O REALISMO DAS IDEIAS EM PLATÃO Prof. Helder Salvador.

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O REALISMO DAS IDEIAS EM PLATÃO Prof. Helder Salvador

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O REALISMO DAS IDIAS EM PLATO

O REALISMO DAS IDEIAS EM PLATOProf. Helder Salvador1PLATO: O SER E A UNIDADE2Plato e Aristteles representam os dois cumes do pensamento grego. Plato deve uma enorme parte de sua filosofia Parmnides. Mas percebeu muito bem o ponto em que a filosofia de Parmnides fraquejava.Deve, tambm, outra parte de sua filosofia a Scrates. 3E numa passagem de O sofista, dilogo de Plato, se diz textualmente que Parmnides confunde aquilo que com a unidade do que isso . Isto , que Parmnides confunde o que , ou seja, a existncia de algo, com a unidade do que isso , ou seja, com a unidade das propriedades disso que existe. Confunde, pois, segundo Plato, o existir com o que eu chamo o consistir. Confunde a existncia com a essncia. Confunde o que mais tarde Aristteles vai chamar "substncia" com aquilo que a substncia tem, ou seja, com o que a substncia , com sua essncia. Uma essncia, no por isto, no por essncia, h de existir j.4Este erro, que Plato revela e descobre na filosofia de Parmnides, , com efeito, fundamental. Consiste em confundir as condies formais do pensamento com as condies reais do ser. Assim, Plato est perfeitamente armado para desenvolver, com uma amplido magnfica, alguns dos postulados contidos na filosofia de Parmnides e alguns outros que toma do seu trato pessoal com Scrates. Vou, primeiramente, tentar fixar com muita brevidade aquilo que Plato deve a Parmnides e o que deve a Scrates.5ELEMENTOS ELETICOS NO PLATONISMO6A Parmnides deve Plato trs elementos muito importantes de sua filosofia. Deve-lhe, em primeiro lugar, a convico de que o instrumento para filosofar, ou seja, o mtodo para descobrir aquilo que , quem o ser, quem existe, no pode ser outro que a intuio intelectual, a razo, o pensamento, o nous, como dizem os gregos.7Da identificao, que faz Parmnides entre o pensar e o ser, recolhe Plato este ensinamento: que o guia, que nos pode conduzir sem falha nem erro atravs dos problemas da metafsica, o pensar, o pensamento. Nosso pensamento quem deve advertir-nos a cada momento: por a vai bem; por a va mal. O pensamento, na forma de intuio intelectual, quem nos h de levar diretamente apreenso do verdadeiro e autntico ser.8Em segundo lugar, aprende e recebe de Parmnides a teoria dos dois mundos: do mundo sensvel e do mundo inteligvel. Porque se, efetivamente, a intuio sensvel no serve para descobrir o verdadeiro ser, mas antes este h de ser descoberto por uma intuio intelectual, no pelos olhos do rosto, mas pelos interiores do esprito, o espetculo do mundo, que o mundo oferece aos sentidos, um espetculo errneo, falso, ilusrio.9E junto, ou defronte, ou em cima, ou ao lado deste mundo sensvel, est o outro mundo de puras verdades, de puros entes, de puras realidades existentes, que o mundo inteligvel. Essa diviso em dois mundos recebe-a, tambm, Plato de Parmnides, e faz uso dela.10E em terceiro lugar, Plato aprende de Parmnides ou de seu discpulo Zeno de Elia - o autor dos argumentos antes expostos a arte de discutir, a arte de aguar um argumento, de polir uma argumentao, de contrapor teses; em suma, essa arte que Plato desenvolve em forma pessoal amplssima e que leva o nome de Dialtica.11INFLUNCIA DE SCRATES: O CONCEITO12Scrates contribui para o cabedal da filosofia com umas quantas coisas de interesse fundamental. A primeira a seguinte: Scrates descobre o que denominamos os "conceitos". Como descobre Scrates os conceitos? Porque lhe ocorre aplicar s questes morais, s questes da vida moral, o mtodo que os gemetras seguem ao fazer sua cincia. Que fazem os gemetras? Reduzem as mltiplas formas sensveis, visveis, dos objetos a um repertrio pouco numeroso de formas elementares que chamam "figuras".13Os gemetras apagam, por assim dizer, as formas complicadssimas da realidade sensvel e analisam essas formas e as reduzem a polgonos, tringulos, quadrilteros, quadrados, crculos, elipses; um certo nmero reduzido de formas e figuras elementares. E ento se propem, de cada uma dessas formas ou figuras elementares, como se diz no grego, "dar a razo", dar razo delas, explic-las, dizer o que so, dar sua definio; uma definio que compreenda sua gnese e, ao mesmo tempo, as propriedades de cada uma dessas figuras.14A Scrates ocorre o propsito de fazer com o mundo moral o mesmo que os gemetras fazem com o mundo das figuras fsicas. No mundo moral h uma quantidade de aes, propsitos, resolues, modos de conduta que se apresentam ao homem. Pois a primeira coisa que ocorre a Scrates reduzir essas aes e mtodos de conduta a um certo nmero de formas particulares, concretas, a um certo nmero de virtudes; por exemplo: a justia, a moderao, a temperana, a coragem.15E logo aps ter feito de cada uma dessas virtudes ou formas primordiais da vida moral o mesmo que faziam os gemetras com suas figuras, aplica o entendimento, aplica a intuio intelectual, para chegar a dizer o que a justia, o que a moderao, o que a temperana, o que a coragem, o que o amor, o que a compaixo.16Ora: "que ?" significa para estes gregos "dar a razo disso" encontrar a razo que o explique, encontrar a frmula racional que o abranja completamente, sem deixar fresta alguma. E a essa razo que o explica, a esta frmula racional denominam com a palavra grega logos.17Logos, antes de Scrates, significava simplesmente conversa, palavra; possui desde ento o sentido tcnico filosfico que Scrates lhe d; e, a partir dele, possui em toda a filosofia, um sentido muito varivel, que variou muito no decorrer da filosofia, mas que primordialmente a razo que se d de algo. 18O que os gemetras dizem de unia figura, do crculo, por exemplo, para defini-lo, o logos do circulo, a razo dada do circulo. Do mesmo modo, o que Scrates pede com af aos cidados de Atenas e que lhe dem logos da justia, o logos da coragem. Dar e pedir logos a operao que Scrates pratica diariamente pelas ruas de Atenas.19Pois que este logos seno o que hoje denominamos "conceito"? Este o conceito quando Scrates pede o logos, quando pede que indiquem qual e o logos da justia, que a justia, o que pede e o conceito da justia, a definio da justia. Quando pede o logos da coragem, o que pede o conceito da coragem. Scrates , pois, o descobridor do conceito. Pois bem: o conceito de logos algo que Plato recebe de Scrates.20Mas, para Scrates, o interesse fundamental da filosofia era a moral: chegar a ter das virtudes e da conduta do homem conceitos to puros e to perfeitos, que a moral pudesse ser aprendida e ensinada, como se aprendem e se ensinam as matemticas, e que, por conseguinte, ningum fosse mau. Porque a convico de Scrates que aquele que mau o porque no sabe.21A TEORIA PLATNICA DAS IDEIAS22Esta convico moral e profunda e esta ideia do conceito toma-as Plato de Scrates. Mas imediatamente estende, amplifica o uso do conceito, j no somente para a geometria, no somente para as virtudes, como Scrates, mas, em geral, para a coisa - em geral. Converte, pois, Plato, o conceito no instrumento para a determinao de qualquer coisa em geral, e imediatamente pe em relao essa contribuio socrtica com os ensinamentos recebidos de Parmnides; une a ideia de conceito, de logos, com a ideia de "ser" e com os atributos do ser parmendico, e da resulta, exatamente, a soluo peculiar de Plato ao problema metafsico, sua teoria das ideias. 23Veja-se uma passagem de Aristteles em que explica como Plato chegou sua filosofia, como Plato chegou ao seu prprio sistema: "A ocupao de Scrates com os objetos ticos e no com a natureza em geral, procurando naqueles objetos ticos o que tm de geral, e encaminhando sua reflexo principalmente s definies, induziu a Plato, que o seguia, a opinar que a definio tinha como objeto algo distinto do sensvel." Eis aqui a unio entre o mtodo socrtico de buscar o logos, com a ideia parmendica de que o ser no o sensvel; e esta unio d por resultado a metafsica de Plato, que culmina na sua famosa teoria das ideias.24Tambm Plato, como Parmnides e como todo metafsico em geral, de qualquer poca que for, parte da pergunta: quem existe? quem o ser? Mas Plato j est de sobreaviso. J descobriu o erro que tinha cometido Parmnides ao confundir o "que existe?" com aquilo que o que existe , ao confundir a existncia com a essncia. 25E como est de sobreaviso no comete o mesmo erro, mas antes, pelo contrrio, distingue j claramente entre a metafsica como teoria da existncia e a metafsica como teoria da objetividade em geral. J existe em Plato, por conseguinte - embora muito intimamente unidas e no fceis de separar - uma teoria da existncia e uma teoria da objetividade, uma teoria do objeto, uma verdadeira ontologia, alm da metafsica.

26A ontologia de Plato est muito clara. Relembremos o logos de Scrates, a definio do conceito que abrange uma poro da realidade, da mesma forma que a figura "tringulo" abrange uma poro de formas que se do na realidade visvel e tangvel. Que , pois, este logos? Plato o analisa e encontra que esse logos uma unidade sinttica, uma unio na qual esto reunidos, atados, formando uma sntese indissolvel, uma poro de entes ou de caracteres.27Pois bem: essa unio, essa unidade dos caracteres que definem um objeto recortado na realidade, a essncia desse objeto, ou, se se quiser, a consistncia, unida numa unidade indissolvel, se a contemplamos agora com uma intuio direta do esprito e logo conferimos a essa unidade a realidade existencial, essa a ideia, segundo Plato.28Agora vamos explicar, um por um, os elementos dessa ideia. Em primeiro lugar a palavra "ideia" um neologismo de Plato.29A situao dos filsofos, que comeavam a filosofar h vinte e cinco sculos, era difcil, porque no tinham a seu dispor terminologia nenhuma. Da, os filsofos lanarem mo de dois recursos: um, tomar do idioma usual um termo e dar-lhe sentido filosfico; o outro recurso consiste em forjar um termo novo. 30Plato ao forjar a palavra "ideia": formou-a com uma raiz de um verbo grego que significa "ver". De modo que "ideia", realmente, significa viso, intuio intelectual. Isso exatamente o que significa ideia.31Mas a ideia uma intuio intelectual do ponto de vista do sujeito que a intui. Deixemos agora o sujeito que a intui e tomemos a ideia em si mesma, ela, a intuda nessa viso, o objeto da viso, e ento a ideia duas coisas.32Em primeiro lugar, unidade, reunio indissolvel, amlgama de todos os caracteres de uma coisa, definio dos seus caracteres, a essncia deles, o que eu denomino a consistncia. Em segundo lugar, Plato confere a isto existncia real. De modo que as ideias so as essncias existentes das coisas do mundo sensvel. 33Cada coisa no mundo sensvel tem sua ideia no mundo inteligvel, e ento aplica Plato sem rodeios a cada uma dessas unidades, que chama "ideia", os caracteres que Parmnides aplica ao ser em geral. Quer dizer: uma ideia sempre uma. H muitas ideias. O mundo das ideias est cheio de ideias, porm cada ideia uma unidade absolutamente indestrutvel, imvel, imutvel, intemporal, eterna.

34Essa ideia , ademais, o paradigma ( palavra platnica), o modelo exemplar ao qual as coisas que vemos, ouvimos e tocamos se ajustam imperfeitamente. A melhor maneira de explicar essa relao de semelhana imperfeita entre as coisas e as ideias consiste em relembrar que uma das origens de tudo isto est na geometria.35As coisas, forosamente, tm que ter uma figura geomtrica mas a tm imperfeita. As coisas so quadrados, quadrilteros. Mas um quadriltero perfeito esta lousa? De modo algum. No preciso mais que aproximar-se, para ver que os lados no so retos; est muito torto. Se est muito bem feito e primeira vista no parece torto, aproxime-se mais e se vero os defeitos.36No h nenhuma coisa que seja na sua figura, perfeitamente ajustada figura geomtrica que pensa o gemetra. Pois, do mesmo modo, no h, realmente, nenhum homem que seja absolutamente ajustado ideia do homem. No h nenhuma esttua realmente, que seja absolutamente ajustada ideia de beleza. No h nenhum ser na natureza que seja absolutamente ajustado sua ideia no mundo supra-sensvel. A relao entre as coisas e a ideias uma relao em que as coisas participam das essncias ideais; porm no so mais que uma sombra, uma imperfeio dessas essncias ideais.37Num de seus dilogos, em A Repblica, Plato compara os dois mundos: o mundo sensvel e o mundo inteligvel, ou, como ele o chama, o cu, topos uranos, o lugar celeste; compara-os s sombras que se projetariam no fundo de uma caverna escura, se por diante da entrada dessa caverna passassem objetos iluminados pelo sol.38Do mesmo modo que entre as sombras projetadas por esses objetos e os objetos mesmos h um abismo de diferena, e, sem embargo: as sombras so, em certo modo, participes da realidade dos objetos que passam, desse mesmo modo os seres que contemplamos, na nossa existncia sensvel, no mundo sensvel, no so mais que sombras efmeras, transitrias, imperfeitas, passageiras, reprodues nfimas, inferiores, dessas ideias puras, perfeitas, eternas, imperecveis, indissolveis, imutveis, sempre iguais a si mesmas, cujo conjunto forma o mundo das ideias.39Alegoria da Caverna A descrio platnica dramtica: o caminho em direo ao mundo exterior ngreme e rude; o prisioneiro libertado sofre e se lamenta de dores no corpo; a luz do Sol o cega; ele se sente arrancado, puxado para fora por uma fora incompreensvel. Plato narra um parto: O parto da alma que nasce para a verdade e dada luz. (Chau, Marilena Introduo Histria da Filosofia.)40

http://paginas.terra.com.br/educacao/teletrabalho/Teste%202-%20Filosofia/imagens/caverna.gif41Significado de algumas metforas:Caverna corresponde ao mundo sensvel onde vivemos.Exterior da caverna esfera inteligvel.Fogo na caverna reflexo da luz verdadeira ( do Bem e das ideias).Prisioneiros todos os que vivem sob o domnio dos sentidos e das opinies.42Sombras projetadas pelo fogo as sensaes produzidas pelos sentidos que produzem as opinies e as conjecturas.As correntes nossos preconceitos e opinies distorcida pelos sentidos e pelo discurso de outras pessoas.Muro a linha divisria entre as coisas sensveis e supra-sensveis.A confiana em nossos sentidos nossas paixes e opinies.43Instrumento que rompe as correntes e nos liberta da priso da caverna o mtodo dialtico de conduzir o pensamento.O prisioneiro que escapa o filsofo, que, no texto, apesar de no ser explcito, uma referncia que Plato faz a seu mestre, Scrates.44As coisas situadas no lado de fora da caverna representao simblica do ser verdadeiro e das Ideias.A luz que o filsofo v para fora da caverna a ao do Bem, que ilumina as instncias do mundo inteligvel, assim como o sol ilumina o mundo sensvel.

45Ascenso para o alto e a contemplao do mundo superior simboliza o caminho da alma em direo ao mundo inteligvel.O conhecimento do verdadeiro Ser passagem do temporal para o atemporal.46O Retorno CavernaO Alegoria da Caverna coloca o proceder filosfico como agente libertador da ignorncia e da servido dos sentidos e nos lana a um mundo novo onde a verdade e a compreenso a ordem normal das coisas.47Uma vez que a conscincia se expande, lhe impossvel retornar ao que era.Presenciamos hoje multides de pessoas sem identidade rostos sem face vivendo basicamente em funo da satisfao de seus instintos fundamentais.48As reservas florestais e animais esto desaparecendo na mesma espantosa velocidade com que o consumo tem aumentado.A violncia, a misria, a doena, as catstrofes climticas, a concentrao de renda, as guerras, o desencanto, a desesperana nada mais so do que os companheiros daqueles que decidem e insistem em viver na mediocridade das opinies e do preconceito.49A pergunta que fica, obviamente, : Como possvel que ningum perceba que o mundo est desabando?Plato, de uma certa forma, j nos deu a resposta 2.400 anos atrs.50Para ele, os sofistas eram aqueles que carregavam as marionetes que faziam as sombras na parede. Atravs de uma retrica estrategicamente arquitetada convenciam qualquer um sobre qualquer coisa. Na medida em que no pensamos por ns mesmos, podemos ser facilmente enganados por discursos de outros mais astutos.51Plato, de certa forma, em seu Alegoria da Caverna, predisse uma famosa mxima de Jesus relatada no evangelho de Joo: Conhece a Verdade e Ela vos libertar.52Na medida em que nos libertamos da iluso dos sentidos e elevamos nossa mente nas alturas, passamos a perceber uma outra ordem de realidade (mundo das ideias), onde possvel a harmonia, o equilbrio, a beleza e, o que era o grande sonho de Plato, a Justia plena, total e irrestrita.53Neste estado iluminado numa conscincia mais elevada, quando se volta para a caverna, para a mediocridade do mundano, a pessoa se sente perdida, no reconhece mais os valores reinantes neste domnio, no se enquadra nos esquemas, no se veste como eles nem deseja o mesmo que eles. Da o filsofo que retorna caverna ser ridicularizado, como expressa Plato no final do texto.54NVEIS DE INTERPRETAO DO MITO DA CAVERNA55Primeiro nvel do Mito da cavernaSimboliza os diversos graus em que ontologicamente se divide a realidades sensvel e supra-sensvel com suas subdivises:

As sombras da caverna simbolizam as aparncias sensvel das coisas;

As esttuas, as prprias coisas sensveis;

56Primeiro nvel do Mito da cavernao muro a linha divisria entre as coisas sensveis e as supra-sensveis;

As coisa verdadeiras situadas do outro lado do muro so representaes simblicas do ser verdadeiro e das ideias, e o Sol simboliza a ideia do Bem

57segundo nvel do Mito da cavernaGraus de conhecimento:

A viso das sombras simboliza a eikasa ou imaginao e a viso das esttuas representa a pstis ou crena;

A passagem da viso das esttuas para a viso dos objetos verdadeiros e para a viso do sol, antes de forma mediada e posteriormente imediata, simboliza a dialtica em seus vrios graus e inteleco pura. 58Terceiro nvel do Mito da cavernaAspecto asctico, mstico e teolgico

A vida na dimenso dos sentidos e do sensvel a vida na caverna, assim como a vida na pura luz a vida na dimenso do esprito;

O voltar-se do sensvel para o inteligvel representado expressamente como libertao das algemas, como converso, enquanto a viso suprema do sol e da luz em si mesma viso do Bem e contemplao do Divino.59Quarta nvel do Mito da cavernaExpressa a concepo poltica-educativa

Retornar caverna consiste na libertao dos que antes estavam presos nas sombras/ignorncia; o filsofo-poltico-pedagogo que precisa voltar para indicar o caminho aos outros; uma ao arriscada e pode ser morto pelos demais;

60Alegoria da Caverna e a Educao importante ter em mente que um dos principais objetivos de Plato ao escrever A Repblica fazer uma crtica severa estrutura de poder em Atenas e, ao mesmo tempo, propor as reformas necessrias para, segundo ele, estabelecer um governo realmente justo e voltado para o bem-estar da maioria.61Na democracia o que importa no a verdade, mas sim o poder de convencimento. Desta forma, homens astutos e de boa oratria enganam facilmente o povo crdulo!(Plato)62Desenvolver um mtodo para afastar a incompetncia e a canalhice dos cargos pblicos e para selecionar e preparar os melhores para governar eis o problema da filosofia poltica que Plato oferece na Repblica.63Portanto, conclui, no haver trmino para os males humanos at que aqueles que esto buscando a reta e verdadeira filosofia recebam o poder soberano nas cidades, ou aqueles que esto no poder nas cidades, por alguma disposio da providncia, se tornem verdadeiros filsofos.64Presas que esto ao ato de possuir objetos no percebem que apenas obedecem a uma ideologia que diz ser o consumo a fonte de toda felicidade.65Para manter uma sociedade de consumo desenfreada e ensandecida, as indstrias queimam inimaginveis quantidades de combustveis fsseis que liberam poluentes na biosfera.66Alguns aspectos sobre a formao do filsofo que traduzem a noo geral de educao no Livro VII:Os chefes de estado no devem ser simples intelectuais e possurem conhecimento apenas por possuir;O conhecimento deve tornar o governante uma pessoa de bom carter e benevolente para sua comunidade;

67Um filsofo deve conhecer profundamente todas as cincias para que tenha condies de analisar com perfeio o mundo inteligvel.

68A ideia DO BEM69A "ideia de Bem" , de certo modo, a ideia das ideias, o princpio supremo a partir do qual as ideias adquirem valor e inteligibilidade. "Ela (ideia do bem) prpria soberana e dispensa a verdade e a inteligncia; e que preciso v-la para conduzir-se com sabedoria na vida particular e na vida pblica" (A Repblica, 51 7b).70Com efeito, nenhuma virtude virtude, nenhum prazer prazer, se no for um prazer "bom", um modo "bom de agir", e para conhec-lo, em primeiro lugar, preciso conhecer o "Bem enquanto tal, conhecimento obrigatrio para os que assumem o encargo de governar a cidade" (A Repblica, 505e-506a).71A ideia de "Bem", destarte, o princpio supremo de unificao do mltiplo. Como as ideias no so apenas princpios de conhecimento, mas princpios ontolgicos (uma ao justa devido sua semelhana com a ideia de justia etc), a ideia de "Bem" o princpio ontolgico supremo, mediante o qual tudo o que "bom" tem seu valor e seu ser. Em ltima instncia, o elemento que explica a "razo" de tudo aquilo que .72Sendo assim, a ideia de "Bem" se projeta para alm daquilo que pode ser, reinando, sem dvida, sobre o mundo inteligvel das ideias. Assume traos e caractersticas divinas e a "metafsica", cuja finalidade o seu conhecimento, por meio do discurso (lgos), torna-se urna "teologia".73Ora, enquanto visvel inteligncia, ao pensamento, o "Bem" se identifica com o "Belo" (a justa medida, a harmonia, a ordem interna do ser), a tal ponto que para os gregos virtude e bondade formam uma nica coisa ("kalokagathi" - "beleza-bondade", cf. o sentido de "uma bela ao"), enquanto o vcio "feio", vergonhoso.74Ora todas as ideias pendem de uma ideia superior a todas elas, que a ideia do bem. Aqui ecoa de novo, como um acorde que volta ao final da sinfonia, aquele interesse moral que fora fundamental no pensamento de Scrates e que tambm herdou Plato. Para Plato, o importante realizar a ideia do bem.75Que os Estados polticos, formados, na Terra, pela unio dos homens que moram nela, sejam o melhor possvel, se ajustem o mais possvel a essa ideia do bem. Por isso pe toda a sua filosofia, toda a sua metafsica e toda a sua ontologia ao servio da teoria poltica do Estado; porque acredita que assim como a ideia do bem a suprema ideia que rege e manda em todas as demais ideias, do mesmo modo entre as coisas que existem nesse mundo sensvel, aquela suprema, que dever mais que nenhuma coincidir com a ideia do bem, o Estado.76Consagra os dois mais volumosos dilogos que escreveu, A Repblica e As Leis, a estudar a fundo como deve ser a constituio de um Estado ideal. Por sinal que conclui, em resumo, que o Estado ideal ser um Estado no qual, ou os que mandam sejam filsofos, ou sejam os filsofos os que mandam.77Para Plato, o mesmo que para Parmnides, as ideias so realidades que existem, as nicas realidades que existem, as nicas existentes, isto que as coisas que vemos e tocamos so sombras efmeras; so aquilo que so, indiretamente e por metaxis ou participao com as ideias.78Somente desta maneira, compreendendo a Plato na sua autentica realidade metafsica, somente entendendo-o como um realismo das ideias, somente assim se pode entender Aristteles, porque o que este far ser dar uma lgica interna a todo o sistema e traz-lo, por assim dizer, do seu cu inacessvel, a esta terra, para fazer que estas ideias, que so transcendentes s coisas percebidas, se tornem imanentes, internas a elas.79O CONHECIMENTO80Para chegar ao conhecimento da ideia de Bem, para "v-la", a psych do homem deve ultrapassar o mundo dos sentidos e da aparncia, no mximo "morrer". Morte para a qual a filosofia arrastada (Fdon, 661 b-d] e que antecipa progressivamente a liberao da alma das cadeias que a aprisionam ao corpo. A verdadeira filosofia "exerccio de morte".81Para Plato, duas so as vias de purificao-ascenso: 1) O "Amor" (ros) que, atrado pela Beleza, supera as tendncias instintivas da alma que a impelem para "baixo" (Fedro, 237d-238c; 253c-254e). Fascinado pela beleza deste mundo, o homem deve elevar-se at a "Beleza" que existe em si mesma e por si mesma, da qual participam todas as outras coisas belas, em virtude de que o "Amor" sede de beleza e de bondade. O vrtice desta ascenso seria o xtase mstico diante da beleza divina, pois o "Amor" tambm saudade do Absoluto, transcendente tenso verso o metaernprico, retorno fonte originria.822) A metafsica, no sendo experincia mstica nem xtase, deve procurar recuperar, atravs de um discurso conceitual, "dialtico",? aquilo que o ros faz contemplar diretamente. A "dialtica" a apreenso, fundada sobre a intuio intelectual, do mundo ideal, de sua estrutura, do lugar que cada ideia ocupa, relacionada com as outras.83E ento nosso conhecimento, nossa cincia, nossa episteme, em que consiste? Consiste em elevamos por meio da dialtica, da discusso, das teses que se contrapem e se vo depurando na luta de umas contra outras, para chegar desde o mundo sensvel, pela discusso, a uma intuio intelectual desse mundo supra-sensvel; composto todo ele pelas unidades sintticas que so as ideias e que, ao mesmo tempo, constituem a unidade ontolgica da significao, unidade ontolgica daquilo que consiste, da essncia, e, ao mesmo tempo, unidade existencial atrs dessa unidade ontolgica.84No mundo das ideias existe, ademais, uma hierarquia. As ideias esto em relao hierrquica, mantm entre si essas relaes que so, por sua vez, outras ideias. Precisamente esse ser um dos pontos fracos do sistema platnico, por onde a perspiccia profunda de Aristteles saber penetrar.85Como concluso de Plato podemos aprender:1) A existncia no s de um saber, mas de uma realidade metafsica, to real como aquela que vemos e tocamos. Realidade esta suprema e divina: fundamento de tudo aquilo que bom e belo no mundo fsico e humano. O discurso metafsico mantm-se aberto existncia do Transcendente.2) Enquanto a instncia tica de Scrates nos fazia perceber a importncia de um saber definido por valores e normas morais absolutas, a instncia esttica e ertica, desvelada por Plato, nos propicia ver que os valores reais de beleza e de bondade transcendem as coisas materiais que os representam. Estes valores nos ajudam a entrever uma realidade que vai alm do simples dado (o fato), e que o mundo da experincia no conseguir jamais encarn-la ou represent-Ia perfeitamente. Tenhamos bem presente que a experincia esttica e o amor abrem uma privilegiada via de acesso ao campo metafsico.873) A nsia, que inquieta o corao do homem, pela aquisio de um "bem" projetado de modo absoluto ou totalizante. Pulsa, na interioridade do ser humano, o desejo ou a busca incontida por uma realidade perene, absoluta.884) O sentido de utopia: a projeo "idealstica" do mundo, da sociedade. A doutrina de Plato concentra em seu bojo aspectos crticos em relao ao seu mundo poltico e social, que ecoam como exortao transformao, sorvendo sua inspirao e seu dinamismo das "ideias".89