Ondas de Poesia
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Transcript of Ondas de Poesia
Seleção de alunos do 2º e 3º Ciclos da Escola Secundária D. João V
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Ondas de Poesia
Seleção de alunos do 2º e 3º Ciclos da Escola Secundária D. João V
Ilustrações:
Www.imagensgratis.com.br
nescritas.com
www.areamilitar.net
maresiaspoetasportugueses.ning.com
naucatrinetashortfilm.blogspot.com
3
Nota Introdutória
Esta coletânea é o resultado de uma recolha feita com alunos do 2º e 3º ciclos,
no âmbito da semana da leitura 2013.
4
“Da minha língua vê-se o mar. Da
minha língua ouve-se o seu rumor,
como da de outros se ouvirá o da
floresta ou o silêncio do deserto.
Por isso a voz do mar foi a da nossa
inquietação.”
Vergílio Ferreira, em Bruxelas, na Europália dedicada a Portugal em 1991
5
As Naus de Verde Pinho
De um lado o chão e a raiz
Do outro o mar e o seu cântico.
Era uma vez um país
Entre a Espanha e o Atlântico.
Tinha por rei D. Dinis
Que gostava de cantar.
Mas o reino era tão pouco
Que se pôs a perguntar,
E se o mar fosse um caminho
Deste lado para o outro?
E da flor de verde pinho
Das trovas do seu trovar
Mandou plantar um pinhal.
Depois a flor foi navio.
E lá se foi Portugal
Caravela a navegar.
Manuel Alegre
6
A Nau Catrineta que tem Muito que Contar
«Quem lembra a Nau Catrineta
Quem a chora e a lastima,
Ondas do mar abaixo
ondas do mar acima?
Quem vira costas aos cais
Que da espera se arruína,
Ondas do mar abaixo
Ondas do mar acima?
Quem, de janelas fechadas,
Enlutadas, desanima,
Ondas do mar abaixo
ondas do mar acima?
Neste silêncio de mais
Pelo cais, onde a neblina
Apaga esquinas, umbrais,
Um velho arrais se aproxima..
A névoa que traz nos olhos
A névoa que o encortina
Arranca flocos de névoa,
Trovas de pranto em surdina:
“Eu sei da Nau Catrineta
Que tem muito que contar,
Foi EI- Rei quem ordenou
Que a fossem aparelhar.
O capitão a aparelha
Nem mais tinha que esperar,
Ao sair da barra fora
tudo era arrebicar. (…)”»
António Torrado
7
Serpente - do - Mar
Caso sério, caso sério
é o da serpente-do-mar,
todo envolto em mistério
que nos deixa a magicar.
A elegante nadadora
que o fundo do mar explora
só nada a serpentear,
o que é o invulgar.
É misteriosa e bela.
Muito cuidado com ela:
seu veneno é especial
(em tantos casos letal!)
Vamos deixá-la passar,
senão queremos passar mal...
Maria Teresa Maia Gonzalez
Hipopótamo
«Cavalo do rio»?
Que nome curioso...
Acho que um cavalo
é bem mais gracioso!
«Cavalo do rio»?
Que nome esquisito...
Acho que um cavalo
é bem mais bonito!
«Cavalo do rio»?
Nome de estranhar...
Acho que um cavalo
se pode montar?
«Cavalo do rio»?
Que ideia invulgar!
No lago vitória
É rei a reinar! Maria Teresa Maia Gonzalez
8
A Bela e o Mar
Vai-se abrindo e fechando,
seus cabelos ondulando;
sempre a abrir e a fechar,
para os peixinhos agarrar.
Há alturas em que a vejo,
Aproveitando a boleia,
Às costas de um caranguejo
u de uma linda sereia
que saiu para nadar...
É a anémona-do-mar!
Maria Teresa Maia Gonzalez
A Galope pelas ondas
Olha o cavalo - marinho
que parece de madeira;
Brinquedo em banca de feira
para um menino brincar.
A verdade verdadeira
é que ele é mesmo um bichinho,
O cavalo cavalinho
que anda a trote e a galope
lá pelas ondas do mar...
Maria Teresa Maia Gonzalez
9
O Peixe-Trombeta
O peixe-trombeta,
Fino como seta,
Discreto desliza
pela água lisa,
Por entre os corais e outros animais dos quais toma a cor com todo o rigor Para não ser calçado por trás ou de lado. O peixe-trombeta não toca sineta; Não se faz notar no fundo do mar.
Maria Teresa Maia Gonzalez
O Dragão-Marinho
Dança lá no fundo,
Junto dos corais,
E pertence ao mundo
dos seres irreais.
É alga, é dragão,
É peixe invulgar,
É camelão
que confunde o olhar.
Que rica surpresa,
Que estranha magia
quando a Natureza
se faz poesia!...
Maria Teresa Maia Gonzalez
10
Elefante na Praia
O elefante-marinho
tem uma tromba possante
que, apesar de ser pequena,
Tem um som de altifalante!
É pesado, mas não tanto
como o primo da savana.
Assusta com o seu canto;
Sua cauda é barbatana.
Bem gordinho e anafado,
Seu porte mete respeito
ao ver-se ao espelho de lado,
Não se acha com defeito.
Não quer meter-se em dietas,
não recorre a cirurgias
nem exercícios patetas;
Precisa de calorias!
Já na praia viu passar
algumas focas franzinas:
Convido-as para jantar,
Deu-lhes muitas proteínas!
Maria Teresa Maia Gonzalez
11
À Volta de um Búzio
Dizem que o búzio nos traz
ao ouvido o som do mar.
Mas eu acho que é mentira:
Se encosto o búzio ao ouvido
só ouço as ondas do ar.
As ondas do ar me trazem
forte cheiro a maresia.
Mas eu acho que é mentira:
O mar não mora nas nuvens,
Nunca em nuvens viveria.
Descem as nuvens no mar
se acaso a chuva acontece,
Mas eu acho que é mentira:
Se encosto o búzio ao ouvido,
Ouvir o mar me parece.
Maria Alberta Menéres
12
Fundo do Mar
No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.
Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.
Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.
Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso
Sophia de Mello Breyner Andresen
13
Maria da Praia
Eu sei uma história
de vento e de mar,
Com areias brandas
ondas a cantar.
Cavalos-marinhos
conchas nacaradas
tesouros, segredos,
algas perfumadas.
Eu sei uma história
sem tempo nem margens,
com ondas abertas
e muitas viagens.
Eu sei uma história
de vento e de mar.
Se queres ser feliz
aprende a sonhar!
Maria Rosa Colaço
14
O Castelo de Areia
Fiz um castelo de areia
Mesmo à beirinha do mar
À espera que uma sereia
Ali quisesse morar
Ó mar,
Ó mar...
Mas foi só uma gaivota
Que ali me foi visitar
Ó mar,
Ó mar...
Mas foi uma verde onda
Que ali me foi visitar.
E levou o meu castelo,
O meu castelo de areia
Para no mar morar nele
A minha linda sereia.
Luísa Ducla Soares
15
O Mar enrola na areia
O mar enrola na areia
ninguém sabe o que ele diz
bate na areia e desmaia
porque se sente feliz
O mar também é casado
o mar também tem mulher
é casado com areia
pode vê-la quando quer
O mar também é casado
o mar também tem filhinhos
e casado com areia
e seus filhos são os peixinhos
Ó mar tu és um leão
a todos queres comer
não sei como os homens podem
as tuas ondas vencer
Ó mar que não te derretes
navios qua não te partes
oó mar que não cumpristes
o que comigo trataste
Ouvi cantar a sereia
no meio daquele mar
tantos navios se perdem
ao som daquele cantar
Até o peixe do mar
depenica na baleia
nunca vi homem solteiro
procurar a mulher feia
Canção Popular
16
Mar de setembro
Tudo era claro:
Céu, lábios, areias.
O mar estava perto,
fremente de espumas.
Corpos ou ondas:
iam, vinham, iam,
dóceis, leves - só
alma e brancura.
Felizes, cantam;
serenos, dormem;
despertos, amam,
exaltam o silêncio.
Tudo era claro,
jovem, alado.
O mar estava perto
puríssimo, doirado.
Eugénio de Andrade
17
...O Infante
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
Fernando Pessoa
18
Mar Português
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães
choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Fernando Pessoa
19
O Mostrengo
O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
A roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não
desvendo,
Meus tetos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»
«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me
visse
E escorro os medos do mar sem
fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a
alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»
Fernando Pessoa in Mensagem
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