Oeste - Gazeta Das Caldas · cação de plantas silvestres comestíveis. Estas realizam-se...

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Oeste A ri ult ra Este suplemento é parte integrante da edição nº 5173 da Gazeta das Caldas e não pode ser vendido separadamente.

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OesteA ri ult ra

Este suplemento é parte integrante da edição nº 5173

da Gazeta das Caldas e não pode ser vendido separadamente.

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2 12 de Maio, 2017Gazeta das Caldas

Quando o cultivo das plantas se harmoniza com os ciclos da naturezaNa aldeia de Casal dos Ramos, a meio caminho entre as Caldas da Rainha e Alcobaça, existe o Espaço Lirium – Harmonia Natural e Sustentabilidade, um

projecto de cultivo e partilha de conhecimento na área da jardinagem e agricultura, em comunhão com a natureza. Esta propriedade, que tem perto de

um hectare, poderá dar lugar a um ecocampismo e a acolher visitas de estudo, onde os mais novos tomarão contacto com toda aquela biodiversidade.

As plantas, sobretudo aromáticas e produzidas de forma biológica, são comercializadas na Praça da Fruta das Caldas.

Fátima Ferreira

[email protected]

Os aguaceiros que caíram na madrugada e manhã de sex-ta-feira vieram dar um novo

vigor à horta de Ricardo Ferreira, per-mitindo às plantas crescer e desen-volver-se. Paralelamente irá tam-bém crescer muita erva, que nesta propriedade não é arrancada - ape-nas cortada e os restos são aprovei-tados para compostagem e aduba-gem natural. Neste espaço não entram pesticidas e toda a produção é feita de modo biológico. Em perto de um hectare de terra convivem todo o género de plantas, desde as hortícolas às aro-máticas, passando pelas espontâneas, com árvores de fruto pelo meio. “Há

uma desordem natural nas coisas,

um caos organizado”, conta Ricardo Ferreira, explicando que algumas das plantas são colocadas em locais estratégicos pois têm a função de re-pelentes ou atractivos de insectos. A planta do funcho, por exemplo, não deve estar junto das outras cul-turas. Deve estar na horta, mas nas suas bordaduras, e assume funções de repelente de roedores (afasta os ratos) ou, aquando da fl oração, atrai insectos úteis para a polonização. Já o absinto é uma das plantas mais usa-das na agricultura biológica e per-macultura para atrair pragas para si e depois eliminá-las. No entanto, também esta planta não é compa-tível com outras culturas, devendo estar separada delas. Quando os insectos atacam, Ricardo Ferreira usa chorumes e efusões para os afastar e assim proteger a sua plantação. Os pomares são essencialmente com-postos por pereiras e macieiras re-gionais. Algumas delas são varie-

dades muito antigas e praticamente esquecidas, que o agricultor tenta recuperar. “São árvores do tempo

dos nossos avós”, conta, acrescen-tando que tem exemplares regionais desde o Algarve a Trás-os-Montes, que comercializa a pessoas também interessadas neste conceito.

O “mundo” das plantas aromáticasLicenciado em Ciências do Ambiente, Ricardo Ferreira sempre teve um fas-cínio especial pela natureza. As suas férias em criança eram passadas nos parques naturais. No entanto, este contacto mais directo com o traba-lho na terra surgiu há cerca de oito anos quando construiu a sua casa e ajardinou parte do terreno. Depois foi estudando mais sobre algumas filosofias e conceitos ligados à ter-ra, como a permacultura (estraté-gia de planeamento da produção, aproveitando as condições e os re-cursos naturais locais da melhor maneira possível), a biodinâmica e a agricultura natural. Foi alargando o local de cultivo e começou a focar-se mais nas plantas aromáticas, mas sem a intensão de comercializar. No entanto, a produ-ção foi superior às suas expectativas e começou a vender as aromáticas em feirinhas de artesanato, até que conheceu David Barros, que produz germinados (rebentos de plantas) e que o convidou a experimentar ven-der na Praça da Fruta. A estreia foi há perto de cinco anos e desde en-tão nunca mais deixou aquele mer-cado. Como trabalha durante a se-mana numa empresa de derivados

de madeira, reserva os sábados para a venda das suas plantas aromáticas, e também de algumas árvores, sobre-tudo da fl ora autóctone. Só de plantas aromáticas, Ricardo Ferreira tem cerca de 300 varieda-des. As mais procuradas são o tomi-lho, o cebolinho e o alecrim e, em certas alturas do ano, também a sal-sa e os coentros. Mas também há ou-tras, mais desconhecidas e não menos estranhas, como é o caso da planta cogumelo, que tem um sabor mui-to semelhante ao do próprio fungo. Na sua banca é possível encontrar o nome junto da cada espécie, per-mitindo assim às pessoas saber do que se trata. Para além disso, o ven-dedor também explica quais as uti-lizações que cada uma delas permite. Há quem chegue junto dele a pedir uma planta aromática para condi-mentar determinado prato, outros a querer uma cura medicinal ou ain-da quem apareça com esquemas de jardins ou fl oreiras verticais para ornamentar a casa. “Há pessoas que não sabem cuidar

das plantas ou é a sua primeira expe-

riência nesse campo”, revela, acres-centando que também disponibiliza informações no seu blog liriumaro-maticas.blogspot.pt e no facebook (facebook.com/liriumplantasaro-maticas) para que possam ter mais autonomia nos cuidados a prestar.São pessoas dos 30 aos 50 anos as que mais investem em plantas aromáti-cas e, sobretudo, para usar na cozi-nha. Mas os mais novos também já começam a revelar curiosidade neste tipo de plantas, nomeadamente nas suas múltiplas funções, como é o seu uso medicinal ou mesmo esotérico, acrescenta o vendedor, dando nota das preocupações destes jovens (mui-tos deles estudantes da ESAD) com a natureza e culturas alternativas.

Visitas guiadas e ofi cinas para escolasRicardo Ferreira dinamiza outras ac-tividades ligadas à natureza, como é o caso das saídas de campo para identifi -cação de plantas silvestres comestíveis. Estas realizam-se sobretudo na região Oeste e têm como cenário os locais mais desconhecidos do Parque Natural da Serra de Aire e dos Candeeiros, Planalto de Santo António, Valado dos Frades ou Mata Nacional do Vimeiro. A próxima irá decorrer a 21 de Maio e será uma visita ao “bosque encanta-do” da Encosta do Sidral em Fervença

(Alcobaça), onde os participantes po-derão aprender a identifi car árvores, arbustos, plantas aromáticas e espon-tâneas comestíveis.“As visitas são interessantes porque

encontramos uma diversidade da qual

não nos apercebemos quando por lá

passamos sem dar a devida atenção”, diz, especifi cando que os participantes são sobretudo pessoas da região, mas também oriundos da cidade e que têm curiosidade pelas plantas. Também promove workshops e, no futuro, pretende continuar a investir no Espaço Lirium, de modo a permitir ali criar um ecocampismo e também dinamizar ofi cinas e visitas para es-colas. “É uma quinta não formal, mas

com muita biodiversidade”, remata.Ricardo Ferreira também executa hortas e jardins e dá apoio técnico e de consultoria em projectos de per-macultura e agricultura biológica.

Ricardo Ferreira, na sua estufa de aromáticas com um ruibarbo na mão

Plantas de diversas espécies e variedades coabitam de forma harmoniosa nesta propriedade

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312 de Maio, 2017Gazeta das Caldas

Por: João Barbosa*

Defi nitiva só há uma coisa na vida. Todas as outras são opções ou conse-

quências passageiras. Retórica à parte, quero dizer que há boas

razões para conhecer os vinhos de Lisboa.A geografi a física é uma coisa e a geografi a hu-mana é outra. A região vitivinícola de Lisboa é comprida, parece-me em torno de 140 quilóme-tros e, também por isso, diversa. Embora sem-pre se tivesse feito bom vinho, a fama da antiga Estremadura não era das melhores.A reputação deveu-se muito por culpa própria, as muitas décadas em que se privilegiou a quan-tidade deixaram nódoa. As castas muito produ-tivas, como a seminário ou a seara nova, têm vindo a ser substituídas e tem crescido o nú-mero de empresas a trabalhar bem.Não gosto de estabelecer tabelas para relações entre a qualidade e o preço e, muito menos, apli-cando-as a regiões. Podem enumerar-se os cri-térios de avaliação, mas cada pessoa terá a sua sentença. No entanto, há nesta região vinhos que, se produzidos noutras, teriam outro preço.A mudança da designação, realizada há uns anos, de Estremadura para Lisboa trouxe certamente uma maior reconhecimento e visibilidade co-mercial. A alteração não foi apenas nominal. Na verdade, a nova designação veio premiar produ-tores que faziam, alguns há muitos anos, vinho com reconhecida qualidade.A região é generosa, nela se consegue fazer muita quantidade como muito bem, cabendo a esco-lha ao produtor. Sendo que não são incompatí-veis: fi rmas como a DFJ, a Casa Santos Lima ou

Parras Wines provam-no.É sempre injusto e difícil fazer listas, mas há ca-sas que se destacam, porque começaram mais cedo ou porque alcançaram um importante re-conhecimento. Quinta do Monte d’Oiro, Quinta de Chocapalha, Quinta de Pancas, Quinta de Santana, Quinta do Pinto, Casa das Gaeiras, Quinta da Romeira, Fundação Oriente, Adega Regional de Colares… difi cilmente não estariam numa lista de honra.Felizmente, passou a mania de afi rmar que Portugal é um país de tintos. Convém referir que na re-gião de Lisboa fazem-se alguns dos melhores brancos do país – não apenas na denominação Bucelas, exclusivamente de brancos e que pode dar muito mais.Além de generosa, Lisboa é plástica, nela cabem nove denominações de origem controlada. É dis-cutível se o número é adequado por traduzir par-ticularidades dos vinhos ou obedecer a pressão de poderes políticos variados. Sejam muitas ou poucas, há algumas que são, para mim, indiscutíveis: Alenquer, Bucelas, Carcavelos, Colares e Lourinhã. A primeira comprova-se pelo número de empresas de referência e quintas com prestígio. A Lourinhã é uma das três regiões vi-tivinícolas do mundo que produz apenas aguar-dente. Colares e Bucelas têm variadas e antigas referências, ainda anteriores ao estabelecimento em letra de lei. E Carcavelos é um bicho de zooló-gico, visto estar praticamente extinto – louve-se o trabalho que a Câmara Municipal de Oeiras tem vindo a realizar, com apoio do Ministério da Agricultura, para a sua existência.

*Jornalista. Especialista em vinhos.https://joaoamesa.blogspot.pt

Beber Lisboa é obrigatórioPUB.

PUB.

(309)(0316)

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4 12 de Maio, 2017Gazeta das Caldas

Agricultura sustentável? O problema não está só na produção. A falta de incorporação de conhecimento técnico-científi co nas explorações agrícolas e o domínio da distribuição no mercado dos bens alimentares

são as duas principais limitações ao desenvolvimento da agricultura sustentável na região. O problema não está, pois, só na produção. Esta é a opinião

do engenheiro agrónomo Ricardo Vicente, que foi partilhada num debate promovido pelo BE, dia 22 de Abril, onde este abordou o tema “Agricultura

sustentável e mercados alternativos”.

Maria Beatriz Raposo

[email protected]

Antes mesmo de identifi car as principais limitações à prática de uma agricultura sustentá-

vel, Ricardo Vicente, que durante seis anos trabalhou com agricultores da região, quis fazer com o público um “tratamento de choque inicial”, pon-do-o a par do cenário actual do sector agrícola em Portugal e no mundo.Enquanto nos anos 60 e 70 havia re-giões do país em que mais de metade da população vivia da agricultura, hoje não há nenhuma em que mais de 10% trabalhe neste sector. “Houve

uma grande perda da importância

da agricultura como ramo empre-

gador e a tendência é decrescente.

Actualmente quem espera que a

agricultura consiga voltar a gerar

os mesmos níveis de emprego está

completamente enganado”, frisou o engenheiro agrónomo.Outra realidade está relacionada com a diferença da produtividade do tra-balho que existe no sector agrícola. Por exemplo, a relação da produti-vidade do trabalho entre a agricul-tura manual e menos produtiva do mundo e a agricultura mecanizada e monitorizada mais produtiva é de 1:2000. Isto signifi ca que um agri-cultor bem equipado, com explora-ções bem dimensionadas e localiza-das nas melhores terras produz, por ano, mais duas mil toneladas que um agricultor nas piores condições de trabalho. “É sobre este cenário que

depois existe um mercado de alimen-

tos global, liberalizado e com pouca

regulamentação, o que deixa muitos

agricultores desprotegidos”, realçou o especialista.

Os principais problemasIndependentemente de uma explora-ção agrícola ser pequena ou de gran-de dimensão, biológica ou industrial, há actualmente um “enorme défi -

ce de conhecimento técnico-cientí-

fi co nas práticas agrícolas”, explicou Ricardo Vicente, acrescentando que é necessário existir um equilíbrio en-tre este factor, as tecnologias de pro-dução e as tecnologias pós-colheita para maximizar os investimentos dos agricultores. O engenheiro agrónomo deu o exem-plo dos produtores de tomate para

consumo em fresco, que chegam a investir mais de 200 mil euros por hectare em tecnologia de produção (e já existem em Portugal muitas ex-plorações com dimensões entre cin-co a 10 hectares), mas que depois pe-cam pelo acompanhamento técnico. “Temos sistemas de rega com poten-

cial para controlar ao minuto todos

os débitos de adubo e água, mas os

produtores têm falta de técnicos

para acompanhar e rentabilizar

o uso destes equipamentos”, disse Ricardo Vicente. O resultado é mui-tas vezes aplicar a mesma solução nutritiva a culturas que se encon-tram em fases de desenvolvimen-to diferentes. As abóboras também servem de

exemplo: “actualmente há um in-

vestimento grande em tecnologias

de produção, mas um enorme dé-

fi ce no que respeita às tecnologias

pós-colheita, principalmente ao ní-

vel do armazenamento, o que pro-

voca perdas anuais de 30 a 60% da

produção”. O outro principal entrave ao desen-volvimento da agricultura susten-tável na região é a cartelização do mercado dos bens alimentares, ou seja, o predomínio do tecido distri-buidor. Em Portugal a grande distri-buição ocupa 75% deste mercado e quase metade pertence às cadeias Pingo Doce e Continente. Nesta teia de aranha, o agricultor sai prejudica-do pois vê reduzidas as suas margens

de lucro, uma vez que a distribuição tem maior capacidade para tabelar os preços dos produtos. “O produto agrícola assume o seu

menor valor no momento da pro-

dução e o maior quando é vendido

ao consumidor. Até aqui tudo bem.

O que não é normal é que os acrés-

cimos de valor sejam maiores à me-

dida que se avança na distribuição e

não no momento em que o produto

é criado”, explicou Ricardo Vicente.Para ilustrar esta realidade, o agró-nomo valeu-se de dados relativos ao preço de alguns hortícolas no dia 9 de Junho de 2015 em A dos Cunhados (Torres Vedras). Todos os produtores venderam o seu tomate a menos de 60 cêntimos o quilo, mas no mesmo

dia o Continente vendia-o ao consu-midor por 1,79 euros. Já a couve-lom-barda foi comprada aos agricultores por oito cêntimos o quilo, mas ven-dida nesta cadeia de hipermercados por 79 cêntimos. “Estas margens são abusivas e fa-

zem com que os agricultores não te-

nham depois condições de investir

em conhecimento técnico-científi -

co ou não tenham a qualidade de

vida que merecem”, alertou Ricardo Vicente, acrescentando que as gran-des superfícies contribuíram muito mais para eliminar emprego do que o inverso. Isto porque acabaram com muitos mercados locais e pequenas produções agrícolas.Esta política tem ainda consequên-cias para a qualidade dos alimentos que o consumidor encontra nas pra-teleiras dos supermercados, pois mui-tos agricultores optam por exportar os seus melhores produtos (uma vez que conseguem praticar preços mais apetecíveis), deixando para as cadeias portuguesas os de menor qualidade.Há depois um conjunto de impactos ambientais que também são refl exo desta lógica de mercado e da falta de investimento em conhecimento técnico-científi co. “Promovem-se as

agriculturas intensivas com base na

monocultura, havendo maior risco

de pragas e doenças, o que leva ao

maior uso de adubos e pesticidas.

Isto provoca a contaminação dos

lençóis freáticos e dos solos, perda

de biodiversidade e aumento dos

consumos energéticos”, salientou Ricardo Vicente.

Possíveis soluçõesIdentifi cados os problemas, quais as soluções? Ricardo Vicente sugeriu um conjunto de medidas que podem desde logo ser incentivadas pelas au-tarquias. Como a promoção dos mer-cados de proximidade, que permitem não só ao produtor ter mais poder negocial no que respeita aos preços como reduzir o consumo energético (o ciclo distributivo fi ca mais reduzi-do), a criação de gabinetes de apoio gratuito à agricultura familiar susten-tável em articulação com centros de investigação ou a aposta nas hortas urbanas. O agrónomo sugeriu ain-da que se façam mais campanhas de sensibilização que apelem ao consu-mo local ou que se crie uma rede de mercearias nas cidades com marcas de abastecimento local.

Ricardo Vicente (à esquerda) participou no debate do BE sobre o ambiente discutindo o tema da agricultura. Na mesa estão ainda Fábio Capinha e Maria João Melo, da Plataforma Defender o Bom Sucesso.

A falta de investimento em tecnologias pós-colheita, principalmente ao nível do armazenamento, faz com que haja uma perda anual de 30 a 60% da abóbora produzida pelos agricultores (arquivo)

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atriz

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512 de Maio, 2017Gazeta das Caldas

Produção de Maçã de Alcobaça pode crescer 50% este anoA Maçã de Alcobaça deverá ter na época 2017/18 uma das melhores campanhas de sempre, podendo atingir as 45 mil toneladas de maçã certifi cada, até

mais 50% que no ano passado. A fi leira está em crescimento, este ano foram adicionados 20% de novos pomares e nos próximos dois anos estima-se que a

área plantada suba de 1.200 para 1.500 hectares.

Joel Ribeiro

[email protected]

Para a época 2017/18, cujo pro-cesso se encontra na fase de crescimento do fruto, espera-se

uma campanha normal. As condi-ções climatéricas foram as ideais. Fez frio na altura certa, o que permitiu um correcto despertar das árvores. Na época da fl oração as temperatu-ras estiveram amenas e não houve oscilações nem fenómenos destruti-vos, como o granizo. Na fase actual, não se verifi ca excesso de chuva, que pode afectar o sabor do fruto, ex-plicou Jorge Soares, presidente da Associação de Produtores de Maçã de Alcobaça (APMA), que acredita que a falta de água não deverá ser um problema para esta campanha.Tendo em conta que houve este ano um aumento de 20% na área de po-mar inscrita para Maçã de Alcobaça IGP, para os 1.200 hectares, estima-se que a produção seja entre 40 a 45 mil toneladas, o que representa um crescimento entre os 30 e os 50%.

Na campanha que está a terminar, que resulta da produção de 2016, houve um decréscimo na ordem dos 30%. A fruta certifi cada, cerca de 60% da que os pomares produzem, ascen-deu às 30 mil toneladas, com um volume de negócios de 30 milhões de euros, quando na campanha de 2015 tinham sido 40 mil toneladas. A quebra de produção foi a maior com que a associação já se debateu, no entanto “foi tolerável porque as

condições climatéricas foram mui-

to adversas”, explica Jorge Soares.O recuo da produção teve efeitos sobretudo ao nível das exportações, que baixaram de 29% para 12% na campanha 2016/17. Jorge Soares ex-plica que esse efeito foi estratégico. Ao longo dos anos a fi leira direccio-nou-se para um mercado interno que estava muito virado para a importa-ção. “Recuperámos muito espaço à

maçã importada, que chegou a ser

de 100 mil toneladas mas diminuiu

um terço graças ao nosso posicio-

namento. Era importante manter

esse foco, por isso sacrifi cámos a

exportação”, explica.A campanha de 2017/18 deverá per-mitir que a marca volte a crescer no mercado externo e para isso a APMA poderá avançar com um clube de exportadores, que permitirá às or-ganizações de produtores actuarem juntas no estrangeiro, como fazem já em Portugal.Actualmente a APMA é composta por 19 organizações de produtores numa zona entre a Serra dos Candeeiros e o mar e dá emprego directo a cerca de 1.200 pessoas. Estima-se que a área plantada possa atingir os 1.500 hectares dentro de dois anos.Jorge Soares diz que cada hectar de pomar representa 220 dias de tra-balho directo, ou seja, garante um posto de trabalho a tempo inteiro, e signifi ca menos um camião de fruta estrangeira a entrar no nos-so mercado.O sector também garante divisas ao Estado já que 40 a 45% do pre-ço que o consumidor paga corres-ponde a receita fi scal, incluindo a tributação da mão-de-obra e de

energia. Já com a fruta importada, o Estado pode amealhar entre 6 e 10% do preço fi nal em receita fi s-cal, e se a comercialização for feita fora do sistema fi scal “e isso pode

acontecer com fruta espanhola, a

receita fi scal é zero”, salienta o pre-sidente da APMA.Jorge Soares identifi cou alguns dos

desafi os que norteiam o futuro da APMA. O principal é continuar a valorizar um produto que per si va-loriza as pessoas e o território. E isso implica “o reforço dos laços de união

dos produtores, porque se a Maçã

de Alcobaça deixar de ser um pro-

jecto associativo deixa de ter estes

resultados”, salienta Jorge Soares.

A produção de Maçã de Alcobaça continua a crescer e pode atingir as 45 mil toneladas este ano (foto de arquivo)

Joel

Rib

eiro

Falta de chuva pode afectar campanha da Pêra Rocha do Oeste

Joel Ribeiro

[email protected]

A produção de Pêra Rocha do Oeste está a processar-se de forma normal e 2017 pode

ser um bom ano para o fruto com Denominação de Origem Protegida (DOP). No entanto, a falta de chu-va ainda pode condicionar o seu último estágio de evolução, disse à Gazeta das Caldas a secretária geral da Associação de Nacional de Produtores de Pêra Rocha do Oeste (ANP). A campanha 2016/17 ain-da não tem resultados finais, mas as cerca de 128,5 mil toneladas da produção de 2016 deverão ser to-talmente escoadas.As 128,5 mil toneladas de Pêra Rocha produzidas em 2016 representam um decréscimo de 3,5% em rela-ção às 133 mil toneladas de 2015. Joana Pereira disse à Gazeta das

Caldas que a ANP não dispõe de da-

dos sobre as vendas que representa a campanha 2016/17, mas adian-tou que toda a Pêra Rocha colhida será “certamente” comercializada: Atendendo aos dados dos anos an-teriores, a fileira valerá na ordem dos 130 milhões de euros.Nos últimos anos o escoamento tem sido repartido de forma equivalente entre os mercados interno e exter-no, na campanha 2015/16 – a que tem dados disponíveis – as vendas para o estrangeiro representaram 52% e os mercados que estão com maior crescimento são Marrocos e o Reino Unido, acrescentou a diri-gente da ANP.Para a produção de 2017 as perspec-tivas “são boas devendo traduzir-

-se num ano normal de colheita”, adiantou Joana Pereira, acrescen-tando que a falta de água poderá, no entanto, ser uma condicionante na fase fi nal da produção.A ANP tem 30 centrais fruteiras as-

sociadas e uma associação de produ-tores e representa um universo de cerca de 86% da produção nacional de Pêra Rocha. A fi leira é compos-ta por cerca de 5 mil produtores e tem uma área de plantação de cer-ca de 11 mil hectares entre Mafra e Leiria, com maior concentração nos concelhos de Cadaval e Bombarral.Os principais desafi os para a Pêra Rocha do Oeste são a procura de novos mercados no estrangeiro, bem como a sua divulgação, não esquecendo a importância que tem no sector o consumo nacional. A conservação a médio e longo pra-zo, “sem perder a sua qualidade in-

confundível e a segurança alimen-

tar”, é outro dos desafi os, adianta Joana Pereira.A fi leira tem desenvolvido parce-rias com o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária para estudar as melhores técnicas de produção e com o Instituto Superior

Agrário para o estudo da conserva-ção pós-colheita.Importante na divulgação da Pêra Rocha tem sido o desenvolvimento de produtos em que o fruto e o in-

grediente principal. “É muito im-

portante para o sector, pois toda

a valorização da Pera Rocha é be-

néfica para todos os produtores”, sustenta a secretária geral da ANP.

A produção de Pêra Rocha tem sido estável nos últimos anos

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A produção de Pêra Rocha do Oeste está a processar-se de forma normal e 2017 pode ser um bom ano para o fruto com Denominação de Origem

Protegida (DOP). No entanto, a falta de chuva ainda pode condicionar o seu último estágio de evolução.

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6 12 de Maio, 2017Gazeta das Caldas

Hortas urbanas abastecem a despensa dos seuAs hortas urbanas das Caldas da Rainha, do projecto Caldas Con[vida], foram inauguradas a 1 de Junho. Nove meses após a abertura todos os talhões individua

Gazeta das Caldas conversou com vários utilizadores das hortas urbanas, que estão satisfeitos coma experiência que estas lhes proporcionam. Além dos benefíc

para aliviar o stress.

Joel Ribeiro

[email protected]

José Costa foi um dos pioneiros nas hortas urbanas do Caldas Con[vida] mas já antes ama-

nhava um terreno de um cunha-do. A razão para produzir em vez de comprar é que, “assim sabemos

o que comemos”. José Costa diz que evita mesmo comprar verdu-ras quando a horta não lhas dá. “Tenho medo, evito comprar por

causa dos pesticidas”, observa.Cultiva um pouco de tudo. Favas, cebola, alface, couve e ervilha são só alguns exemplos. Este ano o in-verno não colaborou: a ausência de chuva e o frio extremo em Janeiro fez atrasar o crescimento das plan-tas. Contudo, ter uma horta impli-ca ter um pouco de criatividade e José Costa contornou o problema com uma solução engenhosa. Como não se podem colocar estufas nos talhões, criou estufas individuais para as suas alfaces com garrafões de água reutilizados. “Avança mais

rápido”, afiança.José Costa elogia o espírito que exis-te entre os utilizadores das hortas. “É uma família autêntica. Petisca-

se, fazem-se convívios, vários gru-

pos no verão passam aqui mais

tempo do que na praia”, observa.Luísa Garcia também foi das pri-meiras a ter um talhão nas hortas urbanas. Diz que tratar da sua hor-ta “alivia o stress depois do traba-

lho”. Além disso, “é uma boa sen-

sação ver as coisas que cultivamos

crescerem e depois levá-las para

casa para as consumir”, acrescenta.Tal como José Costa, também elo-gia o espírito que se cria entre os utilizadores da horta, tanto ao ní-vel do convívio como da troca de experiências. “Conversamos sobre

os métodos que resultam melhor”, refere. Também fazem caminhadas e quando um “vizinho” vai de fé-rias os outros garantem-lhe a rega.A experiência que Luísa Garcia tem da agricultura é de ver em crian-ça o pai a tirar da terra o sustento da família. “Gostava muito de ter

uma horta e, como moro perto,

aproveitei”, conta.Além de legumes e verduras, tem frutas, como morangos e framboe-sas, plantas para chá e aromáticas e ainda flores. Diz que só lhe falta zonas de sombra, mas faz constru-ções com canas para que as plan-tas lhas providenciem. Na sombra aproveita para fazer renda.

Falta melhorar algumas coisasApesar do funcionamento das hor-tas ser geralmente bom, há algu-mas coisas a melhorar. A salinha dos arrumos devia “estar a aberta

para todos guardarmos as coisas”, aponta. E a cozinha quando expos-ta ao sol fi ca “demasiado quente”. A estufa também devia “ser maior”,

para todos poderem desenvolver as suas sementes, e a vedação deixa passar alguns coelhos, acrescenta.O casal António e Florbela Mendes também são dos primeiros utiliza-dores das hortas urbanas. Florbela diz que, apesar de ter Horta no seu nome, “só sabia que as coisas não

nascem na prateleira do supermer-

cado” e no início não mexia em nada, mas agora também já dá uma aju-da. Já António Mendes lembra-se do tempo em que ia para a fazen-da com o pai.Estão muito satisfeitos com a ex-periência. Plantam, tratam, colhem e estão sempre a “inventar” coisas para melhorar a sua horta. “Vimos

cá sempre que possível e estamos

assim entretidos”, refere António Mendes.O início foi difícil, admitem, por não conhecerem as características do ter-reno, mas mudaram a terra e estru-maram-na e a partir daí começou a resultar.Também têm um pouco de tudo e, curiosamente, todos os canteiros es-

tão etiquetados. “Por um lado aju-

da-nos a identifi car as plantas por-

que não conhecemos o formato das

folhas, e por outro temos um fi lho

que pergunta sempre o que é cada

planta e assim tem a legenda feita”, exclama Florbela Mendes.O casal também elogia o espírito que se gera entre vizinhos. “Fazemos mui-

tas festas e patuscadas, chegamos a

sair daqui às 3h00 da madrugada

no verão e jantamos aqui todos os

dias”, sublinham.

“É engraçado dizer que é da nossa horta”António e Florbela Mendes sentem uma grande diferença no sabor dos alimentos, que são totalmente bio-

José Costa foi dos primeiros a ter um talhão nas hortas urbanas. Os garrafões na imagem servem de estufa para as alfaces Luísa Garcia diz que cuidar das plantas alivia o stress do trabalho

Paula Simões diz que o melhor de tudo é chegar e pôr os pés na terra Valdemar Varanda não tinha conhecimentos agrícolas, o Google foi um alia

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712 de Maio, 2017Gazeta das Caldas

us utilizadores e ajudam a combater o stressis estão ocupados, o que vem confi rmar a pertinência deste projecto, que já tem mais de 80 utilizadores, contabilizando as hortas sociais.

cios do sabor e de qualidade que os produtos que colhem têm em relação aos que compravam no supermercado, consideram que esta actividade é uma óptima

lógicos. De resto, uma das condi-ções das hortas urbanas é a não utilização de produtos químicos. Por outro lado, “é engraçado dizer

que é da nossa horta”, diz Florbela Mendes.Em Setembro do ano passado che-gou às hortas urbanas Paula Simões. Quando falou com a Gazeta das

Caldas tinha acabado de colher fa-vas, ervilhas e grelos, e tinha mo-rangueiros prontos para começar a dar fruto.Mora no Bairro da Ponte, soube da existência da horta e candidatou--se. Natural da Serra da Estrela, a agricultura fez parte da sua infân-cia e da juventude, até aos 16 anos. Hoje serve de escape ao stress do dia-a-dia. Trabalha por turnos e não há dia que não cuide das suas plantas, antes ou depois do traba-lho. “Serve de escape, o melhor

para mim é chegar e pôr os pés

na terra”, assegura.Desde que tem a horta, só com-prou cenouras e garante que o que produz é diferente. “É mais verde,

tem mais sabor e até o tempo de

cozedura é outro”, observa.Paula Simões é elogiada por ou-tros utilizadores pela forma como cuida do visual da sua horta, na qual tudo tem que estar harmo-nioso. Tudo o que utiliza para de-coração é reutilizado e esse é um trabalho partilhado com a filha, que até tem o seu próprio espaço no talhão. Por outro lado, a pre-sença de outros jovens acaba por ser outro incentivo para os mais novos. “Brincam e aprendem, uma

coisa é saber de onde vêm os pro-

dutos, outra é vê-los crescer, até

se dá mais valor às coisas”, realça Paula Simões.A “agricultora” diz que para colher é preciso “dedicação”. Tem curio-sidade de experimentar produtos diferentes que por norma não se encontram no supermercado, como a couve chinesa, a couve-de-bru-xelas, o rábano para saladas ou as acelgas. “Não conhecia este legu-

me e é uma maravilha para sala-

das ou sopa”, revela.

“A ferramenta google é um aliado”Setembro foi também o mês em que Valdemar Varanda iniciou a sua horta urbana. Diz que não conhecia nada do meio, mas encontrou na ferramen-ta Google “um precioso aliado”, que junta aos conselhos que ouve dos vi-zinhos e dos pais.Foi através da página de Facebook do vice-presidente da Câmara, Hugo Oliveira, que teve conhecimento da horta urbana, achou interessante e inscreveu-se.“Já ponderava procurar um terre-

no que alguém alugasse para me en-

treter, gosto disto e dá jeito”, conta.Refere que não é da horta que tira a sua alimentação integral, mas que a actividade lhe serve de terapia para aliviar o stress. “Sou funcionário pú-

blico, militar, trabalho em Lisboa e

quando chego às Caldas, venho logo

para aqui”, refere.Tenta ter um pouco de tudo o que a terra dá em cada fase do ano, frutas, legumes, e fl ores. É um trabalho de família que envolve ainda a mulher e, por vezes, a fi lha.A horta urbana também lhe propor-cionou novos amigos. “Gosto imenso

das pessoas”, diz, embora realce que o ponto principal não é o convívio, é cuidar das plantas.Quanto à diferença em relação ao que consumia antes, não tem muitas dú-vidas. “É evidente que são muito me-

lhores. A partir do momento em que

só utilizamos a terra e produtos orgâ-

nicos, não tem comparação”, destaca.Bem mais recente foi a chegada de Carlos e Neuza Frisado, pai e fi lha. Quando falaram para a Gazeta das

Caldas estavam apenas no segundo dia na horta urbana. Apesar de ain-da estarem a fazer os preparativos do terreno e a colocar as cercas, não es-condiam o entusiasmo.Já semeavam algumas coisas em vasos,

na varanda de casa, mas é a primeira vez que têm uma horta. Neuza soube da existência deste espaço numa con-versa com uma amiga que tem um talhão noutro local. Como também gostava de ter uma horta, decidiu concorrer. Uma ida de Carlos Frisado ao edifício do Centro de Promoção e Divulgação dos Produtos Regionais, junto ao mercado do peixe, foi sufi -ciente para entrar na lista de espe-ra, que apesar de ser longa não con-duziu a um grande tempo de espera. “Estive mais tempo com os papéis em

casa do que depois à espera”, graceja Neuza Frisado.Elogia o estado em que os outros uti-lizadores têm os seus talhões, o que “motiva quem chega de novo”. Os planos para a sementeira já estavam feitos e, como é norma entre os utili-zadores da horta, contém produtos o mais variados possível e inclui legu-mes e fl ores.Para Carlos e Neuza Frisado, que já passam grande parte do tempo jun-tos, este é mais um projecto para desenvolverem em família.

O casal António e Florbela Mendes passam os tempos livres na sua horta

ado Neuza e Carlos Frisado são dos utilizadores mais recentes mas já se renderam às hortas urbanas

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8 12 de Maio, 2017Gazeta das Caldas

Bolsa de Terras permitiu a casal de agricultores duplicar a produçãoA agricultora caldense Elizabete Matos foi a vencedora do primeiro concurso da Bolsa de Terras. Conseguiu, há dois anos, um contrato de arrendamento com o

Estado e fi cou com o usufruto da terra da Quinta de S. João, nos Casais da Ponte, por 15 anos. Paga uma renda anual de 6500 euros e, com ajuda do marido, já

investiu 300 mil euros na renovação e replantação de novos pomares nos 10 hectares que agora arrendou e que lhe vão permitir duplicar a produção.

Natacha Narciso

[email protected]

“Esta terra, que pertencia à

Direcção Regional de Agricultura,

estava ao abandono”, contou Elizabete Matos, 37 anos, a agricul-tora que é do Guisado (Salir de Matos) e que foi a primeira a concorrer à Bolsa de Terras que lhe permitiu ex-plorar os 10 hectares da Quinta de S. João nos Casais da Ponte (Coto), pró-ximo de Salir de Matos. Ela e o ma-rido, Filipe Sábio (41 anos), tinham um terreno confi nante e, por isso, tiveram acesso ao usufruto do ter-reno (do tamanho de 10 campos de futebol), pagando uma renda anual de 6500 euros. O casal já possuía 15 hectares, fi cando agora com um total de 25 hectares de área de exploração.Entre Abril e Maio de 2015 trata-ram da terra, arrancando as plan-tas velhas, fazendo drenagens e ni-velamentos que lhes permitiram no ano seguinte começar a fazer novas plantações, aumentando a produ-ção de Pêra Rocha e de maçã (Royal Gala e Fuji).“O histórico da quinta não nos trou-

xe mais valias, dado que plantámos

tudo de novo”, explicou o casal, que investe forte em novas técnicas e está sempre a par das inovações no que diz respeito a novas variedades e téc-nicas de produção.“Procuramos estar na linha da frente”, disse Filipe Sábio, que agora consegue ter 3000 a 3500 plantas por hectare. Trabalham com plantas italianas “e

a árvore já vem com dois anos de

viveiro”, explicaram. Quando é plan-tada “já vai na terceira folha”. Cada árvore adquirida a viveiros italianos custa cinco euros, mais cara do que em Portugal, mas assim “tentamos

rentabilizar mais rápido o investi-

mento”. Uma árvore plantada há um

ano em breve já estará a dar maçãs. Este arrendamento de terras pos-sibilitou aos agricultores crescer e “aumentar a produção quase para

o dobro”. A verdade é que estes 10 hectares vão permitir uma produ-ção equivalente aos 15 hectares que já possuíam, devido às inovações in-troduzidas. Com o investimento feito conseguem chegar às 50 a 60 tone-ladas de fruta por hectare enquan-to que pelo sistema antigo fi cavam--se pelas 30 a 40 toneladas. Usando máquinas e plataformas “facilmente

chegamos a estes valores”, disseram.

Plantam, embalam e comercializam Elizabete e Filipe Sábio plantam, são armazenistas, embalam e comercia-lizam a fruta – pêra e maçã - para o mercado nacional. “Temos clientes

de todo o país, sobretudo do Norte”, contaram, explicando que a sua fruta também chega ao estrangeiro, mas de forma indirecta. O pai de Filipe Sábio já vivia da fruticultura e ago-ra o fi lho continua no mesmo sector, pretendendo manter-se em todo o circuito, desde a plantação à comer-cialização. A transformação da fruta não está nos seus planos. Ele é técnico de gestão agrícola e Elizabete preferiu ir trabalhar quan-do fi ndou o 9º ano. Dão emprego a mais um colaborador durante todo o ano e quando chega a altura da campanha da apanha da fruta po-dem chegar às 50 pessoas. Graças ao uso de máquinas e plataformas já não utilizam escadotes e foi pos-sível reduzir a mão de obra. “A ambição é sempre ir crescendo,

mas não em demasia”, comentou o casal enquanto dá a conhecer as plantações e a charca que fi zeram e que permite contribuir para a rega controlada dos pomares. Deslocam-se com frequência a outros países, sobretudo a Itália, para conhecer as inovações tecnológicas e as máquinas que auxiliam na produção.Ao todo, na Quinta de S. João já in-vestiram 300 mil euros nas replan-tações e equipamento.

Preocupado com falta de águaElizabete e Filipe Sábio dedicam-se à protecção integrada, mas conside-ram que a agricultura biológica “é

o futuro”. O mercado e os consumi-dores assim o exigem, mas será ne-cessário um período de adaptação e de conversão dos próprios terrenos. Filipe Sábio está ainda preocupa-do com as condições climatéricas. Choveu pouco, a Primavera está a

ser bastante quente e nas nascentes e rios corre pouca água. “Vamos ter

que economizar, eu já estou a fazer

20 minutos de rega por dia quando

nesta fase com a chuva e humidade

normal não costuma ser necessário”, rematou o agricultor.

Elisabete Matos e Filipe Sábio, junto às novas plantações, feitas na Quinta de S. João, nos Casais da Ponte. As novas plantações vão permitir ao casal de agricultores aumentar a sua produção de maçãs e de peras.

A charca permite a rega do terreno arrendado

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Alcobaça e Torres Vedras com escolas de formação profi ssional agrícola

Na região Oeste existem duas escolas com cursos profi s-sionais na área agrícola: a

Escola Profi ssional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Cister (EPADRC), em Alcobaça, e a Escola Profi ssional Agrícola Fernando Barros Leal, em Runa (Torres Vedras).Para o ano lectivo 2017/2018, a EPADRC tem a oferta do curso de Técnico de Produção Agropecuária, com equivalência ao 12º ano. Esta for-mação orienta os alunos a progra-mar, orientar e executar actividades de uma exploração agrícola e/ou pe-

cuária, aplicando técnicas e métodos compatíveis com a preservação am-biental e respeitando as normas de protecção dos animais, de segurança alimentar, saúde pública e segurança no trabalho. Aprende-se também não só a conduzir como a fazer a manu-tenção de tractores e outros veículos ou máquinas agrícolas. Concluído o curso, os estudantes fi cam habilitados a trabalhar em cooperativas agríco-las, explorações agro-pecuárias, na comercialização de produtos agríco-las e em empresas de transformação.Com equivalência ao 9º ano, a EPADRC

tem a oferta do curso de Operador de Máquinas Agrícolas.Já em Torres Vedras, a Escola Profi ssional Agrícola Fernando Barros Leal abrirá no próximo ano lectivo os cursos de Técnico de Agropecuária (nas variantes de produção animal ou vegetal), Técnico de Recursos Florestais e Ambientais, Técnico de Viticultura, Técnico de Indústrias Alimentares e Técnico de Jardinagem e Espaços Verdes. Todos têm equi-valência ao 12º ano. Esta escola oferece também cursos de especia-lização tecnológica (pós-secundário)

nas áreas de Mecanização e Tecnologia Agrária e Cuidados Veterinários. Este último tem uma parceria com a Escola Universitária Vasco da Gama, em Coimbra. Tratador e Desbastador de Cavalos, Operador Agrícola de Horticultura/Fruticultura e Operador de Jardinagem são os cursos que a Escola Profissional Agrícola Fernando Barros Leal terá para o ano com equi-valência ao 9º ano. M.B.R.

Os cursos profi ssionais de agricultura têm uma elevada componente prática. Os alunos saem muitas vezes para o campo para aprender a operar no terreno.

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912 de Maio, 2017Gazeta das Caldas

Quintal Urbano aposta na produção de microvegetais em BarrantesÉ num cabeço em Barrantes que três sócios se dedicam à produção de microvegetais (rebentos germinados). Nas suas estufas crescem cerca de 50

variedades diferentes de que abastecem restaurantes gourmet de Lisboa e das Caldas da Rainha.

O projecto Quintal Urbano nasceu há três anos em Lisboa, com o casal Patrícia Justiniano e Nuno Alves, ao qual viria a juntar-se mais tarde o caldense

David Barros. Agora os três são agricultores em Salir de Matos.

Natacha Narciso

[email protected]

Patrícia Justiniano (35 anos) e Nuno Alves (37 anos) começaram por fazer “umas brincadeiras” em

casa com recurso à hidropenia (cultura em água) e produziam legumes para consumo próprio com recurso a água e a substrato. Estava-se em 2014 e o casal, apaixonado pelo conceito de agricul-tura saudável e sustentável, continuou a fazer experiências, a plantar várias espécies de aromáticas e de hortícolas. Estes são colhidos pouco tempo após o rebentar da semente, quando des-ponta a primeira folha. São rebentos com caules minúsculos e concentram o que de melhor possui o vegetal: cor, textura e sabor. Nessa altura produziam em Lisboa, no terraço da sua casa e, por isso, a desig-nação do projecto de “Quintal Urbano”. No entanto, quando um cliente lhes pediu um quilo de micro vegetais por semana, perceberam que era altura de crescer. Decidiram alugar em terreno na periferia de Lisboa só com uma es-tufa, “mas um ano depois tivemos que

mudar para aqui para Barrantes para

terrenos da família”, contou a caldense Patrícia Justiniano. Ela deixou de ser técnica de análises clínicas (é licencia-da em engenharia biotecnológica) e ele deixou a engenharia informática.

Agora têm 200 metros quadrados de área em duas estufas e produzem 40 a 50 variedades de micro vegetais e hortícolas para meia centena de clien-tes em Lisboa e para oito nas Caldas, todos na área da restauração. Há um ano, David Barros, 38 anos - que anteriormente era engenheiro físico - uniu-se ao projecto pois já se dedicava à produção de micro vegetais há cinco anos em Tornada. “Juntando as for-

ças é mais fácil trabalhar... Foi ouro

sobre azul”, disse o caldense. Contam que produzem o que os clien-tes lhes pedem, recordando que tudo o que se coloca no prato é comestí-vel, sejam fl ores ou qualquer micro vegetal como rabanetes, manjericão, nabos, ervilha, milho doce, rúcula e cenouras ou ainda aromáticas como manjericão, salsa, coentros, mizuna e mostarda. Produzem também ervas que, em alguns locais, até são consi-deradas daninhas como as urtigas, as azedas e as beldroegas. “Pedem-nos coisas bonitas e dife-

rentes”, contou David Barros expli-cando que, além dos 58 clientes de restaurantes ainda fornecem duas lojas da especialidade. O caldense ex-plicou que os seus clientes se preo-cupam sobretudo com a estética dos seus pratos, logo a cor e a textura dos microvegetais são muito valorizados. O Quintal Urbano ocupa-se também

também da distribuição e comerciali-zação do que produzem. Nestes três anos, dizem, fi zeram um investimento de cerca de 50 mil eu-ros e a mudança para as Caldas, terra natal de Patricia Justiniano, foi feita sem parar a produção. Um vaso de 9 por 9 cm de coentros vivos custa dois euros e um tabuleiro de mistura de vários tipos de couves pode custar 10 euros. “Apanhamos

as folhas uma a uma para que estas

sejam preservadas e usadas intei-

ras nos pratos”, explicaram os só-cios, ao mesmo tempo que explicam que vendem microvegetais vivos e que depois voltam a recuperar os ta-buleiros com terra pois apostam no minimo desperdício possível. A em-presa quer crescer de forma sustentá-vel, sem pressas e sem querer deixar de ser um projecto regional dado que

não querem perder o controlo sobre a produção.“Agora falta-nos um pouco de tempo

livre para nós”, disse Patrícia Justiniano. A responsável gostava também de “aproveitar os saberes das pessoas da

região na utilização das várias plan-

tas”. Além do mais pretende, no futu-ro, dar a conhecer o Quintal Urbano a escolas e entidades locais e ainda fa-zer workshops sobre microvegetais.

Os três responsáveis pelo Quintal Urbano: David Barros, Patrícia Justiniano e Nuno Alves

Todos conhecemos estes pequenos insectos, im-portantíssimos para a

nossa sobrevivência, já que são responsáveis pela polinização e consequente reprodução da maior parte das plantas das zo-nas temperadas, incluindo aque-las que nos servem de alimento.O que se calhar não sabe é que, durante o acto sexual, a abe-lha macho explode de prazer. Literalmente.A abelha doméstica acasala du-rante o voo, já de si um hábito arriscado. Mas, para além disso, quando o macho atinge o clí-max, os seus órgãos genitais são arrancados e fi cam dentro da fêmea, numa tentativa deses-perada de evitar que ela acasa-le com outros machos ou, pelo menos, para garantir que fer-tiliza uma maior percentagem dos seus óvulos. É portanto, uma espécie de cinto de castidade à moda dos insectos.

Explodir é um “pequeno” preço a pagar para não morrer virgem e poder passar os seus genes à descendência. É que chegam a haver 25000 machos em volta de uma nova abelha rainha e ela só acasala cerca de 20 vezes durante os breves dias que an-tecedem a formação da nova colónia. A competição é inten-sa! Após esse período, a rainha apenas se dedicará à sua prole durante os restantes dois a sete anos de vida. Na Primavera, e com boas condições, ela pode-rá pôr até 2000 ovos por dia!

Diana Barbosa

Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

O cinto de castidade das abelhas

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10 12 de Maio, 2017Gazeta das Caldas

Impactwave cria soluções tecnológicas para o sector agrícolaA Impactwave, uma empresa de novas tecnologias instalada no Parque Tecnológico de Óbidos (PTO), criou uma ferramenta de pesquisa especializada no

sector agrícola, denominada Agrozapp. A forte aceitação dos utilizadores ditou o seu crescimento e a agora plataforma online disponibiliza informação

sobre produtos fi tofarmacêuticos, notícias, artigos de opinião, textos científi cos e directórios de empresas.

É também desta empresa a criação do Ultracarpo, um sistema para testar a maturação da fruta baseado em ultrassons. O terceiro protótipo deste

dispositivo já foi testado e a Impactwave prepara-se agora para recorrer a fundos comunitários para a sua concretização.

Fátima Ferreira

[email protected]

O que começou por ser uma ferramenta para pesquisa de produtos para a agricultura,

uma espécie de Google para o sector, cresceu e tornou-se numa platafor-ma aberta a toda a comunidade e de acesso gratuito. A aplicação Agrozapp foi criada em 2013 pela Impactwave, dirigida essencialmente a profi ssio-nais do sector. No entanto, passou a haver muitos pedidos de informa-ção por parte de pequenos produto-res e mesmo pessoas que têm hortas em casa. Os profi ssionais decidiram então proceder a alterações, permi-tindo que qualquer utilizador tenha acesso a toda a informação, desde os produtos, às notícias, artigos de opi-nião, artigos científi cos e directórios de empresas. Há conteúdos produz-idos pela própria empresa, mas tam-bém de especialistas, desde profes-sores universitários, a técnicos de alguns fabricantes e colaboradores.A aplicação permite que, por exem-plo, uma pessoa que queira informa-ções para combater uma praga numa cultura possa procurar produtos fi to-

farmacêuticos ou, se o preferir, optar por “remédios caseiros” em notícias ou artigos de opinião.Ana Silva, da Impactwave, garante que ninguém fi ca sem resposta, seja um agricultor que precisa de uma so-lução altamente especializada, ou al-guém que tem, por exemplo, um pro-blema numa roseira e que nem sequer sabe identifi car o que é. E como conseguiram fazer para que houvesse uma diferença do público doméstico para o profi ssional? “Foi

através do perfi l”, explicou o respon-sável pela empresa, Ricardo Cardoso, especifi cando que quem acede sem

estar registado vê toda a informação e quem tiver um perfi l consegue ter acesso aos assuntos que lhe interessa, de forma mais direccionada. A plataforma pode ser acedida atra-vés do site, redes sociais e newsletters e tem tido bastante procura. “Desde

que a lançámos tem havido picos de

procura consequentes e mais interac-

ção dos utilizadores, de uma forma

transversal”, referiu o responsável, adiantando que actualmente possuem 5000 utilizadores registados. Estes vão desde os 14 aos 75 anos e entre eles há defensores da agricultura biológi-ca e da permacultura, enquanto que

outros defendem os modos de produ-ção extensivo, havendo informação abrangente e disponível para todos, com imparcialidade. “A participação das pessoas permi-

te-nos perceber comportamentos e

como é que quem está ligado ao sec-

tor se relaciona com a tecnologia”, resume Ricardo Cardoso. Este “serviço público” é prestado gra-tuitamente. Para manter a plataforma existe publicidade e a Impactwave conta com a colaboração de vários parceiros do sector. A empresa tec-nológica está também a desenvolver outros módulos, que serão pagos, com

informação mais específi ca e funcio-nalidades dirigidas a profi ssionais. Paralelamente, a empresa continua a desenvolver o Ultracarpo, um siste-ma para testar a maturação da fruta baseado em ultrassons, (com o qual já ganhou dois prémios no Concurso de Empreendedorismo Arrisca C). Já vão no terceiro protótipo e, de acordo com Ricardo Cardoso, não se trata do produto fi nal, mas “já permite ir para

o campo e testar a informação”. Este desenvolvimento permite-lhes tam-bém recorrer a fundos comunitários para a sua concretização. Durante as diversas fases de testes têm contacto com o apoio da Masil Frutas, da Fanadia, que tem facultado a matéria-prima e funcionado como um “banco de ensaio” para experi-mentação da tecnologia. A Impactwave conta actualmente com 12 colaboradores, desde programado-res e agrónomos, a designers e espe-cialistas em marketing, e desenvol-ve aplicações interactivas e websites para dispositivos móveis e Internet. Trabalham sobretudo para os secto-res da saúde humana e da agricultu-ra, mas também nas componentes de logística e gestão de transportes.

Agricultura biológica e fi nanças pessoais em discussão na Santa Casa

Teve lugar no dia 5 de Maio um workshop sobre horticultura bio-

lógica no Centro de Recursos Comunitário da Santa Casa da Misericórdia das Caldas da Rainha.Este workshop, ministra-do por Jorge Ferreira, foi or-ganizado em parceria com a Cooperativa de Serviços Técnicos e Conhecimento CRL e visou informar e esclarecer os benefi ciários da horta social, da cantina social e das hortas urbanas sobre os princípios da horticultura biológica.Os participantes foram eluci-dados sobre a qualidade nutri-cional dos produtos hortíco-las biológicos em relação aos da agricultura convencional. Foi-lhes explicado o processo de conversão da horticultura convencional em horticultura

biológica e as técnicas de prepa-ração do solo e a introdução do sistema de rega gota-a-gota.A acção informou ainda sobre as principais pragas e doenças, as plantas infestantes, a fau-na auxiliar e os produtos fi to-farmacêuticos autorizados em modo de produção biológica. Estiveram presentes 27 pessoas.No mesmo dia, o Centro de Recursos da Santa Casa recebeu igualmente um workshop sobre a gestão de fi nanças pessoais.Esta formação foi ministrada por Zaida Varela e o objectivo foi dar a perceber a importân-cia de um orçamento doméstico e como fazê-lo. Os participan-tes aprenderam a estabelecer despesas prioritárias como forma de optimizar os recur-sos disponíveis.A iniciativa terá uma segunda sessão a 5 de Setembro. J.R.

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Ricardo Cardoso é o responsável pela Impactwave, empresa com 12 colaboradores e instalada no PTO

O Ultracarpo testa a maturação da fruta através de ultrassons

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1112 de Maio, 2017Gazeta das Caldas

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Metade dos alimentos que comemos têm resíduos de pesticidasNas últimas décadas os produtores têm exagerado no uso de pesticidas nas culturas agrícolas e actualmente metade dos alimentos que consumimos têm

resíduos destes químicos. Estes foram os principais alertas dados por Jorge Ferreira, técnico especialista em agricultura biológica que foi um dos oradores

no debate “Os Desafi os da Horticultura na Região Oeste”, organizado pela Escola Profi ssional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Cister (EPADRC

de Alcobaça). O convidado mostrou-se ainda preocupado com o glifosato, o herbicida mais utilizado no mundo e que recentemente foi avaliado pela

Organização Mundial de Saúde como provavelmente cancerígeno.

Maria Beatriz Raposo

[email protected]

Com excepção dos produtos biológi-cos, metade dos bens alimentares que consumimos todos os dias têm resí-duos de pesticidas. Isto não signifi ca que sejam impróprios para consumo, desde que se cumpram os limites im-postos por lei. “O problema é quando

se ultrapassam esses valores máxi-

mos ou quando as doses permitidas

legalmente não são sufi cientemen-

te seguras para o consumidor”, aler-tou Jorge Ferreira, sócio-gerente da Agro-Sanus, consultora especialista em agricultura biológica. Um dos assuntos mais controversos dos últimos tempos e que também preocu-pa Jorge Ferreira é o glifosato, um her-bicida produzido pela Monsanto (líder internacional no fabrico de pesticidas) que é o mais utilizado no mundo e que em 2015 foi indicado pela Organização Mundial de Saúde como provavelmente cancerígeno. Este herbicida é aplicado nas folhas e é capaz de matar qualquer tipo de planta, excepto as que foram geneticamente modifi cadas para re-sistir ao seu efeito. Embora os resíduos de glifosato sejam eliminados do solo em poucos meses, este composto é altamente solúvel em

água. Por isso, a probabilidade de ser arrastado pelas águas da chuva até ri-beiros, rios ou mesmo à rede de esgotos que conduz a água às nossas casas, é elevada. “Em Portugal não há análi-

ses feitas, mas noutros países como

França, Suíça ou Estados Unidos já

foram encontrados resíduos em re-

des de abastecimento público”, disse Jorge Ferreira, acrescentando que se acredita que a contaminação ocorra principalmente através da alimentação e ingestão de água, mais do que pelo contacto com o herbicida. Em Portugal, a Plataforma Transgénicos Fora reali-zou várias análises e encontrou glifo-sato em trigo, aveia e farinha de trigo.

O exemplo da sojaJorge Ferreira deu ainda o exemplo da soja: até 2009 a União Europeia apenas permitia 0,1 miligramas de glifosato por quilo, mas a partir desse ano au-torizou que o valor aumentasse para os 20 miligramas. Um limite duzen-tas vezes superior ao inicialmente estabelecido.Apesar destes riscos, o especialista realçou que a lei portuguesa defen-

de uma protecção fi tossanitária das culturas agrícolas que passe por redu-zir a utilização dos pesticidas na agri-cultura e nos alimentos. “A produção

com baixo uso destes químicos inclui

a protecção integrada e a agricultura

biológica”, explicou Jorge Ferreira, sa-lientando que a legislação prevê que os agricultores tenham à sua disposi-ção informação, ferramentas e acon-selhamento técnico de forma a adop-tarem práticas sustentáveis. “Só se deve tratar com recurso aos

pesticidas quando é mesmo neces-

sário e a própria lei também refe-

re medidas alternativas aos quími-

cos”, acrescentou o convidado, dando o exemplo de algumas dessas medidas: rotação de culturas (em vez da mo-nocultura), utilização de variedades mais resistentes às pragas, apropriada nutrição vegetal (tal como a alimenta-ção é importante nos humanos para prevenir doenças, o mesmo se aplica às plantas) e protecção e reforço dos organismos auxiliares (muitas vezes são os pesticidas que matam estes in-sectos que naturalmente podem com-bater as pragas).Jorge Ferreira foi um dos oradores da actividade “Os Desafi os da Horticultura na Região Oeste”, que também con-tou com a participação de Carlos

Mendonça, engenheiro que abordou a efi ciência energética nas explora-ções agrícolas. Já Carla Miranda, da Hortorres, falou sobre os desafi os da produção hortícola no Oeste.

Esta iniciativa inseriu-se no projecto “Manhãs Hortícolas”, dinamizado pela professora Ana Teresa Figueira, que se realizou no museu da EPADRC nos dias 20, 21, 27 e 28 de Abril.

Os prós e contras do sector hortícola em PortugalNa sua intervenção, Carla Miranda, engenheira da Hortorres, afi rmou que o Oeste é a principal região pro-dutora de hortícolas frescos no país. “Dos mil e poucos hectares de es-

tufa que existem em Portugal, 750

estão concentrados no concelho de

Torres Vedras”, explicou, acrescen-tando que esta zona é “um tanto sui

generis devido ao clima, com verões

frescos, neblinas pela manhã e mui-

ta humidade”. Por exemplo, as cou-

ves no Ribatejo são mais baças que as do Oeste e aqui o tomate também tem mais sabor devido ao amadure-cimento mais lento do fruto.Carla Miranda expôs também os pon-tos fracos e as ameaças deste sector em Portugal, como o facto dos produ-tos hortícolas serem perecíveis e não poderem ser exportados para muito longe (Espanha é o principal destino de exportação), ou o peso que os preços dos países concorrentes têm no esta-

belecimento dos preços dos produtos portugueses. “Não conseguimos com-

petir com os milhares de hectares de

Espanha ou Marrocos nem impor o

nosso preço”, disse a engenheira, que também apontou a falta planifi cação das produções, de experimentação e demonstração e o idioma (ainda há muitos agricultores que não falam inglês) como barreiras ao desenvol-vimento da agricultura. Do lado das mais valias e oportunida-

des do sector, Carla Miranda destacou o facto dos produtores estarem cada vez mais concentrados em associações, do crescente interesse em produtos com valor acrescentado (como a uva de mesa) e a capacidade que os nossos agricultores têm em fazer negócio em períodos de pouca concorrência. Por exemplo, quando em Espanha não é possível produzir tomate devido às elevadas temperaturas, no Oeste atin-ge-se o pico da produção deste fruto.

O grupo de oradores que participou na iniciativa “Os Desafi os da Horticultura na Região Oeste”, da EPADRC

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INFUSÕES AYURVEDICAS BIOLÓGICAS

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Page 11: Oeste - Gazeta Das Caldas · cação de plantas silvestres comestíveis. Estas realizam-se sobretudo na região Oeste e têm como cenário os locais mais desconhecidos do Parque Natural

12 12 de Maio, 2017Gazeta das Caldas

Tecnologia aumenta competitividade dos sectores do vinho e do azeite

Aumentar a produção e melhorar a quali-dade do vinho e do azeite nacionais, tor-nando-os mais competitivos nos merca-

dos internacionais, e preservar as castas em vias de extinção e variedades nacionais relevantes (Galega) é o que pretende a QualityPlant, a mais recente Spin-Off da Universidade de Coimbra (UC).O projeto, já premiado como melhor ideia de ne-gócio e melhor prova de conceito no concurso nacional de empreendedorismo Arrisca C, é pioneiro no país na preservação e propagação de espécies agrofl orestais, à escala empresarial.Apostando em métodos de cultura in vitro (técnicas de clonagem) para preservação e propagação de plantas, muito mais rápidos e efi cazes do que os convencionais, a tecnolo-gia da QualityPlant – Investigação e Produção em Biotecnologia Vegetal, Lda, permite «não só garantir a produção de plantas de elevada qualidade fi tossanitária, mas, essencialmente, assegurar a redução dos custos de produção para os viveiristas/agricultores, associados à eliminação de pragas ou doenças, e melhorar a sua produtividade, valorizando os produtos nacionais e estimulando a economia portugue-sa com produtos mais competitivos, também a nível mundial», afi rmam as fundadoras da Spin-Off, Elisa Figueiredo e Mónica Zuzarte.Outra grande aposta da QualityPlant, é a criação de um banco de germoplasma – GermplasmBank (conservação do património genético das plan-tas), um “seguro de vida” das plantas onde os produtores podem “guardar” o germoplasma das suas variedades mais promissoras, garan-tindo a sua preservação e futura utilização, p. ex., em casos de perdas naturais (cheias, se-cas, pragas)..As técnicas de cultura in vitro garantem a uni-

formidade do património genético das plantas e permitem obter um elevado número de plan-tas de qualidade superior num espaço de tem-po relativamente curto. Por isso, a tecnologia da QualityPlant vai «colmatar diversas limi-tações da propagação convencional (estacaria e sementeira), nomeadamente a morosidade e insucesso do processo de enraizamento na propagação vegetativa por estacaria (ex: cul-turas de oliveira e citrinos), a contaminação de muitas espécies por agentes patogénicos (vírus da tristeza dos citrinos, podridão negra da videira, tuberculose da oliveira, etc.) e ne-cessidade de grande espaço físico (ex: espécies arbóreas)», concluem as investigadoras da UC. Por outro lado, a preservação de germoplasma de variedades nacionais com potencial econó-mico é uma aposta inovadora e pretende ser esta a grande mais-valia da recém-criada empresa.

Cristina Pinto

Universidade de Coimbra

Dez anos de mercado biológico em Óbidos

O Mercado Biológico de Óbidos assina-la 10 anos e a data será comemorada no próximo dia 19 de Maio com um

colóquio, seguido de um almoço-degustação. O colóquio, que se realizará a partir das 9h30, no espaço do mercado, situado na Rua Direita, nº28, será subordinado à temática da agricul-

tura biológica. Entre os oradores estarão o pro-fessor universitário e consultor de agricultura biológica, Jorge Ferreira, o representante da Celtiplanet, Fernando Ferrador, o presidente da Câmara, Humberto Marques, e o presidente da Assembleia Municipal, Telmo Faria, que foi o mentor do Mercado Biológico de Óbidos. F.F.

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O Mercado Biológico funciona paredes meias com a livraria

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