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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
JOSÉ MÁRIO ZARPELLON
ORIGAMI, GEOMETRIA, APRENDIZAGEM: UMA PROPOSTA EM AÇÃO
PONTA GROSSA
2014
RESUMO
No contexto educacional atual, evidenciamos que as pesquisas que têm como objeto de estudo o processo ensino-aprendizagem estão ampliando-se significativamente, tendo em vista, as demandas que emergem
do ambiente escolar. Diante desta afirmação, ao pensarmos no ensino de geometria na escola,
reconhecemos a necessidade do estudo sobre possibilidades didáticas para o ensino deste conteúdo,
delimitando o problema de pesquisa: Quais as possíveis contribuições do origami como arte de dobrar
papel para o ensino de geometria? A partir do problema, defini-se os objetivos: refletir sobre as
possibilidades didáticas da adoção da técnica do origami no ensino de geometria para os alunos do nono
ano do ensino fundamental; analisar durante a realização de oficina, o posicionamento dos alunos sobre o
uso do origami e sua relação com os conceitos geométricos; identificar a dimensão didática do uso do
origami para o ensino da geometria. Opta-se pela abordagem qualitativa de natureza exploratória,
adotando para a coleta de dados, o questionário, elegendo como interlocutores da pesquisa, alunos do 9º
ano do ensino fundamental de estabelecimento de ensino da rede pública estadual do Paraná. Na elaboração do referencial teórico, fundamentamos os estudos nas contribuições de Aschenbach (1990),
Freire (2005), Imenes (1997), Saint-Onge (2001), Veiga (2008), Pimenta (2014). Apresenta-se o histórico
do origami, conceitos, reflexões sobre o processo de ensinar e aprender, bem como as contribuições do
manuseio de diferentes dobras do papel para a compreensão dos conceitos de geometria. Mediante análise
dos dados coletados por meio de questionário, identifica-se que os alunos manifestam interesse pelas
dobras e durante as atividades propostas reconhecem os conceitos de geometria. Os dados revelam ainda,
que os estudantes consideram que o trabalho com as dobras é dinâmico, permite estabelecer relações entre
diferentes conceitos e ainda favorece a socialização, a interação.
Palavras-chave: origami; geometria; processo ensino-aprendizagem.
Introdução
A docência, a experiência no magistério, o ensino de Matemática e Artes nas
classes do ensino fundamental, revelam uma multiplicidade de aspectos que podem se
constituir em objeto de investigação. Esta afirmação revela algumas percepções, as
quais são construídas na trajetória profissional, no processo de formação continuada e
ao pensar sobre o caminho profissional construído, alguns elementos colaboram para a
opção no trabalho do PDE sobre os conhecimentos de origami e o conteúdo de
geometria.
No momento da definição do objeto de estudo, não manifestaram-se dúvidas,
incertezas, tendo em vista o desenvolvimento de estudos sobre a temática ora proposta,
no ano de 2007(dois mil e sete), em trabalho de conclusão de curso na licenciatura em
Artes Visuais na Universidade Estadual de Ponta Grossa. O referido trabalho intitulado:
“Origami no ambiente escolar”, versava sobre a dimensão pedagógica do origami no
ensino de geometria.
Sentiu-se a necessidade da retomada e aprofundamento do estudo sobre as
possíveis contribuições do origami no ensino de geometria nas turmas de 9º ano em
estabelecimento de ensino da rede pública estadual no município de Ponta Grossa, no
Estado do Paraná, tendo em vista a seguinte compreensão
O tempo pedagógico da aula é lúdico, criativo, integrador. [...] O tempo
pedagógico é o tempo organizado para fortalecer a tríade relacional
professor-aluno-conhecimento, para desenvolver as atividades didáticas
relevantes de ensinar, aprender, pesquisar e avaliar. (VEIGA, 2008, p. 291)
As colocações da autora expressam a relevância do momento da aula que se
caracteriza como espaço criativo que deve privilegiar encaminhamentos didáticos que
favoreçam a aprendizagem, entendendo que o processo de ensinar e aprender, é
contínuo, dinâmico e envolve a participação de professor e aluno.
Sob esta perspectiva, concebendo o papel do professor como mediador1, o qual
privilegia a aproximação entre aluno e conhecimento, propõe situações de ensino
desafiadoras, reconhecemos a necessidade de buscarmos novas possibilidades didáticas
para o ensino do conteúdo de geometria, privilegiando neste trabalho a técnica do
origami. Reconhecemos ainda, em Pimenta (2014), que o ensino constitui-se como
prática social complexa, envolve professor e aluno, sendo que o ensino, transforma-se,
modifica-se em virtude da ação e relação estabelecida entre estes.
Consideramos ainda, o disposto nas Diretrizes Curriculares da Educação
Básica na disciplina de Matemática a qual, privilegia o ensino de geometria, bem como,
as diretrizes de Arte, que contemplam, dentre os conteúdos estruturantes do currículo,
os elementos formais. Recorrente destacar, que a proposta da diretriz, subsidia o
trabalho do professor, o qual pode tornar-se mais significativo ao privilegiar a
articulação entre o lúdico e as atividades artísticas no ato de ensinar. (PARANÁ, 2008).
Visando a sistematização das ideias aqui mencionadas, buscou-se no
referencial teórico conceitos e compreensões que nos auxiliem no caminho investigativo
a ser percorrido a partir da seguinte problemática: “Quais as possíveis contribuições do
origami como arte de dobrar papel para o ensino de geometria?”
1 O papel mediador do professor assume diferentes aspectos. É coordenador e problematizador nos
momentos de diálogo em que os alunos organizam e tentam justificar suas idéias. Aproxima, cria pontes,
coloca andaimes, estabelece analogias, semelhanças e diferenças entre a cultura “espontânea” e informal
do aluno, de um lado, e as teorias e as linguagens formalizadas da cultura elaborada, de outro,
favorecendo o processo interior e ressignificação e retificação conceitual. Explicita os processos e
procedimentos de construção do conhecimento em sala de aula, tornando-os menos misteriosos e mais
compreensíveis para os alunos. Ao fazer os alunos pensarem, ao invés de pensar por eles, o professor está
favorecendo a autonomia intelectual do aluno e preparando-o para atuar de forma competente, criativa e
crítica como cidadão e profissional. (PIMENTA, 2002, p. 130-131)
Delimitou-se o objetivo geral: refletir sobre as possibilidades didáticas da
adoção da técnica do origami no ensino de geometria, para os alunos do nono ano do
ensino fundamental.
Destaca-se ainda, os objetivos específicos: conhecer as diferentes abordagens
sobre a arte da dobra e a aplicação destas para a compreensão dos conceitos geométricos
na Matemática; analisar durante a realização de oficina, o posicionamento dos alunos
sobre o uso do origami e sua relação com os conceitos geométricos; identificar a
dimensão didática do uso do origami para o ensino da geometria
A opção pela pesquisa de cunho qualitativo2, contemplando a pesquisa
bibliográfica, dentre os autores pesquisados, destaca-se: Aschenbach (1990), que em
seus estudos clarifica aspectos relativos ao origami, historicizando a arte do origami,
Rego, Rego, Gaudencio Junior (2003) na obra “A geometria do origami” contribui para
a compreensão da arte de dobrar no ensino, especialmente no que respeita à geometria,
bem como revela possíveis encaminhamentos didáticos envolvendo a técnica do
origami no contexto escolar, destacando a simbologia dos diagramas.
Freire (2005) apresenta significativa contribuição, revelando os saberes
necessários à docência, dentre os quais reconhece que o educando é um sujeito
cognoscente3, aspecto este, considerado neste trabalho ao refletirmos sobre o processo
ensino-aprendizagem, sobre as diferentes possibilidades de ensinar um conteúdo,
reconhecendo que o ensino e a aprendizagem envolvem as ações docentes e discentes.
Sobre o ensino de Matemática, Imenes (1997) esclarece que para gostar de
algo, neste caso de geometria e da arte de dobrar, é preciso conhecê-la.
Para o aprofundamento das questões pertinentes à temática do trabalho,
apresenta-se um recorte histórico sobre a origem do origami, possibilidades didáticas
para o ensino de geometria a partir da arte de dobrar, elementos do origami e simbologia
dos diagramas.
2 A palavra qualitativa implica uma ênfase sobre as qualidades das entidades e sobre os processos e os significados que não são examinados ou medidos experimentalmente (se é que são medidos de alguma
forma) em termos de quantidade, volume, intensidade ou freqüência. Os pesquisadores qualitativos
ressaltam a natureza socialmente construída da realidade, a íntima relação entre o pesquisador e o que é
estudado, as limitações situacionais que influenciam a investigação. (DENZIN, LINCOLN, 2006, p. 23). 3 Mulheres e homens, somos os únicos seres que, social e historicamente, nos tornamos capazes de
apreender. Por isso, somos os únicos em quem aprender é uma aventura criadora, algo por isso mesmo,
muito mais rico do que meramente repetir a lição dada. Aprender para nós é construir, reconstruir,
constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à aventura do espírito (FREIRE, 2005, p.
69).
Opta-se pelo desenvolvimento de oficina sobre origami para alunos do nono
ano do ensino fundamental em Escola Pública Estadual do município de Ponta Grossa,
no sentido de vivenciar e proporcionar aos estudantes, a experiência com a produção de
figuras do origami e sua relação com a geometria.
O questionário foi adotado como instrumento de coleta de dados, o qual, de
acordo com Barros e Lehfeld (2007), permite a participação de várias pessoas, bem
como o pesquisado tem um espaço de tempo mais amplo para responder as questões, e
ainda não há custos em relação aos recursos materiais bem como há economia de
tempo.
Aplicou-se dois questionários, sendo o primeiro aplicado antes da participação
dos estudantes na oficina e o segundo, após a realização da mesma, sendo que os
interlocutores eram alunos do nono ano do ensino fundamental, os quais foram
convidados a participar, sendo que esta atividade desenvolveu-se em período de
contraturno das atividades escolares.
Conforme já fora mencionado, os dois questionários foram aplicados, tendo
como referência os seguintes objetivos: analisar durante a realização de oficina, o
posicionamento dos alunos sobre o uso do origami e sua relação com os conceitos
geométricos; identificar a dimensão didática do uso do origami para o ensino da
geometria
No desenvolvimento da Oficina, privilegiou-se os conhecimentos formais,
especialmente sobre a prática do origami na escola, a inserção desta arte no ensino de
geometria, a relação estabelecida entre professor-aluno e aluno-aluno, quando realizam
as dobras, na perspectiva de que somos aprendizes por possuir capacidade de
desenvolver a sensibilidade, crescer, desenvolver a percepção, a imaginação, criação e a
participação.
Decorrente da opção pela oficina de origami teve-se como grande desafio
despertar o interesse para as inúmeras possibilidades da adoção da arte da dobra no
ambiente escolar, valorizando e explorando a produção dos alunos nos momentos da
oficina, trabalhando com os conceitos de geometria, sendo que as produções foram
apresentadas à comunidade escolar por meio da criação de painéis para a sala de aula;
móbiles; decoração de cartões; ilustrações de textos e cartazes, dentre outras possíveis
produções.
A partir então, do referencial teórico, da experiência vivenciada na oficina e
dos dados coletados por meio de questionários, analisou-se as respostas dos alunos às
questões propostas, tendo como balizador o problema de pesquisa e os objetivos
propostos. Apresenta-se ainda, nas considerações finais, o posicionamento e as
compreensões que ampliaram-se ou ganharam novos significados, a partir dos estudos
realizados.
Refletindo sobre a arte da dobra, o processo ensino-aprendizagem e a geometria.
No ambiente escolar, na docência evidencia-se transformações e mudanças que
se revelam nas ações, compreensões e elaborações dos alunos sobre os conhecimentos,
sendo assim, é necessário que o professor constantemente reveja, amplie e atribua novos
sentidos e significados ao ato de ensinar.
De acordo com Saint-Onge (2001, p. 29), “Dar aula‟, é mais do que expor, é
aplicar um método de ensino, que suscite verdadeiramente as aprendizagens que
desejamos que os alunos efetuem”. Nas palavras do autor, revela-se o compromisso do
professor em relação à aprendizagem dos alunos, e nesse sentido Freire (2005, p. 47),
sabiamente alerta que ensinar não se reduz à transmissão de conhecimentos, mas sim:
“[...] criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua
construção. Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser
aberto a indagações, à curiosidades, às perguntas dos alunos, a suas inibições;
um ser crítico e inquiridor em face da tarefa que tenho – a de ensinar e não a
de transferir conhecimento.”
Mediante estas considerações, observando o objetivo deste trabalho: - refletir
sobre as possibilidades didáticas da adoção da técnica do origami no ensino de
geometria, para os alunos do nono ano do ensino fundamental, inicia-se uma reflexão
sobre a arte de dobrar e suas possíveis vinculações com ensinar geometria, a partir das
contribuições de Amorim e Castanho (2008, p. 106) ao afirmarem:
Seria a arte uma convidada [...] às carteiras escolares, às mesas dos
professores, às conversas entre alunos. Porque, se estética refere-se à
capacidade humana de construir o conhecimento através dos sentidos, a aula
é, sim, o hábitat por onde se pode elogiar essa dimensão humana. E a
educação, a formadora de homens, aquela que vá recebê-la à porta.
Privilegia-se então, a articulação entre o origami, com suas particularidades no
que respeita à produção artística, a sensibilidade, a apreciação do belo, com o ensino de
geometria. Para melhor compreensão desta articulação, destaca-se o histórico da arte
milenar da dobra, e suas implicações com o ensino, a aula, no contexto escolar.
Perpassam nesta abordagem, compreensões sobre o processo ensino-aprendizagem,
possibilidades didáticas para o ensino de geometria a partir da arte de dobrar, os
elementos do origami e simbologia dos diagramas.
Historicamente, a partir dos estudos de Aschenbach (1990) identifica-se que o
papel foi introduzido na sociedade japonesa por um monge budista, sendo acessível
somente à nobreza, por se tratar de um produto de luxo. Utilizado em festas religiosas e
na confecção de moldes de quimonos, percebemos que não há indicativos de utilização
do papel como recurso no ambiente escolar por se tratar de um material restrito às
camadas sociais mais elevadas.
Segundo as palavras de Roth (apud ASCHENBACH, 1990, p. 37):
O papel foi inventado na China há aproximadamente dois milênios, por Ts‟ai
Lun, um oficial da corte. Ele obteve a primeira folha, possivelmente
triturando água com retalhos de seda, casca de madeiras e restos de rede de
pescar. A pasta resultante era despejada sobre uma tela de pano esticada por
uma armação de bambu. Desta forma, enquanto a água escoava pela trama do
tecido, aparecia uma película. Esta era depois polida e utilizada para a
escrita. O segredo da fabricação do papel foi mantida por 500 anos até que um monge budista o introduziu no Japão.
Considerando a produção do papel, no decorrer do tempo histórico, o homem
passa a trabalhar com este material utilizando-o de diferentes formas, sendo uma delas a
dobra, decorrente da antiqüíssima arte de dobrar tecidos. Com o passar do tempo surgiu
então na linguagem dos japoneses ORI (dobrar) + KAMI (papel) = ORIGAMI (arte de
dobrar papel) e no Brasil4 esta arte origami é conhecida como Dobradura.
(ASCHENBACH, FAZENDA, ELIAS, 1992).
Um dado relevante, no que respeita à inclusão do origami na escola, de acordo
com Aschenbach (1993), este passou a integrar o currículo escolar no Japão a partir de
1876, assim a população começou a aprimorar essa arte secular que passa a ser
transmitida de pai para filho.
Logo, o trabalho com origami, como instrumento educativo propicia atividades
práticas nas escolas, torna-se um jogo divertido, ou passatempo inteligente; justifica-se
essa prática, às maneiras de se dobrarem papéis com diferentes significados e símbolos
do Oriente e de outras localidades mundiais.
4“A introdução da arte da dobradura em terras brasileiras deve-se aos colonizadores portugueses, e
também à chegada, durante o império, de preceptores europeus que aqui vieram orientar as crianças das
famílias ricas. (ASCHENBACH, FAZENDA, ELIAS, 1992, p. 28)”
Ressalta-se ainda, a colocação de Aschenbach (1993, p. 13), sobre a origem da
arte de dobrar: “[...] assim, pois, no Japão o sapo representa o amor, a fertilidade; a
tartaruga a longevidade; e o tsuru (ave símbolo do origami), também conhecido como
Grou ou cegonha, significa boa sorte, felicidade, saúde.”
Conhecendo a origem do origami, o significado das figuras é possível pensar
em sua dimensão pedagógica, no sentido de que esta prática possa auxiliar o aluno na
elaboração de conceitos básicos, adotando técnicas de sensibilização, valorizando o
“eu”, como sujeito principal da atividade. O importante é aprender fazendo, despertando
a criatividade e propiciando momentos prazerosos. Tendo em vista este apontamento,
observa-se a colocação de Saint-Onge (2001, p. 87), sobre a dinamicidade do processo
ensino-aprendizagem, ao enfatizar:
Na realidade, os professores sabem com clareza que não basta ter dito alguma
coisa para que os alunos tenham aprendido. A complexidade das aulas revela
que os professores, pelas atividades que organizam, sustentam o processo de
aprendizagem de modo diferente quando se trata de adquirir conhecimentos e
habilidades.
A partir das percepções do autor, articuladas às contribuições de Aschenbach,
Fazenda e Elias (1999), se reconhece que o emprego da técnica do origami pode
favorecer o desenvolvimento da aprendizagem do educando em determinadas
disciplinas do currículo escolar como, por exemplo, em Matemática, no qual é possível
o uso da técnica associada aos conteúdos e conceitos propostos.
As afirmações anteriores relacionam-se à ideia de que praticar o origami
significa concentrar-se na forma a ser obtida, implica em ser absolutamente preciso na
produção da dobra e em seguir uma progressão lógica, coordenada nos movimentos das
mãos, a fim de obter um produto o mais perfeito possível.
Identificando o vínculo da arte da dobra com o ensino de Matemática
especialmente no conteúdo de geometria, Lorenzato (1995, p. 7), esclarece: “A
geometria é a mais eficiente conexão didático-pedagógica da Matemática”.
Diante desse apontamento, é pertinente o registro de Faingelernt (1999, p. 15):
“A Geometria é considerada como uma ferramenta para compreender, descrever e
interagir com o espaço; é, talvez, a parte da Matemática mais intuitiva, concreta e real.”
Nesta perspectiva, é reconhecida uma vantagem do origami na perspectiva de
contribuir para a compreensão de conceitos geométricos: o desenvolvimento do
pensamento, da concentração, da sensibilidade, da criação pela comunicação da
imagem, sendo também importantes a paciência e a persistência, entendendo que:
A aprendizagem escolar é, assim, um processo de assimilação de
determinados conhecimentos e modos de ação física e mental, organizados e
orientados no processo de ensino. Os resultados da aprendizagem se
manifestam em modificações na atividade externa e interna do sujeito, nas
suas relações com o ambiente físico e social. (LIBÂNEO, 2006, p. 83).
Salienta-se ainda, que ao adotar a técnica do origami em atividades escolares é
possível potencializar a interação entre professor e alunos, entre os próprios alunos,
também privilegiando a seqüência lógica e o desenvolvimento do raciocínio para
realização das dobras.
Observando ainda, o disposto nas Diretrizes Curriculares Estaduais para o
ensino de Matemática, é possível perceber as possíveis interações entre origami e o
conteúdo matemático ora mencionado:
O Conteúdo Estruturante Geometrias, no Ensino Fundamental, tem o espaço
como referência, de modo que o aluno consiga analisá-lo e perceber seus
objetos para, então, representá-lo. Neste nível de ensino, o aluno deve
compreender:
• os conceitos da geometria plana: ponto, reta e plano; paralelismo e
perpendicularismo; estrutura e dimensões das figuras geométricas planas e
seus elementos fundamentais; cálculos geométricos: perímetro e área,
diferentes unidades de medidas e suas conversões [...]
• geometria espacial: nomenclatura, estrutura e dimensões dos sólidos
geométricos e cálculos de medida de arestas, área das faces, área total e volume de prismas retangulares (paralelepípedo e cubo) e prismas
triangulares (base triângulo retângulo), incluindo conversões (PARANÁ,
2008, p. 56).
De acordo com Imenes (1997), na arte e magia do origami é importante a
parceria com os conceitos de geometria, pois favorece o desenvolvimento do
pensamento, é uma prática do dia-a-dia de dobrar papéis, roupas e tecidos, que muitas
vezes são realizadas com prazer para sentir a organização. O autor coloca ainda a
geometria paralela à forma de construção, ou seja, a partir da seqüência de dobras do
papel é possível analisar retas, linha diagonal, bissetriz do ângulo reto e poliedros.
Aponta-se também as contribuições do artista japonês Kunihiro Kasahara, que têm suas
pesquisas no origami com as mais variadas formas: poliedros regulares, não regulares e
sólidos estrelados. (IMENES, 1997).
Diante das contribuições dos autores relacionados ao ensino de matemática,
percebe-se que o uso do origami pode favorecer a compreensão de conceitos
matemáticos, tendo como referência os conteúdos propostos e as noções que podem ser
adquiridas pelo uso da arte de dobrar.
É notável que, nesta arte de dobrar papéis, tanto o educador como o educando
necessitam de atenção, pois se engrandece a capacidade de concentração quando
respeitadas as regras de construção.
Mediante as compreensões expressas sobre o origami e o ensino de geometria,
retomamos o problema de pesquisa expresso neste trabalho: “Quais as possíveis
contribuições do origami como arte de dobrar papel para o ensino de geometria?”
Na tentativa de responder preliminarmente a esta questão, apresenta-se
algumas possibilidades metodológicas que venham a colaborar com o planejamento
didático, evidenciando o ensino da dobra e suas possíveis contribuições e articulações
com o ensino de Geometria.
Reconhecendo a arte de dobrar em sua dimensão criativa e o conteúdo de
geometria que exige raciocínio lógico, vínculo com ações concretas, visualização
espacial e construção de figuras planas, Scarpato (2004, p. 20), ao discutir aspectos
relativos à aprendizagem integral, esclarece: “Deve sempre existir na prática docente a
visão da sala de aula como um espaço gerador de novas idéias em que o clima é de
criatividade”. A autora ainda chama a atenção para o fato de que é preciso que o
professor determine, estabeleça, defina como desenvolverá o conteúdo a ser ensinado.
Sobre a arte da dobradura, tendo como referencial as contribuições de
Aschenbach, Fazenda e Elias (1999), Imenes (1997), Rego, Rego, Gaudencio Junior
(2003), destaca-se alguns encaminhamentos que venham a corroborar com o ensino de
geometria, a partir das dobras do origami.
Um aspecto importante a ser observado pelo professor são as dimensões do
papel que será utilizado para a confecção da dobra, recomenda-se o trabalho com
quadrados de papéis que tenham em média 15 cm, sobre uma superfície plana e firme,
com calma e precisão, pois as dobras e vincos devem ser administrados corretamente, a
fim de que não desalinhem e não prejudique a resultado final da dobradura.
A partir deste primeiro encaminhamento, é recorrente analisar a compreensão
de Rego, Rego, Gaudencio Junior (2003, p. 19) sobre o Origami e a Matemática:
“Ações como observar, compor, decompor, transformar, representar e comunicar são
facilitadas com o desenvolvimento de atividades geométricas envolvendo o Origami.”
Tendo em vista o posicionamento dos autores, para que o aluno tenha
segurança na realização e desenvolvimento da dobra, é recomendável que o professor,
oriente, norteie, indique passos, oralmente, visualmente e também é possível apresentar
pranchas de cartolinas contemplando o passo a passo a partir da simbologia específica
do origami.
Sobre estas orientações, é interessante perceber que a matemática e a arte se
integram em vários momentos, favorecendo o desenvolvimento do pensamento crítico,
da autonomia, e sensibilidade.
O origami pode representar para o processo de ensino-aprendizagem de
matemática um importante recurso metodológico [...] com uma atividade
manual que integra, dentre outros campos do conhecimento, geometria e arte,
têm-se a oportunidade de apresentar e discutir uma grande variedade de
conteúdos matemáticos. (REGO, REGO, GAUDENCIO JUNIOR, 2003, p. 18)
Ao pensar sobre o ato de ensinar, o contexto da aula, o origami como recurso
metodológico, identifica-se a necessidade de refletir como se caracteriza e configura a
„aula‟, que de acordo com Veiga (2008, p. 8-9), constitui-se como um ato que é ao
mesmo tempo técnico e político, pois envolve encaminhamentos metodológicos,
concepções e valores que sustentam o ensino, bem como um ato criativo, ao revelar a
expressão da beleza e dos valores científicos. Para a autora, a aula ainda constitui-se:
“[...] espaço de múltiplas relações e interações, enfim, a aula é espaço da formação
humana e da produção cultural.”
Conhecendo o posicionamento dos estudantes na oficina de origami
Considerando o objetivo proposto: conhecer as diferentes abordagens sobre a
arte da dobra e a aplicação desta para a compreensão dos conceitos geométricos na
matemática, planejou-se a oficina, com a previsão de 8 (oito) encontros com duração de
4 (quatro) horas, destinado a um grupo de 15 (quinze) alunos do nono ano do ensino
fundamental de escola pública estadual do município de Ponta Grossa.
Adotou-se a metodologia de pesquisa qualitativa com enfoque exploratório,
tendo em vista o caráter do trabalho e o envolvimento dos estudantes na realização das
atividades propostas, bem como suas contribuições ao responderem os questionários
aplicados no inicio e ao final da oficina.
Inicialmente, fez-se a previsão da forma de contato e proposição da oficina,
tendo em vista que o estabelecimento de ensino tem duas turmas de nono ano de ensino
fundamental, e pelo caráter da atividade a ser ofertada, não foi possível atender os
alunos dos nonos anos, por isso, efetivou-se o convite às classes, sendo que a
participação foi por adesão, pois a oficina realizou-se em período de contraturno, e caso
o número de interessados fosse maior que o número de vagas ofertadas adotou-se como
critério, as primeiras quinze inscrições.
A delimitação das vagas justifica-se pelo fato de que o trabalho com origami e
sua articulação com os conceitos de geometria requerem atendimento individualizado,
orientações específicas para o bom desenvolvimento das atividades e concretização dos
objetivos propostos.
Pretendia-se com a realização da Oficina:
explorar os conceitos geométricos adotando a linguagem formal adequada;
proporcionar a compreensão dos conceitos de geometria de forma atraente,
instigante e desafiadora;
organizar atividades contemplando o origami e os conceitos geométricos,
favorecendo a interação dos educandos em pequenos grupos de trabalho;
criar oportunidades para a produção de diferentes figuras do origami, a
partir dos conceitos e conhecimentos sobre esta técnica milenar.
Mediante o desenvolvimento das atividades da Oficina, foram estabelecidos
critérios de avaliação que favoreciam o acompanhamento da realização dos trabalhos, e
indicassem aspectos qualitativos em relação à apropriação dos conceitos trabalhados,
bem como fornecessem subsídios para o redimensionamento de atividades propostas.
Descreve-se a seguir, de forma suscinta, os encaminhamentos previstos para
cada oficina, os quais permitem a visualização do trabalho realizado:
Primeiro encontro: aplicação do questionário aos alunos participantes, com o objetivo
de coletar dados relativos ao conhecimento artístico e estético da arte do origami. A
partir deste diagnóstico inicial, por meio de exposição dialogada, apresentou-se o
histórico do origami, a origem do papel e sua disseminação mundial.
Segundo encontro: foram apresentadas as dicas necessárias para o bom trabalho com o
origami, tendo como referência os materiais bibliográficos sobre o tema, e a exposição
dialogada sobre a simbologia dos diagramas. Neste encontro ainda, os alunos tiveram
contato com o histórico da Matemática, especialmente no que respeita à geometria.
Terceiro encontro: a ênfase neste encontro foi o manuseio do papel, tendo como
referência os conceitos de geometria trabalhados nos encontros anteriores, privilegiando
o movimento das dobras, transformando uma folha de papel retangular em quadrado.
Ao dobrar o papel o aluno identifica retas perpendiculares, paralelas e concorrentes.
Neste encontro ainda, o aluno desenvolveu a habilidade de manusear o papel sem
danificá-lo, reconhecendo que a arte do origami requer paciência, sensibilidade e
cuidado na produção das peças.
Quarto encontro: os alunos trabalharam em pequenos grupos, socializando os saberes
em relação à técnica de origami e os conceitos de geometria, tais como: diferenças e
semelhanças entre os quadriláteros, simetria, relação entre área e perímetro. Neste
encontro faremos as intervenções no sentido de consolidar as aprendizagens sobre a arte
da dobra e geometria.
Quinto encontro: tendo em vista que nos encontros anteriores foram trabalhados os
principais conceitos do origami e geometria, iniciou-se este encontro com a proposição
de evidenciarmos o caráter criativo da arte de dobrar, sendo que os alunos iniciarão as
primeiras produções, tendo como referência a percepção espacial, discriminação de
posições e formas;
Sexto encontro – Dando continuidade às produções do encontro anterior, foram
apresentadas diferentes figuras do origami, as quais contemplam os conceitos
geométricos, como por exemplo: a figura de um coração, balão, pássaro, foca, girafa,
flor, sapo, avião, coruja; chamando a atenção dos alunos para observarem os vincos, os
ângulos as bissetrizes as posições e formas; criatividade;
Sétimo encontro: ampliando o grau de complexidade na construção de figuras do
origami, os alunos conheceram a lenda do tsuru (pássaro, símbolo de sorte, saúde e
fertilidade no Japão), por meio da projeção de um vídeo. Após conhecerem a lenda,
confeccionaram o pássaro, utilizando o passo a passo, identificando planos, simetria,
percepção espacial, discriminação de formas e posições, sensibilidade, senso estético;
Oitavo encontro: os alunos tiveram a possibilidade de manusear diferentes pranchas
(contendo o passo a passo para confecção de origamis), selecionando aquelas que cada
aluno tenha interesse em produzir, ressaltando que estas produções darão origem aos
painéis e móbiles, os quais serão expostos na escola para divulgação dos saberes e
conhecimentos produzidos na oficina. Neste último encontro ainda, considerando os
objetivos propostos no trabalho, aplicou-se o segundo questionário, para coleta de dados
sobre as percepções dos alunos sobre os encontros das oficinas, as relações entre a
técnica do origami e a geometria.
Mediante esta descrição inicial, na qual intencionou-se delimitar os
encaminhamentos adotados no processo de pesquisa, e destaca-se ainda a análise dos
dados, sendo que os interlocutores são identificados neste trabalho por meio de siglas,
resguardando a identidade dos alunos.
Participaram da oficina e responderam às questões propostas nos dois
instrumentos de coleta de dados, oito respondentes, os quais são referenciados por meio
das seguintes siglas:
Aluno 1 – A1; Aluno 2 – A2; Aluno 3 – A3; Aluno 4 – A4; Aluno 5 – A5;
Aluno 6 – A6; Aluno 7 – A7; Aluno 8 – A 8.
Para visualização dos dados, adotou-se a organização de quadros, nos quais é
possível identificar características comuns e divergências nos posicionamentos dos
alunos sobre o trabalho com a oficina de origami e suas possíveis relações com o ensino
de geometria.
Inicialmente, apresenta-se o perfil dos estudantes, considerando que estes
dados podem relacionar-se com as respostas sobre o trabalho na oficina.
IDADE DOS
RESPONDENTES
TEMPO DE ESTUDO NA
ESCOLA
REPROVAÇÃO NO ANO
LETIVO
6 alunos - 14 anos
4 alunos estudam na Escola
há 4 anos
1 aluno estuda na Escola há 3
anos
5 estudantes foram aprovados em
todos os anos de estudo
1 aluno - 15 anos
1 aluno estuda há mais de 4
2 ficaram retidos apenas uma vez
Sobre a idade dos respondentes, a partir da visualização no quadro, observa-se
que do total de 8 estudantes, 6 têm a mesma idade, o que demonstra que na relação
idade/série há uma correspondência, e deste número, dois estão em defasagem nesta co-
relação, em virtude de reprovação em séries anteriores.
Destaca-se ainda, que dentre os respondentes, um número significativo, que
representa um total de 4 alunos estuda na escola há 4 anos, e somente um aluno está há
um ano no estabelecimento de ensino e 2 alunos estudam há somente um ano e os dois
alunos que registraram que estão há mais de 4 anos na Escola, correspondem àqueles
que ficaram retidos em uma das séries do ensino fundamental – anos finais.
Nas questões sobre origami, matemática, geometria, apresenta-se na seguinte
tabela, as perguntas que compuseram o questionário, bem como os registros e
interpretações dos estudantes.
Dados referentes ao questionário 1 - aplicado antes da realização da Oficina
Você trabalhou com as
dobras de papel?
Se trabalhou conte sua
experiência.
Você conhece a
técnica do
Origami?
Você fez alguma
atividade na escola
que seja relacionada
com as dobras? Em
qual disciplina?
Conte qual (is)
sua(s)
experiência(s)
na participação
de cursos,
oficinas,
palestras,
atividades ou
cursos.
anos
1 aluno - 13 anos
2 alunos estudam há 1 ano na
Escola
1 ficou retido mais de uma vez
3 alunos - sim
5 alunos - não
A1 – “Fiz um avião de
papel”
A2 – “Um envelope e
um avião”
A3 – “Fiz um
coração”.
Nenhum aluno
conhece a técnica
A1, A2, A4 e A5 4ª
série em Artes
A3 e A6
“Fiz uma girafa na
aula de Artes”
A8
“Em todas as aulas
eu faço um avião”
A7
“Na aula de
Matemática”
A2, A3 e A5
Participam do
Proerd
A8
Participa de
treino de
futebol
A7
Faz curso de
informática
A1
Cursa
Espanhol
A4 e A6
Não fazem
nenhuma
atividade
extracurricular
Mediante os dados indicados pelos alunos, identifica-se elementos relevantes no
que respeita ao conhecimento dos alunos sobre a dobra de papel, porém não a
identificam com a arte do origami. Nesse sentido, recorre-se à Aschenbach, Fazenda,
Elias, 1992, ao discutirem sobre a história da produção do papel, estes afirmam que o
homem passa a utilizar-se deste material de diferentes formas, dentre elas, a dobra, e a
partir desta ideia inicial, há o reconhecimento de que o termo origami, a denominação
usada pelos japoneses, tem o sentido de ORI – dobrar + KAMI – papel = origami, a
tradicional arte de dobrar o papel.
Percebe-se que os estudantes praticam a dobra, em diferentes experiências da
vida cotidiana, considerando os saberes que já possuem, porém sem integração ou
articulação com o conhecimento sistemático, formal, sobre a arte milenar do origami,
sendo que esta manipulação do papel, de acordo com Aschenbach, Fazenda, Elias
(1992) mesmo caracterizando-se como brincadeira despretensiosa, pode promover a
estimulação de diferentes funções psicomotoras, proporcionando o desenvolvimento da
coordenação motora fina.
Da mesma forma, os alunos ao registrarem suas vivências de atividades com
dobras nas aulas de Artes e Matemática, não indicam que há relação entre esta ação com
um conteúdo do currículo, caracterizando-se como uma prática informal, sem
articulação entre conceitos ou reflexão sobre os saberes envolvidos nos trabalhos com
dobras. Percebe-se a ênfase no caráter lúdico desta atividade, revelando a capacidade
criativa, porém não enfatizando ou não valorizando a potencialidade da atividade em
relação ao domínio de diferentes conteúdos, como por exemplo, conceitos de geometria.
Rego, Rego, Gaudencio Junior (2003), alertam para o fato de que a arte do
origami pode articular-se aos conhecimentos escolares, especialmente aos conceitos em
geometria, sendo possível propor um encaminhamento metodológico que privilegie o
trabalho com as dobras, identificando, compreendendo conceitos geométricos, dentre os
quais, ângulos, bissetrizes, retas paralelas e perpendiculares.
Chama a atenção o posicionamento dos alunos, quando relatam que não
conhecem a técnica do origami, sendo que seu uso está associado ao desenvolvimento
de habilidades psicomotoras, uma brincadeira, porém não conhecem aspectos que são
característicos do origami, como por exemplo, a precisão da dobra, a simbologia dos
diagramas, a origem da técnica, nem tão pouco, as suas articulações com os conteúdos
escolares. (ASCHENBACH, 1993).
Sobre este aspecto, é recorrente observar o papel do professor, a relevância do
processo ensino-aprendizagem, pois se o docente conhece a origem do origami, o
significado das figuras é possível pensar em sua dimensão pedagógica, no sentido de
incluí-la no planejamento de suas aulas, na perspectiva de que a adoção do origami,
possa auxiliar o aluno na elaboração de conceitos básicos, considerando a dinamicidade
do processo ensino-aprendizagem, o necessário envolvimento do aluno no ato de
aprender, sob esta perspectiva Saint-Onge (2001, p. 86), esclarece:
Visto que sempre se ensina para que os alunos aprendam, nossos métodos de ensino são submetidos ao processo da aprendizagem. Da mesma maneira,
uma aula não é constituída de uma única atividade homogênea. Pelo
contrário, uma aula é um conjunto de atividades seqüenciais, cada uma
dessas atividades difere pelas ações do professor e dos alunos, pelas tarefas
respectivas e pelos efeitos atingidos.
Identifica-se ainda, uma característica relevante entre os respondentes, tendo
em vista que os mesmos inscreveram-se para participar das oficinas de forma
voluntária, dentre os oito estudantes, 6 indicaram que estão envolvidos em atividades
extra-curriculares, sendo que no perfil deste grupo, observa-se que o índice de
aprovação é significativo e corresponde a um total de 5 estudantes que não tiveram
reprovação na vida escolar, e pode-se inferir que quando envolvem-se em atividades
extras, estas podem colaborar com seu desenvolvimento e aprendizagem.
Sobre estas aproximações, destaca-se a ideia de Freire (1996, p. 30) ao afirmar
que é necessário respeitar, considerar os saberes dos educandos, na tentativa de
estabelecer uma relação entre os saberes curriculares a experiência, os saberes dos
alunos que tem sua origem em diferentes contextos e espaços escolares ou espaços não
formais.
Ainda em Saint-Onge (2001), importantes são os apontamentos que revelam e
enfatizam que o papel do ensino, situa-se na dimensão de ampliar, superar as
concepções funcionais para o conhecimento científico, sendo que este efetiva-se na
relação entre professor e aluno, ou seja, o professor deve proporcionar situações de
ensino desafiadoras e criativas.
Dados referentes ao questionário 2 - aplicado após a realização da
Oficina
Avaliação da participação dos alunos na
atividade
A1, A3, A4, A5, e A8
Excelente.
A7
Boa
A1, A3, A4, A5, A7 e A8 – Tsuru e
Cesta
A1 – “Eu gostei de fazer essas
figuras porque é muito bom de
dobrar, e é muito importante”.
A3 – “Eu gostei das dobraduras”.
A4 – “O tsuru porque é a figura
Destaque três figuras que mais gostou e o
motivo da escolha.
símbolo do origami
A8 – “Achei a dobradura
interessante”
A7 – somente citou o nome das
figuras.
A3, A4 e A8 – Coelho
A3 – “Eu gostei das dobraduras”.
A4 – “[...] achei interessante”.
A8 – “Achei a dobradura
interessante”.
A5 – Ganso
A5 – “Eu gostei das dobraduras”.
Durante a realização das dobras, você
conseguiu perceber conceitos de geometria?
A1, A3, A4, A5, A7 e A8
responderam que sim, perceberam
os conceitos de geometria.
Diante da sua experiência na oficina
considera que as dobras podem ajudar na
compreensão dos conteúdos de Matemática?
A1, A3, A4, A5, A7 e A8
A1 e A3
“Porque nas dobras eu identifiquei
os ângulos e as figuras
geométricas, plano cartesiano e
retas paralelas”.
A4
“Porque nas dobras eu vi figuras
geométricas, bissetriz e retas
paralelas”
A5
“Eu identifiquei a bissetriz, os
ângulos e retas paralelas”.
A7
“Porque nas dobras nós
identificamos várias coisas, como
ângulo de 90º graus, ângulo reto e
figuras geométricas”.
A8
Porque identifiquei os ângulos,
figuras geométricas, planos e
retas.”
Para você a técnica do origami pode ser
trabalhada em outras disciplinas? Conte
quais.
A1, A3, A4, A5, A7 e A8 - sim,
percebem a relação entre Arte e
Matemática.
A1 e A5 – consideraram Ciências
A3, A4, A7 e A8 – Geografia
A partir da participação na oficina vê a
possibilidade de usar a dobra em atividades
diferenciadas. Quais?
A1, A3, A4, A5, A7 e A8 – sim.
A1, A3, A5 e A7 – cartão e papel
de presente e painel.
A3, A4 e A7 – cartaz.
A5 – apresentação de trabalho
Gostaria de ensinar aos seus colegas as
dobras que aprendeu nas oficinas?
A1, A3, A5 e A7 – sim
A4 e A8 – não.
A partir dos dados coletados no segundo questionário, os estudantes trouxeram
elementos significativos para a análise, tendo em vista que ao responderem o primeiro
questionário revelaram que não conheciam a técnica do origami.
Sobre a avaliação de sua participação na oficina, conforme consta no quadro
anterior, os respondentes indicam que consideraram excelente o seu envolvimento e
compromisso na realização das atividades, e destacamos que este conceito pode
associar-se à motivação para o desenvolvimento das oficinas, tendo em vista, que do
total de 8 estudantes no início da proposta, 6 concluíram todas as atividades. Neste
sentido, Morales (2008, p. 115), chama a atenção para o trabalho a ser desenvolvido
junto aos alunos: “Se queremos que os alunos pensem..., é preciso dar-lhes a
oportunidade e a ocasião de pôr em prática suas capacidades, de receber feedback para
suas respostas...”
Identifica-se ainda entre os respondentes, que A7, considerou boa a sua
participação, trazendo um dado que indica seu nível de envolvimento, bem como foi
criterioso em sua autoavaliação, fato este que não significa que não realizou todo o
trabalho.
Ao responderem, sobre as 3 figuras que mais gostaram de confeccionar,
mereceram destaque especial o tsuru e a cesta, pois todos os estudantes citaram as
referidas figuras, as quais de acordo com os procedimentos para realizar a dobra, são
reconhecidas como aquelas que revelam maior grau de dificuldade.
Neste sentido, resgatamos um dos objetivos da oficina: proporcionar a
compreensão dos conceitos de geometria de forma atraente, instigante e desafiadora;
pois quando os alunos sentem-se motivados a pensar e produzir, os resultados podem
superar as expectativas, bem como podem garantir a aprendizagem de diferentes
conceitos.
No sétimo encontro da oficina, a proposta de trabalho vem de encontro às
ideias aqui apresentadas, pois tinha a intenção de ampliar o grau de complexidade na
construção de figuras do origami, sendo que a partir do conhecimento da lenda do tsuru
(pássaro, símbolo de sorte, saúde e fertilidade no Japão), por meio da projeção de um
vídeo, os estudantes confeccionaram o pássaro, utilizando o passo a passo, na
perspectiva de identificar planos, simetria, percepção espacial, discriminação de formas
e posições, sensibilidade, senso estético; sendo que estes conceitos, localizam-se
conhecimentos matemáticos na área de geometria.
Diante destas impressões e considerações sobre as respostas dos estudantes,
torna-se pertinente a colocação de Saint-Onge (2001, p. 181): “Aprender é sempre
superar uma dificuldade [...], ensinar é sempre fornecer os conhecimentos que servem
para transpor essas dificuldades.”
Ao responderem sobre as motivações da escolha de figuras do origami,
prevalece nos registros dos estudantes, a ideia de trabalho interessante, ou porque
gostaram da figura, manifestam então, sua opção considerando senso estético e o gosto
pela arte, e nesse sentido, pode-se observar a compreensão de Amorim, Castanho (2008,
p. 107) ao referenciarem a dimensão estética da aula:
O alcance das palavras e da atitude do professor se sustenta em sua
possibilidade de pôr magia e encanto nos olhos de seus alunos, de ensinar-lhes a olhar o que não foi visto ainda, ou a olhar o mesmo, como se novo
fosse. [...] Chamar a dimensão estética do aluno a participar da aula, a
aparecer na sala (para depois avançar porta a fora, pela vida a dentro).
As palavras das autoras corroboram no sentido de compreender o trabalho do
professor junto ao grupo de alunos, e resgata-se a ideia já expressa neste texto, quando
os alunos revelaram que não conheciam a técnica do origami, sendo possível ao
professor, no planejamento da oficina possibilitar aos estudantes novos olhares e novas
descobertas sobre as dobras e suas relações com os conceitos geométricos, bem como
despertar a sensibilidade, o senso estético e a criação.
Nas questões que solicitavam aos alunos seu posicionamento sobre o trabalho
com as dobras e os conceitos geométricos, os respondentes foram unâmimes em afirmar
que sim, e indicaram quais os conteúdos relacionados com a confecção da dobra,
destacando reta, bissetriz e ângulos. A partir dos encaminhamentos metodológicos
adotados na oficina, os estudantes tiveram a oportunidade de conhecer o trabalho com o
origami e associá-lo à construção de conceitos que estão previstos na disciplina de
Matemática, e sobre este aspecto, ressalta-se o disposto nas Diretrizes Curriculares
Estaduais sobre o ensino de geometria:
O Conteúdo Estruturante Geometrias, no Ensino Fundamental, tem o espaço
como referência, de modo que o aluno consiga analisá-lo e perceber seus
objetos para, então, representá-lo. Neste nível de ensino, o aluno deve
compreender:
• os conceitos da geometria plana: ponto, reta e plano; paralelismo e
perpendicularismo; estrutura e dimensões das figuras geométricas planas e
seus elementos fundamentais; cálculos geométricos: perímetro e área, diferentes unidades de medidas e suas conversões [...]
• geometria espacial: nomenclatura, estrutura e dimensões dos sólidos
geométricos e cálculos de medida de arestas, área das faces, área total e
volume de prismas retangulares (paralelepípedo e cubo) e prismas
triangulares (base triângulo retângulo), incluindo conversões (PARANÁ,
2008, p. 56).
Ou seja, os conceitos propostos nas Diretrizes, podem ser trabalhados com o
desenvolvimento de atividades relativas à técnica do origami, no sentido de valorizar o
desenvolvimento de diferentes habilidades o raciocínio, trazendo para os alunos o
conhecimento em se caráter mais amplo.
De acordo ainda com os estudantes, é possível o trabalho com origami nas disciplinas
de Matemática e Arte, sendo que o total de respondentes estabelece esta relação, bem como,
A1 e A5, consideraram que o origami pode associar-se ao ensino de Ciências e A3, A4,
e A7 e A8 reconhecem que a arte das dobras pode relacionar-se com a disciplina de
Geografia.
Observando as colocações dos alunos sobre as possíveis relações entre o origami
e as disciplinas do currículo, ressalta-se a ideia de Imenes, (1997), ao afirmar que a
geometria caminha jun to à forma de construção, ou seja, a partir da seqüência de dobras do
papel é possível analisar retas, linha diagonal, bissetriz do ângulo reto e poliedros. Também é
relevante a contribuição de Faingelernt (1999) ao revelar que a geometria pode ser considerada
como ferramenta, instrumento para compreender, interagir o espaço, sendo para o autor a parte
da disciplina de Matemática mais concreta e ao mesmo tempo intuititva.
Também, é necessário ponderar que se os alunos percebem aproximações do trabalho
do origami com outras áreas do conhecimento, estes ficaram atentos às atividades na oficina, as
quais intencionavam desencadear novas descobertas, novos olhares sobre o origami, sendo
assim: “ Uma aula deve começar pelo despertar da curiosidade. Convém a partir daí recorrer
a demonstrações surpreendentes ou a experiências de descoberta.” (SAINT-ONGE, 2001, p.
35). Neste sentido, o planejamento e a organização das atividades na oficina, privilegiaram
diferentes situações de aprendizagem, trazendo desde a origem do origami e suas possíveis
relações com o ensino de geometria, bem como, o uso das figuras e das dobras em diferentes
situações do cotidiano.
Ao se posicionarem sobre a possibilidade de usar as dobras em outras atividades,
a partir dos conhecimentos adquiridos na oficina, os respondentes foram unânimes,
reconhecendo o uso das dobras além do ambiente escolar, sendo que dentre estes,
destaca-se as seguintes indicações de uso: A1, A3, A5 e A7 confeccionariam cartão,
papel de presente e painel, já A3, A4 e A7 usariam em cartaz e A5 indica que usaria a
dobra em apresentação de trabalho.
Percebe-se nas respostas dos alunos que estes conseguem projetar as atividades
da oficina para além do contexto deste trabalho, e necessário então, organizar o ensino,
na perspectiva de que este não se encerre no momento da aula, no espaço escolar, e de
acordo com Rios (2013, p. 52):
Por intermédio do gesto de ensinar, o professor, na relação com os alunos,
proporciona a eles, num exercício de mediação, o encontro com a realidade,
considerando o saber que já possuem e procurando articulá-lo à novos
saberes e práticas.
Nesse processo de mediação, articulação com os saberes que os alunos já tem
consolidados e o conhecimento científico, é possível criar condições de ensino que
permitam que este amplie sua bagagem cultural, ressignifique os conhecimentos, bem
como, visualize as possíveis aplicações deste saber na vida escolar e na vida cotidiana.
Na última questão proposta, intencionou-se saber se os participantes da oficina
ensinariam aos colegas da escola as dobras, a arte do origami que foram trabalhadas na
oficina, dentre os respondentes, visualiza-se as seguintes respostas: 4 estudantes
indicaram que sim, ensinariam o origami a outros estudantes, já 2 alunos assinalaram
que não ensinariam.
Considerando que a maioria dos respondentes manifestou-se positivamente
sobre a ideia de ensinar a outros as dobras, sentem-se à vontade para partilhar com seus
colegas os conhecimentos adquiridos, e também pode-se associar esta disponibilidade
pelo fato de que em algumas atividades propostas na oficina, privilegiou-se o trabalho
em pequenos grupos, de forma colaborativa, favorecendo com que os estudantes
ensinassem e aprendessem uns com os outros.
Já os alunos que se manifestaram contrários à ideia de ensinar aos seus colegas o
conhecimento adquirido na oficina, percebe-se, em seus relatos que em respostas
anteriores, reconhecem o trabalho com origami, articulam as dobras às diferentes
disciplinas, optaram espontaneamente por participarem desta atividade, e por razões que
não revelaram, ainda não sentem-se à vontade para compartilhar esta experiência,
porém indicam que farão uso da técnica em outras atividades, bem como observa-se que
estes participaram e contribuíram com as atividades em grupo.
Sobre os dados analisados, identifica-se que a realização da oficina, favoreceu
diferentes olhares sobre as percepções dos alunos em relação à técnica do origami, aos
conceitos geométricos, e ainda, sugiram nas respostas novas indicações de uso da
técnica e articulação com diversas disciplinas do currículo.
Nesta perspectiva, são pertinentes as contribuições de Rios (2013, p. 62): “
Aprender é preciso, para viver. É preciso aprender a viver. E este viver não é algo
abstrato, mas algo que transcorre na polis, na sociedade organizada, na relação com os
outros. Nesta sábia colocação da autora, uma reflexão se faz presente: o trabalho do
professor, as opções metodológicas, precisam ampliar-se, ressignificar-se com vistas a
resultados de aprendizagem e contribuições significativas na formação dos estudantes, a
qual não se restringe ao espaço escolar.
Considerações Finais
Retoma-se neste momento de trabalho o problema de pesquisa: “Quais as
possíveis contribuições do origami como arte de dobrar papel para o ensino de
geometria?” e também os objetivos, sendo que delimitou-se como objetivo geral: refletir
sobre as possibilidades didáticas da adoção da técnica do origami no ensino de
geometria, para os alunos do nono ano do ensino fundamental. Define-se ainda, os
objetivos específicos: conhecer as diferentes abordagens sobre a arte da dobra e a
aplicação destas para a compreensão dos conceitos geométricos na Matemática; analisar
durante a realização de oficina, o posicionamento dos alunos sobre o uso do origami e
sua relação com os conceitos geométricos; identificar a dimensão didática do uso do
origami para o ensino da geometria.
Esta retomada é pertinente, pois é chegado o momento de reflexão sobre o
processo vivenciado, e para tanto evidencia-se a ideia de Rios (2014, p. 123): “ Quer
tarefa maior para a educação, que é nada mais, nada menos do que a construção
contínua da humanidade, partilha da cultura, configuração da cidadania, aposta no
aprimoramento da qualidade – das ações, das relações, do saber da vida?”
Tendo em vista a amplitude das palavras da autora, a partir do olhar sobre a
docência, o objeto de estudo pesquisado, as opções metodológicas descritas neste
trabalho, o caminho investigativo adotado na perspectiva de aproximar-se de possíveis
respostas à problemática proposta, necessários alguns apontamentos relevantes, dentre
estes aqueles relativos ao referencial teórico estudado.
Sobre o referencial, pode-se inferir que houve ampliação de conhecimentos e
conceitos, sejam os relacionados ao processo ensino-aprendizagem, à aula, ao papel do
professor mediador, a técnica do origami e suas relações com o ensino de geometria e
certamente a ideia de que a organização de situações de ensino precisam ser
desafiadoras, motivadoras e envolventes, trazendo sentido e significado para a formação
dos alunos.
A construção do referencial bibliográfico permitiu o reconhecimento de que o
ato de ensinar é complexo, requer diferentes saberes e compreensões e que ao mesmo
tempo é necessário reconhecer os saberes já construídos pelos alunos e que a relação
professor-aluno é construída também por meio das situações de aprendizagem, das
interações que são propiciadas aos estudantes. (MORALES, 2008, SAINT-ONGE,
2001, VEIGA, 2008, FREIRE, 2006, RIOS, 2014).
Já, sobre o origami, e suas possíveis relações com o ensino de geometria, foi
possível revisitar as produções de Aschenbach, 1993, Rego, Rego, Gaudencio Junior
(2003), Aschenbach, Fazenda, Elias, (1992), Imenes (1997), as Diretrizes Curriculares
Estaduais para o ensino de Matemática. Localiza-se neste referencial, elementos
preponderantes que auxiliam na compreensão sobre a dimensão didática do origami,
tendo em vista que os conceitos trabalhados por meio das dobras estão associados ao
ensino de geometria, porém, é necessário propiciar aos alunos situações de ensino que
os mobilizem, favoreçam o desenvolvimento do pensamento, na perspectiva de
visualizarem, compreenderem os conceitos ali expressos.
O ensino não se configura como mera transmissão, mas requer do professor um
trabalho planejado previamente, com objetivos claramente definidos, bem como o
domínio da construção do origami, que por constituir-se como uma técnica milenar traz
consigo saberes e peculiaridades que devem ser consideradas quando da adoção da
mesma em situações de ensino.
No que respeita à experiência da oficina, constatou-se que os estudantes
envolveram-se nas diferentes atividades propostas e revelam aspectos significativos,
quando manifestam não conhecer a técnica do origami, mas indicam que fazem
atividades com a dobra de papéis sem articulação com o conhecimento escolar, e não
relatam situações formais de ensino na realização das dobras.
Após a realização das oficinas percebe-se que os posicionamentos dos
estudantes passam a ter outro sentido, pois reconhecem nas dobras conceitos
geométricos, bem como articulam o uso do origami não só no ensino de conteúdos
matemáticos, mas também em outras disciplinas do currículo, registra-se então, um
olhar atento dos estudantes, que ao apropriarem-se dos saberes relativos ao origami,
passam a identificar outras possibilidades de aprendizagem e seu uso em atividades
cotidianas.
Mediante estas considerações, salienta-se a contribuição de Aschenbach,
Fazenda, Elias, (1992, p. 16): “[...] a dobradura pode ser classificada como um recurso
que concorre para a interdisciplinaridade dentro do currículo escolar, uma vez que
através dela, outras atividades podem ser estimuladas[...].”
Portanto, evidencia-se que há possibilidades didáticas do uso do origami no
ensino, tendo em vista o conhecimento e domínio desta arte milenar, bem como os
saberes que são próprios da docência, a compreensão da complexidade expressa no ato
de ensinar e aprender e as relações que dele decorrem e são construídas entre
professores e alunos.
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