OBITUÁRIO EDIFICADO: AS PERDAS REFERENCIAIS NA...

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1 OBITUÁRIO EDIFICADO: AS PERDAS REFERENCIAIS NA PAISAGEM URBANA DE SANTO ÂNGELO 1 Amilcar Guidolim Vitor 2 Fernando Edgar Rieck 3 Paula Fernanda Batista 4 Fiama Piltz 5 RESUMO: O artigo enfoca, a partir do obituário edificado, a arquitetura - constituinte do espaço e tempo - considerando as perdas referenciais, através das transformações no espaço, da paisagem urbana santo-angelense. Esta, apresenta a trajetória do ambiente construído, estabelecendo valores, imagens, identidade, memória quanto ao imaginário coletivo, representadas por bens culturais imóveis significativos. A arquitetura pretérita, lentamente, desaparece, na cidade de Santo Ângelo, modificando a paisagem urbana. Consequência disso, o óbito arquitetônico a partir do desaparecimento de edificações com caráter histórico, artístico e cultural. Estas, que, em épocas passadas, foram referências no espaço urbano do município. Reconhecer tais bens imóveis referenciais, nesta transformação do espaço, remete, perante a sociedade/comunidade local, a relação entre cidadão e arquitetura, bem como com seu patrimônio cultural. Tal relação, revela a importância da preservação do patrimônio histórico cultural edificado, onde, a representação física (atualmente não mais) destes bens na paisagem do município apresentaria a apropriação do espaço, enquanto referências no pertencimento patrimonial pelo cidadão. PALAVRAS-CHAVE: Obituário Edificado, Paisagem Urbana, Bens Culturais Imóveis, Educação Patrimonial, Imaginário Coletivo. 1 História e Patrimônio 2 Professor do Departamento de Ciências Humanas da URI Campus Santo Ângelo; Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Patrimônio Cultural e Arquitetura - GEEPARq da URI Campus Santo Ângelo. Contato: [email protected] 3 Professor do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas da URI Campus Santo Ângelo; Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Patrimônio Cultural e Arquitetura - GEEPARq da URI Campus Santo Ângelo. Contato: [email protected] 4 Graduada em Arquitetura e Urbanismo; Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Patrimônio Cultural e Arquitetura - GEEPARq da URI Campus Santo Ângelo. Contato: [email protected] 5 Acadêmica do curso de Arquitetura e Urbanismo; Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Patrimônio Cultural e Arquitetura - GEEPARq da URI Campus Santo Ângelo. Contato: [email protected]

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OBITUÁRIO EDIFICADO: AS PERDAS REFERENCIAIS NA PAISAGEM

URBANA DE SANTO ÂNGELO1

Amilcar Guidolim Vitor2

Fernando Edgar Rieck3

Paula Fernanda Batista4

Fiama Piltz5

RESUMO: O artigo enfoca, a partir do obituário edificado, a arquitetura - constituinte do

espaço e tempo - considerando as perdas referenciais, através das transformações no espaço,

da paisagem urbana santo-angelense. Esta, apresenta a trajetória do ambiente construído,

estabelecendo valores, imagens, identidade, memória quanto ao imaginário coletivo,

representadas por bens culturais imóveis significativos. A arquitetura pretérita, lentamente,

desaparece, na cidade de Santo Ângelo, modificando a paisagem urbana. Consequência disso,

o óbito arquitetônico a partir do desaparecimento de edificações com caráter histórico,

artístico e cultural. Estas, que, em épocas passadas, foram referências no espaço urbano do

município. Reconhecer tais bens imóveis referenciais, nesta transformação do espaço, remete,

perante a sociedade/comunidade local, a relação entre cidadão e arquitetura, bem como com

seu patrimônio cultural. Tal relação, revela a importância da preservação do patrimônio

histórico cultural edificado, onde, a representação física (atualmente não mais) destes bens na

paisagem do município apresentaria a apropriação do espaço, enquanto referências no

pertencimento patrimonial pelo cidadão.

PALAVRAS-CHAVE: Obituário Edificado, Paisagem Urbana, Bens Culturais Imóveis,

Educação Patrimonial, Imaginário Coletivo.

1 História e Patrimônio 2 Professor do Departamento de Ciências Humanas da URI – Campus Santo Ângelo; Membro do Grupo de

Estudos e Pesquisa em Patrimônio Cultural e Arquitetura - GEEPARq da URI – Campus Santo Ângelo.

Contato: [email protected] 3 Professor do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas da URI – Campus Santo Ângelo; Membro do Grupo

de Estudos e Pesquisa em Patrimônio Cultural e Arquitetura - GEEPARq da URI – Campus Santo Ângelo.

Contato: [email protected] 4 Graduada em Arquitetura e Urbanismo; Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Patrimônio Cultural e

Arquitetura - GEEPARq da URI – Campus Santo Ângelo. Contato: [email protected] 5 Acadêmica do curso de Arquitetura e Urbanismo; Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Patrimônio

Cultural e Arquitetura - GEEPARq da URI – Campus Santo Ângelo. Contato: [email protected]

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INTRODUÇÃO

A pesquisa, desenvolvida pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Patrimônio Cultural e

Arquitetura (GEPPArq) da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões –

URI – Campus Santo Ângelo, aborda em seu recorte sobre o desaparecimento e

descaracterização de edificações pretéritas significativas que pertenceram ou ainda pertencem

à paisagem urbana do município de Santo Ângelo, na região noroeste do Rio Grande do Sul.

O obituário do patrimônio construído visa mostrar a subtração destes bens imóveis do

conjunto edificado, incluindo diferentes tipologias, usos e funções e, também, aquelas ainda

existentes, porém descaracterizadas.

Apresentar tais edificações revela as perdas significativas no conjunto arquitetônico e

tecido urbano consolidado. Isto, a partir da transformação da paisagem/espaço urbano, da

descaracterização, dos novos edifícios/espaços construídos (muitas vezes de qualidade

arquitetônica duvidosa/inferior) no mesmo lote, do prejuízo, enquanto linguagem

arquitetônica, principalmente do núcleo primitivo da cidade.

O desaparecimento destas edificações mostra o grau de consciência – de cidadãos e

gestores – sobre o tema, sob a ótica da preservação, conservação e manutenção de tais bens

imóveis ao longo da evolução urbana do município. Estes, foram referências como parte da

paisagem cultural da cidade.

A descaracterização remete aos novos usos e funções do bem imóvel, ocorrendo

intervenções, muitas vezes danosas e irreversíveis, comprometendo a leitura da edificação,

considerando a autenticidade e integridade do bem, conceitos importantes no que tange às

edificações pretéritas, considerando: volumetria, partido arquitetônico, técnicas construtivas e

materiais empregados.

Ter ciência sobre o tema significa o contraponto da demolição e descaracterização

destas edificações: conscientizar e apropriar-se dos remanescentes edilícios significativos,

ainda existentes, pela sociedade civil e gestores públicos, a partir da preservação e proteção

legal deste acervo arquitetônico. Recentemente, no ano de 2015, o município de Santo

Ângelo regulamentou a situação do seu patrimônio cultural material e imaterial através de lei

especifica, o que contribuiu para anos de subtrações ou modificações em seus prédios

históricos. Muitos foram a óbito, outros ainda resistem com significativas alterações em seus

usos e funções.

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A documentação, o registro, através da produção de um obituário do patrimônio

material edificado de Santo Ângelo, constitui-se ferramenta fundamental na preservação se

não do bem em si, mas da memória destes bens culturais, suprindo lacuna quanto ao tema,

considerando o descaso e esquecimento da sociedade e gestores daqueles edifícios com

importância na paisagem urbana. Esta documentação servirá de fonte de pesquisa para

futuras ações, considerando diferentes atores, desde o meio acadêmico até as esferas públicas

– municipais, estadual e federal.

SANTO ÂNGELO: SUAS HISTÓRIAS, MEMÓRIAS E DISPUTAS EM TORNO DO

PATRIMÔNIO EDIFICADO.

Santo Ângelo está inserido entre os sete povos das Missões, integrantes de um

conjunto urbanístico maior, os 30 povos, que se estruturaram e se desenvolveram durante o

final do século XVII até meados do século XVIII6. A experiência Jesuítico-indígena durou

até meados do século XVIII, quando a disputa pelos territórios platinos, impõem aos

indígenas reduzidos, por razões políticas e econômicas no ano de 1750, o Tratado de Madrid;

isso implicava na retirada das populações indígenas dos sete povos. O Tratado não é aceito

pela grande maioria dos indígenas que habitavam o local, o que acaba por desencadear a

Guerra Guaranítica, tendo como ápice a batalha de Caiboaté, que leva a derrota missioneira

no ano de 17567.

Posterior a expulsão dos jesuítas do território, inicialmente denominado sete povos

das missões com o Tratado de Madrid em 1750, é decretado o fim de uma experiência nunca

antes vivenciada na história. Sem o cuidado dos padres, o território chega ao século XIX com

as estruturas decadentes e desprovidas de qualquer forma de cuidado administrativo.8

A efetiva reocupação do espaço da antiga redução ocorreu por volta do ano de 1859

quando Antônio Manoel de Oliveira e Antônio Gomes Pinheiro Machado principiaram a

ocupação do local, para fazer dele sede da paróquia da nova Freguesia. Nesse período foi

erguida a primeira casa nas proximidades da antiga igreja, reaproveitando as estruturas da

Missão de Santo Ângelo Custódio. O novo povoado, que surge também nas imediações da

Praça Pinheiro Machado, é habitado por paulistas e açorianos9. Segundo Costa (2007)

6 SCHALLENBERGER, 2006. 7 GOLIN, 1999. 8 BAPTISTA; BAUER; PRESA; 2006. 9 FINOKIET, 2007.

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algumas correntes migratórias destacaram-se nesta fase inicial de formação do município,

com forte influência na formação de seu espaço urbano, tais como a alemã e a italiana.

Com o estabelecimento de sedes de regimentos militares, a cidade se desenvolveu e se

expandiu para o norte. Os imigrantes alemães, recém chegados, formaram um novo núcleo

comercial a partir da Rua 25 de Julho, por onde passava os trilhos do ramal ferroviário. A

Estação Ferroviária foi inaugurada em 16 de outubro de 1921. A instalação da estação

marcou o desenvolvimento da cidade e incentivou a vinda dos imigrantes, que vieram residir

na zona norte da cidade10.

Muitas indústrias como a Companhia de Fumo em Folha, a Companhia Algodoeira

Sul Rio Grandense e a Fábrica de Banha se desenvolveram ao longo dos trilhos do trem em

volta da Estação. Produtos coloniais vindos dos distritos próximos eram embarcados nos

trens. Dessa forma, a antiga Gare que gerou um novo núcleo urbano construído na zona norte

ativou o comércio, favoreceu a construção de hotéis e boas residências.11

Aos poucos, o espaço urbano que já foi ocupado por uma aldeia indígena pré-histórica

e depois por uma redução Jesuítico-indígena, deu lugar a vários imigrantes vindos de locais

distintos, formando uma vila, tornando-se um município com uma grande mistura étnica e

cultural facilmente vista nos atuais habitantes da cidade. Estes imigrantes, seguindo a lógica

da reocupação do local, reutilizaram as pedras da antiga redução e construíram o seu legado

arquitetônico à sociedade atual. Assim, o espaço que atualmente é ocupado pelo município de

Santo Ângelo traz consigo, imagens, histórias, monumentos, registros de um grande processo

de modificações e transformações sociais, econômicas, políticas e culturais.

Todavia, o que é de se preservar para um determinado grupo social, não tem a mesma

importância para outro, e, ligados a isso, muitas vezes, existem grandes conflitos de

interesses, boa parte deles políticos e econômicos. Nesse sentido, Funari e Carvalho (2011, p.

48) fazem um questionamento; “seria possível a preservação de um patrimônio por parte de

pessoas que não se reconhecem nele?”. O autor afirma que esta questão divide as opiniões

dos especialistas, mas, afirma que, sem educação patrimonial poucas serão as mudanças

implantadas no que se refere a cidadania. Segundo Unes (2008, p. 28), “(...) reconhecemos e

aceitamos apenas aqueles monumentos do passado para os quais estamos hoje

programados”. Ou seja, reconhecemos como patrimônio aquilo que nos foi ensinado a 10 BRAATZ, 1979. 11 Idem.

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reconhecer como tal. No caso de Santo Ângelo, essas interpretações distintas do que se

constitui em expressão do patrimônio cultural e, portanto, é passível de preservação,

promoveu e ainda promove muitos debates acirrados, principalmente em torno do patrimônio

edificado.

Entretanto, a multiplicidade de expressões patrimoniais acaba ocupando uma posição

secundária naquilo que se pode designar como patrimônio cultural santo-angelense. Pelo

menos em relação ao discurso dominante na cidade em torno de seu passado reducional.

Durante o mês de setembro de 2011, um dos poucos exemplares de prédios do início

do século XX (FIGURA 1) que restam no município foi parcialmente demolido, o que gerou

mobilização na cidade tanto entre aqueles que reivindicam a preservação quanto daqueles que

defendem o direito de propriedade. Atualmente o espaço que era ocupado pelo prédio está

ocioso (FIGURA 2) e inviabilizado em função de questões legais provocadas pela demolição

do mesmo.

FIGURA 1: Edifício localizado na esquina das ruas Florêncio de Abreu e Antônio Manoel.

Santo Ângelo/RS12.

12 Arquivo Histórico de Santo Ângelo.

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FIGURA 2: Terreno na esquina das ruas Florêncio de Abreu e Antônio Manoel. Santo

Ângelo/RS13.

A polêmica chegou à Câmara de Vereadores do município em sessão realizada em 05

de setembro de 2011. Conforme se noticiou:

Na sessão da câmara desta segunda-feira, um grupo de santo-angelenses em nome

do recém criado “Movimento em Defesa do Patrimônio Cultural de Santo Ângelo!

Amo Minha cidade e quero sua História Viva!” fez a entrega de uma carta

reivindicando a criação de leis que protejam o patrimônio do município. “Estamos

sempre falando no orgulho de ser missioneiro, mas estamos demolindo prédios que

ajudam contar a nossa história. Nem sequer a Catedral Angelopolitana é amparada

por uma lei que a proteja”, diz Darlan Marchi representante do movimento. A

discussão chegou à Câmara depois que um prédio da esquina das ruas Florêncio de

Abreu com a Antônio Manoel começou a ser demolido. A construção, segundo

Marchi, é de 1924 e serviu de pousada no auge do transporte ferroviário e da

colonização alemã do município. 14

Em outra sessão realizada na Câmara de Vereadores de Santo Ângelo, uma semana

depois da manifestação do grupo que reivindicava a preservação dos prédios históricos, os

proprietários de alguns imóveis considerados de valor histórico para o município

acompanharam a sessão e se manifestaram com relação ao tema da preservação desses

prédios. Os proprietários foram representados por um advogado. Segundo se noticiou na

imprensa local:

13 Foto: Fernando Edgar Rieck, setembro de 2015. 14 GOMES, Juliana. Reivindicação pela proteção patrimonial chega à câmara. Disponível em:

<http://wp.clicrbs.com.br/santoangelo/2011/09/06/reivindicacao-pela-protecao-patrimonial-chega-a-camara-de-vereadores>.

Acesso em: 15.out.2011.

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Proprietários de imóveis considerados de relevância histórica e cultural em Santo

Ângelo estiveram nesta segunda-feira, 12, acompanhando a sessão ordinária da

Câmara Municipal. O advogado Nelmo Costa foi quem falou em nome dos

proprietários. Em seu pronunciamento, mostrou-se contrário à aprovação do projeto

de lei encaminhado pelo Executivo Municipal no ano de 2009 que tratava sobre a

proteção do patrimônio histórico-cultural no município.15

Recentemente, no mês de setembro de 2015, o município de Santo Ângelo, através de

sua Câmara de Vereadores, aprovou uma lei que regulamenta a preservação do patrimônio

histórico e cultural da cidade16. Porém, a aprovação desta lei não se deu de maneira unânime.

Foram anos de debates, ações na justiça e até mesmo outras votações na Câmara de

Vereadores onde se rejeitou o projeto de lei, para que finalmente fosse aprovada uma

proposta em 2015. Proprietários de prédios com valor histórico cultural se uniram para

legitimar e defender aquilo que acreditavam ser seu direito à propriedade contestando o fato

de que seus prédios teriam relevância histórica e cultural para o município e, portanto,

passíveis de serem preservados através de legislação específica.

Para tentar dar uma resposta, tanto aos proprietários dos imóveis, quanto a

movimentos sociais que atuam em defesa do patrimônio, o executivo municipal de Santo

Ângelo criou no ano de 2012 uma equipe interdisciplinar17 formada por Arquitetos e

Historiadores para que fosse realizado um novo inventário dos prédios históricos de Santo

Ângelo. O município também possui conselho do patrimônio, órgão consultivo que chegou a

realizar um inventário dos prédios que poderiam ser passíveis de preservação e que acabaram

servindo de referência para a equipe multidisciplinar que iniciou um trabalho técnico de

análise das edificações.

Após três anos de trabalho da equipe multidisciplinar o inventário dos bens imóveis

de Santo Ângelo foi concluído. De uma lista com mais de 118 prédios, 58 foram indicados

para fins de preservação. Durante o processo de realização deste inventário foram sendo

15 GOMES, Juliana. Proprietários de imóveis de relevância histórica acompanham sessão da Câmara. Disponível em:

<http://wp.clicrbs.com.br/santoangelo/2011/09/13/proprietarios-de-imoveis-derelevancia-historica-acompanham-sessao-da-

camara/>. Acesso em: 15out.2011. 16 Câmara de Vereadores de Santo Ângelo. PL que dispõe sobre a proteção do patrimônio arquitetônico, histórico e cultural

é novamente apreciado pelo Legislativo de Santo Ângelo. Disponível em: <http://www.camarasa.rs.gov.br/pl-que-dispoe-

sobre-a-protecao-do-patrimonio-arquitetonico-historico-e-cultural-e-novamente-apreciado-pelo-legislativo-de-santo-

angelo>. Acesso em: 27 set. 2015. 17 ClickRBS. Câmara aprova contratação de historiador para estudo de bens considerados patrimônio histórico. Disponível

em: <http://wp.clicrbs.com.br/santoangelo/2011/10/18/camara-aprova-contratacao-de-historiador-para-estudo-de-bens-

considerados-patrimonio-historico/>. Acesso em: 27 set. 2015.

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elaborados graus de preservação para os prédios conforme sua relevância histórica e

arquitetônica. Apesar de a condição estrutural dos prédios não ser argumento válido para a

desconsideração do bem enquanto patrimônio ou até mesmo a demolição da edificação,

levou-se em consideração o processo de descaracterização interna e externa dos imóveis.

Dessa forma, foram elaborados graus de preservação dos edifícios conforme sua relevância

histórica e arquitetônica, bem como sua caracterização e manutenção de volumetria e

fachada.

OBITUÁRIO: O DESAPARECIMENTO E DESCARACTERIZAÇÃO FÍSICA NA

PAISAGEM URBANA.

A cidade, organismo vivo, dinâmico, inevitavelmente transforma-se ao longo de sua

trajetória histórico-temporal, a partir da evolução urbana, refletindo no ambiente construído

do território ocupado.

A mudança da leitura do ambiente construído, com a substituição e/ou

descaracterização das edificações torna o espaço distinto daquele primitivo. Esta distinção

apresenta mudança na paisagem urbana, perdendo-se as referências e, também, a apropriação

do espaço pelos moradores, considerando a identidade, a memória e o imaginário coletivo.

Tais conceitos são importantes quanto a conscientização e, a necessidade, da preservação por

parte dos usuários – cidadãos e também gestores.

Esta dinâmica, transformação e conceitos estão atrelados ao patrimônio cultural, tanto

material quanto imaterial. Pelo recorte do artigo, considerando as edificações de significância

histórica, artística e cultural, tais bens culturais são classificados como imóveis, sendo esta

categoria vinculada ao patrimônio cultural material.

O obituário do patrimônio construído de Santo Ângelo, apresenta a transformação do

território, fisicamente. Para isso, considera-se o espaço, o ambiente construído, através destes

bens, como documento histórico, retratando a trajetória histórico-temporal e físico-ambiental.

Bens de tipologias e usos/funções distintos, mas referências no ambiente construído, quanto à

qualidade arquitetônica (e perda desta) e leitura do conjunto arquitetônico dos espaços, em

tecido urbano consolidado, principalmente na área/núcleo primitivo de ocupação do território.

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Por serem referência na paisagem urbana estão atreladas à identidade, memória e imaginário

coletivo da população.

O Obituário arquitetônico: Pernambuco modernista (AMORIM, 2007), trata da

questão sob a ótica da demolição e descaracterização dos exemplares significativos do

período da arquitetura moderna pernambucana; ênfase para a cidade de Recife. No caso da

pesquisa, não há recorte temporal de estilos, mas sim a inclusão de exemplares demolidos e

descaracterizados.

Conforme Amorim (2007), a perda destes exemplares é interpretada como a morte

arquitetônica, revelada em diferentes faces: a prematura, a de nascença, por vaidade, por

parasitas, por abandono e a anunciada (pela especulação imobiliária, presente fortemente em

Santo Ângelo). Neste panorama, contribui de forma decisiva para a classificação dos edifícios

em Santo Ângelo, onde revelará o que já se perdeu, o que existe (de forma descaracterizada),

e as novas edificações - transformação do espaço, com perda da identidade, memória e

imaginário coletivo, contribuindo na modificação do ambiente construído/paisagem urbana.

Assim, bens imóveis desapareceram, foram demolidos – morte arquitetônica

anunciada - e descaracterizados, a partir, principalmente, dos novos usos/funções dos

mesmos. Classificados em desaparecidos e descaracterizados, alguns exemplos (de vários)

apresentam esta modificação, refletindo no ambiente construído, na paisagem urbana -

transformação física - muitas vezes de qualidade arquitetônica duvidosa, na leitura do

conjunto (desaparecimento/descaracterização) ou do próprio bem (descaracterizado).

BENS CULTURAIS IMÓVEIS DESAPARECIDOS OU DESCARACTERIZADOS:

OS CASOS DO HOSPITAL GATZ, DO CLUBE GAÚCHO E DA FARMÁCIA

LICHT.

O Hospital Gatz, demolido em 2005, localizado na área central do município,

ocupava, no quarteirão, uma das faces, de esquina a esquina, na Rua dos Andradas.

Atualmente, do conjunto edificado, apenas o bem imóvel da esquina da rua citada com a Rua

Antunes Ribas permanece. O lote único foi parcelado, com a construção de outros edifícios

de uso e funções distintas, assim como os gabaritos, perdendo a leitura e unidade do conjunto,

na paisagem urbana/ambiente construído, pretendidos pelo antigo Hospital. Ainda, pela

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função do Hospital, este, como referência na paisagem pelos moradores. Houve a

transformação do espaço (FIGURA 3), alterado a partir da planimetria – parcelamento e

ocupação do solo.

Também se percebe a alteração de altimetria – gabarito.do novo edifício (FIGURAS 4

e 5) (uso misto – residencial e comercial), em fase de acabamento, extrapolando, e muito, o

gabarito do antigo hospital, acarretando modificação na questão da percepção do ambiente

construído, transformando a paisagem urbana. Ainda, a modificação do uso com a nova

edificação – residência multifamiliar. O uso e parcelamento do solo, contribui para a leitura

fragmentada, enquanto conjunto, arquitetura, volumetria e espacialidade. Da ocupação inicial

– Hospital Gatz, apenas resiste a, então, residência do Dr. Willy Gatz.

FIGURA 3: Lote ocupado pelo Hospital Gatz, em amarelo, até sua demolição em 2005. Em

vermelho (contorno) o atual parcelamento e ocupação do solo, com edificações de distintos

usos. Em azul (contorno) único bem remanescente do conjunto edificado – residência do Dr.

Willy Gatz18.

18 Fonte: Google Earth.

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FIGURAS 4 e 5: Diferença entre gabaritos – antigo x novo. Hospital Gatz x edifício residencial.

Alteração da paisagem urbana, fisicamente, a partir das novas massas/volumetrias propostas

pela inserção do novo edifício19.

Outra situação de bem desaparecido, porém permanecendo o mesmo uso e função,

com o novo edifício implantado no mesmo lote: o Clube Gaúcho (FIGURA 6). Implantado

no entorno imediato da Praça Pinheiro Machado – núcleo de ocupação territorial primitivo. A

figura 6 mostra a antiga sede do Clube Gaúcho, considerando a relação entre a praça e

edificações do entorno.

Figura 6: Edifício do Clube Gaúcho, construído em 1920, considerando o entorno imediato,

onde o ambiente construído apresenta homogeneidade, na leitura do conjunto, estilo e gabarito.

Na imagem à esquerda, edificações (indicadas) ainda existentes. Na imagem à direita o edifício

do Clube Gaúcho e o sobrado do Sr. Cortes (este, atualmente com novo uso)20.

19 Fonte: Figura 4 – Arquivo Histórico Municipal. Figura 5 – Fernando Edgar Rieck, setembro de 2015. 20 Fonte: Arquivo Histórico Municipal.

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A antiga sede do Clube Gaúcho, de 1920, foi demolida na década de 60, substituída

pelo atual edifício, denominado Palácio Metálico. Este, de arquitetura, volumetria e gabarito

sem nenhuma relação com o entorno imediato, considerando os bens imóveis

contemporâneos à antiga sede do clube – sobrado e Escola Estadual Onofre Pires, existentes

até hoje, como remanescentes da ocupação e conjunto pretérito. As figuras 7 e 8 mostram a

antiga sede demolida e a atual sede, respectivamente.

A Farmácia Licht (FIGURAS 9 e 10), sobrado eclético do início do século XX

apresenta uso misto: térreo com a farmácia e comércio, com espaço distinto daquela. No

pavimento superior residência. Mesmo com a caracterização do uso e função quase

primitivos, houve descaracterização no bem imóvel, com intervenções que comprometem a

leitura da edificação.

FIGURAS 7 e 8: Antiga sede e a atual do Clube Gaúcho, denominado Palácio Metálico21.

FIGURAS 9 E 10: O bem sem intervenções e prejuízos quanto à leitura de volumetria e

composição e atualmente, com intervenções reversíveis22.

21 Fonte: Figura 7 - Arquivo Histórico Municipal. Figura 8 - Fernando Edgar Rieck, setembro, 2015. 22 Fonte: Figura 9 - Arquivo Histórico Municipal. Figura 10 - Fernando Edgar Rieck, setembro, 2015.

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Tais intervenções afetam a autenticidade e integridade do bem, considerando adições

de elementos às fachadas, com materiais distintos dos primitivos, alteração nos vãos (trocas

das portas do térreo), ocasionado mudanças na composição e volumetria (intervenções de

adição). Ainda, alteração de partido arquitetônico na espacialidade interna do edifício. Placa e

toldos que comprometem, além da leitura, a autenticidade e integridade. Ainda, em função do

novo uso, para identificação, a pintura foi modificada por outra cor, no espaço onde há a

venda de loterias.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Obviamente, existem diversos outros exemplos de bens imóveis passiveis de terem

sido preservados por uma legislação especifica que regulamentasse o patrimônio cultural do

município. Porém, como já exposto anteriormente, esta lei chega apenas durante o ano de

2015. Neste pequeno ensaio não haveria espaço para realizarmos discussões mais

aprofundadas e discutir caso a caso.

A proposta do GEPPArq é socializar uma iniciativa que vem sendo amadurecida há

alguns anos, mas que agora está sendo efetivada e desenvolvida através dos editais internos

de fomento a projetos de pesquisa da URI – Campus Santo Ângelo. Envolvendo professores

dos departamentos de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e também acadêmicos do curso

de arquitetura da URI. Como apresentado, foram e são muitas as disputas e interesses nas

expressões do patrimônio cultural material e imaterial da cidade e cabe à academia promover

a pesquisa e levar ao conhecimento da população local e a quem interessar parte desta

história e memória.

A construção do Obituário, através do projeto de pesquisa do GEPPArq, traz à tona

questões relevantes. A conscientização da população enquanto entendimento à preservação

de bens culturais imóveis, sendo referências na paisagem urbana/ambiente construído,

atrelados a identidade, a memória e o imaginário coletivo. Aspectos estes, relacionados a

apropriação do espaço pelos cidadãos. A transformação do espaço - relacionada a destruição

e descaracterização destes bens, considerando as questões supracitadas, faz com que as

gerações presentes e, principalmente, às futuras, não conheçam, e se reconheçam, no

ambiente construído habitado.

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A qualidade do espaço, principalmente pela destruição (também pela

descaracterização), de núcleos primitivos de ocupação merecem respeito. Respeito este,

porque bens culturais imóveis – preexistências, enquanto documento histórico, contribuem na

trajetória de tempo histórico de formação/evolução da cidade. Cidade sem passado, sem

identidade, sem memória não tem futuro!

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