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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

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FILOSOFIA, NOVAS TECNOLOGIAS E PAULO FREIRE: PROPOSTA DE EMANCIPAÇÃO NO CEEBJA DE CORNÉLIO PROCÓPIO

Autor: Marcílio Donizete Vieira1 2

RESUMO Este artigo aborda, sob a égide da Filosofia, o conceito de emancipação humana e sua relação com as tecnologias digitais na educação, mais especificamente o uso do computador e da internet, esclarecendo o sentido da educação emancipatória a partir da abordagem de Paulo Freire para a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Assim, busca-se nos conceitos filosóficos freireanos a idéia de emancipação como humanização e superação dos condicionamentos históricos e sociais. Para tanto, possui como problema, que se tornou também o objetivo geral, analisar qual a percepção do aluno de EJA em relação à contribuição das novas tecnologias no aprendizado de Filosofia. Referenda esta pesquisa uma metodologia com abordagem qualitativa, apoiada numa pesquisa bibliográfica e estudo de campo. Constata-se que, para a concretização de uma educação filosófica, não se pode prescindir do exercício de pensar criticamente a própria técnica e o conhecimento. Isso implica numa reflexão sobre o ser humano, sobre sua presença no mundo e com o mundo, que são exigências basilares de uma educação democrática à altura dos desafios atuais. Sugere-se uma reconstrução filosófica freiriana conceitual que seja capaz de conduzir os alunos da EJA à apropriação de um sentido coletivo e político, reafirmando uma concepção de educação capaz de construir no ser humano a sua cidadania plena, não utópica.

Palavras-chave: Filosofia Freiriana. Educação de Jovens e Adultos. Novas

Tecnologias.

Professor de Filosofia – CEEBJA Ensino Fundamental e Médio - Cornélio Procópio - Paraná.

Orientador Prof. Me João Vicente Hadich Ferreira - UENP – Campus Cornélio Procópio - Paraná.

INTRODUÇÃO

Diante de tantas mudanças sociais, culturais e tecnológicas

contemporâneas, percebe-se a necessidade de acompanhar essas evoluções

na modalidade EJA de educação, uma vez que entendê-las são de

fundamental importância para o progresso e emancipação de um indivíduo

numa determinada sociedade. Tendo em vista a oferta de uma educação de

qualidade para jovens e adultos (EJA) que leve em consideração uma proposta

educacional alternativa para o ensino médio, a Filosofia é uma disciplina que

abre espaço para a reflexão da própria vida em sociedade, onde os alunos

possam compreender melhor a realidade na qual estão inseridos, tendo acesso

ao saber que os oportunize a tomar decisões como sujeitos ativos de sua

própria história. Diante disso, faz-se pertinente que as tecnologias estejam

presentes, já que favorecem, juntamente com a Filosofia, uma educação

emancipadora para EJA, pois permeiam o trabalho e grande parte das

atividades humanas contemporâneas. Explicitar o pensamento do educador

Paulo Freire sobre uma práxis filosófica e tecnológica de forma organizada,

expondo suas ideias e fatos das suas obras, se explica devido à quantidade de

suas contribuições para essas áreas no trabalho com estudantes da EJA.

Dado isso, há que se valorizar a filosofia freiriana, já que propicia ao

aluno da EJA a obtenção de uma visão filosófica ampla de ver o mundo,

possibilitando levantar soluções, proporcionando um olhar vivenciado de forma

crítica, atuante em todas as concepções da vida prática, favorecendo, dessa

forma, o processo emancipatório humano desses alunos.

A educação de qualidade social e conceitual representa uma dívida que

o Brasil possui com milhões de cidadãos que nunca tiveram acesso a escola.

Nos últimos anos o país passou a preocupar-se de forma mais incisiva com

educação de jovens e adultos, pois, o senso populacional realizado há algum

tempo problematizou a questão e desencadeou preocupações das políticas

públicas e mobilização da sociedade civil.

O pensamento filosófico de Paulo Freire, o estudo dos textos filosóficos

por meio das tecnologias, deve levar em conta o fato de o indivíduo refletir,

discutir, argumentar, criar e recriar sua própria cultura. Assim, para os jovens e

adultos, geralmente advindos das classes assalariadas, devem ter acesso ao

conhecimento produzido pela humanidade que, na escola, é conduzido por

meio dos conteúdos curriculares. Seu pensamento sofreu influências de

diversas correntes filosóficas e se pauta na busca da independência crítica do

homem, ou seja, sua libertação e emancipação. Assim, em oposição à algumas

correntes, aborda-se neste estudo a educação como formação da totalidade do

humano, por isso também será pensado tanto os aspectos políticos, éticos

quanto os estéticos, envolvidos na proposta de educação para a autonomia dos

alunos. Mediante a proposta de uma educação direcionada à liberdade, pode-

se presenciar um novo mapa educacional, almejando um ensino que, por meio

do diálogo, uma conversação entre professor e aluno, cria-se uma enorme

interação. O conhecimento é, desta forma, alcançado quando há um ensino

dialógico, quando o aluno é participante ativo na construção desse

conhecimento, daí a transformação.

Existindo conflitos formativos que conglomeram tanto o campo da

apreensão quanto a construção do conhecimento e o campo das atitudes e,

portanto, reconhecido como ético, reflete um modelo social orientado pela

corrente tecnicista instrumental, e, não é isso o que se almeja. Essa educação

não aborda sua totalidade formativa, se despontando, portanto, como

insuficiente na formação do aluno enquanto homem e cidadão. Dessa forma,

sociedade e escola acabam gerando um ser humano incapaz de formular

juízos próprios e autônomos, incapaz de pensar de forma autônoma. O que se

pretende é uma educação formal que conduza a uma razão emancipatória,

humanizadora e dialética, que encaminhe os alunos a se formarem seres

independentes e determinados, e não sujeitos a ideias predeterminadas pelos

meios de comunicação ou pelo senso comum. A autonomia supõe que o aluno

seja capaz de fazer uso de sua liberdade para emancipar-se.

Para tanto, esta pesquisa possui como problema, que se tornou também

o objetivo geral, analisar qual a percepção do aluno de EJA em relação à

contribuição das novas tecnologias no aprendizado de conceitos filosóficos

freireanos. Referenda esta pesquisa uma metodologia com abordagem

qualitativa, apoiada numa pesquisa bibliográfica e estudo de campo, com relato

de experiência.

Encontra-se no decorrer da pesquisa a introdução do trabalho, a

apresentação do conceito de Filosofia e seu sentido para a educação de jovens

e adultos, e em seguida, a filosofia freiriana, com aspectos da tecnologia digital.

Em seguida, comenta-se a respeito das atividades realizadas durante a oficina

pedagógica – implementação PDE. Nas considerações finais busca-se mostrar

a percepção do aluno em relação às tecnologias, além de mostrar as

possibilidades dos recursos do computador e da internet para a educação de

jovens e adultos.

CONCEITO DE FILOSOFIA E SENTIDO PARA A EDUCAÇÃO

Para Cunha (1992) a filosofia discute a realidade do ponto de vista da

totalidade, de um conjunto de entendimento do problema, relacionando

aspectos observados do contexto em que está inserido. Ela não faz juízos de

realidades como a ciência, mas sim juízos de valor, significando, assim, que ao

filosofar, se vai além, portanto, é ir além do que é, é buscar entender como

deveria ser, julgando o valor da ação e ir à busca de significados. Desta

maneira, a Filosofia surge quando um pensar torna-se objeto de uma reflexão e

se constitui a análise crítica dos conceitos fundamentais da pesquisa humana,

uma discussão normativa de como o pensamento e a ação humana devem

funcionar, portanto, é a definição da natureza da realidade.

De acordo com Brangatti (1993) conceitua-se a filosofia como uma

reflexão das inquietações que a realidade impõe, já que ela não é abstração

independente da vida, é a manifestação humana e sua mais alta expressão,

pois traduz o sentir, o pensar e o agir do ser humano, e, nisso, a ajuda da

filosofia é fundamental.

Outra definição de Filosofia, segundo Aranha (2009) é que ela consiste

em pensar sobre o pensamento, permitindo ressaltar seu caráter e tratá-la

como uma reflexão sobre gêneros particulares de pensamento, formação de

crenças e de conhecimento sobre o mundo. Este ramo do conhecimento

também pode ser caracterizado pelos conteúdos ou temas tratados, pela

função que exerce na cultura e pela forma como trata tais temas. Com relação

aos conteúdos, na atualidade a Filosofia trata de conceitos como o bem,

beleza, justiça, verdade. Assim, a filosofia, em sua trajetória histórica, busca

respostas para questões percebidas, e, a cada época, são respondidas a partir

de diferentes reflexões que compõem correntes ou escolas de pensamentos.

Segundo Cunha (1992),

Os primeiros filósofos foram os pré-socráticos, e eram principalmente, metafísicos, preocupados em estabelecer as características essenciais da natureza no seu todo. Platão e Aristóteles escreveram sobre metafísica e ética; Platão sobre o conhecimento; Aristóteles sobre lógica (dedutiva), a técnica mais rigorosa para justificar crenças; estabeleceu as suas regras de uma forma sistemática e manteve intacta a sua autoridade durante mais de 2000 anos. Na Idade Média, ao serviço do cristianismo, a filosofia apoiou-se primeiramente na metafísica de Platão, e em seguida na de Aristóteles, com o propósito de defender crenças religiosas. No Renascimento, a liberdade de especulação metafísica ressurgiu; na sua fase tardia, com Bacon e, de um modo mais influente com Descartes e Locke, dirigiu-se para a epistemologia com o objetivo de

ratificar e, tanto quanto possível, acomodar a religião e os novos desenvolvimentos das ciências naturais. (CUNHA, 1992, p.99).

Diante disso, a Filosofia merece ser valorizada por si própria, e não por

seus efeitos indiretos de ordem prática. E a melhor maneira de se assegurar

seus bons efeitos práticos é que haja dedicação em encontrar a verdade. Por

meio desses conhecimentos de outrora, entende-se que ocasionalmente,

duvida-se e questionam-se crenças. A ética, ou filosofia moral, para a autora,

pretende articular, de maneira racional e sistemática, as regras ou princípios

subjacentes na sociedade. (Deleuze e Guattari, 1992).

Segundo Deleuze e Guattari (1992):

É possível darmos uma definição sobre a filosofia? Ou, podemos chegar a um consenso sobre o que é a filosofia?... Podemos dizer que a filosofia consiste em criar conceitos. Com isso, a própria definição do conceito sofre uma mudança, pois, se a filosofia não é uma simples arte de formar, de inventar ou de fabricar conceitos, implica que os conceitos não são necessariamente formas, achados ou produtos. O conceito é algo criado e, como tal, implica uma habilidade que só ao filósofo pertence, uma atividade à qual consiste propriamente o nome de filosofia. (DELEUZE e GUATTARI, 1992 p.13).

Sendo assim, o conceito está implicado num conjunto de relações em

constante devir filosófico, e, como devir, a filosofia não pode ser considerada

uma noção de temporalidade que se restringe à relação presente-passado,

antes sim à relação atual-virtual. Nesse contexto, a relação da Filosofia com a

educação assume enorme importância por se confrontar com novos desafios,

analisando, interpretando, entendendo como se processa a ação docente e

discente. Oferecer lugar à Filosofia no processo educacional significa

considerar a necessidade que todos os jovens têm de pensar e de questionar,

de voltar-se sobre seu pensamento e refinar suas respostas, para que tenham

uma chance real de explorar assuntos de importância para a transformação de

suas vidas.

Recorrendo à Aranha (2009), é a partir das relações que estabelecem

entre si que os homens criam padrões de comportamentos, instituições e

saberes, cujo aperfeiçoamento é feito pelas gerações sucessivas, o que lhes

permite assimilar e modificar os modelos valorizados em uma determinada

cultura. E, nesse sentido, é a educação que mantém viva a memória dos povos

e lhes dá condições para sua sobrevivência, e, sendo assim, ela se firma como

instancia mediadora que torna possível a reciprocidade entre indivíduo e

sociedade.

Buscando em Luckesi (1994):

Enquanto a educação trabalha com o desenvolvimento dos jovens e das novas gerações de uma sociedade, a filosofia é a reflexão sobre o que e como devem ser ou desenvolver estes jovens e a sociedade. O educando, que é, o que deve ser, qual o seu papel no mundo; o educador quem é, qual o seu papel no mundo; a sociedade, o que é, o que pretende; qual deve ser a finalidade da ação pedagógica. Estes são alguns problemas que emergem da ação pedagógica dos povos para a reflexão filosófica, no sentido de que esta estabeleça pressupostos para aquela. (LUCKESI, 1994, p.31).

O ensino filosófico, seja com as crianças, com os adolescentes e com os

jovens, deve contribuir para a formação de uma consciência crítica, abrir o

entendimento para as formas atuais de dominação e opressão que estão

presentes em todas as relações sociais da vida, manifestadas por ideologias e

convenções. Deve-se aprender a pensar, através da Filosofia, fazendo-se uma

crítica constante a cultura dominante e as manifestações que levam todos a um

pragmatismo reducionista da vida. Desta forma, a educação pode oferecer o

entendimento de se reconhecer que todos os homens são filósofos enquanto

pensam e agem racionalmente, de forma emancipadora. (LUCKESI, 1994).

Logo, Cunha (1992), aponta que a filosofia não faz juízos de realidade

da forma como a ciência faz, porém faz juízos de valor. Em outras palavras,

quer dizer que filosofar é ir além, é procurar entendimento, saber julgar e

criticar o valor da ação, ir em busca de uma concepção de filosofia que origina

um pensar e transforma em objeto de reflexão. A atitude filosófica caracteriza-

se, assim, pela indagação, principalmente em relação à educação, visto que a

mesma vem sofrendo inúmeras transformações ao longo dos tempos. A visão

da filosofia sempre mostrou que a educação é válida em qualquer época da

vida humana, independente da cultura e época. Aristóteles e Platão já faziam

concepções de ensino de acordo com o contexto vivenciado em suas vidas.

Por conseguinte, como o saber é necessário, a educação é o meio de adquirir

esse saber, mas é necessário a crítica e o pensamento para que não haja

enganos.

Aqui cabe salientar a afirmação de Ferreira (2009) corroborando a tese

de que a Educação Filosófica é condição fundamental para se atingir uma

situação de emancipação efetiva por meio da discussão e do estabelecimento

de fundamentos a partir de uma prática e de bases coerentes. Exemplo desta

perspectiva que pode ser trabalhada com os alunos da EJA no conteúdo

estruturante Filosofia Política é apresentada por Ferreira (2009) quando faz os

seguintes questionamentos:

A filosofia política está preocupada com o conceito de política, do que vem a ser política. Por exemplo, existe uma política apenas? Ou são várias políticas? Quando falamos em políticas públicas, necessariamente estamos falando em políticas de governo? Política define-se pelos ideais partidários apenas? Ou seja, está restrita a este nível ou é mais abrangente, envolvendo outras camadas e grupos, que não apenas os partidos e os políticos profissionais? Podemos falar em macro política e micro política? (FERREIRA, 2009, p.42).

Assim, é papel da escola oferecer uma formação que leve ao

aprimoramento constante da racionalidade, e, ao se trabalhar a filosofia com os

estudantes, percebe-se a importância de incentivar a indagação, discussão e

reflexão. A Filosofia é uma atividade humana indispensável, auxilia a

desvendar os horizontes obscuros e incompreensíveis da humanidade.

O LEGADO FILOSÓFICO DE PAULO FREIRE E OS CAMINHOS DA EJA

A denominação "educação de jovens e adultos" é atual no País. Desde o

Brasil Colônia, quando se falava de educação para a população adulta, fazia-se

essa referência, que também necessitava ser doutrinada, havendo um caráter

mais religioso do que educacional. Em meados da década de 1950 e início da

década de 1960, constata-se a emergência de uma nova perspectiva na

educação brasileira fundamentada nas ideias e experiências desenvolvidas por

Paulo Freire, que idealizou e vivenciou uma teoria voltada para as demandas e

necessidades das camadas populares, realizada com sua efetiva participação e

a partir de sua história e de sua realidade. Apontava a necessidade de

contribuir para que estas pessoas voltassem a acreditar na possibilidade de

mudança e melhoria de suas vidas quando se põem a ler o mundo e, como

consequência, transformá-lo. (FERREIRA, 2009).

À época, foi na educação popular que adveio o compromisso de tornar

as condições concretas de vida destes setores presente nas análises

conjunturais e estruturais, e, ao entenderem isto, começam a eliminar o caráter

de psicologização das explicações vigentes ou mesmo dos inúmeros fatalismos

propagados pela ideologia dominante, e, portanto, passam a enxergar

alternativas de mudança e de melhoria para suas vidas. Assim, são gestados

os germens para o fortalecimento da participação dos setores populares na

reivindicação dos seus direitos básicos e fundamentais. A respeito destas

práticas podem ser encontrados nos trabalhos educacionais desenvolvidos na

década de 60, no campo da alfabetização, dos movimentos populares e da

cultura popular. Entre os mais conhecidos encontramos as várias experiências

da alfabetização de adultos dentro da filosofia de Paulo Freire (GADOTTI,

2004).

Mas as experiências populares dessa educação foram reprimidas pelo

regime militar, e, a partir de 1970, entra em cena o Estado, como elemento

principal da Educação de Adultos. Institui-se o Movimento Brasileiro de

Alfabetização (Mobral), em nível nacional. O Mobral se destaca pelos seus

objetivos ambiciosos de redução, em 10 anos, do índice de analfabetismo do

país, saindo de 33,6% em 1970 para chegar a menos de 10% em 1980.

(PAIVA, 1982).

De acordo com Freire (1992):

O significado político assumido pelo movimento foi o mais eficiente propósito educacional no país. Esse compromisso materializa-se nos diversos movimentos da educação popular, em que a alfabetização dentro da proposta e filosofia do método/sistema de Paulo Freire, torna-se a viga-mestra destes trabalhos de emancipação dos setores desfavorecidos. Assim, de um lado, as práticas de alfabetização desenvolvidas na perspectiva Freiriana denunciam, claramente, o caráter produtivista e classista da ideologia dominante, que estava presente nas diretrizes educacionais oficiais e que visava a continuidade das condições de exploração e a submissão pacífica

dos setores populares a esse status quo. (FREIRE, 1992, p. 77).

É neste período que se deparam vários movimentos:

Movimentos de Educação de Base (MEB), que recebem o apoio da

Igreja Católica para a realização de suas atividades;

Movimentos de Cultura Popular (MCP), que materializam os projetos

artísticos e culturais (como o teatro de resistência e crítica social, os

tipos de música de reivindicação, de protesto e de raízes, entre outros)

gestados pelos grupos de profissionais liberais preocupados com a

criação e preservação de uma cultura nacional e autóctone;

Centros Populares de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes,

que expressavam um movimento universitário e secundarista nacional

mostrando, através da arte e música estudantis, o comprometimento

político e a participação nos rumos do país;

Programas e campanhas de educação de adultos e de alfabetização em

escala ampla, acontecidos em maior abrangência no Nordeste

(BEZERRA, 1980).

Portanto, é neste contexto e processo que, falar em alfabetização significava

falar em educação popular e conscientização, e, nas décadas seguintes,

apontam-se outras possibilidades com definições epistemológicas para os

diversos movimentos populares e sociais.

A busca pela ampliação do atendimento à escolarização da EJA se

vincula às conquistas legais consideradas pela Constituição Federal de 1988,

na qual passa a ser reconhecida como modalidade específica da educação

básica, no conjunto das políticas educacionais brasileiras, estabelecendo-se o

direito à educação gratuita para todos os indivíduos, inclusive aos que a ela

não tiveram acesso na denominada idade própria (BRASIL, 1994).

Entretanto, em 1990, a UNESCO instituiu o Ano Internacional da

Alfabetização. Neste ano, realiza-se em Jomtiem, Tailândia, a Conferência

Mundial de Educação para Todos, financiada pela Organização das Nações

Unidas para a Educação e Cultura (UNESCO), pelo Fundo das Nações Unidas

para a Infância (UNICEF), pelo Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD) e pelo Banco Mundial, explicitando a realidade

mundial de analfabetismo de pessoas jovens e adultas (UNICEF, 1991).

Ainda na década de 90, promulga-se a Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional, Lei n° 9394/96 (BRASIL, 1996), na qual a EJA passa a ser

considerada uma modalidade da educação básica nas etapas do ensino

fundamental e médio com especificidade própria. Entretanto, com a Emenda

Constitucional n°. 14/1996, cria-se o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento

do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF),

inviabilizando a inclusão do público em questão no financiamento da educação

básica, demonstrando o descaso para com o atendimento da EJA (ZANETTI,

1998).

Evidencia-se que a EJA surgiu como uma alternativa à escola

tradicional, que havia expulsado aqueles que haviam perdido a época regular

de fazerem seus estudos. Segundo Maia (1998), a contribuição das teorias

filosóficas de Paulo Freire para a EJA é inegável. Para ele, a Filosofia se faz

necessária para toda a humanidade, pois no mundo globalizado, o homem

deve refletir sobre sua condição humana, já que seus esforços atuais voltam-se

à busca incessante pela tecnologia e isso, muitas vezes, vem fazendo com que

ele seja subordinado, cada vez mais à máquina onde, de criador, o homem

passou a ser criatura de sua criação, perdendo assim, o seu humanismo

(MAIA, 1998).

Considerando que para Freire (2005) uma perspectiva de transformação

social requer fundamentações humanistas, os indivíduos desfavorecidos

devem se organizar coletivamente por serem responsáveis pela própria

construção histórica e pela transformação da sociedade. Nessa direção, a

proposta EJA sugere que se considerem, na elaboração do currículo, as

relações e categorias filosóficas e tecnológicas, tendo em vista os motivos do

retorno dos educandos para a escola.

Uma das razões pelas quais os educandos da EJA retornam para a escola é o desejo de elevação do nível de escolaridade para atender às exigências do mundo do trabalho. Cada educando que procura a EJA, porém, apresenta um tempo social e um tempo escolar vivido, o que implica a necessidade de reorganização curricular, dos tempos e dos espaços escolares, para a busca de sua emancipação. (PARANÁ, 2005, p. 33)

É muito válido lembrar o que Ferreira (2009) afirma, considerando a

perspectiva freireana, que se há que refletir na questão da educação e da

conscientização política e ética, lembrando que são elementos indispensáveis

na formação cultural dos povos. Nessa perspectiva, compreende-se que não

há educação apolítica, que prescinda da ética, que deixe de formar para

alguma “ética” neutra. Talvez seja por essa questão que a educação ainda

permaneça em um dos últimos lugares na agenda política e continua ainda

com uma sociedade despolitizada. Por esse lado, seria perigoso se alcançar

uma educação emancipadora.

Para Saviani (1989), a construção do pensamento origina-se pelo

empírico, defrontado pelo abstrato e depois chega ao concreto. Assim, o

mundo passa do senso comum para o senso crítico ou filosófico. O homem sai

da escuridão, tira as escamas dos olhos e enxerga o mundo e os objetos de

outra maneira, antes não vista e pensada.

Em relação a isso Saviani (1989) prossegue:

Conclui-se que a passagem do senso comum à consciência filosófica é condição necessária para situar a educação numa perspectiva revolucionária. Com efeito, é esta a única maneira de convertê-la em instrumento que possibilite aos membros das camadas populares a passagem da condição de “classe em si” para a condição de “classe para si”. Ora, sem a formação da consciência de classe não existe organização e sem

organização não é possível à transformação revolucionária da sociedade (SAVIANI, 1989, p. 13).

Desta forma, expõe-se que a responsabilidade da educação por parte da

filosofia freireana encontra-se na formação do senso crítico do indivíduo, ou

seja, fato que aumenta o nível de abrangência da consciência do homem,

rompendo culturas e preconceitos, favorecendo sua emancipação. Já a técnica,

no entanto, só receberá seu impulso histórico após a intervenção da ciência

filosófica. Portanto, há íntima relação entre a filosofia e a técnica. (CUNHA,

1992).

Quanto a isso, assim se posiciona Freire (1996) apud Zannetti (1998):

A educação de adultos hoje, como a educação em geral, não pode prescindir do exercício de pensar criticamente a própria técnica. O convívio com as técnicas a que não falte a vigilância ética implica uma reflexão radical, jamais cavilosa, sobre o ser humano, sobre sua presença no mundo e com o mundo. Filosofar, assim, se impõe não como puro encanto, mas como espanto diante do mundo, diante das coisas, da História que precisa ser compreendida ao ser vivida no jogo em que, ao fazê-lo, somos por ela feitos e refeitos. O exercício de pensar o tempo, de pensar a técnica, de pensar o conhecimento enquanto se conhece, de pensar o quê das coisas, o para quê, o como, o em favor de quê, de quem, o contra quê, o contra quem, são exigências fundamentais de uma educação democrática à altura dos desafios do nosso tempo. (FREIRE 1996 apud ZANNETTI,1998, p. 145).

Na sua concepção de educação como prática da liberdade, Freire (2001)

nunca desprezava as tecnologias de informação e comunicação e a

informática, dizia que deveriam ser enfrentadas e discutidas. Ele procurava, por

meio delas, reforçar a humanização do homem, para o qual se faz necessário o

uso cauteloso e crítico das mesmas na fundamentação do ensino e

aprendizagem. Para ele, os professores devem começar com o desvendar do

conhecimento sobre a presença dos computadores e suas redes, no sentido

figurado e técnico, na prática educativa, em todas as suas dimensões

(BREEDE, 1996).

Freire (2001), analisando a articulação entre o saber, as novas

tecnologias e educação ao poder, afirmou:

Exatamente porque somos programados, somos capazes de pôr-nos diante da programação e pensar sobre ela, indagar e até desviá-la [...]. Somos capazes de inferir até na programação da que somos resultado [...]. A vocação humana é a de "saber" o mundo através da linguagem que fomos capazes de inventar socialmente [...] nos

tornamos capazes de desnudar o mundo e de "falar" o mundo (FREIRE, 2001, p.56).

Segundo Freire (2001) esse saber continua constituindo a capacidade

de desvendar a razão de ser e de viver no mundo, que nem é superior nem

inferior aos outros saberes, mas é um saber que elucida e que permanece de

igual para igual à formação tecnológica. É o saber político que se tem que criar,

construir e produzir, para que o contexto democrático e progressista se instaure

contra a força e o poder de um outro contexto que é reacionário. Sendo assim,

necessita-se de pessoas que, ao lado dos saberes técnicos e científicos,

estejam inclinados a conhecer o mundo de outras formas. A negação de tal

processo seria repetir o processo hegemônico das classes dominantes, que

sempre determinaram o que podem e devem saber as classes dominadas.

Segundo o pensamento filosófico de Paulo Freire, o estudo dos textos

filosóficos por meio das tecnologias deve levar o indivíduo a pensar, a discutir,

argumentar, criar e recriar cultura. Para isso, os jovens e adultos, em geral

procedentes das classes assalariadas, urbanas ou rurais e com diferentes

origens étnicas e culturais devem ter acesso ao conhecimento produzido pela

humanidade que, na escola, é veiculado pelos conteúdos das disciplinas

escolares (FRIGOTTO, 2004).

De acordo com as Diretrizes Curriculares de Filosofia do Estado do

Paraná (DCEs), a Ciência e a tecnologia são frutos da cultura contemporânea,

e assim, evidencia que o conhecimento científico é afluente de bases

ideológicas, religiosas, econômicas, políticas, históricas, filosóficas e

metodológicas. Isso porque o homem, ao entender as conexões da natureza e

da sociedade em que vive, e não recebendo de maneira passiva certos critérios

de autoridade ou tradição, valoriza-se a si mesmo, valoriza a experimentação,

permitindo o conhecimento objetivo do mundo. (PARANÁ, 2008).

Desta forma, a filosofia de Paulo Freire decorre da preocupação com o

ser humano, em relação à sua historicidade, sociabilidade, consciência. E

representa uma tarefa educativa de construir coletivamente a conscientização,

criando possibilidades para superar os condicionamentos históricos,

alcançando assim a sua vocação para a autonomia, emancipação e

humanização. Ser e estar no mundo, eis o legado de Paulo Freire.

AS TECNOLOGIAS APLICADAS À EJA: TEORIA E PRÁTICA

O percurso efetuado para desenvolver as intenções da implementação

do material didático (PDE), com a realização de oficinas, totalizou uma carga

horária de 32 horas. E por meio desta, verificaram-se as amplas

potencialidades da utilização dos recursos tecnológicos na EJA, as quais

enriquecem as aprendizagens dos alunos, contribuindo para sua emancipação.

O grande objetivo de Paulo de Paulo Freire era uma educação

emancipadora que fizesse com que o aluno se tornasse autor de sua própria

história, e nos dias atuais, sem o uso da tecnologia, ser emancipado é quase

que impossível, porque ela está em estado vertiginoso de crescimento. Sendo

assim, cabe à escola ter equipamentos que funcionem para que os alunos

possam ter acessos a esses bens culturais (FREIRE, 2001).

A tecnologia digital é uma ferramenta de comunicação com amplas

potencialidades de uso, tais como: o computador e a internet, e, ainda, as

aprendizagens com mobilidade apoiadas pelo uso de tecnologias móveis sem

fio, como PDAs, palmtops, laptops, smartphones, celulares, entre outros e, com

isso, um dos grandes desafios na EJA está no papel do professor, o qual deve

estar imerso em um ininterrupto processo de alfabetização tecnológica, que lhe

permita fazer uma leitura crítica de cada mídia, permitindo ao aluno também

fazer o mesmo.

Nisso, o primeiro desafio que se presencia é a falta de políticas públicas

eficientes para essa modalidade no que se refere às tecnologias. Essa relação

vai desde a maioria dos professores da EJA, em possuir e saber ou não utilizar

o computador. Sabem manuseá-lo com certos embaraços, assim como com as

tecnologias com mobilidade. Deve-se, portanto, oferecer cursos de formação

continuada aos docentes da EJA, para potencializar as aprendizagens e

emprego de novas tecnologias na sala de aula. O professor precisa ter

intimidade com as novas tecnologias a fim de se poder ter o respaldo do aluno

de EJA.

De acordo com Arroyo (2001) a EJA não tem sido valorizada como

realmente deveria, em especial frente ao uso de novas tecnologias. A grande

maioria dos alunos são trabalhadores, pobres, negros, oprimidos e excluídos,

que um dia abriram mão de seus estudos para andar por outros caminhos,

como o trabalho ou por falta de oportunidade. Com o advento das tecnologias,

esses alunos podem ser excluídos do mundo digital, o que os manteria à

margem do mercado de trabalho e com muito menos condições de própria

subsistência. A divisão dos conteúdos estruturantes de Filosofia permite

atender toda a proposta da Filosofia no Ensino Médio, ressaltando sua

especificidade no que se refere ao tempo escolar, tempo de aprendizagem dos

alunos e suas características enquanto aluno-trabalhador.

Em se tratando das aprendizagens por meio da tecnologia, Valente

(2003) enfatiza que:

A sua importância reside no fato de o aluno poder aplicar aquilo que sabe de forma intuitiva e/ou formal, estabelecendo relações entre conhecimentos, o que pode levá-lo a ressignificar os conceitos e as estratégias utilizadas, ampliando o seu escopo de análise e compreensão. Entretanto, essa abordagem pedagógica requer do professor uma postura diferente daquela habitualmente utilizada no sistema da escola, ou seja, requer uma postura que concebe a aprendizagem como um processo que o aluno constrói como produto do processamento, da interpretação, da compreensão da informação. (VALENTE, 2003, p. 20).

Preconiza-se, assim, que, ao utilizar um editor de texto para fazer uma

cópia de determinado conteúdo, pode-se ajudar o aluno a aprender apenas e

somente a operacionalização de um aplicativo, mas isto significa muito pouco

numa perspectiva educacional em que se concebe o uso das mídias totalmente

integrado no processo de ensino e aprendizagem. Igualmente, em relação ao

uso do vídeo, se não houver a mediação do professor, pode-se perder muito do

potencial que esta mídia pode oferecer, como por exemplo, trazer informações

contextualizadas por meio de linguagens próprias, constituída pelo dinamismo

de imagens e de sons. E isso pode acontecer também com as aprendizagens

com mobilidade, tais como com o celular, PDAs, palmtops, laptops, smart

phones, celulares, entre outros.

Nas palavras de Freire (2001) é na mediação pedagógica que o papel do

professor é completamente diferente daquele que ensina, transmitindo

informações, aplicando exercícios e avaliando aquilo que o aluno responde, em

termos de certo ou errado. A mediação pedagógica demanda do professor

ações bem mais reflexivas e investigativas sobre o seu papel, criando

condições que favoreçam o processo de construção do conhecimento dos

alunos. (FREIRE, 2001, p.135).

O desenvolvimento de uma atividade filosófica com os alunos da EJA

usando as novas tecnologias requer um trabalho em grupo entre os alunos,

que reflita o reconhecimento de si mesmo e do outro em sua singularidade e

diferenciação, respeito mútuo, construção da identidade individual simultânea

com a construção do grupo, como um sistema que engloba pensamentos,

emoções, ações, experiências anteriores, maneiras de ser, pensar, estar,

sentir. (ALMEIDA, 2004).

É na sala de aula, onde os alunos estão sob a influência direta do

professor, portanto, o ambiente é de aprendizagem, em que tanto os alunos

quanto o professor podem fazer uma pergunta, resolver uma dúvida. Isso

significa que há os que precisam fazer ou exercitar uma atividade para fixar

conteúdos na memória, ou os que precisam da repetição para pensar e refletir

sobre um assunto e assim consolidar um conhecimento. O desafio seria o

professor fornecer informações aos alunos em seu próprio estilo de

aprendizagem, dar oportunidade para que cada aluno encontre na ferramenta

tecnológica apoio e estímulo para aprender.

A navegação na internet significa uma enorme possibilidade de explorar

universos distintos de informação e conhecimento, com uma recepção feita não

exclusivamente por meio do professor. Porém, a própria atividade de

exploração dos mundos virtuais requer um aprendizado onde o professor

possui um papel importante a desempenhar, que é ensinar o aluno a ser ele

próprio o explorador de seu universo de interesses, portanto, um mediador. A

escola está inserida em um contexto complexo de relações, portanto, promover

mudanças a partir da introdução das tecnologias, depende de uma série de

fatores, que, além da aquisição de equipamentos e a capacitação dos

professores, é preciso que toda a comunidade acredite que é necessária a

mudança, participe na sua implementação, conheça todo o potencial que as

tecnologias podem trazer para a melhoria da qualidade da aprendizagem dos

alunos da EJA e ter a gestão da escola como aliada é essencial. (CASTELLS,

2002).

Castells (2002) aponta que:

Não se vive mais em uma época em que a rede de

computadores ou Internet possa ser considerada somente uma ferramenta, que se pode decidir se vai usá-la ou não. Ela já é uma infraestrutura que possibilita uma grande gama de comunicações no planeta. A ideia de uma apropriação técnica das linguagens, dos softwares, se trata de experimentar um outro domínio de viver, de conviver. Faz pensar também que as propostas pedagógicas limitadas a uma apropriação técnica, estão longe de compreender o domínio e a extensão das transformações que se hoje. (CASTELLS, 2002, p.126).

Os conteúdos curriculares de Filosofia possuem nas tecnologias enorme

contribuição para o aprendizado de conceitos filosóficos no Ensino Médio, e,

uma importante forma de concretizar uma prática emancipadora, que, por

muitas vezes, tem estado tão somente a serviço de ideologias e da produção

para gerar sociedades consumistas e conseguir atender com maior excelência

o capital, é entender que a maioria dos alunos da EJA não possui qualquer

familiaridade com as novas tecnologias.

A maioria dos alunos da EJA acredita que os conteúdos filosóficos que

estão estudando em sala de aula poderão sim, ser enriquecidos e serão mais

facilmente internalizados com a ajuda dos recursos de computadores e

internet. Para alguns deles estes recursos não farão muita diferença, pois de

acordo com eles, não tiveram oportunidades de aprender a usar o computador,

não tendo, portanto, domínio do teclado e/ou mouse. Para estes, propostas

alternativas no que tange às tecnologias serão de grande valia.

Um exemplo de sucesso foi a utilização do site da Secretaria de Estado

da Educação do Estado do Paraná (SEED) como instrumento que ajudou a

desenvolver a prática educacional de Filosofia, outra foi um blog para orientar a

prática de socialização de idéias, como por

exemplo: http://mitocaverna.blogspot.com.br/. Alguns outros sites relacionados

diretamente com os conteúdos estruturantes da disciplina foram utilizados com

sucesso pelos alunos, como a indicação do site bnmdigital.mpf.mp.br para que

os alunos, ao estudar o conteúdo de Filosofia Política pudessem acessar os

documentos disponíveis a respeito do golpe de estado de 64. Portanto,

acredita-se que é de suma importância conciliar o ensino dos conteúdos de

Filosofia com as novas mídias e com o uso do computador e da internet.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste artigo propôs-se como objetivo geral analisar qual a percepção do

aluno de EJA em relação à contribuição das novas tecnologias no aprendizado

de Filosofia. Para o alcance dos objetivos, o estudo abordou conceitos

filosóficos, bem como conceitos de emancipação humana e sua relação com as

tecnologias digitais na educação, mais especificamente o uso do computador e

da internet, esclarecendo o sentido da educação emancipatória a partir da

abordagem de Paulo Freire para a Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Assim, buscou-se nos conceitos filosóficos freinianos a ideia de

emancipação como humanização para superação dos condicionamentos

históricos e sociais. Constatou-se que, para a concretização de uma educação

filosófica, não se pode prescindir do exercício de pensar criticamente a própria

técnica e o conhecimento. Tal fato implica numa reflexão sobre o ser humano,

sobre sua presença no mundo e com o mundo, que são exigências basilares

de uma educação democrática à altura dos desafios atuais, que seja capaz de

conduzir os alunos da EJA à apropriação de um sentido coletivo e político,

reafirmando uma concepção de educação capaz de construir no ser humano a

sua emancipação e cidadania plena, não utópica.

Mediante a pesquisa desenvolvida, verificou-se que os objetivos foram

atingidos na sua totalidade. A percepção dos alunos é clara mediante a

incorporação das tecnologias na educação, pois acreditam que para gerar uma

transformação curricular e alcançar uma educação filosófica mais qualificada,

necessita-se de ações educacionais que tenham prioridade no sentido de

desenvolver importantes mudanças nos processos educativos. Não se deve

tratar mais de reproduzir os modelos ineficientes, rigidamente hierárquicos do

passado, ou seja, um ensino descontextualizado da própria realidade em que

vivem. Os alunos compreendem a tecnologia digital como mecanismo de

comunicação e emancipação, percebendo as potencialidades do uso do

computador como importante ferramenta de aprendizagem.

Sendo assim, o professor pode e deve lançar mão das tecnologias para

trabalhar com os alunos, possibilitando, então, maiores oportunidades de terem

acesso aos conteúdos da disciplina em quaisquer momentos, tais como

mobilização, problematização, investigação, (re)criação de conceitos, conforme

orienta a DCE de Filosofia da SEED. O uso das tecnologias digitais pode

auxiliar o professor a potencializar os conhecimentos de Filosofia para esta

população diferenciada que são os estudantes que frequentam a EJA.

O aporte de alguns caminhos importantes para a transformação do

ensino de Filosofia atualmente, seguem um modelo educacional que ainda

deixa muito a desejar e que apresenta uma realidade distante da demanda

apresentada pelos alunos. De forma alguma se pode garantir que a tecnologia

é a solução definitiva para as dificuldades diárias nas salas de aula da EJA,

mas pode ser um dos principais meios a serem explorados na tentativa de

aprimorar as práticas pedagógicas de Filosofia e áreas afins. Nesta direção, o

uso do computador e da internet no ambiente escolar servirá como mais uma

ferramenta de aprendizagem, cabendo ao professor mediar os conhecimentos

que o adulto e o jovem possuem acerca das tecnologias da informação e da

comunicação digital, tornando assim os conteúdos significativos e integrados e

que o computador não seja só para receber informações, mas que seja

utilizado como fonte de pesquisa, de criação e de ampliação, voltado para a

vivência do jovem e adulto, ampliando o conhecimento coletivo e comunicação

em rede. O presente trabalho não teve a pretensão de esgotar o assunto em

questão, mas iniciar um novo ciclo de discussões e novas pesquisas sobre a

utilização das tecnologias nas salas de aula de Educação de Jovens e Adultos,

visto que há muitos desafios ainda a se revolver nesta área.

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