OBITUÁRIO: Joaquim de Oliveira Costa
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OBITUÁRIO: Joaquim de Oliveira Costa
O exercício de um cargo público electivo é razoavelmente semelhante a uma viagem. Pode ser curto ou longo, vibrante ou monótono, memorável ou inócuo, produtivo ou infértil, seja para o Povo que mandata ou para o Político que o exerce. Também, como noutra qualquer viagem, jamais ficamos
indiferentes aos nossos companheiros de jornada, seja por esta razão ou por aquela ou, até, como diria o poeta do Comboio Descendente, “sem ser por nada”. A qualidade da viagem depende, sem dúvidas, grandemente do valor intrínseco daqueles que connosco partilham o trajecto. Joaquim de Oliveira Costa foi um dos viajantes e companheiros de jornada, que muito enriqueceu a nossa perspectiva do mundo e das pessoas. A postura tranquila, a simplicidade do gesto e a lhaneza no trato, causava em quem tinha o privilégio de com ele privar, uma notável e duradoura impressão. Ele, que desde 1985 presidia à Junta de Freguesia de Gemunde, era a personificação da compostura e do recato. Nunca se lhe ouvia uma palavra a mais ou a menos. Usava o verbo com parcimónia, mas com raro acerto, de um modo mais apropriado a cavalheiros de outrora, e que já vai rareando nos dias de hoje. No entanto o Joaquim Oliveira Costa, calmo e pacto, mais não era do que a identidade secreta de um (super) anti-herói do quotidiano. Uma espécie de Clark Kent omnipresente, que quando necessário se transfigurava em leão feroz, verdadeiro campeão da sua dama de sempre: Gemunde. Num tempo em que na vida pública abundam os que dizem e minguam os que fazem, era admirável o seu trabalho de formiga obreira. Sempre alerta, cuidando da defesa e prosperidade da sua rainha, com evidente sucesso. Cumprindo muito além do seu dever, ele que era homem de pouco dizer e muito fazer. Em 10 Junho de 2006, um estúpido acidente, acabaria por nos privar prematuramente do seu convívio, muito antes de estar esgotada a sua viagem. A crueza dos factos e da notícia, ainda hoje, não deixa espaço para muitas palavras. Nestas alturas assalta-nos a ideia de que o Destino se entretém, morbidamente, a roubar-nos os nossos melhores. Valeu pela viagem, amigo Oliveira!
Aloísio Maia Nogueira