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WWW.BRASILENGENHARIA.COM ENGENHARIA 619 / 2014 26 Organograma divisão de estruturas coordenador: Natan Jacobsohn Levental vice-coordenador: Lúcio Martins Laginha secretário: Rafael Timerman divisão de engenharia sanitária e recursos hídricos coordenador: João Jorge da Costa vice-coordenador: Flávio Magalhães divisão de geotecnia e mecânica dos solos coordenador: Habib Georges Jarrouge Neto divisão de segurança no trabalho coordenador: Jefferson Deodoro Teixeira da Costa vice-coordenador: Theophilo Darcio Guimarães secretário: Carlos Alexandre Costa divisão de geração e transmissão coordenador: Sergio Anauate divisão de construção sustentável e meio ambiente divisão de cadastro urbano e rural coordenador: Pedro Guidara Jr. divisão de distribuição de energia coordenador: Alessio Bento Borelli departamento de tecnologia e ciências exatas diretor: Ricardo Kenzo Motomatsu vice-diretor: Laurindo Martins Junqueira Filho secretário: Sérgio Franco Rossoni diretoria de cursos diretor: Marco Antonio Gulllo vice-diretor: Luciano Corrêa Serra secretário: Luciano Gomide Giglio divisão téc. de gerenciamento de empreendimentos coordenador: Gerson Amaral Françoso vice-coordenador: Fabiano Sannino secretário: Túlio Rossetti Fernandes Miranda departamento de engenharia de produção diretor: Jerônimo Cabral Pereira Fagundes Neto vice-diretor: Miguel Tadeu Campos Morata secretário: Alexandre Rigonatti divisão técnica de qualidade e produtividade coordenador: José Carlos Muniz Falcon vice-coordenador: Ricardo Lyra secretário: Daniel Nascimento Gomes divisão técnica de avaliações e perícias coordenador: José Fiker vice-coordenador: Antonio Guilherme Menezes Braga secretária: José Marques departamento de engenharia de energia e telecomunicações diretor: Miracyr Assis Marcato secretário: Eduardo Kohn divisão técnica de manutenção industrial divisão técnica de metalurgia e materiais departamento de engenharia de atividades industriais diretor: Antonio Maria Claret Reis de Andrade secretário: Alberto Alécio Batista diretoria da revista engenharia diretor: Miguel Lotito Netto secretário: Miracyr Assis Marcato editor da revista: Ricardo Pereira de Mello departamento de arquitetura departamento de engenharia de mobilidade e logística diretor: Ivan Metran Whately vice-diretor: Neuton Sigueki Karasawa divisão de logística divisão de transportes metropolitanos coordenador: Ivan Metran Whately divisão de trânsito coordenador: Maria da Penha Pereira Nobre vice-coordenador: Claudinei Pereira dos Santos secretário: Vanderlei Coffani divisão de telecomunicações divisão de aplicações de energia coordenador: Martin Crnugelj divisão de instalações elétricas divisão de engenharia de materiais gerência de programação diretor de programação: Fernando Bertoldi Corrêa departamento de engenharia do habitat e infraestrutura diretor: Roberto Kochen vice-diretora: Dione Mari Morita secretário: Habib Georges Jarrouge Neto departamento de engenharia química vice-diretor: departamento de engenharia de agrimensura e geomática diretor: Miguel Prieto vice-diretor: Aristeu Zensaburo Nakamura secretário: Pedro Guidara Júnior vice-presidente de atividades técnicas: MIRIANA PEREIRA MARQUES presidente: CAMIL EID divisão de acústica Coordenador: Schaia Akkerman divisão de planejamento e engenharia econômica coordenador: Alfredo Eugenio Birman vice-coordenador: Eduardo Rottmann secretário: Rodolfo Boaretto Rós divisão de patologias das construções coordenador: Tito Lívio Ferreira Gomide vice-coordenador: Odair dos Santos Vinagreiro secretário: Stella Marys Della Flora divisão de informática coordenador: Pedro Badra divisão de engenharia de incêndio coordenador: Carlos Cotta Rodrigues vice-coordenador: José Félix Drigo DIVISÕES TÉCNICAS WWW.BRASILENGENHARIA.COM 26 ENGENHARIA 619 / 2014 divisão de sistemas de informação geográfica coordenador: Aristeu Zensaburo Nakamura divisão de engenharia de sistemas e inovação coordenador: Jairo de Almeida Machado Jr. Vice-Coordenador: Pedro Luiz Scarpim departamento de engenharia de agro-negócios WWW.BRASILENGENHARIA.COM ENGENHARIA 619 / 2014 27 OBRAS DE TERRAPLENAGEM: O PATINHO FEIO DA GEOTECNIA 1 – Questionamento sobre a real ne- cessidade da extensão da terraplena- gem desejada Antes de tudo, vale questionar a real necessidade da terraplenagem proposta ou, ao menos, sua extensão. Não pos- suímos no país uma cultura técnica ar- quitetônica e urbanística especialmente dirigida à ocupação de terrenos de de- clividades mais acentuadas. Isso se ve- rifica tanto nas formas espontâneas e empíricas de autoconstrução utilizadas pela população de baixa renda, como também em empreendimentos empre- sariais privados ou públicos de grande porte. Em ambos os casos prevalece in- felizmente a cultura técnica de produ- ção obsessiva de áreas planas através de extensivas operações de terraplenagem. Nesse desatino geotécnico-ambiental enormes taludes e aterros são gerados, morros são removidos para fundos de vale, sempre no simplório objetivo de adequar a natureza às disposições de projetos arquitetônicos preguiçosos e pouco inspirados. Certamente, dentro do espírito de uma maior criatividade arquitetônica, uma preocupação de melhor adequação do projeto às condições locais de relevo resultará em reduções substanciais da terraplenagem necessária e, na mesma proporção, dos problemas a ela associa- dos. Como um bom exemplo, um dos expedientes arquitetônicos que melhor se prestam a esse esforço criativo são as lajes armadas lançadas sobre pilotis. Ou lotes e empreendimentos que tenham sua maior extensão longitudinal assen- ela desatenção técnica com que são comumen- te executadas as obras de terraplenagem (cortes/ aterros) podem ser consi- deradas o “patinho feio” da geotecnia brasileira. Salvo no caso de grandes barragens de terra, onde fortes exi- gências técnicas estão já classicamente consagradas, a terraplenagem é costu- meiramente considerada o serviço ini- cial “sujo” e tecnologicamente nada nobre, a ser realizado normalmente por terceiros, serviço ao qual não importa dar muita atenção, e com o qual não cabe ter muita preocupação além das prévias e burocráticas definições de alguns ângulos de talude e alguns cri- térios de compactação, quando muito. E quase sempre na prática deixado à responsabilidade de nossos destemidos e intrépidos operadores de maquinário pesado. Resultado comum desse descaso são os variados problemas normal- mente colhidos: os prazos e custos estourados, serviços técnicos pessima- mente conduzidos, presentes e futu- ros problemas com recalques de ater- ros, estabilidade de taludes, processos erosivos, assoreamento de drenagens, destruição de componentes de drena- gem, de sistemas de proteção super- ficial e de serviços de infraestrutura, acidentes e incidentes com obras vizi- nhas, risco de multas e embargos por crimes ambientais etc. etc. Está mais do que em tempo da ge- otecnia brasileira dar um basta na ir- responsabilidade técnica com que vem sendo conduzidos os serviços de terra- plenagem no país. A sociedade, os con- tratantes públicos e privados de obras, e a própria imagem tecnológica da geo- tecnia nacional merecem e cobram esse esforço. Tem este artigo a expectativa de dar alguma colaboração a esse objetivo. Para uma boa e segura condução de serviços de terraplenagem há que se adotar um protocolo mínimo de ações que pode assim ser resumido: ÁLVARO RODRIGUES DOS SANTOS* tada paralelamente às curvas de nível. 2 – Localização e compartimentação ge- otécnica das áreas de empréstimo; pla- nejamento da movimentação de terra Pode-se dizer que essa ação é de primordial importância para obras de terraplenagem que envolvem cortes e aterros, e, por incrível que possa parecer, dentro das ações listadas, a mais comu- mente desconsiderada. Como ponto de partida importante entender que os materiais naturais de corte não são homogêneos, apresen- tam sensíveis diferenciações em sua constituição geo-pedológica e em seu comportamento geotécnico em de- pendência de sua profundidade. Da mesma forma, um aterro constitui-se de diferentes setores, sendo que cada setor exige uma performance geo- técnica diferenciada: núcleo, saias, camadas finais. Como suportará me- nores cargas as especificações téc- nicas destinadas às camadas compo- nentes do núcleo do aterro, poderão ser mais liberais, garantindo funda- mentalmente que esse setor não sofra rupturas ou redução de volume (e no caso de barramentos, apresentem boa estanqueidade). Já no caso das cama- das finais, que suportarão as cargas estáticas e/ou dinâmicas diretas im- postas ao pavimento, as especifica- ções técnicas são bem mais exigentes, garantindo, além da não redução de volume, que essas camadas não so- fram deformações elásticas ou plásti- cas localizadas. Figura 1 - Compartimentos essenciais de um aterro

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divisão de sistemas de informação geográficacoordenador: Aristeu Zensaburo Nakamura

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OBRAS DE TERRAPLENAGEM:O PATINHO FEIO DA GEOTECNIA

1 – Questionamento sobre a real ne-cessidade da extensão da terraplena-gem desejada

Antes de tudo, vale questionar a real necessidade da terraplenagem proposta ou, ao menos, sua extensão. Não pos-suímos no país uma cultura técnica ar-quitetônica e urbanística especialmente dirigida à ocupação de terrenos de de-clividades mais acentuadas. Isso se ve-rifica tanto nas formas espontâneas e empíricas de autoconstrução utilizadas pela população de baixa renda, como também em empreendimentos empre-sariais privados ou públicos de grande porte. Em ambos os casos prevalece in-felizmente a cultura técnica de produ-ção obsessiva de áreas planas através de extensivas operações de terraplenagem. Nesse desatino geotécnico-ambiental enormes taludes e aterros são gerados, morros são removidos para fundos de vale, sempre no simplório objetivo de adequar a natureza às disposições de projetos arquitetônicos preguiçosos e pouco inspirados.

Certamente, dentro do espírito de uma maior criatividade arquitetônica, uma preocupação de melhor adequação do projeto às condições locais de relevo resultará em reduções substanciais da terraplenagem necessária e, na mesma proporção, dos problemas a ela associa-dos. Como um bom exemplo, um dos expedientes arquitetônicos que melhor se prestam a esse esforço criativo são as lajes armadas lançadas sobre pilotis. Ou lotes e empreendimentos que tenham sua maior extensão longitudinal assen-

ela desatenção técnica com que são comumen-te executadas as obras de terraplenagem (cortes/aterros) podem ser consi-

deradas o “patinho feio” da geotecnia brasileira. Salvo no caso de grandes barragens de terra, onde fortes exi-gências técnicas estão já classicamente consagradas, a terraplenagem é costu-meiramente considerada o serviço ini-cial “sujo” e tecnologicamente nada nobre, a ser realizado normalmente por terceiros, serviço ao qual não importa dar muita atenção, e com o qual não cabe ter muita preocupação além das prévias e burocráticas definições de alguns ângulos de talude e alguns cri-térios de compactação, quando muito. E quase sempre na prática deixado à responsabilidade de nossos destemidos e intrépidos operadores de maquinário pesado.

Resultado comum desse descaso são os variados problemas normal-mente colhidos: os prazos e custos estourados, serviços técnicos pessima-mente conduzidos, presentes e futu-ros problemas com recalques de ater-ros, estabilidade de taludes, processos erosivos, assoreamento de drenagens, destruição de componentes de drena-gem, de sistemas de proteção super-ficial e de serviços de infraestrutura, acidentes e incidentes com obras vizi-nhas, risco de multas e embargos por crimes ambientais etc. etc.

Está mais do que em tempo da ge-otecnia brasileira dar um basta na ir-responsabilidade técnica com que vem sendo conduzidos os serviços de terra-plenagem no país. A sociedade, os con-tratantes públicos e privados de obras, e a própria imagem tecnológica da geo-tecnia nacional merecem e cobram esse esforço. Tem este artigo a expectativa de dar alguma colaboração a esse objetivo.

Para uma boa e segura condução de serviços de terraplenagem há que se adotar um protocolo mínimo de ações que pode assim ser resumido:

ÁLVARO RODRIGUES DOS SANTOS*

tada paralelamente às curvas de nível.

2 – Localização e compartimentação ge-otécnica das áreas de empréstimo; pla-nejamento da movimentação de terra

Pode-se dizer que essa ação é de primordial importância para obras de terraplenagem que envolvem cortes e aterros, e, por incrível que possa parecer, dentro das ações listadas, a mais comu-mente desconsiderada.

Como ponto de partida importante entender que os materiais naturais de corte não são homogêneos, apresen-tam sensíveis diferenciações em sua constituição geo-pedológica e em seu comportamento geotécnico em de-pendência de sua profundidade. Da mesma forma, um aterro constitui-se de diferentes setores, sendo que cada setor exige uma performance geo-técnica diferenciada: núcleo, saias, camadas finais. Como suportará me-nores cargas as especif icações téc-nicas destinadas às camadas compo-nentes do núcleo do aterro, poderão ser mais liberais, garantindo funda-mentalmente que esse setor não sofra rupturas ou redução de volume (e no caso de barramentos, apresentem boa estanqueidade). Já no caso das cama-das finais, que suportarão as cargas estáticas e/ou dinâmicas diretas im-postas ao pavimento, as especif ica-ções técnicas são bem mais exigentes, garantindo, além da não redução de volume, que essas camadas não so-fram deformações elásticas ou plásti-cas localizadas.

Figura 1 - Compartimentos essenciais de um aterro

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Combinar inteligentemente as rela-ções entre as diferentes matérias de corte das áreas de empréstimo com seus dife-rentes destinos na constituição do aterro é o objetivo focal dessa ação (figura 1).

Em nosso ambiente climático tropical e subtropical, à exceção de relevos serra-nos e ambientes áridos, os solos alcançam grande profundidade, normalmente na or-dem de dezenas de metros. Os geólogos de engenharia e os agrônomos usam termos diferentes para classificar os diferentes estratos de solos. Os primeiros adotam a seguinte série para o que denominam de camadas: solo orgânico (camada super-ficial dessimétrica rica em matéria orgâ-nica); solo superficial, solo laterizado ou solo residual maduro (camada bastante afetada pelo intemperismo e pelos pro-cessos de laterização e pedogênese, cuja espessura varia de 0,5 m a alguns metros, normalmente mais argilosa); solo residual jovem, saprolítico ou solo de alteração de rocha (camada de solo com minerais já em razoável estágio de alteração físico-química, mas que guarda várias feições herdadas da rocha original, com espessu-ras extremamente variáveis, desde poucos metros até dezenas de metros, geralmente de matriz silto-arenosa); finalmente, o sa-prolito propriamente dito ou rocha altera-da mole/rocha alterada dura e a rocha sã. Já os agrônomos, que ao invés de cama-da usam o termo horizonte, classificam a mesma sequência com as seguintes deno-minações: horizonte A, horizonte B, ho-rizonte C e rocha, agregando às proprie-dades descritas características próprias do comportamento agronômico destes solos.

As diferentes composições minera-lógicas e granulométricas, como os di-versos estágios de cimentação primária e secundária entre os grãos desses di-ferentes estratos de solo, definem suas diferentes características geotécnicas, pelo que responderão diversamente

sob trabalhos de compactação. Preva-lecem fortemente no contexto brasilei-ro as situações fisiográficas em que os solos superficiais laterizados, por seu melhor comportamento geotécnico sob compactação, devem ser reserva-dos às camadas finais dos aterros. Os solos residuais jovens (solos saprolí-ticos), mesmo não respondendo tão bem frente à compactação, podem ser utilizados no núcleo do aterro. Por sua privilegiada condição agronômica, os solos orgânicos prestam-se à cobertu-ra final das saias de aterro e superfí-cies de corte. Materiais do saprolito/rocha alterada, desde que facilmente escaváveis poderão ser aplicados no preparo das fundações dos aterros, na proteção posterior de faces de barra-mentos que estarão sujeitas ao embate de ondas (rip-rap), na composição de sistemas filtrantes subterrâneos, na execução de obras de contenção even-tualmente necessárias.

Depreende-se, pois, a importância da primeira etapa do planejamento de uma obra de terraplenagem: a investigação dos diferentes tipos de solos e materiais pre-sentes nas áreas de empréstimo, sua per-feita caracterização geotécnica enquanto material a ser utilizado na execução dos aterros, sua cubagem (determinação dos volumes disponíveis) e a programação de sua destinação final (figuras 2 e 3).

3 – Definição dos ângulos de cortes e de saia de aterros

Esse tem sido outro campo fértil para a burocracia técnica e para o em-pirismo descompromissado. Convive-se comumente com decisões de criar ta-ludes com altura e inclinação temerá-rias do ponto de vista da estabilidade geotécnica, como recurso de aumen-tar a extensão de áreas planas, como também com orientações para adoção

de inclinações padronizadas (1v:1,5h, 1v:1h, 1,5v:1h...) atendendo costumes estabelecidos, simpatias maiores ou menores, mas sempre independente-mente de fatores geológicos e geotéc-nicos envolvidos.

Sabemos que a estabilidade de ta-ludes de corte em solos depende fun-damentalmente dos parâmetros de resistência desse solo, do tipo e posicio-namento geométrico de suas estruturas geológicas e petrográficas reliquiares (quase sempre resultando em planos de fraqueza), da posição e movimentação do NA, de eventuais cargas sobrepostas etc. Uma análise integrada de todas es-sas variáveis é indispensável para a defi-nição dos ângulos finais de corte, como também para a decisão de se trabalhar com obras de contenção ou não.

Para saias de aterros as variáveis geotécnicas são mais reduzidas e a de-finição final de sua inclinação de mais prática determinação.

Importante lembrar que tanto para cortes como para aterros a inclinação final dos taludes deve também levar em con-ta, consideradas sua altura e extensão, a praticabilidade de uma eventual opção por cobertura vegetal. Da mesma forma, a fi-xação das alturas máximas de taludes de corte e aterro e de seu bermamento inter-mediário também devem levar em conta as dimensões e densidade do sistema de drenagem superficial a ser implantado.

Figura 2 - Perfil esquemático dos solos tropicais

Figura 3 - Nítida diferenciação entre os solos superficiais laterizados e os solos residuais saprolíticos mais profundos

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4 – Estipulação e implementação das medidas de controle da erosão e de con-tenção de taludes. Planejamento geo-técnico da progressão da terraplenagem

Os processos erosivos, intensos e destrutivos, tem sido uma constante em nossas obras de terraplenagem. Na prática, absurdamente esses processos já são tidos como ingredientes naturais e compulsórios de uma obra de terraple-nagem. Os prejuízos para a própria obra e os prejuízos para vizinhos e sociedade advindos do assoreamento das drena-gens da região são por demais graves para que se tenha essa atitude tão le-niente para com a erosão.

Ainda que não tão comuns como a erosão, os casos de ruptura de taludes também ocorrem com razoável frequên-cia, incluindo entre suas decorrências acidentes de alta gravidade, como o comprometimento estrutural de empre-endimentos vizinhos e a morte de ope-rários por soterramento.

Hoje há todo um ferramental tecno-lógico e metodológico que permite per-feitamente que obras de terraplenagem

trabalhem com programas erosão zero e rupturas zero. Se não for por respeito à boa técnica que seja por um raciocínio financeiro simples que devam ser plena-mente adotados. Relacionamos absixo os principais cuidados constituintes desses programas.a) Definir inclinações de taludes tendo por base análises geológicas e geotéc-nicas locais.b) Adotar o método progressivo de es-tabilidade de taludes e proteção de suas superfícies contra a erosão. Vale dizer que a cada degrau topográfico gerado pela terraplenagem, de imediato deverão ser aplicadas medidas de estabilização e proteção contra a erosão nos taludes produzidos, mesmo que de caráter pro-visório. E assim progressivamente, de tal forma que quando a terraplenagem chegar à sua cota de conclusão todos os taludes estarão devidamente protegi-dos e estáveis desde há muito. Técnicas como a Cal-Jet, pulverização de calda de cal sobre o talude, de fácil aplicação e custos reduzidos, são indicadas como medidas de proteção provisória.

c) Com o mesmo objetivo e abordagem, im-plantar e manter funcional sistema de dre-nagem, mesmo que de caráter provisório.d) Sobrepor o cronograma da terraple-nagem com o cronograma da implanta-ção do empreendimento, de forma que a terraplenagem vá liberando sequencial-mente setores já acabados para receber as obras estruturais definitivas. Com esse expediente se reduzirá em muito o tempo de exposição das superfícies de solo aos agentes erosivos.e) Programar a terraplenagem para o período anual de mais baixa carga plu-viométrica.

* Álvaro Rodrigues dos Santos é geólogo, foi diretor de Planejamento e Gestão do IPT e da Divisão de Geologia; consultor em Geologia de Engenharia, Geotecnia e Meio Ambiente; criador da técnica Cal-Jet de proteção de solos contra a erosão; diretor-presidente da ARS Geologia Ltda.; autor dos livros Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática; A Grande Barreira da Serra do Mar; Diálogos Geológicos; Cubatão; e Enchentes e Deslizamentos: Causas e SoluçõesE-mail: [email protected]

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