Onde Situar a Psicanálise

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Onde situar a Psicanálise? Se apresenta como uma teoria e uma prática que pretende falar do homem enquanto ser singular. Antes do advento da psicanálise o único lugar institucional onde o discurso individual tinham acolhida eram os conf essionários religiosos. Se constitui como uma das práticas mais eficazes de escuta do discurso individual. Responsá vel pelo descentramento do sujeito Descartes o sujeito ocupava um lugar privilegiado “lugar do conhecimento e da verdade” a psicanálise não vai colocar a questão do sujeito da verdade, mas a questão da verdade do sujeito Inversão Lacaniana da máxima de Descartes “Penso onde não sou, portanto sou onde não penso” 

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  • Onde situar a Psicanlise?

    Se apresenta como uma teoria e uma prtica que pretende falar do homem enquanto ser singular.

    Antes do advento da psicanlise o nico lugar institucional onde o discurso individual tinham acolhida eram os confessionrios religiosos.

    Se constitui como uma das prticas mais eficazes de escuta do discurso individual.

    Responsvel pelo descentramento do sujeito

    Descartes o sujeito ocupava um lugar privilegiado lugar do conhecimento e da verdade

    a psicanlise no vai colocar a questo do sujeito da verdade, mas a questo da verdade do sujeito

    Inverso Lacaniana da mxima de Descartes Penso onde no sou, portanto sou onde no penso

  • A conscincia da loucura

    Sculo XVI sculo das incertezas e da confuso resultantes da derrubada das grandes verdades que haviam sido acumuladas por mais de dois sculos (feridas narcsicas)

    Sculo XVII ordem da racionalidade e da conscincia

    Partindo da dvida, Descartes chegou a certeza do cogito pela razo

    Michael Foucault partilha entre a razo e a desrazo

    Antes desse sculo no havia o louco como uma entidade diferenciada, oque se tinha nessa poca era a diferena

    Conscincia da loucura do sculo XVII: se o que distingue o homem do animal a racionalidade, o louco identifica-se como um animal.

    A partir da denncia da loucura, segue a conscincia dos seus modos de apario

    Esse o momento em que a loucura emerge como objeto do saber e no apenas com diferena a ser segregada asilada.

  • A conscincia da loucura

    Sculo XVIII Foucault afirma que a loucura uma produo desse sculo produzir o saber sobre a loucura no , como j visto, descobrir uma realidade oculta que se insinuava de vrias formas mas que no era identificada; produzir o saber sobre a loucura produzir a prpria loucura

    O saber psiquitrico importava apresentar o louco como um indivduo perigoso e o psiquiatra como aquele que poderia resguardar a sociedade da ameaa que ele apresentava.

    O saber nesse caso, no funcionava no sentido de procurar alguma razo na loucura ou de determinar as formas diferenciais segundo as quais ela se manifestava, mas no sentido de apontar, de forma absoluta, se o indivduo era louco ou no.

    O passo seguinte ao da denncia da loucura no era propriamente a cura, mas o controle disciplinar do indivduo. O louco no era curado, mas domado.

  • A loucura era uma doena sem corpo, ela era literalmente uma doena mental.

    Se a marca da sua realidade no se inscrevia no corpo, deveria aparecer sob a forma de predisposies que se revelariam atravs de lembranas infantis.

    Interrogatrio: forma de se chegar a essas lembranas, individuais e familiares, que indicariam os antecedentes da doena.

    O saber obtido no interrogatrio no era suficiente, no tinha nenhum valor teraputico, funcionava apenas como prova da verdade.

    O objetivo final do interrogatrio era a confisso, isto , reconhecimento do paciente de sua prpria loucura.

  • Sculo XIX voltados na busca de encontrar um critrio seguro para se distinguir a loucura da simulao.

    Loucura experimental Moreau de Tours cria espao comum ao normal e ao patolgico, espao esse produzido pela ingesto experimental de uma droga (haxixe)

    Moreau vai mais adiante e afirma que esse espao no precisa ser produzido artificialmente, pois os sonhos produzem as mesmas caractersticas da loucura.

    o sonho a loucura do indivduo adormecido, enquanto os loucos so sonhadores acordados (Garcia-Roza, pg. 30)

    Desta forma, o sonho o acontecimento que, mais do qualquer outro, aproxima-se da loucura e permite sua compreenso.

    Oque foi Freud fez foi tornar essa fato como um princpio de anlise.

  • A hipnose

    Tcnica inventada por James Braid

    O efeito obtido dependia do estado fsico e psquico do paciente

    Uma vez obtido o efeito hipntico, o poder todo depositado no mdico que passa a dispor inteiramente do corpo do paciente.

    Charcot e a histeria

    Charcot era neurologista e professor de anatomia e patologia da Faculdade de Medicina de Paris.

    A existncia ou no de leso anatmica a determinados sintomas era, para a psiquiatria do sculo XIX, um fator de extrema importncia.

    Formam-se ento, dois grandes grupos de doenas:

    aquelas com sintomatologia regular e que remetiam a questes orgnicas identificveis pela anatomia patolgica

  • Charcot e a histeria

    aquelas outras, as neuroses, que eram perturbaes sem leses e nas quais a sintomatologia no apresentava a regularidade desejada.

    A abordagem inicial de Charcot ao problema da histeria afirmava que havia um correlato orgnico das manifestaes histricas. Posteriormente, ele modifica seu ponto de vista ao afirmar que a histeria , como tantas outras esfinges, uma doena que escapa s mais penetrantes investigaes anatmicas .

    A histeria seria definida por Charcot como uma doena psicognica, pois no era possvel encontrar qualquer alterao fisiolgica que justificasse os sintomas e, portanto, a explicao deveria ser buscada na descrio do funcionamento mental impactado por uma situao traumtica.

  • Apesar da ausncia de um referencial anatmico, a histeria apresentava aos seus olhos uma sintomatologia bem definida, obedecendo regras precisas afasta a ideia de simulao.

    Na psiquiatria da poca a histeria no era considerada como uma verdadeira doena, j que seus sintomas no podiam ser explicados pelo conhecimento neurofisolgico. Portanto, para muitos tratava-se de uma simulao, feita geralmente para buscar a ateno do outro.

    Um dos aspectos mais salientados tanto por Charcot como por Freud, no perodo em que Charcot ministrava aulas prticas na Salptrire, eram os que diziam respeito ao fato de que a histeria no era uma simulao, que ela era uma doena funcional com um conjunto de sintomas bem definido e na qual a simulao desempenhava um papel desprezvel.

  • Tanto para Charcot como para Freud, no perodo em que Charcot ministrava aulas prticas na Salptrire, a histeria era tanto uma doena feminina como masculina, desfazendo dessa forma a ideia de que apenas as mulheres padeciam de manifestaes histricas (como sugeria o prprio termo histeria, que deriva da palavra grega hystra, que significa tero ).

    Ao produzir a separao da histeria com respeito a anatomia patolgica, Charcot a introduz no campo das perturbaes fisiolgicas do sistema nervoso e em funo disso procura novas formas de interveno clnica (hipnose)

    O emprego da hipnose tinha por objetivo o controle da situao.

    Atravs da sugesto hipntica, o mdico podia obter um conjunto de sintomas histrico bem definido e regular; mas isso evidencia, ao mesmo tempo, que a histeria nada tinha a ver com o corpo neurolgico, mas com o desejo do mdico.

  • Numa tentativa de superar esse impasse (desejo do mdico) que Charcot vai elaborar a teoria do trauma.

    Segundo Charcot, o sistema nervoso pode ser dotado de uma predisposio hereditria para, em decorrncia de um trauma psquico, produzir um estado hipntico que torna a pessoa suscetvel sugesto.

    O trauma formaria uma injuno (forma de ordenar) permanente, um estado hipntico permanente, que poderia ser objetivado corporalmente por uma paralisia, uma cegueira ou qualquer outro tipo de sintoma.

    O estado hipntico que o mdico produzia na clnica seria uma injuno desse tipo, s que temporria.

  • Freud recomenda dois tipos de tratamento para a neurose histrica:

    a) afastamento do paciente de seu ambiente familiar, considerado por ele como gerador de crises, e sua internao num hospital;

    b) remoo das causas psquicas dos sintomas histricos. Como essas causas so inconscientes para o paciente, o mtodo para eliminar os sintomas consiste em dar ao paciente, sob hipnose, uma sugesto que remova o distrbio.

    O tratamento pensado por Freud, sobre a remoo das causas psquicas dos sintomas histricos apenas elimina o sintoma, mas no remove a causa.

    Freud prope, ento, que se empregue um mtodo elaborado por Joseph Breuer (mtodo catrtico) e que consiste em fazer o paciente remontar, sob efeito hipntico, pr-histria psquica da doena a fim de que possa ser localizado o acontecimento traumtico que originou o distrbio.

  • Breuer havia chamado seu mtodo de catrtico, pois o que ocorria durante o tratamento era uma purgao ou uma descarga do afeto que originalmente estava ligado experincia traumtica.

    A funo da hipnose era a de, por sugesto, remeter o paciente ao seu passado, de modo que ele prprio encontrasse o fato traumtico, produzindo-se, em decorrncia disso, a ab-reao, isto , a liberao da carga de afeto.

    Na medida em que o trauma no de ordem fsica, ressurge a necessidade de o paciente narrar sua histria pessoal para que o mdico possa localizar o momento traumtico responsvel pela histeria.

    O que Charcot no esperava era que dessas narrativas surgissem sistematicamente histrias cujo componente sexual desempenhasse um papel preponderante.

  • Estava selado o pacto entre a histeria e a sexualidade; pacto esse que foi recusado por Charcot e que se transformou em ponto de partida e ncleo central da investigao freudiana.

    Um dos pressupostos que sustentaram a teoria e a terapia da histeria no perodo correspondente aos Estudos sobre a histeria o do trauma psquico e o seu contedo sexual.

    A teoria do trauma sustentava que o neurtico, em sua infncia, teria sido vtima de uma seduo sexual real e que esse fato, pelo seu carter traumtico, teria sido recalcado e se transformado em ncleo patognico.

    A teoria do trauma, tal como foi concebida inicialmente, trazia implcita um problema cuja soluo implicava um desdobramento da ao traumtica.

  • Freud desdobra a ao traumtica em dois momentos:

    o primeiro momento relacionado ao trauma haveria apenas a cena na qual a criana sofreria a seduo sexual, sem que ela percebesse, porm o carter sexual do acontecimento e sem que se produzisse nela qualquer excitao de natureza sexual.

    o segundo momento que confere um carter traumtico ao primeiro.

    A superao da teoria do trauma implicava duas descobertas: o papel da fantasia e a sexualidade infantil.

    Essas duas descobertas podem ser concentradas numa s: a descoberta do dipo.

  • Freud relata que, para chegar compreenso da cena traumtica, necessrio ater-se a duas condies (requisitos):

    1) Quando a cena possui a adequao para funcionar como um determinante

    2) quando possui a necessria fora traumtica.

    Freud percebeu que, em muitos casos, o que ocorreu foi que as cenas e lembranas encontradas no condiziam com os requisitos, sendo pelo contrrio, cenas incuas ou mesmo triviais.

    Frente a essa descoberta, deu sequncia investigao analtica, sendo que cenas mais remotas comearam a aparecer, demonstrando que vrias delas derivam de uma mesma lembrana.

    Assim, a cena traumtica, em si, teria ocorrido na primeira infncia, e traria algum contedo sexual, que, por outro lado, apenas tomou propores desastrosas num segundo momento, geralmente na adolescncia.

    Abandono da teoria da seduo, em favor de compreenso da causa do trauma mais ligada a dimenso da fantasia.

  • Aps vrias experincias com pacientes histricos, Freud prope a Breuer uma publicao conjunta sobre o assunto (1893 Comunicao preliminar e em 1895 os Estudos sobre a histeria) reunidos posteriormente.

    no primeiro desses trabalhos que Freud lana uma noo que vai desempenhar um papel fundamental na elaborao da teoria psicanaltica: a noo de defesa. nesse momento tambm que comea o afastamento entre os dois autores.

    O pleno acesso ao fenmeno da defesa s ocorreu quando Freud abandonou a tcnica da hipnose (indcios poderiam sugerir-lhe a existncia de algo que lhe era vedado pelo prprio mtodo que empregava, mas esses indcios s se transformariam em evidncia aps o abandono desse mtodo).

    O procedimento hipntico era, sem que ele soubesse, o obstculo maior ao fenmeno que ser transformado num dos pilares da teoria psicanaltica: a defesa (ou, como ele chamar mais tarde, o recalcamento).

  • Quando Freud abandona a hipnose e solicita de seus pacientes que procurem se lembrar do fato traumtico que poderia ter causado os sintomas, verifica que tanto a sua insistncia quanto os esforos do paciente esbarravam com uma resistncia destes a que as ideias patognicas se tornassem conscientes.

    Qual seria a natureza dessas ideias e por que geravam essa resistncia?

    todas essas ideias eram de natureza aflitiva, capazes de despertar emoes de vergonha, de autocensura e de dor psquica.

    Papel da defesa - forma de censura por parte do ego do paciente ideia ameaadora, forando-a a manter-se fora da conscincia; e a resistncia era o sinal externo dessa defesa.

    O mecanismo pelo qual a carga de afeto ligada a essa ideia (ou conjunto de ideias) transformada em sintomas somticos chamado por Freud de converso (modo de defesa especfico da histeria).

  • De posse das noes de resistncia, defesa e converso, a prpria concepo de terapia tinha de ser modificada. Seu objetivo no poderia mais consistir simplesmente em produzir a ab-reao do afeto, mas em tornar conscientes as ideias patognicas possibilitando sua elaborao.

    Comea a se operar a passagem do mtodo catrtico para o mtodo psicanaltico.

  • Estrutura do aparelho psquico

    O aparelho psquico no possui realidade ontolgica; trata-se de um modelo explicativo que no supe qualquer sentido denotativo do real.

    Catexia energia psquica (investimento)

    Processo primrio corresponde a uma forma de energia psquica livre (tende para a descarga da forma mais direta possvel)

    Processo secundrio corresponde a uma forma de energia psquica ligada (quando sua descarga retardada ou controlada).