O Sul Maio nº 22

8
A rua, o voto e a crise Quanto mais o cenário de crise se instala na sociedade, mais algumas pessoas se começam a sentir encurraladas e sem nada a perder, situação que, por vezes, conduz a que alguns só consigam responder com violência à violência das circunstâncias. No dia 1 de Maio, Setúbal assistiu a uma situação destas, junto ao Monumento à Resistência Anti-Fascista, quando alguns, poucos, elementos que participavam na manifestação anarquista convocada pelo colectivo Terra Livre não foram capazes de manter a calma, nem de ouvir os apelos – sensatos – de outros manifestantes para que não atirassem pedras em resposta às provocações de militantes do Partido Nacional Renovador (PNR) que, do outro lado da rua, mostraram as suas bandeiras à passagem pelo monumento, cerca de meia hora antes de iniciarem a sua celeb- ração, não do Dia Mundial do Trabalhador, mas do Dia do Trabalho Nacional – uma clara reminiscência salazarista. Nada de mais grave aconteceu porque as forças da autoridade – que dispunham de um contingente considerável no local – se interpuseram entre nacionalistas e anarquistas e sanaram a situação em dois minutos. Fora este incidente, a manifestação anti- autoritária e anti-capitalista decorreu em clima de festa, juntando cerca de 200 pes- soas numa marcha que percorreu a Baixa, do Largo da Misericórdia à Fonte Nova – onde no ano passado a celebração do Terra Livre foi reprimida pela polícia –, e terminou com a deposição de faixas junto ao monumento que homenageia os homens e mulheres que não tiveram medo de lutar por uma vida melhor, mais livre, em terras do Sado. E a Grécia aqui tão perto... Também neste mês de Maio, vários jornalistas e políticos europeus revelaram uma certa surpresa com os resultados das eleições gregas, como se fosse de esperar que, depois de toda a austeridade aplicada naquele país, tudo se mantivesse na mesma, isto é, que o equivalente local ao PS e ao PSD continuassem a receber mais de metade dos votos. Detentora de uma forte tradição anar- quista, que ganhou novo ímpeto com o fracasso de socialistas e conservadores a gerir o país, a Grécia começou por reagir às medidas de austeridade com motins nas ruas. A violência pouco resolveu, conduzindo até a um aumento do investimento grego em armamento que agravou a dívida do Estado. Perante a impossibilidade de mudar a situação através da acção na rua, os gregos fizeram do voto uma arma e tornaram o Syriza no partido mais vota- do à esquerda do centro – mas também deram quase 7% ao Aurora Dourada, um partido nacionalista, xenófobo, anti-marxista e anti-liberal. Um caso e outro podem não passar de votos de protesto, mas é provável que representem algo mais. Quando somos levados aos nossos limites, os nossos limites alargam-se. E quando os nossos limites se alargam, descobrimos novas paisagens no horizonte, novas formas de olhar o mundo. Perante elas, podemos despertar para a importância da tolerância e do confronto de ideias, ou acentuar a nossa desconfiança face àquilo que desconhecemos, cerrando filei- ras contra “os outros”, seja por medo, ignorância ou pura estupidez. Tudo isto é fruto da crise e, como afir- mava Hipócrates (o grego pai da medicina), a crise é o momento exacto em que se torna possível discernir a doença e desvendar a sorte do paciente. Aproveitemos então a crise, esta excelente ocasião para reflectir, aprender e perceber para onde caminhamos (e para onde quere- mos caminhar) enquanto sociedade. Luís Humberto Teixeira Jornalista ano: 2012 . nr 22 . mês: Maio . director: António Serzedelo . preço: 0,01 € http://jornalosul.hostzi.com 05 . 12 NR 22 Ilustração Dinis Carrilho

description

Jornal cultural e de Debates

Transcript of O Sul Maio nº 22

Page 1: O Sul Maio nº 22

A rua, o voto e a crise

Quanto mais o cenário de crise se instala na sociedade, mais algumas pessoas se começam a sentir encurraladas e sem nada a perder, situação que, por vezes, conduz a que alguns só consigam responder com violência à violência das circunstâncias.No dia 1 de Maio, Setúbal assistiu a uma situação destas, junto ao Monumento à Resistência Anti-Fascista, quando alguns, poucos, elementos que participavam na manifestação anarquista convocada pelo colectivo Terra Livre não foram capazes de manter a calma, nem de ouvir os apelos – sensatos – de outros manifestantes para que não atirassem pedras em resposta às provocações de militantes do Partido Nacional Renovador (PNR) que, do outro lado da rua, mostraram as suas bandeiras à passagem pelo monumento, cerca de meia hora antes de iniciarem a sua celeb-ração, não do Dia Mundial do Trabalhador, mas do Dia do Trabalho Nacional – uma clara reminiscência salazarista.Nada de mais grave aconteceu porque as forças da autoridade – que dispunham de um contingente considerável no local – se interpuseram entre nacionalistas e anarquistas e sanaram a situação em dois minutos.Fora este incidente, a manifestação anti-autoritária e anti-capitalista decorreu em clima de festa, juntando cerca de 200 pes-soas numa marcha que percorreu a Baixa, do Largo da Misericórdia à Fonte Nova – onde no ano passado a celebração do Terra Livre foi reprimida pela polícia –, e terminou com a deposição de faixas junto ao monumento que homenageia os homens e mulheres que não tiveram medo de lutar por uma vida melhor, mais livre, em terras do Sado.

E a Grécia aqui tão perto...Também neste mês de Maio, vários jornalistas e políticos europeus revelaram uma certa surpresa com os resultados das eleições gregas, como se fosse de esperar que, depois de toda a austeridade aplicada naquele país, tudo se mantivesse na mesma, isto é, que o equivalente local ao PS e ao PSD continuassem a receber mais de metade dos votos.

Detentora de uma forte tradição anar-quista, que ganhou novo ímpeto com o fracasso de socialistas e conservadores a gerir o país, a Grécia começou por reagir às medidas de austeridade com motins nas ruas. A violência pouco resolveu, conduzindo até a um aumento do investimento grego em armamento que agravou a dívida do Estado.Perante a impossibilidade de mudar

a situação através da acção na rua, os gregos fizeram do voto uma arma e

tornaram o Syriza no partido mais vota-do à esquerda do centro – mas também deram quase 7% ao Aurora Dourada,

um partido nacionalista, xenófobo, anti-marxista e anti-liberal. Um caso e outro podem não passar de votos de protesto, mas é provável que representem algo mais.Quando somos levados aos nossos limites, os nossos limites alargam-se. E quando os nossos limites se alargam, descobrimos novas paisagens no horizonte, novas formas de olhar o mundo. Perante elas, podemos despertar

para a importância da tolerância e do confronto de ideias, ou acentuar

a nossa desconfiança face àquilo que desconhecemos, cerrando filei-

ras contra “os outros”, seja por medo, ignorância ou pura estupidez.

Tudo isto é fruto da crise e, como afir-mava Hipócrates (o grego pai da medicina),

a crise é o momento exacto em que se torna possível discernir a doença e desvendar a

sorte do paciente.Aproveitemos então a crise, esta excelente ocasião para reflectir, aprender e perceber para onde caminhamos (e para onde quere-mos caminhar) enquanto sociedade.

Luís Humberto TeixeiraJornalista

ano: 2012 . nr 22 . mês: Maio . director: António Serzedelo . preço: 0,01 €

http://jornalosul.hostzi.com

05.12 NR

22

Ilust

raçã

o D

inis

Car

rilho

Page 2: O Sul Maio nº 22

NR

22

MA

I 2

012

02 cultura

PUBLICIDADE

Av. Luísa Todi 239 Setúbal265 536 252 • 961 823 444

garra

feira

tody

@ho

tmai

l.com

“Túbal te Fez” é um livro, um ensaio, um manifesto de um ar-queólogo de Setúbal, mas afinal, historiador em qualquer parte, de seu nome José Luís Neto. O livro fala -nos da história de Setúbal, das suas origens, as suas gentes, a propósito da arqueologia, mas também nos fala do futuro da arqueologia em Setúbal, ou da arqueologia e o futuro, ou seja, das respostas que ela nos pode dar, para nos entendermos me-lhor, no futuro. Não sei bem responder a todas estas questões, mas sei que o autor sabe mesmo muito do seu ofício, embo-ra no fundo, caiba a cada leitor do livro-ensaio-manifesto res-ponder por si, a tais perguntas. Mas que é uma obra marcante da “periferia” que vai ao centro das coisas em termos culturais, disso não tenho dúvi-das! Entretanto, falei com o autor para nos explicar algumas coisas sobre o livro, e aqui ficam as respostas.

AS - Setúbal é uma cidade onde a arqueologia sempre fez história, e aqui nasce cedo a pri-meira Academia dedicada a esses trabalhos. Queres dizer-nos como se passa isso?

Setúbal é uma cidade interes-sante, muito interessante mesmo, no panorama nacional e europeu. Se as pessoas tivessem consciência o quanto da cultura portuguesa se deve a Setúbal, creio que não haveria ninguém que não se apai-xonasse por esse lugar. Há muito mais para além de “setubalenses da diáspora”, casos de Bocage, Luísa Todi ou Mourinho, como há muito para além dos “conver-tidos”, casos do Zeca Afonso, do Luís Pacheco ou da Odete Santos. O que impressiona em Setúbal é que, independentemente de uma desequilibrada presença do Estado, frágil e geralmente de rosto e uso autoritário, as suas gentes sempre se souberam juntar e colectiva-mente construir respostas para os problemas que se foram colo-cando, tanto de ordem material, como da imaterial. A arqueologia não foge a isto, pelo que não é de espantar que a primeira associa-ção arqueológica portuguesa e

uma das primeiras a nível mun-dial tenha nascido nessa cidade. Porém, sublinho, não é situação única. De cariz precocemente ur-bano, Setúbal é uma cidade em auto-gestão desde, pelo menos, os últimos 500 anos. Isso moldou o carácter da mesma, influenciou os ali nascidos e os que para lá foram morar, sedimentando uma determinada maneira de ser, que não é muito bem compreendida no resto do país.

AS - No teu en-saio” Túbal te fez” introduzes, de certo modo, um conceito novo de arqueologia, a arqueologia do fu-turo, ou a arqueologia e o futuro? Podes ex-plicar como vês hoje esta disciplina histó-rica?

JLN - Por mais que me agradasse, se-ria mentir às pessoas, o assumir a paterni-dade de uma ideia que não é minha, mas sim de António Quadros,

se bem que já estava esboçada desde o Padre António Vieira. O primeiro a adoptar esta perspec-tiva, de forma sistemática, foi D. Manuel Martins, o que permitiu, a alguém que veio da região do Por-to, se tenha tornado, com rapidez e eficácia, um símbolo da cidade. A ele devo a primeira interpreta-ção global de Setúbal que conheci, tinha para aí uns quinze anitos e, com o tempo, vou-me cada vez mais convencendo da sua correc-ção e razoabilidade. Trata-se de uma perspectiva que é pertinente para Setúbal. A “arqueologia do futuro” não é, como se depreende, uma disciplina, mas uma perspec-tiva. Através da arqueologia e da história conseguimos entender, com menor ou maior certeza, o passado colectivo. Após, verifi-camos permanências e linhas de tendência dessa evolução. Con-frontamos o conhecimento com o saber do colectivo no presente. Nesta fase acaba a ciência propria-mente dita e começa a engenharia social, que pretende pegar em tudo isto e trazer um sentido utilita-rista e objectivamente criador de riqueza a toda esta informação, melhorando a vida das pessoas concretas e respeitando a natureza da comunidade. Temos de pensar

que o património e o conhecimen-to são recursos dos quais nos de-vemos socorrer.

AS - “Quando pensamos a arqueologia a uma escala mu-nicipal, temos de começar por radicar essa análise no conceito de Identidade.” Hoje fala-se muito na importância das identidades, que podem ser múltiplas. Como integras esta tua afirmação a propósito da arqueologia e de Setúbal?

JLN - Setúbal, ao longo dos últimos cerca de 3000 anos, é o seu porto. E como em todos os portos, uns chegam, outros vão. É a sua natureza. É mesclada, é mestiça, é promíscua e aí reside o seu encanto. A mestiçagem e a auto-gestão quase permanente ofereceram a Setúbal um espí-rito de lugar particularmente li-bertino e libertário, que provoca sentimentos extremos. Aprecio bastante essa característica. Po-rém, ninguém é apenas “filho da terra”. Antes do mais é filho dos

pais, dos avós, da condição social, das preferências de toda a ordem, das suas escolhas, etc. Porém, se as pessoas não souberem a história da sua terra, como não sabem no geral, é difícil que venham a ter um sentido colectivo que lhes realce a importância da sua pertença à comunidade geográfica. Indepen-dentemente dos muitos traços e características específicas locais que em si mesmo carreguem, a falta de consciência do mesmo, é reveladora da falta de coesão dessa comunidade. E uma comunidade pouco coesa é uma comunidade fraca, manipulável e, em última análise, uma comunidade sem futuro.

AS - Há uma discussão solene sobre se Cetóbriga seria em Tróia, ou Palmela, ou Setúbal. Hoje as questões parecem mais assentes. Para qual destas localidades te inclinas?

JLN - A discussão a propósito da localização de Cetóbriga tem já 5 séculos e é, sem qualquer

Setúbal é uma cidade onde a arqueologia sempre fez história

“ Há muito mais para além de “setubalenses da diáspora”, casos de Bocage, Luísa Todi ou Mourinho, como há muito para além dos “convertidos”, casos do Zeca Afonso, do Luís Pacheco ou da Odete Santos.

ca

pa d

o l

ivr

o .

ba

l t

e fe

z

Page 3: O Sul Maio nº 22

cultura NR

22

MA

I 2

01203

dúvida, um dos mais importan-tes contributos regionais para a arqueologia europeia, mas não é o único. Cetóbriga é indissociável da região do Baixo Sado e motiva tanta polémica pela contradição entre a etimologia linguística em confronto com as realidades materiais arqueológicas. É um dos, se não o mais, interessante debate científico produzido pela arqueologia portuguesa, onde se digladiaram, no geral com eleva-ção intelectual, mas sempre com profunda paixão, alguns dos maio-res investigadores portugueses. Contudo, tudo isto tem passado ao lado dos próprios setubalenses, o que me parece empobrecedor. No fundo, é como quando médicos falam entre si e o paciente está deitado na cama de um hospital. Eles decidem tudo, mas é o doente que leva os cortes e remendos. É um absurdo este tema, relacionado com as origens da cidade, ter dei-xado os seus habitantes ignorantes do mesmo.

AS - Falas muito nos suces-sivos “monolitismos económicos“ que têm pesado sobre Setúbal. Queres explicar o que são, e por-quê?

São um bom exemplo daquilo que se pretende caracterizar como

“espírito do lugar”. Não há aí, como é evidente, nada de metafísico. O primeiro surto industrial local existiu no Século I, com a expor-tação para a Europa de um molho de peixe conhecido como “garum”. Quase todas as actividades econó-micas eram-lhe subsidiárias e/ou dependentes desta. Se olharmos para o papel da Auto-Europa hoje em dia, vemos que, apesar de pro-dutos e tempos distintos, não se

alterou a forma de perspectivar e gerar riqueza na região. Trata-se de investimento de capitais exógenos, de grande monta, que articulam a economia regional. Entre estes, muitos outros houve, casos mais conhecidos do Sal nos séculos XV a XVIII, ou da indústria conserveira dos Séculos XIX e XX. Ainda há pouco nos pregaram as delícias do TGV e do aeroporto. É sempre o mesmo. Para criar futuro e em-

pregos, temos de romper com a lógica milenar das elites locais que, preguiçosas, põem todos os ovos no mesmo cesto. Quando tudo está bem, as coisas vão funcionando, mas em períodos de crise, esta sente-se ali de forma mais aguda. Basta ver o que se está a passar para se perceber que as pessoas têm fome, muitas já não têm casa, água e/ou electricidade.

AS - Que futuro para o patri-

mónio da região de Setúbal, que é tão rico?

JLN - Neste actual paradigma político, económico e cultural re-gional, temo não lhe antever gran-de futuro. É preciso mudar de vida, romper “monolitismos”. Porém, sinto-me muito honrado por ter vindo para aqui, fazer arqueologia num local de tão ilustres tradições, onde tenho tido a oportunidade de aprender tanto com aqueles que aqui vivem.

AS - Como interpretas, no dia do lançamento do teu livro - ensaio sobre Setúbal, a ausên-cia de alguém da Câmara de Se-túbal, nem sequer do “pelouro da cultura”, ou, ao menos, uma mensagem?

JLN - É que o futuro presidente da câmara estava ao meu lado. (ri-sos) Olha, sinceramente, não sei o que te diga. Confesso que não dei por isso. As pessoas foram con-vidadas, mais a mais aquelas que figuram na capa do livro, pelo que terás de colocar-lhes directamente a questão.

António SerzedeloEditor do programa de

radio Vidas Alternativas [email protected])

“Sonhar acordados” é uma recente iniciativa levada a cabo por dois formadores, na cidade do Barreiro, interessados em fazer com que a arte chegue a todos, independentemente da idade. O projecto começou por se dirigir numa primeira fase aos mais novos e, devido ao seu êxito, a partir do próximo mês, alarga os horizontes também a todos os adultos.

Sofia Jesus, Psicopedagoga e Arte-educadora, e Teodorico Tei-xeira Mendes, especialista em Artes Plásticas e Designer de Comunica-ção, através da realização de ateliês, fazem com que a arte seja uma rea-lidade presente da vida de dezenas de crianças. Os próximos ateliês de desenho e pintura inserido no pro-jecto “Artistas a brincar”, já estão agendados para os meses de Maio (dias 12 e 19) e Junho (dias 2 e 16, na Galeria Municipal de Arte do

Barreiro - Av. Alfredo da Silva nº15 (antigo tribunal do Barreiro) - local habitual para a concretização das actividades. Com um custo médio de 10€/dia, qualquer criança pode ter contacto com esta área, numa perspectiva divertida e, simultane-amente, pedagógica. As inscrições são limitadas e a marcação deve ser feita de forma prévia, via telefone (212 076 759 – Das 14h00 às 20h00) ou por e-mail, através do endereço [email protected].

Desde a sua criação, este pro-jecto retrata diferentes temáticas, como o Carnaval, a Páscoa, o Natal, temas alusivos às estações do ano, entre outras questões relevantes para os mais jovens. Numa primei-ra fase, o público-alvo constituiu crianças com idades compreen-didas entre os 6 e os 12 anos de idade que, mesmo sem qualquer experiencia na área, ao longo da actividade têm a possibilidade de explorar diferentes técnicas e materiais, de modo a realizar tra-balhos criativos e a desenvolver o potencial artístico presente em cada uma delas.

Até à data, o projecto tem ad-quirido uma enorme expressão e conquistado “miúdos e graúdos”. Também devido ao seu impacto, captou a atenção dos meios de co-

municação, nomeadamente, da RTP, que através de um directo para o programa ”Praça da Alegria”, a 22 de Fevereiro de 2012, deu a conhecer a acção destes dois jovens que têm em comum o gosto pela arte.

Para o sucesso desta iniciati-va contribuem, principalmente, os mais novos, os seus familiares e também a Divisão de Cultura da Câmara Municipal do Barreiro, que tem assumido um papel bastante importante no auxílio e na divul-gação do evento.

Alguns dos momentos são registados e partilhados, através de fotografias, no blog oficial, em sonharacordados.blogspot.pt, onde também são encontradas informa-ções adicionais relativas a cada um dos encontros.

Durante as sessões, os sentidos das crianças bem como a criati-vidade são colocados à prova e, a diversão e a partilha adquirem uma posição de destaque. Todo este processo contribui para o desen-volvimento pessoal das crianças, em termos de aquisição de compe-tências e de novas aprendizagens, e para a compreensão do mundo que as rodeia.

De acordo com Sofia e Teo-dorico, a iniciativa “Sonhar acor-dados” surge como uma forma de

«liberdade emocional para cada um se expressar de forma a poder conhecer-se melhor e dar-se a co-nhecer ao mundo». Esta é de facto uma forma bastante apelativa de fazer com que os mais pequenos despertem o gosto pelas artes e pela criação artística. No entanto, nos meses de Maio e Junho (to-das as terças-feiras, das 18h às 20h, com um custo de 25€ mensais),

o projecto estende-se a todos os adultos, que também têm agora a oportunidade de se expressarem de uma forma artística. Esta realidade faz com que a arte chegue a todos, possibilitando-lhes dar asas à ima-ginação e, acima de tudo, sonhar acordados.

Eliana [email protected]

Setúbal é uma cidade onde a arqueologia sempre fez história

SONHAR ACORDADOSO Barreiro abre

portas a uma nova forma de expressão

artística que per-mite a todos os que

a integram, SONHAR ACORDADOS

log

ót

ipo

. “S

on

ha

r a

co

rd

ad

oS

JoS

é c

ar

ril

ho

, fo

tog

ra

fo

Page 4: O Sul Maio nº 22

04NR

22

MA

I 2

012

boreal

Camarate - Um apelo aos deputadosSenhores deputados, por favor,

não cometam o erro de criarem a 10ª Comissão de Inquérito Parla-mentar à Tragédia de Camarate (CIPTC). Ouçam as vozes bem avisadas, sensatas e honestas da-queles que pedem que não gastem mais dinheiro do orçamento da Assembleia da República.

Pensem, isso sim, em medidas para combater a actual situação económica em que se encontra o País. Combatam o desempre-go, desenvolvam a produtividade nacional, ouçam as palavras do senhor Presidente da República no 25 de Abril e promovam uma imagem positiva de Portugal no estrangeiro. Não gastem tempo a analisar uma situação do passa-do, que já não interessa e não vai adiantar ao futuro.

Por favor, senhores deputa-dos, não percam tempo com mais comissões quando já houve nove, nove comissões de inquérito par-lamentar onde não há mais nada a acrescentar. Ou preferem continu-ar a distrair-nos com estas ques-tões do passado enquanto o povo passa fome? Ouçam, por favor, o ex-conselheiro da Revolução, Sou-sa e Castro, que diz que os milita-res de Abril derrubaram o Estado Novo para acabar com a fome em Portugal e investiguem, por exem-plo, o negócio dos submarinos. Esse sim, um verdadeiro escân-dalo, a par de casos como o BPN ou estas vergonhas do Freeport e os seus “envelopes castanhos” mais os gabinetes de arquitectura de amigos.

Por favor, ouçam este apelo de um simples cidadão: não criem a 10ª CIPTC. Senhores deputados, se caírem no erro de criarem a 10ª CIPTC, a situação econó-mica vai piorar, pois arriscam-se a meter a mão num ninho de vespas internacional que depois vai agravar o já apertado sufoco financeiro na tentativa de nos ca-lar. É assim que eles têm feito há anos e anos. Desde Camarate. Os senhores deputados vão abrir uma caixa de Pandora com todas as desgraças do mundo dentro dela.

Se cometerem a imprudência de quererem saber se a “alegada confissão” de um alegado respon-sável do alegado atentado, que, alegadamente, foi funcionário da CIA, com alegadas ligações a um – e aqui não é alegado, pois é um facto – ex-embaixador norte-americano em Portugal e posterior número dois da CIA, Frank Car-lucci, que até era amigo pessoal de um ex-primeiro-ministro e ex-Presidente da República, Má-

rio Soares -, então vão deixar em maus lençóis os nossos aliados norte-americanos e a sua imagem no resto do mundo.

Acaso imaginam as implica-ções que teria para o nosso futuro se acusarmos os Estados Unidos da América de estarem por detrás do assassinato do nosso primeiro-ministro e ministro da Defesa, ape-nas porque estes queriam impedir que tivesse lugar em Portugal uns estranhos negócios ilegais de trá-fico de armas que desrespeitavam a soberania do nosso País? Mas, onde é que já se viu isso?

Se a vossa 10ª CIPTC provar que Portugal andava a vender ar-mas para o Irão em 1980, furando assim um embargo internacional, que havia elementos da CIA por detrás desse negócio e Sá Carnei-ro, dois meses antes de Camarate, desconfiava estar a ser perseguido

pela secreta norte-americana por querer investigar essas ilega-lidades, pelo que teria sido então “encomen-dada” a sua morte por um milhão de dóla-res, isso vai deixar em maus lençóis muita boa gente que ainda hoje está viva. E não é só nos EUA. É tam-bém por cá. E aviso-vos que nem sequer é necessário chamar o

desacreditado Fernando Farinha Simões de Vale de Judeus para tes-temunhar no Parlamento que Sá Carneiro desconfiava da CIA, pois podem perfeitamente chamar para ir à 10ª CIPTC uma pessoa credí-vel, Vasco Abecassis, ex-marido de Snu Abecassis (a companheira de Sá Carneiro que faleceu também em Camarate), que contou preci-samente isso à jornalista Cândida Pinto (outra pessoa credível), da SIC (a televisão do ex-primeiro-ministro Pinto Balsemão, também pessoa credível), que o escreveu na biografia sobre Snu, editada pela Dom Quixote (que é uma editora igualmente credível e bastante respeitada).

Senhores deputados, por favor, não cometam ainda o imenso e superlativo erro de irem investi-gar o Fundo de Defesa Militar de Ultramar - o “saco azul” do exér-cito do tempo da guerra colonial, destinado a financiar a compra de material de guerra fora do contro-le do Orçamento do Estado e que, desde o 25 de Abril de 1974, era gerido em segre-do pelos “militares de Abril”, esses, ingratos, que, tal como Mário Soares (o amigo do Carlucci da CIA), fal-taram às celebrações da data de Liberdade no vosso Parlamento.

S e i n s i s t i r e m nessa perigosa ideia, então façam tudo para enganar o povo Português e escondam a necessidade de envolver o nome do Presidente da República nessa questão. Eu sei que vai ser difícil, pois quan-do o actual Presidente da Repú-blica era ministro das Finanças recebeu ordens de Sá Carneiro para investigar o Fundo de De-fesa Militar de Ultramar e nunca o fez. Assim, qualquer comissão séria teria de ir perguntar-lhe o motivo pelo qual não conseguiu cumprir as ordens do primeiro-ministro e se manteve calado ao longo destes anos todos. E, mais uma vez, não é sequer necessário recorrer a “alegadas confissões” no YouTube para confirmar isso, pois basta consultar os comunicados do Conselho de Ministros de Novem-bro de 1980 onde essa ordem está bem explícita. Ou então a imprensa da época – tenho cópias que vos posso fornecer.

Senhores deputados, não su-jeitem o Presidente da República a perguntas incómodas sobre qual o conteúdo da última reunião de Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa, na qual ele esteve igualmen-te presente, na manhã do fatídico dia 4 de Dezembro de 1980, jun-tamente com as mais altas chefias

militares do País, para falarem precisamente sobre questões de dinheiro e Orçamento. Não façam essas perguntas ao Presidente da República, pois o País já tem tan-tos problemas económicos que a

imagem de Portugal no estrangeiro iria ficar arruinada para sempre . Já basta termos um ex-pri-meiro-ministro com fama de corrupto, imaginem agora só se, na sequência da vossa investigação, um jornalista norte-americano, ou inglês, ou francês, ou alemão se lembrasse de es-crever lá no país dele que, aqui, no belo e tranquilo Portugal, o Presidente da Repú-

blica é suspeito de ter encoberto o móbil do assassinato de um antigo primeiro-ministro e ministro da Defesa pela CIA. Que o fizera para proteger militares portugueses e norte-americanos. Que assim es-condeu um negócio de tráfico de armas de Portugal para o Irão no tempo em que o ex-director da CIA, George Bush, era candidato a vice-presidente dos EUA.

Imaginem ainda que esses jor-nalistas se lembrassem ainda de que, no dia da primeira tomada de posse do nosso Presidente da República, George Bush esteve no Parlamento português como seu convidado de honra, confir-mando assim uma longa amizade. Imaginem então uma coisa ainda mais grave, pois esses jornalistas estrangeiros iriam depois ficar a saber que, a ter havido negócio de tráfico de armas para o Irão atra-vés de Portugal em finais de 1980, isso iria demonstrar que elementos da campanha republicana Reagan/Bush, ex-agentes da CIA, teriam negociado secretamente com os iranianos a não libertação dos re-féns de Teerão antes das eleições presidenciais nos EUA, a 4 de No-vembro de 1980, roubando assim a reeleição de Jimmy Carter. Isso

significaria que a administração Reagan chegara ao poder através de um acto de traição. Iria colocar em causa toda a política norte-americana no Médio Oriente na actualidade, pois a mesma tem sido a sequência lógica das acções iniciadas por esse negócio da CIA em Portugal com a cumplicidade dos nossos dirigentes, dirigentes norte-americanos republicanos e até com complacência dos de-mocratas.

Não, senhores deputados, a morte de um estadista em Portugal não pode chegar as estas conclu-sões. É preciso manter esta Ordem Mundial, senão ainda se chega à questão de saber de onde vinha o dinheiro para manter estes negó-cios e revelar as redes de tráfico de droga, as organizações terroristas que são promovidas para justifi-car as mortes e assassinatos que cresceram da mesma forma que os furacões nascem com o bater de asas de borboletas. E é por isso que temos a crise económica mundial de hoje, precisamente por causa de todos os negócios que se fizeram depois destes negócios que leva-ram a Camarate. Sei que parece ser algo pretensioso querer dizer que Camarate está na origem de todos os males no mundo, mas, de certo modo, infelizmente, e sem exageros, até está. E não podemos mostrar essa verdade aos Portu-gueses: eles não iriam aguentar. É pior do que o holocausto de Hitler, acreditem.

Daí o meu apelo para que não iniciem sequer os trabalhos. Ten-tem ir adiando até ser esquecido. A imprensa está a dar o exemplo e está fazer um bom trabalho ao ignorar o assunto. Deram a notícia, mas hoje já ninguém se lembra. Não falem mais nisso e daqui a nada, os portugueses já se esque-ceram e podem continuar infeli-zes e domesticados como sempre. Qualquer CIPTC nesta altura ou noutra qualquer, mesmo que con-seguisse abafar metade daquilo que eu aqui digo, ainda assim iria descobrir muita coisa, pois os fac-tos existem e até estão à vista. Não os liguem entre si. Não estraguem a verdade oficial que tantos anos demorou a construir. Lembrem-se que, se houver sangue, ainda pode ser o vosso a jorrar nas escadas do Parlamento. Não deixem falar quem quer falar, não façam falar quem não pode falar. Por favor, senhores deputados, não falem mais em Camarate!

Frederico Duarte Carvalho (autor do livro: “Eu sei que você sabe”)

Jornalista

“ (...) quando o actual Presidente da República era ministro das Finanças recebeu ordens de Sá Carneiro para investigar o Fundo de Defesa Militar de Ultramar e nunca o fez.

“ (...) no dia da primeira tomada de posse do nosso Presidente da República, George Bush esteve no Parlamento português como seu convidado de honra, confirmando assim uma longa amizade.

aS

Se

mb

leia

da

re

bli

ca

Page 5: O Sul Maio nº 22

05 NR

22

MA

I 2

012

Ensino Superior sem bolsa de estudo, quais as alternativas?

boreal

Muito se tem falado dos alu-nos do ensino superior que se vêm obrigados a desistir dos estudos, pois não têm condições financeiras para continuar, mas não se vê os responsáveis do governo a dedica-rem um pouco do seu tempo sobre os problemas que os afetam, e a apresentarem soluções que ga-rantam um emprego, à próxima geração de trabalhadores. Será que esse trabalho fica relegado para as instituições de ensino superior?

Os serviços de ação social, do Instituto Politécnico de Setúbal criam alternativas às tradicionais bolsas de estudo, para que os seus estudantes possam continuar a estudar.

Após a alteração na legislação da atribuição de bolsas de estudo no ensino superior, Andreia Godi-nho Lopes, diretora dos serviços de ação social do IPS, salienta que “o novo despacho veio restringir mais o leque de estudantes que nós podemos apoiar”. O instituto sentiu necessidade de criar apoios indiretos aos estudantes, tais como o “PAAS, que com recurso a recei-tas próprias”, pretende dar uma resposta extra aos “estudantes que não podem ser abrangidos pelo apoio social direto.”

Como salienta a diretora dos serviços de apoio social do IPS,

a nova legislação veio redefinir o limiar de carência do agregado familiar, ou seja, neste momento aos olhos da lei “é considerado carenciado nos termos da legis-lação em vigor todos os estudantes que têm um rendimento per capita anual, inferior a 6868,79€”.

Todavia, foi em 2010 que hou-ve realmente uma grande altera-ção na legislação, pois todas as instituições começaram a seguir as mesmas regras de seleção dos bolseiros. Antes de 2010 nenhu-ma instituição considerava para efeitos de atribuição de bolsa de estudo a questão das dívidas à se-gurança social, “e a partir do mo-mento em que saiu a regulamen-tação de 2010, fomos obrigados a isso”. Outra alteração também referida pela Dra. Andreia Godinho Lopes foi a alteração das regras do aproveitamento escolar, “que passou de 40% para 50%, e logo aí houve de facto um decréscimo grande”.

Contudo, a maior alteração foi no cálculo dos rendimentos do agregado familiar do aluno, que se candidata a uma bolsa de estudo, pois como mencionado pela Dra. Andreia Godinho Lo-pes, “antes nós considerávamos o rendimento líquido e passámos a considerar o rendimento ilíquido, considerávamos abatimentos e deduções, como a renda da casa, etc. Deixámos de poder considerar, portanto um estudante que tinha condição de bolseiro, depressa a perdeu. Só o facto de considerar-mos apenas o rendimento ilíquido foi uma quebra muito grande”.

A diretora do serviço de ação social do IPS partilha a sua opi-nião, dizendo que “o regulamento

e a legislação em vigor estão a ser feitos um bocadinho ao contrário. Primeiro vemos quanto é que dis-pomos para gastar com bolsas de estudo, e depois criamos as regras, quando não devia ser assim”.

Muito antes de existirem to-dos estes problemas na atribuição de apoios financeiros, e de forma a combater as dificuldades dos alunos deste instituto, foi criado em 1997 um serviço de saúde, que começou inicialmente apenas com o apoio psicológico, em que o Instituto foi pioneiro, e desde 2009 alargaram às restantes valências médicas, como con-sultas de planeamento familiar e consultas de clinica geral.

Uma das psicólo-gas deste serviço, Dra. Graça Palmito, explica que grande parte das vezes os alunos pro-curam este serviço por “questões de an-siedade, rendimento académico, casos de depressões associadas a todo este quadro. “

Era esperado que com a atual conjuntura económica, houvesse mais alunos a recorrer a este tipo de serviço indireto, pois com a aju-da que este serviço disponibiliza, é possível não só tratar dos pro-blemas psicológicos referidos pela Dra. Graça Palmito, bem como, realizar um projeto de vida, que ajude os jovens a delimitar um pla-no de vida, que torne mais simples a concretização dos seus objetivos. A Dra. Graça Palmito salienta que, “o apoio psicológico indiretamente ajudaria na situação económica, porque mesmo que o aluno não

tenha bolsa ele pode arranjar uma estrutura interna e melhorar uma série de competências que também são importantes no mercado de trabalho. Porque a missão não é só preparar estudantes, do ponto de vista dos conhecimentos. Estas competências que são transversais ao ser humano, também aqui, se-jam desenvolvidas”.

Contudo a psicóloga, Dra. Isabel Teixeira, salienta que “a psicologia não está introduzida como um benefício nesse sentido, de utilizarem novas estratégias,

fazer um planeamen-to futuro, um proje-to de vida diferente, porque entretanto a vida mudou com a crise. Tudo isso não está introduzido nas pessoas, e eventual-mente será por isso que não fazem um recurso tão grande à psicologia como po-deriam fazer”.

Espera-se dos jovens portugueses uma força interior, uma chamada teimosia, em continuar a perseguir os seus objetivos, e a realizá-los. A Dra. Graça Palmito refere que de “facto há aqui uma série de apoios e de competências que até se podem desenvolver do ponto de vista da chamada inteligência emocional, que são importantíssimas, e é uma ótima altura para se desen-volverem”. Do ponto de vista da psicologia, referindo a Dra. Graça Palmito “as crises também podem trazer benefícios, podem ser fases de crescimento e desenvolvimento, e os estudantes são uma popula-ção extraordinária nesse aspeto,

porque os jovens têm a capacidade de flexibilidade e de adaptação”.

Assim o papel das instituições tornar-se-á muito importante, pois como diz a Dra. Andreia Godinho Lopes, “se nós não conseguimos por limitações, por um lado orça-mentais, por outro da legislação, apoiar diretamente os estudantes, devemos promover o reforço das estruturas que apoiam estes de modo indireto. E continuar a tra-balhar para termos cada vez mais e melhores estruturas, e assim dar respostas cada vez mais aproxima-das àquilo que são as expectativas e as necessidades da nossa comu-nidade estudantil. É por aí que eu acho que vai passar o nosso papel nos próximos tempos”.

Com certeza que o mais pro-vável no futuro, será os estudan-tes em que se investiu “fugirem” para outros países, que garantam uma maior estabilidade financeira e também emocional, pois as duas estão intrinsecamente ligadas.

Desta forma podemos ver que o futuro dos jovens portugueses, não depende somente deles, mas também daqueles que acreditam e apostam no seu país, reforçando todo o tipo de apoios, para que a juventude portuguesa não volte às condições de outros tempos, em que só podia estudar quem tinha condições financeiras para o fazer.

E como refere a diretora do serviço de ação social do Insti-tuto Politécnico de Setúbal, “um estado sem ensino é um estado que hipoteca o seu futuro”.

Telma [email protected]

Após nova legislação do atual Governo, para as bolsas de

estudo no ensino su-perior, as instituições criam alternativas à

tradicional ajuda.

“ (...) para que a juventude portuguesa não volte às condições de outros tempos, em que só podia estudar quem tinha condições financeiras para o fazer.

25 de Maio “Os donos de Portugal”

documentário com a presença do realizador, Jorge Costa

21:30h

1 de Junho Debate

sobre o Sahara Ocidental21:30h

Ciclo de documentários sobreo Sahara Ocidental8, 15 e 22 de Junho

21:30h

Programação Academia Problemática e Obscura

Rua Fran Pacheco n.º 178, Setúbal - Tel. 963 683 791 / 969 791 335

Page 6: O Sul Maio nº 22

Propriedade e editor:Prima Folia - Cooperativa Cultural, CRL

Morada: Rua Fran Paxeco nº 178, 2900 Setúbal Telefone: 963 683 791 • 969 791 335NIF: 508254418

Director: António Serzedelo

Subdirector: José Luís Neto • Leonardo da Silva

Consultores Especiais: Fernando Dacosta • Raul Tavares

Conselho Editorial: Catarina Marceli-no • Carlos Tavares da Silva • Daniela Silva • Hugo Silva • José Manuel Palma • Maria Madalena Fialho • Paulo Cardoso

Director Artístico: Dinis Carrilho

Consultor Artístico: Leonardo Silva

Morada da Redacção: Rua Fran Pa-checo nº 176 1ª 2900-374 SetúbalEmail: [email protected]

Registo ERC: 125830

Deposito Legal: 305788/10

Periocidade: Mensal

Tiragem : 45.000 exemplares

Impressão: Empresa Gráfica Funchalense, SA - Rua Capela Nossa Senhora Conceição, 50 - Moralena 2715-029 - Pêro Pinheiro

na vigia06NR

22

MA

I 2

012

Consumo compulsivo, necessidade(s) insatisfeita(s)

Fechar a MAC é (também) impedir a especialização!

Assistimos nas últimas déca-das a profundas alterações a nível cultural, económico e social. As sociedades ociden-tais tornaram-se es-paços de consumo, em que os bens ma-teriais e a sua posse passaram a desem-penhar um papel e a ter uma função e um significado im-portantes. Vivemos num espaço social do ter para ser e não tanto do ser para ter, em que vale mais as coisas que se conse-guem, e menos, a forma como se conseguem essas mesmas coisas. Uma sociedade onde há um empobrecimento afectivo; uma sociedade das tecnologias e da eficácia, do pronto a pen-sar e a consumir. Uma sociedade dos programas e do que está na moda. As próprias actividades de lazer passaram a estar, sobre-tudo nas últimas duas décadas e meia, muito ligadas, interde-pendentes mesmo, do consumo.

A facilidade na obtenção de cré-dito foi também um factor que muito contribuiu para tornar o

consumo apetecível e ilusoriamente fá-cil e sem custos. Os comportamentos de consumo compulsi-vo devem ser vistos como intimamente intrincados nas alte-rações, que podemos mesmo rotular de radicais, que se têm vindo a verificar em todo o tecido social que nos envolve.

O fenómeno do consumo compulsivo tem-se tornado cada vez mais prevalen-te, independentemente do nível socioeconómico das pessoas, do seu vencimento e do seu crédi-to disponível, fenómeno a que naturalmente não são alheias as alterações sociais referidas. Trata-se de um fenómeno com uma relevância clínica significa-tiva e que tem tido nos últimos tempos cada vez mais interesse por parte de psicólogos e inves-

tigadores. Mas porque será que algumas pessoas, mais do que outras, sentem uma enorme ne-cessidade de comprar? O acto de comprar preenche sempre uma necessidade. Mas de que neces-sidade, ou necessidades falamos? Diríamos apenas que quando algo é excessivo no ser humano, no seu comportamento, ge-nericamente na sua personalidade, esse carácter excessivo é sempre compensa-tório, tem sempre a função de compensar alguma coisa que a pessoa sente que falta, dir-se-ia, se se precisa muito, é porque se teve pouco…. O que hoje nós psicólo-gos bem sabemos é que ao longo do desenvolvimento, e para além das necessidade mais básicas de protecção e cuidados, a criança tem diversas outras necessidades, de afecto, proximidade, reconhe-cimento, valorização, autonomia. Quando por diversas razões, a criança, e mais tarde o adoles-

cente e adulto, não vê satisfeitas estas e outras necessidades, que obviamente vão sofrendo altera-ções na sua importância relativa ao longo do desenvolvimento, geram-se focos irritativos, fica o sentimento de insatisfação, o mal-estar, a sensação de boca

seca num dia de ve-rão, de frio num dia de inverno porque o casaco não prote-ge do vento gelado, numa palavra, fica a frustração. E esse amargo de boca, di-gamos assim, não desaparece nunca, marca o registo da memória para sem-

pre e coloca a pessoa na posi-ção de carência e de necessidade permanentes a que pode tentar responder de várias formas, in-cluindo o consumo compulsivo.

Rui C. CamposPsicólogo

Professor de Psicologia da Universidade de Évora

O processo da MAC não é ape-nas uma questão de acesso do povo a cuidados de alta qualidade ou do favorecimento de maternidades privadas ou público-privadas, nem é apenas uma questão de se des-mantelar uma instituição de nível, orgulho legítimo do SNS. Uma insti-tuição que de resto demorou anos a edificar e que demoraria décadas a reconstruir se o país aceitasse o seu desmantelamento puro e simples.

Há um aspecto que porven-tura escapa ao público mas que interessa trazer à colação e que concerne àquilo que é o evolucio-nismo hospitalar em todo mundo desenvolvido.

Importa pois saber se é o ge-neralismo e os chamados hospitais gerais que vingam ou se vamos no sentido de organiza-ções especializadas de elevado foco em entidades nosológi-cas concretas. Foco esse que implica alta especialização, indus-trialização e dedicação articulada de meios para lidar com actos que devem ser repeti-tivos, estritos, com alta dextreza e eficiência clínica, ainda que se admitam formas de partilha de serviços comuns na esfera da hotelaria e de meios tecnológicos pesados.

A resposta é simples: o evolu-

cionismo hospitalar vai no sentido da alta especialização reservando para uma certa periferia a noção antiga de hospital generalista. Só com especialização é que foi possí-vel ao país edificar uma instituição de elevados padrões como é a MAC, mesmo que a ela se apontem al-guma cristalização ou falta de ino-vação nesta ou naquela valência. A MAC, na neonatologia, no alto risco e nos seus brilhantes resultados na mortalidade materna e infantil, dificilmente poderia surgir de uma qualquer dinâmica generalista ou a partir de um qualquer hospital geral. Só atingiu esses padrões porque teve oportunidade de es-capar à pressão conservadora do generalismo.

É bom dizer aliás que num ambiente de forte con-tracção da natalidade é a MAC que continua a ser a grande atracção para as mães dese-josas de fornecer as melhores condições de nascimento aos seus filhos. Quem pelo contrário mostra séria quebra na procura e sinais evidentes de cri-se são as maternidades de hospitais gerais em Lisboa.

A vantagem evo-lutiva da especializa-

ção estende-se aliás aos IPOs e ao Hospital de Santa Cruz com a sua forte valência de Cardiologia

Médico-Cirúrgica, instituições tam-bém elas enraizadas na admiração de doentes, mas igualmente dos profissionais que nelas confiam para referenciar os seus doentes.

As fulcrais instituições espe-cializadas do SNS não deixarão de sentir o ataque inexplicável à MAC como prenúncio de futuras tentativas de desarticulação que possam estar em preparação.

O papel da especialização na indústria hospitalar é fácil aliás de mostrar quando se pergunta a qualquer especialista quais são as instituições estrangeiras de maior prestígio. Logo surgem ao de cima, entre as primeiras, inúmeros exem-plos de hospitais especializados na Europa e nos EUA.

As crises, como a actual, sempre exacerbam lutas de interesses que antes evoluiam de forma menos in-tensa nos bastidores do ministério.

A voz do generalismo sempre soprou forte da João Crisóstomo, deu guarida aos velhos interesses dos hospitais gerais e sentiu-se agora mais livre para sair à rua de tesoura em punho.

Apenas esgrime esta corrente com o princípio de cortar na des-pesa – embora o fulcro da inefici-ência esteja nos hospitais gerais e não nos especializados – porque haveria, em resultado da crise, uma espécie do direito do generalismo à liberdade em detrimento da es-pecialização. Na crise, parecem di-zer, deveríamos voltar ao regaço

do antigo regime, uniforme, das instituições generalistas.

As saídas para a difícil situação em que está o país não poderão ser encontradas no retrocesso, mas em apostas fortes na especialização e na obtenção dos mais elevados pa-drões de qualidade. Deixar desman-telar a MAC é deixar agravarem-se os factores de crise. Apostar na es-pecialização e na forte industriali-zação, largamente permitida pelas instituições do tipo da MAC, é que será o caminho capaz de ajudar à saída da presente crise.

Paulo FidalgoMédico, IPOL-FG

[email protected]

“ As próprias actividades de lazer passaram a estar, sobretudo nas últimas duas décadas e meia, muito ligadas, interdependentes mesmo, do consumo.

“ (...) O acto de comprar preenche sempre uma necessidade. Mas de que necessidade, ou necessidades falamos?

“ A voz do generalismo sempre soprou forte da João Crisóstomo, deu guarida aos velhos interesses dos hospitais gerais e sentiu-se agora mais livre para sair à rua de tesoura em punho.

m.a

.c d

o e

St

úd

io d

e m

ár

io d

e n

ov

aiS

(S.d

.), in

bib

lio

te

ca

de

ar

te

da

f.c

.g..

Page 7: O Sul Maio nº 22

07

ISTO NÃO É UMA OKUPA: é uma discussão sobre planeamento urbano

aSSociativiSmo NR

22

MA

I 2

012

15%descontos

O que têm de diferente a Es.Co.La da Fontinha, no Porto, ou a casa de S. Lázaro, em Lisboa, dos res-tantes movimentos de ocupação? Porque é que, de uma casa para a outra, estes movimentos ganham poder no espaço público media-tizado, levando a discussão para além da questão da propriedade privada? As explicações podem tecer-se com diversos motivos, mas há um que parece não levantar dúvidas: perante um estado social falido, que não consegue garantir nem os direitos cidadãos, nem a preservação do seu próprio patri-mónio, há que pôr mãos à obra e criar alternativas, negando o papel de «vítima da crise» e provocando autonomamente novas possibili-dades de desenvolvimento pessoal, social, cultural e económico.

É fácil aceitar o argumento de que a propriedade privada deve ser respeitada. Também é fácil acei-

tar que «propriedade privada» não pode querer dizer o mesmo quando a propriedade privada é pública, como no caso de um edifício municipal. Os impostos representam uma receita pública demasiado alta para não nos interessar o destino das nossas linhas ferroviárias, das nossas barragens, das nossas escolas e do nosso património. Deve interessar-nos, portanto, discutir o destino dos milhares de alojamentos muni-cipais devolutos que apodrecem no centro das cidades e, pelos vistos, isso interessa também a quem ocupou e resiste na Fonti-nha e em S. Lázaro.

Os recentes movimentos de

ocupação de propriedade privada municipal conseguiram fazer, do seu quintal, um trampolim para

todos os quintais dos centros urbanos, ge-rando discussões ao nível do planeamen-to urbano e territorial, das políticas de habi-tação, das políticas sociais e da gestão pública do património. Em Lisboa, o colecti-vo que ocupou o n.º 94 da rua de S. Lázaro, no Martim Moniz, na sua primeira Carta Aberta dirigida à vereadora da Acção Social Helena Roseta, afirmou-se como um grupo de

habitantes da cidade de Lisboa que assistem, pensam e criticam há vá-rios anos o modelo de revalorização a que têm sido sujeitos os bairros

da cidade. A ocupação torna-se um meio privilegiado para accionar a revisão de leis obsoletas, que deser-tificam os centros urbanos, adubam as periferias, favorecem a especu-lação imobiliária, negam o direito à habitação e sustentam, ainda assim, o direito a manter vazios os seus edifícios. Helena Roseta, por seu lado, não tem estado à altura de um diálogo sério e fundamenta-do. Perante um colectivo que exige um novo paradigma, afirmou: não me agradam as desocupações, mas todos os dias as temos: de famílias carenciadas que querem casas. Seria um precedente enorme. Não posso tratar este grupo de forma diferente do que trato essas famílias pobres. A vereadora da Acção Social prefere admitir que todos os dias expulsa dos seus edifícios municipais vazios famílias pobres, a discutir as polí-ticas que levam a essa inexplicável acção social kafkiana.

Resta saber que o colectivo de S. Lázaro se nega a discutir uma política do bate-pé e da barri-cada. A uma reunião convocada pela vereadora, compareceram representados por especialistas na área social e urbana. Perante a afirmação, da mesma vereadora, de que o edifício estava em risco de derrocada, o colectivo recorreu a especialistas para produzir o seu próprio relatório de peritagem, que comprovou a segurança do n.º 94. Quando um despacho proferido pela vereadora alterou o prazo de desocupação voluntária previsto no n.º 2 do artigo 4.º do Regulamento das Desocupações de Habitações Municipais (RDHM), reduzindo-o de 90 para 10 dias úteis nas situa-ções de ocupações não autoriza-das de habitações municipais, o colectivo avançou com uma pro-vidência cautelar no Tribunal Ad-ministrativo de Círculo de Lisboa, denunciando a aprovação ilegal de um despacho fora da Assembleia Municipal.

Se os Estado continuar a olhar estes movimentos como insignifi-cantes actos de rebeldia, desobedi-ência ou provocação, vão atrasar-se

na discussão. E quando chegarem à falência, cheios de propriedade que não podem gerir, os cidadãos já terão encontrado, afirmado e con-quistado as suas próprias soluções.

Sandra CoelhoJornalista

[email protected]

Pintura decorativa de interiores e exteriores - Conservação e restauro de Pintura Mural

A&DArte e DecoraçãoJosé Paulo B. Nobre

[email protected] tm: 963106106 Rua do Pincho nº 10 - 2250-055 Constância

“ A vereadora da Acção Social prefere admitir que todos os dias expulsa dos seus edifícios municipais vazios famílias pobres, a discutir as políticas que levam a essa inexplicável acção social kafkiana.

fo

tog

ra

fia

no

int

er

ior

de

S. l

áz

ar

o .

Sa

ol

az

ar

o94

.blo

gS

po

t.p

t

PUBLICIDADE

Page 8: O Sul Maio nº 22