Os Alunos Reprovados No Brasil - Ernesto Martins Faria

download Os Alunos Reprovados No Brasil - Ernesto Martins Faria

of 29

Transcript of Os Alunos Reprovados No Brasil - Ernesto Martins Faria

Estudando N 01Os alunos reprovados no Brasil: uma anlise das proficincias e das taxas de abandono por meio das avaliaes Prova Brasil e Pisa

Ernesto Martins Faria ([email protected])

02 de abril de 2011

Estudando EducaoPortal de Estudos e Pesquisas em Educao

Estudando N 01 Os alunos reprovados no Brasil: uma anlise das proficincias e das taxas de abandono por meio das avaliaes Prova Brasil e Pisa

O Estudando O Estudando do Portal Estudando Educao tem como objetivo trazer nmeros e anlises que auxiliem na discusso de temas relacionados Educao. Todas as anlises do Estudando tm formato semelhante: na introduo, so apresentadas as posies de trs especialistas sobre o tema estudado, seguida por uma anlise de diversos nmeros relacionados ao tema e, ao final, h uma entrevista ou anlise crtica de uma pessoa que estuda ou ligada de alguma forma ao assunto estudado. Como o objetivo promover o debate, a escolha dos especialistas e autor da anlise crtica (ou entrevistado) busca trazer opinies diversas a respeito do tpico em foco. O Estudando tem a caracterstica de ser uma anlise breve e objetiva sobre alguns indicadores do tema estudado. Por isso, ao final do estudo so disponibilizados alguns links para quem quiser se aprofundar mais no assunto.

Especialistas consultados: Anna Veronica Mautner Naercio Aquino Menezes Filho Ocimar Munhoz Alavarse

Anlise: Ernesto Martins Faria

Entrevista com o coordenador pedaggico de uma escola de So Paulo (capital) URL: www.estudandoeducacao.com/est udando

Os alunos reprovados no Brasil: uma anlise das proficincias e das taxas de abandono por meio das avaliaes Prova Brasil e Pisa1Resumo Esse estudo analisa o nvel de proficincia dos alunos que j foram reprovados e fizeram a avaliao Prova Brasil 20072 ou o Programa Internacional de Avaliao de Alunos (Pisa) 20093. O objetivo verificar como foi o desempenho desses alunos nessas avaliaes, verificar se esto tendo o direito a um aprendizado adequado atendido e discutir o impacto da reprovao escolar para eles. O trabalho utilizou-se dessas duas avaliaes de modo a analisar alunos reprovados de diferentes sries e faixas etrias, facilitando, assim, a compreenso de como a reprovao escolar impacta nas diferentes etapas da Educao Bsica. Os indicadores analisados mostram que poucos alunos que j foram reprovados obtm sucesso escolar, independentemente da escolaridade de sua me. Assim como j apontado em diversos estudos, os dados tambm apontam para uma maior propenso desses alunos a abandonar a escola. Por fim, o trabalho traz uma entrevista com o coordenador pedaggico de uma escola que, mesmo funcionando em perodo integral (para os alunos dos anos finais do Ensino Fundamental) e possuindo parceiros, apresentou taxas de aprovao baixas em 2009 e um Ideb de apenas 3,0 nos anos finais do Ensino Fundamental. O coordenador, que disse ter assumido a coordenao em maio de 2010, conta como os problemas relacionados a baixo aprendizado de alunos so enfrentados atualmente no estabelecimento.

Introduo A reprovao escolar um tema muito debatido no Brasil. No entanto, a reprovao muitas vezes confundida com a repetncia. Embora os dois conceitos estejam relacionados, indicam situaes diferentes.

1 2

O autor agradece a Paula Louzano, que forneceu um material riqussimo de informaes sobre o Pisa. Informaes detalhadas sobre a Prova Brasil so encontradas em http://provabrasil.inep.gov.br/. 3 Informaes detalhadas sobre o Pisa so encontradas em http://www.oecd.org/edu/pisa/2009.

Estudando N 01

3

Um aluno ao final de um ano letivo pode estar em trs situaes diferentes quanto ao seu rendimento escolar: ter sido aprovado, ter sido reprovado ou ter abandonado os estudos. A reprovao escolar uma situao do aluno em relao srie cursada, que o impede de cursar a srie adiante no ano letivo posterior. J o conceito de repetncia escolar est embutido na anlise de transio entre sries. Um aluno que cursou uma srie em determinado ano pode estar em trs situaes diferentes no ano posterior. Ele pode estar em uma srie adiante, tendo sido ento promovido; pode no estar mais em um estabelecimento de ensino, tendo ento evadido; ou pode estar cursando a mesma srie novamente, sendo ento repetente. A partir disso, pode-se concluir que possvel tanto um aluno ser reprovado e no ser repetente no ano letivo posterior (pode evadir) como um aluno ser repetente sem ter sido reprovado no ano letivo anterior (pode ter abandonado a escola). As anlises sobre a reprovao escolar muitas vezes se confundem com uma poltica educacional implementada no pas denominada Progresso Continuada. Segue abaixo uma definio sobre essa poltica, que se faz necessria para que possamos avanar no debate.Procedimento utilizado pela escola que permite ao aluno avanos sucessivos e sem interrupes, nas sries, ciclos ou fases. considerada uma metodologia pedaggica avanada por propor uma avaliao constante, contnua e cumulativa, alm de se basear na ideia de que reprovar o aluno sucessivamente no contribui para melhorar seu aprendizado. No Brasil, a ruptura com a organizao seriada do ensino, que teve incio nos anos oitenta, a partir da implantao de ciclos nas sries iniciais do Ensino Fundamental, colocou a progresso continuada como uma tendncia orientada pelo governo, principalmente aps a aprovao da Lei de Diretrizes e Bases da Educao (LDB), de 1996. A LDB prope a progresso continuada organizada em forma de ciclos, considerando o conhecimento como processo e vivncia que no admitem a ideia de interrupo, mas sim de construo, em que o aluno est continuamente se formando, construindo significados a partir das relaes dos homens com o mundo e entre si. A estratgia de adoo do regime de progresso continuada, de acordo com a LDB, contribui para viabilizar a universalizao da Educao Bsica, que o impulso para as

Estudando N 01

4

naes se projetarem e competirem mundialmente, e tambm um meio de garantir o acesso e principalmente a permanncia do aluno na escola. Dessa forma, o objetivo da progresso continuada, alm de aumentar a qualidade de ensino, eliminar a defasagem idade/srie, combater a evaso e evitar mltiplas repetncias. De acordo com a progresso continuada, o aluno passa automaticamente pelas sries, mas avaliado ao longo e ao final de um ciclo. Quem no aprende adequadamente deve passar pelos processos de acelerao, tambm conhecido como recuperao. A progresso continuada, apesar de ser considerada uma ideia avanada, alvo de polmica por alguns considerarem que ela configura a "aprovao automtica" dos alunos. Essa ideia leva em conta que a progresso foi adotada, no Brasil, sem se mudar as condies estruturais, pedaggicas, salariais, de formao dos professores e outras necessrias ao desenvolvimento de um verdadeiro projeto de progresso continuada. Outros, no entanto, consideram um importante projeto para solucionar o problema da reprovao e evaso dos alunos. (Fonte: Dicionrio Interativo da Educao Brasileira EducaBrasil. Disponvel em http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=68).

Uma vez conceituado o que reprovao escolar e progresso continuada, a seguir so apresentadas as posies de trs especialistas sobre o tema:L no meu tempo, que j vai longe, dizia-se para quem ficasse de 2 poca para no ficar triste, porque 2 poca no tinha sido feita para cachorro. O mesmo vale para reprovao. S gente que promovido, mantido ou reprovado. Deve ter uma razo para que a reprovao exista, j que existe escola com sequncia anual. Fora da escola, em quase todas as atividades, a gente ou ganha ou perde, sem intermedirias. Na escola, tem nota baixa, recuperao, 2 poca. Tudo para dar uma chance. Se nada funciona, o jeito repetir o ano. Sou a favor de preparar as crianas e jovens para a vida, na qual as reprovaes so inevitveis e tudo sem etapas intermedirias. (Anna Veronica Mautner4).

Psicanalista e membro da Sociedade Brasileira de Psicanlise. J escreveu alguns artigos criticando o sistema de aprovao escolar do pas.

4

Estudando N 01

5

Acho que no devemos reprovar nossos alunos na Educao Bsica. A reprovao aumenta a evaso e no melhora significativamente o aprendizado. Os alunos reprovados sentem-se desestimulados e perdem contato com os amigos. Alm disso, a reprovao no ajuda a recuperar o aluno, que continua tendo notas mais baixas do que seus colegas nos anos futuros. Eu sou favorvel poltica de ciclos, ou progresso continuada. Acredito que ela deva ser implementada com um sistema de avaliaes peridicas, de forma a permitir que os alunos com mais dificuldades tenham aulas de reforo ao longo do ano. Fiz uma avaliao do impacto da progresso continuada sobre a evaso e o desempenho dos alunos que mostra que a introduo dessa poltica traz uma taxa de retorno ao redor de 11% para a sociedade. (Naercio Menezes Filho5). Os fatores que explicariam a excluso, ou mesmo o baixo aproveitamento da escolarizao, extrapolam os mecanismos de avaliao internos s escolas, ainda que a esses estejam fortemente correlacionado. Se existe uma promoo automtica adotada isoladamente, ela pode ensejar um esgaramento da escolarizao, no porque as crianas possam vir a passar de ano sem saber, mas porque aplicada a uma estrutura escolar, toda ela organizada para selecionar, pode redundar ou em uma transferncia da seletividade para outros mecanismos, ou mesmo em resistncia de professores, que se veem desarmados e desmotivados para o trabalho. Assim, recoloca-se o entendimento de que preciso compreender mais profundamente a organizao e o funcionamento da escola, para que as propostas que se pretendam democrticas no resultem em seu contrrio. E, nesse funcionamento, o ponto central deve ser a aprendizagem de cada aluno, ainda que o debate introduza o tema de quais devam ser as aprendizagens. (Ocimar Munhoz Alavarse6).

Doutor em economia pela Univesity College London, no Reino Unido,e atualmente professor titular (ctedra IFB) e coordenador do Centro de Polticas Pblicas do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. Professor associado da Universidade de So Paulo e consultor da Fundao Ita Social. J fez estudos sobre o programa de progresso continuada. 6 Doutor em Educao pela Universidade de So Paulo (USP). Atualmente professor da Faculdade de Educao da USP, atuando principalmente nos seguintes temas: ciclos, progresso continuada, avaliao educacional e gesto educacional.

5

Estudando N 01

6

Bases de dados O estudo divido em duas partes, nas quais as anlises so elaboradas com base em duas bases de dados diferentes. A primeira parte do estudo utiliza-se dos microdados da avaliao Prova Brasil 2007, levando em considerao tanto os resultados de proficincia obtidos pelos alunos, como os questionrios da avaliao respondidos por eles. Os dados analisados no consideram a amostra do Saeb e, portanto, referem-se apenas a alunos que em 2007 estudavam em escolas pblicas. Essa parte do estudo analisa os alunos que estavam na 4 srie (5ano) e os alunos que estavam na 8 srie (9 ano) do Ensino Fundamental em 2007. J a segunda parte do estudo aborda os resultados do Pisa 2009. Assim como no caso da Prova Brasil, foram utilizados para a anlise tanto os nveis de proficincias, como as respostas dos alunos em questionrios. Essa parte do estudo analisa os alunos de 15/16 anos que fizeram a avaliao.

Metodologia O presente estudo avalia se os alunos da Educao brasileira j reprovados tiveram o seu direito atendido, isto , um aprendizado condizente com a etapa escolar em que se encontram. Na primeira seo do estudo, que se baseia nos dados da Prova Brasil 2007, para avaliar se o aluno possui um aprendizado adequado sua srie foi utilizada a definio adotada pela Meta 3 do Todos Pela Educao. A Meta 3 do movimento Todos Pela Educao avalia o aprendizado do aluno por meio dos nveis de proficincia na avaliao Prova Brasil / Saeb e da escala do Saeb. Contudo, o parmetro utilizado diferente daquele adotado por muitos indicadores para aferir aprendizagem de alunos. O ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica (Ideb), por exemplo, para avaliar a qualidade do ensino, utiliza-se do nvel de proficincia mdio dos alunos na avaliao Prova Brasil / Saeb, enquanto a Meta 3 do Todos Pela Educao usa uma taxa correspondente a um percentual de alunos que obtiveram proficincia igual ou superior ao que o movimento julga adequado.

Estudando N 01

7

A meta do Todos Pela Educao estabelece que, at 2022, 70% ou mais dos alunos da 4 e da 8 srie do Ensino Fundamental e do 3 ano do Ensino Mdio das redes pblica e privada devero ter desempenhos superiores a respectivamente 200, 275 e 300 pontos na escala de lngua portuguesa do Saeb e superiores a 225, 300 e 350 pontos na escala de matemtica. O presente estudo utiliza-se ento desses nveis para estabelecer o que um aprendizado adequado srie para os alunos que cursam a 4 srie (5 ano) do Ensino Fundamental ou a 8 srie (9 ano) do Ensino Fundamental. Avalia, ainda, alunos que obtiveram um desempenho bsico de acordo com a definio do (ndice de Desenvolvimento da Educao do Estado de So Paulo (Idesp), que tambm se utiliza da escala do Saeb (ver anexo A). A segunda seo do estudo analisa o nvel de proficincia dos alunos repetentes que fizeram o Pisa 2009. Deve-se atentar nesta diferena, que o questionrio do Pisa, ao contrrio do da Prova Brasil, questiona em relao repetncia e no reprovao. Como o Pisa tem uma abordagem diferente da Prova Brasil a anlise feita baseia-se nessa diferena de abordagem. Ao contrrio da Prova Brasil, o Pisa no avalia sries, mas sim uma faixa etria alunos de 15 e 16 anos. O Pisa considera que alunos dessa faixa etria j deveriam ter adquirido certo nvel de competncias, j que uma faixa etria na qual a maioria dos alunos j est no final da Educao Bsica. Utiliza-se no presente trabalho o nvel 4 do Pisa como um aprendizado adequado a um jovem de 15 ou 16 anos. O nvel 4 o primeiro que indica o domnio de competncias mais complexas que so importantes na vida acadmica e profissional, no qual verificado, por exemplo, um domnio para localizar e organizar informaes mais complexas. O nvel 4 consegue nos mostrar os alunos que j tm um nvel de desenvolvimento de raciocnio crtico adequado para o final de sua formao bsica. Na anlise dos alunos que obtiveram o nvel 4 no Pisa, optou-se por no utilizar os pesos amostrais. Como a anlise dos alunos que obtiveram um bom desempenho apresentaria um erro amostral considervel, devido ao fato de poucos alunos brasileiros atingirem esse padro de performance, optou-se por no pensar na anlise como uma extrapolao para os jovens de 15/16 anos brasileiros, mas sim como apenas um exerccio

Estudando N 01

8

de raciocnio baseado nos alunos brasileiros que fizeram o Pisa, no querendo conferir a esta anlise uma cientificidade que ela no possui. Neste estudo, apresentado em algumas anlises o percentual de alunos com aprendizado adequado entre os alunos nunca reprovados. No entanto, o objetivo de comparar os resultados do grupo de alunos j reprovados com o do grupo de alunos nunca reprovados no para uma comparao de desempenho. algo natural e esperado que os alunos nunca reprovados apresentem um desempenho superior, j que so alunos que, provavelmente, durante a sua vida escolar, apresentaram menores dificuldades. Alm disso, possvel que esses alunos estejam em um cenrio familiar mais favorvel. A apresentao do percentual de alunos com aprendizado adequado entre os alunos nunca aprovados tem como objetivo apenas situar o quanto um grupo est distante do outro. E, deve-se atentar, a comparao se d pelo percentual de alunos com um determinado nvel de aprendizado. Isto , no se compara mdias, mostrando qual grupo est melhor. Compara-se o percentual de alunos que teve o direito a que 100% das crianas e dos jovens brasileiros deveriam ter: um aprendizado adequado.

Resultados As tabelas 1 e 2 mostram o percentual de alunos reprovados que fizeram a Prova Brasil 2007 por unidade da federao e o percentual de alunos que obtiveram um aprendizado adequado srie de acordo com a condio do aluno em relao a j ter sido reprovado. A tabela 1 observa os resultados entre os alunos da 4 srie (5 ano) do Ensino Fundamental e a tabela 2 observa os resultados entre os alunos da 8 srie (9 ano) do Ensino Fundamental. Ambas as tabelas mostram resultados preocupantes. Ao mesmo tempo em que se verifica um percentual alto de alunos que j foram reprovados, verifica-se que o direito dos alunos a um aprendizado condizente sua srie no est sendo atendido. Na 4 srie (5 ano) do Ensino Fundamental, apenas o Distrito Federal tem um percentual de alunos com aprendizado adequado srie, seja em matemtica ou lngua portuguesa, superior a 20% quando se considera apenas os alunos j reprovados em algum momento de sua vida escolar.

Estudando N 01

9

Tabela 1. Percentual de alunos que fizeram a Prova Brasil 2007 com aprendizado adequado 4 srie (5 ano) do Ensino Fundamental de acordo com a condio do aluno em relao reprovao em sua vida escolar4 srie / 5 ano do Ensino Fundamental % com aprendizado adequado em Matemtica - alunos que nunca foram reprovados 19,38% 17,33% 13,86% 17,81% 11,30% 10,48% 17,11% 12,54% 15,36% 13,65% 11,00% 16,01% 12,71% 10,53% 13,91% 14,60% 38,06% 28,99% 27,34% 33,14% 38,12% 33,43% 32,43% 28,85% 22,69% 20,78% 42,35% % com aprendizado adequado em Matemtica - alunos que j foram reprovados 6,27% 6,31% 8,98% 5,19% 6,30% 4,38% 6,06% 6,69% 6,69% 5,43% 4,77% 7,17% 5,38% 4,56% 6,18% 6,58% 14,73% 10,62% 12,13% 11,01% 15,77% 11,60% 11,66% 13,58% 10,21% 8,46% 21,78% % com aprendizado adequado em Lngua Portuguesa - alunos que nunca foram reprovados 25,62% 27,43% 20,63% 25,61% 17,62% 17,27% 23,58% 17,18% 21,35% 19,51% 14,54% 20,44% 17,54% 14,23% 19,33% 21,18% 41,98% 35,53% 34,94% 38,46% 41,24% 38,72% 38,59% 35,43% 28,98% 28,00% 50,10% % com aprendizado adequado em Lngua Portuguesa - alunos que j foram reprovados 8,10% 10,43% 10,47% 8,18% 8,18% 7,25% 7,34% 6,35% 8,29% 7,06% 4,97% 7,83% 6,42% 5,07% 7,40% 8,35% 15,42% 12,20% 14,39% 11,52% 15,52% 12,36% 13,69% 15,54% 11,36% 10,38% 25,63%

UF

% de alunos j reprovados

Rondnia Acre Amazonas Roraima Par Amap Tocantins Maranho Piau Cear Rio Grande do Norte Paraba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia Minas Gerais Esprito Santo Rio de Janeiro So Paulo Paran Santa Catarina Rio Grande do Sul Mato Grosso do Sul Mato Grosso Gois Distrito Federal

33,54% 32,81% 35,99% 27,57% 44,32% 37,45% 30,81% 37,63% 46,32% 36,24% 49,97% 44,96% 40,21% 43,81% 48,94% 47,71% 28,01% 28,16% 34,28% 17,68% 26,34% 26,02% 31,24% 40,66% 28,07% 28,78% 33,97%

Fonte: Prova Brasil 2007 / Notas: A adoo do que um aprendizado adequado baseou-se na definio da Meta 3 do Todos Pela Educao.

Estudando N 01

10

Tabela 2. Percentual de alunos que fizeram a Prova Brasil 2007 com aprendizado adequado 8 srie (9 ano) do Ensino Fundamental de acordo com a condio do aluno em relao reprovao em sua vida escolar8 srie / 9 ano do Ensino Fundamental % com aprendizado adequado em Matemtica - alunos que nunca foram reprovados 8,98% 5,57% 8,42% 8,83% 5,44% 3,14% 7,47% 5,22% 8,74% 6,20% 8,31% 6,00% 5,26% 4,38% 6,97% 6,08% 20,92% 13,97% 11,96% 12,38% 16,88% 15,75% 17,08% 16,02% 11,29% 9,06% 18,39% % com aprendizado adequado em Matemtica - alunos que j foram reprovados 3,35% 1,98% 3,63% 1,63% 1,97% 1,23% 1,81% 1,34% 2,66% 1,53% 2,21% 1,77% 1,54% 1,42% 2,52% 1,95% 6,10% 4,38% 3,30% 3,38% 6,01% 4,82% 5,81% 6,54% 3,54% 2,88% 7,84% % com aprendizado adequado em Lngua Portuguesa - alunos que nunca foram reprovados 15,83% 14,45% 16,38% 16,23% 13,10% 11,37% 16,01% 12,05% 13,65% 12,84% 14,03% 12,18% 10,51% 9,09% 13,39% 13,72% 27,41% 20,41% 22,31% 21,74% 23,30% 22,37% 26,19% 23,61% 18,14% 16,79% 27,76% % com aprendizado adequado em Lngua Portuguesa - alunos que j foram reprovados 5,62% 4,76% 7,54% 3,47% 5,22% 4,33% 4,54% 3,49% 4,95% 3,80% 4,72% 4,91% 3,80% 3,37% 5,29% 5,08% 9,73% 6,69% 8,01% 6,75% 8,77% 6,91% 10,78% 10,62% 5,99% 5,78% 13,18%

UF

% de alunos j reprovados

Rondnia Acre Amazonas Roraima Par Amap Tocantins Maranho Piau Cear Rio Grande do Norte Paraba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia Minas Gerais Esprito Santo Rio de Janeiro So Paulo Paran Santa Catarina Rio Grande do Sul Mato Grosso do Sul Mato Grosso Gois Distrito Federal

37,98% 34,37% 44,27% 34,22% 42,26% 34,25% 34,89% 39,61% 45,15% 39,54% 48,36% 48,23% 48,31% 52,82% 52,97% 46,60% 34,89% 31,53% 37,89% 19,76% 34,18% 27,05% 37,02% 38,50% 38,54% 34,61% 44,74%

Fonte: Prova Brasil 2007 / Notas: A adoo do que um aprendizado adequado baseou-se na definio da Meta 3 do Todos Pela Educao.

Estudando N 01

11

Na 8 srie (9 ano) do Ensino Fundamental em 11 (AC, RR, PA, AP, TO, MA, CE, PB, PE, AL e BA) das 27 unidades da federao menos de 2% dos alunos j reprovados obtiveram um aprendizado adequado srie em matemtica. Isso significa que a cada 50 alunos j reprovados no mximo um obteve um rendimento adequado 8 srie em matemtica na Prova Brasil. A situao mais grave a do Amap, onde a cada 81 alunos j reprovados apenas um obteve proficincia adequada. Embora a situao seja menos grave os percentuais em lngua portuguesa tambm so muito baixos. Apenas trs unidades da federao (RS, MS e DF) tm um percentual de alunos j reprovados com aprendizado adequado 8 srie em lngua portuguesa superior a 10%. Este estudo, por uma limitao das informaes que constam nos questionrios socioeconmicos da Prova Brasil 2007, no consegue diferenciar o aluno que foi reprovado numa srie anterior a que est cursando do aluno que foi reprovado na srie que est cursando quando fez a avaliao (4 srie / 5 ano ou 8 srie / 9 ano). Isso torna a anlise menos precisa, pois um aluno que foi reprovado numa srie anterior pode ter conseguido recuperar a sua defasagem em relao s sries seguintes e no sabemos qual , mas no em relao srie atual a qual frequenta. Se isso ocorre, poderia ser argumentado que uma nova reprovao poderia ser necessria. Desse modo, partindo da hiptese de que os alunos podem ter recuperado a defasagem das sries anteriores e estarem apenas defasados em relao srie atual, foi avaliado tambm o percentual de alunos com aprendizado em um nvel bsico. Tanto a 4 srie (5 ano) como para a 8 srie (9 ano) do Ensino Fundamental, o critrio adotado pelo Idesp para definir um nvel de aprendizado bsico estipula uma pontuao de pelo menos 50 pontos abaixo da que o aluno precisa obter para ser considerado como tendo um aprendizado adequado. Como alguns especialistas consideram que cada ano escolar adiciona de 12 a 15 pontos escala Saeb, parece razovel supor que se as reprovaes nas sries anteriores foram capazes de eliminar as defasagens apresentadas por esses alunos que hoje eles tenham um aprendizado pelo menos bsico de acordo com a escala.

Estudando N 01

12

Tabela 3. Percentual de alunos que fizeram a Prova Brasil 2007 com no mnimo aprendizado bsico na 4 srie (5 ano) do Ensino Fundamental de acordo com a condio do aluno em relao reprovao em sua vida escolar4 srie / 5 ano do Ensino Fundamental % com no mnimo aprendizado bsico em Matemtica - alunos que nunca foram reprovados 64,10% 62,07% 55,69% 63,71% 52,79% 50,68% 58,85% 51,19% 57,49% 52,99% 48,15% 58,39% 52,90% 49,66% 57,39% 56,48% 76,33% 73,56% 71,39% 73,15% 80,12% 77,45% 77,28% 74,41% 67,44% 65,06% 83,84% % com no mnimo aprendizado bsico em Matemtica - alunos que j foram reprovados 45,04% 42,99% 47,37% 45,31% 43,84% 40,28% 41,06% 36,89% 41,77% 36,86% 33,91% 43,08% 38,69% 37,46% 44,22% 43,95% 56,80% 52,76% 53,84% 46,96% 61,75% 53,73% 56,53% 59,54% 51,19% 48,45% 72,17% % com no mnimo aprendizado bsico em Lngua Portuguesa - alunos que nunca foram reprovados 74,69% 76,19% 69,10% 75,89% 67,21% 66,47% 72,08% 63,12% 69,59% 64,66% 57,45% 68,21% 64,32% 60,64% 69,84% 68,82% 81,76% 81,80% 80,54% 80,01% 85,81% 84,10% 83,53% 83,07% 77,76% 75,59% 89,41% % com no mnimo aprendizado bsico em Lngua Portuguesa - alunos que j foram reprovados 54,67% 57,49% 58,92% 56,15% 56,18% 51,18% 52,21% 45,16% 54,61% 47,37% 41,03% 52,53% 48,07% 47,34% 53,57% 55,78% 64,11% 62,62% 63,78% 54,27% 69,49% 62,67% 65,32% 68,74% 61,72% 59,45% 80,22%

UF

Rondnia Acre Amazonas Roraima Par Amap Tocantins Maranho Piau Cear Rio Grande do Norte Paraba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia Minas Gerais Esprito Santo Rio de Janeiro So Paulo Paran Santa Catarina Rio Grande do Sul Mato Grosso do Sul Mato Grosso Gois Distrito Federal

Fonte: Prova Brasil 2007 / Notas: A adoo do que aprendizado bsico baseou-se na definio utilizada pelo Idesp.

Estudando N 01

13

Tabela 4. Percentual de alunos que fizeram a Prova Brasil 2007 com no mnimo aprendizado bsico na 8 srie (9 ano) do Ensino Fundamental de acordo com a condio do aluno em relao reprovao em sua vida escolar8 srie / 5 ano do Ensino Fundamental % com no mnimo aprendizado bsico em Matemtica - alunos que nunca foram reprovados 68,90% 63,30% 61,10% 64,79% 60,34% 53,45% 61,00% 52,64% 60,57% 56,30% 60,79% 57,94% 52,27% 52,13% 63,12% 57,64% 78,72% 73,36% 66,52% 69,18% 79,39% 78,36% 78,90% 79,84% 69,21% 67,78% 78,79% % com no mnimo aprendizado bsico em Matemtica - alunos que j foram reprovados 52,83% 46,05% 49,13% 46,53% 47,27% 41,53% 41,79% 35,80% 45,82% 38,34% 44,46% 42,11% 36,93% 39,22% 46,17% 42,49% 59,57% 54,50% 48,78% 47,22% 63,49% 59,43% 62,97% 65,95% 51,46% 49,88% 65,40% % com no mnimo aprendizado bsico em Lngua Portuguesa - alunos que nunca foram reprovados 79,04% 77,33% 77,98% 78,07% 75,80% 72,46% 75,18% 70,75% 71,39% 70,95% 72,57% 70,77% 66,97% 66,25% 73,84% 71,10% 84,32% 80,78% 79,51% 78,60% 84,71% 83,91% 86,15% 86,11% 78,88% 77,79% 84,57% % com no mnimo aprendizado bsico em Lngua Portuguesa - alunos que j foram reprovados 63,88% 60,17% 67,55% 60,72% 64,09% 60,45% 56,65% 53,55% 57,32% 53,42% 57,34% 57,42% 50,70% 52,73% 58,08% 56,58% 68,44% 65,13% 63,51% 57,07% 69,21% 67,08% 74,10% 76,70% 61,62% 61,00% 73,37%

UF

Rondnia Acre Amazonas Roraima Par Amap Tocantins Maranho Piau Cear Rio Grande do Norte Paraba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia Minas Gerais Esprito Santo Rio de Janeiro So Paulo Paran Santa Catarina Rio Grande do Sul Mato Grosso do Sul Mato Grosso Gois Distrito Federal

Fonte: Prova Brasil 2007 / Notas: A adoo do que aprendizado bsico baseou-se na definio utilizada pelo Idesp.

Estudando N 01

14

As tabelas 3 e 4 mostram o percentual de alunos reprovados por unidade da federao que fizeram a Prova Brasil 2007 e o percentual de alunos que obtiveram um aprendizado considerado bsico de acordo com a condio do aluno em relao a j ter sido reprovado. Apesar de os resultados parecem bem menos alarmantes, deve atentar-se que o fato de um aluno no estar no nvel bsico deveria ser algo inadmissvel, pois isso representa uma defasagem muito grande para ele. Verifica-se que na maioria das unidades da federao (18 para ambas as sries analisadas) entre os alunos j reprovados o percentual com um aprendizado bsico em matemtica inferior a 50%. Por fim, ainda com os dados da Prova Brasil 2007, analisado o percentual de alunos que declararam j terem abandonado os estudos de acordo com a sua situao em relao a j ter sido reprovado ou no. Os resultados a nvel nacional so apresentados na tabela 5. Como muitos alunos abandonam os estudos e infelizmente no retornam escola, optou-se por no fazer a comparao dos resultados por unidade da federao.

Tabela 5: Percentual de alunos que declaram j terem abandonado a escola de acordo com a sua condio em relao reprovaoNunca foi reprovado J foi reprovado uma vez J foi reprovado mais de uma vez Fonte: Prova Brasil 2007 4 srie 4,11% 12,93% 22,80% 8 srie 3,36% 11,89% 17,29%

O percentual de alunos que j abandonou a escola consideravelmente menor entre os alunos nunca reprovados. Enquanto o percentual de alunos que j abandonou a escola de cerca de 4% entre os alunos que esto na 4 srie (5 ano) do Ensino Fundamental e nunca foram reprovados, ele superior a 12% entre os reprovados. Comparando as taxas entre os alunos da 8 srie (9 ano) do Ensino Fundamental, o percentual de alunos que j abandonou de cerca de 3%, considerando os alunos que nunca foram reprovados e superior a 11% considerando os alunos que j foram reprovados. Um argumento que poderia ser utilizado para contrapor a anlise que os alunos que so reprovados provavelmente so provenientes de ambientes familiares mais desfavorveis e, portanto, mais propensos a abandonar a escola e com maiores dificuldades 15

Estudando N 01

de obter um aprendizado adequado srie. Para verificar se a anlise no pode estar sendo distorcida pelo efeito do background familiar, analisado o nvel de proficincia dos alunos e o percentual destes que abandonou os estudos nos dois grupos (alunos nunca reprovados e j reprovados) de acordo com a escolaridade da me.

Tabela 6. Percentual de alunos na 4 srie (5 ano) do Ensino Fundamental que j foram reprovados ou abandonaram a escola de acordo com a escolaridade da me% com aprendizado % com aprendizado adequado bsico % que j abandonou Lngua Lngua Portuguesa Matemtica Portuguesa Matemtica a escola

Alunos j reprovados em sua vida escolarNunca estudou ou no completou a 4 srie (antigo primrio) Completou a 4 srie, mas no completou a 8 srie (antigo ginsio) Completou a 8 srie, mas no completou o Ensino Mdio (antigo 2 grau) Completou o Ensino Mdio, mas no completou a faculdade Completou a faculdade Aluno no sabe a escolaridade da me 9,24% 11,44% 10,37% 16,68% 11,60% 10,68% 8,77% 10,40% 9,42% 14,05% 10,26% 9,05% 53,43% 59,10% 55,97% 64,71% 59,60% 58,28% 45,16% 49,78% 47,75% 56,22% 50,09% 47,46% 17,34% 13,93% 15,17% 14,54% 13,69% 12,40%

Alunos nunca reprovados em sua vida escolarNunca estudou ou no completou a 4 srie (antigo primrio) Completou a 4 srie, mas no completou a 8 srie (antigo ginsio) Completou a 8 srie, mas no completou o Ensino Mdio (antigo 2 grau) Completou o Ensino Mdio, mas no completou a faculdade Completou a faculdade Aluno no sabe a escolaridade da me 22,69% 31,60% 32,27% 49,39% 37,03% 30,65% 19,44% 26,43% 27,25% 41,32% 31,38% 24,70% 67,68% 77,45% 76,83% 87,39% 80,39% 76,56% 59,25% 68,84% 68,74% 81,21% 72,66% 66,79% 6,72% 4,36% 4,16% 2,75% 3,20% 4,09%

Fonte: Prova Brasil 2007 / Notas: A adoo do que um aprendizado adequado e bsico fundamentou-se respectivamente nos nveis de proficincias utilizados pelo Todos Pela Educao e pelo ndice de Desenvolvimento da Educao do Estado de So Paulo (Idesp) - que tambm usa escala Saeb.

Estudando N 01

16

Tabela 7. Percentual de alunos na 8 srie (9 ano) do Ensino Fundamental que j foram reprovados ou abandonaram a escola de acordo com a escolaridade da me% que j abandonou Lngua Lngua Portuguesa Matemtica Portuguesa Matemtica a escola % com aprendizado adequado % com aprendizado bsico

Alunos j reprovados em sua vida escolarNunca estudou ou no completou a 4 srie (antigo primrio) Completou a 4 srie, mas no completou a 8 srie (antigo ginsio) Completou a 8 srie, mas no completou o Ensino Mdio (antigo 2 grau) Completou o Ensino Mdio, mas no completou a faculdade Completou a faculdade Aluno no sabe a escolaridade da me 4,75% 6,49% 7,50% 10,76% 11,41% 4,34% 2,32% 3,20% 3,83% 5,73% 7,31% 2,47% 57,68% 62,96% 62,31% 69,59% 64,79% 55,76% 44,23% 50,22% 51,57% 59,13% 56,97% 43,70% 19,52% 14,95% 13,91% 11,89% 11,77% 13,96%

Alunos nunca reprovadosNunca estudou ou no completou a 4 srie (antigo primrio) Completou a 4 srie, mas no completou a 8 srie (antigo ginsio) Completou a 8 srie, mas no completou o Ensino Mdio (antigo 2 grau) Completou o Ensino Mdio, mas no completou a faculdade Completou a faculdade Aluno no sabe a escolaridade da me 13,17% 17,92% 20,89% 28,51% 31,62% 11,81% 7,50% 10,58% 12,23% 17,44% 22,27% 7,29% 72,35% 78,47% 79,59% 85,23% 83,43% 70,77% 60,44% 67,83% 69,88% 76,78% 77,44% 59,46% 7,31% 3,59% 2,77% 1,79% 1,69% 3,86%

Fonte: Prova Brasil 2007 / Notas: A adoo do que um aprendizado adequado e bsico fundamentou-se respectivamente nos nveis de proficincias utilizados pelo Todos Pela Educao e pelo ndice de Desenvolvimento da Educao do Estado de So Paulo (Idesp) - que tambm utiliza-se da escala Saeb.

As tabelas 6 e 7 mostram que, para um mesmo nvel de escolaridade da me, o percentual de alunos com aprendizado bsico ou adequado dentre os alunos que nunca foram reprovados consideravelmente maior ao percentual verificado entre os alunos j reprovados, que, independentemente da escolaridade, baixo.

Estudando N 01

17

No grupo dos alunos reprovados o percentual de alunos com aprendizado adequado no passa de 17% em nenhuma das disciplinas ou sries analisadas em nenhum dos subgrupos organizados de acordo com a escolaridade da me do aluno. Como segunda etapa do estudo so analisados os dados do Pisa 2009. O Pisa, ao contrrio da Prova Brasil, no avalia uma srie e sim alunos de uma determinada faixa etria: 15/16 anos. Nesse trabalho os resultados dessa avaliao so analisados de forma a verificar se um aluno j reprovado conseguiu desenvolver as competncias adequadas sua idade. A lgica de anlise para os dados do Pisa diferente da lgica seguida na anlise dos dados da Prova Brasil, j que o Pisa avalia alunos que j deveriam estar no final da Educao Bsica e, portanto, j deveriam ter a maioria das competncias necessrias para o seu desenvolvimento acadmico. Pretende-se analisar aqui quais so os alunos que chegaram a um nvel de aprendizado condizente com um jovem de 15/16 anos. Embora a escolha de estipular o nvel 4 como um aprendizado adequado e desejvel a um jovem de 15 ou 16 anos possa aparecer demasiadamente exigente, esse trabalho parte do conceito de que o aluno brasileiro tem o direito a um aprendizado de alta qualidade assim como um aluno de qualquer outro pas do mundo. Institutos conceituados como o National Center for Education Statistics (NCES), utilizam o nvel 4 para definir uma Educao de qualidade. De acordo com o NCES, um aluno que obtm no mnimo o nvel 4 no Pisa em leitura capaz de fazer tarefas difceis de leitura e avaliar criticamente textos. Em matemtica o nvel 4 indica que o aluno sabe resolver problemas que envolvem raciocnio visual e espacial em contextos no familiares. E j em cincias pode se perceber que o aluno capaz de selecionar e integrar as explicaes de vrias disciplinas da cincia ou tecnologia e extrapolar essas explicaes diretamente para situaes do dia-a-dia. Como j citado, os alunos que obtiveram o nvel 4 ou superior, independentemente da disciplina, no so analisados de acordo com o seu peso na amostra. No possvel extrapolar esses resultados para o Brasil e, por isso, os resultados so analisados apenas como uma avaliao das caractersticas dos alunos brasileiros que fizeram Pisa no que diz respeito repetncia. Embora os questionrios do Pisa questionem em relao repetncia,

Estudando N 01

18

como o percentual de jovens que abandonam a escola aos 15 ou 16 anos e ainda est em um estabelecimento de ensino baixo (infelizmente), o percentual de alunos repetentes no deve ser muito diferente do percentual de alunos reprovados.

Tabela 8. Percentual de jovens de 15/16 anos repetentes no Ensino Fundamental de acordo com o PisaPas Albnia Alemanha Argentina Austrlia ustria Azerbaijo Blgica Brasil Bulgria Canad Cazaquisto Chile Cingapura Colmbia Coria do Sul Crocia Dinamarca Dubai (UAE) Eslovquia Eslovnia Espanha Estados Unidos Estnia Finlndia Frana Grcia Holanda Hong Kong Hungria Indonsia Irlanda Anos Anos iniciais Anos finais iniciais do Ensino do Ensino e/ou Fundamental Fundamental finais 2,93% 2,48% 4,03% 9,15% 14,23% 21,39% 15,93% 24,06% 31,98% 7,31% 1,44% 8,33% 4,85% 5,74% 9,28% 0,82% 1,02% 1,53% 18,44% 15,04% 28,26% 20,97% 25,72% 36,53% 2,75% 4,06% 5,38% 4,41% 4,29% 8,04% 1,45% 0,73% 1,74% 10,31% 7,33% 15,49% 2,31% 1,69% 3,57% 22,10% 18,20% 32,92% 1,21% 1,41% 1,51% 3,62% 0,97% 4,37% 7,11% 6,26% 11,89% 1,88% 2,02% 3,62% 1,47% 1,47% 12,21% 31,92% 35,30% 11,22% 4,18% 13,65% 3,88% 2,52% 5,58% 2,40% 0,46% 2,81% 17,76% 23,49% 36,52% 2,04% 4,18% 5,67% 22,44% 5,34% 26,31% 10,46% 6,33% 15,53% 6,24% 5,83% 9,84% 16,47% 6,13% 17,81% 11,03% 1,74% 11,94%

Estudando N 01

19

Islndia 0,67% 0,45% Israel 4,31% 4,93% Itlia 1,03% 4,67% Japo Jordnia 3,87% 4,92% Letnia 6,01% 6,06% Liechtenstein 10,24% 12,50% Litunia 2,07% 2,24% Luxemburgo 22,22% 20,17% Macau - China 23,13% 32,31% Mxico 17,25% 5,86% Montenegro 0,58% 1,15% Noruega Nova Zelndia 3,91% 1,69% Panam 17,61% 21,75% Peru 20,59% 11,59% Polnia 1,93% 3,89% Portugal 22,43% 20,94% Qatar 8,67% 7,65% Quirguisto 2,96% 3,01% Reino Unido 1,59% 0,78% Repblica Checa 2,11% 2,32% Romnia 2,34% 2,72% Rssia 2,29% 1,31% Srvia 0,35% 1,46% Sucia 3,84% 1,40% Sua 14,89% 9,32% Tailndia 2,32% 1,27% Taip Chins 0,89% 0,89% Trinidad e Tobago 27,38% 3,11% Tunsia 23,17% 32,80% Turquia 3,76% Uruguai 21,32% 25,84% Xangai - China 4,41% 3,45% Fonte: Pisa 2009 / Notas: Os alunos da Coria do Sul, Japo repetncia.

0,90% 6,90% 5,32% 6,56% 10,78% 20,18% 3,86% 36,14% 43,57% 21,11% 1,52% 4,82% 30,81% 27,40% 5,25% 34,45% 13,62% 4,31% 2,01% 3,99% 4,15% 3,22% 1,72% 4,51% 22,07% 3,37% 1,41% 28,59% 42,47% 3,76% 37,49% 7,41% e Noruega no responderam as questes sobre

A tabela 8 apresenta os pases de acordo com o percentual de jovens de 15/16 anos repetentes. Nesse caso os pesos amostrais foram considerados. Como alguns estudos anteriores j mostraram, o Brasil um pas com uma das taxas de repetncia mais altas do mundo. Dentre os pases que fizeram o Pisa e os alunos responderam as questes sobre 20

Estudando N 01

repetncia o Brasil o 4 com o maior percentual de repetentes no Ensino Fundamental, tendo mais de 36% de alunos de 15/16 anos que j repetiram essa etapa da Educao Bsica. Tabela 9. Melhores alunos brasileiros no Pisa (que atingiram pelo menos o nvel 4) de acordo com a condio acerca de repetncia LeituraAnos iniciais do Ensino Fundamental Nunca repetiu J repetiu uma vez J repetiu mais de uma vez Sem resposta Anos finais do Ensino Fundamental Nunca repetiu J repetiu uma vez J repetiu mais de uma vez Sem resposta n 990 5 0 18 n 980 19 4 10 % 97,73% 0,49% 0,00% 1,78% % 96,74% 1,88% 0,39% 0,99%

Matemtican 542 2 0 6 n 538 6 0 6 % 98,55% 0,36% 0,00% 1,09% % 97,82% 1,09% 0,00% 1,09%

Cinciasn 584 4 0 8 n 580 7 2 7 % 97,99% 0,67% 0,00% 1,34% % 97,32% 1,17% 0,34% 1,17%

Fonte: Pisa 2009 / Notas: Os anos iniciais do Ensino Fundamental so classificados como ISCED (classificao internacional padronizada da Educao) nvel 1 e os anos finais do Ensino Fundamental so classificados como ISCED nvel 2.

Tabela 10. Os 20.127 alunos brasileiros que fizeram o Pisa de acordo com a condio quanto repetncia escolarAnos iniciais do Ensino Fundamental Nunca repetiu J repetiu uma vez J repetiu mais de uma vez Sem resposta Anos finais do Ensino Fundamental Nunca repetiu J repetiu uma vez J repetiu mais de uma vez Sem resposta n 12.775 3.171 834 3.347 n 12.267 3.309 1.218 3.333 % 63,47% 15,75% 4,14% 16,63% % 60,95% 16,44% 6,05% 16,56%

Fonte: Pisa 2009 / Notas: Os anos iniciais do Ensino Fundamental so classificados como ISCED (classificao internacional padronizada da Educao) nvel 1 e os anos finais do Ensino Fundamental so classificados como ISCED nvel 2.

Estudando N 01

21

A tabela 9 analisa os alunos brasileiros que obtiveram nvel 4 ou superior no Pisa de acordo com a sua condio quanto repetncia nos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental. Em seguida, a tabela 10 apresenta o percentual de alunos repetente nestas etapas entre todos os alunos que fizeram o Pisa, sendo um parmetro de comparao para os nmeros apresentados na tabela 9. Os dados indicam que so raros os casos de alunos j reprovados que obtm um nvel de aprendizado adequado a sua idade. Embora esses resultados no sejam extrapolveis para o Brasil, preocupante, por exemplo, que dos 4.527 alunos que repetiram alguma srie nos anos finais do Ensino Fundamental apenas seis obtiveram o nvel 4 em matemtica e sete obtiveram o nvel 4 em cincias.

Entrevista O Estudando Educao entrevistou o coordenador pedaggico de uma escola que nos ltimos anos enfrentou dificuldades para conseguir desempenhos satisfatrios de seus alunos. O estabelecimento de ensino, situado na Vida Madalena, bairro na zona oeste da cidade de So Paulo, funciona em perodo integral para os alunos dos anos finais do Ensino Fundamental e possu apoio de parceiros, mas segundo os dados do Inep apresentou baixo percentual em relao ao pas de alunos aprovados em 2009 e o Ideb da escola nesse ano para os anos finais do Ensino Fundamental foi de apenas 3,0. O coordenador pedaggico contou que a escola mudou de gesto em 2010 e falou sobre como o estabelecimento se posiciona em relao reprovao escolar e como ele auxilia os alunos com dificuldades de aprendizado.

Estudando Educao Qual a posio da escola em relao reprovao? Coordenador Pedaggico A escola segue o sistema de progresso continuada, que s funciona efetivamente se houver um processo de recuperao efetivo. A secretaria de educao contrata professores que do dez aulas semanais de recuperao paralela.

Estudando N 01

22

Estudando Educao E os alunos frequentam essas aulas? Coordenador Pedaggico No ano passado a gente teve muita dificuldade com os alunos do Ensino Mdio, pois essas aulas acontecem no contra-turno e muitos trabalham ou no podem ir s aulas por outro motivo. Mas a gente conseguiu se organizar durante o ano para que alguns alunos com muitas dificuldades tivessem aula. Ns comunicamos os pais e eles perceberam a importncia. Ento, a gente est trabalhando e esse processo recente. A escola considera que reprovao um tema muito srio, mas como a gente segue as orientaes da secretaria de educao e adotamos a progresso continuada trabalhamos pensando na recuperao do aluno, para que ele v para as outras sries em condies.

Estudando Educao Como a escola auxilia o aluno que segue com srias defasagens mesmo com o acompanhamento e a recuperao paralela? Coordenador Pedaggico Isso muito conversado nas nossas reunies semanais. Os professores passam o diagnstico para coordenao de quais so as dificuldades desse aluno e conversamos com os professores sobre a recuperao paralela. A escola recebe tambm um apoio de parceiros.

Estudando Educao Voc sabe me dizer se o percentual de alunos que so reprovados ao final dos ciclos na escola alto? Coordenador Pedaggico Eu tenho um dado de que 25% dos alunos do 9 ano do Ensino Fundamental apresentaram estar numa condio em que teriam bastante dificuldades para irem para a srie posterior. S que nem todos foram reprovados, muitos desses alunos passaram para a srie seguinte, pois o conselho considerou que eles tinham condies de passar de ano. Muitas vezes a reprovao desestimula o aluno. Mas ao mesmo tempo se a gente no apertar e no pensar num trabalho efetivo para que o aluno v para a srie seguinte com condies no adianta. A escola tem que trabalhar com o pensamento de que o aluno tem que ir para a srie posterior com conhecimento. Seno eu acho que um processo inverso ao processo de aprendizagem.

Estudando N 01

23

Estudando Educao Como voc percebe que ficam os alunos que j foram reprovados? Voc acha que eles se sentem estigmatizados, propensos a abandonarem a escola? Coordenador Pedaggico A gente percebe que o aluno fica desmotivado, fica bastante desinteressado em dar continuidade.

Estudando Educao Mas vocs tm um trabalho de apoio psicolgico para com esses alunos? Coordenador Pedaggico A gente tem uma parceria com um psiclogo e tem entidades do bairro que trabalham com acompanhamento, na psicopedagogia.

Estudando Educao H casos de alunos reprovados nessa escola que depois conseguiram obter bons desempenhos? Coordenador Pedaggico O que eu tenho observado que os alunos que so reprovados sabem que por lei eles tm direito a reclassificao. Ento, eles ficam querendo ir para a srie posterior por meio de uma prova que preparada por um grupo de professores. Se ele passar na prova ele pode ir para a srie seguinte. Mas h alunos sim (entre os alunos que foram reprovados e repetiram a srie). Eles apenas precisam perceber que necessrio estudar.

Consideraes finais A reprovao escolar causa tanto danos individuais como para a sociedade. Afasta a criana ou o jovem de seus amigos, estigmatiza o aluno e gera maiores gastos ao governo. Dados esses aspectos, a reprovao s seria justificvel se a repetncia gerasse as condies de o aluno com defasagens acadmicas obter um aprendizado adequado. Os resultados apresentados nesse estudo mostram que a reprovao dos alunos brasileiros no tem sido capaz de sanar as defasagens dos alunos. Os resultados tambm mostram que o percentual de alunos que j abandonaram a escola muito maior entre os alunos que j foram reprovados se comparado com o de alunos que nunca tiveram uma reprovao.

Estudando N 01

24

Os nmeros do Pisa 2009 indicam, embora no sejam resultados extrapolveis para o Brasil, que so raros os casos de alunos j reprovados que, no final de sua vida escolar, apresentam um aprendizado condizente com a sua idade. Em que pese o fato de que os alunos reprovados so os que devem ter maiores dificuldades nos estudos, era de se esperar que a reprovao s fosse aceitvel caso conseguisse sanar as defasagens dos alunos reprovados, isto , que fazendo a srie novamente o aluno adquirisse as habilidades e o aprendizado sobre o contedo que no havia aprendido at ento. De acordo com os resultados, porm, isso no vem ocorrendo.

Referncias bibliogrficas Bonamino, A.; Coscarelli, C.; Franco, C. Avaliaes e letramento: concepes de aluno letrado subjacentes ao Saeb e ao Pisa. Educ. Soc, Campinas, vol.23, n. 81, p. 91113, 2002. Fletcher, P.R.; Ribeiro, S.C. O ensino de primeiro grau no Brasil de hoje IPEA, 1987. Hanushek, E.; Gomes-Neto, J. The causes and consequences of grade repetition: evidence from Brazil. Economic Development and Cultural Change, 1994. Menezes Filho, N.; Vasconcellos, L.; e Werlang, S. R. C. Avaliando o impacto da Progresso Continuada no Brasil. Anais do XXVII Encontro da SBE, 2005. Ribeiro, S.C. A pedagogia da repetncia. Estudos Avanados, IEA/USP, 1992. Schiefelbein, E.; Wolff, L. Repetition and inadequate achievement in Latin Americas primary schools: a review of magnitudes, causes, relationships and strategies. Estudos em avaliao educacional, n. 7, 1993.

Links (contedos disponveis na Internet referenciados ou relacionados ao tema) A pedagogia da repetncia: http://www.scielo.br/pdf/ea/v5n12/v5n12a02.pdf Avaliao e letramento: http://www.scielo.br/pdf/es/v23n81/13933.pdf Avaliando o Impacto da Progresso Continuada no Brasil: http://ww2.itau.com.br/itausocial/site_fundacao/Biblioteca/RelatoriosDeAvaliacao/2%20-

Estudando N 01

25

%20Relar%C3%B3rio%20de%20avalia%C3%A7%C3%A3o%20Progress%C3%A3o%20 Continuada.pdf Dicionrio Interativo da Educao Brasileira Progresso Continuada: http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=68 IDESP: http://idesp.edunet.sp.gov.br/ Metas Todos Pela Educao: http://www.todospelaeducacao.org.br/institucional/as-5metas NCES: http://nces.ed.gov/ Pisa 2009: www.oecd.org/edu/pisa/2009 Prova Brasil: http://provabrasil.inep.gov.br/

Estudando N 01

26

Apndices

Grfico 1: Proficincia em matemtica na 4 srie (5 ano) do Ensino Fundamental dos alunos j reprovados e dos alunos sempre aprovados histograma

Fonte: Prova Brasil 2007.

Grfico 2: Proficincia em lngua portuguesa na 4 srie (5 ano) do Ensino Fundamental dos alunos j reprovados e dos alunos sempre aprovados histograma

Fonte: Prova Brasil 2007.

Estudando N 01

27

Grfico 3: Proficincia em matemtica na 8 srie (9 ano) do Ensino Fundamental dos alunos j reprovados e dos alunos sempre aprovados histograma

Fonte: Prova Brasil 2007.

Grfico 4: Proficincia em lngua portuguesa na 8 srie (9 ano) do Ensino Fundamental dos alunos j reprovados e dos alunos sempre aprovados histograma

Fonte: Prova Brasil 2007.

Estudando N 01

28

Anexo A Nveis de aprendizado definidos pelo Idesp de acordo com a escala Saeb

Estudando N 01

29