Onco& ed. 11, ano II
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maio/junho 2012 Ano 2 • no 11
Oncologia para todas as especialidades
www.revistaonco.com.br
entrevista | curtas | acontece | câncer gástrico
Um apelo à prevenção do câncer
Saúde do homem
Novas fronteiras napesquisa do câncer
Epidemiologiamolecular
Programa valoriza o papel da mulherna promoção da saúde masculina
Do bem
Os erros mais frequentes e aslições para o diagnóstico preciso
Oncopatologia
p00 capa final_Onco& 09/05/12 11:18 Page 1
sumário
com a palavra
entrevista
capa
patologia
câncer gástrico
epidemiologia molecular
do bem
quiz
curtas
acontece
calendário
Nesta edição, Onco& inaugura um novo canal de comunicação com o leitor
Fernando Cotait Maluf, do Hospital São José, fala do serviço desegunda opinião a distância, da oncogenética e do tratamentodo câncer no Brasil
O câncer e a saúde do homem: um panorama completo dos tumores que acometem a população masculina
Como aprender com os erros e extrair lições para o diagnósticopreciso na oncopatologia Fernando Soares
Quando e como o rastreamento do câncer gástrico faz toda a diferença Felipe José Fernández Coimbra
Conheça melhor a área que vive forte expansão e abre novasfronteiras na oncologia Alice Zelmanowicz
Programa Embaixadora da Saúde valoriza o papel da mulher na promoção da saúde do homem
A cada edição, um caso novo e pouco comum. E o diagnósticoé... Duílio Rocha Filho
Notícias da indústria, iniciativas, parcerias: um giro pelo mundo da oncologia
Fique por dentro do que foi destaque no mundo da oncologia
Programe-se: eventos e congressos para anotar na agenda
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Onco& maio/junho 2012 5
Informação em oncologiaA revista Onco& vem cumprindo uma importante
função em nosso meio: divulgar os avanços na área
de oncologia entre os especialistas de outras áreas
da medicina. Dentro de uma década o câncer será
a mais importante causa de morte em nosso país, e
é fundamental que a comunidade médica brasileira
esteja atenta e atualizada em relação ao diagnóstico
e ao tratamento dos tumores malignos. Parabéns à
Iaso Editora pela iniciativa.
Sergio D. Simon – Oncologista do Centro Paulista
de Oncologia, professor assistente da Unifesp e
chefe do programa de residência em oncologia
clínica do Hospital Israelita Albert Einstein
ReconhecimentoQuando recebi o convite para participar do Con-
selho Editorial da revista Onco&, fiquei muito feliz.
Reconheci imediatamente a necessidade daquela
publicação e antecipei o seu sucesso. O câncer é
presença contínua na mídia não especializada, o
que exige um maior conhecimento do médico ge -
neralista sobre o tema.
A cada edição da revista posso afirmar que os
objetivos iniciais vão sendo plenamente atingidos.
Observamos um conteúdo sólido, redigido em uma
linguagem simples que mantém a atenção do leitor.
A diagramação agradável também facilita a leitura.
O resultado é um instrumento importante de di-
vulgação de toda a complexidade que envolve o
manuseio de pacientes portadores de neoplasias,
englobando prevenção, diagnóstico precoce e trata-
mentos específicos, sem descuidar da visão huma -
nista do problema.
Parabéns por essa iniciativa!
Tenho certeza de que o desafio para manter a
qualidade da publicação já foi aceito por todos os
que colaboraram para o sucesso das edições iniciais.
Daniel Tabak – Hematologista e oncologista,
CENTRON
Cuidados paliativosLendo a revista Onco& número 10, de março/abril
de 2012, sobre cuidados paliativos, estranhou-me
a informação de não haver nenhuma escola admi -
nistrando aulas sobre o assunto.
Gostaria de informar que sou professor da disci-
plina de cuidados paliativos do curso de medicina
da Faculdade Evangélica do Paraná, em Curitiba,
desde o início de 2012. A disciplina existe desde
2010, é semestral e ministrada aos alunos do 6o
período, com aulas teóricas e práticas. Como não
temos uma unidade de cuidados paliativos, as aulas
práticas são feitas com demonstração de casos clíni-
cos de hospitais consagrados do Brasil e do exterior.
O objetivo é humanizar mais os nossos médicos
e fazê-los compreender que, mesmo após um diag-
nóstico em que não seja possível a medicina de fase
aguda, há muito o que fazer em termos de garantir
a qualidade de vida e a dignidade do paciente até o
final de sua vida. Embora seja reumatologista e
clínico, tenho me surpreendido com a aceitação dos
alunos em relação à disciplina e a seus conteúdos.
Muito obrigado por ter publicado o relato da
revista e por essa oportunidade de entrar em con-
tato para expor meu ponto de vista.
Antonio Carlos Monteiro Ribas – Reumatologista,
professor da disciplina de cuidados paliativos da
Faculdade Evangélica do Paraná
com a palavra
Com a palavra, o leitor. Você, leitor, conta agora com um espaço para co-mentários e sugestões, que vai nos ajudar a compor um olhar ainda maisabrangente sobre o universo da oncologia e a realidade do não especia -lista. Com a palavra, o leitor, com sua perspectiva única, promete contri -buição importante ao compromisso de garantir informação completa, sobmúltiplas lentes.
Para participar desse novo canal de comunicação com a revista Onco&, escreva para
p05 com a palavra_Onco& 09/05/12 16:27 Page 5
6 maio/junho 2012 Onco&
I – Cancerologia clínicaOncologia clínica: André Moraes (SP)Anelisa Coutinho (BA)Auro Del Giglio (SP)Carlos Sampaio (BA)Claudio Petrilli (SP)Clarissa Mathias (BA)Daniel Herchenhorn (RJ)Fernando Medina (SP)Gothardo Lima (CE)Igor Morbeck (DF)João Nunes (SP)José Bines (RJ)Karla Emerenciano (RN)Marcelo Aisen (SP)Marcelo Collaço Paulo (SC)Maria de Fátima Dias Gaui (RJ)Nise Yamaguchi (SP)Oren Smaletz (SP)Paulo Marcelo Gehm Hoff (SP)Roberto Gil (RJ)Sebastião Cabral Filho (MG)Sérgio Azevedo (RS)Sergio Lago (RS)Onco-hematologia: Carlos Chiattone (SP)Carmino de Souza (SP)Daniel Tabak (RJ)Jane Dobbin (RJ)Nelson Spector (RJ)Vânia Hungria (SP)
Transplante de medula:Jairo Sobrinho (SP)Luis Fernando Bouzas (RJ)Nelson Hamerschlak (SP)Yana Novis (SP)
II – Biologia molecularAda Alves (RJ)André Vettore (SP)Carlos Gil (RJ)Helenice Gobbi (MG)José Cláudio Casali (RJ)Luísa Lina Villa (SP)Maria Isabel Achatz (SP)
III – Cancerologia cirúrgica Neurologia: Manoel Jacobsen Teixeira (SP)Marcos Stavale (SP)Cabeça e pescoço: Luis Paulo Kowalski (SP) Vergilius Araújo (SP)Tórax: Angelo Fernandez (SP)Riad Naim Younes (SP)Abdômen: Ademar Lopes (SP)José Jukemura (SP) Laercio Gomes Lourenço (SP)Marcos Moraes (RJ)Paulo Herman (SP)
Mama: Alfredo Barros (SP)Antonio Frasson (SP)Carlos Alberto Ruiz (SP)Maira Caleffi (RS)Urologia: Antônio Carlos L. Pompeu (SP)Miguel Srougi (SP)Ginecologia: Jorge Saad Souen (SP)Sérgio Mancini Nicolau (SP)Sophie Derchain (SP)Tecido osteoconjuntivo:Olavo Pires de Camargo (SP)Reynaldo J. Garcia Filho (SP)
IV – RadioterapiaLudmila Siqueira (MG)Paulo Novaes (SP) Robson Ferrigno (SP) Rodrigo Hanriot (SP) Wladimir Nadalin (SP)
V – Cuidados paliativos e dorAna Claudia Arantes (SP)Claudia Naylor Lisboa (RJ)Fabíola Minson (SP)João Marcos Rizzo (RS)Ricardo Caponero (SP)
Conselhoeditorial
Avenida Vereador José Diniz, 3720 – cj. 406Campo Belo – 04604-007 – São Paulo – SP (11) 2478-6985 (redação) – (21) 3798-1437 (comercial)
Ano 2 • número 11maio/junho 2012
Publisher Simone [email protected]
Editorial Valéria Hartt [email protected]
Sergio [email protected]
Direção de arte Luciana [email protected]
Pré-impressão Ione Franco
Revisão Patrícia Villas Bôas Cueva
Impressão: Ipsis Gráfica e EditoraTiragem: 12 mil exemplaresISSN: 2179-0930Jornalista responsável: Valéria Hartt (MTb 24.849)
Colaboraram nesta edição: Alice Zelmanowicz,Duílio Reis da Rocha Filho, Felipe José FernándezCoimbra, Fernando Soares, Sérgio Vieira
A revista Onco& – Oncologia para todas as especialidades, uma publi -cação da Iaso Editora, especializada em comunicação médica, trazinformações sobre oncologia a profissionais de todas as especialidadesmédicas. De circulação bimestral, tem distribuição nacional e gratuitapor todo o território nacional. A reprodução do conteúdo da revista épermitida desde que citada a fonte. A opinião dos colaboradores nãoreflete necessariamente a posição da revista.
Editor clínico:Sergio D. Simon
Acompanhe a Onco&no Twitter
p06 conselho_Onco& 08/05/12 10:18 Page 6
Onco& maio/junho 2012 7
HÁ DESAFIOS DE SOBRA QUE CERCAM A SAÚDE
DO HOMEM. ELES VIVEM EM MÉDIA SETE ANOS
MENOS QUE AS MULHERES E DEFINITIVAMENTE
cuidam mal da própria saúde. Enquanto elas
cumprem intervalos regulares entre as consultas de
rotina, os homens costumam passar ao largo de
uma visita ao médico.
O cenário da oncologia não foge à regra e a
realidade preocupa. A incidência dos tumores de
próstata já é tão prevalente na população masculina
como o câncer de mama entre as mulheres, só para
ilustrar o tamanho do problema. Os tumores de
testículo também avançam. O número de casos au-
mentou dramaticamente na última década, princi-
palmente entre os homens de 18 a 35 anos,
segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).
O câncer de pênis, embora raro, situa o Brasil na
liderança global e sinaliza outro alerta que deve
servir de estímulo à prevenção.
É com a proposta de desvelar esse universo
que esta edição de Onco& traz um recorte sobre
o câncer e a saúde do homem, numa reportagem
de Sérgio Vieira, com grandes nomes da uro-
oncologia brasileira.
Outra atração é a abertura da série Patologia,
com artigo de Fernando Soares, que nos lembra
que é preciso aprender com os erros e extrair deles
lições importantes no campo da oncopatologia. A
especialidade nem sempre recebe os devidos holo-
fotes, mas é bem verdade que as informações do
patologista cirúrgico não apenas definem o diag -
nóstico preciso, mas concorrem para nortear o
tratamento, o prognóstico da doença e, mais recen-
temente, até a predição da resposta terapêutica.
Também de leitura obrigatória para especialis-
tas e não especialistas é o artigo sobre a importân-
cia do diagnóstico precoce do câncer de estômago,
ainda temido e desafiador. Estima-se que apenas
cerca de 10% a 15% dos tumores gástricos no
Brasil sejam diagnosticados em fase inicial, o que
impacta diretamente nos baixos índices de sobre-
vida e põe em evidência nosso compromisso de
mudar essa realidade.
E, se a perspectiva é prevenção, o que dizer da
epidemiologia molecular, que recebe relevo mere-
cido numa contribuição da oncologista e epide -
miologista Alice Zelmanowicz.
Na entrevista, um bate-papo com o oncologista
Fernando Cotait Maluf, que fala da importância
da oncogenética e defende o serviço de segunda
opinião em casos de alta complexidade.
Esperamos que temas como esses sirvam de ins -
piração e ensinamento para uma prática médica
cada vez mais comprometida com o diálogo, a pre-
venção e o diagnóstico precoce.
Boa leitura!
Entre erros e lições de vida
Valéria Hartt
* Jornalista especializada na cobertura de saúde, é editora
da Onco& – Oncologia para todas as especialidades
Contato: [email protected]
p07 editorial_Onco& 09/05/12 11:32 Page 7
8 maio/junho 2012 Onco&
OMÉDICO FERNANDO COTAIT MALUF VIVE UMA
ROTINA ATRIBULADA. FEZ O PRIMEIRO DOS DOIS
CONTATOS PARA ESTA ENTREVISTA NO INTERVALO
entre as consultas da manhã. O arremate veio perto
das 22 horas, numa noite chuvosa em que acabava
de retornar a São Paulo de uma viagem a Brasília.
O ritmo intenso não vem de hoje. Maluf
começou cedo. Ingressou na faculdade de medicina
aos 17 anos, quando nem sequer dimensionava as
dores e delícias da escolha profissional.
Hoje, aos 41, é certamente um dos mais pres-
tigiados médicos de sua geração, embora clara-
mente avesso a glórias e honrarias. Prefere reservar
os elogios ao doente de câncer e se assume como
um sentimental, capaz de vibrar pelas vitórias de
seus pacientes e de sofrer com eles em momentos
menos auspiciosos.
Agora, à frente do departamento de oncologia
clínica do Centro de Oncologia do Hospital São
José, vive uma nova fase na carreira, depois da longa
permanência no Hospital Sírio-Libanês.
Nesta entrevista, Maluf fala da importância da
oncogenética, situa o Brasil “como um dos maiores
mercados oncológicos” mundiais e aponta os
avanços e entraves no tratamento do câncer no país.
O Hospital São José inaugurou um serviço de se-gunda opinião a distância, que é bastante di-fundido nos Estados Unidos, mas que era atéentão inédito no Brasil. Como está sendo essaexperiência?O modelo de segunda opinião é um programa cria -
do no Hospital São José, braço da Beneficência Por-
tuguesa, que tem o objetivo de permitir que o
oncologista do paciente, ou outro médico que trate
desse paciente na área oncológica, faça uma segunda
opinião médico-médico. Na prática, é o médico local
em diálogo conosco para discutir os melhores ca -
minhos diagnósticos e os melhores caminhos te -
rapêuticos para o paciente. Nesse sentido, esse
programa possibilita que o médico nos envie exames
de imagem, exames de patologia e todo um material
que é analisado pelo nosso serviço.
Com base em um estudo detalhado é que emiti-
mos nossa opinião. Tudo isso é gravado, documen-
tado, num diálogo que dura aproximadamente 30
minutos. É um programa inédito no país e na
América Latina e tem uma vantagem clara para o pa-
ciente, porque permite a diminuição dos seus cus-
tos, evita deslocamentos, despesas de acomodação.
E como vem sendo a adesão dos médicos a essemodelo? Esse partilhamento está sendo bem re-cebido?É uma demanda crescente. Por ser um projeto
novo, a implementação é gradual e os médicos tam-
bém vão se acostumando progressivamente a esse
modelo de segunda opinião. Há casos em que o pa-
ciente procura um outro colega e o faz sem o conhe -
cimento do seu médico, que é o profissional que
cuida dele, que se dedica a ele. O programa de se-
gunda opinião permite uma situação muito mais
transparente. É o médico do paciente que entra em
contato com os médicos do nosso serviço. E o que
eu posso dizer, a partir da minha experiência pes-
soal e com base nos estudos americanos, é que uma
segunda opinião, numa avaliação multidisciplinar,
pode mudar a conduta em 30% a 40% dos casos.
entrevista
A passos largos
Fernando Cotait Maluf
* Chefe de oncologia clínicado Hospital São José
Contato: [email protected]
O oncologista Fernando Maluf aposta no Brasil comoum dos polos mais fortes de pesquisa do mundo
Div
ulga
ção
Por Valéria Hartt
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Onco& maio/junho 2012 9
As condutas maiores são mudadas em até 10% a 20% e são mudadas
para melhor.
A mensagem principal é perseguir o melhor para o paciente. Para
os médicos que têm esse foco e estão, por vezes, diante de uma situação
rara ou muito complexa, dividir a responsabilidade e ouvir uma outra
opinião pode auxiliar nos cuidados com o paciente.
Vamos também oferecer um número de vagas para a rede pública,
para casos de alta complexidade do Sistema Único de Saúde.
O Brasil tem contribuído muito no desenvolvimento clínico denovas drogas para o tratamento de câncer e os investigadoresbrasileiros têm participação ativa em estudos da indústria farma-cêutica. Isso aponta para a necessidade de novas alternativas te -rapêuticas?Na minha visão, sim. O Brasil hoje é um dos maiores mercados on-
cológicos existentes e a pesquisa clínica nos últimos anos tem tido um
passo bem mais intenso que nas últimas décadas. O Brasil hoje parti -
cipa de vários protocolos clínicos internacionais e já começa a gerar
protocolos clínicos nacionais, com potencial de desenvolvimento não
só de novas drogas, mas de drogas já existentes, tentando buscar
novos caminhos. Então, eu não tenho a menor dúvida de que o Brasil,
nos próximos anos, vai ser um dos polos mais fortes de pesquisa do
mundo. Hoje, temos limitações na política de saúde, como em outros
países, e não é a todas as drogas que os pacientes têm acesso. Existe
uma dificuldade muito grande no acesso aos medicamentos orais,
mesmo em convênios de boa qualidade, e isso acontece em virtude
da lei nacional. Então, o acesso às novas drogas tem que ser visto
como uma área de alto interesse público, visto com muito critério e
profundidade e com muita discussão entre as autoridades públicas e
as autoridades de saúde.
Outro avanço importante na luta contra o câncer vem da onco-genética. Que perfil de paciente pode se beneficiar desse acon-selhamento? No nosso grupo, esse trabalho é desenvolvido pela dra. Simone
Noronha, chefe da oncogenética, e está alinhado a um dos maiores
centros mundiais na realização de testes genéticos, que é o Steven
Narod Laboratory, de Toronto, no Canadá. É um programa que foca
nos pacientes cujos familiares tiveram uma história oncológica que
possa sugerir alguma alteração genética que justifique o surgimento de
vários tumores. Também é importante para pessoas saudáveis, de
famílias marcadas por uma história de câncer muito frequente. Então,
esse programa genético tem a visão de auxiliar e aconselhar estes dois
grandes grupos: o próprio paciente oncológico, de acordo com sua
história familiar e a história presente, e também pessoas saudáveis, de
famílias nas quais o câncer aparece de forma impactante.
O câncer de mama, o de ovário e o câncer de cólon estão entre os
mais importantes em termos de alterações genéticas e são as doenças
mais estudadas. Obviamente, estamos avançando na compreensão da
oncogenética para demonstrar que vários outros tumores podem ter
um componente genético determinante no surgimento e desenvolvi-
mento da doença. Com esse aconselhamento, podemos, por exemplo,
mudar a forma de rastreamento para determinados grupos e atuar com
o objetivo de detecção precoce, com tratamentos preventivos.
Quando o senhor fala de diagnóstico precoce, ilustra um desafioimportante. Acha que o grande gargalo da oncologia começa naatenção primária à saúde?O diagnóstico precoce é o segundo gargalo. O primeiro está na edu-
cação. Precisamos educar a população em termos dos melhores hábitos
possíveis para evitar o surgimento de lesões pré-malignas e malignas.
Precisamos conscientizar sobre o problema do cigarro, essencialmente,
e do álcool, em segundo plano. Precisamos, ainda, adotar dietas com
uma quantidade pequena de carne vermelha e condimentos, evitar ali -
mentos com conservantes e agrotóxicos e privilegiar uma alimentação
rica em frutas e vegetais. É uma mudança de padrão.
O segundo gargalo é diagnosticar da forma mais precoce pos-
sível, e aqui temos, sem dúvida alguma, outro desafio que precisa
ser enfrentado.
Há críticos que argumentam que para avançar no diagnóstico pre-coce precisamos avançar também na vigilância epidemiológica noBrasil. No cenário da oncologia, isso vem mudando? Eu acho que o Brasil vem melhorando na coleta de dados. Temos os
dados do INCA, que é uma instituição que monitora boa parte do
censo, e os dados estão agora mais próximos da realidade do país. Anos
atrás tínhamos uma situação diferente, em que os dados não eram tão
re presentativos. Esse é um problema que começa na documentação,
que deve ser feita com perfeição em todos os centros de saúde, públicos
e não públicos. Agora, com os sistemas de informatização e a educação,
não só da classe médica, mas dos paramédicos e do conjunto dos
profissionais de saúde, esses dados vêm sendo coletados com mais
acurácia. A perspectiva é muito positiva. O modelo brasileiro não é
perfeito, como em vários países, mas temos avançado.
E a visão multidisciplinar na oncologia, está mais no discurso quena prática? Como podemos avançar nessa perspectiva?Eu acho que é um debate importante e, evidentemente, é possível
avançar, concentrando casos complexos em centros mais terciários,
onde você pode reunir funcionários de diversas áreas nos mesmos
fóruns. O grande problema acontece, por exemplo, quando você con-
centra em serviços menores os casos de alta complexidade, porque
nem sempre é possível juntar ali diferentes profissionais para participar
dessas discussões.
A multidisciplinaridade acontece em todos os fóruns, mas ela é
mais facilitada em determinadas situações. Nós aprendemos ouvindo
a opinião de outros colegas, e a recíproca também é verdadeira. O
grande beneficiário final é sempre o paciente.
p08-10 entrevista_Onco& 08/05/12 10:26 Page 9
10 maio/junho 2012 Onco&
A cirurgia robótica ainda parece viver de ex-tremos, despertando relações de amor e ódio.Em qual grupo o senhor se encaixa?A cirurgia robótica é uma tecnologia mais avançada,
mas os dados em termos de evolução oncológica,
de resultados de cura e de complicações não são
radicalmente diferentes dos da cirurgia conven-
cional, por exemplo, no câncer de próstata. A men-
sagem é que, se você tem um cirurgião que opera
bem por robótica, ele deve operar seu paciente por
robótica, e o cirurgião que opera bem o doente de
próstata por cirurgia aberta deve fazê-lo.
A cirurgia robótica vem avançando em todas
as áreas, mas para você falar que um método é
melhor que outro é preciso ter comparações. Não
conheço ainda nenhuma área da robótica que, na
comparação, se comprove claramente melhor que
a cirurgia convencional.
A expansão da oferta dos cursos de medicina decerta forma coloca na berlinda a formaçãomédica hoje. Qual a sua opinião a respeito?É um tema delicado, no qual eu tenho pouquíssima
profundidade. O que posso dizer é que o impor-
tante não é o número de vagas, mas sim que essas
vagas sejam propostas com o compromisso da qua -
lidade de ensino e treinamento. Isso é fundamental
para se formar um médico com conhecimento
sólido. Se a oferta vai ser de 20 ou de 40 vagas, é
uma questão de mercado, e a formação do médico
não depende disso. O que importa para a formação
do futuro profissional médico é a qualificação dessa
instituição de ensino.
No tratamento do câncer, associar assistência,ensino e pesquisa faz mesmo a diferença?Sem dúvida. É exatamente esse tripé que rege hoje
todo o trabalho da Beneficência Portuguesa na área
de câncer e está na base da montagem desse com-
plexo de assistência oncológica que está sendo
cons truído no Hospital São José. Quando você trata
um paciente de câncer em um centro de grande
aprofundamento técnico, científico e acadêmico, as
chances de sucesso são maiores e os riscos de com-
plicações são menores.
Quero aproveitar agora para saber da sua própriaformação. O que o levou para a medicina?Entrei para o curso de medicina aos 17 anos, e com
essa idade você não tem profundidade para
aquilatar ou confrontar essa escolha. Minha for-
mação foi na Santa Casa e fiz residência em clínica
médica no Hospital das Clínicas da Universidade
de São Paulo. Depois, fiz um fellowship de três anos
e meio no Memorial Sloan-Kettering Cancer Center,
que foi muito importante para conhecer uma outra
cultura médica. É um dos centros mais prestigiados
do mundo inteiro e isso me permitiu uma formação
que eu imagino sólida em termos de assistência,
pesquisa e ensino, que eu tento replicar desde a
minha volta ao Brasil, em 2001.
Na oncologia, é possível falar de isenção na re-lação médico-paciente? Eu sou um médico muito afetuoso e muito cari -
nhoso com meus pacientes. Vibro muito com as
vitórias deles, mas talvez sinta ainda mais as derro-
tas. É o estilo de cada médico, e não acho que isso
seja melhor ou pior. Não cabe aqui um juízo de
valor e não há, portanto, um estilo que seja cri -
ticável. É mais uma questão de personalidade, e a
minha é essa. Convivo bem desse jeito, mas os
profissionais médicos são diferentes. Em comum,
têm o propósito de ajudar o paciente, cada um da
sua melhor forma. Sou um médico que tenta ajudar
as pessoas com as armas que eu aprendi, com as
técnicas com as quais fui treinado. É o que procuro
fazer no meu dia a dia. Considero que somos servi-
dores, pessoas que servem e ajudam. Essa é a mis-
são da prática médica, mas não gosto e nem quero
para mim o ônus de qualquer tipo de glória. Quem
merece a glória e todos os elogios é o paciente de
câncer, que está enfrentando uma situação compli-
cada. Nosso papel é só o de ajudar, e procuro fazer
isso da melhor forma possível.
O senhor acredita em alguma coisa para além davida? Do contrário, como é encarar a finitude?Eu sou religioso e acho que o que aprendemos é
uma medicina limitada. Existem outras técnicas que
podem ajudar o paciente. Essa é, por exemplo, a
proposta da medicina integrativa, uma área pela
qual tenho grande interesse e acho que poderia ser
mais bem explorada.
A finitude é uma lei da vida. Temos que traba -
lhar para encarar isso com naturalidade, mas não
com passividade.
“Não conheço aindanenhuma área da
robótica que se comprove claramentemelhor que a cirurgia
convencional”
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12 maio/junho 2012 Onco&
QUE ATIRE A PRIMEIRA PEDRA O HOMEM QUE NUNCA NEGLIGENCIOU O
CUIDADO COM A PRÓPRIA SAÚDE E DEIXOU PARA LÁ, SEM GRANDES
PREOCUPAÇÕES E EM ALGUM MOMENTO DA VIDA, AQUELA CONSULTA
a um especialista. Não há quem não conheça uma história de “rebeldia”masculina. Mas essa travessura, já encarada como senso comum e atécom certa naturalidade, tem seu preço. O fato é que muitas vezes o or-ganismo cobra essa fatura, e alto.
O simples descaso não é o único fator de risco para o grande númerode doenças do sexo masculino e, consequentemente, de óbitos. Mesmoem tempos de globalização, o preconceito e até a falta de informaçãoestão entre as justificativas mais apresentadas na hora de tentar explicaro sumiço das visitas aos consultórios médicos.
E esse “esquecimento” não é prerrogativa apenas dos brasileiros. Osnorte-americanos também são craques em deixar de lado a saúde. É oque mostra pesquisa realizada naquele país, por iniciativa da Men’sHealth Network e da farmacêutica Abbott, em que 70% dos homens dis-seram se preocupar mais com o carro do que com a própria saúde. Nocenário europeu, a história se repete, confirmando evidências de que hámesmo barreiras no comportamento masculino quando está em pers -pectiva o cuidado com a saúde.
“É o mesmo comportamento em toda parte. Desde a infância a ima -gem do homem está mais associada ao risco. É uma imagem socialmenteconstruída”, resume o oncologista Shahrokh Shariat, do Weill CornellMedical College, em Nova York. Ele fala com a autoridade de quem di-rigiu a programação científica do congresso de Saúde do Homem, rea -lizado em 2011 em Viena.
Dados do Ministério da Saúde confirmam que os homens vivemcerca de sete anos menos que as mulheres, o que indica que a expectativa
Tabu masculino
capa
Apesar do surgimento de novas abordagens terapêuticaspara o câncer do homem, preconceito e falta de informaçãoainda afastam a população masculina dos cuidados com asaúde. É hora de reverter esse quadro
Por Sérgio Vieira
p12-18 capa_Onco& 09/05/12 10:25 Page 12
Onco& maio/junho 2012 13
de vida tem tudo a ver com a prevenção.Não é à toa que o governo federal instituiu, em
2008, a Política Nacional de Atenção Integral àSaúde do Homem, na tentativa de criar diretrizesna saúde pública para fisgar exatamente essa popu -lação masculina tão arredia aos profissionais dasaúde. Na cartilha do programa oficial, uma frasesimboliza bem esse hiato entre o paciente homeme a busca por cuidados: “Os homens têm dificul-dade em reconhecer suas necessidades, cultivandoo pensamento mágico que rejeita a possibilidade deadoecer”. Resumindo: os homens, 49,2% da popu-lação brasileira, segundo Censo realizado em 2005pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE), definitivamente não se cuidam.
Na área oncológica, o problema ganha aindamais expressão. Os tumores estão no terceiro lugarno ranking das causas de mortes da população mas-culina. E, esmiuçando os dados referentes a neo-plasias, o mesmo estudo do Ministério da Saúde dizque o câncer de próstata aparece em segundo lugar,atrás de tumores ligados ao aparelho respiratório(traqueia, brônquios e pulmão).
Quanto ao registro de novos casos, o câncer depróstata também é vice, desta vez atrás de tumoresde pele não melanoma. Dados do Instituto Nacionalde Câncer (INCA) revelam que, em 2009, cerca de12 mil homens morreram vítimas do câncer depróstata. Para este ano, a estimativa é de 60 milnovos casos da doença.
É possível dizer, sem risco de errar, que o câncerde próstata está para o homem assim como o câncerde mama está para a mulher, quando se considerao número de novos casos.
“É tempo de investir mais recursos e mais ener-gia na pesquisa do câncer, em particular nos tu-mores que afetam a saúde do homem, que hojetrazem um panorama preocupante”, aponta Shariat.Enquanto as mulheres avançaram na compreensãode um atendimento multidisciplinar e reivin-dicaram esse cuidado, os homens permaneceram àmargem desse processo. “Nos Estados Unidos, ogoverno investe mais de 700 milhões de dólares empesquisas em câncer de mama e destina menos de350 milhões às pesquisas do câncer de próstata”,compara o especialista. ”Elas têm voz social em gru-pos de advocacy e os homens não se organizaram,
mas isso precisa mudar. Precisamos ter voz e inte-grar um trabalho multidisciplinar para aprimorar aagenda da saúde do homem”, propõe.
Se o assunto é o câncer e a saúde do homem,as neoplasias de pênis e testículos também têmlugar assegurado e estão entre as preocupações daclasse médica e do sistema público de saúde. Oprimeiro caso corresponde a 2% das neoplasiasdetectadas no público masculino, e o segundo, a5%. Infelizmente, o Brasil é o campeão mundialdo câncer de pênis e aparece como o país commaior incidência da doença, segundo levanta-mento da Sociedade Bra sileira de Urologia. Otumor de testículo avança dramaticamente napopulação jovem. É a neoplasia sólida mais fre-quente nos homens entre 15 e 35 anos. “A sua in-cidência no mundo inteiro aumentou quase duasvezes nos últimos 40 anos”, sustenta Álvaro SadekSarkis, professor livre-docente da Universidadede São Paulo e uma das grandes autoridadesbrasileiras no campo da uro-oncologia.
Contexto culturalO câncer de próstata cultiva um aspecto que não éestritamente ligado à velhice, mas impulsionadopela resistência cultural. Não se trata de ignorar quea prevalência mais significativa é de fato entre osmais velhos, mas de reconhecer que o tabu talvezseja a principal barreira para o diagnóstico precoce.Prova disso é o resultado do estudo do Centro deReferência de Saúde do Homem, considerado omaior serviço público de urologia do estado de SãoPaulo, que mostra que um em cada cinco homensse recusa a passar por exame retal para diagnósticodo tumor de próstata.
Ainda assim, já é possível falar em aumento nadetecção de casos. Mesmo que timidamente, parecehaver uma mudança de hábitos, com a quedagradativa da resistência ao exame, percebida na úl-tima década. Mas há muito que melhorar no ca -minho da prevenção.
O especialista Antônio Carlos Lima Pompeo,professor titular de urologia da Faculdade de Me -dicina do ABC e diretor responsável pelo departa-mento de uro-oncologia da Sociedade Brasileira deUrologia, lembra que o câncer de próstata avan -çado é mais frequente na população que não
“O câncer de próstata é oprimeiro câncer do homem e vaiatingir 18% da população masculina após os 50 anos”
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procurou atendimento quando a neoplasia se en-
contrava em fases iniciais. “O toque retal tem papel
preponderante no diagnóstico do câncer de prós-
tata, ao lado da dosagem sérica do PSA. Infeliz-
mente, ainda existe um preconceito, que vem
diminuindo à medida que cresce o nível cultural
da população”, esclarece Pompeo.
Há quem enxergue a questão por outro prisma
e aponte falhas na oferta dos exames diagnósticos. É
o caso de José Luiz Affonso Fuser Júnior, mestre em
oncologia pelo Institute of Cancer Research, em Lon-
dres, especialista em radioterapia pelo The Royal
Marsden Hospital Foundation Trust, e hoje radiote -
rapeuta da Clínica São Carlos, no Rio de Janeiro. “A
maior dificuldade, na minha opinião, é a falta de
acesso aos serviços de saúde, pela deficiência do
número de ambulatórios na rede básica, a quem cabe
realizar os exames preventivos”, esclarece. Ele argu-
menta que, no grupo formado por brasileiros que
contam com convênios médicos, é possível perceber
que os homens estão, sim, atentos à prevenção e cos-
tumam chegar com lesões descobertas ainda na fase
inicial. “Os pacientes tratados na rede pública, na
maioria das vezes, chegam com a doença já em es-
tado mais avançado”, diz o médico.
A idade também influencia no comportamento.
Mais comumente preocupado com o trabalho e a
família, o homem jovem nem pensa em doença. Ape-
nas em uma fase mais madura, muitas vezes com sin-
tomas, é que ele vai procurar atendimento médico.
O professor livre-docente da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo Marcos
Dall’Oglio, chefe do setor de uro-oncologia da Di-
visão de Clínica Urológica do Hospital das Clínicas,
na capital paulista, corrobora essa visão e não en -
xerga a perspectiva cultural como um dos princi-
pais entraves para a detecção da doença. “Acho que
essa é uma afirmação injusta. Infelizmente, se todo
homem viver até os 100 anos, quase a totalidade
poderá desenvolver o câncer de próstata. O que é
relevante é que um terço dos casos não terá um
câncer significativo, ou seja, terá uma doença de
baixo risco”, explica.
Rastreamento em debateReconhecer que o tumor de próstata não é um
câncer comportamental e que seu surgimento não
depende dos hábitos do paciente não invalida o
esforço da prevenção. Ao contrário. Saber que
esse é o tumor mais comum entre os homens
brasileiros e que o risco aumenta com o avançar
da idade só reforça a importância do compromisso
com a detecção precoce.
“O diagnóstico precoce de qualquer doença é
sempre desejável, principalmente nas neoplasias,
mas para que isso possa ser feito de forma eficiente
é necessário obedecer a alguns requisitos”, ensina
o uro-oncologista Miguel Srougi, professor titular
de urologia da Universidade de São Paulo, uma das
grandes autoridades no assunto, à frente da clínica
urológica do Hospital das Clínicas. “Primeiro é pre-
ciso que o tumor seja frequente, e o câncer de prós-
tata se encaixa plenamente nessa condição, porque
é o primeiro câncer do homem e vai atingir 18%
da população masculina após os 50 anos. O se-
gundo pré-requisito é que se tenha métodos ade-
quados para o diagnóstico precoce e, mais uma vez,
o câncer de próstata cumpre a regra, porque temos
o PSA e o exame de toque, que, juntos, têm uma
certa acurácia no diagnóstico.”
Qual, enfim, a grande polêmica em torno do
rastreamento para o câncer de próstata?
O chamado antígeno prostático específico
(PSA, na sigla em inglês) analisa os níveis de uma
proteína produzida pela próstata, que é um indica-
tivo de neoplasia, mas nem de longe é unanimidade
como instrumento exclusivo para diagnóstico de
câncer de próstata. O exame PSA cresceu como
alvo de críticas diante do risco dos chamados falso-
positivos, mas associado ao toque retal ainda per-
manece como conduta para o rastreamento.
A origem da controvérsia está no fato de que
a dosagem alta de PSA pode também estar asso-
ciada a um quadro de infecção ou de crescimento
benigno da próstata. Recentemente, o grupo US
Preventive Services Task Force, formado por
cientistas e pesquisadores ligados ao governonorte-americano, pediu o fim do teste. A reco -
mendação é somente para homens saudáveis e
sem sintomas, e foi baseada em testes clínicos. “O
teste não consegue mostrar a diferença entre tu-
mores que irão ou não afetar o homem durante
sua vida. Nós precisamos encontrar um novo pro-
cedimento que seja capaz de fazer isso”, disse Vir-
“Em todo o mundo,a incidência do câncer de
testículo aumentouquase duas vezes
nos últimos 40 anos”
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ginia Moyer, que integra o grupo, ao jornal ame -ricano The New York Times.
Em meio a debates acalorados sobre a eficáciado PSA, o “x” da questão parece recair menos sobreo método e mais sobre o papel efetivo do rastrea-mento populacional.
“Existe uma grande polêmica em urologia: umestudo norte-americano não demonstrou benefíciode sobrevida a longo prazo entre indivíduos que
fazem screening de rotina, enquanto um estudo eu-ropeu demonstrou que se reduz em 30% o risco demorrer por câncer de próstata entre os que fazemscreening de rotina. Então, existe uma controvérsiaainda aberta na literatura científica: se vale ou nãoa pena fazer rastreamento populacional sistemático.Enquanto isso não estiver bem estabelecido, nóscontinuamos a preconizar que os homens preocu-pados com a possibilidade do câncer sejam esti -mulados a fazer os exames de rotina, de detecçãoprecoce”, propõe Srougi.
Novas condutas Descoberto no momento adequado, é consenso queo câncer de próstata pode ser curado com condutascomo a radioterapia e a cirurgia, nesse caso aprostatectomia radical. A hormonioterapia com an-tiandrogênicos e análogos de LHRH (hormônio li -berador do hormônio luteinizante) se consolidacomo tratamento de escolha na doença avançada,quando o tumor se estende além da cápsula pros -tática. Nesse campo, surgem novas drogas que seapresentam como opções terapêuticas mais mo -dernas e eficazes, em administração contínua ou intermitente. Mesmo para os tumores hormô nio-resistentes há avanços terapêuticos animadores,com novas abordagens farmacológicas.
A quimioprevenção tem espaço crescente nasdiscussões e estudos clínicos, mas faltam aindaproposições objetivas para sustentar sua indicaçãoem termos de eficácia e segurança.
Os exames de imagem têm seu papel no apoiodiagnóstico, mas novamente constituem outraárea em que não há um olhar convergente sobre omelhor método de investigação e sobre a realacurácia desses exames.
Também continua em debate a cirurgia abertaversus a minimamente invasiva, a partir da
robótica. Aqui se instala outra polêmica, certa-mente entre as mais ruidosas e que parece longede alcançar consenso.
“Influenciando o uso da robótica, que cresceude forma exponencial na prática médica, existeum tremendo processo de marketing das empre-sas, dos hospitais, das instituições e dos própriosmédicos, apregoando benefícios e vantagens quena verdade não foram comprovados cientifica-mente. O que se diz é que a cirurgia robótica trazmenos impotência, menos incontinência urinária,mas até hoje não se demonstrou isso claramente”,confronta Srougi.
O especialista levanta dúvidas sobre os índicesde impotência e de incontinência divulgados pelacirurgia robótica na prostatectomia. “Talvez nãosejam reais”, alerta. “Os estudos de casuística dosmelhores cirurgiões de robótica dos EUA demons -tram que a incidência desses problemas se equiparaà da cirurgia aberta. O aparecimento dessas com-plicações depende muito mais da experiência domédico que da técnica empregada”, diz.
O papel dos biomarcadores também deve ga -nhar novo relevo com a evolução dos estudos degenômica e trazer respostas a um problema queainda persiste na prática médica, em particular emrelação ao câncer de próstata. Como saber se es-tamos diante de um câncer indolente, com o qualo doente pode conviver o resto da vida, ou se éum tumor extremamente agressivo, que vai pro-gredir e lhe tolher a vida?
Critérios anatomopatológicos costumam em-basar uma lógica que associa a pior evolução dadoença ao grau histológico de Gleason elevado e àpresença de linfonodos comprometidos.
Com o avanço da genômica, começam a surgiros primeiros resultados, com indícios de que exis-tem genes mais ou menos agressivos que talvez aju-dem a discriminar pacientes com doença de baixoou alto risco. São resultados que ainda não podemser aplicados na prática clínica, mas sina lizam umcenário promissor. “Quem sabe, em poucos anos,urologistas, oncologistas e radioterapeutas possamtratar muito melhor seus pacientes. Aqueles quetiverem marcadores genéticos com doença de baixorisco deverão ser tratados de forma conservadora,enquanto tumores de alto risco terão abordagens
“O câncer de pênis é um exemplo detumor cuja prevençãoé efetiva. É fundamental a conscientizaçãosobre higiene e prevenção dedoenças sexualmentetransmissíveis”
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O câncer de pênis
Não é uma estatística para se orgulhar. O Brasil é o campeãomundial em casos de câncer de pênis. Os doentes procuramtardiamente os serviços de saúde, e o resultado, em geral, é aamputação peniana, com consequências dramáticas.
Ainda que apresente evolução lenta, a neoplasia pode levarao óbito nos dois primeiros anos, quando não se trata a doençametastática.
Casos de pior prognóstico estão associados à presença de lin-fonodos, confirmando a metástase linfonodal como o fatorprognóstico mais importante para câncer de pênis. Os estudosmostram que, quando a presença de linfonodos é negativa, a so-brevida chega a 70% a 93% dos casos. Por outro lado, a sobre -vida é tanto menor quanto maior a extensão da doença linfonodal.
A linfadenectomia fica, portanto, como conduta obri-gatória. O problema é a alta taxa de falso-positivo e falso- ne gativo, que reverbera a pergunta que não quer calar: quandoe como fazer a linfadenectomia?
Os nomogramas mais aceitos conjugam fatores clínicos epatológicos para somar uma escala de pontos que sugere que,quanto maior a positividade, maior a necessidade da lin-fadenectomia. No entanto, não são evidências conclusivas paracomprovar o uso na prática clínica. Já os guidelines da so-ciedade europeia de urologia, hoje talvez os mais aceitos, di-videm os tumores de pênis por classificação de risco erecomendam a linfadenectomia apenas nos casos de alto risco,segundo essa interpretação.
Pela raridade da doença, os trabalhos não são prospectivosnem randomizados e também não sugerem consenso sobre omomento mais oportuno para realizar a linfadenectomia.
A maior parte dos serviços brasileiros opta pela biópsia bi-lateral de linfonodos logo após a penectomia, depois de quatroa seis semanas, mas não de forma concomitante.
E em se tratando de câncer de pênis, é possível, sim, investirem campanhas de prevenção, já que muitos dos casos estão rela-cionados à má higiene. “O câncer de pênis é um exemplo detumor cuja prevenção é efetiva. Acredita-se que a falta de higienee irritativos secundários a moléstias virais sexualmente transmis-síveis estão intimamente ligados a sua gênese”, explica Pompeo.
É fato conhecido que a neoplasia é rara em populações quefazem cirurgia para correção da fimose (circuncisão), o quesabidamente colabora para a auto-higiene.
Pesquisa divulgada pelo INCA em 2008, em parceria como Instituto de Virologia da Fundação Oswaldo Cruz, detectouque o HPV (transmitido sexualmente pelo contato oral ou ge -nital com fluidos contaminados) está diretamente relacionadoa 75% dos casos diagnosticados de câncer de pênis. Vale lem-brar que a doença é responsável por quase a totalidade doscasos de câncer de colo de útero. “O HPV é um vírus, e suaprincipal forma de transmissão é por via sexual. Isso significaque o Brasil precisa continuar trabalhando no sentido de edu-car a população quanto à prevenção das doenças básicas, entreelas as DSTs (doenças sexualmente transmissíveis). No caso doHPV, a melhor forma de evitar é a prática de sexo seguro”, dizo oncologista Bruno Fuser, do Rio de Janeiro.
curativas, como cirurgia, radioterapia ou as novasestratégias que agora estão surgindo”, projeta Srougi.
Tendência: a observação vigilanteComo outras tantas questões controversas, a abor-dagem divide opiniões, mas começa a despontarcomo tendência na prática da uro-oncologia, emparticular nos tumores de próstata. Trata-se da ob-servação vigiada, ou vigilância ativa (active surveil-
lance), que vem no esteio de uma proposta deestratificação dos casos. Com o aumento dos diag-nósticos, espera-se identificar um número maior dedoentes em fase inicial. Em passado recente, aprocura por atendimento se fazia pelos sintomas, o
que significava quase sempre doença mais avançadae, portanto, com maior dificuldade terapêutica.
Nos tumores menos agressivos pode-se optarpor regimes de observação vigiada, assim como emsituações muito especiais, recomendam os especia -listas. São situações em que os procedimentos terapêuticos do câncer de próstata não estãoassocia dos ao aumento da taxa de sobrevida nemà me lhoria da qualidade de vida. É o caso de pa-cientes idosos ou com más condições clínicas, comtumores pouco agressivos, em que o tratamentocirúrgico pode apresentar morbidade comparávelou maior que a do tumor. A observação ativa emcâncer de próstata poderá ser adotada em tumores
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Câncer de testículo
A evolução da incidência do câncer de testículo nas últimas dé-
cadas merece atenção, ainda que o diagnóstico aconteça em ape-
nas 5 de cada 100 homens com algum tipo de tumor.
Recentemente, o tema ganhou repercussão nacional com o
personagem estilo garanhão André, vivido por Lázaro Ramos na
novela Insensato Coração, da Rede Globo. A exemplo do que
acontece na vida real, André enfrentou a doença no auge da
idade reprodutiva. Não chega a surpreender. Como explicou
Sarkis, trata-se da neoplasia sólida mais frequente nos homens
entre 15 e 35 anos.
Os chamados seminomas e não seminomas correspondem a
tumores germinativos do testículo e são os tipos mais presentes,
cada um com 40% dos casos. Pelo comportamento biológico, os
não seminomas são os mais agressivos e os que atingem o
homem mais precocemente, em geral antes dos 30 anos de
idade. Nessa classificação, é possível discriminar quatro subtipos:
carcinoma embrionário, coriocarcinoma, teratocarcinoma e, fi-
nalmente, o teratoma.
Cerca de 20% dos pacientes apresentam neoplasias mistas,
com seminomas e não seminomas.
Há homens mais sujeitos ao desenvolvimento desses tipos de
câncer? A resposta é assertiva.
Inúmeros agentes causais são conhecidos, em particular o
nascimento com os testículos ectópicos. Quanto mais distante de
seu “habitat” natural, mais facilmente os testículos são acometidos
por tumores. Não por acaso os testículos atróficos ou os casos de
criptorquidia, de ausência do testículo na bolsa escrotal, são sede
frequente dessa etiologia. Basta dizer que a incidência de câncer
de testículo aumenta de 25 a 40 vezes em indivíduos com crip-
torquidia e seis vezes em homens com testículos atróficos.
Fatores medicamentosos, como hormônios ingeridos pela
mãe no período gestacional, também favorecem a neoplasia,
assim como se associa à genética a responsabilidade por um
número significativo de casos. Fatores ambientais colaboram com
o desenvolvimento do câncer de testículo e justificam sua maior
prevalência em determinadas regiões. Nos países escandinavos –
Suécia, Dinamarca e Noruega – estão as maiores taxas mundiais.
O tratamento cirúrgico (orquiectomia) continua como conduta
padrão e algumas características são sinal de alerta para a possi-
bilidade de recidiva futura. É o caso dos tumores com dimensão
maior que 4 centímetros e com invasão vascular.
O sonho da paternidade
Inevitável pensar na consequência imediata: como reagir a isso
quando se está em plena idade reprodutiva? É possível ainda
ter filhos mesmo após a detecção de um tumor relacionado à
saúde do homem?
Muitos pacientes com câncer já são orientados por seus médi-
cos a preservar o potencial reprodutivo antes de se submeter ao
tratamento da doença. O ideal é que, assim que diagnosticado o
câncer, o oncologista explique ao paciente como será feito o trata-
mento e os riscos de infertilidade, seja em função da cirurgia, da
radioterapia ou da quimioterapia, pois os fármacos do composto
quimioterápico, além de matar as células cancerosas, podem tam-
bém destruir as células que originam os espermatozoides.
Para manter o sonho da paternidade, o paciente pode optar
pela criopreservação dos gametas. São indicadas pelo menos três
coletas do sêmen, antes do início do tratamento de câncer. “Com
o congelamento do sêmen, mantém-se a integridade da amostra e
do DNA espermático, garantindo aos gametas boas condições de
fecundação por tempo indeterminado”, diz o médico João Ricardo
Auler, integrante da Rede Latino-Americana de Reprodução Assis-
tida. Futuramente, o material é descongelado e o paciente poderá
conceber um filho por meio das técnicas de fertilização in vitro.
com PSA<10, toque digital sem nódulos, biópsiacom tumor de baixa agressividade (Gleason ≤ 6) eno máximo três fragmentos com câncer (25%).Nesses casos, avaliações periódicas feitas pelo uro -logista são fundamentais para quantificar a evo -lução e eventualmente promover mudança deorientação terapêutica. A participação do doentena decisão da conduta fica também como re-comendação indispensável.
Mesmo com o panorama difícil, em que parecehaver mais controvérsias que certezas, os especia -listas são otimistas. Há certa convicção de que o
caminho trilhado está correto e que ainda hámuito que percorrer.
Enquanto isso, os investimentos devem seguir,principalmente, em ações de conscientização. A So-ciedade Brasileira de Urologia tem dado seu recado,com metas bem definidas relacionadas ao câncer doaparelho geniturinário. “São várias frentes de atua -ção, desde a conscientização pública do problemaoncológico, com campanhas de prevenção e dediag nóstico precoce, até a educação continuada dosprofissionais ligados à área”, finaliza Pompeo.
A saúde do homem brasileiro agradece.
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QUANDO UM PACIENTE SE DEPARA COM UM LAUDO
ANATOMOPATOLÓGICO DE ALGUMA BIÓPSIA EFE-
TUADA POR UM CLÍNICO/CIRURGIÃO, A TENDÊN-
cia natural é encarar aquele resultado como um dado
objetivo, infalível, aritmético. Mas bem poucos pa-
cientes têm ideia de como o processo de diagnóstico
morfológico é executado. Muitos profissionais de
saúde também desconhecem essa dimensão e os fa-
tores que podem levar ao diagnóstico equivocado.
Na área da oncopatologia esse aspecto é ainda
mais crucial e crítico. Diante da possibilidade diag-
nóstica de uma neoplasia maligna, espera-se do pa-
tologista cirúrgico não apenas o diagnóstico
preciso, mas a inclusão de diversos fatores que pos-
sam nortear o tratamento a ser estabelecido, o
prognóstico da doença e, mais recentemente, a
predição da resposta terapêutica. Em muitas insti-
tuições de ensino a patologia é ainda apresentada
como uma especialidade não clínica, e falta ao
aluno de graduação a dimensão da formação do
raciocínio anatomopatológico. Isso só acontece com
a inclusão no Departamento de Anatomia Patoló -
gica dentro dos serviços auxiliares de diagnóstico,
mas ainda assim existe pouco ou nenhum contato
dos alunos durante os anos de internato. A con-
fusão com a medicina laboratorial está sempre pre-
sente e torna-se difícil entender a subjetividade
interpretativa inerente ao processo diagnóstico da
anatomia patológica.
Se o anatomopatologista é um desconhecido
do médico atendente, imagine do paciente. Pou-
cas vezes em minha carreira vi um paciente esco -
lher o patologista que irá examinar sua biópsia.
Parece ser bastante intuitivo o paciente escolher
o clínico geral, o cardiologista, o ginecologista ou
o cirurgião. Mas escolher um patologista? Dizem
os críticos desse pensamento que o paciente não
teria conhecimento da especialidade para essa se-
leção. A título de exemplo, vale questionar se o
paciente conhece os meandros da cardiologia para
escolher o cardiologista.
Usualmente, o médico atendente escolhe para
qual laboratório mandar o exame, uma vez que a re-
lação médico atendente/patologista é estabelecida por
uma questão de confiança. Mas, mesmo nessa situa -
ção, essa escolha é pouco embasada. Algumas são
inerentes à instituição de trabalho e outras pelo bom
nome do laboratório, embora o médico atendente
nem conheça qual patologista nesse laboratório irá
analisar seu material. Na maioria dos casos, outras
razões menos claras estão envolvidas na escolha.
Realmente, muito dessa situação poderia ser
revertida se o patologista participasse mais ativa-
mente da decisão diagnóstica e não se comuni-
casse tão somente por um laudo. Conhecer o
profissional que está analisando a biópsia é fun-
damental. Saber da experiência daquele patolo-
gista em uma dada especialidade clínica é muito
importante. Um excelente patologista em uma de-
terminada área pode não ser exatamente o me lhor
profissional para analisar outro determinado
tecido de outro sítio primário.
Quando um erro vem à tona, a primeira
hipótese que ocorre é de negligência ou ignorância
do profissional envolvido. Não acredito que os
profissionais da área médica não convivam com o
medo de prejudicar um paciente por um engano de
interpretação. Entretanto, os erros por desconhe -
cimento do assunto ou por negligência são pouco
frequentes e os erros que predominam são aqueles
patologia
Patologia cirúrgica: a tentativade se aproximar da perfeição
Fernando Soares* Médico patologista; diretor do
Departamento de Anatomia Patológica e presidente da pós-graduação do Hospital
A.C.Camargo
Contato: [email protected]
Div
ulga
ção
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que podem ser evitados por técnicas já conhecidas de checagem eprocessos bem estabelecidos. É importante que os patologistas imple-mentem essas técnicas em seus laboratórios, mas que também os médi-cos atendentes conheçam onde estão as maiores fontes de erros ecolaborem para evitar que ocorram, assim como é essencial que pos-sam identificar alguma discrepância antes que qualquer mal ocorra aopaciente. Não há sistema perfeito, mas podemos, sim, minimizar essesproblemas com prevenção e detecção precoce. Em outras palavras, emvez de entender que todo erro é devido à incompetência individual,deve-se perceber que muitos deles são gerados por causas evitáveis eque uma sistematização adequada pode evitar maiores danos. E ao pa-tologista cabe entender que cada erro é uma oportunidade para me -lhorar o sistema, os processos e a sua educação.
Podemos dividir os erros em anatomia patológica em três fases dis-tintas: pré-analíticos, analíticos e pós-analíticos.
Erros pré-analíticos:São aqueles erros que decorrem da submissão do material para o labo -ratório. É sobre esse tipo de erro que muitos pacientes se perguntamquando recebem um resultado. A maioria dos pacientes pensa na pos-sibilidade de troca de identificação do material quando desconfia doresultado obtido. Na realidade, esses erros hoje são muito pouco co-muns. Os sistemas informatizados têm mecanismos de checagem eficientes e identificadores únicos que não permitem o erro de iden -tidade. Infelizmente, nem todos os laboratórios no país usam esses sistemas em seus blocos de parafina, mas a sua implementação é fun-damental na segurança do laboratório. Lógico que a fase de identifi-cação do material que ocorre previamente à chegada ao laboratório éde responsabilidade do médico assistente, e ainda vemos situações emque essa identificação é relegada a outros profissionais sem o mesmotreino. São famosos os erros de identificação do material e que viramverdadeiros elementos jocosos entre os patologistas.
Entretanto, o maior indutor de um erro de interpretação é a carên-cia de informação clínica. Infelizmente, a maioria do material enviadopara um laboratório de anatomia patológica chega sem informaçõesclínicas e/ou de imagem, que são fundamentais na interpretação do exame. De nada adianta enviar biópsias sem informar os dadosclínicos, laboratoriais e de imagem que levaram à suspeição de uma neoplasia. Como interpretar uma biópsia de medula óssea sem o he-mograma correspondente? Quando o patologista está baseado em umhospital, pode-se recorrer ao prontuário médico, mas quando se tratade um laboratório privado isso se torna muito mais trabalhoso.
O exame anatomopatológico é interpretativo e depende da situaçãoclínica. Há uma lenda, especialmente disseminada entre os pacientes,de que a informação detalhada pode “induzir” o patologista ao diag-
nóstico, quando é justamente o contrário que pode ocorrer, pois a faltade um dado clínico não permite o diagnóstico mais preciso. Em nossoserviço de segunda opinião, não é raro que o paciente se recuse a en-tregar o laudo do primeiro patologista com medo de que haja umarepetição do diagnóstico previamente proposto.
Os demais erros pré-analíticos decorrem do processo de acondi-cionamento e transporte da biópsia. Ainda hoje, em muitos centros,não se tem o hábito de usar o fixador adequado, em volumes corretose com transporte imediato. Os acondicionamentos em frascos inade-quados podem não permitir a fixação correta, pois a formalina é umlíquido de baixo poder de penetração. Especialmente em oncologia,em que muitas vezes as peças cirúrgicas são volumosas, o maior ob-jeto de estudo não fica exposto ao fixador. Essa fixação pobre podeimpedir a análise adequada. O estudo de alguns biomarcadores, es-pecialmente de patologia molecular, pode ser afetado pelo uso de for-malina ácida (não tamponada). Tempos de fixação inadequadospodem comprometer a qualidade do material para a análise ou mas-carar a expressão de certos marcadores.
Em resumo, os erros pré-analíticos podem ser facilmenteevitáveis com medidas extremamente simples, treinamento adequadoe procedimentos operacionais padrão bem estabelecidos. Os mate -riais bem identificados, com dados clínicos relevantes discriminadose acondicionados adequadamente, têm muito menos possibilidadesde erros de interpretação.
Erros analíticosEsses erros são inerentes à prática da patologia cirúrgica dentro doprocessamento e análise do material. O mais primário deles e comple-tamente evitável é a checagem errada da correspondência entre o ma-terial examinado e aquele identificado pelo médico assistente. Hoje,os sistemas de informática checam, geralmente através de códigos debarras, a correspondência do material na lâmina e do que deu entradano laboratório. Nessa fase, podem ser apontados problemas de iden-tificação de sítio biopsiado e de incongruências com os dados clínicos.Todo laboratório tem de ter a capacidade de rastreabilidade do materialpara evitar surpresas desagradáveis.
Outro erro analítico está no processamento do material na salade macroscopia. As biópsias pequenas são geralmente incluídas emsua totalidade e muito raramente podem ser problemáticas. Entre-tanto, os espécimes decorrentes de ressecções cirúrgicas podem estarsujeitos a erros de amostragem. Em oncologia, esse é um problemafrequente em duas áreas. Uma é a dissecção de linfonodos, que podeser inadequada e pouco representativa. O processamento desse ma-terial é trabalhoso, demorado, entediante e requer atenção especialdo macroscopista. O uso de substâncias clareadoras da gordura pode
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ajudar nos casos em que o número de linfonodosestá abaixo do recomendado.
A segunda situação de amostragem pouco re -presentativa em oncopatologia está naqueles es-pécimes em que o paciente foi submetido atratamentos neoadjuvantes. A mensuração da res -posta ao tratamento é dado fundamental e deve serextremamente cuidadosa. Vários artigos na literaturaestimam erros da ordem de 5% dos casos de trata-mento neoadjuvante. Os protocolos de análise dessematerial devem ser particularmente bem detalhadose repetidos à exaustão para se evitar esse tipo de erro.
Uma atenção especial deve ser dada às dis-crepâncias entre o diagnóstico pré-operatório e oexame macroscópico. É fundamental que o patolo-gista conheça qual diagnóstico foi realizado na bióp-sia anterior e em que condições ela foi conduzida,para que toda a atenção seja dada na busca da lesão,que muitas vezes pode ser despercebida ao exameinicial. A confirmação ou negação do diagnósticoprévio é um dos aspectos mais fundamentais em on-copatologia. Com a melhoria da acuidade diagnós-tica e o achado de lesões cada vez mais precoces, oexame macroscópico deve ser minucioso e integral.Não é infrequente hoje termos de procurar tumoresmicroscópicos e pouco visíveis ao olho desarmado,diferentemente do que ocorria em passado recente.Hoje, com frequência vemos próstatas com tumorescorrespondentes a menos de 2% do volume doórgão ou mamas com lesões impalpáveis.
O erro na análise do corte histológico é talvez oque mais incomode o patologista e é sempre aprimeira suspeição do paciente e do médico aten-dente. Esse erro pode ocorrer por diversos motivos,mas todos eles dependem muito mais do ser hu-mano do que de processos inerentes à prática labo -ratorial. Em outras palavras, quase todos os errospodem ser minimizados por processos adequadose padronizados, mas o erro de interpretação é o quenunca pode ser menosprezado e não é evitado porpráticas de gerenciamento. Novamente, são errosque devem ser minimizados com atenção, cuidado,treinamento e redundância da observação. Feliz opatologista que ainda não se defrontou com umainterpretação diversa na revisão do material. Nessesentido, a interação médico atendente/patologista éa arma mais eficaz para identificar discrepâncias
entre a interpretação clínica e anatomopatológica,em tempo de evitar problemas para o paciente.
Esse tipo de erro segue alguns padrões deocorrência. O primeiro deles é que lesões míni-mas podem passar despercebidas, especialmentequando há múltiplos fragmentos de tecidos nalâmina. Por vezes, um diagnóstico primário é rea -lizado no primeiro fragmento e perde-se algumdetalhe importante nos fragmentos vizinhos ounas secções mais profundas. Geralmente esseserros são causados por sobrecarga de trabalho.
Em algumas ocasiões, felizmente raras, o pato -logista pode falhar no reconhecimento de determi-nada entidade clinicopatológica. Isso pode ocorrerpor falta de experiência em determinados camposdo conhecimento, por falta de atualização de comointerpretar determinado achado ou mesmo porcompleto desconhecimento. Nesse sentido, é fun damental que o patologista conheça suas limi-tações, que geralmente não decorrem de ignorân-cia, mas sim de pouca oportunidade de sedefrontar com aquela condição em particular. Omelhor jeito de evitar esse erro é a educação con-tinuada, a consulta a colegas mais habituadosàquele tipo de lesão e a exposição com maior fre-quência a esse tipo de material.
Certas neoplasias são pouco comuns e o diag-nóstico restrito a centros terciários. Os patologistasque atendem comunidades menores, e que têmum número de casos pequenos, não podem ser especialistas em determinadas áreas. Eu, como on-copatologista, não me arrisco a diagnosticar mate -rial com o qual tenho pouca afinidade, comobiópsias musculares ou de suspeitas de glomeru-lopatias. Nessas situações o melhor é recorrer acolegas especialistas, que podem contribuir como diagnóstico preciso. Em biópsias de mama, porexemplo, algumas associações de especialistas re-comendam que o patologista veja pelo menos 250espécimes/ano para que tenha seu expertise reco -nhecido. Essa situação, embora ocorra com poucafrequência, ganha geralmente grande repercussão.
Outra situação que requer atenção é aquela cujodiagnóstico morfológico é sabidamente muito difí-cil. Nesse caso, a interpretação entre dois patologis-tas pode ser discordante, ainda que sejam ambasviáveis e plausíveis. São frequentes os trabalhos
22 maio/junho 2012 Onco&
“As informações dopatologista definem
o diagnóstico precisoe também fatores
capazes de nortear o tratamento,
o prognóstico dadoença e até a
predição da respostaterapêutica”
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Onco& maio/junho 2012 23
científicos que mostram altos níveis de discrepância entre diagnósticosinterobservadores e mesmo intraobservador. Esses geralmente usam odiagnóstico estabelecido no primeiro momento, um período para “es-quecimento” (washout) e reapresentação da mesma lâmina para omesmo observador. Em alguns tópicos específicos da patologia cirúr-gica, esses resultados chegam a ter 50% de concordância. Felizmente,essas discrepâncias são menores e geralmente localizadas em subclas-sificações que não alteram condutas clínicas, nem são de maior im-portância na evolução da doença. É fundamental que o médicoatendente conheça algumas dessas situações para tirar conclusões acerca da melhor conduta para o paciente.
Em que áreas ocorrem esses erros? É possível dizer que em prati-camente todos os campos de conhecimento, sítios primários de neo-plasias e tipos histológicos temos alguma situação de particularatenção. Poderíamos fazer uma lista interminável apontando ondeessas discrepâncias diagnósticas são mais frequentes. Algumas ga -nham a mídia como diagnósticos de carcinoma in situ baixo grau ver-sus hiperplasia epitelial da mama; adenose esclerosante versuscarcinoma ductal invasivo da mama; mesotelioma versus hiperplasiamesotelial da pleura; melanomas malignos versus lesões melanocíti-cas atípicas da pele; não identificação de células isoladas de carcino-mas; classificação dos linfomas e seu diferencial com lesões reacionaisetc. As situações são tantas que diversos livros as tratam com muitocuidado, e especial atenção é dada a elas em todos os encontros depatologia. Cada especialista deve conhecer esses limites da fronteirada interpretação e ter relacionamento estreito com o patologista paraque erros sejam minimizados.
Finalmente, entre os erros analíticos estão aqueles decorrentes daconfecção do laudo. É preciso estar atento para evitar falhas de digi-tação que impeçam o entendimento correto. No entanto, os mais fre-quentes são os erros de omissão, em que informações fundamentaissão deixadas de lado por esquecimento ou mesmo por desconheci-mento da importância da informação. Hoje, os principais colégios depatologistas do mundo têm laudos padronizados para as doenças maiscomuns, que devem ser de conhecimento de todo laboratório. Mas éfrequente também que alguns médicos atendentes desejem algunsdados ainda não padronizados e que os solicitem para o patologista.Nesse sentido, a relação médico atendente/patologista deve prevalecere a discussão do laudo pode ser feita em bases científicas para que omelhor atendimento ao paciente seja realizado.
Erros pós-analíticosSão erros caracterizados pela falha de comunicação entre o patologistae o médico atendente. O melhor exemplo deles é o diagnóstico ines-perado ou o que foge das hipóteses diagnósticas. Esse tipo de erro, noentanto, é facilmente resolvido pela discussão anatomoclínica, pela re-visão cuidadosa do caso e pelo entendimento pelos profissionais.
Entretanto, o erro pós-analítico que mais preocupa ocorrequando a comunicação falha e há um precipício entre a informaçãodo patologista e o entendimento do médico atendente. Em algunssistemas, o clínico pode não tomar conhecimento de um laudo porperíodo relativamente longo e deixar de adotar as condutas ade-quadas. Vemos isso em ambulatórios onde a rotatividade dos médi-cos é alta, tal como nos hospitais com rodízio de médicos residentes.Por vezes, um laudo pode “se perder” no sistema e causar grandesprejuízos para o paciente.
Outra situação muito desagradável é quando um laudo suple-mentar passa despercebido. Hoje, com a premência do diagnóstico,algumas vezes há a emissão de um laudo provisório, com a obser-vação de que mais algum procedimento está sendo realizado e teráseu resultado liberado posteriormente, em laudo suplementar ouadendo. É cada vez mais frequente a utilização de técnicas molecu-lares para identificar entidades específicas ou mesmo fatores predi-tivos/prognósticos. São técnicas que podem mudar completamenteo direcionamento do caso, identificar uma doença anteriormentenão suspeitada ou, principalmente, mudar o tipo histológico. A nãoobservação de um laudo suplementar pode levar a erros extrema-mente danosos aos pacientes. Algumas vezes, o patologista favoreceum diagnóstico e diz que um teste de imuno-histoquímica seránecessário para excluir uma segunda possibilidade. São situaçõesem que tanto o patologista quanto o médico atendente devem estaratentos, pois podem mudar o diagnóstico em direção diametral-mente oposta. São mudanças de carcinoma para linfoma, de sarcomapara melanoma ou de entidade maligna para tumor benigno (ouvice-versa), somente para citar alguns exemplos.
Considerações finais O diagnóstico morfológico é um exemplo de teste interpretativo, noqual a experiência e o conhecimento do patologista, bem como astécnicas laboratoriais disponíveis, podem ser fundamentais no diag-nóstico definitivo. Alguns mecanismos de minimização e identifi-cação do erro são de uso obrigatório nos bons laboratórios. Aatualização e o perfeito treinamento do patologista são também fun-damentais, tal como em qualquer área da medicina. O conhecimentodo profissional envolvido em todo o processo diagnóstico é impres -cindível não apenas para o diagnóstico correto, mas também paratoda a sequência de ações definida a partir dele. Mas a arma mais im-portante de todas para evitar situações danosas ao paciente é a relaçãoentre o médico atendente e o patologista. Essa interação poderá solu-cionar a maioria das situações e beneficiar enormemente nossos pa-cientes. Conhecer as principais situações de dificuldade nainterpretação morfológica, saber as limitações do método e do labo-ratório e buscar o profissional mais treinado podem trazer benefícioincalculável para o paciente.
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26 maio/junho 2012 Onco&
IntroduçãoO câncer gástrico é uma das principais causas de
óbito por câncer no Brasil e no mundo. Nos países
do Oriente encontram-se as maiores taxas de in-
cidência. Entretanto, a mortalidade ajustada para
idade tem diminuído nas últimas duas décadas, de
cerca de 70 para 35 por 100.000 homens e de 34
para 13/100.000 mulheres.
Sabe-se que as chances de cura desse tumor
estão diretamente relacionadas ao estadiamento
clínico. Quanto mais precoce o diagnóstico,
maiores as chances de cura, desde que seja rea -
lizado um tratamento oncológico adequado. Entre-
tanto, a detecção precoce no Brasil é a exceção, seja
em fase assintomática ou com sintomas iniciais. Es-
tima-se que apenas cerca de 10% a 15% dos casos
de câncer gástrico no Brasil sejam diagnosticados
em fase precoce, o que impacta diretamente nos re-
sultados, com baixos índices de sobrevida. Na
maioria das casuísticas nacionais, a sobrevida é in-
ferior a 30%.
O contrário tem sido observado nos países com
elevada incidência desse tumor e que desen-
volveram políticas públicas de prevenção e diagnós-
tico em fase inicial, baseadas em exames de imagem
e/ou endoscopia nas populações como um todo.
Para que isso aconteça, é fundamental um
atendimento médico e interdisciplinar, desde o
atendimento mais básico até a chegada ao especia -
lista, com agilidade também na realização de exa -
mes adequados à investigação de sintomas. Isso é
particularmente importante em grupos de risco ou
pacientes com sinais de alerta, como anemia, dor,
emagrecimento, idade superior a 50 anos, história
familiar de câncer etc. É comum se observar a
demora de até seis meses entre os primeiros sin-
tomas e o diagnóstico, tanto no sistema de saúde
público como no privado. Isso se deve, na maioria
das vezes, à demora do médico na solicitação do
exame, no caso a endoscopia. Em vez disso, inicia
tratamento empírico prolongado, sem a adequada
investigação do sintoma.
Para caminhar ainda mais nesse sentido, vale
observar a experiência dos países orientais, em es-
pecial Japão e Coreia do Sul, demonstrando um
índice de diagnóstico de tumores precoces superior
a 50%, o que, associado a um tratamento on-
cológico cirúrgico adequado e padronizado em
todos os centros de tratamento referenciados, leva
a índices de sobrevida global em cinco anos supe-
riores a 60% e, por consequência, diminuição sig-
nificativa dos custos de saúde.
Endoscopia digestiva alta (EDA)As principais indicações para solicitar a realização de
endoscopia digestiva alta são disfagia (dificuldade de
engolir), refluxo gastroesofágico, náuseas e vômitos
persistentes, vômitos ou fezes com sangue. Também
há indicação clara para qualquer paciente acima de
45 anos com queixas digestivas (queimação, azia,
dor, má digestão, refluxo etc.) ou em qualquer idade,
se houver anemia, em especial a ferropriva, disfagia,
gastro
Diagnóstico precoce em câncergástrico – importância, desafiosno Brasil e a experiência oriental
Felipe José Fernández Coimbra* Cirurgião oncológico;
diretor do Departamento de Cirurgia Abdominal –
Hospital A.C.Camargo
Contato:[email protected]
Div
ulga
ção
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Onco& maio/junho 2012 27
perda de peso, dor abdominal ou outras queixas digestivas persistentesou recorrentes, após um curto período de observação ou tratamento.
Atenção deve ser dada para indivíduos com história familiar decâncer de estômago, assim como de outros tumores, síndromes here -ditárias de câncer (Lynch, SCHDH etc.) e teste diagnóstico positivo paraHelicobacter pylori (H. pylori). Com essas recomendações praticadas naclínica diária, espera-se detectar cada vez mais tumores do estômagonuma fase mais precoce, principalmente levando-se em consi deraçãoque os sintomas iniciais são facilmente confundidos com os de doençasbenignas, como gastrite, doença do refluxo gastroesofágico e úlceras.
Quais as indicações de triagem na prática clínica?Esse assunto é bastante controverso na prática clínica, em especial empaíses de risco populacional baixo a moderado, como é o caso do Brasile da maioria dos países do Ocidente. A grande questão a respeito darealização de exames de screening para câncer gástrico na populaçãoassintomática é o custo, não apenas financeiro, mas com os riscos ine -rentes a um exame que poderá ser repetido com certa frequência, ape-sar de muito seguro, versus a real chance de se detectar um tumorgástrico assintomático na população ocidental. Outra questão é a faltade estudos que comprovem que exames de screening sejam custo-efe-tivos, mesmo em algumas populações de maior risco.
Aceita-se praticamente em todos os países ocidentais que examespopulacionais de screening são pouco custo-efetivos e, portanto, nãorecomendados. Entretanto, do ponto de vista individual, aceita-se quea realização de endoscopia digestiva alta, a cada um a dois anos, podeser benéfica em populações reconhecidamente de alto risco para o de-senvolvimento de câncer gástrico, devendo o paciente estar ciente dospotenciais riscos e benefícios do exame. Contudo, faltam diretrizespara guiar os médicos especialistas e generalistas no Ocidente.
Outro ponto de discussão é a própria eficácia da endoscopia di-gestiva alta na detecção de tumores gástricos precoces no dia a diado endoscopista. Sabemos que o exame de rotina realizado pelamaioria dos endoscopistas no Brasil, por exemplo, é um examerápido, muitas vezes pouco focado na detecção de pequenas lesõesde mucosa. O exame recomendado para a triagem de pacientes comalto risco para câncer gástrico deve ser mais cuidadoso, no sentidode encontrar mí nimas alterações de mucosa para biópsia. Trata-se,portanto, de exame mais prolongado, com a pesquisa obrigatória deH. pylori, realização de múltiplas biópsias aleatórias, com utilizaçãode cromoscopia em áreas suspeitas.
Pacientes que consideramos como grupos de risco no Departa-mento de Cirurgia Abdominal do Hospital A.C.Camargo, de acordocom a literatura médica, são aqueles com pólipos adenomatosos noestômago, síndromes hereditárias adenomatosas, gastrite atrófica, in-
fecção por H. pylori, assim como indivíduos de famílias com síndromedo câncer gástrico difuso hereditário. Nessa situação, pode haver a in-dicação de gastrectomia profilática e não de endoscopia, pela baixasensibilidade da EDA para detectar lesões tipo anel de sinete comcrescimento submucoso. Também são considerados do grupo de riscopacientes com FAP (polipose adenomatosa familiar), HNPCC (câncercolorretal hereditário sem polipose) e gastrectomizados. Neste últimogrupo, cabe distinguir aqueles que foram submetidos a cirurgias gástri-cas por úlcera, que estão sob risco aumentado, daqueles que tiveramgastrectomias para redução do estômago em cirurgia bariátrica, paraos quais não se sabe o risco eventual que pode estar associado. Porfim, consideramos para rastreamento os pacientes de famílias oriundasde regiões de alto risco para esse tumor, como japoneses, chineses ecoreanos, em especial os não descendentes.
A experiência japonesa na triagem populacional – The JapaneseGuidelines for Gastric Cancer ScreeningNo século passado, por volta de 1960, a realização de exames de pre-venção (screening) foi iniciada numa pequena província japonesachamada Miyagi, utilizando-se estudo radiográfico contrastado do es-tômago. Em 1983, o screening para câncer gástrico foi introduzidopara todos os residentes no Japão, a partir de 40 anos. Em 2004, a taxade adesão ao teste era em torno de 13%.
Embora o estudo radiográfico contrastado seja o método recomen-dado como política de saúde pública, outros métodos, incluindo en-doscopia, teste do pepsinogênio sérico e anticorpo anti-H. pylori, têmsido utilizados na prática clínica naquele país. Contudo, a eficáciadesses métodos permanece a ser demonstrada.
Métodos de avaliaçãoOs principais métodos de avaliação disponíveis atualmente são estudoradiográfico contrastado, endoscopia digestiva alta, pepsinogêniosérico e teste de pesquisa de anticorpos anti-Helicobacter pylori.
Os testes de pesquisa de H. pylori e do pepsinogênio não devemser encarados como testes para detectar o câncer diretamente, mascomo identificadores de grupos de risco. O H. pylori, como promotorde cascata de evolução de lesões pré-malignas, e o pepsinogênio, comomarcador de gastrite atrófica.
Estudo radiográfico contrastadoSegundo as diretrizes japonesas, o estudo radiográfico con-
trastado tem nível de evidência 2++, de alta qualidade. Significa queo método é embasado por estudos caso-controle ou coortes, combaixo risco de vieses.
Nessa análise, foram avaliados cinco estudos tipo caso-controle
p26-29 gastro_Onco& 09/05/12 11:58 Page 27
e dois estudos coorte, todos observacionais. Um único estudo foi rea -lizado na Venezuela, e os demais, no Japão. A maioria dos estudoscaso-controle sugeriu uma redução da mortalidade por câncergástrico de 40% a 60% com o uso do exame contrastado. A sensibi -lidade do exame varia de 60% a 80% e a especificidade de 80% a90%. A sobrevida dos grupos com screening e sem screening foicomparada e se observou redução na mortalidade em cinco anos:74% a 80% versus 46% a 56% no grupo em que o tumor foi des -coberto na prática clínica habitual.
EndoscopiaA endoscopia apresenta nível de evidência 2-, de baixa qualidade.
Significa que o método é embasado por estudos caso-controle oucoortes, com elevado risco de vieses.
Embora não existam estudos que tenham avaliado o papel da en-doscopia na redução de mortalidade no Japão, existe um estudo chinêsrealizado numa região de elevada incidência de câncer gástrico. De1989 a 1999, foram realizadas endoscopias em cerca de 4,4 milmoradores dessa região. A mortalidade e a incidência do câncergástrico foram monitoradas até o ano 2000. Nesse período, 85 tumoresforam encontrados, dos quais 29 eram precoces. Não se observou re-dução de mortalidade nesse estudo.
Somente dois estudos avaliaram a acurácia da endoscopia nessecenário. No primeiro, a sensibilidade da EDA foi de 77,8%, baseada emum seguimento de três anos. Entretanto, o público-alvo desse estudo erade pacientes sintomáticos. Outro estudo demonstrou sensibilidade de84%. Nenhuma dessas investigações avaliou a possível redução de mor-talidade entre grupos com e sem screening. Assim, os possíveis efeitosadversos da EDA nesses pacientes não foram estabelecidos.
Teste de pepsinogênio séricoÉ um método com nível de evidência 2-, de baixa qualidade.
Significa que é embasado por estudos caso-controle ou coortes, comalto risco de vieses.
Um dos principais estudos foi realizado numa pequena região deTóquio, analisando os registros de óbito oficiais, com três mortes iden-tificadas por câncer gástrico. Quando comparados com a mortalidadepor câncer gástrico no país todo, observou- se um risco relativo de0,34 para o grupo que realizou screening. Entretanto, há muitas li -mitações para esse estudo, como a falta de controle do histórico deoutros protocolos de screening na mesma população, pequeno segui-mento e ausência de pareamento dos grupos estudados.
Outros estudos reportam a sensibilidade do teste depepsinogênio sérico comparado a EDA realizada no mesmo período.A sensibilidade do pepsinogênio variou de 40% a 80%, porém com
sensibilidade inferior a 80%.É importante salientar que o pepsinogênio sérico é um teste para
detectar gastrite atrófica, portanto um teste indireto para detectarcâncer precoce. Sua maior importância talvez seja identificar gruposde risco para screening.
Teste de pesquisa de anticorpos anti-Helicobacter pyloriNível de evidência 2-. Diversos estudos demonstram um aumento de risco para o de-
senvolvimento de câncer gástrico para pessoas infectadas pelo H. pylori (HP), assim como sua correlação com lesões pré-malignas.Potencialmente uma população com elevado risco para o desen-volvimento para o câncer gástrico poderia ser determinada pelacombinação da detecção de H. pylori e a pesquisa do pepsinogênio.Watanabe et al. fizeram seguimento de 9.293 indivíduos que es-tavam fazendo screening tanto para H. pylori quanto parapepsinogênio, por 4,7 anos. Comparando os resultados dos gruposque tinham H. pylori e pepsinogênio negativos com os demais gru-pos, observou-se risco elevado nos demais.
Pepsinogênio+, HP- (2.134) ⇒ HR 1,1Pepsinogênio-, HP+ (1.082) ⇒ HR 6,0Pepsinogênio+, HP+ (443) ⇒ HR 8,2
Yamanoi et al. demonstraram a sensibilidade de 87,1% para testeHP e especificidade 40,8%. Estudo recente, por You et al., demons -trou que a erradicação do HP diminuía a prevalência de lesões pré-cancerosas no estômago. Outro estudo, realizado em região de altaincidência de câncer gástrico, demonstrou que a erradicação do HPdiminuiu significativamente a incidência de câncer gástrico nos pa-cientes que não tinham lesões consideradas pré-malignas, sem afetar,no entanto, a incidência na população geral.
RecomendaçõesNeste guideline, o exame contrastado foi estabelecido como recomen-dação grau B, ou seja, é recomendado para a política de saúde públicae em screening de oportunidade (grupos de demanda espontânea). Osoutros métodos não foram recomendados para a população geral, emvirtude de dados insuficientes na literatura. Em screening de oportu-nidade, os indivíduos devem ser devidamente orientados quanto aosriscos e às limitações de cada método, e a escolha deve ser individua -lizada, baseada nos riscos estimados de cada paciente.
ConclusãoO câncer gástrico é a segunda maior causa de óbito dentre todos os
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tipos de câncer, e sabemos que as chances de cura dos pacientesacometidos estão diretamente relacionadas ao estadiamento no mo-mento do diagnóstico. No Brasil, estima-se que apenas cerca de 10%desses tumores sejam detectados em fase inicial, versus mais de 50%em países orientais, como o Japão. A realidade brasileira se deve ao
atraso no diagnóstico e início do tratamento, tanto no sistema desaúde pública quanto no privado, o que torna fundamentais a rea -lização de políticas públicas nesse sentido e o empenho dos profis-sionais de saúde, oncologistas e não oncologistas, no diagnósticoprecoce desses tumores.
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30 maio/junho 2012 Onco&
AEPIDEMIOLOGIA É A CIÊNCIA QUE ESTUDA A DISTRI -
BUIÇÃO DAS DOENÇAS E DO PROCESSO DO ADOE -
CIMENTO, SUAS CAUSAS OU FATORES DE RISCO.
São focos primordiais da epidemiologia:
1. O estudo das causas das doenças (desfe-
chos) ou agravos da saúde. Como o processo de
saúde-doença é complexo e multifatorial, na maioria
das vezes o que se busca são os fatores de risco para
uma doença. Esses estudos são chamados de enfoque
etiológico ou, simplesmente, estudos etiológicos.
2. O estudo da acurácia dos métodos diagnós-
ticos. Para que um novo teste diagnóstico seja uti-
lizado e até substitua métodos mais antigos para
firmar uma situação de saúde ou de doença, o novo
teste, que pode ser um exame de sangue, imagem
etc., deve ser avaliado quanto a sua capacidade de
identificar entre os indivíduos com uma determi-
nada situação clínica qual a doença mais provável
que os acomete. Além disso, deve ser determinada
a probabilidade de alguém ter verdadeiramente uma
doença ou não, conforme o resultado do teste. Esses
estudos são chamados de enfoque diagnóstico.
3. O estudo dos determinantes da evolução
de uma doença. Os indivíduos podem evoluir de
formas diferentes, mesmo tendo doenças seme -
lhantes. Para estimar a probabilidade mais provável
quanto a sua evolução, estudos de enfoque prognós-
tico são desenvolvidos, e fatores que inferem a
evolução mais ou menos favorável são identificados.
Esses são os estudos de enfoque prognóstico.
4. O estudo de novos tratamentos. Uma inter-
venção pode ter por objetivo tratar ou prevenir uma
doença ou, ainda, alterar uma evolução conhecida.
Quando se quer saber se uma intervenção tem re-
sultados mais favoráveis do que os tratamentos
feitos habitualmente, são realizados experimentos
controlados em humanos. Os resultados de estudos
experimentais bem conduzidos são os únicos que
podem alterar uma prática corrente de como se trata
ou previne uma doença ou situação em saúde. Esses
estudos são de enfoque terapêutico ou preventivo.
epidemiologia
Epidemiologia moleculardos tumores
Alice de Medeiros Zelmanowicz
* Médica oncologista e epidemiologista; coordenadora
do Centro de Prevenção doCâncer da Irmandade Santa Casade Misericórdia de Porto Alegre
Contato:[email protected]
Div
ulga
ção
Tabela 1 Enfoques de pesquisa
Etiologia
Diagnóstico
Prognóstico
Intervenção ouexperimental
Fator de risco
Exame diagnóstico
Doença ou fator prognóstico
Tratamento ouintervenção preventiva
Doença
Doença (padrão-ouro)
Evolução da doença
Evolução ouprevenção da doença
Fator em estudoEnfoque de pesquisa Desfecho clínico
p30-33 epidemio_Onco& 08/05/12 10:42 Page 30
Onco& maio/junho 2012 31
Para cada um desses estudos, desenhos de pesquisa são elaboradosespecificamente para medir a relação entre um determinado fator in-vestigado e um determinado desfecho. Cuidados com a metodologia,a amostragem, o controle de erros aleatórios e sistemáticos, assim comoa análise dos dados, fazem parte de um bom método de pesquisa.
Há algumas décadas, o desenvolvimento metodológico, os recursos
de tratamento de dados eletrônicos e os recursos tecnológicos restringiama capacidade da pesquisa epidemiológica de se aprofundar nessa associa -ção, limitando a descrevê-la sem necessariamente estar definindo umarelação de causa-efeito. Os passos entre a exposição a um fator causal eo desenvolvimento de uma doença em alguns indivíduos e não em outrosnão eram estudados de forma sistemática até o início da década de 1980.
Figura 1 Epidemiologia do câncer tradicional
DoençaExposição
“Caixa Preta”
Figura 2 Epidemiologia molecular do câncer
Doençaclinicamentesignificante
Exposição
Exposição
Doença
Suscetibilidadegenética
Efeito biológico
“Caixa Preta”
No entanto, sempre se teve o conhecimento de que as doenças, e ocâncer particularmente, não se distribuem de forma uniforme nas di-versas regiões do globo. Algumas associações descritas pela epidemiolo-gia tradicional se mantêm nos fluxos migratórios e outras se modificam,aproximando-se das características da região para a qual os indivíduosmigram. Também se sabe que a maioria dos indivíduos que têm câncerde pulmão é ou foi fumante, porém a grande maioria dos fumantesnunca desenvolverá câncer de pulmão, demonstrando claramente queo conhecimento de um agente causal não é o suficiente para determinarquem desenvolverá a doença. E o conjunto de fatores desconhecidosnas associações de estudos etiológicos também está presente nos estudosdos demais enfoques. Por exemplo, a resposta a um tratamento varia eos determinantes dessa variabilidade são até então pouco conhecidos.
A epidemiologia molecular é uma área da epidemiologia que des-
dobra os eventos entre exposição e desenvolvimento clínico de umadoença, a variabilidade da resposta aos tratamentos e o aprofunda-mento da compreensão sobre a interação de fatores prognósticos eintervenções preventivas.
O número de estudos publicados de epidemiologia molecularvem crescendo, e desde que Frederica Perera e Bernanrd Weinsteincunharam esse termo, em 1982, a maior expansão desse campo sedeu na oncologia. Grupos de pesquisadores e institutos de pesquisase organizam para colaborar na produção de conhecimento usandoesse novo paradigma. Os recursos tecnológicos desenvolvidos pelabiologia molecular e pela informatização permitiram desvendar ascaracterísticas moleculares e gênicas das interações entre ambiente,suscetibilidade genética, resposta biológica e a manifestação clínica(sinais e sintomas) de um determinado desfecho em saúde.
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O desenvolvimento de um câncer é o resultado de uma complexainteração de diversos fatores ambientais, genéticos, hormonais,imunológicos etc. A esse processo dá-se o nome de carcinogênese. Sãodiversas as etapas desse processo e sua compreensão progride a cadadia. Os estágios claramente reconhecidos no momento são: iniciação(mutações hereditárias ou novas alteram o DNA de uma ou mais célu-las), promoção (desenvolvimento de alterações pré-malignas ou desen-volvimento de alterações quantitativas não malignas nos tecidosatingidos) e progressão (modificação qualitativa das células queadquirem características particulares das células malignas, como cresci-mento autônomo, imortalidade, neoangiogênese, capacidade de invadirtecidos adjacentes e gerar metástases). Esse processo pode levar váriasdécadas para se completar e considera-se que possa ser revertido atravésde mecanismos de reparo em qualquer um de seus estágios, apesar denão haver comprovação de todos esses eventos.
A epidemiologia molecular e a genética vêm descrevendo diversosgenes específicos que estão envolvidos nesses estágios.
O comportamento de um indivíduo é determinado por diversascaracterísticas adquiridas, de forma hereditária e cultural. Esse com-portamento leva à exposição mais ou menos intensa aos fatores derisco e carcinógenos que podem ser responsáveis pelo aumento derisco de um câncer.
A identificação da distribuição de comportamentos herdados ouadquiridos sempre foi um dos focos da epidemiologia tradicional, paraque se planejassem intervenções preventivas de nível primário e pri-mordial. A caracterização da resposta do indivíduo a uma exposiçãoera medida de forma indireta e muitas vezes por inferência. A epide -miologia molecular tem ferramentas para medir a dose interna no nívelmolecular em fluidos e tecidos do indivíduo, para quantificar de formamais precisa a exposição e o acúmulo biologicamente relevante. Alémdisso, os órgãos e tecidos absorvem e sofrem o efeito de forma diferente,conforme suas características moleculares.
Porém, a medida do real efeito de um agente sobre os tecidos vai alémde medir sua quantidade. O dano causado por uma substância ou porum carcinógeno reconhecido, como o tabaco, sobre o tecido é medidoatravés da interação deles com o genoma da célula que foi exposta a essasubstância. Esse fator de exposição pode ser medido através de técnicas
moleculares específicas, que se denominam adutos (“pontes” entre a subs -tância de interesse e uma molécula de DNA ou uma proteína). Atravésdessas ligações se mede o fator em estudo que realmente interagiu como indivíduo, e a esse fator se denomina dose biológica efetiva.
O fato de uma molécula de DNA ou proteína ter se ligado aometabólito de uma substância é uma inferência de que essa substânciacausará um dano molecular que iniciará um evento na cascata da car-cinogênese. A medida do efeito biológico pré-clínico ou marcador deefeito é uma técnica molecular que identifica o dano sobre a estruturado gene. O estudo do genoma humano foi determinante para se conhe -cer os genes normais e identificar aqueles que, alterados na sua estru-tura do seu DNA, estão associados ao câncer. Estes genes são, muitasvezes, aqueles envolvidos no controle do crescimento e diferenciaçãonormal da célula. Essas lesões podem ser de diversas naturezas e in-cluem perdas, deleções, substituições, inserções, amplificações, dupli-cações, inversões e translocações cromossômicas. As primeirasalterações identificadas foram as aberrações cromossômicas. Fazemparte desse grupo de marcadores de efeito as mutações genéticas (comoas medidas em linfócitos para monitorar exposição à radiação), a ati-vação de oncogenes (como o erbB-2, associado ao câncer de mama, eo K-ras, ao adenocarcinoma de cólon) e a inativação de genes supres-sores de tumor (como o p53, associado a diversos tumores da síndromeLi-Fraumeni). Identificar a incidência dessas mutações após uma ex-posição crônica ou aguda é uma forma de relacionar determinada mu-tação à gênese de um câncer. A prevalência de determinada mutaçãopode variar conforme o tipo de câncer ou o tecido atingido.
Na grande maioria dos casos, não se identifica uma mutação es-pecífica associada a maior incidência de um determinado tipo de câncer.Além disso, em grande parte das vezes, um padrão de hereditariedadenão está claro nem nas famílias com muitos casos de câncer. É ochamado câncer esporádico. Porém, já é possível identificar genes nãomutados, com mínimas variações na sequência do DNA, os polimor-fismos, que acontecem numa frequência alta na população (>1%) e quecodificam enzimas envolvidas no metabolismo e eliminação de subs -tâncias, aumentando ou diminuindo a exposição do organismo decarcinógenos. A identificação desses polimorfismos permite identificarmarcadores de suscetibilidade.
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SuscetibilidadeGenética/metabólicaProcesso de reparoStatus nutricionalStatus imunológico
comporta-mento
exposição dose interna efeito biológicoprecoce
função ou estru-tura alterada
doença precoce
desfecho clínico
Adaptado de Caporaso, NE. Cancer Epidemiol Biomakers Prev 2007;16(3):365-6
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Referências bibliográficas:
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May;73(5):532-42.
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4. Biomarcadores moleculares em câncer: implicações para a pesquisa epidemi-
ológica e a saúde pública. Wunsch Filho, V and Gattas, GF. Cad. Saúde Pública
[online]. 2001, v. 17, n. 3, pp. 467-480.
O método epidemiológico permanece válido e aplicável, mesmo quea forma de se medir exposição e efeito tenha se aprofundado em nívelmolecular. A integração das ciências trouxe o reconhecimento de que háuma grande variação no risco de desenvolver câncer entre os indivíduose de que essa variabilidade está relacionada à interação entre fatoresambien tais e suscetibilidade, hereditária ou adquirida, no processo da
carci nogênese. Além disso, marcadores de diagnóstico e resposta a trata-mentos, entre outros, têm sido desenvolvidos. Novas categorias de bio-marcadores identificam etapas intermediárias da carcinogênese, incluindooutros componentes, além do DNA e suas mutações. Essa compreensãoexpande o conhecimento sobre as etapas do desenvolvimento do câncere se aproxima de seu objetivo primordial, que é sua prevenção.
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BASTA UMA RÁPIDA OLHADA E JÁ SE PERCEBE A DIFERENÇA. ENQUANTO
NO AMBULATÓRIO DE UROLOGIA QUASE TODOS OS PACIENTES ESTÃO
ACOMPANHADOS DE SUAS ESPOSAS, FILHAS OU DE SUA MÃE, NO CASO
dos mais jovens, a maior parte das mulheres pacientes da mastologiaou ginecologia está desacompanhada.
“É o que se vê de uma forma muito intensa aqui no hospital, prin-cipalmente quando se trata da saúde masculina. As mulheres vão so -zinhas ao médico. Já os homens dificilmente estão nessa condição,principalmente na primeira vez. Essa é uma diferença marcante”,afirma Renato Almeida de Oliveira, uro-oncologista do HospitalA.C.Camargo, em São Paulo.
E parece mesmo que é assim que acontece. Sandra Simões, 54 anos,esposa de paciente, conta que teve um mioma, que era benigno, masfoi preciso retirar. E, apesar de perceber a preocupação do marido,preferia ir sozinha ao médico. “A mulher não quer atrapalhar. Ela parecemais forte que o homem nesse aspecto. Eu sentia a preocupação dele,mas procurava fazer tudo no horário em que poderia me virar sozinha,para não tirá-lo do emprego, não prejudicar o horário de trabalho”, diz.
Segundo levantamento feito pelo Núcleo de Excelência de Urologiado Hospital, em 80% dos casos as mulheres acompanham seus maridose filhos em todas as etapas do tratamento, do diagnóstico ao seguimento,compartilhando todas as decisões e, muitas vezes, sendo responsáveispor garantir o cumprimento das orientações da equipe médica.
Com base nesses dados e na observação diária desse comporta-mento, nasceu a proposta de delinear um programa capaz de mobilizarainda mais o esforço dessas mulheres para promover a saúde entre oshomens. Surgia o Embaixadora da Saúde. “O projeto tem pouco maisde um ano e começou exatamente dessa observação”, conta Renato.
A iniciativa reconhece a mulher como porta-voz da saúde, respon-sável por fazer cumprir a agenda de consultas e exames de rotina. Oprograma Embaixadora da Saúde A.C.Camargo, além de valorizar essa
característica feminina, ainda incentiva a multiplicação do modelo paraque seja cada vez mais colocado em prática. O incentivo envolve a dis-tribuição de bótons, cartilhas de prevenção e outros materiais infor-mativos, além de atividades direcionadas a pacientes e familiares dainstituição e abertas à comunidade. Por essas e outras, as Embaixadorasda Saúde estão engajadas em grupos de apoio e participam de umaprogramação criativa e variada. São iniciativas como ioga na praça,oficinas de culinária e calendário de exames preventivos, entre outrasatividades que buscam incentivar as participantes a levar informaçõessobre hábitos saudáveis e disseminar a cultura da prevenção, em casae na própria comunidade.
O mérito da iniciativa é creditado ao oncologista GustavoGuimarães, chefe do departamento de urologia do hospital, que visua -lizou a importância do enfoque sobre a mulher para trabalhar commais sucesso a questão da saúde masculina. “O resultado é visível”,ates ta Renato. “Aumentou muito o volume de consultas e exames derotina, de prevenção. Isso é percebido no dia a dia, desde que o pro-grama entrou em vigência”, comemora.
Uma questão cultural Mas, afinal, por que a mulher assume esse papel de gerenciadora da saúdedentro da própria família? Para Renato, essa pode ser uma questão cul-tural. A mulher tem essa preocupação, costuma ir ao ginecologista desdea adolescência, procura muito mais o serviço de saúde que o homem.“Eu acho que existe também um comportamento de algumas sociedadesocidentais que são extremamente matriarcais. O pai pode ser o provedor,a principal figura, mas quem coordena, dá a última palavra, é sempre amãe. Você percebe que esse fator cultural é muito importante”, diz.
De forma indireta, as mulheres que frequentam o hospital porquetrazem seus familiares acabam se envolvendo em ações e eventos dainstituição. Elas têm uma adesão muito boa, que vem de forma na -
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do bem
Por trás de umgrande homem...
Por Sergio Azman
Mulheres são fundamentais no tratamentode seus maridos e filhos
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tural e espontânea, sem que seja preciso fazerqualquer tipo de triagem. “Essa interação acontecenos corredores, nas salas de espera, muito maisque no próprio consultório. A divulgação que estásendo feita dentro do ambiente do hospital é maisimportante que na consulta.” E, apesar de seremmulheres que já estão acompanhando seus mari-dos e filhos, o que se percebe é um aumento tam-bém das consultas de rotina e prevenção, nãoapenas nos casos de diagnóstico. “Muitos pa-cientes vêm aqui buscar a prevenção. Não têmqueixa, não tem alteração, vêm realmente para seprevenir e chegam graças às mulheres”, prossegueo urologista. “A mulher tem uma forte inserção nasociedade. Sempre tem algum grupo que ela fre-quenta e para o qual dissemina esse tipo de conhe -cimento, promove um boca a boca com a vizinha,com a amiga. Ela se sente responsável e desem-penha isso de uma forma muito marcante. Écomum o paciente chegar dizendo que foi a mu -lher que insistiu para que ele viesse”, diz.
...há sempre uma grande mulherDiagnosticado com câncer no reto em 2009, comuma recidiva no fígado, Eduardo Moura doCarmo, 46 anos, conta que sentia um incômodoquando evacuava, ficava dolorido e apresentavaum pouco de sangramento. Ele chegou a fazer umexame de rotina no ano anterior, conversou como urologista, mas, segundo ele, pode ter havidouma falta de vontade, de interesse por parte domédico. “Não sei se ele não tinha o conhecimentoou não teve vontade mesmo, não queria ter pro -blemas maiores para resolver.”
Mesmo assim, Eduardo acabou confiando no queo médico disse e ficou mais um ano achando quepodia mesmo ser apenas um caso de hemorroidas.Só foi novamente ao médico após ver uma entrevistado sambista Neguinho da Beija-flor, que teve omesmo problema. “Ele falou quais eram os seus sin-tomas, e eu percebi que sentia a mesma coisa. Foiquando liguei para a minha mulher e pedi que mar-casse uma consulta com o proctologista.”
“Minha mulher foimeus dois braços,minhas duas pernas.Fui ao hospital “n”vezes e nunca semela. Em todas essasocasiões ela estavado meu lado”
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Nesse momento, a esposa, Susy Elaine do Carmo, 42 anos, entrouem ação. Ela conta que, diante do contato do marido, foi imediatamentepesquisar o especialista e agendar a consulta. “Eu marquei tudo. Nãosei se é esse o comportamento de todos os homens, mas pelo menos oEduardo não tem esse tipo de disposição. Acho que é cultural dohomem, não tem o hábito. Talvez eu, na situação dele, tivesse insistidomais com o primeiro médico, já nos primeiros sintomas teria procuradome informar melhor, saber o que estava acontecendo. A pessoa fica per-dida, precisa ter alguém para pegar na mão e sair carregando.”
Por isso, a iniciativa de fazer o tratamento em São Paulo foi dela. Ocasal mora em Mogi das Cruzes, interior do estado. No início ele relutouum pouco, pensou nas dificuldades de ter que fazer muitas viagens, doincômodo dos familiares em visitá-lo no caso de uma cirurgia. “Eu disseque no momento ele teria que pensar nele, que em São Paulo teríamosmais estrutura para o tratamento, por ser um hospital especializado. Erealmente foi como eu conduzi. Liguei, marquei e agendei”, diz.
Susy ressalta que, apesar de deixar o agendamento e os detalhesdo tratamento nas mãos dela, ele sempre reagiu bem a todas as de-cisões e orientações da equipe médica, sem nunca oferecer resistênciaaos procedimentos que o tratamento oncológico exige. “Ele encaroutudo com coragem. Eu facilitei essa parte para ele, mas, se não tivesseninguém para fazer, ele mesmo faria. É mais uma questão de ajudar.Teve uma ocasião em que uma pessoa foi falar com ele no hospital eele me chamou para escutar, porque não estava conseguindo entender,processar. A pessoa fica até meio zonza. Às vezes, quando alguém iaexplicar os detalhes da medicação, dar informações que ele precisavaregistrar, ele não conseguia porque estava nervoso, ansioso. Por issoacho que é sempre bom ter alguém por perto”, afirma.
Ela conta que em suas visitas ao hospital acabou conhecendo oprojeto Embaixadora da Saúde. “Cheguei a pegar um bóton. Quandoeu conheci o projeto, vi que tratava da importância da mulher, porqueé ela quem cuida do namorado, do marido, do pai. Achei interessantee me identifiquei, porque cuidar é mesmo natural para a mulher. Nesseperíodo cuidei de tudo, do agendamento de consultas e exames, dapreocupação com a alimentação, dirigia o carro para irmos para SãoPaulo, cuidei de todos os aspectos.
Hoje, duas cirurgias depois, tratamento adjacente e quimioterapia,Eduardo está fazendo acompanhamento. E reconhece a importânciada mulher para o sucesso do tratamento. “Minha mulher foi meus doisbraços, minhas duas pernas. Fui ao hospital “n” vezes e nunca semela. Em todas essas ocasiões ela estava do meu lado”, diz, agradecido.
Pulso firmeO adiamento de uma colonoscopia também pode ter sido um compli-cador para o câncer de intestino de Antônio Simões, 57 anos. Dessavez, no entanto, o adiamento do exame não foi responsabilidade do
médico. Ele conta que anos atrás teve um problema de hemorroidas eestava associando os sintomas com esse quadro anterior, sem dar aprioridade necessária ao exame. “A colonoscopia que fiz um ano atrás,que me levou à cirurgia e ao tratamento, tinha sido prescrita seis anosantes por um médico da área. Acabei desprezando esse exame porquenão encontrei tempo e os sintomas tinham desaparecido. Hoje pensoque, se não tivesse esperado cinco anos para fazer o exame, talveztivesse sido só um caso cirúrgico. Mas além da cirurgia eu tive quefazer a segunda fase, a quimioterapia”, explica.
Apesar disso, uma dor transversal na região do umbigo lhe chamavaa atenção. Ele informava seu incômodo à esposa, mas confessa que dis-simulava na hora de descartar o papel higiênico. “Era uma coisa decaráter pessoal, talvez de higiene. Mas quando ela viu o papel percebeuque eu estava perdendo sangue em um volume um pouco maior”, diz.
Realmente, sua mulher, Sandra percebeu o agravamento da situa -ção e começou a se preocupar. “Por mais que ele tentasse esconder,quando eu vi a quantidade de sangue eu me assustei. Então comeceia tomar providências. Decidi que estava na hora de ir ao médico, ecomecei a procurar esses especialistas. Como ele trabalha muito, nuncatinha tempo para se cuidar. Tive que encaixar um horário em umdomingo para que ele pudesse fazer os exames, passar num médicode urgência, e obrigá-lo a ir.”
O pulso firme se mostrou necessário e hoje Antônio agradece ainiciativa da mulher. Segundo ele, se não fosse a capacidade dela e dosfilhos, provavelmente ele não conseguiria coordenar essas internaçõese exames. “Não basta pagar um plano de saúde, tem que entender aburocracia de fazer um agendamento, de procurar um laboratório.Esse papel dela foi realmente muito importante, foi decisivo durantetodo esse processo. Ela sempre me acompanhou, inclusive durante aminha quimioterapia. Quando fiquei internado durante três dias, elase internou junto.”
Para Sandra, a sensação de ajudar, de dividir a dor, é gratificante. “Ébom ter condições de estar ao lado em todos os momentos. Você achaque vai conseguir salvá-lo, que tudo vai dar certo. A impressão é de que,se você está participando, não vai deixar sair nada errado. Eu me sentiaassim, junto comigo tudo ia dar certo”. Pelo visto, dá mesmo.
Mulheres interessadas em fazer parte do pro-grama Embaixadora da Saúde podem fazer down-
load gra tui to dos manuais de prevenção de câncerno site do hospital (www.accamargo.org.br/embaixado-
radasaude). Os bótons podem ser retirados no hospital, localizadona Rua Professor Antônio Prudente, 211, Liberdade, São Paulo.
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quiz
O quiz é uma seção interativa de Onco& que convida leitores a dar opiniões,levantar dúvidas e emitir hipóteses do caso apresentado
Quebra-cabeça
Paciente do sexo feminino, de 49 anos, foi encaminhada para oserviço de oncologia clínica em junho de 2009 para investi-gação de lesões hepáticas de aspecto metastático.
Tinha antecedente de ressecção de lesão polipoide pedun-culada retal, com 3 cm de extensão, nove anos antes. O estudohistológico, à época, foi compatível com o diagnóstico de ade-nocarcinoma em reto, com invasão restrita à submucosa e mar-gens exíguas. Em seguida, a paciente foi submetida à cirurgiapara ampliação das margens cirúrgicas. A análise anatomopa-tológica não evidenciou neoplasia residual.
Em maio de 2009, passou a se queixar de dor abdominaldifusa e empachamento. Realizou tomografia de abdômen queevidenciou múltiplos nódulos hepáticos, compatíveis comlesões secundárias (Figura 1), além de nódulos sólidos esparsosna cavidade abdominal (setas), os maiores na região periumbi -lical (Figura 2) e junto à parede lateral esquerda do reto (Figura3), medindo até 2,2 cm de diâmetro.
Foram realizados exames adicionais. Tomografia de tórax, en-
doscopia alta e colonoscopia não mostraram alterações relevantes.Evidenciou-se anemia leve (Hb 10,6 g/dL). Os demais exameslaboratoriais, incluindo função hepática e CEA, foram normais.
Evoluiu, em seguida, com episódios de dispneia, que exigi-ram atendimento frequente em serviço de emergência. Apesquisa de tromboembolismo pulmonar resultou negativa e aavaliação cardíaca foi normal.
A paciente foi submetida à biópsia de lesão hepática, quefoi compatível com metástase de adenocarcinoma moderada-mente diferenciado.
Questões:1. Você solicitaria alguma investigação adicional?2. Como manejaria essa paciente?
Duílio Reis da Rocha Filho – [email protected] Clínica – Hospital Haroldo Juaçaba/Instituto do Câncer do Ceará
Novo caso
Mande suas respostas para o e-mail:[email protected]. Os resultados serão divulgados no site www.revistaonco.com.br e na próxima edição de Onco&.
Figura 1 Metástases hepáticas à tomografia de abdômen
Figura 2 Nódulo na região periumbilical
Figura 3 Nódulo junto à parede lateralesquerda do reto (seta)
1 2
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Onco& maio/junho 2012 39
Analisador hematológico é lançado no país
Para atender àsnecessidades dosla bo ratórios quebus cam por dife -renciação, rapi-dez na liberaçãodos resultados eme lhoria na qua -lidade do serviçode hematologia, a
Ro che Diagnóstica trou xe ao Brasil o analisador hema-tológico Sysmex XS-800i. Com tecnologia de citometriade fluxo fluorescente para contagem diferencial de leucó -citos de cinco partes (neutrófilos, eosinófilos, basófilos,linfócitos e monócitos) e capacidade para processar 60amostras por hora, o analisador oferece aos la boratórios,além de agilidade, maior padronização entre opera dorase sistemas.
O usuário do XS-800i poderá fazer parte do programade Controle de Qualidade Interlaboratorial Sysmex In-sight™, onde terá seus resultados de controle de qualidadeinternos comparados aos de outros usuários da AméricaLatina. Além disso, fica à disposição a conexão remota doequipamento à central de Atendimento da Roche, viaSNCS™ (Sysmex Network Communications System).
Cooperação internacional beneficiapesquisa e tratamento do câncer
Uma cooperação internacional entre três importantes instituições naárea de oncologia – Hospital Sírio-Libanês, Memorial Sloan-ketteringCancer Center e Ludwig Institute for Cancer Research – vai propor-cionar o desenvolvimento de programas colaborativos de educação,treinamento e de pesquisas de oncologia molecular, permitindo inten-sificar as atividades em pesquisa translacional e estudos clínicos denovos medicamentos.
A parceria foi apresentada durante evento realizado em abril, em SãoPaulo, que contou com a participação de médicos e pesquisadores inter-nacionais, como Andrew Simpson, diretor científico do Ludwig Institute,e Murray Brennan, vice-presidente para Programas Internacionais do Me-morial Sloan- Kettering, além da diretoria e do corpo clínico do HospitalSírio-Libanês.
Outro reflexo dessa parceria é a criação do Centro de Oncologia Mo-lecular, coordenado pela pesquisadora Anamaria Camargo, cujo objetivoé desenvolver pesquisas para avanços no diagnóstico e na compreensãodos fatores prognósticos de diferentes tumores, ampliando a capacidadede prever resposta aos tratamentos.
Segundo o diretor de pesquisa do Instituto Sírio-Libanês de Ensinoe Pesquisa (IEP), Luiz Fernando Reis, a parceria permitirá aumentar a ca-pacidade de realização de novos ensaios clínicos e desenvolver novosprojetos de cooperação das três instituições. “As pesquisas tornarão ostratamentos mais eficientes. A ideia é aumentar a capacidade de diagnos-ticar e tratar os pacientes. Ganha a ciência, ganham os pacientes e ganhaa sociedade”, diz.
Lições de vida
Com atitude – e muito peito – é possível enfrentar o câncer de mama, ressignificar a vidae a própria visão da feminilidade. É essa mensagem de coragem e superação que compõeo roteiro de Mulheres de Peito, um documentário que tem a assinatura do Grupo Brasileirode Estudos do Câncer de Mama (GBECAM), em parceria com as empresas ConteúdosDiversos e Cinema Animadores.
Inspirado no livro Força na Peruca – Tragédias e Comédias de um Câncer, escrito pela pu -blicitária Mirela Janotti, o filme tem a proposta de desmistificar o olhar sobre a doença.
Além de Mirela, outras quatro “mulheres de peito” protagonizam o documentário e dividem suas experiências de superação. E,além de deixar um recado sonoro sobre a importância da detecção precoce, com informação médica prestada por nomes de fôlego damastologia brasileira, Mulheres de Peito ainda esbanja sensibilidade ao privilegiar o universo emocional que cerca a doença, desde o mo-mento do diagnóstico até a delicada rotina de tratamento.
O documentário possui uma versão reduzida, de 26 minutos, que teve o apoio da Roche, além da versão completa, de 52 minutos,que será comercializada. Mais informações: www.mulheresdepeito.com.br.
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40 maio/junho 2012 Onco&
Investimento na rede deunidades oncológicas do SUS
O Ministério da Saúde vai investir cerca de R$ 505 milhõesna rede de unidades oncológicas do Sistema Único de Saúde(SUS). O anúncio foi feito pelo ministro da Saúde, AlexandrePadilha, durante o Encontro com a Comunidade Científica2012, em Brasília. Os recursos serão aplicados em infraestru-tura (R$ 325 milhões) e na compra de aceleradores lineares,equipamentos de alta tecnologia usados em radioterapia, alémde outros acessórios (R$ 180 milhões).
Segundo Padilha, a assistência aos pacientes de câncer éuma das prioridades do governo federal. “Neste âmbito, sãomedidas essenciais a criação, a ampliação e a qualificação dehospitais habilitados em oncologia, em consonância com osvazios assistenciais, as demandas regionais de assistência on-cológica e as necessidades tecnológicas do SUS”, declarou.
O investimento faz parte de um plano mais amplo de for-talecimento das ações de prevenção, diagnóstico e tratamentodo câncer. A prioridade são os cânceres de mama e do colodo útero, através da ampliação do acesso a exames preventivose ao tratamento de lesões precursoras e iniciais. Neste anoforam diagnosticados 260 mil casos de câncer em mulheres,27% deles de mama e de colo do útero.
As obras de infraestrutura e os equipamentos financiadospelo Ministério da Saúde serão destinados a ampliar tecno-logicamente 32 unidades oncológicas que já oferecem ra-dioterapia, e a criar outros 48 serviços novos. A compra dosequipamentos vai aumentar a capacidade de atendimento doSUS em 20%, alcançando quase 100% da demanda nacional.
Os 80 aceleradores serão adquiridos em um período decinco anos, expandindo o acesso para mais 28,8 mil pa-cientes anualmente. Uma fábrica de equipamentos de ra-dioterapia no país está sendo negociada entre o governobrasileiro e uma empresa produtora. O início das obras estáprogramado para 2013 e a previsão é de que a fábrica estejaem atividade em 2015. Sua atuação possibilitaria a comprae a distribuição de mais aceleradores lineares, reduzindo anecessidade de importações, além de facilitar a manutençãodos equipamentos, atualmente feita no exterior.
Método detecta metástase decâncer durante o ato cirúrgico
Atender o paciente eproporcionar aos cen-tros cirúrgicos umaequipe multidiscipli-nar que auxilie oscirurgiões na localiza-ção de lesões ocultas ena detecção do linfo -nodo sentinela através
do gamma-probe (sonda portátil com detector de radioatividade).Essa é a proposta do Hand Held Gamma Probe – UDDO, rede deserviço especializado que já atinge a marca dos 1,2 mil atendi-mentos ao ano, atuando em mais de 40 centros cirúrgicos daGrande São Paulo.
O objetivo é disponibilizar essa técnica aos médicos que nãocontam com essa solução de medicina nuclear diagnóstica noshospitais em que operam, como também aos pacientes cujosplanos de saúde não cobrem esse serviço no centro cirúrgico emque serão tratados. Com os procedimentos da medicina nuclear,incluindo linfocintilografia e cirurgia radioguiada com o gamma-probe, o cirurgião pode extrair tumores e lesões de forma maisprecisa, além de gânglios com sinais microscópicos de câncer, quenão podem ser visualizados ou apalpados.
Dotado de sonda e detector, o gamma-probe capta a radiaçãoemitida pela área suspeita de tumor, possibilitando sua localizaçãoexata e ressecção pelo cirurgião. Assim, permite maior precoci-dade e precisão no diagnóstico e tratamento. O equipamento tam-bém é usado para pesquisa do linfonodo sentinela, o primeirolinfonodo de uma cadeia que recebe a drenagem linfática dotumor. Dessa forma, o estudo anatomopatológico permite predi-zer o estado de toda a cadeia linfonodal e indica ao cirurgião qualé o linfonodo sentinela, proporcionando direcionamento na con-duta e menor tempo de cirurgia, além de evitar a extraçãodesnecessária de toda a cadeia linfonodal.
O serviço conta com uma equipe fixa de profissionais, in-cluindo médicos nucleares, radiologistas, biomédicos e enfer-meiros, e quatro equipes que vão ao centro cirúrgico no hospitalde escolha do médico requisitante.
O serviço deve ser agendado antecipadamente pelo telefone(11) 3254 6800.
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Onco& maio/junho 2012 41
Novo medicamento para câncer de pulmão
Em 2012, o Brasil terá aproximadamente 17 mil novos casos de câncer de pulmão, segundoo Instituto Nacional de Câncer (INCA). Para ajudar a combater a doença, a Agência Nacionalde Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a indicação do medicamento oral cloridrato de er-lotinibe (Tarceva®). A nova droga é indicada para os casos avançados de câncer de pulmãonão pequenas células, como primeira linha de tratamento para pacientes com mutações ati-vadoras da proteína EGFR (receptor do fator de crescimento epidérmico).
Desenvolvido pela Roche sob o conceito de medicina personalizada, em que os medicamentossão produzidos para agir em pacientes com perfil genético específico, o cloridrato de erlotinibebloqueia a ação da proteína EGFR mutada associada à divisão celular e à progressão tumoral. A
estimativa é que de 8% a 17% dos pacientes com câncer de pulmão não pequenas células carreguem essa mutação. Quando o fator de crescimento epidérmico (EGF) se liga ao seu receptor mutado EGFR, localizado na membrana celular, ocorre
uma série de ativações de outras proteínas intracelulares, responsáveis pela aceleração do crescimento e divisão celular. O cloridrato deerlotinibe bloqueia a ação dessa proteína ligada ao crescimento celular e ao desenvolvimento de metástases.
Em 2010, o estudo europeu EURTAC – o primeiro a investigar a ação do cloridrato de erlotinibe em uma população ocidental commutações ativadoras da proteína EGFR – constatou que o medicamento, quando comparado ao tratamento quimioterápico, quasedobrou o tempo médio de sobrevida sem progressão de doença, passando de 5,2 meses para 9,4 meses. Em relação à sobrevida médiaglobal, elevou de 18,8 meses para 22,9 meses, e de 10,5% para 54,5% a taxa de resposta tumoral. Participaram do estudo 153 pacientes.
Uma das principais vantagens do cloridrato de erlotinibe para os pacientes, além da sobrevida, é a capacidade de estacionar a doençapor um período, dispensando o uso da quimioterapia tradicional, que provoca muitos efeitos adversos.
Hospital exclusivo para atendimento a crianças com câncer
Impulsionado pela alta demanda de atendimento pediátrico, o Hospital doCâncer de Barretos inaugurou um hospital exclusivo para crianças e adoles-centes. O Hospital Infanto-Juvenil Presidente Luiz Inácio Lula da Silva iráoferecer tratamento clínico especializado para todos os tipos de câncer in-fanto-juvenil. Com capacidade para atender até mil crianças e jovens porano, a nova unidade contou com o apoio da Volkswagen do Brasil e de outras60 empresas, além de mais de 150 pessoas físicas que investiram no projetoatravés de campanhas de doação de recursos.
Idealizado com um conceito multidisciplinar de atendimento, que vai além da quimioterapia e envolve tratamentos nas áreas de fonoaudio -logia, odontologia, fisioterapia, radioterapia, nutrição, psicologia, pedagogia e cirurgia, o hospital conta com espaços voltados para o desen-volvimento social das crianças e adolescentes, como centro de entretenimento, Casa de Cultura, brinquedoteca e locais para oficinas de arte,canto, informática e leitura.
O novo prédio possui 20 quartos e 30 leitos para pacientes, além de ambulatório com oito consultórios médicos, um oftalmológico edois para psicologia. As instalações ainda reúnem duas salas de enfermagem, isolamento, leito para transfusão e salas de nutrição, procedi-mentos com sedação, odontologia, curativos e assistência social.
Um dos destaques do novo prédio de pediatria é o centro de reabilitação, equipado com área para terapia ocupacional, consultório paraavaliação, três salas de cursos profissionalizantes para pacientes, fonoaudiologia e piscina com área de espera para acompanhantes.
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Medicina integrativa
• www.mskcc.org/cancer-care/integrative-medi-cine/about-herbs-botanicals-other-products
Mantida pelo Memorial Sloan-Kette -ring Cancer Center, de Nova York,a página apresenta uma série de re-cursos que podem ser combinadoscom o tratamento padrão para me -lhorar a qualidade de vida e o bem-estar do paciente de câncer.
Entre os destaques, uma área mul-timídia onde a dra. Barrey Cassileth,chefe do serviço de medi cina integra-
tiva do MSKCC, esclarece o papel das terapias complementares notratamento do câncer e res ponde a dúvidas sobre a medicina integra-tiva. A página também traz dicas nutricionais e fontes de informaçãoconfiáveis sobre medicina alternativa e complementar.
• www.mdanderson.org/education-and-research/resources-for-professionals/clinical-tools-and-resources/cimer/index.html
Outro site interessante sobre o as sunto é produzido pelo MD Anderson CancerCenter. Com re cur sos educacionais paraprofissionais de saúde e pacientes, apágina busca au xiliar a integração de te -rapias complementares com os tratamen-tos convencionais.
Possui uma base de conhecimentoabrangente, com informações atuaissobre o assunto, vídeos, entrevistas com
médicos e pacientes, palestras de especialistas e ensaios clínicos emoncologia integrativa.
Onco& recomenda
A seção Mundo Virtual ajuda a selecionar o que é ou não relevante e confiável na internet. A cada edição, sites importantes de oncologia voltados tantopara médicos, com novidades e informações importantes sobre a área, como para pacientes, com dicas de prevenção e assistência ao doente.
mundo virtual
42 maio/junho 2012 Onco&
Também conhece sites interessantes sobre oncologia? Mande sua sugestão para [email protected]
História do câncer
• www.historiadocancer.coc.fiocruz.brFruto de uma parceria entre o Instituto Nacional de CâncerJosé Alencar Gomes da Silva (INCA) e a Fundação OswaldoCruz (Fiocruz), através da Casa de Oswaldo Cruz, o siteHistória do Câncer – atores, cenários e políticas públicas tran-sita entre o resgate da memória do câncer e o tributo às insti-tuições públicas que ajudaram a construir a política nacionalde atenção oncológica.
O levantamento histórico foi realizado por meio de acer-vos de fontes orais, documentais e iconográficas, e apresentaa trajetória das ações de controle da doença no país. Entre asinformações reunidas estão imagens, vídeos e áudios das cam-panhas educativas, das instituições e dos personagens rele-vantes para as ações de controle do câncer e da história docâncer no Brasil.
O projeto também vai servir para a formação de recursoshumanos para a Rede de Atenção Oncológica, e integrar umarede de produção de conhecimentos e tecnologias, em parce-ria com o Instituto Nacional de Câncer.
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III Congresso Internacional de Uro-Oncologia
A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e a Beneficência Por-tuguesa/Hospital São José promoveram, de 23 a 25 de março, emSão Paulo, o III Congresso Internacional de Uro-Oncologia, querepetiu o formato das edições anteriores, com palestras, debates ediscussões de casos clínicos. O encontro reuniu mais de 600 par-ticipantes das áreas de urologia, oncologia clínica, radiologia, radioterapia e patologia cirúrgica. Entre os palestrantes interna-cionais, destaque para Laurence Klotz, presidente da FederaçãoMundial de Oncologia Urológica.
III Simpósio Internacional de Câncer Urológico
Com um dos contextos mais dinâmicos da prática médica, a urologiatem apresentado mudanças diagnósticas e terapêuticas, refletindo aestimulante revolução no campo da biologia molecular, assim comonovas abordagens na estratégia cirúrgica e a chegada de novas drogaspara doenças antes refratárias. Para expressar todo esse dinamismo, oInstituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e a URO-SP realizaram, dias 20 e 21 de abril, em São Paulo, o III Simpósio Inter-nacional de Câncer Urológico, coordenado pelos professores MiguelSrougi e Paulo Hoff. Na foto (da esq. para a dir.) Shahrokh Shariat,do Weill Cornell Medical College, Marcos Dall’Oglio, do Icesp, queintegrou a comissão organizadora, e Ian Tannock, do Princess Mar-garet Hospital. Em pé, Claudio Murta, do Icesp, no painel sobrecâncer de testículo.
IX Congresso Paulista de Clínica Médica
Com temas relevantes em psiquiatria, doenças metabólicas e oncolo-gia, aconteceu nos dias 20 e 21 de abril, em São Paulo, a nona ediçãodo Congresso Paulista de Clínica Médica, que reuniu cerca de 1,5 milprofissionais da saúde. Segundo Abrão Cury Jr., presidente da So-ciedade Brasileira de Clínica Médica/SP, com o aumento da expectativade vida da população, as doenças degenerativas como um todo vêmaumentando, entre elas as neoplasias. “São doenças de prevalênciaimportante, o que obriga os clínicos a um treinamento adequado paralidar com esses pacientes, até porque não temos oncologistas sufi-cientes para acompanhar todos os portadores de neoplasias.”
6a Conferência Brasileira de Câncer de Mama – EnfoqueSan Antonio 2011
A Conferência Brasileira de Câncer de Mama – Enfoque San Antoniose consolida na agenda dos grandes encontros nacionais. A sextaedição, realizada em São Paulo nos dias 9 e 10 de março, reuniu 500especialistas com a proposta de discutir as novidades apresentadas naconferência de San Antonio (Texas, EUA), maior encontro mundialsobre o câncer de mama. O evento contou com a participação dosprincipais nomes da oncologia nacional, e teve entre seus palestrantesautoridades internacionais como Monica Morrow, do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, em Nova York, Karen Gelmon, da BritishColumbia Cancer Agency, em Vancouver, e Ana Maria Angulo, do MDAnderson Cancer Center, em Houston.
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Mesa diretora do Congresso Paulista de Clínica Médica Plenário lotado em todos os dias do evento
Autoridades nacionais e internacionais na 6a Conferência promovidapelo GBECAM
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Evento discutiu novas drogas e as recentes abordagens cirúrgicas
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Fique por dentro dos congressos, simpósios, encontros de atualização e outrostantos eventos do mundo da oncologia. Confira aqui o que foi destaque:
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ASCO Annual Meeting 2012 Chicago, EUA1 a 5 de junho www.chicago2012.asco.org
XXXVI Congresso de Ginecologiae Obstetrícia do Rio de Janeiro Rio de Janeiro, RJ7 a 9 de junho www.sgorj.org.br/
XIV Congresso Brasileirode Radioterapia Curitiba, PR20 a 23 de junho www.congressosdasbrt.com.br/sbrt_2012/
46 maio/junho 2012 Onco&
calendário 2012
Simpósio Internacional de Câncer de Pulmão São Paulo, SP12 de maio www.eventosuptodate.com.br/
simposiopulmao/
II Simpósio Multiprofissional de Oncologia do Hospital Santa Catarina São Paulo, SP11 e 12 de maio http://www.hsc.org.br
Evento Data Local Informações
Congresso Paulista de Coloproctologia
São Paulo, SP8 e 9 de junhowww.jzkenes.com/congressos/colosp/index.htm
IV Board Review – Curso deRevisão em Oncologia Clínica São Paulo, SP18 a 20 de junho www.einstein.br/Ensino
II Simpósio de CancerologiaClínica e Cirúrgica Belo Horizonte, MG18 e 19 de maio www.oncad2012.com.br
XVIII Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia Rio de Janeiro, RJ22 a 25 de maio www.cbgg2012.com.br/
I Encontro de Geneticistas do Estado do Rio de Janeiro:Situação Atual e Perspectivas
Rio de Janeiro, RJ24 e 25 de maio https://inscricaoonline.inca.gov.br
3o Workshop GPRA – Academia deReabilitação Pós-Laringectomia Rio de Janeiro, RJ25 e 26 de maio https://inscricaoonline.inca.gov.br
V Congresso Brasileiro de Nutrição e Câncer (CBNC) Ganepão 2012 eIII International Conference of Nutritional Oncology (ICNO)
São Paulo, SP20 a 23 de junho www.ganepao.com.br
2nd Latin American Pharmacogenomics and Personalized Medicine Congress
Rio de Janeiro, RJ28 e 29 de junhowww.regencyeventos.com.br/evento/index.php?cod_eventos=24&cod_idiomas=3
Congresso da European Associationfor Cancer Research: EACR22 – FromBasic Research to Personalized Cancer
Barcelona, Espanha7 a 10 de julho http://eacr22.eacr.org/index.php
Calendário de eventos de 2012 completo e atualizado:
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