OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · pela interrupção de corredores biológicos...

16
Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

Transcript of OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · pela interrupção de corredores biológicos...

Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

TRILHA ECOLÓGICA EM MATA CILIAR

E A PRESERVAÇÃO AMBIENTAL

João Nelson SimãoFilho¹

Mario Cezar Lopes²

Resumo: Este artigo apresenta o resultado da aplicação da implementação do projeto Trilha Ecológica em Mata Ciliar e a Preservação Ambiental, realizado no CEEP Olégario Macedo, situado no município de Castro. Com o desenvolvimento das atividades propostas, a intenção foi de conscientizar e sensibilizar o aluno que interagindo com a natureza, através de uma Trilha Ecológica na Mata Ciliar, passe a valorizar os recursos naturais e o meio ambiente, gerando uma mudança no pensamento humano, tornando-o crítico e reflexivo, melhorando assim a sustentabilidade de vida na Terra. Para que isto ocorra, é necessário um maior estudo do homem dos componentes da Mata Ciliar presente na bacia hidrográfica, para que possamos recuperar ou manter preservada a vegetação no desenvolvimento de atividades econômicas agropecuárias. O homem deve observar a natureza ao seu redor e respeitar a Lei Ambiental vigente no Estado, com isto ele irá garantir a sustentabilidade econômica, social e ambiental, para as gerações futuras. Com as atividades propostas e realizadas, o educando estará apto a superar as dificuldades que surgirem em sua vida profissional.

Palavras-chave: Trilhas ecológicas, Mata Ciliar, Lei Ambiental e Sustentabilidade

1 - Introdução

O presente artigo corresponde à etapa conclusiva do Programa de

Desenvolvimento Educacional – PDE 2013, com o objetivo de dar uma formação

continuada para os professores da rede pública.

Neste trabalho será descrito as atividades que foram realizadas na

implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola com o tema “Trilha

Ecológica em Mata Ciliar e a Preservação Ambiental”, fundamentadas nas

atividades da Unidade Didática Pedagógica, constituído por etapas, divididas em

quatro partes distintas. As atividades foram propostas aos alunos do curso Técnico

em Agropecuária Subsequente – 1ª Etapa, do CEEP Olegário Macedo, situado no

Município de Castro.

Os processos pedagógicos devem passar por reformulações para adaptar-se às

novas demandas educacionais profissionalizantes. O projeto justifica-se com a

intenção de conscientizar e sensibilizar os alunos, como cidadão crítico, com relação

______________________

¹ Professor PDE 2013, formado em Agronomia pela UEPG, pós graduado em Gestão Escolar ² Orientador. Professor do Departamento de Geografia da UEPG.

ao tema Mata Ciliar, visto que, as atividades agropecuárias realizadas pelos homens

no agronegócio, têm potencial poluente e causador de impacto ambiental, portanto

devem adequar-se ao novo Código Florestal para manter a sustentabilidade do

ambiente terrestre e da vida do homem no presente e das gerações futuras.

Diante da globalização, com o aumento da urbanização e com uma maior

expansão das áreas agrícolas, o homem em seu desenvolvimento econômico

passou a utilizar cada vez mais os recursos naturais para produzir alimentos e bens

de capital, para assim suprir e atender às necessidades da população mundial

crescente e cada vez mais exigente.

Os produtores rurais na busca por maiores produções agropecuárias e

lucros, estão contribuindo para aumentar os problemas ambientais como: alterações

e destruição da mata ciliar, causando a diminuição do fluxo gênico vegetal e animal

pela interrupção de corredores biológicos ciliares, levando-os a extinção; erosão do

solo e diminuição da oferta de água pela poluição dos mananciais, bem como o

assoreamento de rios, lagos e portos, diminuindo a biodiversidade dos ambientes

afetados.

Para proteger os recursos hídricos, garantindo a sustentabilidade do meio

ambiente, bem como a sobrevivência humana é necessário ampliar a pesquisa e o

estudo dos componentes da Mata Ciliar presente na bacia hidrográfica regional, para

que possamos recuperar ou manter preservada a vegetação em conjunto com o

desenvolvimento de atividades econômicas. O homem deve observar e respeitar a

Lei Ambiental vigente no Estado com isto ele irá garantir a sustentabilidade

econômica, social e ambiental do meio em que está inserido.

O homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças. Continua sujando a sua própria cama e há de morrer, uma noite, sufocado nos seus próprios dejetos. Depois de abatido o último bisão e domados todos os cavalos selvagens, quando as matas misteriosas federem à gente, quando as colinas escarpadas se encherem de fios que falam, onde ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águias? Terão ido embora. Restará dar adeus à andorinha da torre e á caça; o fim da vida e o começo da luta pela sobrevivência (Carta de Seattle, 1855).

2 – Fundamentação Teórica

Tendo em vista o desenvolvimento globalizado e o aumento demográfico

atual, existe a necessidade de aumentar a produção de alimentos, fazendo com que

o agronegócio aumente as fronteiras agrícolas. “Apesar da reconhecida importância

ecológica nos dias atuais, em que a água vem sendo considerada o recurso natural

mais importante para a humanidade, as matas ciliares continuam sendo eliminadas,

cedendo lugar para a especulação imobiliária, para a agricultura e a pecuária e, na

maioria dos casos, sendo transformadas apenas em áreas degradadas, sem

qualquer tipo de atividade produtiva.” (MARTINS, 2007, p. 20). Através desta

perspectiva, o homem está causando danos e destruição da Mata Ciliar, que

desempenha atividades importantes para a manutenção da qualidade de vida

humana, da biodiversidade vegetal e anima, não só para região que ela protege,

mas para toda uma cadeia de seres vivos.

“Ao alterar o ecossistema, também sofremos as consequências: o

desequilíbrio interfere na temperatura do planeta, na riqueza da biodiversidade, na

oferta de gêneros alimentícios e na paisagem” (SARRACENI, 2011, p. 76). Nesse

sentido pode-se observar a importância da preservação e recuperação da Mata

Ciliar para a sustentabilidade ambiental.

A Mata Ciliar é uma vegetação que está presente em vários biomas do Brasil

e ecossistemas regionais e tem por definição como um conjunto de árvores,

arbustos, cipós, capins e flores, que desempenham um importante processo de

preservação das margens de rios, lagos e arroios, pois suas raízes atuam como uma

barreira natural que retém e filtra a água das chuvas, que trazem elementos

poluentes como o lixo doméstico, esgotos e os agrotóxicos das lavouras, evitando a

contaminação dos mananciais hídricos.

Conforme a região, a mata ciliar recebe diferentes nomenclaturas, mas

sempre desempenhando a mesma função para designar a vegetação ciliar junto aos

cursos d’água, tais como: mata ciliar, mata de galeria, mata ripária, matas

ribeirinhas, matas ripícolas e mais recentemente Área de Preservação Permanente –

APP, de acordo com a nova legislação ambiental.

O agronegócio necessita adequar-se as novas leis ambientais. O novo

Código Florestal que traz na Lei 12.651, de 25/05/2012, Art. 3º, II, sobre a Área de

Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou não por vegetação

nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a

estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora,

proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas (Código Florestal,

2012).

Em uma visão global, no ambiente em que o ser humano está inserido e que

desenvolve seu trabalho, bem como o seu estilo de vida, é através da educação

ambiental que o educando pode aprender e ser sensibilizador na comunidade

escolar, familiar e social em que vive e assim atingir o objetivo de conhecer na

prática como é constituída a Mata Ciliar e a sua real importância, é necessário

colocá-lo em contato direto com o ambiente do tema em estudo, interagindo através

de uma trilha ecológica educacional, aumentando assim sua consciência reflexiva e

crítica como cidadão do mundo e responsável por um futuro de desenvolvimento

próspero e harmonioso entre homem e natureza.

Segundo Pontuschka (2007), o estudo do meio, como método que

pressupõe o diálogo, a formação de um trabalho coletivo e o professor como

pesquisador de sua prática, de seu espaço, de sua história, da vida de sua gente, de

seus alunos, tem como meta criar o próprio currículo da escola, estabelecendo

vínculos com a vida de seu aluno e com sua própria, como cidadão e como

profissional.

A sistemática utilizada para que o educando possa relacionar a teoria com a

prática através da aprendizagem não formal, utilizando de uma trilha ecológica na

Mata Ciliar como instrumento de educação pedagógica para a conscientização

ambiental, onde o aluno vai interagir com a natureza, passando a dar valor aos

recursos naturais e ao meio ambiente, gerando uma mudança no ser humano,

tornando-o crítico, reflexivo, melhorando assim a sustentabilidade de vida na Terra.

“A trilha mostra que a mata ciliar tem um papel fundamental na conservação

e que os projetos de recuperação de áreas degradadas nas beiras dos rios, lagos,

córregos e nascentes devem ser fomentados e disseminados, visando à melhoria da

qualidade de vida” (RAMOS et al., 2007). Com esse pensamento foi embasado a

implementação do projeto “Trilha Ecológica em Mata Ciliar e a Preservação

Ambiental”, procurando educar, conscientizar e sensibilizar o educando dentro do

tripé base da Agroecologia, na perspectiva agronômica, socioeconômica e

ambiental.

3 - Metodologia

A implementação do projeto Mata Ciliar foi realizado no Centro Estadual de

Educação Profissional Olegário Macedo, o qual possui uma área total de 514

hectares, sendo que aproximadamente 68% é de área de várzeas e mata ciliar, e

1,5% de mata nativa, perfazendo aproximadamente 357 hectares de preservação

permanente, e o restante é distribuído em construções e projetos agropecuários.

As ações foram realizadas com os alunos do curso Técnico em

Agropecuária - Subsequente, visando à articulação do tema Mata Ciliar com as leis

de preservação ambiental, utilizando também uma trilha ecológica, buscando a

interação do aluno diretamente com o ambiente natural em estudo, visto que nos

dias atuais esse contato está cada vez menor.

O objeto central de estudo é a Mata Ciliar, suas características e

particularidades regionais, ampliando os conhecimentos através de temas

correlacionados como a nova Lei Ambiental, a sustentabilidade do agronegócio,

juntamente com a preservação do meio ambiente.

Os conhecimentos foram fixados através do contato dos alunos com a Mata

Ciliar do Colégio, através da trilha, onde foi realizado um levantamento florístico das

espécies presentes no ecossistema.

Essa abordagem metodológica do tema foi dividido em quatro partes, onde

foram desenvolvidas as atividades pertinentes ao assunto.

Na 1ª parte contemplou a reflexão e a conscientização sobre a preservação

ambiental, procurou sensibilizar o aluno, desenvolvendo o seu senso crítico sobre a

realidade do ambiente.

A 2ª parte foi utilizada para um maior conhecimento do tema Mata Ciliar e a

sua importância para os recursos hídricos, flora e fauna, bem como a

sustentabilidade ambiental.

A 3ª parte foi utilizada para a atividade de abertura da trilha, demarcações de

parcelas, levantamento florístico e identificação de seus componentes,

transformando em material de estudo, pesquisa, observação e lazer contemplativo.

E a 4ª parte, trouxe a abordagem dos estudos sobre a nova Lei Ambiental,

buscando uma adequação correta das propriedades, quanto à área de preservação

permanente e reserva legal e apresentação sobre o tema durante a Feira de

Ciências do Colégio.

“Para pensar a formação continuada de educadores(as) e educandos(as), há

a necessidade de se trazer a realidade enfrentada pelos sujeitos para a vivência da

sala de aula, independente da modalidade de ensino, para a construção do

conhecimento ressignificado” (GHEDINI et al., 2013, p. 26).

4 – Implementação das Atividades

O primeiro contato do Projeto dentro do CEEP Olégario Macedo, foi a

apresentação do mesmo para a direção, equipe pedagógica, professores e

funcionários, durante a primeira Semana Pedagógica de 2014, através do banner

onde constam as informações a respeito do projeto, com o intuito de esclarecer e

mobilizar a comunidade escolar quanto a necessidade e a importância do Projeto

para a formação dos educandos e da preservação e recuperação da Mata Ciliar.

Conforme a metodologia adotada para a implementação do Projeto “Trilha

Ecológica em Mata Ciliar e a Preservação Ambiental”, apresentado na Produção

Didático-pedagógica, o tema foi dividido em quatro partes a serem trabalhadas

distintamente visando educar, conscientizar e sensibilizar o educando para tomadas

de decisões referentes ao assunto tratado. O seu desenvolvimento cronológico

sofreu alterações devido às condições climáticas que afetaram as atividades de

campo por conta de alta pluviosidade, ocasionando alagamento na região da várzea

em estudo, bem como os recessos do Calendário Escolar, devido aos jogos da

Copa.

Durante as atividades de implementação junto aos alunos, foi desenvolvido o

Grupo de Trabalho em Rede (GTR) com professores da rede estadual de diversas

localidades do Paraná. Participaram muitos professores de área técnica, bem como

professores do regular e pedagogos, o que tornou a discussão sobre o tema do

projeto uma participação interdisciplinar onde cada um colaborou com a realidade de

sua formação e sobre o ponto de vista de sua instituição.

No desenvolvimento do GTR, pode-se notar que o tema apresentou uma

boa repercussão e gerou muitas discussões e contribuições entre os participantes,

visto que muitos deles já haviam desenvolvido ou estavam desenvolvendo

atividades de proteção e sustentabilidade ambiental como trilhas, projetos de

observação e coleta de lixo no entorno das escolas. Conclui-se então que o tema do

projeto é considerado de extrema relevância para o desenvolvimento e

conscientização ambiental dos educandos por parte dos seus educadores, que

estão em constante aperfeiçoamento e visando atender temas atuais e que se

relacionam com o meio em que estão inseridos.

O início da implementação junto aos alunos se deu através da apresentação

do banner e socialização de todas as atividades, enaltecendo a importância dos

temas desenvolvidos para a realidade regional e ambiental de cada um. Foi

solicitada a participação e colaboração de todos, para que a contextualização da

teoria na prática do projeto e assim pudessem alcançar o objetivo e resultado

esperado.

A primeira atividade juntamente com os alunos foi assistir a um vídeo

informativo “Mata Ciliar – Sema” acessado pelo endereço

http://www.youtube.com/watch?v=WQ24fkCq9IQ,, visando dar uma introdução a

respeito do tema, repassando informações através de imagens para que o educando

já tivesse uma noção do que seria trabalhado.

Dando continuidade a atividade dentro de sala de aula, foi levado ao

conhecimento dos alunos a “Carta de Seattle” (anexo A), a qual foi escrita no ano de

1855, que retrata a realidade da época com relação à preocupação dos indígenas

quanto ao futuro do meio ambiente e da humanidade. Com a leitura da carta os

alunos elaboraram um estudo comparativo com os problemas encontrados nos dias

atuais e observou-se que os alunos refletiram e transcreveram demonstrando terem

um conhecimento da realidade ambiental do meio em que estão inseridos. Essa

ação condiz com Berté (2012) “Assim, o fator que distingue esse ser

simultaneamente social e integrante da natureza é o conhecimento, ferramenta que

lhe permite modificar a ordem socioambiental”.

Antes de dar continuidade à parte teórica da implementação, começaram os

preparativos para a abertura da Trilha, repassando conhecimento de alternativas de

trilhas ecológicas para uma contemplação, pesquisa e estudo responsável da

natureza, integrando o educando com o meio ambiente. Foram formadas as equipes

para a realização das atividades de pesquisa no campo e o repasse de informações

básicas de segurança, cuidados e precauções a serem usadas durante a realização

da atividade, tais como, uso de botas, chapéu, calças e camisas de manga

comprida, repelente e filtro solar para proteção, bem como água e lanche.

A primeira atividade de campo foi levar todos os alunos para uma caminhada

de reconhecimento na Mata Ciliar do CEEP, sendo que esta atividade entusiasmou

os alunos por ser fora da sala de aula, trazendo saberes diferenciados no contato

direto com a natureza e uma interação da turma entre si, gerando uma ansiedade

para iniciar os trabalhos de abertura da trilha.

Figura 1 – Primeira atividade de campo no reconhecimento da Trilha.

Fonte: Arquivo pessoal do autor

Retornando para a sala de aula, os alunos formaram grupos para a leitura do

texto “O que são Matas Ciliares e Reservas Legais”, para em seguida realizarem

uma pesquisa sobre outras denominações e os benefícios da preservação da Mata

Ciliar para o meio ambiente. Foi apresentado também o Novo Código Ambiental,

estimulando a pesquisa e o compartilhamento de ideias e dúvidas sobre as

definições atuais sobre Reserva Legal e Área de Preservação Permanente (APP),

que fazem parte do Cadastro Ambiental Rural (CAR), esclarecendo pontos para

alunos que são filhos de proprietários rurais e que muitas vezes desconhecem

informações necessárias para adequar-se ao novo Código.

Com as equipes de campo organizadas, foi lido o texto “Estabilidade do

regime hídrico e amenização climática” para dar suporte e embasamento teórico

para a prática de coleta de dados de temperatura em tabela nos ambiente

impermeabilizado, ambiente com e sem cobertura vegetal, capão do mato do CEEP

e na Mata Ciliar, conforme.

A coleta foi realizada pelas equipes de manhã, ao meio-dia e ao final da

tarde, durante três semanas, e após esse período as equipes de posse dos dados

das temperaturas registradas elaboraram gráficos comprovando as diferenças de

oscilações diárias em diferentes ambientes. Concluíram que os ambientes com

cobertura vegetal apresentam menor oscilação diária de temperatura do que em

ambientes impermeabilizados e sem cobertura vegetal.

A leitura dos texto “Desenvolvimento Ambiental Sustentável”, “Em busca de

uma agricultura sustentável” e juntamente com o texto “Significado de Bioma”, foram

trabalhados diretamente dentro da disciplina de Agroecologia nos conteúdos de

agricultura sustentável, tipos de agricultura e biodiversidade, previstos na ementa.

Esses conteúdos deram embasamento para a realização de uma pesquisa

sobre os biomas do Paraná e no qual o CEEP Olégario Macedo está inserido. A

pesquisa dos alunos chegou ao resultado que os biomas principais do Paraná são o

cerrado e a mata atlântica, onde o município de Castro apresenta os dois biomas

sendo que o bioma do CEEP é de cerrado com campos brejosos.

Após o reconhecimento do local onde seria desenvolvida a Trilha Ecológica

os trabalhos de campo tiveram uma paralisação devido às chuvas em demasia que

provocou um alagamento da várzea e da Mata Ciliar, impossibilitando por um

determinado período a realização das atividades.

As atividades foram retomadas quando as condições do ambiente estavam

favoráveis e seguras para os alunos que estavam ansiosos para o início da jornada

de atividades fora de sala de aula.

O inicio do trabalho em campo foi à demarcação da Trilha utilizando o

caminho de pescadores e animais, evitando um maior impacto dentro do ambiente.

Nesta fase os alunos removeram obstáculos para tornar a trilha mais segura e

aproveitaram para coletar o lixo encontrado no caminho, deixado por pescadores, e

também trazido pela água do rio durante os períodos de alagamento. Com essa

experiência de coleta de lixo nota-se a degradação do ambiente ciliar visto que as

mesmas desempenham a função de área tampão e amortecimento, filtrando restos

de defensivos agrícolas, adubos, sedimentos de terra provenientes da erosão de

lavouras, bem como lixo proveniente ocupação humana.

Na sequência os alunos retomaram as atividades na trilha com a medição da

área percorrida que ficou num total de quinhentos metros corridos na qual foi

inserida cinco parcelas de cem metros quadrados, perfazendo um total de

quinhentos metros quadrados, no qual foi efetuado um levantamento florístico das

espécies encontradas nas parcelas através de identificação com manuais, de

funcionários com conhecimento mateiro e dos alunos que possuíam conhecimento

de espécies vegetais.

Figura 2 – Alagamento Figura 3 – Demarcação de parcela

Fonte: Arquivo pessoal do autor

No levantamento florístico das parcelas, realizado pelos alunos foram encontradas

as seguintes espécies: aroeira do paraná (Schinus terenbinthifolia Raddi), branqinho

(Sebastiania brasilienses Spreng), camboim (Myrcia multiflora Lam. DC.),

camboizinho (Myrcia selloi Spreng), canela branca (Nectandra membranácea

Swartz), caúna (Ilex theezans Mart. ex Reissek), cinzeiro (Hirtella hebeclada Moric),

corticeira do banhado (Erythrina crista-galli L.), embira de sapo (Lonchocarpus

campestris Mart. ex Benth) e tarumã (Vitex montevidensis Cham). Fora das parcelas

também foram encontradas outras espécies que foram somente observadas, tais

como: agulheiro, açúcara, palmeira jerivá, salta martinho, bracatinga da várzea e

japecanga. Essa atividade de identificação teve uma maior dificuldade devido as

plantas serem deciduais e estacionais por não apresentarem em sua maioria nem

folhas, flores o frutos.

Figura 4 – Fixação das placas com a identificação

Fonte: Arquivo pessoal do autor

Depois de feita a identificação, foram confeccionadas placas pelos alunos

com o nome comum e científico, as quais foram fixadas nas árvores com fio de

telefonia que é encapado e não prejudica a árvore. Após encerradas todas as

atividades com os alunos e comunidade escolar, as mesmas serão retiradas.

Na sequência das atividades, foi abordado o assunto sobre o Novo Código

Ambiental com estudos em classe através de leitura e discussões sobre tema

Reserva Legal (RL) e Área de Preservação Permanente (APP), visando a

adequação das propriedades ao Cadastro Ambiental Rural (CAR). Os alunos

realizaram uma pesquisa mais aprofundada e entregaram em forma de trabalho

escrito individual. Para ressaltar e reforçar o tema foi realizada uma palestra sobre o

novo Código Ambiental, ministrada pelo Professor Diógenes e acadêmicos

participantes do projeto Entre Rios do Laboratório de Mecanização Agrícola (LAMA)

da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). A palestra foi proveitosa, visto

que, esclareceu dúvidas a respeito sobre legislação e abordagem do tema da

implemenatação, contribuindo para ampliar os conhecimentos teórico e de pesquisa

dos futuros Técnicos Agrícola do CEEP Olegário Macedo.

Voltando a sala de aula foi feita a escolha da denominação da Trilha, onde

os alunos sugeriram nomes e foi feita a escolha. Todos optaram pelo nome “Trilha

Meia Canela”, sugerido pelo fato que durante as atividades de campo, muitas vezes

foram impedidos de realizar a prática pela situação de alagamento, onde a água

chegava no meio da canela, segundo os alunos. Foi confeccionada uma placa pelos

alunos e fixada no inicio e fim da trilha.

Figura 5 e 6 – Denominação da Trilha

Fonte: Arquivo pessoal do autor

Foram apresentadas aos alunos fotos aéreas antigas da região das

proximidades do CEEP, fornecidas pelo Professor-Tutor Mario Cesar Lopes, as

quais foram comparadas com imagens atuais através de ferramentas da Internet,

onde os alunos puderam notar diferenças ocorridas na várzea da bacia do Rio Iapó

com a construção de diques para o desenvolvimento da agricultura, bem como uma

diminuição da mata ciliar, da reserva hídrica regional e prejudicando também a

piracema que ocorria nas áreas de alagamento.

A última atividade da implementação, envolvendo o tema do projeto foi

apresentação dos trabalhos e resultados na Feira de Ciências organizada pelo

CEEP todos os anos. Os alunos construíram uma maquete de área com

preservação ambiental e área sem preservação ambiental, demonstrando o impacto

de atividades efetuadas pela agropecuária no ambiente em estudo. Foi apresentado

também maquetes com diferentes tipos de cobertura de solo demonstrando as

diferenças de oscilações de temperaturas através de gráficos.

Os alunos davam explicações sobre a Mata Ciliar e sobre a trilha para os

visitantes de outras escolas que participaram da feira, demonstrando que eles

conseguiram assimilar e repassar as informações que receberam durante a

implementação do projeto.

5 – Considerações Finais

Concluídas todas as atividades propostas pela Implementação do Projeto

“Trilha Ecológica em Mata Ciliar e a Preservação Ambiental”, com a colaboração dos

alunos do CEEP Olégario Macedo obteve-se a certeza de que houve uma acréscimo

na educação, conscientização e sensibilização ambiental de todos os envolvidos.

A construção da Trilha trouxe para o processo pedagógico teórico um

desenvolvimento atrativo e construtivo para os educandos, que tiveram na prática de

campo um momento de reflexão e interação com a natureza e o meio ambiente e

passando a respeita-la, mas principalmente a de uma interação de amizade e

companheirismo entre si, explicitamente demonstrada durante as atividades.

Com o término das atividades sugeridas observou-se que a preservação da

Mata Ciliar é de extrema importância, mesmo tendo um amparo legal é necessário

uma maior compreensão e estudos de temas relacionados ao meio ambiente,

visando adequar-se as leis, sanar problemas e recuperar áreas degradadas,

respeitando o ambiente em que se está inserido.

As ações tomadas com relação à preservação ambiental, assegura as

atividades agropecuárias, gerando desenvolvimento econômico no presente, sendo

que a sustentabilidade ambiental vai garantir assim a sobrevivência das gerações

futuras.

5 - Referências Bibliográficas

BERTÉ, Rodrigo. Gestão Socioambiental no Brasil. Curitiba. Ibpex, 2012. p. 48.

Carta de Seattle. Disponível em http://www.culturabrasil.pro.br/seattle1.htm, Acesso

em 28 de maio de 2013.

CÓDIGO FLORESTAL. Página do Planalto. Disponível em

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12651.htm. Acesso

em 30 de maio de 2013.

GHEDINI, Cecília Maria [et al.]. Um Processo Inovador na Educação do Campo:

Alguns Olhares. Matinhos. Ed UFPR Litoral, 2013. p. 26.

MARTINS, Sebastião Venâncio. Recuperação de Matas Ciliares. Viçosa. CPT, 2007.

p. 20.

PONTUSCHKA, Nídia Nacib [et al.]. Para ensinar e aprender Geografia. São Paulo.

Cortez, 2007. p. 175.

RAMOS, [et al.] IMPLEMENTAÇÃO DE TRILHA ECOLÓGICA PARA EDUCAÇÃO

AMBIENTAL EM ÁREA DE MATA CILIAR NA FLORESTA ESTADUAL DE ASSIS,

INSTITUTO FLORESTAL, SP. Disponível em

http://www.iflorestal.sp.gov.br/publicacoes/serie_registros/IFSerReg31/83-87.pdf.

Acesso em 03 de junho de 2013.

SARRACENI, Vinicuis. Atlas Ambiental: Castro, PR, Brasil. São Paulo. Geodinâmica,

2011. p. 76.

ANEXO A – Carta de Seattle de 1855

"O grande chefe de Washington mandou dizer que quer comprar a nossa

terra. O grande chefe assegurou-nos também da sua amizade e benevolência. Isto é

gentil de sua parte, pois sabemos que ele não necessita da nossa amizade. Nós

vamos pensar na sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco

virá com armas e tomará a nossa terra. O grande chefe de Washington pode

acreditar no que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos

brancos podem confiar na mudança das estações do ano. Minha palavra é como as

estrelas, elas não empalidecem.

Como pode-se comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia é

estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do brilho da água. Como pode

então comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre as coisas do nosso tempo. Toda

esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas as praias de

areia, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os insetos a

zumbir são sagrados nas tradições e na crença do meu povo.

Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver.

Para ele um torrão de terra é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de

noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga,

e depois de exaurí-la ele vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem

remorsos. Rouba a terra de seus filhos, nada respeita. Esquece os antepassados e

os direitos dos filhos. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os

desertos. Suas cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, mas

talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende.

Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. Nem lugar

onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o zunir das asas

dos insetos. Talvez por ser um selvagem que nada entende, o barulho das cidades é

terrível para os meus ouvidos. E que espécie de vida é aquela em que o homem não

pode ouvir a voz do corvo noturno ou a conversa dos sapos no brejo à noite? Um

índio prefere o suave sussurro do vento sobre o espelho d'água e o próprio cheiro do

vento, purificado pela chuva do meio-dia e com aroma de pinho. O ar é precioso

para o homem vermelho, porque todos os seres vivos respiram o mesmo ar,

animais, árvores, homens. Não parece que o homem branco se importe com o ar

que respira. Como um moribundo, ele é insensível ao mau cheiro.

Se eu me decidir a aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve

tratar os animais como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo

que possa ser de outra forma. Vi milhares de bisões apodrecendo nas pradarias

abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem. Sou um

selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais

valioso que um bisão, que nós, peles vermelhas matamos apenas para sustentar a

nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os animais

acabassem os homens morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto

acontece aos animais pode também afetar os homens. Tudo quanto fere a terra, fere

também os filhos da terra.

Os nossos filhos viram os pais humilhados na derrota. Os nossos

guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo

em ócio e envenenam seu corpo com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não

tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias. Eles não são

muitos. Mais algumas horas ou até mesmo alguns invernos e nenhum dos filhos das

grandes tribos que viveram nestas terras ou que tem vagueado em pequenos

bandos pelos bosques, sobrará para chorar, sobre os túmulos, um povo que um dia

foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.

De uma coisa sabemos, que o homem branco talvez venha a um dia

descobrir: o nosso Deus é o mesmo Deus. Julga, talvez, que pode ser dono Dele da

mesma maneira como deseja possuir a nossa terra. Mas não pode. Ele é Deus de

todos. E quer bem da mesma maneira ao homem vermelho como ao branco. A terra

é amada por Ele. Causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo Criador. O

homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras

raças. Continua sujando a sua própria cama e há de morrer, uma noite, sufocado

nos seus próprios dejetos. Depois de abatido o último bisão e domados todos os

cavalos selvagens, quando as matas misteriosas federem à gente, quando as

colinas escarpadas se encherem de fios que falam, onde ficarão então os sertões?

Terão acabado. E as águias? Terão ido embora. Restará dar adeus à andorinha da

torre e à caça; o fim da vida e o começo pela luta pela sobrevivência.

Talvez compreendêssemos com que sonha o homem branco se

soubéssemos quais as esperanças transmite a seus filhos nas longas noites de

inverno, quais visões do futuro oferecem para que possam ser formados os desejos

do dia de amanhã. Mas nós somos selvagens. Os sonhos do homem branco são

ocultos para nós. E por serem ocultos temos que escolher o nosso próprio caminho.

Se consentirmos na venda é para garantir as reservas que nos prometeste. Lá talvez

possamos viver os nossos últimos dias como desejamos. Depois que o último

homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma

nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará a viver nestas

florestas e praias, porque nós as amamos como um recém-nascido ama o bater do

coração de sua mãe. Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos.

Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueça como era a terra quando dela

tomou posse. E com toda a sua força, o seu poder, e todo o seu coração, conserva-

a para os seus filhos, e ama-a como Deus nos ama a todos.

Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é querida

por Ele. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum.