Opressão e Resistência Nos Estudos Organizacionais Críticos

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    Opresso e Resistncia nos Estudos Organizacionais Crticos: consideraes acerca do discurso da servidovoluntria e da pedagogia do oprimido

    RESUMOste artigo tem como objetivo discutir a abordagem crtica nacional para a questoda opresso e da resistncia nos estudos organizacionais, apresentando novascontribuies tericas que podem reforar sua tese central: a opresso um fenmenocoletivo, portanto, quando se busca um projeto emancipatrio mais amplo, a resis-tncia tambm precisa ser empreendida como uma ao coletiva. Para alm destas contri-buies, tambm pretendemos apontar a pedagogia crtica como um caminho para anali-sar e mesmo colocar em prticas novas formas coletivas de resistncia. Para isto,realizaremos um percurso que resgatar o clssico texto de Etienne La Botie, O Discursoda Servido Voluntria e tambm a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire.

    Palavras-chave: Teoria Organizacional. Resistncia. Estudos Crticos Organizacionais

    OPPRESSION AND RESISTANCE IN ORGANIZATIONAL STUDIES: CONSIDERATIONS ABOUT THEDISCOURSE OF VOLUNTARY SERVITUDE AND THE PEDAGOGY OF THE OPPRESSED

    ABSTRACThe aim of this article is to discuss the national critical approach to the issue ofoppression and resistance in organization studies by presenting new theoreticalcontributions that can strengthen its central thesis: oppression is a collectivephenomenon, therefore when seeking a broader emancipatory project, resistancealso needs to be undertaken as collective action. Furthermore we attempt to highlightcritical pedagogy as a way to analyze and even put into practice new forms of collectiveresistance. In order to do this we follow a route in which we review the classic text ofEtienne La Botie, The Discourse on Voluntary Servitude and also the Pedagogy of theOppressed by Paulo Freire.

    Key words: Organizational Theory. Resistance. Critical Organization Studies

    OPRESSO E RESISTNCIA NOS ESTUDOSORGANIZACIONAIS CRTICOS: CONSIDERAES ACERCA

    DO DISCURSO DA SERVIDO VOLUNTRIA E DAPEDAGOGIA DO OPRIMIDO

    Ana Paula Paes de Paula*Carolina Machado Saraiva de Albuquerque Maranho**

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    * Ps-Doutora em Administrao pela Escola de Administrao de Empresas de So Paulo EAESP/FGV. Prof. Adjunta do Centro de Ps-Graduao e Pesquisas em Administrao CEPEAD/UFMG.Coordenadora de pesquisas na rea de estudos crticos organizacionais, ensino e pesquisa em admi-nistrao da UFMG. Endereo: Av. Antnio Carlos Campus 6627, sala 4033, Pampulha. Belo Horizon-te/ MG. Cep 31270-901. E-mail: [email protected]** Doutoranda bolsista da CAPES do CEPEAD/UFMG. E-mail: [email protected]

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    Introduo

    A alienao demasiado doce (como um refrigerante) e a liberda-de demasiado amarga, porque est demasiado prxima da soli-do. E da loucura (GOMES, 2007).questo da opresso e da resistncia vem sendo considerada marginalmen-te nos estudos organizacionais por representantes das correntes interpre-tacionistas e crticas, uma vez que desperta algum desconforto no mainstreamfuncionalista, em geral sintonizado com as perspectivas gerencialistas. Nocampo da abordagem crtica, o tema assume grande importncia, mas h dificul-dades para o seu tratamento posto que no h uma viso unvoca: tericos crti-cos e crticos ps-estruturalistas apresentam verses e interpretaes diferentese, at mesmo, opostas sobre o fenmeno.Ocorre que alguns crticos ps-estruturalistas so adeptos de uma leituraparticular da analtica foucaultiana de poder, a qual tende a reduzir o alcance daresistncia e a defender a microemancipao, enquanto que os tericos crticosacreditam firmemente na possibilidade de um projeto emancipatrio mais amplo. Atradio crtica nacional nos estudos organizacionais, que eminentementehumanista (representada por autores como Maurcio Tragtenberg, Guerreiro Ra-mos e Fernando Prestes Motta), partilha desta ltima posio e vem influenciandoalguns estudiosos contemporneos do fenmeno da resistncia e da emancipa-o, especialmente no que se refere organizao das aes coletivas.Este artigo tem como objetivo discutir a abordagem crtica nacional para aquesto da opresso e da resistncia nos estudos organizacionais, apresentan-do novas contribuies tericas que podem reforar sua tese central: a opresso um fenmeno coletivo, portanto, quando se busca um projeto emancipatriomais amplo, a resistncia tambm precisa ser empreendida como uma ao coleti-va. Para alm dessas contribuies, tambm, pretendemos apontar a pedagogiacrtica como um caminho para analisar e mesmo colocar em prticas novas formascoletivas de resistncia. Para isto, realizaremos um percurso que resgatar o cls-sico texto de Etienne La Botie, O Discurso da Servido Voluntria, e, tambm, aPedagogia do Oprimido de Paulo Freire. Na primeira seo, discutiremos como opoder tratado nos estudos organizacionais, mas com a finalidade de compreen-der como a questo da resistncia e a da emancipao so abordadas pelos te-ricos crticos e os crticos ps-estruturalistas, partindo das interpretaes da ana-ltica foucaultiana de poder e salientando algumas contribuies dos autores nacio-nais para a perspectiva terico crtica.Na segunda seo, abordaremos a leitura radical de Miguel Abensour do tex-to O Discurso da Servido Voluntria, que nos ajudar em nosso argumento cen-tral, pois o autor afirma que tanto a servido voluntria, ou seja, a opresso, quan-to emancipao so fenmenos coletivos. Na terceira seo, discutimos como aopresso e a resistncia ocorrem na sociedade brasileira, tendo como referncia opensamento de Marilena Chau, que sofreu influncias do texto de La Botie e,tambm, das elaboraes de Roberto da Matta. O propsito demonstrar que,apesar do autoritarismo social que permeia nossa sociedade, h tambm diversasformas de resistncia coletivas, como, por exemplo, os movimentos sociais das lti-mas dcadas. Na quarta seo, abordaremos a Pedagogia do Oprimido de PauloFreire, que oferece uma contribuio importante para compreender o enigma daservido ao identific-lo com o medo da liberdade, evidenciando a educao como oelemento central para a emancipao e nos permitindo colocar a hiptese de que apedagogia crtica pode ser a chave para o estudo e para a prtica das novas formasde organizao coletivas voltadas para a resistncia. Nas concluses, apontamosos limites da viso ps-estruturalista de emancipao e sugerimos a pedagogiacrtica como um caminho possvel para reforar a abordagem terico-crtica da opres-so e da resistncia nos estudos organizacionais, alm de enfatizarmos a visoradical da libertao humana presentes no pensamento de La Boeti e Paulo Freire.

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    Opresso e Resistncia nos EstudosOrganizacionais Crticos:abordagens e implicaes

    De acordo com Hardy e Clegg (2001), o poder tipicamente entendido, nosentido weberiano, como a habilidade do detentor do poder de fazer com o que osoutros faam sua vontade, mesmo que contra suas prprias vontades ou, ainda,que os outros faam alguma coisa que no fariam em outra situao. A definiono a melhor possvel e suscita controvrsias, mas tem servido de ponto departida para aqueles que se dedicam ao estudo do tema que, neste artigo, estdiretamente relacionado com a questo da opresso e da resistncia.No campo dos estudos organizacionais, existem basicamente duas inter-pretaes sobre o poder, a funcionalista e a crtica, as quais tm vises opostassobre a resistncia. A interpretao funcionalista adota uma orientaogerencialista, que aceita como legtima a autoridade formal e funcional, interpre-tando o prprio poder como resistncia, ou seja, o poder identificado como aquelasaes que esto fora das estruturas oficiais e que ameaam os objetivosorganizacionais. A interpretao crtica, que deriva dos trabalhos de Marx e Weber,questiona os processos atravs dos quais o poder legitimado na forma de estru-turas organizacionais, interpretando o poder como dominao. Assim, as aesque confrontam o poder que seriam resistncia. Na interpretao da perspectivacrtica, o poder cria barreiras para dificultar a participao plena dos trabalhadoresou cidados no processo decisrio, ou utilizado para evitar o conflito. Para isto,se utiliza o controle direto, baseado na vigilncia; o controle tcnico, exercido pormeio das mquinas e tecnologias de informao; e o controle burocrtico, basea-do nas regras. Hardy e Clegg (2001), tambm, apontam a noo de cerceamentoorganizacional, que aborda o porqu dos dominados, freqentemente, consenti-rem com sua prpria subordinao. Na viso dos autores isto deriva da ausnciade conhecimento para resistir, dada a ignorncia das regras do jogo e mesmo doprprio jogo ou, pelo contrrio, do conhecimento das regras e da crena na futili-dade da resistncia, que fundamenta a deciso de arcar com os custos da domi-nao, tendo em vista a chance de ser bem sucedido.No Brasil, a interpretao crtica do poder foi levada a cabo pelos principaistericos das organizaes brasileiros, que voltaram suas atenes principalmentepara o controle burocrtico. Em Burocracia e Ideologia, Maurcio Tragtenberg (1974)demonstra que, para Weber, a burocracia um fenmeno historicamente situadoe uma forma de dominao, contestando a viso de Weber como idelogo daburocracia, que comum em alguns manuais de teoria das organizaes. Por ou-tro lado, Tragtenberg estuda as teorias administrativas como produtos das forma-es scio-econmicas de um determinado contexto histrico, ou seja, como ideo-logias que, ao manterem a diviso entre planejadores e executantes das aes,perpetuam a opresso do trabalhador ou do cidado e impedem sua autonomia.Em Organizao e Poder, Fernando Prestes Motta (1986) afirma que adominao uma forma de poder, mas no idntica ao poder, pois a dominaosugere que as aes dos dominados refletem a adoo da vontade do dominante,enquanto que o poder mais amplo, pois tambm pode implicar na realizao davontade do detentor do poder, mesmo quando esta vontade claramente contrariaa vontade dos trabalhadores ou cidados. Tambm critica a lgica burocrtica quepovoa o mundo de pequenos autmatos, mini-homens agarrados aos seuscargos e lutando por postos mais altos, sugerindo a existncia de uma cadeia depoder que permeia as empresas, o Estado e as escolas, incitando a reproduoda mentalidade burocrtica.Mais recentemente, em Economia Poltica do Poder, Jos Henrique de Faria(2004a, 2004b, 2004c) atualiza as leituras possveis sobre o tema, discutindo osenfoques conceituais clssicos sobre o poder: sistmico-funcionalista, weberiano,do comportamento humano, organizacional, marxista e da psicossociologia. O

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    autor define o poder da mesma maneira que Prestes Motta, de modo que amboscompartilham da concepo clssica weberiana, mas Faria acrescenta o carterdialtico no sentido marxista, ao apontar o poder como uma prxis que se funda-menta em uma interao complexa e contraditria entre os sujeitos coletivos daao. Isso agrega noo de poder a capacidade ou condio de mobilizaosocial, uma vez que no h como dissociar o poder da inclinao a exerc-lo, que prprio da natureza humana.No campo dos estudos organizacionais, h vrios trabalhos que abordam opoder em uma perspectiva crtica, tanto no Brasil como no exterior, de modo queseria exaustivo enumer-los no contexto deste artigo, alm de no ser este seuobjetivo principal. Cabe dizer, no entanto, que h uma pluralidade de abordagens,que passam por vises weberianas, marxistas, foucaultianas ou freudianas (CAR-VALHO, 2006). Para o propsito deste artigo, importa destacar que, no momentoatual, a questo da resistncia e da emancipao vem ganhando terreno no cam-po dos estudos crticos sobre o poder. O ponto de partida para nossa discussosobre a questo da resistncia e da emancipao nestes estudos ser a interpre-tao foucaultiana (FARIA, 2004a), que coloca o poder como uma prtica e umarelao social, de modo que o mesmo no pertence a ningum e est em todaestrutura social, o que tem como consequncia o fato das lutas de resistnciaestarem inseridas no interior das redes de poder. Segundo a leitura ps-estrutu-ralista da analtica de poder foucaultiana, a resistncia refora as relaes depoder dominantes ao invs de transform-las, ou seja, os sujeitos estariam pre-sos nas redes de poder de maneira que a amplitude da sua resistncia seriareduzida.A abordagem ps-estruturalista, que tambm vem sendo apontada comoabordagem ps-moderna, consiste em uma reelaborao do estruturalismo(PETERS, 2000), que questiona o cientificismo deste, mas compartilha com ele areao ao subjetivismo e ao sujeito autnomo humanista, enfatizando o inconsci-ente e as foras scio-histricas que constrangem e governam o comportamentohumano, ou seja, a fora das estruturas. Assim, essa abordagem funda-se namorte do sujeito soberano e abala a idia modernista de que o desvelamento dosprocessos e estruturas de dominao poderia ajudar os subjugados, restringindoa possibilidade de mudana aos processos micro-emancipatrios.Hardy e Clegg (2001) comentam a leitura ps-estruturalista da analtica depoder foucaultiana, apontando que esta viso se estabelece, em primeiro lugar,porque a extenso e a abrangncia das relaes de poder tornam difcil a resis-tncia. Uma vez que os discursos dominantes so tidos como fatos, mais difcilconceber alternativas emancipatrias e torn-las realidades. Alm disso, postoque todos os atores so capturados pela rede dominante de relaes de poder,eles tendem a reproduzi-las e se beneficiar delas para proteger suas posies.Evidentemente, h protestos dos defensores do trabalho de Foucault como com-patvel com a idia de resistncia, mas os opositores argumentam que a analticade poder foucaultiana contrria s noes de libertao e emancipao, poisseu ataque ao agenciamento dos sujeitos teria removido esta possibilidade.Na verdade no h um consenso sobre qual seria a leitura mais adequadapara a obra de Foucault. De acordo com Dosse (2007), Foucault teria sido emprimeiro lugar, um estruturalista, para, aos poucos, abandonar seu programa detrabalho inicial, que aponta o sujeito submetido s diversas modalidades de po-der, e migrar, a partir de 1978, para a problematizao do prprio sujeito e, emseguida, para a questo do governo de si mesmo. Essa dualidade na obra deFoucault permite interpretaes distintas e alimenta o conflito entre os tericoscrticos e os crticos ps-estruturalistas, no que se refere categorizao do pen-samento foucaultiano.Para alguns autores, como Peters (2000), embora Foucault (1983) tenhanegado em uma entrevista ser um estruturalista, ele reconhece que o problemado estruturalismo era prximo de seus interesses, pois enfoca a questo do sujei-to e de sua reformulao: essa afirmao, segundo o autor, justificaria, entre ou-

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    tros motivos, a pertinncia das leituras ps-estruturalistas da obra de Foucault. Jpara Prestes Motta e Alcadipani (2003), inadequado utilizar a expresso ps-moderno para se referir obra de Foucault, pois isto sugere que haja uma ma-neira correta e verdadeira de compreend-la e analisar suas contribuies, o quecontraria a prpria posio de Foucault, o qual questiona os mecanismosclassificatrios. Por outro lado, partindo da mesma entrevista citada por Peters, possvel sugerir uma leitura do trabalho foucaultiano via teoria crtica, uma vezque Foucault tambm fez a seguinte declarao: se eu tivesse me familiarizadocom a Escola de Frankfurt (...) eu no teria dito vrias das coisas estpidas que eudisse e teria evitado muito dos desvios que fiz enquanto tentava seguir minhaprpria trilha quando, nesse meio tempo, avenidas tinham sido abertas pelaEscola de Frankfurt (FOUCAULT, 1983, p.200).Essa controvrsia, tambm, dificulta uma definio clara de como Foucaulttratava a questo da emancipao, o que gera leituras distintas sobre o fenme-no: Prestes Motta e Alcadipani (2003), por exemplo, defendem a idia de que,para Foucault, onde h poder, h resistncia e, portanto, possibilidade de emanci-pao, sendo este um ponto fundamental de sua analtica do poder. Partindo des-tas elaboraes, podemos dizer que h no campo dos estudos crticos em organi-zaes, duas posies distintas sobre o fenmeno da resistncia e da emancipa-o: a posio de alguns crticos ps-estruturalistas, que reduz, ou at mesmoextingue, a amplitude da resistncia, defendendo que a nica possibilidade deresistir atravs de uma micropolitica que conduz microemancipao; e a posi-o dos tericos crticos, que aposta no poder mximo da resistncia, defendendoum projeto poltico e emancipatrio mais amplo. Para Hardy e Clegg (2001), nessecontexto de controvrsias, autores que se posicionam favoravelmente emanci-pao e que se baseiam nas formulaes marxistas, como, por exemplo, PauloFreire, tm sido largamente ignorados por conta do preconceito em relao aosque ousam desafiar a viso ps-estruturalista. Eles so acusados de irrespons-veis, irracionais e subversivos, o que, na opinio dos autores, vem deslocando aslutas de resistncia de seu lugar central, para dar espao a debates estreis. Poresse motivo, bem-vindo o recente movimento de alguns estudiosos crticos dasorganizaes brasileiros na direo de realizar pesquisas sobre as prticas deorganizao da resistncia. Superando vises pragmticas e funcionalistas sobrea questo da resistncia nas organizaes, alguns desses estudiosos, por exem-plo, assumem seu interesse por outras possibilidades organizativas fundadas naresistncia e dirigidas para a emancipao, como os movimentos sociais contem-porneos (MISOCZKY; BOEHM, 2006; MISOCZKY, 2006) e outros enclaves sociaispara alm do mercado, apontados por Guerreiro Ramos (CARVALHO, 2006).

    Defendendo a posio dos tericos crticos, esse movimento parte de umhumanismo radical renovado, recuperando a noo de sujeito coletivo (MISOCZKY;BOEHM, 2006) e a idia de que a resistncia deve ser um projeto coletivo (FARIA;DORIGAN, 2006), uma vez que procura demonstrar que a resistncia que ocorreno plano individual limita-se a uma microemancipao e, por isso, no contribuipara mudanas coletivas. Dessa forma, resgata-se a tradio dos crticos das or-ganizaes brasileiros, uma vez que o pensamento deles tambm se fundamen-tava em tal posio. Em Administrao, Poder e Ideologia e outros textos decarter jornalstico, Tragtenberg (1980a, 1980b, 1981a, 1981b, 1981c) critica aideologia participacionista presente nas experincias de co-gesto e defende aautogesto como sada tanto para a emancipao dos trabalhadores quanto dasociedade civil, enfatizando a importncia da mobilizao coletiva. Do mesmo modo,em Organizao e Poder, Prestes Motta (1986) defendia que o fato da auto-organizao ter sido historicamente derrotada, no foram, ainda, desenvolvidosinstrumentos coletivos eficazes de emancipao social; o autor, ainda, nega queeste seja um problema da natureza humana.Neste artigo, pretendemos apresentar contribuies tericas que podemreforar a tese dos tericos crticos nacionais, ou seja, de que tanto a opresso

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    quanto a resistncia so fenmenos coletivos. Para isto, resgataremos, em pri-meiro lugar, o clssico texto de Etienne La Botie, O Discurso da Servido Volun-tria, para apresentar a leitura radical feita por Miguel Abensour (2007), a qualdemonstra que a opresso, denominada por La Botie como servido voluntria, um fenmeno coletivo, de modo que a sada para emancipao tambm deveser um projeto coletivo. Em seguida, examinaremos, a partir do pensamento deMarilena Chau que partilha desta interpretao do texto de La Botie, o argu-mento de que apesar do autoritarismo social que permeia a sociedade brasileira,a mesma vem conseguindo manifestar formas coletivas de resistncia. Finalmen-te, retomaremos a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire, para sugerir que apedagogia crtica pode ser uma sada para analisar e praticar novas formas coleti-vas de resistncia.O Discurso da Servido Voluntria

    ou O Contra Um: uma leitura radicalEtienne de La Botie, nascido em 1530, em Sarlat (Frana), foi um jurista,filsofo e escritor, cuja obra contm sonetos, tradues de clssicos e essays so-bre a tirania e liberdade. Suas obras foram publicadas, postumamente, por seuamigo Montaigne, que o imortalizou em seus escritos sobre a amizade. Apesar deter sido escrito no sculo XVI, quando da sua juventude, O discurso da servidovoluntria continua atual. Considerada uma ode liberdade, a obra do jovem LaBoeti, trata da questo da escolha pela servido:Como possvel que dois, trs, quatro no se defendam de um; poder-se- entodizer com razo que falta de fibra. Mas se cem, se mil agentam um s, no sediria que no querem, que no ousam atac-lo, e que no se trata de covardia esim de desprezo ou desdm? Se no vemos cem, mil homens, mas cem pases,mil cidades, um milho de homens no atacarem um s, de quem o mais bemtratado de todos recebe este mal de ser servo e escravo, como poderemos nome-ar isto? Ser covardia? (...) Ento, que monstro de vcio este que no merece ottulo de covardia, que no encontra um nome feio o bastante, que a naturezanega-se ter feito, e a lngua se recusa a nomear? (LA BOTIE, 1982, p.13).Para La Botie (1982) o povo que se sujeita; que tendo a escolha entreser servo e ser livre, abandona a liberdade e aceita o jugo, sendo adormecidopelas artimanhas dos tiranos para bestializar seus sditos, como os teatros, jo-gos, farsas e espetculos. Na sua viso, a fora, o segredo, o apoio e o fundamen-to da tirania so compostos por aqueles quatro ou cinco indivduos que foramchamados pelo tirano para serem cmplices de suas crueldades, companheiros deseus prazeres e scios dos bens de suas pilhagens. Estes quatro ou cinco tmseiscentos que lhes servem da mesma maneira, de modo que a rede vai se ampli-ando at atingir os seis mil, cem mil e milhes. Assim, a tirania se torna proveitosapara muitas pessoas, que se renem em torno do tirano para participarem dasbenesses e serem os tiranetes sob o grande tirano.Estes se encarregam de espezinhar os camponeses, aldees e artesosque esto sob seu jugo, que mesmo maltratados so mais felizes e mais livres doque eles, que se atormentam e se matam de trabalhar para garantir os negciosdo tirano. Fascinados pela possibilidade de terem bens e recompensas, bem comode exercerem o poder, eles so enfeitiados pelo tirano e passam a temer o nomede UM. Nessa relao entre tirano e sdito no h amizade, pois no uma rela-o entre iguais. Alm disso, amizade no pode haver onde est a crueldade, adeslealdade e a injustia. Quando os maus se juntam, no h companhia, masconspirao: eles no se entre-amam, mas se entre-temem; no so amigos,mas cmplices (LA BOTIE, 1982, p.36).O texto de La Botie vem provocando inmeras controvrsias nas suas su-cessivas edies, suscitando tanto leituras conservadoras, quanto leituras mili-tantes, de carter pacificista ou anarquista (CHAU, 1982). Assim, a recepo do

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    texto ao longo do tempo provocou leituras que realam seu carter retrico eacadmico, ou sua dimenso inovadora, radical e subversiva (NUNES, 2005).De acordo com Abensour (2007), O discurso da servido voluntria admiteduas leituras: 1) para alguns, o texto indica que no h sada para a servidovoluntria, viso que coincide com algumas leituras ps-estruturalistas, que de-fendem que os indivduos enlaados na cadeia de relaes de poder tendem areproduzi-las e mesmo resguardar as posies que conquistaram; 2) para outros,o texto um teste resistncia do leitor servido, sendo o seu fundamento abusca da amizade, da liberdade e da emancipao. Segundo Abensour (2007, p.165): O desejo de liberdade a bssola que deve ajudar o leitor a traar umcaminho no texto e no cair nas armadilhas que lhe armam o autor [La Boeti]como se testasse sua resistncia servido voluntria.Abensour (2007) se alinha a esta segunda posio, defendendo a legitimi-dade de uma leitura eminentemente poltica e humanista, tal como fazem Clastres(1982), Lefort (1982) e Chau (1982). Na sua viso, para um bom uso da hipteseda servido voluntria, preciso considerar que este no um texto homogneo,pois apresenta uma cena poltica agonstica, perpassada por contradies, que a Frana no sculo XVI. Para Abensour (2007), a servido costuma ser vista comouma privao da liberdade que provm de uma causa externa, mas no caso daservido voluntria a causa interna, pois o prprio sujeito que se submete servido, sendo autor dela.A servido voluntria um fenmeno de cunho poltico e coletivo, no qualmilhes so submetidos no por uma grande fora, mas pela seduo do nome deUM, que se vale de procedimentos e dispositivos simblicos para estabelecer umforte lao com os que se submetem, evitando a rebeldia. Estes cedem, assim, aoinfeliz vcio, no de obedecer, mas de servir, e no se pode dizer que covardia,pois no se trata de uma s pessoa, mas de milhes de homens. La Botie, destamaneira, rompe com a idia de passividade dos dominados, uma vez que estesno se submetem contrariamente a sua vontade e tomam o desejo do dominadorcomo seu, de modo que no so enganados, mas se auto-enganam:De fato, se o povo, alm da sua atividade auto-negadora, tambm respons-vel pela sua submisso, cabe apenas a ele pr termo, estancar esta hemorragia,essa atividade autodestruidora, para que se abra a possibilidade da emancipa-o, ou melhor, da auto-emancipao. (...) La Boeti no se transforma emprofessor de resignao. (...) A chave da emancipao est nas mos do povo(ABENSOUR, 2007, p. 168).Na viso do autor, La Botie retifica Maquiavel, embora eles sejam prximosno tempo. Isto porque Maquiavel faz uma oposio entre os que desejam dominare o povo que no deseja ser dominado, que faz emergir o desejo de liberdade. LaBotie d um passo a mais ao considerar a hiptese da servido voluntria, poismostra que h uma fragilidade, duplicidade e instabilidade nesse desejo de liber-dade. Na sua viso, so os homens que buscam a servido e no o homem, demodo que somente uma sada coletiva pode colocar termo a esta dominao auto-destruidora para se chegar emancipao. Para isto, resgata o pensamento deLeroux que faz uma crtica radical da dominao, dizendo que deveria ocorrer umadesapario da relao dominador e dominado, fazendo eco s posies anar-quistas que tambm reprovam esta relao de hierarquia e, por isso, defendem aauto-organizao e auto-gesto.Clastres (1982), tambm, parece ir na direo de uma leitura anarquista,pois se pergunta como seria a sociedade antes do mau encontro mencionadopor La Botie, que possibilitou a diviso do mundo entre dominadores e domi-nados. O autor considera La Botie um desconhecido fundador da antropologiado homem moderno. Clastres (1982) aborda as sociedades sem Estado, re-tomando o exemplo das sociedades primitivas, que so sociedades igualitri-as, uma vez que nelas nenhum homem vale mais do que outro, no existindosuperiores e inferiores, pois elas ignoram a desigualdade introduzida pela rela-o de mando e submisso. Mesmo o chefe da tribo no manda, pois ele no

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    pode mais que cada membro da comunidade: quando ele quer se fazer chefe, ele excludo da sociedade e, se insiste, ele pode ser morto. Na vida civilizada, ohomem desnaturado, ou seja, abandona o estado de natureza, de modo quea vontade de liberdade d lugar vontade de servido: o homem no perde suavontade, mas esta desnaturao faz que a vontade mude de direo.

    Para Lefort (1982), com a servido voluntria, estabelece-se uma ca-deia de tiranetes que torna cada homem desencadeado, na medida em queele se separa de seus semelhantes. Alm disso, Lefort (1982; 2005) explorauma possvel identificao entre servido e liberdade, para explicar o mistrioda sujeio. Para ele, o desejo de servido procede do desejo de liberdade,pois uma escolha que se d sob o signo da liberdade, havendo uma ilusode que reproduzir a tirania se tornar livre, ou como coloca Chau (1982),uma iluso de liberdade como poder de mando e posse. Assim, Lefort (2005)acredita que para La Botie, os homens perdem sua liberdade, mas no odesejo de se tornarem livres. Retorna aqui a hiptese de Abensour (2007) deque o desejo de liberdade permeado por uma duplicidade, alm de umafragilidade e instabilidade, enigma que vamos decifrar mais adiante a partirdo pensamento de Paulo Freire.

    Retomando o pensamento de Hannah Arendt (1981; 2001), para quema forma extrema de poder todos contra um e a forma extrema de violncia um contra todos, Abensour (2007) chama ateno para a condio huma-na da pluralidade, considerando a existncia de uma separao ligante, ouseja, um lao que nos amarra atravs de nossas singularidades e no contraelas. O problema, ento, evitar que o TODOS=UNS, organizados de talforma que se preserve a singularidade, se transforme em TODOS=UM, situ-ao na qual as pessoas no olham mais umas para outras e passam a secomunicar por meio da figura do tirano, no mais se entre-amando, mas seentre-temendo. A manuteno de um sistema democrtico do t ipoTODOS=UNS fundamental para que as pessoas se responsabilizem porseus atos e se sintam participantes da coletividade, sem perder, contudo, suasingularidade (ENRIQUEZ, 2007):

    O TODOS=UM, quer dizer que ns somos todos, mas somos totalmente conglo-merados e no temos personalidade prpria. Se somos TODOS=UNS, quer dizerque somos todos um todo, todos queremos uma coisa, depois de conflitos ediscusses, mas no final, na concluso, ns somos, apesar de tudo, cada um,seres irredutveis uns aos outros sabendo muito bem o que queremos fazer(ENRIQUEZ, 2007).Assim, a sada reside na mudana de mentalidade que possibilite um mundo

    de no dominao sob o signo da amizade. La Botie, conforme Chau (1982), nosensina: a dimenso poltica da amizade a recusa do servir, pois o esquecimentoda liberdade se d pelo abandono da amizade.

    Por outro lado, devemos lembrar que, segundo La Botie, nem todos sepredispem servido voluntria, pois alguns jamais se acostumam sujeio esustentam a resistncia:

    De bom grado so estes que, tendo o entendimento ntido e esprito clarividente,no se contentam, como a grande populaa, em olhar o que est diante dos psse no divisam atrs e na frente e s rememoram ainda as coisas passadas parajulgar as do tempo vindouro e para medir as presentes; so estes que, tendo acabea por si mesmos bem feita, ainda a poliram com o estudo e o saber. Estes,mesmo que a liberdade estivesse inteiramente perdida e de todo fora do mundo,a imaginam e sentem em seu esprito, e ainda a saboreiam; e a servido no de seu gosto por mais que esteja vestida (LA BOTIE, 1982, p.24).Coloca-se, assim, a questo dos intelectuais orgnicos, no sentidogramsciano, que so aqueles capazes de atuar junto ao povo e ajudar namobilizao de sujeitos coletivos.

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    Autoritarismo Social eResistncia Popular no Brasil

    Partilhando da tese terico-crtica que apresentamos sobre o fenmeno emanlise e alinhada com a leitura poltica e humanista do texto de La Botie, Chau(1989) nos apresenta uma interessante viso sobre a opresso e a resistncia nasociedade brasileira. Posto que o livro do autor francs foi publicado em 1986, possvel que esta anlise esteja fundada na interpretao do texto da autorasobre La Botie (CHAU, 1982), especialmente quando examina a rede de tiranetes,demonstrando que a sociedade no espelha o tirano, mas a si mesma, sendo agrande protetora da tirania. Talvez, esta seja uma das bases do conceito deautoritarismo social que Chau (1989) contrape ao autoritarismo poltico.Avaliando o Brasil como uma sociedade autoritria, que esteve sob o jugode ditaduras e desfrutou de um dbil regime democrtico entre 1946 e 1964,Chau (1989) demonstra que, aqui, as diferenas e assimetrias sociais e pessoaisso, imediatamente, transformadas em relaes de mando e obedincia, toman-do a forma da dependncia, da tutela, da concesso, da autoridade e do favor, oque faz da violncia simblica a regra de vida social e cultural.O Brasil uma sociedade na qual as leis costumam ser armas para preser-var privilgios e instrumentos para represso e opresso, ao invs de definiremdireitos e deveres, posto que as transgresses populares so violentamente re-primidas, enquanto a violao praticada pelos grandes e poderosos tende a per-manecer impune. Assim, a esfera pblica acaba sendo definida pelas exignciasdo espao privado, fazendo da vontade e do arbtrio a marca do governo e dasinstituies. Neste contexto, o autoritarismo no s poltico, ou seja, fruto daao do Estado, mas tambm social, pois ... a sociedade civil tambm estestruturada por relaes de favor, tutela e dependncia, imenso espelho do pr-prio Estado, e vice-versa. (CHAU, 1989, p.56)De acordo com Chau (1989), nessa sociedade, se cultivam diversos mitos: aidia do Brasil como um lugar abenoado por Deus, apesar das secas, enchentes,endemias, fome e misria; como um povo pacfico, apesar do genocdio da popula-o indgena, da escravido dos negros, da explorao dos trabalhadores e darepresso aos movimentos populares; como o pas da democracia racial, apesarda discriminao visvel ou invisvel contra os negros e imigrantes, e como o pasdo povo alegre e sensual, apesar do machismo, do conservadorismo e da discrimi-nao sexual. Esta mitologia teria transformado o jeitinho brasileiro em virtudenacional, apesar deste designar nossa incapacidade de lidar com a dimenso dalei e do pblico, alm de perpetuar o jogo autoritrio do favor, da patronagem e daclientela travestidos de inventividade.

    Roberto Da Matta (1981; 1991) refora a idia de autoritarismo social de-fendida por Chau, quando menciona o voc sabe com quem est falando, toutilizado por aqueles que esto em posio de poder, bem como a reproduo doautoritarismo pelos inmeros guardies da ordem, que fazem questo de exercerseus pequenos poderes, alm do hbito disseminado da carteirada, da propi-na. Assim, tanto Da Matta quanto Chau reproduzem a idia da rede de tiranetesde La Botie, alm de demonstrarem, na mesma linha que o pensador francs,que o carnaval e o futebol, permeados pelos cartolas, banqueiros do jogo dobicho e outras contravenes, so glorificados pelo Estado em uma tentativa decontrolar a cultura popular e o prprio povo.Sobre a rede de tiranetes, Chau (1989) faz uma referncia explcita servi-do voluntria ao mencionar a figura interposta entre os trabalhadores e os pa-tres o mestre, o turmeiro, o gato, o fiscal que o trabalhador que pensaque patro e que por no s-lo pior que o patro, pois presta um serviovoluntrio ao patro como dedo duro, que prejudica a unidade dos trabalhado-res. Neste ponto, Chau faz uma distino, entre ter que trabalhar para os ou-tros e desejar servir o patro, ou seja, entre o trabalho e a servido voluntria,

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    ou subservincia. Apesar desses traos culturais e da existncia da servido vo-luntria, Chau (1989) tambm identifica na sociedade brasileira reaes a tal re-alidade. Fundados na sensao de injustia, estes traos culturais brasileiros fa-zem da representao, liberdade e participao a tnica de reivindicaes como: abusca de uma ordem legal democrtica; a exigncia de estabelecimento de direi-tos individuais, sociais, econmicos, polticos e culturais; e a exigncia do estabe-lecimento de um novo modelo econmico destinado redistribuio mais justa darenda nacional. Neste contexto, vale ressaltar a emergncia de novas formasorganizativas que rompem com a lgica autoritria que permeia nossa sociedade,lembrando que a tradio de mobilizao social brasileira, que remonta ao perodocolonial nas diversas rebelies enfrentadas pela Coroa Portuguesa (CARVALHO,1987), alcanou seu auge no governo de Joo Goulart com os movimentos pelasreformas de base.A mobilizao popular reemergiu na dcada de 1970, quando a Igreja Cris-t, ainda que sob a represso do regime militar, inspirada pelos ideais da teologiada libertao e da educao popular, promoveu a discusso de problemas coleti-vos nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), atravs dos clubes de mes, dosgrupos de estudos do evangelho, dos encontros de jovens, constituindo-se emum espao alternativo para a mobilizao poltica, estimulando a participao po-pular no debate das dificuldades do cotidiano e contribuindo para a formao delideranas populares. Esse ambiente originou reivindicaes populares junto aopoder pblico, como demandas por bens de uso coletivo, como transporte, habita-o, abastecimento de gua, saneamento bsico, sade, creche, entre outros.Alguns grupos geraram sujeitos coletivos que protagonizaram mobilizaespelos direitos de cidadania (GOHN, 1995): o caso dos movimentos popularesque protestavam contra o custo de vida, o desemprego, a represso poltica e aopresso da mulher. Consolidava-se, assim, o campo movimentalista (DOIMO,1995) no qual transitavam os movimentos populares e sociais, o movimento sindi-cal, as pastorais sociais, os partidos polticos de esquerda e centro-esquerda e asorganizaes no-governamentais (ONGs), que espraiaram suas iniciativas du-rante a dcada de 1980, culminando com a participao dos movimentos popula-res na Constituinte de 1988. Durante a dcada de 1990, muitas idias destesmovimentos sociais foram levadas a cabo por ativistas engajados em prefeiturasmunicipais, que realizaram parcerias com a sociedade civil, inaugurando uma novaforma de pensar a gesto pblica, com a participao popular, atravs de Conse-lhos Gestores, do Oramento Participativo e dos Fruns Temticos (Grupo de Estu-dos sobre a Construo Democrtica, 1999).Mais recentemente, estabeleceu-se um movimento de resistncia aoneoliberalismo em torno do Frum Social Mundial, que abriga desde o movimentodos sem-terra, at o movimento contra a globalizao, passando pelos movimen-tos das mulheres, dos negros e dos ndios, envolvendo uma escala global, queabrange a Amrica Latina e os demais continentes.Desta forma, a histria recente do Brasil evidencia que, apesar doautoritarismo social, emergiram formas coletivas de resistncia, de modo que aelaborao terica dos crticos nacionais encontra eco no mundo emprico. A ques-to que se coloca, ento, como podemos analisar essas manifestaes de resis-tncia e mesmo fomentar novas formas de organizao coletivas. Para isto, va-mos recorrer pedagogia do oprimido de Paulo Freire.Pedagogia do Oprimido:educando para resistir

    Tambm alinhado com a tese central dos tericos crticos e com a leiturahumanista e poltica do texto de La Boeti, Freire explora a temtica da liberdadehumana. A acomodao um dos grandes entraves subjetivos para a liberdade ocorre quando o sujeito perde a capacidade de optar e submete-se a prescries

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    alheias, deixando-se adaptar, abandonando a posio de agente para se trans-formar em mero objeto.Freire, buscando sadas para a objetificao humana, resgata a noo dehomem parenttico ao citar Guerreiro Ramos, e salienta a necessidade de umapermanente atitude crtica, que evite a importao de modelos prontos, sem adevida reduo sociolgica. Radical na sua opo, esse homem no nega o direi-to do outro optar, rejeitando o sectarismo e submetendo sempre sua ao refle-xo, sendo que ele: ... pode e deve, como sujeito, com outros sujeitos, ajudar eacelerar as transformaes na medida em que conhece para poder interferir(FREIRE, 2006, p.60).Na sua viso, quando o povo toma conscincia, no se satisfaz em assistir;quer participar; o que representa uma ameaa aos privilgios das elites. Estasno vem as crises como resultados de contradies internas que precisam serresolvidas, mas como ameaas ordem; repelem a participao do povo e promo-vem aes assistencialistas, como se os sujeitos fossem objetos passivos dessaajuda e sem possibilidade de participar de sua prpria recuperao. Nesse pro-cesso, ocorre, tambm, a massificao, a qual suprime a possibilidade de dilogoe domina o homem, fazendo-o temer a liberdade. Assim, o homem toma gostopelas prescries as quais passa a seguir como opes suas, abrindo mo de seupoder criador. Para Freire (2005), no h auto-governo sem dilogo. Quanto aoBrasil, o autoritarismo levou o povo ao mutismo, criando uma conscincia que hos-peda a opresso e no uma conscincia livre e criadora.Neste contexto, segundo Freire (2005) necessita-se de uma educao paraa deciso e para a responsabilidade social e poltica, que coloque o homem emconstante dilogo com o outro, e possibite constantes reflexes que transformema ingenuidade em criticidade. Dessa forma, este levado a uma nova posturadiante de seus problemas, estabelecendo uma intimidade com eles e assumindo aatitude de pesquisa, ao invs de mera repetio de afirmaes desconectadascom as suas condies de vida. Tambm, se impe a necessidade de uma posioque supere o falso dilema humanismo-tecnologia e promova, assim, educao tc-nica que no oblitere a viso geral do mundo. Emerge, dessa forma, o mtodo deFreire, segundo o qual a alfabetizao , em si, um ato de criao que desenca-deia outros atos criadores; toma como ponto de partida uma palavra e a compre-enso que o alfabetizando tem dessa em seu mundo e no uma mera juno deslabas.Freire (2005) passa a chamar esse trabalho de pedagogia do oprimido, for-jada com os alunos e no para eles, em uma busca incessante de recuperao desua humanidade. Neste contexto, os oprimidos, que hospedam o opressor emsi, se tornam co-partcipes de sua pedagogia libertadora, na medida em que sedescobrem hospedeiros da opresso. No primeiro momento em que fazem tal desco-berta, no entanto, os oprimidos tendem a se tornar tambm opressores, aderindoao opressor em uma perspectiva individualista, que impede a conscientizao desi como pessoas e como parte de uma classe oprimida. Passam, por exemplo, aquerer a reforma agrria no para se libertarem do jugo, mas para serem proprie-trios de terra e se tornarem patres.Essa elaborao nos permite fazer o paralelo com a rede de tiranetes de LaBotie, especialmente porque Freire admite que os camponeses que se tornamcapatazes so mais duros com os antigos companheiros que o prprio patro. Noentanto, Freire nos d uma resposta original ao enigma da servido, que no foiexplicitada por La Botie e pelos autores que analisam O Discurso da ServidoVoluntria: o medo da liberdade. Nas suas palavras: Os oprimidos, que introjetama sombra dos opressores e seguem suas pautas, temem a liberdade, na medidaem que esta, implicando na expulso desta sombra, exigiria deles que preen-chessem o vazio deixado pela expulso com outro contedo o da sua autono-mia (FREIRE, 2005, p.37). Estabelece-se, assim, uma luta interna, entre expulsa-rem ou no o opressor de dentro de si, entre desalienarem-se ou se manteremalienados, entre serem espectadores ou atores, entre atuarem ou terem a iluso

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    de que atuam na pea dos opressores, entre falarem ou no terem voz, impedi-dos no seu poder de criar e transformar o mundo. Para Freire (2005), a supera-o dessas contradies que pode trazer ao mundo um homem novo, liberto, maspara isto no basta estes se saberem em uma relao dialtica com o opressor, preciso que se entreguem prxis libertadora.De acordo com Freire (2005), o opressor s se solidariza com os oprimidosquando seu gesto deixa de ser piegas e sentimental, para se tornar um ato deamor; idia que nos permite resgatar a dimenso poltica da amizade em La Botie(1982). Prxis reflexo e ao dos homens, que existe porque o homem umprojeto capaz de captar a realidade objetiva para conhec-la e transform-la.Assim, a pedagogia do oprimido no pode ser elaborada nem praticada pelosopressores, seno pelos prprios oprimidos, que desvelam o mundo da opressoe se comprometem atravs da prxis, com a sua transformao. Uma vez que arealidade opressora esteja transformada, a pedagogia deixa de ser do oprimido epassa a ser a pedagogia dos homens, em um processo de permanente libertao.

    Neste caminho, Freire (2005) aponta a necessidade de os oprimidos come-arem a ver exemplos de vulnerabilidade do opressor e a compreenderem as ra-zes do seu estado de opresso, deixando de aceitar a sua explorao. A lutapela humanizao, para superao da contradio opressor-oprimidos, exige aresponsabilidade total dos oprimidos pela sua liberdade, ultrapassando o estadode auto-destruio para o estado de reconstruo. Em tal processo, os educandosno podem ser vistos como meros depsitos de informao, como coloca a con-cepo bancria de educao; preciso que transcendam a posio derepetidores para ocupar a posio de dialogadores, o que exige do educador umacrena no poder criador dos educandos e a percepo de que os homens se edu-cam em comunho, mediados pelo mundo.Freire (2005) sinaliza, assim, uma sada para a servido voluntria cons-tatada por La Botie: o desenvolvimento de uma conscincia crtica capaz dereinserir o homem na lgica da amizade que o integra na coletividade. Quandoconsideramos que a educao popular de Freire foi inspiradora dos movimen-tos sociais das ltimas dcadas, compreendemos que a emergncia dessessujeitos coletivos foi possvel atravs da superao de sua condio de oprimi-dos, assumindo sua vontade de liberdade. Seria o exerccio dessa pedagogiacrtica o diferencial das novas formas de organizao de resistncia? umahiptese a ser considerada.

    ConclusesEste artigo teve por objetivo analisar a questo da opresso e da resis-tncia nos estudos organizacionais sob a perspectiva terico-crtica humanista,a qual defende a tese de que a opresso e resistncia so fenmenos coletivos,ao mesmo tempo que sustenta a possibilidade de aes emancipatrias tambmcoletivas. Com o resgate do pensamento de La Botie e Paulo Freire tentamosoferecer aos estudiosos crticos das organizaes, interessados na temtica abor-dada, elementos para reforar essa tese. Neste contexto, a pedagogia crticafreireana emergiu como um caminho tanto para analisar como para fomentar asaes coletivas, constituindo-se em um referencial valioso para os pesquisado-res alinhados com o humanismo crtico nacional.Essa viso difere, dramaticamente, de algumas leituras ps-estruturalistasdos fenmenos aqui tratados, que, por sua descrena no potencial emancipatriodo sujeito coletivo, o prende s estruturas, apresentando a micro-emancipaocomo nica alternativa dominao. Ocorre que com essa operao demicropoltica, perpetua-se a dominao, pois a subverso da ordem existente atra-vs de micro-aes faz com que o sujeito estabelea um lugar de particulariza-o do espao totalitrio, criando suas regras, porm, ainda submetendo-se ordem hegemnica.

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    Sob uma leitura freireana, essas micro-emancipaes no passam de atitu-des astutas, em que o sujeito se traveste de uma roupagem de mudana, masalimenta as razes da mesma estrutura que o corrompe. Sob o desenvolvimentode uma atitude astuta, o sujeito se distancia da possibilidade de crtica. O astutono acredita na mudana coletiva e, por isso mesmo, na possibilidade de institui-o de formas no instrumentais de vida humana. Ele busca, assim, refgios emque ele possa respirar um pouco de liberdade, transformando-a em fetiche, emobjeto a ser consumido. Ele nunca busca a liberdade propriamente dita, j queesta, para ser alcanada, deve negar a submisso do homem s estruturas ealimentar a capacidade de mudana coletiva dos sujeitos. Ao ignorarem as contri-buies da leitura libertria do texto de La Botie e da obra de Paulo Freire paraos estudos crticos sobre a opresso e a resistncia, crticos ps-estruturalistascontinuam afirmando a impossibilidade do projeto coletivo de mudana radical,relegando o homem a, astutamente, sobreviver nas estruturas poderosas exis-tente. Essa crena tende a deslocar a relao dominado-dominante para o planoda estrutura, ignorando o bom uso da hiptese da Servido Voluntria e aspropostas de Freire; ocult-as por vias mltiplas, diluindo-as no social e no indivi-dual e escamoteando sua dimenso poltica.O antdoto para essa diluio est justamente na pedagogia freireana. Estapossibilita, atravs do posicionamento crtico, que os indivduos dialoguem e ela-borem novas formas de organizao, capazes de romper com a lgica hierrquica.Encontra-se, nessa pedagogia crtica, um caminho para reforar o modo como ostericos crticos nacionais lidam com a questo da opresso e da resistncia, bemcomo uma via para novas prticas organizativas emancipatrias. Alm disso, valeressaltar que acertada a valorizao da vertente crtica humanista nacional re-presentada pelos pensamentos de Maurcio Tragtenberg, Guerreiro Ramos eFernando Prestes Motta, realizada por alguns pesquisadores nacionais em seusestudos mais recentes.Certamente haver aqueles que tentaro justificar a superioridade das es-truturas sobre os homens, como diria Abensour (2007), perguntando s pessoas:por que lutar pela liberdade sendo que voc busca pela servido? Se voc parti-cipa ativamente de sua ocorrncia? Por que pretender ser um animal poltico sen-do que voc um animal domstico?Se Freire e Abensour fossem responder a essa questo, acreditamos que,baseadas nas anlises desenvolvidas acima, suas respostas certamente seriam:O liberalismo mais selvagem que questiona o uso da Servido Voluntria sob aperspectiva poltica (ABENSOUR,2007).A libertao um parto. E um parto doloroso. O homem que nasce deste parto um homem novo que s vivel na e pela superao da contradio opresso-res-oprimidos, que a libertao de todos. A superao da contradio o partoque traz ao mundo este homem novo no mais opressor, no mais oprimido,mas homem libertando-se (FREIRE, 2005, p. 25).

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    Opresso e Resistncia nos Estudos Organizacionais Crticos: consideraes acerca do discurso da servidovoluntria e da pedagogia do oprimido

    Artigo recebido em 14/05/2008.Artigo aprovado, na sua verso final, em 15/04/2009.

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