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Revista IPD-Farma • ANO VIII • Edição 15 • 2017 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA O que é preciso debater sobre políticas públicas ? Caminho liberado para as startups Vacinas terapêuticas: segurança, confiança e eficácia Brasil busca autossuficiência na produção de anticorpos monoclonais Cenário histórico mostra a importância de fomentar a indústria para desenvolvimento tecnológico; é preciso compartilhar o risco

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O que é preciso debater sobre políticas públicas?

• Caminho liberado para as startups

• Vacinas terapêuticas: segurança, confiança e eficácia

• Brasil busca autossuficiência na produção de anticorpos monoclonais

Cenário histórico mostra a importância de fomentar a indústria para desenvolvimento tecnológico; é preciso compartilhar o risco

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Índice

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Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento de Fármacos e Produtos Farmacêuticos

Prezado participante

Chegamos à 11ª edição do ENIFarMed em um momento de balanço e de análises gerais. O cenário político-econômico que estamos enfrentando desde meados de 2014 gerou uma grande incerteza ao nosso setor. As crises se instauraram no país e fizeram com que a indústria e a economia como um todo colocassem o pé no freio até que fosse possível traçar uma perspectiva positiva para o futuro.

Sob este mesmo pensamento e durante um primeiro semestre bastante instável no país, optamos por postergar por alguns meses a realização deste que é um dos principais eventos do setor. Agora, após um segundo semestre visivelmente mais positivo, delineando uma melhor perspectiva para 2018, preparamos uma nova edição do Encontro Nacional de Inovação em Fármacos e Medicamentos que debaterá as melhores práticas e alternativas

para que a indústria volte a crescer e a prover a inovação e a tecnologia de que precisamos para transformar a saúde brasileira.

Como tema recorrente, voltaremos a falar da importância do fomento à tecnologia por meio de políticas públicas eficientes e dinâmicas e adentraremos, também, a questão da necessidade de estabilização do financiamento para a subvenção de empresas inovadoras. E, se pensamos e abordamos a inovação empresarial, não podemos deixar de mergulhar no universo das startups, empresas focadas em escalabilidade que contribuem positivamente para a transformação do nosso panorama atual.

Além do debate sobre as fases de desenvolvimento clínico, abordaremos os produtos farmoquímicos, a biotecnologia, a biodiversidade, a regulação de preço e o desenvolvimento de vacinas e oncológicos, encerrando com os meios para agilizar os exames de patentes. Esta 11ª edição foi preparada com o objetivo de compartilhar um amplo conhecimento dos players e garantir o crescimento do setor como um todo. Roberto Nicolsky, Superintendente do IPD-Farma

Editorial

Índice Expediente

O que é preciso debater sobre políticas públicas?

Caminho liberado para as startups

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Cenário histórico mostra a importância de fomentar a indústria para desenvolvimento tecnológico; é preciso compartilhar o risco

A Revista IPD-Farma é uma publicação da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica

Desempenhando papel importante no setor de saúde, empresas inovadoras e escaláveis ainda encontram percalços, mas cenário deve passar por renovações

Vacinas terapêuticas: segurança, confiança e eficáciaCada vez mais debatidas, essas vacinas representam revoluções nos tratamentos de doenças como HIV e câncer

Brasil busca autossuficiência na produção de anticorpos monoclonaisIndústria farmacêutica é uma das grandes motivadoras deste segmento da biotecnologia

Revista IPD-FarmaANO VIII • Edição 15Acesse: www.ipd-farma.org.br

Jornalista Responsável: Deborah Rezende (MTB: 46.691)Redação: Deborah Rezende, Marcela MarquesCoordenação: Mariana Sandroni e Roberto NicolskyColaboração: Michele MurtaDiagramação: Cecil RowlandsRevisão: Carolina Machado

Diretor: Roberto NicolskyCoordenadora: Mariana SandroniCoordenadora adjunta e captação de recursos: Michele MurtaGerente de Marketing e Eventos: Alexandre NicolskyWebmaster e webdesign: Ukla FernandesSecretariado: Ingrid Medeiros

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O que é preciso debater sobre políticas públicas?Cenário histórico mostra a importância de fomentar a indústria para desenvolvimento tecnológico; é preciso compartilhar o risco

Desde a primeira metade da década de 1990, a neces-sidade de o país investir em políticas públicas para o desenvolvimento tecnológico da indústria é assunto de debate entre os principais players do setor. Ao longo da última década, melhorias devem ser reconhecidas, mas ainda há muito a perseguir.

O setor industrial focado no desenvolvimento tecnológico sofre com os altos e baixos de políticas que são traça-das exclusivamente para uma gestão. É preciso, segundo acredita Dante Alario Júnior, presidente do Conselho Deliberativo do IPD-Farma e da Biolab, tra-balhar em uma política de Estado, e não em uma política de governo. “Precisamos de continuidade. As políticas não podem simplesmente mudar de um mandato para outro. Não há planejamento que funcione nessa insegu-rança a que ficamos submetidos”, diz.

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Para exemplificar colocando como pano de fundo uma nação democrática, assim como o Brasil, Alario Júnior relembra o posicionamento dos Estados Unidos diante de um cenário amplamente adverso como foi o do es-touro da bolha imobiliária em 2008. “Em plena crise, o governo Obama deu continuidade à política existente. Apertou áreas menos essenciais e, como inovação é indispensável para o crescimento, não limitou as verbas deste setor. Somente para nanotecnologia, na ocasião, destinou US$ 3 bilhões”, explica.

Encomenda tecnológica e financiamento

Diferentemente de outros países, o Brasil não trabalha com encomenda tecnológica por parte do governo, o que seria mais um mecanismo para impulsionar a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação. Quando questionado se esse seria um entrave legislativo, Alario Júnior explica que não: “Essa decisão pode partir do Ministro da Saúde. Não carece de uma lei, basta uma determinação do ministério”.

Quando o assunto tangencia o financiamento, é preciso reforçar a necessidade do compartilhamento do risco. Com o risco da inovação completamente na indústria, o processo torna-se muito mais inacessível. “O governo deve correr o risco ao lado da empresa. Coreia, Indonésia e Austrália, por exemplo, conseguiram grande desenvolvimento nos últimos anos graças a essa par-ceria na qual governo e indústria corriam o risco juntos”, explica ele que é coautor de várias patentes deposita-das no país e no exterior. Sendo um bem que beneficia toda a sociedade, ao compartilhar o risco, o governo incentiva as empresas na busca pela inovação com o subterfúgio de, assim, tornarem-se mais competitivas.

Novo governo, nova perspectiva

Em um mercado no qual o desenvolvimento tecnológi-co está à mercê da gestão atual, com 2018 sendo ano de eleições presidenciais, as expectativas da indústria são ambíguas. Não há como prever quais serão as prioridades do próximo chefe de Estado e é justamente essa instabilidade que torna os processos de inovação mais difíceis. “Estou na expectativa de que quem entrar se manifestará com mais clareza. O que espero, com muita

ansiedade, são propostas e programas focados em ciência, tecnologia e inovação. Não conheço nenhum país no mundo que cresceu e se destacou sem dar im-portância a essa área”, declara Alario Júnior.

A saúde, assim como a defesa, é uma área essencial e estratégica para todos os países. A dependência de importações de medicamentos, por exemplo, coloca a nação em uma situação de alerta. Em caso de qualquer embargo, guerra ou falta de verba, o acesso à saúde torna-se restrito, prejudicando toda a população.

Aos 71 anos de idade, não perdi a esperança. Vou até o fim. Enquanto estiver vivo, estarei de cabeça em pé brigando pelas coisas em que acredito

Dante Alario Júnior

“ “Dante Alario Júnior

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Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento de Fármacos e Produtos Farmacêuticos06

Em janeiro de 1995, Roberto Nicolsky, diretor geral da Protec (Sociedade Brasileira Pró Inovação Tecnológica) publicou um artigo na Folha de S. Paulo que iniciou o questionamento sobre a importância da criação de políticas públicas para fomentar o desenvolvimento tecnológico na indústria. Intitulado “O que faz falta à ciência e tecnologia”, o texto gerou grande repercussão, deu fôlego ao debate e levou à conclusão de que era necessário, e urgente, pensar em uma legislação especificamente para embasar essas políticas públicas. Além disso, era notável a necessidade da criação de uma entidade capaz de representar o setor produtivo e expressar esse posicionamento.

“Mesmo com as iniciativas positivas de financiamento a juros baixos, o Brasil não fez a opção pelo desen-volvimento tecnológico sistêmico e não criou, nas décadas de 1980 e 1990, um arcabouço de políticas públicas para fomento à inovação industrial”, comenta

Nicolsky sobre o empenho das empresas que assumiram o risco tecnológico do desenvolvimento das inovações necessárias para a disputa do comércio mundial.

Compartilhar o risco já era prioritário e essa dificuldade permanece nos dias atuais, visto que há uma vasta pos-sibilidade de financiamentos por parte do governo, mas financiar projetos não significa assumir parte do risco deles. “É preciso, também, criar condições macroeco-nômicas apropriadas como, por exemplo, estabilizar a moeda, conquistar uma taxa de câmbio adequada, con-trolar de forma satisfatória as contas públicas e o inves-timento em infraestrutura”, completa Nicolsky.

Em plena ascensão, economias como Coreia do Sul, China e Taiwan seguiam suas excelentes performances de desenvolvimento tecnológico enquanto o Brasil pare-cia estagnado. Foi quando 15 marcas uniram-se para a criação da Protec, que imediatamente assumiu a luta para que órgãos públicos e Congresso Nacio-nal construíssem um Marco Legal para impulsionar o desenvolvimento.

Desde então, muito tem sido feito e muitas conquistas devem ser enfatizadas. “Vimos muitos avanços nos últimos dez anos. Hoje temos mais proximidade com as universidades, muitas empresas já contam com pro-gramas intensos de PD&I, e temos acesso a financia-mentos. Porém o industrial é um eterno insatisfeito. Mas é essa insatisfação que move e que nos empurra para frente”, finaliza Alario Júnior.

Questão histórica

Roberto Nicolsky, diretor geral da Protec

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É impossível dissociar inovação de empreendedorismo no Brasil. No atual cenário, é automático vincular em-preendedorismo com o crescente número de startups que surgem anualmente no mercado. Os eventos de negócios, bem como as feiras e as exposições, estão cada vez mais recheados de jovens empreendedores que contribuem diretamente com o desenvolvimento dos setores ao participar ativamente dos processos ino-vativos e traçar um caminho de sucesso entre os pilares da PD&I (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação).

Caminho liberado para as Desempenhando papel importante no setor de saúde, empresas inovadoras e escaláveis ainda encontram percalços, mas cenário deve passar por renovações

Na saúde, as startups também são crescentes e a cada dia mais reconhecidas. “As startups são as responsáveis por levar ao mercado a tecnologia oriunda da pesquisa. Representam a parte mais inovadora da economia.

No Brasil, o ambiente geral ainda não é muito favorável para as startups, e mudar essa perspectiva será essen-cial para transformar o país em uma economia inova-dora”, comenta Thomas Gerlach, da FinHealth, gestora de recursos de private equity e venture capital focada exclusivamente em investimentos na área da saúde.

Para ele, que conta com ampla expertise na área, a saúde é um setor importante com possibilidade signifi-cativa de crescimento para os próximos anos. “É o que nos leva a crer que o ambiente geral deve melhorar para as startups. O que as limita, no país, são os obstáculos burocráticos, o acesso limitado ao capital e a falta de orientação global”, explica.

Quando falamos em orientação para o micro e pequeno empresário, não podemos deixar de citar o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). Graças à sua forte atuação no mercado, muitas ideias nascentes conseguiram se firmar e seguem, hoje, em desenvolvimento. O direcionamento da instituição para essas empresas que buscam o caminho da escalabi-Thomas Gerlach

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e o conceito de escalabilidadeStartupO mundo fala sobre as startups e seu desempenho de base tecnológica.

Porém, o que de fato caracteriza uma startup? Será que toda e qualquer empresa em fase inicial pode ser chamada de startup? A resposta é NÃO.

Para ser considerado como uma startup, o empreendimento não precisa apenas ser novo no mercado, mas atender a uma série de especificações. Entenda:

Para ser uma startup, a empresa precisa entrar no modelo de repetição, que significa ser capaz de entregar o mesmo produto ou solução em escala, sem muita necessidade de customização ou adaptação para cada cliente.

Repetição

O conceito de escalabilidade é um dos que fundamenta uma startup. Uma empresa escalável é aquela que consegue desbalancear os valores de investimento e de faturamento, ou seja, consegue aumentar a receita de forma desproporcional ao valor que injeta. Como resultado, maior margem de lucro sem influências diretas no modelo do negócio.

Escalabilidade

Uma startup trabalha com um produto ou uma solução inovadora e diferente de tudo o que o mercado já é capaz de oferecer, tanto que o empreendedor atua em um cenário de incerteza, já que não tem como prever com precisão se aquela ideia será ou não bem-aceita pelos consumidores.

Inovação e incerteza

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Com base nessa característica, a especialista acredita que o Brasil conta com um amplo espaço para o nasci-mento e crescimento dessas empresas privadas, visto que além de incentivos públicos é possível agre-gar programas que fomentam pesquisas tecnológicas.

Múltiplos desafios

O empreendedorismo na área de saúde não tem um percurso fácil, a começar pela necessidade de maior integração entre academia, indústria e governo, como ressalta Marília ao dizer que “é preciso promover o contato entre universidades e institutos de pesquisa com empresas privadas visando aumentar o grau de inovação e estimular a formação de startups que apre-sentem soluções para a saúde”.

Essa mesma falta de diálogo que – apesar de ter sido melhorada na última década, ainda persiste em alguns pontos – é um dos motivos que fazem com que o profis-sional, ao se formar, não esteja totalmente preparado para encarar o mercado e suas necessidades.

lidade é explicado por Marília de Sant’Anna Faria, da regional do Rio de Janeiro. “O Sebrae/RJ oferece diver-sos programas de capacitação, consultorias, publicações, estudos, pesquisas e informações diversas para que potenciais empreendedores e empresários de micro e pequenas empresas possam alçar voos mais altos em seus negócios”, diz sobre o trabalho da Gerência de Programas Estratégicos e da Coordenação de Base Tecnológica que atuam no apoio, na formação e no desenvolvimento de biostartups digitais por meio de metodologias específicas baseadas em programas de referência internacional.

Na área da saúde, para Marília, o fomento multisseto-rial proposto pelas startups merece ser destacado. “Essas empresas estimulam que profissionais com formações diversas busquem maior integração a fim de apresentar ferramentas tecnológicas com alto grau de inovação para promover soluções visando facilitar a gestão da saúde humana”, declara sobre a interação entre áreas como medicina, enfermagem, farmácia, tecnologia da informação, biotecnologia e outras.

Marilia de Sant’Anna Faria

Luis Eduardo Caroli, CEO da Biozeus Biopharmaceutical

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“Os novos empreendedores, vindos da academia, carecem de uma mentoria eficaz que os oriente ade-quadamente”, comenta Luis Eduardo Caroli, CEO da Biozeus Biopharmaceutical.

Para o profissional, que comanda uma empresa dedicada à identificação de candidatos a fármacos em estágios iniciais, transformando-os em novas terapias capazes de melhorar e salvar vidas, o recém-formado deve ser visto como um investimento para o empre-sariado. “Sempre consideramos um período de inves-timento relevante nos colaboradores novos, permitindo que ganhem a experiência necessária para atuar com o desenvolvimento da inovação”, diz sobre a tríade PD&I.

Dentro da empresa, os desafios também invadem o âmbito dos recursos humanos. “Startups precisam

Luis Eduardo Caroli, CEO da Biozeus Biopharmaceutical

de funcionários com soft skills e hard skills diferentes daquelas das grandes empresas. Encontrar e reter pes-soas com esses perfis é um dos grandes desafios para o RH”, enfatiza Gerlach relembrando que profissionais desta geração estão sempre em busca de motivação, de novos desafios e de novas responsabilidades. “Além disso, esses talentos requerem participação no sucesso da empresa”, complementa sobre a importância de atrair funcionários com a mentalidade certa, mas também com experiência técnica e comercial para atuar na transfor-mação da ideia em negócio.

“Formação em Recursos Humanos, Startups e Em-preendedores em Saúde Humana” é uma das sessões temáticas que serão realizadas nesta 11ª edição do ENIFarMed. O intuito do encontro é discutir os novos modelos de negócios capazes de gerar valor para o setor de saúde.

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Vacinas terapêuticas: segurança, confiança

e eficáciaCada vez mais debatidas, essas vacinas representam revoluções nos tratamentos

de doenças como HIV e câncer

A inovação no setor de fármacos e medicamentos gera um reflexo direto na qualidade de vida dos pacientes ao promover melhorias incrementais e revoluções am-plamente perceptíveis a tratamentos que já são eficazes, mas apresentam uma série de efeitos colaterais. É justamente por esse motivo que vacinas terapêuticas em substituição aos tratamentos tradicionais para con-trole de infecções crônicas ou doenças degenerativas são tão comemoradas pelos segmentos de oncologia e neurologia.

No caso do HIV, por exemplo, uma novidade prove-niente da Espanha traz esperança e motivação para o setor clínico responsável pelo controle da doença. Testes vêm comprovando que a combinação de uma vacina terapêutica (criada por pesquisadores da Uni-versidade de Oxford) com um fármaco responsável por despertar o vírus (Romidepsina, da farmacêutica Celgene) promove um tratamento longe das medicações anti-virais. Já na área oncológica, as vacinas terapêuticas para controle de tumores também surgem, aos poucos, como alternativas.

Porém há sempre um questionamento sobre esse tipo de inovação: é possível aliar essas novidades a processos seguros, confiáveis e eficazes? A resposta quem traz é George Moonsammy, diretor de assuntos clínicos e regulatórios da VLP Therapeutics, empresa criada em 2012 por veteranos da área biofarmacêutica que tinham, como objetivo, desenvolver tratamentos inovadores para combater os problemas globais de saúde pública.

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Participando como palestrante da 11ª edição do ENIFarMed, Moonsammy afirma que, sim, é possível aliar todas es-sas vantagens ao desenvolvimento das vacinas terapêu-ticas. Focado no desenvolvimento de novos tratamentos vacinais para câncer, doenças crônicas como diabetes, doenças neurológicas como Alzheimer e esquizofrenia, e de doenças infecciosas como malária e dengue, o diretor vem ao Brasil apresentando a tecnologia i-aVLP.

Diferentemente das vacinas tradicionais e preventivas, o projeto da VLP Therapeutics trabalha com uma plata-forma própria que não utiliza vírus vivos, mas partícu-las semelhantes a vírus. Apesar de serem idênticas aos vírus nativos autênticos, essas partículas não carregam o material genético desses vírus. Sem o material genéti-co, não podem se replicar. Se não se replicam, quando as partículas são visualizadas pelo organismo huma-no, são reconhecidas como corpos estranhos e des-pertam o sistema imune de forma efetiva, sem causar todo o rol de efeitos colaterais padrão. E a segurança da plataforma desenvolvida pela VLP Therapeutics está justamente nesse processo. Tanto que a tecnologia foi aceita pela FDA (Food and Drug Administration), agên-cia norte-americana reconhecida por sua rigidez, que aprovou os tratamentos da marca para os vírus da Hepa-tite B e para o HPV (vírus do papiloma humano).

Qualidade de vida - Oncologia

A OMS – Organização Mundial da Saúde afirma que a incidência global de câncer aumentará 50% entre 2000 e 2020. Com a ampliação do número de casos, a doença passa a receber ainda mais atenção por parte dos laboratórios e dos setores de pesquisa que visam desenvolver melhorias significativas aos trata-mentos já existentes. Eficazes, eles representam uma evolução grandiosa para a medicina; porém, devido aos inúmeros efeitos colaterais percebidos, os estu-dos não cessam. É preciso conseguir aliar um trata-mento eficaz à manutenção da qualidade de vida do paciente, o que parece difícil quando quimioterapias e radioterapias causam enjoos excessivos e queda de cabelo, entre outros prejuízos.

As novas terapias direcionadas moleculares e imu-noterapias apresentam sucesso clínico, mas al-gumas limitações como, por exemplo, o alto custo do tratamento. Muito dispendioso, um tratamento de imu-noterapia atende somente uma parcela mínima da população, e é preciso ampliar esse acesso para garantir que mais doentes possam ganhar as vanta-gens desses novos tratamentos.

• Câncer é uma das principais causas de morbidade e mortalidade em todo o mundo

• Nas próximas duas décadas, a OMS espera que o número de novos casos

aumente cerca de 70%

• Mata 8,8 milhões de pessoas anualmente no globo

• Infecções causadoras de câncer, como hepatite e o HPV, são responsáveis

por até 25% dos casos de câncer em países de baixa e média renda

• O impacto econômico do câncer está aumentando. Em 2010, o custo anual

foi estimado em US$ 1,16 trilhão

• Os tipos mais letais de câncer são pulmão, fígado, colorretal, estômago e mama

* Dados OMS atualizados em fevereiro de 2017

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De olho nessa perspectiva, a VLP Therapeutics tra-balha no desenvolvimento da tecnologia i-aVLP para tratamento de alguns tipos de câncer, dentre eles de mama, de pulmão e de próstata. O objetivo é desen-volver uma geração de agentes de anticorpos específi-cos, bem como vacinas preventivas e terapêuticas que abordem essas necessidades não atendidas criando uma terapia eficaz que tenha menos efeitos colaterais e seja acessível.

Como reconhecimento de seus estudos no segmento de oncologia, a VLP Therapeutics recentemente anun-ciou o recebimento de uma bolsa do National Cancer Institute, uma concessão de quase US$ 300 mil para

o desenvolvimento de uma nova imunoterapia contra câncer baseada em vacinas com partículas de vírus parecidas com a PD-L1, explorando mecanismos mais amplos de inibição de pontos de vista imunes.

“Estamos satisfeitos por receber esse subsídio que apoia a aplicação da nossa tecnologia VLP no cam-po da imunoterapia contra câncer. A inibição de PD-L1 é uma abordagem promissora para tratar vários tipos da doença, e acredita-se que vacinas com partículas de vírus para reduzir a inibição do ponto de controle pode se tornar uma adição valiosa ao paradigma do tratamento”, comenta o doutor Wataru Akahata, CEO da empresa.

Uma vacina terapêutica desenvolvida no Brasil e testada em camundongos mostrou-se capaz de neutralizar o parasita causador da Doença de Chagas. Com resultados favoráveis, os testes realizados graças ao financiamento de diversas universidades brasileiras e supervisionado pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) atuam na indução de linfócitos, que passam a acompanhar o parasita. Usar vírus recombinantes com importantes proteínas para indução da imunidade contra a mazela gera esperança a cerca de 10 milhões de indivíduos que convivem com a Doença de Chagas na América Latina.

Experimento brasileiro

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Mesmo com os biológicos ganhando destaque na indústria farmacêutica, este tipo específico de imu-nobiológicos ainda tem um mercado produtor baixo no país. “Dada a complexidade dessa tecnologia, é evidente que a proporção dos ganhos e dos custos é maior nessa área do que no segmento de moléculas de síntese química. Mas, aparentemente, essa é uma tendência que veio para ficar por muito tempo”, destaca Franchini.

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Brasil busca autossuficiência na produção de anticorpos monoclonais

Qual a importância da biotecnologia para a saúde de um país? Indo mais a fundo nesta área da ciência, por que é interessante que uma nação dedique esforços e investimentos na produção de anticorpos monoclonais (ou mAbs, proveniente do termo em inglês monoclonal antibodies)?

Antes de esmiuçar o assunto, é preciso lembrar que a produção em laboratório de anticorpos monoclonais tornou-se grande aliada do diagnóstico de enfermi-dades veterinárias e humanas e, também, apre-senta excelente retorno ao ser utilizada em imunossu-pressão, rejeição de transplantes, controle de doenças autoimunes e terapias de doenças oncológicas.

Kleber Gomes Franchini, diretor do LNBio (Laboratório Nacional de Biociências), integrado ao CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais), acredi-ta que este é um setor do campo da ciência e tecno-logia que deve receber mais atenção tanto por parte do governo quanto por parte da indústria. “A criação de linhagens produtoras de anticorpos monoclonais é uma parte da biotecnologia muito importante, inclusive para a indústria farmacêutica”, comenta.

Indústria farmacêutica é uma das grandes motivadoras deste segmento da biotecnologia

Kleber Gomes Franchini, diretor do LNBio

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Brasil busca autossuficiência na produção de anticorpos monoclonais

Hoje, o Brasil tende a importar tanto as linhagens quanto os processos de produção, o que faz com que o país fique suscetível à oscilação de custos e dependente de um mercado externo. Tornar-se sustentável deve ser uma meta, afinal “se ficarmos na dependência de im-portações, temos de nos sujeitar às regras do merca-do internacional; já se dominarmos essa tecnologia, po-demos nos tornar competitivos, diminuindo a dependência externa e melhorando a capacidade da nossa saúde”, relata o diretor.

Como diz Franchini, esta é uma decisão política. E se política nunca está dissociada de economia, é também uma decisão econômica. Para isso, é necessário pen-sar estrategicamente. “Dominar essa tecnologia é uma decisão política, bem como investir para que a indústria se torne competitiva. Sem isso, seremos eternos impor-tadores de um insumo bastante caro e que, em algu-mas áreas, tem se mostrado amplamente eficiente”, diz ele ao enfatizar que estamos um pouco atrasados nesta área e que outros países mais desenvolvidos e grandes indústrias farmacêuticas mundiais já estão neste mer-cado com bastante desenvoltura.

Crescimento à vistaDe forma bastante otimista, Franchini traça uma análise do atual cenário brasileiro. Tendo como ponto de parti-da os inúmeros cortes feitos pelo atual governo no setor de pesquisa e desenvolvimento, que gerou grandes prejuízos para os laboratórios principalmente no que diz respeito à capacitação de profissionais, interrupção de programas de pesquisa já em andamento e ma-nutenção dos laboratórios, o especialista vê um momento de transição positiva. “Nossa expectativa é de que o fun-do do poço tenha chegado e que o país, agora, retome sua preocupação com o investimento em ciência e tec-nologia, área essencial e que influencia diretamente o nosso futuro”, declara.

Para ele, a solidez da base científica brasileira foi um ponto fundamental para que os impactos desses cortes fossem minimizados. “É claro que é sempre um forte impacto. O país vem investindo há décadas em sua base científica, mesmo passando por crises e situações econômicas complicadas. Agora temos uma base muito boa, mas é muito mais rápido dissolver essa base ao deixar de fazer os investimentos que são necessários ao setor”, explica dando todo o crédito à entidade cientí-fica brasileira que tornou-se capaz de atender a diver-sas necessidades do país, formada por um corpo bem treinado e capacitado.

Mudanças necessáriasMesmo tendo uma excelente base científica, como destacado por Franchini, é preciso que o país mude sua estrutura e sua forma de agir para unir os interesses e garantir a produção dos insumos necessários à indústria. “Precisamos ter clareza do que a indústria precisa ao mesmo tempo que são criados instrumentos para que possamos atender a essas necessidades”, diz sobre a importância de definir políticas claras para que industriais e pesquisadores possam apontar as prioridades e, em conjunto, alcançar as principais tecnologias.

Em sua apresentação na 11ª edição do ENIFarMed du-rante painel Biotecnologia: terapias avançadas e me-dicina regenerativa, Franchini explicará o projeto que está sendo desenvolvido pelo LNBio para implantação de uma unidade dentro do CNPEM que, com suporte financeiro do Funtec, fundo tecnológico do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) em parceria com os Ministérios da Saúde e com o MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações), atenderá a uma parte inicial da cadeia de produção de células competentes na geração de biológicos.

Indústria farmacêutica é uma das grandes motivadoras deste segmento da biotecnologia

“Dominar essa tecnologia é uma decisão política, bem como investir para que a

indústria se torne competitiva. Sem isso, seremos eternos importadores de um insumo

bastante caro e que, em algumas áreas, tem se mostrado amplamente eficiente”

“Nossa expectativa é de que o fundo do poço tenha chegado e que o país, agora,

retome sua preocupação com o investimento em ciência e tecnologia, área essencial e

que influencia diretamente o nosso futuro”

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