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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

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EU CONTO, TU CONTAS, NÓS APRENDEMOS

Janete Aparecida Peguin1 Íria Marjori S. Reisdorfer2

RESUMO: A leitura é uma das atividades que está presente em todos os momentos da vida do ser

humano, sendo necessária em todas as atividades do dia-a-dia, desde a leitura do rótulo de um produto a uma receita médica. Ler um texto significa muito mais do que conhecer o código linguístico; significa lançar mão de uma série de conhecimentos compartilhados e adquiridos durante sua vida e colocar à tona estratégias tanto de ordem linguística como cognitivo-discursivas. Diante da realidade onde os jovens tem se afastado do ato da leitura, e sendo esta essencial para a construção do conhecimento humano, o presente artigo tem como objetivo apresentar o projeto de intervenção, realizado no Colégio Estadual Rocha Pombo, da cidade de Morretes-Pr, aos alunos dos 6 anos do Ensino Fundamental, no que tange ao incentivo à leitura, com base em uma noção interacional de língua, a partir do gênero narrativo Lendas. A escolha do tema lendas está baseada na imaginação e na magia que constitui esse tipo de gênero narrativo, pois a lenda geralmente é de fácil entendimento, criam representações simbólicas de algo que já existe, além de atrativa por serem narrativas breves e, quase sempre, com espaço bem delineado e personagens marcantes.

PALAVRAS-CHAVE: Leitura. Texto. Interação. Lendas. 1 INTRODUÇÃO

A realidade atual que se encontra a educação, a falta de incentivo e inserção dos

jovens em um ambiente onde a leitura é incentivada; o uso de metodologias

inadequadas e que não incentivem o ato de ler, no ambiente escolar e; a internet e

tecnologias como tv, videogames, celulares constantes no dia-a-dia vem afastando

cada vez mais o ato de ler da vida dos jovens; o que significa assim, afetar não

somente a maneira de compreender, interpretar e produzir um texto, uma mensagem,

um acontecimento; mas também na construção de significados. Pois ler significa muito

mais que conhecer a estrutura da língua, o código, e sim conhecer e compartilhar

conhecimentos adquiridos ao longo da vida, que constantemente são (re)significados

pelo próprio leitor e utilizados em todos os momentos, afinal, a linguagem é

1 Professora PDE, licenciada em Letras, Especialista em Didática e Metodologia do Ensino. Vinculada ao Colégio Estadual Rocha Pombo, em Morretes. E-mail: [email protected] 2 Professora orientadora, Mestre em Linguística. Vinculada ao departamento de Letras da Universidade Estadual do Paraná, Campus de Paranaguá. E-mail: [email protected]

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“constitutiva” do ser humano. Conforme nos apontam as Diretrizes Curriculares

Estaduais do Paraná (1998, p. 56):

(...) compreende-se a leitura como um ato dialógico, interlocutivo, que envolve demandas sociais, históricas, políticas, econômicas, pedagógicas e ideológicas de determinado momento. Ao ler o indivíduo busca suas experiências, os seus conhecimentos prévios, a sua formação familiar, religiosa, cultural, enfim, as várias vozes que o constitui.

Diante desta realidade, este trabalho irá apresentar o projeto de intervenção

realizado em duas turmas de um colégio da rede pública de ensino, o qual teve como

objetivo incentivar os alunos à leitura, através de diferentes metodologias. Para isso, o

gênero textual Lendas foi utilizado. Este gênero narrativo foi eleito por serem textos de

fácil entendimento, breves, com personagens marcantes, representações simbólicas de

algo já existentes e, por estarem baseadas na imaginação e na magia, se tornam

atrativos para idade do público trabalhado.

2 AS PROPOSTAS PARA O ENSINO DE LEITURA NA ESCOLA

Aprender uma língua não é somente aprender as palavras, mas também seus

significados culturais e, com eles, os modos pelos quais as pessoas entendem e

interpretam a realidade (Koch, 2006). Sabe-se que as pessoas comunicam-se por meio

de mensagens, quadros, filmes, desenhos, gestos, dentre outros, servindo então, de

instrumento para o seu desenvolvimento intelectual. A leitura é uma habilidade que

permite extrapolar o ambiente escolar, pois está presente em todos os momentos da

vida do ser humano sendo ela necessária até mesmo para desenvolver atividades

básicas como: ler rótulos de um produto, pegar um transporte público, ler uma receita

médica. No que se refere ao assunto, Cagliari (1989, p.168) diz

No mundo em que vivemos é muito mais importante saber ler do que escrever. Muitas pessoas alfabetizadas vivem praticamente sem escrever, mas não sem ler. Ainda mais: há muitos analfabetos de escrita que não são analfabetos na leitura. Sobretudo pessoas que vivem na cidade, precisam saber ler pelo menos placas de ônibus, números, etiquetas, documentos etc.

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Percebe-se assim que a leitura, tanto de mundo quanto da própria palavra é

importante, pois proporciona uma visão mais ampla e crítica da sociedade onde se está

inserido; oferece, também, subsídios para que o aluno seja capaz de realizar uma

produção textual eficaz. Diante disso, percebemos que o ato de ler é algo maior do que

apenas o decifrar códigos. Algumas funções da leitura são mencionadas por Silva

(2005,p.42):

1. Leitura é uma atividade essencial a qualquer área do conhecimento e mais essencial ainda à própria vida do Ser Humano. (o patrimônio simbólico contém uma herança cultural registrada pela escrita. [...] A leitura, por ser uma via de acesso a essa herança, é uma das formas do Homem se situar com o mundo de forma a dinamiza-lo. 2. A leitura está intimamente relacionada com o sucesso acadêmico de ser que aprende; e contrariamente à evasão escolar. (modernamente, a escola é a principal responsável pelo ensino de ler e escrever. [...] A escola ainda parece utilizar o livro como principal instrumento de aprendizagem nas diferentes disciplinas. Não ser alfabetizado adequadamente pode significar grandes dificuldades quase sempre frustradoras na aquisição do currículo escolar) 3. Leitura é um dos principais instrumentos que permitirão Ser Humano situar-se com os outros, de discussão e de crítica para se puder chegar à práxis. [...] 4. a facilitação da aprendizagem eficiente da leitura é um dos principais recursos de que o professor dispõe para combater a massificação galopante, executada principalmente pela televisão. [...] 5. A leitura possibilita a aquisição de diferentes pontos de vista e alargamento de experiências parece ser o único meio de desenvolver a originalidade e autenticidade dos seres que aprendem. [...].

Diante de tais considerações, percebemos que a função da escola no que diz

respeito ao ensino da leitura é proporcionar a compreensão do discurso escrito em suas

diferentes formas, o que inclui a leitura crítica, resultado do processo de

posicionamento do leitor frente ao texto; questionamento e; transformações. Na opinião

de Silva (2005, p. 79): “A condição para a educação libertadora, é condição para a

verdadeira ação cultural, que deve ser implementada na escola.”

Para Lajolo (2000,p.105), a atividade de leitura, que em suas origens, era

individual e reflexiva, transformou-se em consumo rápido de texto, em uma leitura

dinâmica que para ser lucrativa, devido a massificação da leitura, houve um

fracionamento entre o significado do texto e o ato de ler, transformando-a em uma

atividade de consumo rápido do texto, o acaba por intensificar, segundo o autora, o

risco de alienação dos leitores.

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Para Bamberger (1987, p.92), o desenvolvimento de interesses e hábitos de

leitura é um processo constante, que começa no lar, aperfeiçoa-se sistematicamente na

escola e continua pela vida afora, por meio das influências da atmosfera cultural geral e

os esforços consciente da educação e das escolas públicas.

Nesse sentido, a escola tem papel fundamental, pois é o primeiro espaço

legitimado de produção da leitura e da escrita de forma consciente e planejada.

Portanto, ainda é dela a responsabilidade de promover estratégias e condições para

que ocorra o crescimento individual do leitor, despertando-lhe interesse, aptidão e

competência linguística. Segundo Rojo (2009, p.107), um dos primeiros objetivos da

escola é “possibilitar que seus alunos e professores possam participar das várias

práticas sociais que se utilizam da leitura e da escrita (letramento) na vida da cidade, de

maneira ética, crítica e democrática.” Para que isso seja possível, é necessário que a

escolha de práticas possibilitem o aluno a ter contato com esses letramentos e cabe ao

professor verificar quais conhecimentos trabalhar e que tipos de letramento

desenvolver.

Um bom exemplo dessas leituras são as lendas, um tipo de narrativa

interessante de se ouvir e contar, pois desperta a imaginação, desenvolve a

concentração e, ao mesmo tempo, possibilita conhecer a cultura popular. Para que isso

ocorra, o mais apropriado é o uso de variados tipos de dinâmica como os gestos e tom

de voz.

A Lenda se configura como uma história fictícia a respeito de personagens ou

lugares reais, estando a realidade e fantasia diretamente ligadas. Este tipo de texto é

sustentada por meio da oralidade, torna-se conhecida e só depois é registrada através

da escrita. Os autores são, portanto, o tempo, o povo e a cultura; normalmente fala de

personagens conhecidos, santos ou revolucionários; o que é considerado mito em uma

cultura, pode ser considerado lenda ou conto, por exemplo.

Para Luís da Câmara Cascudo(p.348)

As lendas são episódio heróico ou sentimental com elemento maravilhoso ou sobre-humano, transmitido e conservado na tradição oral popular, localizável no espaço e no tempo. De origem letrada, lenda,legenda, “legere” possui características de fixação geográfica e pequena deformação e conserva-se as quatros características do conto popular: antigüidade, persistência, anonimato e oralidade. É muito confundido como mito, dele se distância pela função e

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confronto. O mito pode ser um sistema de lendas, gravitando ao redor de um tema central com área geográfica mais ampla e sem exigências de fixação no tempo e no espaço...

Fine (1992, p. 02) propõe uma descrição de lenda contemporânea:

[...] uma narrativa que um contador apresenta a uma platéia no contexto de seu relacionamento. O texto é um relato de um acontecimento no qual o narrador ou um contato pessoal imediato não esteve envolvido, e é apresentado como uma proposição para a crença; não é sempre tido como verdadeiro pelo falante ou platéia, mas é apresentado como algo que poderia ter ocorrido, e é contada como se tivesse acontecido. As ocorrências são eventos notáveis do tipo dos que são supostamente 'estranhos mas verdadeiros.

Em um outro nível, segundo Ellis (2001) as lendas emergem na medida em que

seus significados mais elementares derivam de condições e papéis sociais

determinados: as razões pelas quais alguém conta uma lenda, o controle da situação e

o poder de transformação que essa(s) pessoa(s) pode(m) ou não exercer ao contar a

lenda; e, por outro, as expectativas que as platéias têm do evento e o modo como

podem influenciar e redirecionar o processo narrativo como um todo, como bem coloca

o autor:

As lendas normalmente fazem parte de uma discussão contínua e estão constantemente sujeitas a contribuições, correções, comentários e objeções de outros participantes. Diferentemente dos contos, que em geral são separados de uma conversação normal e ouvidos sem interrupções, as lendas devem ser vistas como parte de um evento comunitário, em que o papel do público é tão importante quanto o dos narradores (ELLIS, 2001, p. 10).

Conforme aponta Ellis (2001), não existem histórias "básicas", subjacentes em

uma estrutura profunda, a partir das quais vão surgindo versões diferentes, mas sim um

conjunto ilimitado de possíveis narrativas com o qual o intérprete (seja ele o estudioso,

o contador de histórias, ou a própria platéia) pode vir a associá-las.

No entanto, cumpre-nos acrescentar que o termo “lenda” não é usado apenas

para significar “narrativa fantasiosa sobre a realidade”. Relatos sobre seres e fatos

inverossímeis são também chamados “lendas”. Há fantásticas histórias protagonizadas,

por exemplo, por seres imaginários a que consensualmente se denominou mitos, como

o Curupira, o Saci, a Mula-Sem-Cabeça, como bem nos aponta MARTINS (1986, p.

119):

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São também chamadas de “lendas” histórias sobre tesouros enterrados, sobre fantasmas, almas penadas, e, bem assim – dentre outras – sobre corpos de “espíritos puros” (“corpos santos”) que, sepultados, se mantiveram intactos sob a terra, e que seriam encaminhados em sigilo ao papa pelo vigário, segundo crença popular (...) A lenda é mista de realidade e fantasia, não apenas fantasia, como, no geral, se supõe. Toda lenda possui um núcleo real, em torno do qual se somam acréscimos oriundos da imaginação popular. Caso não houvesse realidade na lenda, esta deixaria de ser como tal designada (...).

Diante disso, abaixo seguem as atividades de intervenção realizadas na escola em relação à leitura-Lendas.

3 APRESENTAÇÃO DAS AÇÕES DE INTERVENÇÃO NA ESCOLA

A implantação do projeto de intervenção na escola teve início na semana

pedagógica onde foi apresentado aos professores e funcionários da escola os objetivos.

Uma exposição do projeto foi feita aos alunos que participariam do mesmo, totalizando

um número de 56 participantes. Interesse e curiosidade por parte deles fizeram parte da

apresentação.

A primeira unidade do projeto foi apresentada, que teve como objeto os diversos

gêneros textuais de leitura. Partindo do pressuposto o contato de todos em diferentes

tipos de textos, foi disposto em uma mesa diferentes textos onde cada um deveria

eleger um material. Dentre diferentes disponibilidades, os mais escolhidos foram

histórias em quadrinhos, histórias infantis com ilustrações e alguns jornais; os demais

textos, como revistas, livros, dentre outros, não foram eleitos por nenhum aluno, o que

comprova a falta de interesse na leitura por materiais mais densos, onde o lúdico não é

visível. Após esta atividade foram direcionados à biblioteca, onde o procedimento de

empréstimo de materiais foi explicado e a confecção das “carteiras” de empréstimo

foram feitas a estes, pois até então, todos não possuíam, o que permite nos mostrar a

falta de interesse pela leitura.

Com objetivos de avaliar algumas questões relativas à leitura, um questionário foi

aplicado aos alunos, onde os resultados nos mostraram que 93% dos alunos possuíam

livros em suas residências; 59% possuem acesso à revistas; 39% possuem jornais

disponíveis e; 61% possui Internet em domicílio. No que tange ao gosto pela leitura,

28% mencionaram gostar de ler, 30% responderam negativamente e 42%

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mencionaram que “em alguns momentos” gostam de ler. Dentre estes, 39%

mencionaram que em muitos momentos não conseguem compreender o que leem e;

76% leem os textos até o seu final.

Foi questionado sobre as atividades recorrentes no momentos de lazer, onde

apenas 13% responderam que nestes momentos leem; 27% assistem TV e os demais

praticam outras atividades, o que nos mostra algo que não parece estranho ao que já

sabemos, ou seja, a leitura é uma prática quase que ‘incomum’ nos momentos de lazer,

onde esta é “trocada” pela TV. Vale salientar que na pesquisa realizada, 9%

mencionaram que a leitura era uma ‘chatice’.

Esta pesquisa demonstra a necessidade de realizar um trabalho dinâmico e de

incentivo ao ato de ler. Desafio da escola, pois no imaginário das famílias ainda é

vigente a ideia de que a responsabilidade pela formação de leitores é, exclusivamente,

das instituições de ensino. Nesse sentido, a colaboração de Horbatiuk (2006, p.16) é

pertinente:

Embora a escola incentive e deseje a leitura, dificilmente forma o leitor, se não tiver o apoio dos pais. Isto porque as relações sociais, na família, são espontâneas, envoltas em emoções partilhadas e valores afirmados e/ou vivenciados por todos (...) Na escola há um currículo a ser cumprido, uma hierarquia, há direitos e deveres, e a escola não consegue, de forma alguma, substituir a família na formação de valores; pode colaborar com ela.

Durante o desenvolvimento do projeto, várias atividades foram realizadas, as

quais serão descritas abaixo, conforme a aplicação nas escolas e objetivos do projeto.

4 UNIDADES TRABALHADAS EM CLASSE

4.1 COMPREENSÃO LEITORA

Esta unidade teve como objetivo observar a compreensão leitora dos alunos,

pois sabe-se que ela é uma ferrramenta necessária para o desenvolvimento do

indíviduo. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa

do 1º e 2º ciclo do Ensino Fundamental:

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[...] a leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a língua; características de gêneros, do portador do sistema de escrita, etc.(Brasil,1998 p. 40).

A escolha do gênero textual eleito, como já descrita no projeto, foram as lendas.

Então, para esta atividade foi eleito a lenda “Véu de noiva”.

A atividade iniciou com o questionamento sobre o significado local existente a

esta lenda, às palavras que estas remetiam e significavam. Posteriormente, a leitura da

lenda foi realizada pausadamente para que hipóteses sobre a continuidade da história

fossem levantadas pelos alunos. A ansiedade tomava conta do ambiente, já que todos

queriam saber o final da lenda, o que permitiu nos mostrar o interesse dos alunos por

estas histórias, desde que influenciada pelo educador, por sua metodologia.

Uma ilustração também foi realizada pelo alunos sobre a lenda contada pelo

educador, assim como responderam um questionário. Estas atividades contribuem não

somente para adquirirem o gosto pela leitura, mas também para a construção de

significados sobre o texto apresentado. Posteriormente, a reescrita da finalização da

lenda foi confeccionada por todos, motivando a imaginação e a criação de novas

histórias a partir da apresentada. Segundo os PCNs (1998), a reescrita é classificada

como uma produção de apoio. Vale salientar que nesta atividade, insegurança e

dificuldades foram visualizadas.

4. 2 A CONSTRUÇÃO DA SIGNIFICAÇÃO

Esta atividade teve como objetivo desenvolver por meio das narrativas lendas, a

construção do significado e da composição escrita. Para isso foi realizado um

levantamento prévio sobre as histórias e lendas que os alunos possuíam conhecimento.

Algumas foram citadas, como: a lenda do saci, do lobisomem, mula-sem-cabeça e o

homem do saco, dentre outras. Algumas foram contadas por eles em uma versão

desconhecida, popularmente. Após este levantamento, a lenda do ‘lobisomem’ foi em

vídeo apresentada, em forma de trailer, num primeiro momento, onde a finalização da

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história foi relatada em forma de texto pelos alunos; atividade realizada em equipes

para que pudessem construir significados de forma interativa. Num segundo momento,

outro vídeo da mesma lenda foi apresentado, onde puderam observar a finalização da

história.

A partir destas atividades percebe-se que o professor precisa utilizar o que

possui e está ao seu alcance para dinamizar suas aulas e provocar o interesse e a

aprendizagem do aluno; assim como utilizar de forma benéfica as tecnologias atuais,

para aprimorar a prática pedagógica, conforme nos aponta Moram (1993,p.40): “o vídeo

está umbilicalmente ligado à televisão e a um contexto de lazer para a sala de aula.

Vídeo na cabeça dos alunos, significa descanso e não “aula”, o que motifica a postura,

as expectativas em relação ao seu uso”.

Por isso, essa expectativa positiva para atrair o aluno ao assunto proposto foi

aproveitada aqui de forma a facilitar a aprendizagem e atrair o olhar do aluno para a

leitura, produzindo assim, consequentemente, a construção dos significados.

4.3 O LÚDICO E CONSTRUÇÃO DA SIGNIFICAÇÃO

Sabemos que as brincadeiras, o lúdico, em classe, auxiliam de forma bastante

positiva na aprendizagem. De forma educativa, os jogos e brincadeiras facilitam e

desenvolvem competências de forma espontânea nos alunos, sem a exigência de uma

aprendizagem do conteúdo. Piaget (1975) já mencionava que “O jogo é um tipo de

atividade particularmente poderosa para o exercício da vida social e da atividade

construtiva da criança”, cabendo, então, ao professor ser o mediador desta socialização,

integração, participação e estimulador das atitudes de respeito e interação de todos no

grupo.

Nesta etapa, o objetivo era a produção de texto em conjunto, onde o lúdico foi a

forma pelo qual os alunos produziram seus textos. Para isso, os alunos foram divididos

em grupos, onde cada um recebeu um envelope contendo uma lenda brasileira

conhecida, recortadas em partes. Os grupos foram orientados a montá-las,

primeiramente, para posteriormente lê-las; na sequência, todos transformaram as

lendas lidas em desenhos, o que proporcionou o sucesso da aula, pois a arte de

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desenhar é algo que nesta etapa de desenvolvimento é bastante aceita pelos alunos.

Num segundo momento, o lúdico foi utilizado de outra forma: a turma foi dividida em

grupos heterogêneos, onde o jogo da mímica, com o tema lendas, foi o objeto da aula.

Nesta atividade, o objetivo era que uma equipe produzissem as mímicas e a outra

equipe tentasse acertar a lenda do outro grupo. Atividade o qual teve uma aceitação

grande, pois a diversão estava presente em todo momento. Posteriormente, para

finalizar esta etapa, foi realizado o conhecido jogo ‘stop’, cujas palavras deveriam se

referenciar às lendas trabalhadas. Painéis forma montados para uma futura exposição

na escola, sobre as lendas da cidade.

4.4 PRODUÇÃO TEXTUAL

Uma história bem contada tem o poder de quebrar a rotina das metodologias

usadas em classe cotidianamente, e trazer à tona a magia que envolve o ato de ler,

estimulando a criatividade, a construção dos significados e, consequentemente,

servindo como base para a produção de textos.

A partir disso, os alunos participantes do projeto foram levados até a biblioteca

onde uma senhora convidada por mim encontrava-se à espera de todos. A mesma é

contadora de histórias, conhecida na cidade, e possuía o conhecimento de várias

lendas locais, o que proporcionou aos alunos um interesse geral, pois, até então,

poucos conheciam as lendas locais, mesmo sendo naturais da cidade. A primeira lenda

contada por ela foi “Ninfas do Rio Nhundiaquara”, o qual chamou bastante a atenção

dos alunos. Entre uma história e outra, a mesma falava sobre os pintores que

retrataram essas lendas locais, onde muitos deles eram naturais da cidade, o que

provocou certo espanto dos alunos, pois assim como muitos desconheciam as lendas

de seus próprios locais, a história dos pintores também era desconhecida,

principalmente o fato dos pintores serem da cidade onde os alunos residiam e era

naturalizados. O encanto pelas histórias tomou conta de todos os alunos, no entanto

que, ao retornar à escola, o assunto era relativo às lendas.

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4.5 A SIGNIFICAÇÃO E A PRODUÇAO LÚDICA

Nesta etapa, como resultado do processo de compreensão e constituição dos

significados a partir do lúdico, com o auxílio da professora de Arte, foi confeccionado

fantoches relacionadas às lendas, pelos alunos, para uma posterior apresentação aos

demais alunos do colégio. Foram apresentadas cinco lendas locais, as quais foram

recebidas pelos demais alunos com muito interesse.

Após a apresentação, como finalização do projeto aplicado na escola, foram

confeccionados livretos referentes às lendas locais, os quais foram entregues à

biblioteca do local.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em um mundo onde a tecnologia está imersa e presente na vida de todos e a

preocupação dos educadores se torna maior, devido à veiculação de informações

diversas e a troca da leitura pela tecnologia, o compromisso da escola para com a

aprendizagem, e no que tange à língua portuguesa, torná-lo competente

linguisticamente, ou no caso da leitura, auxiliar no incentivo da mesma e na construção

dos significados e produção dos textos, é maior.

As atividades desenvolvidas permitiram constatar que cada vez mais o processo

de ensino aprendizagem se torna autônomo à escola, principalmente com a imersão

dos alunos à tecnologia e a veiculação das informações presentes nestes meios, porém,

a escola ainda possui o papel de apresentar e auxiliar os alunos nessa autonomia da

aprendizagem, principalmente na apresentação e seleção do conteúdo, já que ainda

permeia a ideia, principalmente no ambiente familiar, de que é na escola que o aluno

precisa ler. Cabendo, então, aos educadores e ambiente escolar proporcionar

oportunidades e leitura e escrita aos alunos, através de metodologias distintas, assim

como, auxiliá-los na seleção destes textos e na (re)significação dos mesmos.

Diante disto, este projeto foi cumprido, movimentando certas pressuposições e

crenças, para que uma possível modificação possa ser aceita pela comunidade escolar

e familiar, dentre elas a metodologia e o cultivo do ato de ler, assim como, o papel

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autônomo do estudante e o compromisso familiar no incentivo à leitura. Somente a

partir de uma modificação algumas realidades podem ser transformadas.

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