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Opção Pub. Pub. CERVEJARIA MIRA MAR Sinta-se à vontade à beira-mar Ambiente atraente, divertido com música ao vivo abrilhantado pelo músico ´´O Madeira´´. Temos também desporto na tela, comida e bebida para encantar. Cozinha disponível até a meia-noite. Junte-se a nós à mira magia. Estamos na Av. Marginal, Nº 4272 Cell: 82 3193950 ou 82 3030690 Opção LIVRE • PLURAL • DEMOCRATA Propriedade: INPUCRED, Lda – Registo Legal: 02/GABINFO-DEC/2009 SEDE: Av. Patrice Lumumba, 453 Cave – Tel/Fax: 846120525 MAPUTO • E-mail: [email protected] Preço: 25,00 Mt ------- Sai à Feira ------- Ano I ● Nº 19 ● Maputo, 18 de Junho de 2009 Director e Editor: Afonso Brandão EDITORIAL MORREU RICARDO RANGEL: UM BOM AMIGO DE MUITOS ANOS (Cont. Pág. 3) O meu primeiro contacto profissional com Ricardo Rangel ocorreu em Outubro de 1970, no Jornal Notícias, na então Lourenço Marques, ao qual ele estava ligado desde 1952. Nessa altura eu estava a trabalhar no Jornal «Diário» e encontrava-me colocado em Nacala, como Correspondente. Já lá vão quase 40 anos! Mas a minha relação com a Família do “velho” Amigo e Colega de Informação vem de trás, do tempo em que eu e os sobrinhos do Mestre – Richard e Gilberto – éramos estudantes internos no Colégio Nun´ Álvares, em Tomar (Portugal). Corria o ano de 1960. Foram dois bons amigos da minha infância – o Richard e o Gilberto – que, por circunstâncias várias a vida acabaria por separar nos idos de 74 e em 87. Mas, voltando aos tempos de Colégio, na época, eu teria 10 anos e os irmãos Richard e Gilberto 14 e 8, respectivamente. Éramos três crianças. A relação mais chegada foi sempre com o irmão Gilberto, do qual fazíamos uma diferença de dois anos. Éramos inseparáveis, uma “dupla de peso”, eu e o Gilberto! Quando ele dizia «mata eu dizia esfola» e vice-versa. Nas férias grandes vínhamos para Moçambique passar quase três meses – na época em que Lourenço Marques era a cidade das Acácias Floridas! E como eram bem “gozadas” as «Férias Grandes» que tínhamos na altura. E foi nesta época que acabei por conhecer os pais dos meus dois amigos, o Richard e o Gilberto. A Dª Clarisse era a Mãe de ambos e irmã do Ricardo Rangel. Uma pessoa de uma sensibilidade extrema e muito carinhosa para os filhos. É uma daquelas pessoas de quem guardo uma imensa saudade. Com a morte de Ricardo Rangel Moçambique perde uma das suas maiores referências culturais

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CERVEJARIA MIRA MARSinta-se à vontade à beira-mar

Ambiente atraente, divertido com música ao vivo abrilhantado pelo músico ´´O Madeira´´. Temos também

desporto na tela, comida e bebida para encantar.Cozinha disponível até a meia-noite.

Junte-se a nós à mira magia.Estamos na Av. Marginal, Nº 4272 Cell: 82 3193950 ou 82 3030690

OpçãoLIVRE • PLURAL • DEMOCRATA

Propriedade: INPUCRED, Lda – Registo Legal: 02/GABINFO-DEC/2009SEDE: Av. Patrice Lumumba, 453 Cave – Tel/Fax: 846120525

MAPUTO • E-mail: [email protected] Preço: 25,00 Mt

------- Sai à 5ª Feira -------

Ano I ● Nº 19 ● Maputo, 18 de Junho de 2009Director e Editor: Afonso Brandão

EDITORIALMORREU RICARDO RANGEL: UM BOM AMIGO DE MUITOS ANOS

(Cont. Pág. 3)

O meu primeiro contacto profissional

com Ricardo Rangel ocorreu em Outubro de 1970, no Jornal Notícias, na então Lourenço Marques, ao qual ele estava ligado desde 1952. Nessa altura eu estava a trabalhar no Jornal «Diário» e encontrava-me colocado em Nacala, como Correspondente. Já lá vão quase 40 anos! Mas a minha relação com a Família do “velho” Amigo e Colega de Informação vem de trás, do tempo em que eu e os sobrinhos do Mestre – Richard e Gilberto – éramos estudantes internos no Colégio Nun ́ Álvares, em Tomar (Portugal). Corria o ano de 1960.

Foram dois bons amigos da minha infância – o Richard e o Gilberto – que, por circunstâncias várias a vida acabaria por separar nos idos de 74 e em 87.

Mas, voltando aos tempos de Colégio, na época, eu teria 10 anos e os irmãos Richard e Gilberto 14 e 8, respectivamente. Éramos três crianças. A relação mais chegada foi sempre com o irmão Gilberto, do qual fazíamos uma diferença de dois anos. Éramos inseparáveis, uma “dupla de peso”, eu e o Gilberto! Quando ele dizia «mata eu dizia esfola» e vice-versa. Nas férias grandes vínhamos para

Moçambique passar quase três meses – na época em que Lourenço Marques era a cidade das Acácias Floridas! E como eram

bem “gozadas” as «Férias Grandes» que tínhamos na altura. E foi nesta época que acabei por conhecer os pais

dos meus dois amigos, o Richard e o Gilberto. A Dª Clarisse era a Mãe de ambos e irmã do Ricardo Rangel. Uma pessoa de

uma sensibilidade extrema e muito carinhosa para os filhos. É uma daquelas pessoas de quem guardo uma imensa saudade.

Com a morte de Ricardo Rangel Moçambique perde uma das suas maiores referências culturais

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SUAVE BRISAAfonso Brandão

FICHA TÉCNICADirector e Editor: Afonso Brandão. Directora Comercial: Anifa Tajú - Colaboraram Nesta Edição:Daniel Lipanga, Maria Alice

Fabião e Pedro Chapote - Fotografia: Albino Mahumana Redacção, Direcção e Administração: Av. 25 de Setembro, Nº 1509, 5º andar, –Porta 53 – Telef. 846120525 - E-mail: [email protected] - Tiragem Média: 2.500 exemplares

Periodicidade: Semanal Propriedade: Inpucred, Lda - N. de Registo: 02/GAMBINFO-DEC/2009. Opção é o único jornal que dá voz ao artigo de opinião, ao comentário e á analise pormenorizada.

Nota: É interdita a reprodução total ou parcial por quaisquer meios de textos, fotos e ilustrações sem a expressa autorização da Direcção ou do Editor.

COISAS POR ENTENDER…Como por exemplo o fluir do tempo, o cheiro da

maresia, o fascínio da luz, o oco da saudade, que é um bolo amargo, o mistério das árvores decepadas, o galope do vento às seis da manhã, o banho a correr, os pés na areia molhada, o mar magnífico, intenso, assustador, solene, sossegado, perdido no ventre das nuvens que descem e piam como gaivotas ou como goivos derrotados, a tarde perdida nas dunas, o voo dos pássaros, o sol que lambe, o sal que arde, a pele que se entorna leve e fresca contra a neblina do entardecer. A música!

Se entendêssemos tudo isto e o outro tanto, que se cruza connosco pela calada do sangue, muito sábios seríamos e porventura menos felizes. O secretismo envolvente em que nos embrulhemos assim como escolhemos a roupa com que nos disfarçamos dá-nos o saboroso charme de uma sedução equívoca mas necessária à sobrevivência de um ego muitíssimas vezes maltratado, outras espoliadas.

Fica por entender o jogo. O Poder. O roubo. A vaidade, a outra face de uma metade que nunca se encontra por mais que divaguemos em lições de Kafka, Eça ou Aristófanes. A composição egocêntrica que desfazemos em laços e acordos e vantagens e nós e tramas e pedras e lucros, não passa de uma renda paga a juros altíssimos no escalão de uma precária eternidade que entendemos mal. Pessimamente.

Assim como não sabemos quem nos ordena à chama das paixões, ao delírio dos sentimentos, à teia de uma chantagem emocional que acedemos, cedendo o caminho do compromisso, da derrota, da vitória sobre o triângulo frágil da vida.Em nome do que não conhecemos nomeamos a ordem

ou a desordem. O aparato ou a humildade, o eclético ou o clássico. O espavento ou o orgulho escondido. E avançamos em recuos como o vento ou como a tempestade de Verão, que é mansa e tão perigosa quanto selvagem e doce. Hoje dizemos sim ao que ontem era talvez, só para não sentirmos o peso de uma culpa de origem desconhecida, mas quase sempre chega aconchegada com injecções de esperança.

Não sabemos coisíssima nenhuma de ninguém. Antes elaboramos imagens. Esculturas de lama, cubos de baba, azuis de aço que se anilam de vermelho. Tomamos a noite pelo dia. Trocamos o hipotético pelo próximo. Somos divisíveis e frágeis. Castos e secos, profanos e anjos que se buscam no outro lado do espelho, como se do reflexo viesse o fio-de-prumo que aprumasse o profundo sentido de uma verdade intocável.

Sérios, doces, amargos, castos, proféticos, profanos, duros, alarves, insistimos na mentira, no ânimo, nas pequenas guerras, no trágico tear de um narcisismo doentio. E rimos. E ficam por entender coisas tão simples como os frutos, os rios, os búzios, os dias de nevoeiro. E chegamos assim à claridade da insabedoria. Tudo vale, tudo se alonga, nada se repete, tudo se esquece. Assim como a cidade. Imensa catedral onde rebuscamos contornos e fantasias, surpresas, arenas, votos, cansaços. Fica por saber onde moramos quando perdemos o pé, o fio de todas as coisas.

Aqui só existe Maputo, que tudo ousa, que nada recupera, que às vezes descobre o que não pode saber e que quase sempre revela a extrema nudez da cegueira. Aqui só fica o registo de todas as coisas que nunca deixaremos de tentar saber e eventualmente amar.

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(Cont. na Pág. 6)

MORREU RICARDO RANGEL(Cont. da Pág. 1)

Como eu era visita assídua da casa de seus filhos, recordo perfeitamente o meu primeiro contacto com o Ricardo Rangel, seu Irmão. Foi em Agosto de 1962 e eu faria anos daí a um mês. Tinha na altura 11 anos. E lembro-me das suas primeiras palavras: «Gilberto, amanhã vai haver uma festa no Jardim Zoológico e já falei com a tua Mãe. Se quiseres, podes levar “esse” teu amigo». “Esse teu amigo”, a quem Ricardo Rangel se referia, era eu.Passaram-se, entretanto, quase seis anos. Já com 17 anos completados, e de regresso (definitivo) a Moçambique, trazendo na “bagagem” (e na cabeça!) “uma tonelada de sonhos” por concretizar – e de me tornar jornalista profissional, custasse o que custasse –, o Ricardo Rangel foi a primeira pessoa que fui procurar. Acabaria por ser uma “boa influência” e um «bom empurrão» para mim, naquela altura, como, de resto, se veio a verificar. Falei com a Dª Clarisse

para o efeito a pedir que ela falasse com o irmão. Foi uma espécie de pedido em jeito «de cunha» digamos assim. Naquele mesmo instante levantou o auscultador e ligou para o irmão: «Ricardo, Meu Querido, o Afonso, aquele amigo do Gilberto, gostava de falar contigo. Ele quer ser jornalista e acaba de chegar de Portugal. Talvez tu possas ajudá-lo. Fala com ele, por favor. O Afonso é como se fosse um Filho para mim, ouviste?»

Recordo, agora e aqui, com imensa saudade, as palavras da Mãe dos meus Amigos Richard e Gilberto, que “calaram” bem fundo, no mais recôndito da alma – e que chegam, com a maior das frescuras, até aos dias de hoje. E foi assim que acabei por abraçar a profissão de Jornalista. Estávamos em Setembro de 1967. Foi pela mão do meu Querido Amigo Ricardo Rangel que “fui encaminhado” para o jornalista Miguel Clemente, na época, Secretário-Geral no então Jornal «Diário», onde hoje funciona as instalações da TDM.

Mais tarde fui transferido para a Delegação do mesmo Jornal, em Nampula, à época, dirigida pelo saudoso jornalista Fernando Morais Pinto (já falecido). É deste tempo que nascem (outras) duas “velhas” amizades: Vasco Fenita e Pires Teixeira (igualmente falecido), e que era na altura o Delegado do «Notícias da Beira», com quem, aliás, veria a trabalhar em Maio de 1971. Ainda tive vários

encontros de trabalho com o Ricardo Rangel, entre 1972 e 1975. Ambos andávamos “no giro”. Recordo-o já com saudade, da sua figura esguia e discreta, de máquina «a tiracolo», deambulando pelas ruas da cidade, sempre atento a cada pormenor, a cada motivo que justificasse um “clique”. Ricardo Rangel era – sempre foi – um Artista de Eleição!O nosso convívio e relação

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Albino Mahumana

Apreensão

NO RECANTO DE APOLO...

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OpçãoLIVRE • PLURAL • DEMOCRATA

------- Sai à 5ª Feira -------Ano I ● Nº 19 ● Maputo, 18 de Junho 2009

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(Cont. da Pág. 3)

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viria a desenvolver-se (mais) dentro do âmbito familiar, ora em sua casa, ora em casa de sua irmã Clarisse, fruto da amizade que tinha com os seus filhos, o Richard e o Gilberto (sobretudo deste último), agora já numa fase adulta das nossas vidas.

Com os acontecimentos do «25 de Abril», em Portugal, as nossas vidas foram “cortadas”. Regressaríamos os três à Europa. Eu para ficar em Portugal, o Richard em Inglaterra e o Gilberto na Roménia, onde casou e viveu alguns anos. Anos mais tarde, já em finais da Década de 80, voltaríamos a nos encontrar os três em Lisboa e a retomar as nossas vivências interrompidas.

Regresso, entretanto, a Moçambique, em Outubro de 1994. E quando aqui cheguei fui à procura do “velho” Amigo Rangel que se encontrava já desligado da actividade jornalística. Recebeu-me com a euforia de sempre e um abraço apertado. Perguntou-me pelos dois sobrinhos: «aqueles malandros andam lá pelos “confins” do mundo e não dão notícias! Sabes o que é feito deles?» ao que respondi que estavam bem e a viver em Lisboa.

Depois, pouco a pouco, os nossos encontros foram escasseando. De vez em quando telefonava para casa dele a saber de notícias; outras encontrávamo-nos por aí. A última vez que bebemos um copo e conversamos um pouco foi há cerca de dez meses, à mesa da esplanada do Restaurante «Piri- Piri», à Av. 24 de Julho. Lembro-me de lhe ter falado dos dois projectos que tinha “na forja”:

Magazine TROPICAL e Jornal OPÇÃO. E recordo-me bem do seu sorriso e de me ter dito que “não” estava para aí virado, que “não” queria mais nada com «a Imprensa de Hoje», que “o tempo” dele tinha “ficado lá para trás”… mas desejou-me sorte e felicidades, ao acariciar a minha mão de

forma fraternal. Nesse dia achei-o doente, muito em baixo, algo distante, pensativo e pouco falador. A alegria e a vontade de viver que sempre lhe encontrara não estava mais ali, tinha desaparecido. Como o

tempo nos transforma e transtorna! Como a vida é inexorável e fugaz! Como nada fica, nada perdura…Chega-me, agora, a notícia de forma abrupta e lacónica: MORREU RICARDO RANGEL. Não consigo evitar duas lágrimas que surgem, teimosas, dos meus olhos. É mais forte que eu, a comoção. Para quem não sabe, Ricardo Rangel foi considerado o decano do fotojornalismo moçambicano. Morreu no dia 11 deste mês, na sua residência em Maputo, aos 85 anos de idade.

Mais um Amigo que nos deixa, num curto espaço de tempo. Primeiro Heliodoro Baptista, agora Ricardo Rangel.Adeus, Meu Amigo! Até breve, até Deus!

•Afonso Brandão

O Decano do Fotojornalismo Moçambicano

MORREU RICARDO RANGEL