboa Gois Profª Dra. Olga Maimoni Aguillar Enfermeira do HCFMRP - USP Docente aposentada da EERP - USP Ribeirão Preto Ribeirão Preto Telefone residencial: (0xx16) 621-6550 Orientadora da Universidade de Franca Telefone comercial: (0xx16) 602-2886 e-mail: [email protected]