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Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Instituto de Florestas Departamento de Ciências Ambientais Laboratório de Manejo de Bacias Hidrográficas O uso da fauna edáfica como bio-indicadora de modificações ambientais em áreas degradadas Autora: Luziane Baptista de Andrade Orientador: Prof.Dr. Ricardo Valcarcel Janeiro 2000

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Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Instituto de Florestas

Departamento de Ciências Ambientais Laboratório de Manejo de Bacias Hidrográficas

O uso da fauna edáfica como bio-indicadora de modificações ambientais em áreas degradadas

Autora: Luziane Baptista de Andrade

Orientador: Prof.Dr. Ricardo Valcarcel

Janeiro 2000

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Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Instituto de Florestas

Departamento de Ciências Ambientais Laboratório de Manejo de Bacias Hidrográficas

O uso da fauna edáfica como bio-indicadora de modificações ambientais em áreas degradadas

Autora: Luziane Baptista de Andrade Orientador: Prof.Dr. Ricardo Valcarcel

Monografia apresentada ao curso de graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do Grau de Bacharel em Ecologia.

Janeiro 2000

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AGRADECIMENTOS

À DEUS, por sua presença durante a execução deste trabalho e principalmente pela vitória de mais uma etapa vencida.

Aos meus pais, que sempre me incentivaram e colaboraram em todas as etapas de minha formação profissional.

Ao Professor Ricardo Valcarcel, não só pela valiosa orientação, mas principalmente, por toda confiança, compreensão e amizade.

À Enderson, por todo carinho, companheirismo e incentivos constantes.

À Luzia e Fábio pelo incentivo para continuar.

Á Pedreira Sepetiba Ltda pelo apoio.

À todos que de alguma forma colaboraram para a realização deste trabalho.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1

2. ÁREAS DEGRADADAS E RECUPERAÇÃO ...................................................... 2

3. FAUNA DE SOLO NOS ECOSSISTEMAS ......................................................... 5

4. PRODUÇÃO E DECOMPOSIÇÃO DE MATÉRIA ORGÂNICA........................... 6

5. AGENTES DE DEGRADAÇÃO......................................................................... 11

6. ETAPAS DE UM PROJETO DE RECUPERAÇÃO ........................................... 15

6.1. VEGETAÇÃO REGIONAL ................................................................................... 16

6.2. AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE DEGRADAÇÃO ............................................................ 20

6.3. ESCOLHA DAS ATIVIDADES DE RECOMPOSIÇÃO ................................................. 20

7. MEDIDAS DE RECUPERAÇÃO ....................................................................... 20

7.1. MEDIDAS BIOLÓGICAS .................................................................................... 20

7.2. MEDIDAS FÍSICAS........................................................................................... 21

8. MESO E MACROFAUNA EDÁFICA NA RECUPERAÇÃO............................... 24

8.1. FAUNA DE SOLO COMO BIOINDICADOR .............................................................. 24

8.2. CLASSIFICAÇÃO ............................................................................................. 24

8.3. A DENSIDADE E A DIVERSIDADE DAS COMUNIDADES ........................................... 26

9. COMUNIDADES DE SOLO & INDICADOR ...................................................... 31

10. SUCESSÃO DA MESO E MACROFAUNA EDÁFICA..................................... 32

11. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 36

12. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 38

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ÍNDICE DE FIGURAS

01: MODELO HIERÁRQUICO DE FATORES QUE DETERMINAM AS TAXAS DE DECOMPOSIÇÃO

EM ECOSSISTEMAS TERRESTRES........................................................................... 8

02: COMPARTIMENTOS DO ECOSSISTEMA (OLIVEIRA, 1998). 10

03: DUPLICAÇÃO DE POPULAÇÃO HUMANA. ................................................................ 12

04: DIMINUIÇÃO DA FLORESTA TROPICAL E DEMANDA POR TERRAS DESTINADAS À

AGRICULTURA (CORSON, 1996). ...................................................................... 14

05: PROCESSO DE FORMAÇÃO DE ÁREAS DE EMPRÉSTIMO .......................................... 18

06: RECUPERAÇÃO ESPONTÂNEA DE ÁREAS DE EMPRÉSTIMO ...................................... 19

07: UN I D A D E S D E P A I S A G E N S D E G R A D A D A S (OLIVEIRA, 1998) . ......... 23

ÍNDICE DE TABELAS

01: CLASSIFICAÇÃO DA FAUNA EDÁFICA ..................................................................... 25

02: CATEGORIAS DE SUSCETIBILIDADE DA FAUNA DE SOLO À ARAÇÃO, COM BASE NO ÍNDICE V (WARDLE & PARKINSON,1991). ...................................................................... 28

03: CARACTERÍSTICAS CONTRASTANTES DO ESPECTRO R-K DE SELEÇÃO. .................... 33

04: DENSIDADE DOS DIFERENTES GRUPOS DA MESOFAUNA EDÁFICA AMOSTRADOS EM

DIFERENTES REGIMES DE REABILITAÇÃO .............................................................. 34

ÍNDICE DE EQUAÇÕES

01: SUSCETIBILIDADE DOS GRUPOS DA FAUNA DO SOLO .............................................. 28

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O uso da fauna edáfica como bio-indicadora de modificações ambientais em áreas degradadas.

RESUMO

A decomposição de matéria orgânica interfere na manutenção da

fertilidade do solo, onde pode dividir-se em dois subprocessos: a mineralização e

a humificação. A fauna edáfica tem papel fundamental em processos de

decomposição da matéria orgânica, com destaque às minhocas, sendo estas uma

das responsáveis pela formação do perfil do solo, redução da relação

carbono/nitrogênio - C/N, aceleração e reassimilação de nitrogênio pelas plantas e

multiplicação da microflora em seu aparelho digestivo. As comunidades edáficas

podem ser alteradas pela simples modificação de práticas de manejo do solo. Em

ecossistemas degradados não há solo, apenas substrato. A diversidade e

disposição da fauna de ambientes litólicos é diferente, predominando os

artrópodos. O conhecimento e dinâmica populacional desta fauna de

invertebrados pode contribuir para a avaliação do status de sustentabilidade das

atividades de recuperação das áreas degradadas. A variação sazonal da estrutura

populacional de microorganismos, além das dificuldades metodológicas para o

levantamento e processamento dos dados, constituem fatores dificultadores do

uso da fauna como bio-indicador nas atividades de recuperação de áreas

degradadas.

Palavras chaves: bioindicador, recuperação de áreas degradadas

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The use of edaphic fauna as a bioindicator of environmental changes in reclamation areas

ABSTRACT

Decomposition of organic matter is very important to the maintenance of

soil fertility. This process can be divided into two sub-processes: mineralization and

humification. The edaphic fauna plays a fundamental role in the decomposition of

organic matter, especially worms which are responsible for forming the soil’s

profile, reducing the C:N ratio, accelerating the reassimilation of Nitrogen by plants

and increasing the microflora in its digestive tract. The edaphic community is

susceptible to changes as a result of any modifications in land usage practices. In

degraded ecosystems there is no soil, just subsoil. Also the diversity and

distribution of litosoil fauna is different in these ecosystems, where arthropods

predominate. The knowledge of population dynamics of invertebrate fauna can

contribute to the evaluation of the sustainability status of reclamation activities in

degraded areas. Seasonal variations in the populational structure of

microorganisms as well as methodological difficulties in capturing and analyzing

data constitutes a challenge in the usage of fauna as a bioindicator of reparation

activities in degraded areas.

Keywords: bioindicators, reclamation areas

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1. INTRODUÇÃO

Vários projetos têm sido realizados com o propósito de estudara

importância dos diversos grupos de invertebrados em processos de

decomposição de matéria orgânica, mineralização de nutrientes no solo, na

redução da quantidade de serrapilheira e como bio-indicadores de mudanças

ambientais (CONNEL & SLATYER,1977; DUNGER, 1991 e BLAIR et al.,1994).

Animais saprófagos do solo são responsáveis diretos pela

fragmentação de detritos (SWIFT et al.,1979 e LEBRUN, 1987). Os micrófagos,

que geralmente são microartrópodos, são responsáveis pela regulação da

população microbiana, pois se utilizam dos mesmos como fonte direta de

carbono. Aranea, Opilionida, Chilopoda e Pseudoscorpionida atuam como

predadores sobre saprófagos e micrófagos.

A decomposição pode ser definida como um processo resultante da

interação entre animais e microorganismos. Para que se possa entender o

processo é preciso que, primeiramente, se entenda a importância da interação,

visto que tal entendimento desencadeia uma maior compreensão do

funcionamento do ecossistema (SAUTTER; SANTOS, 1991).

Ainda segundo os mesmos autores, uma das maiores causas de

degradação dos solos está no crescimento populacional, pois o crescimento

da população humana e de animais, implica no aumento de áreas cultivadas

em detrimento dos ecossistemas naturais, podendo, em fases avançadas de

desequilíbrio homeostático, chegar a estágios de desertificação e redução na

produtividade biológica do solo.

Os projetos de recuperação de áreas degradadas têm sido implantados

em diversos países, como medida atenuante dos desequilíbrios ambientais. Em

alguns se desenvolveram grandes obras físicas, como no Japão, e em outros

um conjunto de medidas biológicas (VALCARCEL, 1991a; 1991b).

Como auxílio na avaliação da eficiência destas medidas, faz-se

necessário criar bio-indicadores que permitam avaliar o papel que cada medida

representa dentro do processo de busca de um novo patamar de equilíbrio

homeostático do ecossistema. O uso de bio-indicadores vegetais tem se

verificado importantes em projetos ambientais (CLEMENTS, 1928; ODUM,

1983) e de recuperação de áreas degradadas, como forma de monitoramento

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da eficiência das medidas conservacionistas empregadas (VALCARCEL &

SILVA, 1997; VALCARCEL e D’ÁLTÉRIO, 1998).

Os bio-indicadores animais e de comunidades de invertebrados

também buscam o estreitamento das relações entre as variações populacionais

e as modificações das características do entorno. Eles foram desenvolvidos e

utilizados em situações diferenciadas e, na maior parte dos casos, em

ecossistemas perturbados e não degradados (HUTSON,1980 a,b;

HEYDERMANN,1983; BLANDIN et al., 1985; GARAY et al., 1986; DUNGER,

1989; MAJER, 1989; CURRY & GOOD, 1992; STORK & EGGLETON, 1992;

AL-ASSIUTY et al., 1993; BLAIR et al., 1994; DIONÍSIO et al., 1994; FRASER,

1994; SAUTTER & SANTOS, 1994 e FRANCHINI & ROCKETT, 1966).

O presente estudo objetiva articular informações bibliográficas sobre o

papel da fauna edáfica como indicador biológico dos processos de recuperação

de áreas degradadas.

2. ÁREAS DEGRADADAS E RECUPERAÇÃO

A atividade antrópica inadequada tem gerado a degradação de

imensas áreas, que passam a ser improdutivas do ponto de vista agrícola ou a

apresentar algum problema de ordem ambiental, como produzir sedimentos,

assorear represas e até se constituírem em áreas de risco para a habitação

humana. Estima-se que na faixa tropical existam quase 2 bilhões de hectares

em múltiplos estágios de degradação, em contraste com os 650 milhões de

hectares de áreas cultivadas (JESUS, 1994). A demanda crescente de

produtos agrícolas impõe a necessidade de uma maior produção de alimentos,

que se reflete tanto na busca de maior eficiência, como na ampliação das

fronteiras agrícolas no país, principalmente de ecótonos anteriormente pouco

utilizados, como os existentes entre o cerrado e a região amazônica. Estas

áreas quando degradadas, têm nos elevados custos de recuperação, uma

forma de inviabilizá-las para fins agrícolas no futuro.

A utilização de técnicas de manejo do solo que não consideram as

peculiaridades edafo-climáticas locais contribuem para o aumento da extensão

e intensidade de degradação, inviabilizando economicamente estas áreas.

Estes agrossistemas perdem seu nível de equilíbrio homeostático

original e, dado sua fragilidade intrínseca, podem transformar-se em áreas

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degradadas. Avaliar se um sistema de produção é sustentável ou não, ou qual

é o seu grau de sustentabilidade é algo complicado, pois envolve uma grande

variedade de processos de considerável complexidade. Duas abordagens com

relação a essa avaliação têm sido propostas: a primeira consiste em se

estabelecer um índice geral de qualidade do solo, incluindo-se fatores relativos

à produtividade, características físicas, químicas e biológicas do solo em

questão (DORAN & PARKIN, 1994). A segunda abordagem consiste em isolar

processo mais relevante no sistema (fator limitante) e considerá-lo como

indicador do comportamento do conjunto, em relação a impactos específicos

(ODUM, 1983).

As plantas ao crescerem acumulam matéria seca e a depositam sobre

o solo, sendo decomposta em seguida. Essa matéria seca acumulada é

proveniente da transformação de elementos inorgânicos, ou nutrientes, que são

absorvidos pelo sistema radicular, como é o caso do nitrogênio, fósforo,

potássio, magnésio, cálcio, enxofre, boro, molibdênio, cobre, ferro, zinco,

manganês, cloro, carbono e oxigênio, que são absorvidos pelas folhas, em

compostos orgânicos, envolvendo uma série de reações fisiológicas. Segundo

SWIFT et al. (1979) para que a produção vegetal ocorra nos ecossistemas, é

necessário que estejam disponíveis nutrientes minerais nos sistemas naturais,

reciclando como parte do funcionamento do subsistema decompositor. Além

disso, a maior parte da produção vegetal, muitas vezes mais de 90%, passa

diretamente do produtor ao subsistema decompositor, sem ser utilizada por

consumidores (MANGENOT & TOUTAIN, 1980; ODUM, 1983; SEASTEDT &

CROSSLEY, 1984; KURIHARA & KIKKAWA, 1986). É nesse sentido que a

fauna de invertebrados do solo pode contribuir para a avaliação do status da

sustentabilidade em um sistema qualquer, seja ele de produção, de

recuperação de uma área degradada, ou até mesmo no caso de um sistema

natural interferido.

Os animais saprófagos do solo, tais como Isópoda, Diplópoda,

Oligochaeta e Isóptera, alimentam-se diretamente dos detritos, promovendo a

sua fragmentação e a mineralização de compostos mais simples, tais como

açúcares simples, amido, lipídeos e proteínas. Os micrófagos, em geral

microartrópodos, utilizam microorganismos como fonte de carbono e regulam

qualitativamente e quantitativamente as populações microbianas. Por outro

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lado, Araneae, Opilionida, Chilipoda e Pseudoscorpionida atuam como

predadores sobre saprófagos e micrófagos, exercendo um controle das

populações destes invertebrados (SWIFT et al., 1979; LEBRUN, 1987). A

importância dos animais no processo de decomposição está ligada a redução

do "litter", formação da matéria orgânica do solo e, inclusive, na mineralização

nos nutrientes (BOCOCK, 1964; HANLON & ANDERSON, 1980; GEOFFROY

et al., 1987; GARAY, 1989; PERSSON, 1989; SCHEU, 1993). A decomposição

resulta, então, de uma atividade sinérgica entre animais e microorganismos,

sendo os primeiros responsáveis pelos mecanismos de regulação (LEBRUN,

1987; INGRAM & SWIFT, 1989). Conhecer a comunidade de invertebrados do

solo, bem como as suas relações, permitem o entendimento do processo de

decomposição nos ecossistemas. A qualidade nutricional do solo/substrato, a

produção de matéria orgânica, a disponibilidade e o clima, são fatores que

afetam a estruturação das comunidades decompositoras e contribuem na

definição do seu funcionamento, ou seja, afeta a velocidade de transformação

da matéria orgânica (BURGES & RAW, 1967; GARAY et al., 1986;

SCHEAFFER & SCHAUERMANN, 1990). Estes fatores determinam as

variações sazonais na estrutura das comunidades e qualquer outra variação

que implique na modificação da bio-diversidade vegetal e o estado de

decomposição dos resíduos vegetais (GEOFFROY et al., 1981; FLOGAITIS,

1984; GARAY et al., 1986; GARAY, 1989).

O estudo da comunidade de macroartrópodos edáficos pode fornecer

dados para a compreensão do funcionamento do ecossistema, como também

mostrar-se um indicador das mudanças por ele sofridas, especialmente no que

diz respeito ao subsistema decompositor. A recente demanda social por

produtos e atitudes “ambientalmente corretas”, tem suscitado o aprimoramento

das tecnologias ambientais para reparar os impactos ambientais decorrentes

de usos inadequados dos recursos naturais (CORSON, 1996).

As áreas degradadas constituem-se exemplos claros dos exageros

causados pelo homem, assim como, a constatação da fragilidade de nossos

ecossistemas, apesar de seu aspecto exuberante, quando funcionando

harmoniosamente, principalmente se forem dos domínios ecológicos de

ambientes florestais (VALCARCEL & SILVA, 1997).

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Existem vários tipos de degradação e diferentes conseqüências sócio-

econômicas para o ambiente e sociedade: podem variar desde a simples perda

da sustentabilidade econômica dos agroecossistemas até o colapso do

funcionamento dos ecossistemas, onde o retorno de parte de suas funções aos

níveis originais pode demorar séculos (VALCARCEL & SILVA, 1997).

3. FAUNA DE SOLO NOS ECOSSISTEMAS

Uma das primeiras tentativas de se desenvolver metodologia de

captura da fauna de solo, teve como objetivo a sua eliminação e não o seu

estudo e conhecimento de suas propriedades funcionais dentro do

ecossistema. O Barão de Huspch, em 1776, construiu um aparato semelhante

às atuais armadilhas "pitfall traps", com o objetivo de capturar e destruir as

formigas que invadissem as plantações de cana-de-açúcar na Martinica

(VANNIER, 1970). Até então, a idéia que se tinha sobre os insetos e vermes é

que eram nocivos às plantas cultivadas, sendo capazes de se regenerar a

partir de materiais em decomposição (PAOLETTI & BRESSAN, 1996).

DARWIN (1881), apud GOLD (1992), demonstrou a mais de um século a

importância das minhocas na formação e fertilidade dos solos, onde declarou o

que é ainda extremamente atual: "O arado é uma das mais antigas e valiosas

invenções do homem; mas, muito antes que ele existisse, o solo já era

regularmente arado e ainda continua sendo pelas minhocas. Pode-se duvidar

que existam muitos outros animais que desempenharam um papel tão

importante na história do mundo, como o fizeram estas criaturas singelamente

organizadas".

Atualmente, já não se tem dúvidas com respeito a importância dos

invertebrados do solo como agentes transformadores das condições físicas,

químicas e biológicas. A atividade alimentar destes organismos promove a

ciclagem de nutrientes e a regulação dos processos biológicos a nível

microbiano (SWIFT et al.,1979; HANLON & ANDERSON, 1980; SEASTEDT &

CROSSLEY, 1984; STORK & EGGLETON, 1992; LAVELLE et al., 1993). A

atividade de escavação do solo realizada por minhocas e térmitas determinam,

em grande parte, a estrutura, densidade e capacidade de retenção de água no

solo (LAVELLE et al., 1992; STORK & EGGLETON, 1992).

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A fauna do solo é, além de agente interveniente nos processos

ambientais, reflexo das condições existentes. No ambiente regional(macro-

topografia), os fatores que interferem na dinâmica populacional das

comunidades são: clima (EDWARDS & LOFTY, 1971; BLANDIN et al., 1985;

HARTE et al., 1996); tipo de solo e fitofisionomia (AL-ASSIUTY et al., 1993;

DAVID et al., 1993; BLAIR et al., 1994 e OLIVEIRA, 1996). No âmbito local

(micro-topografia) temos os seguintes fatores intervenientes: quantidade de

serrapilheira acumulada (VASCONCELOS,1990), qualidade da matéria

orgânica (TIAN et al., 1993) e tipos de manejo (LAVELLE & PASHANASI, 1989;

DIDDEN et al., 1994). A conjugação dos efeitos ambientais destes dois âmbitos

vão determinar os grupos da fauna do solo presentes e em que quantidades.

Desta forma, mudanças na abundância relativa e diversidades das espécies de

invertebrados do solo, podem constituir-se em um indicador de mudanças no

sistema (CURRY & GOOD, 1992; STORK & EGGLETON, 1992).

Monitorar a fauna de solo pode ser um instrumento que permita avaliar

a sua qualidade ambiental, além do seu próprio funcionamento como sistema

de produção agrícola. O conhecimento das associações entre processos de

decomposição e ciclagem de nutrientes na interface solo-planta pode contribuir

para otimizar a produção dos agro-ecossistemas. O conhecimento dos grupos

de invertebrados capazes de realizar eficientemente processos de regulação

das comunidades microbianas, ciclagem de nutrientes, além de modificar

estruturalmente os habitats da serrapilheira e do solo, podem fornecer bases

para o manejo da fauna de solo, tanto de maneira direta, pela introdução de

grupos de invertebrados de maior interesse, como de maneira indireta, pelo

manejo das características do habitat (SEASTEDT & CROSSLEY, 1984;

HUTSON, 1989; INGRAM & SWIFT, 1989 e FRASER, 1994 e SAUTTER &

SANTOS, 1994).

4. PRODUÇÃO E DECOMPOSIÇÃO DE MATÉRIA ORGÂNICA

A produção e a decomposição de matéria orgânica em ecossistemas

terrestres são afetadas pelas condições edafoclimáticas da área. No que diz

respeito à produção, as condições de fertilidade de solo, temperatura,

luminosidade e disponibilidade de água são alguns dos fatores de grande

importância para a produção de matéria orgânica. Por outro lado, fatores como

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temperatura, disponibilidade de água e a presença da fauna decompositora

afetam a velocidade com que a matéria orgânica é decomposta, interferindo

inclusive na fertilidade do solo, no que diz respeito à disponibilização de

nutrientes, bem como na ocupação do solo pelas plantas. Em locais com

temperaturas altas, a taxa de decomposição é maior que a taxa de adição de

matéria orgânica ao sistema. Dessa forma, os nutrientes são rapidamente

disponibilizados e distribuídos no solo, facilitando sua absorção pelas plantas

nos ecossistemas equilibrados (SWIFT et al., 1979; STORK & EGGLETON,

1992; OLIVEIRA & FRANKLIN, 1993 e ROBERTSON et al., 1994).

Segundo SWIFT et al (1979) LEBRUN (1987) LAVELLE et al (1993) e

REICHLE (1977), a decomposição é um processo essencialmente biológico,

onde os heterótrofos utilizam os detritos como substrato para processos de

oxidação a partir dos quais obtém energia. Destes, os microorganismos são os

que mais contribuem em termos metabólicos, sendo os responsáveis diretos

por 75% a 99% da respiração do solo (SWIFT et al., 1979; HANLON &

ANDERSON, 1980; PERSSON, 1989). Portanto, cabe aos invertebrados uma

pequena fatia do metabolismo total do solo. Ao contrário do que se possa

pensar, estes animais desempenham um papel fundamental na redução dos

materiais de difícil degradação e na formação dos estoques orgânicos.

As dinâmicas de decomposição em ecossistemas terrestres são

determinadas por uma série de fatores hierarquicamente organizados (figura

01), que regulam a atividade microbiana em escalas decrescentes de tempo e

espaço na seguinte ordem: clima - mineralogia do solo + status nutrientes do

solo - qualidade dos recursos de decomposição - efeito dos macroorganismos.

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Figura 1: Modelo hierárquico de fatores que determinam as taxas de decomposição em ecossistemas terrestres.

Nos trópicos úmidos, este modelo geral é freqüentemente alterado

por causa das limitações edafo-climáticas, pois as altas temperaturas e

umidade aumentam grandemente a atividade de sistemas mutualísticos

biológicos de regulação, que externam um controle forte nas dinâmicas de

matérias de serrapilheira e solo orgânico. Esta hipótese geral está baseada em

informações disponíveis das florestas tropicais chuvosas e savanas úmidas

(LAVELLE et al., 1993).

Decomposição é um processo chave na manutenção da fertilidade do

solo, através de seus dois subprocessos contrastantes: mineralização e

humificação do material orgânico. A mineralização determina a fertilidade

química ao controlar o suplemento de nutrientes necessários ao crescimento

das plantas. A reciclagem destes elementos exige que os nutrientes

dispersados através da mineralização sejam rapidamente absorvidos pelas

plantas. A humificação é importante na manutenção de um nível satisfatório de

matéria orgânica do solo. A matéria orgânica do solo contribui para a fertilidade

do mesmo de três maneiras: formando colóides, cimentando as suas partículas

e agregando em unidades estruturais sólidas (LAVELLE et al., 1993). Estas são

circundadas por espaços de ar, interconectadas permitindo a circulação de

água, soluções e gases. Estes agregados também contribuem para a

CLIMA

ARGILA + NUTRIENTES

QUALIDADE DOS RECURSOS

MACROORGANISMOS

MICROORGANISMOS

DECOMPOSIÇÃO FONTE: Lavelle et al., 1993

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resistência à erosão e melhoria da infiltração de água, que atua como agente

de formação do solo. Um material possuindo carga eletrostática negativa

líquida ajuda na retenção de cátions permutáveis, especialmente em meios

ácidos, onde minerais argilosos retém, de alguma forma, menos nutrientes.

Finalmente, a matéria orgânica conserva nutrientes e energia nos

ecossistemas com diferentes níveis de equilíbrio homeostático, pois os seus

três grandes compartimentos detém estoques de matéria orgânica que

apresentam interdependência entre si (OLIVEIRA, 1998). Desta forma, os

ambientes, com tendência a degradação, reduzem a sua capacidade de

produzir matéria orgânica, população decompositora e tendência de exportação

de nutriente do sistema, tanto por lixiviação, erosão e dissolução (Figura 02).

A biodiversidade pode ser determinada pelos processos biológicos do

solo e suas interações mutualísticas aumentam a base de recursos disponíveis

que irá consolidar a biodiversidade e colaborar para a crescimento das plantas

(LAVELLE et al., 1993). Portanto, qualquer esforço para restaurar ou reabilitar

solos degradados nos trópicos úmidos pode ser prejudicado se não for

garantido níveis de atividades das raízes e invertebrados.

O desafio dos pesquisadores é continuar gerando conhecimentos com

base científica para substanciar e testar adequadamente os conceitos e

hipóteses formuladas (LAVELLE et al., 1993).

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10

Figura 2: Compartimentos do ecossistema (OLIVEIRA, 1998).

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11

5. AGENTES DE DEGRADAÇÃO

O rápido crescimento demográfico pode forçar uma região para além

de seus limites de recursos naturais e econômicos, influenciando na sua

"capacidade de sustentação" ou habilidade a longo prazo para manter as

pessoas que habitam a região sem degradar os recursos que nela existem. O

número de pessoas, a natureza, a quantidade de produção, de consumo, os

impactos cumulativos sobre os recursos e sobre o meio ambiente são fatores

que determinam a capacidade de sustentação de uma determinada área.

A capacidade de sustentação de países industrializados e em

desenvolvimento, geralmente, envolve fatores diferentes. As principais causas

diretas do desmatamento são a agricultura, a extração de madeira, a criação

de animais e os projetos de desenvolvimento em larga escala (CORSON,

1996).

Nos países em desenvolvimento, a subnutrição generalizada,

especialmente se acompanhada da deterioração ambiental, rápida perda da

fertilidade do solo ou aumento da desertificação podem ser indicadores de

excesso de uso dos recursos naturais ou da capacidade de suporte dos

ecossistemas. No mundo industrializado, o consumo per capita de energia,

matéria-prima e recursos minerais pode significar que o país está

ultrapassando sua capacidade de sustentação (CORSON, 1996).

A capacidade de sustentação da terra é ameaçada, não apenas pela

demanda de mais de 6 milhões de pessoas e seu crescimento vegetativo

(Figura 03), mas também, pelo fornecimento de alimentação a 4 bilhões de

animais bovinos, ovinos, suínos, bem como a mais de 9 bilhões de aves e

outros animais domésticos. Além das pressões da crescente população

humana, a abertura de pastos para o gado é um importante fator do

desflorestamento tropical e a pastagem excessiva, uma das causas da

desertificação e erosão do solo em muitos países.

Países tropicais com altos índices de crescimento populacional

apresentam taxas de desflorestamento bem acima da média anual de 0,6% das

áreas tropicais. Por exemplo, na África Ocidental, cinco países com índices

médios de crescimento populacional de 2,9% tem índices médios de

desflorestamento de 3,4% e, na América Latina, oito países com índices de

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crescimento populacional de 3,0% experimentam médias de 3,1% em perdas

de florestas a cada ano (CORSON, 1996).

Na América Central, o rápido crescimento da população humana e

animais de criação tem sido relacionado à abertura de clareiras nas florestas

em larga escala (CORSON, 1996).

Figura 3: Duplicação de população humana.

Fonte: Corson (1996)

Entre 1950 e 1985, a população humana nessa região aumentou cerca

de 183%, de 9,2 milhões para 26,1 milhões, enquanto cerca de 40% da floresta

original foi perdida. No mesmo período o número de cabeças de gado de corte

e as áreas de pastagem chegaram a duplicar.

Em muitas partes do terceiro mundo, o crescimento da população está

aumentando o número de clareiras nas áreas cobertas de florestas e

contribuído para a extinção de espécies de plantas e animais. Estes números

são inclusive vinculados aos índices estimados de aumento de dióxido de

carbono na atmosfera pelas queimadas nas florestas, que associadas ao

rápido crescimento populacional poderão contribuir nas mudanças de clima a

nível global (CORSON, 1996).

Na África, o crescimento populacional é um fator importante na

degradação do solo. Entre 1950 e 1985, a população do continente cresceu

149%, de 222 milhões para 553 milhões.

0 5 0 1 0 0 1 5 0 2 0 0 2 5 0

Á fric a

Á s ia O c id e n t a l

A m é ric a C e n t ra l

S u l d a Á s ia

S u d o e s t e d a Á s ia

A m é ric a d o S u l T ro p ic a l

C a rib e

A m é ric a d o S u l T e m p e ra d a

Á s ia O r ie n t a l

O c e a n ia

E x-U n iã o S o v ié t ic a

A m é ric a d o N o rt e

E u ro p a

T e m po de du pl i c aç ão e m an os

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13

Pressões de populações humanas e animais significam

desflorestamento, terras cultivadas ao extremo e pastagens excessivas que,

freqüentemente, levam a desertificação - redução da produtividade biológica do

solo.

O esgotamento do solo em virtude da erosão pela água e vento ocorre

em muitas regiões do planeta, onde os índices estimáveis de erosão são

relacionados aos suportes tecnológicos disponíveis, grau e qualidade do

insumo utilizado na agricultura e a aspectos demográficos (população e

crescimento) (CORSON, 1996). Este se constitui em um dos mais sérios

problemas para a humanidade em um futuro próximo, pois o crescimento

vegetativo da população implica em necessidade de oferta de alimentos.

Existem inclusive teorias que preconizam o pessimismo em relação a

capacidade de suporte da biosfera, como é a Teoria Maltusiana.

No terceiro mundo, o mercado globalizado, o desenvolvimento

econômico e as transferências de tecnologias têm mudado rapidamente a

forma de usar o solo. O uso de pesticidas e fertilizantes tem crescido

assustadoramente. Uma porcentagem crescente de terras cultivadas

dependem da irrigação. Em muitas áreas, a agricultura com "tecnologia

intensiva" tem substituído a tradicional agricultura com métodos ecológicos.

Novas variedades de sementes têm levado a produtividade para alguns

agricultores, mas também têm aumentado a dependência por produtos

químicos e máquinas. Uma intensa agricultura mecanizada destrói o solo, e

fertilizantes químicos e pesticidas estão alterando os ecossistemas na

agricultura. Nos países industrializados, a agricultura mecanizada e o uso

intensivo de produtos químicos estão causando a erosão do solo, queda da

produtividade da terra e contaminação de lençóis freáticos. Em todo o mundo,

6 milhões de hectares de terra são permanentemente reduzidas, a cada ano a

condições semi-desérticas (CORSON, 1996). O desmatamento de grandes

áreas de florestas ameaça o potencial de desenvolvimento de um país. As

florestas respondem por muitas funções importantes à produtividade nacional a

longo prazo, além de prover moradia para centenas de pessoas. As florestas

protegem bacias hidrográficas, regulam o tempo e a temperatura, previnem a

erosão e a sedimentação dos rios, fornecem alimentos, fibras e madeira para

construção, além de carvão vegetal e forragem aos animais de criação.

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A Amazônia é um ótimo exemplo de como a pobreza e programas

inadequados de governo, levam o desflorestamento às suas últimas

conseqüências. Somente em 1988, o Brasil deve ter sofrido queimada em 20

milhões de hectares de florestas e cerrados, para abertura de pastagens. As

queimadas causaram uma maciça poluição do ar, provavelmente, respondendo

por quase um décimo de todas as emissões de carbono, através das atividades

humanas, durante 1988 (CORSON, 1996).

Antes que fossem exploradas, as florestas deveriam ser classificadas

quanto à adequação à agricultura, produção de madeira, proteção da vida

selvagem e outros usos. Áreas de florestas impróprias para agricultura

sustentável não deveriam ser desmatadas para o cultivo ou criação de gado,

mas deveriam ser utilizadas para outros propósitos, incluindo a proteção dos

cursos de água, produção sustentável de bens oriundos da floresta,

conservação de espécies, unidades de conservação e recreação. Segundo

CORSON (1996), a previsão de áreas de florestas remanescentes para o ano

de 2025 será aproximadamente três vezes menor do que a área que existia

em 1950, e em contrapartida a demanda por terras para a agricultura será

aproximadamente sete vezes maior no mesmo período (figura 04).

Figura 4: Diminuição da floresta tropical e demanda por terras destinadas à agricultura (CORSON, 1996).

Estes dados não são consensuais entre os diversos autores, pois eles

retratam aspectos peculiares de suas linhas filosóficas. Há autores que

acreditam na tecnologia como forma de aumento de produtividade e redução

de pressão de uso sobre os recursos naturais. O que é consensual entre os

autores, é que os países em desenvolvimento deverão passar pelos mesmos

390

590

790

990

1190

1 2 3 4

Mil

es d

e h

ecta

res

0

200

400

600

800

1 2 3 4

Mil

es d

e h

ecta

res

Diminuição das Florestas tropicais: área de floresta remanescente

Demanda por terra à agricultura : área total de cultivo

1950 1975 2000 2025 2025 2000 1975 1950

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surtos de desenvolvimento que os países desenvolvidos passaram, motivos

pelos quais, os ambientes florestais podem sofrer significativas perdas. Porém,

como o uso deve ser eminentemente exploratório, o mais provável é que não

se aniquile a resiliência dos ecossistemas e, desta forma as matas possam

regressar a patamares de equilíbrio homeostático próximo aos atuais

(CORSON, 1966).

O nível de degradação é tão maior quanto a magnitude do seu impacto

ambiental. Áreas degradadas com baixa resiliência podem permanecer

degradadas por mais de 100 anos, como são exemplos as atividades de

mineração de ferro em cavas superficiais (VALCARCEL – comunicação

pessoal).

A mineração é o principal agente degradador de ambientes naturais.

Ela encontra-se em franco desenvolvimento no País, principalmente em

regiões de climas irregulares (Nordeste, Centro-Oeste e Norte), onde a

sazonalidade determina extensos períodos de estiagens (mais de 5 meses por

ano) (ELETRONORTE, 1998)

A exígua oferta de fatores ambientais, determinado pela sazonalidade

das chuvas e níveis de desmatamento, tornam estas áreas ainda mais

improdutivas e com baixa resiliência, tanto os ecossistemas disturbados como

nos ecossistemas efetivamente degradados (ELETRONORTE, 1998).

O nível de degradação de um ecossistema é perceptível pela

intensidade de seu desequilíbrio (VALCARCEL, 1989). A sua resiliência pode

ser determinada pelo padrão da vegetação regional (OLIVEIRA, 1998), ou pelo

surgimento de espécies espontâneas, caracterizadoras de propriedades

emergentes (VALCARCEL & D’ÁLTERIO, 1998).

6. ETAPAS DE UM PROJETO DE RECUPERAÇÃO

Embora existam muitas metodologias que instrumentalizam o objetivo

de reconstruir ou reorganizar um ecossistema degradado a níveis mais próximo

do original, uma abordagem científica desta questão implica em conhecer a

complexidade dos fenômenos que se desenvolvem nos ecossistemas

remanescentes e compreender os processos que levam a estruturação e

manutenção destes ecossistemas no tempo.

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A base de qualquer metodologia de recuperação de áreas degradadas

com medidas biológicas se fundamenta em responder a três questões: a)

Quais espécies plantar? b) Quanto plantar de cada espécie? c) Como efetivar

este plantio, de modo a recobrir o solo no menor tempo, com menos perdas e

menor custo? (RODRIGUES & GANDOLFI, 1996).

A vegetação pode ser classificada em unidades fitogeográficas e ter

sua distribuição geográfica mapeada (VELOSO et al., 1991). Este dado define

a região de domínio ecológico, onde se reflete o padrão de vegetação ideal, ou

seja, o padrão de vegetação esperado na condição de oferta de todos os

atributos ambientais existentes na região e seus respectivos ajustes evolutivos

no tempo.

Se estas informações não estiverem disponíveis, o programa de

revegetação deve incluir uma fase prévia de levantamento florístico, em

fragmentos florestais remanescentes, que estejam sob condições topográficas,

edáficas e climáticas similares às da área, podendo fornecer informações sobre

espécies a serem usadas na revegetação, nos estágios sucessionais

pertinentes.

No norte do País, após transcorridos 20 anos de abandono de 511 ha

de áreas de empréstimo, abertas para construção da fase I da Usina

Hidrelétrica de Tucuruí, PA, foram registrados indícios de estabilização do

geodinamismo dos processos erosivos (ELETRONORTE, 1998). Os processos

que acarretaram a degradação foram divididos em cinco estágios e duraram

menos de um ano (figuras 05). A recuperação espontânea da área não se deu

em 20 anos e, o sistema apesar de apresentar cinco estágios ainda encontra-

se ativo (figuras 06).

6.1. VEGETAÇÃO REGIONAL

A partir das informações sobre os tipos de vegetação florestal

característicos da região, suas espécies definidoras de estágios sucessionais,

sua estrutura fitossociológica é que se pode definir as estratégias de

revegetação para cada uma das situações identificadas. A escolha adequada

das espécies vai depender da associação entre o registrado nos fragmentos

analisados e a capacidade do ecossistema em suportar a vegetação,

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principalmente por que ele encontra-se impactado por ações que geraram

desequilíbrio (VALCARCEL & D’ÁLTERIO, 1998).

A lista de espécies regionais poderá receber outras de interesse

econômico. Dessa forma, se estamos trabalhando em propriedades de

pequenos produtores, onde a área protegida pela legislação representa uma

porcentagem representativa da propriedade, a lista de espécies deve ser

acrescida de espécies que permitam um uso econômico da área no futuro

como espécies frutíferas nativas, exóticas, melíferas e para infra-estrutura

(esteio, cabos de ferramentas, mourões). Se o ambiente é para manutenção do

ecossitema autoctone, recomenda-se o uso de florestas para produção

sustentada: palmito (Euterpe edulis), pupunha (Bactris gasipaes) com manejo

adequado (VALCARCEL, 1997).

A área reflorestada pode ainda ser utilizada para a adoção de práticas

agroflorestais, produção de cogumelos, produtos hortícolas, cacau, pimenta do

reino, entre outros exemplos.

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Figura 5: Processo de formação de áreas de empréstimo

NOTA: 1) os processos ocorrem em um lapso de tempo muito curto (poucos meses); 2) durante a exploração não existem estratégias para mitigar os impactos ambientais; 3) após as primeiras chuvas, efetuam-se as maiores e mais significativas perdas de materiais; 4) o disciplinamento da rede de drenagem é realizado espontaneamente, em detrimento de perda de nutrientes dos solos desprendidos das

margens das áreas Fonte: ELETRONORTE (1998)

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Figura 6: Recuperação espontânea de áreas de empréstimo

Estágio F Estágio G Estágio H Estratégia espontânea 20 anos Mudança de estratégia Estágio J Estágio

Terrenos encrostados - é necessário intervenção exógena para criação de PROPRIEDADES EMERGENTES, pois estes locais não tem infiltração, nem matéria orgânica e apresentam impedimento físico para o estabelecimento das raízes. Terrenos intermediários - combinam efeitos das duas áreas. Terrenos aluvionais - locais onde já houve forte processo erosivo em anos anteriores, porém atualmente apresentam incipiente estruturação, disciplinamento dos recursos hídricos, infiltração, deposição de sedimentos e exígua colonização vegetal. Há PROPRIEDADES EMERGENTES e propensão para o desencadeamento da sucessão secundária

Fonte: ELETRONORTE (1998)

Área de empréstimo (abandonada)

Processo erosivo exporta o material solto e vestígios de solo desmoronados das

margens

Locais com controles estruturais, permanecem e constituem as partes

altas

Locais com substratos menos resistentes são desagregados e transportados para as

drenagens e fora da área de empréstimo

É definido o modelado do terreno, constituído por áreas: a) com terrenos resistentes, b) locais intermediários e c) locais onde houve erosão e atualmente

funciona como planície de inundação

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6.2. AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE DEGRADAÇÃO

O segundo passo do programa de recuperação é a definição de

características da área ou situações degradadas que se pretende recompor,

sempre atento aos objetivos daquela recuperação. Deve-se portanto fazer

avaliação detalhada das condições locais e regionais, a alocação e

dimensionamento de cada situação em mapas. São mais diversos os objetivos

de uma dada recuperação e dependendo desses objetivos teremos os

principais conceitos que devem ser envolvidos no planejamento da

recuperação e quais os resultados esperados com essa atividade

(VALCARCEL, 1989).

6.3. ESCOLHA DAS ATIVIDADES DE RECOMPOSIÇÃO

Feita avaliação do nível de degradação da região em estudo, parte-se

para o passo seguinte, que seria, definir as principais atividades a serem

implementadas em cada situação, bem como a utilização de atividades

complementares. Uma descrição detalhada dessas atividades encontra-se em

RODRIGUES & GANDOLFI (1996). No entanto, vale ressaltar que as práticas

agrícolas a serem adotadas no projeto devem ser decididas em função das

tecnologias e recursos disponíveis na propriedade, reduzindo custos de

recuperação, principalmente quando se trata de pequenos produtores, onde

todo o planejamento leva em conta o uso da mão-de-obra familiar e a

possibilidade de retorno econômico da área recuperada.

7. MEDIDAS DE RECUPERAÇÃO

7.1. MEDIDAS BIOLÓGICAS

As medidas biológicas são consideradas de maior importância neste

processo de recuperação, pois viabilizam, a médio e longo prazo, técnica e

economicamente, a "reconstrução" dos processos ambientais que interferem

no funcionamento do ecossistema: solos, relevo, hidrologia, fauna, vegetação e

microclima.

Envolvendo a vegetação, podemos classificar em dois tipos as

estratégias de recuperação de áreas degradadas: as que objetivam a

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21

recuperação da forma e dos processos decorrentes do estabelecimento de

uma vegetação florestal.

Na primeira, objetiva-se restituir aspectos estéticos da paisagem,

introduzindo-se espécies vegetais como forma de viabilização da proposta,

sem se ater a detalhes de dinamismo dos processos erosivos e outras

peculiaridades ecológicas.

Na segunda, objetiva-se recuperar as funções originais da vegetação,

buscando através da biodiversidade de espécies (nativas + exóticas) alcançar

fases iniciais do processo de sucessão vegetal (primária e secundária). A

revegetação pretende, em um primeiro estágio, estabelecer a vegetação

pioneira, cobrindo o solo e estabilizando os processos erosivos. Em um

segundo estágio promove-se o seu manejo com o objetivo de acelerar a

restituição da forma e dos processos ambientais na região. No médio Paraíba

do Sul, Oliveira(1998) encontrou sete estágios de revegetação espontânea com

características ambientais distintas (figura 07). Neste caso, as gradações da

recuperação espontânea, observadas nestes estágios, podem colaborar na

definição das estratégias de recuperação dos ecossistemas degradados de

duas formas: permitindo o enquadramento em fases sucessionais distintas e

facilitando a escolha das espécies para alcançar estágios subseqüentes de

forma mais rápida.

7.2. MEDIDAS FÍSICAS

A maioria das medidas físicas tem como objetivo reduzir os efeitos dos

processos erosivos a curto prazo, de forma que se possa viabilizar a

implantação das medidas biológicas de forma satisfatória, readequar a área

degradada a uma nova realidade, onde os efeitos dos processos erosivos

(leitos irregulares e não definitivos, deslizamentos e rolamentos de pedras),

sejam estabilizados de forma definitiva, permitindo que, a médio/longo prazo,

haja integração com os efeitos da vegetação: redução do escoamento

superficial, erosão, estabilização da vertentes e consecução do equilíbrio

natural. Caso não se proceda desta forma, o investimento em medidas

biológicas poderá ser inócuo, uma vez que, a ação dos processos erosivos

pode comprometer o desenvolvimento das mudas e, inclusive, das futuras

árvores (VALCARCEL, 1991a,b)

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7.3. MEDIDAS FÍSICO-BIOLÓGICAS

Este conjunto de medidas visa atenuar os problemas ambientais

existentes em áreas com processos erosivos passíveis de serem recuperados

parcialmente através de medidas biológicas. O emprego de medidas físico-

biológicas consiste em uma estratégia de reversão da problemática ambiental a

curto (através das medidas físicas) e médio/longo prazo (medidas biológicas).

UFRRJ(1993) utilizou as seguintes medidas físico - biológicas, para a

recuperação de áreas de empréstimo na Ilha da Madeira, RJ:

Malha com bagaço de cana; Sacos de ráfia; Dique de feixes de capim; Barreira viva; Dique de material lenhoso; Obstrução de sulcos com matéria orgânica;

O primeiro método é indicado prioritariamente para áreas declivosas,

onde o acesso é difícil. Ele também pode apresentar bons resultados nas

vertentes íngremes das voçorocas.

O segundo e o terceiro métodos são indicados para áreas onde é

possível a integração das medidas físicas e biológicas.

A prática da barreira viva pode ser implantada nas margens das

drenagens naturais. O diques de material lenhoso são recomendados para

sulcos, com vazão máxima inferior a 300 l/s.

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Figura 7: Un idades de pa isagens degradadas (OLIVE IRA, 1998 ) .

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24

8. MESO E MACROFAUNA EDÁFICA NA RECUPERAÇÃO

8.1. FAUNA DE SOLO COMO BIOINDICADOR

Os organismos possuem diferentes capacidades de resistir a

mudanças em seu nicho ecológico. Esta resistência tem como limites extremos

as Zonas de Tolerância Fisiológica (SCHUBERT,1991). A tolerância fisiológica

de um indivíduo às mudanças no seu nicho ecológico mostra seu valor como

indicador de uma situação abiótica. Esta indicação, tanto dos fatores abióticos

quanto bióticos de um nicho ecológico, é conhecida como bioindicação (RABE,

1982).

Bioindicadores são organismos ou comunidades de organismos cujas

funções vitais são tão estreitamente relacionadas com os fatores abióticos, que

podem ser utilizados como indicadores das mudanças destes fatores

(SCHUBERT, 1991).

HEYDERMANN (1983) explica que, em casos de extensivas

modificações dos ecossistemas provocadas pelo homem, são apropriados

estudos utilizando-se bioindicadores. Neste caso eles relacionariam-se com a

habilidade das comunidades em recuperarem espontaneamente a sua função

normal.

O solo não é uma massa amorfa, mas sim estruturado e dividido em

horizontes, cada um com suas respectivas camadas. O desenvolvimento de um

solo é demorado, envolvendo processos físicos, químicos e biológicos. Solos

de floresta temperada, apresentam cerca de seis porcento com substâncias

orgânicas. Destes, 85% são compostos orgânicos (material vegetal caído,

produtos de decomposição, húmus). Dos 15% restantes, aproximadamente

metade é formado por raízes vivas e organismos do solo, que perfazem

aproximadamente 1% do peso do solo. Em torno da metade dos organismos do

solo é formada por bactérias, um quarto por fungos e os 25% restantes por

animais do solo (EHRNSBERGER, 1993).

8.2. CLASSIFICAÇÃO

Na zoologia do solo, existem várias maneiras de se classificar a fauna

edáfica. A mais utilizada é pelo tamanho (tabela 01)

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25

Tabela 1: Classificação da fauna edáfica

C a t e g o r i a comprimento (L-mm)

G r u p o s

m ic r o f auna L ≤ 0,2 P r o t o z o a me so f au na 0,2 < L ≤ 4,0 N e m a t o d a , A c a r i , C o l l e m b o l a ma cro f au na 4,0 < L ≤80,0 D i p l o p o d a , I s o p o d a , C o l e o p t e r a , D i p t e r a ,

O l i g o c h a e t a meg af au na L >80,0 V e r t e b r a d o s

Fonte: (Ehrnsberger,1993)

Segundo Heisler (1989), os Acari e os Collembola são os dois grupos

mais ricos em espécies e indivíduos da mesofauna edáfica. Das mais de

10.000 espécies de Acari conhecidas, cerca da metade são habitantes do solo.

Esta variedade de formas é conjugada com populações freqüentemente

densas (EISENBEIS e WICHARD, 1985). Dunger (1983) afirma que, em solos

de florestas temperadas, as populações de Acari chegam a ser de 100.000 a

400.000 indivíduos por metro quadrado, sendo que 70% destes são Acari

Oribatei. Para MITTMANN (1983), os Acari Oribatei podem ser divididos em

macro e microfitófagos, que vão agir de diferentes e eficazes modos no

processo de desagregação da matéria orgânica. Os macrofitófagos são

decompositores primários, e, com seu grande apetite, reciclam o equivalente a

20% de seu peso corporal diariamente, propiciando a continuidade de

desagregação por outros organismos (MITTMANN, 1983). Já os microfitófagos

participam indiretamente no processo de desagregação, atuando no controle

de hifas fúngicas e através da propagação de esporos, tendo assim uma

influência como "catalisadores" da atividade microbiana (DUNGER, 1983).

Segundo EISENBEIS e WICHARD (1985), os Collembola pertencem à

Classe Insecta, Sub-Classe Apterygota. Eles têm uma distribuição cosmopolita,

que abrange desde os picos do Himalaia, florestas equatoriais, até os desertos

gelados do Continente Antártico (WALLWORK, 1976). Sua alta população os

torna biologicamente importantes ao solo (EISENBEIS e WICHARD, 1985). Os

Collembola contribuem para a formação do solo de duas maneiras: primeiro,

alimentando-se de material orgânico grosseiro que vai ser desdobrado em seus

intestinos e, segundo, produzindo fezes que vão ser adicionadas ao solo,

podendo ser aproveitadas pelos demais organismos edáficos (HALE, 1971),

influenciando indiretamente a fertilidade, criando balanço favorável entre

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fungos e bactérias no solo, reduzindo detritos vegetais, produzindo enzimas

(AMBROZ e NOSEK, 1967) e fragmentando a matéria orgânica do solo

(EISENBEIS e WICHARD, 1985).

Segundo KALE (1988), os Oligochaeta (minhocas) são os

representantes de maior importância da macrofauna edáfica. Existem no globo

terrestre aproximadamente 3.000 espécies de minhocas, ocorrendo nos mais

variados habitats, desde regiões quentes até regiões geladas (JAMIESON,

1978). As minhocas são os maiores decompositores secundários do sistema

edáfico, elas vão se alimentar de material vegetal que já foi degradado

parcialmente por microorganismos. Segundo TISDALL (1985), as galerias

formadas pelas minhocas são de grande importância para a drenagem rápida

das enxurradas, para prevenir a erosão do solo sob condições de campo.

Segundo o mesmo autor, o número de galerias observado no campo é

proporcional à densidade de minhocas e à área. Os espaços capilares dos

agregados que estão presentes nos coprólitos das minhocas auxiliam na

retenção de água (SATCHELL, 1967). HUTSON (1989) afirma que as

minhocas têm um importante papel na formação do perfil do solo,

principalmente por sua função: (1) remoção da liteira da superfície do solo; (2)

fragmentação da liteira; (3) incorporação do material fragmentado e

decomposição através do perfil do solo; (4) redução da relação C/N na matéria

orgânica e aceleração na reassimilação do nitrogênio pelas plantas e (5)

multiplicação da microflora do solo dentro seu aparelho digestivo. Um aumento

significativo no nitrogênio disponível foi observado quando aplicados esterco de

ovino e bovino "ativados" por minhocas. Mudanças similares, porém em menor

extensão, foram observadas no que se refere a fósforo disponível e potássio

(KALE, 1988).

8.3. A DENSIDADE E A DIVERSIDADE DAS COMUNIDADES

As práticas de manejo utilizadas em um sistema de produção podem

afetar de forma direta e indireta a fauna do solo, o que se reflete na sua

densidade e diversidade. Os impactos diretos correspondem à ação mecânica

da aração e dragagem e aos efeitos tóxicos do uso de pesticidas. Os efeitos

indiretos estão relacionados à modificação da estrutura do habitat e dos

recursos alimentares. Desta forma, a retirada da serrapilheira e ervas daninhas,

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bem como a compactação do solo decorrente do uso intensivo de máquinas

agrícolas e cultivos monoespecíficos provocam uma simplificação do habitat,

tendo como conseqüência uma simplificação das comunidades do solo

(EDWARDS & LOFTY, 1982a ; ROVIERA et al., 1987)

As influências nas densidades e diversidade da fauna de solo de

algumas técnicas de manejo serão discutidas a seguir. A aração é uma técnica

que causa grande prejuízo aos indivíduos da macrofauna. FRASER (1994)

encontrou que 50% da população de minhocas foi mecanicamente afetada pela

aração. Os efeitos indiretos correspondem a uma mudança da dinâmica da

matéria orgânica, ocorrendo geralmente um aumento na velocidade de

decomposição, como também a mudanças microclimáticas do habitat com um

aumento da temperatura e uma redução da umidade.

De um modo geral, as modificações no habitat impostas pela aração

têm efeito negativo sobre a fauna do solo. Reduções significativas das

populações foram registradas para minhocas (EDWARDS & LOFTY, 1982a),

ocorrendo também uma substituição na fauna de minhocas que passa a ser

composta de espécies de menor tamanho (ROVIRA et al., 1987). As

densidades de minhocas chegam a ser até três vezes maiores no plantio direto

do que em sistemas de cultivo convencional (FRASER, 1994).

A ausência de aração promovia densidades maiores de 16 dos 25

grupos da macrofauna estudada, sendo que todos os grupos saprófagos eram

afetados negativamente pela aração (ROBERTSON et al. 1994). Uma redução

da heterogeneidade de oribatideos, ao nível de espécies, também foi

observada por FRANCHINI & ROCKETT (1996). Por outro lado, PERDUE &

CROSSLEY (1990) não encontraram diferenças na distribuição vertical da

comunidade de ácaros em parcelas cultivadas com e sem aração.

Embora os efeitos da aração de um modo geral sejam negativos,

alguns trabalhos demonstram não haver alterações ou pelo contrário, alguns

grupos da fauna de solo seriam estimulados por tal manejo. Na tentativa de

sintetizar estes diferentes resultados, WARDLE (1995) utilizou o índice V

proposto por WARDLE & PARKINSON (1991) (equação 1), que mede a

suscetibilidade dos grupos da fauna de solo às perturbações provenientes da

aração.

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Equação 0-1 Suscetibilidade dos grupos da fauna do solo

)2

( NA

A

A

MM

MV += -1 01

Onde: V = Suscetibilidade dos grupos da fauna do solo; MA = biomassa ou densidade do grupo em questão no cultivo com

aração; MNA = biomassa ou densidade no cultivo sem aração. O índice “V” varia de -1 a 1, com o valor 0 indicando abundâncias

iguais em cultivos com e sem aração. Pela aplicação do índice foram

estabelecidas categorias para expressar o grau de resposta à aração (tabela

02).

Tabela 2: Categorias de suscetibilidade da fauna de solo à aração, com base no índice V (WARDLE & PARKINSON, 1991).

Categorias Índice Extrema inibição V<-0,67 Inibição moderada -0,33>V>-0,67 Ligeira inibição 0>V>-0,33 Ligeira estimulação 0<V<0,33 Estimulação moderada 0,33<V<0,67 Extrema estimulação V>0,67

A técnica de Uso de coberturas mortas consiste na adição de

coberturas ao solo pode aumentar consideravelmente a infiltração, reduzir a

evapotranspiração e a perda de matéria orgânica, além de estimular as

comunidades microbianas (WARDLE, 1995). No sistema do solo, as coberturas

substituem o "litter" original, sendo um misto de alimento e habitat. Um

aumento na disponibilidade de energia associada à existência de novos

habitats favoráveis à colonização contribui para um aumento da densidade e

diversidade de virtualmente todos os grupos da fauna de solo (TAKEDA,

1995).

Esta prática de manejo tem sido considerada como um dos processos

chave para a manutenção da estrutura e fertilidade dos solos tropicais

(LAVELLE et al., 1993).

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As minhocas podem responder de maneira diferenciada à aplicação de

coberturas, de acordo com os hábitos das diferentes espécies. As que habitam

a superfície serão, sem dúvida alguma, positivamente afetadas pelo uso de

coberturas, enquanto as que se localizam mais profundamente no perfil

responderão mais favoravelmente à incorporação dos resíduos ao solo

(FRASER, 1994).

WARDLE (1995) observou que uma série de grupos da macrofauna,

especialmente coleópteros, responderam positivamente à cobertura com

serragem, aumentando consideravelmente as suas densidades. É importante

que se considere, no caso do uso de coberturas mortas, a qualidade do

material a ser utilizado. TIAN et al. (1993) testaram a resposta, em termos de

densidade, de quatro importantes grupos da macrofauna à aplicação de

resíduos de diferentes origens. Enquanto as minhocas e térmitas responderam

positivamente a qualquer tipo de cobertura, as formigas tiveram suas

densidades aumentadas apenas com resíduos de Gliricidia e Leucena. Os

diplópodos, por sua vez, não apresentaram nenhuma mudança nas densidades

com qualquer tipo de cobertura.

Com relação ao uso de coberturas vivas, LIANG e HUANG (1994)

encontraram uma maior densidade e diversidade de ácaros predadores em

pomares, onde as ervas daninhas não foram retiradas. A maior porcentagem

de predadores pode ser um instrumento eficiente para o controle de pragas,

sugerindo que os efeitos de uma comunidade de invertebrados do solo, mais

diversa e abundante, ultrapassam os limites do solo.

A técnica de Aplicação de pesticidas e fertilizantes é a mais tradicional

e os efeitos dos pesticidas sobre a fauna do solo variam não só em função dos

compostos utilizados, como também com o método de aplicação.

Os fungicidas em geral, por serem aplicados em doses maiores que

inseticidas e herbicidas, têm efeitos muito mais drásticos na fauna do solo.

Além disso, há que se considerar os efeitos indiretos na aplicação. A redução

da população de fungos leva também a uma redução das populações dos

animais fungívoros e de seus predadores.

Os herbicidas em geral têm um efeito inibidor nas populações da fauna

de solo, que, no entanto, é menos pronunciado que o de fungicidas e

inseticidas. A redução nas densidades é resultado mais da simplificação do

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habitat, pela retirada da cobertura viva proporcionada pelas ervas daninhas, do

que propriamente resultado da intoxicação da fauna (WARDLE, 1995).

Os inseticidas apresentam efeitos negativos tanto sobre a macrofauna

quanto mesofauna.

A aplicação de fertilizantes inorgânicos pode ter um efeito positivo para

a fauna do solo, já que ao promover uma maior biomassa vegetal promove

também um retorno da matéria orgânica ao solo (FRASER, 1994). A magnitude

desse efeito depende diretamente da demanda de nutrientes das plantas

cultivadas e da disponibilidade de nutrientes no solo. Quanto maior for o

aumento na biomassa vegetal, maior também será a resposta da fauna,

embora esta relação não tenha que ser necessariamente linear. Alguns

fertilizantes, no entanto, podem ser tóxicos a alguns componentes da fauna do

solo. É o caso das minhocas que em geral sofrem intoxicação por amônia

(KLADIVKO & TIMMENGA, 1990).

A adição de adubos orgânicos, no entanto, podem ter um efeito

benéfico sobre a fauna de solo, como demonstrado por EDWARDS & LOFTY

(1982b). É que além de significarem uma incorporação de nutrientes ao solo,

representam também uma fonte alimentar adicional (KLADIVKO & TIMMENGA,

1990).

O uso do fogo, a queima de áreas para fins de plantio ou colheita tem

efeitos negativos drásticos sobre as populações de animais do solo. Além da

eliminação direta de praticamente todos animais que vivem na superfície do

solo, a eliminação da serrapilheira retira a fonte de alimento e desestrutura o

habitat. Sem habitat e alimentos, a recolonização, quando ocorre, é lenta e

restrita a poucos grupos.

SGARDELIS & MARGARIS (1993) encontraram uma redução na

densidade de ácaros e colêmbolos após a ocorrência acidental de fogo em um

sistema arbustivo mediterrâneo.

PINHEIRO et al. (1996) acompanhou a comunidade de

macroartrópodos da serrapilheira e do solo em dois plantios de cana-de-

açúcar, um submetido à queima anual por ocasião da colheita e outro em que a

área não sofreu queima por 40 anos. Não só as densidades são

consideravelmente maiores no cultivo sem queima, como também a estrutura

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da comunidade é diferenciada, tendo uma maior porcentagem de saprófagos e

insetos sociais.

9. COMUNIDADES DE SOLO & INDICADOR

De acordo com DORAN & PARKIN (1994), um bom indicador da

qualidade do solo deve obedecer aos seguintes critérios:

1) estar associado aos grandes processos do ecossistema;

2) integrar propriedades físicas, químicas e biológicas;

3) ser acessível a muitos usuários e aplicável a condições de campo;

4) ser sensível a variações no manejo e no clima;

5) quando possível, fazer parte de banco de dados;

Como já foi discutido, a fauna do solo está intimamente associada aos

processos de decomposição e ciclagem de nutrientes, que são de fundamental

importância para a manutenção da produtividade das culturas. É ao mesmo

tempo agente transformador e reflexo das características físicas, químicas e

biológicas dos solos. A sensibilidade dos invertebrados do solo aos diferentes

manejos, reflete claramente o quanto uma determinada prática de manejo pode

ser considerada ou não conservativa do ponto de vista da estrutura e fertilidade

do solo. Tais características já justificam a utilização da fauna do solo como

indicadora das modificações do ambiente.

Alguns esforços estão sendo feitos com o propósito de recuperação de

algumas destas áreas, através da recomposição da paisagem, com a

revegetação do local. Diferentes regimes de reabilitação de áreas degradadas

estão sendo testados para se estabelecer qual proporciona maior êxito em

aproximar a área de seu estado original. Um dos aspectos que reproduzem a

eficiência da alternativa de recuperação ambiental de uma área degradada é a

presença de espécies invasoras espontâneas nos locais, principalmente devido

a criação de propriedades emergentes, decorrentes do início do processo de

sucessão ecológica provocada pela alternativa conservacionista (VALCARCEL

& SILVA,1997; VALCARCEL & D’ALTÉRIO, 1998).

Poderíamos considerar como hipótese que, quanto maior o nível de

oferta alimentar do primeiro nível trófico, maior será a atração de animais e

maior será a diversidade da componente “fauna”, criando sinergia que poderá

desencadear o processo de sucessão secundária.

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32

10. SUCESSÃO DA MESO E MACROFAUNA EDÁFICA

Há vários tipos de sucessão e também estudos em processos

sucessionais (CONNEL e SLATYER, 1977). A sucessão primária se inicia no

ponto zero de instalação biótica de uma área, que nunca foi um habitat biótico

ou que não mostra formação do solo. Este tipo de sucessão pode ser

observado usualmente em ilhas vulcânicas recém-formadas longe da

civilização. Na última metade de nosso século a indústria de mineração à céu

aberto ofereceu uma chance única de estudos de sucessões primárias

artificiais (DUNGER 1991).

Estudos que se referem à sucessão primária apresentam objetivos

distintos, podendo estabelecer três fases: na primeira, tende-se a esclarecer os

processos por si mesmos, isto é, avaliar o desgaste dos fatores abióticos

(intemperização) e correlacioná-los à imigração biótica no meio, geralmente

constituído por material rochoso (CLEMENTS, 1928). Os agentes avaliados

são: seleção do biótopo, regulação biocenótica e regulação do biótopo e

finalmente, desenvolvimento de um novo ecossistema como conseqüência

destes processos (DUNGER, 1991).

A segunda fase é obter informações autoecológicas, sinecológicas e de

comportamento energético de certas espécies ou de comunidades. Uma idéia é

que o nicho ecológico ocupado por uma espécie se tornará mais e mais estável

até que chegue ao estágio de clímax (DOREAU, 1986). Outros estudos se

relacionam às interrelações entre as espécies e a utilização de recursos

(MAJER, 1989).

A terceira fase concentra-se na determinação da função dos animais

do solo, especialmente dos artrópodos, no processo de reabilitação de tais

áreas, e na utilização destas espécies como indicadoras de estágios e/ou

direções do desenvolvimento da área (BARLEIN et al., 1989).

Durante o estágio inicial, os Collembola e Acari Thrombidiformes

atingem populações de 5.000 a 20.000 indivíduos por metro quadrado. A sua

migração se dá, provavelmente, pelo ar (DUNGER, 1991; SAUTTER &

SANTOS, 1994). Depois que a produção primária de plantas herbáceas e

arbustivas tenha se iniciado, a mesofauna alcança densidades populacionais

de até 130.000 ind./m2, dentro da camada orgânica. As espécies pioneiras

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permanecem nos solos degradados durante períodos que variam entre 3-7

anos (DUNGER,1991; HUTSON, 1980a; PARSONS e PARKINSON, 1986). Os

Collembola são dominantes neste estágio com 1/3 da abundância, 1/2 da

biomassa da população da mesofauna edáfica. Esta fase é caracterizada por

ter os Collembola como indicadores (BODE, 1975; HUTSON, 1980b;

SAUTTER e SANTOS, 1994). Depois que a camada de liteira é destruída pelas

minhocas, a densidade populacional da mesofauna cai a aproximadamente

25.000 ind./m2 (DUNGER, 1991). Após cerca de 10 anos, há uma substituição

de indivíduos r-estrategistas por indivíduos k-estrategistas, sendo que, nesta

fase, é nítida a dominância de Acari Oribatei (DUNGER, 1991; ZERLING,

1990). No tabela 03, podem ser vistas algumas características contrastantes do

espectro r-k estrategistas, no tocante a definição dos seus papeis nas

atividades de recuperação de áreas degradadas.

Tabela 3: Características contrastantes do espectro r-k de seleção.

r-estrategista k-estrategista - Curto tempo de vida - Longo tempo de vida - Pequeno tamanho - Grande tamanho - Alto poder de dispersão - Baixo poder de dispersão - Mortalidade dependente da

densidade - Alta sobrevivência nos estágios

reprodutivos - Alta fecundidade - Baixa fecundidade - Baixo investimento na defesa e

outros mecanismos de competição - Altos investimentos na defesa e outros

mecanismos de competição - Densidade populacional muito

variável - Densidade populacional relativamente

constante de geração em geração Fonte: SOUTHWOOD (1977)

SAUTTER e SANTOS (1994), acompanhando a evolução da fauna

edáfica em diversos regimes de reabilitação de solos degradados no município

de São Mateus do Sul (PR), onde a exploração do xisto pirobetuminoso, a céu

aberto é uma importante alternativa econômica e social, verificaram a

predominância de outras subordens de Acari, em ambientes perturbados, em

relação aos Oribatei, e como os primeiros colonizadores destas áreas. Os

Collembola demonstraram serem mais sensíveis aos regimes de reabilitação,

necessitando, para estabelecimento em um local de paisagem recém-

recomposta, de disponibilidade de alimento e habitat favorável (tabela 04). Os

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fatores umidade do solo e maior quantidade de matéria orgânica favorecem o

aumento da população de Acari Oribatei e Collembola.

Tabela 4: Densidade dos diferentes grupos da mesofauna edáfica amostrados em diferentes regimes de reabilitação

Regimes de reabilitação Grupos de Mesofauna Edáfica Acari

Total Outros Ácari Oribatei Collembola

Total Collembola

Anthropleona Área recém-recomposta (5 meses) 1743 1743 0 0 0 Plantas forrageiras (6 anos) 2115 1686 429 2000 1829 Pastagem (6 anos) 1829 1543 286 1429 1429 Pinus taeda, 2 t/ha calagem (15 anos)

971

857

114

2400

2400

Eucaliptus viminalis, 2 t/ha calagem (15 anos)

1028

828

200

657

657

Pinus taeda, 5 t/ha calagem (15 anos)

2000 1629 371 2914 2800

Eucaliptus viminalis, 5 t/ha calagem (15 anos)

971

857

114

2171

2143

Mimosa scabrella (7 anos) 1343 1000 343 3371 3029 (SAUTTER & SANTOS, 1994).

SAUTTER e SANTOS (1991), em suas pesquisas com populações da

ordem Collembola, concluíram que há um aumento populacional entre o

inverno e a primavera e que a presença de cobertura verde, matéria orgânica

em decomposição e sistema radicular, influenciam beneficamente no aumento

desta população.

OLIVEIRA e FRANKLIN(1993), em estudos sobre o efeito do fogo na

mesofauna do solo, concluíram que a perturbação exercida no ambiente resulta

no desaparecimento de diversos grupos taxonômicos, principalmente nos

períodos iniciais após a queima. Há uma abundância de oribatídeos em áreas

mal queimadas (70%), com sensível redução na área bem queimada (26%).

Logo, a densidade de Oribatideos foi afetada após a queima da mata original

onde houve predominância de outras subordens de Acari, na maioria

predadores.

A nível de espécie, tipos mais ou menos característicos de

comportamento sucessional podem ser discernidos. Espécies que são capazes

de ocupar e reproduzir-se no estágio inicial da recuperação são chamadas

espécies iniciais. Dentro deste grupo, o equilíbrio inicial de espécies tem a

habilidade de manter suas populações por longo tempo e é observado

principalmente em Tullbergiinae (Collembola) (HUTSON,1980a e DUNGER,

1991). Outras são restritas aos dois ou três primeiros anos, provavelmente

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devido ao baixo poder de competição. Estas são espécies iniciais fugitivas

(DUNGER, 1991).

Pioneiros oportunísticos ocorrem depois da recuperação das condições

de vida, especialmente depois da acumulação de material orgânico. Mas suas

populações reduzem rapidamente, quando uma decomposição intensiva da

liteira pelas minhocas se inicia. Porém há espécies que continuam a dominar

até 10 a 15 anos após o plantio da área degradada, podendo fazer parte da

população da mesofauna edáfica no estágio de equilíbrio natural (clímax).

Estas espécies podem ser chamadas de pioneiras do equilíbrio. O

comportamento de espécies de equilíbrio exibe um crescimento atrasado da

população, porém uma alta presença contínua sob condições naturais

(DUNGER, 1991).

LUFF e HUTSON (1977) sugerem ainda que três estágios são

envolvidos no desenvolvimento da mesofauna edáfica em uma área

degradada: (1) imigração; (2) estabelecimento da população; (3) manutenção

da população. O primeiro estágio requer espécies com habilidade dispersiva.

Para o segundo, alimento, habitat favorável e cobertura vegetal têm de estar

disponíveis. E para o terceiro estágio, manutenção da população, a população

estabelecida deve ser capaz de sobreviver às variações sazonais.

Segundo DUNGER (1989), em áreas intensamente exploradas pela

mineração a céu aberto de carvão, localizadas nas regiões central e oeste da

Ex-República Democrática da Alemanha, a espécie Allolobophora caliginosa

foi o mais importante colonizador primário. Esta espécie foi favorecida devido a

sua alta tolerância à deficiência de água e à acidez do solo. Em estágios mais

adiantados de recuperação de solo, A.caliginosa é um competidor efetivo e

continua a manter-se como um componente importante da biomassa de

minhocas durante 33 anos ou mais. Outros colonizadores primários são as

espécies do gênero Dendrobaena. Elas necessitam de acumulo de material

orgânico para se estabelecer. Elas têm um curto período de desenvolvimento

(um ano) e um alto grau de fertilidade, o que as faz possuir uma boa

capacidade de colonização. Mais tarde, as espécies imigrantes reduzem a

abundância das espécies de Dendrobaena por competição dentro da liteira

(Lumbricus rubellus) ou por incorporação do material orgânico em camadas

mais profundas do solo (Lumbricus terrestris). Dentro dos colonizadores

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secundários, aqueles com maior poder de dispersão são Octalasium lacteum e

Allolobophora rosea. Estas espécies necessitam de cinco a dez anos para

estabilizar suas populações.

DIONÍSIO et al. (1994), pesquisando a população de minhocas em

áreas de recuperação de solos degradados pela mineração de xisto,

concluíram que a revegetação de tais áreas com essências florestais não

elevou a população de minhocas, provavelmente em função da acidez do solo,

baixos níveis de cálcio, altos teores de alumínio e de elevada resistência à

penetração no substrato. Nas áreas onde se estava procedendo a recuperação

do solo com auxílio de plantas forrageiras, a população de minhocas também

foi extremamente baixa, porém não houve limitação de acidez, nem nos níveis

de outros elementos, mas constatou-se elevada resistência à penetração na

superfície do solo e baixa velocidade de infiltração de água.

11. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A fauna do solo está intimamente associada aos processos de

decomposição e ciclagem de nutrientes que são de fundamental importância

para a manutenção da produtividade das culturas. É ao mesmo tempo agente

transformador e reflexo das características físicas, químicas e biológicas dos

solos. A sensibilidade dos invertebrados de solo aos diferentes manejos reflete

claramente o quanto uma determinada prática de manejo pode ser considerada

ou não conservativa do ponto de vista da estrutura e fertilidade do solo. Tais

características já justificam a utilização da fauna de solo como indicadora das

modificações ambientais

No caso de áreas degradadas, cuja intervenção do homem e no

ecossistema foi parcialmente ou totalmente destrutiva, nota-se que há uma

sucessão de organismos que estão presentes em cada etapa de recuperação

destas áreas, notadamente Acari, Collembola e Oligochaeta. Sendo assim, é

possível que, dentro destes grupos de invertebrados edáficos, se possam

encontrar indivíduos específicos para cada etapa da recuperação destas áreas

degradadas, isto é, bioindicadores de cada situação. Estes bioindicadores

atuariam em conjunto com os fatores físicos e químicos do solo, estabelecendo

o estágio e as tendências de desenvolvimento desta recuperação. Seriam

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assim de grande valia para o estabelecimento de estratégias na recuperação

de solos degradados.

A maior dificuldade do uso destas informações como estratégia de

monitoramento da eficiência conservacionista dos projetos de recuperação de

áreas degradadas no país podem ser divididas em duas categorias: a) a de

ordem de falta de conhecimento específico sobre o uso desta fauna para

recuperação de diferentes tipos de áreas degradadas no país e b) a de ordem

de infra-estrutura e recursos financeiros, pois necessita-se de pessoal

qualificado, equipamentos sofisticados para os padrões de projetos brasileiros,

com acesso ágil a laboratórios especializados.

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