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O Brasil e os demais BRICs Comrcio e Poltica

Comisso Econmica para a Amrica Latina e o Caribe CEPAL, 2010 Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada IPEA, 2010 Criao de capa, editorao eletrnica e impresso: Estao Grfica ltda Reviso: Cndida Cardoso Campos Guth e Thays Almeida Lacerda Tiragem: 2000 exemplares

Baumann, Renato, org. O Brasil e os demais BRICs Comrcio e Poltica. Braslia, DF: CEPAL. Escritrio no Brasil/IPEA, 2010. 180p. ISBN 85-781-1046-3 1. BRICs 2. Relaes econmicas internacionais 3. Comrcio internacional 4. Pases emergentes 5. Brasil 6. Rssia 7. ndia 8. China I. Comisso Econmica para a Amrica Latina e o Caribe. CEPAL II. Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada. IPEA III. Ttulo CDD: 382.1

Este trabalho foi realizado no mbito do Convnio CEPAL-IPEA. As opinies emitidas nesta publicao so de exclusiva e de inteira responsabilidade dos autores, no exprimindo, necessariamente, o ponto de vista da CEPAL e do IPEA. permitida a reproduo deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte. A presente publicao encontra-se disponvel para dowload em http://www.cepal.org/Brasil

SumrioIntroduo............................................................................................ 5 As Relaes Comerciais do Brasil com os demais BRICs..................... 9Renato Baumann, Raquel Araujo e Jhonatan Ferreira

A competitividade do Brasil e da China no mercado norte-americano: 2000-2008........................................... 47Marina Filgueiras e Honorio Kume

Abertura comercial e Insero internacional: os casos do Brasil, China e ndia........................................................ 61Jos Tavares de Araujo Jr. e Katarina Pereira da Costa

A insero no comrcio internacional do Brasil, da ndia e da China (BIC): notas acerca do comrcio exterior e poltica comercial................................................ 79Ivan Tiago Machado Oliveira, Rodrigo Pimentel Ferreira Leo e Emlio Chernavsky

China na Amrica Latina: uma anlise da perspectiva dos investimentos diretos estrangeiros....................... 109Mrcio Holland e Fernando Barbi

O Bric e a substituio de hegemonias: um exerccio analtico (perspectiva histrico-diplomtica sobre a emergncia de um novo cenrio global)............................................................... 131Paulo Roberto de Almeida

Brasil e polos emergentes do poder mundial: Rssia, ndia, China e frica do Sul.................................................. 155Maria Regina Soares de Lima e IUPERJ

IntroduoA sigla BRIC tem trajetria peculiar. Um jogo de letras a partir dos nomes (e de algumas de suas caractersticas) de um grupo de pases transformou-se gradualmente em elemento de anlise, com interesse no apenas acadmico, mas tambm no mbito da poltica internacional. Por analogia construo de uma casa a partir do telhado (o que menos incomum do que possa parecer), tambm os pases participantes (Brasil, Rssia, ndia e China) tm feito esforos para encontrar denominadores comuns, possveis complementaridades e possibilidades de atuao conjunta. Este provavelmente um caso sem precedente histrico, no qual um acrnimo convertido em motivao expressiva de esforos diplomticos e de iniciativas comerciais. Em um momento em que h a percepo generalizada da necessidade de adequao da arquitetura institucional multilateral s novas condicionantes econmicas e polticas; quando os foros tradicionais de deciso se veem na contingncia de incluir membros deste grupo de pases, por razes que saltam aos olhos em relao importncia que eles vm adquirindo na economia mundial; quando se registra crescente multiplicidade de acordos preferenciais bilaterais, com o risco de provocar desvio de comrcio e, ao mesmo tempo, se observa a intensificao do regionalismo em algumas partes do mundo, o debate a respeito do papel que poderia desempenhar a soma de quatro economias emergentes de razoveis dimenses ganha importncia crescente na agenda. Portanto, o tema suscita efeitos no mbito das relaes entre os quatro pases e implicaes em termos de governana internacional. Como na descrio de grandes animais, h razovel convergncia de percepes em relao ao impacto que isoladamente podem causar ao ritmo dos seus movimentos e ao que poderia, potencialmente, representar a soma de foras de cada um deles. No entanto, h, em geral, menos conhecimento quanto s peculiaridades individuais, s caractersticas e probabilidade de atuao conjunta. E como na viso de grandes animais, tem-se pouco conhecimento das necessidades, dos hbitos e de como eles podem ser compatibilizados em forma conjunta. Isto verdade tambm no tocante s relaes bilaterais e no que se refere identificao de interesses comuns que possam motivar convergncia de posies negociadoras em foros multilaterais. Do ponto de vista de um dos pases includos na sigla, no caso presente o Brasil, isto gera a necessidade de no apenas aumentar o grau de conhecimento acerca deste conjunto de pases, como, sobretudo, de vislumbrar o que poderiam ser oportunidades e desafios embutidos na aproximao com esses parceiros. Este volume est organizado com a perspectiva de discutir as peculiaridades de cada pas e da comparao com o caso brasileiro no mbito comercial, e de avaliar as possibilidades de aes conjuntas dos quatro pases no cenrio internacional. O trabalho de Baumann, Araujo e Fonseca traz anlise das estruturas comerciais desses pases. O texto mostra que h diferenas expressivas entre os quatro pases em termos de dimenses demogrficas, ritmo de crescimento da produo, participao na produo e no comrcio mundiais, no grau de abertura comercial das economias, do valor adicionado por setores, na gerao de poupana e ritmo de investimento, assim como na poltica cambial. So, portanto, quatro realidades razoavelmente distintas. 5

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Em que pesem essas consideraes, no entanto, nos ltimos anos tem aumentado de forma expressiva a presena dos trs pases no comrcio externo brasileiro, levando mesmo a deficits comerciais recorrentes com a China e a ndia. Essa presena distinta no que se refere composio e diversidade de exportaes e de importaes. No caso da ndia e da Rssia o comrcio bilateral com o Brasil tem peculiaridades que o distingue do comrcio global desses pases. J a China tem presena cada vez mais forte e, diferena dos outros dois pases, o comrcio com o Brasil bastante semelhante ao seu padro global, o que sugere que os resultados bilaterais so mais fruto do diferencial de competitividade que estratgia peculiar orientada a mercados especficos. O trabalho mostra que o grau de similaridade das pautas de comrcio do Brasil e desses trs pases baixssimo, e que a participao brasileira no comrcio com esses parceiros tem forte componente de produtos menos elaborados. A anlise de vantagens comparativas tambm mostrou situaes bastante distintas, com ganhos por parte do Brasil e da ndia, mas fortemente superados por parte da China. O caso da Rssia , neste sentido, peculiar, como o pas membro desse grupo com mais indicadores negativos. Por ltimo, um exerccio de identificao de ganhos e de perdas de participao em diversos mercados, mostrou que os exportadores brasileiros deslocaram alguns produtos dos trs pases. No entanto, as perdas para esses parceiros China em particular tm sido consideravelmente mais expressivas. interessante notar que boa parte da competitividade do Brasil em relao ndia e Rssia est concentrada na Amrica Latina, como seria de se esperar. No entanto, precisamente a que o pas tem perdido mercado de maneira mais expressiva para a concorrncia chinesa. Isso traz considerao a necessidade de se conhecer com mais preciso o que ocorre na concorrncia comercial entre o Brasil e a China em terceiros mercados. O trabalho de Filgueiras e Kume trata precisamente disso; da anlise do comrcio do Brasil e da China com os Estados Unidos, na presente dcada. D nfase aos indicadores de similaridade, de qualidade e de variedade de produtos exportados por esses pases. Filgueiras e Kume mostram que houve, como sabido, aumento no nmero de produtos exportados pelos dois pases para os EUA, com a peculiaridade de que a China passou a exportar produtos que antes apenas o Brasil vendia aos EUA. Como consequncia, o Brasil abandonou diversas posies comerciais, e hoje, a imagem mais conhecida a da perda de participao naquele mercado, por deslocamento provocado pela concorrncia chinesa. No entanto, mostram tambm que ao se considerar a qualidade dos produtos comercializados, a excelncia das exportaes brasileiras para os EUA superior dos produtos chineses. Tem-se, ento, um cenrio no qual a China tem pauta comercial bastante diversificada, ao mesmo tempo em que os produtores brasileiros tm se concentrado em nichos de mercado mais especficos, como em um processo de ciclo de produto, no qual a produo brasileira tivesse podido graduar-se em termos de qualidade, em comparao com a estratgia mais massificada por parte dos exportadores chineses, embora perdendo oportunidades comerciais, ao se considerar o volume total de comrcio. A diferena de trajetria demanda considerao adicional no tocante s polticas cambial e comercial dos pases. Esta dimenso considerada, neste volume, em dois captulos. Em ambos, a dificuldade de conseguir informaes relativas Rssia limitou o escopo anlise comparativa entre Brasil, China e ndia. 6

No artigo de Tavares e Costa eles analisam as polticas cambiais e comerciais do Brasil, da China e da ndia, e encontram, como ponto comum, a gradual liberalizao das respectivas legislaes cambiais. Tanto o aumento do grau de conversibilidade das moedas nacionais quanto a preservao de sua estabilidade desempenharam claramente um papel importante. No entanto, chama a ateno as reformas terem tido, nos trs pases, resultados bastante distintos. Tavares e Costa alertam para o fato de que boa parte das diferenas entre os resultados dos pases deriva da evoluo desigual dos custos de informao e de transporte, que levou redefinio dos padres de competio entre setores produtivos. Houve estmulo ao aumento de transaes do tipo intra-industrial, sobretudo entre pases vizinhos, o que ampliou o nmero de empresas que passaram a competir em carter global, mas a partir de estruturas produtivas integradas ao nvel regional. Tavares e Costa analisam as estruturas de proteo nos trs pases no tocante a produtos intermedirios, que por definio tm efeitos sobre a competitividade de todo o sistema produtivo. Mostram que no Brasil a proteo a esses setores crescente ao longo das cadeias produtivas, o que reduz a competitividade industrial em seu conjunto, chegando mesmo a afirmar que, independentemente do nvel da taxa real de cmbio, o peso dos produtos intermedirios nos custos dos bens finais no pas ser sempre superior aos observados na China e na ndia. O outro captulo no qual se estudam as polticas comerciais de Brasil, China e ndia o de Oliveira,Leo e Chernavsky. Os autores se concentram nas estruturas de proteo comercial nos trs pases e encontram, em primeiro lugar, que a China tem sido mais ousada em seu processo de abertura comercial multilateral. O texto traz descrio razoavelmente detalhada dos principais passos adotados pas a pas no processo de abertura comercial. A China, avanando em estgios graduais e crescentemente voltados para o estmulo exportao de produtos intensivos em tecnologia. A ndia, com mudanas graduais em setores especficos, com quebra de monoplio estatal, reduo de controles sobre exportaes e de barreiras no-tarifrias. O Brasil, como sabido, com a eliminao das barreiras no-tarifrias, a acelerao do cronograma de reduo das tarifas e a adoo antecipada da Tarifa Externa Comum do Mercosul. A anlise mostrou que existem diferenas importantes nos enfoques e nas estratgias adotadas pelos trs pases, com a China dirigindo as atividades comerciais para o setor exportador de tecnologia de ponta, enquanto o Brasil e a ndia adotaram reformas comerciais basicamente restritas abertura da economia. O desempenho comercial da China e a poltica que adota em relao ao setor externo, tem permitido ao pas acumular volume expressivo de reservas de divisas. Diversos pases tm adotado polticas amigveis com aquele pas na expectativa de que essa disponibilidade de recursos possa vir a materializar-se em investimentos chineses em suas economias. Isso o que motiva Holland a analisar, no Captulo seguinte, os investimentos diretos chineses na Amrica Latina. A China , conforme se sabe, mais expressiva como receptora de investimentos externos diretos que como investidora no exterior. De acordo com Holland, o investimento chins tpico de baixo valor (tera parte dos investimentos externos diretos da China inferior a US$ 5 milhes), e tipicamente concentrado na compra de participaes em empresas j existentes. Os pases da regio mais aquinhoados com investimentos chineses so o Brasil, a Venezuela, o Chile, o Equador e o Mxico, e o volume de recursos investidos tem crescido em forma expressiva desde o ano 2000. 7

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Para Holland, no h lgica nica que guie esses investimentos. possvel associar o fluxo de recursos com razes to variadas como a busca de acesso a fontes de recursos naturais quanto estratgia para escapar de barreiras comerciais e busca de competitividade. Esse conjunto de evidncias indicativo da variedade de situaes e de propsitos entre os quatro pases do grupo BRIC. Resta saber at que ponto eles podem contar com um amlgama suficiente para constituir unidade identificvel no cenrio internacional, atuando de forma conjunta nos principais foros. Esse o tema dos dois textos que compem a segunda parte do livro. O captulo de Almeida enfatiza o fato de que a acumulao de poder econmico, capacidade militar e inovao tecnolgica desses pases suficientemente expressivo para fazer pender o eixo das relaes internacionais em direo distinta da experimentada at aqui. No entanto, no seguro que formem um grupo unificado de pases com harmonia de propsitos. O BRIC no uma entidade formal existente, mas notvel que passos importantes tenham sido dados nesta direo, sendo o mais significativo as reunies peridicas dos chefes de Estado desses pases. O conjunto dos quatro pases tem semelhanas e diferenas importantes, quando se trata de analisar seu potencial no cenrio internacional: nenhum deles possui moeda conversvel, dois desses pases (Brasil e Rssia) so grandes fornecedores de matrias-primas, h diferenas no grau de desenvolvimento capitalista entre eles, assim como no tocante s liberdades democrticas e, dos quatro, apenas o Brasil no potncia nuclear. Esses e outros elementos fazem com que cada um desses quatro pases tenha razes particulares para se opor atual ordem mundial, mas isso no significa que haja, necessariamente, uma convergncia entre os quatro que os permita atuar de forma homognea. O captulo de Soares de Lima mostra que os pases chamados emergentes tm estratgias internacionais peculiares. Com frequncia eles apresentam dificuldades em compatibilizar os interesses e as agendas globais e regionais. No caso dos BRICs h diferenas no grau de dependncia do comrcio externo para seu dinamismo, assim como esses pases diferem em termos de participao em organismos internacionais. Isso por si s dificulta a articulao e a coordenao internacional conjunta. H claras diferenas manifestas no mbito da Organizao Mundial do Comrcio, nos debates sobre a matriz energtica e nas posies no G-20 financeiro. Em todo caso, h alguma similitude e convergncia talvez mais pronunciada na rea dos interesses em disciplina financeira. No mais, e desde uma perspectiva brasileira, o fato de o pas no ter arsenal atmico nem assento permanente no Conselho de Segurana das Naes Unidas faz com que seja, possivelmente, aquele que tenha mais a ganhar com a formalizao do grupo. Este volume mais uma iniciativa do Convnio entre a CEPAL e o IPEA traz, portanto, expressivas informaes sistematizadas e anlise sobre aspectos variados. A expectativa dos organizadores e dos autores de que ele contribua para ampliar o conhecimento sobre essas realidades distintas e, com isso, possa contribuir para o desenho de estratgias negociadoras.

Renato Baumann8

As relaes comerciais do Brasil com os demais BRICsRenato Baumann* Raquel Araujo** Jhonatan Ferreira

1 - IntroduoEste artigo analisa as relaes comerciais entre o Brasil e outras economias que tm se destacado nos ltimos anos por seu potencial, e por seu crescente papel no cenrio internacional. O reconhecimento do peso econmico especfico das economias do Brasil, Rssia, ndia e China levou a que fosse cunhada a expresso BRIC, como forma de identificar esse conjunto de novos grandes participantes. Conhecer as caractersticas dos vnculos comerciais do Brasil com essas economias o que motivou o presente projeto. O acrnimo BRICs, usado originalmente para identificar economias emergentes com grandes dimenses geogrfica e demogrfica, tem se convertido na prtica numa categoria de anlise11. Esses pases passaram a ser considerados no mais apenas como outros pases em desenvolvimento, mas como candidatos a desempenhar papel de crescente importncia no cenrio mundial. A mudana de perspectiva no apenas uma questo de semntica. O desempenho recente dessas economias e seus indicadores macroeconmicos contriburam para considerao mais cuidadosa de suas possibilidades. Grandes mercados internos aumentam a chance de obter exportaes viabilizadas pelo crescimento, mais que um crescimento liderado por exportaes, o que implica maiores espaos para um papel ativo nas relaes internacionais. Infere-se, a partir disso, que espervel que um pas exitoso no conjunto dos BRICs deva ter capacidade produtiva ampla (agrcola, industrial e de servios) que corresponda a seu potencial econmico, apresente economia relativamente estvel e perfil no muito baixo no cenrio internacional. Essas so as condies que qualificam esses pases para que possam participar dos grupos internacionais de alto nvel decisrio. Este trabalho analisa as relaes econmicas do Brasil com esses quatro pases, com nfase na apreciao dos fluxos de comrcio entre eles. O texto est composto por oito sees. Seguindo esta Introduo, a segunda seo apresenta as caractersticas gerais das economias desses pases, seguida pela seo que mostra as particularidades das relaes comerciais bilaterais. A quarta seo faz a anlise comparativa das pautas comerciais. A quinta seo discute os indicadores de similaridade na composio das pautas comerciais, e a sexta mostra as indicaes de vantagens comparativas e sua concentrao* Da CEPAL e Universidade de Braslia. ** Raquel Araujo e Jhonatan Ferreira so consultores contratados pela CEPAL para a elaborao deste projeto. 1 A expresso original nascida de um documento do Banco de Investimentos Goldman Sachs em 2003 se refere a Brasil, Rssia, ndia e China. Isso deu margem ao debate a respeito de quais pases tambm poderiam participar desse grupo. Os candidatos mais referidos so Egito, Mxico, Polnia, frica do Sul, Coreia do Sul e Turquia.

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setorial. A stima seo mostra estimativas dos desvios de comrcio provocados pelos demais BRICs e que afetam as exportaes brasileiras em diversos mercados; a ltima seo traz algumas consideraes gerais.

2 - Caracterizao dos BRICsO grupo de pases denominado BRICs tem diferenciado e crescente peso no cenrio internacional por suas economias apresentarem algumas peculiaridades, seja por seu tamanho, seja por seu dinamismo. Esta seo mostra alguns indica dores gerais neste sentido. A Tabela 1 mostra que esse conjunto de pases representava em 2008 42% da populao total do mundo. O peso demogrfico , no entanto, bastante variado, com apenas a China e a ndia correspondendo em conjunto a 37% da populao mundial. Tabela 1 Populao (milhes de habitantes) em 2008 Nmero de Nmero de (% do Total do Habitantes Habitantes Mundo) Brasil 192 2,9 Rssia ndia China BRICS Total 142 1140 1326 2800 2,1 17,0 19,8 41,8

Fonte: Elaborao prpria com base nos dados do World Development Indicators WDI.

Essas unidades so igualmente de grandes dimenses geogrficas. Segundo a Tabela 2, ao menos trs desses pases tm rea superior a 8 milhes de quilmetros quadrados. Tabela 2 rea geogrfica (milhes de km2) Brasil China ndia RssiaFonte: World Bank, World Development Indicators WDI.

8,5 9,6 3,3 17,1

Evidentemente que ao se comparar os nmeros das duas Tabelas, um aspecto que fica claro a diferena em termos de densidade demogrfica (habitantes por quilmetro quadrado). Enquanto na ndia a proporo de 345 habitantes/km2, na China so 138 h/km2, no Brasil 22,6 h/km2 e na Rssia no mais de 8 h/km2. Essa concentrao pode ter implicaes sobre o aparato produtivo, seja do ponto de vista do custo da mo de obra, seja da tica dos estmulos de demanda, por parte de grandes aglomeraes humanas. Essas economias tm mostrado grau de dinamismo expressivo, embora variado. A Tabela 3 mostra que no acumulado do perodo 1990-2008 se a economia chinesa cresceu em mdia acima dos 10

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10% anuais, na Rssia a taxa mdia de crescimento no atingiu um dcimo da chinesa, em razo da recesso observada na dcada de 1990, com o final da Unio Sovitica. O Brasil teve desempenho baixo comparativamente a outros BRICs. No acumulado do perodo entre 1990 e 2008 o ritmo de crescimento da ndia foi mais de duas vezes, e o da China mais de trs vezes superior ao crescimento brasileiro. Tabela 3 Taxa mdia real anual (%) de crescimento do PIB (valores constantes de 2000) 1995-1999 2000-2008 1990-2008 Nmero de 1990-1994 1,4 4,1 3,0 Brasil 2,7 Rssia ndia China -10,3 4,5 12,6 -0,4 6,3 8,7 7,7 8,7 11,7 0,7 6,4 10,3

Fonte: Elaborao prpria com base nos dados do World Development Indicators WDI.

Como resultado desse desempenho, aumentou em forma expressiva a importncia dessas economias na economia mundial, como mostra a Tabela 4. Em conjunto, os pases passaram de 7,5% do PIB mundial em 1990 a 11,7% em 2008. A contribuio mais expressiva foi a da China, cujo peso relativo no produto mundial mais que triplicou no referido perodo. A economia brasileira manteve inalterado seu peso no cenrio internacional, enquanto a importncia relativa da economia russa era em 2008 menos da metade do que representava em 1990. Tabela 4 BRICs: Participao (%) no PIB Mundial, 1990-2008 2008 Nmero de 1990 2,1 Brasil 2,1 Rssia ndia China 2,4 1,4 1,6 1,1 2,0 6,5

Fonte: Elaborao prpria com base nos dados do World Development Indicators WDI.

Evoluo ainda mais expressiva teve lugar em termos da presena desses pases no comrcio internacional (Tabela 5). Tabela 5 BRICs: Participao (%) no comrcio mundial, 1990-2008 Nmero d Exportaes 2008 e 1990 1,0 Brasil 0,9 Rssia ndia China 2,1 0,5 1,6 11 2,3 1,4 7,7

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Nmero d e Brasil Rssia ndia China

Importaes 1990 0,7 2,1 0,6 1,3

2008 0,9 1,6 1,7 6,0

Fonte: Elaborao prpria com base nos dados do World Development Indicators WDI.

O peso dos BRICs no comrcio mundial (exportaes e importaes) passou de 9,8% em 1990 para 22,6% em 2008, praticamente o dobro de sua participao no produto total mundial. A presena desses pases em 2008 foi mais expressiva como origem de exportaes (11,3% do total mundial) que como absorvedores de produtos de terceiros (9,5% das importaes totais), o que explica como se ver a seguir os superavits comerciais recorrentes da maior parte deles. O grande destaque , mais uma vez, a China, que multiplicou sua presena como exportadora entre esses dois anos por quase cinco vezes (e 4,6 vezes suas importaes). No caso do Brasil, a variao (marginal) foi mais expressiva na participao nas importaes (1,3 vezes) que nas exportaes (1,1 vezes), refletindo os processos de abertura multilateral e de preferncias regionais que tiveram lugar nesse perodo. De modo geral, contudo, cabe registrar que os BRICs (com exceo da Rssia) aumentaram sua presena no mercado mundial. Se a presena desses pases no cenrio internacional ampliou-se, ao mesmo tempo aumentou a participao do setor externo na gerao do produto em cada um deles. Essas economias elevaram significativamente seu grau de abertura ao comrcio internacional, no perodo considerado (Tabela 6). Em quase todas2, o valor transacionado com o resto do mundo (exportaes e importaes) passou a representar, em 2008, percentual maior do produto interno bruto que em 1990. Um padro comum que a soma de exportaes e importaes represente entre 40% e 60% do PIB dessas economias. A exceo a economia brasileira, com 26%. Nmero de Brasil Rssia ndia China Tabela 6 - Grau de Abertura ((X+M)/PIB) (%) 1990-1994 1995-1999 0,18 0,17 0,59 0,18 0,42 0,55 0,23 0,39 2000-2008 0,26 0,58 0,38 0,59

Fonte: Elaborao prpria com base nos dados do World Development Indicators WDI.

notvel que desse conjunto de pases a economia mais fechada seja a brasileira. Isso verdade nos trs sub-perodos considerados. Mesmo uma economia tradicionalmente resistente ao comrcio com o resto do mundo, como a indiana, que apresentava na primeira metade da dcada de 90 um grau de abertura semelhante ao da brasileira, mostra-se, desde meados daquela dcada, bem mais aberta ao comrcio externo.A exceo ao comportamento geral o caso da Rssia, cujo grau de abertura era, em 2000-2008, semelhante ao de 1990-94, depois de sofrer forte reduo na segunda metade da dcada de 90.2

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As relaes comerciais do Brasil com os demais BRICs

O grau de abertura da economia brasileira corresponde, na presente dcada, a menos da metade do observado na China e na Rssia. Como nesse conjunto de pases todos so economias emergentes com grandes dimenses geogrficas e demogrficas, no procede o argumento de que o grau de abertura da economia permanea reduzido em razo das dimenses do mercado interno. H outros elementos que explicam essas diferenas, mas que no corresponde explorar aqui. Vale ressaltar que esta informao pode ser complementada por dois indicadores adicionais, a taxa de penetrao das importaes no consumo aparente interno e o indicador de predisposio a exportar. O primeiro medido como TPI =M * 100 PIB - X + M

em que M = valor total das importaes e X = valor total das exportaes. Este indicador mostra o quanto da demanda interna do pas satisfeita por importaes. O segundo medido comoPE = X PIB * 100

e indica o quanto do PIB gerado vendido no mercado externo, em termos percentuais. A Tabela 7 mostra o quanto os indicadores variaram entre 1990 e 2008. Tabela 7 Penetrao das importaes e predisposio a exportar 1990 e 2008 ndia China Brasil Nmero de Rssia Taxa de Penetrao das Importaes (%) 1990 2008 1990 2008 4,9 15,3 6,6 .. 18,8 .. 29,0 23,2 27,4 10,6 ndice de Predisposio a Exportar (%) 6,7 12,1 17,4 31,8 5,5 14,9

Fonte: Elaborao prpria a partir da base de dados UN/COMTRADE.

Os dados da Tabela 7 confirmam o maior envolvimento das quatro economias com o setor externo ao longo do perodo. interessante notar, contudo, que o aumento do peso das importaes no total da demanda interna superou, em forma expressiva, o aumento da participao das vendas no exterior no total do PIB, tanto no Brasil (115% contra 80%) quanto (ainda mais) na ndia (250% contra 171%). J na China essa relao inversa (79% contra 82%), com peso maior da importncia relativa das exportaes. So modelos distintos de insero internacional. Apesar das importantes magnitudes que mostram os indicadores, o interesse em analisar o papel dessas economias no novo contexto internacional est fortemente associado, tambm, com o seu potencial de longo prazo. Para avaliar o potencial dessas grandes economias emergentes relevante conhecer as caractersticas de suas estruturas produtivas. A Tabela 8 a seguir traz informaes relativas evoluo das estruturas produtivas dos referidos pases. Ela mostra trajetrias com algumas semelhanas, mas tambm diferenas pronunciadas entre os quatro pases. 13

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Chama a ateno, nos quatro pases, o aumento do peso do setor de servios na composio do PIB, o que pode ser visto como reflexo da evoluo de economias menos desenvolvidas para emergentes. Neles tambm esse setor corresponde a pelo menos 40% do Produto Interno. No entanto, se esse indicador de desenvolvimento e de diversificao, a economia brasileira tem papel de destaque no grupo, por ser a nica na qual os servios correspondem a mais de 60% do PIB. De fato, na segunda metade da dcada de 90 este percentual se aproximou dos 70%3. As maiores diferenas so encontradas na evoluo do peso relativo da agricultura e do setor industrial. Uma vez mais, h diferenas entre o Brasil e os demais BRICs. A agricultura brasileira reduziu sua expresso no PIB na primeira metade da dcada de 90, mantendo relativa estabilidade desde ento, da ordem de 6% do Produto Interno. Certamente um elemento por trs desse resultado a prpria competitividade do setor agroexportador brasileiro, gerador de renda e de superavit comercial, nos ltimos anos. J na China, na ndia e na Rssia a perda de importncia desse setor notvel, ao se comparar a primeira metade dos anos 90 com o perodo mais recente. Nos casos da China e da ndia, h perda de aproximadamente dez pontos de percentagem do PIB, e reduo metade no caso da Rssia. Tabela 8 Valor adicionado por setor (% do PIB) Brasil 1990-1994 1995-1999 18,20 5,53 Agricultura 39,03 26,50 Indstria 52,76 68,21 Servios China 1990-1994 1995-1999 Agricultura 22,60 18,39 Indstria 43,94 46,85 Servios 33,46 34,76 ndia 1990-1994 1995-1999 Agricultura 29,07 26,20 Indstria 26,29 26,60 Servios 44,64 47,20 Rssia* 1990-1994 1995-1999 Agricultura 10,65 6,74 Indstria 45,65 37,66 Servios 43,70 55,60Fonte: Elaborao prpria com base nos dados do World Development Indicators WDI. * O valor da ltima coluna corresponde ao perodo 2000-2007.3 A este nvel de agregao no possvel distinguir os resultados por tipos de atividades no setor de servios. No entanto, como sabido, parte do crescimento desse setor no perodo recente esteve associada absoro de mo de obra em atividades de baixa produtividade, no sendo propriamente um indicador de desenvolvimento.

2000-2008 6,26 28,19 65,55 2000-2008 12,86 46,84 40,30 2000-2008 20,05 27,68 52,26 2000-2008 5,57 36,55 57,88

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As relaes comerciais do Brasil com os demais BRICs

Outra diferena entre esses pases est relacionada com o peso do setor industrial. No Brasil e na Rssia observa-se reduo expressiva do seu peso na produo agregada, da ordem de dez pontos de percentagem. Ao mesmo tempo, contudo, na China e na ndia esse setor ganhou participao, embora as variaes sejam de pequena escala. Uma leitura agregada desses indicadores sugere que a economia brasileira tem estrutura produtiva mais aproximada ao padro observado nos pases desenvolvidos, com predominncia do setor de servios4, enquanto China e ndia esto em etapa de aprofundar e de consolidar seu processo de industrializao. De fato, informaes extradas da base de dados UN/National Accounts Main Aggregates5 confirmam que o observado na estrutura produtiva brasileira guarda correlao com o padro mundial: entre 1970 e 2007 o peso dos servios no valor adicionado mundial aumentou de 57% para 63%, houve pequena retrao do setor agrcola (agropecuria, produo florestal e pesca) de 7% em 1970 para 5% em 2007, e queda no peso do setor industrial em seu conjunto, de 37% para 32% no mesmo perodo (apesar de relativa constncia, em torno de 23%, do valor adicionado pela indstria de transformao). As caractersticas da estrutura produtiva tm reflexo sobre o ritmo de investimento. A Tabela 9 mostra a evoluo da Formao Bruta de Capital Fixo naqueles pases. Merecem destaque no apenas o nvel, mas tambm a trajetria ascendente do investimento em relao ao PIB na China e na ndia, da ordem de quase 30% e quase 40%, respectivamente. Em ambos os casos, um ganho de seis pontos percentuais do PIB entre o primeiro e o terceiro sub-perodo considerados. Tabela 9 - Formao bruta de capital fixo (% PIB) Nmero de 1990-1994 1995-1999 2000-2008 Brasil 19,44 17,04 16,72 Rssia ndia China 23,62 22,21 31,79 17,98 23,35 33,78 18,87 28,40 38,94

Fonte: Elaborao prpria com base nos dados do World Development Indicators WDI.

Uma estria bem distinta est refletida nos indicadores relativos s economias brasileira e russa. Nestes dois casos houve ntida reduo do ritmo de formao bruta de capital em relao ao PIB. A razo investimento/PIB nesses dois pases correspondeu, em 2000-2008, metade do registrado na China. Isso tem bvias implicaes em mdio prazo, no tocante competitividade comparada desses pases. Outro conjunto de implicaes em mdio prazo est relacionado com a forma como o investimento financiado. A Tabela 10 mostra os principais indicadores. H diferenas notveis entre os quatro pases, no que se refere disponibilidade de poupana interna. Tanto China quanto ndia apresentam trajetria ascendente na evoluo da poupana interna como proporo do PIB, atingindo no ltimo subperodo um elevado percentual de mais de 45% do PIB, no caso chins, e quase 30% no caso indiano. A Rssia mostra inflexo na segunda metade da dcada de 90, mas preserva um nvel superior aos 30% do PIB. Tambm em relao a este indicador a economia brasileira apresenta desempenho menos favorvel e bastante distinto dos demais. No apenas sua taxa de poupana interna como proporo do4 5

Apesar da ressalva anterior, acerca do grau de disperso das atividades nesse setor. Citadas na Carta IEDI N. 386, de 23/10/09.

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O Brasil e os demais BRICs Comrcio e Poltica

PIB corresponde metade do observado em outros BRICs, como o percentual na presente dcada inferior ao do incio dos anos 90. Nmero de Brasil Rssia ndia China Tabela 10 - Poupana interna (% do PIB) 1990-1994 1995-1999 21,62 15,40 36,08 22,44 41,00 26,88 22,82 42,00 2000-2008 18,72 34,09 28,83 45,54

Fonte: Elaborao prpria com base nos dados do World Development Indicators WDI.

Outro aspecto interessante a destacar nas Tabelas 9 e 10 que dispor de poupana interna no uma condio suficiente para que os recursos sejam transformados em capacidade produtiva efetiva. Os dados relativos Rssia mostram disponibilidade de poupana interna que s fica atrs da chinesa, nesse conjunto de pases, mas ao mesmo tempo taxa de investimento quase to baixa quanto a brasileira: h mais elementos numa funo investimento que simplesmente a disponibilidade de recursos. A disponibilidade de poupana e a capacidade produtiva instalada tampouco so garantia de desempenho comercial brilhante. Para comparar o desempenho dos quatro pases, a Tabela 11 apresenta o saldo comercial normalizado, isto , o resultado da balana comercial em relao ao volume total de comrcio (soma de exportaes e importaes). Isso permite homogeneizar as informaes e comparar os resultados para os diversos pases na mesma unidade. Tabela 11 Saldo comercial normalizado ((x-m)/(x+m)) (%) Nmero de Brasil Rssia ndia China 1990-1994 1995-1999 2000-2004 2005-2008 2005-2008 16,1 -8,2 12,1 16,4 8,7 .. -2,5 2,7 22,2 -5,9 8,9 38,6 -9,6 3,7 30,6 -20,6 9,8 .. -9,1 6,1

Fonte: Elaborao prpria com base nos dados do World Development Indicators WDI.

Chama a ateno na Tabela 11 o comportamento distinto das economias chinesa, russa e indiana: enquanto as duas primeiras apresentaram em mdia nos subperodos considerados superavits comerciais de alguma magnitude em relao ao seu total comerciado (com destaque para o caso russo, certamente beneficiado por ganhos de relaes de troca nos ltimos anos), a ndia experimentou deficits comerciais recorrentes e crescentes. Parte da explicao est relacionada informao na Tabela 6, que mostrou o crescente grau de abertura daquela economia. Uma vez mais, a trajetria brasileira difere das demais. A segunda metade da dcada de 90 alterou a tendncia histrica brasileira a apresentar supervits comerciais. Observa-se, nesse perodo, no apenas o sinal negativo, mas tambm a magnitude do dficit em relao ao volume de transaes. Este resultado esteve associado aos esforos para promover a estabilizao de preos internos, com a maior concorrncia de produtos importados. 16

As relaes comerciais do Brasil com os demais BRICs

O Grfico a seguir mostra as trajetrias dos quatro pases no que se refere ao excedente comercial, em termos normalizados pelo total das transaes comerciais externas. H trs formatos distintos. Brasil desde o final da dcada de 90 e China desde 1994 passam a apresentar supervits comerciais expressivos, embora ele venha se reduzindo no caso brasileiro nos ltimos trs anos. A Rssia foi fortemente superavitria nas relaes comerciais ao longo de todo o perodo considerado, ao passo que a ndia vem, desde 1994, apresentando, sistematicamente, resultados negativos em magnitudes cada vez maiores. Grfico 1 Balana Comercial Normalizada (BCN)

Outra parte das explicaes para esses desempenhos est relacionada com a variao nos preos relativos. A Tabela 12 mostra a evoluo, nos trs sub-perodos, das taxas de cmbio nominais nessas economias. Tabela 12 Taxa de cmbio nominal 1990-1994 Nmero de Brasil Rssia ndia China 0,17 1,59 25,60 6,00 0,32 0,85 5,72 1,51 1995-1999 1,20 9,96 37,70 8,31 0,35 8,44 4,37 0,03 2000-2008 2,39 28,23 45,21 8,01 0,49 2,14 2,14 0,46Mdia Desvio-padro Mdia Desvio-padro Mdia Desvio-padro

Fonte: Elaborao prpria com base nos dados do World Development Indicators WDI.

Comparando-se a primeira metade da dcada de 90 com o perodo 2000-2008, observa-se relativa estabilidade nas taxas de cmbio da China e da ndia (com desvio-padro decrescente, nos trs perodos), cujas mdias variaram entre o primeiro e o terceiro sub-perodo respectivamente 1,3 e 1,8 vezes. No caso indiano, no entanto, esta variao reduzida do valor mdio, desconsidera um aspecto importante, que a elevada volatilidade cambial em 1990-94. No caso do Brasil, essa avaliao menos imediata em funo da mudana do regime macroeconmico a partir de meados de 1994. Assim, ao compararmos apenas a mdia da taxa de cmbio em 1995-99 e em 2000-2008, houve uma variao de 1,9 vezes, pouco superior observada na China e na ndia para todo o perodo, mas com desvio-padro crescente. 17

O Brasil e os demais BRICs Comrcio e Poltica

A desvalorizao do rublo russo o maior destaque nesse conjunto. No apenas o nvel mdio da taxa de cmbio nominal variou quase 28 vezes entre 1990 e 2008, como isso ocorreu com elevada volatilidade, sobretudo na segunda metade dos anos 90. Esta desvalorizao, somada aos ganhos nas relaes de troca, certamente contribuiu para os expressivos resultados comerciais refletidos na Tabela 11. O desempenho comercial predominantemente favorvel por parte desse conjunto de pases, associado postura de cautela em relao s condies do mercado internacional de capitais, e alguma desconfiana herdada da experincia com os choques externos experimentados, sobretudo na segunda metade da dcada de 90, levaram as economias emergentes de um modo geral a apostarem no prprio estoque de reservas de divisas como ferramenta de auto-seguro contra novos choques. Os BRICs no so exceo a esta norma. De fato, os quatro pases tm sido bastante ativos na composio de seus nveis de reservas, como mostra a Tabela 13. As Tabelas 5 e 11 mostraram que desse conjunto de pases a China o que tem obtido os resultados mais expressivos em suas relaes comerciais externas, com superavits constantes. Isto tem facilitado o entesouramento de recursos via composio de reservas, e, de fato, o pas tem, hoje, uma das maiores reservas no mundo. Tabela 13 - Reservas internacionais (US$ bilhes) Nmero de 1990-1994 1995-1999 2000-2008 Brasil 21 47 80 Rssia ndia China* 5 8 34 11 25 126 183 133 640

Fonte: Elaborao prpria com base nos dados do World Development Indicators WDI. * O valor da ltima coluna corresponde ao perodo 2000-2007.

Segundo a Tabela 13, o aumento mais expressivo de reservas internacionais, ao se comparar a primeira metade da dcada de 90 com o perodo 2000-2008, teve lugar na Rssia, que aumentou suas reservas em 37 vezes o nvel do incio dos anos 90. O ritmo de crescimento das reservas internacionais da China e da ndia foi parecido, com a China aumentando seu estoque 19 vezes e a ndia 17 vezes. O Brasil foi menos agressivo neste sentido, tendo multiplicado seu nvel de reservas em 1990-94 por 4 vezes at 2000-2008. As Tabelas 11 e 13 sugerem, contudo, que a composio de reservas no consequncia apenas do resultado comercial. Por exemplo, a ndia sistematicamente deficitria em sua balana comercial. No entanto, foi capaz de compor reservas a uma taxa expressiva, e na mdia do perodo 2000-2008 o nvel mdio de suas reservas superava, em uma vez e meia, o volume de reservas do Brasil. O que esses indicadores sugerem que por diversos ngulos de anlise, o conjunto dos chamados pases BRICs reflete condies econmicas que os torna objeto de considerao diferenciada no cenrio internacional. Ao mesmo tempo, contudo, compem um grupo pouco homogneo. a partir dessa percepo que este captulo dedica-se a estudar as relaes comerciais do Brasil com as outras economias, com o propsito de identificar semelhanas e diferenas nas trajetrias respectivas, na composio dos fluxos de comrcio, no potencial de transaes e nas vantagens comparativas de parte a parte. 18

As relaes comerciais do Brasil com os demais BRICs

3 - As relaes comerciais bilateraisAs Tabelas 14 e 15 mostram os dez principais produtos comercializados pelo Brasil com o grupo parceiro, em dois momentos: no incio e no final da dcada de 2000, segundo os ltimos dados disponveis. Segundo a Tabela 14, nos trs casos os principais produtos de exportao brasileira tm claro componente de recursos naturais, com as nicas excees de aeronaves, nos casos do comrcio com a China e a ndia, e tratores, no caso da Rssia. Em relao China, soja em gros e minrio de ferro correspondem metade do valor exportado pelo Brasil. Para a ndia, cobre e leo de soja so quase 40% da pauta de exportaes brasileiras, e as exportaes para a Rssia so, predominantemente, de carne bovina e acar. Cabe registrar, ademais, que a soma dos dez principais produtos, nos trs casos, corresponde a percentual bastante elevado do valor total exportado pelo Brasil para esses mercados. A Tabela 15 mostra, em primeiro lugar, que ao se compararem os totais com os da Tabela 14, segue-se que os dez principais produtos que o Brasil importa dos trs parceiros tm peso, nas pautas bilaterais, bem menor que os dez principais produtos de exportao. Tem-se, portanto, um primeiro indicador do grau de concentrao diferenciado do comrcio nas importaes e nas exportaes brasileiras. Segundo a Tabela 15, h claro predomnio de produtos manufaturados nas importaes brasileiras. No entanto, apenas nos casos de alguns produtos qumicos importados da ndia e da Rssia encontramos percentuais individuais superiores a 10% nos dois perodos. Esses indicadores para os dez principais itens transacionados sugerem uma configurao de exportaes brasileiras concentradas em poucos produtos, com forte componente de recursos naturais, em troca de importaes de manufaturas variadas. o padro de comrcio que ser analisado no restante deste artigo por meio de de diversos indicadores.A primeira aproximao anlise dos fluxos bilaterais de comrcio identificar a importncia relativa de cada um dos parceiros, nas exportaes e importaes do Brasil. O indicador a seguir mede o grau de importncia. Tabela 14 - Exportaes brasileiras - 10 principais produtos China S2-2222 S2-25172 S2-2815 S2-2816 S2-3330* S2-4232 S2-6114 S2-67169 S2-68212** S2-7924*** Produto Soja em gros Pasta qumica de madeira Minrio de ferro Aglomerados de ferro Petrleo cru leo de soja Couro bovino Outras ligas de ferro Cobre refinado Aeronaves acima de 15000 kg Total 19 Part1 % 26,4 6,7 20,5 9,6 2,8 3,3 2,9 1,0 2,3 75,5 Part2 % 29,8 3,9 27,1 5,4 9,6 3,2 3,8 1,9 1,1 0,8 86,7

O Brasil e os demais BRICs Comrcio e Poltica

ndia S2-0611* S2-2784 S2-28711** S2-3330*** S2-4232 S2-51216*** S2-67169 S2-7421 S2-7923*** S2-7924**** Rssia S2-01112* S2-0113 S2-0114 S2-0611 S2-07111 S2-0712 S2-08131** S2-2222** S2-29193* S2-7832*** Produto Carne bovina, fresca ou congelada Carne suina, fresca ou congelada Carnes de aves, fresca ou congelada Acares de beterraba e cana Caf no torrado Essncia ou concentrados de caf Torta de soja Soja em gros Tripas, bexigas e estmagos de animais Tratores e reboques Total(a) Part1 = participao mdia nas exportaes bilaterais totais em 1999-2001 (b) Part2 = participao mdia nas exportaes bilaterais totais em 2006-2008 China: * No aparece em 1999 ** No aparece em 2006, 2001, 2000 e 1999 *** No aparece em 2006, 2000 e 1999 ndia: * No aparece em 2007, 2001 e 2000 ** No aparece em 2001, 2000 e 1999 *** No aparece em 2007, 2001, 2000 e 1999 **** No aparece em 2008, 2007, 2001, 2000 e 1999 Rssia: * No aparece em 2000,1999 ** No aparece em 2006, 2000 e 1999 *** No aparece em 2001 e 1999

Produto Acares de beterraba e cana Asbestos Minrio e concentrado de cobre Petrleo cru leo de soja lcool etlico Outras ligas de ferro Bombas com dispositivos de medio Aeronaves at 15000 kg Aeronaves acima de 15000 kg Total

Part1 % 1,6 3,2 39,2 0,8 0,1 44,9 Part1 % 0,2 8,8 3,6 73,1 0,0 6,5 0,0 0,0 0,2 92,5

Part2 % 2,1 2,7 22,8 11,2 15,9 1,7 2,7 1,8 2,3 8,8 72,2 Part2 % 26,8 17,7 7,2 30,5 0,7 1,9 0,8 1,1 0,7 4,6 92,0

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As relaes comerciais do Brasil com os demais BRICs

Tabela 15 - Importaes brasileiras - 10 principais produtos China S2-51569 S2-7525 S2-7599 S2-76381 S2-7641 S2-7643 S2-76493 S2-77121 S2-7764 S2-87109 ndia S2-51569 S2-5311 S2-54139 S2-54171 S2-54179 S2-65133* S2-65144 S2-65145 S2-65174** S2-7161 Rssia Produto S2-2741 S2-3222* S2-56211 S2-56213 S2-56216 S2-56231 S2-56291** Enxofre Outros carves Nitrato de amnia Sulfato de amnia Uria Cloreto de Potssio Fertilizante de nitrognio,fsforo e potssio 21 Part1 % 0,6 3,8 2,1 13,4 23,2 0,0 Part2 % 3,0 2,3 6,8 2,2 21,2 18,2 1,5 Produto Compostos heterocclicos Matrias orgnicas para tinturas Outros antibiticos Medicamentos Medicamentos Fios de algodo Fios sintticos Fios sintticos Outros fios Motores e geradores Total Part1 % 11,2 3,2 4,3 1,9 2,7 0,3 0,6 0,2 0,0 0,1 24,5 Part2 % 10,0 2,8 2,5 4,2 4,4 3,2 3,3 3,5 2,4 2,8 39,1 Produto Compostos heterocclicos Unidades perifricas Acessrios para mquinas TVs e gravadores Aparelhos telef e telegrficos Transmissores de rdio e TV Partes para transmissores Conversores estticos Micro-circuitos eletrnicos Aparelhos ticos Total Part1 % 4,4 3,8 4,3 0,1 1,3 0,1 4,1 1,3 1,9 2,6 11,5 Part2 % 1,4 3,1 4,5 1,7 1,4 2,1 4,9 1,3 2,3 4,2 34,8

O Brasil e os demais BRICs Comrcio e Poltica

Rssia S2-56292 S2-67169 S2-67251*** Produto Fertilizante de nitrognio e fsforo Outras ligas de ferro Lingotes e outras formas de ferro Total(a) Part1 = participao mdia nas importaes bilaterais totais em 1999-2001 (b) Part2 = participao mdia nas importaes bilaterais totais em 2006-2008 China: * No aparece em 2006, 2001, 2000 e 1999 ndia: * No aparece em 2001. ** No aparece em 1999. Rssia: * No aparece em 2007, 2001, 2000 e 1999 ** No aparece em 2001 e 1999 *** No aparece em 2008, 2007, 2000 e 1999

Part1 % 28,0 1,6 1,3 74,1

Part2 % 26,7 1,6 10,2 93,6

A primeira aproximao anlise dos fluxos bilaterais de comrcio identificar a importncia relativa de cada um dos parceiros, nas exportaes e importaes do Brasil. O indicador a seguir mede o grau de importncia.PCX= _____ * 100 Xj X

Xj = exportaes para o pas j. X = exportaes totais do pas. Evidentemente, a mesma lgica pode ser aplicada s importaes. Os Grficos das pginas seguintes ilustram os resultados. Resta pouca dvida de que o parceiro comercial que mais tem aumentado seu grau de importncia no comrcio externo brasileiro, dentre os BRICs a China. o fluxo de comrcio que apresenta as taxas mais elevadas de aumento na importncia tanto de exportaes quanto de importaes, e que tem atingido o nvel mais alto, tanto como destino das exportaes brasileiras quanto como origem dos produtos importados. notvel registrar, ademais, que a partir de 2004 o peso dos produtos chineses nas importaes totais brasileiras passou a representar percentual mais elevado que as compras de produtos brasileiros por parte daquele pas. Por ltimo, chama a ateno o fato de que o aumento do peso das importaes de produtos chineses constante e homogneo ao longo do tempo, enquanto a participao daquele mercado nas exportaes brasileiras apresenta mais variaes. No comrcio com a Rssia, as indicaes so de aumento relativamente modesto na importncia dos fluxos bilaterais, mas ao longo do perodo este pas permaneceu mais relevante como destino para as exportaes brasileiras que como origem de importaes. O comrcio com a ndia apresenta algumas peculiaridades. Sua importncia no total das exportaes brasileiras tem oscilado de forma pronunciada ao longo do tempo, enquanto o aumento de 22

As relaes comerciais do Brasil com os demais BRICs

importncia no total importado tem se intensificado de maneira mais sistemtica. Desde 2005 o mercado indiano tem perdido relevncia como destino das exportaes brasileiras, mas os produtos indianos tm se tornado cada vez mais presentes nas importaes pelo Brasil.As trajetrias tm, como reflexo, variaes na balana comercial bilateral do Brasil com cada um dos pases. Os grficos a seguir ilustram a informao. Grfico 2 Participao comercial (%) Brasil-China

Grfico 3 Participao comercial (%) Brasil-Rssia

Grfico 4 Participao comercial (%) Brasil-ndia

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O Brasil e os demais BRICs Comrcio e Poltica

As trajetrias tm, como reflexo, variaes na balana comercial bilateral do Brasil com cada um dos pases. Os grficos a seguir ilustram a informao. Tanto no comrcio com a China quanto nas transaes com a ndia, o Brasil foi superavitrio na maior parte do perodo considerado. As excees, em ambos os casos, so os anos compreendidos entre 1996 e 1998, e novamente a partir de 2006. Por ter havido clara sobrevalorizao da moeda brasileira, os resultados parecem sugerir elasticidade-preo considervel na demanda pelos produtos transacionados com os dois pases. J a balana comercial com a Rssia predominantemente superavitria em favor do Brasil, e desde 2001 as indicaes so de excedente comercial brasileiro crescente. Os grficos abaixo descrevem um padro de relaes bilaterais de intensidade crescente e contribuies variadas para o saldo comercial brasileiro. A pergunta a seguir at que ponto este padro corresponde ao que seria de se esperar, dadas as caractersticas de cada pas, e em comparao com a estrutura de suas relaes comerciais com o resto do mundo. Grfico 5 Comrcio do Brasil com a China

Grfico 6 Comrcio do Brasil com a ndia

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As relaes comerciais do Brasil com os demais BRICs

Grfico 7 Comrcio do Brasil com a Rssia

A anlise feita a partir do ndice de intensidade de comrcio:x ij _____ Xi _____ IICij= xwj _____ Xw

Valores maiores que 1 indicam relao comercial mais intensa entre os pases i e j que entre o pas j e o total mundial. Sendo: xij = exportaes do pas i para o pas j Xi = exportaes totais do pas i xwj = exportaes do mundo para o pas j Xw = exportaes totais do mundo A Tabela 16 mostra as estimativas deste indicador. Tabela 16 ndices de intensidade de comrcio 1990 - 2008 Brasil China Nmero de Export. Mdia 1990-1994 0,98 Mdia 1995-1999 Mdia 2000-2004 Mdia 2005-2008 1,08 1,49 1,35Import.

Brasil ndiaExport. Import.

Brasil RssiaExport. Import.

0,34 1,02 1,30 2,25

1,79 1,24 1,65 1,15 25

0,39 0,80 1,13 0,93

.. 1,63 1,96 1,68

.. 1,27 2,78 1,54

Fonte: Estimativa prpria a partir da base de dados UN/COMTRADE.

O Brasil e os demais BRICs Comrcio e Poltica

O que os dados da Tabela 16 sugerem que exceo das importaes brasileiras de produtos provenientes da ndia nos demais fluxos h indicao de que a intensidade do comrcio bilateral supera o que seria de se esperar com base nas relaes comerciais dos pases do grupo com o restante do mundo. Os indicadores so, em maior parte, superiores a 1, e no caso das importaes brasileiras de produtos chineses esto bem acima do valor de referncia. Em que pese o comrcio com os trs pases apresentar ndices de intensidade superiores a 1, nos casos das transaes com a ndia e a Rssia desde o incio da presente dcada, h uma tendncia sistematicamente decrescente nesse indicador, e de maneira mais acentuada no tocante s exportaes brasileiras. No caso das relaes com a China, diferentemente, a tendncia ascendente, mas com forte inflexo no caso das exportaes a partir de 2002, e no caso das importaes a partir de 2008. O primeiro caso pode ser explicado pela revalorizao cambial, enquanto o segundo tem, provavelmente, relao com os efeitos da crise geral, na segunda metade daquele ano. O que os resultados indicam , em suma, que existem peculiaridades na composio dos fluxos comerciais bilaterais com o Brasil: o padro de comrcio com a ndia e Rssia cada vez menos semelhante estrutura encontrada nas relaes totais desses pases, enquanto no caso da China a semelhana crescente. Esses resultados trazem considerao a necessidade de se investigar um pouco mais o tipo de fluxo comercial entre esses pases no que se refere ao seu grau de concentrao/diversificao, e de semelhana entre os produtos exportados e importados.

4 Anlise comparativa das pautas comerciaisAs anlises acerca de composio de pauta comercial partem de alguns parmetros de referncia. Uma dimenso privilegia os tipos de produtos transacionados, considerando como mais recomendvel a estrutura que maximize as possibilidades de propagao interna na economia exportadora dos benefcios monetrios e de acesso ao progresso tcnico das vendas ao exterior. Outra perspectiva a que nos interessa nesta seo considera importante a pauta exportadora com grau significativo de diversificao, seja de produtos, seja de mercados de destino. A racionalidade a mesma de uma estratgia de diversificao de carteira, para aplicaes financeiras. O objetivo maximizar o retorno da carteira (no caso das exportaes, a receita de divisas), ao mesmo tempo em que se procura reduzir, ao mnimo, o risco, medido pela varincia de cada componente: quanto maior o nmero de componentes, isto , quanto mais diversificada a carteira, menor a co-varincia, e, portanto, menor o risco de perda. No caso das exportaes, isso significa que mais recomendvel a pauta comercial diversificada em termos de tipos de produtos e de mercados de destino, como forma de assegurar relativa estabilidade na receita de divisas e menor vulnerabilidade s variaes de mercados especficos. redundante lembrar que a probabilidade de se conseguir um grau mais elevado de diversificao de pauta tanto mais alta quanto mais expressiva a participao de produtos manufaturados 26

As relaes comerciais do Brasil com os demais BRICs

nas exportaes, uma vez que no setor manufatureiro que o potencial de aumento do nmero de variedades produzidas maior. O que se procurou medir nesta seo , portanto, o grau de concentrao das estruturas de comrcio dos quatro pases considerados. O primeiro indicador usado para medir o grau de concentrao da pauta de comrcio o chamado ndice Herfindahl-Hirschman. Sua estimativa feita por:

sendo, xi / X = razo entre o valor exportado (importado) do produto i sobre as exportaes (importaes) totais do pas num dado perodo de tempo e n = o nmero de produtos. A verso cujos resultados so mostrados aqui o IHH3, que tem a vantagem de por ser normalizada pelo nmero de produtos permitir a comparao direta entre pases e em mais de um perodo. A Tabela 17 e os Grficos a seguir mostram a evoluo desse indicador. Tabela 17 ndice de Herfindahl-Hirschman do comrcio bilateral com os demais BRICs 1990 - 2008 Brasil Rssia Brasil ndia Brasil China Nmero de Export. Mdia 1990-1994 0.33 Mdia 1995-1999 Mdia 2000-2004 Mdia 2005-2008 0.38 0.34 0.38Import. Export. Import. Export. Import.

0.31 0.09 0.11 0.13

0.31 0.30 0.41 0.30

0.29 0.14 0.15 0.14

0.46 0.55 0.56 0.43

0.42 0.34 0.37 0.36

Fonte: tabulaes prprias a partir da base de dados UN/COMTRADE.

Grfico 8 ndice de Herfindhal-Hirschman (IHH) Brasil - China

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O Brasil e os demais BRICs Comrcio e Poltica

Grfico 9 ndice de Herfindhal-Hirschman (IHH) Brasil - ndia

Grfico 10 ndice de Herfindhal-Hirschman (IHH) Brasil - Rssia

Fica claro desse conjunto de informaes, em primeiro lugar, que as exportaes brasileiras para a China so bem mais concentradas que as importaes de produtos daquele pas: as primeiras tm um ndice HH superior a 0.32, enquanto nas segundas o ndice est prximo a 0.10. O grfico mostra que os anos entre 1994 e 1996 foram de desconcentrao da pauta de comrcio em ambas direes, com relativa estabilidade dos ndices at 2005, e nos anos mais recentes tem se ampliado a diferena, com renovado aumento da concentrao nas exportaes brasileiras e reduo desse ndice nas importaes. Essa estrutura de maior concentrao na pauta de exportaes em comparao com as importaes de fato uma caracterstica geral no comrcio com os demais BRICs; Observa-se, tambm, um padro semelhante no comrcio com a ndia e a Rssia. Nestes dois casos, contudo, a discrepncia entre os graus de concentrao foi reduzida em nvel significativo no incio da presente dcada, embora no em magnitude suficiente para igualar os dois ndices ou reverter o quadro. As informaes constantes da Tabela 18 sugerem concentrao mais elevada da pauta no comrcio de combustveis, leos vegetais, bebidas, fumo e animais vivos. A maior desagregao claramente ocorre no setor manufatureiro. Este aspecto ser retomado mais frente, ao se considerar os indicadores de vantagens comparativas e as medidas de similaridade nos fluxos comerciais. 28

As relaes comerciais do Brasil com os demais BRICs

Tabela 18 Setores com ndices de concentrao HH3 mais pronunciados em cada fluxo bilateral mdia 1990 - 2008 Brasil China Brasil ndia Brasil RssiaExportao Importao Exportao Importao Exportao Importao

Mais alta concentrao leos vegetais e Combustveis animais minerais Produtos qumicos Manufaturas classificadas segundo material Combustveis minerais Manufaturas classificadas segundo material Combustveis Bebidas e Fumo minerais Artigos manufaturados diversos Manufaturas classificadas segundo material Alimentos e animais vivos Bebidas e Fumo

Menor concentrao

Fonte: elaborao prpria a partir da base de dados UN/COMTRADE.

O grau em alguns momentos relativamente elevado de concentrao da pauta requer uma avaliao de at que ponto isso peculiaridade nacional ou se existe similaridade com algum padro internacional. Isso pode ser feito com a ajuda do ndice de diversificao das exportaes, estimado por:

em que: xij = razo entre as exportaes do produto i no total das exportaes do pas j e xi = razo entre as exportaes do produto i no total das exportaes mundiais Esse ndice mede a concentrao setorial da pauta de exportaes, comparando-a com a correspondente em nvel mundial. Quanto mais prximo de zero o ndice, mais o padro de comrcio do pas se parecer com o padro de comrcio mundial. Os Grficos a seguir indicam a trajetria desse ndice. Grfico 11 ndice de diversificao (ID) Brasil - China

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O Brasil e os demais BRICs Comrcio e Poltica

Grfico 12 ndice de diversificao (ID) Brasil - ndia

Grfico 13 ndice de diversificao (ID) Brasil - Rssia

Esses grficos mostram que nos trs casos a estrutura das exportaes brasileiras apresenta padro bem mais distante do total mundial do que o observado nas importaes. No comrcio com a China a composio das importaes bastante aproximada ao padro mundial, enquanto as exportaes brasileiras guardam diferena expressiva. De modo geral, o ndice de diversificao, tanto das exportaes quanto das importaes, indica um grau de concentrao setorial acima de 50% do observado na mdia mundial. Um terceiro indicador de concentrao/diversificao o ndice de entropia relativa, dado por:

Em que IEA dado por

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As relaes comerciais do Brasil com os demais BRICs

sendo

e aij = proporo das exportaes do produto i pelo Brasil ao pas j Esse ndice varia entre 0 e 1. Quanto mais prximo de 1, menor o peso relativo de cada produto no fluxo bilateral, e consequentemente, menos concentrada a pauta de comrcio. Grfico 14 ndice de Entropia Relativa (IER) Brasil - China

Grfico 15 ndice de Entropia Relativa (IER) Brasil - ndia

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O Brasil e os demais BRICs Comrcio e Poltica

Grfico 16 ndice de Entropia Relativa (IER) Brasil - Rssia

Os grficos acima confirmam que nas relaes com os trs pases as importaes brasileiras so mais diversificadas que as exportaes, e reiteram as tendncias j referidas: maior concentrao das exportaes e diversificao das importaes no comrcio com a China, e leve convergncia entre os ndices de entropia relativa de exportaes e importaes no comrcio com a ndia e com a Rssia. Os resultados apresentados at aqui mostram graus mais elevados de concentrao das exportaes brasileiras e indicaes de que entre os principais produtos que compem cada fluxo bilateral existem diferenas, tendo os principais produtos de exportaes brasileiros para esses pases, componentes mais expressivos de recursos naturais. Resta averiguar at que ponto o conjunto de todos os produtos comercializados tambm apresenta estas diferenas entre o que importado e o que exportado. Este o tema da prxima seo.

5 A Similaridade na Composio do ComrcioNesta seo analisada a prpria composio da estrutura de comrcio de cada pas, em relao a um parmetro comum, como forma de identificar semelhanas e, consequentemente, potencial de superposio setorial entre as estruturas comerciais de cada par deles. Um primeiro indicador de semelhanas e diferenas nas pautas comerciais dos pases considerados o ndice de Similaridade de Comrcio, expresso por:

em que Xi (ac) = proporo das exportaes do produto i pelo pas a para o pas ou regio c e Xi (bc) = proporo das exportaes do produto i pelo pas b para o pas ou regio c 32

As relaes comerciais do Brasil com os demais BRICs

Quanto mais esse ndice estiver prximo de 100, tanto mais expressivo o grau de similaridade entre as pautas de comrcio dos paises a e b. No caso do presente exerccio, o pas c considerado foi o total mundial. Isso permite a avaliao do grau de similaridade na composio das exportaes e das importaes de cada pas, com a estrutura de comrcio brasileira. Os grficos a seguir ilustram os resultados. Grfico 17 ndice de Similaridade do Comrcio (ISC) Brasil - China

Grfico 18 ndice de Similaridade do Comrcio (ISC) Brasil - ndia

Grfico 19 ndice de Similaridade do Comrcio (ISC) Brasil - Rssia

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O Brasil e os demais BRICs Comrcio e Poltica

Nos casos do comrcio com os trs pases considerados, a estrutura de importao tem grau de semelhana com a estrutura brasileira mais pronunciado que com as exportaes. Essa similaridade mais alta no caso da China, em que o ndice se aproxima dos 60%, e, menor, na comparao com a Rssia, em que esse ndice no atinge os 50%. No que se refere composio das exportaes, o grau de semelhana praticamente to baixo (inferior a 30%) no caso da China quanto da Rssia. As exportaes da ndia so um pouco mais parecidas com as brasileiras, e o ndice sugere aumento gradual nesse grau de similaridade, mas tampouco chega aos 40%. So resultados que sugerem que o potencial para superposio nos fluxos de comrcio, levando a transaes de tipo intra-setorial, de fato limitado nas transaes entre o Brasil e seus trs parceiros. Essa hiptese verificada pelo chamado ndice de Grubel-Lloyd, usado para medir especificamente a incidncia de transaes intra-setoriais no total comerciado entre o Brasil e cada um dos pases selecionados, sendo estimado como

Em que Xijk = exportaes de produtos do setor i do pas j, destinados ao pas k, e Mijk= importaes de produtos do setor i do pas j, provenientes do pas k. Esse ndice varia entre zero e um. Quanto mais prximo de 1, maior a intensidade de transaes intra-setoriais no comrcio bilateral. Grfico 20 ndices de Grubel-Lloyd - 1990-2008

O grfico mostra que as estimativas do ndice Grubel-Lloyd confirmam os resultados anteriores de indicadores de similaridade de composio de fluxos de comrcio: o grau de superposio de exportaes brasileiras aos demais pases BRICs e das importaes brasileiras provenientes desses pases baixssimo. O ndice mais expressivo no comrcio com a ndia no chega a atingir um dcimo do comrcio bilateral. 34

As relaes comerciais do Brasil com os demais BRICs

Essa baixa similaridade entre fluxos de comrcio sugere baixo grau de complementaridade atingido por essas economias e ressalta a relevncia de se identificar as vantagens comparativas de cada pas.

6 As vantagens comparativasA noo de vantagens comparativas est associada estrutura produtiva e composio dos custos de cada economia. Uma forma de avaliar sua incidncia por setores a partir da observao dos padres de comrcio efetivamente praticados por cada pas. Isso corresponde ao conceito de vantagens comparativas reveladas (VCR), como proposto por B.Balassa. Os coeficientes de VCR indicam se um pas est expandindo seu comrcio naqueles produtos em que ele tem um potencial maior. Pases que apresentam perfis de VCR similares provavelmente no comercializaro muito entre si, exceto se houver comrcio intra-indstria, o que a seo anterior mostrou no ser o caso nas transaes entre o Brasil e os demais BRICs. O ndice proposto por Balassa tem a seguinte frmula:

em que: xij = exportaes do produto i pelo pas j Xj = total das exportaes do pas j xiw= exportaes do produto i pelo mundo Xw= total das exportaes do mundo. O ndice VCR , portanto, a razo entre a proporo de determinado produto na pauta de exportao do pas em relao proporo do mesmo produto na pauta de exportao mundial. Assim, quando a proporo das exportaes desse produto no pas maior que a proporo das exportaes desse pas no mundo, VCR>1, diz-se que o pas apresenta vantagem comparativa revelada nesse produto. Lafay props frmula alternativa. Como as vantagens comparativas so estruturais, imprescindvel a eliminao da influncia de fatores cclicos no seu clculo, o que obtido ao se considerar a diferena entre a balana comercial normalizada de cada produto e a balana comercial normalizada geral, com os pesos para cada produto j sendo iguais sua importncia para o comrcio, ou seja, igual soma das exportaes e importaes do produto j sobre a balana comercial. 35

O Brasil e os demais BRICs Comrcio e Poltica

Assim, o ndice de Lafay (ILF) calculado da seguinte forma:

em que: xi = exportaes do produto j do pas i para o resto do mundo mij = importaes do produto j pelo pas i do resto do mundo. Resultados com valores positivos do ndice de Lafay indicam a existncia de vantagem comparativa em determinado produto. Quanto maior o ndice, maior o grau de especializao. Ainda outro ndice, o de Desempenho Exportador Comparado, uma alternativa aos mtodos acima, levando em conta apenas as exportaes. Foi desenvolvido por Donges, e calculado da seguinte forma:

em que: =exportaes do produto i pelo pas j =exportaes mundiais (ou de outro pas ou regio em comparao) do produto i =exportaes totais do pas j =exportaes totais mundiais. Assim como o ndice de VCR, se o IDEC for maior que a unidade indica vantagem comparativa, pois significa que o setor i em questo tem participao relativa no total das exportaes do pas j maior que no mundo (ou regio analisada) como um todo. Um quarto indicador o ndice de especializao das exportaes. Trata-se de verso modificada dos ndices de vantagem comparativa revelada. Seu clculo dado por:

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em que: xij = exportaes do produto i pelo pas j Xj = exportaes totais do pas j mik = importaes do produto i pelo pas ou regio k, de referncia Mk = importaes totais da regio k. Enquanto os ndices de VCR confrontam as vantagens comparativas de um pas j em relao s exportaes pelo total do mundo, este ndice toma como parmetro de referncia as importaes. Um valor do IEE superior unidade indica que o pas em questo apresenta uma vantagem comparativa revelada no produto i. Conforme visto, cada um desses quatro indicadores tem suas peculiaridades. No presente exerccio, para se identificar o que so as vantagens comparativas dos quatro pases foram estimados os quatro ndices e considerados como resultado de indicao inequvoca de vantagens comparativas aqueles produtos selecionados simultneamente, com base nos quatro ndices. Alm disso, e como dito acima, a noo de vantagens comparativas est relacionada com processos produtivos e estruturas de custos. Esses no so atributos que mudem de forma significativa segundo variaes conjunturais. Eles refletem mais processos de acomodao das estruturas em perodos mais longos de tempo. A partir dessa percepo preferiu-se buscar as indicaes de vantagens comparativas em intervalos de tempo considerveis. Com isso, os resultados so mostrados para dois pontos no tempo: a mdia do perodo 1990-1992, e a mdia do perodo 2006-2008. um intervalo de tempo suficiente para se observarem alteraes nas estruturas produtivas e, consequentemente, nas condies de competio de cada economia. Tabela 19 - Brasil - indicao de vantagem comparativa (nmeros de itens a 5 dgitos por Seo da SITC) 2006-2008 1990-1992 Seo 43 28 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 TOTALFonte: ver texto.

1 23 2 9 30 80 27 15 0 215 37

2 33 0 6 31 62 38 10 0 225

O Brasil e os demais BRICs Comrcio e Poltica

Segundo a Tabela 19, foram identificados pouco mais de 200 produtos em relao aos quais o Brasil tem vantagens comparativas. A maior parte deles est concentrada nas Sees 0 (produtos alimentcios e animais vivos), 2 (materiais crus no-comestveis), 5 (produtos qumicos), 6 (manufaturas classificadas por material) e 7 (mquinas e material de transporte). No primeiro perodo essas Sees correspondiam a 87,4% do total dos casos identificados; no segundo perodo esse percentual foi de 92,0%, indicando consolidao ainda mais pronunciada. O grfico a seguir ilustra a evoluo. Grfico 21 Brasil: vantagem comparativa revelada por seo SITC - 5 dgitos

Fica claro, a partir do grfico, que nesses dezoito anos houve aumento do nmero de produtos em que o pas tem vantagem comparativa nas Sees 0 (o aumento mais expressivo), 2 e 7. E reduo desse nmero nas Sees 4, 6 (a maior reduo) e 8. Procurando identificar naquelas sees SITC em que foram constatadas claras indicaes de ganhos de vantagem comparativa em comparao com o perodo inicial os grupos de produtos nos quais em 2006-2008 o Brasil apresentava vantagens comparativas, tem-se o seguinte: Na Seo 0, 49% dos casos referem-se aos grupos 011 (carne fresca ou congelada), 057 (frutas frescas), 058 (preparaes de frutas) e 081 (rao animal). Na Seo 2, metade dos casos esto nos grupos 248 (madeira), 278 (outros minerais em bruto), 287 (minerais de metais comuns e seus concentrados) e 291 (produtos animais em bruto). Na seo 5, metade dos casos est distribuida entre os grupos 511 (hidrocarbonetos), 516 (outros produtos orgnicos), 522 (produtos inorgnicos) e 523 (sais). Na seo 6, os resultados so mais pulverizados, com dois teros dos casos distribudos por 12 grupos, nenhum deles com peso superior a 7%. E na Seo 7, 61% dos casos so encontrados nos grupos 713 (motores de combusto interna), 716 (aparelhos eltricos e suas partes), 718 (mquinas geradoras de energia), 721 (mquinas agrcolas), 773 (equipamento para distribuio de eletricidade), 775 (aparelhos para uso domstico), 783 (veculos automotores), 784 (peas e acessrios para automveis) e 792 (aeronaves). Anlise semelhante feita para os demais BRICs. A Tabela 20 mostra os principais resultados para o caso da China.

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As relaes comerciais do Brasil com os demais BRICs

Tabela 20 China Indicao de vantagens comparativas (nmero de produtos a 5 dgitos da SITC) 2006-2008 1990-1992 Seo 26 49 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 TOTALFonte: ver texto.

2 38 7 5 47 99 15 115 1 378

0 21 5 3 59 188 81 164 0 547

Uma comparao entre as Tabelas 19 e 20 indica, como primeira diferena, o nmero total de produtos em relao aos quais h indicao de vantagens comparativas. J no incio dos anos 90 esse nmero era bem superior ao brasileiro, e aumentou significativamente no final da dcada seguinte. Em 2006-2008 a China tinha indicaes de vantagens comparativas em relao a um conjunto de produtos (547) que superava em mais do dobro o nmero observado (225) para o caso brasileiro. Outra diferena notvel a concentrao no caso chins dessas vantagens comparativas em produtos manufaturados: em 2006-2008 no menos de 64% desses produtos encontravam-se nas Sees 6 (manufaturas segundo o material) e 8 (manufaturas diversas). Se consideradas as Sees 5 (produtos qumicos) e 7 (mquinas e material de transporte) este percentual atinge os 90%, sendo ainda mais notvel quando se considera que as quatro sees correspondiam a 73% dos casos no incio da dcada anterior. O grfico a seguir ilustra a evoluo. Grfico 22 China: vantagem comparativa revelada por Seo SITC - 5 dgitos

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O Brasil e os demais BRICs Comrcio e Poltica

O grfico confirma a incidncia relativa de casos de vantagens comparativas nas sees 6 e 8, mas mostra tambm a notvel evoluo deste indicador nas quatro sees que correspondem ao conjunto de produtos manufaturados entre os dois perodos. As sees SITC em que foram constatadas indicaes de ganhos de vantagem comparativa em relao ao perodo inicial sees 5 a 8 indicam os seguintes grupos de produtos como os mais expressivos: Na Seo 5, 54% dos casos correspondem aos grupos de produtos 522 (elementos qumicos inorgnicos), 523 (outros qumicos inorgnicos) e 541 (produtos farmacuticos e medicinais). Na Seo 6, 48% dos casos pertencem aos grupos 651 (fios txteis), 653 (tecidos de materiais txteis manufaturados), 657 (tecidos especiais), 658 (artigos confeccionados de matrias txteis), 697 (equipamentos domsticos de metais comuns) e 699 (manufaturas de metais bsicos). Na Seo 7, 60% dos casos correspondem aos grupos 745 (outras mquinas, ferramentas e aparelhos mecnicos), 751 (mquinas de escritrio), 752 (aparelhos para processamento de dados), 764 (equipamento de telecomunicaes), 775 (aparelhos de uso domstico), 778 (mquinas e aparelhos eltricos) 785 (motocicletas e velocpedes) e 793 (barcos e navios). E na seo 8, 53% dos casos so encontrados nos grupos 842 (roupa feminina), 843 (roupa masculina), 845 (artigos de tric e croch), 846 (acessrios de vestir), 893 (artigos de plstico) e 899 (manufaturas diversas). A ndia representa um caso intermedirio entre o brasileiro e o chins. J no incio dos anos 90 o nmero de produtos com indicao de vantagens comparativas era maior que o observado no Brasil em 2006-8, e esse nmero aumentou em proporo bem mais pronunciada que no caso brasileiro, correspondendo nos ltimos anos a uma vez e meia o nmero correspondente no Brasil. Tabela 21 ndia Indicao de vantagens comparativas (nmero de produtos a 5 dgitos da SITC) 2006-2008 1990-1992 Seo 41 31 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 TOTALFonte: ver texto.

2 32 0 2 23 89 15 61 0 255

2 41 3 3 43 145 17 63 1 359

Na ndia, como na China, a maior parte (58%) dos produtos com indicao de vantagens comparativas est concentrada nas Sees 6 (manufaturas segundo o material) e 8 (manufaturas diversas). 40

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O grfico a seguir mostra sua evoluo. notvel que alm das duas Sees, tambm se observa que entre os dois perodos houve aumento (em menor proporo) do nmero de produtos com vantagens comparativas nas Sees 0 (produtos alimentcios e animais vivos), 2 (materiais crus no-comestveis) e 5 (produtos qumicos), o que indica alguma semelhana com os resultados para o Brasil. Grfico 23 ndia: vantagem comparativa revelada por Seo SITC - 5 dgitos

As sees SITC em que foram constatadas indicaes de ganhos de vantagem comparativa em relao ao perodo inicial indicam os seguintes grupos de produtos como os mais expressivos: Na Seo 0, 54% dos itens esto centrados em 056 (razes e tubrculos), 057 (frutas frescas e secas), 061 (acar e mel), 075 (especiarias) e 081 (rao animal). Na Seo 2, 51% correspondem a 263 (algodo), 278 (outros minerais em bruto), 287 (minrios e concentrados) e 297 (materiais vegetais em bruto). 57% dos produtos da Seo 5 esto em 511 (hidrocarbonetos), 514 (compostos de nitrognio), 516 (outros qumicos orgnicos), 522 (elementos qumicos inorgnicos) e 523 (outros qumicos inorgnicos). Na Seo 6, 49% dos produtos esto em 651 (fios txteis), 652 (tecidos de algodo), 654 (outros tecidos de fibras txteis), 657 (tecidos especiais), 658 (artigos txteis), 659 (tapetes), 697 (equipamentos domsticos de metais comuns). Na Seo 8, 51% dos casos referem-se a 842 (roupa feminina), 843 (roupa masculina) e 844 (artigos diversos de vesturio). O caso da Rssia um pouco distinto dos demais, uma vez que os dados s esto disponveis a partir de meados da dcada de 90. Com isso, s foi possvel uma comparao dos perodos mdia de 1996-98 e mdia de 2006-2008. Tabela 22 Rssia Indicao de vantagens comparativas (nmero de produtos a 5 dgitos da SITC) 2006-2008 1990-1992 Seo 3 0 0 1 2 3 0 35 6 41 0 20 6

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Seo 4 5 6 7 8 9 TOTALFonte: ver texto.

1990-1992 1 40 45 7 5 0 139

2006-2008 1 31 31 8 2 1 103

A primeira peculiaridade do caso russo, e que o difere dos demais BRICs, a reduo no nmero de produtos em relao aos quais h indicao de vantagens comparativas. E isso ocorre sem grandes alteraes da concentrao setorial: nos dois perodos 60% dos produtos identificados com indicao de vantagens comparativas esto concentrados nas Sees 5 (produtos qumicos) e 6 (manufaturas segundo o material). A outra Seo com destaque (embora com menor expresso e igualmente com reduo de nmero de produtos entre os dois perodos) a Seo 2 (materiais em bruto, no comestveis). O grfico a seguir ilustra esses resultados. As sees SITC em que foram constatadas indicaes de ganhos de vantagem comparativa em relao ao perodo inicial indicam os seguintes grupos de produtos como os mais expressivos: Na Seo 2, 55% dos itens correspondem a 233 (borracha sinttica), 247 (madeira em bruto), 248 (madeira trabalhada) e 251 (papel e aparas). Na Seo 5, 72% dos produtos esto em 511 (hidrocarbonetos), 512 (alcois, fenois e derivados), 522 (elementos qumicos inorgnicos), 523 (outros qumicos inorgnicos) e 562 (fertilizantes). E na Seo 6, 45% dos casos referem-se a 671 (ferro fundido, esponjoso e ao), 672 (lingotes e outras formas primrias de ferro ou ao), 682 (cobre) e 684 (alumnio). Grfico 24 Rssia: vantagem comparativa revelada por Seo SITC - 5 dgitos

Resumindo os resultados em relao aos indicadores de vantagens comparativas, pode-se dizer, primeiro, que h uma clara hierarquia em que a China a economia com maior nmero de itens 42

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em que competitiva. Este nmero aumentou em forma expressiva desde o incio da dcada passada, e tem a peculiaridade de ser concentrado em produtos estritamente manufaturados. A ndia tem igualmente vantagens comparativas em manufaturas, mas como o Brasil tambm competitiva em produtos com grau de transformao mais baixo. Uma diferena entre estes dois pases que a ndia aumentou o nmero de itens em que competitiva em proporo mais pronunciada que o Brasil, e tem incidncia maior no setor manufatureiro. O caso mais diferente nesse conjunto de pases a Rssia, que perdeu competitividade entre os dois perodos considerados.

7 Os ganhos e perdas entre os BRICs na disputa por mercados frequente a percepo de que as exportaes brasileiras tm perdido participao em alguns mercados importantes, como os EUA, Argentina e Mxico, entre outros, e h diversas anlises que relacionam esta perda de participao a ganhos por parte de outros pases em desenvolvimento, em particular o dinamismo exportador chins. Para avaliar a extenso do processo foram feitas estimativas para treze mercados selecionados, para o perodo compreendido entre 1995 e 2008. Tabela 23 - Ganhos e perdas do Brasil em relao aos demais BRICs, em mercados selecionados - 1995-2008 (US$ milhes) Em relao China Em relao ndia Em relao RssiaBrasil Mercados/ Concorrentes Ganhos-Perdas China Brasil ndia Brasil RssiaGanhos-Perdas Ganhos-Perdas Ganhos-Perdas Ganhos-Perdas Ganhos-Perdas

EUA Mxico Europa Ocidental (1) Europa Oriental (2) Amrica Latina (3) Amrica do Sul (4) Mercosul (5) Amrica Central (6) Amrica do Norte (7) Caribe (8) sia (9) frica (10) Oceania (11) Total (12)

4.162 849 268 1.182 -698 665 -673 -9 4.676 35 6.295 564 -91 13.585

143.319 9.978 144.462 38.514 36.551 17.019 10.787 696 145.657 224 137.649 11.046 17.191 512.462

6.435 1.753 5.688 2.196 3.428 7.029 6.084 270 6.350 73 4.984 689 3 27.286 43

7.711 275 8.763 1.043 2.102 1.224 869 23 5.500 23 3.155 1.635 453 21.824

2.706 2.815 13.142 1.973 13.656 13.049 7.773 369 5.027 83 10.247 1.236 244 45.374

1.268 48 29.317 6.155 2.573 2.135 1.775 -18 1.360 -0,2 17.114 198 37 56.302

O Brasil e os demais BRICs Comrcio e Poltica

Notas: (1) Alemanha, ustria, Blgica, Dinamarca, Espanha, Finlndia, Frana, Grcia, Irlanda, Itlia, Luxemburgo, Pases Baixos, Portugal, Reino Unido e Sucia (2) Eslovquia, Estnia, Hungria, Litunia, Polonia, Repblica Checa e Ucrnia (3) Argentina, Bolvia, Chile, Colmbia, Costa Rica, Equador, Guatemala, Honduras, Mxico, Nicargua, Panam, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela (4) Argentina, Bolvia, Chile, Colmbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela (5) Argentina, Paraguai e Uruguai (6) Costa Rica, Guatemala, Honduras, Nicargua e Panam (7) Canad, Estados Unidos e Mxico (8) Cuba, Jamaica, Repblica Dominicana e Trinidad & Tobago (9) Cingapura, Coria do Sul, Filipinas, Indonsia, Japo e Paquisto (10) frica do Sul, Angola, Arglia, Congo, Egito, Etipia, Lbia, Marrocos, Moambique, Nambia, Nigria, Senegal, Sudo, Tunsia, Qunia e Zmbia (11) Austrlia e Nova Zelndia (12) Corresponde soma dos valores de Europa Ocidental, Europa Oriental, Amrica do Sul, Amrica Central, Amrica do Norte, Caribe, sia, frica e Oceania

Os dados foram processados segundo a classificao de produtos a cinco dgitos. O mtodo consistiu, essencialmente, em identificar cada produto em que houve ganho de participao da exportao brasileira para cada mercado entre aqueles dois anos, e, simultaneamente, perda de participao de cada produto por parte da China, ndia e Rssia, em separado. A isso chamamos de ganho por parte do Brasil e correspondente perda por parte de cada um desses pases. Esta variao na participao foi medida, em termos de valor, aplicando-se o diferencial de participao sobre o valor efetivamente exportado pelo Brasil para cada mercado em 2008. De modo semelhante, foram identificados os produtos em que houve perda de participao brasileira e ganho paralelo por parte de cada um dos demais BRICs. Esta a estimativa mais prxima ao conceito de desvio de comrcio6: em que produtos do Brasil perderam espao, enquanto outros fornecedores foram favorecidos. No possvel afirmar, a esse nvel de agregao, que a perda de mercado por parte do Brasil tenha sido efetivamente ou predominantemente provocada pela concorrncia dos produtos dos demais BRICs. Tampouco que as perdas registradas por parte dos trs parceiros sejam devidas ao desempenho brasileiro. Mas a simultaneidade de ganhos e perdas assim definidos d ideia aproximada das magnitudes envolvidas em cada caso. Segundo os resultados mostrados na Tabela 23, o Brasil teve entre 1995 e 2008 ganhos de mercado em relao aos trs outros BRICs, variando entre US$ 13 bilhes em relao China e US$ 45 bilhes em relao Rssia, o que significa que existem produtos para os quais as exportaes brasileiras ganharam participao de mercado, ao mesmo tempo em que a oferta dos outros trs pases perdeu espao. H mercados como (de forma preocupante) o Mercosul, a Amrica Central e a Oceania em que se observam perdas lquidas na comparao com a China, mas de modo geral houve, nesses treze anos, um ganho de mercado.Embora este conceito tenha sido originalmente formulado em termos de processos de integrao regional, o que no, evidentemente, o caso aqui.6

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As relaes comerciais do Brasil com os demais BRICs

A questo relevante que a magnitude dos ganhos lquidos por parte do Brasil nfima, se comparada aos ganhos lquidos da China: US$ 13 bilhes, contra US$ 512 bilhes. Isso significa dizer que neste perodo foram criadas oportunidades de exportao, que o Brasil soube aproveitar em parte, mas a China foi muitssimo mais beneficiada, aumentando sua parcela de mercado onde o Brasil sofreu retrao em valores bem mais expressivos em todos os mercados. E isso foi particularmente marcante nos principais mercados: EUA, Europa Ocidental e sia. No caso da concorrncia com a ndia o resultado mais favorvel ao Brasil, com um valor lquido total de ganhos mais expressivo, tanto em relao ao observado na comparao com a China quanto em relao aos ganhos lquidos indianos. No deveria surpreender o fato de as vantagens brasileiras estarem mais concentradas na Amrica Latina. Em relao Rssia, os ganhos brasileiros so menores que os ganhos russos, e no surpreende que isso esteja relacionado ao comrcio com a Europa Ocidental e sia, tradicionais mercados para os produtos energticos russos. A Tabela 24 mostra o nmero de produtos (a 5 dgitos de classificao) envolvidos em cada caso. Tabela 24 - Nmero de produtos (5-dgitos) com ganhos e perdas de mercado - 1995 - 2008 Em relao China Em relao ndia Em relao Rssia Mercados/ Concorrentes EUA Mxico Europa Ocidental Europa Oriental Amrica Latina Amrica do Sul Mercosul Amrica Central Amrica do Norte Caribe sia frica OceaniaGanho Perda Ganho Perda Ganho Perda

93 95 83 51 207 287 297 159 88 41 55 35 19

365 168 409 80 497 424 349 140 399 46 344 79 171

193 228 163 86 453 542 509 269 218 71 125 63 65

239 78 321 41 247 189 141 25 285 14 239 76 114

371 353 392 65 681 720 625 312 452 86 297 196 138

78 6 160 45 54 32 22 2 82 1 78 8 26

Fonte: tabulaes prprias a partir da base de dados UN/COMTRADE.

Na comparao com a China, o nmero de produtos em que este pas deslocou produtos brasileiros bastante superior ao nmero de itens em que o Brasil ganhou mercado, o que pode ser observado de forma sistemtica em todos os mercados considerados. Na competio com a ndia os resultados so mais variados, com o nmero de produtos maior em alguns mercados em que o Brasil ganhou espao e menor em outros. De forma coerente com os dados da Tabela 23, a predominncia dos ganhos brasileiros ntida na Amrica Latina. 45

O Brasil e os demais BRICs Comrcio e Poltica

A comparao com a Rssia distinta das anteriores. O nmero de produtos com os quais o Brasil tem ganhado participao com perda russa sistematicamente maior que na situao inversa, e isso se observa em todos os mercados. No entanto, os resultados da Tabela 23 indicam que houve ganho lquido em valor mais elevado por parte daquele pas. Isso indicativo da importncia de se considerar os preos dos itens envolvidos em cada caso, algo que transcende os objetivos do presente trabalho.

8 Consideraes finaisEste artigo mostrou indicaes de que o conjunto dos pases BRICs tem indiscutvel peso crescente na economia mundial. So participantes que no podem ser desconsiderados nas anlises de potencial econmico, assim como nas anlises das relaes bilaterais e regionais. Ao concentrar o foco nos vnculos comerciais entre esses pases identifica-se um conjunto de peculiaridades. Eles no compem um conjunto homogneo, como tampouco semelhante a relao do Brasil com cada um deles. Com a ndia e a Rssia o padro de comrcio brasileiro peculiar, e cada vez menos semelhante estrutura de comrcio desses pases com o resto do mundo. Com a China, no entanto, o comrcio brasileiro cada vez mais parecido com o padro geral, o que indica que a importncia crescente dos vnculos bilaterais mais provavelmente parte de um movimento geral daquele pas. Existe baixa similaridade na composio das exportaes brasileiras em comparao com a dos outros trs pases, com o que menor a probabilidade de transaes ocorrerem nos mesmos setores. A economia brasileira apresenta vantagens comparativas, em nmero de produtos, inferior s da China e s da ndia, o que por si s se impe como desafio poltica econmica. De fato, ao se considerar a presena de produtos desses pases em mercados selecionados constata-se que os ganhos brasileiros, em termos de maior participao, em detrimento dos produtos dos demais BRICs, foram bem menores que a situao inversa. Vale ressaltar, mesmo que de forma imprecisa, que os maiores ganhos brasileiros estiveram centrados na Amrica Latina, em comparao com a ndia e a Rssia, mas foi precisamente a onde se registraram as maiores perdas para a China. E o Brasil teve desempenho menos favorvel nos principais mercados (EUA, Europa e sia). O conjunto de indicadores apresentados aqui busca sistematizar as semelhanas e as diferenas entre os pases do chamado grupo BRICs, assim como sugestivo nas reas onde se deveria concentrar a ao poltica, caso haja interesse na intensificao das relaes comerciais entre esses pases e na consolidao de um padro mais eficiente de competitividade da produo brasileira.

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Referncias bibliogrficasBalassa, B. (1965), Trade liberalisation and revealed comparative advantage, The Manchester School, N. 33, p. 99-123. Brulhart, M. (2002), Marginal intra-industry trade: towards a measure of non-disruptive trade expansion, Frontiers of research in intra-industry trade, P.J. Lloyd e H. Lee (orgs.), Palgrave-Macmillan. Donges, J. e outros (1982), The second enlargement o