O Renascimento

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O Renascimento O Renascimento

Prof. Dra. Maria Clara Lopes SaboyaProf. Dra. Maria Clara Lopes Saboya

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RenascimentoRenascimentoO termo “Renascimento” se refere a um período da história da humanidade compreendido entre 1300 e 1500 que se caracterizou por um movimento filosófico e artístico de ruptura entre o mundo medieval - com suas características de sociedade agrária, teocrática e fundiária - e o mundo moderno urbano, burguês e comercial.

Nesse período, a Europa medieval, relativamente estável e fechada, inicia um processo de abertura e expansão comercial e marítima.

A identidade das pessoas, até então baseada no clã e na propriedade fundiária, vai sendo progressivamente substituída pela identidade nacional e pelo individualismo.

A mentalidade vai se tornando paulatinamente laica - desligada das questões sagradas e religiosas -, as preocupações filosóficas vão convivendo com outras mais imediatistas, materiais e práticas, centradas principalmente no bem-estar do homem.

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Diferentes visões do RenascimentoDiferentes visões do Renascimento

Alguns historiadores têm uma visão otimista do Renascimento: as mudanças que ocorreram na Europa (Itália, Inglaterra, Alemanha) foram responsáveis pelo desenvolvimento do comércio e da navegação, do contato com outros povos, proliferação de obras de arte e de obras filosóficas. O movimento renascentista promoveu o renascer da cultura e da erudição, o gosto pelo saber, além de tê-los, aos poucos, posto à disposição da população em geral.

Há também os historiadores mais pessimistas, que percebem nessa época um período de grande turbulência social e política: falta de unidade política e religiosa, nos grandes conflitos existentes entre as nações, nas guerras intermináveis, nas inquisições e perseguições religiosas. Consideram sintomas de tudo isso os exílios, as condenações e os longos processos eclesiásticos, os grandes genocídios que a Europa promoveu na América e o ressurgimento da escravidão como instituição legal.

De fato, um certo clima de fim de mundo perpassa a produção artística do período, expresso na Divina comédia de Dante Alighieri, no Juízo final de Michelângelo, pintado na Capela Sistina. Um clima de insegurança e instabilidade perpassa todos nessa época de profunda transição.

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"O Juízo Final" , de autoria do pintor renascentista Michelangelo Buonarroti. Trata-se de um afresco medindo 13,7 m x 12,2 m, pintado na parede do altar da Capela Sistina. Michelangelo, dedicou todo seu engenho e força de 1534 a 1541.É, na visão do artista, uma representação do Juízo Final inspiradas na narrativa bíblica. Aqui, Michelangelo expressa vigorosamente o conceito de Justiça Divina, severa e implacável em relação aos condenados. O Cristo, parte central da composição, é o Juiz dos eleitos que sobem ao Céu por sua direita, enquanto os condenados, abaixo de sua esquerda, aguardam...

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Outras obras do períodoOutras obras do períodoAuto da barca do inferno – Gil Vicente (1516);

Dom Quixote – Miguel de Cervantes (1600);

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A retomada do espírito especulativoA retomada do espírito especulativoDe qualquer maneira, o Renascimento marca uma nova postura do homem diante da natureza e do conhecimento. Juntamente com o descrédito na Igreja como instituição e o conseqüente aparecimento de novos credos e seitas - que conclamavam os fiéis a uma leitura interpretativa das escrituras -, o homem renascentista retoma a crença no pensamento especulativo (curiosidade humana que nos leva à tentativa de compreender as coisas).

O conhecimento deixa de ser revelado, como resultado de uma atividade de fé, para ser o resultado de uma bem conduzida atividade mental (conhecimento racional).

Estimulado pelo individualismo e liberto dos valores que o prendiam irremediavelmente à família e ao clã, o homem já concebe seu papel na história como agente dos acontecimentos. Ele vai aos poucos abandonando a concepção que o tomava por pecador e decaído, um ser em permanente dívida para com Deus, para se tomar, na nova perspectiva, o agente da história.

É nesse ambiente de renovação que o pensamento científico tomará novo fôlego e, com ele, o pensamento acerca da vida social.

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Um novo pensamento socialUm novo pensamento socialNum mundo que se torna cada vez mais laico e livre da tutela da Igreja Católica, o homem se sente livre para pensar e criticar a realidade que vê e vivencia. Sente-se livre para analisar essa realidade como algo em si mesmo e não como um castigo que Deus lhe reservou.

Os filósofos passam a questionar e dissecar a realidade social.

A vida dos homens passa a ser fruto de suas ações e escolhas, e não dos desígnios da justiça divina.

Novas instituições políticas e sociais, estados nacionais, exércitos, levam os homens a repensar a vida social e a história.

Nessa visão está o germe do pensamento social moderno que vai expressar na literatura, na pintura, na filosofia e, em especial, na literatura utópica de Thomas Morus (A Utopia), Tommaso Campanella (A cidade do Sol) e Francis Bacon (Nova Atlântida).

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As UtopiasAs Utopias

O pensamento social no Renascimento se expressa na criação de mundos ideais que mostrariam como a realidade deveria ser, sugerindo que tal sociedade seria construída pelos homens com sua ação e não pela crença ou pela fé.

A Utopia de T.Morus é uma ilha onde reina a igualdade e a concórdia. A igualdade e os ideais comunitários são garantidos por uma monarquia constitucional. Cada grupo de 30 famílias escolhe um representante para o conselho que elege o imperador; este permanece até o fim da vida como soberano, sob o olhar vigilante do conselho, que opina sobre cada ato real e pode consultar previamente as famílias, quando considerar necessário.

Em A Utopia, Thomas Morus expressa os ideais de vida moderada, igualitária e laboriosa, que só se torna possível graças ao plano sábio de um monarca esclarecido: Utopos, fundador da Utopia. O monarca esclarecido, justo e sábio é o ideal político do Renascimento, organizador das sociedades perfeitas criadas pela literatura de Thomas Morus e de outros.

Os filósofos renascentistas tentaram imaginar uma sociedade perfeita. Thomas Morus (1478-1535) escreveu sobre uma comunidade ideal, onde todas as soluções foram encontradas: na Utopia, cujo nome significa “nenhum lugar", existe harmonia, equilíbrio e virtude.

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Maquiavel: o criador da Ciência PolíticaMaquiavel: o criador da Ciência PolíticaNicolau Maquiavel (1469-1527), pensador florentino, escreveu O Príncipe, dedicado a Lourenço de Médici (1449-1492), governador de Florença.Nesse livro, Maquiavel se propõe a explorar as condições pelas quais um monarca absoluto chega ao poder, reina e mantem seu poder.

Como Thomas Morus, Maquiavel acredita que o poder depende das características pessoais do príncipe - suas “VIRTUDES” -, das circunstâncias históricas e de fatos que ocorrem independentemente de sua vontade - as oportunidades – ou “FORTUNA”.

Acredita também que do bom exercício da vida política depende a felicidade do homem e da sociedade. Mas, sendo mais realista do que seus companheiros utopistas, Maquiavel faz de O príncipe um manual de ação política, cujo ideal é a conquista e a manutenção do poder.

Disserta a respeito das “alianças” - das relações que o monarca deve manter com a nobreza, o clero, o povo e seu ministério. Mostra como deve agir o soberano para alcançar e preservar o poder, como manipular a vontade popular e usufruir seus poderes e aliados.

Faz uma análise clara das bases em que se assenta o poder político: como conseguir exércitos fiéis e corajosos, como castigar os inimigos, como recompensar os aliados, como destruir, na memória do povo, a imagem dos antigos líderes.

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Os fins justificam os meiosOs fins justificam os meios

Para Maquiavel, o papel essencial do estadista é:

a) manter a ordem interna e

b) manter a soberania do território que governa, a qualquer custo.

Para esses fins, deve utilizar os meios que forem necessários.

“Maquiavel, simulando dar lições aos reis, deu grandes lições aos povos”

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A visão laica da sociedade e do poderA visão laica da sociedade e do poder

Em relação ao desenvolvimento da Ciência Política e do pensamento sociológico, Maquiavel teve mais êxito do que Thomas Morus, na medida em que seu objetivo foi conhecer a realidade tal como se lhe apresentava, em vez de imaginar como ela deveria ser.

De qualquer maneira, nas obras de Thomas Morus e de Maquiavel percebemos como as relações sociais e a vida dos homens já aparecem como resultado das condições econômicas e políticas e não de sua fé.

Além disso, esses filósofos expressam os novos valores burgueses ao colocar os destinos da sociedade e de sua boa organização nas mãos de um indivíduo que se distingue por suas características pessoais. A monarquia proposta no Renascimento não se assenta na legitimidade do sangue ou da linhagem, na herança ou na tradição, mas na capacidade pessoal do governante e sua sabedoria.

Nessa idéia de monarquia se baseia a aliança que a burguesia estabelece com os reis para o surgimento dos estados nacionais, onde a ordem social será tanto mais atingível quanto mais o soberano agir como estadista, pondo em marcha as forças econômicas do capitalismo em formação.